Islã & Mundo Ocidental-Cristão

palestra

Jo達o Barcellos

Isl達 & Mundo Ocidental-Crist達o

Parte 1 Falar de árabes e islamismo é, hoje, que é Século 21 e não o Século 4 do mesmo calendário cristão-católico, é..., dizia, um quase tabu pelo medo de que extremistas interpretem o raciocínio como um ataque ao seu fundamentalismo – fundamentalismo que é, basicamente, um produto da cultura cristã-ocidental levado às últimas com a Cruzada e a Inquisição na era medieval e que ensanguentou o mundo de então ao não aceitar outras religiões nem ateus, muito particularmente no Oriente Médio, i.e., no território árabe.

O evento monstruoso do assassinato da matemática e filósofa egípcia Hypatia e a destruição da Biblioteca de Alexandria às mãos do bispo Cirilo e seus sequazes, dizem tudo sobre aquela era da barbárie fundamentalista de colonização místico-política da região. Diz-se: foi consequência da época. Errado. E eu digo: foi consequência da cegueira ideológica do poder-pelo-poder que gera a barbárie que se esconde sob o manto e o altar da divindade, manto e altar confeccionados por nós mesmos...!

Parte 2 Ao surgir o Islã, na primeira metade do Século 7, ano 622 (pelo calendário da cristandade), já a Palavra de Jesus virara poeira nos textoscartas de Paulo e a pregação por um império romano-cristão, ou católico, transformando as ekklesias [assembleias populares de oração cristã] nas bases de uma poderosa igreja-estado. Diante de tal poder político e exotérico, que se propõe dominar tudo, os primeiros sacrificados são os judeus [supostos matadores de Jesus] e, logo, os árabes em geral, tidos como pagãos.

Nas imagens, o Jesus que prega e o Paulo que coloniza

O que muda, então, com a presença de um notável cidadão árabe chamado Muhammad, meio milênio depois de Paulo...?

Tudo. Pois, ele transforma uma visão esotérica numa ação que logra reunir politicamente as comunidades tribais árabes e, como os judeus e os cristãos – daí as três religiões reveladas –, consagra essa unidade à formação de uma religião própria ao mundo árabe, e não ao universo judeo-cristão, embora a raiz continue no deus-único oriundo das elites egípcias. Não por acaso, também no Islã surge o anjo Gabriel como mensageiro da divindade, que revela o Al Corão [a Palavra de Deus a ser recitada] a Muhammad na montanha de Meca.

Obviamente, o confronto de ideias acerca de Deus/Divindade ĂŠ inevitĂĄvel.

Parte 3 Entretanto, Muhammad não rejeita nem o Livro judeu nem o Livro cristão-paulino e vai mais longe ao dizer que é necessário protegerr as religiões ao informar ter sido enviado por Deus para restaurar os ensinamentos originais, já corrompidos. Quando anuncia a alQur´ãn, q.s. A Recitação, que logo passa a ser o Livro islâmico, dá a si mesmo a importância de profetas como Jesus, o que deveria, em tese, evitar extremismos com fudamentalistas judeo-cristãos.

Mas, se o Islão tem a ver com o universo árabe, as políticas catolicizantes-imperialistas do judeo-cristianismo são exarcebadas entre os Seculos 11 13 com a formação de grandes eventos belicistas denominados Cruzada, aos quais aderem muitas cabeças coroadas europeias interessadas unicamente em títulos honoríficos, beatificações e, principalmente, em preservar e ampliar o poder fundiário/feudal – e de tal ensejo surge a Ordem dos Cavaleiros Templários, que logo se transforma no marco mercantil e milico-místico do período.

A par da odisseia miliciana que os transforma em lenda cavaleirosa e gera um romanceiro próprio entre muita literatura de cordel, os templários estabelecem um submundo de acordos em linhas de crédito e depósitos/saques bancários sob juros – e são os templários que ampliam esse conceito financeiro oriundo do mercantilismo judaico combatido, ao tempo das ekkleias, pelo próprio Jesus, o ´cristo´ do grupo Nazári (daí “o nazareno”), segundo estudos do teólogo e filósofo Manuel Reis –, o que os põe como potência econômica no mesmo momento em que a cristandade tenta sobreviver em meio à crise socioeconômica do feudalismo que ela defende. Ora, o dinheiro não conhece ideologias nem gentes, conhece a própria manipulação funcional, pelo que tanto judeus, como cristãos e árabes, são clientes da rede econômico-financeira dos templários, já agora tão senhores absolutos quanto a maioria dos reis europeis e o próprio papa.

A relação dos templários com os árabes é tão profícua que após as vitórias do grande estrategista Saladino [Salah al-Din Yusuf ibn Ayub] ainda encontram nos árabes portas de saída e de abrigo..., que os europeus lhes negam.

Quando Saladino reconquistou Jerusalém, em 1187, não se vingou dos massacraes feitos pelos cristãos, em 1099, o que deixou uma rota política para futuras

conversações de paz, o que nem templários nem o papado quiseram aprofundar com resultados históricos prejudicando futuras gerações.

Então, entre os Cavaleiros da Ordem do Templo – muitos deles aprisionados e queimados vivos pela França sob a benção beatificadora do Papado cristão, enquanto o restante era absorvido por Portugal e transformado em Cavaleiros da Ordem de Cristo – e a sua queda, surge na judeocristandade a necessidade de uma reformulação tão teológica quanto política, a qual ganha mais força na expansão do mundo conhecido entre os Séculos 14 e 16, na ação caraveleira portuguesa e castelhana. De tal sorte que para essa expansão oceânica devem os portugueses e os castelhanos muito aos esforços científicos e tecnológicos de árabes, tanto em pilotagem quanto em astronomia.

Verifica-se, então, que a cristandade se catoliciza [i.e., expande-se colonialmente] no encontro e domínio de outros povos através das viagens caraveleiras, enquanto o islamismo continua a sua ascensão no próprio universo árabe, embora alcance outras comunidades no Oriente e na África.

Apesar dos eventos que lhes são fatais na França, os templários agora conhecidos como Ordem de Cristo, em Portugal, dão uma guinada política e econômica estrutural e ressurgem no ato caraveleiro sob os auspícios do infante Henrique e da Casa de Bragança, e em oposição ao duque e regente Pedro e à Ordem de Sant´Iago, e logo, ao rei João II, mas o brilho é efêmero e o Papado romano sente-se seguro o suficiente.

Em meio à reforma política, e não teológica, da cristandade, surge em 1540 a Societas Jesu / S.J. saída da mente miliciana do padre Loyola e logo colocada a serviço da era caraveleira ibérica, quando Manoel da Nóbrega embraca para a Terra do Pao Brasil e ali torna-se o bandeirante místico que, após ter sido fundamental na expulsão dos franceses no Rio de Janeiro segue para o sul e, depois de fundar uma primeira e malograda missão denominada Maniçoba, no sertão, escolhe um espigão no planalto acima da Serra do Mar e funda a vila-colégio Sam Paolo dos Campi de Piratinin – o eixo estratégico para construir o império teocrático jesuítico no sul tordesilhano.

maniรงoba e sam paolo dos campi de piratinin

Mapa da expansĂŁo jesuĂ­tica pelo mundo colonizado

O fanatismo místico-miliciano jesuítico enquadra tambérm o apoio irrestrito ao ato inquisitorial e quase leva um dos seus homens, o padre Antonio Vieira, para a fogueira... Abastada, fundiária e políticamente, a Societas Jesu torna-se, na América do Sul, o equivalente à Ordem templária no Oriente, logo, oposição às políticas de catequese colonial do campus luso-vaticano, por isso, combatida e quase exterminada.

Retirada a espada templária da terra e do mar, e os incômodos jesuítas do Mundo Novo, os momentos belicistas entre judeocristãos e islâmicos reduzem-se a questiúnculas regionais, enquanto os reinos europeus retormam a sua autonomia e o Vaticano é, pura e simplesmente, a sede do Papado romano.

Resta à cristandade dominar como religião oficial d´Estado os atos coloniais ibéricos na América, onde se submete à convivência com a fé judaica, islâmica, africana, num sincretismo que deveria ter sido adotado desde sempre!

Neste momento, o mundo do Ocidente reconhece que foi ao Oriente em demanda da sua quase ruína, por isso relê A Recitação feita por Muhammad com olhos de ler, e não de banir.

Mas são tantos os males e tantas as feridas deixadas pela cristandade no universo árabe que elas se reabrem no Século 19 e no 20 com as colonizações geradas por franceses e ingleses e, logo, entre as guerras mundiais, que lhes tomam terras e riquezas naturais – e pior: ao têrmino da segunda guerra mundial, o Ocidente cristão e absolutista entrega aos judeus terras da Palestina para ali edificarem o Estado de Israel...

A velha ferida torna a sangrar e não quer cicratizar no universo árabe.

E então,

ser-estar ocidental-cristão pressupõe domínio absoluto sobre o ser-estar de outras comunidades e religiões...?!

Eis a questão geradora de incompreensões.

Se ao tempo de Saladino o universo árabe se uniu para se defender tendo A Recitação maometana por base política contra o colonialismo ocidental-cristão, o ser-estar islâmico dos Séculos 20 e 21 percebe-se cercado pelo judaísmo ocidentalizado – aliás, ocidentalizado desde os tempos de Jesus, que já combatia essa política anti-árabe dos senhores das sinagogas apesar de pregar entre e para judeus, e raro para o gentio (se é que o fez) – e

encontra no extremismo bélicista o caminho a ser percorrido para se defender novamente, mas...

Parte 4

...mas, entenda-se a questão como resposta à falta de diálogo entre o Ocidente e o Oriente e não somente à formação de grupos extremistas que raro têm a ver com a teologia islâmica, apenas a utilizam como capa/escudo para insinuarem algum tipo de institucionalização diante da barbárie.

E, neste campus político, ideológico e militar, apenas seguem os passos do Ocidente que ocupa e arruína o universo árabe, desde sempre.

Tais grupos não surgem do nada, do acaso. Eles são sempre equipados/armados com material de última geração tecnológica pelas potências do Ocidente que percebem no Irã [a velha e sempre presente Pérsia muçulmana], ali ao lado, uma ameaça permanente contra essa ocupação, logo, e tendo Israel como ponta de lança regional, o Ocidente-cristandade prefere fomentar guerrilhas locais que desequilibrem as comunidades a buscar politica e religiosamente a paz. Como se vê, o Conflito Israelo-Palestino, o Sírio-Libanez, a Alqaeda e o Estado Islâmico do Iraque e da Síria / EIIS, Bokop Haram, e etc., não são meras questões locais, como diz a imprensa engajada e bem paga do Ocidente, tudo isto é parte de uma encenação política que passa pela Organização das Nações Unidas / ONU para

manter o reduto รกrabe como รกrea de tribos tangidas pelo chicote ocidental

e levar a informação aos mundos como região de conflitos que mantêm fabricantes de armas ativos e empregos de milhares e milhares de pessoas assegurados.

É o que se passa também em várias regiões da África, como Benin, Etiópia, Líbia, Ruanda, Burkina Fasso, Níger, Sudão, entre outras. Não interessa o que foi a história gloriosa dessas gentes? Ora, o Ocidente chegou e dominou, catequisou e nacionalizou. O que interessa? O petróleo, o gás, o diamante, o ouro, a prata, a bauxita, o ferro, o cobre, e etc., as riquezas dessas terras que outrora deram civilização à humanidade, mas gentes que, infelizmente, não souberam superar a fase tribal, como fez o Ocidente, e pagam agora com a dominação colonial e falta de dignidade.

Diante deste quadro, como evitar que surjam grupos extremistas a agitarem o Islรฃo contra a Cristandade

que lhes destruiu/destrรณi o ser-estar comunitรกrio...?!

Parte 5 A leitura comparada de circunstâncias históricas, por mais antigas que elas sejam, ajudam-nos a perceber atos dos nossos dias e de como a sua raiz sociopolítica, militar, mística e econômica, possui um lastro ancestral que ainda vai ser vivenciado pelas gerações que acabam de nascer. Ou seja: do contar pelos dedos à espada e passando pela caravela ao computador e redes sociais eletroeletrônicas, a humanidade é uma entidade cósmica teluricamente assente e diversa nas suas comunidades. É preciso entender isto para ler em humanismo crítico a religião e o igrejismo para não se cair no ridículo do ´eu não vi, não sei, só me interessa estar por aqui´...!

Ora, as pessoas têm que entender o campus econômico-financeiro em que vivem e, este, é tão colonizador e extremista quanto a pessoa que aterroriza as outras em nome de uma divindade que nomeia como escudo ideológico, e só. Então, este ´eu não vi, não sei, só me interessa estar por aqui´..., não é o suficiente sequer para simploriamente ´estar por aqui...!

E repito: Quando Saladino reconquistou Jerusalém, em 1187, não se vingou dos massacraes feitos pelos cristãos, em 1099, o que deixou uma rota política para futuras conversações de paz, o que nem templários nem o papado quiseram aprofundar com resultados históricos prejudicando futuras gerações.

De resto, senhoras e senhores, combater o analfabetismo funcional e a ignorância que nos rodeia, e na maioria das vezes comanda a nossa vida do alto (lá no) poder político, é evitar rituais de extremismo milicomístico. Todas as pessoas têm direito a desenhar (um)a divindade e dar-lhe um manto e um altar, só não podem querer transformar isso em igrejismo e dominar outras pessoas tendo-as como bichos em rebanho ideológico.

Espero ter conseguido passar a vocês dados para uma reflexão mais profunda sobre o mundo que somos e fazemos.

Tenho dito.

Brasil, Fevereiro de 2015

Obs.1: palestra elaborada para esclarecer professorado e jornalistas acerca da Questão Ocidente-cristão & Mundo Islâmico diante do discurso oficial ocidental que não contempla a verdade histórica sobre o mesmo, alimenta versões e esconde os fatos. O Autor Obs.2: por causa do trato popular luso-brasileiro, o árabe foi tratado (e às vezes ainda o é) como “turco”, e não de maneira pejorativa. Entre a forte comunidade sírio-libaneza e a palestina, a judaica [o judeu é árabe com distinção mística, apenas], a persa/iraniana, a turca, a líbia, etc., o sincretismo da colonização ibérica na América logrou, primeiro, uma raça luso-brasileira [a mameluca] e, logo, uma raça luso-afro-brasileira com traços árabes. E dizem que não é possível conviver misticamente...?! Ora, ora...

Literatura Aconselhável: leiam-se as obras de Noam Chomsky e Manuel Reis, também, leiam-se os livros sagrados com olhos de humanismo crítico para se perceber que a religião é um estado d´alma pacificador e o igrejismo (igrejacorporativa) é um instrumento mercantil de sobrevivência, logo, extremista e imoral.

Centro de Estudos do Humanismo Crítica [Guimarães/Portugal & América Latina] Grupo de Debates Noética [www.noetica.com.br // noetica@uol.com.br TerraNova Comunic