A Ferramenta Que Somos
A olhar o trabalho de um grupo de pessoas, umas num jardim, e outras numa confeitaria, lembro uma frase que escutei de um sargente-aviador na minha fase militar: “As pessoas têm que acreditar no que fazem, e farão sempre melhores ao descobrirem que são (elas mesmas) uma ferramenta”. E é assim que 40 anos depois me vejo em confronto (uma batalha boa...) com uma frase que pulou repentinamente da memória. Tentei e consegui rever o sargento via web. “Ah, era uma frase que eu sempre dizia para fazer efeito psicológico nos soldados mais indecisos no curso de oficiais”, disse. Sim, quando as pessoas não se preparam para a vida as indecisões tomam espaço e tomam tempo, cercam-nas como um anel de fogo e impedem-nas de progredir. As que de alguma maneira conseguem contornar o problema livram-se de momentos difíceis; outras, também chegam
com a ajuda solidária de homens como aquele sargento da força aérea portuguesa; mas, muitas outras ficam no aguardo de alguém que tome dicisões por elas, e então, estas últimas formam o rebanho que apetece manobrar por aquela meia dúzia de figurões que se acham acima dos outros e podem se instituicionalizar como poder tendo tamanho rebanho como base social para políticas públicas ou privadas. Toda a pessoa é uma ferramenta para o bem ou para o mal, mas quando – ele ou ela – deixa de assumir a própria personalidade diante da vida, torna-se escrava dos intresses de outras pessoas. Por isso, a frase do sargentoaviador e instrutor foi muito bem escolhida tendo como foco “a ferramenta que somos”: uma ferramenta que ativada plenamente é como uma máquina a construir o progresso. Agora, na minha frente, tanto no jardim quanto na confeitaria, vejo pessoas que sabem o que fazem e dispensam a presença da palavra-chicote para um comando desumano. Não operam como pessoas-objetos, mas como pessoas que se conhecem e desempenham ofícios úteis à sociedade. É assim que tem de ser, é assim que a pessoa deve agir sejam quais forem as circunstâncias sociopolíticas ou trabalhistas.
BARCELLOS, João – Editor.