Pensamento & Ação Da Família e Da Empresa Familiar
“a vida de uma Pessoa não acontece, é a própria Pessoa que, educada para viver, gera vivências para si e em torno de si, logo, é social e economicamente consciente”
1 As particularidades da Pessoa que se sente vitoriosa e consciente das suas ações sociais são um painel ainda raro na Civilização que geramos. Não é o cérebro, mas o umbigo que fala mais alto na maioria dos casos. E é por isso que quando alguém herda um comércio ou uma indústria raramente busca fazer a leitura da situação. Esclareço: ou esse alguém foi muito bem preparado pela família para assumir funções de chefia, ou simplesmente vai achar que a herança lhe caiu no colo e
que o melhor é deixar a ´coisa´ andar como sempre [pensa que] andou, e então, temos no primeiro caso a Pessoa consciente da circunstância e que vai pensar e agir para dar seguimento e atualizar a empresa; e no segundo caso, a Pessoa que não o é por desconsiderar que a família é uma comunidade à qual deve respeito e satisfações, e pior, família-comunidade que logo tenta eliminar para estar à vontade no seu novo domínio...
2 Venho a este assunto depois de uma palestra que fiz sobre Família & Continuidade Empresarial, em fevereiro de 2013 – aliás, continuando outras duas havidas em 2012. Isto é muito comum nas áreas gráfica e têxtil, áreas industriais com muitos redutos familiares originados nos Séculos 19 e 20 e que, no Século 21, enfrentam a rara continuidade da empresa familiar ou a gangorra colocada à disposição da geração que não foi educada para trabalhar, e sim para desfrutar de lucros que o próprio capitalismo não permite mais, ou inibe.
3 Quando grego Sócrates falava da necessidade de confrontar conceitos para aferir a melhor ideia e fazer funcionar o Pensamento e gerar a Ação correta para beneficiar a Pessoa e a Comunidade, ele mobilizava a urbe e a classe política. Era o Pensamento a gerar a Ação em prol de um Todo civilizacional, que é o que raramente vemos hoje, quer na Família quer na Sociedade. Ao escrever Conciliar Tecnologias Convencionais Na Era Digital, texto que serviu de base para a capa da revista I&C de Julho de 2013, lembrei-me deste assunto que me fez ir aos primórdios da civilização para resgatar dados de reflexão diante do que somos hoje –, um hoje em que nos percebemos tão pequenos e ignorantes, tantas
vezes incapazes de enxergar o óbvio social, cultural e tecnológico que nos cerca. Na maioria das vezes acabamos por receber legados extraordinários da própria família, mas não somos capazes de lhes dar continuidade porque a mesma família não nos preparou para assimilá-los como conteúdos de vida, e sim conceitos de “ir fazendo”. Ora, a vida de uma Pessoa não acontece, é a própria Pessoa que, educada para viver, gera vivências para si e em torno de si, logo, é social e economicamente consciente. Entretanto, quando a Pessoa deixa o tempo passar no seu espaço de ação, mesmo que inconscientemente..., ela entrega-se à ignorância e à prepotência e julga-se iluminada por ter herdado condições econômicas da família, e eis aqui o busílis da questão família-empresa.
4 E não se pode esquecer o seguinte: a Educação não é apenas um problema sociopolítico, a ação educacional da Pessoa começa na Família e nela deve continuar, sempre, mesmo que tenha de se acotovelar nas salas de aula entre preconceitos e modas pedagógicas.
5 Seja qual for a situação social a Vida depende do Empreendedorismo, cuja ação deriva da Educação, ou do Saber empírico – esse Saber que se alcança na experimentação das vivências, o autodidatismo que nos acompanha do berço à tumba (e talvez mais além pelos meandros cósmicos) –, e assim é que a Família foi, é e será o eixo do Todo social.
Quando o espaço familiar deixa de abrigar o tempo da Fraternidade por falta de uma visão educacional, todo o esforço ancestral para dotar esse espaço-tempo de estrutura econômica através de atos de empreendedorismo comerciais e/ou industriais, ou de ofícios liberais, fica esvaziado. E mais uma vez, esclareço: Escolaridade sem conteúdo fraternalista gera o Individualismo selvagem, o Egoísmo derrotista e o despotismo iluminado. Eis a fonte de tantas rupturas em empresas familiares que leva a processos judiciais e quebras de linhagem.
A terminar... A solução para equilibrar as ações sociais e econômicas numa empresa familiar está na própria Família, porque quando ela passa para o espaço judicial a ruptura já corrói o tecido humano. Se a situação ainda o permite, como dizia Sócrates, é pelo Diálogo que solução emerge, da mesma
maneira que a inovação de uma empresa passa por parcerias profissionais. O que é preciso, sempre!, é aprender a Pensar para construir uma Ação que beneficie o Todo humano e não apenas meros caprichos oriundos da falta de exercícios educacionais no seio da Sociedade.
BARCELLOS, João Escritor/Conferencista