PARATY

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PARATY Da Opulência Aurífera Ao Espírito Republicano

[Estudos: 1988 a 2011]

João Barcellos


ÍNDICE Apresentação / Em Torno De Paraty – Carlota Maria Moreyra Reinóis & Minas d´Ouro apontamento necessário à compreensão da era aurífera colonial e da importância do Porto de Paraty – João Barcellos

Cartas – Hernâni Donato, Aziz Ab’ Sáber, Manuel Reis.

Parte Primeira - o Pó que somos o é na Vida & na Morte - de Povoado a Vila - Ouro no Certam de Paranapanema une as Trilhas numa Estrada Geral - do Ouro das Minas Paulistas ao Portinho de Paraty - Caminho Velho - Caminho Novo - Gente Caiçara Parte Segunda - o que Ontem foi e o que Hoje é - um Conde em Paraty sob Concessão Sesmeira - Novos Tempos, Novas Culturas & o Velho da Serra - do Ouro ao Café Parte Terceira - Sobre a Cidade - Relacionamento Internacional - Brasão & Bandeira - Hinos - Economia - Turismo - Cultura - Personalidades Referências/Fontes

Nota: imagens do Autor, do acervo de Carlota Maria Moreyra, de instituições relacionadas e, outras, pinçadas da Web por não terem reserva autoral para impedimento de publicação.


Apresentação

Em Torno De

Paraty Lá por meados de 1998, o amigo e mestre João Barcellos veio a Paraty para, em palestra notável, falar... como ele dizia... “em torno de Paraty”, com introdução de alguns poemas rascunhados em um caderno. Encantei-me com aquele português, mais lusobrasileiro pela sua intensa vivência entre nós, e de tal maneira que passei a participar em outros lugares de suas palestras e algumas pesquisas. Eu havia feito de Paraty o meu refúgio, mas escutar que “...um lugar que recebe da serra e do mar a autêntica essência da humanidade que constrói humanidade” levou-me a repensar o mundo, a refazer o meu percurso. Na verdade, o poeta e pesquisador Barcellos mostrou que “[...] Paraty foi tão importante na opulência aurífera quanto o Porto das Naus o foi na época do Bacharel de Cananeia, porque ambos os portos tinham a mesma função que o portinho fluvial de Carapocuyba ao tempo do ´velho´ Affonso Sardinha: deixar fluir a economia dos nativos e levar os europeus serr´acima por um Mundo Novo e um outro Portugal”. E eu, brasileira do Rio de janeiro, o que faço eu em Paraty?, questionei-me. Após mais duas palestras do mestre mergulhei na história de Paraty e resolvi, como outrora aqui se fazia, me fazer ao mundo. Escutar ou ler João Barcellos no seu “em torno de Paraty” foi privilégio de um punhado de cerca de 20 pessoas, naquele distante 1998, e nenhuma delas ficou indiferente, porque, afinal, “...tratar de Paraty é tratar da luso-brasilidade e do Brasil, entre o mar, a serra e os sertões, perspectivando um olhar mundano de torna-viagem ou não, algo que os colonos absorveram do misticismo tupi-guarani entre o Piabiyu e a Estrada Real, porque, na onda do mar ou no vento do sertão está o chamado do Mundo Novo”. Ora, como esquecer esta lição de João Barcellos, o mestre? A história de Paraty no traço historiográfico e poético de João Barcellos é outra, está além da linha acadêmica e da apostila oficial, porque “Paraty é o Brasil e o Mundo, nos Séculos 16 e 17, como em 1432 o foi a Foz do Ryo Siará na primeira ´entrada´ da marinha mercante lusa em praias tropicais”. Até hoje, e estamos em 2014, as três palestras de João Barcellos ecoam na memória das pessoas que o escutaram em Paraty. É verdade, ele foi ´obrigado´ a ficar mais dois dias na cidade-porto porque aquelas pessoas quiseram registrar tão importante acervo historiográfico, e a última palestra foi feita a bordo de um barco na baía de Paraty com um pedido dele: “Guardem com vocês o que conversamos, talvez um dia eu publique estes rascunhos de história e poesia”... Carlota Maria Moreyra, Profª de Artes Gráficas Paris/Fr., 2014


Cartas

1 Da leitura do ensaio-palestra acerca de Paraty: “[...] O trabalho de João Barcellos mostra o quanto é importante não esquecer que a história da humanidade tem um núcleo ativo e que, a cada instante, a cada pesquisa, esse núcleo libera dados escondidos em filigranas sociais e políticas. E esta é a especialidade deste mestre luso-brasileiro que, em observações historiográficas sobre Paraty, lança outros olhares que nos permitem leituras diferentes e mais qualificadas” – DONATO, Hernâni _ São Paulo, 1995.

2 Das conversas sobre a evolução geofísica e histórica do Brasil na redação dos jornais Treze Listras e Gazeta de Cotia (na presença do editor W. Paioli): “Se há hoje um especialista em luso-brasilidade entre nós ele é João Barcellos [...]. Entre outros, a sua pesquisa que envolve o Vale do Paraíba (a partir de Tremembé e da Serra da Mantiqueira) faz emergir a importância da ´colonização feita pelos portugueses de serr´acima, o que envolve também os fogos primevos nas serras de Paranapiacaba e Cantareira antes de chegarem na esquina histórica dita Koty, às margens do Anhamby, e ainda vizinha da Carapocuyba, e só depois a norte, pela serra da Bocaina´, como ele mesmo registra em suas palestras [...], também por isso, este pesquisador de história encanta-nos com as ligações geopolíticas e sociais a comporem quadros que só um pesquisador nato sabe e pode montar. Por exemplo: as suas palavras acerca de Paraty soam como lições de história e filosofia demarcando muito bem a estória oficialesca da historiografia” – AB’SÁBER, Aziz _ professor, geógrafo e pesquisador uspiano. Cotia/SP, 1991.

3 Da leitura crítica lusófona grafada no português original: “[...] uma obra cuja investigação histórica e elaboração final preocuparam o Autor durante um longo período de dezasseis anos. Assim, para nós, esta obra de João Barcellos é, com toda a legitimidade, História novíssima ou História do terceiro nível (tridimensional: físico-sócio-psíquica). Se não é história ao terceiro grau, no diapasão substantivo, (como acontece, v.g., com a obra historiográfica e Alfredo Pinheiro Marques: vide ‘Mito-História & Épica’, de um Grupo de Autores, Edicon, São Paulo, 2005), é, com toda a legitimidade e segurança, história ao terceiro grau, no diapasão adjectivo. Isto, obviamente, tem consequências para a História do Brasil, e para a historiografia futura do período e das personagens estudadas e caracterizadas por João Barcellos [...]. Sem falarmos, já, de outras monografias historiográficas anteriores, que avultam na vasta produção literária do Autor. Os processos do povoamento e da colonização do Brasil, no seiscentos e no setecentos, a partir do Piabiyu [Caminho do Peru] (cf. ‘Piabiyu’ de João Barcellos, Edicon, São Paulo,


2003), e das figuras principais que os protagonizaram, têm, na verdade, de ser refeitos, tendo na base, entre outros, os estudos excepcionais de João Barcellos” – REIS, Manuel _ filósofo e presidente do Centro de Estudos do Humanismo Crítico / CEHC; in “João Barcellos: a história ao 3º grau ou ao 3º nível”. Guimarães/Pt, 2007. 4 Das conversas sobre a evolução geofísica e histórica do Brasil na redação dos jornais Treze Listras e Gazeta de Cotia com foco na gente caiçara (na presença do editor W. Paioli): “O caiçara é uma fortaleza humana no meio da natureza e João Barcellos consegue, em suas observações, pinçar dessa alma rude aquele Brasil autêntico de entre baixadas d´água e mar de morros, tal e qual os tupis e os guaranis que foram o berço da nova raça dos sambaquis [...]. Nas margens da Paraty ou nas trilhas abruptas da Serra de Bocaina o caiçara é o homem que se integra completamente ao ambiente atlântico: uma força da natureza...” – AB’SÁBER, Aziz _ professor, geógrafo e pesquisador uspiano. Cotia/SP, 2006.


Reinóis & Minas d´Ouro apontamento necessário à compreensão da era aurífera colonial e da importância do Porto de Paraty

É de meados do Século 16, no ano 1561, o primeiro registro de ouro no planalto da Serra do Mar, quando Brás Cubas adentra o Pico do Jaraguá e a Serra da Mantiqueira e, depois, envia homens de confiança, chefiados por Luís Martins, para as bandas do Cerro Ybiraçoiaba e Caatiba, no sertam guarani. Ao final do mesmo século, e já com o Portinho de Carapocuyba tomado e a minerar ouro no Ybituruna e no Pico do Jaraguá, além de Santo Amaro, é o ´velho´ Affonso Sardinha (político e sertanista) quem mais desenvolve a atividade aurífera. Pelos vastos certoens a norte e a oeste da Sam Paolo dos Campi de Piratin é descoberto ouro também em arraiais pelos caminhos de Açungui e Queimado, Atuba e no Arraial Grande entre campos de pinhais (que os tupi-guaranis dizem ser kuri’ yti, e os portugueses arredondam para Curityba). Diante das expectativas criadas por Cubas e Sardinha, o rei João III determina nas Ordenações do Reino os direitos da Coroa quanto a minas de ouro e prata ou qualquer outro metal – a saber: descobertas as minas elas serão arrendadas pelo reino para exploração pagando-se o quinto do total extraído, sendo o restante fundido em barras e não podendo ser negociado fora das fronteiras do reino. Pelos certoens de Cataguazes, que os portugueses acessam pela serra de Bocaina no Vale de Paraíba, abrem-se mais arraiais mineiros.

Mapa com os Rios e os arrarais; e barras de ouros cunhadas na casa de Fundição

Do ouro ao diamante é uma questão de tempo e tanto mascates quanto religiosos e militares, reles aventureiros e outros, estão na cada de uma faísca de sorte... Até que, na segunda década do Século 18, primeiro com a passagem de Fernão Dias Paes e


depois de Manuel Borba (o Gato), o cascalho no leito do Rio Jequitinhonha revela o milagre verde – a esmeralda. No espaço de entre o rio das Velhas e o Rio Jequitinhonha surge o Arraial do Tijuco, onde se faz a maior mineração de pedras preciosas. Noticiado o rei Pedro II, Portugal passa a ser uma potência econômica e sai do buraco financeiro provocado pela má gestão dos recursos obtidos no Caminho das Índias. Ouro e diamante são contrabandeados de todas as maneiras e por todas as classes sociais o que obriga a Coroa a tomar medidas de segurança e policiar as trilhas de escoamento. Cria-se uma política dos caminhos, um mapeamento precário das trilhas clandestinas, que leva à definição do Caminho Velho, calcado no Caminho Geral de São Paulo, de 1696, por onde se descia a serra de Bocaina até o Porto de Paraty, e o Caminho Novo, de 1698 e ratificado em 1725, descartando a longa e perigosa viagem até Paraty e seguindo direto para o Rio de Janeiro, que, unidos, dão lugar à Estrada Real. E por isso é que o fidalgo Pedro de Almeida, logo conde de Assumar, é destacado para fazer a transferência da arrecadação e gerência dos quintos para a Fazenda Real; de imediato faz a licitação dos Direitos de Entrada nos Caminhos Novo e Velho para o Rio de Janeiro e São Paulo, no que arremata 11 arrobas para o triênio (de 1718 a 1721), e do Caminho da Bahia e Pernambuco, por 15 arrobas, o que mostra maior movimento nas bandas baianas. Extração e comercialização de ouro especificamente, exige Casa de Fundição, por isso surgem as unidades de São Paulo, Iguape, Taubaté e Paranaguá; em 1695, Carlos da Silveira é nomeado Guarda-Mor Geral e cria um sistema de gerência e tributação na cobrança do quinto, o que acontece também na Vila Rica e lá na ponta, em Paraty. No início do Século 18 é determinada a instalação da Casa de Fundição no litoral abaixo da Serra de Bocaina. Para a administração reinol, o Porto de Paraty é tão importante quanto as minas, pelo que faz parte de uma das extremidades da Estrada Real. Entender a história da Estrada Real é perceber que Paraty e o seu porto de mar são parte fundamental no desenvolvimento econômico e social da luso-brasilidade e do Brasil. BARCELLOS, João Paraty-RJ, 1997


Parte Primeira tribos tupi-guaranis, caravelas & colonos

o Pó que somos o é na Vida & na Morte

Paraty, ah, bela Paraty, a tua história pode ser contada assim e ao sabor da pena de Azevedo Marques: A leste de Ubatuba, Paraty surgiu no início do Século 17. Criada vila no território da Capitania de São Vicente, em provisão de 28 de outubro de 1667, ratificando a elevação que em 1660 fizera o capitão-mor Jorge Fernandes da Fonseca. Ainda no Século 18, no ano 1726, a vila é anexada ao Rio de Janeiro por carta régia de 9 de outubro. O reinol e pesquisador de história Pedro Taques, enquanto guarda-mor das minas de São Paulo, em 1763, diz que a vila de Paraty foi feita ´carioca´ por Martim Correia Vasques Anes com registro na Secretaria do Conselho Ultramarino. O caminho novo das minas de ouro passa por parte das terras dos engenhos d´açúcar de Martim, então governador interino do Rio de Janeiro, o que o leva a perceber a importância estratégica e mercantil do porto de Paraty. Entretanto, e apesar dos notáveis escrivas paulistas citados, a história de Paraty é muito mais do que isso... E, começar com uma simples cronologia talvez não seja uma má ideia, e é o que faço depois de escutar gente da terra e consultar velhos rascunhos feitos entre material adormecido na Torre do Tombo (na verdade, ´torre´ dispersa por Lisboa, 1975) – a saber: 1531 – Martim Afonso de Sousa passa pela região de Paraty. O cosmógrafo, matemático e navegador português, que estudou na mesma Universidade de Salamanca em que estivera o Bacharel de Cananeia, tem do rei João III uma doação de 80 léguas de costa para iniciar a colonização e, além disso, a missão de chegar ao Rio de La Plata e alcançar as riquezas do eldorado. Sem rédeas, ou leme, sobre o bacharel


a missão ´naufragou´, mas, em contrapartida, fez da Gohayó do Bacharel a Vila de São Vicente acabando com o reinado daquele castelhano que foi ouvidor ao tempo do rei João II na importantíssima Feitoria de São Tomé. 1551 – O aventureiro e militar Hans Staden é um dos prisioneiros europeus nas tribos tupinambás e a ele se deve o conhecimento dos costumes canibais desses nativos, além da fauna e flora e beberagens e misticismos da região. 1580 – Surgem mais fogos de colonos tanto no litoral como nas serras que protegem o porto natural de Paraty. – Uma comunidade se impõe socialmente na região: a gente caiçara. Sangues e almas d´Europa, d´África e d´América se cruzam para formar a raça brasileira, já com núcleo na aldeia-porto de Gohayó. 1587 – O porto de Paraty recebe navios negreiros, um deles de Affonso Sardinha (o Velho), chefiado pelo sobrinho Gregório a fazer linha Santos-Angola. 1596 – Passa pela região Martim Correia de Sá. Ele chefia um grupo de 700 portugueses e 2000 nativos. 1600 – Paraty, assim como outras regiões do Vale do Paraíba, dá abrigo a colonos oriundos da Capitania de São Vicente, à qual pertence. 1640 – Com a restauração da Coroa portuguesa, a região começa a ganhar importância estratégica e já conta com centro urbano. 1646 – É construída igreja em honra de Nª Sª dos Remédios. 1660 – Domingos Gonçalves de Abreu chefia levante para dar melhores condições administrativas e políticas à região. 1667 – Paraty recebe carta régia e situa-se agora no mapa como Vila. 1668 – A igreja em honra de Nª Sª dos Remédios é reconstruída para garantir segurança aos fiéis que nela oram. 1703 – Paraty serve como porto de escoamento do ouro extraído. A riqueza do sertão sai da região do dito certam de Cataguaz e é levado pela trilha serrana até o litoral. 1712 – A comunidade recebe a nova igreja, de pedra e cal, bem diferente daquela primitiva de tábua e barro. 1720 – Vila de Nossa Senhora dos Remédios é anexada à Capitania de São Paulo. – É construída igreja em honra de Nª Sª da Conceição, em Paraty-Mirim. – O caminho velho do ouro é substituído pelo caminho novo e Paraty perde importância logística e econômica. 1722 – É construída igreja em honra de Santa Rita de Cássia. 1725 – A forte presença de escravos e de escravos domésticos na região leva à edificação da igreja de São Benedito e Nª Sª do Rosário. 1726 – No dia 16 de janeiro, por carta régia, Paraty deixa o território paulista e volta para o da Capitania do Rio de Janeiro. 1800 – É construída a igreja de Nossa Senhora das Dores, uma demonstração da fé cristã e católica dos colonos que em Paraty decidiram fazer a vida. 1813 – O reinol Miguel Rafael Antônio do Carmo de Noronha Abranches Castelo Branco é feito Conde de Paraty. 1822 – Paraty recebe um presente: a Santa Casa de Misericórdia. 1844 – A velha vila de colonos, mineiros e tropeiros, vira Cidade. 1954 – Estrada de rodagem liga Paraty aos outros povoados no Vale do Paraíba. 1958 – Cidade e Porto de Paraty têm registro de tombamento no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [Iphan]. 1966 – Paraty é registrada como Monumento Nacional. 1973 – A abertura da estrada Rio-Santos faz de Paraty mais do que um ponto de passagem: a cidade vira ponto de turismo nacional e internacional.


1980 – Nativos do tronco guarani m´biã chegam à região e fundam as aldeias Araponga e Paraty-Mirim. Feita esta primeira observação, importa saber que caminhos velhos são esses que ligam a região litorânea fluminense ao vale paraibano. Muitas pesquisas falam de nativos goianazes, entretanto, é justo que se esclareça que o termo goiaz/goianaz é aplicado por tupis e guaranis para designar tribos vizinhas, logo, goiaz demarca uma posição geográfica e social, e só, no certam e no litoral tupi-guarani. Também, quando se fala de tupinambás, fala-se de tamoios – ou seja: as tribos que habitam a costa da Insulla Brasil têm uma linguagem comum que passa, com algumas variações, pelo tupiguarani. É esta gente da terra que se comunica por trilhas ao longo da costa e mantem, entre o território fluminense e a Capitania vicentina, um fluxo mercantil a abastecer o velho piabiyu guarani.

[povos nativos na costa da Insula do Brasil]

Quando os portugueses percebem a importância de tal economia (mais de alimentos e objetos domésticos de fibras e cerâmica) também percebem que existe espaço para copiar o trabalho agropecuário e canavieiro que haviam desenvolvido nas feitorias do Golfo Guineense, assim como na ilha da Madeira e no arquipélago de Açores. E um destes caminhos de nativos liga, em plena Serra do Mar, o espaço carioca ao espaço da Serra de Bocaina desembocando no portinho de Paraty. Em tal espaço é que surge o casal Sardinha, diga-se, Gaspar Sardinha e Felipa Gomes: fugindo dos constantes assaltos de piratas em Ilhéus, na Bahia, o casal assenta fogo no Rio de Janeiro e tem permissão dos jesuítas para montar, por volta de 1571, um trapiche d´açúcar (engenho movimentado por bois). O casal recebe sesmaria nas margens do Rio Pilar, afluente do Rio Iguassú, e dá início a uma atividade que marcará a economia colonial portuguesa no Novo Mundo. Contemporâneo, o padre jesuíta Anchieta registra em suas anotações “muitas fazendas pela baía adentro [...], terra rica, abastada de dados e farinhos e outros mantimentos, tem três engenhos”. O escoamento


dos bens produzidos é feito pelas trilhas nativas que cortam o Recôncavo da Guanabara. Da sesmaria de Gaspar Sardinha surge um povoado com uma ermida, mas é um dos seus filhos que, em 1612, transforma a ermida em igreja de Nª Sª do Pilar, enquanto marco-zero e ponto de encontro de mercadores e aventureiros, principalmente quem vai e vem dos certoens cataguazes e do litoral vicentino.

Novus Brasilia Typus – mapa com a costa brasileira, de Willem Janszoom Blae, 1648

A prosperidade atravessa a Serra da Bocaina e encontra na parada marítima dita Paraty mais do que um ponto de encontro, mas um porto aberto à convivência geossocial – sim, geossocial, porque nativos e portugueses de serr´acima tangem aqui oportunidades de assentamento colonial e miscigenação, pois, os nativos tupi-guaranis ou são aniquilados ou integrados como escravos na lavoura canavieira, o que também força (na maioria das vezes) a uma relação sexual, circunstância muito diferente da que se viveu em Gohayó e Porto das Naus, porque, então, a convivência social e sexual o foi naturalmente resultando no primeiro núcleo ibero-americano. Paraty tem, no Século 16, tribos várias, mas é a gente nativa dita goyamimins, ou seja, tupi, com ligações diretas entre o espaço fluminense (Guanabara) e o espaço vicentino (Iperoig, Gohayó e Cananeia), e tem mais atividade local. Aqui, o primeiro povoado luso-americano é erguido em um cerro a 25 braças na direção norte do Rio Perequê-Açu. Aos poucos, a região de Paraty recebe o progresso canavieiro carioca além de novos fogos portugueses na serra e no litoral. O portinho não é mais um ponto de observação, é o local onde a demanda por informações e mercadorias d´além-mar e do sertão faz levantar investimentos enquanto surgem as primeiras e incerta evidências de ouro e de pedras preciosas entre minas e cascalho no sertão da lonjura de Cataguazes...


* Pelos certoens de cataguazes e nas bandas goyaz os paulistas – que são ainda os filhos dos colonos e os mamelucos – agridem a terra, pisam no cascalho mas não veem; Recebem a sabedoria da gente nativa para sobreviverem e só, porque essa gente não vive de riquezas nem de brilhos, vive somente, por isso, é gente que não dá importância às pedras que brilham nem vai atrás delas, e então, os paulistas aprendem no erro e na ignorância, percebem-se pó que ao pó retorna na maioria das vezes, porque a aventura é a sua mortalha. No acaso descobrem que debaixo do cascalho e no leito raso de riachos está o eldorado, uma faiscada d’ alegria.

E parte da gente que enrica no brilho da pedra preciosa demanda Paraty, quando não fica pela trilha de olhos sem brilho... Das várias eras paratyenses pode se dizer, e o digo, todas têm um brilho especial pela história que representam na formação do Brasil. *


de Povoado a Vila

Se no Século 16 desenvolve-se um precário assentamento colonial, o Século 17 fervilha de política regionalista, tanto que em 1660 o capitão Domingos Gonçalves de Abreu dirige um levante paratyense. O que se passa? De uma diligência de correição sabe se que... Em provimento do ouvidor-geral João Velho de Azevedo, em correição de 26 de julho de 1654, há a certificação “do estado actual dos moradores de Paratii”, por, “no dito lugar não haver justiça alguma, nem Câmara formada, e ser ella Couto de malfeitores”, e então, são os moradores orientados a se organizarem “sob pena de serem prezos, e degredados, por tempo de cinco anos para o Reino de Angola, e de cem cruzados para as despesas do Conselho” [Pizarro e Araújo, 1820].

A gente da terra está num povoado sob administração da Vila de Angra dos Reis da Ilha Grande, mas sabe também que é uma vila, de fato, e quer vivenciar esse direito municipalista: em nome da gente da terra, o capitão requere à Capitania de São Vicente a elevação de Paraty a Vila. Mas, nem ele espera: ordena, a custas próprias, que se erga pelourinho, símbolo de autonomia e autoridade municipal. O confronto político é evidente e a vereança de Angra dos Reis não aceita e luta contra os rebeldes, por se entender “não ser n´aquella paraje Villa de nenhuma qualidade, assim por ser terra de dada de Sesmaria” [idem]; e só em 1667, por Carta Régia de 28 de fevereiro, os rebeldes alcançam o objetivo e celebram a Vila de Paraty.


O levante paratyense é possível porque no povoado já existe uma elite em ascensão reinol, e outra mais burguesa e mercantil do que aquela, cuja força política permite a demanda administrativa e judicial pela autonomia. O sucesso da empreitada chefiada por Domingos Gonçalves de Abreu é, por isso, celebrado como virada histórica no âmbito do Portugal ultramarino, aquele outro Portugal que surge aos poucos e já a anunciar um território novo de fala portuguesa.

Ouro No Certam de Paranapiacaba Une as Trilhas numa Estrada Geral Outro pormenor de grande importância é que além das minas quinhentistas de ouro e prata entre o Pico do Jaraguá e Ybituruna, e a de ferro no Ybiraçoiaba, a segunda década do Século 18 revela a existência de ouro no certam de Paranapiacaba, precisamente no momento em que São Paulo se torna capitania separada do Rio de Janeiro e tendo Rodrigo Cézar Menezes como governador.

Capitania geral e mapa de São Paulo em 1700


Logo, os fluxos de migração ligam o sertão e o litoral na demanda de mão de obra e de abastecimento: tropas de muares avançam nas trilhas serranas, umas para as lavras e outras para a faiscação. A notícia de ouro no certam de Paranapanema gera demandas várias que atingem também as gentes litorâneas, incluindo a gente caiçara, porque o sonho de riqueza está embrenhado no afazer colonial e, se urge fazer ressurgir Portugal, casa pessoa na colônia do Brasil age também por si mesma. É assim que a Estrada Geral paulista se torna a via do Brasil ligando velhas trilhas e possibilitando intercâmbios tecnológicos e socioeconômicos em meio a novas vilas sertanejas e auríferas.

do Ouro das Minas Paulistas ao Portinho de Paraty

[de Paraty ao Rio de Janeiro]


1 A busca por ouro, prata e esmeraldas, tão sertanejamente abraçada por Brás Cubas e o ´velho´ Affonso Sardinha, entre outros, tem a sorte lançada nos cascalhos da lonjura que vai até Cataguazes lá pelo ano 1695. No vasto certam das gerais está o que a Europa quer escutar daquele Portugal do pau-brasil: veios d´ouro e esmeraldas. E eis Paraty no meio do burburinho: aventureiros de todas as raças e nações e credos avançam para o portinho. Paraty é a parada. Quem chega do Rio de Janeiro obriga-se a parar e planejar a sua odisseia pelas minas aqui, porque Paraty é o ponto de travessia pela Serra do Mar – sim, aquela velha trilha nativa pela Serra do Facão [Itambé] pela qual se chega ao Vale do Paraíba para, de Taubaté (e Pindamonhangaba e Guaratinguetá), caminhar até o certam das gerais.

[estudo geomorfológico da Serra de Bocaina]

Serra de Bocaina e o litoral entre Paraty e Angra dos Reis


Caminho Velho sul-sudeste

A trilha nativa liga o sudeste: Rio de Janeiro a Parati, Serra de Bocaina e Cunha e Guaratinguetá, Lorena e Minas. No ano 1728, Caldeira Pimentel, governador da Capitania paulista, ordena a Francisco de Souza Faria o estabelecimento de uma picada a partir de uma trilha em Viamão, que sobe a Serra Geral e liga ao território de Vacaria dos Pinhais, de onde se chega a Curitiba passando por Sorocaba: todo este trecho, com cerca de 1.500 km, é o histórico Caminho do Sul lançado sobre a logística guarani do Piabiyu.

[a Estrada do Sul e o Caminho Velho]

Assim como ancestral piabiyu dos nativos guaranis, as trilhas serranas e litorâneas abertas por outros povos americanos revelam a singularidade aquosa, i.e., a água, tanto a corre nos leitos de superfície quanto a que corre sob a terra, é a bússola que orienta os passos dos nativos.


[trilha na serra e trecho do Caminho Velho em Paraty]

E todo o espaço que resguarda os mananciais é reverenciado pelos nativos, que repassam essa sabedoria de sobrevivência às gentes que mais de perto pisam no mesmo espaço – a gente caiçara. Então, é a trilha dita Caminho Velho que os europeus galgam e, de alguma maneira, beneficiam. 2 Aquele pau-brasil descoberto por acaso em 1342 pelo capitão Sanches, da marinha mercante, e logo anunciado ao papa Clemente VI pelo rei Afonso IV, serviu Portugal e a cristandade (através da Liga Hanseática) por séculos, mas é o ouro e o diamante que no Século 18 impulsionam o Novo Mundo. O pouco ouro e prata das minas paulistas de Ybituruna e do Pico do Jaraguá, gerenciadas pelo ´velho´ Sardinha, mais a de ferro no Cerro Ybiraçoiaba, são coisa pouca para alimentar a nação e satisfazer a ganância e a corrupção reinol. Já início do Séc. 17 o audacioso governador Souza quis mais e até assentou por meses na sua Vila de Nª Sª do Monte Serrat em plena mina do Ybiraçoiaba, mas ficou apenas com o apelido de marquês de minas... Sob o trono castelhano desde 1580, a nação portuguesa vive uma pobreza confrangedora, apesar do pau-brasil, é verdade, e com a restauração em 1640 precisa de recursos para se reerguer. Pedras preciosas e ouro e prata no Brasil!, é mais do que um grito, é a libertação diante de uma Europa. Qualquer reinol ou mercador com posses razoáveis na colônia rivaliza com muitos nobres em poder – a odisseia do político, minerador e escravagista Affonso Sardinha, na Sam Paolo dos Campi de Piratin, é um exemplo concreto –, logo, com o anúncio de tamanha riqueza nos buracos e cascalhos das gerais, o portinho de Paraty recebe meio Portugal e mais meia Europa. Com a marinha mercante arruinada, a nobreza decadente e sem recursos naturais em abundância, a terrinha demanda o Novo Mundo e faz do Brasil o [seu] eldorado.


Primeiro surge o ouro e a prata, depois, as jazidas de diamantes no curso do Rio Jequitinhonha nas bandas do Arraial do Tijuco, e logo, o certam vira minas gerais. E pelo sertão surge uma tropa de elite denominada Dragões das Minas para assegurar o domínio da Coroa portuguesa sobre o território e a já agora dita Estrada Real batizada sobre a velha trilha nativa. A burguesia mercantil expande as suas atividades no Vale do Paraíba e tem no portinho de Paraty um entreposto que, pela importância do escoamento de ouro, já em 1703, recebe gabinete para Registro de Ouro (carta Régia de 9 de maio). Paraty cresce em população e em poder econômico.

Itinerários da Principaes Estradas da Província de São Paulo, ensaio de Daniel Pedro Muller, 1837 (da Estrada Geral de São Paulo, passando por Paraty Com direção ao Rio de Janeiro).

O poder econômico paratyense é colocado à prova por causa do Rio de Janeiro: chefiando 500 homens e 80 escravos, o capitão Francisco do Amaral Gurgel socorre a


cidade sitiada em setembro de 1711 pela tropa francesa ordenada por Dugiay-Trouin. Gurgel quer libertar o Rio de Janeiro e atende ao resgate pedido pelos invasores: 610.000 cruzados, 1.000 caixas d´açúcar, 200 bois. Uma fortuna.

3 No ano 1720 é criada a Capitania de São Paulo à qual é anexada a Vila de Paraty. A questão não é tão simples, pois, a administração da justiça está nas mãos e na mente do ouvidor-geral da Capitania do Rio de Janeiro. Obstinada e ciente da sua capacidade de mostrar que é, a vereança da vila quer ficar em território e gestão carioca, o que acontece com Carta Régia de 8 de janeiro de 1726. O instrumento oficial faz jus à essência carioca de Paraty na perspectiva da estratégia geopolítica e econômica.

4 Os caminhos do ouro e do diamante são os mesmos abertos e utilizados naturalmente pelos povos nativos e, na logística do escoamento e segurança, os caminhos desembocam em Paraty. Mesmo assim, um ponto muito longe do Paço Real.

[tropa na trilha]

O caminho velho dá a Paraty a condição de vila com estrutura urbana e uma elite social e política abastada e com recreação artístico-cultural digna de qualquer cidade europeia, o que é incensado em inúmeras atividades no Teatro Municipal. Reinóis e novos ricos entre burgueses mineradores, rurais e marítimos, fazem de Paraty uma capital diferenciada entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Uma festa. Mas, uma festa que, se não tem os dias contados, vai mudar-se definitivamente para o Paço Real...


Caminho Novo Ou, Estrada Real

[o Caminho Novo e mapa com os dois caminhos]

A nova via para escoamento do ouro e diamantes é concluída em 1725 e liga as gerais ao paço real, a saber: Rio de Janeiro, Petrópolis, Itaipava, Secretário, Paraíba do Sul, Paraibuna, Simão Pereira, Matias Barbosa, Caetés, Juiz de Fora, Barbacena, Ressaquinha, Carandaí, Conselheiro Lafaiete, Mariana, Catas Altas, Santa Bárbara, Cocais, Bom Jesus do Amparo, Ipoema, Senhora do Carmo, Itambé do Mato Dentro, Morro do Pilar, Conceição do Mato Dentro, Itapanhoacanga, Serro Frio, São Gonçalo do Rio das Pedras e Diamantina.


O que existe? No ano 1702, a Capitania do Rio de Janeiro havia determinado que as mercadorias destinadas às Colônia devem entrar pela cidade do Rio de Janeiro e daí alcançar Paraty, de onde seguem para as Minas Gerais via trilha nativa, já pavimentada com pedras irregulares e batizada como Caminho do Ouro. O que leva a tal ação? É preciso que os reinóis na colônia entendam a importância da comunicação e da vigilância em relação às minas d´ouro e de pedras preciosas, pois, sabe-se, existem caminhos e descaminhos – e mais estes do que aqueles, sendo que, por exemplo, o que vai das minas de Aiuruoca para o Vale do paraíba e Paraty tem escoamento contrabandeado, o que obriga o Trono a exigir que a fortuna tenha nos padres jesuítas ´carregadores´ mais úteis: “[...] vmcê levara do Rio para as Ilhas em segredo os diamantes da carregação [...] por captam da dita embarcação e na falta deste, aquela pessoa que suas vezes fizer e se a vmcê não parecer dito segredo [...] para se fazer entrega aos Reverendos Padres, moradores da Companhia de Jesus das mesmas Ilhas estes enviem para Lisboa.” [in Arquivo Histórico Ultramarino]

e por isso é que, em 1716, João V nomeia o conde de Assumar como Governador e Capitão-mor da Capitania de São Paulo, que tem como anexo o território da Real Capitania das Minas do Ouro e dos Campos Gerais dos Cataguazes [in atas da Câmara Municipal de São Paulo]. Também pelo mesmo fato é que em 1727 é suspensa a construção de vias para Goiás e Mato Grosso e de São Paulo para as minas; e logo, do imperial Terreiro do Paço se ordena à Capitania de Minas Gerais que proíba a abertura de caminhos e picadas para as minas de Goiás, da mesma maneira que proíbe a abertura do caminho de Aiuruoca para o Vale da Paraíba; e, até, de picadas dentro da Capitania mineira!

E então, os guardiões reinóis a fortuna do Trono traçam um Caminho Novo, que fica batizado assim mesmo e fica no mapa como: as mercadorias para Minas Gerais atravessam a Serra dos Orgãos, Paraíba (do Sul) e Borda do Campo (Barbacena). O percurso encurta em 15 dias a viagem destinada aos sertões auríferos e ao escoamento das riquezas. O antigo percurso, sempre feito com mercadorias em lombo de jegue, era feito em 40 dias, do sertão das minas ao portinho: encurtar em duas semanas deu vantagem econômica no negócio do ouro e das pedras preciosas. E agora? Agora, Paraty não é mais o porto d´ouro e o choque econômico é grande socando socialmente a população. Consequência óbvia: a elite reinol bate em retirada para junto do Paço Real e fica em Paraty aquela burguesia rural e maruja cuja potencialidade produtiva está na atividade agropecuária, açucareira, artigos artesanais e bebidas destiladas... A ´mui nobre e fiel´ Paraty do ouro passa a ser a Paraty da cachaça boa... e do café!


Gente Caiçara um apontamento histórico

Um movimento social é, na região, uma espécie de fiel da balança mercantil no que diz respeito à deserdada, ou quase esquecida: o movimento caiçara. É a população ribeirinha e da beira-mar forjada na miscigenação euro-afro-americana e que sobrevive do extrativismo vegetal, da agricultura de fogos isolados, da caça e do artesanato – e, obviamente, tem na pesca a sua força e sua bandeira. A gente caiçara está na costa sul-sudeste e o nome vem do tupi antigo ka’ aysá / ka’ aysara, q.s. cerca – i.e., gente que vive em cerca de galhos d´árvore, o que traduz a realidade do fogo (rancho) isolado. A existência da gente caiçara tem início na edificação da Aldeia Gohayó [depois batizada Vila de S. Vicente], chefiada pelo Bacharel de Cananeia, junto a caciques guaranis, na qual anexou o Porto das Naus: de tal efervescência social e sexual ibero-americana é que surge o primeiro núcleo da raça brasileira e, aqui, a gente caiçara, à qual se junta alguns anos depois a gente africana que chega em navios negreiros como mão escrava para as minas e as lavouras. Ao longo do território entre Angra dos Reis e Meiembipe [do guarani, q.s. ´montanha no mar´, e depois batizada Ilha de Santa Catarina], mas maior na concentração de Gohayó a Paraty, a gente caiçara imita a vivência nativa, mas não deixa de usufruir das tecnologias agro-piscatórias introduzidas pelos europeus; e por isso é que três movimentos caiçaras estão na formação dos portugueses de serr´acima por volta dos Anos 30 do Século 16, a saber: o que sai de Gohayó para a Serra de Paranapiacaba, o que sai do Cubatão para alcançar a Mantiqueira via Conceição [dos nativos de Guarulhos], e o que sai de Paraty para a Serra de Bocaina – movimentos que mantêm a logística nativa e continental do Piabiyu e alargam as trilhas que levam ao certam de Cataguaz e ao Rio de Janeiro. A comunidade caiçara tem na mulher a delicadeza doméstica e a força roceira, enquanto o homem vai para o mar ou para a floresta em busca de peixe e caça, respectivamente.


[ambiente caiçara, ft de Gabriel de Paiva]

Mas, embora tenha a gente caiçara aprendido a sobreviver com os povos nativos, ele teve que voltar os olhos para as comodidades dos produtos cultivados e manufaturados ocidentalmente, por isso, entre as famílias e estas e as outras das vilas, as trocas de produtos são comuns – é o escambo, que dá vida mercantil entre a Estrada Geral da Sam Paolo dos Campi de Piratinin, na ligação ao sul pelo Piabiyu, e a da trilha de Paraty na Serra da Bocaina no sentido do Rio de Janeiro. Das trocas e compra-e-vende de tais produtos a sociedade colonial ribeirinha, serrana e da beira-mar tem uma noção do ambiente econômico, e então, a gente caiçara serve de sinal para o tempo bom e o tempo ruim. Tanto na era do ouro e diamante quanto na era do café a gente caiçara também avançou serr´acima, parte dela quis saborear o gosto da aventura por uma incerta fortuna, e foi e voltou, mas essa ação enfraqueceu muito a comunidade. No retorno essa gente percebe também uma debandada dos ´nobres´, que deixam terras ao deus-dará, várzeas de alta produção agrícola sem o corte do arado e adubo, cursos d´água interrompidos, logo, inundações que prejudicam ainda mais a população. A lavoura e o portinho de mar são as opções, muitas embarcações europeias e americanas lançam âncora por aqui e ajudam a manter uma atividade econômica precária – e, então, a gente caiçara vê e apanha a nova oportunidade: viver do que somos.


Parte Segunda ouro, diamante, café & turismo

o que Ontem foi e o que Hoje é

Por mais ou menos 3 séculos a mula é o animal de carga que alcança trilhas e um mar de cerros de cascalho solto e precipícios numa logística que só a imaginação pode descrever, pois, suor, sangue e desespero temperam a alma da aventura pela demanda da fortuna. Em tal logística é que alguns ramos de atividade se notabilizam e se tornam essenciais à manutenção da odisseia: desde o ferreiro ao coureiro [arreamento e selaria] ao ferrador e funileiro, passando pelas famílias de artesãos encarregadas dos cestos [jacazeiros] e das bruacas e cangalhos, porque cada animal carrega 4 arrobas; o ferreiro e o ferrador são, aqui, insubstituíveis. E então, ganham vida currais e ranchos, e até meros fogos de serr´acima transformam-se em estalagens principescas diante da precária jornada que a Serra da Bocaina. Pela beleza quase brutal da serra, mata atlântica adentro, tem assento um desenvolvimento humano fantástico, quase desumano pelo esforço a que obriga cada pessoa, tão brutal quanto a paisagem escarpada, sem se esquecer que existem 1500 metros de diferença de nível entre a planície do Paraíba e o planalto da Bocaina. A dinâmica republicana obriga as pessoas ao exercício de estratégias para a sobrevivência adequada a habitat, e a gente paratyense adapta-se a uma realidade que está longe, muito longe da era que foi o portinho d´ouro, mas, pensam, que pode continuar a sê-lo mercê de atividades mercantis e socioculturais. Entre os primeiros fogos de portugueses serr´acima, o escoamento do ouro das gerais e o corte do caminho nativo, a população tem uma atitude corporativa com foco nas irmandades religiosas da cristandade, a par das agremiações judaicas e árabes (estas, de comunidades) sempre presentes no processo de colonização e progresso do Brasil. Por isso, a edificação de templos da cristandade torna-se, desde os primeiros fogos sem


eira nem beira, o marco-zero da ocupação com o recuo e/ou a aniquilação dos povos nativos. A religiosidade marca todos os portugueses que deixam a praia-mar, seguem serr´acima até os sertões e, entre eles e mamelucos e nativos, congregam um elo inquebrantável, ao qual se junto o negro africano – uma forja plurirracial que, de certa maneira, reedita a história de Portugal, pois, a alma portuguesa é um cruzamento de raças e credos celtas, árabes, romanos, gregos, lusitanos e galegos, sendo que o galego foi a fonte da língua portuguesa tão bem tangida por Gil Vicente e por Camões e, no Brasil, por Castro Alves, Tomás Antônio Gonzaga e Baptista Cepellos, entre outros.

“Há um microclima protegido da ação da brisa marinha...” – Ab’ Sáber

Fazendo-se o Caminho Geral do Sertão [ou Estrada Geral de São Paulo] e atravessando a Mantiqueira apanha-se a Estrada de Cesárea e, logo, uma caminhada de 11 léguas, para o porto de Mambucaba: eis o Caminho Novo. O capitão-mor de Guaratinguetá, com autorização de Lobo de Saldanha, capitão-general da Capitania paulista, subdivide as terras do Caminho Novo em pequenas sesmarias e favorece quem o ajudou na retificação da via serrana... Esta informação política e administrativa é de grande interesse para se entender como algumas famílias continuam na trilha de serr´acima e outras seguem para o Rio de Janeiro: as famílias que ficam, mais próximas ou ainda no Vale do Paraíba é que dão corpo econômico e social à resistência em meio às entidades religiosas. Entretanto, a altitude e a pluviosidade, com maior distribuição anual na faixa vizinha à Serra do Mar limita a lavoura a cultivos menos resistentes, por isso a lavoura familiar é aqui uma realidade entre matas e roças. Só a fé de gente de serr´acima permite uma sobrevivência tão rústica. Mas, tanto na banda paulista quanto na carioca, os sesmeiros beneficiados fazem fortuna: saindo da montanheira e mineira Pouso Alto na direção do porto de Mambucaba, na região de Angra dos Reis, a família Pereira Leite [leia-se capitão Fortunato], por exemplo, teve que vencer um atoleiro no vale do Paraíba e aqui mesmo fez pouso e dele fez arraial com ermida para São José, de onde surgiu São José do Barreiro e, logo, ponto de referência para todas as tropas por ser o “portal da serra”. E, antes deste exemplo geoeconômico, um geopolítico tem interesse historiográfico na banda fluminense: uma escrava do Quilombola de Sobara, nos “certoens de Araruama”, recebeu do fazendeiro Manoel Gonçalves um “pedaço de terras” que, mais tarde, uma neta de nome Cesárea herdou e ´guardou´ com “marcos de pedra”, e desta terra nasce a Estrada de Cesárea a ligar à Estrada de Barro de Ariró e aos portos Jurumirim e Mambucaba. Ou seja, entre mineradores e tropeiros as estradas não foram só do e para o ouro, serviram também para a formação de núcleos de agricultura e pastoreio e um consequente bem-estar econômico. Também, em várias circunstâncias, a gente escrava oriunda d´África é o sustento do assentamento colonial e, em outras, parte da evolução social. Na falta de ouro e diamante, eis que a mandioca, o aipim, o feijão e o milho fazem a riqueza da barriga... Entende-se, então, como essas gentes rudes e cheias de sonhos, trajando o eldorado literalmente, se fizeram gente da terra. O microclima da Serra da Bocaina favorece uma agricultura de sobrevida e uma vida saudável, porque é um espaço da mata atlântica que recebe, na época das chuvas,


mais ou menos 3.000 milímetros d´água, uma riqueza natural a ser aproveitada pelos colonos, da mesma maneira que os nativos faziam e ensinaram a fazer.

O que é a Serra de Bocaina? É um trecho da Serra do Mar que se estende da Praia do Cachadaço [Trindade], no Rio de janeiro, e o Pico Tira-o-Chapéu [S. José do Barreiro] em São Paulo, e compreende 1.040 km2, ou 104.044 hectares, tendo o Pico de Tira-o-Chapéu com ponto mais alto, a 2.088 metros acima do nível do mar.

Assim, do aproveitamento da trilha nativa feita Trilha do Ouro ao admirável Caminho Novo o assentamento colonial deu ao português, ao mameluco e ao luso-brasileiro lições geofísicas de importância para a sua sobrevivência, e se deve muito ao saber tupi-guarani, também não esquece que o esforço próprio assegura um futuro promissor tornando o colono já alguém-da-terra. É desta têmpera geossocial que Paraty aguenta as socadas geopolíticas e econômicas e se faz local de passagem e de abastecimento após a era do ouro. E, aproveitar o espaço de mato protegido da aragem marinha é e foi um saber de gente que gosta da vida como ela é! Foi se o ouro e veio o café. Por todo o Vale do Paraíba uma cultura altera a lavoura: o café. É o início do Século 18. A região norte do Brasil, no Pará, recebe do empreendedor Francisco de Melo Palheta, em 1727, as primeiras mudas de café para consumo doméstico. O café não exige a mão-de-obra especializada que a cana d´açúcar exige, não é um engenho, é plantação e trato pós-colheita. E há um porém: precisa de um microclima adequado, i.e., chuva com regularidade e escoamento rápido e seguro. Tudo o que o Vale do Paraíba espera ainda no embalo negativo do fechamento da Trilha do Ouro. O sistema natural da Serra do Bocaina tem condições para fazer germinar da muda um pé de café de alta qualidade. De consumo familiar a sobremesa nas casas de gente rica, o café começa a brotar nas margens dos antigos caminhos de mineiros e tropeiro. A cafeicultura é a nova mina da colônia e a lavoura espalha-se entre São Paulo e o Rio de Janeiro, apesar de a muda só virar café 4 anos depois de plantada, mas, tanto o português quanto o brasileiro já plantam pés de videira e fazem vinho, ora pois... E depois, a mão-de-obra escrava abunda na região.


[escravos em lavoura de café no Vale do Paraíba]

A comercialização do café do Brasil sai do regionalismo caipira e alcança o mundo após a chegada da família real, em 1808, porque os portos se abrem, primeiro, para gerar fortuna para o Trono, depois, para alimentar a burguesia mercantil que vai substituindo a nobreza. Mesmo assim, as regiões do Vale do Paraíba tratam o café de modo artesanal depois de beneficiados os grãos [retirada da casca] no monjolo [pilões movidos a água ou tração animal].


*

um Conde em Paraty sob concessão sesmeira Para tirar o máximo de proveito de seus reinóis, o rei ´fujão´ atribui inúmeros títulos nobiliárquicos por carta régia, um deles é o de Conde de Paraty.

Assim é que em 4 de dezembro de 1813, o reinol Miguel Rafael António do Carmo de Noronha Abranches Castelo Branco [1784-1849] torna-se o primeiro Conde de Paraty. E quem é ele? É um nobre e militar, coronel do Exército português, confidente do rei e conselheiro da Fazenda Real, a quem foi dada sesmaria em Paraty e no Rio de janeiro [Quinta de Botafogo]. Mais dois se seguiram: João Inácio Francisco de Paula de Noronha [1820-1884], oficial mor da casa Real, grão-mestre da Maçonaria, e Miguel Aleixo António do Carmo Noronha [1850-1932], político e diplomata. Com o fim da Monarquia e o início da República, o título continua ativo com Miguel António do Carmo de Noronha de Paiva Couceiro [1909-1979], Henrique António do Carmo de Noronha de Paiva Couceiro [1939-1999] e Pedro de Noronha de Paiva Couceiro. *


Novos Tempos, Novas Culturas & o Velho da Serra

A necessidade de adaptação às circunstâncias que surgem, entre métodos de aplicação agrícola e geopolítica, gera novos olhares e empreendedores. Pelo imenso Vale do Paraíba há uma mão de obra dispersa, tanto branca quanto mameluca e negra, mas também uma elite social sequiosa de riqueza para manter o status quo político. É aqui que vem ter um português de Guimarães, região nortenha do Minho, batizado João Ferreira Guimarães, com patente de alferes. Migrou para o Brasil com os pais, que assentam fogo no espaço aurífero dito Aiuruoca, e aqui no certam das gerais ele casa com Isabel Maria de Souza. O casal sai das lavras d´ouro e não porque o metal brilhante começa a escassear, mas porque foge das implicações no âmbito do levante mineiro, e abre leito em Rezende, mas logo aproveita o Caminho Novo e desce para o Vale do Paraíba, onde constrói fazendas e engenhos – e, para o povo, ele é o velho da serra; uma das fazendas torna-se famosa até pelo nome; Fazenda Pau d´Alho.


O alferes e agricultor solicita doação sesmeira à Capitania paulista, que recebe em outubro de 1796, junto com Antônio Siqueira e David Machado, na paragem dita do Ribeirão do Barreiro: “[...] novecentas braças de terras de testada na estrada, que vai do Rio de Janeiro e huma légua de certão meya para cada lado do dito Caminho, partindo de hum lado de parte leste em terras do Guarda mor Pedro da Cunha, e da parte do Este com terras do mesmo Suplicante” [in Arquivo Público de São Paulo _ sesmarias, p.229]. E, logo, adquire terras de vizinhos: “Hum citio e terras na Estrada do Caminho Novo na parada chamada o Ribeiram do Barreiro, termo da villa de Lorena: cujo citio consta de huas cazas de vivenda com três lanso de casa cuberta de telha, que serva de cuzinha; mais dois lansos de caza também cuberta de telha, que serve de payol: com hum Monjollo, e arvoredos de Espinhos, e assim mais quatro lansos de caza

cuberta de telhas, que serve de Ranxo de passageiros: e tudo se haxa cituado em hua sorte de terras, que tem de Testada nove centas Brassas medidas pela Estrada; ou o que se achar emtre o marco que divide as terras do dito comprador Joam Ferreira Guimarães, e o marco que divide as terras do Guarda mor Pedro da Cunha” [do documento de compra de terras]. Assim ele criou unidade agrícolas e ranchos, além de


engenhos d´açúcar para, depois, se adaptar à cafeicultura, principalmente na Fazenda Pau d´Alho. Já no Século 19, essa fortuna fundiária é desmembrada, segundo o inventário no Registro de bens Rústicos [exigência do governo do reino Unido de Portugal e Algarves], da herdeira Anacleta Ferreira de Souza, casada com o capitão Fortunado Pereira Leite. Se no Século 16 as fazendas Yibitatá e Carapocuyba, do ´velho´ Affonso Sardinha, são referência para o poderio da elite sociopolítica e militar que domina a colônia, no Século 18 é a Fazenda Pau d´Alho, daquele alferes vimaranense, nas margens do Caminho Novo do Ouro, que mostra o mesmo poderio, até no tipo de arquitetura... A sede é murada com pedra, a casa tem paredes de pedra com emparelhamento de paua-pique, portão grande e renque de palmeiras imperiais a ´dizer´ da opulência; o pátio interno é ladeado de senzalas, cavalariças, tulhas e paiol.

do Ouro ao Café E, em nova era, Paraty é o porto da vez e do café... Pode-se até dizer que o porto paratyense se movimenta mais com o café do que o embarque do ouro. Na chegada ao Rio de Janeiro do rei que foge da tropa napoleônica a população de Paraty é de cerca de 6.200 pessoas que viam, anualmente, diz-se, 20.000 muares carregarem sacas e sacas de café embarcadas em 10 ou 12 veleiros. Obviamente, a logística rural e cafeeira domina a região, pelo que muitas casas de família têm galpão e/ou quintal alocados para receber e guardar produtos, e outras fazem habitação no piso superior deixando o térreo para balcão de negócios. Paralelamente, o artesanato naval – assim como no trato do café, a construção de barcos não é ainda uma indústria – ganha maior dimensão técnica e mercantil, e só quando algum grande veleiro europeu ou norte-americano atraca num dos cais é que se percebe o quanto a colônia é uma microrregião de pequenos empreendedores rurais e raros armadores, apesar de ter uma costa continental. É interessante [a]notar que, situada ao nível do mar [o ´degrau´ não chega a 5 metros], Paraty foi urbanizada contando com o fluxo das marés que lhe adentram pelo arruamento em ciclos vários.

[a água da maré invadindo a cidade de Paraty]


Por isso, faltou na projeção, já na época do escoamento do ouro, a idealização de uma indústria voltada à construção de embarcações, o que lhe daria a importância que têm os portos de Santos e do Rio de Janeiro. Fora a falta de perspectiva diante de um mundo em mudança industrial [maquinário e barco a vapor, caminho-de-ferro, telefone, etc.], falta de perspectiva que ensombra os imperadores Pedro I e Pedro II, e sobretudo este diante do empreendedor barão de Mauá, eis que Paraty consegue sobreviver e destaca-se social e culturalmente entre as regiões do Vale do Paraíba.

Do empreendedorismo do barão de Mauá os Caminhos de Ferro

Entretanto, o café é mais um ciclo econômico que termina por não se atender à sabedoria tupi-guarani: dar à terra o que dela se retira.

Transporte de café em muares [ft de Marc Ferrez, 1881]

A cafeicultura faz gente enricar, cria ´barões´, mas estes esquecem o trato adequado da terra e seguem na ganância gerando uma terra de solo esgotado por cultivos sucessivos – e, sem mais espaços, as mudas de café saem do Vale do Paraíba


migrando para o sertam dos guaranis, a oeste da Sam Paolo dos Campi de Piratin, aquela em que o Morgado de Mateus apostara tudo por um Brasil moderno e ali erguera Campinas, entre outras vilas. A visão de um Brasil-nação recomeça no oeste paulista.

E agora, Paraty? Entre os Séculos 19 e 20, Paraty revive aquele período trágico que surgiu com o fecho da Trilha do Ouro. O que fazer?, questionam os paratyenses. Ora, existem fazendas, existe gado, cana d’açúcar e mar, muito pesca, logo, couro, comida e cachaça. E um porto de mar. O que falta? Uma via de acesso direto às outras regiões do vale: o traço geossocial que acompanha a ferrovia e a invenção do automóvel. No caso paratyense a via deve atender o carro, mesmo que, quiçá, ainda carroçável... É preciso dizer ao Brasil do sertão que existe o Brasil da beira-mar, que devem se conhecer, trocar experiências e girar a economia com troca de produtos. Desde os últimos anos do Século 19 uma palavra mexe com o mundo: turismo. Levar pessoas a conhecer locais e outras pessoas.

Paraty é, por excelência, o que muitas cidades europeias são há muito tempo: um ponto de recreio e de descanso. Ideias, ideias e ideias, mas, em 1954, é aberta uma via carroçável na direção de Cunha, sim, naquele velho caminho colonial. E, 20 anos depois, é aberta a Estrada RioSantos colocando Paraty no centro de um mundo novo. É o que basta para Paraty fazer um levantamento e projetar a modernização da sua lavoura, receber outras gentes e ver o seu retrato pintado e levado ao mundo.


Parte Terceira personalidades & dados institucionais

Sobre a Cidade Paraty é uma municipalidade brasileira situada no Estado do Rio de Janeiro, no litoral sul, e a 258 Km da capital, é também divisa com o Estado de São Paulo e contém área na Serra de Bocaina, que abarca as duas regiões. Com área de 930,7 km², a região abriga 35.730 [dados de 2008] pessoas em quase meia centena de bairros.


Relacionamento Internacional

Paraty tem cidades-irmãs em Portugal, Brasil e Itália – a saber, respectivamente: Ílhavo [Lei Municipal nº 254, 25.12.2007], Cunha [Lei Municipal nº 49, 10.10.2013] e Capri [Lei Municipal nº 1805, 15.5.2011].


PARATY Brasão da Arma

Art. 1º- Fica criado o Brasão de Arma do município de Parati, com a seguinte descrição heráldica: Escrito em português, esquartelado tendo de penas sobre duas flechas cruzadas, tudo de ouro; no segundo, de vermelho, um antigo carimbo elíptico, gravado com as armas de Portugal ladeado com as palavras “Remédios” metade de cada lado, sentido vertical, entre o brasão de Portugal e a vinheta lateral; no terceiro de ouro, o contorno do Município, tendo como fundo a direita em campo de prata, e à esquerda, um fundo azul, tudo carregado de um peixe de prata, no quarto, por menor de uma casa colonial, mostrando um beiral e uma grande de ferro. Tudo de prata sobre um campo azul como suportes, à direita, um galho de café, juntando a sua cor, e, a esquerda uma haste de cana. Um listão de Vermelho com os seguintes dizeres, de prata: “1660 – Parati – 1844. Conjunto encimado pela coroa mural de cinco torres de prata, que é da cidade, tendo ao centro uma flor de Liz, de ouro”. Único - O elucidário do brasão deste artigo é o seguinte: O escrito português lembra nossa origem lusitana de nossa Pátria; o turbante e as duas setas evidenciam os primitivos habitantes da região, índios de uma tribo “Guaina”; o carimbo blasonado era usado no tempo colonial para autenticar a documentação de atos governo municipal, sob a invocação de N. S. dos Remédios, protetora dos munícipes, desde 646, época em que fora escolhida para protetora do então nascente povoado; o peixe simboliza a piscosa e alentada orla marítima, uma das muitas riquezas regional não só pela quantidade como também pela qualidade excelente do pescado; o beiral e o gradil colonial é uma esplendorosa característica do velho casario, cuja autenticidade e beleza


arquitetônica levaram o governo federal a elevar a cidade de Parati à dignidade de Monumento Nacional. O café e a cana são riquezas naturais, desde longa data, sendo que a segunda proporcionalmente o fabrico de excelente aguardente, a melhor e a mais reputada do Brasil. A flor de Liz, recordando que o orago da cidade é N. S. dos Remédios. 1660 – Elevação do povoado à categoria de vila. 1844 – Data em que adquiriu foro de cidade, pela lei provincial nº 303, de 11 de Março. Metais e Esmalte: Ouro: força: Prata: candura, Vermelho: intrepidez; Azul: serenidade; Verde: abundância. Art 2º - A presente lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Prefeitura Municipal de Parati em 30 de Novembro de 1960. Antônio Núbil França (prefeito)

PARATY Bandeira

Art.1º - Fica criada a bandeira do município de Parati, com a seguinte descrição heráldica: De formato normal das bandeiras oficiais, terá o símbolo do município as três cores tradicionais que há séculos ornamentas as casas de nossas cidades, hoje “Monumento Nacional”, que são: Vermelho, Brando e Azul. Composta de três faixas verticais nas cores acima, contem na do meio (branca) o brasão de armas de nossa terra. Na faixa vermelha ao lado do mastro, uma estrela maior simbolizando o Primeiro Distrito, e na azul duas estrelas menores, simbolizando o segundo e Terceiro Distrito; as estrelas serão colocadas em forma triangular, lembrando a grande influência que a maçonaria exerceu na história do município de Parati.


Art 2º - Fica o Poder Executivo autorizado a mandar confeccionar duas bandeiras, um para a Prefeitura e outra para a Câmara Municipal. Art 3º - Revogadas as disposições em contrário.

Prefeitura Municipal de Parati em 12 de Agosto de 1967. Antônio Nubile França (prefeito

Hinos de Paraty

1 Exaltação a Paraty Paraty cidade a beira mar Meu cantinho adorado Tens o céu bordado de estrelas És tu Paraty amado. Um leito de cetim feito de rosas Um belo pedacinho do Brasil Paraty, oh minha terra És linda como um céu de anil Com poema de Aldmar Gomes Duarte Coelho e música do maestro Benedito das Flores [o maestro Potinho], a peça é feita Hino Paratyense pela Lei Municipal N°587, de 19 de setembro de 1980.


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Uma marchinha intitulada A Bela Adormecida torna-se muito popular nas festas de Paraty; escrita pelo poeta José Kleber, é considerada não oficialmente o hino da cidade.

A Bela Adormecida Quando a sonhar me vejo na cidade A bela adormecida ao pé do mar E bebo a tarde e sinto a madrugada E a noite de permeio é só luar. É sol e mar, é praia e serenata São pedras ladrilhando a minha rua O mar passeia solitário na calçada Espelhando a lua cheia nos beirais e nas sacadas! Vida! Como é boa para a gente viver Amo! Como é bom a gente amar aqui Na praça, no cais, na praia... Tudo isso é Paraty É Paraty, é Paraty!


Economia

Com um Produto Interno Bruto [pib] de cerca de R$447 milhões, cerca de R$12 mil per capita, em registros do IBGE em 2008. Os dados levam em conta 3 grupos principais: Agropecuária, formada por Agricultura, Extrativa Vegetal e Pecuária; Indústria, que engloba Extrativa Mineral, Transformação, Serviços Industriais de Utilidade Pública e Construção Civil; e Serviços, que incluem Comércio, Transporte, Comunicação, Serviços da Administração Pública e outros. Isto sinaliza a capacidade de geração de riqueza de um município, e o de Paraty representa 7,93 % do PIB da Região da Costa Verde.

o café e a aguardenrte

Como cresceu a economia paratyense? Em meados do Século 19, já com o arruamento central calçado e ainda com cerca de 4.000 escravos, Paraty tem no ponto urbano 40 sobrados e, segundo fontes oficiais, 400 casas, além de mais de 120 unidades rurais, sendo que a região abriga 16.000 pessoas livres. Comerciantes, negociantes (ou intermediários), armadores e vendeiros são, então, o núcleo mercantil da vila. Deve-se (a)notar que o ciclo do café agrega mais riqueza à região do que o ciclo do ouro, porque “o ouro foi brilho de passagem e o café brilho saboreado” [Barcellos, 1989] por todas as classes sociais. E, a cultura alambiqueira forma também um tal beneficiamento agrícola que a produção ultrapassa a fronteira rural e torna-se símbolo de uma Paraty que se recria de ciclo em ciclo. Assim nasce uma economia local que é tão forte quanto o jeito caiçara de sobreviver aos obstáculos que naturalmente surgem.


Turismo hotelaria e gastronomia gastronomia entre ações eco-culturais & esportivas

1 O casario colonial, no Centro Histórico, faz de Paraty uma das regiões mais visitadas do litoral brasileiro. A coberto de uma linha serrana atlântica, com a região possui parques e reservas ecológicas, com cerca de 60 ilhas e 90 praias às quais se tem acesso por trilhas ou embarcações. No campo marítimo é possível praticar vela e surf, mergulho e canoagem, tanto em mar aberto como nas baías Ilha Grande, Saco do Mamanguá e Cajaíba. 2 A gastronomia regional (caiçara e luso-africana) e a hotelaria são pontos fortes na economia paratyense, atividades que chamam para a região empreendimentos com infraestrutura sofisticada, porém, sem ferirem o traço histórico que envolve a região.

Agricultura/Pesca & Indústria Naval 1 A agricultura e a pesca, uma e outra de características familiares, são ramos de atividade que, desde sempre, lhe são base econômica. Séculos depois da ocupação colonial, o amanho da terra e demanda piscatória – e esta, no mar, nos manguezais e nos cursos d´água que descem as serras – estão na base do ganha-pão de muitas famílias. Associadas tais atividades ao turismo, Paraty continua a viver de recursos naturais. Tanto a gastronomia quanto a hotelaria têm vida assegurada com produtos/iguarias que só Paraty pode e sabe oferecer... Uma das iguarias mais apreciadas é a aguardente, que sai de alambiques cuja história remonta à formação do primeiro núcleo urbano.


2 E porque tem uma baía de excelência para a formação de cais e estaleiros, a indústria naval tem aqui estruturas que facilitam o desenvolvimento tecnológico.

Dos estaleiros artesanais dos velhos caiçaras aos de tecnologia ultramoderna, Paraty é agora ponto/cais seguro neste segmento que agrega profissões várias, seja na construção de barcos e sua manutenção, como na de plataformas para alto-mar. E aqui, mais uma vez entra o turismo: as embarcações de recreio dão ocupação à maior parte dos armadores.

Cultura FLIP Festa Literária Internacional de Paraty

A histórica Paraty ingressa também no ciclo lítero-cultural com a criação da Feira Literária Internacional - FLIP.


Projetado e realizado com base na estrutura do festival britânico Hay-on-Wye, no País de Gales, a FLIP tem na editora de livros Liz Calder a sua fundadora a partir da Associação Casa Azul. A cada evento anual um(a) autor(a) tem sua obra celebrada e, por isso, Paraty recebe fazedores de literatura de todo o mundo. Intercultural, a FLIP tem programação com atividades que combinam literatura para todas as idades, debates, artes cênicas e visuais.

Personalidades Paratyenses

ABREU, Domingos Gonçalves de [Séc. 17] – Familiar de João Pimenta de Carvalho e Maria Jácome de Melo que, em ato de rebeldia municipalista, assenta Pelourinho em 1660, como símbolo de independência e jurisdição local, e transforma Paraty em vila independente de Angra dos Reis. CARVALHO, João Pimenta de [Séc. 17] – Capitão-Mor e procurador da Condessa de Vimieiro, donatária da Capitania de São Vicente. Chegou na região e fundou um povoado onde hoje é o Morro do Forte, construindo uma capela dedicada a São Roque. Em 1624 autorizaaou uma doação de sesmaria em Paraty-Mirim em nome de Fernando Loredo Coronel e Diogo Bermudes; em 1630 doa uma sesmaria para sua filha, Maria Jácome de Melo, de légua e meia, com o rio Perequê-Açu ao centro, e aqui se foca depois o centro de Paraty. COSTA, Samuel Madruga [1882-1930] – Jornalista, historiador, advogado, poeta, vereador, primeiro prefeito de Paraty, deputado estadual por duas vezes. Durante o seu governo instala a luz elétrica na cidade, inaugura escolas e a praça em frente à igreja da Matriz, reforma a Santa Casa. Importantes registros historiográficos de Paraty são feitos por ele e José de Souza Pizarro e Araújo. CUNHA, Lourenço Carvalho da [Sécs 17 e 18] – Familiar de Francisco Amaral Gurgel, é um abastado que ´enricou´ com o transporte de carga pelo caminho do ouro. Possui 300 escravos e cabe-lhe, enquanto Capitão-Mor, receber em Paraty a mais alta autoridade reinol na colônia: o Conde de Assumar. Em 1711 sai em socorro, com os seus escravos armados, da Ilha Grande, cercada por piratas e, em 1719, o mesmo na Vila de Angra dos Reis. É proprietário de duas sesmarias de 3.000 braças cada, recebidas em 1719 na região do Saco de Mamanguá, onde constrói a Capela homenageando Nª Sª da Conceição de Mamanguá. Em 1720, envolve-se em atos de contrabando com franceses, mas, ao contrário de Francisco Gurgel, a sua influência o absolveu.


DIAS, Manuel Eufrázio dos Santos [1840-1915, Marechal Santos Dias] – Militar e herói da Guerra do Paraguai (1864 a 1870), é agraciado com condecorações e títulos honoríficos. Ainda em 1889 defende a recém proclamada República do Brasil dos rebeldes caudilhos. Dona Geralda [1807-1890, Geralda Maria da Silva] – Os seus pais são donos da Fazenda Bananal, deixando grande herança em terras, casas, escravos, dinheiro e títulos de dívida ativa. Sem nunca ter casado, dedica parte de sua vida ajudando os necessitados. Com sua ajuda financeira, e após 86 anos, finaliza-se a construção da Igreja Matriz. Em 1864 o imperador Pedro II a nomeia Dona Geralda com o título de Dona Honorária de Palácio pelos “distintos serviços prestados à religião”. Em seu inventário deixa grande parte de sua fortuna para as irmandades religiosas, para a Santa Casas da Misericórdia, familiares, amigos e escravos. GURGEL, Francisco Amaral [Sécs 17 e 18] – Mercador e fazendeiro abastado, em 1709, propõe ao rei a aquisição da Capitânia de São Vicente...! Homem decidido pela terra, chefia por duas vezes a tropa contra-ataques piratas e corsários. Em 1710 o corsário francês João Batista Duclerc tenta desembarcar em Paraty, mas é impedido com barreira de tiros de canhões, ato que vale a Gurgel o cargo de Coronel de Exército e Capitão-Mor de Paraty. Um ano depois, 6.000 franceses comandados por Renato Dugay Trouin tomam a cidade do Rio de Janeiro e Gurgel junta, às suas custas, uma força com 580 homens de Paraty para contra-atacar: já no espaço carioca, percebe que a tropa local abandonou a defesa, logo, diante do quase-nada, negocia com os franceses um resgate de 200 bois, 100 caixas de açúcar e 600.000 cruzados para não destruírem a cidade. O resgate, segundo algumas fontes, foi pago com animais e açúcar de sua fazenda em ParatyMirim e dinheiro de seu próprio bolso. O governador do Rio foi punido por ter abandonado a cidade com 10 anos de serviços pesados na África. Entretanto, as gentes de Paraty dizem/reclamam que o dinheiro do resgate não foi devolvido à cidade. Fora o diz-se e diz-se popular, Gurgel foi elogiado pelo Rei de Portugal que lhe agradeceu “a fidelidade, o zelo e valentia que mostrou na defesa da praça”. Apesar de todo seu poder, em 1721 foi acusado de assassinato em Paraty, sendo preso e enviado à Portugal... GURGEL, Salvador Carvalho Do Amaral [Séc. 18] – Médico, tem casa em Ouro Preto, onde faz amizade com Tiradentes e outros participantes da Conjuração Mineira (movimento pela independência de Minas Gerais que foi traído e abortado). Assim como os principais participantes, com exceção de Tiradentes, é deportado para África. Salvador Carvalho foi o único fluminense envolvido no movimento. Entretanto, na África continua exercendo a medicina, faz-se político e ali constitui família. MELO, Maria Jácome de [Séc. 17] – Senhora abastada, que faz doação de um território entre os rios Perequê-Açu e Patitiba para a formação urbana da vila. Na doação, ela impõe a edificação de uma capela em honra de Nª Sª dos Remédios e o respeito aos nativos que aqui viviam, ou ainda vivem. PASSOS, [Antônio Pereira dos [786-1866; Barão de Mangaratiba] – Natural de Paraty, vai viver em São João do Príncipe, onde é vereador, juiz, major da Guarda Nacional e fazendeiro. Em 1860 recebe o título de Barão de Mangaratiba mercê de grande doação feita a favor do Hospital D. Pedro II, no Rio de Janeiro.


Referências Apontamentos Históricos da Província de S. Paulo – M. E. de Azevedo Marques. Instituto Histórico Brasileiro, 1879. Caminho Novo. Estradas Reais – Márcio Santos. Belo Horizonte / MG, 2001. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores – Eduardo Bueno. Edit Objetiva, RJ- 1999. De Passagem Por Paraty – J. C. Macedo. Ensaio e Palestra. Paraty/RJ, 1987.

Diário de Uma Viagem Mineralógica pela Província de S. Paulo no Anno de 1805 – Martim Francisco Ribeiro de Andrada. Revista do IHGSP, Tomo IX, 1847. Dilatação dos Confins: caminhos, vilas e cidades na formação da Capitania de São Paulo (15321822) – Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno. Estudos de Cultura Material; Anais do Museu Paulista, Vol. 17, 2009. Ensaios de Maçonaria – A. H. de Oliveira Marques. Quetzal, Lisboa/Pt, 1989. Hansa e Portugal na Idade Média – A. H. de Oliveira Marques. Edit Presença; Lisboa/Pt, 1959. História da Capitania de São Vicente – Pedro Taques de Almeida Paes Leme, 1772. História Verdadeira e Descrição de um País de Selvagens – Hans Staden. Marburgo, 1557. Informações Sobre as Minas de São Paulo – Pedro Taques de Almeida Paes Leme, 1772. Informações Sobre o Estado das Aldeias de Índios da Capitania de São Paulo – Pedro Taques de Almeida Paes Leme, 1772. Mapeamento Geomorfológico do Parque Nacional da Serra de Bocaina o Estado do Rio de Janeiro – Albani, R.A. (UFRJ); Ferreira, A.C.B.C. (UFRJ); Pena, J.N. (UFRJ); Silva, L.F.T.C. (UFRJ); Jorge, M.C.O. (UNESP - RIO CLARO); Bezerra, J.F.R. (UFRJ); Guerra, A.J.T. (UFRJ), s/d. Memorias Históricas do Rio de Janeiro e das Provincias Annexas a’ Jurisdicção do Vice-Rei do Estado do Brasil – Joze de Souza Azevedo Pizarro e Araújo, 1820. Da coleção da Harvard College Library. Nobiliário das Famílias de Portugal – Vol. IV, Braga/Pt, 1989. O Brasil Dos Tropeiros & Estradas Reais – João Barcellos. Ed Edicon + TerraNova + CEHC / gd Noética; Portugal e Brasil, 2013. Opulência Reinol No Porto De Paraty Em Meio Às Estradas Reais, Traficantes & Tropas – J. C. Macedo. Ensaio e Palestra. Paraty/RJ, 1991. Relação das Sesmarias da Capitania do Rio de Janeiro – Revista do IHGB, Rio de Janeiro, tomo LXIII, parte 1, 1901. Projeto Resgate: Catálogo de Documentos Manuscritos Avulsos Referentes à Capitania de São Paulo – MG Existentes no Arquivo Histórico Ultramarino – Lisboa/Pt. Segunda Viagem do Rio de Janeiro A Minas Gerais e a São Paulo [1822] – Auguste de Saint-Hilaire. Edusp, 1974. Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e Arredores de São Paulo – Aziz N. Ab’ Sáber e Nilo Bernardes. XVIII Congresso Internacional de Geografia, 1958.

Instituições Arquivo do Estado de São Paulo Arquivo Histórico Ultramarino / Lisboa-Pt Biblioteca Nacional / Rio de Janeiro – Brasil Casa do Bandeirante [Fazenda Ybitatá, de Affonso Sardinha] / São Paulo – Brasil Câmara Municipal de Paraty Câmara Municipal de São Paulo [atas dos Sécs 16, 17 e 18] Fazenda Pau d´Alho / São José do Barreiro (Vale do Paraíba) – Brasil Harvard College Library Instituto Histórico e Geográfico / São Paulo e Rio de Janeiro – Brasil Instituto do patrimônio Histórico e Artístico Nacional / IPHAN Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística / IBGE Museu da Inconfidência / Ouro Preto – Brasil Museu das Monções / Porto Feliz - Brasil Torre do Tombo / Biblioteca Nacional – Lisboa/Pt


JOÃO BARCELLOS Escritor / Jornalista / Pesquisador de História / Conferencista

“Há muito radicado nos caminhos da América do Sul, tornou-se um estudioso da Luso-Brasilidade e produziu vários livros sobre o assunto: romances e estudos históricos - um sobre o capitão-general de São Paulo[O Morgado de Matheus, SP-1991] e outros sobre a região cotiana do Piabiyu [Cotia - Da Odisséia Brasileira De São Paulo Nas Referências Do Povoado Carijó, SP-1993; De Costa A Costa Com A Casa Às Costas, SP-1996]. Os seus conhecimentos sobre a sempre presente Cultura Minho-Galaico Sob Referências Célticas permite-lhe alcançar várias rotas de estudos e aprofundar o seu conceito de Ser-Estar Português No Mundo. Filho de família que mistura as linhas de serviço público, tecnologia industrial, comércio, artesanato e literatura, João Barcellos transpõe para os seus escritos essa vivência cultural que aprofundou nas suas andanças jornalísticas - é, assim, um intelectual de vanguarda com bagagem humanística poeticamente assumida! [OLIVEIRA,Tereza de - artista plástica, poeta; Paris/Fr, 1998]” /// “O universo que nos cerca, seja o sistema ecológico seja o sistema humano - e, na realidade, o segundo sobrevive sem o primeiro (somos seres solares e lunares, ou cósmicos) -, é o material de base para as ações intelectuais do escritor luso-brasileiro João Barcellos. Ele é o Ser em busca do Ser entre as coisas da Terra e a floresta do Pensamento. Se o Ser Humano é o que é em função da evolução cósmica, João Barcellos é um poeta que escreve com a coragem de Viver esta evolução natural; e por isto, ele Vive em si mesmo a Humanidade que raro encontra nas esquinas do sistema humano. Ele é o Poeta por inteiro na Anarquia do prazer de Viver!... [CÉDRON, Marc - ecologista, psiquiatra; 1999, Zurich/Ch]” /// “Pesquisador de mangas arregaçadas e pé na trilha, eis o historiador e jornalista João Barcellos, do mesmo jeito que é o poeta e o romancista na observação profunda da realidade que faz e que o rodeia. Em todos os seus trabalhos está o ato sociocultural por excelência pela filosofia pura do olhar que abre espaços para a liberdade de estar e ser [NOVAES, Marta - Buenos Aires, Arg., 2010].

Tábua Litero-Historiográfica

POESIA E SEIS CONTOS DUM BARALHO SÓ coletânea [1989, SP]; – ESTÓRIAS POÉTICAS crônicas [1989, RJ]; – TEMPO DE VINGANÇA romance [1990, SP]; – UM LUSO NA ILHA DE SAMPA poema; – COTIA as referências de são paulo na aldeia carijó pesquisa [1991, SP]; – PARATY estudos [1989]; – UMA CARAVELA DE PRATA romance [1992, RJ]; – MORGADO DE MATHEUS pesquisa/ensaio [SP, 1993 e 2000], 2ª Ediç./SP-Br, 2004; Prêmio Clio de História 2004; – COTIA pesquisa/ensaio; – TEATRO [peças em 1 Ato] ; – DE FERNANDO PESSOA A MACHADO DE ASSIS ensaio/palestra; – CAMÕES / O


POETA DO TEMPO LUSITANO ensaio [1991, RJ]; – SIDÔNIO MURALHA / O POETA DA VIDA ensaio/palestra; – MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO ensaio/palestra; – ANTERO DE QUENTAL ensaio/palestra; – CAMILO PESSANHA ensaio; – A CRIAÇÃO POÉTICA ensaio/palestra [1990/91, Rio de Janeiro e Florianópolis]; – O TROPICAL JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS palestra; – OS DESCOBRIMENTOS ensaio [Prêmio Pedro Álvares Cabral, 1990 - SP]; - REFLEXÕES SOBRE FERNANDO PESSOA ensaios/palestras; – A MULHER E A POESIA EM FLORBELA ESPANCA palestra; – CELTAS ensaios/palestras; – DE COSTA A COSTA COM A CASA ÀS COSTAS história brasileira a partir de acutia; – OI, COTIA! / HISTÓRIA PARA CRIANÇAS [com ilustrações de Ricardo Feher]; – O PEREGRINO / A ESSÊNCIA POÉTICA DO SER ensaio/palestra [1995]; – O PEQUENO PEREGRINO e outros contos; – ENTRE O POETINHA E O CANTO DAS VANGUARDAS ensaio sobre Vinicius de Moraes; – CONTOS PARA TODOS contos para jovens [1995]; – CONTOS para jovens [1995];– MÁRIO SCHENBERG / O SER QUE SABIA ESTAR palestra; – JOSÉ DE ALENCAR palestra; – O PEREGRINO / Palestra Primeira e Palestra Segunda [1998]; – TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA / palestra [Ouro Preto/MG,1998]; – AMOR poesias c/ marc cédron joane d'almeida y piñon tereza de oliveira jb mário castro [Grupo Granja, 1999]; – RIO / O ROMANCE NA CIDADE romance; – OUTROS ESCRITOS - poesia, teatro, conto [1998]; – EXUBERÂNCIA E FOLIA NO MAR DE LONGO – poema épico [Rio de Janeiro e Buenos Aires, 1998; reescrito em 2004]; – CLUBE BRASIL romance [São Paulo e Buenos Aires, 1992/98]; – O OUTRO PORTUGAL romance [SP-Br, 2000]; – 500 ANOS DE BRASIL ensaios-palestras [SP-Br., 2000]; – BAPTISTA CEPELLOS o poeta do drama brasileiro [com ilustrações de Ricardo Feher, 2000]; – OLHAR CELTA [Portugal e Brasil, 2001]; – ORDEM & SOCIEDADE [1ª Ediç, 2003; 2ª Ediç, 2004; 3ª Ediç, 2009, Brasil e Portugal]; – OUTROS POEMAS coletânea; – EDUCAÇÃO & CULTURA textos vários; – GIL VICENTE ensaio [2001/02]; – PIABIYU ensaio-palestra [1ª Ediç, 2003]; – COMO SE ENCONTRA RELIGIÃO NA CIÊNCIA ensaio [2003]; – CONTOS EXEMPLARES c/ Maria Fernanda Sousa e ilustrações de Wagner Barbosa [2004]; – SAMPA 450 ensaio-entrevista [2004]; – HAROLDO DE CAMPOS ensaio (2004); – MORGADO DE MATHEUS / O GRANDE GOVERNADOR DE S. PAULO – João Barcellos. Ed Pannartz / São Paulo / Br., 1992; 2ª Ediç Ampliada: MORGADO DE MATHEUS / UM FIDALGO PORTUGUÊS NA CASA BANDEIRANTE; Ed Edicon, São Paulo / Br., 2004 [Prêmio Clio de História]; – MITO-HISTÓRIA & ÉPICA ensaios c/ outros autores [Edicon-Br c/ Grupo Granja – Br, Centro de Estudos do Mar - Pt & Centro de Estudos Humanismo Crítico - Pt, 2005]; – BONIFÁCIO / Princípio & Fim Do Império Bragantino-Brasileiro [e-book, 2005]; – CECÍLIA MEIRELES / A Materna Linguagem Da Vivência [e-book, c/ Rosemary O´Connor, TN Comunic, 2005]; – ALMA AÇORIANA / No Mundo E No Brasil [e-book, c/ Johanne Liffey, TN Comunic, 2005]; – CONTOS & SONHOS lij c/ Johanne Liffey e Márcia Fecchio [inclui o conto “Uma Menina Chamada Koty”]; – POESIA, CONTO & NOVELAS [SP, 2009]; – VIVÊNCIAS sócio-pedagógicas [A Opinião De Um Professor ]; – JD NOVA COTIA / Um Bairro De Migrantes; Trabalho Coletivo sob orientação de JB [Edicon & TNComunic, 2005]; – AGOSTINHO E VIEIRA: MESTRES DE SUJEITOS! [c/ Manuel Reis. Ediç FrenProf. Pt, 2006]; – ATO CULTURAL sobre as lic´s [Edicon, CEHC & TC Comunic, 2006]; – GENTE DA TERRA o romance da luso-brasilidade [2007]; ARAÇARIGUAMA – do Ouro ao Aço [Ed Edicon, TN Comunic & Prefeitura de Araçariguama, SP – 2007. Prêmio ´Clio de História´ 2007];– O IMPÉRIO DO CAPITÃO AFONSO [SP, 2009]; FEIJÓ & CEPELLOS / Brasileiros De Cotia [c/ Walter de Castro], 2009;– COTIA / Uma História Brasileira [Edicon + TerraNova + CEHC + GD Noética / SP, 2011]; – DO FABULOSO ARAÇOIABA AO BRASIL INDUSTRIAL [Edicon & CEHC, Brasil-Portugal, 2011]. COTIA / Uma História Brasileira, 2011; – UM MORGADO NO IMAGINÁRIO DE UM MARQUÊS / Uma novela acerca do Morgado de Matheus, do governador Francisco de Souza e do ´velho´ Affonso Sardinha [Edicon & CEHC, Noética, Brasil-Portugal, SP, 2013]; – CARAPOCUYBA / Edicon + TerraNova, 2013; – IPERÓ / Edicon + TerraNova, 2013; – PARDINHO / Edicon + TerraNova, 2013; – PARDINHO / Edicon + TerraNova, 2013; – MAIRINQUE / Entre o Sertão e a Ferrovia / Edicon + TerraNova, web, 2013; – VARGEM GRANDE PAULISTA / Edicon + TerraNova + CEHC + GD Noética, 2013; – IBIUNA / web, Edicon + TerraNova + CEHC + GD Noética, 2013;– O BRASIL DE TROPEIROS & ESTRADAS REAIS / Edicon + TerraNova + CEHC + GD Noética, 2013; – VINHO & PODER / SÃO ROQUE: ENTRE A UVA LUSO-PAULISTA E O PODER POLÍTICO-FUNDIÁRIO DO VAZ-GUASSU / web, Edicon + TerraNova + CEHC + GD Noética, 2014; – REY & MASON / O Bacharel de Cananéia – web, Edicon + TerraNova + CEHC + GD Noética, 2014; – CAUCAIA DO ALTO / Edicon + TerraNova + CEHC + GD Noética, 2014; – GRANJA VIANNA / Edicon + TerraNova + CEHC + GD Noética, 2014; – FORTALEZA / RYO SIARÁ – A PONTA DO NOVO MUNDO / Ensaio-palestra (GD Noética / web), 2014; – O FERRO, O MUNDO, O YBIRAÇOIABA / TerraNova + CEHC + GD Noética, 2015-2016; – POESIA, FILOSOFIA, NOVELAS & SARAU D´AMOR NA ESCRITA DE JOÃO BARCELLOS (Organização: Marta Novaes & Johanne Liffey) / Edicon + TerraNova + CEHC + GD Noética / Ediç Web, 2016; – TREMEMBÉ (estudos) / Ediç Web, 2016.


/// Obs: 1- todas as obras editadas pela Ed Edicon com exceção de ´Estórias Poéticas´, pela Ed Cadernos Oficina, e de “Agostinho e Vieira...”, pela Ed FrenProf.; 2- alguns livros e palestras estão editadas no formato e-book [noetica.com.br].

Currículo Lítero-Tecnológico Além de romance, poesia, história, contos e ensaios, João Barcellos publicou, com a TerraNova Comunic e a Ed Edicon, no Brasil e Portugal, uma série de livros técnicos e atua na imprensa especializada a par da exibição de conteúdos em palestras para professorado e empresariado – a saber: COMUNICAÇÃO VISUAL [2008]; ESTAMPARIA [2010]; DO FABULOSO ARAÇOIABA AO BRASIL INDUSTRIAL [2011]; IMAGEM ESPECIALIZADA [2012]; INDÚSTRIA DIGITAL [2013 + palestra, 20132015]; ALQUIMIA, MODA & COMUNICAÇÃO VISUAL [2014] e SUSTENTABILIDADE [palestra, 2014 e 2015]; TÊXTIL DIGITAL [palestra, 2015-2016]. // João Barcellos é co-fundador [2008] da Revista Impressão & Cores e foi co-fundador/editor do jornal O Serigráfico [2006-2011], do Science and Education [Dublin], do En Vivo y Arte [Barcelona] e da revista Vida & Construção, entre outros.

Coleções Literárias [Coordenação] /// DEBATES PARALELOS Vol 1 [Temas Gerais], 2002; Vol 2 [Temas Gerais], 2004; Vol 3 [Igreja-Estado ou Religião], 2004; Vol 4 [A Palavra Jesuana, Textos Gnósticos & Outras Opiniões], 2007; Vol 5 [´Q´ Jesuânica / Opiniões], 2009; Vol 6 [Educar Para Viver], e-book em noetica.com.br; Vol 7 [Oh, Liberdade!], 2011, e-book, noetica.com.br; Vol 8 [Viver História], 2012; Vol 9 [Educação, Misticismo & Desenvolvimento], web, 2013; Vol 10 [Democracia Mística & Igrejista], web, 2014; Vol 11 [Ocidente vs Oriente], web, 2015. /// PALAVRAS ESSENCIAIS Vol 1 [Políticas Educacionais + Cultura de Raiz = Projeto Nacional], 1ª e 2ª Ediç, 2003; Vol 2 [´Os Lusíadas´ Em Debate], 2004; Vol 3 [Homenagem a Manuel Reis], 2008; Vol 4 [O Filósofo Manuel Reis / A Crise] / Web ´Noética´, 2009; Vol 5 [O Sentido Da Vida], 2010; Vol 6 [Humanismo,. Educação & Justiça Histórica], 2011; Vol 7 [Escritos Luso-Afro-Brasileiros], 2011, e-book em noetica.com.br; Vol 8 [Res Publica], 2012; Vol 9 [Átrio Dos Gentios], 2012 na web (noetica.com.br) e 2013 em edição gráfica; Vol 10 [Noética Vivência], web, 2013; Vol 11 [Antropologia], 2015; Vol 12 [Ontem & Hoje], web, 2015. Peças Videográficas A POESIA E O MUNDO, 1988 [Rio, RJ]; O INTELECTUAL E A FAVELA, 1988 [Rocinha, RJ]; A BIBLIOTECA E A COMUNIDADE, 1996 [Paraty, SP]; COTIA: CIDADE CENTENÁRIA, 2006 [Cotia, SP; c/ César Tiburcio]; JD NOVA COTIA: UMA EXPERIÊNCIA LÍTERO-SOCIAL & HISTÓRICA, 2006 [Cotia, SP; c/ César Tiburcio]; ARAÇARIGUAMA: DO OURO AO AÇO, 2006 [Araçariguama, SP; c/ César Tiburcio]; FILOSOFIA & POESIA PELA PAZ, 2007 [Embu, SP, c/ Mariana d´Almeida y Piñon]. Em outras línguas: ‘Familia, Mercancía & Transnacionalidad / la batalla por la Raíz Social es sobrevivir en Humanidad’ [Ediç. ‘Jeroglífo’, Buenos Aires / Arg., 1989; 2. Ediç., 1991; esgotado]; ‘Concept et Tendance: Politique, Marché des Capitaux et Question Sociale’, BARCELLOS, João & OLIVEIRA, Tereza de [Egalité / Maison d’Edition, Paris/Fr., 1996]; ‘Liberté Provisoire – Terreur et Politique contre Nous’ [Egalité / Maison d’Edition, Paris/Fr., 1996]; ‘Freedom and Social Ruptures’, essays and poems, published by Cult Journal, Houston/USA, 1998]. Jornalismo Enquanto leitor crítico, JB escreveu, especialmente na parceria com a Edicon, mais de duas centenas de Prefácios e Opiniões; editor, foi responsável pelo jornal O Serigráfico e o Jornal d' Artes, o jornal Tempo de Educar e o jornal Corpus, a par da revista Vida & Construção; editor de Cultura em jornais e rádios regionais; orienta Oficinas de Poesia, palestras em universidades e clubes literários, além de aulas de português e literatura brasileira; em 2008 fundou a revista Impressão & Cores de conteúdo tecnológico. É membro e fundador dos restritos grupos intelectuais “Eintritt Frei” [Berlin/De] e "Grupo Granja", substituído pelo Grupo de Estudos Noética [Brasil e Mundo] e colaborador internacional do Centro de Estudos do Humanismo Crítico [CEHC, Guimarães/Pt] e fundador do CEHC - América Latina. Integrou o grupo que fundou a Associação Profissional dos Poetas do Estado do Rio de Janeiro (APPERJ), é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina / IHGSC e da União Brasileira de Escritores [UBE, SP]. Entre 1990 e 92 participou da diretoria do Centro de Estudos Americanos Fernando Pessoa no qual editou o jornal Gente das Letras para o 1º Encontro de Artistas e Intelectuais Portugueses do Brasil. Fundou a revista eletrônica Noética que tem portal-web como “noetica.com.br”.


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