Sob o Signo do HUMANISMO CRÍTICO

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CENTRO DE ESTUDOS DO HUMANISMO CRÍTICO / CEHC PORTUGAL & AMÉRICA LATINA

SOB O SIGNO DO HUMANISMO CRÍTICO Em nome da Vera Interioridade Humana substantiva: Em demanda do Diálogo socrático e da Justiça jesuânica: Sócrates é a incontornável matriz recta e justa da Filosofia, dos Saberes e das Ciências; Jesus (que pertencia, como João Baptista, seu primo, à Escola dos Gnósticos judeo-cristãos primevos) aceitou, como Sócrates, o Suicídio virtuoso, como penhor e pauta destinados à edificação de Sociedades humanas justas e rectas.

E depois de Charlie Hebdo...?

Manuel Reis 2015

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Prof Dr Manuel Reis

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1. ● Glosando o Poeta sevilhano, Antonio Machado: Vamos seguir a tua verdade, a tua teoria? Ou as minhas?... Deixa o teu esforço/trabalho isolado e eu vou igualmente abandoná-los. Vamos, isso sim, trabalhar os dois (e mais…) em comum e em conjunto.

O teu Caminho ou o meu Caminho, cada um a pensar isoladamente?!... Não. É que, para o ‘Homo Sapiens//Sapiens’ não há caminho feito e acabado… É preciso rasgá-lo e construí-lo contínua e perseverantemente, e isso só se poderá fazer em comum e em conjunto, todos a trabalhar, muito embora cada um na sua profissão, tarefa ou especialidade. 2 ● Até quando a sempiterna contraposição entre as duas categorias de humanos (indivíduos e sociedades…): Nós (civilizados…)//Eles (bárbaros, atrasados e selvagens…) ?!... Elites e massas?!... Senhores e súbditos?!... E tudo sempre observado e julgado pelos que detêm a hegemonia absoluta sobre todos os outros!... O que leva, inexoravel-mente, a que o mundo dos ‘eles’ seja sempre avaliado e visto segundo a cartilha e o prisma do ‘Nós’ hegemónico!... Não se praticou o Diálogo socrático; ou a sua tentativa resultou frustrada. 3 ● Até quando a eterna Dogmática da sacralização do Poder e da Potestas sacra (mesmo nos regimes ditos democráticos, constituídos a partir do Sufrágio popular…)?... Se-gundo o catecismo de Paulo, dos Cristianismos e das Cristandades paulinas (Rom. 13,1: ‘Non est enim potestas nisi a Deo’: Todo o Poder procede da Divindade). Aí mesmo, se pode identificar uma das fontes escriturísticas, que sempre têm respaldado a sempiterna Cultura do Poder-Condomínio, a qual teve as suas origens logo nos inícios do Processo civilizatório (no processus de 3


sedentarização, as primeiras civilizações agrárias…), quando o Matriarcado e a Gilania foram superados pelo Patriarcado e, no mais alto dos Céus, foram estabelecidos os ‘Deuses Uranianos’ (em correspondência total com o Patriarcado…). 4 ● Em Mt. (22,21), o lógion jesuânico da Praxis humano/política foi registado num díptico: ‘Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’. O axioma embarcou na doutrina ideológica do Dualismo metafísico de Platão e Paulo. Todavia, ao verificar-se que o Corão não conhece qualquer sentença semanticamente parecida com esta, pode logicamente postular-se que o Islão (sunitas, chiitas e fatimidas…) tem muito mais dificuldades, a partir das Escrituras respectivas, em abrir-se aos ideários anti-hierárquicos da Democracia. – No evangelho (apócrifo) de Tomé (v.100), o axioma é formulado num tríptico: “Dai a César o que pertence a César; dai a Deus o que pertence a Deus; e dai a mim o que é meu”. Este horizonte criticista, pode muito bem entender-se que ele encerra semântica capaz de banir o Dualismo metafísicoontológico e abrir caminho aos ideários da Democracia. De facto, o Jesuanismo (como, de resto, o Socratismo) inaugura a Cultura da Liberdade Responsável primacial e primordial, e leva de vencida toda a Cultura (tradicional) do Poder-Dominação d’abord. 5 ● A melhor (mais recta e justa) Filosofia, que o Ocidente legou à Humanidade, continua a ser a do Diálogo socrático e da Justiça jesuânica, aos quais se pode e deve acrescentar a do Hilemorfismo aristotélico, bem como a doutrina do ‘Deus sive Natura’ de Baruch de Espinosa. Isso mesmo, com validade à escala universalizável. Daí, pois, que as religiões institucionalizadas (enquanto tributárias da Potestas-Dominação d’abord e do Dualismo metafísico-ontológico) são, efectivamente, ópio e veneno para a Emancipação/Libertação dos Humanos e adultização das suas Sociedades. Sociedades que será sempre errado considerar e admitir que são regidas e governadas por Pastores… Se há pastores, há rebanhos!... Querem vocês Sociedades humanas que, em boa verdade, não passam de ‘cabeças de rebanho’ conduzidas por pastores?!... 6 ● A Idade Moderna Ocidental, julgando-se, prometeicamente, capaz de superar as sociedades tradicionalistas, pôs em marcha uma odisseia (trágica) de quatro séculos recheada de contradições estruturais e intrínsecas, insanáveis… se não houver Vontades humanas e políticas com energia e coragem para alterar e acertar o Passo e o Caminho. Carecemos, de facto, de um Projecto altermundialista válido e fecundo. Como e por que aconteceram, sócio-historicamente, esses caminhos errados?... Em resumo, poder-se-ão estabelecer as seguintes teses como resposta: 4


Em vez das duas Epistémes distintas (a das ciências físico-naturais e a das ciências psico-sociais e/ou humanas), praticou-se o Monismo Epistemológico, balizado pelas ciências físico-naturais. Em tal horizonte, configurou-se e estabeleceu-se a chamada religião (laica) do ObjectivoObjectualismo, que é comum, tanto às religiões institucionalizadas como às metodologias e práticas das modernas ciências positivas e experimentais. Estas, sempre na mesma senda, facilmente se metamorfosearam na Tecnociência e na Tecnociência de Aparelho (nos últimos dois séculos).

Desta sorte, o Projecto da formação e constituição das Sociedades humanas, dignas do nome, abalroou completamente… pela simples razão fundamental de se ter instaurado e generalizado o catecismo do ObjectivoObjectualismo. A gramática dos Sujeitos pessoais (e o respeito pela sua Consciência e Experiência) foi simplesmente corrompida e exterminada. Quanto à própria Noção de Deus, ela foi mantida no reino imaginário da Metafísica (platónica e paulina); nem sequer se deu guarida à noção mais realista do ‘Deus sive Natura’ de Baruch de Espinosa. E, para além deste horizonte, é preciso e urgente progredir (na óptica da Espécie Sapiens//Sapiens e não do ‘Homo Sapiens tout court) para o novo estádio do ‘Deus sive Conscientia’, como tem proposto o C.E.H.C.. Não há, efectivamente, outro Caminho sério e profundo a trilhar, em termos psico-sócioantropológicos e societários. 7 ● Nos caminhos, desbravados pelo C.E.H.C., a Consciência Humana do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ é constituída por 3 partes integrantes, a saber: A) o Sujeito Cognoscente; o Objecto conhecido; e a Testemunha (enquanto garantia (stakeholder) da Verdade conhecida pelo Sujeito). Essa Testemunha é a própria Divindade, à qual podemos aceder filosoficamente, in actu signato. In 5


actu exercito, ela va de soi, cumprindo, sistemicamente, as suas funções noéticas e noético-práxicas (Pensamento e Acção). Justamente por nunca se ter compreendido e adoptado esta gramática dos Humanos, na Modernidade e na falaciosa ‘Pós-Modernidade’ em que vivemos, é que a própria Mensagem e a doutrina do Marxismo foram entendidas de modo errado; o Leninismo ou o Maoismo e os Socialismos ditos ‘científicos’ não fizeram outra coisa senão operar a restauração do que John Kenneth Galbraith identificou, acertadamente, como ‘capitalismo monopolista de Estado’. O vero Socialismo, com efeito, não se constrói segundo as pautas do Objectivo-Objectualismo. É a partir da sua fonte nos Sujeitos Humanos Livres e Responsáveis, que ele terá de ser edificado. Socialismo (como lembrava o nosso António Sérgio) é Cooperativismo à escala mais ampla do Estado-Nação, que não esqueceu as Regras (universais) da Ética e da Moral, do Bom Direito, em suma, em todo o universo da Economia política e nas leis do Mercado, que não podem nem devem ser violadas. (O famigerado ‘Free Market’ não passa de uma falácia e um embuste da cartilha imperialista…). 8 ● Deus como Problema (a resolver!...), não como solução (muito menos fabricada pelos pontífices, pelos rabinos ou pelos imãs das religiões institucionalizadas). Das quatro noções filosófico-críticas de DEUS, a melhor percepção filosófico-crítica da Divindade é a condensada no binómio do Uno e do Múltiplo. Enquanto noção polarizada na Unidade, ela dá-se conta de um Universo unificado, onde actores e agentes exercem a sua actividade convergente. Enquanto noção polarizada na Multiplicidade, Deus está presente em todos os Indivíduos dotados de Inteligência e de Consciência, bem como nos outros seres vivos e mesmo na Matéria inanimada/inerte: ele está aí como raiz e expressão da harmonia e beleza; suplementarmente, de Vida. As outras três noções filosófico-críticas de Deus são: a de Teilhard de Chardin (o maior pensador cultural do Evolucionismo moderno): Deus como o Alfa e o Omega da Evolução do inteiro Universo. A de Baruch de Espinosa (o judeu luso emigrado na Holanda, por causa da Inquisição então recentemente introduzida em Portugal, e perseguido, depois, pela Sinagoga de Amesterdão): ‘Deus sive Natura’. A do C.E.H.C.: ‘Deus sive Conscientia’, tal como já foi explicado supra. Curiosamente, a doutrina do ‘Deus Uno e Múltiplo’ já se encontra esboçada e bem perfilada nos sistemas filosóficos dos Autores árabes e latinos dos sécs. XI e XII, Avicena e Averróis. Concebiam eles uma agenciação dupla, no funcionamento da Inteligência humana: um ‘Intellectus agens’ (um só para todos os seres cognoscentes, dotados de consciência): a notio Dei polarizada no Uno; e um Intellectus patiens (a noção de Deus polarizada no Múltiplo): um intelecto passivo para cada um dos Indivíduos dotados de Inteligência. Tomás de Aquino (séc. XIII), o consagrado ‘Doctor Angelicus’ do Catolicismo romano, 6


conheceu, em Latim, os sistemas filosóficos dos dois Autores árabes citados, que traduziram obras de Aristóteles e as introduziram na Cultura filosófica/teológica do Ocidente. Mas o mestre supremo da Escolástica medieval (Tomás de Aquino) já estava basicamente instruído e ancorado no cânone escriturístico/dogmático do Novo Testamento (de inspiração e balizamento paulinos…). Por isso, as citações tomistas dos textos de Avicena e Averróis acabaram por atraiçoar, substancialmente, os sentidos originais dos textos por ele citados. Traduttore traditore!... 9 ● Na perspectiva da Tradição filosófica na Cultura Ocidental, o C.E.H.C. inspira-se e tem a sua matriz no Diálogo socrático fundador, na doutrina da Justiça jesuânica, no Hilemorfismo aristotélico, na gramática de pensamento dos Gnósticos judeo-cristãos primevos, no Sistema filosófico de Bento de Espinosa, bem como no Pensamento crítico de alguns filósofos modernos, como Thomas More e Erasmo, Rousseau e Marx, Voltaire e Thomas Paine, Marquês de Condorcet e Benjamin Constant, Proudhon e Ba-kunin, Krishnamurti, Stuart Mill e Osho. A dimensão de Pensamento universal do próprio Cristianismo paulino foi atraiçoada por Martinho Lutero, em nome da circunscrição territorial imperativa dos próprios Príncipes germânicos que o apoiaram, na Luta contra o Império Romano-católico. (F. Nietzsche dixit). Ora, nem Paulo, nem Lutero (que se limitou a glosá-lo), nem o próprio Erasmo de Roterdão, e nenhum dos filósofos modernos souberam falar da Liberdade Responsável; falaram tão-só do ‘Livre Arbítrio’… essa sempiterna ‘lei do pêndulo’, próprio e característica da Cultura do Poder-Dominação d’abord e do ‘Homo Sapiens tout court’. Ora, a Humanidade (toda ela) precisa, urgentemente, de aceder ao estádio adulto do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ e à sua Cultura correspondente, – que é a da Liberdade Responsável primacial e primordial. É neste horizonte crítico que assume toda a sua importância, em termos psico-sócioantropológicos, o parergo aristotélico-leibniziano em torno do Aparelho gnóseo-epistemológico humano. Tudo isso em função da Re-Instauratio Magna das Sociedades humanas, numa ‘Ordo Societatis’ radicalmente Nova.

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O parergo aristotélico-leibniziano formula-se, tradicionalmente, como segue: “Nihil est in Intellectu quod prius non fuerit in Sensibus; nisi ipse Intellectus”. O 1º hemistíquio é de Aristóteles; o 2º é de Leibniz. Nada ingressa na Inteligência que não haja emergido e passado através dos Sentidos e da Sensibilidade, a não ser a própria Inteligência. Por conseguinte, nada, absolutamente nada de Dualismos metafísi-coontológicos. A Boa Filosofia (como o Bom Direito) tem de aprender e edificar o seu Sistema Cultural, na Escola do Hilemorfismo aristotélico, criticamente completado com o hemistíquio do filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716). 10 ● Religião//Filosofia//Jesuanismo. Como pai fundador do Jesuanismo (tanto quanto nos é dado a conhecer) e como Presidente do C.E.H.C., nunca nos cansaremos de afirmar que as Religiões institucionalizadas constituem o ópio do povo. Não é, pois, a Religião, em si mesma, que é o ópio do povo, como supôs K. Marx, no século XIX (um século marcado pelo Integrismo/Fundamentalismo do Cristianismo católico romano). A Religião, em si mesma, faz, de pleno direito, parte integrante do Campo de estudos e pesquisas da FILOSOFIA. (Já era, assim, que eu próprio pensava, quando, em 1961, regressei dos meus Estudos em Roma, e fui nomeado Professor de História da Filosofia, no Seminário Maior de Coimbra). Este Tesário é importantíssimo e decisivo, até para percepcionar e compreender as razões pelas quais (desde o ‘Leviathan’ de Thomas Hobbes) a teoria-doutrina política, destinada a fundar a legitimidade do Poder soberano dos Estados, se emancipou e separou, definitivamente, do Poder das Religiões institucionalizadas, sem beliscar, embora, a Potestas própria das religiões institucionalizadas. A isso mesmo obrigava a concepção ideológica global que se detinha, no séc. XVII, sobre a Teoria dos Poderes, ancorada no Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. De facto, a Religião em si mesma, no seu núcleo duro (desde o ‘homem das cavernas’), faz parte integrante do campo de estudos e pesquisas da FILOSOFIA. Ela procede, enquanto fenómeno humano generalizado, de Psico-Sócio-Ânthropos integral, e da gramática própria do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ (= os Humanos que sabem que sabem!). Ora, nos antípodas destas posições filosóficas e sócio-políticas, as Religiões institucionalizadas segregam, qua tais e ipso facto, o que a boa Filosofia tem chamado, no Diapasão criticista, o Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. O Jesuanismo tem muito pouco a ver com os Cristianismos e as Cristandades tradicionais, de origem paulina. Com efeito, no horizonte de Sócrates (cuja Mensagem marcada pelo suicídio virtuoso se destinava à refundação da Pólis ateniense), Jesus não veio (com a sua Mensagem evangélica, comprovada, igualmente, através de uma Paixão horrorosa, pela exposição total a um Suicídio virtuoso) com a missão de fundar mais uma

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Religião institucionalizada, estruturalmente separada da (boa) Organização das Sociedades humanas. Na verdade, os Cristianismos tradicionais (todos eles) são criação e arquitectura ideológica do auto-designado Apóstolo Paulo (Saulo de Tarso), integrado no partido hebraico dos Fariseus (ele próprio, nunca abandonou a sua ideologia farisaica, que tinha recebido na escola e que tinha por postulado o Dualismo metafísico-ontológico de Platão e da religião persa de Zoroastro). Em termos filosófico-críticos, toda a Sistémica das Ideologias anda intrinsecamente associada à Cultura do Poder-Dominação d’abord. Este constitui um axioma prévio, que é bom nunca perder de vista, enquanto bússola de orientação criticista. Hebraísmo/Judaísmo e as 3 principais correntes/partidos ideológicas: Saduceus, Fariseus e Essénios. Os últimos só vêm a surgir, ca. de 167 a.E.c., no termo da guerra dos irmãos Macabeus. Ora, das citadas três correntes/partidos ideológicas do Judaísmo, no A.T., tão-somente os Fariseus (que Jeoshua sempre denunciou como hipócritas…) admitiam, ideologicamente, as duas vidas (a terrena/temporal e a eterna post-mortem). Jesus e João, o Baptista, (seu primo), pertenciam ao Partido/Escola (dissidente da Tradição política oficial do Judaísmo), que dava pelo nome de Essénios e Essenismo. Ambos, pois, estavam longe, no seu profetismo revolucionário, de admitir a teoria/doutrina do Dualismo metafísico-ontológico. *

EVOLUÇÃO//METAFÍSICA Advertência inicial: Trata-se de dois substantivos que se contradizem reciprocamente. Estamos, assim, com a polarização filosófico-ideológica num substantivo ou no outro, perante duas mundividências antagónicas. (Seja aqui lembrado que o próprio termo Metafísica teve, na sua origem, um significado apenas topográfico: Andrónico de Rodes, ao classificar e arrumar os livros do seu Mestre Aristóteles, na Biblioteca de Alexandria, designou de meta ta physica os livros do Estagirita que ficaram arrumados, nas estantes, depois dos livros correspondentes à Física.). Desta sorte, a contradição recíproca entre Evolução e Metafísica diz respeito à semântica própria (distinta e oposta) dos dois substantivos, tal como foi assumida na história da Filosofia e das Ciências, ao longo de dois milénios, na Cultura e na Civilização do Ocidente. Esta arquitectura ideológica da Civilização/Cultura do Ocidente, tributária da sempiterna Cultura do Poder-Dominação d’abord, adoptou, como seu corolário (inevitável), nas práticas científicas e na praxis societária, o chamado Monismo epistémico (ancorado na Epistéme determinística das ciências físico-naturais); e, ao mesmo tempo, estabeleceu, hegemonicamente, o que o C.E.H.C. designou por religião (laica) do Objectivo-Objectualismo. Ora, é 9


esta mesma religião que preside e assiste, em comum, tanto às práticas científicas e tecnológicas, protagonizadas pelo Ocidente na Idade Moderna, como às praxeis das Religiões institucionalizadas, no concernente ao exercício das suas Potestates próprias e hierarquias sociais estruturadas. Foi em tal horizonte (metafísico) que se construiu a mundividência dualista: a referenciada ao Natural e Natureza, e a concernente ao Sobrenatural e Sobrenatureza. (Ainda na 1ª metade do séc. XX, esta mundividência dualista era corrente e hegemónica nas Faculdades de Teologia católica, e simplesmente cristã, de todo o Ocidente). Assim, pois, quando as manifestações massivas surgem, nas praças públicas, a proclamar ‘Je suis Charlie’, elas estão a (dis)funcionar nesse ambiente ideológico-metafísico fraudulento; e as elites militantes, que as acompanham, num espírito cínico e hipócrita, cometeram o curto-circuito de contrapor (de modo simplista) o que chamam a gramática da laicidade à cartilha da Religião. O Poder, os Poderes (desde logo, o religioso e o político…), nunca são directamente confrontados e desconstruídos!... Permanecem tabú. É que, afinal, a religião laica do Objectivo-Objectualismo estabeleceu a equação entre os Sujeitos e os Objectos, as Pessoas e as Coisas.

Quando, efectivamente, estamos a pensar segundo uma metodologia evolutiva e uma pauta evolucionária, nós estamos a operar nos antípodas de toda a espécie de pensamento balizado pelo catecismo da Metafísica. Ali, é a realidade e a vida que nos interessam e movem as energias do nosso psiquismo racional e espiritual; aqui, é a ideologia e as dogmáticas impostas pelos Poderes Estabelecidos. A própria História das Sociedades e das Civilizações acaba sempre por nunca romper o odre do Esquema nietzscheano do ‘Eterno Retorno’. Retomando a Filosofia helénica (sobretudo do Aristotelismo), os melhores filósofos da Escolástica medieval (Abelardo, Alberto Magno, Tomás 10


de Aquino) estabeleceram e glosaram a fórmula mais genérica e adequada para definir o fenómeno da Vida: ‘Vita in motu immanenti consistit’. A vida é movimento imanente e intrínseca aos seres vivos; quando acede aos graus da Consciência, dizemos que esse movimento é imanente e autónomo. Foi o próprio Movimento espontâneo e vital da EVOLUÇÃO que fez progredir o Fenómeno dos Seres vivos até aos graus superiores da Consciência: os Indivíduos que, uma vez conscientes de si mesmos, devieram pessoas (livres e respon-sáveis). A ‘inteligência artificial’ como a ‘clonagem’ de seres vivos (como hoje se apregoa ingenuamente… ou cinicamente…) não passam, em última instância, de expressões inadequadas, embusteiras, no discurso corrente. É a partir do patamar evolucionário dos Seres dotados de Consciência, que surgem os Seres culturais, em contraste com a simples Natureza. A consciência (individual/pessoal) alimenta-se da memória, da imaginação e da experiência pessoal. Ao longo de cinco milénios e meio, o Processo civilizatório, estribado no Patriarcado hegemónico, não quis saber dos fenómenos da Consciência e da Experiência pessoais. O próprio Fernando Pessoa (através do seu meio heterónimo, Bernardo Soares, no ‘Livro do Desassossego’) deixou-nos uma noção meio-errada de consciência, tal como a que transparece na fórmula seguinte: ‘a memória é a consciência diferida no tempo’. Em termos filosóficos, esta noção é errada, não é genuína: de facto, só há vera Consciência in actu exercito; quando ela surge in actu signato enquanto representação (como é o caso), ela já foi objectualizada por um novo estado de consciência posterior. O simples Fernómeno da Consciência humana, qua tal, se e quando é considerado e respeitado entre os Seres humanos, conduz, claramente, ao reconhecimento da Tríade dos Direitos humanos fundamentalíssimos: Liberdade responsável, Igualdade social e Fraternidade efectiva de todos os Humanos. Por que é que, no Processo civilizatório, onde, até ao presente, tem predominado a Guerra sobre a Paz, se chegou, a meio do séc. XX, com o Nazismo, a esse paroxismo hediondo, que foi o Holocausto (a Shoa judaica), os campos de concentração e de extermínio, como o de Auschwitz e outros (houve 42.500 campos da morte no III Reich…)?!... Por que é que, depois dessa barbárie sem nome, ainda prosseguem actualmente os genocídios e os massacres?... – Porque, no Processo civilizatório, a Consciência e a Experiência dos Indivíduos-Pessoas não têm sido identificados e reconhecidos como tais!... Não se liga, substantivamente, à Educação e à Cultura. Os Sujeitos são reduzidos a Objectos; as Pessoas a Coisas… Em todas essas aberrações inomináveis, há dois traços ou marcas comuns: “Um traço comum é o arrogar-se, por parte de um grupo humano, o direito de destruir outro grupo humano. Outro traço comum é que só destituindo o outro da sua humanidade é que se consegue exter-minar”. (Esther Mucznik,

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entrevista a Luciana Leiderfarb, in ‘Expresso/Rev.’, 24.1. 2015). ‘Quem assassina perde sua humanidade’ (eadem, ibidem). O corolário desta situação, criticamente reflectida (segundo a Pauta do ‘Homo Sapiens//Sapiens’) é o seguinte: Na sua base, a Humanidade consciente convive pacificamente, não se mata uns aos outros. Nas três partes, que integram a Consciência humana (Sujeito/Objecto/Testemunha), Deus está aí presente como Testemunha da Verdade, na Consciência de cada Indivíduo-Pessoa/Cidadão. Por isso… o próprio catecismo dos Cristianismos tradicionais (paulinos) fala do pecado (imperdoável…) contra o Espírito Santo!... Quando a divindade egípcia/antiga (ca. de 3.500 a.E.c.), Hermes Trismegisto, estabeleceu o parergo: “Um divide-se em dois é sinal de vida; dois fundem-se em um é sinal de morte”, – ele está a falar-nos do Processo de Evolução da Natureza. Quando a Bíblia (hebraico-cristã) nos fala de um Deus criador do Universo (omnium rerum), deve saber-se que já nos encontramos no mundo da Cultura (das metáforas e das pro-sopopeias…). Foi essa noção de Criação divina que desencadeou, por um processo intrínseco à Cultura, a Ideologia da Potestas d’abord, o Poder sagrado, as Hierarquias substantivas. Não esquecer o que diz o contra-regra: Tudo o que dizemos de Deus é sempre um Homem que o diz!... É, pois, imperioso e urgente edificar um novo modo de pensar (baseado nas Consciências dos Indivíduos, livres e responsáveis), de índole vital e organísmica. Só um tipo de pensamento, com tais características, será capaz de vencer e ultrapassar os escolhos e os adamastores da Metafísica e das Ideologias concomitantes. As dialécticas procedentes deste novo universo mental… essas dialécticas são reais, porque são naturais e fecundas. São as dialécticas resultantes das Liberdades Responsáveis dos Indivíduos-Pessoas. Aí, a matriz radical é a que procede da Multiplicidade dos Indivíduos-Pessoas. O Diálogo (socrático) encontra, então, a sua mais séria e profunda razão de ser. É, pois, o Diálogo dos Indivíduos-Pessoas/Cidadãos que devém, ipso facto, a fonte do vero Progresso e Desenvolvimento social, para uma Sociedade emergente segundo os parâmetros da Justiça e da Rectidão. Os poderes que resultaram desta nova Ambiência vital são adjectivos; eles foram construídos e constituídos em função da gramática das Liberdades Responsáveis, para todos os Indivíduos-Pessoas/Cidadãos de uma dada Sociedade. Uma tal Sociedade configura-se, substantivamente, para além de todas as Religiões institucionalizadas, uma vez que elas, qua tais, deixaram de fazer sentido: são intrinsecamente contraditórias e, em vez de ajudarem, conspiram e metem a Sociedade em ruínas!... A própria Natureza (como já dizia o prolóquio antigo-clássico) tem horror ao vácuo. O Dalai Lama está a pensar no caminho certo e justo, no seu livro ‘Beyond Religion’. A filosofia do Hilemorfismo aristotélico e do Diálogo socrático, aos quais se deverá adicionar a ‘teologia’ da Justiça jesuânica, ajudarão, certamente, no cumpri12


mento dessa Odisseia grandiosa para toda a Humanidade. Essas, sim, serão Sociedades livres e progressivas, porque tiveram em conta, de modo decisivo, a Consciência e a Experiência dos Indivíduos-Pessoas. Neste contexto, é possível todos os cidadãos baterem-se, democraticamente, por Grandes Causas, Grandes Ideais e Projectos para melhorarem, cada vez mais, as suas Sociedades! De toda esta Arquitectura estrutural/eidética, de índole vitalista e culturalcríti-ca, já se deve ter depreendido (em jeito de corolário): a) que as Ideologias (tradicionais: antigas, medievais ou modernas) andam, estruturalmente, associadas à Potestas d’abord, à Cultura do Poder-Dominação d’abord; b) esta Cultura, por sua vez, tem a sua base original/originante no Dualismo metafísico-ontológico de Platão e do Fariseu Paulo; c) a cartilha desse Dualismo segrega, em termos metodológicos e epistémicos, a distinção opositiva entre Teoria e Prática; d) esta Dualidade de Teoria e Prática deixou a Verdade (e o seu processo de busca…) esquizofrenada: tudo é válido e legítimo: a afirmação de um enunciado e a sua negação; a famigerada proposta da Democracia e a impossibilidade da sua consolidação, enquanto regime político substantivo; a dita Sociedade dos humanos viu-se reduzida, realmente, (i.e., sem metáforas) à condição de cabeças de Rebanho, conduzido por pastores!... Esse, afinal, foi o preço a pagar (apesar de toda a Ciência, que a Modernidade nos legou, e também por causa da sua derivada: a Tecnociência de Aparelho…), por ter a Espécie Humana permanecido, ao longo do Processo histórico das Civilizações, no estatuto do ‘Homo Sapiens tout court, e não ter acedido à sua condição (bio-psico-antropológica) do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ (condição, a um só tempo, natural-cultural). Em suma, foi amordaçado e desprezado o processus da Evolução da Espécie Humana, enquanto tal. Para o Leitor se introduzir nesta Nova Mundividência Criticista, poderá consultar (com interesse e proveito) o Livro de Manuel Reis (com título duplo e um subtítulo): ‘Evolucionismo ou Fixismo?!/1955//Recuperação Crítica da Obra (inédita) em 2014’. Em subtítulo: ‘Como nasceu, remotamente, o C.E.H.C.’. Editado (para já) na Revista electrónica Noética (www.noetica.com.br). *

EVOLUÇÃO//HISTÓRIA O Dualismo metafísico-ontológico atraiçoou, radicalmente, o estatuto e o hori-zonte vital e societário da Espécie Humana Sapiens//Sapiens. Conseguiu a perversão e a barbaridade de gerar um tipo de história, que Friedrich Nietzsche denunciou, adequada e oportunamente, quando ergueu a 13


sua voz contra o estafado esquema (utilizado nas narrativas e na metodologia da História) do ‘eterno retorno’. Em suma, essa metodologia historicista ignorou ou desprezou a vera e autêntica História, de índole psico-sócioantropológica, que se assume, natural/culturalmente, como crítica e progressiva, na galáxia do Espaço/Tempo. Esta História é própria e característica da gramática de funcionamento do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. – Ora, em boa verdade, foi precisamente por, na Idade Moderna Ocidental, não se ter acedido, na organização das Sociedades humanas, ao estatuto e à gramática do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, que a História e as historiografias continuaram rolando no incontornável Esquema do ‘Eterno Retorno’. Estas são verdades comprovadas por uma Evidência meridiana, que não podem ser ignoradas na presente Encruzilhada da História do Ocidente e do Mundo. O C.E.H.C. já lançou o Alerta, em vários livros e estudos, para a inevitável Revolução a operar na Epistéme e na Metodologia da História, no horizonte do que designou por Pós-Modernidade positiva e crítica. Convirá, aqui, salientar, por todos, o Livro, que celebrou a obra historiográfica revolucionária do Dr. Alfredo Pinheiro Marques, dado a público pela Editora Edicon (São Paulo), em 2005, da Autoria dos membros do C.E.H.C., Grupo Granja e Centro de Estudos do Mar, com o título: ‘MITO-HISTÓRIA & ÉPICA’ e o subtítulo: ‘Por um Refazer da Historiografia Portuguesa’. Ao lado da obra revolucionária de Alfredo Pinheiro Marques, na História de Portugal, é obrigatório salientar a obra revolucionária (ao mesmo nível de A.P.M.) de João Barcellos, na História do Brasil. Por todos os seus numerosos estudos e livros, seja aqui destacado o livro (editado por Edicon, São Paulo, 2011), que dá pelo título: ‘Do fabuloso ARAÇOIABA ao BRASIL industrial’. Uma explicação/esclarecimento sucinta: De que se trata, afinal, nesta vera Revolução da História?! O ponto de partida da Investigação do C.E.H.C. é o Psico-SócioÂnthropos holístico e integral, balizado dentro do hemisfério espistémico das ciências psico-sociais e/ou humanas, em contraste com a epistéme das ciências físico-naturais. Com efeito, o Erro original/originante, ao longo do Processo histórico das culturas e das civilizações, tem consistido, precisamente, na adopção exclusiva do Monismo Epistémico, identificado com a epistéme das ciências físico-naturais… Ora, hoje em dia, mesmo numa Pós-modernidade indiferenciada, a atmosfera ideológica começa a ser outra, em contraste com os cânones estritamente objectivo-objectualistas da Idade Moderna ocidental. Apenas dois exemplos, entre uma série já bastante razoável: ‘Os 100 Grandes Erros da História’ (Equívocos, distracções e dis-parates que desmoronaram impérios, arrasaram economias e alteraram o rumo do nos-so mundo) de Bill Fawcett (Clube do Autor, Lisboa, 2014, 4ª edição); ‘Os Dias mais Perigosos da Nossa História’ (Decisões e Momentos que forjaram o destino de Portugal) de Sérgio Luís de Carvalho (Clube do Autor, Lisboa, 2014). 14


O que, no horizonte da concepção e da escrita narrativa destes livros, se pode identificar é o que o CEHC tem designado pela categoria de História ao 3º nível ou grau, i.e.: o que é exigido pelas pautas do Psico-Sócio-Ânthropos e pela gramática do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. Os outros dois níveis anteriores, historicamente, configuram-se como segue: – 1º nível: o da história (tradicional) de forte pendor objectivofisicalista, onde foi fácil chegar a essa noção simplista e ingénua da ‘história dos heróis’; – 2º nível: o da chamada ‘Nouvelle Histoire’, que emergiu na Escola francesa dos ‘Annales’, na 1ª metade do séc. XX. Esta metodologia da História fez progressos sobre o patamar anterior, distinguindo-se pela exigida dimensão social-sociológica, que trouxe na bagagem a distinção estrutural entre a vida pública das Sociedades e a vida privada dos Indivíduos. Cabe, aqui, uma advertência crítica, como trampolim para acedermos à gramática da História ao 3º grau. A distinção entre os dois categoremas, vida pública//vida privada tem a sua correspondência óbvia em duas mundividências distintas: a do mundo objectivo e a do mundo subjectivo. Ora, estas duas mundividências (identificadas e desenvolvidas pela História ao 2º grau) continuam a funcionar em total cumplicidade com a Metafísica tradicional e o Dualismo metafísico-ontológico de Platão e Paulo. Não servirão para mais nada – uma pergunta ad hominem – as funções da Imaginação e essa Realidade incontornável da INTERIORIDADE dos Humanos, de que nos falaram os Gnósticos judeo-cristãos primevos?!... Esclarecendo o processus na história evolutiva: Hoje sabemos que uma story não é história. Na Antiguidade clássica, a distinção não era tão nítida: v.g. na Ilíada e na Odisseia atribuídas a Homero (personagem real ou lendária); nos 5 livros da Tôrah hebraica, que abrem a Bíblia do Antigo Testamento. Hoje, sabemos, igualmente, que a própria História, admitida segundo os cânones do ‘Eterno Retorno’, ela própria não corresponde à gramática exigida pelo PsicoSócio-Ânthropos e pelo ‘Homo Sapiens// //Sapiens’. O Iluminismo da Pós-modernidade positiva e crítica obriga-nos a caminhar e a progredir rumo a uma conceptualização verdadeiramente progressiva e crescentemente performante da História. Obviamente, tal tipo de História não poderá ser obstruído, bloqueado ou contro-lado por qualquer espécie de Metafísica. Se ela marcha, inexoravelmente, no Espaço/ /Tempo, a sua âncora não poderá, no fim de contas, ser outra senão a das Consciências dos Indivíduos-Pessoas, enquanto Matrix fontal. Na Cultura da Liberdade Responsável primacial e primordial, todos os Poderes estabelecidos se acham subordinados à Liberdade Responsável, substantiva, dos Indivíduos-Pessoas/Cidadãos. O espaldar eidético da Cadeira das Consciências poderá encontrar-se nos princípios da chamada ‘Philosophia Perennis’, não na cartilha da Metafísica tradicional. Quando teremos Sociedades verdadeiramente humanas, constituídas por Cidadãos empenhados (activa e responsavelmente) em Grandes Causas, 15


em Projectos (globais e parciais) estruturais de transformação (humanização) radical das Sociedades contraditórias e mecanicísticas em que sobrevivemos?!... Nada se fará de novo e grandioso, sem Escola e uma Governação justa e pacífica; sem a Educação e a Cultura substantivas. Os Egoísmos terão de ser refreados e a ‘almofada’ do ilimitado, na cabeça dos indivíduos com poder, tem de ser banida, porque tudo no Universo tem os seus limites definidos…; o Lucro d’abord do Capital terá de ser combatido e controlado. A equação: Pessoas = objectos e coisas é uma blasfémia, uma infâmia sem nome… uma patologia mental gravíssima!... Consciência humana e eternidade (no Tempo). É claro que o infinito da Consciência (de cada Indivíduo-Pessoa, livre/responsável e crítico) permanece, na medida exacta em que (como já foi dito e explicado), Deus é a 3ª parte da Consciência humana (a que opera, aí, como testemunha da Verdade, no Conhecimento). É por isto mesmo que há, sem dúvida, uma dimensão de eternidade no Tempo, para a gramática de funcionamento existencial do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. Tomás de Aquino definia a eternidade como segue: ‘interminabilis vitae, tota simul ac perfecta possessio’. Traduzindo: a posse perfeita, e simultaneamente toda inteira, de uma vida interminável. Esta noção de eternidade pode aplicar-se a essa 3ª parte da Consciência humana. Eis por que Evolução e Metafísica são noções contrárias e estruturalmente contraditórias. Metafísica é, semanticamente, menos e mais que a simples Mitologia, que um discurso criticista sabe perfeitamente tratarse de uma ‘realidade imaginária’, de índole colectiva, para os seres humanos que ocuparam um determinado locus/situs, no Espaço-Tempo. A Metafísica, por seu turno, tem a pretensão de apresentar-se como catá-logo de verdades (temporais/intemporais) de ordem filosófica e, por vezes, até científica. É por tudo isso que, nesta problemática, se chega à equação seguinte: a Meta-física é indissociável da Ideologia, porque a Ideologia é própria e específica da Cultura do Poder-Dominação d’abord. Logo, a Metafísica (tradicional no Ocidente) persistirá, incontornável, enquanto perdurar a sempiterna Cultura do Poder-Condomínio. (Este esquema de argumentação lógica lembrou os chamados silogismos aristotélicos em ‘Barbara’, na nomenclatura da Lógica escolástica medieval…). O que, em toda essa arquitectura lógica, é negligenciado e ocultado, na galáxia da Cultura do Poder-Dominação d’abord, vem a ser, ex officio, os axiomas que procedem da outra Cultura antipódica: a da Liberdade Responsável primacial e primordial. Entre esses axiomas está o que encabeça e preside a toda a Ética e a todo o Bom Direito: ‘Opus Justitiae Pax’! A Paz é obra e fruto (sazonado) da Justiça. Por isso mesmo, nesta 2ª Cultura mencionada, o primado absoluto (no Universo Humano) é o da Paz sobre a Guerra. Na 1ª Cultura (que é ainda a tradicional/moderna, a que temos…), o primado efectivo é o da Guerra sobre a Paz… por isso se chama a um tal ‘regime de paz’, a ‘paz de armistício’. A 16


Cultura do Poder-Condomínio é incapaz de admitir, na sua pauta primacial, que toda a vera Justiça e o Bom Direito só podem proceder da Interioridade e da Consciência dos Humanos; e não podem limitar-se a um ‘ordo rerum’ imposto exteriormente, pela Força ou pela Violência da Conquista e da Guerra. Com efeito, na galáxia (tradicional) da Cultura do Poder-Dominação d’abord, torna-se muito difícil e, em última instância, impossível cumprir, cabalmente, a ética e o direito, implicados no referido axioma primacial e primordial: ‘Opus Justitiae Pax’!... Assim, onde se pode afinar – pergunta-se – o Diapasão da vera e autêntica História?! Justamente na Interioridade das Consciências humanas (do ‘Homo Sapiens//Sapiens’), aí mesmo onde continua a subsistir (apesar de todas as violências e massacres exteriores e bélicos…) o que podemos, com legitimidade, chamar ‘o eterno no Tempo’. Eis por que os acontecimentos de guerras e conquistas de dominação, mesmo em nome da ‘Fé’ (cristã ou islâmica, ou outra…), constituem sempre, em qualquer época da História das civilizações, um Erro Gravíssimo. O Ocidente cristão (que se quis pioneiro e construtor de Civilização) deveria, hoje, recordar-se (fazer a anamnese das suas origens!...) da Ética e do Bom Direito (Valores – estes, sim, a universalizar, porque são universalizáveis). *

HUMANISMO CRÍTICO: A Solução Metodológica O Processo histórico das Civilizações e das Culturas chegou, contemporâneamente, a um estádio paroxístico e apocalíptico, que só a fórmula da ‘Quadratura do Círculo’ o poderá definir, com alguma aproximação. Globalizou o Sistema capitalista, nas suas formas mais selvagens, e pretendeu compatibilizar isso tudo com o Regime Democrático, as liberdades, os direitos e as garantias dos Indivíduos e dos Cidadãos. Os Estados (em regra, dotados da chamada soberania nacional) são Estados/Nações: Em alguns destes, (sobretudo, a Ocidente), as Constituições políticas respectivas já estabeleceram, desde o Tratado de Westefália (1648), o fim das chamadas guerras de religião (a dimensão étnica confundida com a religiosa…); a distinção entre o Estado e a Nação e a correspondente concepção de um Estado/Nação plural, onde cabem várias etnias e várias religiões, em convivência pacífica. Mas, em outros Continentes, além da Europa e das Américas, há ainda muitos casos em 17


que o Estado/Nação pretende identificar-se com uma etnia ou uma religião institucionalizada. Que tem feito a O.N.U., nestas áreas culturais e educativas, para todos os povos, de modo a contribuir para a boa e pacífica resolução dos conflitos étnicos e religiosos, que ainda hoje continuam a massacrar as populações, como acontece na Síria e no Iraque (com o movimento militar dos jihadistas islâmicos a pretender re-instaurar o Califado em Bagdade…), no Afeganistão, no Paquistão, na Palestina?!... A ‘Quadratura do Círculo’ continua a ser a Regra, ainda vigente e hegemónica, na Cultura/Civilização do Ocidente, hoje mundializada…globalizada, sempre pela Força e pela Violência!... Há três espécies de Terrorismo: a) a dos Estados (maquiavelicamente totalitários, mesmo proclamando-se democráticos; b) a dos Grupos armados terroristas islâmicos (como, no I.S.I.L.); c) e a das Corporations e dos Mercados, que pretendem impor os seus produtos/mercadorias às populações indefesas (mesmo quando ilustradas…). Como a teoria/doutrina política, no Ocidente, se habituou às estratégias e tácticas ‘dos dois pesos e duas medidas’ (o caso, v.g., dos talibãs do Afeganistão…, ou a ocupação/conquista de território da Palestina, por parte do Governo de Israel…), sempre segundo a bitola da Cultura do Poder-Condomínio, o Mundo ocidental (Europa e Américas) encontram-se, hodiernamente, num beco sem saída. Decididamente, no seu estádio actual do Neoliberalismo capitalista global, o Sistema capitalista está a patentear, até à exaustão, a sua tradicional Contradição estrutural/estruturante perante e no quadro de Regimes democráticos. Segundo as investigações do sociólogo alemão Wolfgang Streeck, director do Instituto Max Planck para o Estudo das Sociedades, estamos a assistir a um Fenómeno novo: a captura, na grande maioria dos países, do Estado democrático pelas Grandes Multinacionais, por sistemas de interesses económico-financeiros (politizados a seu modo…), que actuam por conta própria dentro da malha fina das Constituições dos Estados e no quadro aparente das leis dos Estados soberanos. Para este mestre, as principais doenças do capitalismo hodierno são: a estagnação, a pilhagem do sector público, através do subfinanciamento e das privatizações crescentes; a corrupção como atmosfera generalizada; a redistribuição oligárquica da riqueza nacional, de modo que, mesmo a longo prazo, a tendência para a desigualdade crescente continua. À escala global, é a anarquia global, porque dentro do Sistema capitalista global, já não há equilíbrio tensional entre Centro e periferia (como acontecera, até à década de ’20 do séc. XX, mediante a função centralizadora da Grã-Bretanha, ou entre 1945 e a década de ’80, através da mesma função desempenhada pelos USA). Desde 2008, os sintomas graves das sucessivas crises do Capitalismo, à escala global, deixou-nos estarrecidos perante a inércia final do Sistema: “o declínio persistente da taxa de crescimento perto da estagnação económica, o crescimento do endividamento total (dos governos, do sistema financeiro, 18


empresas e famílias) e o aumento das desigualdades quer da riqueza quer dos rendimentos ( o entretenimento e a repressão em doses adequadas podem ajudar a ‘banda baixa do sistema’ a acostumar-se à desigualdade, mas…). Mas a crescente desigualdade é um sintoma grave do declínio do crescimento e este reforça a desigualdade num fenómeno conhecido como ‘disputa pelos recursos’. Um ciclo vicioso com tendências nocivas e decadência gradual a longo prazo, que podem pôr em risco o sistema económico em si mesmo. Enfim, a crise actual é de regeneração do sistema capitalista? Ou é uma crise de desmantelamento?” (Jacinto Rêgo de Almeida, in ‘JL’, 21.1 – 3.2.2015, p.34). A nossa convicção é que se trata do 2º caso, uma vez que a odisseia do Objectivo-objectualismo, que não faz caso dos Sujeitos/Pessoas, está a chegar ao seu termo. É preciso reorganizar as Sociedades no Quadro do vero e autêntico Socialismo. Os dois sociólogos e filósofos alemães, Max Weber (autor da Obra célebre, edi-tada postumamente: ‘Soziologie der Herrschaft’: Sociologia da Dominação, editada, em francês, por La Découverte, com o título: La Domination, Paris, 2013) e Ulrich Beck nunca abandonaram a âncora do Humanismo, na esteira de Immanuel Kant e da sua gramática humanista da ‘Paz Perpétua’. Ulrich Beck (recentemente falecido) pôs o acento tónico, no concernente à organização das Sociedades/Estados, à escala global, em dois factores decisivos: a) o cosmopolitismo dos Estados; b) a ‘sociedade do risco’ em que vivemos: procedente, quer das alterações climáticas e das catástrofes naturais, quer das inovações tecnológicas e das incertezas sociais. U. Beck chegou a apostar na tese de que o risco global poderia transformar a política corrente e zurziu severamente, nessa cegueira que é a idolatria do ‘bezerro de oiro’ dos mercados. No ‘Der Spiegel’, U. Beck, reivindicando a Cidadania, como base da democracia, e preconizando uma mundialização não uniformizada e indiferenciada, mas com a afirmação da liberdade e da dignidade dos Indivíduos, chegou a patrocinar uma formulação do primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, nestes termos: ‘Os Estados cosmopolitas fundam-se no princípio da indiferença nacional’. Por isso, ele recusou, com veemência, uma ‘Europa alemã’; e foi cáustico relativamente à lógica castradora da Austeridade, chegando a falar de ‘Merkiavel’ e da perversidade dos seus efeitos!... Escreveu, com acerto, Guilherme d’Oliveira Martins, a respeito do tema Ulrich Beck (in ‘JL’ cit., p.27): “É a democracia que está em causa, quando nos deparamos com o que o pensador alemão considerava serem as ‘cinco cegueiras’ das políticas nacionais na era da globalização. Ao contrário de qualquer fatalismo ou atitude cínica, do que se trata é de criar defesas para a democracia, de modo que o poder político democrático prevaleça sobre o poder económico, que a coesão social e o desenvolvimento humano ajudem contra os fenómenos incontroláveis do terrorismo e da violência e que a segurança se construa através da justiça e da racionalidade. Ulrich Beck disse, 19


assim, ser falso que não possa fazer-se política contra os mercados, uma vez que são as acções dos políticos que criam essa pretensa impotência, cabendolhes mudar de atitude”. U. Beck sabe perfeitamente que a mera cartilha económica neoliberal não responde aos riscos de ordem global, que são: a crise financeira, as mudanças climáticas, as catástrofes ecológicas e as muitas faces do Terrorismo; chega a falar, com sarcasmo, de ‘cegueira neomarxista’, diante da complexidade das mudanças exigidas, que já não operam no quadro dos parâmetros tradicionais das forças produtivas e das relações de produção: o Mundo está a mudar de polarização: do Norte para o Sul, do Atlântico para o Pacífico; a própria ilusão tecnocrática está a esboroar-se, na medida em que não se podem confundir processos e resultados… e, em última instância, não se podem anular o Desenvolvimento Humano, a Liberdade e a Democracia. A meio do período dos chamados ‘Trinta Gloriosos’, a bandeira do Ecumenismo entre as grandes Religiões institucionalizadas foi erguida e proclamada a partir do Concílio Ecuménico Vaticano II (1962-65); mas nas duas décadas seguintes, murchou, parou e deixou de se falar disso… Na década de ’90 e a dobrar o novo século, irrompeu violentamente e sem controlo o neoliberalismo capitalista global, – dir-se-á como ‘o canto do cisne’ do Imperialismo ocidental!... Por que falhou o Movimento ecuménico? Porque ele próprio nunca pôs em causa a sempiterna Cultura do Poder-Dominação d’abord. E foi, precisamente, esta situação estrutural estereotipada que permitiu a irrupção violenta (com pompa societária) do Neoliberalismo capitalista na última década do séc. XX e na primeira do séc. XXI, até que estoirou a Grande Crise Financeira/económica, em 2008. O teólogo suíço Hans Kung ainda foi pioneiro de um Movimento rumo a uma, necessária e urgente, Ética mundial; mas tudo veio a fenecer cedo, com as esperanças baldadas… Que soluções novas, em nome e em função da, necessária e urgente, Paz mundial?! Justas e eficazes só serão as soluções que passam pela Cultura dos e entre os Povos; as que passam pela Escola e pela Educação/Instrução. Naturalmente, em Regime Democrático; não as que passam pela Violência ou são impostas pela Força. Se não se atingirem e tocarem as Consciências e a Interioridade dos Seres Humanos, qua tais, todos os planos e projectos de mudança e transformação resultarão frustrados. A Liberdade Responsável só nessa atmosfera poderá criar raízes e desenvolver-se. Eis por que é justamente, nessa nova atmosfera, que as religiões institucionalizadas deverão actuar e proceder, até para que o Movimento ecuménico possa renascer e dar frutos, até se poder passar ao novo estádio que, por enquanto, é conveniente confinar-se ao ‘para além de todas as religiões institucionalizadas’.

● Para descobrir e identificar as boas e adequadas soluções e encarar, com determinação e eficácia, os Problemas estruturais/estruturantes, que 20


hodiernamente se nos põem, neste Grande Carrefour societário da História das civilizações, – o que o Humanismo Crítico, enquanto Centro de Estudos e Movimento de genuína Renovação à escala internacional e mundial, nos propõe e, eticamente, nos impõe, em termos de metodologia, é, em primeiríssimo lugar, acertar contas (críticas) com a História, em bom rigor com a História psico-sócio-antropológica, que é própria e específica do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ (e que sempre tem sido esquecida ou negligenciada, mesmo pelos melhores estudiosos). É, pois, necessário e urgente acertar contas críticas com a História, tal como é feita tradicionalmente, sempre em total submissão aos métodos do Monismo Epistémico e à sempiterna Cultura do Poder-Condomínio. É que a vera e autêntica História é elaborada segundo o Diapasão do Psico-SócioÂnthropos e, como tal, é o que o C.E.H.C. designa por ‘História ao 3º grau’ (depois da ‘Histoire des Annales’ e da História fisicalista tradicional). É surpreendente e inaudita a importância metodológica decisiva do que estamos asseverando: Na verdade, os resultados do facto sócio-histórico e político de não se ter acertado contas com a História (nos últimos dois séculos e meio, desde a Revolução Francesa de 1789, ou, pelo menos, desde a chamada ‘Primavera dos Povos’ de 1848, como lhe chamou K. Marx) acarretou consigo consequências desastrosas. Exemplos do que afirmamos: as ditas revoluções socialistas (desde a ‘Comuna de Paris’ de 1871, pas-sando pela Revolução dos Sovietes em 1917, pela Revolução Chinesa de 1948 e pela Revolução Cubana de 1959, até à revolução socialista lusa frustrada, a partir da contra-revolução de 25 de Novembro de 1975), – todos esses processos socialistas revolucio-nários resultaram gorados e completamente fracassados. O que, efectivamente, se pas-sou foi que, afinal, a Núvem foi tomada por Juno!... Na década de ’60 do séc. XX, John Kenneth Galbraith (no seu Livro célebre ‘O Novo Estado Industrial’) foi o 1º a denunciar a ‘mascarada de carnaval’: o que acon-teceu, como resultado da Revolução bolchevique, na nova U.R.S.S., não foi outra coisa a não ser o cumprimento de uma forma ‘nova’ de Capitalismo: o chamado ‘capitalismo monopolista de Estado’… como é óbvio, o mercado ficou subjugado e secundarizado, em função do primacial Plano (económico) central do Estado. Em resumo: o Projecto socialista não tem passado de um ‘nado-morto’, nos últimos dois séculos e meio da História do Ocidente. Por duas razões fundamentais: A) a específica: a persistência da sempiterna Cultura do PoderCondomínio; B) a genérica: a História foi driblada e enganada pelos Poderes Estabelecidos (os intelectuais e historiadores não passam de ‘cães de guarda’ do Establishment): é a negligência ou a ignorância da vera e genuína História ao 3º grau. Ora, para edificar Sociedades socialistas, é preciso saber, antes de tudo, que o Socialismo (vero e autêntico) só se constrói a partir dos Sujeitos humanos livres e responsáveis; e não configurando planos centrais, segundo a 21


religião (laica) do Objectivo-Objectualismo. Depois, é absolutamente necessário e indispensável corrigir os erros e emendar os males e as contradições estruturais do Sistema capitalista corrente, come-çando por obrigar o Sistema a subordinar-se às pautas éticas e morais, universalmente reconhecidas. Designadamente: a corrupção generalizada e o ‘enriquecimento ilícito’; dado que os recursos sociais e do Planeta são limitados, não se pode aceitar a principiologia de um crescimento (financeiro/económico) in infinitum: é, precisamente, o Princípio do Equilíbrio e da Harmonia/Coesão social que nos impõe a subordinação da gramática da Economia política às populações reais, suas necessidades básicas e interesses legítimos. É preciso e urgente erradicar e banir essa atmosfera ideológica corrente de que não há regras de moralidade e ética, na organização e funcionamento dos Aparelhos económicos e financeiros. Em suma, os Egoísmos e a doutrina do Lucro d’abord têm de ser controlados pelas Autoridades estabelecidas, sem apelo nem agravo. Aprender com as situações de massacres demenciais, por parte, v.g., de jihadistas islâmicos, como o do Charlie-Hebdo, numa Europa ‘à deriva’, constitui, hoje um imperativo categórico: é preciso mesmo procurar uma via de racionalidade crítica, pessoalmente assumida, visto que uma boa parte das informações colhidas na Internet e nas redes sociais trazem a embalagem de ‘puras teorias da conspiração’. Alexandre Farto (Vhils) deu-se, analiticamente, conta disto, ao afirmar, em entrevista (in ‘JL’, cit., p.19): “Vivemos numa UE indefinida, à deriva, com o desemprego, até aos 30 anos, na ordem dos 30%. Não existe uma ‘escala social’ para esta geração; não tem como participar e integrar-se na sociedade. Juntando a isso o facto de ser nestas idades que as pessoas se politizam, deixa-se espaço para que haja gente que manipule essa ‘inocência’ ou essa vontade natural de mudar o mundo. Depois tens um exército de duas mil pessoas do Estado Islâmico, constituído maioritariamente por euro-peus dessa faixa etária… Isso não aconteceria se houvesse uma atitude diferente em relação a esta geração. Não estou a justificar o injustificável. Apenas a dizer que qualquer acto, por mais energúmeno que seja, tem um contexto”. As hodiernas alterações climáticas e os ‘desastres ecológicos’ acumulados, juntamente com a corrupção generalizada, tanto à escala regional/continental como à escala global, – tudo isso faz parte, intrinsecamente, do Sistema capitalista que, ao iludir e escamotear a gravidade das suas contradições estruturais, muito especialmente nos últimos 25 anos de neoliberalismo descontrolado, assumiu contornos de extrema per-versidade e selvajaria. (Já nas décadas de ’60 e ’70 do séc. XX, na área da Geofísica, confrontada com a História da Terra, os cientistas sérios alertavam para o Fenómeno emergente a que deram o nome de ‘Antropoceno’, para referenciar o que a civilização capitalista havia feito ao Planeta). Não: decisivamente, é, hoje, forçoso reconhecer (de uma vez por todas…) que o Sistema capitalista é 22


intrinsecamente contraditório com o Regime Democrático e os Princípios da Igualdade Social dos Humanos, também consubstanciados e expressos nos imperativos morais da Solidariedade e da Fraternidade.

SUPLEMENTO/COMPLEMENTO N.B.: Com a devida vénia, vamos aqui transcrever textos (curtos) editados de 6 Autores. Sem comentários adicionais. O nosso intuito e propósito é o de mostrar como o Movi-mento de uma nova Racionalidade Crítica Alargada está a fazer caminho, no Mundo, perante a enorme Complexidade dos Problemas e das Situações societárias, em que vi-vem (sobrevivem) os Humanos hodiernos.

Seleccionámos esses textos, porque eles ostentam (sciente/insciente) uma Convergência notável na Via desbravada pelo Humanismo Crítico, pelo C.E.H.C., suas balizas/parâmetros e Orientação criticista proposta.

– 1. – Três textos de João Barcellos (Presidente do C.E.H.C. para América Latina e Mundo)

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Editados na Revista Electrónica Noética e enviados de São Paulo, em e-mail, pelo Prof. Firmino.

A) Palestra (6 de Janeiro de 2015) “Olá. Recomeçámos ontem à noite o ciclo Humanismo Crítico – Palestras, com um evento da Marta Novaes, em Buenos Aires, ontem de tarde, e que correu muito bem. O evento porteño foi possível (e mais um em Asunción no próximo sábado), pelo apoio do Marido da MAyP. E, agora de manhã, a MAyP e o João fizeram, em São Paulo, o outro evento, no qual ela leu partes do v/ texto Francisco e Dalai Lama e o João acresceu uma pitada poética com um poema que escreveu na minha frente escutando Beatles depois de ler o texto de Manuel Reis. O poema segue abaixo…

liberdade, oh liberdade [poema escrito ao som da banda The Beatles e lendo uma carta de Manuel Reis sobre o Papa Francisco e o Dalai Lama]

não sei se o barbeiro de penny lane continua tesourando nem se a lucy se encontrou naquele céu de fumacinha sei apenas que eu não interpreto eu transformo e no que transformo sou universal e não da elite um esperto – aquele que vive d’estar em burocrática política e sei ainda que o povo não ordena buscando na divindade a mortalha e o lacre e quem sou eu? eu sou a vera divindade em mim sobrevive a liberdade o mundo sou eu se quereis uma igreja segurai o lacre da mortalha que sois – se povo sois buscando civilização erguei-vos em fraternal política e então vos direi em horizonte aberto que sinto e vejo e transformo – e transformo porque como sócrates eu não sou espelho sou a experiência e a intuição n’alma que m’anima e talvez assim tesourando 24


e sem vintém sou a liberdade que alguém cantou em penny lane” João Barcellos Algures no Mundo, ano novo dito 2015.

B) Pela Liberdade de viver a vida (8 de Janeiro de 2015)

“As duas palestras de hoje foram iniciadas pelo João Barcellos, em Barueri e Embu das Artes (cidades da Grande São Paulo), com homenagem aos jornalistas e cartunistas executados pelos falsos religiosos da Al Qaeda, em Paris. Falando em nome do CEHC e do gd Noética, João lembrou que “O humanismo crítico separa a espiritualidade das pessoas do extremismo militarista, quer de estados quer de grupos – pois, o terror tem essas duas caras, nem podemos esquecer, enquanto intelectuais, e também jornalistas e artistas que somos, que todo este terror que nos rodeia a ferro e fogo deve ser rastreado na cultura de dominação imperialista nunca desactivada pelo ocidente – ora…, o Oriente deve ser tratado pelos orientais, assim como o Ocidente pelos ocidentais, e é bom lembrar que tal rastreio chega às cruzadas e à inquisição, feitas contra a Palavra Jesuana, mas cimentadas no corporativismo romano de Pedro e de Paulo, como nos ensina o filósofo Manuel Reis. De resto, o atentado de Paris, politicamente idêntico ao de New York (o de 11 de Setembro), demonstra a incapacidade gerencial da ONU nos conflitos e no colonialismo ocidental em terras de árabes, além da interminável guerra santa israelo-palestina”. C) Je Suis Charlie Nem pensar! (13 de Janeiro de 2015)

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“A liberdade de expressão é parte do pensamento/acção que move as pessoas em humanismo crítico, mas quando essa liberdade se transforma em culto fanático a impor conceitos ideológicos… Vamos por partes: idealizar e criar imagens para mostrar quem somos no todo sociocultural é uma das actividades mais incríveis que desenvolvemos, e o fazemos desde os desenhos nas cavernas; entretanto, ver as pessoas de outras comunidades com os olhos do nosso ambiente sociocultural e carregá-lo no traço é um terrorismo ideo-lógico que deve ser combatido. E quando isso passa para o plano do ambiente do-gmático a estética da arte que liberta não funciona, porque corrói (ou tenta corroer) identidades teológicas despertando revoltas que se aprofundam quanto mais for carregado e sublimado o traço da caricatura. Todas as pessoas informadas sabem que desde a traição pedro-paulina à palavra jesuana – sobre o assunto leia-se a obra literária e teológica do filósofo Manuel Reis –, transformando a mensagem numa igreja corporativa e colonial (por isso, católica), o Ocidente tenta, por cruzadas, inquisições e conflitos armados por toda a parte, ocidentalizar o cotidiano mundial, e a Web, por exemplo, é um dos instrumentos mais eficazes dessa acção na era moderna…, e então, o que poderia ser uma arte para informar e desintoxicar tal processo foi transformado em mais uma lança dessa ocidentalização que atenta contra os ambientes socioculturais de outras comunidades. Este foi e é o ‘papel’ da revista Charlie Hebdo. A profunda acção anti-Islã que carrega[va] o traço de cartunistas e jornalistas desta revista francesa criou uma reacção tão profunda quanto… Eis que é preciso dizer que ‘[…] a Liberdade de Expressão não é (nem pode ser) escudo para acções intelectualmente tão criminosas quanto o terror belicista santificado em estados e grupos políticos e teológicos: ela, a Liberdade, tem de contemplar o Todo de cada Comunidade, abraçá-lo e não destruí-lo’ [J.C. Macedo – poeta, in ‘Política e Fanatismo’, artigo e palestra; Lisboa-Pt, 2001]. O excesso ideológico dos cartuns satírico-ocidentais da Charlie Hebdo contra as comunidades islâmicas resultou numa reacção directamente proporcional. Resultado: uma acção polimil que matou cartunistas e jornalistas na sede, em Paris. E agora… Agora, as comunidades economicamente poderosas choram lágrimas de hipocrisia e continuam a esquecer gentes africanas chacinadas semanalmente, gentes árabes com territórios ocupados e saqueados por interesses ocidentais, etc. e etc., ‘coisa’ que a Charlie Hebdo também não quis retratar, obviamente por interesse ocidental. Não é fácil criticar, pois, é preciso conhecer profundamente o processo em questão para se evitar confusões socioculturais e místicas; e, criticar para impor outra visão-conteúdo é destruir a liberdade das outras pessoas. Este foi/é o ‘papel’ da Charlie Hebdo enquanto jornalismo artístico politicamente balizado na ocidentalização do mundo humano. A fé da pessoa ou da comunidade deve ser respeitada e não pisada como fez/faz a Charlie Hebdo. Deve-se repudiar a reacção terrorista que levou cartunistas e jornalistas à morte, em Paris, mas não se deve esquecer que a sátira sociocultural não pode nem humilhar outras comunidades nem retirarlhes a liberdade de serem o que são! Aqui, como em tudo, o humanismo crítico é a única bandeira a ser agitada, porque só o amor constrói a paz, só a filosofia aberta a todas as pessoas congrega a fé na própria humanidade.” 26


BARCELLOS, João

–––––––––– 2. –––––––––– A) Crónica 117 do Padre Mário de Oliveira (17 de Janeiro de 2015)

QUEM ESTIVER SEM JIHADISMO, ATIRE A PRIMEIRA BALA “A última grande encenação do Ocidente, para se manter dono/senhor do mundo, é a mega-operação em curso, em (quase) todos os países de raízes cristãs, Portugal incluído, contra o jihadismo islâmico e os jihadistas. A obscena manifestação em Paris, com todos aqueles chefes de estado e de governo, logo a abrir, braços dados uns aos outros, com a sra. Merkel e o sr. Hollande, uma-só-carne, foi a mais eloquente auto-caricatura satírica viva, que nem os cartoonistas satíricos do Charlie Hebdo, alguma vez, foram capazes de conceber/reproduzir com a ponta dos seus lápis, de repente, muito mais importantes do que as próprias mentes, os próprios cérebros. Porque a apregoada liberdade de expressão dos países do Ocidente, só vai até onde o seu único dono/senhor permite. Permite tudo, menos ser denunciado/acusado de mentiroso, ladrão, assassino dos povos da terra, a começar nas respectivas mentes-consciências. Enquanto nos mantivermos formatados para ver no outro, no desconhecido, no estrangeiro, um potencial inimigo, em vez de um irmão a acolher, a nossa apregoada liberdade de expressão é semelhante às balas disparadas pelas armas da Polícia francesa contra os supostos jihadistas, autores do massacre dos doze. Só vê jihadismo nos outros e atacao, com caricaturas/prosas satíricas, ou com balas. Não chega a ver o jihadismo que está na sua própria mente-consciência e o estimula a caricaturar os que tem como inimigos do Ocidente, da Civilização ocidental cristã. Nunca vê que é 27


tanto ou mais jihadista quanto eles. Também aqui se aplica a Sabedoria de Jesus Séc. XXI: Quem estiver sem jihadismo, atire a primeira bala. Antes do Islamismo com seu Alcorão, há o Cristianismo com sua Bíblia e o seu S. Paulo. Antes do Cristianismo, há o judaísmo davídico, com a sua Bíblia hebraica. E, muito antes, há o Religioso que valoriza o Divino em detrimento do Humano. Denominador comum a todos: – a ideologia-teologia deísta que mata/sacrifica os seres humanos para glória de Deus. Por isso, enquanto não mudarmos de ser, de Deus, somos todos jihadistas, ao serviço de Deus, hoje, o Dinheiro!” B) Crónica 126 do Padre Mário de Oliveira (28 de Janeiro de 2015)

Auschwitz: Por Quanto Tempo Mais? “O cristianismo dominante na Europa, desde Constantino (séc. IV), é o pai de Auschwitz. Hitler, com os seus sinistros anjos da morte, é cristão e chega ao poder na Alemanha, via eleições. Tem com ele, a hierarquia da igreja. É também da Alemanha que vem Lutero, tido como o grande reformador do cristianismo romano. Não vende indulgências. Faz pior. Promove a bênção de Deus, o enriquecimento de alguns, poucos, enquanto sanciona como castigo de Deus a consequente pobreza de todos os demais. Quando foi preciso fazer parar o levantamento dos camponeses que reivindicavam jus-tiça aos príncipes que se tinham como os donos da terra, o que lhes recomenda, pelo menos, admite, é o massacre dos camponeses. O Holocausto nazi não é um filme de terror de mau gosto. É a realidade histórica mais crua, cruel que o cristianismo produziu no coração da Europa. Desde há 70 anos, cada hoje europeu, ocidental, mundial, é sempre o dia seguinte ao inominável massacre dos judeus e outros ‘impuros’. Hitler, com os seus anjos da morte, sabe bem o que faz. Quantos, como ele, renunciam a ser humanos, para serem poder, sabem bem o que fazem. Com o apoio activo de cientistas e das mas-sas. Arrancam das populações as suas mentes cordiais e transformam-nas em outras tantas granadas, prontas a rebentar, lá, onde proporcionarem maior número de vítimas. O cristianismo é intrinsecamente sacrificial. O seu Deus – hoje, o senhor Dinheiro – é de apetite devorador. Só se alimenta de vítimas. Ninguém está livre de lhe ser sacrificado. Há sempre um Eichmann disponível para, à hora marcada, levantar voo e despejar bombas a granel sobre cidades previamente assinaladas no mapa. O pior que aconteceu à Europa, nos últimos dois mil anos, foi o cristianismo, o inimigo da liberdade, da autonomia, dos povos. Enquanto ela se mantiver cristã (= financeira), é sempre Auschwitz. Porventura, incruento, mas Auschwitz. Os grandes financeiros e os governos por eles eleitos são os sucessivos anjos da morte! Temos de redescobriracolher-praticar Jesus e o seu Projecto político maiêutico. Ou perecemos!”

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EUROPA TERRORISTA (A quadrilha que vai liderar a manifestação de Paris Prostituiu a Europa, matou os projectos de Vida) Texto do Prof. Francisco Moita Flores, editado no ‘Correio da Manhã’ de 11.1.2015.

“Os massacres de Paris não vão ter alguns dos principais autores no banco dos réus. Foram abatidos durante a refrega que pôs termo à chacina gratuita de inocentes. Mas lá se sentarão, mesmo que só a História os julgue, os poderes fundamentalistas gerados no Yémen e o conjunto de personalidades que hoje encabeça a manifestação de Paris. A explosão afectiva e solidária ‘Je Suis Charlie’ é património de poucos. Não é, de certeza, pertença desta Europa cínica, protectora de ladrões e especuladores financeiros, que há muito se borrifou para os sonhos da Igualdade, da Liberdade e da Fraternidade, gerados no ventre francês e que emigraram por esse mundo fora. Pois o problema é político. Nunca foi religioso. Os presidentes, os primeiros-ministros e outros acólitos que hoje desfilam em França em defesa da liberdade de expressão são os seus carrascos. Nunca leram o ‘Charlie Hebdo’. Apenas bebem as palavras de Merkel. São como os assassinos, que nunca viram o Corão, muito menos o estudaram, e matam em nome do Profeta. A quadrilha que vai liderar a manifestação de Paris prostituiu a Europa, mentiu nos so-nhos, matou os projetos de Vida. Esta quadrilha quis emigrantes para a mão de obra escrava e desprezou o valor do trabalho. Desprezou o emprego. Desprezou a escola e a educação. Atirou para a fome e para a ruína milhões de desgraçados. Mas pior do que isto, a Europa cínica que hoje habitamos matou a Europa de Monet. Fez da União Europeia uma pantomima, aceitou de joelhos os ditames da Alemanha que fala por nós, contra nós, imperialismo da especulação que matou sonhos. Quem mata sonhos não po-de esperar outra coisa a não ser a multiplicação da raiva, da indignação e, finalmente, do ódio. E as maiores vítimas até são muçulmanos. Ódio, porque lhes prometeram sonhos e lhes entregaram um imenso vazio. Um vazio onde habitam milhões de outros jovens a quem mataram os sonhos, que não assassinam, mas se desinteressam da política, desprezam os figurões que vão marchar à cabeça da manifestação em Paris, servos e serventuários de especuladores, de offshores, de roubos, não de jóias mas de países. Reprodutores de desigualdades, semeadores de injustiças, párias da fraternidade, amigos da liberdade de saque. É esta a Europa cínica, e canalha, que aceitou o apelo de Hollande e vai fazer de conta que é amiga da liberdade de expressão.” –––––––––– 4. –––––––––– Os Blair são tão terroristas quanto os do Charlie (texto do Prof. cat. da Univ. de Coimbra A. Avelãs Nunes: editado em 11.1.2015, na Web ‘Viomundo’)

“Tenho acompanhado as imagens e os comentários sobre o massacre na sede do Charlie Hebdo, em Paris. Também eu penso que se trata de um massacre, algo que a civilização não pode comportar. Mas também penso, 29


como alguns (não sei se muitos) outros, que o essencial a discutir, para preservar a liberdade e a civilização, não é propriamente a história trágica dos assassinos e dos assassinados. Creio que é necessário recordar que foi o terrorismo que, em 1948, expulsou milhões de palestinianos das suas casas e das suas terras. E lembrar que os crimes por terrorismo não prescrevem. E lembrar que um dos mais célebres terroristas desse tempo (Menhahem Begin) foi anos depois PrimeiroMinistro de Israel e condecorado com o Prémio Nobel da Paz (como, entre outros, Kissinger, Obama e a UE). É preciso não esquecer que, desde 1967, Israel ocupa, ilegitimamente, território palestiniano e que ninguém, na dita ‘comunidade internacional’, se lembrou de invadir Israel e matar o ‘ditador’, como fizeram com o Iraque. É preciso recordar que esta situação (com a construção ilegal dos colonatos, a construção do ‘muro da vergonha’ e muitas outras vergonhas toleradas (estimuladas e pagas) pelo ‘mundo livre’) constitui uma humilhação para os palestinianos e para o mundo árabe. É preciso não esquecer que a Carta da ONU reconhece aos povos ocupados o direito de resistir à potência ocupante por todos os meios, incluindo a luta armada. Ninguém (entre os democratas) condena as forças da Resistência pelos atos de ‘terrorismo’ praticados contra o ocupante nazi; os salazarentos chamavam terroristas aos combatentes dos movimentos de libertação que Paulo VI recebeu no Vaticano; o ‘mundo livre’ (vá lá…, uma boa parte dele) chamou terrorista a Nelson Mandela e achou muito bem que ele estivesse preso por não renunciar à luta armada, até chegar à conclusão de que, afinal, aquele ‘terrorista’ era uma referência moral do mundo inteiro. Talvez o ato mais importante (oxalá decisivo) contra o terrorismo islamista fosse obrigar Israel a cumprir as múltiplas decisões da AG da ONU no sentido de entregar aos palestinianos o território que lhes pertence (e já se deixa de lado o território pilhado pelas acções terroristas de 1948 e antes). Após a constituição do estado da Palestina (com a capital em Jerusalém), então poderia exigir-se a este e ao povo palestiniano que respeitasse a soberania e a segurança do estado de Israel. Parece-me uma enorme hipocrisia aceitar (como estão a dizer as televisões) que Netanyahu (que comete atos inaceitáveis de terrorismo de estado, muito mais grave do que o terrorismo dos ‘fanáticos’) desfile ao lado dos que protestam contra o terrorismo. Como classificar os bombardeamentos de Israel sobre territórios palestinianos, sacrificando milhares de inocentes? Como classificar os atos do estado de Israel que, recorrentemente, destrói as casas de família dos familiares dos palestinianos que cometem atos de terrorismo contra cidadãos israelitas? Em nenhuma civilização os crimes de uns podem incriminar outros, só porque são familiares do criminoso. E se a vendetta é repugnante quando praticada pela máfia, é muito mais repugnante quando praticada por estados que se querem civilizados. Como seria bom que, depois da barbárie nazi de Guernica e de Oradour crimes destes não se repetissem… Em consequência de bombardeamentos e outros ataques israelitas, morreram, em 2014, 600 crianças palestinianas da Faixa de Gaza. Terão sido mortas para defender a liberdade de imprensa? Esses mesmos bombardeamentos mataram 17 jornalistas em funções na Faixa de Gaza.

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Talvez estivessem a abusar da liberdade de expressão. Uma coisa é certa: não se trata de terrorismo, são meros ‘danos colaterais’… O que eu penso é que este massacre dos jornalistas franceses é mais um episódio desgraçado de uma guerra global feita pelo e em nome dos interesses do famoso complexo militar-industrial, que não deixou Eisenhower governar segundo a sua vontade, que impôs ao mundo a guerra fria e todas as guerras quentes que fizeram do século XX um inferno e que continuam a marcar o séc. XXI. Em nome desses interesses é que o ‘mundo civilizado’, defensor da liberdade de imprensa, da tolerância e de todas as virtudes republicanas, criou, doutrinou, treinou, armou e pagou (e paga) os bandos terro-ristas islamistas inventados para expulsar os soviéticos do Afeganistão e depois replicados em várias outras situações. Foi em nome da tolerância laica e republicana que todas as franças do ‘mundo civilizado’ inventaram o Kosovo (um ‘país’ que dá cobertura a uma base americana, entregue a bandos de terroristas e traficantes de mulheres, de armas, de droga e de tudo o que dê dinheiro) e o entregaram a extremistas islamitas? Foi a defesa da liberdade de imprensa que justificou, aqui há anos (1999, salvo erro), o bombardeamento pela NATO do edifício da televisão sérvia, provocando dezenas de mortos? Na altura, o porta-voz do Pentágono justificou o ataque invocando que a TV da Sérvia fazia parte integrante da máquina de guerra de Milosevic. Quem se admira que os fanáticos do Islão pensem que o Charlie Hebdo faz parte integrante da máquina de guerra do ‘ocidente’ contra o Islão? Dos fanáticos não pode esperar-se racionalidade (para já não falar de decência e de humanidade), mas do Pentágono (e da NATO e da ‘Europa’ que apoiou os EUA) temos o direito de exigir racionalidade e respeito pelos valores do homem. Recordo de ouvir então o ‘não-terrorista’ Tony Blair declarar na TV (uma TV boa, com certeza) que a TV sérvia era um alvo militar legítimo. Certamente porque apoiava o Presidente Slobodan Milosevic (que os EUA tinham declarado inimigo) e difundia notícias (até podiam ser inverdades…) que não agradavam ao Sr. Blair e aos ‘civilizados’ dirigentes da NATO. Como nega agora o Sr. Blair idêntico ‘direito’ aos que se sentem ofendidos com os textos e cartoons publicados pelo Charlie? A liberdade de imprensa da TV sérvia era má e a liberdade de imprensa da Charlie é boa? Quem define, então, o que é bom e o que é mau? Cá por mim, concluo que o Sr. Blair e outros vários Blaires são tão terroristas como os que agora assassinaram os jornalistas do Charlie. Com algumas diferenças: os Tony Blair que, mentindo aos seus povos e ao mundo, fizeram guerra ao Iraque (e depois à Líbia e agora à Síria) mataram centenas de milhar de inocentes; nenhum deles foi morto pela polícia francesa; nenhum deles irá responder no TPI por crimes contra a humanidade. Pergunto: foi em nome de quaisquer valores dignos do Homem que os Blaires do mundo fizeram a guerra contra o Iraque, contra a Líbia e contra a Síria? Esta guerra não é terrorismo de estado? Os milhões de vítimas que viram as suas vidas destruídas e os seus países destruídos não são vítimas de nenhum terrorismo? Então são vítimas de quê? Ou morreram de morte natural? Quem criou e armou o bando dos ‘Amigos da Síria’? Estes ‘amigos’ não serão agora os ‘amigos’ do ‘estado islâmico’? Como em tantas outras situações da vida, o feitiço parece voltar-se agora contra o feiticeiro… Dramaticamente, talvez os ‘terroristas islamistas’, criados, doutrinados e pagos pelo ‘império’ 31


atuem, sem se dar conta disso, por conta desse mesmo ‘império’, em todos os ‘estados islâmicos’ do mundo, em todas os ataques contra todos os Charlies em qualquer parte do mundo (no Mali, na Nigéria, na República CentroAfricana…). E o que se passa na Ucrânia, entregue a bandos fascistas e facínoras, depois de um processo de luta que não seria tolerado em nenhuma capital europeia, nem mesmo em Lisboa (quem se esquece do gravíssimo atentado à democracia cometido pelos polícias que subiram umas quantas escadas que dão acesso ao edifício da AR?). O massacre cometido na Casa dos Sindicatos de Odessa não foi um ato terrorista? Quantos milhões de pessoas se manifestaram contra ele? Os jornalistas assassinados merecem todo o respeito e toda a solidariedade do mundo. Mas os que foram chacinados na Casa dos Sindicatos de Odessa não merecem idêntico respeito e solidariedade? Quero deixar claro que, a meu ver, um ato de terrorismo não legitima (não torna lícito moralmente) outro ato de terrorismo. O terrorismo não pode justificar-se à luz da civilização. Mas talvez ajude a compreendê-lo (o sono da razão gera monstros!). O que é certo é que nenhum dos ‘terroristas’ comprometidos com os massacres no Iraque, na Líbia e na Síria vão ser chamados ao TPI, criado para ‘julgar’ os que são de antemão considerados os maus. E os crimes cometidos pelos que estão do lado dos bons não são crimes, são atos de heroísmo praticados em defesa da democracia. Esta ‘Europa civilizada’, que nos brindou (a nós e aos espanhóis) com trinta anos suplementares de fascismo, deu cobertura às prisões clandestinas semeadas pelos EUA em território europeu, verdadeiros Guantanamos onde muitas pessoas (quantas?) estão presas e são torturadas, anos a fio, sem culpa formada, sem acesso a advogado, sem contacto com a família, só porque os serviços secretos americanos decidem que assim seja (para combater o ‘terrorismo internacional’, é claro). Estes são crimes que deveriam envergonhar todos os defensores da liberdade, incluindo da liberdade de imprensa, em nome da qual, penso eu, os grandes órgãos da comunicação social silenciam estes e outros atos de terrorismo, as políticas sistemáticas e continuadas de terrorismo levadas a cabo por todos os Bush, por todos os Obama, por todos os Hollande-Sarkozys do mundo. Por alturas do ataque às torres gémeas, o jornalista Francisco Sarsfield Cabral escreveu (no Público, creio) uma nota em que concluía mais ou menos deste modo: dizem agora que o mundo vai dar combate ao terrorismo internacional; pois bem: eu fico à espera para ver o que vai acontecer aos paraísos fiscais, por onde passa todo o tráfico de armas, drogas, mulheres, etc., e por onde passam as operações de financiamento do terrorismo internacional; se nada lhes acontecer, terei de concluir que o mundo, afinal, não quer combater o terrorismo internacional. Pois bem. O que aconteceu aos paraísos fiscais? O negócio corre de vento em poupa, cada vez mais próspero. Olhando para a nossa Europa. Queremos maior atentado contra a democracia, contra a inteligência e contra a decência do que o desgraçado slogan thatcheriano NÃO HÁ ALTERNATIVA (TINA)? Querem maior obscurantismo do que isto? Isto não é uma nova Inquisição? Não é em nome deste dogma que se estigmatizam todos os que não concordam com ele e persistem em proclamar a sua fé na liberdade de pensamento dos homens? Não é em nome deste dogma que se vêm aplicando as políticas de austeridade salvadora, humilhando povos inteiros, num retrocesso civilizacional 32


perigosíssimo? Não são estes dogmas que impõem os tratados orçamentais, com todas as suas ‘regras de ouro’ e outras de metais menos nobres, que matam a soberania dos povos da Europa e reduzem os ‘povos do sul’ a um indisfarçável estatuto colonial? Não são estes dogmas que, matando a soberania nacional, estão a liquidar o único quadro dentro do qual pode lutar-se pela democracia, pela liberdade, pela civilização? Estas ‘políticas terroristas’ não justificarão muito mais a unidade de todas as franças da Europa e do mundo contra aqueles que friamente as aplicam todos os dias e não apenas no desgraçado dia do massacre dos cartunistas do Charlie Hebdo? Não são estes os dogmas que todos os dias amordaçam a liberdade de pensamento, a liberdade de expressão, a liberdade de imprensa? Se metermos bem a mão na consciência, teremos de responder que sim: estes são dogmas do pensamento único. Para não remar contra a maré, eu sou Charlie. Estou do lado dos que foram assassinados, não estou do lado dos assassinos. Mas estou também do lado de Mona Chollet, a jornalista do Charlie Hebdo que foi sumariamente despedida em 2000 por protestar contra um artigo do editor da revista (Phillipe Val) que chamava ‘não civilizados’ aos palestinianos: então, a ‘liberdade de imprensa’ foi invocada para despedir uma jornalista, tendo-se conservado no seu posto o editor, substituído apenas em 2009 por Stéphane Charbonier, agora assassinado. E estou igualmente (que bom se estivéssemos todos…) do lado dos 34 estu-dantes que foram barbaramente sequestrados, torturados e assassinados pelas ‘autoridades’ mexicanas por quererem manifestar publicamente as suas opiniões. E estou do lado dos sindicalistas massacrados em Odessa. E estou do lado das vítimas do terrorismo praticado em todos os ‘civilizados’ guantanamos do mundo. E estou do lado de todas as vítimas do terrorismo, desde as vítimas do terrorismo de estado (‘danos colaterais’ de bombardeamentos ou vítimas de drones criminosos) às vítimas do fanatismo de todas as religiões e às vítimas do sectarismo classista das políticas praticadas em nome do argumento TINA, que vêm empobrecendo e humilhando povos inteiros nesta nossa europa do euro. Uma coisa é certa, para mim: ao contrário do que disse o nosso primeiro minis-tro, em todas estas ‘guerras terroristas’ quem se lixa é mexilhão! Mexilhões de todo o mundo, uni-vos!” –––––––––– 5. ––––––––– As mil caras de Charlie (de Ângelo Alves) (texto editado em 8.1.2015, no Facebook, e chegado ao nosso conhecimento em 16.1.2015)

“Sou o Charlie Sou o Charlie. Sou português, comunista, democrata, amante da liberdade, da democracia, da paz, progresso e desenvolvimento social. Amo a minha terra, o meu país, o meu povo, bem como todos os povos do mundo com as suas realidades, histórias, percursos, particularidades e direitos soberanos. Queria falar-vos de quem sou e de como me sinto. Sou o Charlie, sou português. No meu País existem 3 milhões de pessoas pobres, o desemprego real deve estar a rondar os 23%. Os jovens do 33


meu País estão sem perspectivas. Não admira, 38 anos de políticas sempre iguais destruíram aquilo que devia fa-zer funcionar este país, o seu sistema produtivo. Vejo cada vez mais pessoas na rua, sem casa. A fome já chegou a muitas zonas deste País. Os mais idosos vivem mal, e são-lhes cortadas as pensões. Nestas férias de natal muitas escolas ficaram abertas para poder dar refeições em condições a crianças que estão a viver grandes dificuldades. Entretanto já começou a morrer gente à porta das urgências dos Hospitais… não porque os médicos não sejam bons, mas porque os cortes e mais cortes, fizeram com que os hospitais não dêem resposta às necessidades. Sou o Charlie, sou jornalista francês, sinto-me um dos jornalistas assassinados a sangue frio anteontem em Paris, mas sou também aquele que é explorado e colocado perante a chantagem de obedecer cegamente aos interesses dos donos dos jornais onde trabalho ou ir para o desemprego. Sou um jornalista que por dizer a verdade sou afastado da ribalta das televisões e dos jornais, sou um jornalista igual a outros que em variados países são assassinados por exercer a minha profissão com dignidade e ética ou que morre a cobrir guerras desencadeadas para dominar povos e países inteiros e lhes sugar as suas riquezas. O meu nome é Charlie, sou palestiniano… milhares e milhares de compatriotas meus já morreram ao longo destes mais de 50 anos. Milhões não os consigo ver porque são refugiados em campos onde vivem há décadas sem poderem visitar a Palestina. Sou uma das 600 crianças que morreu sob as bombas de Israel há poucos meses, sou a criança que brincava na praia e fui atingido por fogo disparado a partir de um barco israelita que nunca compreendi porque ali estava. Tenho muita pena dos jornalistas de Paris que foram mortos, tal como tenho dos 308 jornalistas que no ano de 2014 foram vítimas de violação de direitos humanos por Israel. Só no verão passado, durante a guerra que Israel fez contra o meu povo em Gaza, morreram 17 jornalistas, um era italiano até. O meu nome é Charlie, sou sírio, vivia num país que não era o paraíso mas onde vivíamos em paz e em convivência de várias confissões religiosas e etnias. Hoje o meu País está destruído por uma guerra sem sentido, desencadeada por gente que não é do meu País e que, pelo que percebo, são pagos e treinados por países e forças que nada têm que ver com o meu país. São esses, que até andaram a reunir com uns figurões dos EUA, como um tal de McCain, que agora querem retalhar o meu País, atacar os nossos irmãos libaneses, e construir um Estado que dizem que é Islâmico mas que os meus amigos muçulmanos dizem que não tem nada que ver com a religião deles. No meu País morreram por causa desta guerra, só no ano passado, 17 jornalistas. O meu nome é Charlie, sou espanhol, sou um jovem e metade de todos os meus amigos estão desempregados há vários anos, muitos vivem hoje na rua. O Desemprego é uma coisa tramada, não consigo pensar no futuro, porque todos os dias penso como vou aguentar mais tempo sem meios para sobreviver. Os discursos dos meus governantes parece que nada têm que ver com a vida que eu vivo. O meu nome é Charlie, sou francês, vivo nos subúrbios de Paris, os meus avós vieram das ex-colónias francesas em África, ajudaram a construir este País. Sou pobre, e cada vez mais sinto que por ser descendente de africanos ou muçulmanos sou empurrado para guetos e não tenho acesso a

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certas profissões. Muita da malta que mora no meu bairro está desempregada há muito, a pobreza é muita. O meu nome é Charlie, sou afro-norte-americano. Dizem que vivo na terra da liberdade das oportunidades, mas eu cada vez mais me interrogo se isso é mesmo assim, Eu e o pessoal do meu bairro somos cada vez mais afectados pela crise económica, e agora vieram os bancos tirar-nos as casas, muita malta mora em tendas nos parques, an-damos revoltados e até fizemos manifestações, a resposta da polícia e mesmo dos mili-tares foi brutal, e morreram alguns amigos meus. O meu nome é Charlie, sou líbio. A minha família foi toda morta, assim como parte da comunidade onde pertencia, onde hoje existem vários grupos terroristas que se ocupam do tráfico de armas, de pessoas, do contrabando do petróleo e de outras actividades que nada têm que ver com aquilo que já vivi. A guerra invadiu o meu País, dividiu o meu povo e sinceramente não consigo ver como poderemos vir a ser outra vez um País digno desse nome. O meu nome é Charlie, sou oriundo do norte de África e da África Subsahariana. Tenho dezenas de amigos que morreram a trabalhar, outros vão morrer dentro em pouco porque sofrem de doenças que se diz que fazem parte do passado. Muitos dos meus conterrâneos passam fome, não têm casa, outros acho que nunca mais os irei ver, foram contactados por gente de fora que lhes disse que iam viver e trabalhar para a Europa. Ouço dizer que uns estão presos, outros estão fechados nuns campos de detenção na Europa e outros, diz-se, morreram no mar. O meu nome é Charlie, sou muçulmano, fui torturado violentamente por mili-tares norte-americanos que nunca me explicaram porque estava preso. Não tive direito a julgamento. Chamam-me terrorista, mas eu penso que os terroristas são eles quando me deixam semanas sem dormir e me fazem coisas que tenho vergonha de contar. Acho que quero morrer, não aguento mais ser tratado como um animal. Sou o Charlie, o meu país chama-se Sérvia. Dantes chamava-se Jugoslávia. Em 1999 os Estados Unidos e os Países da Europa bombardearam dias a fio o meu País e no fim foi dividido. Foi uma guerra terrível precedida de coisas que não percebi muito bem e que viraram partes do meu povo contra os seus compatriotas. Naquela guerra foram utilizadas armas terríveis, faziam buracos imensos. Soube depois que eram de Urânio Empobrecido e hoje muitos amigos meus e compatriotas sofrem de cancros, os seus filhos têm malformações genéticas. Quando vi a terrível notícia do atentado em Paris pensei de imediato no dia em que os aviões da NATO bombardearam a nossa televisão em Belgrado. Morreram muitos jornalistas na altura também. Um primeiro ministro de nome Tony Blair disse na altura que a nossa TV e a vida dos jornalistas era ‘um alvo legítimo’. É um bocado contraditório né? O meu nome é Charlie, sou iraquiano, o meu País vive desde a década de 90 do século passado em estado de guerra. Tenho pena de não vos poder mostrar o meu País como ele era há algumas décadas. Dizem que somos um dos berços da civilização moderna. Não sei se somos, mas que tínhamos muitas riquezas culturais lá isso tínhamos. Não vivíamos bem, e eu até nem gostava do governo do meu País, mas caramba!, nós podíamos ter tratado do assunto pelas nossas mãos e consciências. Nunca quisemos a guerra, a morte e a destruição do nosso País, apenas queríamos viver um pouco melhor. Centenas e centenas de milhares de patriotas meus morreram nestes anos 35


numa guerra que foi justificada com mentiras sobre o meu País como a das armas químicas. Para quê? Não sei… só sei que hoje anda por cá muita gente de fora a guardar-nos como se fossemos estranhos na nossa própria terra e a guardarem – dizem eles – os nossos campos de petróleo. Ao ver as notícias de Paris lembrei-me dos jornalistas que morreram num bombardeamento dos EUA contra um Hotel de Bagdah onde eles estavam a trabalhar. O meu nome é Charlie, sou Ucraniano. O meu País está dividido por uma guerra civil. Tudo começou quando uns senhores vindos da Europa (coisa estranha… e eu que pensava que o meu País fazia parte da Europa) vieram falar com o nosso governo, que não era grande coisa diga-se em abono da verdade, para ele fazer uns acordos esquisitos que nos amarravam a umas políticas que pelo que vejo lá na Europa deles não estão a dar muito bom resultado. O nosso governo não quis esses acordos, mas também não nos perguntou nada. Depois não percebo bem o que se passou, só sei é que hoje andam por aí, quer no governo quer nas ruas, aqueles que – aprendi na escola – nós combatemos no passado – os nazi-fascistas. Esses, mais uns criminosos que acho que pertenciam a umas forças ditas de segurança, foram responsáveis por um terrível massacre em Odessa, onde morreram queimadas ou baleadas dezenas de pessoas que se refugiavam na casa dos sindicatos. Na altura não se falou muito disso no Mundo, e eu não percebo porquê! Entretanto já morreu muita gente nesta guerra, já foi destruída muita coisa e o meu povo vive pior que nunca. Apetece-me chorar quando vejo o exército do meu próprio país a atacar o povo a que pertenço. Eu sou o Charlie, um Afegão. Em 2001 houve um ataque a umas torres enormes nos EUA, chamavam-lhe as torres gémeas. O mundo culpou gente por esse ataque que segundo eles estava instalada no meu país. O meu país tem uma história triste de guerras. Esses mesmos que falam inglês andaram a criar os Taliban para combater o que diziam ser a invasão da URSS. Depois passados vários anos cá voltaram para combater esses Talibans. Hoje negoceiam com eles e eu já não percebo nada disto. A única coisa que sei é que já se perdeu a conta aos mortos do meu país em virtude destas guerras e agressões. As coisas pioram de dia para dia no nosso povo, e até a produção de droga aumentou exponencialmente. Diziam então que os direitos das mulheres não eram res-peitados, e eu até acho que não eram, mas caramba, cabia-nos a nós resolver esse problema. É que agora elas continuam a andar de Burka, correcção: aquelas que estão vivas continuam a andar de Burka. Cada vez mais acho que esses senhores se estavam era a borrifar para os direitos do meu povo e das mulheres do meu povo. Poderia continuar a dizer-vos quem sou, mas tenho de ir encontrar refúgio porque a noite está fria e aqui no leste europeu e na Rússia faz um frio de rachar, pior que aquele que está em Lisboa, e portanto quem não tem casa tem de cedo encontrar um lugar minimamente coberto para instalar os papelões e os cobertores que nos restam. Basicamente o Charlie sou eu, um homem comum, que vive em qualquer parte do mundo e que é vítima de uma política insana que cada vez traz mais guerra, mais morte, mais fome, mais desemprego, mais pobreza, mais doenças, mais problemas ambientais, menos cultura, mais discriminação, mais ódio racial, menos democracia, mais intolerância, menos humanidade, mais desrespeito por vários direitos humanos. Sou aquele que verdadeiramente sofre com os ataques e crimes como o de Paris, porque há sempre aqueles que lucram com eles. Cada vez mais acho que 36


enquanto não se inverter a essência das políticas que ditam o sentido dominante do Mundo não terminarão os dias tristes como o de ontem em Paris. Sou o Charlie, sou Comunista, sou amante da Paz, da amizade entre os povos. Luto pela justiça social, pelo desenvolvimento económico e social de todos os países, pelo respeito pelos direitos económicos, sociais, culturais, democráticos e de soberania dos povos. Luto para que o Mundo não seja um jogo de xadrez onde as pessoas são meras peças, e a sua vida tem um valor relativo consoante os interesses que estão em jogo. Sou o Charlie, indigno-me tanto com a morte dos meus ‘colegas’ jornalistas em Paris como com a morte de jornalistas na Ucrânia, no Iraque, na Palestrina, na Somália, no Paquistão, no Paraguai, no Afeganistão, no México, na Índia, nas Filipinas, no Egipto, na África do Sul, na Guiné, na RD do Congo, na República Centro-Africana, na Líbia (no total só no ano passado foram cerca de 80) como com a morte de um trabalhador da construção civil que caiu numa obra por falta de medidas de segurança ou ainda como com os agricultores indianos que se suicidam porque não conseguem sobreviver à invasão das multinacionais da agro-indústria. Sou o Charlie, comunista, amante da Paz, da tolerância, da cooperação entre povos e Estados soberanos. Acredito que um mundo mais justo é possível. Acredito que é possível fazer da política aquilo que ela deve ser, uma festa de ideias e princípios usados no interesse de todos. Sou o Charlie, sou comunista… mas podia não ser, e da mesma forma nunca iria permitir que a minha indignação pelo que se passou em Paris fosse utilizada para cortar ainda mais direitos democráticos aos povos, para imprimir medo a todos, para que poucos dominem, para eleger os muçulmanos, ou outros, como inimigos da civilização, ou para desencadear novas guerras num mundo que está já tão perigoso. Sou o Charlie, tomo partido… do lado da verdade, contra a manipulação. Do lado da paz, contra as guerras, as ingerências e as manobras de desestabilização. Do lado da verdadeira luta contra o terrorismo, contra a hipocrisia e a mentira. Do lado da justiça e da igualdade, contra a exploração. Do lado da democracia verdadeira, contra a ilusão de uma democracia formal. Do lado dos povos, dos trabalhadores, contra ‘os donos disto tudo’. Sou o Charlie, e não quero ser usado para instigar o racismo, a xenofobia e a islamofobia. Sou o Charlie e não quero que os meus sentimentos de solidariedade para com as vítimas de Paris sejam usadas para abrir campo à extrema-direita ou para desen-cadear paranóias que abram campo a ainda mais mortes, guerras e destruição. Sou o Charlie, um homem comum que quer viver em Paz e com dignidade…”

–––––––––– 6. –––––––––– Comentários de um Chinês sobre a crise da Europa: (texto enviado em e-mail por Fátima Enes, com data de 14 de Janeiro de 2015)

Opinião de um professor chinês de economia, 37


sobre a Europa, – o Prof. Kuing Yamang, que viveu em França. “1. A sociedade europeia está em vias de se auto-destruir. O seu modelo social é muito exigente em meios financeiros. Mas, ao mesmo tempo, os europeus não querem trabalhar. Só três coisas lhes interessam: lazer/entretenimento, ecologia e futebol na TV! Vivem, portanto, bem acima dos seus meios, porque é preciso pagar estes sonhos… 2. Os seus industriais deslocalizam-se porque não estão disponíveis para suportar o custo de trabalho na Europa, os seus impostos e taxas para financiar a sua assistência generalizada. 3. Portanto endividam-se, vivem a crédito. Mas os seus filhos não poderão pagar ‘a conta’. 4. Os europeus destruíram, assim, a sua qualidade de vida empobrecendo. Votam orçamentos sempre deficitários. Estão asfixiados pela dívida e não poderão honrá-la. 5. Mas, para além de se endividar, têm outro vício: os seus governos ‘sangram’ os contribuintes. A Europa detém o record mundial da pressão fiscal. É um verdadeiro ‘inferno’ fiscal para aqueles que criam riqueza. 6. Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando, mas sim trabalhando. Porque quanto mais se reparte esta riqueza limitada menos há para cada um. Aqueles que produzem e criam empregos são punidos por impostos e taxas e aqueles que não trabalham são encorajados por ajudas. É uma inversão de valores. 7. Portanto o seu sistema é perverso e vai implodir por esgotamento e sufocação. A deslocalização da sua capacidade produtiva provoca o abaixamento do seu nível de vida e o aumento do… da China! 8. Dentro de uma ou duas gerações, ‘nós’ (chineses) iremos ultrapassálos. Eles tornar-se-ão os nossos pobres. Dar-lhes-emos sacos de arroz… 9. Existe um outro cancro na Europa: existem funcionários a mais, um emprego em cada cinco. Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de uma grande ineficácia, querem trabalhar o menos possível e apesar das inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas vezes em greve. Mas os decisores acham que vale mais um funcionário ineficaz do que um desempregado… 10. (Os europeus) vão diretos a um muro e a alta velocidade…”

* CONCLUINDO ● Em nome do HUMANISMO CRÍTICO: Neste conturbado, complexo e perigoso mundo contemporâneo, em que os povos se têm de limitar à sobrevivência quotidiana, é certo e indiscutível que 38


não transformaremos, radicalmente, como se impõe, as desumanizadas Sociedades estruturalmente contraditórias e pervertidas, sem termos a percepção criticista da História, – i.e., da Psico-Sócio-História, balizada e orientada pela Bússola do ‘Homo Sapiens//Sapiens’; não pela do ‘Homo Sapiens tout court’. Ora, em termos psico-culturais, o HUMANISMO CRÍTICO (a sua Escola e Movimento em marcha cada vez mais alargada…) tem as suas origens e bases estruturadoras: A) No Socratismo filosófico e na gramática do seu Diálogo maiêutico (que pre-sume e pressupõe o ‘pé-de-igualdade’ entre os Indivíduos humanos dialogantes). Um tal DIÁLOGO é, por definição psico-sócio-antropológica, construtor de Saberes e de Ciências, que se organizam, ipso facto, em Regime verdadeiramente Democrático. B) No Jesuanismo e na Justiça jesuânica, – a vera e genuína Justiça (social) entre Iguais, ou seja, entre Seres que pertencem à mesma Espécie Biológica. Em termos psico-biogenésicos, o HUMANISMO CRÍTICO tem a sua origem incontornável no consumado patamar (evolutivo) biogenésico do ‘Homo Sapiens//Sapiens’, uma vez que, bio-psicologicamente, foi definitivamente ultrapassado o paradigma (histórico) anterior do ‘Homo Sapiens tout court’ = as famigeradas ‘Sociedades/Rebanho’!... C) Em termos civilizacionais, o HUMANISMO CRÍTICO assenta na Cultura (emergente) da Liberdade Responsável primacial e primordial, e configura-se, exactamente, nos antípodas da tradicional Cultura do PoderDominação d’abord (também chamada Cultura do Poder-Condomínio, pelos nossos Companheiros da América Latina). Sempre a não esquecer: O HUMANISMO CRÍTICO assegura, na base do seu Edifício Intelectual/Cultural, o respeito e a consideração decisivos e indefectíveis pela CONSCIÊNCIA e pelo MUNDO INTERIOR (pacificado ou atormentado…) dos Seres Humanos, enquanto tais. * ● Até quando teremos de brandir aquele aforisma irónico-satírico (gerado e generalizado na mais genuína Cultura criticista francesa), que reza assim: ‘Je suis libre comme la terre est immobile. Tout est combiné pour ces illusions’!... N.B.: O aforismo citado mistura e confunde, semanticamente, numa só, as duas Espistémes, que o C.E.H.C. considera absolutamente necessárias e indispensáveis, enquanto (devendo ser) distintas e inconfundíveis, para boas e adequadas metodologias científicas. São elas: a) a Epistéme do hemisfério das ciências físico-naturais; b) e a Epistéme do hemisfério das ciências psico-sociais e/ou humanas. O aforisma em causa paira em toda a atmosfera criticista, que podemos observar, v.g., no excepcional e excelente e criticista Livro de Jacques Moreau: ‘Problèmes et Pseudo-Problèmes du déterminisme’ (physique, biologie, psychologie), Masson et Cie., Paris, 1964.

● Os Poderes Estabelecidos (na galáxia histórica da Cultura do Poder-Do-minação d’abord) distinguem e separam, inevitavelmente, as Sociedades em dois patamares: mó-de-cima e mó-de-baixo; classes dominantes e classes dominadas (exploradas e oprimidas); elites e massas; os que mandam e imperam (gerem o imperium…) e os que obedecem e têm por destino a submissão e a subjugação. 39


Em tal horizonte, como é óbvio, o discurso e a linguagem sarcásticosatíricos são interpretados e assumidos como diferenciados, consoante são utilizados pelos que se encontram na mó-de-cima, e pelos que se acham na mó-de-baixo, na organização e ordenamento societários. O contexto codetermina, sempre e estruturalmente, o discurso e a linguagem dos humanos. Sem ele, não se pode perceber, cabalmente, o sentido destes. É por tudo isso que as consabidas liberdades de expressão, que tais discursos sinalizam, são, incontornavelmente, bons e justos, quando são proferidos por militantes da mó-de-baixo. Quando, pelo contrário, são pronunciados ou proclamados por mili-tantes da mó-de-cima, eles não se livram, com frequência, de serem, inevitavelmente, acoimados de cinismo e hipocrisia (os quais podem ser profissionais, ou apenas ocasionais…). ● Estava eu a folhear atentamente ‘The Good Book Guide’ (uma revista mensal, agora bimestral (Jan./Feb. 2015), em inglês, sobre o panorama dos livros editados, que a Lil e eu assinamos, desde há mais de 3 décadas), quando fui surpreendido pelo título de um livro (ibi, p.36), que rezava assim: ‘Without God, is Everything Permitted?’ (The 20 Big Questions in Ethics): o Autor é Julian Baggini, o editor/fundador da rev./Philosophers’ Magazine (edit. by Quercus, London, 2015). A surpresa adveio-me de, mesmo no plano da Filosofia e na busca da verdade entre filósofos através da Livre Discussão, se evocar/invocar o recurso a Deus, – o tradicional Deus transcendente e extrínseco ao Universo das Cristandades e das três religiões institucionalizadas de ‘O Livro’: (Hebraísmo, Cristianismo, Islamismo). Dir-se-ia que, sem a função do Juiz Supremo (sempre exterior) desempenhada por essa Divindade, os Humanos e suas Sociedades ditas humanas, mas extremamente desumanizadas, não se mantêm de pé, nem são capazes de encontrar o caminho… O que vigora e predomina, hegemonicamente, em tal horizonte, é a Ideologia Dualista (Teoria e Prática substantivas em conflito permanente…), procedente da sempiterna Cultura do Poder-Dominação d’abord. Pelo que lemos na recensão do livro (vd. ibi: as recensões costumam ser fidedignas, nesta rev.), o Autor é adepto do gradualismo em questões morais e éticas, como nos casos de tortura… e segue o princípio da demanda do ‘mal menor’, como, de resto, já ensinavam os escolásticos medievais. A organização estrutural das Sociedades (ditas) humanas não é questionada. Nessa problemática, o A. não pretende deixar-nos qualquer solução ou orientamento. Limita-se a propor-nos uma espécie de chave para as soluções, preconizando que todas e cada uma das situações sejam avaliadas e julgadas segundo os méritos das várias vertentes consideradas (na linha do Consequencialismo de Bentham). Em última instância, o que ele propõe e aguarda é que gente a pensar certo e ‘decente’ seja capaz de fazer as escolhas boas em circunstâncias ambíguas e sempre em mudança. Em resumo: mais um livro igual a tantos outros… O Autor professa o conformismo e ‘o politically correct’, no confronto com as estruturas societárias, sempre presentes. Sciente/insciente, o A. configura-se no odre (teórico e prático) das Sociedades comandadas pela cartilha do ‘Homo Sapiens tout court’, – as quais, como o C.E.H.C. tem denunciado, são Sociedades

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constituídas como um Rebanho de cabeças de gado, guiadas por um Pastor, (periodicamente eleito…). Quanto aos Humanos, em si mesmos, nunca os veremos libertos e emancipados, no pleno exercício da sua Liberdade Responsável. Basta-lhes o ‘Livre arbítrio’, que é, afinal e tão-só, a ‘lei do pêndulo’!... ● ‘Não é que a poesia, por si mesma, faça revoluções; mas não há revoluções, nem mudança, sem uma poética’. (Manuel Alegre, o Autor justamente celebrado de ‘Praça da Canção’, in ‘JL’, 21.1 – 3.2.2015, p.9). Por que é assim?! Porque o estro criador da semântica envolvida no termo etimológico ‘Póiesis’ da Hélade clássica, que foi capaz de instaurar a 1ª democracia na Pólis de Atenas, é próprio e específico dos feitos e façanhas do ‘Homo Sapiens//Sapiens’. Como perorava Cioran: ‘O poeta é aquele que leva a sério a linguagem’. Quando tal acontece, esta deixa de ser um puro instrumento destinado a transmitir uma noção ou conceito, e passa a ser um dom, a própria expressão do Indivíduo-Pessoa perante o Outro, Companheiro de existência! Por isso, o escritor e poeta francês Boileau-Despréaux segredava, com perspicácia: ‘Le style c’est l’homme’!... ● Erguendo a bandeira do HUMANISMO CRÍTICO, em Terras lusas e no ‘Mundo da Lusofonia’. Sobre as diferenças étnico-temperamentais e ideológico-filosóficas, entre as matrizes civilizacionais de Portugal e Espanha, escreveu Miguel Real, no artigo ‘Escritores suicidas’ (in ‘JL’ cit., p.15): “Assim, a Espanha, vivamente religiosa e católica, guarda da transcendência uma distância humanamente intransponível, apenas superada pela mística de Santa Teresa d’Ávila e de São João da Cruz. Neste sentido, Espanha é trágica, vive tragicamente e assume a história de um modo trágico, vivendo o presente como um todo, sem esperar salvação. Diferentemente, os portugueses vivem a transcendência integrando-a na imanência da História, como Camões com o episódio da Ilha dos Amores, como os pensadores milenaristas do Quinto Império e, sobretudo, como Maranus de Teixeira de Pascoaes, cujo conceito e senti mento do saudosismo como motor da História de Portugal representa com evidência a intrusão do transcendente no imanente. O quixotismo marcaria o povo espanhol, o saudosismo dolente o português”.

Guimarães/Portugal, 30 de Janeiro de 2015. Manuel Reis (Presidente/Fundador do C.E.H.C.) Lillian Reis (Secretária do CEHC): digitalização e revisão de provas.

Obs.: Imagens capturadas da Web para ilustrar o texto, nenhuma delas com restrição de direito autoral.

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ÍNDICE – Em Defesa da vera Interioridade Humana substantiva ……………………… 1. – A Lição de Antonio Machado, no horizonte de Sócrates …………………….. 2. – O Nós e o Eles do Processo civilizatório ainda vigente ………………………. 3. – O contraste entre o Poder sagrado da Era do Patriarcado e a Gilania da Era do Matriarcado ………………………………………………………….. 4. – ‘Dai a César o que pertence a César; dai a Deus o que pertence a Deus; e dai a mim o que é meu’ (Ev. de Tomé, v.100) ……………………………… 5. – Diálogo socrático e Justiça jesuânica …………………………………………. 6. – A gramática de um Projecto Altermundialista ……………………………… 7. – As três partes integrantes da Consciência Humana ………………………….. 8. – Deus como problema; não como solução ……………………………………… 9. – O C.E.H.C. em demanda do ‘Homo Sapiens//Sapiens’ ………………………. Religião//Filosofia//Jesuanismo …………………………………………….. EVOLUÇÃO//METAFÍSICA ................................. EVOLUÇÃO//HISTÓRIA ……………………… HUMANISMO CRÍTICO: A SOLUÇÃO METODOLÓGICA …………………… SUPLEMENTO/COMPLEMENTO ………………….. Três textos de João Barcellos ……………………….. A) ‘Liberdade, oh Liberdade’ …………………………………………………… B) Pela Liberdade de viver a vida ………………………………………………. C) ‘Je Suis Charlie: Nem pensar’ ………………………………………………… Dois Textos de Mário de Oliveira ………………… A) ‘Quem estiver sem Jihadismo, Atire a primeira Bala’ ……………………… B) ‘Auschwitz: Por quanto tempo mais?’ ……………………………………….. ‘EUROPA TERRORISTA’ (texto de F. Moita Flores) …………………………. ‘Os Blair são tão terroristas quanto os do Charlie’ (texto de A. Avelãs Nunes) …………………………... ‘As mil caras de Charlie’ (texto de Ângelo Alves) ………………………….. ‘Comentários de um Chinês sobre A crise da Europa’ (texto do Prof. Kuing Yamang) ……………………… CONCLUINDO ………………………………

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– Em nome do Humanismo crítico ………………………………………………..– ‘Je suis libre comme la terre est immobile; tout est combiné pour ces illusions’! ..– A diferença, para o que se pensa e diz, entre estar na ‘mó-de-baixo’ e estar na ‘mó-de-cima’ ……………………………………………………………………... – Um livro sobre Moral igual a tantos outros ………………………………………. – Sem imaginação e poesia, não haverá revoluções ………………………………... – O carácter e o temperamento dos Povos existem e contam axiologicamente …….

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