nós-otros nº1

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Nº 1 . Junho 2012

ESCUELA OFICIAL DE IDIOMAS DE VALLADOLID (ESPAÑA) UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR DA COVILHÃ (PORTUGAL)

7 experiências educativas . 11 dos preocupaciones: corrupción y crisis . 17 aulas fora da sala . 24 agustín remesal: “um dia destes . 26 gozar pelo douro e pela serra da vamos acordar ibéricos” . 30 30 festas de raíz . 33 tacos: ¿solo cuestión de estrela gustos? . 36 fútbol: unos ganan dinero, otras ponen el esfuerzo


Antes quebrar que torcer

ENCONTREI um mundo que só existe na língua portuguesa: o Douro, Torga, Eugénio Andrade, que era o verão da minha infância

CONCHA LÓPEZ JAMBRINA Uma língua é a maneira em que nomeamos o mundo, dentro e fora de nós. Mas uma língua é alguém, é matéria viva. Pode assim tornar-se num amigo novo. E acontece o mesmo com os amigos. Por vezes deixamos que alguém que passa entre no nosso coração e, no entanto, outros não. Porém, quase todas as coisas que na vida são importantes chegam como por acaso. Talvez, nesta minha paixão pela língua portuguesa, também, tenha a ver qualquer coisa com o meu avô. Chamava-se Manuel Lópes e veio de uma aldeia muito pobre de Trásos-Montes. Chegou com uma vida cheia de segredos e uma língua da que se envergonhava e que nunca usou. Manuel Lópes, de quem ouvi dizer pouca coisa, por exemplo que quando falava parecía que demorava na procura das palavras, julgou que era uma boa herança trocar o Lópes pelo López. A sua aldeia era Carção, um berço de judeus. Ain-

da hoje há pouca coisa em Carção. Há duas cafetarias a “ Europa ” e o” liberal ”. Na praça de Carção há um monumento às pessoas dalí. O monumento gaba o feitio dos de Carção, diz que são pessoas de antes quebrar que dobrar. Encontrei muitas coisas em Trásos Montes, coisas que já conhecia nos transmontanos da minha familia, o prazer de oferecer, por exemplo. Em Mogadouro, em Carção as pessoas oferecem com a alegría de quem sabe que só se tem aquilo que já se deu. Com a descoberta da língua veio também depois a possibilidade de ler. Encontrei, então um mundo que só existe na língua portuguesa: o mundo daquele Douro; o caminhar de Torga, a luz solar de Eugénio Andrade, que era o verão da minha infância. Sofía Melo, Jorge de Sena e Pessoa que traziam todos tanto dos meus gregos. Finalmente, posso dizer que pus muita, muita ilusão no ensino da língua portuguesa e que não foi em vão. Obrigada.

Da rua espanhola

NOS lembramos dessa estranha vocação estrangeira do habitante peninsular, um europeu diferente.

HUGO MILHANAS MACHADO Já o diz a conhecida toada popular, a da Nau Catrineta, imortalizada em fados, poemas, discursos de identidade, que por encosto repetimos na voz de Amália Rodrigues: a ver se vemos terras de Espanha, areias de Portugal. Paisagem, a do refrão, que no fundo conforma esse antigo e muito íntimo intuir de uma espraiada terra portuguesa que dê saída ao mar ou, como também se disse, o de ser a nossa a terra onde a terra acaba e o mar começa a começar. Vergílio Ferreira, partilhando da pátria pessoana, habilita a natureza dessa praia: da minha língua vê-se o mar, diz. E depois também nos lembramos dessa estranha vocação estrangeira do habitante peninsular, e do português em particular, senti-

mento de se ser europeu, mas, de certa forma, um europeu diferente. O europeu de um “extremo ocidente”, como escreve Manuel Laranjeira em carta endereçada (1908) a D. Miguel de Unamuno, um europeu viajante, embrulhado em símbolos e glórias de raiz oriental, em Índias de que afinal não acabamos nunca de regressar, nós portugueses, que somos vários, como disse Pessoa. Ora, vem tudo isto ao caso de uma frase que há muito trago por dizer. Essa frase quer falar da rua portuguesa, da rua portuguesa que, como num filme, observando-nos fora de nós, em terras de Espanha me vejo pisar. Uma rua que, como todas, dê à praia. E pode ser um verso, podia ser um verso. É que em minha língua Espanha não tem ruas.


EDITORIAL Coordenadores Gerais Concha López Jambrina Francisco Fidalgo Chefe de equipa Natalia Fernández Redactores Aida García Pinillos, Francisco Cristóvão, Charuca González, Liliana Loureiro, Peter Wilheim Sax, Tânia Registro, Sara Farias, Manuel Alfonso Domínguez, Cláudia Fonseca, Reyes Inclán, Ana Silva, Chus Cerdán Calleja, Silvia Gariano, Natalia Fernández, Tânia Cunha, Sonia Capela, Noelia Todolí, Mafalda Gouveia, Javier García Lorente, Ana Caldeira, Sandra Dionisio, Julia Molina, Gonçalo Daniel da Silva, Tânia Silva, Isaac Macho Ilustradores Patricia de Cos, Mariluz de la Calle, Daniel Merchán, Karol Fernández, Maricruz Díez León, Edgar Álvarez, Níobe Alonso, Manuel Alfonso Domínguez Fotógrafos Beatriz Guzmán, Carlos Barajas, Ángel Rivero, Rafa Casal, Juan Aguado, Diario Marca Colaboradores Pedro Serra, Hugo Milhanas, Ana B. Cao, Telma Duarte, Rita Borges Pereira, Rubiane María Torres Sousa, Pablo Madrid, Ana Márquez, Fernando M. Pinhal, José Luis Puerto, Alzira Neves de Cunha Ribeiro, Ramón, António Tiza, Bernardo Calvo

Contra ventos e marés Fazer agora balanço não é fácil. Sabemos que não são tempos estes para levar a cabo coisas assim. Falar em ilusão, em projectos, em pontes de amizade, em partilhar, é falar uma língua, pelo menos esquisita. Porém os alunos da Covilhã e os alunos de Valladolid apostaram nessa rareza. Nas páginas revela-se bem a certeza que tinhamos de que há amigos que sempre respondem. Talvez esse fosse o principio, a amizade. Num momento que parece que dia a dia os cortes nos estão a diminuir tudo: os sonhos, a generosidade, a emoção, …e à volta é tudo mais e mais cinzento. Vigora um interesse tão pobre e sem sucesso que começa a acontecer que as pessoas vivemos nas restrições e nos cortes interiores. Poupamos tudo, forças, gargalhadas e, no entanto, de repente nós –outros acreditamos no desafio e na curiosidade de nos conhecer. Começaram a aparecer projectos e artigos dos dois lados. Cada um deu o seu melhor. Cada aluno escreveu daquilo de que gostava. Descobrimos assim paisagens, projectos, impressões. Tivemos oportunidade de conhecer quais eram as coisas que nos fazem diferentes. Agora sabemos mais desses pormenores que nos fizeram apasionar uns pelos outros. Soubemos de projectos que outros tiveram, a Rota Ibérica, viagens de mota pela Serra da Estrela, da beleza do Douro, do contrabando transmontano, do ensino de espanhol em Portugal, da rudeza dos espanhóis, chegaram ainda, em lembranças, sombras da PIDE. Muitas, muitas experiências e ilações fizeram-se sem olhar para os créditos. Não é este um projecto de créditos, é um projecto de crédulos. Os coordenadores queremos agradecer também o sorriso sinceiro com que brindaram o projecto as equipas diretivas, tanto na Covilhã como em Valladolid. Começou pela amizade que todos temos na nossa bagagem e acabou com a certeza de ter ficado a ganhar. Há coisas que não se podem cortar.

Idea do projecto e assessoramento jornalístico Isaac Macho, Ignacio Gil Zarzosa Cabeçalho Aida García Pinillos Portada Paulo Fonseca Desenho e maquetização Ignacio Gil Zarzosa Agradecimentos Limpiezas y mantenimiento OlidUrbión, Bitlan Asesores Informáticos, Eurobook Edição Escuela Oficial de Idiomas-Valladolid (España) y Universidade da Beira Interior-Covilhã (Portugal)

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Mais de 12.000 espanhóis estudam português ISAAC MACHO As línguas são disciplinas independentes no ensino espanhol. Desde a chegada da democracia todos os governos procuram solucionar esta lagoa sem fim mas ainda hoje sofremos com essa má estratégia educativa. Os nossos jovens estão melhor preparados que há anos mas os políticos não encontram um consenso relativamente às matérias de educação linguística. As viagens, a possibilidade de trabalhar em qualquer país dos 27, os programas Erasmus da União Europeia, a mentalidade mais aberta aos jovens maior facilidade lhes para o intercâmbio cultural e de relações, ou seja, o mundo está a seus pés. As cifras dos organismos públicos e centros oficiais de ensino de línguas falam claro. Nestes momentos, passam de 12.000 os alunos espanhóis que estudam português sem contar que há algumas instituções e academias particulares que não dispoêm de informação exata. Boa parte de alunos espanhóis que estudam língua portuguesa pertencem às Escolas Oficiais de Línguas e seus centros associados sendo no total 5.118 estudantes neste ano escolar 2011-2012. Das 17 regiões espanholas, nove delas oferecem língua portuguesa e oito não. Galiza (916), Castilha e Leão (766), Extremadura (1892) e Andaluzia (132), e as Comunidades Autónomas fronteiriças com Portugal, são as que somam maior número de estudantes de língua portuguesa. Algo lógico uma vez que desenvolveram uma relação muito próxima à com os vizinhos lusos. No entanto as regiões mais afastadas de Portugal como Navarra, Baleares, Canárias, Murcia, La Rioja ou Castilha-La Mancha não querem língua portuguesa entre a sua oferta de aulas. Também não existe o ensino de português nas Escolas Oficiais de Línguas das cidades autónomas de Ceuta e Melila. 4

As estrelas são o inglês, o francês e o alemão por exigência da globalização. Mas, repare, o português tem chegado) com força às turmas espanholas. O vasto mercado brasileiro, muitos outros países de vários continentes e os vizinhos lusos somam cerca de 210 milhões de pessoas. É a terceira língua europeia mais falada no mundo ocidental depois do inglês e do espanhol. O português ganha adeptos cada vez mais. Aquí estão os números de uma parte da península Ibérica.

Além do mais, muitas escolas perto da Raia permitem aprender português como segunda língua estrangeira, á volta de 4.000 alunos. AS UNIVERSIDADES Outro centro onde há alunos que estudam língua portuguesa é a Casa do Brasil, em Madrid, com dependência da Embaixada do Brasil, um lugar de muitas ações culturais, sociais e políticas durante os doze mêses do ano. Lá estudam uns 2.000 estudantes de todos os cursos, especialmente, aquelas pessoas que têm intenção de ir trabalhar no mercado brasileiro quando acabem os estudos. O Centro Cultural do Brasil de Barcelona também tem atividade linguística portuguesa. Este ano estão registados 152. As universidades espanholas, habitualmente, oferecem português nos seus centros de línguas modernas. É verdade que quanto mais próximo está o centro da fronteira portuguesa maior é o número de pessoas interessadas em aprender a língua portuguesa. É o caso, por exemplo, da Extremadura, Galiza e Castilha e Leão. O Instituto de Línguas Modernas, da universidade de Extremadura, tem 175 alunos matriculados, enquanto que na universidade da Corunha estudam 121, 70 na universidade de Vigo e 50 matriculados no Centro de Línguas da universidade de Leão. No campus da universidade de

Saragosa neste ano estudam português 53 universitários, enquanto na universidade de Burgos seguem estes estudos 37 pessoas, em Salamanca 28, e na universidade de Valladolid, 58. Outra experiência universitária singular na Espanha é a Universidade Nacional de Educação a Distância (UNED). Nela há cinco centros onde estudam português: Madrid (87 alunos), Mérida (13), Mérida-Badajoz (11), Pontevedra (12) e Zamora (11). Também na fundação Rei Afonso Henriques 100 alunos estudam a língua portuguesa.

Escolas Secundárias

Casa do Brasil Universidades

Escolas Oficiais de Línguas FRAH


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Por qué estudio español TÂNIA CUNHA

Mi familia ve la tele española Estudio español porque ya había tenido contacto con el idioma. Desde niña, mi familia ve la tele española pues mi ciudad, Guarda, está muy cerca de la frontera española. En secundaria estudié en el área científica, pero nada más entrar a la Universidad quise profundizar mis conocimientos sobre el pueblo y la lengua española. Hasta ahora me ha gustado mucho todo lo que he aprendido pues me he dado cuenta de que España y Portugal no son solo países con idiomas diferentes sino que también tienen distintas culturas.

GONÇALO DANIEL DA SILVA

ANA CALDEIRA

Abre muchas puertas Nací y vivo en Covilhã. Veo muchas series en español y me gusta el idioma. Trabajo en una tienda de ropa y, a veces, tengo que hablar español porque hay algunos clientes de ese país y es muy divertido porque al mismo tiempo que les informo aprendo muchas cosas, desde la comida tradicional al sitio más maravilloso de España. Pienso que estudiar esta lengua es una plusvalía porque no estamos aprendiendo solo la lengua sino también su cultura y su literatura. Además, el español es hablado por más de 450 millones de personas en España y América lo que nos abre muchas puertas y nuevos horizontes.

LILIANA LOUREIRO

Más oportunidades laborales

Ese toro enamorado de la luna

Me decidí por la carrera de Estudos Portugueses e Espanhóis porque tengo una fascinación muy grande por la lengua española y tenía una gran curiosidad por saber hablar y escribir mejor. La necesidad de tener un empleo y lo difícil que es conseguirlo nos obliga a tener estudios más completos y diversos. Esta carrera además de añadir algo más a mi currículo, me servirá para ampliar las oportunidades laborales que se me puedan presentar y puede ayudarme a ir a otros países. Si uno ve el día a día de un español, se entera que se despiertan y se acuestan más tarde, tienen un tiempo para echarse la siesta, van a comer mucho más tarde que en Portugal y las tiendas tienen un horario muy distinto al nuestro.

Haber escogido el idioma de Cervantes para estudiar fue una causalidad del destino. Como cantante de un grupo de música, una vez escuché la canción El toro y la luna e inmediatamente me enamoré de ella y la memoricé. Un día, cuando cantaba esta canción, cometí un error, porque yo decía “estoy enamorada de la luna”, en vez de “ese toro enamorado de la luna”. Al final del espectáculo una persona me dijo que yo no cantaba bien la letra. Me sentí avergonzada, porque era una fiesta donde había muchísima gente y algunos seguramente se rieron de mi error. Estoy haciendo aquí una carrera de español debido a un grave error, un error que despertó en mí la curiosidad por la lengua española.

TÂNIA SILVA SANDRA DIONISIO

Por motivos profesionales Soy profesora de inglés de niños. Desde pequeña me fascinaban las lenguas extranjeras. Mi sueño se ha hecho realidad, pero aún no totalmente. Por eso y como nunca somos demasiado viejos para aprender, me he decidido a intentar conocer un poquito más la lengua española, sus modos de vida y su cultura. El contacto con el país vecino en vacaciones, la curiosidad por aprender una lengua que se asemeja al portugués, pero con trazos diferentes, son razones que me motivaron para estudiar esta lengua románica. Otro de los motivos fue el profesional. Hace siete años que terminé la licenciatura de inglés e infelizmente no consigo un horario completo de trabajo.

Me gustaría ir a Madrid Me gusta conocer costumbres, idiomas, y relacionarme con personas de diferentes culturas. Me encanta viajar e aprender lenguas y una de las razones por las que yo he elegido el español para estudiar es que, desde que he ido a Madrid, me he enamorado de la lengua y la cultura españolas. Por eso he escogido estudiar una carrera que me permitiese conocer y hablar mejor esta lengua. Otra de las razones es que me gustaría un día ir a vivir a Madrid o Barcelona para poder trabajar como profesora, traductora o en una empresa del grupo Inditex, ya que en la actualidad formo parte de una de las equipos que existen aquí en Portugal. 5


¿Es difícil hablar la lengua portuguesa?

FRANCISCO CRISTÓVÃO Desde hace años me pregunto: ¿por qué los españoles tienen tantas dificultades para hablar la lengua portuguesa? La verdad es que, aunque pueda parecer fácil, el portugués tiene bastantes detalles, “señas de identidad”. O sea, es una lengua muy compleja. El verano pasado hice un viaje, de dos semanas de duración, con mis padres y con mi hermana, por Portugal, hasta que llegamos a Quintanilha, (frontera con España, en Bragança). Tras aparcar el coche seguimos a pie, paseando por un jardín donde el entorno nos extasiaba a cada metro caminado; los árboles, los pajaritos volando, otros cantando, el azul del cielo, el aire puro de la naturaleza. Cielos... ¡qué paisaje tan perfecto! Mientas miraba los peces en el río llegaron dos chicas, un poco avergonzadas, diciendo: “Buenas tardes. ¿Puede decirnos qué hora es, por favor?”. Miré el reloj y les dije: “São três horas e trinta e cinco minutos.” En seguida, una de las chicas dijo: “Perdone, pero no he entendido. ¿Tú has entendido, María? “ “No, yo tampoco”, dijo María. Entonces repetí en español: “Son las tres y media pasadas”. María respondió: “Muchas gracias y perdone, pero para nosotras hablar portugués es muy difícil.” “No hay problema. ¡Hasta la vista!”, dije yo. Pasados dos minutos, mis padres y mi hermana se acercaron a mí preguntándome qué querían las chicas. “Logo duas”, dijo mi padre, bromeando conmigo. Paseando por el jardín, vimos una piscina al aire libre, junto al lugar 6

donde estaba aparcado nuestro coche. (Eran las cuatro menos diez). Ya en el coche, seguimos caminando hasta Abrantes, la ciudad donde nací, pero sin olvidar aquello que María me había dicho: (...) “para nosotras, hablar portugués es muy difícil”. Pienso que hay varias razones por las que los españoles tienen

Quintanilha

grandes dificultades para hablar nuestra lengua. En primer lugar, su fonética es muy fuerte, lo que hace que pronunciar el portugués sea una tarea complicada para ellos. Además, tenemos muchísimos sonidos (aunque a algunos de nosotros, portugueses, no nos lo parezca) y también muchas reglas para pronunciarlos, mientras que en la lengua española son menos y más fáciles. Los falsos amigos tampoco ayudan con sus engañosos cambios, porque a veces, palabras iguales en las dos lenguas tienen significados totalmente diferentes. Esto hace que muchas veces nos quedemos con grandes dudas cuando intentamos aprender y, claro, hablar una lengua. Aún así, en mi opinión, hay muchos españoles que logran aprender y, consecuentemente, hablar de forma bastante adecuada nuestra lengua. Sin grandes dificultades. Lo que es, sin duda, de valorar. Pero, y para ti... ¿es difícil hablar la lengua portuguesa?


EXPERIENCIAS EDUCATIVAS

Aires del Atlántico Cada vez son más los alumnos de las comunidades autónomas españolas que juegan, cantan y aprenden en portugués. Abundan las experiencias -alguna desde hace 20 años- en Andalucía, Castilla y León, Extremadura y Galicia. Por ejemplo, en Andalucía escolares de 6 institutos de la provincia de Huelva siguen la lengua de Camões como segundo idioma extranjero en un programa bautizado con el nombre de José Saramago, en homenaje a su figura. Se trata de los IES González de Aguilar y Guadiana de Ayamonte, el Galeón y el padre J.Miravent de Isla Cristina, y El Sur y La Arboleda de Lepe. En Castilla y León, diez institutos de las provincias limítrofes con Portugal –León, Zamora y Salamanca- también tienen al portugués como segunda lengua extranjera optativa. Hablamos de los IES leoneses de Valle de Laciana, obispo Argüelles, señor de Bembibre (Bembibre y Tremor de Arriba) y Álvaro Yáñez. En la provincia de Salamanca, siguen esta enseñanza los IES Tierra de Ciudad Rodrigo, Fray Diego Tadeo González, Lucía de Medrano y Tierras de Abolengo. Finalmente, el instituto zamorano Claudio Moyano también acoge aulas con estas características. En Galicia, casi quinientos chicos y chicas de la ESO aprenden, igualmente, lengua portuguesa paralelamente a sus clases de Sociales, Matemáticas o Música... A continuación, recorremos tres experiencias pedagógicas en las que el protagonista es el idioma de Fernando Pessoa.

“Entra connosco nesta aventura!” FERNANDO M. PINHAL Professor LCP O Colégio Menéndez Pidal, localizado em Bembibre, província de Léon, é um dos Centros Educativos espanhóis integrados na Rede do Ensino de Português no Estrangeiro desde

1987. Ao abrigo da Diretiva Comunitária 486/77, os países membros eram então obrigados a criar as condições para que os cidadãos, oriundos de outros países comunitários e residentes nesses países, pudessem preservar a sua Língua e a sua Cultura de origem. Os fluxos migratórios portugueses das últimas décadas do século passado e as necessidades decorrentes da integração duma população em

Colégio Menéndez Pidal, Bembibre (León)

idade escolar, obrigaram a tomar medidas os países de acolhimento que contribuissem para a sua integração e para o sucesso educativo. Assim nasceu, na província de León nas bacias mineiras do Bierzo e Laciana, o Programa Hispanoluso para a Ação Educativa e Cultural dos Portugueses Residentes em Espanha, um programa de apoio e reforço educativo no âmbito de compensatória, integrado no horário letivo, lecionado por professores portugueses. Com o progressiva integração da população escolar autóctone espanhola em Infantil e Primária e o evidente crescimento exponencial tanto no número de alunos como de Centros Educativos em todo o território espanhol, prova do sucesso e do acolhimento havido, teve o seu reconhecimento institucional como Programa para o Ensino da Língua e Cultura Portuguesas em Espanha através do BOMEC 45/96, com a definição e regulamentação do seu quadro normativo passando a ser o português língua optativa no ensino secundário. Com a publicação do novo quadro legal para o Ensino de Português no estrangeiro, D.L. 165-C/2009, estão em curso algumas mudanças significativas que obrigarão necessariamente a reajustamentos educativos e normativos. Não descurando a vertente sociolinguística e cultural de apoio, difusão e preservação da Língua de Origem, associada aos movimentos migratórios, o ensino do português do futuro será cada vez mais o duma Língua Estrangeira, com um estatuto adequado à sua projeção e ao universo que representa, pois é daquelas que, segundo a UNESCO, apresenta uma maior possibilidade de crescimento derivado não só do número de falantes, a rondar os 300 milhões, mas também pelo crescimento económico dos países emergentes que a tem como Língual Oficial- CPLP. Deste modo, sem perder de vista o seu caráter intercultural, procuramos introduzir uma dinâmica que aproxime cada vez mais a aprendizagem à conceção funcional definida pelo Conselho de Europa 7


para a aprendizagem das línguas. Partindo de Unidades Temáticas interculturais próximas do quotidiano, porque são aquelas que mais se ajustam à realidade, procuramos fazer uma abordagem interativa e integradora que contribua tanto para o crescimento dos níveis de competência como para o reforço dos laços de amizade e cooperação ibéricos. Sabendo de antemão que “cada maestrillo, su librillo” e também que “cada cabeça, sua sentença”, portanto as opções são uma marca identitária do docente, tendo em conta a necessidade dum novo impulso ao Programa atendendo à realidade existente e às exigências dum novo enquadramento, daí a nossa aposta sob o lema “Eu aprendo português!”, “Eu também!” então “Entra connosco nesta aventura!”. Esperamos por ti!

Estas razones animaron a la profesora Ana Márquez a solicitar la sección de portugués para el centro. Según reconoció la docente a un periódico, “fue toda una aventura”, pero “teníamos a dos profesores formados y también las ganas de sacarlo adelante”, indicó. La veintena de alumnos inscritos en la experiencia se encuentran repartidos entre varios grupos de la ESO del instituto. Esa situación plantea pequeñas dificultades de organización, pero se resuelven, señalan, con la motivación de estudiantes y profesores. Ser pioneros conlleva que las editoriales todavía no hayan comenzado a elaborar textos adecuados a las necesidades de estos jóvenes bilingües, aunque la actitud de los padres es positiva y, como dice la coordinadora, a los alumnos “les abre las puertas del mundo”.

Uma escola musical na Raia PABLO MADRID MARTÍN Consorcio de Fomento Musical de Zamora

Alconchel, una ventana al mundo

La localidad de Alconchel (Badajoz), con casi 2000 habitantes, está a tan solo 28 kilómetros de la frontera con Portugal. De hecho hay varios matrimonios mixtos, pero con todo, el idioma sigue siendo un elemento de separación entre los habitantes a un lado y otro de la Raya. El lugar, por tanto, es una excelente oportunidad para realizar una inmersión lingüística con nativos de ese país. Por ese motivo y porque la Ley de Educación del gobierno extremeño recoge en su artículo 77 que desde “la Junta de Extremadura se adoptarán medidas efectivas a fin de que el portugués sea la segunda lengua extranjera en los centros sostenidos con fondos públicos”, el instituto de secundaria Francisco Vera del pueblo ha puesto en marcha una sección bilingüe de portugués. 8

Como consequência do trabalho de recolha da Música Tradicional levado a cabo pelo Consórcio de Fomento Musical de Zamora na década de 1980 nas regiões Zamoranas e em Terras Mirandesas, detectamos a necessidade imperiosa de estender o uso e conhecimento dos repertórios

e instrumentos musicais tradicionais nessas áreas, com o objectivo de recuperar a sua presença social e valorizar o património intangível que eles contêm. Para trabalhar nesse sentido propiciamos workshops na Escola Pública “La Salud” na localidade de Alcañices, com a colaboração da Associação de Pais. Depois de três anos, esta dinâmica leva à criação, em 1991, de uma associação cultural com sede na aldeia de Trabazos, cujo nome é em si uma declaração de intenções: Aulas de Música em Aliste e Trás-os-Montes. Actualmente, nas tardes de sábado do ano lectivo, a sede das Aulas de Trabazos enche-se com os sons das flautas e tambores, gaitas-de-foles, percussão, pandeiretas, violão, instrumentos de banda e coreografias alistanas e trasmontanas. O apoio institucional através do CFM, a contribuição dos estudantes através das suas matrículas e da boa gestão dos seus conselhos directivos têm conseguido a aceitação da actividade que mantém um registro anual de 281 matrículas durante 2011-12. Este trabalho faz da aldeia de Trabazos ponto de encontro transfronterizo entre os vizinhos de cada lado da Raia, criando uma maior e melhor compreensão mútua, por isso mesmo recebeu o primeiro prémio COOPERA de Trajectória e Excelência na Fronteira 2009. No ano 2011 obteve o reconhecimento e prémio da cooperação transfronteiriça da Fundación Caja Rural aos valores da tradição.

Foto: Consorcio de Fomento Musical de Zamora


GINER DE LOS RÍOS, um instituto espanhol em Lisboa

ROSARIO GONZÁLEZ BLANCO O Instituto espanhol Giner de los Ríos foi criado a 12 de Dezembro de 1932. Em Espanha eram tempos da República e a denominação de Giner de los Ríos estava de acordo com os desejos dos espanhóis residentes na cidade de Lisboa: Francisco e Hermenegildo Gi­ner de los Ríos foram dois irmãos pedagogos que defenderam uma escola livre e progressista que baseava o ensino mais na liberdade que na autoridade (a chamada Institução Livre de Ensino). Apesar das dificuldades sentidas durante os anos da ditadura de Fran­­co, o Instituto continuou funcionando; em 1975 passa a funcionar no Palácio Quinta de São João do Rio, monumento histórico artístico português (construído na segunda metade do século XVII), onde se mantém até este momento. No I.E.G.R. existem quatro níveis de ensino: Educação Infantil, Primária, Secundária e Bachererato (neste instituo há os quatro níveis de ensino possiveis não universitários, a diferença dos institutos espanhóis e portugueses). No Plano de Estudos (que é totalmente espanhol) é incluída a disciplina de Língua e Literatura Por­

Coro del Instituto Giner de los Ríos

A CONVIVÊNCIA de alunos espanhóis e portugueses é importante para nós, cidadãos das duas partes da fronteira

tuguesa, leccionada sempre por um professor nativo desta língua (a maioria dos professores do Corpo docente do Instituto são de nacionalidade espanhola) Os alunos são, na sua maioría, de nacionalidade espanhola, muitos por­que têm ascendentes espanhóis, mas não falam espanhol fora do instituto. No entanto, os alunos de nacionalidade portuguesa também são admitidos, desde que consigam superar o exame de lingua castelhana. O calendário dessa institução dis­tingue-se pouco do calendário es­colar português (e também não há muitas diferenças no que diz respeito ao horário). Além disso, o Instituto Espanhol oferece actividades extracurriculares, onde os pais podem inscrever os seus filhos de forma a ocupar o resto da tarde: coro, teatro, aulas de dança, actividades desportivas... A institução também dispõe de serviço de transporte, cantinas com capacidade para 550 alunos (que podem almoçar no instituto), dois campos desportivos, um pavilhão para a disciplina de Educação Física, sala de informática, de tecnologia, de desenho, laboratório de biologia e de física e química, enfermaría... Além disso tem um “Salão Nobre” (que foi mandado construir pelo Marquês de Pombal no século XVIII) e uma biblioteca muito diversificada e rica que foi enriquecendo ao longo dos tempos com importantes donativos privados e que dispõe de cerca de trinta e dois mil volumes de livros. O Instituto Giner de Los Ríos é um instituto espanhol, com as suas disciplinas espanholas em língua espanhola. Mais, o que é importante é que lí que convivem alunos espanhóis e portugueses e que exactamente essa convivência é o que é importante para nós, cidadãos das duas partes da fronteira. 9


Uma aventura em Espanha TELMA DUARTE OLIVEIRA Tomar a decisão de deixar o nosso país é sempre uma experiência simultaneamente excitante e assustadora. Na mala levamos uma imensidão de sonhos, alguns dos quais se tornarão realidade, outros que nunca deixarão de ser apenas sonhos. Nos primeiros dias tudo nos assusta mas, ao mesmo tempo, tudo nos seduz. Queiramos ou não, as comparações são inevitáveis: estamos habituados a uma determinada forma de atuar e, assim sendo, qualquer padrão de comportamento que se afaste daquele ao qual estamos habituados nos chama a atenção. Num primeiro momento rejeitamos a diferença mas, pouco a pouco, e mantendo sempre a mente aberta, começamos a refletir e a avaliar, chegando mesmo, por vezes, a pensar que a nova forma de atuar é talvez melhor do que aquela em que nós atuamos.

A minha experiência enquanto auxiliar de conversação de português em Espanha seguiu exatamente todos estes passos e, em alguns aspetos, sinto, por vezes, que estou simultaneamente perto e, ao mesmo tempo, tão longe de casa. Se me pedissem para resumir este momento da minha vida em poucas palavras recorreria à expressão daquele que é, na minha opinião, o expoente máximo da literatura portuguesa, Fernando Pessoa, e diria

“Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Desde pequenos que os portugueses se habituam a encarar Espanha e os seus habitantes como “nuestros hermanos”. No entanto e, paradoxalmente, é-nos também inculcado que “De Espanha nem bom vento nem bom casamento”. Estas duas expressões tão difundidas e imensamente conhecidas traduzem bem a relação de amor ódio que se vivia (e que, de alguma forma, talvez ainda se viva) entre os dois países. Seja como for e, gostemos ou não, os dois países encontram-se geograficamente unidos de forma irremediável e, viver em Espanha, conhecê-la, e partilhar com a sua gente experiências e um amor comum pela língua de Camões ensinou-me, acima de tudo, que “muito mais é o que nos une que aquilo que nos separa” e que os dois países teriam indubitavelmente muito a ganhar se reconhecessem que longe estão as rivalidades históricas, e unissem esforços na luta por um futuro mais prometedor.

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Una lacra

ibérica

Edgar Álvarez nanopotras_iverson3@hotmail.com

TÂNIA REGISTO / SARA FARIAS Si hacemos comparaciones entre España y Portugal se puede decir que los dos países tienen algo en común. Comparten situaciones de corrupción y cargos que las ejecutan: los políticos en las instituciones nacionales, autonómicas y locales. También es una constante en estos casos de envilecimiento oficial que las administraciones que tienen más corrupción son aquellas que tienen un mayor número de empleados públicos. Incluso, en España, se dice que la mayoría de los encausados en hechos irregulares están relacionados con la práctica democrática, porque generalmente el partido que controla un municipio o un ayuntamiento puede nombrar altos cargos y asesores que están al servicio de ese organismo. En los dos países salen a la luz pública, cada vez más, los casos de corrupción, principalmente, en el mundo político. En Portugal existen muchos ejemplos como el caso “Face Oculta” en el que están imputados el ex primer ministro, José Sócrates; el ex ministro, Armando Vara y el ex presidente de REN, José Penedos. También podemos hablar del caso “BPN” que ha imputado al ex ministro, Manuel Dias Loureiro, o el caso “Saco Azul” en el que fue imputada la entonces alcaldesa Fátima Felgueiras que huyó a Brasil. Más recientemente, hemos conocido la situación irregular de Isaltino Morais, alcalde de Oeiras. Incluso estos escándalos alcanzan a figuras de nuestra jet-

set como es el conocido proceso “Casa Pia” en el que figuran implicados el presentador de televisión, Carlos Cruz, y los ex ministros, Ferro Rodrigues y Paulo Pedroso. En el mundo del fútbol sucede algo parecido con numerosos escándalos donde el dinero es el protagonista. Los asuntos más sonados fueron el del árbitro Jacinto Paixão y el pleito “Apito Dourado” en el que está involucrado el dirigente deportivo, João Nuno Pinto da Costa y Valentim Loureiro. En España acontece algo parecido. Las corruptelas ocurren tanto en la política como en el fútbol. Hace años, el incidente más sonado fue el caso “Luis Roldán”, director general de la Guardia Civil, que fue acusado de llevarse 435 millones de pesetas de los fondos reservados y otros 1.800 millones en comisiones; igualmente hay que destacar la superfamosa trama inmobiliaria del caso “Malaya” donde han corrido ríos de tinta con imputaciones a la ex alcaldesa de Marbella, Marisol Yagüe, a Julián Muñoz, ex alcalde de Marbella y a su pareja, de enton-

ces, la cantante Isabel Pantoja. En la actualidad, el mayor escándalo de corrupción se centra en Iñaki Urdangarín, imputado en los casos “Babel”, “Nóos” y “Palma Arena”, quien además es, nada más y nada menos, que el yerno del rey de España, don Juan Carlos I. A la vista de estos ejemplos, podemos afirmar que Portugal y España son países propicios a la corrupción tanto en la política, como en la policía o en el fútbol. Basta abrir los periódicos y encontrarse con diferentes tipos de irregularidades: un policía que acepta sobornos, blanqueo de dineros públicos por parte de alcaldes o ex ministros y, más grave aún, los primeros ministros. José Sócrates, por ejemplo, está imputado en los casos “Face Oculta” y “Freeport”. En España, décadas atrás, también varios altos cargos del gobierno del presidente Felipe González tuvieron que dimitir y fueron encarcelados por temas de corrupción.

Patricia de Cos decospg@gmail.com

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Cheiro a saudade RUBIANE MARIA TORRES DE SOUZA Dizem que a palavra “saudade” só existe na língua portuguesa. E em espanhol tentam traduzi-la por “nostalgia”, “morriña”, “echar de menos”, entre outras coisas. Mas acho que esta palavra significa muito mais que isso, e muitas vezes pessoalmente a associo a outra da nossa língua que muito aprecio, a palavra “cheiro”. E porquê? Porque para mim, saudade é lembrar o cheiro de muitas coisas. O cheiro dos quitutes e iguarias que eu preparava (e comiiiia) com a minha mãe; do peixe assado com baião de dois (prato da minha região, feito com arroz e feijões verdes novinhos); do queijo coalho assado na brasa regado a águinha de coco verde a olhar o mar; da tapioca molhada com leite de coco; daquela caranguejada com coentros; do bolinho de milho ao tirá-lo do forno; do cuscuz de milho regado a leite ou feito como farofa; do pãozinho quentinho onde púnhamos a nata que a minha mãe preparava carinhosamente quando ainda se fervia o leite que o senhor José passava vendendo de porta em porta; daquele arroz branco com ovos estrelados, muito simples mas muito mais saboroso que qualquer lagosta; do abrir do pacote de café ou do cafezinho recém coado; dos bolinhos de bacalhau que preparávamos na Semana Santa; dos pãezinhos de queijo; da mandioca frita quando se derretia o queijo ralado que púnhamos em cima; do doce de leite, brigadeiros e beijinhos de coco; do chocolate branco ou preto das conversas com a minha grande amiga; da carne de sol ou camarão à grega indicados por grandes amigos de batalha... 12

Saudade é sentir aquelas coisas que ficam não só nas nossas lembranças mas também nas que povoam o nosso coração e nos fazem sentir queridos

E também dos meus pastéis de Belém com açúcar e canela, antes de ir ver o pôr do sol diante do Tejo; do Bacalhau à Brás; das queijadas da Vila (dos Açores); do Picado de abelha que me ensinou minha comadre e amiga; da meia de leite com um pedaço de broa; do vinho do Porto recém aberto; das tripas à moda do Porto; daquele arroz de polvo no meu restaurante preferido de Coimbra; do leitãozinho assada à moda da Bairrada; do arroz de sapateira; ou daquela cataplana no Algarve com grandes amigos... ui, até me deu fome!!! Mas, espera lá. Saudade é só cheiro à comida? Não! Nem por isso! Saudade é sentir cheiro do cheiro das nossas vidas. Aquele que associamos a certas lembranças da infância ou da adolescência, a certas pessoas, a certos acontecimentos... O cheiro do sapato e da roupa nova a estreiar (seja para alguma ocasião especial ou para o primeiro dia do colégio); da boneca de trapo

com olhos de botão; dos manuais do colégio quando começavam as aulas; do primeiro bilhete do primeiro salário; do primeiro livro que compramos, e do primeiro que ganhamos; do primeiro bilhete de avião da primeira viagem... Cheirinho a mar da minha terra; do chão de manhãzinha cedo depois de ter passado a noite inteira a chover, ou de quando a chuva caía com o pleno sol arder e levantava aquilo que na minha cidade chamamos de “mormaço” e que ocasionava sempre uma “boa” gripe. E o da colônia ou perfume que usávamos quando tínhamos 15 anos; e os dos primeiros namorados; o da irmã amada ou da amiga mais querida; os dos abraços da minha mãe ou o do suor do trabalho do meu pai; o do meu marido e grande amor; o do meu filho... Há cheiros (alguns deles perfumes) e músicas que nos fazem voar no tempo…que em questões de segundos nos teletransportam a lugares, imagens, anedotas, pessoas, que ficaram para sempre gravadas na nossa memória. E é muito gratificante sentir estes cheiros, estas músicas... e por momentos fechar os olhos e recordar coisas vividas pois fazem sentir-nos mais vivos, mais felizes, se calhar porque assim percebemos que temos coisas que recordar e pessoas que, por muito que passe o tempo, permanecem presentes não só na nossa memória, mas também na nossa vida. Saudade é isso. É sentir cheiro de coisas boas. Daquelas que ficam não só nas nossas lembranças mas também nas que povoam o nosso coração e nos fazem sentir queridos e amados pelas pessoas de quem realmente sentimos cheiro a saudade. E dito assim, a saudade, cheira ou não cheira bem?


¿Crisis de confianza o confianza en la crisis? CLÁUDIA FONSECA En los últimos meses, una de las palabras más escuchadas en toda Europa e incluso en la Península Ibérica, es crisis. En este momento, España tiene la tasa más alta de desempleo en toda Europa, más de 22, 85 por ciento de la población española no tiene trabajo. En Portugal, donde la Troika ha impuesto severas medidas, la realidad no es mejor. Hay 14, 8 por ciento de portugueses desempleados y la tendencia es que este número siga aumentando. Periodistas, economistas, políticos, sacerdotes, padres, profesores, psicólogos, todos hablan de esta crisis que parece no dejarnos nunca, todos tienen opiniones, y todos intentan, en conjunto, buscar soluciones, que parecen ser lentas, insuficientes e insatisfactorias. Sin embargo, se observó que antes de una crisis financiera, la crisis que el mundo afronta es una crisis de valores. Enredados en un triste destino, que tan bien nos singulariza, me doy cuenta de que muchos portugueses también están en crisis con sus mundos: personal, familiar, académico, profesional, social... Y, ¿cómo es en España? Vosotros también transportáis esta carga con resignación, o ¿continuáis a riendo y bailando alegremente al son del flamenco? De hecho, y a pesar de la rivalidad entre los dos países distantes, nosotros siempre hemos admirado y envidiamos un poco la forma de ser y estar de “nuestros hermanos”, porque vivían mucho mejor que nosotros el carpe diem horaciano. Mientras que los portugueses viven preocupados por el mañana y, por tanto, viven para trabajar y ahorrar, los españoles trabajan para vivir y disfrutar de la vida.

¿La crisis ha sacudido el positivismo que os identifica, o también vivís en este tiempo, una preocupación constante para el futuro? ¿Cuál es la dirección de nuestros paí­ses en los pró­­ximos años? ¿(Re)­v iviremos las guerras civi­ les? Vamos a tener un trabajo? ¿Qué pasará con Mariluz de la Calle luzdelacalle@gmail.com y Daniel Merchán ridli79@gmail.com nuestros hijos? En los siglos XV y XVI, el portugués y el español fue- tamos en estas alturas. Sí, neceron grandes y dominaran el mun- sitamos, en cambio, mucha lluvia do. Tengamos entonces un poco de que ponga fin a esta sequía que ha valor y de la audacia de nuestros afectado a la Península Ibérica en antepasados, y busquemos, indi- los últimos meses. Pero también vidualmente, ejerciendo nuestro ne­cesitamos un poco más de resderecho a la ciudadanía, luchemos peto y de moderación en la forma por la construcción de dos nacio- de tratar a algunos de nosotros, nes unidas por una voluntad co- porque cuando en el estadio de mún, la voluntad de luchar y ganar. fútbol llaman a Cristiano Ronaldo ¿Cómo podemos exigir a los de- y a José Mourinho, de “Ese portumás antes de exigirnos a nosotros gués, hijo de puta es”, es un insulmismos? ¿Cómo podemos creer en to a todos nosotros. No podemos los cam­bios en un país, si no esta- olvidar que la presencia de estos mos dis­puestos a cambiar peque- iconos del deporte en el fútbol español ha aumentado, sin duda, el ñas co­sas en nuestras vidas? No sabemos dónde buscar, pero interés de Portugal por España, ya sabemos lo que queremos...quere- que, desde entonces, aquí se hamos países erguidos, sin temores ni bla mucho más del país. Puesto que estoy hablando de reservas, países justos y pacíficos, países limpios y honrados, países nosotros y de la crisis en diversos respetados, países que promuevan contextos, termino recordando uno la identidad y la diversidad, países de los mayores “vientos” de la culcapaces de superar una crisis fi- tura española, Cervantes. Seamos nanciera pero sobre todo capaces audaces como su caballero andante, Don Quijote, e intentemos, de superar una crisis de valores. Yo, como estudiante de la lengua respetando siempre la alteridad española y vecina de vosotros, me del otro, hacer nuestro propio viaopongo públicamente al viejo di- je con coraje y confianza, porque cho portugués que dice que “de como tan sabiamente ha dicho Espanha nem bom vento, nem este personaje histórico “Cada uno bom casamento.” Las parejas y los es artífice de su propia ventura” y compañeros españoles son buen después de la tormenta siempre partido, y el viento, no lo necesi- llega la calma. 13


Bárbara Buril, uma brasileira do intercambio na universidade de Valladolid

“O Brasil, um país tão vasto e heterogêneo como Espanha” PETER WILHELM SAX Jovem, divertida, engraçada, estilo moderno, muito amável e simpática. Assim é Bárbara. Uma jovem mulher do Brasil, da cidade de Recife. Bárbara veio para Espanha através do intercâmbio da universidade. A conversa apresenta a sua experiência intercultural da permanência em Espanha. Além disso, na entrevista perguntei-lhe sobre a sua visão empreendedora por nós-otros, quero dizer, a seguinte entrevista apresenta umas breves respostas sobre que impressão da Espanha e de nossa cultura tem uma jovem brasileira. Pergunta.- Com os artigos da nossa revista, pretendemos promover uma aproximação entre as relações da Espanha e de Portugal /Brasil. Que pensa dessa aproximação entre os dois países? Resposta.- Penso que essa pode ser uma relação muito prolífica. Em primeiro lugar, porque Brasil e Espanha têm raízes comuns, estabelecidas nos tempos da colonização portuguesa no Brasil, que é também a época da União Ibérica. Assim, do ponto de vista cultural e lingüísticos, temos muitas coisas em comum. Além do mais, o Brasil vive cercado de países hispânicos, fazendo com que uma inúmera quantidade de fatores contribua para o estabelecimento rápido de uma relação intercultural. P.- Imagino que já deve conhecer bem alguns hábitos e costumes espanhóis. Quais são aqueles que lhe parecem mais notórios e evidentes? R.- A questão dos horários das refeições. Os horários do almoço e do jantar são comumente realizados mais tarde que em outros paí14

Quase sempre, uma entrevista fantástica é feita a uma pessoa muito conhecida e famosa. Mas sempre questionei porque sempre se procuram os ricos e famosos. Realmente, que podem narrar? As festas caras, a vida alegre? Pois, no mundo fora do comum, vivem num mundo fictício e pouco real. Não teríamos que perguntar a gente comum? A gente como você e eu? Por isso tenho o prazer de apresentar-lhes uma entrevista com uma brasileira muito especial, mas pouca famosa. Pelo menos até agora!

ses. A cultura de tapas, a siesta... P.- Em que pontos é possível ver alguma unidade entre os dois países? Quer dizer, o que os dois países têm em comum? R.- É muito difícil comparar o Brasil, um país tão vasto e heterogêneo, com Espanha, outro país também conhecido pelas inúmeras diferenças dentro do próprio território. Assim, é difícil inclusive definir características próprias do Brasil e próprias da Espanha. Eu diria que o sul da Espanha se pare-

ce mais com o Brasil que a cidade de Valladolid, devido às formas de as pessoas se relacionarem (mais afetivas, eu diria), ao clima (mais quente), às maiores possibilidades de contato com a natureza e às tradições culturais da região. O sul da Espanha e o Brasil compartilham um imaginário parecido, que é o das tradições culturais preservadas. P.- E em que pontos nota uma certa diferença? R.- Para além do estereótipo, o brasileiro, de uma forma geral, é mais aberto para os demais. Ele quer entender como o outro pensa,

como se sente, o que deseja... A experiência que tenho é em Valladolid, e sinto que as pessoas aqui são mais fechadas a o que vem de fora. Não falo de imigração, porque essa questão já é mais profunda, mas falo da forma dos próprios espanhóis se relacionarem entre si. Eles são fechados entre eles mesmos. Os brasileiros permitem mais uma entrada do outro em suas vidas. Bem... Há muitas diferenças, mas para mim essa é a mais marcante.


‘De costas coladas e olhares desviados’ FRANCISCO JOSÉ FIDALGO ENRÍQUEZ Lector de español, UBI Durante muchos siglos la relación entre Portugal y España ha sido de vecindad forzada, inevitable y, en muchas ocasiones, recelosa del lado portugués y expansionista del lado español. También ha habido accesos de fraternidad ibérica, pero minoritarios. No obstante, sin ser hermanos, España y Portugal son, sin duda, familia. Claro que la familia no se escoge y sí los amigos… La vecindad geográfica ha sido tanto motivo de desconfianza como de deseo de unidad. Hasta hace poco tiempo, y fruto de una cosmovisión paternalista primero y luego dictatorial de los gobiernos ibéricos, era mucho más fácil para España considerar ‘hermanas’ a las excolonias hispanoamericanas, o para Portugal ‘hermanas’ a las excolonias africanas o a Brasil. Era una fraternidad buscada, pues la independencia de las antiguas colonias había hecho que estas hijas putativas se hicieran independientes y además en todos los casos mediaba gran distancia geográfica. El caso de España y Portugal es diferente. Al compartir un mismo espacio geográfico, la relación de los países ibéricos (incluyan los que lo deseen a otras naciones ibéricas más allá de Portugal y España) ha sido inevitable, mas la propia localización geográfica de ambos países ha hecho que tuvieran miradas diferentes y, habitualmente, nunca cara a cara. Portugal, rodeado por Castilla y luego por España, siempre ha mirado como salida natural hacia el Atlántico, sea a América, sea a África o sea a Asia, pero siempre evitando, rodeando, a España. España también ha mirado al Atlántico, pero de manera paralela a Portugal; ha mirado al Mediterráneo de espaldas a Portugal y ha mirado, como el propio Portugal, a Europa en tiempos imperiales de otrora y en tiempos de emigración, pero ambas naciones siempre han tenido miradas divergentes, esquivas, no frontales. Es cierto que en estas ‘miradas desviadas’ caben excepciones en la historia y en los lugares, por ejemplo, algunas de las naciones, países, regiones, comunidades autónomas españolas (emplee el lector la denominación que le plazca) participan de la misma mirada que Portugal. En este sentido, Galicia comparte filiación lingüística y mirada con Portugal, aunque haya sido, a menudo, resultado de una mirada enfrentada con Castilla. Además, en la actualidad, Portugal y España miran a Europa juntos, pero de forma descorazonada y recelosa. A España y a Portugal, de tanto mirar al frente y a otros

sitios, se nos ha olvidado mirar atrás, a nuestras espaldas, quizás por temor al castigo bíblico de Sodoma y Gomorra, y las pocas veces que lo hemos hecho ha sido para no tener que mirar atrás, porque las espaldas estaban salvaguardadas. Esta seguridad frente al otro ibérico nos permitía mirar a otro lado sin temor a que el vecino o nuestro hermano nos apuñalasen por la espalda. Y nos equivocamos, porque nuestras espaldas no están tan seguras, sino olvidadas por no mirar para ellas. La frontera entre Portugal y España es una frontera difusa, permeable, casi siempre líquida, donde se mezclan los pareceres y convergen en ríos olvidados hasta la desembocadura y descuidados en su nacimiento. Ni siquiera los gobiernos autoritarios, y otros que no lo fueron tanto, han conseguido que esta frontera física haya comenzado a serlo, cuando nunca lo fue. Sin embargo, y aun cuando no hayan conseguido establecer una raya impenetrable entre ambos países, los dirigentes y detentores del poder público han logrado crear una ‘zona interior de exclusión’ en relación al desarrollo de otras zonas peninsulares, una zona olvidada, porque apenas se ha mirado para ella y cuando se ha hecho, solo se ha contemplado como ‘zona de seguridad’ frente al vecino y al hermano. Esa zona es el interior de Portugal y España a ambos lados de la raya. A nuestro modo de ver, ésta es la columna que comparten, la médula que los une y que hace que estén ‘pegados’, aunque algunos no quieran. España y Portugal no se pueden separar, están condenados a compartir órganos, aunque piernas, manos y cabeza sean diferentes. Compartimos esencias, hábitos, vicios, costumbres, tradiciones, aunque no se puedan ver muchas veces a simple vista y haya que profundizar en las relaciones culturales y personales. De tanto mirar al frente y no a nuestras espaldas, hemos dejado de ver lo que nos separa y lo que nos une. Cuando uno mira al mar fijamente, el horizonte se desdibuja, se comienza a sentir y se deja de ver. Puede ser que la ‘Gran Cultura’ (Literatura, Historia, Arte) se haya encargado de dar a conocer ambos países en el otro, pero no deja de ser una visión parcial, reductora, que desconfía del día a día por considerarlo irrelevante e insignificante. Los pueblos ibéricos han estado demasiado preocupados por el cielo y suelen tropezar con el suelo. Demasiadas miradas místicas que ocultan la realidad que pisamos. Nos preocupamos por los hechos ‘singulares’ sin reparar en que nuestro quehacer diario no es exactamente ´rutina’. El ‘día a día’ español o el ‘quotidiano’ portugués tienen una importancia crucial para hallar el otro ‘yo’ en nosotros mismos. Esta revista es una mirada a ‘nosotros’ (nós) mismos y a nuestro trajín diario para ver si así podemos saber y comprender a los ‘otros’ (outros). El anhelo de esta revista es que: ‘as costas coladas não impeçam de olhar para o nosso âmago’. 15


Desde a nossa escola, sente-se Portugal REYES INCLÁN No decorrer destes dois trimestres, o Departamento de Português organizou actividades várias, muito interessantes e educativas, afim dos discentes terem um contacto directo com a língua de Pessoa ou Camões, por citar alguns dos ícones da Literatura portuguesa. No mês de Novembro passado, o jovem poeta Hugo Milhanas Machado, deleitou-nos com um discurso brilhante e talentoso sobre Imagens de um Portugal contemporâneo, ilustrando na perfeição o feitio do povo português: “No início estranha-se e depois entranha-se”. A seguir, foi a vez do jornalista João Lopes Marques que, sob o título As Duas Ibérias da Península ao Cáucaso, fez uma palestra magistral, em Dezembro, sobre o seu romance Iberiana. Uma viagem no tempo para explorar as origens dos povos peninsulares, com um estilo na escrita sempre fluido e aprazível, segundo a crítica da maior parte dos seguidores. Para festejar o nosso particular Natal, o grupo de Zamora, Cantigas aos Domingos, e dois alunos da escola, fizeram as delícias do público assistente com o seu repertório natalício. No regresso das férias do Natal, a Dra. Cleudene Aragão, de nacionalidade brasileira, falou em Contos do Brasil. É que este país é também berço de grandes vultos no mundo das letras, e os contos são também algo fantástico, cativante, uma maneira de fazer boa literatura. Ler por exemplo a obra de Machado de Assis, Clarice Lispector, Hilda Hilst, Jorge Amado e tantos outros contistas, é uma autêntica beleza, um deleite para a inteligência. Chegado o mês de Fevereiro e, por ocasião do Entrudo, António André Pinelo Tiza, veio para nos oferecer o Inverno mágico em Trás-os-Montes, exposição que, para além de aliciante, foi muito completa e bem documentada so16

bre o tema das máscaras ibéricas. Trata-se de um projecto de cooperação transfronteiriça para promover o turismo cultural de interior, associado à tradição dos “mascarados”. O departamento de português ao longo de todo o ano esteve pronto para acolher nas aulas qualquer atividade que pudesse ser de interesse para implementar o conhecimento da língua, da cultura portuguesa. A jornalista Virginia López foi convidada duas vezes para partilhar com os alunos diferentes pontos de vista da actualidade portuguesa. A Virginia apresentou também o seu romance: “De Espanha nem bom vento nem bom casamento”, que foi prologado por Pilar del Rio, esposa de Saramago, e que vai ser posto à venda em breve.

Como colofão deste ano lectivo que está quase a acabar, tivemos o prazer de ouvir e partilhar com Hugo Girão Freitas momentos inesquecíveis. Romancista e poeta lisboeta, apaixonado por Zamora, cidade onde reside actualmente, sentiu a imperiosa necessidade de transformar os estados de ânimo em palavras, empurrado por uma série de pessoas e, após ler O Cavaleiro da Armadura Enferrugada, entre outros. A partir desse momento, decidiu que esse era o trilho que queria seguir até ao resto dos seus dias. Já tem publicados vários livros e, recentemente, apresentou Os Meninos do Vento, editado em espanhol e português, cujas receitas reverterão a favor da Associação Bipp, para apoiar as crianças com certas necessidades especiais.

Viagem pela gastronomia No passado mês de Março, desenvolveram-se com fins benéficos as jornadas gastronómicas na nossa escola, com uma participação considerável dos alunos das diferentes línguas e uma qualidade ótima das refeições apresentadas, o que ainda dificultou mais a decisão dos membros do júri na hora de escolher os vencedores. Foi dia de festa, de confraternidade entre professores, alunos e outros convidados, onde se festejou a diversidade numa atmosfera de união e alegria. Fossem quem fossem os premiados, o primordial era partilharmos todos juntos e rendermos homenagem às diferentes gastronomias, aos diferentes países e às diferentes línguas objeto de estudo. As iguarias portuguesas obtiveram o seu merecido sucesso com duas sobremesas ganhadoras: A Queijada de Coimbra ficou no primeiro posto apresentadas pelo aluno Enrique Folgado Martínez. É uma das mais apreciadas especialidades da doçaria conventual, e casa na perfeição o queijo fresco, o açúcar e as gemas. É um manjar-dos-anjos. O Bolo encharcado de Coco, feito pela Esther Martínez, delicioso também, galardoado com um terceiro prémio, foi elogiado e deleitado com autêntico prazer pelo público assistente no evento culinário.


Fredes Antuna, A Diretora da Escuela Oficial de Idiomas de Valladolid (EOI)

“Estudar uma língua estrangeira é para se projetar profissionalmente e adaptar-se a distintas situações” NATALIA FERNÁNDEZ Pergunta.- Continua a ser o inglês a língua mais procurada para a sua aprendizagem? Resposta.- Sim, assim é. Dos 5000 pedidos que recebemos, no ano passado, no processo geral de admissão, por exemplo, 2800 eram para inglês. P.- Que língua, excetuando o inglês, está a ter mais sucesso nestes últimos anos? R.- Principalmente o alemão e o chinês. P.- Está a pensar em incluir alguma outra língua nos próximos anos letivos? R.- A implementação de uma nova língua não é competência da Direção do Centro. De qualquer maneira, depende da procura existente e da disponibilidade de recursos em termos de matéria educativa. Pensamos que a oferta de línguas que se podem aprender na EOI de Valladolid responde às necessidades reais dos nossos alunos e, portanto, não é previsível uma ampliação a curto prazo. P.- Enquanto estudantes de português, gostaríamos de saber porque recomendaria estudar português.

Grupo Cantigas aos domingos

R.- A resposta é bastante lógica se consideramos que é uma das línguas mais faladas no planeta, com quase 250 milhões de falantes. As relações políticas, culturais e comerciais com o Brasil multiplicaram-se desde que, na década de 90, foi criado o MERCOSUR, e isto viu-se refletido no número cada vez maior de pessoas que veem na aprendizagem do português uma possibilidade de se projetarem profissionalmente. Devemos também ter em conta o enriquecimento pessoal que a sua aprendizagem acarreta, através da aproximação à sua cultura e tradições. Não nos devemos ainda esquecer de que se trata de uma língua românica com uma origem comum ao espanhol, o que faz com que existam algumas semelhanças entre ambas as línguas, facilitando a compreensão e aprendizagem entre quem as fala. P.- Considera que a aprendizagem de uma língua estrangeira é só para os jovens? R.- Claro que não. O perfil dos nossos alunos é muito heterogéneo em todos os sentidos, incluindo no que diz respeito à idade.

Fredes Antuna

P.- Como incentivaria o estudo de novos idiomas? R.- São muitas as razões que levam a estudar uma língua estrangeira. Entre as principais motivações poderíamos salientar as seguintes: o enriquecimento pessoal através do contato com a cultura do país; melhorar a formação académica para se projetar profissionalmente; ampliar as possibilidades de lazer; ser mais independente e, consequentemente, adaptar-se a distintas situações, tanto no estrangeiro como no próprio país. P.- Na sua opinião, quais são os três idiomas mais importantes para o mundo laboral? R.- Se consultarmos a atual oferta laboral, os idiomas mais solicitados no mercado são os da área europeia, nomeadamente o inglês, o francês, o italiano, o alemão ou o português. Se tivermos que limitar estes a apenas três, o inglês encabeça a procura geral, seguido do alemão e do francês. No entanto, nos últimos anos tem-se vindo a verificar uma procura de idiomas tais como o chinês. O motivo de tal procura prende-se com o facto de, atualmente, muitas empresas estarem a tentar implementar os seus serviços noutros países. 17


À descoberta do Porto

“O meu amigo Jacinto nasceu num palácio, com cento e nove contos de renda em terras de semeadura, de vinhedo, de No Alentejo, pela Estremadura, através de duas Beiras, densas sebes ondulando pôr e vale, muros altos de boa pedra, ri ta velha família agrícola que já entulhava o grão e plantava cepa em tempos de el-rei d. Dinis. A sua Quinta e casa senho serra...” A Cidade e as Serras. Eça de Queirós CHUS CERDÁN CALLEJA Assim começou o escritor Eça de Queirós a que é considerada uma das melhores obras da literatura portuguesa. É, para além da análise mais profunda que se possa fazer do romance, um percurso pelo Portugal da ribeira do Douro e das terras do Tua e do Tinhela, os seus fluentes; e foi precisamente para conhecer este Portugal queirosiano que os alunos desta escola participamos numa viagem, que, como não podia ser de outra maneira começou, na própria casa do escritor. Não obstante, a nossa primeira paragem foi em Peso da Régua, para apanhar um comboio que levou a toda a expedição, até a pequena estação de Ermida, e nos permitiu desfrutar do caminho do rio, das casas espalhadas entre vinhais, de uma natureza majestosa... Dali, após uma pequena aventura, tão queirosiana como imprescindível, acho eu, para que uma boa viagem se tenha por tal, pusemos rumo, - agora sim – à casa de Eça, em Baião, hoje transformada numa fundação que preserva a sua memória e a sua obra. 18

Conserva-se a esplêndida casa, com os objectos do quotidiano da sua vida, e também com os cheiros e os sabores que a envolveram, é assim que pudemos desfrutar como ele, dessa culinária tradicional da região que aquele Jacinto do romance, tão exquisito, após uma inicial reticência, conseguiu adorar. Até o nosso paladar ficou embriagado pelos excelentes vinhos elaborados na própria Quinta. Saimos de lá, como se vê, com todos os nossos sentidos colmados. Espantados também, por ter conhecido Dona Maria da Graça, bela anciã, herdeira dos bens do escritor e do senhorial feitio das familias importantes destas terras, a quem cumprimentamos conscientes de estar perante a última testemunha de uma forma de vida que aos poucos, a civilização, aquela que Queirós pôs em causa, vai afogando. Os viageiros continuámos nosso caminho, até Porto. Quem escreve há-de confessar, não sem alguma vergonha, que é cidade que não conhecia. Chegámos por volta das oito da tarde, e portanto, logo após um pequeno descanso e asseio, os componentes da expedição, cada um com quem quis e bem lhe ape-

teceu, espalharam-se pela cidade à procura de um bom jantar. AS GRANDES OBRAS Já com as luzes da manhã, alguns, os mais madrugadores desfrutaram de um passeio no tranvia da cidade, outros, de ritmo vital mais vespertino, fomos reunirmos mais tarde com o grupo, para navegar pelo rio e admirar desde o barco, as grandes obras de engenharia que são as pontes que unem as duas margens. São também estas, testemunha do desenvolvimento da cidade e da sua evolução económica, ciêntifica e estética, admirámos obras de Eiffel, Mesquida Cardoso, António Reis... No rio, naus de sabor antigo carregadas de turistas extasiados, sulcam as águas junto dos barcos Rabelos que outrora transportaram as pipas de vinho, desde os vinhais do Alto Douro até Vila Nova de Gaia onde estão as adegas que vemos desde o barco. Após este agradável passeio, tive oportunidade de percorrer as ruas de Porto, na companhia de quatro bons conhecedores, ouso dizer que não só desta cidade mas de Portugal inteiro, a quem agradeço ter-me servido de cicerones, para


e cortiça e de olival. ibeiras, estradas, delimitavam os campos desorial de Tormes, no Baixo Douro, cobriam uma

descobrir o Porto castiço da Ribeira, o barroco da Torre dos Clérigos, o Porto neogótico da Livraria Lello & Irmão, o neoclássico do Mercado do Bolhão, assim como a elegância da Arte Nova no Café Majestic e na Rua da Galeria de Paris, onde os antigos armazéns de tecidos e livrarias têm sido substituídos por locais da moda, centros da movida portuense sobretudo nas noites dos fins-de-semana. Existe, como não podía ser de outra maneira numa cidade que evolui, um Porto contemporâneo representado pelo Museu Serralves ou pela Casa da Música. Passeámos muito pela cidade, para conhecer “paisaje y paisanaje” que diria o nosso Delibes e sempre sem perder de vista o rio, o Douro, a quem à tarde, acompanhámos um bocadinho no seu vagaroso percurso até comungar com o mar, na Foz. À MODA DO PORTO Uma segunda-feira grisalha deunos as boas-vindas, houve quem dissesse “triste a cidade pela nossa partida”, por ser este o último dia da nossa estadia. Aproveitámos bem as últimas horas, porque visi-

Torre dos Clérigos. Alzira Neves de Cunha Ribeiro

támos o impressionante Palácio da Bolsa misto de estilos arquitectónicos que passam pelo neoclássico oitocentista, a arquitectura toscana ou o neopaladino inglês. Ao pé do Palácio, a Igreja de San Francisco onde tivemos um presente, a generosa explicação dos pormenores históricos do antigo convento, por parte de Dona Alzira, amiga que esperámos o seja muitos anos da nossa professora. Com este último alimento para a alma, fomos à procura de alimento para o corpo. Come-se bem em Porto, tê-mo-lo comprovado nestes dias. A culinária tradicional das pequenas casas de pasto como “a Regaleira”, com as suas tripas à moda do Porto ou a Francesinha, de que se arrogam a origem, convivem com locais mais modernos como “ O Agricola” onde elevam a arte, a modesta cozinha que foi, na “cataplana” algarvia. A expedição está obrigada a voltar a Espanha, pelo sentir geral acho que gostosos por ter voltado a desfrutar do Porto aqueles que já o tinham visitado alguma vez, e o resto por tê-lo descoberto. Ficam convidados para a próxima, de certeza vão gostar. 19


Los dos países tejen organizaciones y acciones que entrelazan una malla de proyectos. Analizamos la fundación Rei Afonso Henriques y la Asociación de Municipios Ribereños del Duero.

FUNDAÇÃO REI AFONSO HENRIQUES Em 1994 um grupo de indivíduos e representantes de instituições públicas e privadas em Espanha e em Portugal vinculadas ao mundo da cultura e dos negócios reúnemse para criar a FRAH. Na altura em que a Instituição é constituída, como comprovamos anteriormente, é reconhecida oficialmente em Espanha e em Portugal através da sua regulamentação legal. Essas metas e objectivos são: contribuir para o bem-estar das pessoas em toda a Bacia Hidrográfica do Douro, bem como aprofundar as relações culturais, sociais e económicas entre o Norte de Portugal e da Comunidade de Castela e Leão. Para isso, irão desenvolverse uma série de iniciativas e projectos que terão como objectivo permeabilizar o espaço fronteiriço e aproximar, mediante o conhecimento mútuo, as realidades das zonas geográficas mencionadas. Como instituição com dupla nacionalidade, a FRAH tem também sede na cidade de Bragança, em Portugal. Durante esses anos, a FRAH tem realizado várias actividades que se reflectem nos seus Relatórios Anuais. Essas actividades tiveram o apoio do seu Patronato e da União Europeia através de diversos programas de natureza económica, social ou cultural. A FRAH tem quatro linhas básicas de atuação: Institucional, Empresarial, Cultural e Educativa. Na linha Institucional destaca-se as ações no âmbito da Cooperação Transfronteiriça, realizadas em conjunto com o Conselho da Presidência da Junta de Castela e Leão e a Comissão Europeia, materializadas em Encontros, Cursos e Jornadas. 20

como recurso imprescindível ao desenvolvimento e relações dos dois países e em especial em espaço fronteiriço. Assim em Zamora, ministra-se um grande leque de curso de português, com grande afluência e o Centro de Exames CAPLE dependente do Instituto Camões. Do mesmo modo em Bragança, o Centro de Idiomas leciona curso de espanhol e é Centro Examinador DELE, pelo Instituto Cervantes.

DE LA MANO Na área Empresarial atualmente a FRAH é Chefe de Fila do Projeto ACTION, projeto financiado por fundos europeus, no âmbito do programa de financiamento POCTEP, sendo o seu primordial objetivo a criação de uma rede empresarial entre Castela e Leão, Norte e Centro de Portugal. No âmbito Cultural a Fundação tem em mão dois projetos, a Rota do Património da Humanidade do Vale do Douro e Zamora Românica, que tanto pela sua implicação social como económica tornam-se dos projetos mais importantes que gere atualmente. A destacar, igualmente no âmbito cultural, o Festival de Fados que se realiza a cada verão, na sede de Zamora da FRAH. No campo educativo, a FRAH aposta na instrução dos idiomas

LA FUNDACIÓN LEX NOVA MÁS CERCA DE PORTUGAL Fundación Lex Nova y la fundación Rei Afonso Henriques han firmado un Convenio de Colaboración por el que fundación Lex Nova se compromete a fomentar, promover y difundir el conocimiento de las leyes y su aplicación en territorio español y portugués. También contempla la promoción de los derechos y deberes de los ciudadanos, con el objeto de mejorar la convivencia y la solidaridad, integrando plenamente a los colectivos más vulnerables y desfavorecidos o en riesgo de exclusión social. ASSOCIAÇÃO IBÉRICA DE MUNIPIOS RIBEIRINHOS DO DOURO (AIMRD) A AIMRD é uma organização hispano-portuguesa, constituida em 1994 pelos municipios ribeirinhos do Duero-Douro para promover a cooperação entre os dois países à volta deste histórico leito fluvial. Entre os seus objetivos,estão o desenvolvimento sustentável e o compromisso ecológico, bem como transformar os 897 quilómetros do rio num elemento de dinamização cultural e económica. Actualmente leva a cabo três projetos: FLUVIAL: Oferta turística Duero transfronterizo www.duerofluvial.eu; RIET y MARCADUERO. Actualización de la Ruta del Duero. www.rutadelduero.es


“DEJANDO HUELLAS” hasta Santiago de Compostela ANA SILVA El descubrimiento llevó a Alfonso II de Asturias, a que anunciase una peregrinación dentro de su reino y en el extranjero, hacia un nuevo lugar de peregrinación de la cristiandad. Cruzando los puentes, recién terminados de Barcelos en el siglo III, evitando así un rodeo por Braga, la Reina Santa Isabel, después de la muerte de D. Dinis, siguió en peregrinación a Santiago, una ruta muy similar a la que hoy está marcada con flechas amarillas. En el siglo XIX, con la construcción de nuevos caminos, la ruta inicial tomada por los peregrinos sufrió algunas modificaciones y la trayectoria original cayó en desuso. Con la creciente popularidad del “Camino” en el siglo XX, la Xunta de Galicia, en el año 1993, publicó el itinerario de Tui - Santiago. Por último, en la primavera de 2006, un grupo de portugueses y españoles pintaron la última flecha de la ruta entre Lisboa y Santiago. En nuestro artículo hablaremos de esta última, la ruta occidental, la que sale de Lisboa, por las orillas del río Tajo, atraviesa Coimbra, cruza el río Duero en Porto y el río Miño y pasa por el puente internacional que une las localidades de Valença do Minho y Tui. PASO A PASO En tierras gallegas el camino portugués tiene una distancia muy pequeña, pero muy diferente. Una ruta que puede hacerse a pie o en bicicleta, y sobre todo, con paciencia, para disfrutar del atractivo que convoca a tantos peregrinos, de todas las partes del mundo. No hay que olvidar que, por encima de todo, está el propósito de cada uno, para alcanzar esta meta: llegar a Compostela. Cuando los Siete Senderos y el

puente de San Telmo se cruzan en las proximidades de Tui, dejamos las primeras huellas en tierras de Galicia. Los peregrinos son guiados por un paisaje lleno de bosques frondosos, salpicados de puentes medievales, iglesias barrocas y aldeas de piedra hasta que llegamos a Vrea Vella Canicouba.

Las luces en la noche y el descubrimiento del lugar donde supuestamente estaba la tumba del apóstol Santiago y de dos de sus discípulos, en el siglo IX, dio inicio a este viaje, un lugar donde más tarde se construiría Compostela.

PUENTE DE SAN TELMO Este camino tiene unos orígenes muy antiguos y es uno de los tramos más emblemáticos y bellos de la antigua “ruta de las estrellas” antes de entrar en la Ad Duos Pon-

te romana, en la monumental Pontevedra y podemos admirar uno de los conjuntos históricos mejor conservados del patrimonio de Galicia.

Un viaje, mil motivos Dejamos atrás Pontevedra a través del puente de Burgos, e inmediatamente podemos contemplar la Iglesia de Santa María de Alba y Crucero de San Mamed Portela y Amonisa, lugares donde el apóstol Santiago, a través de una estatua señala el camino a Compostela. Las aguas termales de Caldas de Reis, Iria Flavia, en Padrón, la fuente de la Esclavitud milagrosa y el cruce de las calles Francos llevan a los peregrinos a las puertas de Santiago. Durante cientos de años, la gente de diferentes clases sociales, reyes, reinas, siervos, hombres, mujeres y niños, han viajado por este camino, persiguiendo los fines más variados. Cumpliendo sus promesas a Dios, y encontrándose con la paz que buscaban, descubrieron la hoja del tesoro que tanto anhelaban. Esta es una de las posibles rutas para llegar a Compostela. Una ruta que une espiritualmente dos países, pero también descubre su riquísimo patrimonio, sin importar del todo el propósito de cada uno. Si NÓS-OTROS pisamos o ponemos nuestras huellas en Compostela, quedaremos para siempre marcados por su esplendor.

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SER DOCENTE de lengua española en Portugal

ANA B. CAO MÍGUEZ Lectora de Español, UBI Empecemos por una íntima confesión vergonzosa, siempre tan resultonas en esto de captar la atención del lector. [Yo me confieso, tú te confiesas… ¡Prestad atención: diptonga la vocal de la raíz! ¡Fijaos en que el pronombre va en posición proclítica!] Cuando, hace ya unos cuantos años, los hados (y un proceso de selección en el que participé sin albergar grandes esperanzas) tuvieron a bien enviarme a Covilhã, lo primero que me vi obligada a hacer fue buscar la ciudad y la universidad de destino en Google porque no tenía ni la menor idea, respectivamente, de su posición geográfica en el primer caso y de su mera existencia en el segundo. Tras una intensa formación superior en lo concerniente a las culturas que se expresan en lengua portuguesa, tras la experiencia docente, en Brasil y en Portugal, con aprendices cuyo idioma materno era el mismo al que había dedicado tiempo y esfuerzo, llegaba este sonoro nombre, Covilhã, a recordarme cuán profunda puede llegar a ser la ignorancia, aun de las cosas que amamos… Esta apresurada reflexión en voz alta sobre el asunto que aparece en el título debería comenzar por ponderar qué significa ser profesor. A partir de esta cuestión inicial podríamos adentrarnos en lo que conllevan los restantes aditamentos y derivados con que queramos ampliarla y matizarla: ser profesor de lengua española, ser profesora, ser profesor nativo de la lengua española en Portugal y serlo hoy, con el auge que experimenta en la enseñanza secundaria, etc., etc. No habiendo espacio para semejante despliegue, ha de conformarse el paciente lector con 22

un par de cavilaciones mal esbozadas, teniendo en cuenta el carácter confesional (luego, personal y un tanto liviano, desprovisto del peso de abordajes más graves y enjundiosos) que estas líneas asumen desde su comienzo. Se trata apenas de dos o tres consideraciones que me suscita la práctica docente en esta institución, de la que tanto he aprendido y continúo aprendiendo (sí, porque un profesor es ante todo un eterno aprendiz), todas ellas relacionadas con ciertas ideas preconcebidas que rodean el ejercicio de esta profesión, al menos en el aquí y el ahora en el que éste en concreto se sitúa. No puede soslayarse, en primer lugar, que la (fácil) enseñanza del (fácil) castellano a lusohablantes — la enseñanza de lenguas próximas en general— reclama, por su especificidad, una metodología propia, ajustada al papel protagonista que tiene en el proceso de aprendizaje la constante comparación con las estructuras de la lengua materna, por un lado, y a la condición de falsos principiantes que caracteriza a estos aprendices, por otro. Parece una obviedad, pero es algo que frecuentemente olvidan no sólo los profanos en la materia sino, incomprensiblemente, también algunos profesionales de la enseñanza de lenguas y las autoridades educativas. El recurso a la lengua materna es cognitivamente inevitable y, bien vistas las cosas, pedagógicamente rentable. Hay que subrayar, por otra parte, que el perfil de los estudiantes de esta universidad, procedentes en su gran mayoría de la raya o de zonas

fronterizas muy expuestas al contacto con España, se caracteriza por la enorme motivación que los empuja a aprender la lengua castellana. Buena prueba de ese entusiasmo, al igual que el de los aprendices de portugués de la EOI de Valladolid, la constituye precisamente el proyecto editorial que ahora nace (por iniciativa, es importante destacarlo, de los propios estudiantes), en el que unos y otros se han embarcado con fervor, para regocijo de quienes observamos y asistimos a este parto. Todo lo cual no obsta para que, al mismo tiempo, la competencia intercultural previa del alumnado ubiano esté, por lo común, menos desarrollada de lo que podría pensarse de antemano (sí, porque los docentes también creamos nuestras expectativas en función de ciertos prejuicios, en cuyas trampas tampoco estamos exentos de caer). De ahí que sea, aquí también, necesario estimular antes de nada el conocimiento y el reconocimiento del Otro, lo cual incluye en este caso demoler ciertas imágenes mentales de lo que, para muchos, es o debe (de) ser su profesor(a) español(a) de español. Es el fruto, natural y disculpable pero no por ello menos peligroso, de una siempre capciosa identificación del estado (y, por ende, de quienes allí hemos nacido) con una proyección nacional construida (a dos, tres e incluso más bandas) a lo largo de siglos. Es evidente, por lo demás, que para estos menesteres el primero que debe predicar con el ejemplo es el docente, quien ya he reconocido que tampoco se ve libre de tales tentaciones reductoras… En este sentido, y para decirlo brevemente, estudiantes y profesores, portugueses y españoles, hemos de intentar convertirnos en esos perforadores de fronteras de los que hablaba Julien Gracq, y tender puentes entre orillas, “même si c’est parfois plutôt pour la perspective que pour la circulation”.


(Pré)Conceitos RITA BORGES PEREIRA Foi em Abril de 2008 que visitei Zamora pela primeira vez. Uma cidade absolutamente espantosa. A luz, as casas, a muralha, a tranquilidade, o Douro tão diferente do meu... E a Fundação Rei Afonso Henriques foi a cereja em cima do bolo. Eram 4h da tarde e, como boa portuguesa, uma excelente hora para tomar um cafezinho e descansar da viagem. Não havia vivalma nas ruas. Uma cidade fantasma? Não, era a hora da sesta. Em nenhuma das outras cidades espanholas que tinha visitado havia esta calmaria. Talvez porque fossem mais urbanas, turísticas, mas aqui o tempo pára ou paira por momentos, entre o buliço da saída do trabalho e a reabertura do comércio. Mas provavelmente o que mais me chocou foi a forma informal de tratamento. Todos somos “tu”, no café, no trabalho, nos serviços. E isso não deixa de ser fascinante. Vinda de um país em que todos são doutores, ser chamada pelo meu nome, foi como um rebaptismo. Como nunca tinha estudado espanhol, embora entendesse quase tudo o que me diziam, passei por algumas situações caricatas. Quando andava à procura de apartamento, a senhora da imobiliária, disse-me que tinha garagem no “sótano”. No sótão? – pensei. Estes espanhóis são muito estranhos. Então não era mais fácil construir nos andares inferiores? Mas tinham-me pedido para falar de preconceitos e isto descarrilou. Talvez porque, para mim, os preconceitos são isso mesmo, ideias ou conceitos formados antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial. Sei que em Espanha há muito mais para além das touradas e do flamenco e em Portugal mais do que o fado e o bacalhau. Sei que ainda há um longo caminho no mútuo conhecimento da língua e cultura de ambos países, mas desde que o bichinho do conhecimento e a abertura de espírito nos permitam, já é meio caminho andado. E quanto ao ditado popular “De Espanha nem bons ventos, nem bons casamentos”, a segunda parte continua incógnita, mas este vento que aqui sopra é uma cantilena adocicada que se entranha até à alma. Bem-hajam!

CÓMO NOS VEMOS

Portugal JOSÉ LUIS PUERTO Portugal es esa hermosa melodía de su lengua; o esa PORTUGAL, sobre otra, tan melancólica y destodo, es el pueblo garrada, tan de la vida a ras que ha tejido y que de tierra, de sus fados; ese teje su existir en ese espacio atlántico de montes hermoso territorio y granitos, de valles y montaibérico ñas, de olivos y senaras, de campesinos y marineros, de emigrantes por medio mundo, de ciudades interiores o en las desembocaduras de sus grandes ríos, y de pequeños pueblos, cual nidos de intrahistoria. Es la fábula heroica de Camoens; el mito mesiánico del sebastianismo; la melodía existencial, problemática y melancólica del yo, en todos los versos y escritos de Fernando Pessoa; la belleza áspera, pero tan humana y confesional, de Miguel Torga; la música en voz baja, tan íntima y tan llena de dolor y de gozo, de Eugénio de Andrade; la callada labor creativa de Agustina Besa-Luís, Herberto Helder, José Bento, Fernando Echevarría… y tantos otros. Es el conjunto de esa azulejería tan primorosa, donde cabe lo mitológico y lo religioso; los castros y las citanias, un sustrato que ha dejado tantas supervivencias. Portugal es también el rumor de la gente más humilde, de los simples, como Guerra Junqueiro los llamara, en un canto de amor. Sí. Portugal, sobre todo, es el pueblo, que ha tejido y que teje su existir en ese hermoso territorio ibérico, tan hermano y tan nuestro. 23


Durante muitos anos foi um dos jornalistas d conflitos internacionais do mundo, Agustín R pontos mais quentes do planeta a partir da s te em Roma, Paris, Londres, Nova Iorque, Lis “Um banquete para os deuses” ou “ Gaza, um de muitos jovens que aspiram falar o mesmo permitir. É a voz da experiencia e a sabedoria

NATALIA FERNÁNDEZ

Agustín Remesal, Diretor da Rota Ibérica

“Um dia destes vamos acordar ibéricos porque já não há nem Portugal nem Espanha”

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Pergunta.-Qual foi o apelo que o motivou a fazer uma aventura como a Rota Ibérica? Sempre tive um anseio intelectual e natural por tudo o que é português. Sou raiano de Zamora. Comecei a falar português em menino. Viajava às aldeias da fronteira com a minha família… Depois estive em Lisboa em 1974, no momento da Revolução dos cravos. No ano de 2000 a TVE enviou-me para lá enquanto jornalista. Sempre tive uma forte relação com o país e as suas gentes, amei também a sua literatura. Em 2007 aproveitei a sugestão de reforma antecipada que me fez a TVE. No ano anterior, quando estava a fazer planos para o futuro deram-me, aparentemente por acaso, a oportunidade de acompanhar a Rota Quetzal a Guatemala. Já conhecia o país, mas interessavame ver de perto aqueles ra­pazes e ver o que se passava com aquela aventura. Lembro-me que foi num amanhecer na cúspide de uma das pirámides de Tiakal, quando me veio a ideia: uma Rota Ibérica. P.-Porque decidiu organizá-la com estudantes de Espanha,­Portugal e Marrocos? A vizinhança física, a proximidade intelectual, o amor pela sua literatura, o Iberismo em que acredito.. tudo me leva até lá. Aliás, reparei que era o momento de dar um pulo para consolidar as relações entre as sociedades dos dois países e que a fórmula da Rota era perfeita para isso; os jovens, o futuro do Iberismo. A questão de Marrocos foi circunstancial: em 2009 era o centenário da ex-


de luxo da TVE. Testemunha excepcional dos Remesal percorreu de microfone na mão os sua posição preveligiada de correspondensboa ou Jerusalén. Autor de libros como ma prisão sem teto”. Dirige agora o sonho o idioma das culturas ibéricas, se a crise o a que o tempo lhe dá.

pulsão dos mouriscos ibéricos que foram embora para as montanhas do Rif, e para lá fomos. P.-Celebraram-se já três edições. Brevemente, o que salientaria de cada uma delas? Da primeira, a aventura ultramarina: a nossa imersão na gloriosa história dos descobridores dos dois países e a viagem da caravela desde Sagres e Sevilla. Da segunda, os rios Ibéricos: foi mesmo uma canseira para atingir os cincos grandes rios e ver a importância da água, no entanto conseguimo-lo. O ponto culminante, sem dúvida, foi a escalada aos picos do Urbión. Da terceira, a aventura no Rif: foi fantástico o encontro com os descendentes dos mouriscos ibéricos em Chefchauen. P.-Qual foi o momento mais duro que teve que enfrentar? Sem dúvida, a circunstância que tivemos de decidir se continuar, quando houve em Sevilla um surto da gripe A. Agora dizem que tudo aquilo foi um engano dos laboratórios da vacina, mas assim é a vida… O resto dos momentos difíceis exigiram um esforço, que é a maneira de chegar ao prazer mais completo. P.- No passado mês de Fevereiro houve um “multi-encontro” em Valladolid, Salamanca, Lisboa, Porto... como foi esse encontro com os “ru­tibéricos”? Tenho informação do que se passa nesses encontros graças às mensagens que os “rutibéricos” me enviam. São eles próprios que se organizam, e fazem-no muito bem. Estou mesmo satisfeito com o facto de o espírito da Rota Ibérica se manter. Espero que esses encontros continuem porque é o melhor caminho para aproveitar o

resultado da experiência. Os rutibé­ri­cos já são uma família. P.- Depois desta experiência, que aprenderam os jovens participantes, segundo a sua opinião? Primeiro o compromisso com um projecto em equipa, a sua disciplina e o esforço que exige para o levar a bom porto. E o mais importante: conheceram pessoas do outro país, falaram, cantaram, discutiram, aprenderam juntos. P.- E o senhor também descobriu alguma coisa nova? Sim, temos sempre de estar a aprender: o iberismo não é uma ideia abstracta, política ou sentimental, há um poso comum entre os dois países, uma centelha que saltita e acende o fogo da amizade e da compreensão no momento que surgir uma oportunidade. E para isso ninguém como os jovens. P.- A crise tem travado a projecção desta aventura sem permitir que se possa realizar desde 2009 até aos nossos dias. Confia que cedo se possa retomar? Não é provável que saíamos cedo de novo para a Rota, mas acho que há suficiente força acumulada para que isso possa acontecer na primeira oportunidade. Temos de ser pacientes e constantes. Só ganha quem não desiste. P.- Finalmente, se fosse possível, tem em mente alguns destinos? Apesar de não a podermos realizar nestes dois últimos anos, apresentamos novos projectos para realizar. Um foi os Caminhos de Santiago e outro, o Douro, o nosso rio. Não faltarão nem ideias, nem colaboradores quando chegar o momento. P.- Pensa que o iberismo pode chegar a ser um sentimento tão

forte que conduza a que Espanha e Portugal, alguma vez, sejam uma só nação, segundo advogava Saramago? Na verdade, Portugal e Espanha estão mais próximas do que dizem os livros ou os jornais. Viajo para lá constantemente, escrevo permanentemente sobre temas comuns e falo com uns e com outros. Pouco importa que haja dois países, e cada vez é mais patente a ideia de que as estruturas do poder político esmorecem mais e mais. Um dia destes vamos acordar ibéricos porque já não há Portugal nem Espanha. Não é uma adivinhação, é uma constatação de que o estado-poder se está a diluir e o poder- cidadão está a crescer. P.- Na sua opinião, que elementos há que limar para que os dois países vizinhos possam considerarse autênticas nações irmãs? Portugal e Espanha já são nações irmãs. Os portugueses sempre nos chamam: “os nossos irmãos”; os espanhóis acham isto uma piada mas para eles é normal. Nações irmãs…melhor, cidadãos com um mesmo estado federal, por exemplo. P.- O senhor foi jornalista da TVE em Lisboa durante quatro años. O que mais aprecia da alma portuguesa? A sua sensibilidade, a sua “meiguice”, a sua espiritualidade. Nós somos muito rudes ao lado deles. Exageramos às vezes o sentido um bocado trágico da vida que eles têm com a sua “saudade”, mas nunca achei razão nenhuma que nos faça superiores com o nosso orgulho ameaçador que não passa de um complexo, uma defesa. Superioridade, porquê? 25


Imaginemos que queremos ir até um ponto intermédio e conhecer-nos, de passagem também, esse lugar de que Miguel Torga diz: Uma alvorada do começo do mundo. Estou a olhar os montes com a sensação de que os surpreendo no momento da Criação. Tem este dom a paisagem duriense: dá-nos sempre a impressão de que nasce todas as manhas.

UM PAISAGE, DOIS PARQUES JULIA Mª MOLINA GONZÁLEZ Primeiro temos de ir de carro da nossa cidade até ao parque, depois a pé pela natureza até ao nosso encontro. Como acontece? Os alunos de Covilhá terão que “remontar as águas”, enquanto os vallisoletanos teremos que caminhar “águas abaixo”. De Covilhá demoraremos uma hora e meia em entrar no parque. Rota: Covilhã para o norte até à Guarda, a partir da Guarda direcção este, para atravessar Arrabalde do Poço, e seguir para o este até à população do parque de Vermiosa. De Valladolid, olhando para sudoeste temos a entrada e também numa hora e meia. Rota: Valladolid para o sul até Tordesillas pela N-601, aqui viramos para oeste até Zamora. Nos arredores desta, direcção Benavente e depois pela N-122 até atravessar Ricobayo. E já por uma comarcal a za-324 entramos no Parque, primeira populaçäo Villalcampo. DOIS PARQUES, UMA SÓ NATUREZA Os parques naturais das Arribes del Duero e Douro Internacional estäo acolhidos a protecção europeia Red Natura 2000, ZEPA, LIC. Este espaço compreende parte da antiga comarca de Sayago e das Tierras de Fermoselle em Zamora, os concelhos de Miranda do Douro, 26

Mogadouro y Freixo de Espada à Cinta em Trás-os-Montes, e também parte do Concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, na Guarda. O lado espanhol, compreende 106.105 há com 37 municípios das províncias de Zamora e Salamanca. A 11 de abril de 2002 declarou-se Parque Natural. O lado português, com uma área de 85 150 há e abrange o troço fronteiriço do Rio Douro. Foi criado através do Decreto Regulamentar 8/98 de 11 de Maio.

Um endemismo

A flora protegida está no leito do río Douro, endemismos lusitano-durenses, como Trigonella polyceratia variedade Amandiana o Antirrhinum lopesianum. J. Capelo diz que é de facto um endemismo extraordinário. Extraordinário é que exista de todo uma planta que tenha evoluído para ocupar um nicho ecológico tão improvável que é uma gota de água num ‘mar de silicatos`. Um exemplo da ´luta´ da Vida contra a sua própria improbilidade

O troço internacional do rio Douro faz a transição, através de um acentuado declive longitudinal (com um desnível de cerca de 400 metros), entre a sua bacia média, nos vastos horizontes da meseta Ibérica, e a bacia inferior, já em território português. Temos com os dois parques uma extensão de cerca de 191.255 há. Situa-se à beira-rio até 120 km e prolonga-se para sul através do vale do Rio Águeda.������������� Formando entre os dois um dos espaços protegidos ibéricos de maior tamanho. Este parque é muito grande. Devido à seu peculiar situaçäo climática, o clima da região pode definir-se como mediterrâneo-subcontinental, com altitudes que väo dos 120 metros a 700 - 800 metros. Em eco-noticias, neste 5 de Abril 2012 diz que os bosques e matas mediterráneos continentales ibéricos säo ecossistemas muito originaiss. Também é importante pelo seu isolamento tradicional e cultivos mediterráneos. Terras ricas também em gado bovino e ovino, com raças autóctones mirandesa. Tem uma boa conservacäo de algumas aves, representada pelas majestosas aves de rapina que sobrevoam os penhascos, abutre, cegonha negra, águia perdicera, águia imperial, alimoche.


ANA MARTÍNEZ Y SUSANA MARQUES, diretora do Parque Arribes do Douro e supervisora do Parque Natural do Douro Internacional

“Agora é muito difícil fazer alguns projetos porque temos que co-financiar e no há orçamento” Pergunta.- Conhece aos técnicos do parque Português? Ana.- Sim, conheço-os. As nossas reuniões costumam ser regulares. O que acontece é que não é um parque transfronteriço em termos legais, por isso só nos coordenamos para acções pontuais. É impossível actuar como um Parque único, porque cada um é em sim um mundo. Reunimo-nos há um mês atrás e fizemos trabalhos no campo. Trabalhar entre dois paises é muito caro. Susana.- Sim, conheço os técnicos do PN Arribes del Duero, já tivemos várias reuniões de trabalho conjuntas. P.- Que actividades tem no parque? AM.- Há duas casas do parque, uma fica em Zamora e outra em Salamanca. Lá dinamizam-se as actividades de Educação Ambiental e sensibilização. Também se organizam actividades de investigação e gestão . Nas casas temos também informação para fazer turismo de natureza. O grupo de trabalho de educação ambiental apresenta as possibilidades que existem para as pessoas que chegam até às casas e mesmo assim as empresas de turismo de habitação que estão no parque. Está baseado em torno do senderismo. Os caminhos estão bem indicados e levam com facilidade aos pontos de interesse, os miradores etc. SM.- O PNDI não tem um programa de actividades para o público em geral. Fazemos acções de educação ambiental com as escolas do Parque e acompanhamos algumas visitas de grupos ao PNDI. Quanto a projectos de conservação, o mais importante é o programa de monitorização das aves rupícolas (que nidificam nas arribas).

FAZEMOS acções de educação ambiental com as escolas do Parque e acompanhamos algumas visitas de grupos ao PNDI

Ana Martínez

P.- Ha orçamentos da UE para atividades con Portugal? AM.- R.- Sim há. A UE tens dois convites à apresentação de propostas, são quase sempre INTERREG. A nossa equipa apresentou propostas conjuntas com Portugal. O mais novo é uma chamada SUDOE qué é de facto uma atividade de INTERREG. Estes säo programas para fazer a longo de quatro anos. Também dos programas da Raia, temos alguns. Agora é muito difícil porque temos que co-financiar e não há orçamento. De facto há dificuldade mesmo para as reuniões rotineiras com eles. A situação de Portugal é agora muito difícil. SM.- Neste momento não temos em curso nenhum projecto financiado pela UE para trabalhar com Espanha. P.- O que é que mais gosta do parque dos Arribes? AM.- R.-É um territorio muito comprido, pois possui 106.000 ha., e

de norte até ao sul muda muito. Os arredores säo muito belos, e as câmaras municipais dizem-te que o seu território é o melhor. Para o público em geral o mais incrível são os acantilados, as fendas dos rios. Mas no entanto eu gosto muito de dois sítios como o bosque de almeces em Salamanca, nos arrededores de Mieza e Aldeadávila singular em Castilla y León e muito baixo na Península Ibérica, e um enebral em Zamora, muito espesso nos arredores de Cozcurrita. Ambos têm muito valor. Há muita biodiversidade em todo o parque , desde o rio Esla até o Águeda Internacional e o Turones salmantino. SM.- O que mais gosto no PNDI é o facto de ter muitos pontos de interesse diferentes (avifauna, paisagem, flora, geologia) e que podem ser facilmente observados em diversos locais facilmente acessíveis sem pôr em causa a conservação desses valores. P.- O Parque em uma frase. SM.- Isso é muito difícil... Eu sou só uma bióloga... Talvez “Dos Abutres aos Zimbros – o esplendor da natureza nas arribas do Douro Internacional”. 27


Serra da Estrela: uma viagem de mota

JAVIER G. LORENTE Começamos a viagem por Fuentes de Oñoro – Vilar Formoso. Vamos pela auto-estrada até à Guarda, e depois viramos à direita, por uma estrada que vai em direcção a Famalicão. Nesta área temos uma paisagem de árvores e montanhas de baixa altitude. A estrada tem muitas curvas, mas são suaves e divertidas para a condução. Continuamos o caminho até Manteigas. Esta povoação fica na encosta de uma colina, tem muitas lojas, cafés, restaurantes e uma estação de serviço onde podemos reabastecer os veículos. Ali começa o vale glaciar do Zêzere. A estrada não é muito boa, mas tem muito pouco trânsito e em poucos quilómetros chegamos perto da Torre – o topo da montanha. Há várias curvas, onde é obrigatório parar e tirar uma fotografia. Do cimo há uma vista espantosa do vale. Rapidamente chegamos à parte superior: é muito rochosa e não há árvores. O ar é limpo e puro. Passo a estação de esqui, o estacio28

A Serra da Estrela fica na Beira Baixa, perto da fronteira com Espanha. É uma viagem muito agradável para fazer de mota na primavera ou no verão. A montanha mais alta de Portugal Continental tem a categoria de Parque Natural. Podemos desfrutar de uma grande variedade de paisagens: extensos bosques de pinheiros e castanheiros, vales glaciares, áreas de oliveiras, lagoas de água límpida de origem glaciar e as estradas com o maior desnível de Portugal. O Pico da Torre (1993m) é a única estação de esqui do país.

namento está vazio. É verão e há pouca gente. No cume há uma torre de pedra antiga, que dá nome ao local: o Pico da Torre. O topo é uma grande planície, onde além da torre há uma instalação militar e outra meteorológica. Há uma outra, mais moderna e de cor verde, similar ao enorme Chupa-Chups. Há também um prédio com pequenas lojas e um ou outro bar. A vista é muito bonita, em todas as direções podemos “perder la vista” em quilómetros e quilómetros de verdes campos, florestas e pequenas aldeias que ficam muito longe, lá em baixo. É espectacular!

Estamos a meio da tarde e a temperatura é boa. Depois de tirarmos umas fotografias, seguimos o caminho em direção a Seia. Para lá, todo o percurso é uma longa e agradável descida. A estrada é nova e fica entre prados, lagos e bosques. A poucos quilómetros fica a Lagoa Comprida. É uma barragem construída a partir de um lago natural. Daqui para Seia o caminho é de curvas, que descem suavemente desde o ponto mais alto de Portugal, até ao verde e acolhedor vale onde fica Seia, mais ou menos a uns 30 km. É a segunda maior cidade da Serra da Estrela, depois da Covilhã. Tem cerca de 30.000 habitantes.


Aqui podemos fazer uma pausa, almoçar, jantar, sentarmo-nos numa esplanada ou dormir. Há três museus: do Pão, do Brinquedo e do Queijo. A uns 20 km fica a cidade de Oliveira do Hospital, e perto dela uma pequena aldeia: Lagares. Próximo, no meio do campo, fica o pequeno parque de campismo “A Toca da Raposa”. O proprietário chama-se Joseph. É um belga muito amável que mora ali todo o ano, com a mulher e o filho. É um lugar muito tranquilo, onde podemos encontrar amantes das motas que vêm de todos os países da Europa e onde se pode acampar. Não muito longe, aproximadamente a 40 km, fica a localidade de Góis. É uma aldeia muito tranquila durante todo o ano, rodeada de montes e bosques. A meio de agosto organiza-se uma concentração mototurística. É uma das melhores reuniões de motociclistas do país, com cerca de 8000 inscritos e quase outros tantos participantes, tendo actualmente alcançado o estatuto de “maior concentração mototurística de âmbito nacional”. É também muito interessante percorrer a Serra do Açor, vizinha da Serra da Estrela. Não é tão conhecida como a outra, mas é muito bonita. As estradas, por vezes são perigosas, mas a paisagem é impressionante. Tem alguma população e umas quantas pequenas aldeias espalhadas pelos montes. Regressamos a Arganil (muito conhecida por se celebrar ali um Rally todos os anos) e de ali a Avô para percorrer uma estrada que rodeia a serra da Estrela pela parte sul. Passa por Alvoco das Várzeas, Vise, Teixeira e tem uma óptima vista. É uma estrada em grande altitude, e por isso, à nossa direita, temos uma paisagem a perder de vista. Daqui vemos vários incêndios, que tristemente, são muito frequentes durante o verão. Tenho visto vários muito perto e é realmente triste ver a Serra pintada de preto e com cheiro a queimado. Na minha primeira viagem à Se­

NESTA ÁREA temos uma paisagem de árvores e montanhas de baixa altitude. A estrada tem muitas curvas, mas são suaves e divertidas para a condução

Torre. É um dos principais centros de produção de lanifícios da Europa. Há uma importante indústria de lã e de produtos derivados das ovelhas. Também tem a Universidade da Beira Interior. O centro histórico é interessante e a igreja de Sta. Maria, que fica numa encosta, é muito engraçada porque foi coberta de azulejos nos anos 40. Outro percurso poderia ser ir desde a Covilhã até ao Tortosendo e Unhais da Serra. É uma estrada muito isolada, perfeita para ir de mota.

rra da Estrela, lembro-me de atravessar uma nuvem de fumo e cinzas às cinco horas da tarde, em agosto, e ter de acender as luzes. Depois de Teixeira, apanhamos uma estrada (esta não REFORMAS cons­ta no meu ma­ Y pa) que nos leva ao LIMPIEZAS Pico da Torre outra vez. Desde ali, tomamos a estrada que vai para a Covilhã. Há uma distância de cerca de 20 km. É uma descida contínua e o desnível é de 1.600 m. Os últimos quilómetros, os mais próximos da Covilhã, são os mais complicados para a condução, porque a estrada é muito in­­ clinada e perto da Covilhã há umas curvas verdadeiramente perigosas. Chegamos à Covilhã. É a cidade mais importante da Serra, e a mais próxima da

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RITUALES

Ritos festivos com máscara no nordeste transmontano

Mascarados de Bragança CICLO DOS DOZE DIAS PERSONAGENS

ANTÓNIO A. PINELO TIZA Presidente Academia Ibérica da Máscara O Inverno no Nordeste Transmontano compreende dois períodos festivos fundamentais: o primeiro é o ‘ciclo dos doze dias’, compreendido entre o Natal e a Epifania; o segundo, mais curto, é o Carnaval, tendo o seu início no sábado para terminar na Quarta-feira de Cinzas. No primeiro momento, acontecem as festas do Natal ou festas dos rapazes; estas são de origem pagã, celebrando-se à margem do Nascimento de Cristo; as festas de Santo Estêvão que correspondem às dos rapazes; as do Ano Novo e dos Reis, também protagonizadas pelos jovens. No segundo momento, celebram-se os rituais de Carnaval, considerando-se apenas os que preservam o seu cunho tradicional. A máscara é um elemento imprescindível à celebração destes rituais mágicos. Por consequência, o mascarado assume aqui um papel central. É, portanto, o seu protagonista, o celebrante, o ente que executa os ritos de ligação entre os vivos e os mortos, entre o homem e a divindade, por meio de rituais profilácticos e propiciatórios. As antigas sociedades secretas masculinas usavam-nas nos seus ritos de iniciação e os povos arcaicos nos ritos de passagem e de puberdade, pelos quais os jovens passavam a ter acesso à sexualidade e a integrar a sociedade dos adultos. Tratando-se de ritos de culto agrário, a sua simbologia está directamente conotada com a fertilidade na natureza e com a necessária expurgação da comunidade, por meio da crítica social, para a entrada no novo ciclo agrário. 30

LOCALIDADES

FESTAS

DATAS

Cidões

Festa da Cabra e do Canhoto

31 Outubro

Aveleda Varge Baçal Parada de Infanções Grijó de Parada Salsas Rebordainhos Torre de Dona Chama Rebordelo Vale das Fontes Rebordãos

Festa dos Rapazes Festa dos Rapazes Festa dos Rapazes Festa de S. Estêvão Festa de S. Estêvão Festa dos Reis Festa dos Reis Festa de S. Estêvão Festa de S. Estêvão Festa de S. Estêvão Festa de S. Estêvão

25 e 26 Dezembro 25 e 26 Dezembro 5 e 6 de Janeiro (+/-) 26 a 30 Dezembro 26 e 27 Dezembro 1 a 6 de Janeiro 6 de Janeiro 25 e 26 Dezembro 26 de Dezembro 31 Dez. e 1 Janeiro 26 Dezembro

Rio de Onor

Festa dos Reis

6 Janeiro (+/-)

Máscaros Ousilhão Máscaras e Reis Rebordelo

Festa de S. Estêvão Festa de S. Estêvão

25 e 26 Dezembro 26 de Dezembro

Carocho e “Belha” “Belha”, “Bailador” e “Bailadeira”

Constantim

Festa de S. João Evangelista

27 e 28 Dezembro

Vila Chã de Braciosa

Festa do Ano Novo

1 de Janeiro

Chocalheiro

Bemposta

Festa de S. Estêvão Festa do Menino

26 de Dezembro 1 de Janeiro

Farandulo, Sécia, Moço e Mordomo

Festa do Santo Menino

1 de Janeiro

“Belho”

Vale de Porco

Natal Ano Novo

25 de Dezembro 1 de Janeiro

“Os Belhos” Bruçó Soldado e Sécia

Natal (festa dos “Velhos”)

25 de Dezembro

“Belho” e Galdrapa, Bailador e Bailadeira

Festa de Santa Luzia (festa da “Belha”)

13 de Dezembro

Diabo

Caretos

Caretas Caretos e Filandorra

São Pedro da Silva

CICLO DO CARNAVAL PERSONAGENS

LOCALIDADE

FESTAS

DATAS

Caretos

Podence

Carnaval

Domingo e Terça-feira de Carnaval

Máscaros

Vila Boa de Ousilhão

Carnaval

Terça-feira de Carnaval

Entrudo (família), touros, vacas.

Santulhão

Carnaval

Terça-feira de Carnaval

Fachuqueiros

Freixo de Espada à Cinta

Enterro do Entrudo

Terça-feira de Carnaval (à noite)

Caretos e senhorinhas

Lazarim

Carnaval

Terça-feira de Carnaval

Morte e Diabos

Vinhais

Dia da Morte

Quarta-feira de Cinzas

Bragança

Quarta-feira de Cinzas

Quarta-feira de Cinzas

Morte, Diabo e Censura


Presente y futuro de las Mascaradas de invierno

IBÉRICOS BERNARDO CALVO Especialista Mascaradas de Invierno La evolución social y económica de la segunda mitad del siglo XX dio un vuelco a la configuración de nuestra sociedad. El desarrollo industrial de las grandes ciudades y de Europa, con hambre de mano de obra, va a llamar a las puertas de la sociedad rural. El efecto fue inmediato; en los años sesenta del pasado siglo, la mayor parte de los pueblos pierde entre un treinta y un cuarenta por ciento de su población, dependiendo de las zonas. Este componente emigrante está constituido en su mayor parte por gente joven. Las consecuencias para las mascaradas no se hacen esperar: la carencia de mozos provoca la desaparición de

muchas mascaradas, el que se interrumpa la celebración de muchas de las actuales, a lo que hay que añadir el decaimiento de todas las demás. Pero sus consecuencias se mantienen en nuestros días: al no haber gente joven, disminuye la natalidad, envejece la población y los mozos, que habían sido los organizadores y protagonistas de las mascaradas en los pueblos que las mantuvieron, han ido desapareciendo. Hoy podemos afirmar con rotundidad que la gran amenaza sobre las mascaradas aún existentes es la falta de juventud, por lo que han quedado la mayor parte de ellas en manos de Asociaciones Culturales, con pocos medios, cuando no dependiendo de altruistas personas particulares. De

precario y preocupante puede considerarse su futuro. Este oscuro presente sólo tiene visos de futuro si asumen su organización y mantenimiento las Corporaciones Locales o las Diputaciones. La gran solución sería proteger todas estas mascaradas de forma global, al amparo del artículo 62.1 de la Ley 12/2002, de 11 de julio, de Patrimonio Cultural de Castilla y León, como manifestaciones culturales, que, “por sus valores, sirven como testimonio y fuente de conocimiento de la Historia y de la civilización”, con lo cual todas ellas quedarían protegidas, además de garantizar su difusión. Y el gran sueño -en el que ya estamos trabajando- sería la declaración para todas de Patrimonio Inmaterial de la Humanidad.

Mascaradas existentes en el oeste de Castilla y León MASCARADA

LOCALIDAD

PROVINCIA

FECHA

“El Antruejo” “El Apostolado” “El Antruejo” “Corpus Christi” “La Zafarronada” “Los Toros” “El Antruejo” “Los Cencerrones” “La Vaca Bayona” “La Vaca Bayona” “La Filandorra” “El Zangarrón” “La Vaquilla” “La Vaca Antrueja” “La Obisparra” “El Tafarrón” “Los Carochos” “La Talanqueira” o “Visparra” “El Atenazador” “El Zangarrón” “Los Diablos” “El Birria” “Los Carnavales” “El Pajarico y el Caballico” “La Bufa”

Alija del Infantado Laguna de Negrillos Llamas de la Ribera Pobladura de Pelayo García Riello Sardonedo” Velilla de la Reina Abejera Almeida de Sayago Carbellino de Sayago Ferreras de Arriba Montamarta Palacios del Pan Pereruela Pobladura de Aliste Pozuelo de Tábara Riofrío de Aliste San Martín de Castañeda San Vicente de la Cabeza Sanzoles Sarracín de Aliste Tábara Villanueva de Valrojo Villarino tras la Sierra Aldeadávila de la Ribera

León León León León León León León Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Zamora Salamanca

Sábado de Carnaval Corpus Christi Domingo de Carnaval Corpus Christi Sábado de Carnaval Domingo de Carnaval Domingo de Carnaval 1 de enero Domingo de Carnaval Sábado de Carnaval 26 de diciembre 1 y 6 de enero Domingo de Carnaval Domingo de Carnaval 15 de agosto 26 de diciembre 1 de enero 5 de enero 11 de agosto 26 de diciembre 1 de enero Lunes de Pascua Domingo-Martes de Carnaval 26 de diciembre Sábado más próximo a San Antón. 31


ARQUITECTURA PORTUGUESA

uma língua singular MANUEL ALFONSO DOMÍNGUEZ Falar da arquitetura portuguesa, ou melhor, falar da Escola do Porto (aquela que, contra a vontade dos seus colegas de Lisboa, obteve maior reconhecimento além fronteiras), é falar de singularidade e também de mistura. Não se podem explicar nem definir estes termos sem explicar previamente o funcionamento desta Escola do Porto, na qual professores e alunos tradicionalmente trabalhavam como um antigo grémio e cooperavam de tal maneira que o aluno “ajudava” o professor e que, anos mais tarde, voltava para ser ele mesmo professor de outros discípulos. Assim o foi Fernando Távora de Álvaro Siza e este, por sua vez, de Eduardo Souto de Moura. É por esta razão que a arquitetura desta Escola seguiu uma linha mais ou menos identificável que se caracterizou por uma mistura de duas correntes que a tornaram tão especial: por um lado, a racionalidade do movimento moderno de Le Corbusier e o “menos é mais” de Mies Van der Rohe (que, tal como em Espanha, a hermética ditadura provocou que aparecessem tardiamente com respeito ao resto da Europa), isto é, o não disfarçar as coisas daquilo que elas não são; e, por outro lado, o respeito pela própria história e materiais portugueses com uma clara influência da arquitetura vernácula do país, procurando a mimetização com o meio circundante embora se destaque dele pela sua sobriedade. Poder-se-ia dizer que este caráter dual de dita arquitetura é o resultado quase direto do próprio caráter português, por um lado um tanto fechado (daí o respeito pela sua própria história edificadora) e, por outro lado, a ansiada e pacífica abertura conseguida após o 25 de abril (que abriu a arquitetura e o país à Europa). O máximo expoente desta arquitetura é, sem dúvida, Álvaro Siza, vencedor do prestigioso prémio Pritzker (que se poderia definir como uma espécie de Nobel da arquitetura) em 1992. O estilo definido anteriormente aparece ao máximo nas suas obras. Não obstante, e como seria de esperar, a arquitetura, tal como tudo, continua a evoluir em Portugal. Prova disso é a obra de Souto de Moura (reconhecida também o ano passado com o Pritzker), que opta por um estilo ainda mais minimalista e miesiano afastando-se da arquitetura vernácula portuguesa. A obtenção do Pritzker por parte deste grande arquiteto apenas veio comprovar aquilo que, já dez anos antes, tinha sido demonstrado pelo facto de o ter ganho Siza: que este estilo tão marcadamente português de fazer arquitetura moderna mas com raízes, foi, e continua a ser, admirado e aclamado para além das suas fronteiras. O mencionado estilo continua vivo hoje em dia com estes e outros arquitetos mais jovens, como, por exemplo, Aires Mateus (da Escola de Lisboa) e continuará vivo até que a atual crise económica faça com que todos os novos representantes destas escolas tenham que emigrar (sobretudo para o Brasil), o que, tristemente, não tardará a acontecer se a situa\ao atual se mantiver. Esperemos que, estejam onde estiverem, não percam o seu estilo e a sua identidade portuguesa. 32


La expresión Tacolavrões es la unión de dos términos: “tacos” y “palavrões” (en portugués). Ambos designan las llamadas palabras malsonantes en las dos culturas, la portuguesa y la española.

Tacolavrões MAFALDA GOUVEIA La realidad es que estas palabras mal sonantes son vistas de manera muy distinta dependiendo de donde vivamos. Si en España soltar un taco casi no hace daño a nadie, en portugués las cosas son distintas, y el hecho de soltar un taco puede realmente traer problemas a quien lo dice. Los españoles son el pueblo con mucha capacidad imaginativa a la hora de inventar palabrotas. Y la verdad, es que también es conocida su cultura por eso mismo. Es frecuente que cuando se habla de España, por ejemplo aquí en Portugal, alguien suelte una broma diciendo “coño” a diestro o siniestro. No lo hacemos con mala intención, no tenemos nada contra los españoles. Lo que pasa es que en Portugal soltar un taco es considerado de mal gusto y no aceptado socialmente en casi ningún contexto. Con esto no quiero decir que los portugueses no digan tacos, porque sí los dicen. Pero lo que no es normal es, por ejemplo, ver a un amigo y saludarle diciendo: Hola, cabrón, ¿cómo estás? En Portugal una situación como esta causaría graves daños a la persona que hiciera la pregunta. La palabra “cabrón” en portugués tiene un sentido muy, muy peyorativo y es usada solo para insultar a alguien. Así pronunciarla en cualquier contexto resulta muy extraño a los hablantes de portugués. Los jóvenes sí que dicen muchos tacos en Portugal, pero entre su grupo de amigos. En ningún caso un joven osaría decir una palabrota delante de un profesor, de una persona mayor o de sus padres. Desde pequeños, somos educados por nuestros padres para no decir nunca palabrotas y si las decimos, nuestra madre dice que nos pone picante en la lengua como forma de castigo, o que nos lavará la boca con una fregona. Claro que en la gran mayoría de los casos las madres no nos hacen esto, pero la verdad es que es una forma de meternos miedo, y evitar que digamos palabrotas, por lo menos, delante de ellos. Cuando un portugués va a España y se queda por allí algún tiempo, le sorprende la gran cantidad de tacos que sueltan. Se estima que, por término medio, en una conversación entre españoles se dicen entre quince y veinte palabrotas. Generalmente, en estas conversaciones, los tacos no tienen destinatario, o sea,

Karol Fernández karalman@hotmail.com

no tienen como objetivo insultar a nadie. En España, al revés de Portugal, un insulto es diferente de un taco. La pa- labrota que más se oye en España, me parece que es “joder”. En portugués hay precisamente una palabra que suele ser la equivalente a esta, aunque me la reservo. El lector puede buscarla, no resultará difícil encontrarla, pero, claro, no la decimos pues no es algo, como ya he dicho, aceptado socialmente. Además, quien la dice, generalmente suele estar muy enfadado y no la utiliza únicamente como manera de enfatizar su conversación. Otra cosa que a los portugueses tampoco nos gusta es la costumbre de los españoles de soltar tacos relacionados con la religión. Nosotros nos quedamos perplejos cuando oímos la expresión me cago en Dios. Pensamos que los españoles no tienen respeto a Dios o a las cosas de la religión. Por suerte, cada vez más los portugueses tienen conocimiento de lo que pasa en el país vecino y algunos ya se ríen y no ponen mala cara. Ya no se lo toman tal mal como hace unos años. Si las relaciones entre Portugal y España se siguen manteniendo cada vez más cercanas, los portugueses no pensarán que los españoles son unos guarros, y, por su parte, los españoles no considerarán que en Portugal la vida se resume en un triste fado. 33


VIVIR EN LA RAYA

Peñas y fiesta en VilarFormoso SÍLVIA CARIANO En agosto, VilarFormoso se llena de la vida que, sin duda, le quitó la desaparición de las fronteras. Puerta de entrada de extranjeros y portugueses que trabajan en otros países y vuelven a casa en verano, esta que fue tierra próspera y de negocio, ha quedado en brazos de la desertificación y pérdida de muchas empresas. De todos modos, en ese mes de romerías y bailes entran también las populares fiestas de verano, llenándose de forasteros e hijos de la tierra que allí se juntan para celebrar las Fiestas en honor a Nuestra Señora de la Paz. De unos años a esta parte, las peñas van desempeñando un papel fundamental en la organización y divulgación de esta conmemoración. Influidas por las tradiciones de sus vecinos del otro lado de la raya, los grupos se han multiplicado y asumen la función de animadores de un interior olvidado y abandonado. Son ya cerca de 20 y han rehabilitado una zona que había caído en el olvido: la Estación. Cada peña es, por lo tanto, un grupo de amigos que se reúne con el objetivo de confraternizar y que, dada la proximidad con España, ha tomado prestada la designación.

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Además de sus propios estatutos, himnos o palabras de orden, cada peña tiene igualmente un traje y una sede que, durante las fiestas, se abre a todos los que quieran entrar. Los trajes son, en la mayoría de los casos, una camiseta del color asociado a la peña y con el nombre del grupo, pero también hay los que incluyen sombrero: el de las “Raianas” (peña exclusiva de mujeres) que visten camiseta blanca, vaqueros y sombrero negro. La peña “Lenço Encarnado” (“Pañuelo rojo”) ¡se viste a lo pamplonica! Las casas fueron, y siguen siendo, recuperadas con el objetivo de tener un espacio propio y restituir dignidad y vida a aquella parte del pueblo. Allí se recibe a los visitantes: amigos, conocidos y curiosos que quieran formar parte de esta fiesta popular. La comida y bebida consumida es costeada por las peñas que también preparan un desfile nocturno y una corrida de toros. De hecho, en estas tierras fronterizas, agosto es el mes de encierros y corridas, costumbres compartidas con el otro lado de la raya, por lo que, la tradición cada vez más afamada y enraizada de las peñas, no es la única que demuestra la comunión cultural entre los dos países. Hay peñas solo de hombres, solo de mujeres, mixtas, de gente más joven o mayor pero en común tie-

nen el amor al pueblo, las ganas de pasarlo bien y contribuir para que la fiesta sea mejor que la del año anterior, que en su casa se reciba mejor que en la de al lado, que su sangría sea la premiada… En efecto, se realiza también un concurso de sangría que sirve para calentar un poquito más las rivalidades, amistosas, entre las diferentes peñas. De entre las más conocidas están: Clã Cepa Torta, Lenço Encarnado, Barriguinhas, ArrebolaKaixotes, Raianas, Colete Encarnado, Apanha o Grau… En el desfile nocturno, las semejanzas con un Carnaval, fuera de su tiempo, son muchas porque cada peña se disfraza interpretando un tema: que no es común para todos sino que se incardina con la decisión de cada grupo. Ese desfile tiene lugar en un campo de deportes al aire libre que, por una noche, recibe grupos divertidos que atraen a tanta gente que no son suficientes las plazas disponibles para asistir cómodamente. Tampoco se cobra entrada y la gente se va sentando en el suelo dejando únicamente espacio para que los disfrazados animen el recinto. Las peñas son también responsables en la organización de la procesión y misa que da nombre a las Fiestas.


Corazón de Roble. Viaje por el Duero desde Urbión a Oporto ERNESTO ESCAPA 2011.Editorial: Gadir. 468 páginas. 21,50 euros

Es una obra que recorre la historia y la vida del río Duero, «corazón de Iberia». En Corazón de roble asistimos a muchos recorridos en uno: un recorrido por la historia de Castilla a través de la arquitectura, el arte, y las ruinas ribereñas; un recorrido por la naturaleza que moldea el río; un recorrido por sus pueblos, sus gentes y sus libros. Vemos desfilar por estas páginas vestigios prerromanos y huellas de Roma; el románico que puebla las orillas del río; los monasterios del císter y los efectos de la desamortización; recorremos las ruinas que trajo consigo el abandono de iglesias y monasterios, dando paso a una belleza melancólica. Abundan las citas literarias, que acompañan al lector como una cadencia: Cervantes, Machado, Unamuno, Gerardo Diego, Delibes, Alberti, Saramago, Miguel Torga y tantos otros que glosaron el Duero.

m a r c a p á g i n a s

La máquina de hacer españoles VALTER HUGO MÃE 2012. Editorial: Alfaguara. 266 páginas. 18,50 euros

Esta é a história de quem, no momento mais árido da vida, se surpreende com a manifestação ainda de uma alegria. Uma alegria complexa, até difícil de aceitar, mas que comprova a validade do ser humano até ao seu último segundo. a máquina de fazer espanhóis é uma aventura irónica, trágica e divertida, pela madura idade, que será uma maturidade diferente, um estádio de conhecimento outro no qual o indivíduo se repensa para reincidir ou mudar. O que mudará na vida de antónio silva, com oitenta e quatro anos, no dia em que violentamente o seu mundo se transforma? valter hugo mãe nasceu em Saurimo, Angola, no ano de 1971. Licenciado em Direito, pós-graduado em Literatura Portuguesa Moderna e Contemporânea. Vive em Vila do Conde. Publicou três romances: o apocalipse dos trabalhadores (2008), o remorso de Baltazar serapião, Prémio José Saramago (2006) e o nosso reino (2004). A sua obra poética está revista e reunida no volume folclore íntimo (2008). valter hugo mãe é vocalista do grupo musical Governo (www.myspace.com/ogoverno) e esporadicamente dedica-se às artes plásticas

R&R Restaurantes de la Raya JOSÉ RAMÓN ALONSO DE LA TORRE Y ESPERANZA RUBIO 2009. Editorial: De la luna libros. 308 páginas. 24 euros

R&R es una guía detallada de los más interesantes restaurantes portugueses próximos a la frontera española. Se analizan a fondo los 60 imprescindibles y se comentan 195 petisquerías, adegas y casas de pasto que merece la pena visitar. Se aportan fichas detalladas de cada local y más de 300 fotografías inéditas realizadas in situ. Los autores, que visitaron de incógnito todos los locales, hacen un comentario crítico y exigente de cada uno e informan de los platos principales, con sus precios de la carta y de detalles importantes que no siempre se tienen en cuenta en las guías: ruidos, olores, asientos, espacio, iluminación, mantelería, cristalería...

C/ Cañada de la Nava Nº 7 Local B 47140 Laguna de Duero (Valladolid) Tlfno.: 983 663 183 35


FÚTBOL SALA FEMENINO. LA LIGA NACIONAL ESPAÑOLA, UNA ILUSIÓN PORTUGUESA

Nacidas para competir SONIA CAPELA tenga apoyos de la federación, o sea, La ilusión es grande y nos lleva le- todos los equipos de la geografía najos si realmente existen apoyos que cional, saben que no podrán pasar de hagan ver que en realidad existimos la competición de los distritos. Peor y que muchas podemos hacerle fren- se presentan aún las cosas en la copa te a los hombres que se creen juga- nacional. Esto quiere decir que la dedores. En España la llaman Primera portista portuguesa que quiere pracDivisión o División de Honor de Fút- ticar este deporte tiene que tener una bol Sala Femenino y ni hablar de la gran fuerza de voluntad y esfuerzos Segunda División que está distribuida económicos propios para soñar en por el país en cuatro grupos. Depor- “competir”, para pasar algún tiempo tistas de prestigio, que viven de lo haciendo lo que más le gusta. que ganan como profesionales y que Quien llega a la copa nacional es su vida se resume en eso: entrena- porque tiene padrinos que le ayuda. miento por la mañana, por la tarde y Este puñado de equipos afortunacompetición los fines de semana. dos existen y no les quito su valor. La Algo que en el día a día portugués mayoría de las vencedoras de cada solo existe para los hombres, profe- distrito (el ejemplo de las provincias) sionales del balón solo ellos lo pue- vienen compitiendo desde hace años den ser, o por lo menos esa es la idea y muchas de ellas cumplen sus objeque aquí algunos tienen. En Portugal, tivos de manera extraordinaria: entrela distribución de la competición se nan tres veces por semana, juegan un encuentra dentro de los distritos, que partido e invierten en esta actividad después de unos meses se contentan 13 horas. Mucho tiempo dedicado al con ser vencedoras de los mismos. deporte al cabo de un mes, teniendo Una organización del torneo en cier- en cuenta que trabajan ocho horas ta forma muy primitiva, aunque Por- por día y que de ahí reciben sus salatugal no sea tan grande como su país hermano, tiene aún así bases para servirse de la competición profesional que España se complace en tener. Más fácil de entender es explicar cómo es la distribución en España. Comienza por los equipos que existen en cada provincia que durante unos seis-siete meses compiten unos contra otros. El equipo vencedor provincial juega la copa nacional contra el resto de las otras provincias. En estos enfrentamientos, pasarían otros tres-cuatro meses de competición que conduciría al vencedor nacional. Mientras que en la realidad española unas decenas de equipos se juegan la vida para subir de categoría y tener aliento para seguir compitiendo, ya que trabajando tendrán seguramente éxito, aquí en Portugal quien no Ateneo Combarro y Saavedra Guedes 36

rios. Hacen deporte por puro placer. Ateneo Combarro, conocido en la ciudad con el nombre de Poio Fútbol Sala, compite en el grupo IV de la División de Plata (Segunda División). Tiene en su plantilla dos profesionales portuguesas, que en el año pasado eran apenas jugadoras de futsal. Cátia Morgado, nunca despertó el interés de la liga española, tuvo que competir en el Europeo Universitario en Finlandia y traerse la medalla de plata y el premio de pertenecer al quinteto ideal de inicio para que le fuese reconocido su talento y cumplir el sueño de ser profesional. Jugó en la Selección Nacional Portuguesa porque ya fue campeona distrital de Castelo Branco, durante tres años, y campeona nacional universitaria por la Universidad da Beira Interior (AAUBI). Lo mismo sucede con Daniela Ribeiro, campeona distrital de Oporto también a lo largo de tres años, campeona de la tan deseada copa nacional, ganadora universitaria dos veces con el Instituto Superior de la Maia (ISMAI), y, finalmente, llamada por la selección portuguesa. Pero estudiando, trabajando, ¿cómo pueden dedicarle tiempo suficiente a su gran pasión, si las veinticuatro horas del día no les llegan? Este año fueron llamadas a formar parte de la plantilla del Club de la ciudad de Poio. Se sienten motivadas porque su tiempo lo dedican a aquello que más les gusta y lo más importante, a aquello que ellas saben hacer muy bien: Cátia, como la constructora y atacante, Daniela, como la gran defensora de la portería. Felices, pero en cierta forma infelices, porque ven que en su país juegan en los mejores equipos nacionales pero su trabajo solo es reconocido en el extranjero. ¿De quién es la incompetencia? ¿De la Federación?


No decorrer da história da Liga Espanhola, muitos foram os jogadores portugueses que deixaram a sua terra/cidade, para ir para outro lado da Península Ibérica. Nos últimos anos, foram vários os jogadores espanhóis que viram na Liga dos nossos “vizinhos”, um lugar para demonstrar o seu futebol.

Os portugueses gostam da Liga Espanhola NATALIA FERNÁNDEZ A Liga Espanhola gosta dos portugueses. Assim dizem os dados históricos da nossa Liga. Jogadores como Figo, Simão, Futre… souberam brilhar e evoluir com o apoio da seleção. Atualmente, o Real Madrid é a equipa que conta com mais jogadores portugueses, para além do seu treinador. Equipas como o Atlético de Madrid, o Valência, o Zaragoza, o Granada, o Bétis, contam também com “lusos”, defendendo as suas devidas camisolas. Nas últimas convocatórias da seleção portuguesa, Paulo Bento, treinador da equipa, levou consigo oito jogadores, os quais, atualmente, vivem em Espanha: Rúben Micael, Hélder Postiga, Nélson, Ricardo Costa, Martins, Pepe, Cristiano Ronaldo e, por fim, Coentrão. Estes oito elementos fizeram parte da última convocação, para os jogos de Março. Outro jogador, também ele com

bastante potencialidade, do ponto de vista do treinador, embora esteja lesado, é Sílvio. Quantos jogadores irão, então, à Europa, este Verão? Ainda assim, contamos com Cristiano Ronaldo, na nossa Liga, considerado uma referência a nível mundial, superado, unicamente, por Leonel Messi, na última medalha de Ouro. Outro aspecto a ter em conta, diz respeito ao número de jogadores que falam português, incluindo os jogadores brasileiros que decidiram vir para o nosso país. A língua portuguesa é também um destino para os espanhóis. No início desta temporada, registou um recorde, jamais alcançado em número de transferências de jogadores espanhóis num mesmo verão: oito contratações. Para além disso, contam com a presença de uma referência mundial : Joan Capdevila. O Sporting e o Benfica assumemme como duas equipas com “pais” espanhóis.

Duas estrelas portuguesas na Liga Espanhola A primeira, refere-se a um jogador português, de 27 anos, desempenhando a sua profissão, atualmente no Real Madrid, desde a temporada de 2009/2010, quando foi feita a contratação mais cara da história do futebol, pela equipa espanhola. Recebeu a medalha de ouro, em 2008, tal como mais duas medalhas, para além de um troféu Pichichi na temporada passada. Estes são alguns dos seus galardões individuais mais importantes. Na Liga Espanhola conta com uma despensa, na temporada pa­­ssada, ganhando, posteriormente, ao seu maior rival, o Real Madrid, existindo um único golo, cuja autoria lhe dizia respeito. A segunda referência, diz respeito ao treinador do Real Madrid, desde a época passada. Dirigiu equipas de toda a Europa, como as equipas portugueses, Por­to e Benfica, uma equipa inglesa, ou se­ja, o Chelsea, e, por fim, uma equipa italiana, o Inter de Milão. Em todas conseguiu alcançar gran­des troféus, conseguindo fazer campeão, nomes co­mo Porto, Chelsea e Inter de Milão. Para além disso, ganhou também duas Ligas dos Campeões. Tal como aconteceu com Cristiano Ronaldo, o seu primeiro troféu em Espanha foi também a Copa do Rei com o Real Madrid.

Fotos Diario Marca

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Zen ibérico Portugal está feito de cortiça e cerâmica. Em outros países podem surgir dúvidas, mas não em Portugal. Isto acontece em todas as escalas, desde a geografia até ao objecto mais pequeno no armário de uma casa.

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AIDA GARCÍA PINILLOS Seus solos são ricos em argilas e em seus férteis terras alçam-se enormes sobreiros… o português toma o que tem ao à sua volta e fabrica uma casa. Por isso as suas paredes estão forradas de azulejos e os seus objectos quotidianos têm cortiça em muitos casos. Empregar os materiais autóctonos é a maneira tradicional de resolver um problema de desenho, não obstante, hoje em dia é muito fácil aceder a materiais a nós alheios, exóticos, etc. Isto não tem porque implicar piores resultados, mas sim dilui a personalidade do trabalho obtido. O carácter humilde e melancólico dos portugueses levaram a uma simbiose idónea para o desenho: a ausência de pretensões e a preservar a tradição. Os seus produtos têm um selo próprio que pode ver-se a golpe de olho. E é que o desenho português se caracteriza por não ter tendências nem tratar de seduzir o consumidor. Alem disso, o emprego de dois materiais tão ligados à terra fazem dos seus trabalhos algo muito evocador para os sentidos. Actualmente a sua produção é um híbrido entre a indústria e o artesanato, pelo que seus produtos, apesar de serem em muitos casos produzidos em grande escala, seguem tendo o encanto do manual. E é bem como produzem desde bules até cadernos, passando por joalharia, móveis, roupa… A melhor prova para verificar este discurso são as obras. susceptíveis de serem vistas, tocadas e cheiradas. Ao falar de cerâmica não é raro que nossa mente vá directamente aos famosos azulejos já mencionados. Quanto à cortiça, parece que só se emprega para tapar garrafas. … mas não só de vinho vive o homem - e tendo em conta o recente aparecimento de derivados plásticos, em dito mercado, menos ainda.

Alguns exemplos desta linha de trabalho, que poderíamos qualificar como zen ibério, são os desenhos de Daniel Caramelo, conhecido por seu boneco de budú feito em cortiça, ou seu saca-rolhas de cortiça, valha a redundância. Alzira Peixoto e Carlos Mendoça aproveitam a ligereza da cortiça para pendurá-lo do tecto e fazer belos lustres. Mas cortiça e cerâmica não só se apresentam de maneira individual. Alguns desenhadores trabalham com ambas técnicas, obtendo desenhos com a dureza da cerâmica e o calor da cortiça. Fernando Brizio é uma prova disso, contando a suas costas com desenhos que vão desde tamburetes em cortiça (Senta) até aos clássicos jarrões. Sempre com o seu toque pessoal. Outros expoentes do uso cortiçacerâmica, são Alzira Peixoto e Carlos Mendoça, de novo, mas eles misturam ambos materiais no mesmo objecto. O resultado: um recipiente para manter o vinho fresco. Mas provavelmente o máximo representante desta união, hoje em dia, talvez seja Alma Gemea. Esta jovem companhia oferece jogos de chá e menaje que já foram exportados para muitos países. Foram descobertos no festival “Experimenta Design”, que a cada 2 anos reúne jovens desenhadores portugueses em Lisboa. Este encontro, que costuma decorrer entre setembro e novembro expande-se por toda a cidade, com diferentes sedes de exposição e compra-venda e é uma porta de projecção muito importante para o mercado. O evento é realmente atractivo tanto para desenhadores como para “não iniciados”. ¿E porqué? ¿Que têm os objectos que tanto nos atrai? Talvez seja porque todos os utilizamos para nos identificar. Talvez não. Quem sabe.


Somos vizinhos, mas alimentamo-nos de maneira diferente. Apesar de existirem muitas semelhanças, e já que os alimentos que dispomos para cozinhar são praticamente os mesmos, também são muitas as diferenças gastronómicas que podemos destacar.

Maricruz Díez León mdiezleon@gmail.com

Comemos diferente NOELIA TODOLÍ NÚÑEZ À hora de cozinhar, portugueses e espanhóis usam especiarias diferentes, em Portugal é habitual o uso das ervas finas e plantas aromáticas enquanto que em Espanha usam-se mais as denominadas “espécies fortes”. Os quatro pilares da alimentação portuguesa são couve, arroz, batata e bacalhau. Come-se o arroz acompanhado de coelho, pato ou perdiz, qualquer um deles assados, com presunto, salada e sumo de limão. Comem sopa de diversas formas destacando o caldo verde típico do Norte. A base da sopa é a couve e a batata, guarnecida com salpicão ou com presunto defumado. A lampreia do Minho é cozinhada com caril; também são clássicas as açordas (sopas de pão seco, isto é,

de pão molhado em azeite e aromatizado com maltrato esmagado), que se ornamentam com hortaliças ou legumes, porco, frango, peixe e inclusivé com caracóis ou com marisco, coentros e com ovos escalfados. Têm uma enorme variedade de preparados de peixe e marisco, destacando o bacalhau como prato estrela. Ainda que em Espanha se coma muito peixe é menos variada a forma como se cozinha. Impõem-se os mariscos e os peixes; raia frita, dourada com legumes, sardinhas e salmonetes assados na grelha, moluscos em escabeche, etc. A caldeirada, semelhante

Surpresas A zona do Porto famosa pelo seu vinho, é também a capital das tripas que se cozinham com feijão branco, salpicão de pimentão vermelho, cebolas e frango, acompanhadas de arroz. Na zona de Coimbra a cozinha é mais sólida, o bife à portuguesa é originário daquela zona (untado com puré passado com pimenta, ornamentado no momento de servi-lo, com rodelas de limão e tiras de presunto assadas e acompanhado de batatas salteadas), ainda que o mais habitual na zona seja a Canja (sopa de aves, temperada com limão e hortelã, e às vezes amêndoa, presunto e rodelas de cebola), ou os pés de porco salgados, acompanhados com tenros grelos de nabo. A cozinha tradicional portuguesa apresenta-nos uma mistura de ingredientes surpreendentes, tal como o porco marinado servido com conchas recheadas de toucinho; ou a caldeirada de frango com enguias, guarnecida com caranguejo de rio; ou o pato assado, acompanhado de presunto e de chouriço, enquanto que na cataplana (espécie de sertã funda provida com tampa) cozem-se em fogo lento pimentos e cebolas, presunto defumado, salchichas, amêijoas e ostras, tomates e salsa.

à galega é uma clara expressão desta cozinha marinheira. A caldeirada de Aveiro associa peixes de água doce e peixes de água salgada juntamente com amêijoas, mexilhões e cenouras, tudo isso temperado com coentros. Em especial o bacalhau que se pode confeccionar de mais de mil e uma formas diferentes, como por exemplo, bolinhos de bacalhau (temperados com coentros, hortelã e salsa), fritos e servidos com ovos escalfados; escalfado e desfiado, adornado com mexilhões (cozidos em vinho) e com tomate, cozido depois no forno lentamente, sobre uma cama de cebolas e batatas, e enfeitado com azeitonas pretas e pedaços de ovos cozidos. Tanto em Espanha como em Portugal dispomos de uma importante diversidade de charcutaria e são dignos de destaque os seus queijos quase sempre frescos (Azeitão, Serra, Évora). Em matéria de sobremesas, em Portugal, há uma verdadeira devoção por elas. São generosamente açucaradas. Pode-se encontrar o pudim flan (cremoso, espesso e rico em ovos), o arroz com leite ou arroz doce com canela, os marmelos caramelizados no forno e as filhós em calda, bem como o massapão, quanto mais doce melhor, quase sempre à base de ovos. 39


UN DÍA DE NOVATADAS

La vida de estudiante VIRGINIE ANDRADE Como es muy importante para nosotros, universitarios, os voy a describir un día de novatadas. Septiembre, inicio de clases, si eres novato prepárate para un día de payasadas, si no lo eres prepárate para la diversión. Te levantas, te vistes, desayunas corriendo y te vas a la universidad. Las clases o son dinámicas y se te pasan rápidamente, de forma interesante o son aburridísimas y se te hacen muy largas. Terminadas las clases, si eres novato vete preparándote para recorrer toda la ciudad a pie y agarrado de la mano de tus compañeros. Te puedes preparar también para revolcarte por el suelo, correr mucho, saltar, gritar con otras carreras, hablar con perros, hacer velatorios a las hormigas. Después de todo esto, el grupo de no­vatos se reúne en la casa del estudiante veterano, y todos colaboran en la confección del plato más importante para los universitarios: “Pasta con atún”. Para acompañar no podrá faltar vino, sangría (nuestra bebida por excelencia) o cerveza. Si es jueves prepárate para la noche, nosotros salimos los jueves porque los viernes la mayoría de los estudiantes se van a sus casas. Después de cenar, empezamos nuestra ‘excursión’ por todos los cafés, y esto dura toda la noche.

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En Covilhã y en casi todo el país es frecuente hacer novatadas. El objetivo benéfico de las novatadas es la integración de los novatos. Desafortunadamente no siempre los novatos se sienten “integrados”, más bien se sienten humillados.

Lo que acabo de describir es un día de integración sano. No siempre las cosas son así, y cuando este proceso de integración pasa a ser un acto de abuso, descaro y humillación, lo esperado de las víctimas es que hablen, para que se puedan corregir esas situaciones. Este periodo de nuestras vidas, además de divertido, nos hace crecer profesionalmente, pero mucho más importante que eso es que

nos hace crecer como personas. En la UBI (Universidade da Beira Interior) aprendes a divertirte, ayudar a los demás y a que los demás también te ayuden, aprendes a reírte de ti mismo y a ser solidario en las horas buenas y en las horas malas. Ojalá que con estas palabras os haya dado ganas de venir a conocernos y ojalá podamos compartir estos momentos con vosotros.


Guernica, el rojo de la sangre Viaje por algunos episodios de la guerra civil española donde murieron muchas personas FRANCISCO ESGALHADO La guerra civil de España fue una hoja muy negra de la historia de la humanidad en el siglo XX. Españoles luchando contra españoles. Los demócratas se opusieron a una coalición muy fuerte formada por los ejércitos de España, Italia y la aviación alemana Cóndor dirigida por Hitler. Los demócratas españoles fueron ayudados por voluntarios de todo el mundo. De estos grupos hacían parte por un lado, los judíos, para quien la política de Hitler era una amenaza muy grande. Pero también otros grupos políticos se unieron contra la tiranía de Franco y de sus aliados del Eje. Este trabajo es un homenaje a todos aquellos que se unieron para luchar contra la tiranía del régimen franquista así como del régimen nazi. Un homenaje para aquellos que murieron en el campo de batalla, un homenaje para aquellos que nos dejaron en sus relatos la verdad de los hechos. “No pasarán” fue el grito de rebeldía, la protesta de los demócratas que no querían la opresión del Fascismo. Muchos voluntarios de varias nacionalidades lucharon contra el régimen totalitario. Algunos escribieron sobre la guerra civil, otros lucharon en varios frentes de combate como Josip Broz Tito, más tarde primer ministro de Yugoslavia, ejemplo de dictador después; Willy Brandt escribió, como periodista, sobre la Guerra Civil, Pietro Nenni, Ilya Ehrenburg, Pablo Neruda, o Ernest Hemingway que luchó y escribió un libro sobre la guerra civil española. Defensores del régimen totalitario de Franco también participaron en una guerra fratricida que tuvo su comienzo el 18 de Julio de 1936. Desde ese día, Dolores Ibárruri La Pasionaria será recordada porque en uno de sus discursos, en Madrid, utilizó la conocida expresión ¡No pasarán!. También los judíos participaron en esta sangrienta batalla, incluso voluntarios de Palestina – Eretz Israel

que hasta el año 1948 no fue reconocido como país. Lo hicieron porque esta guerra representaba para ellos un primer combate contra los enemigos de su gente. En 1936, el Frente Popular, -pacto electoral firmado en enero de 1936 por Izquierda Republicana, PSOE, PCE, Partido Obrero de Unificación Marxista (POUM)-, y Esquerra Republicana de Catalunya. Este pacto agrupaba a todas las izquierdas. La CNT, con muchos presos en la cárcel, no pidió la abstención y apoyó de forma tácita a la coalición de izquierdas y ganó las elecciones a las Cortes españolas. Los franquistas asesinaron -a gran escala- a muchos sospechosos de pertenecer a fuerzas de izquierdas, rebeldes en sus áreas de dominación, anarquistas y miembros de la extrema izquierda española que llegaron a asesinar a miembros de la Iglesia Católica que se sospechaba que eran miembros de la derecha franquista. El ejército franquista esperaba detener con facilidad a la rebelión popular. Pero el pueblo español se rebeló y obligó al gobierno de Franco a pedir ayuda a António Salazar (Portugal), a Mussolini (Italia) y a Adolfo Hitler (Alemania). La aviación alemana tomó la iniciativa de bombardear Guernica. Los aviones Junker alemanes de la Luftwaffe realizaron un bombardeoalfombra contra la desprotegida villa. La razón del ataque no podía ser la existencia de depósitos de armas, ni cuarteles o tropas, ni objetivos estratégicos ni que la villa fuese un nudo de comunicaciones. Guernica carecía de cualquier importancia militar o estratégica. La vergonzosa razón fue probar, con fuego real, los nuevos aviones y su armamento ante la llegada de la Segunda Guerra Mundial. Para explicar lo inexplicable, Franco en una delirante declaración echó la culpa del ataque a los republicanos que así habrían conseguido una excusa, bombardeando una ciudad de su

zona, para poder acusar a los nacionales de Franco. Ni que decir tiene que este argumento no fue tomado en consideración por nadie. El horror que causó este episodio fue muy alto en la opinión pública internacional, no solo por el sacrificio absurdo de inocentes, sino, sobre todo, por ser la primera vez en la historia que se atacaba desde el aire una ciudad. En poco tiempo, ciudades inglesas, alemanas y japonesas serían borradas del mapa con ese método. El bombardeo de Guernica fue inmortalizado en una pintura magnífica por Pablo Picasso, titulada Guernica. Sobre este episodio, un indignado Unamuno que presidía el acto como rector de la Universidad de Salamanca, que había estado tomando apuntes sin intención de hablar, se puso de pie y pronunció un apasionado discurso: «Estáis esperando mis palabras. Me conocéis bien, y sabéis que soy incapaz de permanecer en silencio. A veces, quedarse callado equivale a mentir, porque el silencio puede ser interpretado como aquiescencia. Quiero hacer algunos comentarios al discurso - por llamarlo de algún modo - del profesor Maldonado, que se encuentra entre nosotros. Se ha hablado aquí de guerra internacional en defensa de la civilización cristiana; yo mismo lo hice otras veces. Pero no, la nuestra es solo una guerra incivil. Vencer no es convencer, y hay que convencer, sobre todo, y no puede convencer el odio que no deja lugar para la compasión. Dejaré de lado la ofensa personal que supone su repentina explosión contra vascos y catalanes llamándolos antiEspaña; pues bien, con la misma razón pueden ellos decir lo mismo. El señor obispo lo quiera o no lo quiera, es catalán, nacido en Barcelona, y aquí está para enseñar la doctrina cristiana que no queréis conocer. Yo mismo, como sabéis, nací en Bilbao y llevo toda mi vida enseñando la lengua española, que no sabéis...» 41


Do mundo incorrigível Dois modelos fabulatórios da literatura portuguesa actual PEDRO SERRA Universidade de Salamanca Modelo Um Aquele que é, indiscutivelmente, um dos momentos álgidos dos últimos anos na república das letras de Portugal – a publicação do livro Caderno de Memórias Coloniais de Isabela Figueiredo –, mostra-nos como a grande literatura continua a ser um ‘acontecimento’. De facto, este volume de pequenas dimensões levou todo o ano a fazer diferença, que é como quem diz, a produzir tempo, tanto na vida como na arte literária em língua portuguesa. Não é de somenos importância o facto de ter, na origem, um conjunto de pequenos textos que a autora, conhecida blogger, foi publicando no weblog ‘O Mundo Perfeito’. Não é de somenos importância, para os anos vindouros, a polémica que gerou, potenciada pela net como tecnologia da expressão e da voz, alimentada depois na imprensa escrita e projectada pelos meios audiovisuais. Não é de somenos importância, enfim, a quase imediata saudação da autora e do volume, nos meios académicos, como sendo uma das realidades mais sólidas da literatura portuguesa actual. Escrita que vive da e na problematização do género autobiográfico, que se situa no afiado gume de todo o exercício de memória individual e colectiva, na literatura de Isabela Figueiredo bate o coração da dor e da beleza. Dor e beleza no âmago da intimidade familiar vivida na década de 60 e princípio de 70 em Lourenço Marques, onde a autora nasceu em 1963: a memória afectiva de uma Filha cujo Pai, electricista branco estabelecido em Moçambique, é tanto a presença sensível sem imagem do amor incondicional, como a figura – a imagem, precisamente – da dominação 42

Níobe Alonso

colonial portuguesa em África no tempo histórico da longa Ditadura. Eis a figura do Pai, que também na materialidade do corpo re-presenta o ‘colonialismo’: “O meu pai vestia uma camisa de algodão fino, muito branca. Lavadinha, passada a ferro com zelo pela minha mãe, apertada demais no botão da barriga, quase a esgarçar. A pele do meu pai, tostada, brilhava de brilho. E os olhos, de brilho. O sorriso do meu pai sorria sozinho. Sem nada mais escondido. À noite chegaria a casa com a camisa negra de nódoas, porque o meu pai tocava e deixava tocar-se pelo pó, pelo carvão, pelas laranjas, por mim. Agora estava impecável. No bolso da camisa notava-se um resto de nódoa a tinta de caneta rebentada. Coisa de nada. Um milímetro. Impecável” (p. 60). O livro, assim, enfrenta-nos de modo brutal – e é brutal, não esqueçamos, a arte maior, o belo incondicional – com o desgarramento da sensibilidade e do sentido inerente à missão que a Filha fez sua: dizer o nome do Pais e fazê-lo em nome do Pai. Ou, de

outro modo, a violência que sobre a palavra, sobre a escrita, exerce o mandato de dizer a verdade. Dizer a terrível verdade do Pai, dizer a terrível verdade do tempo português, e do fim do tempo português, em África. Como apontamento necessariamente breve, gostaria de anotar que este ‘caderno’ nos permite pensar o que seja o ‘político’ na sociedade portuguesa posterior à descolonização em 1975. Assim, a dor doméstica – íntima, familiar – é indiscernível dessa outra domus que é a sociedade portuguesa como comunidade, esse projecto e realidade de vida ‘em comum’ em democracia. Como já foi amplamente lembrado, demos e daemon provêm de uma mesma raíz etimológica: enfim, ‘união’ e ‘desunião’ são presenças irredutíveis na produção do ‘político’ (cf. Esposito). O que, neste sentido, o livro de Isabela Figueiredo nos devolve, é o nó górdio que faz e desfaz a realidade e a promessa da democracia portuguesa pós-25 de Abril e que, ainda hoje, é assolada pela memória do Império colonial. Um colonialismo que se sustentou no objecto dificilmente representável do racismo, com alicates e tenazes que continuam a des-unir a república portuguesa no ano de 2010. É tanto esta dor como a vontade insubornável de beleza que lemos nos Cadernos de Memórias Coloniais de Isabela Figueiredo, autora de uma escrita ‘tocada’ pela impossível língua de uma infância em África. É o ‘ter estado lá’ que detona a arte de contar, a arte da memória: “Vestiamme e calçavam-me de branco, mandavam-me pisar o raio da terra tão negra e húmida que chiava debaixo dos pés, ou tão vermelha que o verniz ou o couro se pintavam de uma aguarela de sangue claro. Não havia forma de poupar o meu corpo às manchas da terra, contudo estava proibida de me


manchar nela. Na minha memória estou sempre vestida de branco, preocupada em não me sujar. O vestido branco que não usei nesse dia é mais clamorosa metáfora da minha vida de pequena colona: uma branca de branco, agarrada à saia que não pode sujar, olhando os sapatos brancos que não pode empoar” (p. 103). A literatura, lemos em Isabela Figueiredo, é um vestido branco que é azul. Modelo Dois A primeira frase d’ “O Porco de Erimanto Ou os perigos da especialização” é também a que clausura este conto de A. M. Pires Cabral: “Não estranhem as lágrimas nos olhos, venho de visitar o pai” (p. 87 e p. 99). A pequena narrativa integra um volume homónimo, onde se reúnem os contos – em rigor, fábulas, modeladas pela burla, o humor negro, o grotesco, o bizarro – “Os degraus da morte”, “O homem que vendeu a cabeça”, “Homens e sombras”, “Catarse”, “As visitas do senhor director”, “Desidério”, “Nunca fiando”, “Senhor da sua morte” e “O tio Florindo ou Os malefícios da poesia”. Como justifica Pires Cabral no antelóquio do conjunto ficcional, o livro agora dado a lume recupera o volume saído das prensas em 1985, nessa oportunidade com o título O Homem que Vendeu a Cabeça. Esta edição, contudo, tem o valor de uma nova obra, pois não apenas os textos foram, nalguns casos, reformulados – com diferentes graus de intervenção –, como também foi o ensejo para introduzir fábulas que não integravam o livro de meados dos anos 80: “Todos estes factores reunidos autorizam – diz-nos o autor – a considerar o presente volume como uma obra independente” (p. 9). Daí, ainda, o título do conjunto dado agora à estampa em 2010, precisamente colhido de uma das novas narrativas. ‘Fábulas’, pois, no sentido de factos imaginados, de histórias de heróis antigos, mas também com a acepção mais específica de narrações em que convive o animal e o homem. O narrador do conto que diz voltar

de uma visita ao pai, regressa da visitação a um porco, o porco em que paulatinamente o progenitor se foi metamorfoseando; assim, como no antigo Esopo, a fábula como género define-se pela presença central que os animais ocupam na narrativa. De facto, não apenas na fábula em causa temos a comunidade com o animal, encarnado por essa figura de um especialista em História da Antiguidade que, perseguindo o conhecimento do mito do ‘javali de Erimanto’ – uma das provas de Hércules, recorde-se –, enredando-se na trama de uma pulsão epistémica cada vez mais ‘especializada’, acaba por cruzar a fronteira que discrimina sujeito e objecto, par estruturante de um acto de conhecer que respeitasse a discreção do binómio. Tornase, ele próprio, um porco, um sus scrofa. O animalário, real ou imaginado, inclui ainda, por exemplo, a ‘aranha’ que o narrador de “Desidério” – autêntica maravilha da arte de contar deste magnífico livro de Pires Cabral – imagina, vê e sente invadir o corpo: “Pode não passar de uma aranha virtual, uma espécie de holograma, um ectoplasma maligno, um simulacro, um bluff contra natura. Quid juris, Leitor amigo?” (p. 177). E, ponto importante, é também a condição do homem como animal e que se define na diferença com os bichos a que podemos integrar no sistema da ‘fábula’. Assim, e como podemos ler nesta passagem, as fábulas encenam amplamente o problema do conhecimento do mundo. Basílio, protagonista d’ “Os degraus da mortes”, é um sujeito mesmerizado pelo que poderíamos chamar o objecto absoluto, um ‘buraco’ na parede do quarto de uma pensão portuense onde vive. No Portugal dos anos 60, enfim, no Portugal do Estado Novo, Basílio persegue a pista de um poeta ge-

nial cuja ‘obra desconhecida’ chega ao seu poder. Vive no mesmo quarto onde habitara o génio, lugar encofrado em que um ‘buraco’ coloca em suspensão os limites do dentro e do fora, do privado e do público. O orifício obsidiante, signo que vai sendo sucessivamente semantizado e ressemantizado, é, enfim, um novo tropo do acto de conhecer em que Basílio – sujeito moderno – sucumbe ao enredo da auto-reflexividade: “Um buraco na parede de um quarto não se conserva assim aberto, senão para canalizar a morte e a devoração” (p. 77). Como o historiador que deveio animal, também Basílio ‘participa na devoração de si mesmo’ (cf. pp. 67-68). Fábulas modernas e do moderno – decerto na declinação portuguesa situada no tempo da Ditadura, dado por índices como o provincianismo, o Estado burocrático, a imigração –, estas histórias de A. M. Pires Cabral dizem-nos que a pulsão de conhecer – modulada por uma insaciável suspeição (veja-se, neste sentido, o detectivesco “Nunca fiando”; a curiosidade do detective, aliás, está presente noutras histórias), o conhecimento como interpretação, como produção de distinções e diferenças – tem um tropo maior na devoração autofágica. No consumo de tempo, a canalização da morte. As lágrimas nos olhos do narrador d’ “O Porco de Erimanto Ou os perigos da especialização” significam que ‘ir visitar o pai’ é expor-se à perda do pai. Visitar – um vocábulo que repercute em diferentes fábulas, registe-se –, é expor-se à finitude. As lágrimas do filho são, como diria Derrida, a essência do olho humano que faz devassa do mundo, entendendo ‘devassar’ tanto como ‘observar, conhecer ou investigar’, ora como ‘devastar ou vulgarizar’. O mundo é, assim, ‘sem emenda’.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Isabela Figueiredo, Caderno de Memórias Coloniais, Coimbra, Angelus Novus, 2010. António M. Pires Cabral, O Porco de Erimanto e Outras Fábulas, Lisboa, Cotovia, 2010. 43


JOSÉ ANTÓNIO PINHO

Un joven de 70 años BEATRIZ DULZAR La pregunta que nunca se hace José António Pinho es ¿qué edad tengo? Es comprensible porque se trata de un “joven” de 70 años, “tranquilo pero activo”, al que no se le pone nada por delante. Conocido empresario del sector de combustibles líquidos y gasísticos en la localidad portuguesa de Covilhã, tiene todavía tiempo para dedicarse a las asociaciones recreativas y deportivas. De hecho, fue confundador en 1992 de la Federación de Deportes de Invierno de Portugal y, más tarde, presidente del organismo de 2000 a 2008. Pero como aún podía estirar más su ritmo de trabajo, arrimó el hombro como vicepresidente del Sporting Clube de Covilhã, de la liga de honor portuguesa Orangina, ahora “desgraciadamente en penúltimo lugar”, se lamenta. Las preocupaciones se le acumulan. A su gestión diaria de los negocios, añade su compromiso social ya que “hace dos años decidí poner por escrito mi testimonio como combatiente antifascista”, reivindica con dignidad, tras su experiencia carcelaria por defender justamente las libertades democráticas. Con este telón de fondo, ni corto ni perezoso se echó a cuestas dos libros: A estátua, a tortura preferida pela PIDE y Caminhos de liberdade, ambos editados por Âncora, en los que reflexiona sobre la guerra colonial y la falta de libertades, además de la lucha que mantuvo “contra el régimen de Oliveira Salazar”, un dictador que gobernaría Portugal hasta dos años antes de morir, en 1970. Pero su afán literario no ha quedado limitado tan solo a las narraciones de ámbito político y social. También se ha adentrado en el terreno del cuento. Acaba de publicar La sirena y la ballena, una

EMPRESARIO y directivo del Sporting Clube de Covilhã, ahora estudia español en la Universidade de Beira Interior

narración en la que “un joven es tragado por una ballena y se enamora de una hermosa sirena”, resume el autor. ¿El desenlace? “El imposible amor termina en el misterio”, dice enigmático el multifacético empresario. José António Pinho vive con su tiempo y experimenta en su propia carne, con dolor, la profunda situación económica que atraviesa Europa y, desde luego, España y Portugal. Su dilatada experiencia empresarial, le permite aconsejar a los jóvenes que buscan desesperadamente empleo en esta etapa de crisis sin fondo que “acepten cualquier trabajo para adquirir experiencia profesional”, dice. Pero si le preguntamos, ¿cuál es el origen de este momento crítico?, Pinho posee su propia teoría: “hemos llegado a esta crisis por el fraude financiero de los mercados”, opina. Y continúa: “los costes tienen que pagarlos las personas que se han enriquecido a nuestra costa, es necesario crear un nuevo sistema económico destinado a resolver el problema del paro”. Y concluye: “lo primero son las personas”.

“HACE DOS AÑOS decidí poner por escrito mi testimonio como combatiente antifascista” Entre las costumbres diarias de nuestro protagonista se encuentra el asistir a sus clases en la Universidad de Beira Interior (UBI). Sigue el curso de Portugués y Estudios Españoles, en el departamento de Artes de dicho campus. Como un estudiante más, “me considero deportista”, se sienta entre chavales de 20 años –“es una cuestión de postura intelectual”- con el objetivo de “escribir con soltura tanto en portugués como en español”, apunta. Su moral está hecha a prueba de bombas y no decae: “estoy aprendiendo mucho con los universitarios y la verdad es que me estoy divirtiendo”, asegura. Como en las novelas, esta historia humana, gestionada con mano de hierro y guante de seda, continuará.


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