nós-otros nº3

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Nº 3 . MARÇO 2014

ESCUELAS OFICIALES DE IDIOMAS DE LEÓN Y VALLADOLID (ESPAÑA) UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR DA COVILHÃ (PORTUGAL)

5-15 cinema e literatura . 17-20 educação . 21-28 livros 30-31 entrevista a pilar del río . 34-37 crIação 39-42 música

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43-47 viagens e gastronomia


nós-otros Diretora do projeto Concha López Jambrina Conselho da Redação Gabriela da Cunha Amandi Armando Gutiérrez María José Fernández Isaac Macho Coordenadores EOI-Leão: Armando Gutiérrez EOI-Valladolid: Isaac Macho UBI: Dra. Noemí Pérez Colaboradores Abilio Chamorro, Ana Andaluz, Ana Carolina Martins, António Duarte, Armando Gutiérrez, Atalí Fernández, Carmen Méndez, Débora Martín, Édgar Boán, Elena Díez, Gloria Maté, Goyi Plaza, Gonçalo Silva, Isaac Macho, Isabel Fonseca, Isabel Sanz, Javier G. Lorente, José Antonio González, José António Pinho, José Antonio Vallejo, José Miguel Gándara, Julia Molina, Margarita Cueto, María José Fernández, Natalia Fernández, Noelia Medina, Patricia Piñeiro, Rubi Tôrres. Ilustradores Adrián Martínez: behance. net/mdlm; Beatriz Aguilera: artexarte@gmail.com; Carlos Puerta; Dámaris Alejo: dalejoreja@gmail.com; Daniel Vélez: danielvhernando@ gmail.com; David Melendro: davidmelmar@hotmail.com; Edgar Álvarez: edgarednella@ outlook.es; Elena Sandoval; Esteban García: estebangl@ msn.com; Iris Rodríguez: irishmulticolor@hotmail.com; Jesús Rueda: dyceh@hotmail.com; Luis Fernández;

contenidos María Campo; María Mayo: dgraficomh@gmail.com; Ricardo Rodríguez: ricardo. rodriguez.liebana@gmail. com; Rubén Herrero: rubenhermol@gmail.com; Sara Gómez: saragomez289@hotmail.com; Tomás Rodríguez: tomirohan@hotmail.com

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CINEMA E LITERATURA Os olhos de João César Monteiro _ [Hugo Milhanas Machado] El cine de Zé - O Outro amor _ [Isaac Macho] Na cidade do Cinema _ [Mª José Fernández Calleja] “Indie Lisboa” _ [Natalia Fernández) O Eco de Umberto _ [Atalí Fernández] A homossexualidade _ [Débora Martín] A saudade da terra _ [Ana Carolina Martins] Ojo discreto _ [Pedro Serra]

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EDUCAÇÃO Uma educação próxima do futuro _ [Natalia Fernández Picado] A cultura para construir pontes _ [Carmen Méndez Rojo] Cómo evaluar un idioma _ [Miguel Á. Sánchez] Bullying, un juego peligroso _ [Conçalo Silva] A cultura desde as Embaixadas _ [Filipa Soares e Eduardo Tobal]

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LIVROS Um abraço à vida _ [José A. González González] Raízes sebásticas _ [Jorge Manrique Martínez] A morte na obra e na vida de José Saramago _ [Édgar Boán González] ¿Una ruta cultural para el siglo XXI? _ [David Mota Álvarez] Imagem peninsular de Lêdo Ivo _ [Margarita Cueto Veiga] En busca de la aldea natal de E. Lourenço _ [José Luis Puerto]

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CARTOON ¿A qué jugamos? _ [Jesús Rueda Pastrana]

Fotógrafos Paula Maiquez, José Luis Carrasco Colaboradores especiais Gabriela Da Cunha Amandi, David Mota, Eduardo Tobar, Filipa Soares, Hugo Milhanas, Jorge Manrique, José Luis Puerto, M. A. Sánchez, Pablo J. Pérez, Pedro Serra, RAMÓN Capa Tomás Rodríguez Isla Ideia, desenho e maquetização Ignacio Gil Zarzosa Agradecimentos Canarias 7, Cargraf, Escuela Oficial de Idiomas de León, Escuela Sup. de Arte de Valladolid, Eurobook, Carnicería Gutiérrez, Dibujo Técnico/MecánicaZamora, Fotocopiadoras Amandi, Librería Jambrina, Librería Maisa, Librería Miguel Núñez, Librería Milhojas, Librería Semuret, Papelería Lesmes y Pescadolid. Edição EOI-Leão, EOI-Valladolid (España) e a Universidade da Beira Interior-Covilhã (Portugal) Depósito Legal LE-195-2014

otras portadas El proyecto educativo-pedagógico NÓS-OTROS ha estado unido desde el comienzo, hace tres años, a la Escuela Superior de Arte de Valladolid. Los alumnos del ciclo superior de Ilustración nos han acompañado durante este tiempo enriqueciendo los contenidos literarios con sus aportaciones gráficas. En este tercer número de la revista, hemos incrementado la colaboración de los creativos, gracias al aliento e impulso de la profesora Rosa Rico. En el caso de la portada, los estudiantes han plasmado su particular visión de lo que es la carta de presentación de una revista de estas características. En este espacio queremos mostrar otros cuatro originales, además de la primera plana de Tomás Rodríguez, todos merecedores de ocupar ese lugar. A ellos les agradecemos su esfuerzo y dedicación.

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Sara Gómez

Ricardo Rodríguez

Iris R


editorial

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CRIAÇÃO A paixão de Mariana Alcoforado em 5 cartas _ [Gloria Maté] As ciudades adormecidas _ [Elena Díez Valbuena] Benvindos à noite das bruxas _ [Patricia Piñeiro] O conto A Cartomante, pura superstição? _ [Rubiane Tôrres]

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MÚSICA La canción protesta _ [António Duarte] Un deber de ciudadanía _ [José António Pinho] A inquisição musical está cá? _ [Javier García Lorente] Domingos con sabor a flamenco _ [Isabel Sanz Sobaler]

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LAZER Umas velhas e fortes árvores _ [Julia Molina] O meu paraíso alentejano _ [Goyi Plaza Parra] A minha primeira viagem a Portugal _ [Ana Andaluz] Pode-se sobreviver só com “a dieta do palhaço”? _ [Noelia Medina] Por los sabores del Miño _ [Isabel Fonseca Martins POESIA Tu nunca o soubeste _ [José Antonio Vallejo Aller] | pg. 16 Deixá-lo lá _ [L. Miguel Gándara] | pg. 27 (Sin título) _ [Pablo J. Pérez] | pg. 38

Perda de tempo? A formação do estudante vai para além de instituições, livros e professores. Se, durante anos, os Movimentos de Renovação Pedagógica se empenharam em marcar as regras da aprendizagem baseadas no desenvolvimento integral da pessoa, são contudo muitos os intervenientes da Comunidade Educativa que questionam, na prática, os seus méritos educativos. Philip W. Jackson, considerado o pai do chamado currículo oculto, entende que “o que aluno aprende na escola não é só o que aparece nos documentos curriculares, mas é também algo mais complexo”. Vem a propósito dizer que há outras dimensões éticas cognitivas, afetivas e político-sociais que também são parte indissolúvel do processo educativo. A monotonía na aula, a avaliação sancionadora e o controlo do professor, quase de maneira exclusiva, são, segundo este investigador norte-americano, sinais de alerta na senda do discurso pedagógico. Pedagogos y psicólogos coinciden en que las actividades extraescolares, voluntarias y fuera del horario lectivo, brindan beneficios evidentes a los alumnos, aunque no figuren en los currículos oficiales: sentido crítico, habilidades sociales, autonomía personal, estimulación de la creatividad o aceptación de errores. Cuando los contenidos de estas acciones se centran en una lengua extranjera, entonces, la mejora apunta al respeto e interés con los hablantes de otras lenguas, la conciencia intercultural, ampliación del horizonte personal, y acercamiento a otras formas de vida diferentes. Lástima que con frecuencia los educandos tengan que recurrir a la frase de uno de los personajes de Lewis Carroll en Alicia en el país de las maravillas: “nunca tuve la ocasión de aprender esa asignatura”. ¿Cómo es posible que todavía haya algún profesor de Universidad que considera a la enseñanza fuera de las aulas como una pérdida de tiempo? ¿Y si las escuelas mataran la creatividad?

ramón

ENTREVISTAS Entrevista a Pilar del Río _ [Goyi Plaza Parra] | pg. 30 Entrevista a Martín Manceñido _ [Armando Gutiérrez] | pg. 48

Rodríguez Fernández

David Melendro

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OPINIÃO

A LITERATURA na pluriculturalidade CONCHA LÓPEZ JAMBRINA Bhartes em leçon inaugural au Collège de France diz que uma língua se define menos pelo que deixa dizer que pelo que obriga a dizer. A língua enquanto ferramenta da linguagem é sempre fascista. Sendo isto assim, a nossa única hipótese é passar uma rasteira à língua. Ouvir a língua fora do poder, e isto é o que comum chamamos literatura. A única solução possível é brincar com as palavras. Fazer uma heteronímia das coisas dentro da própria língua. Os alunos que nas escolas procuram uma língua minoritária, se calhar procuram um espaço para crescer e fugir ao poder dominante de uma língua franca que leva dentro dela a transmissão de um pensamento único, que no caso do inglês é muitas vezes a transmissão de um pensamento neoliberal e uma subcultura em que vigora o Capital. Não estamos a fazer a defesa da substituição do império do Inglês pelo império do Português, não, acabaria por ser a mesma

coisa. O que está em causa é a defesa do plurilinguismo veiculado à interculturalidade. Foucault em “la pensé du dehors” afirmou que é na literatura que a linguagem se põe fora de si, talvez por isso não há outra maneira já de ver a invisibilidade do visível senão fora, na duplicidade ou até na infinita multiplicidade como ensinou Pessoa. O homem do século XXI procura-se também, como Pessoa, nas máscaras. Nesse contínuo rumor e fluir que é agora a linguagem, nesse esquecimento e vazio encontra-se a emoção de poder dizer aquilo que por óbvio já é só dizível “de outra maneira”. E é um privilegio para o espanhol ter tão próximo o país que tem a mais importante literatura europeia a exceção e continuação da grega. * CONCHA LÓPEZ JAMBRINA é professora da Língua Portuguesa na EOI-Leão e diretora de NÓS-OTROS

O entusiasmo Mª GABRIELA DA CUNHA AMANDI

Ser professor ou professora de português não é fácil uma vez que, para além de ensinar a falar e a escrever, precisamos de cativar alunos, quer seja com a nossa forma de trabalhar, quer seja porque há que atrair novos “clientes” que talvez nunca pensassem que aprender português fosse necessário. Muitos querem aprender esta língua porque sim, porque foram alguma vez a Portugal e gostaram imenso, porque foram ao Brasil e ficaram apaixonados, porque em quase todos os continentes se fala português ou simplesmente porque se aperceberam de que há um pequeno país aqui ao lado, do qual não sabem quase nada. Também há quem queira aprender uma língua que pensa ser “fácil”. Enfim, todos merecem o nosso respeito e eu tenho a certeza absoluta de que os nossos alunos são os melhores e por isso tenho uma sorte imen-

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sa de lhes ensinar português. Além disso, também sei que eles nos exigem algo mais do que umas simples aulas. Quando cheguei à Escola Oficial de Idiomas de Leão, vinha cheia de expetativas, com imensa vontade de fazer coisas que entusiasmassem os alunos. Não sei se consegui, mas, naquela altura, havia uns 50 alunos. Hoje há mais do dobro e, provavelmente, poderiam ser mais, mas a crise não o permite. Por aqui já passaram outras professoras e passaram também auxiliares de conversação. Todas estas pessoas contribuíram e contribuem para que o ensino do português seja cada vez mais procurado. Por tudo isto, só me resta dizer: muito obrigada e venham aprender português, vale a pena. * Mª GABRIELA DA CUNHA AMANDI é a chefe do Departamento de Português na EOI-Leão


cinema e literatura

ESTEBAN GARCÍA LÓPEZ


CINEMA E LITERATURA

HUGO MILHANAS MACHADO Não sei bem se escutei aquelas palavras de João César Monteiro nalguma gravação, nalguma entrevista, se as li, não sei, mas recordo perfeitamente a ocasião de estar a ver ou ir começar a ver um filme de João César Monteiro, e termos pensado (quem?, quantos lá estávamos?) um pouco à volta do tom empregue nesta consideração, dispondo-nos a ver o filme que íamos ver na ressaca deste postulado. O que também é certo é que visito de vez em quando estas ideias, penso nisso da duração, na duração das palavras achadas juntas em frases do português, sento-me perto e tento perceber o tamanho, afinal, das durações, se pode trabalhar alguma coisa que se diga, assim, a durar. O que dura e como dura. O que digo de um modo e que podia dizer doutro, nos mesmos tempos, e quase com vontades semelhantes, uma vitória todavia inscrita em lances diversos, talvez desconhecidos. A duração é coração de qualquer coisa, e neste caso a redundância acústica, rima aberta, caprichada, acaba mesmo por valer. Um filme fora do tempo Eu queria falar aqui hoje de um filme que já vi umas quantas vezes, embora não seja, como já disse numa outra ocasião num texto não muito longe sobre uma escada que não se subia, embora não seja, ia a dizer, um filme de se ver ou um filme que depois se possa contar 6

Lembro com frequência aquelas palavras do cineasta português João César Monteiro sobre a duração das imagens como segredo do cinema. Não é exactamente assim que diz, o segredo veio agora, mas, em todo o caso, recordo as palavras mais ou menos nestes termos, e depois começo logo a pensar em madeiras, nas imagens como madeiras e paus que, por uma qualquer vontade, vontade expressa e rebocada, se combinam e se encontram, imagens que são madeiras e que têm mesmo o cheiro das madeiras quando chove. Lembramo-nos da madeira quando chove.

OS OLHOS de João César Monteiro ou resumir, procurando despir e reconstruir as linhas do seu desenvolvimento como filme e como história de uma pequena ficção e que se possa reduzir em palavras ou signos ou aproximações mais pequenas. É um filme fora do tempo, um filme que dura num lugar franco ausente das nossas vidas, num lugar fora dos lugares e onde podemos gozar naquela estranha felicidade que neste caso resolvemos com o fascínio da máquina de embrulhar imagens, a máquina boa que não falha nunca. Mas o cinema deve ser exactamente isto, penso, uma impressão desconti-

nuada da nossa experiência, mas intimamente enquistada nas formulações e esperanças daquela. E eu vejo o filme assim. Um comboio João está sentado num comboio e medita em todas estas questões laterais a uma película de João César Monteiro, na qual o cineasta interpreta o papel de outro João, o João dos filmes de João César Monteiro. E aqui o João na carruagem quase vazia de um comboio a meio da semana que o leva de novo a uma cidade perdida no meio de Espanha, o João que faz e acontece em toda

O cinema deve ser exactamente isto, penso, uma impressão descontinuada da nossa experiência, mas intimamente enquistada nas formulações e esperanças daquela


CINEMA E LITERATURA

própria indústria nestas horas sozinhas da noite e adquirem um capital de recordação tão fulgurante como efémero. É uma coisa um tanto maluca eu aqui a ver tudo isto de uma maneira só minha, que ninguém poderá ver jamais, e vou esquecendo e acabarei por abandonar tudo isto. É bonito, pensa, é bonito ver o filme da nossa posição e sabê-lo diferente de quando contado por corpos espectadores tão quentes como o nosso. Tenho fome. João vai mais tarde adormecer encostado ao vidro húmido da janela do comboio, e as terras continuarão a passar ao lado do seu corpo noite fora.

e qualquer situação de gramática ensinada na escola. Não vai jantado, cabelo por lavar, o do aluno João. Pensa nos filmes de João César Monteiro e pensa nas imagens que vão passando do outro lado da janela ou que se vão acumulando na janela, vidro cristal de todas essas coisas e todos esses objectos que fazem os seus cinemas sem espectadores ou máquinas de reprodução, estrelas fugazes, e que, no entanto, possuem a sua muito

Inglés Francés Alemán Portugués

O interior do autocarro Quando fores ter com a tua amada, João, nunca te esqueças de levar o chicote, diz a pequena Dafne naquela árvore metida no centro do jardim do Príncipe Real, em Lisboa, João Vuvu sentado, a branca princesa movendo-se entre troncos de madeira e folhas verdes e castanhas. É a cena final de um filme de João César Monteiro, Vai e Vem, de 2003, é o tal filme quase todo ele, mas pouco, tão pouco, quase todo ele gravado no interior do autocarro em que andávamos quando éramos miúdos e queríamos ir ver o rio ao Mercado da Ribeira. *Hugo Milhanas Machado é professor leitor do Instituto CamõesUniversidade de Salamanca.

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Saramago: el cine de Zé

Delibes: o outro amor

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ISAAC MACHO Fue un gran aficionado al cine. Nada más nacer, el destino ya apuntaba que el niño que acababa de llegar al mundo venía cargado de fantasía porque le pusieron el apellido Saramago por un error en el registro ya que, en realidad, era el apodo de la familia en su localidad de nacimiento, Azinhaga. Distintos directores del séptimo arte han llevado a la gran pantalla películas basadas en novelas, cuentos, relatos y ensayos de este pensador crítico y comprometido con los problemas de la sociedad. De la pluma de José Saramago salieron títulos como Ensayo sobre la ceguera que fue llevado al cine como Blindness, El Hombre duplicado que lo tradujeron a imágenes en Enemy o La balsa de piedra que cuenta cómo después de un cataclismo, la Península Ibérica queda a la deriva por el océano Atlántico. Embargo es otra de las cintas, realizada por António Ferreira, basada en un cuento homónimo del novelista incluido en el libro Casi un objeto. El que fuera traductor, corrector, editor, crítico literario y dramaturgo también tuvo ocasión de acercarse al lenguaje audiovisual con motivo del cortometraje La flor más grande del mundo, basado en un texto suyo de igual nombre y narrado por el propio escritor. La televisión se interesó, asimismo, por sus reflexiones político-sociales al llevar a la pequeña pantalla la obra teatral Que farei com este libro? Pero, sin duda, es el documental José y Pilar, dirigido por Miguel Conçalves, su trabajo cinematográfico de mayor proyección. De la cinta, Saramago dijo que era “la dedicatoria de amor a su mujer, Pilar, una película sobre la vida y las relaciones”. De hecho, Portugal eligió este filme para acudir a los Óscar (2012). La siguiente novela en ser llevada al cine será O Evangelho segundo Jesus Cristo.

I.M. Miguel Delibes se não tivesse sido escritor, ter-se-ia, certamente, convertido num cineasta. Era um grande apaixonado pela sétima arte. Começou a sua carreira literária como crítico de cinema no jornal El Norte de Castilla e também desenvolveu a sua capacidade como guionista. Considerado um clássico literário moderno, quase uma dúzia das obras do novelista castelhano, foram adaptadas ao cinema. Os espectadores puderam ver no grande ecrã títulos como El Camino, Retrato de Familia, La guerra de papá, Los santos inocentes, El disputado voto del Sr. Cayo, El Tesoro, La sombra del ciprés es alargada, Una pareja perfecta e Las Ratas. O seu filme mais conhecido é Os santos inocentes, um trabalho que recebeu destacados prémios no Festival de Cannes (1984). O autor de Cinco horas con Mario, pelo amor que tinha à linguagem cinematográfica, deixava liberdade aos diretores para que fizessem com as suas novelas o que quisessem. Tinha tanto prestígio que o encarregaram de adaptar os diálogos ao espanhol correto do Doctor Zhivago, “um trabalho que o encantou” segundo o testemunho da sua filha, Elisa Delibes, a presidente da Fundação Miguel Delibes. Pouco antes de morrer, quando já ouvia mal, o distribuidor Paco Heras ofereceu-lhe um livre trânsito para que fosse sempre que quisesse, de manhã, aos seus cinemas. Por essa altura, sozinho nas salas, o técnico podia subir-lhe o som sem haver queixas de ninguém. Ali viu, uma manhã, com a sua filha, Brokebach Mountain, uma história de amor homossexual. Agradou-lhe imenso, fiel reflexo dum ser livre.


CINEMA E LITERATURA

Na cidade do cinema MARÍA JOSÉ FERNÁNDEZ CALLEJA Cheguei pela primeira vez a Valladolid em 1994 e muito tinha ouvido, grandes e cultíssimos aficionados do cinema, falar da Seminci. Por isso, tinha mitificado este certame já que a Seminci descobriu tantos e tão bons filmes e diretores que posterioriormente se tornaram célebres, tiveram um grande sucesso ou impacto de bilheteira. Naqueles dias da minha chegada, no início do ano académico, com a luz amortecida do verão, Valladolid cheirava a humidade e a cinema: cartazes da Seminci brilhavam nas paredes e os programas de rádio comentavam a semana cinematográfica que se ia celebrar na segunda quinzena de outubro. Na minha escola, os professores, em rodopio, procuravam a programação para escolher os filmes que gostariam de ver com os seus alunos. E de resto, quanto fervor e gozo pelo cinema! Nas salas de projeção faziam-se longas filas para comprar os bilhetes e podiam-se ver os filmes desde manhã, muito cedo, até à meia-noite. Encontrei-me com uma cidade entregue, apaixonada por este Festival e mesmo atualmente, ainda continua o entusiasmo por ver outros filmes possíveis e diferentes que oferece a Seminci. E desde então, quando se aproximam estas datas fico sempre ansiosa porque a Seminci trouxe-me um espaço de liberdade, uma janela aberta para o mundo; levou-me a outras culturas, a ver com outros olhos e a uma completíssima galeria de Arte.

María Mayo

Em 1994, 39ª edição, quem ganhou o máximo galardão La Espiga de Oro foi o cineasta Abbas Kiarostami (Irão e França) com o filme A través de los olivos (Zir e darâkhatân é zeyton), e só com este nome já podemos ter uma ideia da dimensão da Seminci. Além disso, na secção de curtas-metragens, obteve a La Espiga de Oro a curta-metragem portuguesa Os Salteadores de Abi Feijó. Novos autores Posso dizer, sem risco de me enganar, que La Semana Internacional de Cine de Valladolid é um dos festivais mais antigos e consolidados da Europa. Iniciou o seu percurso em 1956, e desde então caracterizou-se por introduzir, em Espanha, novos autores e filmogra-

A Seminci trouxe-me um espaço de liberdade, uma janela aberta para o mundo; levou-me a outras culturas, a ver com outros olhos e a uma completíssima galeria de Arte

fias desconhecidas e onde sempre esteve presente uma exigência de qualidade. Passou por diferentes etapas, coincidentes com as sucessivas direções do Festival: nos primeiros tempos teve de ultrapassar a censura, mais tarde apostou por mostrar a obra dos grandes cineastas e a descoberta de novos valores. O Festival continuou a crescer até atingir o espaço internacional; acrescentou as secções de curta-metragem e documentais, por exemplo, um dedicado à História. Remeto-os à página da internet oficial da Seminci: www.seminci.es e ao interessantíssimo blogue do diretor Javier Angulo http://semincioficial.blogspot.com.es/ Nesta altura, e já celebradas 58 edições, o palmarés não podia ser mais prestigioso: Nikita Mikhalkov, Stanley Donen, Arthur Penn, Abbas Kiarostami, Ken Loach... É também de destacar praticamente todos os realizadores, diretores, ou atores e atrizes espanhóis. Alguns deles tornaram-se depois notáveis figuras: Pedro Almódovar. São muitos e como não gostaria deixar a ninguém de fora, leiam na página da internet. 9


NATALIA FERNÁNDEZ El Certamen Indie Lisboa se ha convertido en el festival de cine más importante del país portugués desde que comenzara su primera edición en el 2004. Una selección de los cortos y largometrajes con mayor proyección a nivel nacional e internacional. El certamen cuenta con diez secciones diferentes. Una competición internacional donde se presentarán los cortos y largometrajes realizados por autores nacionales y extranjeros después del anterior festival Indie. Las obras se dividen en diferentes categorías: ficción, animación, documentales y películas experimentales. La otra gran sección del festival es la competición nacional, donde únicamente pueden participar autores portugueses. Ser premiado en la competición internacional supone un gran impulso para el autor también en el ámbito económico, pues hacerse con el primer premio de esta modalidad con un largometraje supone un premio de 10.000 euros, y hacerlo con un corto, con 4.000 euros. Pero el espectáculo va más allá y hay reconocimiento para cineastas consagrados, para cine emergente y se premia al autor que lucha por un cine completamente libre en la sección llamada “Herói Independente”. Fiesta real Un claro ejemplo de la proyección que puede llegar a tener el festival es la película Um planeta solitario de Julia Loktev que fue premiada en la edición del 2012 como mejor largometraje de cine emergente. Tras dos años de su proyección en el Indie Lisboa este mes de febrero saldrá al mercado en DVD. 10

La XI edición del Festival Internacional de Cinema Independiente de Lisboa, Indie Lisboa, tendrá lugar entre el próximo 24 de abril y el 4 de mayo. Su principal preocupación: buscar el mejor largometraje no emitido antes en Portugal.

FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA INDEPENDIENTE DE LISBOA

Indie Lisboa La repercusión del Indie Lisboa atraviesa las fronteras y gran muestra de ello son las películas que están nominadas para los Óscar 2014 y que participaron el año pasado en el festival portugués. En la edición anterior se proyectaron 245 obras con una amplia representación iberoamericana de países como España, Argentina, Perú, Cuba o Paraguay. Esta fiesta

Uno de los cortos más esperados en la edición de 2014 es “White Roses”, realizado por el autor portugués Diogo Costa Amarante.

del cine también tiene un espacio para los autores más jóvenes a los que van dedicados la sección “Novíssimos”, donde empiezan a mostrar sus primeros pasos en el mundo de la pantalla, e “Indiejúnior”. Durante los once días que dura el festival, la capital portuguesa quiere que el cine no haga diferenciación entre autor y público, y establece la denominada “Indie by Night”, donde varios establecimientos nocturnos de Lisboa sirven de punto de encuentro entre creadores y espectadores. Desde el propio portal virtual de Indie Lisboa describen el evento como “una fiesta internacional y generalista, historias reales para personas reales”.


CINEMA E LITERATURA

O Eco de Umberto ATALÍ FERNÁNDEZ Umberto Eco é uma das referências da literatura universal. Foi em 1980 que escreveu O nome da rosa, romance de mistério enquadrado na época medieval, quando o clero e a inquisição eram muito importantes. A acção passa-se numa zona do norte de Itália que, posteriormente, no ano de 1986, foi usada pelo diretor alemão Jean Jacques Annaud para fazer o filme. O romance é baseado numa série de mortes que não têm explicação aparente. Apenas o facto de consultar um dos livros da biblioteca do Mosteiro (que foi uma das mais importantes da história e que infelizmente desapareceu), faz com que os monges morram e o único em comum é que tinham a língua e o dedo pretos, motivo pelo qual o protagonista e o seu pupilo são chamados para o resolver.

É surpreendente a maneira como o texto foi adaptado para filme. Temos de saber que o romance é muito mais longo que o filme e portanto há muitos elementos que não têm espaço mas o principal está tudo lá. Exemplo disso é a fala em latim e nas outras línguas vernáculas que Salvatore usa. Também é importante a semelhança dos personagens que é quase igual às do

É interessante a forma como a mulher é tratada no romance, onde tem o mesmo ar que o demónio, causa de muitos dos problemas do mosteiro, sendo a solução , desde o ponto da vista da Inquisição, a sua morte

romance, mas o que mais chamou a minha atenção, é a adaptação do mosteiro. Usou-se o Monte Calascio como cenário principal, e também a importância de autores como Aristóteles ou Beato de Liébana como referências literárias, que são muito importantes na vida medieval, já que na obra, tanto a vida monástica como a literatura e o estudo dos autores anteriores a esta época são os fios condutores. Para mim é interessante também a forma como a mulher é tratada no romance, onde tem o mesmo ar que o demónio, causa de muitos dos problemas do mosteiro, sendo a solução, desde o ponto da vista da Inquisição, a sua morte. É sem dúvida um dos romances com mais êxito. É um passeio pela história da literatura universal.

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A homossexualidade DÉBORA MARTÍN JACOBO A homossexualidade não é uma coisa de agora, nem tão-pouco uma moda. A homossexualidade tem estado presente desde tempos imemoráveis. No entanto, nem sempre foi aceite. O mesmo acontece nos filmes, sendo que a homossexualidade tem sido representada ao longo do século XX. Aqui sim, de muitas maneiras diferentes. Contudo, apesar de este tópico estar presente ao longo do século, no seu segundo quarto tentou censurar-se. Porém, não se conseguiu totalmente já que por meio de sinais ou expressões corporais dos personagens percebia-se essa condição perfeitamente implícita. Além disso, houve filmes que apesar de terem cenas censuráveis, conseguiram ludibriar a censura. Podemos, por exemplo, lembrar o filme Benhur, filme com cenas claramente homossexuais e que viu a luz do dia no final dos anos 50. Como já, anteriormente, disse, os diretores representaram a homossexualidade nos filmes de maneiras muito diferentes. Hoje, podemos dizer que este tópico sofreu uma evolução. Os primeiros filmes com personagens gays levavam a troçar deles. Ou seja, o objectivo era fazer chacota dos homossexuais. 12

Depois, os personagens com esta condição sexual costumavam ser os maus da fita. Como exemplo, podemos relembrar o filme Basic Instinct onde a protagonista, Sharon Stone, é uma escritora bissexual pouco comum, é uma assassina. Visconti e Almodóvar Este filme teve muitas críticas, sobretudo de uma associação de lésbicas, as quais consideravam que o filme projectava uma imagem negativa delas. Só mais recentemente é que os filmes tentam dar, aos espetadores, uma visão da dureza de ser gay e “sair do armário”. E só há bem pouco tempo que os trata com dignidade e respeito.

Alguns dos diretores de cinema que trataram este tópico, nos seus filmes, são, por exemplo, Luchino Visconti e Pedro Almodóvar. Em todos os filmes de Almodóvar está presente a homossexualidade, mas há alguns onde esta é a trama do filme. Estou, por exemplo, a lembrar-me de A má educação onde se narra a história de Enrique, um diretor de cinema gay. Em Portugal, não há filmes sobre esta temática até à morte de Salazar. Hoje, há um festival de cinema sobre este assunto. Nos filmes de Luchino Visconti, director abertamente bissexual, quase sempre aparece alguma personagem gay. O seu filme mais emblemático é Morte en Venecia. Este filme não conta, propriamente dito, a história de um homossexual, é bem mais uma história sobre a beleza ideal, sobre o cânone de beleza e como um homem namora essa beleza mais do que a pessoa em questão. Finalmente, há um filme americano que também foi muito famoso na sua época. Trata-se de Brokeback Mountain, o qual narra como dois jovens namoram, no verão, nessa aldeia (Brokeback Mountain), e de como evolui a sua relação quando casaram com as suas “namoradas”.


CINEMA E LITERATURA

A GAIOLA DOURADA ANA CAROLINA MARTINS O filme de Ruben Alves veio demonstrar como se pode registar a vida do emigrante português em França sem fazer dele apenas uma caricatura. A Gaiola Dourada conseguiu mostrar não só a vontade de querer agradar ao patrão e manter as aparências, a “fofoca” à portuguesa, as refeições bem acompanhadas pela família e amigos e bem regadas pelo vinho tinto, mas também a parte mais dolorosa: as saudades da terra que deixaram para trás, o dilema de ter filhos que pertencem a um país que não é o deles e ainda o facto de o português continuar a ser o trabalhador rentável e fiável que o patrão prefere aumentar do que deixar ir embora com medo de não arranjar outro semelhante. Este filme comprova que a realidade é a melhor contadora de histórias. Há que saber olhar para os outros e com eles aprender em vários aspectos e, quando se alia a componente profissional com o que a realidade entrega de mão beijada, surgem obras valiosas. Ruben Alves soube, através da sua história de filho de emigrantes, olhar para as realidades portuguesa e francesa sem cair numa troça comum e vazia, pois consegue chegar aos pontos característicos do emigrante português e do patrão francês sem os exagerar somente para ter mais uma piada fácil.

ou a saudade da terra Neste momento, seria importante que os jovens cineastas portugueses começassem a tomar como exemplo as suas próprias realidades e a darem valor à colaboração, pois são visões e experiências diferentes que enriquecem as obras e os espectadores.

Ruben Alves soube, através da sua história de filho de emigrantes, olhar para as realidades portuguesa e francesa sem cair numa troça comum e vazia

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NOTAS SOBRE BLANCANIEVES DE JOÃO CÉSAR MONTEIRO

Ojo discreto PEDRO SERRA Blancanieves (2000) de João César Monteiro empieza por ‘dar a ver’ y ‘dar a leer’ al espectador una especie de errata, como si trajera para dentro de la película una operación filológica. El espectador se vuelve espectador al leer la imagen-texto del título y la imagen-texto de la errata, siendo espectador del espectáculo de la lectura. Pero, ¿de qué modo puede un error oído ser una errata? ¿Cómo funciona la errata en una lectura hablada y oída en el oscurecimiento de la pantalla? En la oscuridad, el espectador sigue siendo sujeto de visión, pero se le impone subjetivarse como oidor. Lee por los oídos –lectura del texto del poeta Robert Walser bajo la forma de palabra hablada–, visionando en la penumbra una pantalla grisácea –no negra–, iluminación de baja intensidad a la que progresivamente se acostumbran los ojos y que también le permite ver, sin contornos definidos, a los demás espectadores, sus siluetas, sus movimientos apenas perceptibles. César Monteiro rechazó la asimilación de su película al que pudiera ser emblema mayor de una ‘obra al negro’, el opus nigrum que fue justamente el Cuadrado Negro de Malevitch. De hecho, el cineasta portugués fue negando diferentes analogías, entre las que también se encuentra Blue de Dereck Jarman, su película última en que se presenta la pantalla inundada por una saturación azul a la que se añade una banda sonora en off de diferentes voces testimoniales de la vita del malogrado director. En este sentido, cobra especial relevancia que Monteiro propusiera como una suerte de intertextos Susana de Luís Buñuel, además de la execración por la fe católica contra la blasfema obstinación de los judíos que hablan portugués y 14

en Madrid fijaron los carteles sacrílegos y heréticos, aconsejando el remedio que ataje lo que, sucedido en este mundo, con todos los tormentos no se puede empezar a castigar y, también, Gracias y desgracias del ojo del culo de Francisco de Quevedo. Fueron estos los textos que, en el día “diplomático” de inicio del rodaje, leyó alternativamente con lo actores. Del primero –“texto anti-semita que recomiendo vivamente”, según sus palabras– dirá ser una pieza “sobre las tropelías [argentarias] que los judíos portugueses hicieron en la corte de Felipe IV en el siglo XVII”. Del segundo, recoge la inspiración para “hacer una película que tomase el punto de vista del ojo ciego, el ojo que no ve, el ojo discreto”.

Nesgas de cielo En Blancanieves la reducción radical de imágenes no conlleva que dejen de significar un pasado que ‘presiona’ a todo instante el presente, cumpliendo así la función de toda imagen: la tapicería del inicio o la pieza musical de Rossini –que traen el siglo XIX como tiempo de una ya imposible joie de vivre–; las fotos de Robert Walser muerto en la nieve en los alrededores del manicomio suizo de Herisau; los restos de la mezquita que yacen sepultados bajo la Sé de Lisboa –que nos devuelven la Historia como estractificación arqueológica de sucesivas edades de violencia y exclusión–; los insertos de “nesgas de cielo” que van golpeando la penumbra que se instala en la sala de cine; o el plano final del cineasta en el Jardín Botánico pronunciando sin sonido la palabra “No”, secuencia que nos retrotrae los orígenes del cinematógrafo y el cine mudo. El cinematógrafo –en tanto sucesión de instantes que han vaciado el

momento aurático–, aunque parezca paradójico, impone la necesidad de oscuridad para hacer visible, para producir visibilidad. René Thoreau Bruckner lo explicita de modo lapidario: “El cinematógrafo hace uso de sus convincentemente concretos ‘instantes’ para poner entre paréntesis el invisible movimiento que se sucede entre ellos. Sumados ambos (muy rápidamente) estos dos componentes producen la imagen en movimiento”. El espectador devenido espectador en y desde la oscuridad no se distingue de la propia imagen-movimiento, cuya visibilidad es posibilitada por una oscuridad intervalar no perceptible. Oscurecer la pantalla –que, como subrayó César Monteiro, no es negra y sí grisácea, lo que supone per se una equívoca


CINEMA E LITERATURA

fotofobia (en rigor, sí hay luz en la pantalla, es decir sí hay imagen)– hay que indexarla a una posibilidad de la imagen cinematográfica –y, también, a una limitación suya– que tiene como significación añadida el producir un tipo de superficie bidimensional que trabaja en contra de un cine y una imagología mediática que es idolatría.

Amor-deseo Quizás podamos añadir un par de imágenes y textos más que valdrá la pena poner en común con Blancanieves y que, tanto cuanto puedo saber, han pasado desapercibidas hasta ahora por la crítica. En la pequeña sinopsis de la película, firmada por Marie-Louise Audiberti y João César Monteiro, el penúltimo párrafo, una sola frase, es una cita: “Le bonheur n’est pas gai” (Nicolau, 2005: 452). Dos películas inmediatamente vienen a la retentiva. Por una parte, Le Bonheur de Agnès Varda, de 1965. Por otra parte, Vivre sa Vie. Filme en douze tableaux, de 1962, de Jean-

Luc Godard. El décimo “tableaux” tiene por título “Un trottoir – un type – le bonheur n’est pas gai”. Pero, en realidad, la que ciertamente es aludida es el maravilloso tríptico Le Plaisir de Max Ophüls, adaptación cinematográfica de 1952 de tres narrativas de Guy de Maupassant, concretamente Le masque, La maison Tellier y Le modéle. En este último corto, el amigo de Jean, pintor-Pigmaleón, encierra la película con la siguiente última réplica, subrayada por el Ave Verum de Mozart: “Mais mon cher, le bonheur n’est pas gai”. Cualquiera de estos objetos fílmicos comparte con Blancanieves un rasgo que me parece que hay que subrayar: la imagen, como dijera Vilém Flusser, funciona como metacódigo del texto literario (cf. 2007). Guy de Maupassant o Robert Walser son transcodificados en Le Plaisir, Vivre la Vie, La Bonheur o Blancanieves. Es verdad que nos sería posible también ajustar ‘temáticamente’ estos diferentes objetos. Muy concretamente por el hecho de que son versiones de los binomio amor/deseo, dicha/placer, cinismo/ inocencia y todo lo que conlleva e importa para la definición –social, ontológica– de la humana ‘humanidad’. Marie-Louise Audiberti y João César Monteiro escriben en la sinopsis de la película: “He aquí el príncipe y la joven, tan pura como su nombre indica –nombre que nos evoca la muerte de Walser en la nieve–, aterrorizados por una escena bestial entre la reina y el cazador. El hombre está plantado en cima de la mujer y sus actitudes

le parecen a los dos inocentes de una brutalidad espantosa. ¿Será esto el amor? ¿Será el amor una lucha encarnizada?” (Nicolau, ed. cit., loc. cit.). Pero en realidad, lo que bajo mi concepto Monteiro recoge en Max Ophüls es la dialéctica agónica texto/ imagen que el cineasta alemán dispone en Le Plaisir.

La pantalla grisácea Me refiero, muy concretamente, al efecto iris que sobreviene a los créditos, oscureciendo la pantalla. Tenemos, entonces, la voz de Jean Servais como Guy de Maupassant, diciendo entre otras cosas que siempre le ha gustado la oscuridad. La identidad de esta voz no es determinada por la película, como ha puesto de manifiesto el crítico británico Victor F. Perkins: “Nowhere does Servais claim the name of Maupassant, but he makes us hear an author’s savoring of language and his relish for storytelling. The voice falls on our ears as the spirit of the writing, not as a phantom but what lives on in the work of fiction after the death of its creator […] implying that Maupassant’s work transcends the material form of printed merchandise” (2009: 16). Ahora bien, en Blancanieves, João César Monteiro amplifica este proceso, que no es otro que la metacodificación del texto por la imagem, ya que hemos aceptado que efectivamente hay imagen en la película: la pantalla grisácea, visión obscurecida de un “ojo discreto” que, como en la mencionada entrevista del cineasta portugués, no es como si introdujéramos la cabeza en un “agujero negro”. *PEDRO SERRA es profesor titular y coordinador del grado en Estudios Portugueses y Brasileños en la Universidad de Salamanca. 15


POESIA

Tu nunca o soubeste JOSÉ ANTONIO VALLEJO ALLER

Tu nunca o soubeste, mas eu amava-te e escrevia o teu nome nos cadernos de classe e nas folhas ímpares dos livros de texto e na cortiça das árvores do passeio e nos entardeceres e nos espelhos rotos e na areia, e no reverso do quadro que pendurava no meu dormitório de criança. Tu nunca o soubeste; eu nomeava-te quando amanhecias na minha rua com os teus risos, quando emaranhavas as minhas ilusões nas tuas tranças, quando brincavas de corda nas veredas do parque e o miúdo cascalho, ao impacto dos teus pés, pulava para mim e fazia chaguinhas na minha alma. Tu nunca o soubeste; eu escrevia-te fervorosos poemas de amor, e lançava-os no ar ou convertia-os em barquinhos de papel que soprava na água para que navegassem mansamente aonde tu, à beira donde tu, ignorante de mim, rompias com os dedos as ínfimas ondas da lagoa. Tu nunca o soubeste: eu sonhava-te no sono, na noitada, no silêncio, na partida de futebol rueiro com os meus amigos, na minha carteira, na lista dos reis da casa de Bragança, no mapa cor-de-rosa, nas aulas práticas de física e nas equações de segundo grau, tão complicadas. Eu olhava-te; eu olhava-te sempre, e isso o sabias, sim. Eu percebi-o pelos teus risos cúmplices na tua roda de amigas, revoada de pombas, enquanto estavas a abraçar os teus livros, para assim me esconder a incipiente turgidez dos teus seios, inclinado o teu corpo um bocadinho para a frente. O tempo cresceu-nos e deixamos de nos ver, mas eu fizera para ti um tabernáculo velado no lugar mais profundo da minha alma, e ali é que eu te conservei, quase sem eu o saber, como uma pulsação, como uma batida silenciosa, como um lamento mudo, vagamente doente. Muitos anos depois alguém mo disse, um bocadinho como se não viesse ao caso, que a morte, essa velha ciumenta, decidiu segar na flor o teu sorriso, e uma chaga abriu-se naquele instante no almário secreto onde eu te guardara e empapou-me por dentro com esse brando sangue que só corre pelas veias da alma e que se chama, dum modo muito impreciso, desconsolo. Agora não me doís já. Pouco resta do precedido adolescente que se alojou no meu corpo, e, de aquela paixão sem sexo, apenas uma úlcera cicatrizada já, que nenhum pode olhar, porque é incorpórea e só magoa quando, cada vez menos, te recordo e sussurro, com a ténue esperança de que agora me olhas , onde quer que tu estejas: “Tu nunca o soubeste, mas eu amava-te”.

16 Beatriz Aguilera


EDUCAÇÃO

Uma educação próxima do futuro NATALIA FERNÁNDEZ PICADO É fácil julgar ou louvar uma cultura, um pai ou uma educação desde fora, sem verdadeiramente a conhecer. Gostamos de comparar o que é nosso, espanhol, com o dos vizinhos, português, e muitas vezes queremos ganhar em aspetos que não conhecemos. Nós espanhóis gostamos de dizer que temos grandes cantores, escritores, que a nossa comida é melhor, que ganhamos em futebol a Portugal... mas, somos verdadeiramente superiores no âmbito da educação? Após ao meus dois primeiros anos estudando jornalismo, em Valladolid, graças a uma bolsa Erasmus, fui estudar para Lisboa. No final do primeiro quadrimestre não me atreveria a dizer que uma é melhor do que a outra. Poderia, sim dizer que a portuguesa tende a ser mais prática. Ambas educações têm o programa Erasmus como eixo central. As aulas, em Lisboa, são menos teóricas e mais práticas, desde o primeiro dia fica claro que se aprende mais com trabalhos, muitos, é certo, que memorizando dados. “A maior diferença que há entre a minha universidade (Universidade de Bilbao) e a de aqui, é que em Lisboa tudo é mais prático, mas também pode ser porque cá estou a fa-

zer o terceiro ano e os dois primeiros são sempre mais teóricos”, diz uma estudante de Publicidade e Relações Públicas que este ano está a estudar na Escola Superior de Comunicação Social de Lisboa. Além disso, acrescenta que “cá, tenho mais variedade de aulas porque separam o meu curso em dois diferentes”.

A não pontualidade Uma das coisas que mais me tem surpreendido é a pontualidade dos portugueses, ou, melhor dito, a não pontualidade dos portugueses. As aulas têm uma hora de inicio que poucas vezes é a hora do seu verdadeiro início. Mais do que uma vez fiquei preocupada por chegar 5 minutos atrasada à aula e fui a primeira a chegar. Normalmente, as aulas começam 15-20 minutos mais tarde do que o previsto. A hora do almoço é das 12.30 às13.30 horas. É frequente ter aulas da parte da tarde pelo que a maioria parte dos alunos fica a almoçar na universidade. Alguns levam a sua comida, outros preferem almoçar na cantina da universidade. Pelo preço de 2,40 euros têm direito a dois pratos, sobremesa, pão e bebida.

A educação espanhola e a educação portuguesa apesar de seguirem o Programa Bolonha são diferentes no modo de dar aulas. Bastaram-me só frequentar seis meses uma universidade, de Lisboa, para ver as diferenças entre esta e a minha universidade de origem.

Outro aluno da Universidade de Valencia, que está em Lisboa desde setembro, diz que “cá os grupos são mais pequenos o que faz com que o trabalho seja mais central e dinâmico”. Em Espanha, desde 2010 com o programa Erasmus, continua-se apostando mais nos testes teóricos, ainda que cada vez mais sejam mais práticas as aulas. Continua sendo um grande problema o elevado número de alunos que há nas aulas. Enquanto na universidade de Lisboa os testes escritos não chegam a superar os 30% da nota final (o resto apura-se com trabalhos) a forma de utilizar as percentagens, na maior parte das universidades espanholas, são o oposto. É sabido que é essencial uma base teórica para poder chegar-se à prática, mas é preciso memorizar tudo? Será melhor fazer mais trabalhos práticos para conseguir essa base teórica? Não se trata de ser melhor ou pior, Trata-se de ser mais prático e de estar mais perto do futuro que nos espera ao sair da universidade. 17


TE VOY A MATAR LENTA FRIKI BULLYING, TORPE NEGRO GORDA GITANO un juego peligroso PAGAFANTAS EMPOLLONA SUDACA CHIVATO MORO LOCO GAFOTAS MONGÓLICA PUTONA PRINGRADO GONÇALO SILVA El acoso escolar es un concepto muy reciente aunque lo hayamos practicado toda la vida. El acto placentero de infligir daño psicológico o físico a otras personas se mezcla, fácilmente, con las llamadas bromas o jugarretas. No voy a entrar a debatir las consecuencias negativas que tiene esta práctica, todo el mundo lo sabe, sino lo bien que se disimula. Me parece que esta situación ocurre solamente porque el resultado es placentero para quienes lo infligen. ¿Por qué lo hacemos? Algunos estudios indican que existe una predisposición genética y social como factores principales, pero, sin duda, habrá algo más. Lograr un espacio relevante en la pirámide del poder, entre los com-

pañeros de clase o escuela, es muy cautivador. Cuando provocamos a alguien, le golpeamos o simplemente le robamos el dinero para la comida, llenamos un hueco en nosotros mismos. No es pura maldad, no existe solamente el deseo de ver a otras personas en apuros; hay una evidente intención que nos transmite algún tipo de satisfacción oculta. Todo el mundo ha gastado bromas a alguien o ha hecho una que otra trastada, sin embargo, solemos restarle importancia porque lo vemos como una acción inocente o justificada, como en el caso de las novatadas en la universidad. En los institutos, lo vemos constantemente entre los jóvenes. Tal vez por su inexperiencia o deseo de superiori-

Todo el mundo ha gastado bromas a alguien o ha hecho una que otra trastada, sin embargo, solemos restarle importancia porque lo vemos como una acción inocente o justificada.

dad, el hecho cierto es que ocurre más de lo deseado y a pesar de todos los intentos, los responsables públicos aún no han encontrado una solución adecuada a este problema. Los mayores no nos lo tomamos en serio y los jóvenes lo acaban pagando. Es un problema difícil de identificar y de corregir, pero no seamos tan ilusos como para pensar que desaparecerá, si seguimos mirando a otro lado.

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EDUCAÇÃO ATIVIDADES EOI-LEÃO

A cultura para construir pontes CARMEN MÉNDEZ ROJO A revista Nós-otros não está connosco pela casualidade. Só há uma explicação para a sobrevivência dela: a vontade das pessoas. Pessoas dum e outro lado da raia seguimos crendo em partilhar, em construir pontes de união e amizade. Quando começaram as aulas tivemos a oportunidade de conhecer, pela mão de António Pinelo Tiza, a afeição dos povos ibéricos pelas máscaras e pela magia. Apresentou os livros Mascaradas e pauliteiros e também O diabo e as cinzas. Depois fizemos, por Portugal, uma viagem com o Agustín Remesal e Don Miguel de Unamuno (Por tierras de Portugal. Un viaje con Unamuno). A Virginia López assegurou-nos duas coisas, uma que De Espanha nem bom vento nem bom casamento é só um refrão e a outra que tanto de um lado como do outro, temos um mesmo problema: a cor-rupção (Impunidade). Poesia e música A jovem poetisa Ana Carolina Martins introduziu-nos na Nova Poesia Portuguesa e no quotidiano. A Ana María Romero Yebra fez uma caminhada por toda a sua poesia, onde pudemos ver a grandeza dos seus poemas e da pessoa que ela é. Com o Pablo Javier Pérez López passamos a conhecer melhor Pessoa, os seus livros, o seus desejos e o seu carácter, também nos falou do Iberismo, uma constante nas palestras. No campo da música o Hugo Milhanas Machado ofereceu-nos uma

tarde-noite de sonho com versões diferentes, espectaculares e surpreendentes de um fado além de outras músicas que estão, agora, a fazer-se em Portugal. Ainda tivemos tempo de recorrer os Caminhos da Liberdade com o António Pinho, o António Duarte,

grandes, grandes eles e as suas companheiras de viagem D. Cândida Bernardo e D. María João Cassapo. A generosidade e o esforço de todos eles ficaram acreditados. Para o ano, festejaremos outra vez todos juntos o Magusto português. Oxalá.

Cómo evaluar un idioma MIGUEL ÁNGEL SÁNCHEZ SÁNCHEZ Las Escuelas Oficiales de Idiomas (EOI) desempeñan una función fundamental en la enseñanza de las lenguas en nuestro país. Los profesores de estos centros, conscientes de la importancia de aprender un idioma y del valor de garantizar la validez de nuestros certificados, decidimos, en los 90, sentar unas bases globales de certificación. Buscábamos homogeneidad en las pruebas de evaluación y el reconocimiento de las titulaciones. A partir del momento en que la normativa articula nuestras enseñanzas en los niveles Básico, Intermedio y Avanzado, surge la necesidad de establecer unas bases globales y unas prácticas de certificación en la red de estos centros. De hecho, en la actualidad, las EOI son más exigentes, a la hora de garantizar una adecuación real de las pruebas de certificación, que muchas de las instituciones privadas que certifican dichos niveles. En los últimos años, hemos dado pasos significativos en los controles unificados de certificación de ámbito nacional. Podía plantearse un debate a la hora de elegir los ejercicios como una forma de medición académica en aspectos como las listas de control utilizadas en la evaluación continua o la observación cotidiana del profesor…, pero esas propuestas no pueden considerarse “pruebas” desde el punto de vista objetivo. Evaluar es un concepto más amplio. Ahí estaríamos hablando de valorar la eficacia de métodos, tipo y calidad del programa, satisfacción del alumno y del profesor, eficiencia de la enseñanza, etc. Todo este vademécum académico puede resumirse en tres pilares: validez, fiabilidad y viabilidad. *MIGUEL ÁNGEL SÁNCHEZ SÁNCHEZ es director de la EOI-León 19


EDUCAÇÃO

O português em Espanha FILIPA SOARES A Embaixada de Portugal, através do Camões – (Camões,I.P.), promove ações nas áreas educativa e cultural para promover a língua e a cultura portuguesas em todo o Estado espanhol. O trabalho conjunto em matéria educativa e cultural, iniciou-se em 1970, através do Acordo Cultural entre Portugal e Espanha, assinado, em Madrid, a 22 de maio, e foi reforçado pelo Memorando de Entendimento no âmbito do Ensino não Superior e da Língua, a 9 de maio de 2012, no decorrer da XXV Cimeira luso-espanhola, A rede de ensino a nível do ensino regular concentra-se fundamentalmente nas comunidades autónomas de Astúrias, Catalunha, Castela e Leão, Comunidade Autónoma de Madrid, Comunidade Foral de Navar-ra, Extremadura e Galiza. Temos quatro estruturas Camões que desenvolvem atividade docente, investigadora e cultural própria. A saber: Centros de Língua Portuguesa (CLP) em Barcelona, Cáceres e Madrid e Centro Cultural Casa de Arines, em Vigo. No âmbito univer-

sitário, apoiamos igualmente a prossecução dos objetivos estabelecidos pelas Cátedras José Saramago, na Universidade Autónoma de Barcelona, e a Cátedra de Estudos Portugueses, da Universidade de Salamanca.

Tradição e modernidade Além das atividades mencionadas, realizamos exames de certificação, promovidos pelo CAPLE. Em relação à promoção cultural, destacam-se duas iniciativas: Mostra Portuguesa e Portugal Convida. Ações que pretendem projetar uma imagem atual da cultura portuguesa, combinando tradição e modernidade. Em termos cultuais a Embaixada e o Camões, I.P., têm apoiado a vinda de artistas portugueses em plataformas internacionais como: PhotoEspaña, Festival de Fado de Madrid, Festival Escena Contemporánea, FAD – Prémios de Arquitetura e Design, EXTREMA’doc – Festival Internacional de Cinema Documental da Extremadura. O Camões, I.P., atua, de igual modo, nos contextos EUNIC e CPLP, realizando atividades conjuntas,

como foi o caso da participação da artista plástica Patrícia Reis na Exposição Internacional “Who Makes Europe”, no Centro de Criação Contemporâneo – El Matadero, em Madrid. Em 2013 destacamos: 8ª edição da Mostra de Cinema Europeu “Cidade de Segóvia” (MUCES) e a X Edição de Cinema Europeu de Sevilha; ou atividades como o Festival de Fado de Oviedo, ou Prémio de Tradução Giovanni Pontiero. *FILIPA SOARES é coordenadora da CEPE Espanha e Andorra do Camões, I.P., e diretora do Centro de Língua Portuguesa em Madrid.

El español en Portugal EDUARDO TOBAR La Consejería de Educación de la Embajada de España en Lisboa se encarga principalmente de apoyar el estudio del español como lengua extranjera en Portugal. Para ello cada año se desarrolla un programa de formación del profesorado en colaboración con el Instituto Cervantes y las universidades portuguesas. Este año las actividades principales tendrán lugar en Coimbra, Braga y Faro. Además tenemos un plan de publicaciones entre las que podemos destacar una selección de unidades didácticas llamada “Azulejo para el aula de español” y “Anaquel” que es el boletín informativo de la Consejería. Este año publicaremos una recopilación de artículos sobre las dificultades específicas de la enseñanza del español a lusohablantes que llevará el título de 20

“El español como lengua extranjera en Portugal: retos de la enseñanza de lenguas cercanas”.

Auxiliares de Conversación Gestionamos además el programa de Auxiliares de Conversación portugueses en España, algunos de cuyos participantes escriben en esta misma revista. En este momento hay 17 plazas en las cuatro comunidades autónomas limítrofes con Portugal. En paralelo coordinamos el programa de Lectores El Corte Inglés en universidades portuguesas que cuenta en este momento con siete plazas. Otro programa importante es el Premio Pilar Moreno al mejor diseño de proyecto de viaje cultural a España. El Centro de Recursos en Lisboa cuenta con una colección de más de

6.000 libros, además de vídeos, discos y otros materiales. Estos recursos se prestan de modo gratuito en Portugal. En nuestra página web tenemos más información y enlaces para poder seguirnos por email o por Facebook: http://www.mecd.gob.es/portugal/ *EDUARDO TOBAR es Asesor Técnico de la Consejería de Educación de la Embajada de España en Lisboa.


LIVROS

Um livro para ti ABILIO CHAMORRO Situado numa estante, quase sempre acompanhado, está a esperar que o tomem as tuas mãos, que o abras e mergulhes no seu interior, lendo-o. Trata-se de um livro. O exterior já diz coisas dele, se é novo, altivo, grande, pequeno, velho. Se é um livro de alto nível e categoria, encadernado em couro, com gofrados e outros adereços ou, pelo contrário a sua encadernação é em brochura, mais simplificada e económica, e assim poder comprá-lo e aceder à sua “alma”, ou seja, lê-lo, que sem dúvida é para aquilo que os livros são produzidos. A sua finalidade é a de passar seus ensinamentos, mensagens, conclusões... O livro também chama a atenção pela sua estética e tem muitos coleccionadores, que gostam de o apanhar como objecto, que gostam de possuir e admirar e que sabem que mantém dentro o que chamamos a “alma” e que não raramente é de valor incalculável. Quando lhe dediques tempo, o tenhas nas tuas mãos e vás descobrindo página após página os seus segredos, aprendendo o seu ensino, deliciares-te com a sua poesia, com as suas narrações ou sofrendo com

as suas mágoas, quando estiveres envolvido nos seus textos e imagens com essa magia que ocorre quando isso tão material como ele é, um conjunto de folhas de papel impresso, que consegue fazer-te desfrutar, viajar, sentir, sofrer, pôr a pele arrepiada..., então, é maravilhoso!, que coisa prodigiosa! Esta é a magia dos livros. Ensinam- nos, educam- nos, acompanham-nos, fazem-nos pessoas mais livres. É verdade que, para determinadas pessoas, ler alguns livros, levou-as a grandes mudanças nas suas vidas.

Desfrutar e aprender Houve outros tempos passados muito obscuros, no referente ao saber e a liberdade do conhecimento, em que eram assustadores, metiam medo, receio, inveja. De que tratará esse livro que o meu vizinho tem? Alguns foram atirados ao fogo, outros foram apreendidos e tiveram de ser escondidos para evitar que desaparecessem. Há alguns que chegaram até nós, velhos, decrépitos, “estafados” (é como são chamados agora). Estão sem brilho nas suas capas, com marcas de fogo,

pontos sujos, folhas soltas..., mas mantendo a sua “alma” e conseguiram trazer-nos a informação que as suas folhas contêm. Nestes dias, em pleno século XXI, quando os meios de comunicação e de alienação das massas obstinam-se em fazer um valor crescente da estupidez e tentam brutalizar o maior número de pessoas possíveis, a única solução que posso encontrar para combater a idiotice é pegar um desses livros da prateleira e ler. Desfrutar e aprender com bons livros, é a melhor maneira de combater esta falta de interesse pela cultura. Em todas as épocas da tua vida, em todas as épocas, em todos os momentos, há sempre um livro para ti, que vem através de diferentes canais, um dom, um presente, não importa como, mas vai apresentar-se, não hesites, levá-lo, senti-lo, cheirá-lo, acariciá-lo e mergulhar dentro dele. Ele vai contar todos os seus segredos, será o seu companheiro, seu professor, seu conselheiro, seu melhor amigo. Não caias na apatia e gosta de ler um bom livro. Ele é um dos grandes prazeres que nós ainda podemos pagar.

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LIVROS

Um abraço à vida

JOSÉ ANTONIO GONZÁLEZ GONZÁLEZ Abraço é uma recopilação de textos publicados de 2001 a 2011 em diversos meios pelo escritor alentejano, José Luís Peixoto. O título expressa proximidade, verdade, bondade. Tudo isto e muito mais podemos encontrar no livro. Por isso, talvez, quando cada um está a lê-lo sente uma identificação especial com o autor e, por meio dele, com o que nos rodeia todos os dias. E como o consegue? O método não é fácil: os sujeitos de quem fala estão próximos, são os que nos rodeiam, os que encontramos, os que olhamos, os que sentimos (E digo “nós” porque Peixoto faz com que sintamos o que ele sente mas nós não temos a possibilidade de dizê-lo com a sua claridade, musicalidade e elegância.) Alguns temas são frequentes: a família, os seus amigos e vizinhos da sua aldeia, Galveias, os objetos mais quotidianos, os quais são convertidos em matéria literária. Mas o melhor da escrita de Peixoto é que tudo isto tão próximo o converte em algo universal, pela força dos sentimentos que desprende. Tão universal como quando fala de Deli, do barulho dos casinos de Las Vegas, duma paixão em Cabo Verde ou quando descreve Tóquio ou Moscovo. Quando trata dos temas que interessam a todos fá-lo com uma sinceridade que as distâncias, geográficas ou temporais, não são impedimento para que cheguem 22

Destaca a musicalidade da prosa, não tem importância o sujeito que discorra: é igual uma lista de nomes da sua aldeia que a descrição duma cidade ou os sentimentos que despertam os objetos e as pessoas

ao nosso coração, porque a grande literatura não conhece distâncias: sabe como transmitir os sentimentos de todos. As viagens de Peixoto aproximam-nos a muitas partes do mundo, provocando sensações ricas, mas não há menos riqueza quando fala das suas experiências em Galveias: Peixoto é um cidadão do mundo. A eternidade Outras referências são as literárias; não somente fala da criação literária como também de alguns autores que admira: Dostoievski, Rulfo, Manoel de Barros, Clarice Lispector, Saramago ou Joyce. Outros temas presentes na obra são a solidão, o amor, a solidariedade ou o passo inexorável do tempo (“A eternidade, onde estiver, ri-se de mim”). Talvez isto provoca a importância que ele dá às lembranças, de onde esteve. Na criação literária também “... temos a linguagem...” Uma frase resume-o bem: “o meu corpo atravessou as palavras” É verdade, Peixoto está cheio de palavras, de literatura, de necessidade de ex-

pressão. Destaca a musicalidade da prosa, não tem importância o sujeito que discorra: é igual uma lista de nomes da sua aldeia que a descrição duma cidade ou os sentimentos que despertam os objetos e as pessoas. Esse ritmo musical está feito também de metáforas que parecem brotar da essência própria dos objetos. Por outro lado, as personificações abundantes fazem que nos acheguemos a um mundo cheio de vida. E tudo isto exprimido numa linguagem direita, com uma agilidade natural que penetra no leitor e o conquista. Definitivamente, o que faz Peixoto é mostrar a vida por meio das coisas mais simples e quotidianas. Ele diz que “quase tudo é metáfora da vida” uma vida que tem rasgos especiais contada pela sua escrita. A leitura de Peixoto ajuda a encontrar-nos a nós próprios e ao mundo que nos envolve.


LIVROS

Raízes sebásticas JORGE MANRIQUE MARTÍNEZ O mito português mais salientado é, sem dúvida, aquele que tem ateado a crença esperançosa do regresso de uma real personagem que desapareceu. Com essa representação de alguém desejado, mas afastado e encoberto, o paradigma volitivo dos três tempos do âmago luso –passado, presente e saudade– fica sempre em tensão. Olhar por entre a grande literatura portuguesa a quem mergulhava no dia 4 de Agosto de 1578 na batalha de Alcácer-Quibir não é uma saída pelos campos de Ourique; desde Camões (que o viu como a “nascida segurança da Lusitana antiga liberdade e não menos certíssima esperança”) até Agostinha Bessa-Luís –em O Mosteiro–, Fernando Campos –em A Ponte dos Suspiros– ou Deana Barroqueiro, a mais hodierna caneta, que eu saiba, entranhada no tema sebástico com o romance D. Sebastião e o Vidente. Foram, no entanto, os românticos os primeiros que fitaram na proteica natureza de el-rei D. Sebastião para refestelar-se nela quanto ente de razão e engenho; embora não seja até 1867 –com o romance O Senhor do Paço de Ninães– que a desafeição camiliana comece a explorar em cheio a veia sebástica para feitios mais pessoais e, por graus, mais desancorados a respeito da historicidade. Convém

JU

lembrar, porém, que foi um jovem escritor valhisoletano quem, em 1849, deteve de chofre o sebastianismo histórico-político, aferrolhou-o e lançou-o para uma estética vizinha do simbolismo. A insubmissa torga ibérica possui lançadas raízes e algumas das mais cavadas —além do que se vê às vezes— abrangem de lés a lés as dobradiças que ligam os painéis do nosso antigo díptico com recriações literárias que afagam uns anelos e um jeito de ser bem entremeados. O drama mais pessoal No seu texto, José Zorrilla alicerça uma desassossegada história pessoal –tantinho pessoana– fornecida com um dos seus mais audazes núcleos poéticos: o fingido leva infinda vantagem ao verdadeiro, “la mentira es más bonita”. O drama de 1849, com os segredos que arrecada, sabe mais a saudade do que a arquivos. A peça, assim, exerce como esconjuro dos mais fundos abantesmas do autor.

UTIÉRR STINO G

EZ TASIS

Foram os românticos os primeiros que fitaram na proteica natureza de el-rei D. Sebastião para refestelar-se nela quanto ente de razão e engenho Na sua nostalgia do porvir, lateja uma tenção que prenuncia a que

os intelectuais ligados à revista portuense A Águia desenharão para Portugal, dando à revolução de 1910 uma viragem ontológica e um conteúdo regenerante, cheio de estetismo e de simbolização. Misturando no seu próprio imo história sebástica, devaneio poético e magoados depoimentos próprios, Zorrilla tem criado o drama mais cismado, mais pessoal e mais saudoso: Traidor, inconfeso y mártir.

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LIVROS

A morte na obra e na vida de José Saramago

ÉDGAR BOÁN GONZÁLEZ Falar de José Saramago é falar de um dos grandes génios do século XX. Filho de uma família de agricultores da vila de Azinhaga, cedo se interessou pela cultura e os estudos, interesse esse que durou até à morte. A obra de José começou em 1947 com a publicação do romance Terra do Pecado e continua até à sua morte. Prémio Nobel de literatura no ano de 1998 e Prémio Camões, o mais importante prémio literário de Portugal, José foi um dos mais importantes personagens na defesa da união ibérica e o laicismo do estado. A polémica também foi protagonista na vida de José Saramago. No ano de 1991 a novela O evangelho Segundo Jesus Cristo levou-o a um confronto com a Igreja e o Estado Português, e por sua causa José mudou-se para a ilha de Lanzarote. Estes pontos de vista da religião e da morte são o que vou desenvolver no meu artigo. Para entender a visão que tem o autor da morte usarei o documentário José y Pilar e o livro As intermitências da Morte. “Lo malo de la muerte es haber estado y ya no estar, parece una cosa obvia pero es aquí donde radica la cuestión” Essa é a resposta dada por José quando é questionado acerca da morte no documentário José y Pilar é a visão da morte do autor. A morte é algo banal, simples, não tem mais importância que não viver, por isso Saramago diz 24

que a morte não o preocupa, mas as consequências que isso tem. O seu ateísmo é protagonista sempre nesta visão da morte. “Nosotros somos una máquina, que funciona bien durante un tiempo, que después comienza a funcionar menos bien, y llega siempre el día en que deja de funcionar. Imagina que no fuera así”. Com estas palavras mostra-se que, para o autor, não há uma vida após a morte. As pessoas são só um mecanismo que morre quando já não funciona. O inferno? Para José não há céu nem inferno, não há mesmo nada, essas ideias da vida após a morte são o produto das religiões que precisam disto para atrair seguidores que tenham medo da morte e lutem pela sua salvação. Tudo isto se pode mostrar na

sua obra As intermitências da Morte (2005). José Saramago mostra um país em que a partir do dia 1 de janeiro ninguém morre, neste momento em que já não há mortes a Igreja começa a ver a sua instituição ameaçada já que dependem da morte para manter o seu dogma de fé. No mesmo livro mostra-se como o autor humaniza a morte, a morte está desmitificada, os seus sentimentos e o amor são mais importantes que o seu dever. A morte namora um violoncelista e não pode matá-lo, este facto fez com que se tornasse humana e que já ninguém morra de novo. Para Saramago a morte é apenas o fim da vida, a vida é o verdadeiro protagonista para José, é por isso que o autor escreveu até o fim do seus dias. A morte para a visão ateísta do autor é apenas o fim.


LIVROS Oliveira Martins (1845-1894) es un autor fundamental en la historia de la cultura peninsular, y sin embargo, es injustamente desconocido por el gran público. Autodidacta, trabajador en diversas compañías, periodista, divulDAVID MOTA ÁLVAREZ Podríamos calificarlo, al menos, como iberista cultural. Vive en España como administrador de las Minas de Santa Eufemia (Córdoba) y de la Compañía Minera de Ciudad Real. En 1891 asiste al Ateneo de Madrid para pronunciar una conferencia en el marco del IV Centenario del descubrimiento de América. Los intelectuales españoles lo admiran y mantienen correspondencia con él. El gobierno español le concede la Gran Cruz del Mérito Naval y la Orden de Isabel la Católica. Entre el 5 y 23 de Junio de 1894, poco antes de morir, emprende su último viaje a España: Salamanca, Zamora, Toro, Medina del Campo, etc. Redacta doce cartas que su hermano recopilará póstumamente bajo el título Cartas Peninsulares. Viajero del siglo XIX Su intención es redactar O Príncipe Perfeito, biografía sobre el rey, João II de Portugal. Decide visitar Toro, donde se enfrentaron en 1476 las tropas de Isabel la Católica y los ejércitos portugueses de Afonso V, defensores de la causa de la Beltraneja. Las cartas son un ejemplo de la imagen de un viajero portugués del siglo XIX sobre España, y sobre todo, de Castilla y de lo castellano, que puede emparentar con la imagen, real o ficticia, de la Generación del 98. Si bien es cierto, que en algunas ocasiones, el propio autor, no se olvida de que está pisando tierras del antiguo Reino de León, encuentra, aquí, su síntesis. “En el corazón de la vieja Castilla, donde nos encontramos, son, con

gador científico, historiador, intelectual, político, miembro de la Generación portuguesa del 70 -junto a Antero de Quental, Teófilo Braga, Eça de Queiroz, etc.-, al final de su vida formó parte de los Vencidos da vida.

¿Una ruta cultural para el siglo XXI?

todo, muchos los trazos que denuncian su primera fusión con asturianos y leoneses”. Difiere, en parte, de la visión reductora y tópica que sobre España tiene el viajero romántico extranjero del siglo XIX, una imagen distorsionada que la hace coincidir mayoritariamente con la “imagen andaluza”. Originalidad Nuestro autor no busca guitarras de flamenco, ni bandoleros, ni toreros, ni el orientalismo que procuraban otros viajeros extranjeros, cree hallar en España la originalidad: “quien, en los viajes, quiera buscar lo pintoresco, venga a España, que es tal vez el último lugar de Europa donde la vida antigua, por fuera y por dentro, se conserva intacta”. Como buen turista visita los edificios más emblemáticos de las ciudades que visita. En Salamanca y en Zamora, en Medina del Campo y en Toro. Por las Cartas Peninsulares desfilan los personajes y los episodios más destacados de la Historia de España. Las leyendas también encuentran su hueco. El viajero portugués emite también diversas observaciones sobre la realidad española que encuentra a su paso. La situación económica de la región está dominada por el sector agrario (el vino y su bajo precio, el cereal). En Salamanca advierte las disputas entre el Kraussismo y el Neotomismo de su Universidad. ¿Por qué no proponer el libro de las Cartas Peninsulares de Oliveira Martins como ruta cultural por Castilla y León para el público portugués? 25


LIVROS

Imagem peninsular de Lêdo Ivo MARGARITA CUETO VEIGA Existem diversas maneiras de explorar as relações entre cinema e literatura, mas, considerando que ambas expressões artísticas possuem semelhanças e diferenças, hoje, “na era da interdisciplinaridade, nada mais saudável do que tentar ver a verbalidade da literatura pelo viés do cinema, e a iconicidade do cinema pelo viés da literatura” (Brito, 2006: 131). Escrever e filmar este discurso de interdependências, tornou-se um desafio que o diretor Werner Salles Bagetti, quis enfrentar, em 2003, com o documentário Imagem Peninsular de Lêdo Ivo. O filme, feito para a televisão, marcou uma época na sétima arte alagoana e ajudou a divulgar a obra do escritor. O resultado foi uma imagem múltipla de cinquenta minutos, um passeio poético pelas memórias de Lêdo através da sua voz e das declarações de especialistas. Olhos irrequietos Rodado em Alagoas, Pernambuco e Rio, não faltam fotos raras, objetos pessoais e a sua máqui-

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na de escrever, para contar a sua aventura com a literatura desde a sua infância. O percurso abre-se, como um romance diante de olhos irrequietos, e descemos com Ivo os degraus que o levarão até o nosso cenário. Poeta e ensaista, memoralista e narrador, Lêdo Ivo nasceu em 1924, em Maceió, Alagoas, uma cidade mítica onde as águas se misturam com a terra. No Rio de Janeiro, matriculou-se na Faculdade de Direito e colaborou em suplementos literários, enquanto ao mesmo tempo desenvolvia a sua atividade literária. Abraçou a alquimia da poesia com a obra As imaginações (1944), a que se seguiram, entre outras, Ode e elegia (1945), Acontecimento do soneto (1948), Magias (1960), Estação Central (1964), Rumor da noite (2000), Mormaço (2011) e o livro póstumo Aurora (2013). Eterno cosmopolita, em 1982, Lêdo recebeu o Prémio Mário de Andrade pelo conjunto da sua obra. O rumor e o silêncio Foi eleito imortal em 1983 e oito

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Transgressor da Geração de 45, o poeta construiu o seu universo como uma contemplação da qual emanam mais perguntas do que respostas anos mais tarde, conseguiu o Prémio Leteo, na cidade de León. Transgressor da Geração de 45, o poeta construiu o seu universo como uma contemplação da qual emanam mais perguntas do que respostas. Desde o início, o leitor distingue um diálogo entre as formas do mundo e os seus opostos: o rumor e o silêncio, o sol e o vento, “o barulho do mar, o salitre, a chuva, os mortos que são como os navios, os morcegos...” e por uns instantes, movidos por aquela voz, transladavamo-nos ao Brasil. Lêdo, que foi todos os poetas, evocou que “a minha pátria não é a língua portuguesa” porque nenhuma língua pode querer aspirar a ser pátria. A linguagem plasma um papel social e o poeta comprometido “serve para dar voz e música aos que não tem”. Neste tempo de silêncio, desde que o capitão partiu em 2012, o documentário tem sido o guardião da sua memória, o espelho que torna o ausente, presente. “Quero tudo a que tenha direito”. Lêdo Ivo adorava repetir esse verso entre risos; sem dúvida, sabia que tinha direito a não morrer nunca.


POESIA

Y no encuentro esperanza, ni refugio, ni asilo, y en mis noches, pobladas de febriles quimeras... Amado Nervo

Deixá-lo lá JOSÉ MIGUEL GÁNDARA

Deixá-lo ali, sentado nessa cadeira cor verde apaziguado, eles tinham puxado os meus meandros taciturnos para o exterior, algo tão estranho como virulento como eu me arrastar algumas vidas cabecearam e cambalearam para lá daquele lugar, dentro dos limites de uma pandemia de desconhecido, e aí eu tive que sair, eu era como que levitando rosto e corpo fumegantes mistérios, porque ela é um mistério, é uma luz ainda em falhar, não preso em meus caminhos, indescritível, conheça suporia a transmutação dos nortistas que sempre escondeu arcana nos -Valle-Inclán acima de Rosalíafora da luz reveladora, revelando corajosamente. Na televisão emitiam “as virgens suicidas” uma história de busca do mistério das mulheres e eu voltei a lembrar que lá tinha deixado, descansando em suas pernas, com um caderno no qual marcando seus sonhos de iniciação, a paisagem em direção a duas horas seu pensamento estava planejando construir um fatídico e inextricável, e que ninguém poderia reconhecer. Assim, muitos feitiços e fadas predestinatórias ficou entre os nossos olhos, assim muitos mundos e enterrado em columbário galego, preso entre as colinas verdes do amante terra pássaros escondidos e homens que foram banidos para sempre. Deixá-lo ali sentado naquela cadeira verde idade precoce.

A una sonrisa gratuita y sin requiebros, a Isabel A una amistad de distancias físicas, pero magnética en su esencia, a Tere. 27


LIVROS

En busca de la aldea natal de Eduardo Lourenço JOSÉ LUIS PUERTO Portugal siempre es una cercanía física, pero, para los españoles –en un pasado reciente- ha sido una lejanía mental y anímica que, afortunadamente, con la llegada de la democracia, se ha ido diluyendo y hemos comenzado a conocer mejor y a valorar más adecuadamente, como se merece, ese país hermano, sus gentes, su cultura y su historia. Durante las largas dictaduras de ambos países, las fronteras estaban cerradas a cal y canto, de ahí que la raya no fuera una línea imaginaria que unía más que separaba, sino una barrera real infranqueable. Pero ya, entre finales del XIX y primeros años del XX, hubo pioneros, avanzados, que trataron de crear un territorio de fraternidad peninsular que recibió el nombre de iberismo. Miguel de Unamuno fue, de este lado de la raya, uno de tales pioneros. Su conocimiento de Portugal fue profundo, como demostró en ese hermoso libro de viajes que publicara en 1911, titulado Por tierras de Portugal y de España, una verdadera interpretación de Portugal y de lo portugués, al tiempo que una obra maestra, en su género, dentro de nuestra literatura contemporánea.

Carlos Puerta Reguera

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Itinerario común Del otro lado de la raya, Oliveira Martins, en su História da civilização ibérica, aborda la de toda la península desde el punto de vista de esa fraternidad entre pueblos hermanos que nunca han de vivir de espaldas, pues tienen, en no pocos aspectos, un itinerario histórico civilizador común.


La pasada primavera, aprovechando las vacaciones de la Semana Santa y Pascua, con unos amigos salmantinos, realicé un humildísimo viaje portugués. Desde Ciudad Rodrigo, donde quedamos, nos dirigimos a Fuentes de Oñoro, pasamos a Vilar Formoso y, desde allí, nos adentramos en Almeida, la villa fortificada, inscrita en una estrella defensiva, que pareciera caída de un cielo protector, tal como el narrador y aventurero norteamericano Paul Bowles tituló su novela más deslumbrante. En Almeida, probamos –cómo noel bacalao y un arroz caldoso, al tiempo que las palabras amistosas y cordiales se iban desgranando. Y todo ello iba consolidando una amistad asentada en el espíritu de la tierra, ese sustrato tan perceptible en toda la obra del gran autor portugués Miguel Torga, cuyo extraordinario escrito autobiográfico, La creación del mundo, acabamos de releer en nuestros días albercanos. Tras la comida, fuimos a visitar un pueblecito, este sí auténticamente

de la raya, a escasos kilómetros de Vilar Formoso. Tal localidad une en su nombre un hagiotopónimo y un hidrónimo: São Pedro do Rio Seco, esto es, San Pedro del Río Seco. Su peculiaridad, y también su nombradía, se debe a ser el lugar natal del gran pensador y ensayista portugués contemporáneo Eduardo Lourenço. En su honor las universidades de Coimbra y Salamanca conjuntamente han instituido un premio (que se falla en Guarda), para destacar la labor cultural de una personalidad portuguesa o española, y del que he tenido la fortuna de ser miembro del jurado en una ocasión. São Pedro do Rio Seco tiene una hermosa arquitectura popular de piedra, unos cruceros y un conmovedor calvario de granito en su ejido, una fuente romana granítica también y unos huertecillos deliciosos y mínimos constelados de cigüeñales y de populares y cuidadosos sistemas de riego. Merece la pena visitarlo, pues, aparte de

MENTE UNIVERSAL Eduardo Lourenço aborda, siempre desde perspectivas críticas, desde una mente muy abierta y muy lúcida, y sin dejar adscribirse a escuela de pensamiento alguna, el ensayismo político, literario y una constante reflexión sobre la identidad portuguesa. Para adentrarse en este extraordinario ensayista portugués, aparte de su obra inicial, recomendamos leer su ensayo existencial-literario Tempo e Poesia (1974), o esa indagación en la identidad portuguesa, ese psicoanálisis mítico del destino portugués que es O labirinto da saudade (1978). Después, podemos seguir por donde queramos. Ah, y si tenemos ocasión, no estará de más acercarnos a São Pedro do Rio Seco, esa hermosa y humilde aldea portuguesa de la raya, donde se respira un telurismo milenario y, donde un ya lejano día, viniera al mundo Eduardo Lourenço.

conocer una aldea portuguesa de frontera casi intacta, sin apenas profanaciones arquitectónicas ni medioambientales, tiene el encanto añadido de ser la matria natal de uno de los grandes ensayistas europeos contemporáneos. La aldea, desde su humildad, desde su recogimiento, desde esa alianza milenaria con la tierra, rinde homenaje a su hijo más célebre con un rótulo en el edificio donde fue a la escuela y con una sobria placa de hierro oxidado, en la que se recorta el rostro de Eduardo Lourenço, bajo el que el escritor luso, en un breve texto, reitera un universal muy hermoso: la verdadera patria del hombre es la niñez… y el lugar de origen. Eduardo Lorenço nacería en esta aldea de São Pedro do Rio Seco, casi junto a la raya, a escasísimos kilómetros de ella, el 23 de mayo de 1923. Su biografía es ya muy amplia. Formativa e intelectualmente está muy vinculado a la Universidad de Coimbra. Aunque Francia, y ese abierto espíritu europeo que en Francia se respira, ha sido y es también decisiva en el itinerario humano e intelectual de Eduardo Lourenço. No es casual que su primera obra llevara el título de Heterodoxia (1949), lo que revelaba ya, a finales de los años cuarenta, una gran amplitud de miras, viniendo de un intelectual que tenía que vivir en un país irrespirable, marcado por tantas ortodoxias. * JOSÉ LUIS PUERTO es catedrático de Literatura Española de Enseñanza Secundaria, poeta, ensayista y traductor de poesía portuguesa 29


ENTREVISTA

JOSÉ LUIS CARRASCO/CANARIAS7

PILAR DEL RÍO Presidenta de la Fundación José Saramago

“Mi sueño es que las personas puedan compartir y disfrutar del entorno de Saramago” GOYI PLAZA PARRA GOYI PLAZA.- Se Saramago estivesse vivo, teria optado pela literatura ou antes pelos seus artigos jornalísticos de crítica, denúncia e compromisso, nesta época crise que vivemos? PILAR DEL RÍO.- No puedo decir lo que haría una persona que no está, pero todos podemos observar la trayectoria de José Saramago y sacar conclusiones: nunca dejó de escribir, nunca renunció, por eso, a ser el ciudadano que era, le costara lo que le costara. Era su forma de lucidez y de honestidad. P.- Quando o autor de Terra de Pecado declarava de uma maneira tão absoluta a sua ideología e o seu compromisso nos seus livros, fazia-o para provocar os leitores? 30

É uma mulher curiosa, culta, de ideias quase redondas perante a vida, a história, a literatura, a cultura… tão sensível quanto austera. Pilar del Río manifesta-nos a sua generosidade porque permite que os leitores de José Saramago tenham acceso à intimidade do grande génio. Ainda que partilhassem a mesma maneira de estar no mundo, sem ela, o grande mestre não estaria por completo na dimensão pessoal. Com esta entrevista ficamos a conhecer melhor o pensamento do prêmio Nobel.

R.-Lo hacía porque sentía la necesidad –intelectual, moral- de expresarse sin censuras. La provocación no formaba parte de la forma de estar en el mundo de José Saramago, sí el respeto y la libertad. P.- Compreender o universo de José Saramago seria impossível sem a Pilar, uma mulher de hoje, complementar do grande escritor. Como é que lida com o facto de ser uma figura atual da cultura? R.- Sin falsas humildades respondo que en absoluto es necesaria mi función para comprender a José Saramago… Cada lector tiene su propia autonomía para entender el libro que lee o al autor que lo ha escrito, yo fui solo la persona que vivió con


el ser humano. Por lo demás, trato de hacer el trabajo en la Fundación, o como traductora, de la forma más honesta posible, sabiendo que no se puede sustituir al autor. P.- Saramago dizia constantemente que não tinha tido nenhuma ambição na vida. Em relação ao seu legado, quais são os seus principais sonhos? R.- Mi mejor sueño es que muchas personas, durante el tiempo que sea posible, puedan compartir y disfrutar del entorno de José Saramago. Sus libros ante todo, que eso es posible para cualquier lector, pero también los lugares que habitó y donde escribió, los espacios que llenó con su vida, sus objetos… Por eso decidí abrir la casa y la biblioteca de Lanzarote a la visita pública, para compartir el legado y la vida de un ser humano impresionante que, si es verdad que no tuvo ambiciones personales, las tuvo todas para con los pobres diablos que somos. P.- Quais são os objetivos que, neste momento, a Fundação José Saramago pretende levar a cabo? R.- En la declaración de principios tenemos varios objetivos: fomentar el debate cívico y cultural, intervenir en la defensa del medio ambiente, provocar la Declaración Universal de Deberes Humanos, tan necesaria para que se cumplan los derechos. Por supuesto, catalogar originales y el gran legado que José Saramago dejó. P.- Há investigadores que têm interesse em aprofundar o conhecimento sobre Saramago como ser humano, isolando a sua faceta literária? R.- Hay estudios –o estudiosospara obra y vida: desde las comas en sus novelas al sentido moral de sus palabras. La potencia de José Saramago es tanta que cada día se descubre una nueva perspectiva. En la Fundación nos quedamos fascinados con los motivos de estudio que nos anuncian o de los que nos enteramos por casualidad. P.- Atualmente, tem tempo para exercer a sua profissão, o jornalismo ou a tradução? R.- Siempre hay tiempo, si lo buscamos o lo organizamos bien, imagine no encontrar tiempo para el honor de traducir… En el periodismo solo colaboro semanalmente.

“En la Fundación nos quedamos fascinados con los motivos de estudio que nos anuncian o de los que nos enteramos por casualidad” P.- Você acha que desde 1975, na obra do Prémio Nobel, a literatura foi o primeiro e o mais importante espaço para aspirar à melhora do mundo, ou é só um palco mais para acrescentar aos outros que já tinha empregado anteriormente? R.- José Saramago era escritor cuando escribía, pero el resto del tiempo era un ciudadano. Por supuesto, se respetaba así mismo y respetaba la Literatura como para no hacer panfletos de sus novelas, aunque tanto en sus novelas como en otras narrativas, esté el autor por entero. José Saramago distinguía bien entre literatura, articulismo y ensayos. P.- Pensa que Saramago condicionava o estilo e a forma do uso da linguagem para exprimir, em primeiro lugar, as emoções e os sentimentos todos? R.- El estilo es muy importante, pero malo sería que condicionara intelectualmente… No: cuando José Saramago concebía una historia traducía ese pensamiento a palabras y a novela, teatro, poesía, de acuerdo con un estilo y con un bagaje cultural. Siempre, por supuesto, desde la libertad absoluta y con la conciencia clara de lo que estaba haciendo. P.-Julga que Saramago se servia de temas aparentemente simples para que os leitores se apercebessem das humilhações e das falsidades que continuam a existir? R.- Se valía de temas y de personajes que conocía o podía conocer. Él dijo que jamás haría personaje de una de sus historias a un lobo de las finanzas, por ejemplo, porque esa gente no formaba parte de su universo cultural o social. Escribía para comprender, pero determinadas posiciones no le interesaban; sí, y mucho, las consecuencias que se derivan de quienes se creen con poder absoluto.

No escribía para dar lecciones, escribía urgido por una doble tensión, la tensión humana, la literaria. P.- Para si, que importância tem o autobiográfico nos romances do autor de Azinhaga? R.- José Saramago dijo innumerables veces que no había que hacer autobiografía en las novelas. Otra cosa es que experiencias personales pasasen a formar parte de la carne de los personajes, pero jamás como hechos biográficos sino como recursos narrativos. Solo en Las pequeñas memorias contó su vida hasta los 14 años. P.- Considera que no que se refere aos palcos, Saramago precisava de conhecer os lugares nos quais se deslocavam as suas personagens e tinha necessidadede que o desenvolvimento das suas histórias fosse numa cena conhecida? R.- Depende de las novelas y de los asuntos. Claro, que para escribir Memorial del convento necesitaba conocer Mafra, o Lisboa para El año de la muerte de Ricardo Reis, pero ¿cuál es la ciudad de los ciegos de Ensayo sobre la ceguera? Para José Saramago no era necesario conocer los lugares, algunos son producto de su imaginación y de las necesidades narrativas concretas: no existe el archivo histórico de Todos los nombres, ni la sala de la muerte de Intermitencias, ni los camaratas de Ensayo sobre la ceguera y sin embargo están descritos con la mayor de las minuciosidades y hoy son reales. P.- Poderia explicar-nos o porquê de tantas anormalidades, amputações, em muitas das personagens criadas por José Saramago e o motivo da lucidez, a força e a autenticidade das personagens femininas? R.- No sé si hay anomalías o somos así: ciegos que viendo no vemos, gente con problemas, mundos en contradicción… En las situaciones de tensión que el autor crea, o incluso en la cotidianidad, son las mujeres las que guardan, acogen y sostienen quizá porque no se les asignó el papel de héroes o no se les inculcó que lo que vale es el poder… Por las razones que fuera, José Saramago eligió como personajes fuertes, centrales en sus libros, a las mujeres. 31


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JESÚS RUEDA PASTRANA


CRIAÇÃO

A paixão de Mariana Alcoforado em cinco cartas GLORIA MATÉ GONZÁLEZ Embrenho-me nas diferentes culturas que se desenvolveram na Região do Baixo Alentejo. Admiro-as no Museu Rainha D. Leonor, em Beja. Alentejo desconhecido. Esconde os inumeráveis tesouros dos homens que habitaram estas terras. Conserva-se ainda no conjunto a Igreja, a Sala do Capítulo e o Claustro composto por quatro galerias. Uma delas -a quadra da Portaria- servia de entrada para o convento. Tanto os espantosos azulejos, até metade da altura, como as janelas de duplo arco fazem-me relembrar o olhar de Mariana Alcoforado, presa de ansiedade por detrás de uma dessas janelas do Convento da Nossa Senhora da

Conceição donde se vêem as portas de Mértola e não posso esquecer evocar uma imagem, um profundo ar de desencanto. Sinto um arrepio de nostalgia. “Desse lugar te vi muitas vezes com ares que me enfeitiçaram. Estava nessa janela no dia fatal em que comecei a sentir os efeitos da minha malfadada paixão”. Nesse preciso instante quem trespassa a porta é um oficial francês. Uma mulher entendida do convento é quem o espera. Galante, gentil e bem feito; é o vivo socorro de França, é Noel Bouton, Marquês de Chamilly, que vem para lutar contra o exército espanhol que encontrasse em terras alentejanas. Este homem agradou-lhe, persuadiu-a, enfeitiçou-a. Doida de amor “Estava nessa janela no dia fatal em que comecei a sentir os efeitos da minha malfadada paixão”. Foram tantas vezes nas quais o oficial entrou pelas portas da clausura... Entro, piso o mesmo solo. Ele disfarçado de operário graças aos trabalhos que tinham sido realizados no velho prédio durante meses. Eu, representante do olhar dos tempos. Meses de desvarios e sobressalto para Mariana. Minutos de contemplação

Édgar Álvarez Allende

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Trinta anos tinha ele e quatro menos Mariana Alcoforado. Doida de amor ansiava vê-lo a toda hora... As idas e vindas de Noël Bouton duraram até aquele Dezembro de 1667 quando a França declara guerra a Espanha inesquecível do Claustro para mim. O agrado levou-a à persuasão e esta à angústia. A surpresa levou-me à leitura das suas incertezas e à contemplação viva de uma história que desperta o interesse de todo o mundo. “Todos os que falam comigo crêem que estou doida… desde que partiste nunca mais tive saúde, e todo o meu prazer consiste em repetir o teu nome mil vezes por dia…” Trinta anos tinha ele e quatro menos Mariana Alcoforado. Doida de amor ansiava vê-lo a toda hora... As idas e vindas de Noël Bouton duraram até aquele Dezembro de 1667 quando a França declara guerra a Espanha. O oficial tem de permanecer naquele país. Não voltará mais. Porém, ainda se sente no Convento. “Fique sabendo que estou convencida que é indigno de todos os meus sentimentos… O seu procedimento não é de uma pessoa de bem... Quebrou-se o encanto”. A mágoa fica reflexa nas cinco cartas que ela lhe escrevera. A paixão de uma escrivã que perdura no tempo e que começou naquela janela através da qual retorno agora àquele olhar desesperado, aos efeitos de um amor distante e constante e que me fez sentir a ausência e presença dos tempos e encontros felizes envolvidos nos avatares de uma guerra. Num lugar além do Tejo.


As cidades adormecidas

Daniel Vélez

ELENA DÍEZ VALBUENA Há dias vulgares em que gostaria de habitar outra cidade. A minha tem-se convertido em rotina domesticada pelo costume. Então, sinto-me abrumada de cansaço e não suporto os pais, o marido, a casa e até mesmo a rua. Como os habitantes de Entropia (a cidade invisível de Italo Calvino), gostaria de partir para a cidade vizinha, para o país vizinho que está à espera com novas paisagens, passatempos, amizades, etc. O viajante que atravessa a fronteira não muda apenas de país muda a sua vida com esperanças renovadas. É uma fome que nada que tem a ver com o estômago e que devora por dentro. A ansiedade de ser outro. O Porto ou Lisboa são no meu imaginário, tal como Región o Macondo locais mágicos onde a vida começa cada dia. Sempre igual e sempre distinta. O viajante pode ir a Lisboa da forma que quiser e vai encontrá-la adormecida, ancorada no tempo como aquele rei que perdeu a vida em Alcácer Quibir e que para muitos está a dormir para regressar um dia. Não existe no mundo um país mais adormecido do que Portugal. É por isso que o tempo, em Portugal é distinto de outro qualquer.

Cada qual pode passear pelas ruas e largos e pensa que nunca partiu. As cidades portuguesas podem ser modernas e continuarem a ser as mesmas, com esse tempo dos passos lentos em que as horas passam ao contrário como aquele velho relógio do British Café no Cais do Sodré, perto do antigo porto de Lisboa, no qual as ponteiros se movíam ao contrário. O tempo português É este um sinal do tempo português, que está a correr para outro

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lado ou um capricho em permanecer enquanto tudo está a mudar e a ser idêntico, graças à globalização, a qualquer lugar no mundo? Esse espírito em que o viajante, no percurso das ruas, acredita ser parte de um fado, do tempo antigo dos cafés e dos poetas. ‘Nunca sabes onde vais mas voltas sempre a Lisboa’ ‘No cais onde nunca parto à maresia dos dias’, disse o poeta. ‘Porto é para mim, o lugar onde começam as maravilhas e todas as angústias’, disse a escritora Sophia de Mello Breyner. O viajante que chega ao Porto, onde o recebe o Douro majestoso, no qual vertera as aguas meia Ibéria, e contempla a imagem de bilhete postal não a esqueçerá jamais e cairá baixo o feitiço desse desenho de cores sobre um céu inesquesível, sem conhecer ainda as entranhas da cidade, nas quais habitam mistérios e vontades A cidade invisível está sempre à espera, vazía e velha. Idêntica a si própria. Oferece-se inteira, sem pedir nada em troca. São cidades invisíveis e adormecidas que existirão enquanto alguém ficar a pensar nelas, em percorrer as ruas sem necessidade de saber o destino e com a certeza de que nunca partimos delas. 35


SECCION SEXTA-FEIRA 13

Benvindos à noite das bruxas

PATRICIA PIÑEIRO Aliando o dia da semana do azar, a sexta-feira com o número do infortúnio, o treze, tem-se o mais azarado dos dias, a sexta-feira 13, também conhecida como a “noite das bruxas”. Uma noite de arrepiar com feitiços e encantamentos, gatos pretos, duendes, diabos, bruxas, mafarricos e outras assombrações vindos do imaginário andam à solta pelas ruas. Mas, fiquem tranquilos, ainda não comecem a tremer, ou talvez sim? Eu conheço um sítio onde nessa noite o medo não tem lugar, pois se até lá te acercasses transformar-te-ias numas dessas criaturas da escuridão só para desfrutar de uma noitada mágica que, de certeza, ficará por tempo na vossa memória. É Montalegre. Uma vila portuguesa no distrito de Vila Real, na região do Trás-os-Montes onde estes seres fantásticos nos vêm visitar de quando em vez. Esta iniciativa da celebração das sextas-feiras 13 começou, a brincar, em 1992 entre uns amigos e é desde 2002 que a própria Câmara Municipal aproveita esta data como potencial para divulgar o concelho. Hoje em dia é um dos maiores eventos culturais do Norte de Portugal, um acontecimento que atrai multidões, não só de Portugal mas também da vizinha Espanha, multiplicando a sua população por 20.

O esconjuro da queimada As lojas, restaurantes e hotéis, todos eles malfadados, decoram-se com motivos ligados a esta data de azar. Oferecem jantares infernais com uma ementa a preceito como o caldo de urtigas ou vinhos benzidos pelo diabo que infernizam as refeições dos convivas com seres demoníacos a atormentá-los. Os visitantes trajados a rigor misturam-se num cenário de figuras “do além” percorrendo as ruas para cima e para baixo, chegando até ao castelo, que baixo o olhar da lua enche-se de festa com um espectáculo de fogo e música, concertos e nomeadamente o esconjuro da queimada, poção mágica à base de aguardente aquecida, recitando a ladainha: “mochos, corujas, sapos e bruxas, demónios, trasgos e diabos, espíritos das enevoadas veigas...” que simbolizam o livrar de feitiços, maus-olhados e bruxedos. A diversão e animação continuam, até de madrugada, pelos bares e discotecas. Será que já estão com vontade de montar na vassoura voadora ?... pois podem começar a contagem decrescente, a única sexta-feira 13 do ano 2014 tem lugar em Junho. Vemo-nos lá. A noite da escuridão não vai passar em branco mas, cuidado que este ano a lua cheia quer ter o seu lugar neste cenário de misticismo, talvez muitas coincidências para não tomar alguma precaução. 36


CRIAÇÃO “Hamlet observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que sonha a nossa filosofia”. Assim começa o conto “A cartomante” de Machado de Assis, e sobre o qual queria tratar abordando um aspecto que acho que o autor nos mostra de uma maneira óbvia e ao mesmo tempo sútil ou sucinta: a superstição do povo brasileiro. <

RUBIANE TORRES Poder-se-ia dizer que esta oração é só uma homenagem a Hamlet e a Horácio. Mas, talvez por ser brasileira, prefiro crer que também tem a ver com algo bem brasileiro: o fato de sermos superticiosos. Pois, ainda que tenhamos em casa imagens e quadros religiosos, também há sítio para um Buda, uma bruxa, um gnomo, uma estátua de Iemanjá, uma figa, uma coruja, um patuá, um olho de boto, um pé de coelho e tantas outras coisas e amuletos para espantar o mau olhado, atrair felicidade ou dinheiro, curar doenças e outras mandigas. Porque “se mal não faz...”. E talvez por isso, sempre que releio este conto, associo-o a esse meu/nosso colectivo imaginário e cultural. É certo que o conto nos fala da história de Vilela, Rita e Camilo (Será Rita a cartomante? Não direi nada, caro leitor! Deixo cá o argumento em suspense). Mas para mim também é certo que dá uma pequena mostra deste aspecto da cultura brasileira: o de crer em coisas entre o céu e a terra - e entre elas está a cartomante. E quem nunca foi a uma? Toda a gente nega pois diz que se ela soubesse adivinhar o futuro já teria acertado na lotaria montes de vezes. Será?

O conto A Cartomante, pura superstição? quem nunca teve uma desilusão amorosa? Ou assinou papéis? É o que todos respondem. Crer ou não crer, eis a questão... E se voltarmos ao texto encontrar-nos-emos com trechos onde se fala dessa maneira do ser humano de crer ou não: 1-“(...) Os homens são assim; não acreditam em nada.(...)”; 2-“Tu crês deveras nessas coisas?”; 3-“(...) em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu(...); 4-“(...) nunca ele desejou tanto crer na lição das cartas.(...)”; 5-“(...) e do fundo das camadas morais emergiam alguns fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições

antigas.(...)”; ou 6- “(...) Era assim, lentas e contínuas, que as velhas crenças do rapaz iam tornando ao de cima(...)” Será uma opinião do autor ou é o que pensa toda a gente? Não podemos dizer nada ao certo mas é maravilhoso entrar nesta magia que nos permite a literatura, a de dar asas à imaginação e interagir com o texto e o autor. Por isso gosto de pensar que a superstição sim é tratada no texto, e de uma forma amena e simpática, independentemente do que venha a ocorrer no desenlace do conto. Crer ou não crer, eis a questão...o conto, é pura superstição?

Rubén Herrero

Crer ou não crer Você vai ter uma alegria...uma desilusão amorosa...vai fazer uma viagem... assinar papéis... receber um dinheiro... são possíveis frases do repertório das cartomantes. E 37


POESIA

Todas as beiras dos grandes rios são as mesmas É preciso parar junto do Tejo, à tarde, para sabê-lo Lisboa e Montevidéu são a mesma cidade. Cacilhas é Montevidéu no Domingo quando o barco traspassa o espelho de haver um rio entre as almas. Sabiam-no bem Lautrémount e Bernardo Soares Montevidéu que se ouve como um verso Segundo disse aquele poeta cego que podia ver nas almas longínquas é a outra beira deste rio nosso por onde nos passam os barcos tímidos está na outra beira do Tejo e posso cheirar a sua contida saudade cada manhã quando amanhece. Acordo em Lisboa e passeio por Montevidéu nesta tarde cheia do denso tédio dos homens sábios que contemplam o mesmo tédio filho do tempo, Quero entrar em ti devagar como a memória no meu peito cansado Deixar cair meu coração no chão feito de sonhos e pedras até aquele barco que nos leva à Índia de nós próprios. somos do rio, da beira detida onde o navio da memória faz soar a sua buzina cada noite esperando haver mar no fim do dia.

*PABLO JAVIER PÉREZ LÓPEZ é investigador na Universidade Nova de Lisboa 38

Esteban García López


MÚSICA De los diversos estilos musicales de Portugal, entre los que se encuentran el fado y la canción protesta o política, es prácticamente imposible determinar de forma correcta sus orígenes. Recurro, por tanto, a mi testimonio vital para explicarlos.

La canción protesta ANTÓNIO DUARTE La canción protesta, canción política, surge como continuación de la balada de Coimbra, que a su vez surgió del fado de Coimbra. José Afonso y Adriano Correia de Oliveira, personas que conocí de cerca, le dieron vida. En los años sesenta, del siglo pasado, y después del inicio de la guerra colonial y la emigración en masa, tomó fuerza renovada la canción política. En mi opinión, José Afonso fue su máximo exponente, ¡el hombre de Grândola Vila Morena! Mientras él era autor, compositor e intérprete, los demás cantaban poemas de otros autores. Es necesario destacar también a Manuel Alegre, poeta y locutor en la clandestinidad de Radio Portugal Libre, en Argelia. La canción protesta fue la llave para la liberación del país, el 25 de Abril de 1974, con Grândola Vila Morena. En esa fecha, me encontraba cumpliendo los tres años de servicio militar obligatorio en Lisboa. En aquel tiempo el fado, según algunos cantantes revolucionarios de la época, era considerado aliado del fascismo, pues era cantado y apoyado por la corriente salazarista. Pienso que esto no sería más que una afirmación “en caliente” y en el momento. ¡El fado es el pueblo! En una sesión de fados a la que asistí, en la casa de fados “Pátio de Santana” de Lisboa, un amigo me explicaba sus orígenes y sus variados estilos. Según él, el origen descansa en diversos barrios típicos de Lisboa: Moraria, Alfama, Mandragoa, Bairro Alto, etc. Cada barrio tiene y defiende su propio estilo, al que da nombre. Son todos

José Afonso fue el máximo exponente de la canción protesta, ¡el hombre de Grândola Vila Morena! Mientras él era autor, compositor e intérprete, los demás cantaban poemas de otros autores básicamente idénticos, sólo existen algunas diferencias en la melodía. Así, encontramos el estilo de Alfredo Marceneiro, castizo y triste y después el de la grande Amália Rodrigues y Hermínia Silva, ya con melodías más alegres; sin olvidar tampoco el fado-marcha : véase el Embossado, el Fadinho Serrano o hasta Casa da Mariquinhas. Son todos alegres. Patrimonio de la humanidad Además de éstos, hay muchos otros tipos de fado y cada uno tiene el nombre de su autor. No voy a enumerarlos todos, quiero sólo dejar constancia de ese hecho. En esta nueva corriente de fado, que es muy fuerte, ya que hay nuevos cantantes de gran calidad como Carminho, Ana Moura, Mafalda Arnault, Cátia Guerreiro, etc., los estilos se mantienen, pero de una forma más viva, más moderna, pues disponen de nuevos instrumentos para el acompañamiento que enriquecen más la melodía. Aunque el fado típico y castizo se mantenga en los locales más tradicionales, la modernidad le vino a dar más alegría. Sin embargo, esto no ha sido fácil debido a que los cantantes y músicos conservadores están

oponiendo resistencia a esta evolución. Por otro lado, hay algunos fadistas, Mariza por ejemplo, que viven a costa de Amália Rodrigues, de su imagen exterior, no innova nada, gana millones y “jazzifica” el fado, sacándolo fuera de su contexto. Sé que hay mucha gente que la venera, pero mi opinión es distinta. El fado es patrimonio de la humanidad y como tal debemos conservarlo: genuino y moderno, sí, pero sin exagerar, pues deja de ser fado para convertirse en música ligera. 39


SECCION JOSÉ ANTÓNIO PINHO

Un deber de ciudadanía

¡No tengo tiempo...! Frase muy oída cuando se pide a alguien colaborar en una actividad orientada a los demás. El ciudadano consciente de sus responsabilidades sociales debe disponer de tiempo para mirar en el entorno de sí mismo, en particular, para su círculo más cercano y, sobre todo, para la personas con menos medios. La sociedad ibérica a la que pertenecemos está regida por dos grandes movimientos de pensamiento. Por un lado, el cristianismo en el que todos deben considerarse hermanos, y por otro, el republicanismo donde todos se deberían regir por los principios de libertad, igualdad y fraternidad. Así, nuestro deber de ciudadanía debe atender a quien más lo necesita, y es en el cumplimiento de este principio donde se desarrollan nuestras actuaciones que muchas veces, se alargan durante horas. En las asociaciones, divulgamos libros y escritores, presentamos poetas y músicos donde la canción protesta es un privilegio; en las escuelas, reivindicamos el gusto por los sueños y el encanto de nuevas historias donde vamos introduciendo canciones populares que hablan de la vida en familia, la amistad o el estudio. En los hogares, mejor dicho, en las residencia de ancianos, llevamos un mensaje: el derecho a vivir con dignidad, de alimentar el deseo y la necesidad de leer, de cantar, de bailar y de mantener el espíritu de vivir con la cabeza alta y de creer que todavía es tiempo -siempre hay tiempo- de ser feliz y hacer felices a aquellos que nos rodean. Antonio Duarte, Cándida Bernardo y María Juan formamos el núcleo duro de nuestra intervención cívica y en la que, puntualmente, también colaboran Lena Reis, Acacio Morujo, Pedro Gato y Paulo Madeira. Al comienzo de nuestras actuaciones, todos nosotros sentimos la frialdad y la apatía del público. Pero el silencio va rompiéndose, poco a poco, cuando aparece una mirada curiosa o vamos notando el interés por las letras que vamos diciendo, declamanado o cantando. Un amor acaba de nacer Pero la recompensa, la gran satisfacción, la extraordinaria alegría, aquello que nos da la seguridad de que está mereciendo la pena –y siempre vale la pena- es ver el rostro, la mirada tranquila, todavía brillante de quienes nos oyen y que por su edad, por sus cabellos blancos podrían ser nuestros hermanos o hermanas, padres o madres que van abriendo sus corazones y notamos cómo sus voces se unen a las nuestras. Y al terminar la actuación, sabemos ellos y nosotros, que una amistad, un amor acaba de nacer. Una cosa es cierta, volveremos. Nuestra intención es contribuir a humanizar la permanencia de nuestros ancianos en este tipo de centros. Colaborar en una transformación sin prisa, pero sin pausa, y eficiente de estas residencias en centros de placer y actividades cuanto más diversificadas mejor. Leer y oir música, cantar y bailar, jugar a las cartas o al dominó, probar a la loto, hacer gimnasia y pasear son actividades tan o más importantes que el dormir o el comer. Tantos ciudadanos sin empleo y tantos jubilados, ¿por qué no tendrán tiempo para los demás?

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MÚSICA

A inquisição musical está cá? JAVIER GARCÍA LORENTE Isso é o que muitas bandas questionam. Todos gostamos, em maior ou menor medida, de ouvir música ao vivo quando estamos num bar, restaurante, discoteca... Bem como ouvir uma suave música ambiental, ou ainda assistirmos a algum concerto. E normalmente agradecemos encontrar estes grupos que nos animan e nos fazem sentir bem. Até aquí tudo parece simples. Às vezes parece que não há evolução, que as coisas são mais difíceis que em outros tempos que conhecemos. Nunca foi fácil para uma banda começar. O verdadeiramente curioso é que hoje é mais

C/ Ramos Carrión, 21, 49001 Zamora

fácil que nunca ter instrumentos e amplificadores, guitarras, baterias, equipas de som... há muitas ofertas, e muito mercado de segunda mão, e acesso a comprar pela net com bons preços. Também, por outro lado, há muita informação, na net, sobre outros grupos, manuais e vídeos de aprendizagem para conhecer outras músicas e para aprender a tocar um instrumento ou para cantar uma canção. Será por isso que há mais grupos que antes? Posso lembrar, nos anos 80 as dificuldades de um grupo para poder ter um equipamento. Era muito caro. E muito difícil de encontrar. E também era mais difícil aprender. Havia poucos livros, pouca informação, não existia internet. Actualmente, as bandas da nossa cidade têm muitos problemas para encontrar lugares onde possam tocar ao vivo. Quando as dificuldades que nós tivemos no passado pareciam por fim esquecidas, encontramos uma situação muito complicada.

Tel. 980 53 56 34

Contra a cultura popular Um dos principais problemas é a falta de uma normativa clara para os estabelecimentos onde é possível tocar. Há uma confusão de licenças que é uma verdadeira embrulhada. Ao não ter uma lei que o regule, cada Câmara Municipal faz o que quer. E no final, quando uma Câmara Municipal está contra a cultura popular, é quase impossível que a música possa ter um mínimo desenvolvimento fora da programação municipal. Na nossa cidade, Valladolid, só há três locais que têm licença para se ouvir música ao vivo. Somos uma cidade de mais ou menos 400.000 habitantes. Muitos locais

Tomás Rodríguez Isla

têm interesse em fazer concertos, mas sempre têm, sem nenhuma razão, um parecer negativo da autoridade. Além disso, há uma perseguição activa aos locais que organizam concertos ou qualquer outra actividade cultural. A polícia vigia e multa de uma maneira bastante agressiva os locais. É um beco sem saída. Se pedem uma licença para um concerto, esta não vai ser concedida. E é por isso que há uma grande frustração entre os grupos musicais e também entre a gente que gosta da música perante esta situação. Acho que nunca houve tantas bandas, de todos os estilos como agora há. Nem tantos locais com necessidade de promover atividades para poder activar o seu negócio. Mas a realidade é uma verdadeira contradição. A minha sensação é que a inquisição está cá. 41


MÚSICA Ana Oliveira e Carmo, diretora y apresentadora de La hora del flamenco

do sido escolhido como passível de poder ter um patrocínio La Hora del Flamenco.

Domingos com sabor a flamenco ISABEL SANZ SOBALER Desde há três meses, a música flamenca converte-se cada domingo, durante uma hora, na trilha sonora dos portugueses. O culpado disto é um novo programa de rádio, La Hora del Flamenco, que todos os domingos, das 11 às 12 horas, a partir da Rádio Amália abre, em Portugal, uma porta a esta arte espanhola, bem como às áreas diretamente associadas à cultura espanhola. Um espaço semanal único nas ondas portuguesas onde o objetivo é apresentar artistas de flamenco que o elevaram, hoje, a fenómeno de cultura mundial , sem esquecer as raízes e referências históricas desta arte. É o primeiro programa, em Portugal, de música espanhola. O programa nasceu pela mão de Ana Oliveira e Carmo, uma apaixonada pelo flamenco desde os anos que passou em Madrid, e mais tarde como coordenadora do Festival de Flamenco de Lisboa, que se celebra desde 2008. “Nesse momento, comecei a ter 42

mais contacto com os artistas flamencos e foi a partir dessa altura que senti que cada vez havia mais interesse pelo flamenco. Foi então que decidi que era a altura de ter um programa que difundisse mais o flamenco em Portugal.”, assinala Oliveira. Uma vez com a ideia e os objetivos prontos, foi necessário conseguir o apoio para poder torná-la realidade. O projeto dirigido por Ana Oliveira, produzido pela Associação Flamenco Atlântico, que não tem fins lucrativos, conseguiu a colaboração do Ministério da Cultura e Assuntos Exteriores dentro das suas políticas de ajudas atribuídas, em concurso público, ten-

O flamenco acorda em Portugal Se há uma coisa que chame a atenção neste programa é a emissora onde em cada domingo La Hora del Flamenco tem lugar, a Rádio Amália, uma emissora que só emite fados e que rende homenagem ao maior expoente desta arte, Amália Rodrigues. “Escolhemos a Rádio Amália porque pensamos que fazia todo o sentido. O fado e o Flamenco são património mundial da humanidade ambas cantam a música de um povo e ambas falam sobre um sentimento interior, que só um povo sabe refletir em toda a sua intensidade e sensibilidade. Penas e alegrias, em “clave” de música”, comenta Ana Oliveira. Passado, presente e futuro do flamenco unem-se durante uma hora para “informar e difundir” esta arte, duas palavras que sempre estão presentes quando se fala deste programa. “Quero aproximá-los a “los palos”, à introdução dos grandes poetas e as suas letras dentro da métrica do flamenco, porque há muitos portugueses que gostam do flamenco, mas que o não entendem”. Se há um momento que mudou parte da história do flamenco em Portugal foi quando a Unesco nomeou esta arte, em 2010, como património imaterial da humanidade. Uma nomeação que despertou ainda mais o interesse dos portugueses pela arte espanhola. Um fato que unido à realização anual do Festival de Flamenco, em Lisboa, “motivou os produtores portugueses a trazer artistas de flamenco a Portugal e cada vez têm mais audiência”.


LAZER E são pela sua idade, pelo seu porte e porque têm resistido, há muito tempo e anos em pátios, praças empedradas ou à beira de prédios e passeios com muita passagem de pessoas, autênticas árvores monumentais, que associado ao seu natural valor intrínseco, as converte em elementos patrimoniais, as quais devem ser preservadas de maneira ativa. São histórias da minha cidade, Valladolid.

Umas velhas e fortes árvores 9 metros, capaz de tolerar solos secos prosperou em locais como este. Para sua sorte, tolera a poluição atmosférica e é resistente à poda porque vive diante da rua, com muito trânsito de carros durante todo o día . É denso, muito ramificado de copa arredondada, ramos acinzentados, e triste no inverno. Mas com as suas folhas grandes e atractivas flores brancas na primavera chama a atenção das pessoas.

Dámaris Alejo

JULIA Mª MOLINA GONZÁLEZ Há, na nossa cidade, nomeadamente no centro, exemplares que merecem ser assinalados. Vou falar de cinco árvores , que como as antiguidades, têm mais de cinquenta anos de idade. E viveram obras de construção sem cair, e até a guerra e a dura pós guerra sem que ninguém as transformasse em lume. Têm entre 60 e 100 anos, são muitos os pássaros com os seus ninhos que têm vivido nas suas ramas e muitas as pessoas que delas falaram. As primeiras, e as mais novas deste pequeno grupo, com 60 anos, são quatro palmeiritas, giras, elegantes,

a emergir dum chão também elegante, no pátio da biblioteca que se chama Santo Nicolas. Crescem até aos 11 metros com um caule firme e umas palmas a voar ao ar que trouxeram da floresta distante de outros lares muito diferentes a nossa Castela. Mas, queres saber um segredo? Estas quatro têm um par de irmãs na escola das freiras da Companhia de María, diante da sua igreja. São tão altas e tão bonitas como as primeiras, e a sua casa é também um pátio. A seguir, em idade, está um sabugueiro. Tem 70 anos, e está na rua do Santuário. Cresceu até aos

Um cedro e uma estátua A seguinte tem 90 anos. Está na praça de São Paulo, e é muito mais famosa do que as anteriores. É a mais alta, eleva-se até aos 20 metros. Falamos dum cedro, espécie que atinge dimensão assinalável e têm sido bastante plantadas em parques e jardins. Este aqui tem vivido toda a sua vida acompanhando uma estátua, a de o rei Felipe II. Por último, chan, chan, chan a árvore mais velha, 100 anos. Podes vê-la na rua do voluntariado social. Atinge 14 metros de altura, muito para a sua espécie. Como é perenifólia está sempre verde, muito ramificada desde a base, copa densa, forma piramidal ampla com ramos horizontais. É muito bonita, e parece que fica escondida. Não queremos deixar de referir que... ah! casualidade, elas vivem perto dos centros de ensino, uma biblioteca, um convento, uma praça dedicada a voluntariado social... Será por acaso? 43


SECCION

O meu paraíso alentejano GOYI PLAZA PARRA Tenho a sorte e o privilégio de possuir uma casa maravilhosa no Alto Alentejo, apesar de não ser o proprietário. Os meus amigos espanhóis, a Kyra e o Quini, construiram-na há seis anos já que ele, o Doutor Joaquim, trabalha lá há quinze. Compraram um monte de oliveiras que só tinha uma casa pequena, mas com o seu bom gosto e as mãos especialistas de pedreiros portugueses transformaram-no num lugar único, inimitável, mágico - um verdadeiro paraíso. No centro uma piscina com vasos lindíssimos cujas flores coloridas decoram e perfumam o ambiente. À volta há árvores variadas: laranjeiras, limoeiros, loureiros, oliveiras e a “rainha”, uma figueira centenária. Ao redor da piscina levantam-se a moradia dos donos e os diversos anexos: a casa para os convidados, para os animais de estimação, as garagens, os arrumos e uma enorme cozinha e sala de jantar para todos partilharmos as refeições. As paredes estao caiadas e pintadas com faixas azuis, respeitando assim todos os pormenores da arquitectura tradicional alentejana,

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como também por exemplo, a típica chaminé. Neste lugar, onde vou não só nos verões, apesar de ser essa a época de que mais gosto, percebi que a terra pertence sempre a alguém, apesar de, na verdade, suceder exatamente o contrário: as pessoas é que pertencem à terra. A felicidade existe Nessas tardes de verão em que o calor derrete e as oliveiras parecem de prata, os rostos alentejanos parecem ensombrados enquanto a tarde vai caindo, ainda luminosa. Esta paisagem é belíssima, o silêncio é profundo e o cheiro das plantas deixa-me absorta nas minhas reflexões. As árvores têm uma presença intensíssima. Há sobreiros até ao céu? Mais silêncio, um silêncio estranho, total, mas que é necessário para aqueles minutos e serões inesquecíveis que partilho com a minha amiga Kyra. Lá, à noite, com as nossas conversas no alpendre, a felicidade existe e sinto que não encontraria mundo mais harmonioso. Porque têm os homens tanta dificuldade em aprender as coisas boas e facilidade em repetir as

más? Lá, está-se muito bem. Uma sensação de paz como aquela, não a experimentei em mais nenhum lugar. Embora me parecesse, ao princípio, que esta povoação ficava à margem do tempo, assistindo ao passar dos anos sem se modificar, sinto-a viva interiormente, ouço-lhe bater o coração. Nao é verdade Ti Clarice, Mª José? Desde sempre me disseram: “Entre, esteja na sua casa”. Obrigadíssima. A luz milagrosa é cúmplice para ir olhando e reflectindo: lagares de azeite e vinho, o que pode humanizar uma simples chaminé, as palavras ditas que são às vezes quase um dorido enternecimento (porque o alentejano, geralmente, não tem o sorriso fácil; ele diz: “Tem de ser”...) Pergunto-me: a grande propriedade é sempre inimiga da densidade populacional? A brancura das casas, o trabalho, a terra, a revolução, o calor, a sede, o latifúndio... Por muitas vezes que lá volte, tenho sempre a mesma impressão de descoberta, de novo encontro. E estou sempre com saudades de voltar ao “Monte da Figueira”.


LAZER

A minha primeira viagem a Portugal ANA ANDALUZ No verão do ano de 1970, quando tinha apenas oito anos, senti-me importante porque ia viajar, pela primeira vez, ao estrangeiro, com as minhas tias que costumavam levar-me de férias. Aquele ano calhou Portugal. Saímos num desses comboios noturnos que tinham o corredor num lado e os compartimentos para seis ou oito pessoas noutro. O percurso desde Valladolid até ao Porto demorava a noite toda e havia ali uma enchente tal que ficámos sem lugares para nos sentarmos. No verão, os trabalhadores portugueses regressavam à sua terra depois de terem trabalhado em diversos países da Europa. Iam carregados de prendas, malas, comida. Logo naquele primeiro contato comecei a apreciar o feitio português, pois alguns daqueles homens levantaram-se e cederam-nos os seus lugares. Além disso ofereceram-nos da sua comida e até nos amenizaram a viagem com música que saía como que por magia de um gira-discos a pilhas que um deles trazia. Aquela viagem significou para mim uma aventura magnífica, na qual não faltaram carabineiros a inspecionar, na fronteira, as bagagens e os documentos de identidade. Para completar aquela noite fantástica, ao alvorecer, pouco tempo antes de chegarmos ao Porto, o comboio, que era muito comprido, descarrilou sem consequências graves. Com certeza, as minhas tias sofreram e até tiveram medo, mas eu, pelo contrário, vivi aquilo com tanta emoção como se tratasse de um filme no qual eu era a protagonista. Já em terra portuguesa, encontrámos-nos com outros parentes de Madrid, que tinham viajado no seu Seat-600. A partir daquele momento, todas as deslocações curtas pelo país, fazíamo-los os sete no carro; nem faço ideia como conseguíamos metermo-nos todos nele.

Dos locais que visitámos não tenho tantas lembranças como de situações que para mim foram marcantes, como a imagem das mulheres que caminhavam de joelhos ensanguentados pela estrada que conduz ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima ou o tratamento que tínhamos nos hotéis, onde as minhas tias eram Excelentíssimas Senhoras. Conhecer a sua cultura Contudo, o melhor da viagem foi para mim a visita a Portugal dos Pequenitos, em Coimbra. Foi um sonho. Fiquei encantada, a entrar e sair e das casinhas feitas à minha medida e a correr entre as ruelas. Tivesse ficado lá a viver! Finalmente, houve algo que me inquietou. Quase não se viam meninos na rua. Onde estavam? Estava sempre à procura de algum, para brincarmos. A questão preocupou-me, pois pouco tempo atrás tinha visto o filme musical Chitty Chitty-Bang Bang, onde as crianças tinham sido sequestradas. Teria acontecido a mesma coisa em Portugal? Regressei a Espanha e o enigma ficou por decifrar, mas tenho a certeza que aquela viagem foi a semente que fez germinar há já alguns ano a aprendizagem da língua portuguesa, cresceu com o desejo de conhecer a sua cultura e frutificou nos meus bons e queridos amigos portugueses.

Aquela viagem significou para mim uma aventura magnífica, na qual não faltaram carabineiros a inspecionar, na fronteira, as bagagens e os documentos de identidade

Para completar aquela noite fantástica, ao alvorecer, pouco tempo antes de chegarmos ao Porto, o comboio, que era muito comprido, descarrilou sem consequências graves.

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SECCION FAST FOOD DEPENDÊNCIA

Pode-se sobreviver só com “a dieta do palhaço”?

NOELIA MEDINA Num mundo acelerado como o nosso, qualquer coisa que nos ofereça comodidade e conveniência a baixo custo, tem futuro garantido. É por ir ao encontro destas nossas «necessidades», que a indústria “fast food”, que prolifera nos dias de hoje como cogumelos numa floresta, se tem conseguido enraizar nas nossas vidas. Peritos em saúde pública denunciaram há já algum tempo, a existência de problemas associados à chamada “comida de conveniência”, devido à sua composição à base de ingredientes pouco saudáveis; assim como estudos recentes comprovaram que em cada três americanos, dois estão acima do peso ou são obesos. Mas por que a população americana é tão obesa? E de quem é a culpa? Você pode arriscar um palpite depois de assistir a Super Size Me, um filme que mostra o que a ingestão de fast food lhe pode fazer. No documentário Super size me, Morgan Spurlock, o realizador, vai numa cruzada para apurar a veracidade destes argumentos. A viagem levou-o a atravessar os Estados Unidos, à procura dos factos, colocando também o seu próprio corpo à prova, alimentando-se apenas no McDonald’s, durante um mês, com apenas três regras: uma, sem opções: tinha que comer o que estava disponível; dois, não podia comer o menu grande, excepto se oferecido, e três, tinha de comer todos os itens do menu pelo menos uma vez. 46

Luis Fernández

Antes de iniciar a viagem, fez inúmeros exames médicos, que o declararam em perfeita saúde. No entanto, durante a sua cruzada, o seu estado de saúde foi-se alterando, drasticamente, e Spurlock começou a sentir dores no peito, dificuldades em respirar, a entrar em depressão, sofrer de insónias e ter o colesterol nas nuvens. O seu fígado deixou de funcionar e o médico implorou-lhe que parasse. Estava no vigésimo dia. Mas ele persistiu e acabou com 12 quilos a mais e bem mais pobre. A fast food é chamada de conveniente, porque, para nós, é exactamente isso: conveniente para nós. Mas também o é para o fabricante, e esta conveniência provém da produção em massa e barata dos ingredientes. Consequências perigosas O valor nutricional do produto é sacrificado em detrimento desta conveniência. Para devolver todos os sabores perdidos durante o processamento dos ingredientes, são adicionadas grandes quantidades de açúcares, gorduras e sal, para

Para devolver todos os sabores perdidos durante o processamento dos ingredientes, são adicionadas grandes quantidades de açúcares, gorduras e sal que nos proporcionem as sensações adequadas. A experiência de Morgan Spurlock levou-o a uma exposição constante a grandes quantidades destas comidas de alto risco. E o facto das consequências potencialmente perigosas, num período tão curto de tempo, serem tão graves e óbvias, é um problema, ao qual devemos estar alerta. “Somos o que comemos”. E se consumimos produtos elaborados com altas doses de pesticidas, fitossanitários, transgénicos, adoçantes, corantes e substâncias que nos tornam viciados em fastfood, isto acaba, mais cedo ou mais tarde, tendo consequências na nossa saúde.


LAZER

Por los sabores del Miño ISABEL FONSECA MARTINS El Miño es un lugar donde rezuma el romanticismo que nos transmiten sus monumentos, sus paisajes dignos de leyendas de caballería, de reyes y reinas, y su gastronomía, aspecto diferenciador estrechamente ligado a la riqueza cultural y a sus tradiciones rurales. Cuando se habla del Miño, la región verde de Portugal, se asocia obligatoriamente a su comida, dado que es la preferida de los portugueses. El Miño es conocido por su hospitalidad, íntimamente relacionada con el buen comer y beber. Los muy variados platos son conocidos por ser elaborados con verduras de cosecha propia, animales criados en casa y pescado de los ríos de la región. Suelen acompañarse con un buen vinho verde y con postres conventuales, como “leite-creme” o “aletria”. Los manjares principales del Miño son el famoso “arroz de Sarrabulho” (Ponte de Lima) y las “papas de Sarrabulho”, acompañados de “rojões”. El “arroz de Sarrabulho” está acompañado con carne de ternera, pollo y cerdo, además de chorizo, sangre de cerdo y sus vísceras mezcladas (corazón, pulmón…). Se condimenta con especias, principalmente comino. La guarnición de este arroz son los “rojões”, carne de cerdo marinada, cortada en cubitos y mezclada con

tripas enharinadas, chorizo, hígado y sangre. Es un plato tradicional elaborado con mucha delicadeza y minuciosidad.

CALDO VERDE En esta verde región, llena de tradición, también puede degustarse un delicioso “cozido à portuguesa” entre los meses de octubre y febrero, debido a la estacionalidad de sus variados componentes (jamón, chorizo, ternera, pollo, oreja de cerdo, tocino, farinheira, verduras, etc.). El más sabroso se come en Terras de Bouro y Arcos de Valdevez. En esta ciudad se pueden visitar los monumentos megalíticos, en particular las Antas da Serra do Soajo, ejemplo único de tumbas prehistóricas. No podemos olvidar el famoso “Caldo verde”, una sopa hecha sólo con patatas y mucha col gallega. Se sirve en un cuenco acompañada de una rodaja de chorizo (a tora). Por toda esta tradición gastronómica, Ramalho Ortigão escribió: “Sólo hay un banquete portugués que supera todas las cenas de París, y las supera absolutamente: la cena en la víspera de Navidad en nuestras tierras del Miño”.

En Viana do Castelo, tras visitar el Templo do Sagrado Coração de Jesus, más conocido como Templo de Santa Luzia, desde donde se descubre una maravillosa panorámica de la región, que abarca el mar y el valle del río Lima, no se debe dejar de probar el “Bacalhau à minhota”. Un bacalao que se enharina y se fríe en aceite de oliva. Se le agrega cebolla cortada en finas rodajas y ajo laminado, vino blanco, pimienta y pimentón. El bacalao se sirve cubierto con las cebollas y patatas en rodajas que han sido fritas en el mismo aceite del bacalao. En Monção, Esposende y Caminha, la reina es la lamprea capturada en el Miño. Y en Ponte da Barca y Paredes de Coura, se come la mejor trucha de río. Comiendo en estas ciudades, se puede sentir la conocida hospitalidad de la acogedora gente del Minho. Ternera “barrosa” Para seguir disfrutando de toda esta rica, casera y sabrosa gastronomía, se debe degustar el Cabrito do monte, plato típico de Melgaço. Vieira do Minho es conocida por la excelente calidad de su ternera: la “posta de vitela Barrosã”. Ésta es una carne excelente, caracterizada por el sabor de los verdes prados del norte, del maíz y el raigrás sembrados por los agricultores de la región. Por esta razón, en el siglo XIX, se exportaban miles de animales para la Corte inglesa. Y aún hoy día es común encontrar el nombre de “portuguese beef” en restaurantes londinenses donde se sirve la ternera Barrosã. Es una carne tierna, muy jugosa y sabrosa. El filete debe tener un espesor de 3 a 4 cm. y se asa a la parrilla sazonado sólo con sal. Después se le añade una salsa de aceite de oliva, vino blanco, vinagre, pimienta, ajo y romero. 47


MARTÍN MANCEÑIDO FUERTES Presidente da Associação de Amigos de Portugal em Espanha

“Amo tudo o que é espanhol, mas nada do que é português me é indiferente ou alheio”

Fundou a Associação de Amigos de Portugal, em Espanha, em 1995. Está à sua frente há 10 anos, em duas alturas, e o seu objectivo é o de reforçar os laços entre os dois países ibéricos.

ARMANDO GUTIÉRREZ Poderá falar-nos de algum projecto em concreto? As atividades que desenvolvemos ao longo do ano potenciam os laços de amizade e solidaridade com as pessoas, entidades e instituções públicas e privadas, tanto de Portugal como de Espanha. Entre outras podermos citar viagens, cursos, conferências, jornadas culturais, gastronómicas ou de intercâmbios empresariais, concertos, congressos, celebração de efemérides Portuguesas ou os Prémios Nacionais à Amizade Hispano-Portuguesa, etc. Como é que surge a ideia de criar a Associação e quais são os seus objetivos? A ideia de criar a Associação de Amigos de Portugal, em Espanha, foi amadurecendo à medida que conhecia melhor Portugal. A minha condição de Presidente dos Dadores do Sangue e a boa relação com a Federação Portuguesa fez com que tivesse ocasião de visitar durante alguns anos muitas aldeias e cidades e logicamente conhecer muitas pessoas. Essa proximidade e conhecimento humano foi fascinante e ao mesmo tempo desencorajante porque não existia uma realidade biunívoca desde Espanha, onde a percepção era a contrária. Propus a ideia a uma data de amigos do mundo da educação, da empresa e ao próprio Cônsul de Portugal em Leão e todos gostaram da iniciativa. Há mais motivos de separação do que de união entre os dois paises? Não, pelo contrário. Há muito mais motivos de união que de separação. O que se passa é que,

mesmo que seja uma ideia pré concebida, nem sempre os vizinhos e os irmãos são os que têm mais afinidade entre si. Acho que é o que se passa entre o Portugal e Espanha Existem muitas diferenças entre os habitantes de um e outro lado? A única diferença é a nivel de conhecimento mútuo, com maior deficit da parte espanhola que o oposto. Por sorte, ainda que seja recente, isto está a mudar a bom ritmo Qual é a sua opinião em relação à nossa iniciativa de criar a revista NÓS-OTROS? Fantástica. Se algo assim se tivesse feito há mais tempo não estaríamos nesta situação. O nosso empobrecimento é fruto da indiferença e certamente do complexo de superioridade dos espanhóis para com o Portugal e os portugueses, e um sentimento de prevenção de sua parte. Por sorte, tudo está mudando, ainda que não tão rápido como gostaríamos, apesar de compartilhar uma realidade europeia. Em algum momento, nós espanhóis falaremos português da mesma maneira que os portugueses falam castelhano? Falaremos, sim. A língua portuguesa tem mais falantes do que o francês o alemão. Trata-se de duas línguas entre as cinco mais faladas do mundo, o que está a dizer que, tanto os estudantes portugueses como os espanhóis estão concertados e além do mais, contribuís da melhor forma para a amizade e o entendimento entre os povos irmãos. Ser presidente da associação mu-

PAULA MAIQUEZ

“Gostaria que os portugueses se abrissem um pouco mais e fizessem um esforço para deixar de lado os receios” dou a sua forma de se relacionar com os seus amigos portugueses? Não, pelo contrário. Mas gostaria que também os portugueses se abrissem um pouco mais e fizessem um esforço para deixar de lado os receios. E entendam que desde a Associação trabalhamos pela amizade, o conhecimento, o respeito e a união. Qual é a maior ilusão como Presidente da Associação? Boa pergunta, mas acredito que a minha ilusão fica muito clara ao longo da entrevista. Citarei uma das máximas da Associação: “Amo tudo o que é espanhol, mas nada do que é português me é indiferente ou alheio”. Se inverteres a frase também fica perfeita.


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