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Albino Pinto continua a sua viagem

Albino Pinto é uma figura bem conhecida no universo da restauração de Matosinhos, proprietário de restaurantes como “Mar na Brasa “ e “ Adega Campos”, atualmente dedica-se a gerir a Tasca Dona Maria

NM - O Sr. Albino tem há vários anos uma ligação muito forte à restauração. Lembra-se como surgiu essa sua paixão? Sente que, em certa medida, o concelho de Matosinhos, intimamente ligado ao setor, também o inspirou nesse sentido?

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AP - O início da minha atividade foi algo muito giro. Eu vim para Matosinhos com 10 anos trabalhar e fiz de tudo um pouco: trabalhei como padeiro, merceeiro, trolha, trabalhei numa fábrica de conservas, até que, um dia, surgiu um amigo que me propôs ir trabalhar para a Restauração. Considerei uma boa ideia, até porque o salário era melhor do que eu ganhava, e na altura todo o dinheiro contava. Em segundo lugar, porque não apanhava chuva, frio, e era outro conforto. Estes foram alguns dos motivos que me levaram, então, a enveredar por este caminho. Inicialmente, trabalhei no “Café Lua”, passei pelo “Leixões Bilharista”, até que me convidaram para trabalhar no restaurante “Caracol”. Foi aqui que começou a minha verdadeira ligação à restauração. A partir dessa altura, trabalhei sempre nesta área, em poucas casas, mas muito boas. Aprendi muito e acabei por ganhar esta paixão. A partir daí, segui por este caminho, que considerei o melhor para mim. Mais tarde, tive um patrão que me surgiu criar uma sociedade, que, apesar de ter sido muito boa, me ajudou a perceber que aquela não era a minha maneira de ser. Assim, decidi lançar-me sozinho, abrindo o restaurante “Pérola da Avenida”. Naquela altura, trabalhávamos muito bem, com pratos muito simples mas apostando sempre na grande qualidade dos produtos. Uns anos mais tarde, vendi o “Pérola da Avenida”, e finalmente acabei por abrir, novamente na Avenida Serpa Pinto, o restaurante “Mar na Brasa”, do qual ainda hoje tenho muitas saudades.

NM - Qual foi a sua principal motivação para abrir este estabelecimento?

AP - Nunca fui pessoa de estar muito tempo parado. Quando vendi o restaurante “Mar na Brasa”, naturalmente eu e a minha esposa ficámos sem grande coisa para fazer, e passado algum tempo, aquele “bichinho” começou a despertar novamente. Nenhum dos dois conseguia estar muito tempo parado em casa, pelo que decidimos abrir um novo espaço. Acabámos por abrir, uma vez mais, aqui na Avenida Serpa Pinto, próximo de casa, a Tasca Dona Maria.

NM - Anteriormente, foi dono de um dos restaurantes mais conhecidos no concelho, o “Mar na Brasa”. Agora, inaugura a Tasca Dona Maria, com a mesma gerência. Pretende associar a entidade do “Mar na Brasa” ao novo restaurante?

AP - Abrimos este espaço como Tasca Dona Maria, mas com o restaurante “Mar satisfazer todos os clientes. Dediquei-me a uma especialidade, que vamos manter, o peixe fresco todos os dias: cozido, grelhado, assado no forno ou em sal… Mas algumas das referências que eu quero, na realidade, impor aqui neste espaço são as famosas caldeiradas de peixe, as cataplanas mistas de tamboril, polvo e lagosta, o arroz de tamboril com camarão e os típicos filetes de pescada com arroz de camarão, todos os dias. Para além disto, preparamos outros pratos que nos peçam, adaptamo-nos sempre aos desejos de todos os clientes.

NM - Como definiria atualmente a restauração no concelho de Matosinhos? Na sua opinião, o que é que ainda falta no setor?

AP - Na minha opinião, Matosinhos, com muita pena, é uma terra sem grandes ideias. Uma das minhas preocupações é que abrem muitos restaurantes, mas sem grande inovação, que é algo que eu procuro fazer. Dedicar-me ao peixe grelhado, tão característico na região, mas mantendo sempre a típica “comida de panela”, feita com tanto carinho e que perpetua a tradição portuguesa.

E há ainda outra coisa que falta no concelho. Infelizmente, existem cada vez menos pessoas com gosto pela restauração, com vontade de aprender. O resultado disto são restaurantes com pessoas que nada percebem da área, que não têm a sensibilidade necessária para lidar com o público e que, muitas vezes, não olham a meios, nomeadamente à qualidade, para atingir os fins. Sem pessoas que se dediquem de corpo e alma, penso que a restauração em Matosinhos, se não sofrer uma revolução, não terá grande futuro, algo que eu lamento muito.

NM - Que perspetivas tem para o futuro deste restaurante?

AP - Uma das minhas preocupações para este restaurante é que isto funcione bem apenas enquanto eu for vivo. Para mim, é uma satisfação ter o meu tempo ocupado, poder conviver com os meus amigos e fazer novos amigos a trabalhar no que realmente gosto. Infelizmente, como disse, existem cada vez menos pessoas inclinadas para trabalhar na restauração. Tenho um filho que não gosta muito desta área, algo sobre o qual nunca exerci grande pressão. Nunca quis impor este modo de vida, porque considero que a restauração é para quem realmente gosta.

Da minha parte, quero ter a felicidade de continuar a fazer o que amo enquanto quiser. Enquanto for vivo, tenciono fazer deste restaurante uma referência para os nossos clientes e, acima de tudo, aqui no concelho.

Paulo Mengo Professor de História

Está a terminar o período de discussão pública a propósito das propostas avançadas pelo governo no que à política de habitação concerne, visando atacar de frente uma das situações mais complexas que o país atravessa. Fruto de múltiplos fatores que vêm contribuindo para uma escalada de preços, impensável há meia dúzia de anos, urge olhar o problema de frente chamando cidadãos e forças vivas a darem o seu precioso contributo na procura da melhor solução. Vem isto a propósito da intervenção do antigo Presidente Cavaco Silva na Conferência dos 30 anos do Programa Especial de Realojamento organizado pelo município lisboeta. Afirmou o mesmo, de forma simplista, que a crise na área é o resultado do falhanço da política do Governo nos últimos sete anos, ajuizando ainda que o atual executivo não tem credibilidade para pôr em prática as medidas que preconiza. Não estando em causa o direito de opinar, o que se questiona é a forma comicieira, lapidar e carregada de aparente assertividade, à qual há que misturar alguma acidez, penosamente retroativa, desde os tempos em que foi obrigado a dar posse ao governo de António Costa. E, porque a memória é dos dons mais preciosos que temos, talvez não seja despropositado revisitar alguns dos episódios ocorridos aquando da ocupação dos cargos de Primeiro-Ministro e Presidente da República por parte desta personagem. Dos muitos que poderia relembrar seleciono dois deveras elucidativos: a recusa em 1989, após parecer positivo do Conselho Consultivo da Procuradoria Geral da República, em atribuir a Salgueiro Maia uma pensão vitalícia por serviços excecionais e relevantes prestados ao país, ao mesmo tempo que três anos depois aceita atribuir o mesmo tipo de pensão a dois antigos inspetores da PIDE/ DGS, António Augusto Bernardo e Óscar Cardoso “Tendo em consideração os altos e assinalados serviços prestados à Pátria, que merecem o reconhecimento do Supremo Tribunal Militar (...)”; a recusa, em 1992, do subsecretário de Estado da Cultura do Governo liderado por Cavaco Silva, Sousa Lara, em indicar o livro de Saramago, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” para o Prémio Literário Europeu, o que levaria à mudança de Saramago para Lanzarote e, face à indignação que tal gesto levantou, à demissão do subsecretário, condecorado em 2016 pelo então Presidente Cavaco Silva. E, já agora, face ao exposto, alerto que não cabe qualquer pedido de desculpas, muito menos em nome dos matosinhenses, por parte de um ex-responsável autárquico, pelo facto de Luísa Salgueiro ter saído da sala quando Cavaco usava da palavra, mas sim um profundo agradecimento em nome da liberdade, a esta última, pelo ato de coragem. Bem-haja.

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