Lugar Marcado

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lugar marcado


título Lugar Marcado título original The Bus Stopped autor Tabish Khair direitos reservados Copyright © Tabish Khair, 2004 tradução Rita Correia revisão Nova Delphi design FBA. paginação Nova Delphi imagem Crowded Bus, Norte do Rajastão David Cumming Corbis / VMI impressão e acabamento Guide – Artes Gráficas Lda isbn 978- 989-8407-57-3 depósito legal 335155/11 editora Nova Delphi (Marca Registada da Euthalia Editora, Lda) Rua da Carreira 115/117, 9000-042 Funchal, Portugal www.novadelphi.com


Tabish Khair

lugar marcado



Para Adian.



índice 9 Prefácio 13 Lares 19 Viagens 163 Lares, de Novo 171 Glossário



prefácio Conheci Tabish Khair no espaço reduzido de um elevador na Universidade de Aarhus, onde ambos lecionamos, na primavera de 2008. Tinha lido uma sua entrevista no jornal dos estudantes que suscitara o meu interesse e que me levara a requisitar e a ler Filming, o seu segundo romance, com imenso prazer. O pobre homem olhara-me com algum terror nos olhos quando lhe estendi a mão, perguntando-lhe se ele era «Tabish Khair, o grande escritor?» Neste elevador não havia maneira de fugir de um perseguidor ou de um psicopata. Felizmente para mim — e para ele — tornámo-nos logo amigos e encetámos o costume de partilhar o café da manhã na cafetaria da Universidade. Durante as nossas conversas, fiquei a saber que ele provinha da cidade de Gaya, localizada no estado de Bihar, na Índia, considerada «Índia do fim do mundo» pela maior parte das elites. Tabish Khair tem muito orgulho das suas origens de província que lhe proporcionaram uma formação muito diferente da maior parte dos seus pares, escritores indianos educados no estrangeiro ou na alta sociedade urbana. A sua formação muçulmana é também detentora de uma forte, embora crítica, identidade, à qual ele frequentemente se refere. É um facto que, como descobri através do Google, Tabish parece ser o único escritor indiano que não só nasceu como foi educado numa pequena cidade da Índia. Todos os outros parecem ter nascido e/ou ter sido educados nas grandes cidades indianas ou no Ocidente. Outra coisa que aprendi, falando com Tabish, foi até que ponto a perceção do Ocidente relativamente à sua cultura «dominante» é ilusória. De todas as vezes que nos encontrámos falámos de Conrad, Proust, Hemingway ou Shakespeare. Mas um dia Tabish mencionou dois nomes que eu não conhecia. Perguntei-lhe quem eram essas pessoas e ele respondeu-me delicadamente que eram dois clássicos indianos. Dei-me conta imediatamente, num misto de terror 9


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lares



Mais do que os sahabs, bibis e babus, eram os criados quem conhecia a configuração das duas casas onde cresci, a sua geografia rugosa, as suas histórias encobertas, as suas inúmeras vozes solares e furtivas, crepusculares e nebulosas. Pois, mais do que os senhores, tinham sido os criados as parteiras das duas casas que foram berço das nossas vidas. Ambas as casas cresceram e tornaram-se mais sábias com eles. E contudo as duas casas haviam sido dolorosamente construídas pelos senhores; construídas não apenas com os materiais disponíveis mas também com os seus sonhos, esperanças e excentricidades. Com a alma de senhores, senhoras e criados por pilares, as duas casas haviam sido o nosso lar da infância e adolescência; pois, como reza o dito, as casas são feitas de tijolos, mas os lares são feitos de almas. Caminho por uma das casas, a branca, com passos cuidadosos e abafados. A poeira da minha história repousa aqui pesadamente. Não quero perturbar as camadas visíveis de tempo acumulado. Esta é a casa que sempre conhecerei como Ammi ké yahan. Na casa de Ammi. A casa de Ammi. Ainda que tenha sido o marido de Ammi, o meu avô, quem a construiu. Mas Ammi, mãe do meu pai e tias, «mãe» de todos os seus netos (obrigando as nossas verdadeiras mães a adotar designações mais plásticas — Amma, Mamã, etc.), tomou a casa a seu cargo e reorganizou-a nos anos em que crescíamos, anos durante os quais o seu marido esteve primeiro confinado a uma cadeira de rodas por causa da Alzheimer e depois, após sete anos em coma, foi enterrado no jazigo familiar, com pesar e alívio igualmente sinceros. Tenho cinco ou seis anos e deslizo no chão de mosaicos acabado de polir da outra casa. Os meus sapatos de levar à escola, pretos e brilhantes, deslizam e escorregam, e eu imagino-me com patins calçados. Durante muitos anos abordei esta casa com um grito. Ainda a abordo com algo semelhante a um grito, uma vez por ano. Mas a casa já não me devolve o grito. Como um velho criado, sorri e resmunga em resposta. Esta casa é a casa dos meus pais. Esta casa 15


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viagens



1. Ao entrar na clareira, ainda não é completamente dia. Avança para uma das camionetas lá estacionadas, numa área que se parece com um terreno abandonado e com uma tentativa frouxa de montar uma garagem; caminha sem pressa, molemente. É escusado afanar-se por causa de mais um dia, mais uma alvorada, apesar de ainda não ser bem dia, nem sequer alvorada, e o grande sacana ainda deve estar a roncar no khaat almofadado. Há pneus empilhados junto a um barracão de chapa ondulada. Meio submerso em lama, no sítio onde o tinha largado um mês antes, está um pé de cabra; ali ficará até ao dia em que irá acertar com ele no olho do grande sacana e provocar-lhe uma apoplexia — é bem feito, filho da mãe. Algumas peças de motor descartadas estão espalhadas: um guarda-lamas enferrujado, dois ou três puxadores, um para-brisas rachado, pequenas peças que ele seria capaz de reconhecer de olhos fechados. Há sulcos profundos na terra cavados por pneus, embora mais para baixo, perto da cerca de arame farpado, haja uma faixa de terreno irrigado e arado onde a mulher do grande sacana, sua própria prima em segundo grau (do lado da mãe), a outrora atraente Sunita, planta cebolas e alho, couves e batatas, consoante a estação. Há gotas de orvalho nos vidros da camioneta. De vez em quando, uma gota estremece, hesita e começa a deslizar. De sua própria vontade ou encorajada pela aragem fresca, desliza, primeiro lentamente, e depois mais depressa à medida que vai reunindo mais gotas, até se assemelhar a um riacho estreito precipitando-se para baixo, para baixo, para baixo, até cair na terra suja. Ele é um homem que repara nessas coisas; ele é um homem que só repara nessas coisas. Parece-lhe que se reparasse noutras coisas seria um outro homem, e não um motorista a trabalhar com a camioneta do marido da sua prima em segundo grau. Vê a vida em pequenas imagens paradas, 21


quase estáticas, e não sabe bem que imagem, memorável ou casual, irá inscrever determinado momento, dia, ou viagem, na sua memória. Algumas pessoas colecionam selos, garrafas, ou moedas; ele coleciona imagens. — Tinhas de colecionar uma coisa tão inútil como imagens, não é? Sem valor de mercado. — E tem de colecioná-las, nada mais do que imagens! Imagens! Uma por cada viagem da sua vida; já são milhares, todas meticulosamente recordadas, apenas essas simples imagens, uma cor, uma cena, um rosto, um ato em itálico nas páginas da memória. Não que ele escolha conscientemente as imagens; é simplesmente esse o modo como a sua mente ordena os dias idênticos e porém distintos da sua vida. Destranca e abre a porta da frente da camioneta, e um cheiro fétido, vestígio da véspera, é varrido pela brisa matinal. O homem iça-se até ao lugar do condutor, que é imediatamente iluminado pela luz amarela que se acende. As secções de passageiros atrás dele continuam na obscuridade, separadas do seu cubículo por varões pintados de amarelo — para condizerem com o exterior da camioneta — com uma faixa mais estreita de castanho e depois uma camada fina de vermelho vivo no fundo de cada varão, de modo que quase parecem lápis. Lápis de escritor. É típico — pensa — é típico que tudo conspire para lhe relembrar os seus fracassos, pois em tempos, antes de desistir da faculdade, acalentara a esperança de escrever romances, chegara até a escrever cinquenta e sete páginas de um, em hindi; foi há muito tempo, há muito tempo, e agora tem de ser cercado por aqueles lápis que, como lápis de escritor, lhe conferem poder — cada viagem como uma narrativa feita do entrelaçar de outras histórias que entram na sua camioneta e depois seguem indiferentes — apesar de o separarem de tudo o que acontece lá atrás. Ao longo do tablier está uma inscrição em hindi, rabiscada de forma irregular com o que parece ser batom vermelho, com o que ele sabe ser batom vermelho, pois ainda tem aquele resto que a prostituta com o anel gigante no nariz 22


deixou para trás; no tablier está rabiscado: «Este lugar é do Motorista Mangal Singh». Mangal Singh senta-se em silêncio durante uns segundos, observando os ponteiros e agulhas no tablier. Ganharão vida assim que rodar a chave na ignição, agulhas a estremecer, ponteiros a iluminar-se debilmente. Leva os dedos ao apito de metal que traz ao pescoço. Olha para a casa que está mais próxima da camioneta, a casa de três andares do proprietário da camioneta, o grande sacana, que está para ali a dormir, a roncar abraçado a Sunita, que em tempos foi atraente e uma companhia alegre; a casa ainda está na semiobscuridade, adormecida, respirando levemente, as janelas fechadas como pálpebras. Imediatamente antes de rodar a chave na ignição, tentando persuadir uma e outra vez o velho motor a arrancar, leva o apito à boca e sopra rápida e decididamente. Um som que atravessa a alvorada, o campo e as casas como um voo de pássaro.

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2. Ainda me lembro dos miúdos de rua do outro dia, de braços esticados e hirtos, indicadores espetados, as bocas emoldurando a palavra que eu ouvia soar como um gongo apesar de estarem para lá de uma distância audível: hijra, hijra, hijra. Houve tempos em que eu poderia ter sido o guardião das chaves do harém, um general, um conselheiro, um guarda do mais sagrado dos santuários, o… não, não o nomearei, não vá um mullah ofender-se. Nesses tempos, os eunucos gozavam de uma certa posição na sociedade, tinham um papel a desempenhar. Na verdade, em grande parte isso deveu-se ao facto de o profeta — a paz esteja com ele — nos considerar seres humanos, o terceiro sexo, e não pregar contra nós, ainda que desencorajasse a castração, mesmo como punição. Quando o Islão chegou à Índia, passámos de curiosidades intocáveis a membros legítimos e ativos da sociedade. Antes não podíamos entrar num templo, não podíamos adotar profissão alguma exceto a dança ritual. Depois tornámo-nos conselheiros de jovens nobres, artistas, guardiões das chaves do harém, espiões, soldados, construtores de cidades, num caso até um famoso general. É por isso que, na casa da minha ustad, sempre adotámos nomes muçulmanos. Mesmo quando professávamos outras fés — porque a religião não é para nós um assunto tão importante como para os homens e mulheres — mesmo aí adotávamos nomes muçulmanos. Foi-nos dito que isso era tudo o que as várias gerações de ustads da nossa casa pediam às suas chelas. Era essa a nossa maneira de agradecermos a uma religião que, por um breve período, tornou possível sermos quem somos. Tudo isso foi há muito tempo, como sabem. As coisas mudaram, a moral de classe média ou a religiosidade das castas mais elevadas — chame-se-lhe o que se quiser — desforrou-se. Talvez tenha sido a vinda dos ingleses, com as suas teorias a preto e branco, os seus valores europeus 24


e a sua moral vitoriana; a vinda dos ingleses deu início à nossa decadência moderna. Talvez fique surpreendido por eu, um mero eunuco, falar em termos tão precisos, apresentando opiniões racionais. No fim de contas, provavelmente associa-nos àquelas mulheres angulosas, pouco vestidas e excessivamente maquilhadas que assediam as pessoas na rua, pedindo-lhes dinheiro, ou que irrompem em casamentos com cânticos ruidosos e têm de ser pagas para ir embora. Isso é o que somos agora; isso foi o que nos aconteceu. Mas não éramos isso, e podíamos ter sido outra coisa. Fomos treinados para sermos bailarinos, artistas, músicos, soldados, e até sábios. Servíamos, mas raramente éramos servos. Em alguns gharanas — a minha ustad geria um deles — sobreviveram vestígios de amor-próprio e cultura até este século. Mas tornou-se progressivamente mais difícil preservar esses sentimentos e atitudes numa sociedade que cada vez mais nos fecha as suas portas. Mais uma vez, não fazíamos parte da sociedade. Voltámos a ser curiosidades e intocáveis1, tipos marginais, piores do que servos, qualquer coisa entre a prostituta e a aberração de circo. Esta época tentou separar os nossos nomes femininos dos apelidos masculinos, pois é uma época de estilhaços e arestas vivas. Éramos mais uma vez aquilo que os outros pensavam de nós, e não o que desejávamos ser. E assim os velhos gharanas deterioraram-se e desapareceram. Alguns transformaram-se em mundos apartados e impenetráveis, outros tornaram-se antros de prostituição e pequenas extorsões. O gharana da minha ustad desagregou-se simplesmente após a sua morte e a morte, pouco depois, do único homem da casa, o seu amante, o tocador de tabla que era também nosso professor de música. Algumas de nós tentámos gerir o gharana durante alguns anos, mas os nossos valores e formação 1  Membro da casta Hindu mais baixa, ou pessoa externa ao sistema de castas. De acordo com os costumes, o contacto com intocáveis macula os membros de castas superiores. (N da T.)

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estavam errados. Procurávamos amantes, não clientes. Desejávamos receber presentes, não gorjetas e subornos. Zohra Sheikh, a mais velha de nós, partiu, só Deus sabe para aonde. Num dia a sua caixa de madeira estava debaixo do charpoy e no dia seguinte tanto ela como a caixa tinham desaparecido. Razia, a segunda na hierarquia, mudou-se para outro gharana semanas após a partida de Zohra. Esse gharana estava mais em sintonia com os tempos, e Razia sempre se ressentira de algumas das nossas posições antiquadas e criticara frequentemente a Ustad por estar desfasada dos tempos. Sobrámos eu e Chaand Baghi. Tínhamos crescido juntas no gharana e não nos era fácil abandoná-lo. Mas em poucos meses tornou-se evidente que não poderíamos sobreviver naquelas condições. Com a partida de Zohra e Razia, muitos do patronos que restavam deixaram também de vir. Não porque nos faltassem atrativos: éramos mais jovens e mais femininas do que Zohra ou Razia. Mas as pessoas assumiam simplesmente que o gharana se tinha dissolvido. Deixaram de vir. Além disso, muitos destes patronos eram velhos e sentiam-se mais à vontade com as nossas irmãs mais velhas. Por isso, quando um dia Chaand se virou para mim e disse: — Farhana, acho que vou para a minha tia, em Bombaim, dizem que há lá oportunidades — respondi simplesmente: — Seja o que Deus quiser, Chaand. Tocou-me suavemente na face, com os dedos cobertos de hena a deslizar e depois a caírem, mas ambas sabíamos que tocar já não era suficiente.

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3. Quando Mangal Singh conduz a camioneta, com as suas partes laterais amarelas agora a cintilar ao sol pálido, até à paragem por detrás da igreja abandonada e salta para fora dela, estão abertas só duas das cinco bancas que servem chá e pequenos-almoços. Mas a primeira camioneta da carreira entre Gaya e Patna, um expresso com sistema de vídeo, está já a aquecer o motor, com o revisor a gritar as tarifas, os passageiros a apressar-se para entrar ou deter-se encostados às janelas gradeadas bebericando chá em chávenas e copos de barro. A carreira entre Patna e Gaya tem mais e melhores camionetas do que a carreira entre Gaya e Phansa, que Mangal Singh percorre. Patna sempre é a capital do estado! Não há expressos com sistema de vídeo na carreira entre Gaya e Phansa, e muito menos camionetas como a camioneta turística direta que parte duas vezes por dia da entrada do Hotel Chanakya, em Patna. As duas bancas só tinham começado a aquecer os seus fornos de terra e tijolo meia hora antes, e o fumo ainda envolvia a paragem numa névoa suave. Nos bancos baixos à entrada das bancas estão sentados alguns homens envoltos em chaddars escuros; por vezes parece-lhe que há sempre homens, talvez os mesmos homens, quem sabe, sentados nos mesmos bancos baixos. Comem de pattals ou pratos rachados e sorvem chá de copos largos e grossos. Num dos bancos desocupados avista o novo moço de limpeza, Rameshwar. Está estendido nas tábuas, num equilíbrio precário, completamente enrolado num kambal remendado de cor e corte indefinidos. Consegue perceber que é Rameshwar porque é ali que o rapaz dorme todas as noites. Espeta o indicador no rapaz e diz-lhe para limpar a camioneta. — Acorda, filho de uma mula, e põe a porra da camioneta a brilhar — é o que realmente diz. A trouxa começa a remexer-se, murmurando e praguejando. — Volta para o pequeno-almoço — acrescenta, 27


(…)


69. A noite que envolve a sua aldeia é profunda. Na sua escuridão conseguem-se ver as estrelas. Ali as estrelas são mais brilhantes do que nas cidades. Não há estrelas em terra. Se houvesse luz solar, seria possível ver as aldeias vizinhas. Mas de noite as aldeias não acendem luzes quando todos dormem. Ao contrário do céu, a terra usa a sua noite sem o amparo das estrelas. Ele já não ri. Dorme. Intermitentemente, como um passageiro de uma camioneta.

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lares, de novo



Pronto, a camioneta parou por hoje; regressámos todos ao lar. Lar. Uma palavra que, em inglês ou dinamarquês, é pronunciada com um arredondamento final dos lábios, como janelas a fechar-se, como se o que nela está contido não fosse mais do que espaço; há um movimento como o de uma criança possessiva abraçada aos seus brinquedos: home. E isso, em hindi ou urdu, é pronunciado com uma suave exalação, com os lábios abrindo-se como portas, com o fôlego que se forma na garganta a sair até à língua que se enrola: ghar. Ghar também é casa. Todos nós regressámos ao lar, ou pelo menos a casas. Eu tenho o lar das minhas memórias, aquela casa de, digamos, sessenta e nove quartos. Foi através das janelas desses quartos desordenados que eu vi pela primeira vez o mundo que tentei mostrar-vos, esses quartos desordenados como se fossem um bhoolbhoolaiya, como se fossem uma casa que sofreu acrescentos e demolições ao longo dos anos, como se estivessem num desses estados mentais (como o sonho, a rememoração ou a meditação) em que há uma continuidade na forma como as coisas fluem para trás e para a frente. Os meus lares — frágeis, confusos, monstruosos — não estão contidos em Ammi ké yahan e Ghar, embora eu tenha sempre carregado o seu peso. Parvati, Farhana, seja qual for o seu nome, encontrou também um lar; encontrou uma casa respeitável, a casa dos Mirchandanis, a casa dos fatos e das camisas, a casa das roupas de pronto-a-vestir. Pelo menos por esta noite, Hari voltou para a mulher, que hoje não vai repreender, não, longe disso. Rasmus está de regresso a Gaya e em breve estará de volta também à sua namorada em Hillerød, ao seu T3 num edifício do século xix, às velas que acendem todas as noites, aos quadros, às plantas em vasinhos, à ordem aprumada da pertença. Wazir Mian está na casa que foi construindo ao longo dos anos, a casa conflituosa dos seus filhos. Desejo-lhe uma 165


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glossário Aanchal – tipo de lenço usado à volta da cabeça. Agarbatti – Círio. Amavas – Noite de lua nova; noite sem lua. Amma – Mamã, mãe. Ammi – Mãe. Angrezi – Corruptela de «inglês». Ardalli – Empregado de mesa. Asura – Categoria de personagens da mitologia hindu que incarnam o princípio demoníaco. Attar – Perfume. Ayah – Empregada doméstica que normalmente se ocupa de crianças; ama. Babu – Forma de tratamento respeitosa para homem de elevado estatuto social; senhor. Baithak – Local onde se permanece sentado; sala de estar. Bakhr-eid – Festival islâmico celebrado com sacrifício de um animal, habitualmente uma cabra. Banyan – Figueira tropical indiana. Begum – Forma de tratamento respeitosa para mulher de elevado estatuto social; senhora. Bhajan – Cântico devocional hindu, de execução simples, usado tanto em casa como no templo. Bhoolbhoolaiya – Labirinto. Bhunjiya – Prato frito usado normalmente como entrada. Bibi – Forma de tratamento respeitosa para mulher jovem de elevado estatuto social; menina. Bidi – Cigarros bastante utilizados na Ásia, feitos de tabaco prensado em folhas secas de tendu ou temburmi. Chaddar – Pano usado pelas mulheres muçulmanas e hindus para cobrir a cabeça e o rosto, bem como para proteger as costas. Chai – Chá. Chapatti – Tipo de pão indiano à base de trigo-duro, preparado em frigideira. 171


Charpoy – Cama de rede de uso muito comum na Índia. Chella – Discípulo(a). Chinniabadaam – Amendoins torrados. Chokkra – Rapaz. Chowraha – Cruzamento, interseção. Chullah – Forno. Daal – Sopa ou puré de lentilhas ou legumes secos. Darshan – Cada uma das escolas da filosofia hindu. Dhobi, dhobin – Lavadeiro(a); designa também uma casta. Dhoti – Retângulo de pano branco simples que os homens enrolam em torno da cintura e pernas. Diwali – Importante festival hindu, realizado em honra de Lakshmi, deusa da abundância e riqueza, e marcado pelo jejum. Durban – Guarda. Eid – Festa islâmica de três dias que assinala o fim do Ramadão. Faluda – Doce frio à base de leite. Firangi – Designa um ocidental, um homem branco. Firangistan – Termo comummente usado para designar a Europa. Gaadi – Designação genérica para um veículo, quer se trate de automóvel, mota ou outro. Gamchha – Pano de algodão usado para secar o corpo após o banho ou para limpar o suor. Ganna – Cana-de-açúcar. Gehun – Trigo. Gharana – Sistema de organização social, na música hindu, que liga músicos ou bailarinos numa linhagem de ensino e pela adesão a um estilo e ideologia musicais particulares, que afetam diretamente o pensamento sobre a música bem como o seu ensino. As hijras, ou eunucos, agrupam-se em gharanas, comunidades fechadas com líderes e regras próprios. Ghasphus – Espécie de erva venenosa. Ghazal – Composição poética comum na tradição urdu e persa. Gudi – Associado ao Gudi Padwa, festividades do ano novo; anual. 172


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Este livro foi composto em carateres New Baskerville e impresso na Guide – Artes Gráficas, em papel Coral Book Ivory 90 gr. no mês de Outubro de 2011.




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