Publicação trimestral l junho 2020 l número L V I I (57)
Educação em tempos de pandemia Pandemia… Suspensão das atividades letivas… como organizar a vida do agrupamento… Dúvidas que nos assaltaram, em meados de março. Metemos mãos à obra e, em trabalho de colaboração, fomos desbravando o caminho.
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primeiro cuidado foi preparar o circuito da informação a ser transmitida e pensar no bem-estar da comunidade educativa, promovendo um tempo de contenção. Em segundo lugar, procurámos estabelecer um horário de aulas síncronas, equilibrado, tendo em conta a realidade dos alunos e das famílias, num período de confinamento. Aqui chegados, tivemos dois tipos de preocupação: 1formar de um modo célere, mas rigoroso, os professores para que. em poucos dias. dispusessem de ferramentas para conseguir chegar aos alunos, virtualmente, disponibilizando tutoriais e webinares, preparados pela equipa PTE; 2- certificarmo-nos de que todos alunos teriam acesso a equipamentos tecnológicos para acompanhar as sessões à distância. Salientamos aqui a disponibilidade imediata das instituições e parceiros contactados, assim como de outras entidades, que, voluntariamente, nos cederam equipamentos e conectividade. Foi, assim, possível cobrir as necessidades detetadas. Em terceiro lugar, preparámos um Plano de Ensino à Distância (E@D), onde todos os procedimentos estivessem elencados e fossem do conhecimento de toda a comunidade escolar. Este plano baseou-se na utilização das ferramentas G Suite for Education. Pretendeu-se com esta
solução potenciar as competências tecnológicas e digitais dos nossos professores e dos nossos alunos, por forma a encontrar, de modo célere, as respostas mais adequadas e potenciadoras do sucesso educativo dos discentes, no sentido de simplificar as tarefas administrativas e desafiar os alunos a pensar de forma crítica, procurando-se minimizar prejuízos, em relação ao trabalho existente, até à data. Trabalhámos com a certeza de que a comunidade escolar poderia sempre contar com o apoio técnico, através do email ensinoadistancia@aeaureliadesousa.com. Por último, elaborámos horários para aulas presencia, considerando a menor presença possível, na escola, de professores, alunos, assistentes operacionais e assistentes técnicos, de acordo com o Plano de Contingência, também este reformulado. Como reflexão final, compete-nos agradecer o envolvimento e proatividade de todos os atores educativos, neste processo de mudança para a educação à distância. A Direção
em tempos de pandemia - COVID 19
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assaram mais de 100 dias sobre o primeiro caso de coronavírus, diagnosticado em Portugal, e mais parece ter passado uma eternidade sobre as nossas vidas. Confinados os quatro no domicílio, desde meados de março, por força das restrições da pandemia, a nossa casa, que até não é pequena, foi escassa para tamanha reorganização pessoal, familiar e profissional que tivemos de fazer. E nunca os jornais, telejornais, as comunicações dos primeiros-ministros e dos presidentes da República tinham sido acompanhadas tão atentamente e tão de perto – literalmente, os quatro em silêncio, quase colados ao ecrã - como naqueles dias de março, abril e maio, tal era a gravidade da situação que o país – e a Europa e o mundo - atravessavam, e a avidez de informação que todos sentíamos: nós, pais, adultos, e os nossos filhos, adolescentes, o que, vindo dos últimos, muito me surpreendeu, confesso. Passaram cerca de três meses sobre a data em que foi decretado o estado de emergência em Portugal – 18 de março -, mas lembro com invulgar nitidez o início da noite desse dia. Porque impus a mim própria nunca confinar a 100%, e em nome, sobretudo, da saúde mental, sempre fui sain-
do para caminhar em horas inabituais e por percursos improvisados e arredios, nessa quarta-feira, ao fim da tarde fui esticar as pernas pela beira do rio. Durante a tarde, tinha-me chegado uma versão oficiosa do Decreto Presidencial que deveria instituir o estado de emergência em Portugal (mais tarde oficialmente conhecido pelo Decreto do Presidente da República n.º 14A/2020, de 18 de março). Mas, nesse final de dia, fui caminhar e, ao longo dos mais de quatro quilómetros que percorri, não larguei o telemóvel. A troca de mensagens era frenética. Logo a arrancar, um amigo empresário questionou-me por WhatsApp: - ‘Sabes a que horas fala o Marcelo?’. - ‘É às 20H00. Já viste o projeto de decreto presidencial do estado de emergência? Isso é que vai ser terrível…. Mas sobreviveremos’, disse-lhe eu, ao que me respondeu de imediato: - ‘E o Costa? Eu quero é ouvir o Costa sobre as medidas que vai tomar’. Pudera. Todos queríamos era saber de que forma concreta essa emergência se iria traduzir, no quotidiano de todos nós. Outras mensagens com outros interlocutores se seguiram, a caminhada fez-se, mas a mente e as pernas tinham uma certeza: às oito em ponto eu tinha de estar em casa, em frente à televisão, para assistir ao veredicto presidencial. E, na verdade, a essa hora éramos quatro, de olhos vidrados, a ouvir o que nunca esperáramos escutar. Daí para a frente, os dias viraram noites e dias de novo e nós, recolhidos, sempre em casa. Pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar todos juntos, põe a mesa, tira a mesa, arruma a cozinha, leva o lixo, liga as máquinas, tarefas divididas, horários redefinidos, computadores atribuídos, uma rede wireless que foi preciso reforçar, espaços de trabalho nos vários cantos da casa – até na cozinha - que foi preciso improvisar e delimitar - e muita, muita resiliência física e, sobretudo, mental, que tivemos de ir buscar, para não estoirar de exaustão e de desânimo, ante o confinamento e o quadro pandémico que, a cada noticiário, nos entrava casa adentro. Discutimos mutuamente, amiúde, regras e rotinas, perdemos a paciência muitas vezes, irritámo-nos outras tantas, quisemos trepar paredes algumas outras. E por entre portas entreabertas. chegou a ser possível perceber conversas dos filhos com colegas e amigos que, do lado de lá, até por entre lágrimas, lidavam menos bem com tamanha estranheza, isolamento e solidão.
3 l Jornalesas
Ilustração de
Ariana Martinez , 12º H
Coronavírus em família: “uma longa embriaguez”
Coronavírus em família: “uma longa embriaguez”
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Soheil Mousavi , 12º H
dade”. Pois. Em meados de junho, continuamos com dúvidas. Por cá, Viriato Soromenho-Marques, professor catedrático, escreveu algures em abril, num artigo de opinião, que “desembarcámos no amargo pesadelo analógico da realidade, da doença, da angústia, da vulnerabilidade”. E avisou: “Não tenhamos ilusões de querer regressar à normalidade, porque ela não é mais possível. Esta foi “uma longa embriaguez”. É a triste verdade. Apesar de lentamente a desconfinar, permanecemos todos, também cá em casa, embriagados no mistério que envolve o SARS-CoV-2, o novo coronavírus detetado na China, no final de 2019. Resistamos-lhe. E tiremos dele as obrigatórias ilações. Teresa Silveira, mãe, membro da Associação de Pais da Escola Secundária Aurélia de Sousa.
Ilustração de
Dei por mim, inúmeras vezes, a questionar o presente e o passado recente e longínquo. E até a perguntar: caramba, onde estava, afinal, Deus - ou essa força do Bem que nos faz nascer, existir e mover no universo – quando a peste bubónica assolou a Europa e ceifou mais de 200 milhões de humanos, entre 1343-53, ou quando a varíola dizimou mais de 56 milhões de pessoas no continente americano, em 1520, ou quando um surto de cólera levou mais de um milhão de homens e mulheres. entre 1817-23? Ou, ainda, onde estava Ele quando, há pouco mais de um século (1918-19), a gripe espanhola matou entre 40 a 50 milhões de criaturas no pós-I Guerra Mundial que, por sua vez, já tinha bombardeado a vida de mais de 17 milhões de soldados e civis? E depois de ir buscar à História tamanhas tragédias, inquiri-me: afinal, nós não vivemos na pele estes horrores do passado, mas a vida não nos poupa agora de vivenciar - à distância, que o vírus felizmente não entrou cá em casa -, as imagens da sofreguidão respiratória do novo coronavírus, a febre, a tosse, o cansaço, o vómito, a diarreia, a dor de barriga, a perda do olfato, enfim, a doença no seu todo, Covid de seu nome. Uma doença disseminada mundialmente, num ápice, que já dizimou mais de 408 mil vidas e que mais não é que uma guerra global sem armamento bélico, mas que cava trincheiras entre urgências, cuidados intensivos, enfermarias, camas de hospitais e morgues e que devastou o quotidiano social e económico do país, da Europa, do mundo, bem como o quotidiano de cada um de nós, pois ninguém sai imune aos efeitos de uma pandemia, mesmo que não seja diretamente tocado pelo ‘bicho’. Edgar Morin, filósofo francês, que a 8 de julho perfaz 99 anos de lúcida existência, advertiu numa entrevista, em meados de março, que “ainda não temos certeza sobre a origem deste vírus, sobre as suas diferentes formas, as populações que ataca e os nem os seus graus de nocivi-
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20 de Março, 2020
ncontro-me no escuro, e não metaforicamente… Estou na varanda de minha casa e é de noite. Gostava de poder dizer que estou a sentir o calor da noite, mas, na verdade, estou a enregelar cá fora e não vejo a hora de sair daqui. A água corre num cano e o barulho é ensurdecedor. Está a chover! Em qualquer outra circunstância podia dizer que esta era uma noite completamente igual a todas as outras, e, por acaso, até é, mas a diferença não está em quando o sol cai, mas sim em quando este abre os seus braços luzidios sobre a gigante esfera azul. Durante o dia, também espreitei, nesta varanda, o dia com mais luz e menos frio, apenas as cores e a temperatura mudaram com o passar das horas. A rua está deserta, apenas consegui descortinar, ao longe. uma moto da polícia. Os carros alinham-se como se também eles cumprissem uma distância de segurança. Contudo, constato que apesar de tão afastados, sentimo-nos juntos pela primeira vez, desde há algum tempo. As luzes dos prédios em frente acendem-se, os suspiros e os olhares nunca foram tão seme-
lhantes, a ânsia de voltar apoderase de todos… Voltar à vida: às rotinas, às corridas contra o tempo e aos “olás” apressados… “Temos de ir tomar café um dia destes!” sorrimos, com a crença de que não acontecerá tão cedo, pois nenhum de nós se decidirá fazê-lo no dia ou na hora ou no local, até porque há sempre imprevistos ou tarefas inadiáveis, uma prima que faz anos ou um avô que é preciso acompanhar aos correios. Não importa, fica para mais tarde e, na verdade, “um dia destes” aplica-se a qualquer dia, e dias há muitos! O tempo não é um problema mas é a desculpa para não vivermos, pois usámo-lo e deixamo-lo usarnos. Nestas circunstâncias, lembramo-nos de como esse café era importante, ou não. Como não passava de uma promessa vã de quem a diz, porque o tempo tudo irá justificar. “Hoje não” dizemos nós a cafés e muito mais. Esperamos que o tempo de amanhã seja diferente, “porque amanhã é que vai ser”. Mas quando nos tiram o amanhã, ou a certeza deste, resta-nos o hoje. E o hoje tem muito tempo. Mas não para cobrir todos os “dias destes” e os “fica para a próxima” e então ficamos perdidos. Perplexos com a incerteza e a incapacida-
de de controlarmos tudo… Não controlamos o tempo, a vida não é feita de alarmes e o filtro que usamos como uma máscara todos os dias revela-se inútil. Não adianta. De repente perdemos o controle sobre tudo. Obrigamo-nos a agir porque estar parado não serve, porque o quotidiano era tudo menos quietude e calma. Porém ,percebemos que estar parado faz bem, pensar faz bem e isso não muda! O meu gato está comigo, impávido e sereno. Invejo-lhe a capacidade e percebo que, no entanto, somos parecidos. Pela primeira vez, no dia de hoje, estou tranquila, ou mais perto do que gostaria de estar. Costumo sentir-me ansiosa por não ser produtiva, o que leva a que faça muito menos porque me convenço que “hoje não dá”. Depressa me apercebo de que afinal dá, assim que procuro fazê-lo. Aos poucos vou ganhando o controle de volta sobre mim. Se quiser eu faço e se não o fiz foi porque não me apeteceu. Nem sempre tem de apetecer. Nem sempre temos de sorrir ou fingir que sabemos o que fazemos. Se não sabemos vamos descobrir, ou então, talvez nem precisemos de saber… Há tantas coisas que não conseguimos controlar! Porquê perdermos tempo atrás do que não importa? Daquilo que, de um momento para o outro, perde todo o significado e passa a ser o menor dos nossos problemas? Podemos controlarnos e reduzir a nossa dor, o nosso sofrimento, livrarmo-nos do acessório para nos focarmos no que realmente importa, naqueles que realmente nos fazem viver, ainda que os troquemos, muitas vezes, por obrigações facultativas, estabelecidas por nós como metas para a “felicidade”. Essa felicidade que passamos a vida toda a perseguir, sem nos apercebermos de que, ao fazermos isso, estamos a gastar tempo, tempo para sermos verdadeiramente felizes! Mafalda Peixoto, 11ºH
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Ilustração de
Patrícia Andrade , 11º K
em tempos de pandemia - COVID 19
em tempos de pandemia - COVID 19 s vezes, é bom começar alguma coisa. Há três meses atrás, sentia o tédio da rotina e da falta de desafio do quotidiano e queria fazer qualquer coisa de diferente. Rapidamente, contudo, o diferente se torna igual e os últimos dois meses são prova disso. Uma coisa é certa: eu nunca mais me queixarei da rotina do quotidiano. Eu amo a rotina do quotidiano! Mas não deste novo quotidiano pelo qual não nutro particular afeto. Hoje foi dia de começar alguma coisa, de voltar à escola, de tentar revitalizar os dias. Foi, na realidade, dia de recomeçar. A escola é um local onde sempre me senti confortável. Há quem me diga: «entraste para a escola aos 4 anos e nunca mais saíste». José Saramago diznos que o que nos pode definir é ser homem e mulher, não é ser rainha ou ermitão. Mas eu não concordo: acho que também se é aquilo que se é. Professora. É o que sou. Herdei o gene do professorado da minha bisavó e foi com tranquilidade que voltei a lidar presencialmente com esta nova geração, em contexto de pandemia. Tudo estava organizado para o regresso: fitas e mapas a orientar os nossos passos, desinfetantes por todo o lado e funcionário organizado para tentar controlar as deslocações dos miúdos. As aulas são esquisitas, com os alunos sentados em sala semivazias, a metros uns dos outros, com ar de ninjas misteriosos. Ao contrário da minha expectativa, trabalhar com a máscara não é difícil. De vez em quando fico sem ar, mas é só quando tento falar mais rápido. Falta de treino, acho eu, que a condição física degradou-se durante o confinamento. Num par de dias ultrapasso. Há alguns dilemas, como apagar o quadro e utilizar o apagador – desinfeto a seguir, ou deixo de escrever no quadro? – e manter a porta da sala aberta. Aprendi, com a professora da sala ao lado, que claramente está com uma condição física apurada e que nunca ficou sem fôlego, que o PH neutro da água variava com a temperatura. É o tipo de informação que me pode vir a ser útil. Foi um dia diferente, tornar-se-á, contudo, igual a outros em breve. Rotina. É assim que se vive, acho eu. Custou mesmo foi chegar a casa e ela estar vazia. Hoje há 6430 recuperados. Fiquem bem. Fiquem em casa. Se tiverem de sair, levem a máscara.
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À
Carmo Oliveira, profª de Português
Espaço de Liberdade
Vencedores do Concurso Literário Poesia - 1º lugar Erros meus, final do ciclo Na minha curta vida errei bastante A inocência prevaleceu em mim Priorizava atos desconcertantes Guiando-me ao meu próprio fim.
Ariana Martinez , 12º H
Tudo vivi, tudo passei As lamentações deixo-as aqui! Em temor extirpei meu coração Nos flancos do caminho, entorpeci!
Ilustração de
Magoei todos os que já prezei Orgulho, impaciência tão mesquinha… Perdi conquistas que idealizei Perdi quem já fui, fiquei sozinha! Sonhos e esperanças criei, em vão… Ah, se eu pudesse recuar no tempo, Tinha vivido melhor cada momento Tinha preservado, intacto, o meu coração! Fabiana Santos, 11ºH
Aos poucos construo o meu caminho, Por vezes difícil de o fazer Há problemas que enfrento sozinho Para no futuro me orgulhar do meu ser! O amanhã ainda está por descobrir E sei que o hoje ainda vai a meio Não sabendo bem por onde ir Caminho confiante, coração cheio! Agora, o caminho está no início A tática que transporto é especial Vivo a vida como um dado vitalício Pois acredito que nada tem um final! Diogo Santos, 11ºH
7 l Jornalesas
Poesia - 3º lugar
Ilustração de
Ariana Martinez , 12º H
Transformo-me no que pretendo ser Cada dia tento dar o melhor Planeio o que fazer Para tudo o que surgir de pior!
Concurso Literário - Poesia - 2º lugar Procuro a realidade, Atrás da janela aberta… Tão vago é o meu olhar! Vejo apenas o que existe, Vejo, com olhar triste, Vejo dor, vejo injustiça, Vejo o amor, sem premissa, Vejo também o que quero, O que vejo sem olhar É mais claro do que o que vejo…
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Procurei-te, onde estavas? Perdi a realidade e perdi-me nela. Questiono a quem é sensato: Acham o real bizarria? A realidade quente e fria Todos sabem dela Todos a sabem mal Todos dizem que é irreal Todos a conhecem
Rua Santos Pousada , 1222 4000-483 Porto Tlf. 225029821
Ariana Martinez , 12º H Ilustração de
Vejo verdadeiramente Não vejo o que seria ou o que foi Vejo o que queria que fosse, Quero agarrar a realidade palpável Trazê-la para perto de mim Abraçá-la e não a soltar. Livrá-la dos males que lhe pesam, Libertar a sua consciência Para que durma melhor, Para que sejamos melhores.Na busca da realidade perco-me a mim… Também faço parte dela, E abraço-me como sou, Como sei, como me dou. O todo procuro em mim, Ínfima, sincera, volátil. Manipulo-a como quero, Pois é minha e eu sou dela. Sinto o calor de uma vela frio que atravessa a janela…
Janela
Muitos a criticam, Poucos a admiram Ninguém a compreende! Passa por mim tanta gente De olhos vagos, indiferente, Atrás da realidade É tamanha a raridade? Numa coisa há consenso, Realidade é o real. Pergunto, se é feita de vento Ou de algo material… Questionam o meu bom senso, Se o real é o normal, banal, raro, inexistente ou estritamente essencial…
E o anormal acontece, tenho isso bem presente, No canto da minha mente, Semente, fruto crescente Árvore, folha cadente Cresce, vital ou dormente…Sempre! Creio que não devo pensar, Só viver, sem hesitar! Vivo no real, talvez, ou o reaL V I I ive em mim…. Alheio-me e sinto o concreto Palpável e efetivo Sinto o real indefinido na paisagem tão presente no tato, no olfato, na vista, nos sons que a alma avista, na miragem, na conquista deste mundo que é só meu. Pertença deste ser…que sou eu! Procuro transpor para o sensível, O mundo inteligível, Tudo o que vivo ou vivi Chego a um consenso: Escolhi! Quero-as a todas, num só segundo… As minhas, As de todos, As do mundo. Realidade não há só uma! Não somos água nem espuma, Não somos dia nem hora noturna Nem preconceito, nem vaidade, Nem campo, aldeia ou cidade, Lua, sol, astro obscuro Janela aberta, alto muro… E tantas coisas indizíveis Que a imaginação não alcança… A realidade sou eu O resto é sonho, ilusão, esperança… Mafalda Peixoto, 11ºH
Espaço de Liberdade
Concurso Literário - Prosa - 1º Lugar
Concluí que sou
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Mafalda Alves, 11º K
uando começamos a existir? Quando concluímos. Começamos a existir quando chegamos às primeiras conclusões. Há quem pense, erradamente, que começamos a nascer quando, nus e burros, saímos do útero das nossas mães. Há, por outro lado, quem, igualmente errado, pense que nunca chegamos a existir porque vivemos a vida atrás de uma conclusão que não atingimos. Eu, possuidor de toda a sabedoria, dúvidas e conclusões, digo-vos isto: é óbvio que começamos a existir em algum momento da nossa vida. Começamos a existir quando a vida, o mundo, ganham sentido. Quando nos apercebemos que as coisas não existem por existir, e que o mundo não gira só por girar e que não vivo só por viver. Nasci no momento em que consegui ver quem era, e ver que havia matéria no que eu era. Existo porque me enxerguei do nada que fui desde que nasci até à primeira conclusão a que cheguei. E sabem qual foi a primeira conclusão a que cheguei? Que antes não era nada. Perguntava-me sucessivamente sobre quem eu havia sido faz uns anos. Atentem que a dúvida não nos faz viver. Mas aproxima-nos. Questionava-me sobre o que pensaria, sobre o porquê de ser quem era, sobre o porquê de não me lembrar quem fui. E perguntava-me
Tiago Fernando Sousa , 12º E
9 l Jornalesas
Ilustração de
também quais eram as diferenças do meu eu atual quando comparado com o eu do qual pouco (nada) sabia e sei. Mas eu sempre tivera dúvidas. Não nasci nas dúvidas. Perguntava-me do porquê das rugas da minha avó, do porquê da escola existir, os motivos da existência (daquele cão filho da mãe que não se cansava de ladrar madrugadas adentro). Nunca concluí nenhuma delas. Nem era importante que o fizesse. Não estava no meu tempo. Hoje, passados tantos anos, todas estas conclusões me são óbvias. A minha avó é velha, a escola existe para o meu cérebro não se desfazer em bolor, o cão ladrava porque tinha fome (para grande surpresa do meu eu pré-natal, o cão não o fazia para lhe tirar noites de sono). Então algo surgiu em mim. Se eu não me lembro de quem fui, então hoje sou diferente de quem fui. Eu hoje lembro-me de coisas e sei quem sou. Se nestas condições, não me lembro de quem fui é porque, na verdade, não fui nada. E foguetes, fogo de artifício, música de dança, pratos de choque, maracas e bailarinos. De repente, a festa do século dentro de mim, tudo a festejar o meu nascimento. Será que todos nascem? Nunca ninguém me falou deste fenómeno. Novas dúvidas tiram-me o sono (mas agora já nascido e orgulhosamente possuidor de conclusões). Será que alguém nasce no momento em que sai de dentro da sua mãe? Será que há quem não nasça? Ou nascemos todos mas nem todos reparamos? Será que os meus pais, no quarto ao lado, estão conscientes de que nasci tantos anos depois de ter saído da maternidade? O tempo dir-me-á. Até lá contento-me por já ser algo mais do que nada. Por ter chegado a conclusões e por não ter o mundo só por mundo mas por ter o mundo por mar de dúvidas e conclusões. Tal como um bebé terei de crescer a partir de agora. Sou recém-nascido e tenho resposta a pouco mais do que as mais básicas das dúvidas. Um dia mato-me só para responder à mais inquietante das dúvidas.
Concurso Literário - Prosa 2º Lugar ex-aequo
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entir na pele os olhares na rua, sentir na pele os comentários afiados como facas, sentir na pele a obrigação de agir de uma certa maneira para não ser categorizado como “mais um daqueles”, sentir o medo de falar com a polícia sentir o medo de nunca saber se iremos alguma vez ver ser a cara de um familiar ou amigo, na capa de um jornal e nas televisões. Sentir na pele tudo o que ter esta pele implica. Vejo, pelos rostos dos meus familiares, o medo de ver mais uma notícia, a dor de ouvir observações, a aflição de ver um irmão, um tio, um filho… a serem esfaqueados, só por serem negros. Ler no jornal a notícia de mais uma agressão e de pensar que poderia ter sido qualquer um de nós. Ter medo de quem nos devia proteger. Ter medo de dizer alguma coisa e ser chamada de exagerada. Promessas falsas de igualdade, e palavras vazias. Os simpatizantes da televisão que dizem que que sentem a dor, porque nasceram em África, mas nunca carregaram o fardo… Nunca sentiram na pele. Dizem dar uma voz, mas há sempre alguém que a abafa quando se trata de apontar os problemas a sério! Os pais fazem de tudo para dar uma boa vida aos filhos, de os proteger de toda esta violência, que ninguém pediu para sofrer… contudo, rapidamente, a crueldade humana é lhes revelada! A feia verdade de se ser diferente é que nem toda a gente aceita a diferença, mas mesmo assim é ensinado a todos os “diferentes” que se deve sorrir, respirar, contar até três e fingir que não dói. Aprendemos a conformarmo-nos com a injustiça, e a fechar os olhos ao que está nitidamente à frente dos seus rostos. E todos aqueles que dizem que é exagero, é porque … não sentem na pele. Já eu…sinto tudo isto na pele! Benedita Hussein A. Pinto, 11ºG
Ilustração de
S
Cristiano Alves , 11º K
Sentir na Pele
Concurso Literário - Prosa 2º Lugar ex-aequo
Ilustração de
Rita Castro , 12º H
Tecnologias…Sapiência ou Dependência?
medida que avançamos no século XXI, a nossa maneira de comunicar e de interagir uns com os outros é cada vez mais rara. Vivemos para dentro. Podemos dizer que o smartphone foi uma simultânea bênção e maldição, uma vez que nos trouxe um mundo de informação e ao mesmo tempo um afastamento do ser humano. Nós já não vivemos neste mundo, criámos uma versão distorcida dele, deixamos de conseguir viver no ambiente que nos rodeia porque o bloqueamos e o mudámos só com um click. A informação agora é-nos filtrada, para cumprir com a nossa perspetiva pessoal da vida. Já vão longe os tempos onde um jornal nos dava tudo o que precisávamos, agora vemos desastres na televisão e futilidades no telemóvel. Este fluxo de informação seletiva impede-nos de, realmente, experienciar o mundo exterior e de formar uma visão real do mesmo, a perceção de cada um é diferente, não porque foi desenvolvida individualmente, consoante as nossas experiências e opiniões, mas sim porque foi manipulada.
Esta nova era, com as suas inovações tecnológicas, mudou a maneira de interagimos uns com os outros, por conseguinte, simplificamos o nosso vocabulário e forma de falar, para encaixarmos num pequeno retângulo. A nossa capacidade de termos conversas significativas foi limitada, agora as rápidas e banais conversas que temos, no telemóvel, transbordaram para o mundo real, onde se torna mais difícil conectarnos uns com os outros, já que estamos excessivamente conectados ao telemóvel, que usamos como proteção, quando a súbita vontade de dizer algo significativo nos surge, porque é mais fácil olhar diretamente para um ecrã e para um texto, do que encararmos dois olhos e uma pessoa por detrás deles! Assim, aquilo que pensávamos que nos unia, realmente só nos separa.
Vasco Santieiro Sousa, 11ºH
11 l Jornalesas
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O constante fluxo de informação e contactos que esse objeto nos traz, impede-nos de estar focados numa coisa de cada vez. Somos aliciados pelos constantes estímulos que um telemóvel nos provoca, e que o mundo real não nos proporciona. Com isto, ficamos formatados a agir de forma limitada, sem conseguirmos expandir-nos como seres humanos e expressar o que realmente pensamos. É urgente o contacto e o abraço, a conversa e a convivência presenciais, já que as emoções se circunscrevem, na maioria das vezes, à máquina fria que transportamos na mão, como se fosse um prolongamento de nós. A mesma que não permite que usemos plenamente os sentidos para captar a realidade, e que nos confina a um universo impassível e virtual.
Concurso Literário - Prosa - 3º lugar Sempre que o amor me quiser…
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12 l Jornalesas l junho
Ilustração de
Sofia Andrade , 11º K
lguns amores foram feitos para dar certo, outros só para nos deixar vazios! É estranho ver-te passar na rua e perceber como tudo se perdeu e como eu me perdi, juntamente contigo! Nada dói mais que o amor, mas também nada nos faz sentir mais vivos, principalmente, aquele amor em que colocamos tanta confiança, aquele amor que era para dar certo! Nada dói mais do que o ver partir, quando tinha tudo para ficar… Mergulhamos de tal forma nesse sentimento, que não percebemos que a água esta turva, nada vemos à nossa frente e percebemos que nos estamos a afundar. Vivemos esse amor com tamanho intensidade, que consegui projetar o nome completo dos filhos que iriamos ter, onde seria o nosso casamento, quais as viagens que iriamos realizar, como seria o nosso teto, o nosso mundo… Tenho apenas quinze anos! E acreditei no sonho de viver “feliz para sempre!” Tenho apenas quinze anos…, mas já senti o meu corpo trémulo, a transpirar só de imaginar-me ao pé de ti, imaginar voltar a casa, no final do dia, com uma felicidade que não consigo descrever… Tenho apenas quinze anos…, mas já desejei mostrar te ao mundo, mostrar -te como alguém pode ser feliz! Tenho só quinze anos…, e tu fizesteme acreditar que nem todos os homens são iguais, e eu senti-me segura! Tenho somente quinze anos…, e já a chorei de felicidade a olhar para ti, só por me sentir grata por ter alguém como tu! Vi-me a fazer promessas de uma eternidade juntos e a dizer-te: “Prometo, amor, é para sempre!” Eu não sabia o que queria dizer “Para sempre”, pois só tenho quinze anos… E com estes pequeninos e imensos quinze anos…, percebi que o amor é complicado, mantê-lo é mais ainda, e quando amamos demasiado, quere-
mos que perdure a todo o custo, a qualquer custo! Ultrapassamos o inultrapassável, ignoramos o ignorável, perdoamos o imperdoável, e aceitamos o inaceitável… porque o amor nos tornou fracos, porque nos deu a conhecer algo que temos medo de perder…E quando esse amor parece que está a desaparecer, acreditamos que tudo pode mudar, melhorar, voltar ao que era, e insistimos vezes demais, queremos colar o que está partido em mil pedaços… Só tenho quinze anos… e o amor já me levou ao pico da felicidade, levoume a entregar-me de corpo e alma, mas matou-me aos poucos, como um veneno que destrói por dentro! Matou-me quando comecei a mudar a minha personalidade e os meus gostos para encaixarem nos teus, matoume quando deixei de estar com os
meus amigos para estar com os teus, matou-me quando me apercebi que já nada era como dantes, já não era mágico, já não era único… Com uns pequenos quinze anos, relembro as vezes que me olhei ao espelho e perguntei “quem és tu?” e, de seguida, afoguei-me em lágrimas, porque já não era eu, tinhame perdido de mim, não me reconhecia... Tenho unicamente quinze anos…, mas já sinto que o Amor me possui, que estou coberta de amor, que sou intensa, que preciso de senti-lo e dá-lo em troca… Tenho apenas quinze anos, e já quis dar todo o amor que tinha, que até o meu amorpróprio, eu perdi…. Talvez por ter só quinze anos…, me tornei frágil, o Amor levou-me ao abismo, ao pânico, levou-me a ser igual a quem eu mais censurava, a ter comportamentos que eu desaprovava, nas pessoas, que que queriam terminar com a própria vida. Sei o que é estar na passadeira, numa rua, ver um carro em alta velocidade e pensar “e se agora eu me puser à frente? Só quero que isto pare!” e depois chorar compulsivamente, durante horas, e afirmar “eu quero morrer, eu não quero estar mais aqui!” Tenho apenas quinze anos, e já posso dizer que o Amor me trouxe, o melhor da minha vida e também o pior, que é o resultado de ter amado de mais! Tenho simplesmente quinze anos e, apesar de tudo, acredito no amor, talvez porque é o mais importante da vida ou porque… tenho apenas quinze anos… Nicole Campos Fernandes, 11ºG
Concurso Literário - Prosa menção honrosa
O mundo
Ilustração de
não me esconderam a realidade da situação e eu, apesar de miúdo, era perspicaz, e, por isso compreendi que o senhor X tinha motivos que ultrapassavam a pura e simples vontade de beber, para se encontrar naquele estado. Depois de muito se conspirar, alguém da vizinhança, que ocorrera curiosa, ao ruído anormal para o pacato prédio, explicou que a sua mulher tinha falecido há precisamente seis anos, e que essas recordações dolorosas o tinham arruinado, particularmente naquele preciso dia. Ao ver o senhor X naquela condição, abriram-se-me os olhos para a realidade do mundo, vi verdadeiramente que, para além do amor e da felicidade, existiam os males que os mitos de Pandora pronunciavam. Nunca mais a criança de nove anos
voltou a ser a mesma, a sua inocência ficou para sempre perdida, dentro do sapato que faltava, algo perdido no vão de escadas do prédio decrépito. Esse mesmo prédio arruinado, já vaticinava aquilo que hoje é…um refúgio de homens perdidos no ventre do vício, ninho de sem-abrigos que se escondem para dormirem o desassossego dos dias ou ficarem acordados na cálida e interminável noite. Gustavo dos Santos Couto , 11º G
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nquanto criança, nunca imaginei que o mundo fosse algo maior que a pequena casa da minha avó, na Rua Gonçalo Cristóvão! O chão organizado, por tacos de madeira cor de mel, eram a minha perceção do mundo. Tudo isto por culpa dos pais da criança irresponsável, a quem eles protegiam do mundo, em muros cor de ovo e teto lascado com infiltrações, era o reino de Maria Luísa, essa terra onde vivia refugiado. Certo dia, num dos meus passeios, pelo longo chão, protegido pela carpete azul, a qual eu passava horas a mirar, do cimo da minha pequena e imensa torre, a poltrona do meu falecido avô, olho pela vidraça da varanda e percebo que já era noite. A minha avó dormia e eu esperava que os meus pais voltassem das suas idas, semanais, ao cinema (sempre me perguntei que género de filmes aqueles iam ver, e só agora, depois de adulto, compreendi, finalmente, que filmes eram aqueles!). Quando regressaram, o relógio marcava, precisamente, vinte e três horas e quarenta e oito minutos, saímos de casa da avó e, ao descermos, deparamo-nos com o porteiro, caído no vão de escadas, mais rosado que o vinho tinto que tinha no copo. Os meus pais ligaram para o INEM, e iniciaram um diálogo com os paramédicos, explicando a situação em que o senhor X se encontrava, bem como os sinais vitais, … constatando-se que já não era a primeira ocorrência, ou melhor, que este facto se tornara recorrente. A situação do senhor X marcou-me para a vida, vê-lo num estado deplorável, de camisa desabotoada até ao umbigo, empalidecido, com as calças rasgadas, que lhe esculpiam as pernas tortas e escanzeladas, ostentava um pé sem um sapato… naquele momento, deparei-me com alguém que perdera, naquele instante, a dignidade! Os meus pais
Carolina Machado , 11º K
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Entrevista a Lourenço França Uma carreira brilhante, um toque de mestre O JORNALESAS publica uma entrevista realizada ao professor e treinador, Lourenço França. Mundialmente conhecido, o professor Lourenço França é uma inspiração para os jovens, um orgulho para o país e, particularmente, para a ESAS, não só devido ao facto de ser um professor do quadro desta escola, como também por ter sido um antigo aluno da mesma. Este ser humano fantástico soma prémios de relevo, destacando-se no mundo da Ginástica Acrobática de forma ímpar, sendo considerado, nos dias de hoje, um dos maiores treinadores do mundo. Assim, os alunos do 11ºH, Mafalda Peixoto e Vasco Sousa, orientados pela profª Catarina Cachapuz e acompanhados pela equipa Jornalesas, bem como da restante turma, estiveram “à conversa” com o professor de Educação Física, Diretor Técnico e treinador do ACRO CLUBE DA MAIA.
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Mafalda: Após lermos o seu notável currículo, ficamos curiosos para saber como começou a sua relação com o desporto… Professor Lourenço: A minha carreira começou na infância. Quando tinha apenas três anos, os meus pais inscreveramme na ginástica e na natação. Enveredei por esta carreira da forma mais natural possível, tendo conciliado as duas modalidades, mais ou menos até aos onze anos. Entretanto, percebi que a natação era muito repetitiva. De tarde, praticava ginástica, e as atividades eram sempre diferentes, enquanto que, de manhã, tinha natação, monótona e repetitiva. Como costumava dizer, “contávamos azulejos da piscina”, literalmente, pelo que, tendo que optar, optei facilmente pela ginástica. Jornalesas: Dizem que a natação é um desporto muito completo, não concorda? Professor Lourenço: Quem disse isso? Não, isso é a mentira! O desporto mais completo é a ginástica (risos). Sim, é verdade, mas se pensarmos, percebemos que temos várias capacidades motoras, como a força, a resistência, a velocidade, a flexibilidade, que são as quatro principais, e depois há outras de coordenação. A natação é mais repetitiva e menos abrangente do que isto. Na ginástica, eu tenho de fazer tudo. Mafalda: Quando é que percebeu que queria seguir Desporto? Professor Lourenço: (sorrindo) Descobri no 9º ano, quando fiz testes psicotécnicos, e decidi que ia para Artes! (risos). Creio que o resultado foi Arte e Design. Não quer dizer que eu não goste dessa área, gosto até muito de arquitetura e até acho que tenho algum jeito para desenhar. Foi ai que tive a certeza que iria para Desporto, na Escola António
dia dos atletas competirem eu ainda tenho algum papel, mas depois não posso fazer mais nada.
Nobre. Entretanto, no 12º ano vim para a vossa escola, a Aurélia de Sousa, onde, por coincidência, conheci a minha atual mulher e única, (risos). Mafalda: Qual é a coisa mais importante que diz aos seus atletas, enquanto treinador? Professor Lourenço: Digo que têm de ser felizes! É a única coisa que interessa. E a ginástica tem de ajudar os meus atletas nesse caminho, sobretudo porque é algo facultativo, e por isso têm de ter gosto, vontade ou então não vale a pena. Mafalda: Mesmo depois de ter participado e ganho inúmeras competições, ainda fica muito ansioso e nervoso nas competições? Professor Lourenço: Não fico nada nervoso nas competições, pois já fiz tudo o que podia até àquele momento. Até ao
Mafalda: Qual foi o momento mais inesquecível da sua carreira, até ao momento? Professor Lourenço: É difícil…mas posso referir um, que não esquecerei nunca. Foi a primeira vez que tocou o Hino Nacional por causa dos meus ginastas! E o mais curioso é que eu nem estava presente, nesse campeonato, todavia foi o momento mais inesquecível da minha carreira. A minha filha tinha nascido no mês anterior, por isso eu não fui à prova, os meus ginastas foram com outra das suas treinadoras, e ganharam a Taça do Mundo pela primeira vez para Portugal. A treinadora, que tinha sido minha atleta, e que sabe o peso que essas coisas têm para mim, ligou-me a dizer…” vai tocar o Hino! Ganhamos, vai tocar o Hino!”, nesse momento, tinha a minha filha ao colo, e, pelo telefone, ouvi tocar o Hino Nacional. Foi um momento espetacular! Mafalda: Qual é a característica que considera mais importante num atleta? Professor Lourenço: É a resiliência. Este período, por exemplo, que estamos a passar agora… Os ginastas ficaram em casa, obviamente, e alguns vêm umas “máquinas”, evoluíram muito, e outros vêm uma catástrofe. Por isso, diria que é a capacidade de resiliência a característica mais importante. Jornalesas: Os atletas não têm muitas lesões, fazendo exercícios tão difíceis, e piruetas no céu? (risos) Professor Lourenço: Normalmente não. Os ginastas estão presos com um cinto, quando estão a aprender um exercício mais complicado, por isso, quando caem, não se magoam tanto.
Mafalda: Qual é a sua motivação para trabalhar no mundo do desporto? Professor Lourenço: Eu acredito que o desporto consegue transformar positivamente as pessoas, fazer com que elas sejam melhores. E o desporto em que eu estou, que é uma modalidade individual, mas ao mesmo tempo coletiva, tem o melhor dos dois mundos. Porém, há coisas difíceis de gerir. Vejamos, por exemplo, num jogo de futebol há um jogador que não se esforça, eu posso substituí-lo, vai para o banco de suplentes e coloco outro no seu lugar, aqui não posso fazer isso. Se tenho um grupo de três ginastas que fazem uma equipa e se um faltou três dias na semana, os outros não podem treinar, não tenho como os substituir, porque há um entrosamento entre eles que é muito forte e único, e isso faz com que seja preciso estarem presentes a 100% naquilo que estão a fazer. Os meus treinos não são muito prolongados. Tenho vários atletas no ensino superior e não quero que percam tempo, que lhes faz falta para o estudo. Jornalesas: É preciso, de facto, muita determinação! Professor Lourenço: Sim, é verdade. Por isso têm de gostar do que estão a fazer, e eu valorizo muito tudo aquilo que eles fazem. Jornalesas: Verifica-se que os alunos que têm uma atividade desportiva, são alunos que apresentam ótimos resultados… Professor Lourenço: Sim, de facto isso verifica-se, pois quando têm uma atividade desportiva, estudam de forma disciplinada, no tempo que lhes sobra.
Mafalda: No seu ponto e vista, quais são os benefícios da prática desportiva? Professor Lourenço: Nós, lá no clube ACRO CLUBE DA MAIA -, pegamos no acrónimo ACRO e lemos como Amizade, Confiança, Respeito e Organização. Estes são os quatro princípios que usamos na Ginástica, e é algo que os nossos atletas podem levar também para a vida, pois traz equilíbrio, que os ajuda a serem felizes, que é o mais importante. Jornalesas: Tendo em atenção que os países de Leste têm tradição de serem exímios nesta modalidade, como é que consegue superá-los e ganhar tantos prémios? Professor Lourenço: Este tipo de modalidade nasceu, de facto, nos países de Leste, portanto o acumulado que eles têm é enorme, têm um legado que passa de geração em geração. Considero, no entanto, que conseguimos, se calhar mais rapidamente, aprender com eles, adaptando a modalidade ao nosso modelo. O nosso modelo é muito diferente do modelo russo, em que os atletas vivem quase em regime de internato, eles dedicam o dia a treinar e escola ocupa um curto período e para nós é ao contrário, primeiro vamos à escola e só depois treinamos no tempo disponível! (risos). Pelo que temos que ser mais “ladinos” a fazermos as coisas, adaptando tudo à nossa realidade. Eu fiz formação e estágios com os russos e aprendi muito com eles, mas quando comecei a treinar não tinha as condições deles, nem ginásio tínhamos. Os primeiros treinos que dei foram, em agosto, num jardim público, em Águas Santas. Quando chegou o inverno as coisas complicaramse, fomos para um pavilhão com relva artificial, e tudo era muito difícil. Neste momento, temos um ginásio enorme com todas as condições, mas demorou um bocado até chegar aqui.
juvenis, nunca ganhou nenhuma medalha num Campeonato do Mundo de Seniores. No entanto, desde 2014, começamos construir uma equipa (os meus atletas eram ainda pequenos, agora já estão na faculdade) para termos ido, em maio, ao mundial, que se realizaria na Suíça. As coisas foram todas muito bem programadas, pois, em 2019, fui à Suíça com os meus ginastas, a uma prova em Geneve, onde 50% das pessoas que vivem lá são portuguesas ou lusodescendentes, pelo que teríamos uma claque fortíssima a apoiar-nos. Fomos à Suíça propositadamente, pois, como o mundial ia ser lá, queria que eles conhecessem o lugar e se sentissem mais à vontade na cidade. Houve uma peripécia engraçada. Levei a equipa toda, trinta e tal pessoas, e os miúdos iam todos com as bandeiras. Quando estávamos a apanhar o autocarro, buzinavam-nos e gritavam “Portugal!”. Foi emocionante. Tínhamos as coisas bem preparadas para conseguirmos agora as primeiras medalhas, na categoria seniores, mas, devido ao confinamento, não foi possível. Na Taça do Mundo, que houve em março, na semana anterior ao confinamento, nós obtivemos três medalhas de ouro, ganhámos nas Quadras, nos Trios e nos Pares Femininos. Ganhamos aos russos todos! Mafalda: Obrigada, professor Lourenço pela sua disponibilidade e pela fantástica conversa que nos concedeu. Bem-haja. Professor Lourenço: Eu é que agradeço, foi um prazer enorme ter estado convosco e ter voltado a casa. Muito mais havia para perguntar e dialogar com esta pessoa fantástica. Fica a esperança de um próximo encontro, com muitas mais coisas para contar e para partilhar. O JORNALESAS, dia 13 de junho de 2020
Jornalesas: Qual foi o título mais importante que ganhou? Professor Lourenço: Portugal já ganhou nas camadas jovens, nos juniores, nos
Com a equipa de Seniores que esteve em Holon, Israel, onde obtivemos 9 medalhas—Campeonato Europeu
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Mafalda: O que faz com que um treinador seja um bom treinador? Professor Lourenço: Em primeiro lugar, trabalhar o melhor que souber e o máximo que puder, em segundo lugar, dar atenção aos pormenores, e, por último, eu diria que é, como dizia um treinador americano de basquetebol, “aquele que tirar o melhor partido de como as coisas correrem, vai ficar melhor do que os outros”.
Arte pelas ruas do Porto Nem sempre prestamos atenção à arte que encontramos, nos sítios mais inesperados da nossa cidade. Muitas vezes nem nos lembramos de que, por detrás de qualquer forma de arte urbana, existe um artista talentoso com uma mensagem a transmitir. Assim, com este trabalho, pretendo dar a conhecer algumas dessas obras que se encontram ao alcance de qualquer um de nós.
Hazul Luzah e Mr. Dheo (Parque de estacionamento da Trindade, Rua do Alferes Malheiro) Estes dois artistas portuenses tiveram o privilégio de pintar a primeira parede “livre” da cidade do Porto. Na imagem de cima (Hazul Luzah) está representada a figura feminina arredondada, que ele vai espalhando por vários espaços abandonados da cidade. Na segunda imagem, Mr. Dheo representou o pai, que segura uma lata de tinta numa mão e a Torre dos Clérigos, simbolizando o Porto, na outra. A envolver o edifício, uma névoa de tinta. “Quis fazer uma homenagem a um excelente pai, um excelente avô e um excelente homem, que me motivou a fazer isto há quinze anos. E celebrar esta nova parceria, com o graffiti a envolver a cidade, numa união saudável”, disse.—disse o artista.
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Landscape – Martinha Maia (rua das Oliveiras nº43) Esta artista, em 2016, foi a vencedora de entre 36 propostas para a intervenção na fachada do teatro Carlos Alberto. Martinha resumiu este trabalho como “uma definição de inquietude”. Acrescentou ainda que a obra foi “retirada da ideia de uma nuvem de energia, o desenho destina-se à cidade. Cada traço vai compondo a paisagem.”
Cultura /arte pelas ruas do Porto Fundação José Rodrigues (rua da Fábrica Social) José Rodrigues foi um importante escultor português. Esta fundação situase numa antiga fábrica de chapéus e é um núcleo de ateliers de artistas, salas de exposição, galeria de arte, de graffiti, e espaços ligados a funções culturais e sociais. Neste local, existe uma grande variedade de grafitis de vários artistas como Vhils, Hium, Klit, Mars, Youth One, Caos, Oker e Best & Ever.
Add Fuel – Sonha (rua do Dr. Maurício Esteves Pereira Pinto) Diogo Machado, artisticamente chamado de Add Fuel, foi desafiado pela Federação Portuguesa de Futebol a criar um mural de apoio à Seleção Nacional durante o Mundial da Rússia de 2018, sob o mote “Conquista o teu Sonho”. O mural pretende simbolizar a ideia de que “por mais simples que sejam os sonhos, eles podem levar-nos a outros mundos”, conta o artista. É por isso que num desenho que mistura grafites com o nome do país e os típicos azulejos nacionais está a palavra “Sonha” em letras bem grandes. Adaptado do trabalho realizado para a disciplina de Geografia A , por Sara Alves, 11ºF
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D. Quixote de la Mancha & Sancho Pança (rua Miguel Bombarda/ rua de Diogo Brandão) Mots, Fedor e Mesk são três artistas que construíram esta obra de 130 metros quadrados. Este último afirmou que D. Quixote, com um pincel atrás da orelha, e os seus acompanhantes eram “personagens que cabem em Miguel Bombarda, pelo lado da utopia”.
Turismo no Porto A dinâmica dos alojamentos locais (AL), ameaça para a cidade do Porto? A cidade do Porto tem-se revelado, nos últimos anos, muito propícia ao Alojamento Local (AL) e, por esse motivo, considerei aprofundar algumas ideias. Evolução do AL Apesar de só haver dados a partir de 2013, é notória a subida, cada vez mais acentuada, do número de estabelecimentos de “Alojamento Local” em Portugal. Os valores de 2019 e 2020 não foram ainda contabilizados, no site PORDATA, mas estimava-se que pudessem acompanhar o crescimento apresentado no gráfico, caso não tivesse ocorrido a inesperada pandemia – COVID –19, O mapa mostra a distribuição das propriedades ativas, na cidade do Porto, da plataforma de alojamento local Airbnb (airbedandbreakfast). Observa-se uma maior concentração de estabelecimentos no centro histórico, onde a maioria dos turistas prefere ficar. Esta dinâmica beneficiou vastas áreas urbanas e também localidades rurais, através da regeneração e requalificação de imobiliário, que se encontrava devoluto e sem condições de habitabilidade. Teve também efeitos na valorização dos setores da restauração e hotelaria, assim como no reconhecimento de práticas culturais. O fenómeno acabou por se sentir, com maior ou menor intensidade, em todo o território nacional, tendo efeitos importantes na economia do país, sendo que o turismo ocupava, em 2019, cerca de 14,6% do PIB português ( Expresso (18.12.2019): https://
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expresso.pt/economia/2019-12-18-Turismo-portuguescresceu-mais-41-pontos-percentuais-que-o-resto-daeconomia).
Contudo, como a evolução do setor tem sido muito acelerada, o AL não tem garantido o equilíbrio adequado entre proprietários e residentes locais. É nas zonas urbanas que há maiores problemas. Contudo, nem sempre são cumpridos todos os protocolos necessários para garantir condições de habitabilidade a todos (locais e turistas). É exemplo disso a falta de clareza nas exigências definidas pela legislação, no que toca ao isolamento acústico das habitações, pois ocorrem situações de conflito, entre os que têm o direito de aproveitar as férias e de ter momentos de lazer ( a qualquer hora da noite) e os vizinhos, em habitações contiguas, que não devem sofrer com isso. Há ainda a sazonalidade, a época baixa, em que a procura cai, significativamente, e o rendimento dos proprietários também.
https://www.sabado.pt/dinheiro/detalhe/airbnb-em-numeros-e-dois-mapas-incriveis
Alojamento Local (AL) Em que consiste? Os estabelecimentos de alojamento local (AL) prestam serviços de alojamento temporário, nomeadamente a turistas, mediante remuneração, não tendo as caraterísticas de empreendimentos turísticos.
A dinâmica dos alojamentos locais (AL) - cont.
A subida exponencial do valor das rendas de casas, a pressão turística, a difusão de estabelecimentos de alojamento local, o encerramento de lojas históricas, entre outros, são componentes do processo de gentrificação. Um bom exemplo deste fenómeno de ocupação é o que se observa em algumas das típicas “ilhas” da cidade do Porto, alojamentos operários no séc. XIX e que chegaram até aos nossos dias, apesar da modéstia da sua construção e das fracas condições de salubridade que permanecem em muitas deles. Alguns moradores abandonaram, voluntariamente, “as ilhas”, outros foram indemnizados, outros despejados, e assim têm vindo a nascer estabelecimentos como o da empresa “99 coloured socks”, que não é mais do que uma empresa de alojamento local, que resultou de um projeto de requalificação de uma antiga ilha. Tal como esta, outras sofreram processo idêntico, contribuindo para o aumento do número de estabelecimentos de AL. Na cidade do Porto, como grande parte dos edifícios do centro histórico já se encontravam vazios há muitos anos, o processo de apropriação da cidade pelo turismo tornouse muito acessível e rápido. Estas mudanças não são consensuais, apesar de darem uma imagem mais atrativa à cidade, na medida em que nem sempre os seus residentes são devidamente respeitados. É preciso garantir que a população local não seja radicalmente substituída, nestes processos, e se descaracterizem todos os cantos dos centros históricos/antigos das cidades. Daí, ser urgente implementar políticas de incentivo à habitação, a custos acessíveis, nestas zonas. https://opcaoturismo.pt/wp/um-fenomeno-em-portugal-chamadoalojamento-local/http://business.turismodeportugal.pt/pt/ Planear_Iniciar/Como_comecar/Alojamento_Local/Paginas/ default.aspxhttps://www.sabado.pt/dinheiro/detalhe/airbnb-emnumeros-e-dois-mapas-incriveis https://www.alesclarecimentos.pt/
Adaptado de trabalho realizado para a disciplina de Geografia A por Rita Rocha, 11ºF
AL em tempos de COVID-19 São muitos os médicos e enfermeiros que, por estarem a trabalhar ou em quarentena, optam por viver em casas ou quartos disponibilizados por hotéis e pelo alojamento local. Acreditam que a opção vale a pena e a situação é temporária, […]. Encontrar outro teto era urgente e foi numa rede social que uma das médicas do Hospital de Braga respondeu a um anúncio de um T2 disponível no centro de Braga. “Era uma casa que estava no Airbnb para alojamento local, mas os turistas cancelaram as estadias e os donos optaram por ceder a profissionais de saúde”.
Gentrificação Em que consiste? O processo de gentrificação consiste na substituição da população que reside, em certas zonas das cidades, por uma outra mais abastada ou por turistas. Tem como efeitos a requalificação dos bairros degradados, regenerando a área urbana a nível económico, cultural e ambiental, acabando por fazer com que os preços fundiários e imobiliários aumentem.
https://www.viralagenda.com/pt/events/846135/o-porto-visto-desde-
“99 coloured socks”
Breves notícias AL De entre muitos jornalistas, saliento o trabalho de Paulo Pimenta, fotojornalista do PÚBLICO, que durante três anos retratou as típicas casas portuenses procurando sensibilizar os leitores para o respeito que devem ter pelos moradores das ilhas que muitas vezes ficam sem habitação, dado o crescente número de projetos de construção de estabelecimentos de Alojamento Local. “Ao acompanhar a realidade da sua cidade - com as ordens de despejo a crescer, algumas ilhas a serem transformadas em alojamento local ou senhorios a subir rendas de forma incontrolável, forçando a saída dos inquilinos - o fotojornalista viu neste projeto um lado ainda mais revelador. “É preciso “respeitar” os moradores das ilhas”, pede. Porque a ilha é um “prédio deitado”, como lhes chamou, a dada altura, um dos moradores. Um lugar que é casa.” PÚBLICO 22 jan. 2019
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A problemática da gentrificação e a sua relação com o AL
À descoberta de memórias da cidade A Historia do Duque da Ribeira
(24 de Março 1902 – 9 de Novembro 1996)
Fui até à Ribeira do século XX, nos tempos em que uma pessoa de menores posses se tornou conhecida por fazer o bem!
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iocleciano Monteiro, mais conhecido por Duque da Ribeira, nasceu na Ribeira. Segundo os seus amigos, o Duque só no Rio Douro é que se sentia “verdadeiramente vivo”. Aos 11 anos, fez o seu primeiro salvamento, quando um rapaz mais velho caiu ao rio. A partir daí, a cada salvamento, a cada resgate, foi-se tornando um ícone da cidade. Curiosamente o que o tornou famoso foi o resgate dos corpos dos suicidas da ponte Luís I. Era barqueiro, estivador e marinheiro, mas ficou conhecido pela função de retirar corpos do rio. "Quem caísse ao rio só o Duque é que conseguia ir buscar", dizia- -se na Ribeira. O seu conhecimento das correntes do rio era tão grande, que se lhe dissessem onde é que um cor-
po tinha caído, imediatamente conseguia determinar em que zona é que estaria. O Duque da Ribeira chegou ao estatuto de figura pública e era também conhecido internacionalmente. Tinha um hobby que consistia em colecionar autógrafos de pessoas conhecidas, tanto a nível nacional como internacional. Alguns dos autógrafos são de Isabel II, rainha de Inglaterra, ou de Ramalho Eanes. Faleceu com 94 anos, e as suas cinzas foram espalhadas no rio Douro. A praça, junto ao pilar da Ponte Lu ís I, acabou por receber o seu nome, já depois da sua morte, e, no local, foi colocada uma lápide em sua memória. Um dos primeiros bares que surgiu na Ribeira e que ele frequentava com assiduidade, foi também batizado com o seu nome. Hoje, é Gastão a resgatar os corpos do rio. Por isso, por vezes, chamam-lhe “o novo Duque da Ribeira.” Nega esta comparação, visto que “ainda tem muito que aprender para ser como o Duque” e a técnica utilizada para retirar os corpos é diferente. Lobo do Mar explica, “eu resgato
corpos que estão à superfície, enquanto que o Duque se dedicava a resgatar corpos presos no fundo do rio. Era impressionante. Quando lhe diziam que havia um corpo no rio, ele não descansava, procurava dia e noite até o encontrar. E, quando isso acontecia, pousava-o na margem e dava-lhe um beijo na testa”. São de gerações diferentes, mas ambos têm a mesma paixão: o Rio Douro. Cândido Venceslau tem 67 anos e é sobrinho do Duque da Ribeira. Vive no bairro do Barredo, uma das mais típicas zonas da Ribeira, onde também o seu tio morou, durante vários anos. Cândido procura partilhar a história do tio e as recordações que tinha com ele. Cândido considera que o seu tio “tinha um dom”: o dom de conhecer o Rio Douro. Tirando isso, o Duque também ensinava os meninos da Ribeira a nadar, usando boias de cortiça, para evitar que se afogassem no rio Douro. Adaptado do trabalho realizado para a disciplina de Geografia A, por Beatriz Veloso, 11ºF
Transportes Luís Sousa, Lda Rua da Cerâmica 226/230 Alfena, Porto, Portugal Ligar 22 969 1357 http://www.tlsousa.pt/
Celebração do Dia da Europa Pensamentos soltos . . . num Dia da Europa em tempos de pandemia o dia 9 de maio celebrou-se o Dia da Europa. Este ano, comemorando os 70 anos da famosa Declaração Schuman, proferida 5 anos depois do fim da II Guerra Mundial, num momento em que as nações europeias continuavam a debater-se com a devastação causada pelo conflito. A partir de então, sucederam-se uma série de instituições europeias, supranacionais, que deram origem à atual União Europeia. Em 2020, as celebrações deste dia foram assoladas pelos efeitos dramáticos da pandemia Covid 19 que se estendem ao mundo inteiro, tornando, mais do que nunca, urgente o espírito de solidariedade presente na Declaração de Robert Schuman. Citando Albert Camus (A Peste) : "No meio dos flagelos aprende-se que há nos Homens mais coisas a admirar do
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evido ao covid-19 não poderemos estar juntos, nem dar aquele abraço, que está guardado há alguns meses, aos nossos familiares e amigos, porém, ainda podemos glorificar este dia extraordinário! As gerações pós covid-19 têm o trabalho de tornar o Mundo e, claro, a Europa num lugar melhor. Este é um dos assuntos que me tem vindo a preocupar imenso pois não sabemos quando vamos sair desta “prisão”! Também me atormentam, por exemplo, as alterações climáticas que têm vindo a aumentar imenso, o facto de os animais estarem a habitar num sítio que não é adequado para eles e a necessidade de se continuar a incentivar a reciclagem , pois isso contribui para melhorar o funcionamento do planeta. Algumas sugestões para festejar este dia especial são,
que a desprezar" e porque, em tempos de pandemia, a vida (e com ela as suas celebrações) não pode ser suspensa, convidámos os nossos alunos e alunas a participar na evocação desta data. O tema foi "Às gerações pós-covid 19 cabe o papel de reinventar a Europa em que queremos viver"… Contudo, esta foi apenas uma sugestão. Deixamos uma pequena mostra dessas participações.
9 de maio de 2020 Catarina Cachapuz & Luísa Ribeiro Profªs responsáveis pelo Clube Europeu
por exemplo, “largar” os aparelhos e fazer algo em família, jogar um jogo de tabuleiro, jogar às cartas, jogar o jogo da mímica, ver um álbum de família para recolher algumas boas memórias.... Isto tudo faz com que passemos um tempo de qualidade com a família e criar ainda mais laços, pois acreditem que são os únicos que vão estar sempre lá para nós! Contudo, acho que este deve ser um dia amado e respeitado, independentemente do que está a ocorrer. Não percam a fé e a esperança, tudo se vai resolver e, mais tarde ou mais cedo ,vamos comemorar este dia, TODOS JUNTOS! Joana Pereira, 8º B
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Pensamentos soltos … num Dia da Europa em tempos de pandemia Quando esta epidemia acabar, todas as pessoas devem " nascer de novo", ou seja, começar a viver com algumas preocupações, mas, ao mesmo tempo, como se esta fase não tivesse acontecido. Inês Bastos, 8º B
No dia 9 de maio, comemora-se o Dia da Europa. Festeja -se a paz e a unidade do continente europeu. Para comemorar o Dia da Europa, as instituições europeias abrem as portas ao público, em maio, em Bruxelas, Luxemburgo e Estrasburgo. As representações da UE na Europa e as delegações da EU no resto do mundo organizam diversas atividades e eventos para todas as idades. O Dia da Europa é, juntamente com a bandeira, o hino, a divisa ("Unida Na Diversidade") e o euro, um dos símbolos da identidade comum da União Europeia .
A crise do COVID-19 foi cruel e alarmante para todos, principalmente para aqueles que perderam entes queridos… porém, infelizmente, foi um acontecimento “necessário”, ou melhor, um aviso ao seres humanos para pararem de “sujar o mundo”. Durante esta crise, por causa do condicionamento dos seres humanos, o mundo tornou-se um lugar mais limpo, e nem é exagero dizer que o aquecimento global diminuiu, pelo menos um pouco. As águas de Veneza ficaram cristalinas, pois não há mais barcos atravessando-a; os animais estão mais tranquilos com a ausência das pessoas; a poluição automobilística nas cidades diminuiu, contribuindo para a diminuição da poluição no espaço urbano. Enfim, espero que. com esse aviso. as pessoas se possam consciencializar do que fizeram, e que não se esqueçam de, a partir do fim da quarentena, tomarem mais cuidado com o que fazem no mundo. Hoje pode não ser nada, mais amanhã tudo muda. Rhuan Costa, 11º I
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Gonçalo Piedade, 7º A
Todos os anos se festeja, no dia 9 de maio, o Dia da Europa. Esta data assinala o aniversário da histórica Declaração Schuman. Num discurso proferido em Paris, em 1950, Robert Schuman, o então ministro dos negócios estrangeiros francês, expôs a sua visão de uma nova forma de cooperação política, na Europa, que tornaria impossível a eclosão de uma nova guerra entre países europeus.
Neste momento, todos sabemos que a principal preocupação, na Europa e no resto do mundo, é este vírus conhecido como Covid-19, que surgiu do nada, sem nos apercebermos. Sabemos também que este vírus se vai prolongar por muito mais tempo… Para a situação pandémica melhorar o mais rápido possível e podermos voltar à vida normal, devemos tomar as devidas precauções. Contudo, na minha opinião, é muito cedo para voltarmos já à vida normal. Acho que devemos avançar aos bocados e considero que assim a Europa e o resto do mundo irão melhorar. Com o tempo de confinamento podemos melhorar a “saúde” do planeta onde vivemos, pois temos oportunidade de refletir sobre o que estávamos a fazer de errado e o que já fazemos bem. Esta é também uma oportunidade para melhorar o sítio onde vivemos.
Inês Silva, 8ºB
Guilherme Carreira, 10º ano
black lives matter Nas últimas semanas, temos assistido a protestos intermináveis, manifestações violentas e atos de vandalismo mascarados, na sequência da morte de George Floyd, um afroamericano que marcou o culminar desta onda de protestos, anteriormente apelidada de black lives matter, e que se acabou por espalhar um pouco por todo o mundo. undo este que detém todo um conjunto de vantaa atividades criminosas e vandalismo—como os que tegens, relativamente ao processo de globalização mos assistido em vandalização de estabelecimentos e proximidade de pessoas, e que também traz ao de cicomerciais e nas várias destruições de monumentos púma todas as suas desvantagens, como as atitudes discriblicos e históricos -, que se espalham agora para a Eurominatórias e o racismo, provenientes de uma falta de pa. aceitação e de um conceito de aldeia global fragilizado, Na verdade, estes protestos são essenciais para a mupor ideais nacionalistas dança de mentalidaque tendem a ascender des, e para mostrar às cada vez mais, essencialpartes favorecidas da mente na Europa e na sociedade que existe América, continentes discriminação racial, detentores de um terreno apesar de nem semfértil para se desenvolver pre a vermos ou de e espalhar. não a querermos ver, De certo não é a primeira sendo que estas atituvez, nem provavelmente des racistas não passerá a última, que um sam só pela violência afroamericano morre, física, e sim, maioritainjustamente, nos braços riamente, pelo uso de de uma polícia associada palavras e comentáà discriminação e caracterios preconceituosos, https://dekerivers.files.wordpress.com/2016/07/7.jpg rizada pela violência exabaseados em diferencerbada nos seus procediças raciais, culturais e mentos. Mas será este sociais, que necessium caso assim tão diferente dos outros, ou apenas acatam de ser abolidas. Deste modo, em vez de utilizar a ba por coincidir com um contexto interno e externo, violência e atos criminosos para destruir supermercados propícios à ascensão de temas polémicos que retirem as ou lojas de roupa e aproveitar para lucrar, devemos insatenções dos problemas sociopolíticos do momento? truir as crianças e os jovens de maneira a estes não se Assim sendo, não podemos discutir este tema, sem antes deixarem influenciar pelas vertentes extremistas, nem notar a aproximação das eleições presidenciais americapelos distraídos e acomodados da sociedade. Além disso, nas e as suas longas campanhas que se vêm a desenvoldevemos contribuir para um debate aberto, de maneira ver, há já alguns meses; muito menos esquecer o impaca captar a atenção das camadas mais idosas e dos adulto da COVID-19 na economia americana e nos níveis de tos, remetendo para cessação destes comportamentos desemprego, que já ultrapassam os da Grande Depresanticívicos e desumanos, que são um reflexo da sua tensão e demonstram a crise económica que o país passará, dência de fixação na sociedade, provenientes de épocas bem como a posição das políticas externas da governade colonialismo, nomeadamente dos Descobrimentos, ção de Trump, ao anunciar o fim do financiamento da altura em que a escravatura e o tráfico humano eram OMS e a apelidar este vírus de “praga chinesa”, contribuuma realidade dura, e estavam nas bases sociais, polítiindo para o escalar dos conflitos, entres estas duas grancas e económicas da época. des potências. É relevante apontar, ainda, a enorme inAcresce que, nesta onda de protestos, têm surgido tamfluência das redes sociais e das cadeias televisivas, tal bém outros temas relacionados com a apropriação cultucomo o desenvolvimento e a vulgarização de telemóveis, ral, o papel dos monumentos ligados ao colonialismo, através dos quais se tem aproveitado a facilidade de aos Descobrimentos e à preservação cultural de costucomunicação, para tornar este um assunto discutido por mes, que têm sido alvos de atos de vandalismo—como é todo o mundo, apelando-se ao fim de atitudes discrimio caso de estátuas e monumentos históricos que, muitas natórias e racistas e demonstrando as fragilidades destes das vezes, acabam sendo destruídos. movimentos que, por sua vez, são facilmente associados
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black lives matter
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Apesar de todo o aparente reconhecimento das atrocidades do passado, existem muitas pessoas que, sabendo ou não o que estas personalidades históricas representam, idolatram-nas, e esse comportamento mostra a atitude crucial que devemos tomar para manter, na memória, e aprender com os seus erros de modo a não os cometer de novo. Imaginemos, então, um país sem “Lusíadas”, sem Padrão dos Descobrimentos e sem estátuas, como a do Padre António Vieira que, mesmo morrendo a proteger os índios americanos, foi também injustamente associado a estes comportamentos. De facto, vivemos num país cujo apogeu histórico remete à época dos Descobrimentos, e tudo o que de mau esta época trouxe à humanidade; num país que, claramente, precisa de tomar ações e mudar mentalidades e não destruir as provas e tudo o que nos resta, para conhecer e compreender o presente, de maneira a evitar que, no futuro, se verifiquem de novo; num país onde, em pleno século XXI, destruir obras de arte prevalece ao combate de grupos extremistas e não impede a continua ascensão de um partido de extrema-direita no parlamento. Não é necessário usar arduamente a imaginação, para perceber
que mudar mentalidades e impedir a discriminação de qualquer tipo passa por nós, pela mensagem que passamos diariamente, e pela vontade individual de cada ser, presumivelmente tão significante. Em conclusão, estes atos racistas e discriminatórios, que o movimento denuncia, não são recentes, nem foi apenas a morte de uma pessoa que originou esta onda de manifestações. Na realidade, podemos afirmar que o tempo não foi ao acaso e que a conjuntura atual foi um grande agente propulsor da sua ascensão a nível mundial, mas é necessário também apelar à continuidade deste movimento, de uma forma pacífica, desconstruindo os tabus sociais e desmantelando a associação deste movimentos à mão criminosa, trazendo estes temas à discussão pública e tornando-os mais correntes. Inês Santos, 12ºF
Rua Aurélia de Sousa,49
Desenvolvimento Sustentável O consumo de calçado
Rua Santos Pousada, 1204 - 4000 – 483 Porto Tel/Fax.: 225 024 938 / Tlm.: 911 710 979 Email: porto.antas@naomaispelo.pt
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O desenvolvimento sustentável é um dos temas mais falado nos dias de hoje. Nas múltiplas vertentes que se enquadram neste tema, decidimos abordar o consumo de calçado, no âmbito da disciplina Cidadania e Desenvolvimento. Após a recolha de informação relativa ao aumento progressivo do consumo de vestuário/calçado, decidimos procurar por marcas de calçado nacionais e ambientalistas e, na apresentação do trabalho, demos destaque a três: “As Portuguesas”, conhecida por produzir calçado em cortiça; a “Zouri”, que aproveita o lixo plástico da costa portuguesa e a “NAE”, uma marca portuguesa de calçado vegan e animal-friendly. À informação encontrada na internet, foram incorporados os dados do inquérito online que realizamos, o que nos permitiu obter mais informação, relativa aos hábitos de alguns portugueses, no que toca ao consumo de calçado. Para além de compreendermos o impacto ambiental dos nossos hábitos de consumo, que podem ser caraterizados como consumismo, procuramos sensibilizar as pessoas para repensarem, antes de tomarem algumas decisões, deixando algumas ideias de como consumir de forma sustentável, bem como exemplos de marcas alternativas que, para além de serem nacionais, promovem a sustentabilidade. Rita Rocha, 11ºF
L i v r o s I livros I L i v r o s Vanessa vai à luta Luísa Costa Gomes
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anessa vai à Luta é uma peça de teatro muito divertida, que conta a história de uma menina - a Vanessa, a irmã mais nova de Rodrigo -, que queria ter uma metralhadora de prenda de anos, mas que a sua mãe não lha queria dar, pois dizia que as meninas têm que vestir vestidos e brincar com “coisas de menina”: bonecas, carrinhos de supermercado, cozinhas, rolos para pôr no cabelo, batons, vassouras, espanadores, aspiradores, máquinas de lavar roupa, serviços de chá, etc. Esta história conta muito bem a luta da Vanessa para ter o brinquedo que ela quer, mas esta “luta” é muito mais do que isso. Através de uma maneira simples e cómica, o livro passa uma mensagem importante sobre um preconceito da sociedade: porque é que
se pensa que há brincadeiras, tarefas, roupas e “coisas de menina e coisas de menino”, e se tem mesmo de ser assim. Na minha opinião, raparigas e rapazes podem ser o que quiserem e, desde pequenos, ensinados a respeitarem-se uns aos outros e a dividirem tarefas. Porque é que uma menina tem de brincar com Barbies e um menino com carrinhos? Porque é que as filhas têm de ajudar as mães na cozinha e os filhos podem descansar no sofá? Porque é que uma rapariga não pode ser futebolista e um rapaz bailarino? Este é um livro que vale mesmo a pena ler, cheio de surpresas, ideal para todas as idades, e que trata de um assunto atual. José Pedro Falcão Ferreira, 7º C
A ilha na rua dos pássaros Uri Orlev
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ilha na rua dos pássaros é uma obra de Uri Orlev, que conta a história de um menino Judeu de apenas 11 anos, chamado Alex, que está a viver no meio da Segunda Guerra Mundial. Alex morava com sua família, na Polónia, numa cidade que foi cortada a meio por uma muralha, separando não só ruas, mas casas e jardins também. Ele e a sua família dividiam o apartamento com os Gryns. Um dia, a mãe de Alex saiu para visitar uns amigos, no Gueto A, e nunca mais voltou... O seu pai, que estava a trabalhar, na fábrica de cordas, também desapareceu quando o exército alemão surgiu e o ´´selecionou´´ para um destino desconhecido... A partir daí, Alex terá de viver sozinho num edifício abandonado na Rua dos Pássaros, a lutar contra a fome mas,
sobretudo, pela sobrevivência. Alex ainda tem esperanças que um dia o seu pai regresse...mas, até lá, ele terá de sobreviver a invernos rigorosos, e à possibilidade de pessoas invadirem as ruínas do edifício na Rua dos pássaros. No entanto, nada o assusta mais do que a hipótese de nunca mais ver o seu pai... No meu ponto de vista, este livro é muito interessante, tendo-me surpreendido bastante com o final. Para quem gosta de suspense, eu recomendaria muito esta obra e, para quem não gosta, recomendo também, pois está cheio de factos interessantes e de surpresas hilariantes. Isabela Soranna , 7ºC
índice
Tempos de Insegurança 2
Corona virús em família
3
Diário aluna
5
Diário professora
6
Concurso literário Poesia
7
Concurso Literário Prosa
9
Entrevista Lourenço França
11
Arte pelas ruas do Porto
16
Turismo no Porto
18
Memórias da cidade Porto
20
Dia da Europa
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Black lives matter
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Desenvolvimento sustentável
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Livros
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Tempos de insegurança
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edo? É talvez um sentimento comum, na situação em que o mundo está! Este vírus persegue-nos para todo o lado. Mesmo que não esteja dentro de nós, vemos a sua presença nas ruas, onde as pessoas se refugiam atrás de máscaras, e quando vimos para casa, um lugar que tomamos como seguro, ligamos a Televisão e ele ali está! A população protesta e sente-se injustiçada, será um direito deles, sentirem -se assim? Famílias foram destruídas, despedidas foram proibidas e uma nuvem negra cobriu a população. Contudo, o Homem é um ser egoísta, preocupou-se somente com a sua sobrevivência e destruiu o nosso lar, desde há muitos anos. A água está contada, os recursos estão a desaparecer, a atmosfera a morrer e a poluição a aumentar. Durante todos estes anos, o Homem controlou grande parte das mortes e vidas neste planeta, matando todos os dias animais e plantas, seres vivos indefesos, que acabaram por ser apanhados nos interesses financeiros e de diversão da nossa espécie. Nós que destruímos florestas, deixando seres sem casa, reclamamos por ficarmos fechados numa. Temos um planeta, que é a casa de todos nós, e devíamos cuidar dele como tal. Tu, que me “ouves”, que me “lês” … Começa a reciclar, opta por uma mudança, pequenos detalhes fazem a diferença, na vida do nosso planeta!
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pandemia veio trazer consequências, umas são negativas, mas também as há positivas. Devido à estagnação do mundo, podemos observar que houve uma grande diminuição da poluição e um maior desenvolvimento dos laços familiares, devido ao maior contacto entre as pessoas, em consequência da quarentena. As consequências negativas refletemse na perda de empregos, na perda de vidas, no fechamento de empresas, na estagnação do mundo e também no distanciamento social que é cumprido, não só pela ordem da DGS, mas também por medo por parte da população. 10ºJ - Clube Europeu
Para sobrevivermos, há pequenas coias que tens de (re)aprender, tornar um hábito, usar de forma consciente na tua vida, se calhar por tempo ilimitado… usar máscara, sobretudo em lugares públicos fechados, usar de forma constante o gel desinfetante, lavar as mãos com frequência, manter uma distancia de segurança entre as pessoas, evitar usar sapatos em casa, tomar duche e lavar a roupa e evitar contacto com os olhos, boca e nariz. Todas as medidas tomadas até agora fizeram a diferença, por isso, a longo prazo poderão ser a solução para o desaparecimento deste vírus. Não é só a tua vida que está em jogo, tens o planeta nas mãos, faz a jogada certa! Contudo não esperes, não demores, o tempo está a acabar…Tic Tac Tic Tac … Fabiana Santos, 11º H
Ilustração de Kauan Cury
Educação em tempos de pandemia
Editorial
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ias de anomalias quotidianas Quando era miúda, sentia um estranho fascínio pelos ditados populares, de tal forma que, a dada altura, no limite das capacidade dos meus 10 anos, tentei fazer uma compilação de todos os que conhecia e ia ouvindo. Descobri, todavia, que a gente grande já tinha tido essa ideia. Isto acontece muito com as minhas grandes inspirações: morrem na praia. Suponho que o ritmo, as bizarras estruturas sintáticas e a concisão linguística das lições de vida que os provérbios encerram fossem, para mim, o seu grande atrativo. Contudo, quem viver verá a volta que o mundo dá e algumas dessas orientações, hoje em dia, parecem merecer uma lata de tinta vermelha em cima, de acordo com a tendência afirmativa atual para a rejeição daquilo que nos parece socialmente incorreto, ou tradutor de comportamentos racistas, xenófobos, machistas, homofóbicos, eurocêntricos, eu sei lá… Eu diria que para vestir um santo não se deve despir outro, mas ninguém é profeta na sua terra. Há um provérbio de que gosto particularmente: «À terra aonde fores ter farás como vires fazer.» É um conselho simpático que, admitindo o nosso caráter errante, recomenda a adaptação. E nós até somos bons no mimetismo adaptativo. Nem sempre, contudo, teremos sido romanos em Roma. Sei que historicamente o português fez o que pôde, andando com a Cruz nos peitos e o Diabo nos feitos, que o que é meu é meu e o que é teu é nosso e a ocasião faz o ladrão, que sempre soube muito bem o que andava a fazer pelo mundo e também sei que fomos dourando essa consciência: se a pílula bem soubera, não se dourava por fora. Há uma personagem da banda desenhada, que pouca gente deve conhecer, chamada Groo, o Errante. É um guerreiro exímio, mas ignorante e intelectualmente pouco dotado. A sua errância leva-o a percorrer inúmeras terras, sempre na posse da sua visão de justiça, que nunca altera. Assim, é sistematicamente impelido a lutar contra as iniquidades que percebe, indo de erro em erro. As histórias acabam invariavelmente com as cidades que visita engolidas pelas chamas, por dilúvios, por tsunamis… e com a pergunta metódica, que prova que é capaz da autoquestionação, «Terei errado?». Cometemos, sem dúvida, muitas iniquidades históricas e, sem dúvida também, falta ainda, em muitas situações, a pergunta do Groo e a reflexão séria sobre os comportamentos passados que que ela implica. Falta muita coisa. Mas falta para, essencialmente, melhorar o presente e potenciar o futuro, não para enjeitar ou destruir o passado. Não se consegue. Foi ele que nos trouxe, bem ou mal, até aqui. A estátua de Vieira é feia? É horrenda! Mas pintar “descoloniza” no pedestal?! Do Payassu?! Perseguido pelos colonos?! É possível errar tanto?! Será que Groo passou por Lisboa? Ou será que verdadeiramente de noite todos os gatos são pardos, todos os tigres são gatos e, como diz Saramago, «vultos todos os homens»? Hoje são 22438 casos recuperados. Se tiverem de sair, levem máscara e o frasquinho de álcool-gel. Deixem a lata de tinta em casa.
FICHA TÉCNICA Coordenadores: Anabela Dias Cruz (profª) Carmo Rola (profª), Julieta Viegas (profª) e Maria João Cerqueira (profª) Revisão de textos: Maria João Cerqueira (profª) e Anabela Dias Cruz(profª) Capa: Mafalda Alves do 11ºK Paginação e Maquetagem: Julieta Viegas (profª) Equipa redatorial: Anabela Cruz Dias, profª de Português; Beatriz Veloso, 11ºF; Benedita Hussein, 11ºG; Carmo Oliveira, profª de Português; Catarina Cachapuz, profª responsável pelo Clube Europeu e profª de Educação Física; Diogo Santos, 11ºH; Direção; Equipa Jornalesas; AEAS; Fabiana Santos, 11ºH, Fátima Alves, profª de Português; Gonçalo Piedade, 7ºA; Guilherme Carreira, 10ºano; Gustavo Couto, 11ºG; Inês Silva, 8ºB; Inês Bastos, 8ºB; Joana Pereira, 8ºB; José Pedro Ferreira, 7º C; 11ºG; Julieta Viegas, profª de Geografia; Luísa Mascarenhas, profª Coordenadora Biblioteca/CRE; Inês Santos, 12ºF; Inês; Luísa Ribeiro, profª de Espanhol; Isabela Soranna , 7ºC ; Mafalda Peixoto, 11ºH; Maria João Cerqueira, profª de História; Nicole Fernandes, 11ºG; Rita Castro, 12ºH; Rita Rocha, 11ºF; Sara Alves 11ºF; Ruhan Costa, 11º I; Teresa Silveira, mãe membro da APESAS; Tiago Sousa, 12ºE e Vasco Sousa, 11ºH. Ilustrações Ariana Martinez, 12º H; Carolina Machado, 11ºK; Joana Coelho, 11ºK; Cristiano Alves, 11ºK; Mafalda Alves, 11ºK; Patrícia Machado, 11ºK; Sofia Andrade, 11ºK e Rita Castro, 12º H e Soheil Mousavi, 12º H Financiamento: Barrigas l restaurante; Clínica Dr. Alberto Lopes l Psicologia l Hipnoterapia; Estrela do Lima l Café Restaurante; Estrela Branca l Pão quente, pastelaria; Futuro em Relevo l talho do Povo; Helena Costa l cabeleireiro; Susana Abreu | cabeleireiros, estética e cosmética; UrbanClinic l Estética; TLS transportes; Clínica 24 I dentistas; Brun’s l Pão Quente; Escola Secundária/3 Aurélia de Sousa.
Carmo Oliveira, Profª de Português
Clínica 24 Restaurações estéticas Ortodontia Estética de Branqueamento Coroas e Pontes – Próteses Implantes Reabilitações complexas 918 494 010 Rua Santos Pousada nº 1169 4000-489 Porto
junho. 2020 http:// www.issuu.com (pesquisa: jornalesas)
ESCOLA SECUNDÁRIA/3 AURÉLIA DE SOUSA Rua Aurélia de Sousa - 4000-099 Porto Telf. 225021773 novojornalesas@gmail.com
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Os textos para a edição L V I I (57) do Jornalesas foram redigidos segundo as normas do acordo ortográfico