"Liderança GLS elegem os destaques da causa";" Há muito ainda por se fazer".

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BELO HORIZONTE• SÁBADO , 31/12 / 2005

OS DESTAQUES DE

Especialist;as revelam o que de melhor aconteceu na área cultural no ano que chega ao fim DANIEL BARBOSA

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FOLHA IMAGEM - 16.11.2005

Como diria o velho sábio chinês, nada como um ano após o outro ano com uma retrospectiva no meio. Vamos a ela, então. Além das nossas próprias opiniões acerca do que houve de relevante nas diversas áreas da cujtura em 2005 (veja na página 2), colhemos alguns depoimentos de pessoas ligadas ao cinema. à música. à TV, às artes cênicas. à literatura e ao showbizz. O conjunto desses depoimentos revela que, pelo menos para as artes, o ano que finda foi profícuo. Para os diletantes da música. fica a lembrança de que, em 2005. o Brasil recebeu muitos e bons shows internacionais. No cinema. temos a confirmação de que a produção nacional ascende a passos largos. Na literatura. prevaleceu a diversidade. No universo da TV, alguns pálidos pontos de luz no fim do túnel indicam que a ética e o compromisso com a educação - que deveriam ser premissas do meio - ainda podem ser pretendidas. Maria de Lourdes Motter. vicecoordenadora do núcleo de pesquisa em teledramaturgia da Escola de Comunicação e Artes da USP. aponta. com um dos fatos mais relevantes na televisão brasileira em 2005, a retomada da concorrência no que diz respeito às telenovelas. "A investida da Record é altamente saudável e positiva. Representa um arejamento no meio e também mais emprego e. para o telespectador. a possibilidade da opção. A Globo estava muito hegemônica. 'Prova de Amor', a novela da Record, mostra a disposição da emissora em acabar com isso", diz. Ela também destaca. no campo do jornalismo. a visibilidade que a TV do Congresso passou a ter a partir das CP!s que infestaram a política nacional ao longo do ano. "Começamos, com isso. a ter uma TV pública que finalmente diz a que veio", ressalta. Por outro lado. Maria de Lourdes comemora uma tentativa de retomada da ética no que diz respeito aos programas de cunho popularesco. "Tivemos a saída de alguns programas multo ruins. apelativos e preconceituosos. como o do João Kléber. Isso é sinal de um certo amadurecimento. uma tomada de consciência em relação ao que a TV está colocando no ar. Existe a esperança de que ela possa melhorar e de que venha a ser, de fato. uma contribuição para o Brasil". Mas o que ela considera o grande acontecimento televisivo do ano foi a microssérie "Hoje É Dia de Maria". "É uma lingua-

gem que sai das entranhas do Brasil e ganha, na TV, um tratamento de altíssimo nível", considera. Para o cineasta Geraldo Veloso, o mais relevante em 2005 no universo da sétima arte foi o incremento da produção em Minas. "Tivemos três longas-metragens rodados aqui: 'Confronto Final'. do Alonso Gonçalves. 'Vinho de Rosas', da Elza Cataldo. e 'Amor Perfeito'. do Geraldo Magalhães. "Isso é uma grande vitória. o momento do cinema mineiro é excepcional e isso é um processo evolutivo. Prevejo um 2006 melhor ainda. Nunca houve tantos projetos gestados dentro do Estado e ainda por cima estamos sendo visitados por produções de outros lugares. A Marília Rocha e o Cao Guimarães estão a mil." Ele acredita que esse cenário Indica outro. de âmbito nacional: o deslocamento das produções do eixo Rio-São Paulo para outras regiões do pafs. "A gente vê uma produção riquíssima vinda do Nordeste, com filmes como 'Cidade Baixa' e 'Cinema. Aspirinas e Urubus'. Também tem muita coisa acontecendo no Sul do país. Isso tudo representa uma coisa nova na cena brasileira." O crítico de música e diretor de programação da rádio Inconfidência, Klko Ferreira. pondera que é complicado fazer uma lista dos grandes lançamentos em CD do ano por causa da profusão de títulos gerados pela indústria fonográfica. "Tem uma quantidade estúpida de lançamentos e mesmo nós. da imprensa. não temos condição de acompanhar tudo. Com isso tudo, as escolhas que a gente faz acabam tendo um sentido estritamente pessoal e afetivo", diz. Ponderações à parte, ele entrega sua lista, que inclui "Choros e

Alegria'', de Moacir Santos. "Funeral", do Arcade Fire. "Jet Samba", de Marcos VaUe, "Get Behind Me Satan", do White Stripes, "No Direction Home", de Bob Dylan. "Chaos and Creation in the Backyard". do Paul McCartney, "You Could Have lt so Much Better". do Franz Ferdinand, "Toda Cura para Todo Mal", do Pato Fu, "Música para Bater o Pezinho", de Arthur de Faria e seu Conjunto, e "Guero", do Beck. e ainda os lançamentos do Mars Volta. Nine Inch Nails. DJ Dolores, Mercury Rev e Black Mountain. Também no campo da música, o produtor e apresentador da versão radiofônica do programa "Alto Falante", Rodrigo James, destaca os diversos shows internacionais que passaram pelo Brasil em 2005. "O grande destaque. sem dúvida. foi o show do Pearl Jam em São Paulo. Juntou uma banda em boa forma. um público afim. o lugar perfeito, o clima perfeito, enfim, foi o mais catártico". diz. Mas ele também aponta as apresentações do Wilco no TIM Festival, de I_ggy Pop and the Stooges no Claro que E Rock e mais Arcade Fire. Elvis Costello, Weezer. Strokes. Flaming Lips, Nine lnch Nails e Television. "Tivemos desde veteranos que ainda estão com todo o gás até as novidades do momento. que é o caso do Arcade Fire. que foi a srnsação do ano na Europa". diz. Dos nacionais. ele lamenta não ter visto nada marcante. mas aponta o show de "Toda Cura para Todo Mal", do Pato Fu. e a apresentação dos brasilienses do Móveis Coloniais de Acaju no Curitiba Pop Festival. O crítico literário e escritor Miguel Sanches Neto considera que 2005 se destacou pelo panorama democrático da produção nacional. Ele ressalta que os mais importantes prêmios da literatura brasileira foram bem divididos entre diferentes autores. "O Bartolomeu Campos de Queiroz ganhou o Nestlé. o Amílcar Betega Barbosa levou o Portugal Telecom. o Cristóvão Tezza ganhou o prêmio da 'Bravo!', o Milton Hatoum foi eleito o melhor pela APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte). Os prêmios não ficaram nas mãos de uma pessoa, nem numa região nem restritos a um estilo especffico. Esse foi um fator que marcou 2005", diz. Ao emitir sua opinião pessoal. ele aponta como o melhor lançamento do ano "A Milésima Segunda Noite", de Fausto Wolf. "É uma espécie de diário do Fausto. que considero uma das vozes mais críticas da cultura brasileira", destaca. Ele também cita, entre os prediletos de 2005. a reedição de "Poemas Malditos. Gozosos e Devo-

FOLHA IMAGEM - 2.12.2005

LUOLA WROBLEWISKl/DIYULGAÇÃO

tos'', de Hílda Hilst, pela editora Globo. e do clássico "Ana Karenina". de Leon Tolstói. "Também destacaria uma coisa que se intensificou, que é a entrada de autores portugueses no mercado editorial brasileiro. São muitos que a gente nem conhecia, jovens. que chegaram e aportaram com suas caravelas aqui no Brasil patrocinados pelo governo português. que está fazendo uma forte campanha da cultura lusitana por aqui." Nas artes cênicas. colhemos as opiniões do diretor de teatro ftalo Mudado e do coreógrafo e bailarino Rui Moreira. O primeiro não hesita em colocar a peça "O Tempo e os Conways", dirtgida por Wilson Oliveira, como o grande destaque. Já Rui aponta "Onqotô", o mais recente espetáculo do Grupo Corpo. "Sou suspeito para falar. mas acho que realmente temos que comemorar trabalhos como o do Corpo, nem tanto pelo espetáculo, mas pela ação, pelos 30 anos de existência. pela persistência que leva à excelência", diz, ressaltando que tem Estado mais interessado nas iniciativas que apontam para a continuidade. "Não tem como não destacar o fato de o FIO (Fórum Internacional de Dança) ter feito mais uma edição. preparatória para os dez anos. Penso especialmente na primeira parte do FIO deste ano. que promoveu a circulação dos grupos locais pelas periferias da cidade. A dança contemporânea ter circulado pela periferia da cidade é. sem dúvida. algo digno de nota", diz. Leia mais na página C2

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LUIZ PEDWIEIW


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