Jornal do Itacorubi nº.2 (edição pandêmica)

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Jornal do Itacorubi

www.observatoriomovel.com

ISSN 2595-8399

Número 2 (edição pandêmica) - Florianópolis/SC

O 2º número do jornal do bairro chegou.

Pode levar,

é grátis!

COMÉRCIO NA PANDEMIA Os estabelecimentos comerciais tiveram que se adaptar para funcionar com as restrições que a Covid-19 trouxe. PÁGS. 3, 4 e 5 DE ÔNIBUS, COM MÁSCARA E ÁLCOOL EM GEL

Outros confinamentos possíveis Para se proteger do coronavírus, o melhor é não sair de casa por motivos supérfluos. Como sugestão de passeio virtual, compilamos fotos de anúncios de aluguéis publicados na OLX e no Facebook. São quartos, casas, apartamentos e quitinetes no bairro Itacorubi à espera de novos moradores... PÁGS. 8 e 9

COLUNA DA GENI Relações abusivas e machismo: a importância da amizade consigo PÁG. 16

Confira informações sobre o transporte público em Florianópolis durante a pandemia. Você sabia que funcionários das empresas de ônibus estão sendo demitidos em massa? PÁG. 13

PÔSTER! Protocolo de higiene

PLANTAS PODEROSAS PÁG. 6

HORTA NO QUILOMBO PÁG. 15

O QUE FAZ A COMCAP PÁG. 19

Traje apropriado à pandemia?! PÁG. 7


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Editorial Este é o segundo número do Jornal do Itacorubi. Nesta edição, abordamos alguns aspectos do bairro durante este período tão difícil de pandemia da Covid-19. Em 2018, lançamos o primeiro volume do Jornal do Itacorubi. Para isso, naquele ano, andamos pelo bairro todo: da Vila Ivan Matos até a subida para a Lagoa, entramos no Mangue, caminhamos no Parque São Jorge e atravessamos o rio/ atalho em direção ao Morro do Quilombo, e, em nossas pesquisas de campo, contamos ainda com visitas ao Cemitério (guiada pelo coveiro) e a um apartamento de luxo à venda (acompanhados por um corretor de imóveis), como se fôssemos possíveis compradores. Essa andança foi fundamental para abordarmos no jornal diversos aspectos do bairro, os quais, provavelmente, não teriam espaço na mídia convencional, como, por exemplo, as memórias de antigos moradores, que, em suas casas, nos receberam com café, bolo e muita gentileza, ou algumas peculiaridades dos comércios locais. Com a colaboração de pesquisadores de variadas áreas, além de muita gente que reside ou transita pelo bairro, lançamos os 2.500 exemplares do jornal, em formato tabloide e com 32 páginas, distribuídos gratuitamente pelo Itacorubi e região. O jornal faz parte das atividades do programa de extensão Mídias Táticas (vinculado ao curso de Artes Visuais da UDESC), que também oferece oficinas sobre artes gráficas e ações artísticas no espaço urbano. Em um ano de trabalho, fizemos uma só edição do jornal de bairro, pois nos interessa mais essa mídia como formato e possibilidade de circulação, e não tanto por sua típica periodicidade. Queríamos desenvolver pesquisas e entrevistas sem a pressa da imprensa tradicional. Em 2019, escolhemos outra região da cidade para trabalhar e, assim, desenvolvemos o Jornal do Zinga, referente ao bairro Ingleses, no norte da Ilha. Nosso plano para 2020 era retomar as pesquisas de campo pelo bairro Itacorubi, em busca de questões que anteriormente não foram abordadas, e também para dar continuidade a alguns assuntos. No entanto, veio a pandemia e, com ela, a necessidade do isolamento social como medida de prevenção e combate à transmissão do Coronavírus.

Mas não desistimos do jornal: mesmo com o tempo de produção reduzido a três meses, e com a impossibilidade de realizar tantas andanças como outrora podíamos fazer, consideramos importante falar do bairro neste período de pandemia (tão intenso e conturbado) em que vivemos. O tamanho do jornal e o número de páginas também foram reduzidos, mas há uma vantagem: agora em papel cuchê, pode-se dar uma borrifada de álcool na capa e levá-lo para casa sem medo.

Expediente Jornal do Itacorubi nº 2 – 2020 ISSN 2595-8399 Editores: João Regina, Juliano Ventura, Nara Milioli. Colaboradores: Anabela e Gil Black (Armazém Natural), Alana Durgante, Charles Rosa (Itacorubi Imóveis), Cristina Neres, Daniel Seiter (Seiter Imobiliária), edicoes agua para cavalos, Emanuella Machado (Ecoquilombo), freepik.com, Gabriel Villas, Geni Núñez, Joana Pradi, Luiza Fonseca, Paula Salomon, Renan Ansaldi (CCR), Saulo Zambiasi (Conjuração Trash), Sintrasem – Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis. Os textos que não estão creditados são de autoria do grupo Observatório-móvel. Projeto gráfico: Cristina Neres, Juliano Ventura. Revisão: Zulma Borges. Tiragem: 500 exemplares. Diagramado com as fontes Aleo, Arial Black e Helvetica Neue LT Com. Impresso em dezembro de 2020 na Gráfica Tempo, no bairro Vargem Pequena, no norte da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis. Observatório-móvel Grupo de pesquisa CEART-UDESC-CNPq www.observatoriomovel.com observatoriomovel@gmail.com


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Comércio na pandemia Santa Catarina foi um dos primeiros estados a restringirem atividades e fecharem o comércio em razão da Covid-19, e também um dos primeiros a flexibilizarem tais restrições, reabrindo em abril, ainda no início da pandemia no Brasil. Em Florianópolis, as primeiras medidas para prevenção e combate à transmissão da Covid-19 foram tomadas em março, com a publicação de decretos estaduais e municipais que, inicialmente, limitaram os eventos com aglomeração de pessoas e, depois, também determinaram a suspensão do transporte público e o fechamento do comércio considerado não essencial (como bares, restauranCartaz fixado em loja de conveniência do bairro tes, hotéis, shoppings e grande parte das lojas de rua). No dia 19 de março, a imprensa noticiava que mento. E assim vieram outras flexibilizações da quaas ruas da cidade amanheceram desertas naquela rentena que voltaram a movimentar as ruas da cidaquinta-feira. de, como o retorno do transporte público em junho. Em meio a tantas mortes e pessoas doentes no A reabertura do comércio e a retomada de atiBrasil e pelo mundo, os perigos da Covid-19 ain- vidades consideradas essenciais foram condida eram questionados por parte considerável da cionadas pelos decretos oficiais que estabelepopulação brasileira – inclusive pelo presidente da ceram protocolos de higiene e distanciamento república, que, em um dos seus pronunciamentos social a serem seguidos. Entre as medidas exioficiais em rede nacional de televisão, disse que a gidas, estão a limitação do número de clientes no Covid-19 era só uma “gripezinha”. interior das lojas, a disponibilização de álcool 70% Diante desse cenário de descrença nos perigos da pandemia, é possível que o fechamento do comércio tenha assustado até mais do que o Coronavírus e a curva crescente de casos. Não tardou para que as pressões pela reabertura falassem mais alto do que a necessidade de se proteger e tentar achatar a curva do número de novos casos. Por isso, em abril, seguindo decreto estadual, a prefeitura autorizou a reabertura do comércio de rua e dos hotéis a partir do dia 23 daquele mês. Em maio, os shoppings puderam retomar o funciona-

na entrada dos estabelecimentos, a aferição da temperatura dos clientes em grandes lojas e o uso obrigatório de máscaras. Grande parte dos comércios da cidade passou então a se adequar às exigências sanitárias. Junto da proliferação dos dispensadores de álcool (em diferentes formatos, como borrifadores ou com pedal), vieram os cartazes fixados nos estabelecimentos com avisos sobre as medidas de higiene e distanciamento social exigidas pelo poder público.

Inflação dos alimentos A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) divulgou que, em outubro deste ano, os itens de alimentação tiveram alta de 2,51%, em comparação com o mês anterior. Só o leite aumentou 57%, e a carne bovina subiu 38%. Com isso, o índice de inflação dos alimentos acumulado do ano é de 11,26%, e o dos últimos 12 meses é de 16,41%. É o maior aumento de preços registrado desde o início do Plano Real em 1994, superando a inflação nas crises de 2003 e de 2008. Fonte: Fipe e portal IG.


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Farmácias, o comércio que não parou Quando foi decretada a situação de pandemia no País, veio a necessidade de se proteger, a grande maioria das pessoas nunca na vida tinha usado máscaras ou outros equipamentos de proteção individual necessários – e as farmácias não tinham esses produtos em estoque para atender a uma demanda tão grande. Por isso, em alguns lugares, houve falta de Aviso em comércio de Florianópolis

Manuscritos ou feitos no computador e com diferentes escolhas gráficas para textos quase sempre iguais, esses cartazes veiculam regras e orientações que representam o modo como algumas das decisões governamentais com relação à Covid-19 são reproduzidas na ponta final para o público do bairro. Os cartazes eram muitas vezes mera formalidade, tendo em vista que nunca houve uma fiscalização ostensiva pela prefeitura e que os protocolos sanitários não são sempre seguidos à risca. Em novembro, a pandemia não acabou, pelo contrário, ela atingiu seu pico em Florianópolis. Apesar disso, parece que as pessoas cada vez menos seguem o protocolo de higiene e o distanciamento social. Nas ruas do bairro, é comum ver pessoas circulando sem máscara, mesmo que isso esteja proibido no município desde junho. Para conferir a situação do comércio no bairro, em outubro, meses após o período de fechamento e a reabertura, visitamos alguns pontos: O Salão de Beleza Reino das Unhas e dos Cabelos – localizado nas proximidades do Centro de Saúde do Itacorubi – reabriu assim que o governo liberou. As três mulheres que se encontravam no local contaram que o movimento está bom, praticamente como era antes da pandemia. Já a lavanderia Lav Now, situada junto a um posto de gasolina na Rod. Admar Gonzaga, fechou por quase três meses, e depois funcionou por um tempo somente por delivery. Só em agosto reabriu ao público. A senhora que se encontrava no local, passando roupas, contou-nos que não foi necessário demitir, pois o estabelecimento entrou com o recurso proposto pelo governo para pagar funcionários. Já o faturamento caiu cerca de 70%, e só naquele momento (em outubro) começou a normalizar. Na sua opinião, a sociedade não respeita as medidas necessárias para o controle da pandemia e não está levando a sério a Covid-19.

Para atender com segurança, o comércio teve que se adaptar... No Armazém Natural, loja de produtos naturais localizada na rodovia Antonio Amaro Vieira, falamos com Anabela e Gil, os proprietários. A loja não precisou fechar o estabelecimento porque vende itens alimentícios. Eles também não demitiram funcionários, mas, com a pandemia, o faturamento caiu pela metade, e só recentemente é que começou a melhorar... Logo após ser decretada a pandemia do Coronavírus, escolheram como medida de distanciamento um novo modo de atender aos clientes e entregar as mercadorias pedidas. Agora, os clientes não precisam mais entrar na loja, cuja entrada ficou restrita aos funcionários. O modelo adotado durante a pandemia lembra o modo de atendimento como antigamente acontecia em armazéns e mercadinhos, em que os funcionários e as mercadorias ficavam atrás de um balcão. Na escada de acesso à porta frontal da loja, eles instalaram um vaso da chamada Espada de São Jorge (ou Espada de Ogum), talvez para redobrar a proteção. Anabela conta que a maioria dos clientes apoiou as medidas de prevenção à Covid-19, porém alguns questionaram. Um deles manifestou-se dizendo “só pode ser PT”, e saiu sem comprar e nunca mais apareceu. Convicções políticas e escolhas partidárias infelizmente não têm a capacidade de imunizar alguém contra o Coronavírus. Mas, durante essa pandemia, a ação de se proteger foi vista por muitos como uma escolha atrelada a partidos políticos.


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máscara descartável, de álcool em gel ou de alguns remédios que, ao longo desses meses, foram anunciados como possíveis curas e prevenções milagrosas contra a Covid-19, como o vermífugo ivermectina.

procura ao mesmo tempo.

Entre os produtos mais vendidos durante este ano, estão Vitamina C, a Ivermectina e a Cloroquina – até ser barrada a venda. Na primeira semana de divulgação da hidroxicloroquina, muita gente Conversamos com uma funcionária da Farmácia quis comprar. Já a venda de lubrificantes sexuParque São Jorge, localizada no bairro, ela nos ais e de preservativos diminuiu drasticamente. A disse que lá não faltou algum produto ou medica- funcionária relata, contudo, que desde agosto as mento até agora – somente quando veio a onda vendas estão mais próximas da média de antes da ivermectina é que faltou, porque houve muita da pandemia.

O bem-estar dos moradores sempre foi uma preocupação Além de comentarem sobre o contexto da pandemia, Anabela e Gil falaram também sobre o que os levou a abrir o seu negócio no Itacorubi, em funcionamento desde 2012. Anabela, historiadora de formação, contou que sempre se preocupou em pesquisar sobre bemestar e cuidados com o corpo e que, por isso, resolveu abrir um comércio de produtos naturais. Ana conta também que ela e Gil, seu marido, são moradores do Itacorubi, e, ao decidirem abrir o comércio, não tiveram dúvida de que o melhor ponto era o próprio bairro onde vivem, e também porque conhecem bastante gente. E seria gratificante poder comercializar alimentos saudáveis e com preços acessíveis aos vizinhos. Segundo Ana, um dos critérios de qualidade é não vender produtos transgênicos. Ela contou, ainda, que gosta de conversar com os clientes e de passar informações sobre os produtos, e quando são os vizinhos e conhecidos, fica melhor ainda estabelecer esse tipo de relação.

Anabela e as medidas de segurança adotadas pelo Armazém Natural: máscaras, álcool em gel e atendimento pelo balcão – os clientes fazem os pedidos sem precisar entrar na loja

O pessoal do Armazém Natural comentou ainda que, embora no começo tenha sido fácil seguir as medidas de segurança, está ficando cada vez mais difícil conseguir segui-las com eficácia, já que muitos clientes acreditam que seja um vírus qualquer, uma gripezinha.

Receita de uma misturinha que Anabela costuma indicar: Você vai precisar de 1 colher de canela, 1 colher de açafrão em pó, 1 colher de gengibre em pó, 4 colheres de mel e um pouquinho de pimenta. Misturar tudo e armazenar em um pote de vidro. Colabora com a imunidade, cuidados com a pele e tem função antioxidante. Sugestões de uso: uma colherinha pela manhã, comer puro ou misturar com o café. Pode também servir de tempero para saladas ou com o que você preferir!


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Plantas poderosas para cultivar em casa Ao longo desse ano de pandemia, cresceu o número de pessoas interessadas em jardinagem e em cultivar as suas próprias hortas. Segundo informações da Floricultura Flor e Cultura, plantas ornamentais para espaços internos (especialmente a samambaia), além de temperos e ervas para chás, foram os mais procurados nesse período. A loja ficou fechada por quarenta dias e, quando reabriu, vieram junto a alta dos preços e a falta de produtos no mercado. Segundo a funcionária que nos recebeu, essa situação deve-se principalmente à disparada do dólar, e exemplificou, comentando o caso dos preços dos vasos, que dobraram de valor,

principalmente os de plástico, que utilizam matéria-prima importada. Nossa dica para você não deixar de cultivar uma hortinha dentro de casa, se não tiver um vaso grande nem quintal, é a reutilização de recipientes, como uma lata velha de tinta, um garrafão de água ou uma caixinha qualquer. Estas ervas e chás são poderosos, alguns dizem até que fazem milagres, e, segundo relatou Anabela do Armazém Natural, são as mais vendidas nesse período de pandemia. Mas lembre-se: contra a Covid-19, a proteção é máscara, água e sabão e distanciamento social.

Erva-doce

Foeniculum vulgare

Contém vitamina C, que ajuda o organismo a desenvolver resistência contra agentes infecciosos e combater os radicais livres pró-inflamatórios. Também elimina toxinas, equilibra a pressão arterial, auxilia na TPM e menopausa. Dizem que estimula o crescimento dos seios! Para cultivá-la, o essencial é dispor de muita luz solar, e sim, é possível plantar erva-doce em vasos!

Açafrão

Hibisco

Contém propriedades anti-inflamatórias, antidepressivas, antivirais e antifúngicas. E pode ser plantado em um vaso! Desde que receba bastante sol e a terra sempre úmida, assim, logo, logo, você poderá colher açafrão!

Ajuda na imunidade e no controle dos níveis de colesterol. Possui propriedades antidepressivas, é rico em Vitamina C e combate o envelhecimento. Pode ser plantado em vasos; quanto mais sol e luz, mais flores darão. Convém adubar bem a terra, e também é interessante podar de vez em quando.

Curcuma longa

Ibiscus L.

Gengibre

Zingiber officinale

Apresenta propriedades antioxidantes, antiinflamatórias e antimicrobianas devido à presença de substâncias como gingerol, zingibereno e zingerona. É quase um trava-línguas! Também pode ser plantado em vasos!! O gengibre gosta de lugares quentes e com sombra.


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Traje apropriado à pandemia?

Uso obrigatório de máscara

Embora pareçam equipamentos de proteção individual apropriados para a pandemia da Covid-19, essa vestimenta foi na verdade usada em 2011, para um curta-metragem produzido pelo grupo Conjuração Trash, com cenas gravadas na Avenida Madre Benvenuta e na Rodovia Admar Gonzaga.

Descartáveis ou de pano, as máscaras tornaramse itens indispensáveis na pandemia. Mas não basta que apenas uma pessoa use: para melhorar a eficácia dessa proteção contra o Coronavírus, é necessário que todos usem, conforme já demonstrado por inúmeras pesquisas. Embora mesmo de máscara seja possível contrair o Coronavírus, estudos realizados nos Estados Unidos (pela Universidade da Califórnia e pela Universidade Johns Hopkins) indicam que pessoas que usavam máscaras e, ainda assim, foram infectadas, acabaram desenvolvendo sintomas mais brandos da doença ou mesmo se mostraram assintomáticas, pois essa barreira criada pela máscara diminui a carga viral a que estamos expostos. O curta-metragem, “NÃO É AQUI: um olhar externo sobre a cidade contemporânea e sua relação espaço-tempo do ponto de vista de um viajante”, é uma ficção científica realizada por Patricia Leandra Barrufi Pinheiro e Saulo Popov Zambiasi, da produtora de cinema independente Conjuração Trash. Trash em inglês significa lixo e, no cinema, é um termo usado para classificar filmes feitos com poucos recursos. O lema da produtora é defender que a produção de cinema não precisa ser cara, e nem que o “trash” precisa ser lixo. A Conjuração teve início em 1996 em Chapecó, no oeste de SC. Quando Saulo se mudou para Florianópolis, em 2001, continuou fazendo alguns trabalhos audiovisuais por aqui. Entre outros membros da produtora, em Floripa, ele fez filmes com a sua esposa, Patrícia. Na época, eles moravam no Itacorubi, já que ela estudava na UDESC. Outros curtas que também tiveram cenas no bairro foram “(des)Construção” e “O Medianeiro”, que podem ser assistidos on-line no site da produtora: www.conjuracao.com.br.

Contudo, apenas em junho que a Organização Mundial da Saúde passou a recomendar as máscaras em locais onde há risco de transmissão do Coronavírus. Em meados de agosto, todos os municípios de Santa Catarina já tinham registrado casos da doença. No Estado de Santa Catarina, já no dia 8 de abril, o governo havia publicado portaria recomendando o uso de máscaras por funcionários e clientes nos estabelecimentos comerciais, e desde o dia 17 daquele mês, as máscaras passaram a ser obrigatórias no comércio da cidade de Florianópolis. Em 23 de junho, a Prefeitura determinou o uso de máscaras para se andar na rua em toda a cidade. A medida já valia para espaços públicos, como os calçadões da Beira-mar Norte e da Beiramar Continental e para todo o bairro Ingleses, em que a determinação foi estabelecida em 1º de junho. Quem violar a lei, está sujeito à multa de R$ 1.250,00, embora não se observe efetiva fiscalização pelas ruas da cidade.


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Outros confinamentos possíveis Compilação de fotos de anúncios de aluguéis publicados na OLX e no Facebook. Quartos, casas, apartamentos e quitinetes no Itacorubi à espera de novos moradores.

Plantas em ambientes internos e externos

Outras possíveis vistas

Os anúncios de aluguéis promovem uma “visita remota a lugares não-visitáveis das cidades”, conforme escrevem Renata Marquez e Wellington Cançado sobre o fascínio por imagens de sites imobiliários em seu livro “Domesticidades: guia de bolso” (publicado em Belo Horizonte em 2010). Isto é, mesmo sem estar vivendo um período de quarentena e isolamento social, visitar o interior de uma casa, de um ambiente doméstico, só é possível quando se conhece a pessoa que mora na casa, ou quando esta estiver disponível para venda ou aluguel. Se você estiver em confinamento, pois está evitando sair de casa por motivos supérfluos para se prevenir contra a transmissão do Coronavírus, uma sugestão de passatempo é visitar casas à distância. Nos sites da OLX e do Facebook, podem ser encontradas fotografias de opções de aluguéis, não só daqui do bairro, mas de toda a Grande Florianópolis (ou do lugar em que se tiver curiosidade de conhecer o interior das residências!). Essas fotos despertam interesse porque, ao mesmo tempo em que revelam aspectos íntimos e escolhas pessoais dos proprietários, algumas vezes bastante peculiares, na visita remota a moradias para aluguel, podem ser percebidas algumas recorrências nos modos de habitar um espaço. Que características comuns em imóveis do Itacorubi você pode encontrar em fotos de anúncios de aluguéis?


9 Variadas opções de saguão de entrada pelos condomínios do bairro Variadas opções de saguão de entrada pelos condomínios do bairro

Luzes secundárias podem ajudar a mudar a cara de um ambiente

Piscinas


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Aluguel na pandemia Para muita gente ficou difícil pagar todo mês pelo lugar onde mora A pandemia trouxe uma preocupação adicional para quem paga aluguel. O que já era complicado mesmo antes da Covid-19, devido aos preços cada vez mais altos, ficou ainda mais difícil com a diminuição ou perda total da renda. E mesmo quem recebeu o auxílio emergencial não pôde resolver o problema, pois é muito difícil encontrar no Itacorubi um imóvel que custe menos de 600 reais por mês. Daniel Seiter, proprietário da Seiter Imobiliária, relata que muitos de seus locatários buscaram a negociação do valor do aluguel, e que a maioria obteve o desconto, pois os proprietários preferiram, de modo geral, renegociar os valores para não perderem os clientes e terem que locar novamente. Daniel recomenda aos locatários em dificuldade financeira que busquem a imobiliária para tentar uma renegociação com o proprietário do imóvel alugado, para assim evitar problemas às partes envolvidas no contrato. Conforme previsto na Lei do Inquilinato, a renegociação extrajudicial do contrato de aluguel é uma possibilidade quando houver comum acordo entre locador e locatário, estabelecendo um novo valor para o aluguel ou modificando a cláusula de reajuste.

Sobre as transações de compra e venda durante a pandemia, Daniel diz que tiveram pontos totalmente opostos: “Muitos negócios que estavam em andamento caíram, deixaram de ser feitos, e, por outro lado, os compradores que normalmente especulam com a queda de preço e oportunidades, buscando vantagens por dispor de boas quantias em valores para pagamento à vista, porém negociando bastante os valores de tais imóveis.”

No dia 16 de setembro, um morador do edifício Anita Garibaldi fotografou de seu confinamento o protesto em frente à Câmara Municipal, no Centro da cidade. A manifestação se opunha ao PLC 1801/2019, que então estava em vias de ser votado pelos vereadores, mas a votação foi barrada por vereadores da oposição. Se aprovado esse projeto de lei, a Prefeitura terá mais poderes para realizar demolições e despejos de imóveis irregulares. Será que com esse poder a prefeitura iria demolir as mansões e beach clubs em área de preservação ou somente as casas de vilas informais?

“A pandemia do Coronavírus trouxe para o mercado imobiliário um efeito colateral interessante. Observamos que as estratégias adotadas para a retomada da economia cambaleante incluíram cortes mais significativos da taxa *Selic com o objetivo inicial de impulsionar a economia. A queda da taxa Selic trouxe um efeito cascata e de certa forma inesperado ao mercado imobiliário. Os bancos reduziram as taxas de financiamento para a compra de imóveis a níveis nunca antes visto, e com isso muitos inquilinos começaram a fazer contas de quão vantajoso está o momento para compra. Por outro lado, a rentabilidade dos investimentos tradicionais também sofreu grande queda, e os investidores que antes podiam apenas deixar o dinheiro no banco e auferir um bom retorno, tiveram que buscar alternativas para os seus investimentos, alguns, com apetite maior para o risco, migraram para o mercado de renda variável (ações), e outros buscaram a segurança dos imóveis. Diante do exposto, estamos vivendo um momento muito bom no mercado imobiliário onde ainda é possível encontrar bons imóveis e no preço certo.” Charles Rosa, proprietário da Itacorubi Imóveis e corretor há 20 anos. * A Selic é a taxa básica de juros do País, definida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom). Na mais recente reunião do Copom, em 9 de de dezembro de 2020, a Selic foi mantida em 2% ao ano.


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Mobilidade

Demissão em massa

Com a suspensão do transporte público em Florianópolis em 18 de março deste ano, muita gente ficou sem ter como se locomover pela cidade ou teve que buscar outras formas para chegar ao seu trabalho, que não parou, ou que logo reabriu com as flexibilizações. Até o dia 17 de junho, somente os trabalhadores da área da saúde e os da limpeza pública podiam usar os poucos ônibus que circulavam nesse período, em linhas especiais. Foram 91 dias de paralisação entre março e junho, e mais 20 dias entre julho e agosto. Os ônibus voltaram a circular em junho com linhas e horários reduzidos e apenas de segunda à sexta. Como medidas de higiene, foram instalados dispensadores de álcool nos veículos e sua ocupação ficou limitada a 40%. Além disso, até outubro o pagamento podia ser feito apenas com o cartão.

De ônibus Via WhatsApp, conversamos com uma usuária do transporte público. Paula Salomon vai de ônibus da Lagoa até seu trabalho no Centro de Florianópolis, passando diariamente pelo Itacorubi. Paula conta que, em junho, quando os ônibus voltaram a circular, os cobradores fiscalizavam e cobravam dos usuários o cumprimento das medidas de segurança que foram estabelecidas. Por exemplo, cada pessoa deveria sentar nos assentos com janela e não ter alguém ao seu lado. Paula não sabia desse cuidado e acabou sentando ao lado de outro passageiro, mas o cobrador pediu pra ela trocar de lugar e sentar na janela. Outra cobrança foi em um dia em que ela tirou a máscara para fazer um lanche rápido, e o cobrador pediu-lhe que a colocasse novamente. Mas depois da segunda paralisação em julho e do retorno em agosto, a situação passou a ser diferente. Paula observa que já não há mais fiscalização rígida como havia entre junho e julho, e que os ônibus estão mais cheios. Ela acha que as pessoas deram uma relaxada, e ela mesma também.

Pelo menos 200 funcionários da Canasvieiras Transportes, que integra o Consórcio Fênix, foram demitidos recentemente. Isso representa quase 40% de seu quadro de funcionários. A empresa alega que a paralisação do transporte (determinada pelo governo estadual para tentar frear a pandemia) resultou em crise financeira. Isso obrigou a empresa a atrasar pagamentos de salários e até a diminuir o valor de benefícios como vale alimentação. Por isso decidiram pelas demissões - que só aconteceram em outubro, pois foram adiadas devido às negociações com o sindicato dos rodoviários e à suspensão de contratos que foi viabilizada pelo governo federal. A empresa garantiu que essas pessoas demitidas serão convidadas a retornar quando a situação tiver melhorado, caso queiram. Esperamos que até lá elas não morram de fome... Rodovia Ciclovia Calçada o nd uta ou disp

ço pa es

De bike Joana Pradi, moradora do bairro, conta que tem preferido andar de bicicleta durante a pandemia pois corre menos risco de contágio do que saindo de Uber, por exemplo. Mas Joana se queixa da falta de atenção e respeito dos motoristas, diz que mesmo em lugares onde há ciclovias os carros não respeitam ciclistas. Alana Durgante, que também reside no Itacorubi, ressalta que aqui tem mais ciclovias do que em outros bairros da cidade, mas diz que ainda acha ruim a falta de continuidade, além da falta de cuidado com essas ciclovias. Ela tem achado difícil pedalar de máscara…

18/03 Primeira paralisação dos ônibus em Florianópolis

12/09 Limite de lotação muda para 50%

17/06 Retomada de atividades, somente em dias úteis com

26/09 Voltaram a circular aos sábados até às 14 horas

lotação máxima de 40% e pagamento em cartão

20/07 Segunda paralisação

m co

09/10 Limite sobe para 70%. Pagamento em dinheiro.

Amarelinho pode ter 100% da ocupação

10/08 Voltaram a circular com as mesmas limitações

01/11 Voltaram a circular nos domingos e feriados até às 20 horas

Fontes: mobilidadefloripa.com.br, diariodotransporte.com.br e Prefeitura de Florianópolis.

ros car


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Alimentos de qualidade e acessíveis Células de Consumidores Responsáveis (CCR) promovem a venda direta de alimentos orgânicos/agroecológicos entre consumidores e agricultores orgânicos certificados pela Rede Ecovida de Agroecologia e, assim, garantem preços mais acessíveis a alimentos de qualidade. As CCR são um projeto do Laboratório de Comercialização da Agricultura Familiar (LACAF), vinculado ao Centro de Ciências Agrárias da UFSC, localizado no Bairro Itacorubi, que visa a democratizar o Colheita de hortaliças agroecológicas acesso ao alimento orgânico e construir um mercado para agricultores(as) familiares que produzem Como foi o início da pandemia para a seguindo princípios da agroecologia. CCR? Conversamos sobre esse projeto com Renan Ansaldi, aluno do curso de Agronomia da UFSC e bolsista do LACAF.

O escoamento da produção de alguns grupos de agricultores (as) foi comprometido com a chegada da pandemia da Covid-19, pois foram temporariamente suspensos os programas de alimentação escolar Como funcionam as CCR? e outros canais de comercialização. Dessa forma, Os consumidores fazem o pedido e recebem as CCR tornaram-se uma importante alternativa as cestas semanalmente. Eles não escolhem os de comercialização. No contexto do projeto, produtos que irão compor as cestas, pois são ocorreu um aumento na demanda de cestas, que definidos de acordo com as variedades disponíveis acarretou a sobrecarga dos agricultores (as) para a em cada época/estação. Mas nas cestas são gestão e exigiu adaptação. Assim, foram utilizadas garantidos um peso aproximado e a diversidade plataformas e ferramentas gratuitas que ajudaram a mínima de produtos, abrangendo folhas, tubérculos, organizar e sistematizar pedidos em alguns grupos, e estão sendo desenvolvidas novas ferramentas de raízes, frutas, temperos/chás. Existem dois modelos de cestas: a pequena, com 7 gestão que possam ser utilizadas em todas as CCR. a 9 itens e aproximadamente 4,5 kg, e a grande, com Em todo o processo de comercialização durante 13 a 14 itens e aproximadamente 9 kg. Para uma o período da pandemia, foram adotadas medidas cesta mais diversa, os agricultores disponibilizam de segurança com base nas recomendações da produtos adicionais, que podem ser escolhidos e Organização Mundial de Saúde (OMS). pagos à parte. Atualmente, são doze células espalhadas pela Teve aumento na demanda? Grande Florianópolis. Cada uma possui um local Teve, vimos que as pessoas começaram a se fixo onde ocorrem as entregas e retirada das cestas, importarem mais com a origem de sua alimentação. chamado de ponto de partilha. Esse aumento criou problema em algumas células, O modelo de venda promovido pelas CCR garante pois cada célula tem um limite, de acordo com a aos agricultores(as) a venda certa e diminui os custos produção dos agricultores (e a lista de espera de logística, enquanto proporciona aos consumidores está bem grande...). E, além da pandemia, houve o acesso a alimentos de qualidade a preços abaixo um período de seca de março a maio/junho, que do praticado no mercado local. prejudicou a produção. Também houve desistências Para fazer as entregas, são usadas duas caixas, de pessoas que saíram da cidade devido à uma levada pelo consumidor, e outra, pelo grupo de pandemia. agricultores. Assim, os agricultores realizam a troca semanal da caixa cheia de alimentos pela caixa vazia Informações sobre a CCR: da semana anterior, que fica armazenada no ponto de Centro de Ciências Agrárias - UFSC (Rod. Admar partilha. Ou cada consumidor pode levar uma sacola Gonzaga, 1346) - (48) 3721-4817. ecológica ou similar para a retirada dos alimentos. celulasdeconsumoresponsavel@gmail.com


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No Morro do Quilombo tem horta comunitária! Horta com uso de compostagem, que é basicamente a transformação do lixo orgânico em adubo. O Ecoquilombo foi idealizado por Emanuella Machado, administradora empresarial e moradora do Morro do Quilombo, depois que ela conheceu a Revolução dos Baldinhos, um projeto de gestão comunitária de resíduos orgânicos e de agricultura urbana que vem sendo desenvolvido no bairro Monte Cristo desde 2008. Ela quis algo assim para o lugar onde vive, mas não ficou só no sonho. Emanuella decidiu especializar-se nos conhecimentos necessários e resolveu colocá-los em prática a partir de um plano desenvolvido como trabalho de conclusão de curso (TCC) para a faculdade de Administração Empresarial, que realizou na UDESC. Então, em fevereiro de 2019, ela convocou uma reunião com a comunidade, da qual surgiu o EcoQuilombo, a horta comunitária no Morro do Quilombo, localizada na Servidão Manoel Félix. Em seguida, houve um treinamento fornecido pela Rede Municipal de Compostagem, por meio da Associação Revolução dos Baldinhos. Com isso, o EcoQuilombo recebeu bombonas e ferramentas, um apoio fundamental para iniciar os trabalhos. A ação do Ecoquilombo consiste em incentivar a produção do adubo com resíduos orgânicos e utilizá-lo no cultivo de alimentos saudáveis. Além de promover a educação ambiental e a conscientização coletiva da necessidade de dar um destino adequado

A feira da UFSC mudou de lugar

aos resíduos, o EcoQuilombo é também um espaço de convivência entre os moradores, que trocam conhecimentos acumulados ao longo de suas vidas, já que muitos vieram de áreas rurais. Recentemente, o EcoQuilombo foi selecionado em edital da COMCAP para receber R$ 30 mil em recursos federais, destinados à aquisição de equipamentos para o pátio de compostagem, o que levará a um crescimento importante das atividades. Vinculada à Associação do Bairro do Itacorubi, a coordenação do EcoQuilombo é compartilhada entre Aline, Deoclécio (Kiko), Maria e Emanuella. Mas há muito mais gente envolvida. Inclusive pessoas que não moram no bairro. As atividades mais frequentes são manejar a composteira, estruturar os canteiros e realizar plantios e colheita de alimentos. Se você quiser participar da compostagem e da horta, entre em contato pelo telefone (48) 98487-3856, ou pelo Instagram: @ecoquilombo.

Além do sistema de assinaturas das CCR, o Centro de Ciências Agrárias da UFSC também promove uma feira para quem quiser comprar alimentos orgânicos direto do produtor. Antes da pandemia, a feira acontecia dentro do próprio campus da Universidade. Agora, com a UFSC fechada devido às medidas contra a Covid-19, a feira passou a ser montada no pátio da igreja São Bento, todas as sextas-feiras, exceto quando chove. Apesar da proximidade com o campus, os organizadores comentaram que essa mu-

dança temporária de local acabou trazendo uma clientela diferente da que comprava quando a feira acontecia dentro da UFSC. Contentes com isso, esperam que a nova clientela continue frequentando quando a feira voltar para a Universidade. Lá você encontrará produtos sem agrotóxicos comercializados pelos próprios produtores, e por um preço justo. Vale a pena conferir! No novo local, uma árvore de copa ampla e frondosa oferece uma excelente sombra.


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Coluna da Geni Relações abusivas e machismo: a importância da amizade consigo Passar por agressões verbais, físicas, ser humilhada, estar sempre angustiada ou com medo nunca é o que imaginamos ou esperamos de uma relação. Quando estas violências vêm de quem amávamos ou amamos, é muito mais dolorido. O amor romântico desmobiliza a reação, afinal, se um estranho na rua, do nada, ofendesse, agredisse a gente, ficaríamos indignadas, certo? Então porque quando é alguém que (supostamente) nos ama e amamos, isso é tido como menos absurdo pra tanta gente? Porque na misoginia estas agressões teriam um “motivo”, não seriam “do nada” como aquela do estranho na rua. É por isso que é fundamental reafirmar: nada, nunca, jamais justifica uma agressão ou violência. Nunca é sua culpa. Não havia nada que você poderia ter feito de diferente, porque em nenhuma circunstância a violência se justifica, repete comigo. Nossa saúde é sempre coletiva. Para quebrar ciclos de violência é necessário apoio financeiro, suporte emocional e acolhimento dos mais diversos. Por isso, fortaleça sua imunidade psicológica, procure a ajuda de suas amigas, familiares. Vá se fortalecendo para conseguir sair desta relação. É um dia de cada vez. Mulheres não são centros de reabilitação de homens, como vi outro dia alguém dizendo. Abandono é crime quando é relativo a crianças, já homens adultos deveriam saber se vestir, lavar a própria roupa,

fazer a própria comida. Imagina se mulheres ganhassem um salário para o trabalho de limpeza da casa, outro para o de culinária, outro para o de cuidado das crianças? Nossa sociedade funciona às custas do trabalho não reconhecido das mulheres e essa exploração continua porque muitas vezes a gente fica presa por dentro. Em vez de acreditar que “não vive sem” quem te faz mal, lembre-se que quando você passa por uma violência física, psicológica, você está sobrevivendo, não vivendo plenamente. Terminar uma relação, com um adulto, que te faz mal, não é abandono. Está tudo bem ter achado que seria de outra forma e agora ver que não era como você imaginava. Há várias pesquisas que mostram que muitas crianças que vivem em lares abusivos acabam torcendo para que a relação dos pais termine, pois sentem (com razão) que a mãe e elas estarão muito melhor sem o agressor por perto. Não se deixe enganar pela chantagem: “mas os filhos vão ficar traumatizados pelo término!”. Seus filhos terão orgulho de você, irão aprender que quando uma relação é violenta não devemos nos manter nela. Procure ajuda, construa sua rede. Você não está sozinha. Já foi sua própria amiga hoje? Geni Núñez é ativista nos movimentos indígena, feminista e LGBTQIA+. Mestre em Psicologia Social e Doutoranda pela UFSC.

PARA DENUNCIAR VIOLÊNCIA CONTRA MULHER DISQUE 180!

Olha só! Há mais de 5 anos, o projeto que trouxe a prática da capoeira ao Morro do Quilombo por intermédio do professor Gil Black vem demonstrando a importância dos exercícios físicos para viver com qualidade, mais saudável e alegre. Gil e Sardinha são os professores, e os encontros acontecem em um espaço na casa de Gil e de sua esposa Anabela, com quem também divide a loja Armazém Natural. Antes da pandemia, havia 30 crianças e 20 adultos na escola, mas, em respeito ao necessário isolamento social, no momento (dezembro de 2020), o projeto está parado. Tentaram aulas virtuais, mas, por enquanto, não deu certo. As crianças têm aulas de graça, e o casal faz rifas e outros eventos para angariar fundos para a compra do uniforme e outros materiais. Os adultos que dispõem de condições financeiras pagam uma taxa, que ajuda com o transporte do grupo quando participam de eventos e na compra dos uniformes. Anabela ressaltou que o trabalho com as crianças é realizado junto da família, e os pais e responsáveis comentam que a capoeira tem influenciado positivamente suas vidas.


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Expressão que, em inglês, significa “pausa para o café”, são chamados de Coffee Breaks os lanches em eventos, como palestras e congressos, dentre outros. Mais do que fazer um lanche, esses intervalos promovem uma socialização informal entre os participantes, que então conversam, mastigam, às vezes falam de boca cheia, alguns se servem da comida com as próprias mãos (talvez sem antes lavá-las), aglomeram-se sobre a mesa. Ou seja, prática completamente imprópria durante a pandemia... Os coffee breaks de antes da Covid-19 são motivo de saudade, sobretudo porque, muitas vezes, dispunham de cardápios que iam bem além do cafezinho, servindo verdadeiros banquetes - e de graça, na maioria das vezes -, que atraíam, inclusive, quem nem estava participando dos eventos que os ofereciam. Conversamos com Luiza Fonseca, administradora do “Coffe Breaks de Floripa”, grupo no Facebook que informa sobre os lanches gratuitos pela cidade, para saber um pouco da história do grupo e falar das expectativas pós-pandemia.

De onde saiu a ideia do grupo? Criei o grupo em 2012 porque eu e vários amigos já costumávamos frequentar CBs e sempre ficávamos comentando onde e quando iam acontecer. Então criei para centralizar essas informações. Escolhi o Facebook, pois era a rede mais usada na época. Você já parou o que estava fazendo ou desmarcou compromissos por algum CB anunciado no grupo? Com certeza! Já matei ou saí mais cedo de algumas aulas pra pegar CB. Também já aconteceu de eu me atrasar para alguns compromissos. O que você acha que não deve faltar em um CB de sucesso? De comida, a coxinha frita não pode faltar! Refrigerantes também. Toalhas brancas na mesa e arranjos de flores, de plástico ou naturais. Algo que cria também essa atmosfera de aventura e invasão pro CB são os famosos fiscais de comida, né? Precisa ter aquela pessoa que sempre regula e faz cara feia pra galera que tá ali só pelo boca-livre.


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Em todos esses anos, quais foram os CB mais memoráveis? E quais os melhores no Itacorubi?

Você já sofreu algum mal-estar por ir a um CB sem ter participado do resto do evento que o promoveu?

Eu poderia listar alguns. As instituições de ensino e órgãos mais ligados à cultura sempre ofereceram os melhores. Um dos mais épicos foi no centro, no prédio onde é hoje o Museu da Escola Catarinense, era um evento da FAED-UDESC. A seleção de rangos foi incrível, de coxinha a canapés de frutos do mar e mini-hambúrguer. Teve até espumante. Também aconteceram alguns CB muito bons nas sessões de cinema que rolavam à noite no BADESC. Alguns contavam com garçons servindo Brahma Litrão. Eu não os perdia por nada.

Sim! Divulguei um CB de um congresso e MUITA gente apareceu (só pra comer). Assim que entramos na sala onde apresentavam os trabalhos e também serviam a comida, uma organizadora do evento percebeu a grande movimentação por conta do CB e imediatamente trancou a porta da sala. Ficamos todos presos lá dentro e tivemos que assistir às apresentações do evento.

Tem alguma dica para participar do CB sem qualquer embaraço?

Os melhores no Itacorubi ocorriam principalmente na UDESC, em especial dentro da FAED e ESAG. “Se misture”. Analise o público e fique “camuflado” Na FIESC (Admar Gonzaga) também aconteceram entre as pessoas que aparentam estar lá por conta do evento em si. Evite fotografar a mesa, ou finja CB muito bons. estar fazendo uma selfie. Antes de ir embora, nunca Muita coisa boa já rolou, mas, nos últimos anos, vá da mesa de comida direto para a porta de saída: houve uma diminuição nas divulgações no grupo. passe no banheiro antes para despistar e, depois, Talvez devido à despopularização do Facebook e à saia do local. migração para outras redes como Instagram, rolou uma esfriada nas divulgações.

Você acredita que o grupo cumpra uma função social? Admito que nunca foi a grande motivação do grupo, mas, de certa forma, acaba cumprindo, já que divulga onde é possível se alimentar com certa qualidade e de graça. Fora que já vi muita comida de CB ser desperdiçada, jogada fora. Luiza Fonseca é natural do Centro de Florianópolis e atualmente mora no Bairro Trindade, cervejetariana e frequentadora fiel de bares do Itacorubi.

Mesas fartas geram aglomeração. Foto compartilhada no grupo

Quais são as suas expectativas para os CB após a pandemia?

Não são muito otimistas. Afinal, já presenciávamos uma redução de eventos com CB. Notei que muitos organizadores de eventos começaram a perceber e se incomodar com a galera que ia apenas pela comida… Sei que alguns CB ainda acontecem, mas as organizações estão restringindo e dificultando demais os acessos. Uma pena.


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Já pensou?! Em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, coexistem prédios modernos e luxuosos junto da preservação de manguezais. Embora esses mangues tenham sido devastados no século passado, nas últimas décadas o governo desse país realizou uma extensa recuperação das áreas destruídas e estabeleceu a preservação das remanescentes. E em 2014 abriu ao público o Mangrove National Park, que concentra rica variedade de flora e fauna típicas desse bioma e oferece algumas atividades de ecoturismo, como passeios de caiaque. Já pensou em como seria passear de barco pelo rio Itacorubi? E conhecer de perto os mistérios e preciosidades do manguezal?

Manguezal em Abu Dhabi Fonte: @geogafiageral, no Instagram.

É comum que, quando os servidores da Comcap entram em greve para reivindicar seus direitos, que constantemente são ameaçados pela administração municipal, circule o papo de que seria melhor privatizar a autarquia e deixar a coleta de lixo a cargo de alguma empresa privada. Isso já aconteceu outras vezes. O argumento é que o serviço privado é mais barato, como propagandeou o atual prefeito durante a última paralisação dos servidores em 2020. Contudo, o serviço privado é só para coleta de lixo convencional, já a Comcap faz diversos outros serviços que incluem a varrição urbana, limpeza de valas, a cole-

ta seletiva e ações de educação ambiental. Como diz a nota do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis: “A Comcap é uma das únicas empresas públicas do país responsável pela limpeza urbana, fruto da resistência dos trabalhadores e da qualidade dos serviços prestados, tanto que Florianópolis é considerada uma das cidades mais limpas do Brasil. Manter a Comcap pública é defender que os serviços sejam geridos pelo município e fiquem sob controle da população.” Fonte: Sintrasem.

Vista de parte do mangue pelo satélite do Google


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Covid-19 no Itacorubi

Vocabulário 2020

Casos confirmados segundo a Prefeitura de Florianópolis:

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No Itacorubi, o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado em 15 de março. Até o dia 15 de dezembro, foram registradas 1312 pessoas contaminadas e, nessa data, eram 41 os casos ativos em fase de transmissão no bairro – em Florianópolis, um total de 1506 casos ativos. Seis moradores locais morreram pela Covid-19 – na cidade, foram 272 óbitos no período.

Flagra de passante com seu exemplar do primeiro número em 2018

Agora o Jornal é em papel cuchê e por isso você pode borrifar um pouco de álcool na capa e levá-lo para casa em segurança!

O antigo Itacorubi no desenho de Domingos Fossari, publicado no livro Florianópolis de ontem (FCC, 1979). Você reconhece essa paisagem?

Caso ainda tenha medo, pode ler a versão online na página do Observatório-móvel na plataforma ISSUU. Acesse o endereço virtual abaixo e conheça também outras publicações do grupo! www.issuu.com/ observatorio-movel


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