Bayer De Leverkusen a Belford Roxo
DGB BILDUNGSWERK
Índice
Observatório Social
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Como se comportam os grupos multinacionais no Brasil?
Mestre da dupla jornada
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Susanne Schoob, analista de laboratório químico na Bayer em Leverkusen
O polivalente
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Denilson da Silva Cavalcanti, técnico de manutenção na Bayer Belford Roxo
A Bayer – um grupo empresarial em obras
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Reestruturação empresarial elimina empregos no mundo inteiro
Pagamos um preço alto
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Thomas de Win e Oliver Zühlke, comissão de trabalhadores da Bayer
Levar o carrinho de bebê para a empresa?
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Roswitha Süßelbeck, comissão de trabalhadores da Bayer CropScience em Monheim
Um porto seguro em meio às tempestades
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Frank Löllgen, secretário sindical do IG BCE
Na porta de fábrica
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Uwe Lambrich, secretário distrital do IG BCE em Leverkusen
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Sempre alerta
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Erhard Gipperich, membro da comissão de trabalhadores e do conselho fiscal da Bayer AG
A co-gestão é uma raridade
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Hans-Joachim Möller e Thomas de Win, representantes dos trabalhadores no Fórum Europeu da Bayer
Contato imediato com a direção da empresa
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Sindicalistas da Bayer no Brasil criam rede sindical.
O primeiro passo
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Michael Linnartz, secretário do departamento de Relações Internacionais – Europa do IG BCE
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Observatório Social Eu E Como se comportam os grupos multinacionais no Brasil?
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O Brasil é um campo de atuação preferencial para os grupos multinacionais. 1.200 empresas alemãs produzem no País. A Bayer também se faz presente no Brasil. Suas principais unidades encontram-se em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os padrões sociais nas sucursais brasileiras são iguais aos praticados na Alemanha? Qual é o relacionamento entre a Bayer e outras empresas multinacionais atuantes no Brasil e os trabalhadores brasileiros e as suas representações sindicais? Eis as perguntas centrais de uma pesquisa realizada pelo Observatório Social Europa. O Observatório Social Europa é um projeto de cooperação mantido por instituições européias e brasileiras. Nasceu em 2001 como organização irmã do Observatório Social no Brasil e está sediado em Amsterdã. No Brasil, as suas entidades mantenedoras são a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e as confederações dos sindicatos dos metalúrgicos e químicos (CNM e CNQ). Na Europa, a Confederação Sindical dos Países Baixos FNV e o seu maior sindicato afiliado, o FNV Bondgenoten, bem como a IG Me-
tall (Sindicato dos Metalúrgicos da Alemanha), a IG Bergbau, Chemie, Energie (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Química, de Mineração e Energia) e o DGB Bildungswerk (Instituição de Formação Sindical da Central Sindical Alemã), na Alemanha. Dialogando com a direção das empresas, os trabalhadores e sindicatos no Brasil e na Europa, o Observatório Social Europa quer prover as relações trabalhistas de um fundamento construtivo, de resultados, para obter melhorias concretas para os trabalhadores nas empresas envolvidas. Isso pressupõe que o respeito e reconhecimento recíprocos entre trabalhadores, seus representantes e a direção das empresas européias atuantes no Brasil se tornem elementos naturais na cultura das empresas e das representações dos trabalhadores. Em cooperação com o Observatório Social no Brasil foram pesquisadas as unidades de produção das empresas alemãs ThyssenKrupp, Bayer e Bosch, bem como as filiais das empresas holandesas Akzo Nobel, Philips e Unilever no Brasil. O nosso interesse concentrou-se aqui na observância das normas fundamentais de trabalho
al Europa
(core labour standards) da Organização Internacional do Trabalho (OIT):
• liberdade de organização sindical e negociações coletivas • proibição da discriminação de raça e gênero • proibição do trabalho infantil • proibição do trabalho forçado • segurança e saúde no local de trabalho Acordou-se com a direção das empresas que os problemas e os déficits constatados nas pesquisas seriam discutidos com os sindicados e sistematizados num catálogo de medidas para a melhoria da situação. No caso da Bayer, isso diz respeito especialmente ao reconhecimento das comissões de fábrica como representantes legítimos dos interesses dos trabalhadores no local de trabalho. Entrementes a direção da empresa reagiu e consente com a eleição de dirigentes sindicais para as comissões de fábrica nas unidades da Bayer. Os sindicalistas brasileiros informam que o clima das negociações com os diretores e gerentes da Bayer mudou muito, rumo ao melhor.
O Observatório Social fomenta contatos entre os trabalhadores das diversas unidades brasileiras das empresas e seus colegas europeus. Promove para tal fim seminários internacionais e oferece programas internacionais de intercâmbio para membros de comissões de trabalhadores e sindicalistas. Apoiamos a formação de redes nas unidades e entre elas, para promover o intercâmbio de informações sobre a empresa e a atividade sindical e acordar atividades conjuntas, evitando assim que os trabalhadores e sindicatos sejam jogados uns contra os outros. Um passo importante nesta direção é a fundação do Comitê da Rede Bayer que integra os sindicatos brasileiros atuantes no grupo, ocorrida em julho 2004. Com a presente publicação, editada também em alemão, queremos apresentar um retrato do Grupo Bayer do ponto de vista dos trabalhadores e dos sindicatos na Alemanha e no Brasil. Queremos contribuir assim para uma melhor compreensão da situação dos assalariados da Bayer nos dois países. Esse é o pré-requisito do desenvolvimento futuro de uma plataforma para ações conjuntas.
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Mestre da dupla jorn jorna Susanne Schoob, analista de laboratório químico na Bayer em Leverkusen
No seu emprego na Bayer, Susanne Schoob (37) cronometra o tempo, a cada minuto. Afinal ela tem de administrar, no dia-a-dia, a dupla jornada de mãe e trabalhadora. „A gestão do tempo é tudo”, diz ela com a maior tranqüilidade. Desde que nasceram os filhos, Tim e Kara, Susanne reorganizou sua vida profissional: ficou quatro anos em casa e, recentemente, voltou a assumir seu posto de trabalho na Bayer em Leverku-
Adoro minha profissão – Susanne Schoob, analista de laboratório
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sen. Trabalha em jornada parcial, vinte horas semanais. „Isso não é muito“, diz Susanne. Para uma analista de laboratório, que gosta de cumprir suas tarefas e não gosta de entregar nada pela metade, meio turno, de fato, é pouco. Mas, „administro bem minha agenda para terminar o serviço na hora certa.” Às vezes, quando há muito a fazer, sua jornada pode subir até 26 horas semanais. As horas extras são compensadas com horas livres. É quando Susanne pode dedicarse mais à educação dos filhos Tim e Kara. No momento, tudo está indo bem, mas sem o apoio da família, não seria tão fácil assim: „meu marido tem uma agenda
relativamente flexível e meus pais moram pertinho.“ Mesmo assim, este sistema às vezes não funciona: as dificuldades começam quando os filhos adoecem e, no laboratório, a aguardam tarefas importantes. Até hoje, Susanne sempre encontrou uma solução para cuidar dos dois, dos filhos e do serviço. „Tento adiar o serviço e retomar as atividades quando meus filhos estão melhor. Isso sempre deu certo.“ Por mais que a vida da analista, às vezes, seja agitada, ela se sente compensada. Afinal ela gosta do trabalho. „E além disto, precisamos dos dois salários para manter a família“, explica Susanne. A família mora na cidade de Colônia, onde o custo de vida é bastante alto. Há 11 anos, compraram sua casa própria, de 150 metros quadrados. Hoje, eles têm espaço e algumas prestações a pagar. Todo o verão, a família sai de férias. Desde que os filhos nasceram, passam duas semanas por ano na praia, no Mar do Norte. No ano passado, tiraram mais uma semana no verão e foram à Áustria na companhia dos avós. Para Susanne, dinheiro não é tudo: „eu adoro a minha profissão. Depois dos quatro anos em casa com os filhos, fiquei muito contente com minha volta ao serviço.” Em casa também não lhe faltava trabalho. E para distrair-se, a jovem mãe ia à academia. Mas, para ela, nada se iguala à vida profissional: „minhas realizações profissionais me dão muita satisfação, me sinto realizada.“
Colônia tem custo de vida alto – a Bayer em Leverkusen, no fundo: a catedral de Colônia
ornada rnada
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A maior parte do tempo em frente ao monitor
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A família de Susanne já tem ligações históricas com a indústria química e com a Bayer. Seu pai aprendeu a profissão de analista de laboratório na Bayer e trabalhou muito tempo na fábrica, situada às margens do rio Reno. Após a conclusão do ensino médio, Susanne optou por uma carreira no mesmo ramo. Ela conta que nunca gostou de línguas estrangeiras e não queria de jeito nenhum trabalhar como secretária. „Eu tirava notas boas em matemática e ciências exatas.“ Em 1983, ela entrou no curso profissionalizante na Bayer e formou-se analista de laboratório químico em 1986. Foi efetivada no setor que analisa todos os produtos, os que são produzidos pela Bayer e os que são fornecidos por terceiros. O local de trabalho de Susanne tem pouco a ver com a imagem tradicional de um laboratório químico. As amostras são analisadas por equipamentos informatizados. E por mais que a analista não queria ‘de jeito nenhum’ trabalhar em escritório, hoje ela passa horas em frente ao monitor: „a preparação das análises ocupa apenas um quarto do meu tempo. Durante o resto do tempo, eu fico no computador, avaliando e documentando os resultados.“ Nos testes e ensaios, Susanne analisa o teor de sub-produtos no produto principal. Ela explica que cada substância contém um determinado volume de sub-produtos. Nisto há de observar-se o valor limite. „Em parte, os sub-produtos até são necessários. Existem cores que só brilham quando contêm um determinado sub-produto.” No início da sua carreira, Susanne fazia muitas análises de rotina nas quais a composição das amostras e o método da análise são padronizados. Com o tempo, ela passou a atuar na área da padronização de análises onde ela desenvolve métodos des-
tinados à identificar a composição das amostras. Susanne está satisfeita com seu serviço. Por enquanto, ela não pensa em investir em uma promoção. Por trabalhar em jornada parcial, ela acredita que ocupar um cargo de liderança seja algo pouco provável. „Ficaríamos felizes se tudo continuasse como está, sem grandes mudanças.“ Afinal, há anos se cortam postos de trabalho e alguns colegas, que perderam seu posto fixo, hoje são ‘alocados conforme as necessidades empresariais’, sendo transferidos para as áreas nas quais existe alguma demanda de mão-de-obra. Susanne, por sorte, ainda não passou por essa experiência: „no fundo, esses colegas são obrigados a fazer o serviço que sobra.“ Isto não a satisfaria, afinal Susanne quer mais que um ganha-pão.
À procura dos sub-produtos análise de amostras
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O polivalente Denilson da Silva Cavalcanti, técnico de manutenção na Bayer Belford Roxo
Militância sindical dá gosto – Denilson da Silva Cavalcanti, trabalhador na Bayer
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Tenho 33 anos e entrei na Bayer em 1987, como aprendiz. Há meio ano, voltei a assumir minhas funções como técnico de manutenção. Minha casa fica a uns três quilômetros da fábrica. De carro, levo cinco minutos. Acordo às seis e meia e às sete e vinte entro na fábrica. Meu turno vai das 7:45 às 16:45 h. Descontando a hora do almoço, trabalho oito horas por dia. Pela jornada de 40 horas semanais recebo um salário líquido de R$ 2.500, já incluído o adicional de periculosidade. Além disto, tem o décimo terceiro e a PLR que, no ano passado, foi de 70 por cento de um salário mensal. No setor, somos 13 técnicos de manutenção. Sou responsável pela manutenção, faço o controle das máquinas, quando há algum problema de pressão ou temperatura, e cuido da programação do processo. Desde que entrei na Bayer, a automação vem aumentando. Ainda não fiz nenhum curso de treinamento, sempre
aprendi fazendo, durante o serviço. No momento trabalho na unidade de polímeros, e às vezes na fábrica de anilina e em outros lugares. Sou um funcionário polivalente, um tipo de tapa-furos que é chamado em caso de emergência. Hoje, depois de ter sido reintegrado à empresa, estou bem melhor. Alguns dos chefes ainda estão meio desconfiados, evitam falar de problemas quando estou por perto, mas no setor a situação melhorou muito, afinal os companheiros me conhecem. Quando voltei, ninguém sabia direito o que havia acontecido. Agora eles podem avaliar se é verdade o que ouviram falar. Bom, acho que está tudo bem. E isso é muito importante, afinal não é fácil arrumar outro serviço, além da Bayer, aqui não há muita opção. Agora voltei a acompanhar tudo de perto. E gosto muito da militância sindical! Sou casado há oito anos e tenho uma fi-
lha de quatro anos, que se chama Luana. Nas horas livres, adoro bater uma bola, encontrar meus amigos ou passear com a família. Nos últimos anos, passamos as férias quase sempre em casa. Desde que minha esposa parou de trabalhar, o dinheiro anda curto. Mas quando sobra um dinheirinho, vamos à praia, para Cabo Frio ou Búzios.
Às sete e vinte, entro na fábrica – portão da Bayer em Belford Roxo
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A Bayer – um grupo eem Reestruturação empresarial elimina empregos no mundo inteiro
Desde 2002, o Grupo Bayer vem implantando sua ‘nova estratégia corporativa’. Nas palavras do diretor-presidente Werner Wenning, este redirecionamento global dos negócios do grupo requer ‘esforços extraordinários’. Através de seu programa de melhoria da eficiência, o grupo pretende reduzir custos na ordem de 2,5 bilhões de euros (aproximadamente R$ 9,3 bilhões). Até 2005, o grupo cortará 14.000 empregos no mundo, dos quais 5.500 na Alemanha. Tradição desde 1863 – unidade da Bayer em Wuppertal
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De fábrica de corantes a global player A Bayer foi fundada em 1863 pelo comerciante Friedrich Bayer e o mestre tintureiro Johann Friedrich Weskott que, naquele ano, instalaram uma fábrica de corantes na cidade alemã de Barmen. O objeto social da pequena empresa era a fabricação e distribuição de corantes artificiais para a indústria têxtil. Naquela época, os corantes naturais, usados pela indústria, tinham-se tornado muito es-
o empresarial em obras Unidades no Brasil afetadas pela reestruturação – trabalhadores da Bayer em Belford Roxo
cassos e, por isto, caros. Dois anos após a sua fundação, a Bayer assumiu parte do capital da primeira fábrica nos EUA que produzia corantes a partir de alcatrão. Até o início da Primeira Guerra Mundial, a empresa adquirira participações sociais na Rússia, França, Bélgica e no Reino Unido. Em 1913, um ano antes da eclosão da guerra, a Bayer empregava 10.000 funcionários, dos quais 1.000 fora da Alemanha. As exportações chegavam a 80 por cento do faturamento da empresa. A divisão farmacêutica da Bayer foi criada em 1888. A partir de 1899, a empresa iniciou a comercialização da Aspirina, invenção própria do seu laboratório científico. A fabricação de produtos químicos fotográficos na Bayer remonta ao ano de 1904, as pesquisas para a produção de borracha sintética, a 1906. Na Primeira Guerra Mundial, a Bayer fabricava explosivos para os campos de batalha. Os Estados Unidos ‘nacionalizaram’ o patrimônio e todas as patentes da empresa e as venderam a empresas concorrentes. O primeiro agrupamento de interesses da Bayer, Agfa e BASF data de 1905. Esta joint venture, em 1915, foi estendida a outras indústrias de peso do setor de corantes. Em 1925, houve a fusão: o patrimônio da Bayer foi transferido à IG Farbenindustrie AG, mais conhecida por IG Farben, o novo gigante do setor químico alemão. Na Grande Depressão (1929-32),
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Três empresas comerciais – medicamentos contra a disfunção erétil
um quinto dos trabalhadores perdeu o emprego. Durante a Segunda Guerra Mundial, a IG Farben tinha estatus de empresa ‘estratégica’.
Crescimento vertiginoso no milagre econômico
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Depois da guerra, a IG Farben foi desmembrada, as doze empresas originais foram restituídas. A refundação da Bayer AG deu-se em 1951. O grupo que pela segunda vez perdera todo seu patrimônio fora da Alemanha, retomou, a passos largos, as vendas internacionais, dando ênfase nos mercados dos Estados Unidos e da América Latina. Com elevados investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a Bayer obteve um crescimento vertiginoso durante o período do ‘Milagre Econômico’. Poliuretanos, produtos fitossanitários, fibras, como a fibra acrílica Dralon, e novos corantes para fibras sintéticas avolumaram os negócios da empresa. A pesquisa farmacêutica descobriu novos medicamentos
contra problemas cardiovasculares, micoses superficiais da pele e os antibióticos de amplo espectro. A partir de 1973, os negócios foram afetados pela crise do petróleo e a conseguinte alta do preço de seus derivados. Através de aquisições, a Bayer destacou-se também no mercado farmacêutico dos Estados Unidos. Além disto, ampliou sua área de pesquisa de herbicidas. Em 1988, 125 anos após a sua fundação, o Grupo Bayer faturou 40 bilhões de marcos (aproximadamente R$ 75,7 bi), empregando, no total, mais de 165.000 funcionários. Com a compra da divisão de produtos fitossanitários da Schering e Aventis, foi formada a Bayer CropScience, em outubro de 2001.
A Nova Bayer – um recomeço? Em meados de 2004, a Bayer introduziu uma nova estrutura organizacional. O grupo foi dividido em três empresas comerciais e três áreas centrais que,
reunidas em uma ‘holding estratégica’, devem enfocar suas competências centrais. A primeira empresa independente foi criada em outubro de 2002, sob a razão social Bayer CropScience AG. As demais empresas foram desmembradas em 2003. Em novembro daquele ano, ficou decidido que o Grupo Bayer atuaria, no futuro, apenas nas áreas saúde, agricultura e ‘materiais de ponta’. A divisão química, com exceção da Wolff Walsrode, da H. C. Starck e de partes da produção de polímeros, foi transferida a uma nova empresa chamada LanXess. De acordo com a direção da empresa, a nova estrutura pretende potencializar a transparência. Para seus funcionários, para fins de alocação interna de recursos, para o mercado de capitais e os acionistas. Fato incontestável é a contínua redução de empregos: dos 122.000 funcionários empregados em 2001, em meados de 2003 restavam apenas 113.600. O grupo pretende realizar dois terços do seu faturamento com os chamados produtos Life Science (saúde humana e animal, produtos químicos para a agricultura) que são menos suscetíveis a mudanças conjunturais. A Bayer hoje divulga de si uma imagem do grupo empresarial internacional que integra 350 empresas e representações, de pesquisa e desenvolvimento, produção, administração e distribuição que atuam nas áreas de saúde, polímeros, produtos químicos e produtos para a agricultura. Sob a direção e coordenação da Bayer AG, a cruz, símbolo do Grupo Bayer, marca presença em todos os continentes: Europa (28 países), Américas (19), África (7), Oriente Médio (3), Ásia (14) e Oceania (2).
O caso brasileiro As unidades no Brasil também estão sendo afetadas pela reestruturação. O grupo desenvolve suas atividades em seis unidades de produção, instaladas
Presente em todos os continentes – unidade da Bayer no Texas
em quatro estados brasileiros (São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia). Suas operações no Brasil geram em torno de 40 por cento das vendas totais na América Latina. Na terra do agronegócio, a Bayer CropScience é a divisão mais forte do grupo. A Bayer MaterialScience (plásticos) ocupa o segundo lugar. A primeira representante dos produtos Bayer no Brasil surgiu em 1896. Em 1921, a Bayer iniciou a produção de medicamentos. Quatro anos mais tarde, a Bayer produziu corantes no Brasil. Em 1956, durante a presidência de Juscelino Kubitschek, a Bayer comprou uma antiga fábrica de ácido sulfúrico e superfosfato em Belford Roxo (RJ), em um terreno de dois quilômetros quadrados, onde, em 1958, inaugurou suas primeiras instalações. A transferência da sede administrativa para São Paulo aconteceu em 1973. Nos anos noventa, a empresa desativou 13 unidades de produção no complexo industrial de Belford Roxo. Atualmente a Bayer está trabalhando para integrar seus 2.500 funcionários brasileiros à nova estrutura organizacional e transferi-los, em parte, à nova empresa LanXess.
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Pagamos um preço aalt Thomas de Win e Oliver Zülhke, comissão de trabalhadores da Bayer
Queremos evitar demissões por motivos empresariais – Thomas de Win, comissão de trabalhadores da Bayer
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Em meados dos anos noventa, um ciclo chegava ao fim: foram-se os tempos nos quais a Bayer em Leverkusen tinha muito a dar aos trabalhadores. Desde lá, a empresa adotou, como prioridade máxima, a redução de custos. Algumas unidades da Bayer foram transferidas para o exterior, outras fecharam suas portas. O Grupo Bayer vem reduzindo seu número de trabalhadores na Alemanha desde 1986. Em menos de duas décadas, cortou 30.000 empregos. „O clima era péssimo, temíamos que a empresa fosse demitir trabalhadores por
motivos empresariais“, diz Thomas de Win, presidente da comissão de trabalhadores da Bayer em Leverkusen. Os representantes dos trabalhadores na Bayer AG não cruzaram os braços. A coordenação nacional das comissões de trabalhadores tomou a iniciativa: em 1997, ela fechou o primeiro acordo coletivo relativo ao futuro das unidades na Alemanha. A Bayer comprometeu-se a não fazer uso de demissões por motivos empresariais, a manter o número de vagas nos cursos profissionalizantes e a realizar investimentos. Este acordo não foi de graça para os trabalhadores. Eles tiveram que abrir mão de cinco por cento dos adicionais que a Bayer paga acima do salário normal, definido no contrato coletivo. Na opinião de Oliver Zühlke, vice-presidente da comissão de trabalhadores da Bayer em Leverkusen, „pagamos um preço alto.“ Alguns membros da comissão achavam que o preço era muito alto. Thomas de Win se lembra que certos grupos de oposição, na comissão de trabalhadores, fizeram críticas muito duras. O presidente da comissão, contudo, parte da convicção de que a escolha foi correta. Afinal, o acordo coletivo acaba de ser prorrogado pela segunda vez e terá vigência até 2007. E, pouco a pouco, os críticos foram se calando. O primeiro acordo vigorou até o ano 2000. Após seu término, as negociações foram retomadas. Na ocasião, a empresa reivindicava maior flexibilidade e conseguiu introduzir modelo da ‘alocação conforme as necessidades empresariais’. Ou seja: os trabalhadores cujos postos de trabalho deixam de existir, podem ser aproveitados em diferentes funções, conforme as necessidades da empresa, até voltar a ter um posto de trabalho fixo. O salário é mantido, até nos períodos em que empresa não precisa de sua mão-de-obra. Os recursos necessários provêm de uma parcela do adicional pago acima do contrato coletivo. Do peão ao chefão, todos contribuem para o fundo.
o alto LanXess - desmembramento da produção química No final de 2003, a Bayer anunciou o plano de desmembrar a produção química da empresa. No conselho fiscal, órgão supremo da sociedade anônima na Alemanha, os representantes dos trabalhadores disseram que só aprovariam a decisão caso a empresa prorrogasse o acordo coletivo relativo ao futuro das unidades. „É óbvio que tentamos evitar a cisão“, explica Thomas de Win, que representa os trabalhadores no conselho fiscal da Bayer AG. „Para manter a produção química no grupo, teríamos feito certas concessões.“ A Bayer, porém, negou todas as propostas. No fim das negociações, os representantes dos trabalhadores no conselho fiscal concordaram com a reestruturação do grupo; em troca receberam a prorrogação do acordo coletivo relativo ao futuro das unidades que será extensivo à LanXess, nova empresa fundada para integrar os negócios químicos da Bayer. Com este acordo, a empresa deixou de cortar 1.000 postos de trabalho cuja eliminação ela anunciara em 2002. Para manter estes empregos, as horas-extras e a terceirização serão reduzidas e o trabalho em jornada parcial, aumentado. Além disto, os adicionais ao salário estipulado no contrato coletivo poderão ser reduzidos em até 10 por cento a partir de 2005, caso a mão-de-obra a ser ‘alocada conforme as necessidades empresariais’ não seja aproveitada. „Esta redução afeta a todos, do técnico em laboratório ao diretor-presidente“, explica Oliver. Os cargos de liderança, assim o espera a comissão de trabalhadores, vão se esforçar ainda mais para aproveitar a mão-de-obra disponível. Apesar da dura luta pela manutenção dos postos de trabalho, a comissão de trabalhadores não pode deixar de lado suas tarefas corriqueiras: cabe à co-
Cada vez menos a repartir – Oliver Zühlke, comissão de trabalhadores da Bayer missão cuidar dos horários de trabalho e da tabela de cargos e salários, analisar as promoções e acompanhar as transferências internas. Na análise de Oliver „o dia-a-dia da comissão tem dois enfoques: por um lado, trabalhamos questões estratégicas, por outro temos que acompanhar e assessorar os trabalhadores e as trabalhadoras nos seus postos de trabalho.“ As decisões estratégicas são tomadas nas subcomissões temáticas da comissão de trabalhadores. Elas lidam com recursos humanos, remuneração e jornada, formação ou qualificação dos
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jovens. Em Leverkusen, a comissão conta com 15 integrantes liberados para representar os trabalhadores no ‘chão de fábrica’. Estes membros da comissão, chamados de representantes de área, são o elo de ligação direto com os trabalhadores nas áreas e nos setores. Lá eles recebem, em primeira mão, as reclamações e propostas do trabalhador. Na unidade de Leverkusen, há muitos mensalistas e pesquisadores. Nem sempre é fácil cooptá-los pela causa sindical. Por isto,
a comissão de trabalhadores articula-se com a representação local do sindicato e oferece programações específicas para estas categorias. Thomas, que há vinte anos é membro da comissão de trabalhadores da Bayer, sempre sentiu vocação para trabalhar por uma causa coletiva. „Mas isso“, diz Oliver, „está ficando cada vez mais difícil. Às vezes, não temos como agir. Nestes casos, apenas nos resta reagir às decisões empresariais.”
Garantir vagas para aprendizes – instrutores e aprendizes produzem policarbonato
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OLT por unidade Quando um grupo empresarial se divide em várias empresas independentes que continuam funcionando na mesma unidade ou complexo industrial, os trabalhadores podem optar por uma comissão conjunta. Esta foi a escolha da comissão de trabalhadores em Leverkusen, quando a Bayer AG, em 2002, se dividiu em três empresas de serviços e três empresas comercias.
Oliver Zühlke, vice-presidente da comissão, acredita que a comissão conjunta, por unidade, tenha várias vantagens: „Continuamos representando os trabalhadores de todas as empresas e todos os acordos, existentes e futuros, serão aplicados a todas as empresas desta unidade.” A comissão, desta forma, quer evitar que as empresas adotem sistemas diferenciados de jornada, cargos
Thomas de Win e Oliver Zühlke da comissão de trabalhadores – no fundo, a unidade da Bayer em Leverkusen A instituição e o funcionamento da comissão conjunta regem-se por um contrato coletivo específico, celebrado entre a Bayer e o Sindicato Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, de Mineração e Energia da Alemanha – IG BCE.
e salários ou previdência. Thomas de Win, presidente da comissão conjunta, realça a importância de pensar também nos aprendizes. Atualmente há 875 jovens em cursos profissionalizantes da Bayer e „nosso acordo garante que este número será mantido.“
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Levar o carrinho de be beb Roswitha Süßelbeck, comissão de trabalhadores da Bayer CropScience em Monheim
rio!“ Dez dias antes do fim do período de maternidade, que no início dos anos oitenta compreendia 180 dias, Roswitha finalmente conseguiu o que queria. „Na minha área, fui a primeira mulher a trabalhar meio turno. Depois disto, optar pela jornada parcial ficou bem mais fácil.“ Roswitha, que nunca se contentou com lamentações, acredita que para qualquer problema há uma solução. Foi eleita delegada sindical, no início dos anos oitenta, para defender a causa das mulheres e dos homens que trabalham na Bayer. Em 1994, iniciou seu primeiro mandato na comissão de trabalhadores. Liberada há sete anos, ela representa os trabalhadores na Bayer CropScience em Monheim. Para Roswitha, a igualdade de oportunidades continua sendo um dos temas mais importantes. Apesar dos regulamentos embasados na teoria da igualdade entre homens e mulheres, os empecilhos práticos persistem. A exemplo de outras empresas alemãs, a Bayer conta com poucas mulheres, principalmente nos cargos de liderança. „As mulheres ocupam algo como seis por cento dos cargos de liderança. Todas as gerências são encabeçadas por homens.” Luta pela igualdade de gêneros – Roswitha Süßelbeck, comissão de trabalhadores em Monheim
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Quando ouve afirmações do tipo ‘isso não vai dar certo’, Roswitha Süßelbeck não se dá por satisfeita. Meio ano após o nascimento do seu filho, em 1980, ela queria retomar o trabalho na Bayer, em jornada parcial. No início, seus supervisores não acreditaram: jornada parcial, meio turno? Na área de tecnologia de aplicação da Bayer, ninguém ouvira falar disto. Mas, a analista de laboratório não arredou o pé: „ou vocês concordam com meio turno, ou eu vou deixar a carrinho do bebê na porta do seu escritó-
Jornada parcial dá certo Algo mudou para melhor. Em 1987, a comissão fechou um acordo coletivo sobre vida familiar e profissional. Entre outros direitos, os funcionários da Bayer podem licenciar-se do trabalho por até sete anos, para cuidar dos filhos. Através de cursos de treinamento e da possibilidade de substituir colegas, durante as férias, podem manter contato com a vida profissional. Desde o início dos anos noventa, a licença também pode ser tirada para cuidar de familiares doentes ou idosos. Para Roswitha, o maior motivo de orgulho é a cláusula sobre o trabalho em jornada parcial, que foi integrada ao segundo acordo coletivo relativo ao futu-
bebê para a empresa? ro das unidades. A cláusula prevê até um período experimental de três meses, durante o qual o funcionário pode analisar se gosta desta modalidade de trabalho. Ao mesmo tempo, permite que grupos inteiros adotem o trabalho em tempo parcial para garantir seu emprego. „Nas chefias intermediárias, ainda predomina a idéia de que ’trabalho em jornada parcial não dá certo.‘ Cabe a nós convencêlos que pode dar certo sim!“ As tentativas de atrair mulheres jovens à profissão de operadora na indústria química foram coroadas com êxito menor. A duras penas, as mulheres da comissão de trabalhadores convenceram algumas jovens a
fazer o curso. A maioria destas mulheres, quando efetivadas após a conclusão do curso profissionalizante, trabalhava no setor, como única mulher. Elas sentiam muita pressão. „Sete anos mais tarde, não havia sobrado nenhuma mulher nesta função”, conta Roswitha.” Não é fácil. Nas áreas de forte predominância masculina, as mulheres enfrentam grandes problemas. Hoje recomendo às meninas que façam o curso de analista de laboratório.“ Além de oferecer mais oportunidades de progressão, nesta função há mais mulheres. Na Bayer e no sindicato IG BCE, Roswitha participa de todas as comissões que lidam com a questão
Bayer CropScience eliminou 4.000 empregos no mundo – controle de pepinos no centro de combate a pragas em Monheim
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da igualdade de gêneros. „Há aqueles companheiros que não querem discutir o assunto. Alegam que tem coisas mais importantes, que não sobra tempo para falar da igualdade de oportunidades.” Mas, quando se trata de defender uma causa importante Roswitha não se perde em rodeios.
4.000 empregos eliminados no mundo
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Após ter comprado a Aventis CropScience, a Bayer anunciou a eliminação de 100 postos de trabalho no setor de pesquisa em Monheim. Junto aos delegados sindicais e à comissão de trabalhadores, Roswitha organizou uma pequena manifestação. Ela explica que a unidade de Monheim saiu quase ilesa desta reestruturação. No mundo, a nova empresa Bayer CropScience cortou 4.000 empregos. Roswitha diz que a meta principal em Monheim era garantir que ninguém perdesse seu emprego. A comissão de trabalhadores atingiu o objetivo, inclusive no setor de pesquisa. A redução do quadro de funcionários foi realizada pela adoção da jornada parcial dos trabalhadores em vias de aposentadoria. Outros rescindiram seu contrato voluntariamente no fim do período de maternidade ou paternidade. „Claro que os adverti que era bom pensar duas vezes antes da demissão voluntária“, conta Roswitha. „Mas na sua situação, muitos preferiam as indenizações, que na Alemanha são bastante altas, ao emprego fixo na Bayer.“ A aquisição da Aventis CropScience deu muito trabalho à comissão de trabalhadores. Roswitha e seus colegas ainda têm muito a fazer: devido ao remodelamento estrutural da nova empresa, as funções dos trabalhadores mudaram. Os perfis de 400 postos de trabalho tiveram que ser reescritos. Coube à comissão monitorar o processo
para evitar a perda de direitos. „Em geral, o processo transcorreu sem maiores dificuldades, uns cinqüenta perfis, contudo, exigiram nossa atenção. O plano de previdência precisou ser remodelado e os sistemas de bonificações, harmonizados. As duas empresas tinham sistemas logísticos diferentes e, como não é de estranhar-se, ambas acreditavam que o seu era o melhor.“ Além de suas tarefas normais, Roswitha tem dedicado boa parte de seu tempo aos efeitos desta aquisição. Assim que o assunto estiver encerrado, ela pretende investir mais no seu tema principal, a igualdade de gêneros. Afinal, resta muito a fazer, principalmente nos cargos de liderança. Roswitha tem certeza que o percentual reduzido de mulheres nos cargos de liderança é tudo, menos culpa delas. „Os homens que ocupam estes cargos, não são mais qualificados.“
Acordo sobre ‘vida familiar e profissional’ (1997) – Roswitha em debate com colegas
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A co-gestão nos estabelecimentos Na Alemanha, a co-gestão nos estabelecimentos é regulamentada pela Lei sobre a Organização das Empresas, que faculta aos assalariados o direito de eleger uma comissão de trabalhadores. A comissão tem direito ao voto, quando a contratação, demissão ou transferência de trabalhadores estão na pauta. Alterações na empresa que afetem os direitos dos
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assalariados carecem da anuência da comissão. Uma das mais importantes tarefas da comissão é a configuração da jornada de trabalho, tal como prevista no contrato coletivo de trabalho. Além disso, ela deve zelar pela observância do princípio do tratamento igual na empresa. Deve cuidar também de problemas cotidianos na empresa – dos postos de trabalho, nos quais é proibido fumar, até a instalação de novas unidades sanitárias, passando pela utilização do estacionamento. Nas matérias de gestão econômica a comissão de trabalhadores não tem direito ao voto. O empregador tem apenas o dever de informá-la. A Lei sobre a Organização das Empresas
Empresas com vários estabelecimentos podem ter comissão de toda a empresa – material de construção produzido a partir de celulose
foi reformada em 2001, ampliando-se a co-gestão nas empresas. Desde então os estabelecimentos com cinco assalariados já podem eleger uma comissão de trabalhadores. O tamanho da comissão depende do número de trabalhadores com direito ao voto. Assalariados em estabelecimentos com cinco a vinte traba- A comissão de trabalhadores tem voz na empresa – lhadores com direi- trabalhadora tinge celulose esbranquecida to ao voto elegem um representante para a comissão. O nú- totalidade. Assim a comissão de trabamero de membros da comissão aumenta lhadores do grupo pode, para citar um proporcionalmente ao número de traba- exemplo, celebrar acordos válidos para lhadores. Assim nos estabelecimentos com todo o grupo. Em conformidade com a diretiva 701 a 1000 trabalhadores, a comissão de trabalhadores é composta por treze mem- da União Européia de 1994, estabelecibros. Os membros da comissão podem ser mentos com mais de 1000 trabalhadodispensados do trabalho. Nos estabeleci- res e ao menos duas unidades com 150 mentos com 200 a 500 trabalhadores um trabalhadores em dois Estados-memmembro da comissão pode ser completa- bros da União Européia podem instituir mente dispensado do trabalho. O número uma comissão européia de trabalhados membros da comissão dispensados do dores. Ela se reúne ao menos uma vez trabalho aumenta com o número de assa- por ano. Não tem direitos de co-gestão, lariados no estabelecimento. As comissões mas deve ser informada pelo empregade trabalhadores sempre são eleitas por dor. Comissões de trabalhadores repreestabelecimento. Se uma empresa possui sentam 40% de todos os assalariados vários estabelecimentos com as respectivas nas empresas alemãs. Nos últimos anos, comissões de trabalhadores, a lei faculta a esse número apresenta uma tendência criação de uma comissão de trabalhadores regressiva nas empresas do setor privada empresa. Essa comissão de trabalha- do. Há também diferenças significativas dores da empresa não tem uma posição entre empresas grandes e pequenas: ao hierárquica superior às comissões indivi- passo que quase todas as grandes emduais; muito pelo contrário, ela se ocupa presas com mais de 1000 assalariados de todas as questões que dizem respeito têm uma comissão de trabalhadores, a toda a empresa ou a várias partes da apenas 12% das empresas com 5 a 100 mesma. Em grandes grupos empresariais assalariadas e assalariados contam com existe ainda a comissão de trabalhadores uma comissão. A participação de sindido grupo. Ela assume tarefas referentes calistas nas comissões de trabalhadores ao grupo inteiro ou a partes dele, que não também apresenta uma tendência lipodem ser cumpridas pela empresa na sua geiramente regressiva.
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Um porto seguro em m Frank Löllgen, secretário sindical do IG BCE
Sindicalizar é preciso – Frank (esq.) com um colega da Bayer
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Para Frank Löllgen, 1997 foi um ano de reencontros. Ao assumir o cargo de secretário distrital do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Química, de Mineração e Energia em Leverkusen, velhos amigos o aguardavam. No final dos anos setenta, formara-se analista de laboratório químico na Bayer em Leverkusen e ainda lembrava de alguns dos companheiros da comissão de trabalhadores. No início da sua carreira profissional, Frank militara na juventude sindical. Com o tempo, a militância foi assumindo dimensões semiprofissionais. Tomou a decisão de profissionalizá-la.
Freqüentou a Akademie der Arbeit, uma universidade do trabalho em Frankfurt, e, a partir de 1986, um curso de formação de secretários sindicais. Depois de ter trabalhado em Freiburg, Mannheim e Dresden, Frank voltou a Leverkusen. Hoje, no cargo de secretário distrital do IG BCE, Frank está em contato perma-
Com tantas mudanças, muitos ficam perdidos – produção de Makrolon na Bayer em Uerdingen
em m meio Ă s tempestades
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nente com a comissão de trabalhadores na Bayer. A Bayer emprega 20.000 pessoas e é, de longe, o maior empregador em Leverkusen. Metade da diretoria distrital do sindicato IG BCE em Leverkusen é formada por membros da comissão da Bayer. A cidade de Leverkusen vive em função da Bayer e do complexo industrial da indústria química. Para o secretário sindical, a cooperação com a comissão é fundamental. Muito pouco não é decidido com a comissão de trabalhadores da unidade. „Em assuntos como adicionais sobre o contrato coletivo, desmembramentos, etc., a comissão articula sua posição com a do sindicato. As estruturas representativas procuram chegar a uma posição comum. Quando a comissão de trabalhadores não consegue avançar nas negociações, o sindicato entra em cena, mobilizando os sócios.”
Tudo ficou mais complicado
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Devido aos acontecimentos na Bayer, o trabalho do secretário sindical mudou bastante. Há alguns anos, Frank e sua equipe lidavam com uma só empresa, a Bayer AG. Em função de cisões e desmembramentos que resultaram em novas sociedades, em parte integradas ao grupo Bayer, os sindicalistas hoje enfrentam várias empresas. „Nossa vida ficou bem mais complicada, hoje temos de estar a par dos acontecimentos em várias empresas.“ Quando uma delas acaba com conquistas e padrões sociais, as demais não querem ficar atrás. E na atualidade, quando até a indústria química enfrenta algumas dificuldades, os padrões sociais estão sempre na mira dos patrões. Dos empresários, Frank recebe um número crescente de consultas sobre a possibilidade de aplicar as chamadas ‘cláusulas de abertura’ do contrato coletivo. Visto que a aplicação destas cláusulas que abrem certas exceções depende da anuência do sindicato IG BCE, Frank analisa todos os
casos, meticulosamente. Quando o quadro econômico de uma empresa é fraco sem ser desolador, o secretário sindical, após ter debatido o assunto com a secretaria de contratação coletiva na sede nacional do IG BCE, pode fazer concessões, concordando com ‘bandas de oscilação’. Estas concessões apenas são feitas em troca de uma garantia de emprego. Foi o que aconteceu em um empresa química onde a jornada, durante um ano, foi aumentada de 37,5 para 40 horas semanais. „Não faltam os empresários que, para fugir à aplicação do contrato coletivo da indústria química, desmembram certas atividades, fundando empresas independentes“, conta Frank. As diferenças entre os contratos coletivos setoriais são enormes: os trabalhadores no setor de transporte recebem apenas 60 por cento do salário pago na indústria química. Nestes casos, Frank faz tudo para tirar os cavalos da chuva. „Negociamos contratos coletivos por empresa para manter o nível salarial dos trabalhadores.”
Perda da identidade coletiva O sindicato não se restringe a reagir à conjuntura econômica. Ele assume uma postura proativa. Em sua função de membro do conselho fiscal, órgão societário supremo da Bayer HealthCare AG, Frank luta por padrões sociais e promove novos projetos. As constantes mudanças econômicas dificultam as campanhas de sindicalização. „Hoje é difícil manter o índice de sindicalização e conquistar novos sócios. No passado, era mais fácil”, explica Frank e acrescenta que os trabalhadores, antes mais combativos, ficaram mais céticos. Custa muito convencê-los. Além disto, o sindicato precisa enfrentar os efeitos da reestruturação. „A união dos trabalhadores não saiu ilesa da decomposição da
Empresários tentam trocar de contrato coletivo – unidade da Bayer em Leverkusen
Bayer AG que hoje é um aglomerado de diversas empresas,“ Frank explica. Hoje, ele se vê obrigado a dedicar muito tempo a problemas individuais. O sindicato IG BCE também apóia os trabalhadores demitidos e os desempregados quando o pagamento do salário desemprego é suspenso. Em reuniões, o sindicato informa sobre questões legais da seguridade social. „A vida fica sempre mais complicada, a cada dia surgem novas regras para a previdência privada e os seguros-saúde. Com tantas mudanças, muitos ficam perdidos.“ O sindicato dá seu apoio e tenta, com isto, conquistar novos sócios.Na opinião de Frank, „nós, do sindicato IG BCE, somos um porto seguro em meio a tantas tempestades.”
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Sindicalistas do IG BCE
Os sindicatos alemães Na Alemanha, os pioneiros foram os trabalhadores do setor fumageiro: fundaram um sindicato já em 1848, nos tempos da industrialização incipiente, quando as condições vigentes nas fábricas eram terríveis. Jornadas de trabalho de doze a dezessete horas eram tão comuns como o trabalho infantil. As condições de trabalho eram catastróficas, em parte elas envolviam riscos de vida. O que começou com um punhado de operários enfurecidos alastrou-se rapidamente num movimento de milhões de pessoas. Até hoje os sindicatos continuam sendo um importante fator de poder social, em que pese a diminuição do número de membros. Atualmente a Confe-
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deração dos Sindicatos Alemães (DGB), que integra os sindicatos, conta com 7,3 trabalhadoras e trabalhadores afiliados, que perfazem cerca de 20% de todos os assalariados. A tarefa mais importante dos sindicatos é a celebração de contratos coletivos de trabalho. Só eles podem celebrar esses contratos para seus membros, não os membros da comissão de trabalhadores. E só os membros do sindicato têm direito ao pagamento do salário de acordo com o contrato coletivo de trabalho. Na prática, os empregadores quase sempre pagam também os trabalhadores não-sindicalizados de acordo com o contrato coletivo de trabalho. Do contrário eles engrossariam as fileiras dos sindicatos – e nisso eles não estão interessados. Nas negociações os representantes dos sindicatos enfrentam a correspondente associação patronal: assim, por exemplo, os negociadores do Sindicato
dos Trabalhadores nas Indústrias Química, de Mineração e Energia (IG BCE) enfrentam os representantes da associação patronal Confederação das Indústrias Químicas (BAVC). Uma vez celebrado, o contrato coletivo de trabalho vale para todas as empresas filiadas à associação patronal. Mas o sindicato pode celebrar também contratos coletivos com empresas individuais, os assim chamados contratos coletivos por empresa. Às vezes as negociações se estendem por semanas a fio. Na fase final, as reuniões decisivamente importantes não raras vezes entram noite adentro. Os contratos coletivos de trabalho não definem apenas quanto dinheiro os assalariados deverão ganhar. Contemplam também os dias de férias, a duração da jornada de trabalho ou os planos de previdência. Tais condições gerais são fixadas nas assim chamadas convenções coletivas sobre as condições de trabalho. Na falta de um consenso nas negociações, o sindicato pode consultar seus membros sobre a conveniência de uma greve. Durante a greve, os grevistas sindicalizados recebem um auxílio de greve do sindicato. Uma vez assinado o contrato coletivo de trabalho por ambas as partes, existe o dever de manter a paz. Somente depois de expirada a vigência de um contrato coletivo – normalmente depois de um ou dois anos – a greve é novamente permitida. Ao lado da sua tarefa mais importante, a negociação dos contratos coletivos de trabalho, os sindicatos oferecem outras ajudas aos seus membros – assim a assistência jurídica em conflitos com o empregador. Os membros pagam uma contribuição mensal fixa, em média 1% do seu salário bruto. Contrariamente a outros países, os sindicatos na Alemanha são ‘sindicatos unitários’. Ou seja, um
Uma empresa – um sindicato – produção de borracha sintética
sindicato representa todos os trabalhadores de um setor. De acordo com o princípio „uma empresa – um sindicato“, ele representa na empresa todos os segmentos profissionais, do funcionário da portaria até o eletricista e os funcionários da administração. A Alemanha desconhece sindicatos constituídos segundo a visão de mundo, como na França ou na Itália. A vantagem da unidade sindical está em evitar a fragmentação dos sindicatos. O sindicato tem assim mais poder para enfrentar o empregador, pois representa todos os assalariados em grau igual. Na Alemanha, a introdução do princípio da unidade sindical foi uma resposta às experiências feitas antes da Segunda Guerra Mundial, quando o movimento operário estava profundamente dividido por conflitos internos e pôde ser desbaratado sem delongas pelos nazistas.
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Na porta de fábrica Uwe Lambrich, delegado sindical do sindicato IG BCE na Bayer
Os delegados sindicais como Uwe Lambrich são eleitos pelos trabalhadores sindicalizados e representam o sindicato na empresa. Eles passam as informações sindicais aos trabalhadores e transmitem as preocupações do ‘chão da fábrica’ à comissão de trabalhadores. Em caso de problemas ou perguntas, Uwe é o contato direto dos trabalhadores no seu setor. Quando a comissão, no início de 2004, distribuiu um folheto informativo sobre a remuneração variável, os trabalhadores o consultaram logo. Muitos não haviam compreendido quanto receberiam no futuro. „A re-
Delegado sindical reconhecido – Uwe Lambrich, trabalhador na Bayer
muneração variável é o que restou do adicional que era pago sobre o salário definido no contrato coletivo“, explica Uwe, e continua: „é a parcela paga no fim do ano que varia em função do resultado da empresa.“ Uwe também teve alguma dificuldade de entender o modelo que é muito complexo. Por isto, ligou a um membro da comissão pedindo informações adicionais. No setor de material de embalagem onde trabalha, o delegado sindical precisa solucionar poucos problemas: „aqui o pessoal ganha relativamente bem; a maioria resolve seus problemas sozinho.“ Em caso de
a conflitos graves, porém, há os que procuram o delegado sindical. Quando um trabalhador recebe uma advertência, Uwe Lambrich conversa com o superior e tenta mediar. Além disto, o delegado oferece acompanhamento nas reuniões de avaliação com os superiores: „nestas reuniões anuais, avalia-se o rendimento do trabalhador à luz de metas.” As atas destas reuniões são arquivadas junto à ficha do trabalhador. Quando os trabalhadores têm a impressão de que ela não reproduz o teor da reunião, Uwe entra em ação. „Às vezes, conseguimos mudar a redação da ata.“ Em ocasião
das últimas negociações coletivas, os delegados sindicais da Bayer chegaram a fazer uma pequena manifestação na porta de fábrica. Para contestar às alegações dos patrões, que disseram que as reivindicações dos trabalhadores iam tirar-lhes o fôlego, trabalhadores da Bayer foram à porta da fábrica vestidos de patrões, usando máscaras respiratórias autônomas. Para manifestações como esta, Uwe mobiliza os trabalhadores do seu setor. „A participação dos companheiros é um belo reconhecimento da minha atuação como delegado sindical.“
Parte da remuneração varia em função dos resultados – unidade da Bayer em Leverkusen
Tradição secular - raízes no movimento operário alemão
Marcando presença, rumo ao futuro O Sindicato Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias Química, de Mineração e Energia na Alemanha – IG BCE O IG BCE cujo presidente atual é Hubertus Schmoldt, é o terceiro maior sindicato nacional filiado à central sindical alemã - DGB. Suas bandeiras de luta são a igualdade de oportunidades dos trabalhadores e gêneros e a melhoria das condições de vida e trabalho na economia social de mercado.
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O IG BCE é um sindicato jovem, embasado na história secular do movimento operário alemão. No início dos anos noventa, o Sindicatos dos Trabalhadores na Mineração e Energia (IG BE), o Sindicatos dos Trabalhadores nas Indústrias Química, de Papel e Cerâmica (IG CPK) e o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Coureira (GL) tomaram a decisão de unir as forças numa nova estrutura, com muitos sócios, força e determinação para enfrentar o futuro. A fusão foi efetivada em 1997 quando os três sindicatos fun-
O IG BCE marca presença nas fábricas – produção de Aspirina em Bitterfeld
daram o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Química, de Mineração e Energia com sede em Hannover. Hoje, o IG BCE conta com mais de 800 000 sócios. São mineiros, químicos, trabalham na exploração de petróleo e gás natural, nas indústrias de vidro, borracha e couro, fabricam plásticos e materiais não-metálicos, produzem papel e produtos cerâmicos, geram e distribuem energia ou estão a serviço de empresas de saneamento básico e
ambiental. O IG BCE segue os valores da solidariedade e a justiça social como condição para a liberdade do indivíduo na sociedade. Através das comissões de trabalhadores e dos delegados sindicais, o sindicato IG BCE tem um pé firme no chão das fábricas.
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Sempre alerta Erhard Gipperich, membro da comissão de trabalhadores e do conselho fiscal da Bayer AG Sindicalista de corpo e alma – Erhard Gipperich
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Quando pensa na aposentadoria Erhard Gipperich sabe que não será fácil entregar os cargos que ocupa. Pois na sua posição, ele pode fazer muito. Erhard é presidente das coordenações nacionais das comissões de trabalhadores, a nível da empresa e do grupo. Além disto, é vice-presidente do conselho fiscal da Bayer AG. É um homem influente, „até poderia dizer que tenho um certo poder“. Em 1998, Erhard assumiu a presidência da coordenação das comissões no grupo. O único direito desta estrutura representativa dos trabalhadores, que integra todas as comissões das empresas controladas pelo Grupo Bayer, é receber
informações da empresa. As competências da coordenação das comissões na empresa vão muito além: ela tem direitos reais de co-gestão. Para as comissões locais, que representam os trabalhadores nos estabelecimentos, qualquer informação é útil, já que os gerentes e diretores das empresas de grande porte costumam incentivar a concorrência entre as unidades. „Quando não prestamos atenção, eles caem em cima de uma fábrica e fecham um acordo favorável para eles. Depois, tentam forçar as demais unidades a engolir algo parecido.“ Para evitar reações em cadeia, Erhard tem de estar sempre alerta a tudo que acontece no grupo. E é isto que ele faz, com sua experiência de longa data e olhos de lince – horas e horas por dia, até nos finais de semana. As horas, ele não conta. „Com certeza, trabalho mais que 38 horas por semana.“ Afinal, a Bayer nunca pára. Quando ela vende uma das suas empresas, destino recente da fábrica de aromas Harmann & Reimer, a coordenação das comissões no grupo entra em ação. „Não é fácil para os trabalhadores quando uma empresa é obrigada a sair da família, sendo adotada por outra.“ Uma vez que as comissões de trabalhadores não têm direito de interferir nas decisões de caráter econômico, Erhard defende a causa dos trabalhadores no conselho fiscal. Os representantes dos trabalhadores não tiveram como impedir a alienação da Harmann & Reimer. Sua anuência no conselho fiscal, contudo, ficou condicionada a concessões da empresa: „Até
A empresa nunca pára – Centro de Pesquisa na Bayer em Wuppertal
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Empresas incentivam concorrência entre unidades – Extrusão de chapas de Makrolon
2007, não pode haver demissões por motivos empresariais. A nova empresa comprometeu-se a aplicar o contrato coletivo da indústria química.“ Após 40 anos a serviço da empresa, Erhard Gipperich conhece-a como poucos. Em 1965, este torneiro mecânico saiu do interior para trabalhar em Leverkusen. Antigo sócio do sindicato dos metalúrgicos, custoulhe muito acostumar-se com as estruturas do sindicato dos químicos. Na empresa também teve alguns problemas. Sua
tentativa de organizar uma greve na Bayer em Leverkusen, em 1971, deu com os burros n’água. Conseguiu mobilizar só 500 trabalhadores. „Frente a 36.000 funcionários de Leverkusen, este número foi insignificante.“ Em 1972, foi eleito membro da comissão de trabalhadores. Após o primeiro mandato, não se candidatou à reeleição. „Briguei demais com o então-presidente da comissão. Ele tinha postura de monarca.“ Nas eleições de 1978, decidiu concorrer com uma
chapa própria e, por pouco, não foi expulso pelo sindicato dos químicos. „Sou sindicalista, de corpo e alma, e lutei pela permanência no sindicato.“ No fim, fizeram as pazes, e a partir de 1981, Erhard voltou a concorrer na chapa do sindicato dos químicos.
Posso indicar o caminho Hoje Erhard tem menos tempo para trabalhar na base. Apesar disto, não perde de vista as preocupações e os problemas dos trabalhadores por estar sempre em contato com os delegados sindicais. A partir desta sólida base de informações, pode aproveitar ainda mais o espaço criado pelos cargos que ocupa. „Nas minhas conversas e negociações com a direção da empresa, consigo definir rumos e indicar caminhos apropriados. Quando não existem objeções maiores, é isso que é feito.“ No momento, Erhard analisa se o acordo coletivo relativo ao futuro das unidades e a gestão integrada dos recursos humanos podem e devem ser aplicados a todas as empresas do grupo Bayer. A questão é bem complicada. Tendo em vista que o acordo foi fechado pela coordenação das comissões do grupo, sua aplicação interferiria nas prerrogativas de co-gestão das comissões locais. Convencer todos os companheiros é um trabalho que exige tempo: por isso, Erhard vai de fábrica em fábrica, para conversar com todos. Na sua opinião, um acordo aplicável ao grupo inteiro, traria muitas vantagens. „Com uma gestão integrada dos recursos humanos, poderíamos evitar demissões.“ Ou seja: quem perder seu emprego em uma das sociedades da Bayer, pode ser transferido para outra empresa do grupo. Erhard passa muito tempo em reuniões. Além da preparação dos conteúdos, ele às vezes tem que compilar a ordem do dia, coordenar os debates e canalizar opiniões divergentes, rumo a deliberações majoritárias. Ele
cuida da estrutura da comissão de trabalhadores, reúne-se com a OLT dos jovens e aprendizes, discute com a direção da empresa os indicadores econômicos e o balanço anual. A direção da empresa comunicou-lhe que pretende enviar um representante à próxima sessão da coordenação das comissões para apresentar a todos a nova ‘Visão Institucional’ da Bayer. O documento diz que a Bayer é uma empresa inovadora, voltada para o futuro. Com um quê de ironia, Erhard comenta a questão: „Veja só: esta semana, eles vão palestrar sobre o potencial inovador da Bayer, já na próxima, querem negociar conosco a redução dos investimentos em pesquisa.“
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A co-gestão é uma ra rari Hans-Joachim Möller e Thomas de Win, representantes dos trabalhadores no Fórum Europeu da Bayer
europeu, as mudanças no Grupo Bayer e seus efeitos sociais. Que motivos levaram os representantes dos trabalhadores na Bayer a fundar o Fórum Europeu no início dos anos noventa? Hans-Joachim Möller – Naquele tempo, a concepção da Bayer mudou: quando falava em ‘mercado interno’, não pensava mais somente na Alemanha mas sim no mercado europeu. Naquele momento, os trabalhadores tinham de reagir e iniciaram sua troca de experiências internacional. Pois no início dos anos noventa, os trabalhadores e seus representantes quase não tinham contatos internacionais. Deve ter sido difícil construir um Fórum Europeu... O Fórum Europeu não é o fórum da co-gestão – Hans-Joachim Möller, presidente do Fórum Europeu
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Além de vender seus produtos no mercado internacional, os grupos empresariais espalharam suas fábricas pelo planeta. À diferença da globalização das empresas, a internacionalização da atuação de sindicatos e representantes dos trabalhadores, em muitas empresas, é um fenômeno ainda recente. Neste sentido, a Bayer é uma exceção: a cooperação européia dos representantes dos trabalhadores, para além das fronteiras nacionais, já tem uma certa tradição. Desde 1992, representantes da Bayer de toda a Europa reúnem-se em Leverkusen para sua sessão anual. Hans-Joachim Möller e Thomas de Win, respectivamente presidente e vice-presidente do Fórum Europeu da Bayer, acompanham, a nível
Hans-Joachim Möller – Não foi fácil. O modelo alemão da co-gestão é único. Na maioria dos países da Europa não encontramos nada parecido. Passamos, portanto, por alguma dificuldade de conceitos. Houve companheiros de outros países que confundiram as duas formas de co-gestão, ou seja, a co-gestão na fábrica e a co-gestão no conselho fiscal. Pensavam que os trabalhadores alemães, já que estão representados nos conselhos fiscais, decidem as questões empresariais, de igual para igual, junto aos diretores. Alguns rejeitavam a cogestão, afinal ela sempre implica uma co-responsabilidade. Mas, o debate sobre a co-gestão é um tema a parte. Pois a princípio, as comissões de trabalhadores a nível da Europa são fóruns de informação, consulta e troca de experiências, entre a empresa e os trabalhadores. Thomas de Win – Temos ainda o problema da língua. É mais difícil conversar quando se precisa de intérpretes.
raridade Os conceitos e convicções diferentes têm dificultado o funcionamento do Fórum Europeu? Hans-Joachim Möller – No início enfrentamos uma ampla gama de conceitos divergentes. Debatemos, por exemplo, a questão da participação de representantes sindicais: algumas delegações fizeram questão que o Fórum Europeu da Bayer integrasse representantes sindicais de todos os países. Nós, os representantes da Alemanha, partimos da convicção de que caberia aos trabalhadores das unidades européias tomar a frente no processo e informação e consulta realizado
no Fórum Europeu da Bayer. Contando com o apoio e a consultoria de entidades sindicais competentes, a nosso ver, o sindicato IG BCE ao qual, na Alemanha, compete representar os trabalhadores do grupo Bayer, e a Federação Européia dos Sindicatos dos Trabalhadores nas Indústrias de Mineração, Química e Energia - EMCEF. Nem todos aprovaram esta proposta. Algumas delegações fizeram questão que os representantes sindicais dos seus países fossem também incluídos. Além da composição do Fórum, que, com isto, teria tido o dobro de membros, ele teria sido transformado em algo totalmente diferente, em um tipo de reunião de sindicatos europeus no qual os representantes das fábricas, na pior das hipóteses, teriam sido relegados a um papel secundário. Uma delegação até ameaçou sair do Fórum Europeu da Bayer caso sua proposta não prevalecesse. Para sair do impasse, fizemos uma visita aos companheiros e debatemos a questão com eles e com os sindicatos locais. Com o tempo, a nossa proposta foi aceita e, hoje, todas as delegações nacionais participam do Fórum. Quais são os benefícios do Fórum Europeu para os trabalhadores na Bayer? Thomas de Win – Certas decisões da empresa afetam muito mais de uma unidade. Monitoramos estes processos, do ponto de vista social. Vejamos um exemplo: há pouco mais de três anos, a Bayer concentrou todas as suas atividades contábeis na Alemanha em apenas dois centros de contabilidade. Para os demais países da Europa, criou um centro de contabilidade único na Espanha, Temos que pensar além do continente europeu – Thomas de Win do Fórum Europeu da Bayer
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na cidade de Barcelona. Naquela ocasião conseguimos defender os direitos dos trabalhadores afetados. Os funcionários que foram transferidos a Barcelona tiveram todos os seus direitos assegurados. Para possibilitar candidaturas internas, as vagas abertas nos novos centros de contabilidade foram anunciadas na empresa. Hans-Joachim Möller – Quando a Bayer anunciou sua intenção de desmembrar a produção química, reivindicamos com sucesso que, na reestruturação subseqüente, ela apenas poderá recorrer a demissões quando o resultado desejado não pode ser alcançado por medidas alternativas. Se os representantes dos trabalhadores acreditam que a empresa faz uso de demissões sem ter considerado as saídas alternativas, eles podem apelar à junta de arbitragem do Fórum Europeu. Por mais que não tenhamos conseguido proibir as demissões, a nível europeu, isso significa um grande avanço sobre o teor de legislação européia. Por Lei, temos apenas o direito da informação e consulta. O Fórum Europeu traz algum benefício para o modelo da co-gestão? Thomas de Win – No Fórum Europeu recebemos informações em primeira mão sobre todas as unidades na Europa. Conhecemos a estratégia empresarial e as condições vigentes em outros países. Descobrimos que a lamúria dos empresários alemães, que tacham a co-gestão à moda alemã de demasiado formalista e rígida, carece de fundamento, já que os modelos em outros países são bem mais burocráticos. As empresas são atores globais, já estão muito além da Europa. A Bayer não precisaria de um modelo de co-gestão global?
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Thomas de Win – Sem dúvida, temos que pensar além do continente europeu.
Mas antes de entrar no debate sobre uma comissão global dos trabalhadores na Bayer, as outras regiões têm que dar o passo que demos na Europa, ou seja, criar suas articulações regionais. Hans-Joachim Möller – Temos que ter clareza se queremos uma organização viva ou uma estrutura apenas formal? No início, o Fórum Europeu era um órgão um tanto formal. Hoje é uma organização cheia de vida. Um dia teremos a nossa comissão global dos trabalhadores, uma comissão de verdade, uma comissão que não fique no papel. Os primeiros contatos foram feitos, o compromisso foi assumido: a semente foi lançada, germinou, e cabe a nós cuidar desta pequena muda. Sabemos que existe a concorrência interna, entre as unidades da Bayer. Quando uma unidade é beneficiada, as outras podem ficar para trás. A solidariedade internacional é uma possibilidade real? Hans-Joachim Möller – Uma solidariedade que pensa apenas nos interesses dos outros não existe. Mesmo assim, podemos representar nossos interesses sem prejudicar os outros. Eu sou membro da comissão de trabalhadores na unidade de Brunsbüttel e, antes de mais nada, represento os interesses dos meus companheiros. É isso que os trabalhadores que me elegeram esperam de mim. Ao mesmo tempo, temos a solidariedade internacional. Ela significa unir o que pode ser unido, trocar experiências sobre as diferenças e defender nossa causa coletiva, quando necessário, com manifestações ou até mobilizações! Mas, no frigir dos ovos, cada unidade tem a obrigação de defender os seus interesses. Exemplos concretos não faltam.
Queremos uma organização viva ou uma estrutura apenas formal? Unidade da Bayer em Tarragona
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A co-gestão nos conselhos fiscais
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Ao lado da co-gestão nos estabelecimentos, os trabalhadores alemães também dispõem da possibilidade de influir no encaminhamento de decisões sobre a gestão dos negócios da sua empresa. As comissões de trabalhadores e os sindicalistas têm assento nos conselhos fiscais das empresas. Sociedades anônimas e cooperativas devem ter um conselho fiscal; o mesmo vale para as sociedades de responsabilidade limitada, desde que preencham determinados pré-requisitos. Todas as outras empresas podem ou não instituir um conselho fiscal. Fazem parte das tarefas do conselho fiscal a eleição dos diretores da empresa e o controle da gestão dos negócios da empresa. O conselho fiscal analisa a prestação de contas e determina que operações comerciais importantes somente podem ser realizadas com a sua anuência. A forma de participação dos trabalhadores no conselho fiscal depende do tamanho da empresa e do respectivo setor. Existe, porém, um denominador comum: a maioria sempre é dos acionistas da empresa. A participação dos trabalhadores é mais pronunciada no setor de mineração e na indústria siderúrgica. A assim chamada Lei de Co-gestão na Indústria do Carvão e do Aço (1951) vale para as empresas do setor siderúrgico e carbonífero que empregam mais de 1000 trabalhadores e são sociedades anônimas ou sociedades de responsabilidade limitada. A lei prevê a participação de um ‘diretor de trabalho’ na direção da empresa. O número dos membros do conselho fiscal depende do tamanho da empresa.
A metade dos representantes dos assalariados trabalha na empresa. Em regra, a outra metade é proposta pelas organizações de cúpula dos sindicatos. Mesmo na indústria do carvão e do aço os empregadores têm a maioria dos votos. Um dos representantes dos assalariados representa os funcionários em cargos de liderança. Ocorrendo um empate, o presidente do conselho fiscal, sempre nomeado pelos acionistas, exerce o voto de Minerva. A redução do número de empresas mineradoras e siderúrgicas resulta na diminuição progressiva da importância da co-gestão na indústria do carvão e do aço. Na área de atuação do IG BCE existem algumas empresas regulamentadas pela Lei da Co-gestão na Indústria do Carvão e do Aço, como a RAG AG e RWE Power AG. Até meados dos anos setenta, todas as outras empresas conheceram uma participação na ordem de um terço no conselho fiscal. De acordo com essa regra, dois terços dos assentos eram ocupados pelos acionistas e um terço pelos representantes dos trabalhadores. Essa forma de participação vale ainda hoje em empresas com menos de 2000 assalariados. Para empresas com um número maior de assalariados o legislador prevê desde 1976 uma composição quase paritária dos conselhos fiscais. Isso significa que os assentos no conselho fiscal se distribuem pela metade entre os representantes dos trabalhadores e os representantes dos acionistas. Empates são, porém, decididos pelo presidente do conselho fiscal, nomeado pelo empregador.
Sede do Grupo Bayer em Leverkusen
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Contato imediato com Sindicalistas da Bayer no Brasil criam rede sindical. Graças ao Observatório Social, diálogo com a empresa avança. „Estamos progredindo”, afirma Edson Luiz de Barros e não esconde sua satisfação. O sindicalista de Belford Roxo (RJ) é coordenador do comitê da Rede dos Trabalhadores na Bayer, criada em julho de 2004. Pouco após a criação, o comitê registrou a primeira vitória: a direção da empresa finalmente concordou com a candidatura de diretores sin-
Trabalhadores polivalentes – Erivaldo Portela Corua da Bayer
dicais nas eleições para as comissões de fábrica. Este direito, que na Alemanha é nada mais do que normal, no Complexo Industrial da Bayer em Belford Roxo havia causado muitas polêmicas. A comissão de fábrica que, à diferença das comissões de trabalhadores na Alemanha, não é uma obrigação legal, foi criada pela empresa, em 1991, dois anos após a primeira greve na Bayer do Brasil.
Greve e corte de empregos
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„Os tempos eram outros”, os veteranos do Sindicato dos Químicos lembram-se daquela época sem nenhuma
nostalgia. „A greve de 15 dias foi um fracasso e em 1992 o sindicato quase rachou.” As lideranças atuais são oriundas da chapa de oposição que ganhou as eleições de 1997. „A greve foi o resultado de erros, cometidos por ambos os lados. Foi uma derrota, para nós e para o sindicato que perdeu metade dos sócios”, explica Jorge Eduardo Cavalcanti, que acompanha o projeto Observatório Social Europa em nome da direção da Bayer. Cavalcanti acrescenta que a empresa, desde então, começou a abrir-se, tentando estabelecer o que chama de ‘comunicação eficiente’. Para fazer da comissão de fábrica em Belford Roxo, na época com 20 membros, um ‘órgão independente’, os sindicatos ficaram de fora. „O raio de ação da comissão sempre ficou muito restrito”, critica Edson Luiz de Barros, „hoje ela conta com apenas três membros.” Desde o começo dos anos noventa, a empresa vem reduzindo seus quadros. Dos 2.600 trabalhadores da Bayer restam apenas 580 e o número de sindicalizados caiu de 2.300 para trezentos. Hoje, a direção da empresa explica a falta de competitividade de muitas unidades brasileiras pela onda liberalizante e pela abertura dos mercados. „Na época, atribuíram parte da culpa à nossa greve”, lembra o sindicalista Rogério Galvão Soares. „O que vivenciamos não é a globalização dos direitos trabalhistas, mas sim a dos mercados”.
A polêmica da reestruturação „Ao longo dos últimos anos, a pressão aumentou a cada dia”, informa Erivaldo Portela Corua (39), que monitora o processo da unidade de polímeros a partir de uma das salas de controle. „A Bayer começou a adotar uma tabela de cargos e salários mais diferenciada, le-
com om a direção da empresa
vando em consideração o desempenho do trabalhador.” Em decorrência da informatização, os operadores tiveram que assumir várias tarefas adicionais, hoje ‘todos fazem de tudo’. Competição e concorrência começaram a afetar o ambiente de trabalho, que a princípio era bom: „cresce o medo da demissão, nesta e nas demais unidades. E transferir a produção se torna cada vez mais fácil.” A situação é agravada pela reestruturação do grupo empresarial. Desde que a CropScience foi desmembrada da Bayer S.A, os sindicatos do complexo industrial são obrigados a negociar com duas empresas. A CropScience, desde longe a empresa mais rentável do Grupo
Bayer, ainda não abriu as portas à equipe do Observatório Social, cuja pesquisa ficou restrita às unidades da Bayer S.A. em Belford Roxo e São Paulo, o pólo de produção farmacêutica. A LanXess, empresa recém-fundada que integra os negócios de produtos químicos e parte dos negócios de polímeros da Bayer e cuja maior unidade no Brasil se encontra Porto Feliz (SP), até agora só foi objeto periférico da pesquisa. „Em Belford Roxo, 350 aposentados foram transferidos da Bayer S.A. para a Lanxess”, informa Edson Luiz de Barros. „Nossa preocupação é que os direitos sociais serão colocados em xeque no momento em que as ações são lançadas na bolsa
Concorrência crescente – unidade da Bayer em Belford Roxo
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Decisões estratégicas são tomadas na Alemanha – sindicalistas brasileiros da Bayer no sindicato IG BCE
Medo de demissões – trabalhadoras da Bayer em Belford Roxo
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de valores”, e continua, „nós apenas somos informados depois das mudanças.” Denilson da Silva Cavalcanti, colega de Edson na Bayer, acrescenta: „no fim dos anos noventa presenciamos a moda da terceirização – para os trabalhadores, esta moda trouxe redução dos salários e
benefícios sociais. Hoje chamam isto de reestruturação: criam novas empresas e reduzem nossos direitos, por mais que o proprietário e o local continuem sendo os mesmos. Mandam e desmandam como querem: às vezes, a CropScience faz parte, outras não.”
Abertura e diálogo „As decisões estratégicas, como a da reestruturação, são tomadas na Alemanha”, explica Jorge Eduardo Cavalcanti, refletindo o ponto de vista dos diretores brasileiros. „E nós aqui temos de implantá-las, o que nem sempre é uma tarefa simples. Nós sempre queremos fazer isto com o máximo de dignidade e responsabilidade. É claro que os sindicatos reclamam que apenas são informados quando tudo está decidido.” Mas nem sempre as mudanças acontecem às custas dos trabalhadores, confirma Geraldo de Souza Guimarães, da unidade de São Paulo. „Aqui, na sede da empresa, as relações entre os parceiros sociais nunca foram tão tensas como em Belford Roxo.” Enquanto Edson Luiz de Barros lamenta que em Belford Roxo ainda falta disposição para negociar melhorias, com base nos resultados da pesquisa do Observatório Social, Geraldo constata que, em São Paulo, „já há uma sensibilidade maior.” Geraldo conta que a empresa, no final de setembro de 2004, concordou com a implantação de comissões de fábrica na CropScience e na LanXess, o que, a seu ver, é „um grande avanço“. No mais ele informa que o Comitê Nacional foi reconhecido pelas empresas e que Gilda Borges, representante da LanXess disse que as portas da empresa estariam abertas aos pesquisadores do Observatório Social. Edson Luiz de Barros comenta que Armin Burmeister, porta voz do Grupo Bayer no Brasil, pela primeira vez teria falado em ‘maior transparência’ e anunciado um diálogo mais contínuo. Por fim, este militante sindical, com a experiência de muitas negociações, diz que está ansioso para ver os próximos avanços.
Edson Luiz de Barros sobre sua visita à Alemanha Estive na Alemanha em setembro de 2003. Fomos muito bem recebidos, gostei muito da hospitalidade, da comida e do tempo porque prefiro mesmo um clima menos quente. Fiquei surpreso que lá há poucos negros. A estrutura sindical da Alemanha é bem diferente da nossa, afinal, aqui temos mais de 15.000 sindicatos. Acho que também tem a ver com a cultura, aqui o pessoal é mais vaidoso e invejoso. Nas visitas, fiquei muito impressionado com o trabalho da juventude sindical, pena que para isso não temos recursos.
Impressionado com a juventude sindical – o sindicalista Edson Luiz de Barros
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O primeiro passo Michael Linnartz, departamento de Relações Internacionais – Europa do IG BCE No quesito internacionalização, os patrões estão anos luz à frente dos sindicatos. Os contatos internacionais das empresas são de longa data. É relativamente simples estabelecer relações comerciais, para além das fronteiras. As entidades patronais, a nível mundial, estão mais bem posicionadas, diz Michael Linnartz do departamento de Relações Internacionais do Sindicato Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias Química, de Mineração e Energia da Alemanha IG BCE, com sede em Hannover. Agora é hora de os trabalhadores se unirem a nível internacional. Michael, o que o IG BCE espera do projeto do Observatório Social, da análise criteriosa das condições de trabalho nas unidades da Bayer no Brasil? Michael Linnartz – O caminho mais indicado para atingir a nossa meta, a globalização de direitos, é o contato direto com os companheiros. Para isso precisamos de projetos deste tipo. Acredito que, com isto, possamos ajudar os companheiros e as companheiras no Brasil. Antes de termos iniciado o projeto, sabíamos que nem todos os sindicalistas brasileiros têm acesso às fábricas. Aqui na Alemanha, os contatos com a direção das empresas são até bons. Apesar de negociações difíceis e duras, obtemos bons resultados nas campanhas salariais e nos processos de reestruturação negociada. E, nas reuniões com os diretores, conversamos até sobre a situação no Brasil. Se a direção na Alemanha diz que a filial brasileira deve abrir as portas aos sindicalistas, os diretores no Brasil fazem isto. O que deveria ser mudado nas unidades brasileiras?
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Michael Linnartz – À diferença das comissões de trabalhadores na Alemanha, as comissões de fábrica brasileiras não têm nenhum direito de co-gestão.
Contatos internacionais – Michael Linnartz
Seu único direito é o de ser informado pela gerência. Por muito tempo, diretores sindicais não podiam ser membros das comissões de fábrica. Graças ao nosso projeto, isto mudou no final de 2004. Quais são as reivindicações concretas? Você pensa, por exemplo, no fim da incompatibilidade dos mandatos no sindicato e na comissão? Michael Linnartz – Não era possível reivindicar tudo de uma só vez, ou seja exigir a imediata admissão dos diretores
Conversamos com os diretores sobre o Brasil – trabalhadora na Bayer do Brasil
sindicais às comissões. Se tivéssemos armado um grande ‘auê’, eles teriam batido a porta na nossa cara. Importante era lançar o assunto ao debate. É isso que fizemos no Brasil: incentivamos o diálogo entre sindicato e gerência, de igual para igual. Ambas a partes têm que deixar de lado suas ressalvas, sua desconfiança. Muitos gerentes no Brasil têm uma idéia muito extremada dos sindicatos. Acham que o sindicato é um bando de revolucionários que criar tumultos nas fábricas. A primeira tarefa é superar esses receios. Quando fomos ao Brasil, em março de
2004, a Bayer mostrou-se aberta ao diálogo. Na Bayer CropScience, os trabalhadores também vão eleger sua comissão de fábrica. O primeiro passo foi dado: sindicato e empresa começaram a dialogar. A eleição de diretores sindicais para a comissão de fábrica traz alguma vantagem para o trabalhador? Michael Linnartz –O sindicalista é mais preparado. Devido a sua militância sindical, possui mais informações que o trabalhador em geral. Vejamos o caso
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De igual para igual – reunião com diretores da Bayer do Brasil
das condições de trabalho: as críticas mais fundamentadas normalmente são feitas por sindicalistas.“ Os sindicalistas brasileiros se interessam pelo movimento sindical na Alemanha, pelo modelo da co-gestão?
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Michael Linnartz – Bastante! O movimento sindical brasileiro está passando por um momento decisivo da sua história. Se depender do presidente da república, haverá uma mudança completa da estrutura sindical. Estas mudanças provocaram discussões acirradas no movimento sindical brasileiro e nossos
companheiros analisam a situação nos outros países, inclusive na Alemanha, o que tem suscitado muitas perguntas e dúvidas, por exemplo, quanto às funções das comissões de trabalhadores na Alemanha. E no início foi difícil acreditar que um membro da comissão na Alemanha pode também exercer um mandato no sindicato. Como os sindicalistas brasileiros avaliam a cooperação com os sindicatos alemães? Michael Linnartz – Os diretores sindicais apreciam esta cooperação. Dizem
Lutar por condições de trabalho semelhantes – unidade da Bayer em Belford Roxo que o projeto ajudou a abrir portas. Até o momento, a cooperação foi bastante positiva. Cabe a nós ter clareza da nossa atuação no Brasil: onde é oportuno interferir, onde não? Seria errado assumir uma postura de ‘sabe-tudo’. Ao mesmo tempo é preciso ter e tomar a liberdade de opinar: quando estivemos no Brasil, os companheiros do Observatório Social quiseram fazer um tipo de cerimônia oficial para entregar o relatório sobre as condições de trabalho à Bayer. Desaconselhei-os de fazer muito alarde porque temia que as portas, com isto, iriam se fechar.
A melhoria das condições de trabalho no Brasil trará algum benefício para o trabalhador alemão? Michael Linnartz – Nós temos que lutar por condições de trabalho semelhantes no mundo inteiro. Na Alemanha também passamos por momentos difíceis: muito se fala da volta generalizada à jornada de 40 horas semanais, e o modelo da contratação coletiva, dos contratos coletivos, tornou-se objeto de críticas severas.
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Expediente Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Química, de Mineração e Energia na Alemanha – IG BCE Departamento de Relações Internacionais – Europa Königsworther Platz 6 30167 Hannover Alemanha fone: 0511 76310 Fax: 0511 7631715 e-mail: michael.linnartz@igbce.de www.igbce.de Observatório Social Europa Naritaweg 10 1043 BX Amsterdam Países Baixos Fone: 0031 20 5816 651 Fax: 0031 20 6844 541 e-mail: info@observatoriosocial.org www.observatoriosocialeuropa.org DGB Bildungswerk Rede Norte–Sul Hans-Böckler-Straße 39 40476 Düsseldorf Alemanha Fone: 0049 211 4301 592 Fax: 0049 211 4301 500 e-mail: manfred.brinkmann@dgb-bildungswerk.de www.nord-sued-netz.de
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Redação Karen Brouwer Manfred Brinkmann Michael Linnartz
Textos Gerhard Dilger, Fabienne Melzer, Bernhard Stelzl, Karen Brouwer
Revisão Marten Henschel
Fotografias Bayer AG, Thomas Range, Gerhard Dilger, Karen Brouwer, Manfred Vollmer, Observatório Social, Michael Cintula
Ilustrações Frank Maia
Editoração gráfica Gerhard Weiland
Tradução Marten.Henschel@textdesign-sprachen.de
Impressão Tiragem 3.000 exemplares Publicado em janeiro de 2005 Publicado com apoio financeiro da União Européia e do Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha
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