O Casarão nº zero

Page 1

1 no. zero - outubro 2012

no. zero - outubro 2012

s 贸 n~ o a n o s m ~ te 莽ao a c edu


2

no. zero - outubro 2012

Editorial

3HUÙO Por Jéssica Alves

Fazer ressurgir o papel pintado na própria casa. A ideia nasceu de ǡ ϐ ­ ǣ ­ À ­ × ǫ ­ × Ǧ Ǧ × Ǥ ǡ ǡ ǡ Ǧ timam à leitura, pedem dobradura e já se conhecem amassadas no lixo. ­Ù Ǥ ǡ Ǥ Ǥ ǡ À ǡ Ǧ ǡ Ǥ Ǧ Ù ǣ ­ Ø Niterói e, aos trancos e barrancos, deixaram legado. Fizeram história ͻͲǤ SACI ϐ Dz ± dz Aliás, Ȃ À Ȃ Ǥ ϐ ± O Casarão, ± ͵ǡ menos páginas, mas com a mesma liberdade. Ø À Ǥ ǡ ǣ Ǧ das com majestosas reportagens. Conseguimos oito páginas em preto e × ǡ Ǥ Ù Ȃ ǡ ǡ ­ Ǧ ǡ À Ǧ Ȃ Ǥ ǡ ± Ǥ Ǧ Ǥ ×Ǧ Ȃ ǡ Ǧ ǡ Ǥ ² ï ϐ Ǥ ² ǡ ǡ Dz ǡ dzǤ ­ ­ ǡ ± Ǧ ǣ Ǥ Ǥ ­Ù ± ­ Ǥ ­ ± ǡ Ǥ ǡ ­ ǡ ǣ Dz ± dzǤ ï ǡ ­ ­ ­ Ǥ Ǧ ǡ ǡ ϐ À Ǥ ǡ ǡ ­Ù ² × Ǥ ± ǡ Ǥ ­ ǡ Ǥ ǡ ­ Ǥ Dz dzǡ ǡ ǡ ­ Ǥ ȋ ­ ǫȌǤ 2 Ȃ ǡ Ǧ ǡ ǡ Ǧ ǡ Ȃ ǡ ǡ ǡ dos imperantes ditames mercadológicos. À ­ ǡ ² Ǥ ǡ ǡ Ǩ Ǧ ­ ι Aliás,ǣ Dz ǡ ² ­ Ǥ Ȁ ± ǡ ϐ × ϐ ­ dzǤ Ǥ Ǩ

O adeus de Jorginho

“Eu brinco que tenho sete, igual a gato. Três já foram”

ơ ǡ Ǧ ʹ͵ ǡ tudo no deslizamento do morro do ǡ ʹͲͳͲ × Ǥ ² no rosto e a simpatia na hora de atender os clientes da Pizzaria PicǦ ǡ ϐ Ǧ ǡ Ǧ Ǥ ± Ǧ À ±Ǧ ǡ ͳͻ Ǥ Dz ͳͻ Ǥ Ǥ Ǧ ǡ Ǥ Ǥ ± Ǥ ǡ Ǥ ² dzǡ Ǥ Ǧ casa, há cerca de um ano atrás, após ± Ǥ Dz ­ ǡ ǡ ǡ Ǥ ǡ Ǥ ǡ ǡ ǡ ǡ × Ǧ ­ Ǥ Ǧ ± Ǥ dzǤ ǡ Ǧ À × ǡ ± ơ ǡ Ǧ ͳͻͻ͸Ǥ ǡ ­ Ǧ ǡ Àǡ ϐ Ǧ mana. O pai de Paulo batizou o emǦ Ǥ ǡ Ǧ pliar o empreendimento e construir Ǧ Ǥ ± ǡ × Ǥ ʹ͸͹ À Ǧ Ǥ À ± Ǧ

Ǥ Ǧ ǡ ǡ À Ȃ Ǧ Ǥ ǡ × Ǥ Dz Ǥ ǡ Ǥ Ǥ ± ² Ǧ dzǡ Ǥ Ǧ lo, no dia anterior ao deslizamento, Ǧ ǡ ± Ǧ desabar. À ͳͺ ǡ ǡ . Dz Ǧ ǡ Ǥ ǫ ² Ǥ ǡ ± Ǩ Ǧ ± ǡ Ǧ dzǡ ϐ Ǥ Ao retornar da entrega, Paulo só encontrou lama e escombros. Dz ǡ Ǥ À ̈́ ͷͲǡ Ǥ × dzǤ ǡ × ­ Ǥ ǡ ǡ ïǦ ǡ ϐ ǡ na hora do deslizamento, mas tamǦ ± ± Ǥ À ǡ conseguiu reerguer a Piccola e, deǦ ǡ Ǧ ϐ ǡ ­ Ǥ À ­ ǡ Ǧ ­ ǡ ± Ǥ ǡ ± Ǧ ǡ

À pela moradia ou pelo aluguel, ele e ² Ǧ À Ǥ ± ǡ À ± Ǧ À Ǥ Dz Ǧ ­ Ǧ Ǥ ̈́ ͶͲͲǡ ± Ǥ Ǥ × Ǥdz Ǧ ­Ù ÀǤ Dz2 ± ² e oito apartamentos por andar. Com Ǥ ǡ Ǥ ǣ ǡ ± dzǤ ò² ± ǡ sucesso de suas pizzas em Niterói. ǡ ǡ Ǧ das triplicaram após a ida ao ProǦ ²Ǥ programa contando a sua história, Ǧ ± Ǧ preendente retomada ao trabalho. Paulo segue com os negócios da À ǡ

ͳ͸ Ǧ ǡ Ǥ ǡ ­ Ǥ Ǧ ǡ ² ­ ϐ ± Ǥ ǡ de amigos e clientes, comprar todo ­ Ǥ Dz Ǧ Ǥ ± Ǩdzǡ Ǧ Ǥ Ǧ ï ǡ ϐ Ø ǡ ͹ Ǥ ϐ Ǧ ­ ǡ Ǧ ­ Ǧ Ǥ

O CASARÂO Equipe: Arthur Figueiredo, Elena Batista Wesley, Fernanda Costantino, Filippe Pimenta Irrazábal, Gabriel Vasconcelos, Gustavo Cunha, Gustavo Lethier, Jéssica Alves, Júlia Albuquerque, Juliana Ayres, Leonardo Pimentel Freire, Luísa Mello, Luiza Barata, Marcelo Studart, Mariana Ayres, Mariana Pitasse, Rebeca Rocha, Renan Castro, Thaianne Coelho e Thamiris de Paiva Alves. Agradecemos a orientação dos professores Ildo Nascimento, Larissa Moraes, João Batista de Abreu, Márcio Castilho e Alceste Pinheiro. Correspondência: ocasarao12@gmail.com - Rua Lara Vilela, 126 - São Domingos - Niterói - RJ -CEP: 24210-590 TODO O CONTEÚDO É DE RESPONSABILIDADE DE SEUS AUTORES

APOIO


3 no. zero - outubro 2012

nÂş 3 zero - outubro 2012

ANTIGO MUSEU DO Ă?NDIO

Ocupação

Cinco anos de pedra no sapato

Por Gabriel Vasconcelos e Luiza Barata )RWRJUDÂżDV 7KDLDQQH &RHOKR

Q

uem acompanha de perto as obras do Maracanã para a Copa de 2014 logo repara o casarão antigo no outro lado da rua, em frente ao portão 13 do estådio. São as ruínas do antigo Museu do �ndio e, ao contrårio do que parece, o lugar não estå abandonado. Uma ocupação de índios de 17 etnias jå completa seis anos, numa resistência que pretende a instalação de um centro cultural no local, uma referência à cultura indígena viva no país. Ao todo são oito casas de pau-a-pique que povoam o entorno do casarão, uma para cada tribo. Hoje, estão no local índios das tribos Guajajara, Pankararu, Xavante, Guarani, Apurinã, Fulni-ô, Pataxó, Potiguara e Puri, mas isso varia porque alguns índios são residentes ¿[RV HQTXDQWR RXWURV DOWHUQDP D YLGD QD WULER com a cidade. Fato curioso Ê que não hå uma liderança e as decisþes são tomadas em conjunto por todos os membros. As condiçþes não são as melhores. O banheiro Ê coletivo e o abastecimento de ågua e energia vem de uma fonte única liberada pelo órgão proprietårio do terreno, a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), com sede vizinha à ocupação. Mesmo assim, Ê visível o esforço para tornar o ambiente mais familiar aos ocupantes. No terreno Ê possível ver algumas ocas tradicionais e enfeites de palha por todo lado. Jå o interior do antigo museu não Ê ocupado, mas as paredes têm frases e pinturas evocando D OLEHUGDGH H D¿UPDomR GR SRYR LQGtJHQD DOpP

de mĂłveis abandonados. Todos se vestem com roupas comuns ao dia a dia da cidade, exceto por alguns adereços como um colar, brinco de pena ou cocar. Desde 1977, o Museu do Ă­ndio funciona na Rua das Palmeiras em Botafogo. Mas, para os ocupantes, enquanto o museu trata de uma cultura morta, o centro cultural fomentaria o Ă­ndio tal como ele ĂŠ hoje, vivendo tanto nas aldeias como nas cidades, misturado ao branco. “LĂĄ funciona o museu, mas nĂłs nĂŁo estamos mortosâ€? defende Niara do Sol, membro da tribo Fulni-Ă´. Assim como ela, os demais Ă­ndios defendem que o espaço receba um centro de estudo da histĂłria H FXOWXUD LQGtJHQDV RÂżFLQDV GH SLQWXUD FRUSRUDO e artesanato, e cursos de lĂ­nguas nativas para o pĂşblico em geral, alĂŠm de abrigar Ă­ndios que desejam vir estudar ou trabalhar na cidade. A idĂŠia ĂŠ que a gestĂŁo seja dos Ă­ndios, para que eles cuidem dos prĂłprios interesses. Paralelamente, a Diretora do Departamento de Pesquisas e Serviços do atual Museu do Ă?ndio, Renata Curcio Valente, alerta: o objetivo do museu nĂŁo ĂŠ o de prestar assistĂŞncia ao Ă­ndio. Os interesses sĂŁo muito mais voltados para a manutenção do acervo indĂ­gena, formado por GRFXPHQWRV UHJLVWURV IRWRJUDÂżDV H SHoDV 'Xrante o ano, o museu busca atrair a população nĂŁo-indĂ­gena para difundir e promover a cultura dos Ă­ndios. PrĂłximo ao mĂŞs de abril, quando ĂŠ celebrado o dia do Ă­ndio (19), as atividades se LQWHQVLÂżFDP

A

Um lugar para o índio O terreno sempre esteve ligado à causa indíJHQD $ ¿P GH HVWDEHOHFHU XP FHQWUR GH SHVquisa sobre o gentio brasileiro, o lote foi doado em 1865 à União pelo Marques de Saxe, seu primeiro proprietårio. O espaço, porÊm, abrigou a Escola Nacional de Agricultura, que daria origem a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), hoje localizada em SeropÊdica, na Baixada Fluminense. Os laços com os índios só foram restabelecidos em 1910, quando Marechal Rondon criou o Serviço de Proteção ao �ndio (SPI) sediando-o no casarão. Mais tarde, em 1953, foi inaugurado no local o Museu do �ndio.

O SPI funcionou na cidade atÊ 1962, quando foi levado para Brasília, sendo extinto após o golpe militar de 1964, para criação da Fundação Nacional do �ndio (FUNAI), em novembro de 1967. Mesmo assim, o museu funcionou ali atÊ 1977, quando foi transferido para o número 55 da Rua das Palmeiras, no bairro de Botafogo, onde permanece atÊ hoje. Abandonado, o lote foi entregue só em 1984 a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) do MinistÊrio da Agricultura. Desde julho de 2012, o Governo do Estado do Rio de Janeiro negocia a compra do local.

direção do museu organiza uma espÊcie de orientação aos índios sobre o mercado. O REMHWLYR p TXDOL¿FDU H WRUQDU VXVWHQWiYHO D YHQGD do artesanato produzido por eles. São ensinadas coisas båsicas como estipular os preços das mercadorias e tambÊm o posicionamento e inserção do material indígena no comÊrcio. Em três anos de existência, a medida jå foi feita com cerca de 30 tribos. Outro programa de destaque Ê o PROG DOC, formado por pesquisadores lingßistas e antropólogos selecionados por meio de uma prova e que passam a integrar a coordenação do museu. Este grupo Ê encarregado de realizar estudos e registros de índios aldeados pelo país. A proposta do centro cultural ultrapassa os objetivos do museu, que foca apenas o índio aldeado. AlÊm de estar voltado para o público em geral, o centro atenderia tambÊm aos índios migrantes. Ambos funcionariam ao mesmo tempo, D ¿P GH FRQWHPSODU WDQWR R tQGLR QDV DOGHLDV como aquele que veio para as cidades, facilitando sua adaptação ao mundo urbano. Isso tudo, SRUpP GHSHQGH GD FHVVmR R¿FLDO GR WHUUHQR H investimentos para reforma do prÊdio e capacitação dos envolvidos. Os problemas são muitos. Ao contrårio do que jå foi veiculado em blogs alinhados à causa, a construção não Ê tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan), nem pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) ou pela Subsecretaria do Patrimônio Histórico da Prefeitura do Rio de Janeiro. E não påra por aí. O lote integra um terreno maior que pertence a CONAB, ligada ao MinistÊrio da Agricultura e, para a cessão do espaço, os índios atuam junto ao advogado Arão da Providência, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Desde 2006 jå foram acionados o MinistÊrio Público Federal, MinistÊrio Público Estadual, AssemblÊia Legislativa do Rio de Janeiro e Câmara dos Vereadores, alÊm de um pedido de repasse do imóvel diretamente a CONAB. O movimento tambÊm conta com o apoio da Fundição Progresso, que destacou seu engenheiro Fernando Mandarino para avaliar a situação da construção. Ele estå elaborando um projeto para o lugar e garante que, apesar de aparente-

mente muito degradado, a estrutura do prĂŠdio ainda estĂĄ conservada. Mandarino assegura que os principais gastos seriam com instalaçþes prediais como a parte elĂŠtrica, hidraulica e de gĂĄs, um novo telhado, madeira e pintura, o que nĂŁo ĂŠ o mais caro em grandes reformas. Mesmo com as limitaçþes, algumas atividades sĂŁo desenvolvidas. Uma delas ĂŠ o curso de Tupi-Guarani ministrado Ă s terças e quintas no Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro (ISERJ), parceiro da causa. O professor ĂŠ JosĂŠ Guajajara, Ă­ndio da tribo Guajajara e mestrando de linguĂ­stica da UERJ. AlĂŠm disso, a ocupação recebe visitas escolares e realiza encontros mensais com comidas tĂ­picas, contação de histĂłrias, demonstração de rituais e venda de artesanato, fonte de sobrevivĂŞncia de muitos deles e atividade protegida por lei. Outros parceiros sĂŁo o Centro de Arte Educação e Meio Ambiente (CAEMA), que oferece aos Ă­ndios cursos de empreendedorismo e gestĂŁo de cooperativas ou associaçþes, e o CEFET/RJ, que cede seu laboratĂłrio de informĂĄtica para eles. Apesar disso, desde julho, o Governo do Estado do Rio de Janeiro negocia a compra do lote. O estado pretende demolir o prĂŠdio e expandir para lĂĄ as obras e as instalaçþes do estĂĄdio de futebol MaracanĂŁ, que vem se preparando para receber a Copa do Mundo de Futebol. O lugar, segundo nota divulgada pelo prĂłprio governador SĂŠrgio Cabral, se tornaria uma ĂĄrea livre para que pessoas possam circular perto do estĂĄdio. “Uma ĂĄrea de mobilidade exigida pela Fifa e TXH HVWi FRUUHWD´ DÂżUPD R JRYHUQDGRU A Defensoria PĂşblica, no entanto, estĂĄ com uma ação para impedir a venda e manter a Aldeia MaracanĂŁ no local. Os Ă­ndios continuam lutando pela posse do espaço e pela construção do centro cultural. A ideia de gestĂŁo prĂłpria precisa amadurecer porque sĂŁo poucos os Ă­ndios realmente engajados e preparados para administrar um projeto como este. Mesmo assim, a causa jĂĄ ganha voz diante da sociedade, cujos interesses, cedo ou tarde, batem Ă porta das autoridades. Mas parece que para o governo ĂŠ mais importante espaços livres, desocupados e que atendam aos interesses da Fifa, do que apoio e propagação da cultura indĂ­gena nacional.


s ó n~ naoo temç~aso a c u d e

[ Ágora ] 4

no. zero - outubro 2012

ǡ Ø ǡ Dz Ǧ ͺ Ͷ ǡ Ǥ ± Ǥ ­ ǫdz ­ ϐ ± ­ ǣ do CAp-­UFRJ À ϐ ǡ professora

C

3RU *XVWDYR &XQKD H (OHQD :HVOH\

ontraste. Os argumentos contrários e Ǧ ȋ ȌǤ Ȃ Ø Ȃ ­ ǣ Dz ­ dz Dz ­ ï dzǤ ǡ ­ ǡ ­Ù ǡ Ǥ ǡ Ǥ ǡ ­ Ǧ ǣ Dz ± ǡ dzǤ ͳ͹ ǡ Ǧ ǡ ͵ͻ ­Ù Ǥ ² Ù ǡ ͳͳ͵ ­ ­ Ǧ ȋ ơȌǣ ͳͲͺ ǡ Ǧ ǡ Ǥ ǡ ǣ ʹʹ ² Ǥ ǡ Ǧ Ǥ ǡ ± Ǥ ǡ ǡ de duas laudas, pelas paredes do Instituto de ǡ ͵Ͳ Ǥ À Ȃ Ȃ Ǧ ï ǣ ǡ ± Dz dzǡ Dz ǡ dzǤ Dz dzǡ Ǧ ǡ ǡ ǡ Ǧ ² Ǥ ǣ Dz ͳͳ͵ ȋ Ȍ de cidir em nome

͵ͲͲͲ ǫdzǤ × ± À Ȃ Dz dzǡ Dz dz Ȃǡ ϐ ǣ existe empresário nem lucro para ser prejuǦ ǡ ï ± Dz Ǧ ciedade em geral e em particular os alunos da ­ dzǤ ­ ǡ ­ ǡ ± Ǧ × ǫ Dz ǡ × ² dzǡ Ǥ ± ­Ù Ǥ ǡ ϐ ­Ù ǣ Dz ǡ Ǧ ­ ï Ǧ dzǤ ǡ Ȃ Dz ǡ dzǤ Dz dzǡ Ǥ ǡ Ǧ ǡ Ǧ ǡ Ǥ ǣ Dz × Ǥ ï ǡ Ǧ ± Ǥ ± Ǧ ² ǫdzǡ Ǥ ­ ǣ ± do caráter lúdico das passeatas locais, os ϐ Ǥ ǡ Ǧ Ǥ ­ Ǧ ­Ù ² ǡ ­Ù ­

­Ù ȋ Ȍ Ǧ ­

ȋ Ȍ × Ǥ ­ ǡ Ǧ ϐ Ù base, por meio de assembleias locais. No dia ͳ͹ ǡ × Ǧ ­ Ȃ ϐ Ǧ ­ Ȃǡ Ǧ ­ ǡ ­ ­Ù ± Ǥ À ± ­ ȋ Ȍ ï ǡ Ǧ Ǧ ­Ù Ǥ Ȃ ǡ ͳͻͺͻ Ȃ participante recorrente nas assembleias da

ǡ ² ­ Ǥ ϐ Ǧ ǡ ϐ ­ ­ ǣ Dz compactuar com um acordo, assinando em Ǥ ² ǡ ± ² dzǤ À Ǧ ­Ù Ǥ ï Ǧ ʹͲͲͺ ʹͲͳͲǤ ǡ Ǧ ï Ǥ ʹͲͳͳǡ Ȃ ­ Ȃ Ǥ ǡ entanto, com um mês de atraso, pouco antes ϐ ­ ǡ Ǥ ­ ǡ Ø ­Ù Ǥ ϐ ϐ ØǦ Ǥ ϐ ǡ Ǧ ­Ù ȋ Ȍ ao Congresso Nacional uma contraproposta, ϐ ǡ Ǧ Ǥ ± do Planejamento sobre a impossibilidade de ­Ù ǡ ȋͳ͵ȀͲͺȀͳʹȌ ǣ Dz Ù ± Ͷ͹ǡ͹Ψ dzǤ ï ǣ Dz × ² ǡ ­ Ǧ ­ ̈́ ͳͳǡͺ ̈́ ͳ͹ǡͳ dzǤ × ǡ ± ǡ Ǧ Dz dzǤ Ǧ ǡ ͵͵ΨǤ ǡ À ϐ ʹͷΨ ʹ͹ΨǤ ǣ Dz dz Ȃ À ² Ǥ ϐÀ ­Ù ϐ ʹͲͳͷǡ ± À ­ Ǧ ʹͲͳͲ ʹͲͳʹ Ȃ ͳͶǡʹʹΨǤ ǡ ȋ Ȍǡ ­ ϐ ­ ʹͲͳʹ ʹͲͳͷ ± ǡ ǡ ͳͺΨǡ A ­ Ǧ ȋ ȌǤ ǡ ǡ ­Ù ϐ Ǥ Dz ǡ × ϐ ǡ ±ǣ Ǯ Ù

­ ǯdzǡ Ǥ À ϐ Ǥ Dz Ǧ dzǡ ­ Ǥ Ǥ ǡ ǡ Ǧ ǣ Dz ǡ Ǧ ­ ǡ À ǡ ǡ Ǧ × Ǥ ǡ ϐ Ǧ ϐ ­ ² dzǤ ǡ Ǧ tos de cada curso perderiam a autonomia para À para o outro, e o processo passaria a depender ± ­ ȋ ȌǤ Dz Ǧ À ± ± Ǯ Ǧ ǯ ǡ ­ ï Ȃ ǡ ǡ ­ ǡ ǡ Ǥ ± ïǦ ǡ Ȃ Ȃ ï dzǡ ϐ Ǧ Ǥ ­ ­Ù Ǧ ϐ Ǧ Ǥ ǡ ǣ Ǥ À ʹͲͲ͹ Ȃ × ͳ͸ Ȃǡ Ǧ ­ ­ Ǧ Ǧ ­ Ǥ Ǧ Ǥ ± ǡ ­ ± Ǧ Ǧ Ǥ ǡ ͳͻͻͷ ʹͲͳͲǡ ï ͳͷǤͻ͸͹ ͵͸ǤͳͲ͵ǡ Ǧ Ǥ ͳʹ͸ǡͳͳΨ ͳ͵ǡͷͷΨ ï Ǥ Dz Ǥ ǡ continuamos sem água e sem papel higiêniǦ dzǡ Ǥ ǡ Ǧ Ǥ Ǥ Dz ± ǡ ǡ À Ǥ ǡ Ǧ ǡ À Ǧ dzǡ Ǥ À Ǧ ǡ ­Ù ï Ǥ ­ ǡ ʹͲͲ͸ ʹͲͳͲǡ ͳǤʹͳ͸ ǡ ͳǤͶͷͶ Ǧ Ǥ ϐ ǡ ǡ ± Ǥ ï ǡ ± Ǧ Ȃ Dz dz Ȃ Ǧ ­ Ǥ Dz ­ Ǧ ï Ȃ ± Ǧ ϐ dzǡ Ǥ ǡ ǣ Dz À ǡ ǡ À dzǤ ǡ Ǧ ï ­Ù Ǥ


5 [ Ágora ]

ǡ se reuniram em Vila Isabel para cantar paróǦ ǡ Dz ǡ ­ Ǧ dzǤ × ϐ Ǧ ǡ Ǧ ǡ ±Ǥ ­Ù ǣ ǡ ͵Ͷ Ǧ Ø Dz dzǤ

Ǧ Ǥ Ǧ ² ǡ ± ȋ Ȍ ȋ Ȍ ­ Ǥ ǡ ͶͲ ­Ù À Ȃ ǡ Ȃ ­ ­ Ǥ ǡ Ǧ dantes se reuniram e declararam apoio aos Ǥ ǡ ï Ȃ ΪʹͲ Ȃǡ Ǧ

ȋ Ȍǡ Ǧ À Ǥ Ǥ ǡ ϐ ± ǡ Ǧ Ǧ ǡ Ǧ ­ ï Ǥ Ǧ ǡ À ǡ Ǧ ­ ² À ϐ Ǧ ­ × ǡ Ǧ Ǥ Dz2 ± ­ ǡ À ± Ǥ ± ǡ × dzǤ ʹͲͲ͵ ʹͲͳͳǡ ï Ǧ À ­Ù ͳͳͶ ʹ͵͹Ǥ ʹͲͳͶ ± ͸͵ À ǡ ʹ͹ʹ À Ǥ Ø ­ ǡ ǡ Ǧ À ­ ï Ǧ sitários em cidades do interior. ­ ǡ ϐ Ǧ ǡ ± Ǥ ʹͲͳͲ ǡ Ǧ ǡ ± Ǧ ­ ǡ ǣ ² ǡ ǡ ϐ ǡ × Ǥ Ǧ ϐ ǡ ­ ± ǡ Ǥ ± ǡ ǡ ǡ Ǧ Ǥ ǡ Dz dz ² Ȃ Dz × dz Ȃǡ ± ± Ǧ Ǥ ǣ Dz ­ ± ǫdzǤ ǡ ͹ͷΨ Ǥ Dz Ǧ ǡ × ǡ Ǧ dzǡ ² ǡ de Ciências SociaisAs

no. zero - outubro 2012

ϐ ² Ǧ À Ǥ À ǡ ² × Ǥ Dz Ǧ À Ǧ ǡ ± ± × ×Ǧ Ǧ ȋ Ȍdzǡ Ǥ Ǧ ± Ǥ ǡ ² ǡ ϐÀ Ǥ ʹͲͳͲǡ ǡ Ȃ Ǧ Ȃ ± × Ǧ mo ao campus, coincidentemente batizado de Ǥ ǡ ǡ ȋ Ȍ Ǧ

ȋ Ȍ × ǡ ϐ ­ Ǥ ͳʹ Ȃ Dz dzǡ Ȃ À Ǧ ǡ ǡ × ǡ ² Ǥ ­ Ǧ ǡ Dz ϐ dzǤ Ǧ ² ǣ Ǣ ² ± ϐ Ǣ ² a assumir muitas turmas, e sem tempo adeǦ ­ Ǥ com comunicado do Andes, os docentes preǦ Dz

Ǥ ϐ ± Ǥ ­ Ǧ ϐ Ȃ Ǧ ͳͲΨ ­ Ȃ ± À Dz ϐÀ dzǤ ȋ ȌǤ Ǧ ǡ ÀǦ ǡ ͳ͹ Ù Ǥ ǡ ­Ù ǡ ȋ ȌǤ ϐ ϐ ­ ǣ Ǧ Ǥ ­ ǡ ± Ǥ ǡ ǣ Dz dzǤ

Calouros e formandos: ansiedade, problemas e compreensão ­ ϐ Ǥ ǡ ϐ Ǥ ± ­ ǡ À Ǥ Ù Ǥ × ϐ Ǧ Ǥ ± Ǧ ǡ Ǥ ǡ Ǧ ǡ ± Ǥ ǡ Ǧ Ǥ À ǡ ǡ ǡ ± Ǥ Dz Ǥ ǡ ϐ Dz dzǡ ±ǫdzǡ Ǥ ǡ Ǥ Ǧ ǡ ǣ Ǥ ǡ ±ǡ ͵͑ ­ À ǡ ² Ǥ ϐ ǡ ± ǣ ­ ï À Ǥ Dz ± ǡ Ǥ Ǥ ± À dzǡ ǡ caloura de Jornalismo. ± Ǥ ǡ Ǥ orientados a procurar um lugar para morar. Os custos com moradia já ­ À ǡ Ǥ Ǧ ï ǡ Ǧ ǡ ± À ǡ Ǥ ­ À ² Ǧ ­ × Ǥ Dz ǡ ± Ǥ ­ À ­ dzǤ ǡ ² ± Ǥ ǡ Ǧ ­Ù ­ Ǥ Ǧ ­ ï ­ Ǥ Dz Ǧ ² ± ­ ǡ ­ ϐ À ǡ ± dzǤ ± ² ǡ ­ Ǥ ± Ǧ ­ Ǥ Dz Ǥ ǡ ± ǡ Ǥ × Ǥ

­ Ǥ Ǩdz Ǧ ­ ǣ Dz dzǤ 2 Ǥ ǡ ǡ ϐ À Ǥ ǡ ­Ù ǡ À ± ǡ Ǧ ­ Ǥ ǡ ± ǡ Ǧ ϐ Ǥ Ǧ ǡ ± ǡ ʹͷǤ ǡ ­ ǣ Ø ² × × ǡ ϐ Ǥ ǡ ï Ǧ ǡ ʹͲͳ͵Ǥ Dz ϐ ² ­ ǡ ǡ Ǥdz À ± Ǥ ǡ ǡ Ǧ Ǥ ǡ ʹͲͳ͵ǡ Ǥ Dz Ǧ ǡ ǡ × Ǧ ­ Ǥdz ± À Ǥ ­ ǡ Ǧ Ǥ ǡ Ǥ Dz ǡ ǡ ± ² ǡ dzǡ Ǥ ǡ ­Ù ­ Ǥ Por Fernanda Costantino, Luísa Mello e Luiza Barata


[  Arquibaldos  e  Geraldinos  ] 6

no. zero - outubro 2012

II Copa Iacs Libertadores do Contêiner: faça se puder 5HFKHDGD GH GHVD¿RV H FRQWUDtempos, a segunda edição da Copa Iacs Libertadores do Contêiner pode ser considerada um sucesso. Iniciada no dia 5 de maio e encerrada no dia 28 de julho, a Copinha conseguiu seu principal objetivo: a união dos cursos do Iacs atravÊs do futebol.

na decisĂŁo do terceiro lugar pelo Tudo Nosso e Nada Mudou, pelo mesmo placar.

Pode-se notar alguma evolução na organização e infraestrutura da primeira para a segunda edição. No feminino, foram quatro times inscritos e, no masculino, 14, um crescimento total de 6 equipes com relação à edição anterior. TambÊm foram contratados årbitros e inaugurado o bem sucedido Bar do Imperador, que refrescou as gargantas sedentas dos atletas e torcedores com ågua, mate, guaranå natural, refri e cerveja gelada. Sem falar no nível tÊcnico das partidas que melhorou em função do maior tempo de preparação. Logo no primeiro jogo os times jå mostraram que queriam muito vencer a competição. Alguns atÊ demais, como o Sobrinhos de Regina e o Mulambos, que protagonizaram uma briga generalizada depois de uma falta marcada pela juíza. Com os ânimos controlados, a Copinha não teve outras confusþes nesse nível atÊ seu encerramento. Houve momentos engraçados, como o da torcida derrubando a rede que separava a arquibancada da quadra do Direito, em uma avalanche desastrada de alguns jogadores do Sobrinhos que torciam para as meninas do curso de Produção Cultural, jogadoras do Que Time Ê Teu?. Desde o início, seguir o cronograma foi o PDLRU GHVD¿R SDUD D &RPLVVmR 2UJDQL]DGR-

Força resgatada, futuro promissor O basquete brasileiro voltou a ter motivos para sorrir em Londres, 16 anos apĂłs a Ăşltima participação em OlimpĂ­adas. A quinta colocação da seleção masculina do Brasil nos Jogos pode ser vista como um grande sucesso, e, quem sabe, seja apenas a primeira etapa para conquistas reservadas ao futuro. A equipe mostrou que tem potencial, e pode mesmo chegar longe. AtĂŠ por isso, a derrota para a Argentina, com a segunda eliminação consecutiva para os rivais (a outra foi no Campeonato Mundial de 2010), ĂŠ frustrante, apesar de nĂŁo ser um vexame. Mais uma vez, os nossos vizinhos mostraram que ainda estĂŁo um passo Ă frente, e que, logo, podem estar dois atrĂĄs. A geração fantĂĄstica do basquetebol argentino, que demonstrou a frieza e a experiĂŞncia que ainda falta aos brasileiros, deve acabar sem a renovação necessĂĄria e Ă altura dos campeĂľes olĂ­mpicos de Atenas, em 2004, quando foram comandados pelo atual tĂŠcnico do Brasil, o excepcional RubĂŠn Magnano. Uma pena para quem gosta do esporte, mas que sirva como exemplo a nĂŁo ser repetido. O novo ciclo para a disputa jĂĄ garantida no Rio, em 2016, se inicia com bastante expectativa. A seleção tem uma base de qualidade, a FRQÂżDQoD H R FRPDQGR GH XP WLPH YHQFHGRU O trabalho ĂŠ crescente, dentro e fora de quadra, e pode render bons frutos. A consagração seria em casa, daqui a quatro anos (como foi no bi mundial de 1963), mas, se grandes resultados vierem antes, serĂŁo bem-vindos. A bola estĂĄ na mĂŁo, e torcemos pela jogada certa. Na contramĂŁo, estĂĄ a seleção feminina. A fraca participação mostrou que um trabalho sĂŠrio precisa de sequĂŞncia. Trocas constantes no comando tĂŠcnico e problemas “extraquadraâ€? devem ser resolvidos com rapidez. O Brasil tem bons valores aqui e no exterior, e uma liga que começa a crescer. É bom abrir os olhos para que o fracasso nĂŁo se repita. 3RU *XVWDYR /HWKLHU

UD 1D WHQWDWLYD GH FRQFLOLDU ¿QV GH VHPDQDV sem feriados e com a maior disponibilidade possível para as equipes, alguns adiamentos foram necessårios. Entre essas mudanças de data, a mais complicada de se resolver foi D GDV ¿QDLV &RP D OHPEUDQoD UXLP GD SULmeira edição, quando os jogos do último dia aconteceram de improviso no Iepic, escola próxima ao Iacs, a Comissão fez de tudo para manter a quadra do Direito como sede das ¿QDLV SHOD LQIUDHVWUXWXUD GR ORFDO Conversas e prorrogaçþes de datas se PRVWUDUDP LQ~WHLV TXDQGR HQ¿P QR GLD 28 de julho, faltando uma hora para o iní-

cio dos jogos, chega a notĂ­cia que o Campus do Direito estava trancado. O zelador estava em MaricĂĄ, e convenientemente esqueceu o combinado, quase colocando tudo a perder. Ă€s pressas e com sorte, as quadras do GragoatĂĄ foram a solução encontrada para a realização das partidas. E, apesar do atraso e correria para avisar todas as equipes, o palco foi armado e os jogos aconteceram na raça. 1mR IDOWRX HPRomR $ SULPHLUD VHPLÂżQDO do masculino foi decidida nos pĂŞnaltis e leYRX R /LRQpLV j ÂżQDO 1D RXWUD R 0XODPERV venceu por 3 a 2 os entĂŁo vice-campeĂľes Lendas FC, que seriam novamente batidos

$ ¿QDO PDVFXOLQD IRL UHFKHDGD GH emoção, lances de efeito e tensão. LionÊis e Mulambos, os dois melhores primeiros colocados na fase de grupos, mediram forças e se alternaram à frente do placar num jogo digno de Libertadores. Superando os problemas da quadra escorregadia e ter de buscar a bola toda vez que saía pela linha de fundo, o resultado foi justo e merecido: vitória do LionÊis por 6 a 5 neste jogaço e muita comemoração pela galera de Mídia. No Mulambos, o destaque vai para Leonardo Pimentel, vulgo Adnet, e Bruno Soares. Na equipe campeã, AndrÊ Libânio e o goleiro Bruno 0DFKDGR IRUDP RV PHOKRUHV -i D ¿QDO da Copa feminina ainda não aconteceu e depende de um acerto entre as equipes e a comissão organizadora. A premiação aconteceu na praia do IACS, onde outrora jaziam os Contêineres. Do Mulambos, foram premiados o artilheiro Adnet (12 gols) e a muralha Douglas, que sofreu apenas 3 gols em 4 jogos. Torneio encerrado, os capitães elegeram o craque do campeonato, AndrÊ Libânio, do LionÊis, mais decisivo do que nunca no jogo ¿QDO 'HVFRQWUDtGRV RV DWOHWDV H DOJXQV ¿pLV torcedores presenciaram a glória dos jogadores. Todos ainda puderam relaxar e tomar uma cerveja do Bar do Imperador, que promete voltar com tudo no ano que vem. Ou, quem sabe, ainda neste ano, numa possível Liga dos Campeþes? 3RU 0DUFHOR 6WXGDUW H 5HQDQ &DVWUR

Precarização Olímpica

$OWHUQDWLYDV SDUD GLPLQXLU ODFXQD KLVWyULFD SURMHWRV JRYHUQDPHQWDLV GH IRPHQWR DR HVSRUWH DSUHVHQWDP GHĂ€FLrQFLDV Os prĂłximos Jogos OlĂ­mpicos jĂĄ tĂŞm data e local: 2016, no Rio de Janeiro. Muitos jovens brasileiros sonham em representar o paĂ­s na prĂłxima edição do maior evento esportivo do planeta. Mesmo assim, nĂŁo encontram incentivo nas escolas, onde o acesso Ă prĂĄtica esportiva nĂŁo ĂŠ democratizado. EntĂŁo, eles tĂŞm de recorrer a projetos como o Suderj Rio 2016, programa da SuperintendĂŞncia de Desportos do Estado do Rio de Janeiro que oferece atividades esportivas gratuitas em nĂşcleos espalhados por todo o Estado. O projeto busca disseminar os mais variados esportes olĂ­mpicos Ă população, para criar uma atmosfera dos Jogos na futura sede. “O objetivo ĂŠ de integração, nĂŁo de formação de atletas, mas, caso haja algum talento, ĂŠ encaminhado para os clubesâ€?, disse o professor Carlinhos, supervisor do projeto. “O programa tambĂŠm busca apresentar variados esportes que vĂŁo estar nas OlimpĂ­adas para que a população se familiarize com elesâ€?. No nĂşcleo de vĂ´lei da Praça do Barreto, em NiterĂłi, hĂĄ 32 alunos inscritos. Fabiana e VitĂłria, de 14 anos, e Priscila, 15, sĂŁo alunas DVVtGXDV GR SURMHWR Âł$ JHQWH ÂżFD WULVWH TXDQdo chove ou quando nĂŁo tem aula. Contamos as horas para vir atĂŠ aqui jogarâ€?, conta VitĂłULD TXH HVSHUD XP GLD VH WRUQDU SURÂżVVLRQDO Âł6HULD XP VRQKR SDUWLFLSDU GDV 2OLPStDGDV ´ O professor do nĂşcleo, Eduardo Teixeira, conta que exige boletim escolar de todos os DOXQRV PDV DÂżUPD TXH LVVR QmR p UHJUD SUHHVtabelecida nos nĂşcleos. “Eu peço boletim, mas cada professor tem seu critĂŠrio. HĂĄ nĂşcleos em regiĂľes carentes em que o jovem vem para o esporte e, a partir daĂ­, hĂĄ um trabalho para TXH HOH IUHTXHQWH D HVFROD´ DÂżUPD É o caso da turma de jiu-jĂ­tsu da favela Buraco do Boi, tambĂŠm em NiterĂłi, que ainda recebe aulas de futebol e ginĂĄstica. Como D UHJLmR p FRQĂ€DJUDGD SHOD YLROrQFLD D SUiWLFD esportiva serve como uma vĂĄlvula de escape ao cotidiano difĂ­cil daquelas crianças, que tĂŞm no esporte uma perspectiva de cidadania e de

um futuro melhor. Hå três anos, a Associação de Moradores da comunidade convidou o professor Joilson Ramos para dar aulas de jiu-jítsu para as crianças da região. Hå um ano, a Suderj incluiu a favela Buraco do Boi como um núcleo do projeto, mas as aulas da OXWD ¿FDUDP VHP D YHUED SRUTXH R MLX MtWVX não Ê uma modalidade olímpica, ao contrårio do futebol e da ginåstica. Joilson tem cerca de 80 alunos e precisa se virar para obter dinheiro e tocar a empreitada. Ele faz recolhimento de garrafas pet, papelão e latinhas na comunidade e tambÊm busca parcerias, como a que fez, hå três meses, com Flåvio Cabral, da Confederação Brasileira de Lutas Associadas (CBLA). O apoio viabilizou a criação de uma R¿FLQD SDUDOHOD GH OXWD ROtPSLFD SDUD DV FULDQças, que frequentam campeonatos e dispþem GH DSRLR ¿QDQFHLUR H ORJtVWLFR GD &%/$ Benefícios Fiscais Regulamentada em 2007, a Lei de Incentivo ao Esporte Ê outra ferramenta de inclusão do Governo Federal que representa avanços, mas tambÊm gera contestaçþes. A lei oferece jV HPSUHVDV TXH ¿QDQFLDP SURMHWRV GH kPELto esportivo uma contrapartida em benefícios ¿VFDLV RX VHMD R GLQKHLUR TXH D HPSUHVD SDJDria como imposto Ê revertido em prol de algum projeto esportivo, especialmente de cunho social. Entretanto, hå polêmicas quanto ao critÊrio da Comissão TÊcnica do MinistÊrio do Esporte, que analisa as iniciativas que pleiteiam o benefício. Ela coloca, no mesmo plano, pro-

jetos sociais que necessitam dos recursos para existir e projetos que, a priori, não precisariam recorrer à lei. É o caso de Pietro Fittipaldi, de 15 anos, piloto da Nascar, que mora nos EUA e Ê neto de Emerson Fittipaldi. O campeão da F1 se valeu do direito legal de apresentar uma SURSRVWD GH ¿QDQFLDPHQWR GD FDUUHLUD GH 3LHWUR DWUDYpV GD LVHQomR ¿VFDO GH VXD HPSUHVD A proposta, aprovada hå quatro meses pela Comissão, gerou muita polêmica à Êpoca. Em resumo, essa lei då margem aos dois lados e SUHFLVD VHU UHYLVWD D ¿P GH SULRUL]DU SURMHWRV que realmente necessitem dos recursos. Outra política federal de fomento ao esporte Ê o Bolsa-Atleta. Criado em 2005, o programa tambÊm gera discussþes. Inicialmente restrito a pessoas de baixa renda, para que pudessem se manter no esporte, esse ano o programa foi aberto a atletas de alto rendimento que jå possuem patrocínios. Nomes como o iatista Robert Scheidt, as saltadoras Maurren Maggi e Fabiana Murer e as ginastas Jade Barbosa e Daniele Hypólito, por exemplo, DJRUD VH EHQH¿FLDP GD YHUED IHGHUDO (QWUH DV categorias do programa, o menor incentivo Ê dado a atletas das categorias estudantil e de base, que recebem R$ 370 por mês. Para atletas nacionais, a bolsa Ê de R$ 925, enquanto para internacionais chega a R$ 1.850. O maior patamar estå nos representantes olímpicos e paralímpicos: R$ 3,1 mil. Para esportes não olímpicos, o valor cai drasticamente e equivale a 15% da renda mensal do atleta.

Sucesso da China - Recorrente no topo do Ranking de Medalhas das Olimpíadas, a China evoluiu QR FHQiULR HVSRUWLYR PXQGLDO SRUTXH FRQWD FRP XPD SROtWLFD GH LQFHQWLYR DR HVSRUWH EHP GH¿nida. Existem no país cerca de 310 colÊgios esportivos que garimpam chineses a partir dos seis anos nos colÊgios convencionais, de acordo com o biotipo, aptidão e interesse pelo esporte. Essas verdadeiras fåbricas de atletas são bancadas pelo governo e abrigam aproximadamente 130 mil chineses que estudam pela manhã e, à tarde, dedicam-se ao esporte. O projeto olímpico chinês começou a aparecer nos Jogos de Barcelona, em 1992, quando o país conseguiu o quarto lugar geral, com 16 medalhas de ouro. De lå para cå, a China só cresceu e nos Jogos de Pequim, obteve 51 medalhas de ouro, superando os Estados Unidos e liderando o quadro geral. Desta vez, nas 2OLPStDGDV GH /RQGUHV D &KLQD FRQVHJXLX PHGDOKDV GH RXUR H DSHVDU GD TXHGD ¿FRX HP VHJXQGR OXJDU D¿UPDQGR VH FRPR SRWHQFLD HVSRUWLYD Por Leonardo Pimentel


7 [  Estante  ]

no. zero - outubro 2012

DiversĂŁo sem frescura

Originalidade, criatividade e boa mĂşsica atraem uma juventude ĂĄvida por novidades no circuito noturno de NiterĂłi 3RU 7KDLDQQH &RHOKR Independentes, undergrounds, conceituais e, acima de tudo, artĂ­sticas. Essas sĂŁo as caracterĂ­sticas de festas que ganham cada vez mais visibilidade em NiterĂłi. SĂŁo novos e antigos rostos, iniciantes e experientes, que investem tempo e dedicação para manter em alta os pontos alternativos de produção de cultura e entretenimento da cidade. O que pode ser mais alternativo que ter XP PXUR JUDÂżWDGR SDUD GLYXOJDU D GDWD GD festa e uma set list que vai de Wilson Simonal a Iron Maiden, passando por Criolo e The Smiths? A festa Hey Joe chegou Ă dĂŠcima primeira edição no Dia Mundial do Rock com essa cara e trouxe ainda outros diferenciais para se igualar Ă s festas do Rio, mas de um jeito bem original assim como o estilo dos produtores JosĂŠ Pantoja e Matheus Marins. Os dois amigos de 22 anos se conheceram ainda na ĂŠpoca de colĂŠgio e a partir daĂ­ começou a parceria que os levou a fundar uma produtora cultural, a AgĂŞncia Universo Paralelo. De festival de bandas independentes no inĂ­cio da parceria em 2007 Ă festa Hey Joe, que completa um ano em novembro, eles amadureceUDP R WUDEDOKR R TXH QmR VLJQLÂżFD TXH QmR VH divirtam nas pickups durante as festas. “Idealizamos a festa em um momento em que frequentĂĄvamos muito as noites do Rio. A partir daĂ­ nos perguntamos se era possĂ­vel criar eventos semelhantes aqui onde moramos. EntĂŁo surgiu a Hey Joe, uma festa para amigos, com o mesmo som que escutamos em casa para nos divertir. E a nossa surpresa foi que a festa cresceu rapidamente. Talvez por carĂŞncia do pĂşblico que nĂŁo tinha opçþes de noites alternativas na cidadeâ€?, conta Marins, que cursa Estudos de MĂ­dia no Iacs. E de 600 pessoas na primeira edição no Espaço ConvĂŠs, prĂłximo ao GragoatĂĄ, o pĂşblico pulou para 1,2 mil na Ăşltima, comemorado no dia 13 de julho no Espaço FĂŞnix, em Charitas, que jĂĄ estĂĄ pequeno para tanta gente.

Âł2 QRVVR PDLRU GHVDÂżR DLQGD p HQFRQWUDU espaços, casas ou bares que abriguem uma festa de mĂŠdio porte. Mas estamos na luta, fazendo uma festa com o intuito de colocar mĂşsica boa e nĂŁo apenas embolsar o lucro. Talvez esse seja nosso grande diferencial. Colocamos um espaço para a galera interagir na prĂłpria festa, com um mural de sugestĂľes de especiais e exposiçþes de arte, como pinturas e curtas metragens. TambĂŠm levamos Super 1LQWHQGR e FRPR D QRVVD FDVD ´ GHVWDFD Pantoja, que jĂĄ levou a festa para o Sana e para o Rio de Janeiro, na Gafeira Elite. Projetos rock’n’roll AlĂŠm da ideia de fazer um festival de bandas independentes na comemoração de um ano de Hey Joe em novembro, Pantoja e Marins deram espaço para a criatividade e produziram uma espĂŠcie de desdobramento da festa: a Fuss. E nĂŁo hĂĄ melhor tradução. %DUXOKR p R TXH UROD GR LQtFLR DR ÂżP GD IHVWD seja do pessoal cantando seja dos gritos de Serj Tankian, Corey Taylor e Dave Grohl. Palco principal das duas festas, o Espaço ConvĂŠs ĂŠ um jovem veterano de 16 anos. Abrigo de artistas independentes, nele acontece desde o forrĂł tradicional, que jĂĄ dura 12 anos, a choppadas de diferentes cursos da UFF. JĂĄ atraiu bandas underground internacionais, festivais de bandas independentes, artistas do reggae e do rock que conseguiram espaço Âż[R QD SURJUDPDomR GD FDVD H SURMHWRV FXOWXrais, como o Arte Jovem. A parceria entre o grupo Arte Jovem Brasileira e a Secretaria Municipal de Cultura jĂĄ tem lugar no ConvĂŠs hĂĄ dez anos. E traz trabalhos e manifestaçþes de artistas plĂĄsticos, escritores, fotĂłgrafos, cineastas, mĂşsicos e DJs do cenĂĄrio independente da cidade. Os eventos aconte-

cem todo inĂ­cio de mĂŞs, como a “mostra de arte livre e sinceraâ€?. Mas nem sempre foi assim. O dono da casa, Adenor GuimarĂŁes, de 53 anos, jĂĄ foi policial durante 13 anos e quando resolveu mudar de vida teve a ideia de criar um “barzinho de praiaâ€?, no terreno da famĂ­lia. Construiu todo o espaço com uma decoração rĂşstica e um cardĂĄpio de petiscos do mar. “O bar com essa proposta durou apenas dois anos. Nessa ĂŠpoca vieram alguns estudantes da UFF pedindo um espaço para um evento de mĂşsica que eles criaram. Achei interessante. Quando vi o bar cheio de jovens e mĂşsica logo pensei â€˜ĂŠ isso o que eu quero’. A partir daĂ­ o transformei em uma casa de eventos culturais e nunca mais pareiâ€?, explica Adenor. A cara alternativa ĂŠ visĂ­vel no estilo, nas manchas de copos nas mesas e nas paredes SUHWDV H YHUPHOKDV GHVFDVFDGDV 1HODV ÂżFDP HVWDPSDGDV ÂżJXUDV GHVHQKRV H IUDVHV ÂłGHQtre os animais, mais pardais, menos pastoresâ€?; ÂłDPH QRV MDUGLQV DUWLÂżFLDLV´ ÂłYLVWD VH GH ORQD e se atire contra a vidraçaâ€?; “crie regras com o TXH RXYH QRV VRQKRV YLYD RXWUD ÂżFomR´ “Somos voltados para o pĂşblico jovem, VHP VRÂżVWLFDomR QHQKXPD -i UHFHEL YiULDV propostas de mudança de estilo e sugestĂľes de sociedade, mas nĂŁo tenho interesse em tornar o lugar elitizado. É um espaço simples e neutro para que qualquer tipo de pessoa se sinta Ă vontade. A cara da casa ĂŠ o pĂşblico que fazâ€?, conta. Outro ponto ĂŠ o SĂŁo Dom Dom. Na Cantareira, o bar funciona hĂĄ nove anos e traz de reggae a rock, assim como o ConvĂŠs.

“Jazz, reggae, mĂşsica brasileira, DJ, rock e um encontro de artistas ĂŠ o que rola no SĂŁo Dom Dom, dependendo da seleção de cada produtorâ€?, comenta Solanges Pimentel, dona do espaço, que lembra tambĂŠm das festas: Preto ĂŠ Foda, Araribeats, Festa ErĂłtica, I love rock’n’roll, Festa Zazueira. Esta Ăşltima do mesmo produtor da festa Enquanto Corria a Barca, que jĂĄ teve como palco o ConvĂŠs e o prĂłprio SĂŁo Dom Dom. “Em uma festa de mĂşsica brasileira que rola rock, bossa nova, rap, samba, de TropicĂĄlia Ă Tulipa Ruiz, o diferencial estĂĄ no prĂłprio estilo musical. E o bom ĂŠ que, mesPR FRP FHUWDV GLÂżFXOGDGHV DLQGD Ki HVSDoR para esse tipo de produção aqui em NiterĂłiâ€?, conta o produtor Bernardo Collet, que tenta aproveitar ao mĂĄximo os espaços de NiterĂłi produzindo festas tambĂŠm no Espaço Box 35, como a Feito para Dançar. ( DV GLÂżFXOGDGHV D TXH &ROOHW VH UHIHUH Nicole Blass explicita. A produtora de 32 anos do Espaço Box conta com ajuda de todos ao seu redor para produzir o espaço conhecido por valorizar as bandas independentes e o circuito underground. “O que a gente tem aqui ĂŠ uma patota da cultura que limita o acesso dos artistas inGHSHQGHQWHV D HVSDoRV H ÂżQDQFLDPHQWRV GR municĂ­pio, o que faz com que NiterĂłi tenha uma grande tendĂŞncia a fazer as pessoas desistirem da arte ou pularem para o outro lado da ponteâ€?, conclui. * Originalmente publicado em OFLU Revista (edição 77) do jornal O Fluminense.

[  Alhos  &  Bugalhos  ] Â

$ ÂŹ ¸ NĂŁo foi assim logo de cara. Claro que eu jĂĄ havia reparado alguns indĂ­cios, mas sĂł fui perceber que meu amigo era um completo egoĂ­sta em uma conversa rotineira, depois do almoço. Em meio a umas observaçþes sobre minha viagem a MontevidĂŠu, disse que nĂŁo havia encontrado mendigos, pelo fato de ter me hospedado com a parcela bem nascida da cidade uruguaia. A primeira reação de meu amigo ao escutar minha fala foi uma torcida de nariz, seguida por uma exclamação: por que eu viajaria para ver pessoas pobres? É UHDOPHQWH ERP TXH QmR WHQKD YLVWR Deixei passar. Começamos entĂŁo a conversar a respeito dos meus anseios sobre a faculdade de Jornalismo. Meu incĂ´modo com o carĂĄter meramente tecnicista que os estudantes estĂŁo in-

corporando com tanta naturalidade, não foi compartilhado por meu amigo. Eu podia ver em seu rosto. Quando comecei a falar mal do jornalismo feito pela Folha de S. Paulo, então, ele quase pulou da cadeira. Em resposta às minhas divagaçþes vieram sucessivos socos no estômago. Ele me disse que achava ótimo o fato da universidade só formar para o mercado. Que a teoria não WLQKD YDORU DOJXP QD SUiWLFD H TXH ¿FDULD PXLWR IHOL] GH VHU jornalista da Folha produzindo o que lhe fosse estipulado, sem pestanejar, se ganhasse um bom salårio para sustentar VXD YLGD FRQIRUWiYHO 3RU ¿P DVVXPLX FRP QDWXUDOLGDGH VLP 6RX HJRtVWD Em um primeiro momento, me preparei para assimilar toda aquela informação e desenvolver uma argumentação

contråria. Saqueada pela angústia, pensei: quanta insensiELOLGDGH (P VHJXLGD FRPHFHL D VHQWLU DGPLUDomR SHOD VXD sinceridade. Meu amigo era, sim, um egoísta, mas não um egoísta disfarçado de preceitos politicamente corretos. Com fôlego recuperado, rebati dizendo que o espaço universitårio teria que ser o lugar dos pensamentos efervescentes, das tentativas, do conhecimento. Que o estímulo à competição e a simulação da vida no mercado de trabalho não seriam os melhores caminhos. Ele me olhou, posou sua mão em meu ombro e disse com um sorriso: você Ê mesmo uma romântica. E talvez eu seja mesmo. Por Mariana Pitasse


[  Limoeiro  ] 8

no. zero - outubro 2012

Segurança nas imediaçþes dos campi O policiamento meia boca e as ressalvas de Caetano

F

az tempo. NĂŁo lembro a data exata, mas aconteceu em maio, Ă noite, por volta das 21h40. Tinha que esperar a carona de um amigo que faz Economia e fui para o IACS. Quando cheguei, o portĂŁo estava fechado e nĂŁo me deixaram entrar. O campus estava vazio, mas ainda havia expediente. Impedido e um pouco irritado, encostei e coloquei a mochila em cima do carro do meu amigo, estacionado em frente ao Instituto. Foi quando vi um cara vindo na minha direção. Pensei “ele vai me assaltarâ€?, mas esperei para evitar prejulgamentos. Era um moleque novo, mulato, magro e de altura mediana. Ele olhava demais para mim e isso me incomodou. Por “sorteâ€?, havia outro garoto entre nĂłs e, quando o assaltante sacou a arma, apontou-a para este rapaz que correu. Sobrei e QmR LD ÂżFDU SDUD ÂłSDJDU R SDWR´ 3HJXHL D PRchila e saĂ­ varado tambĂŠm. Corri em direção a minha academia, ainda na Lara Villela e, no caminho, tive a preocupação de avisar sobre o ladrĂŁo a um grupo de cinco estudantes que seguia rumo Ă Cantareira. Gritei “corre brother, R PDOXFR Wi DUPDGR H YRFrV YmR SHUGHU ´ 1XP primeiro instante eles correram, mas logo desistiram. Foram assaltados. Quando cheguei Ă porta da academia, uma senhora me perguntou se eu tinha sido roubado e disse que nĂŁo. Dei um tempo por ali e voltei para encontrar meu amigo. Havia carros de polĂ­cia em frente aquela comunidade atrĂĄs do IACS, onde o grupo falava sobre o acontecido. O assaltante era local, estava claramente nervoso, mas levava uma mochila nas costas para se misturar aos estudantes. NĂŁo sabia assaltar, tanto que deixou todo mundo correr. Qualquer bandido velho teria pressionado a vĂ­tima na parede com a arma para nĂŁo correr. Ele fez aquilo tudo e depois “emburacouâ€? ali naquela favela. Eles sabem a hora que a galera sai, jĂĄ estĂĄ manjado. E a violĂŞncia ĂŠ resultado da sociedade em que vivemos. O que nĂŁo pode p PH SURLELUHP GH ÂżFDU GHQWUR GD PLQKD XQLversidade durante o horĂĄrio de aulas. O campus tambĂŠm funciona como abrigo para nĂłs. NĂŁo tem histĂłrico de assaltos lĂĄ dentro. (RĂ´mulo Quadra, aluno de Jornalismo no quarto perĂ­odo). A inclinação velada de professores e alunos do IACS para encerrar os trabalhos antes de 22h, quando termina o expediente, assinala a insegurança na regiĂŁo de SĂŁo Domingos e IngĂĄ. Quem passa pelo Instituto nesse horĂĄrio encontra, provavelmente, um ou dois alunos e RV YLJLODQWHV HP ULWXDO GH ÂżP GH QRLWH FRUUHU DV VDODV SDUD YHULÂżFDU VH DOJXpP PDLV LQVLVWH em permanecer. Outras precauçþes incluem GHL[DU R ORFDO HP JUXSR SDUD GLÂżFXOWDU DVVDOtos, andar rĂĄpido ou correr para evitar larĂĄpios e, atĂŠ mesmo, solicitar um tĂĄxi para percorrer distâncias mĂ­nimas. Por isso tudo, a histĂłria acima nĂŁo causa espanto. Ao contrĂĄrio, provoFD LGHQWLÂżFDomR H FRPR PXLWRV UHODWRV VHPHlhantes, acusa o risco que os alunos correm. Como todo denuncismo ĂŠ questionĂĄvel, fomos Ă s ruas conferir de perto o policiamento. Inspirados em matĂŠria de O Globo, do dia 19 de março, O CasarĂŁo percorreu, de carro e por quatro vezes, um percurso de 11,5 quilĂ´metros, abrangendo os bairros de SĂŁo Domingos, Boa Viagem e IngĂĄ, alĂŠm de uma parte de IcaraĂ­ e do Centro (Imagem 1). O trajeto foi desenhado de modo a passar pelos campi do

Por Gabriel Vasconcelos e JĂşlia Albuquerque

Valonguinho, GragoatĂĄ, Praia Vermelha, Artes e Comunicação Social, Economia, Direito e tambĂŠm pela Reitoria. Foi uma tarde inteira de trabalhos e meio tanque de gasolina. O saldo das rondas ĂŠ claro (Imagem 2): existe um policiamento satisfatĂłrio nas vias principais que formam a periferia do trajeto, HQTXDQWR QDV UXDV LQWHUQDV FRP PHQRU Ă€Xxo de pessoas e automĂłveis, o patrulhamento ĂŠ quase nulo. Naquela tarde, encontramos quatro cabines de polĂ­cia, das quais duas estĂŁo GHVDWLYDGDV XPD YLDWXUD Âż[D FRP GRLV SROLciais na Rua Nair Margem Pereira, prĂłxima ao Museu de Arte Contemporânea (MAC), e uma mĂŠdia de uma viatura circulando por volWD 4XDQWR DRV VROGDGRV D Sp YHULÂżFDPRV XP na Rua Doutor Paulo Alves durante a segunda volta, e trĂŞs na Praça da Cantareira, durante a terceira incursĂŁo. Sobre as cabines, vale dizer que estĂŁo localizadas no perĂ­metro do trajeto: uma em frente ao mercado PĂŁo de Açúcar, no IngĂĄ, e outra em frente Ă Reitoria da UFF que estĂĄ fora de uso, em IcaraĂ­. As demais estĂŁo no Centro, sendo a primeira em frente Ă Estação das Barcas e a segunda, desativada, prĂłxima ao Plaza Shopping. NĂŁo foi visto patrulhamento em endereços conhecidos pela alta incidĂŞncia de crimes, como a Rua Andrade Neves, tambĂŠm chamada de “Rua do Assaltoâ€? e Professor +HUQDQL 0HOR RQGH ÂżFD R ,QVWLWXWR %LRPpGLFR e que foi apelidada de “Rua do Perdeuâ€?. O mesmo vale para as ruas Roberto Rowley Mendes, Presidente Pedreira, Tiradentes e Lara Villela, onde se situam, respectivamente, o Campus da Praia Vermelha, a Faculdade de Direito, o Instituto de Economia e o Iacs. Apesar disso, o 12° BatalhĂŁo de PolĂ­cia Militar, responsĂĄvel pela regiĂŁo da Grande NiterĂłi, (NiterĂłi e MaricĂĄ), apresentou, no dia 9 de março deste ano, uma Ordem de PoOLFLDPHQWR 2ÂżFLDO HQWUHJXH DR UHLWRU GD 8)) Roberto Salles. De acordo com o documento, assinado pelo Major Sidnei Pazini, o 12° BPM ÂżFDULD UHVSRQViYHO SHOD ÂłLQWHQVLÂżFDomR GR SRliciamento nas unidades de ensino da UFFâ€?. A medida previa o aumento do patrulhamento QHVVHV ORFDLV D ÂżP GH ÂłFRLELU H UHSULPLU RV roubos a funcionĂĄrios e alunos do estabelecimento de ensinoâ€?. Diante disso e do que foi visto nas rondas, fomos atĂŠ o BatalhĂŁo na busca por esclarecimentos.

Conversa com Caetano NĂŁo, nĂŁo falamos com o Caetano do cruzamento da Ipiranga com a Avenida SĂŁo JoĂŁo. Natural do Rio de Janeiro, o nosso Caetano arranca os cabelos para tirar a mĂĄ fama da “esquina do Assalto com Perdeuâ€?. Subcomandante do 12° BatalhĂŁo de PolĂ­cia Militar de NiterĂłi, o Major AndrĂŠ Luiz Caetano conversou com O CasarĂŁo no dia 26 de julho. Questionado sobre a vigĂŞncia da Ordem de Policiamento nos arredores dos campi, mostrou total desconhecimento, mas garantiu que viaturas circulam na regiĂŁo e que os trabalhos IRUDP LQWHQVLÂżFDGRV FRP D FKHJDGD GRV SROLciais do Programa Estadual de Integração na Segurança (Proeis). “NĂŁo tem mais assalto na Andrade Neves porque o Proeis estĂĄ lĂĄ direto. NĂŁo tenho visto mais registros de ocorrĂŞncia GH Oi´ DÂżUPRX 5HVXOWDGR GR FRQYrQLR HQWUH a prefeitura e a PM, o programa começou em maio e hoje conta com 140 soldados remunerados para trabalhar em dias de folga, o conheFLGR ELFR OHJDO ,GHQWLÂżFDGRV SHOD EUDoDGHLUD YHUPHOKD HVWHV SROLFLDLV VHUmR DWp R ÂżP de 2012, segundo o secretĂĄrio de segurança de NiterĂłi, Coronel Rui França. O Major Caetano admitiu, porĂŠm, que o efetivo policial nĂŁo acompanhou o crescimento populacional na cidade. “O problema do efetivo na corporação ĂŠ crĂ´nico. Com o passar dos anos, a população aumentou. Hoje vocĂŞ tem aĂ­ vĂĄrios empreendimentos imobiliĂĄrios e isso representa mais pessoas e veĂ­culos cirFXODQGR QD FLGDGH´ 0HVPR DVVLP DÂżUPD TXH medidas foram tomadas. Hoje, o efetivo do 12° BPM ĂŠ de 970 homens, 700 dos quais prontos para o policiamento. Contudo, considerando o rodĂ­zio de escalas, o nĂşmero de policiais nas ruas gira em torno de 200/dia para NiterĂłi e MaricĂĄ. Com a onda de violĂŞncia, este destacamento foi complementado com os 140 homens do Proeis, 60 recrutas em perĂ­odo de estĂĄgio na cidade e uma mĂŠdia de 100 homens em Regime Alternativo de Serviço (RAS), totalizando 400 homens, o dobro do efetivo natural. O nĂşmero de viaturas tambĂŠm aumentou, saltando de 37 para 69. De fato, as providĂŞncias surtiram efeito. Segundo o Instituto de Segurança PĂşblica (ISP), de maio para junho deste ano aconteceram menos crimes, com destaque para assaltos a transeunte (-25,5%) e roubo de veĂ­culos (-33%). Ainda assim, insistimos no fato dos crimes nĂŁo terem cessado ao redor dos campi e perguntamos se o baixo nĂşmero de registros de ocorrĂŞncia afeta na distribuição do policiamento. A resposta foi sim. “O policiamento ĂŠ aplicado de maneira FLHQWtÂżFD (X SHJR RV UHJLVWURV H D SDUWLU GHOHV HX LGHQWLÂżFR D PDQFKD FULPLQDO RX VHMD RV ORcais, dias da semana e horĂĄrios com maior inFLGrQFLD GH GHOLWRV $ VXEQRWLÂżFDomR PH TXHbra. Isso causa indignação nas pessoas porque elas dizem que foram assaltadas e realmente foram. Mas eu sĂł posso julgar aquilo que eu tenho de palpĂĄvelâ€?, explicou. (P WRP GH DSHOR R RÂżFLDO WDPEpP IDORX

sobre a necessidade de registrar os delitos. “Em todas as reuniĂľes comunitĂĄrias a gente fala isso, tem que registrar. NĂłs precisamos de interação com a comunidade porque sozinhos nĂŁo fazemos absolutamente nadaâ€?. Mas alĂŠm do procedimento ser dispendioso e burocrĂĄtico, as pessoas ainda preferem manter distância da polĂ­cia, sobretudo uma boa parte do pĂşblico universitĂĄrio que vĂŞ na PM um sĂ­mbolo GH UHSUHVVmR Âł(VVD GLÂżFXOGDGH GH DSUR[LPDção existe devido a fatos do passado, Ă histĂłria polĂ­tica do nosso paĂ­s. Mas eu encaro isso com naturalidade. Porque a polĂ­cia hoje ĂŠ um prestador de serviço. O meu trabalho ĂŠ produzir sensação de segurança e, para isso, eu preciso da interação com as pessoas. Essa visĂŁo tem que mudarâ€?, garante Caetano. 2 VXEFRPDQGDQWH DLQGD MXVWLÂżFRX DV FDELnes abandonadas. Ele disse que nĂŁo devemos esperar um aumento da quantidade destas, mas sim do patrulhamento nas ruas, com policiais circulando a pĂŠ e viaturas, por se tratar de um policiamento mais dinâmico e com um raio de ação maior. “Como tĂŠcnico de seguranoD HX SUHÂżUR XPD YLDWXUD URGDQGR SRUTXH R FDUD QD FDELQH ÂżFD UHVWULWR DOL 6H YRFr IRU assaltado, vai entrar na viatura e ela vai roGDU FRP YRFr 2 SROLFLDPHQWR Âż[R QmR DWHQGH PDLV´ DÂżUPRX 0HVPR DVVLP HOH GLVVH TXH D sociedade civil pode se articular para construir e equipar uma cabine, desde que siga os padrĂľes da Secretaria de Segurança e contate o BatalhĂŁo, que avalia a viabilidade da iniciativa de acordo com critĂŠrios como a disponibilidade de policiais e a distância para a sede da corporação. -i QR ÂżQDO R ~QLFR PRPHQWR HP TXH R Major AndrĂŠ Luiz Caetano atendeu o celular, TXH QmR SDUDYD GH WRFDU Âł1yV ÂżFDPRV HP ƒ colocado no sistema de metas. PĂ´ chefe, eu acho que a gente tĂĄ crescendo nĂŠ. Estou falando para o senhor dados do Instituto de Segurança PĂşblica (ISP). Ficamos verdes em letalidades e roubo de ruaâ€?, falou. Nada mais justo. $ÂżQDO GR RXWUR ODGR GD OLQKD HVWDYD R &RURQHO Wolney Dias, comandante do BatalhĂŁo, que tirava fĂŠrias.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.