Edição 18

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Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.

AS RAMIFICAÇÕES LOCAIS DO

SANTO-DAIME Há quase duas décadas consome-se o polêmico e misterioso chá em Caxias, onde a bebida é cultuada por pelo menos cinco grupos de adeptos

O Caxias comemora seus números | O Juventude lamenta seus números | Roberto Hunoff mostra números que agradam a todos: o emprego cresce na cidade | Renato Henrichs fala de vitórias e derrotas, saídas e chegadas

Maicon Damasceno/O Caxiense

Caxias do Sul, abril de 2010 | Ano I, Edição 18 | R$ 2,50

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Índice

www.OCAXIENSE.com.br

TWITTER

A Semana | 3

(Acompanhe em www.twitter.com/ocaxiense)

Roberto Hunoff | 4 Caxias do Sul já criou 5,3 mil empregos em 2010

Ameaça à saúde | 5

Greve é a receita do Sindicato dos Médicos para tentar forçar um reajuste da prefeitura

Art | 7

O que se diz e o que se vê por aqui

Guia de Cultura| 8

Pinceladas espanholas e lições de um pequeno viking

co lé 57 gio q QU A % de ue lu DR rep ta O rov con N ação tra EG u no ma RO en con sin ta o m terr éd ível io :

Caxias do Sul, março de 2010 | Ano I, Edição 17 | R$ 2,50

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Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.

A HISTÓRIA QUE NÃO SE CONTA

17ª edição | @marisirena Reportagem pra lá de necessária. Parabéns ao @ocaxiense pela sensibilidade. Mariana Sirena em 30 de março @julianadebrito Desafio vocês a me mostrarem uma capa de jornal com mais qualidade estética que essa d’@ocaxiense. Não encontrarão. Juliana de Brito, em 30 de março

Expulsos da região na metade do século XIX para dar lugar aos imigrantes, os índios Kaingang também foram apagados da memória

@bubstessari Valquíria Vita, uma ótima repórter! Parabéns ao jornal O Caxiense pela equipe qualificada que retrata os temas com tanta delicadeza e responsabilidade! Bruna Tessari, em 30 de março Renato Henrichs fala da expectativa pelo balanço da Festa da Uva | Roberto Hunoff conta que as mulheres de Caxias trabalham mais | Um refúgio culinário perto de Galópolis | Como anda a discussão do transporte coletivo

Palco ampliado | 10

Maicon Damasceno/O Caxiense

Novo espaço cultural permite que peças fiquem em cartaz por temporada

Reitor reeleito | 11

Membros do Conselho Diretor explicam por que contrariaram o resultado da consulta acadêmica

Mistérios do chá | 13 Os rituais de consumo do santo-daime em Caxias do Sul

Hemofílicos | 16

@julio_objetiva @ocaxiense Em coro às pessoas sensíveis e de bom gosto concordo plenamente. A capa do jornal tá 10. Parabéns! Júlio Soares, em 27 de março @JAMURBETTONI As capas do @ocaxiense têm realmente chamado bastante atenção, parecem quadros sendo vendidos nas bancas. Muito bacana! Jamur Bettoni, em 27 de março @regesschwaab Raras vezes é possível ver uma abordagem assim. Parabéns pela capa e pela escolha do tema. Reges Schwaab, em 27 de março @anahifros Nossa, a capa de @ocaxiense está de arrepiar... já ficou para a história. Anahi Fros, em 27 de março

Amor – e conhecimento – ao sangue para cuidar da saúde

Balanço grená | 18

O Caxias sabe que os números são relativos – mas, por ora, comemora a posição de líder

@inerciaborges parabéns ao jornal @ocaxiense. A capa desta edição está fantástica! Natalia Borges, em 27 de março

Guia de Esportes | 20

@cristiansr Quero parabenizar pela excelente capa e conteúdo, dá prazer ler o jornal. Cristian Rodrigues, em 27 de março

Última rodada do segundo turno do Gauchão faz uma pausa para o rugby no Jaconi

Balanço alviverde | 21

@RoseBrogliato Excelente matéria sobre sobre a História que não se conta. Por si só justifica a existência do jornal @ocaxiense. Rose Brogliato, em 27 de março

Renato Henrichs | 23

Eleições UCS | @fernandoedson Parabéns ao @ocaxiense pela cobertura das eleições da UCS. Fernando Edson Souza, em 30 de março

O Ju sabia que os números seriam ruins, mas não tanto: é a pior campanha da década no Gauchão A saída de Vinicius Ribeiro e a volta de Jorge Dutra à Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade

Barulho nos Pavilhões | @daidegasperi Parabéns, @ocaxiense! Que a verdade nunca seja omitida. Jornalismo verdadeiro. Daiane De Gasperi, em 30 de março

Expediente

Redação: Cíntia Hecher, Fabiano Provin, Felipe Boff (editor), Graziela Andreatta, José Eduardo Coutelle, Maicon Damasceno, Marcelo Aramis, Marcelo Mugnol, Paula Sperb (editora do site), Renato Henrichs, Roberto Hunoff e Valquíria Vita Comercial: Leandro Trintinaglia Circulação/Assinaturas: Tatyany Rodrigues de Oliveira Administrativo: Luiz Antônio Boff Impressão: Correio do Povo

Assine

Para assinar, acesse www.ocaxiense.com.br/assinaturas, ligue 3027-5538 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 18h) ou mande um e-mail para assine@ocaxiense.com.br. Trimestral: R$ 30 | Semestral: R$ 60 | Anual: 2x de R$ 60 ou 1x de R$ 120 Jornal O Caxiense Ltda. Rua Os 18 do Forte, 422, sala 1 | Lourdes | Caxias do Sul | 95020-471 Fone 3027-5538 | E-mail ocaxiense@ocaxiense.com.br www.ocaxiense.com.br

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O

Maicon Damasceno/O Caxiense

DreamWorks Animation LL, Divulgação/O Caxiense

Um resumo das notícias que foram destaque no site

O Caxiense

3 a 9 de abril de 2010

Repetência no Emílio Meyer | @RicaMartini Matéria sobre o nível de repetência do Emílio Meyer em @ocaxiense é leitura obrigatória. Ricardo Martini, em 29 de março

E-MAIL

(Escreva para ocaxiense@ocaxiense.com.br) “Parabéns pela matéria sobre os Esquecidos da História, temática que trabalho há décadas. Quanto aos criuvenses que discordam do parque temático, uma contradição: a maioria é descendente de índios. Minhas obras Memorial Açoriano, Os Fundadores de São Francisco de Paula e A Grande Nação, baseadas em farta pesquisa documental, comprovam isto. Parabéns, mais uma vez, pela coragem e abordagem de um tema que é tabu para muitos caxienses. Luiz Antônio Alves Erramos | Antonio Machado de Souza não era bandeirante, como publicado na página 13 da edição passada (Esquecidos pela História), mas sim proprietário de terras e tropeiro. O apontamento foi feito pelo pesquisador Luiz Antônio Alves.

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


A Semana

Rodrigo Lopes/O Caxiense

Escolha do reitor na UCS mobilizou comunidade acadêmica e feriadão movimentou a rodoviária

Conselho Diretor da Universidade de Caxias do Sul se reuniu no fim da tarde de segunda-feira para eleger Isidoro Zorzi

SEGUNDA | 29 de março UCS

Zorzi é reeleito reitor

a região. Conforme Alves, o enfoque do trabalho é revelar a história não contada. “Se exalta a colonização italiana e alemã e se esquece que antes essa terra já era povoada por índios, negros e povos açorianos. Os assuntos referentes aos índios são um tabu. Parece que as pessoas têm medo de falar que têm ascendência negra, açoriana ou indígena”, revela o historiador. A obra Memorial Açoriano contém levantamento de relações familiares interétnicas que compõem o quadro do Rio Grande do Sul. Segundo o pesquisador, agora será possível que pessoas que não possuam descendência italiana saibam um pouco mais sobre a sua origem.

O reitor da Universidade de Caxias do Sul, Isidoro Zorzi, foi reeleito para o cargo. O Conselho Diretor da UCS elegeu Zorzi por 8 votos contra 1 voto para a candidata Nilva Stédile. “Eu esperava menos. Esperava 7 a 2. Foi além da expectativa”, disse Zorzi. Na consulta acadêmica, que recebeu 10.748 votos de estudantes, professores e funcionários, Nilva Stédile venceu com 50,17% . A consulta é uma das etapas da escolha da nova reitoria. Enquanto os nove membros do Conselho Diretor participaram da votação secreta, um grupo de cerca de 70 estudantes aguardou o resultado na saída do bloco A. Eles carregavam faixas com os dizeres “Respeito à consulta acadêmica: 9 pessoas não podem decidir por 11 mil” e apitos. Em vários momentos os alunos cantaram o hino nacional e o hino do Rio Grande do Sul. No mesmo espaço havia apoiadores do candidato Isidoro Zorzi, que também estavam munidos de cartazes dizendo “Zorzi é gestão responsável” e “Zorzi: contigo a UCS está no rumo certo”. “Estamos lutando pela democracia. Indiferente de qual candidato é. Se fosse o Zorzi o mais votado na consulta nós também estaríamos aqui. A UCS é um grupo muito maior do que nove pessoas”, criticou a estudante de Psicologia Amanda Menezes Tapia.

TERÇA | 30 de março

História

Imprensa

Coleção é doada ao Arquivo Histórico Parte da pesquisa de 20 anos do historiador Luiz Antônio Alves sobre a região Sul estará disponível para consulta no Arquivo Histórico João Spadari Adami. O autor doou 38 dos 57 volumes que compõem a obra sobre os diversos povos que habitaram

Trânsito

Rua Garibaldi terá trecho de mão única Mudanças no trânsito da Rua Garibaldi permitirão continuidade das obras de prolongamento da Rua Visconde de Pelotas. Será implantado mão única na Garibaldi, no trecho entre a Rua Antônio Prado e a Rua Sarmento Leite, ficando o fluxo somente em sentido NorteSul (Centro-Bairro). A Secretaria de Trânsito recomenda aos usuários que normalmente dirigem-se pela Rua Tronca e convertem na rua Garibaldi em direção ao Centro que utilizem a Marechal Floriano para acessar o Centro ou retornar.

Acervo reúne os primeiros jornais de Caxias O conjunto documental de 332 jornais da família de Júlio João Eberle agora faz parte do acervo municipal. A coleção de periódicos é composta pelos originais dos primeiros jornais que circularam na cidade. O mais antigo adquirido foi o nº 01 de

O Caxiense, de 1897. Há também edições do II Colono Italiano, O Cosmopolita, O 14 de Julho, Cittá di Caxias, Cidade de Caxias e A Tribuna. Compõem o acervo também vários números do jornal O Brazil/O Brasil, inclusive o que trouxe como manchete a chegada do trem em 1º de junho de 1910. O último jornal adquirido da família Eberle data de 1923.

QUARTA | 31 de março Agricultura

Prefeitura quer mudar o lugar da feira no Centro Uma proposta de mudança do lugar onde é realizado um dos Pontos de Safra às sextas-feiras está provocando divergência entre a prefeitura e os agricultores que participam da feira. Desde novembro do ano passado, as secretarias municipais de Trânsito e Transportes e de Agricultura tentam retirar a venda de frutas e verduras da Rua Dr. Montaury, entre as ruas Pinheiro Machado e Bento Gonçalves, mas enfrentam resistência dos produtores rurais. O município quer transferir esse comércio para a Bento Gonçalves e sugere a quadra entre a Marquês do Herval e a Dr. Montaury. A escolha foi feita com base na quantidade de pessoas que circulam pela calçada – bem menor que a do espaço atual – e pela área de estacionamento, que seria maior e não prejudicaria o trânsito. Mas os agricultores são contrários porque entendem que, com esse reposicionamento, a venda cairá bastante.

QUINTA | 1º de abril Desvio Rizzo

Semáforos no acesso começam a funcionar Durante o feriado de Páscoa, os semáforos no acesso ao bair-

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ro Desvio Rizzo estarão funcionando no modo alerta. Conforme a Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade, o intuito é disciplinar o trânsito na região, para que em breve o conjunto de semáforos entre em funcionamento. Conforme o DAER, a lombada eletrônica estará desativada neste período.

SEXTA | 2 de abril Rodoviária

50 ônibus extras para o feriado Cerca de 50 ônibus extras foram disponibilizados na rodoviária de Caxias do Sul para atender a demanda do feriadão de Páscoa. A supervisora operacional da Rodoviária, Maki Kawano, diz que a maioria das pessoas deixou para comprar passagens de última hora, o que provocou alguns tumultos e fez com que muita gente voltasse para casa sem conseguir adquirir os bilhetes desejados. Os principais destinos dos viajantes são Passo Fundo, Nova Prata e Lagoa Vermelha. A Unesul esgotou os assentos em veículos para essas cidades na quinta-feira. Ao final da tarde, já não havia mais vagas para nenhum outro lugar. Fora do Estado, o emissor de passagens da Unesul, Wanderson Dutra, diz que os locais mais procurados são Cascavel, Barracão e Foz do Iguaçu, no Paraná, e Chapecó, Joaçaba e Xanxerê, em Santa Catarina. O litoral também tem sido um dos campeões de vendas, e as praias preferidas são Torres, Areias Brancas, Arroio do Sal e Curumim. O proprietário do Expresso São Marcos, Fernando Michelin, diz que teve que colocar ônibus extras para ontem e hoje. “Esse é o último feriadão de calor que cai em final de semana. A partir de agora, o movimento para o litoral volta a crescer somente lá no último trimestre do ano”, ressaltou Michelin. 3 a 9 de abril de 2010

O Caxiense

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Roberto Hunoff roberto.hunoff@ocaxiense.com.br

Número histórico

Fevereiro foi mais um mês positivo para a economia caxiense, considerando que a queda de 0,9% em relação a janeiro teve como causa a sazonalidade do segmento de serviços, normalmente desaquecido neste período por força das férias, do verão e do Carnaval. Já a indústria, esta em especial e motor da economia de Caxias, e o comércio apresentaram resultados positivos, de 4,2% e 3,2% sobre janeiro último, e de 21,9% e de 6,3% em relação a fevereiro de 2009. No geral a economia cresceu 15% sobre o mesmo mês do ano passado. A manter-se este quadro, em março, talvez abril, o desempenho de 12 meses já seja positivo; no momento, ainda é 1,8% negativo.

Os dados de fevereiro divulgados pela CIC e CDL remetem a um momento histórico. Caxias superou, sem incluir os empregos públicos, 155 mil vagas formais, das quais 83 mil na indústria e na construção, 24 mil no comércio e 48 mil nos serviços. No ano

Economia X postos de trabalho (acumulado 12 meses, em %) Economia

2010

-1,8

-5,1

2009

4,5

0,3

5,6

10,9 8,2 4,6

7,2

2008

-0,4

2007

O Residencial Iandé, entregue nesta semana, no bairro Panazzolo, é o primeiro projeto finalizado pela Iandé Incorporadora, criada por 10 investidores com objetivo de produzir empreendimentos únicos. O projeto arquitetônico, assinado por Roque Frizzo, traz como diferenciais o conceito simétrico, com fachadas movimentadas pelas formas das sacadas, uma quadrada e outra elíptica.

é o quarto maior banco do Brasil. A meta do presidente é aumentar de 5% para 6,5% a participação da instituição no mercado brasileiro em três anos, investindo prioritariamente na ampliação da carteira de crédito, que somente em 2010 deve crescer 20%.

Empreendimento luminoso

A Light Design, franquia brasileira com lojas na Europa, traz a Caxias a modernidade e a sofisticação da iluminação. O empreendimento de Lucas Marcon será inaugurado terça-feira (6), a partir das 19h30, no Villagio Iguatemi. Sua proposta é de comer-

cializar equipamentos exclusivos em soluções luminotécnicas, recursos que projetam a luz através de desenhos arrojados e funcionais. No show room de 400 m2 haverá um laboratório de luz, sem similar no Estado, onde poderão ser vistos os efeitos de cada lâmpada.

O diretor-presidente do Sicredi, Ademar Schardong, será o palestrante desta segunda-feira (5) da reunião-almoço da CIC de Caxias do Sul. Falará sobre perspectivas econômicas para a instituição financeira, que completa 10 anos de presença em Caxias do Sul.

O diretor-proprietário e de criação da grife Cavalera, Alberto Hiar, e a empresária Heloísa Hervé, diretora da Job & Hervé Alfaiataria Publicitária, participam no dia 7 de abril da aula de início de semestre dos cursos de Design, Design de Moda e Tecnologias Digitais da UCS. O encontro ocorre a partir das 19h30 no auditório do Campus 8.

Curtas

O ex-governador Germano Rigotto será o palestrante da aula inaugural dos cursos de Ciência Política, Administração, Ciências Contábeis e Relações Internacionais da Faculdade América Latina. Nesta segunda-feira (5) ele abordará o tema Brasil: as barreiras para o desenvolvimento.

O Grupo Eiffel projeta para este ano a venda de 1,2 mil veículos da marca Citroën, da qual é concessionária autorizada em 54 municípios por meio de três unidades localizadas em Caxias do Sul, Bento Gonçalves e Gramado. Em relação a 2009 o crescimento esperado é superior a 30%, índice que será perseguido pela montadora. A empresa caxiense conquistou recentemente dois prêmios: o Citroën Paixão do Cliente, entregue em Paris aos 40 melhores concessionários em qualidade do mundo, e o primeiro lugar no Totalité – Qualidade Pós-Venda, que envolve as autorizadas de todo o país. De acordo com a diretora Fabiana Restelatto (na foto, recebendo o prêmio), a Eiffel tem 4% do mercado caxiense, acima dos 2,5% da média nacional da montadora.

O empresário Adair Umberto Mussoi assume na sexta-feira (9), a presidência do Sindicato dos Representantes Comerciais de Caxias do Sul. Na solenidade, marcada para as 19h30, no Sesc, ele receberá o cargo de Maria Cecília Pozza. Divulgação/O Caxiense

Júlio, Objetiva, Div./O Caxiense

As tendências do varejo mundial apresentadas na National Retail Federation, principal evento do setor em todo o mundo, realizado em Nova York, em janeiro deste ano, serão detalhadas na terceira edição do Meeting de Relacionamento, iniciativa da Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul. A programação marcada para segunda-feira (5), a partir das 19h30, no auditório da CIC Caxias do Sul, também contempla debates sobre o perfil do público consumidor feminino.

3 a 9 de abril de 2010

2006

O presidente do HSBC Bank Brasil, Conrado Engel, fará escala segundafeira em Caxias do Sul. No cargo desde junho de 2009, ele vem com o objetivo de conhecer as duas agências locais (uma delas Premier Centre) e seus gestores e definir metas. O HSBC

A Agrimar, ligada ao comércio de produtos para o agronegócio e jardinagem, completou 40 anos de atividades. O presidente da empresa, Nadir Rizzi, recebeu homenagem da Câmara de Vereadores. Atualmente a empresa tem 185 colaboradores.

O Caxiense

2005

Escala aqui

Quarentona

4

4,5

0,8

10 2004

Embora o cenário de confiança, alguns aspectos preocupam. Um deles é a pressão inflacionária, que terá como consequência, já sinalizada pelo Banco Central, a elevação dos juros. Contribuirá para o aumento da inflação o reajuste de 15%, a partir de abril, nos preços do aço, matéria-prima básica para a economia de Caxias do Sul. Outro problema advirá da expressiva elevação dos gastos públicos, que poderá repercutir em aumento de impostos. Por fim, a suspensão dos incentivos tributários, como a isenção do IPI sobre os veículos, encerrada nesta quarta-feira, 31 de março.

Premiação

CIC/Caxias do Sul

Postos de trabalho

14,7

Motivos para rugas

Varejo futuro

já são 5,3 mil novos empregos e, em 12 meses, 6,7 mil. Outro dado significativo, que merece análise mais profunda de lideranças acostumadas ao denuncismo: em 12 meses a economia caiu 1,8%, mas no mesmo período o número de empregos cresceu 4,5%.

Diferenciado

Jonas Rosa, Divulgação/O Caxiense

Efeito da sazonalidade

Posses

As novas diretorias do Sindilojas e do Sindigêneros marcaram posse festiva conjunta. Será no dia 8, às 20h, no Hotel Samuara. Nesta semana os novos integrantes do Sindilojas, que continuará presidido por Ivanir Gasparin, reuniram-se para a posse oficial. Sadi João Donazzolo e Nadir Pedro Rizzi são seus vice-presidentes.

Lotação

O Bergson Executive Flat, de Caxias do Sul, fechou o mês de março com 90% de ocupação, resultando num dos maiores faturamentos em seus 11 anos de história, que cresceu 32%. Além da atração de visitantes de feiras regionais, como Festa da Uva e Movelsul, o hotel sediou o 1º Encontro Nacional de Coordenadores Regionais dos Serviços Turísticos.

Avanço robusto

O varejo nacional de materiais de construção registrou incremento de 5,1% nas vendas de março em relação a fevereiro último e 11% sobre igual mês do ano passado. No trimestre o setor já apura expansão de 12,5%. Para o ano é esperada alta de 10%, resultando em faturamento de R$ 50 bilhões. O incremento deve-se, principalmente, aos recursos destinados pelo governo federal à habitação.

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


Maicon Damasceno/O Caxiense

Desacertos salariais

Na Unidade Básica de Saúde do Centro, caso haja adesão dos médicos, somente os serviços básicos serão mantidos

GREVE PÕE A SAÚDE EM RISCO

O

por JOSÉ EDUARDO COUTELLE jeduardo.coutelle@ocaxiense.com.br

ambiente ainda estava calmo. No início da tarde de quarta-feira (31), poucas pessoas formam uma fila para receber a vacina da gripe A, logo na entrada da Unidade Básica de Saúde (UBS) do Centro. Aos poucos, as pessoas começam ocupar os bancos plásticos no corredor. Sob luminárias fluorescentes, o corredor adquire um tom fosco, que combina com o ânimo de quem busca ajuda para curar um problema de saúde. Às vesperas da greve dos médicos, quando muitas UBSs poderão ficar desprovidas desses serviços, o clima continua calmo. Entre pacientes e funcionários, poucos conheciam os planos de paralisação – a partir de segundafeira (5) – e a reivindicação de 240% de aumento (de R$ 2 mil para R$ 7 mil) por 20 horas semanais (quatro horas por dia). Este é o caso de Janina Gorczak Segelski. Seus cabelos brancos e a surdez de um ouvido denotam a idade avançada. Aos 84 anos, mantém o sotaque de origem polonesa. São 14h30, e Janina está preocupada. “Vim entregar uns exames para a doutora. Tenho horário marcado para as 15h. Nem sei se vou conseguir ser atendida”, conta, falando alto. Logo em seguida sorri e conta o motivo de estar ali. “Sinto uma queimação na perna. Acho que tenho hanseníase.” Ela aguarda pela médica da tarde, Elizabete Bernardi. Atrás de sua mesa, a doutora atende aos mais variados pacientes e seus problemas. “Não é porque ganho mal que vou atendê-los mal”, reflete. Elizabete é funcionária pública desde 1984. Nesse período, trabalhou em quatro Unidades Básicas de

Saúde (UBSs), e há três anos atende no Centro. Ela lembra que na paralisação de 2009 todos os médicos da UBS Centro aderiram. “Fiz a greve no ano passado e vou fazer novamente”, adianta. No pavimento superior se encontra o escritório da gerência da UBS. O enfermeiro Fernando dos Santos Bitencourt é encarregado de dirigir a unidade. O trabalho administrativo exige habilidades que não são ensinadas no curso de enfermagem. “Estou sempre com documentos urgentes para serem entregues”, conta ele, com um maço de papéis na mão. Apesar da iminente greve dos médicos, o ritmo de trabalho continua normal. “Não percebi nenhuma mobilização ainda”, dizia, na quarta-feira (31). Fernando ainda não teve o trabalho de gerenciar uma unidade em greve. A última foi no fim de julho do ano passado, e ele assumiu o cargo em novembro. Entretanto, ele ressalta que a maior parte das pessoas que procuram o posto de saúde não é socorrida por médicos. “Realizamos aqui em torno de 6 mil atendimentos por mês. Deste total, apenas 1,5 mil são consultas médicas. A grande maioria é resolvida pelos demais funcionários de saúde.” A UBS do Centro conta com 25 funcionários: seis médicos – três clínicos gerais, dois pediatras e um ginecologista –, dois dentistas, sete auxiliares de enfermagem, dois técnicos de enfermagem e dois auxiliares administrativos, além dos estagiários e funcionários da limpeza. Fernando explica que, durante a paralisação dos médicos, serviços como curativos, vacinas e visitas domiciliares continuarão. Assim, os 38 mil habitantes da região contemplada pela unidade receberão os atendi-

Sindicato dos Médicos, que pede 240% de reajuste, promete paralisação a partir do dia 5

mentos básicos de saúde, mesmo sem como direito constitucional.” médicos, diz o gerente. Em um pequena sala com paredes Na sede do Sindicato dos Médicos, brancas, a enfermeira Bianca Bagnati no 8º andar de um prédio da Rua Benatende os pacientes que chegam para to Gonçalves, o presidente Marlonei fazer curativos. Uma senhora tem feri- Silveira dos Santos explica detalhadadas nos pés devido à diabetes e precisa mente sua versão para o impasse da cade atendimento. Após tratá-la, Bianca, tegoria em Caxias do Sul. Abrandando em um breve momento de folga, se di- a voz, com os cotovelos apoiados na rige a sua sala. “Sou a única enfermeira mesa, guia-se por um documento que e sempre tenho muito lhe serve de roteiro. trabalho. Agora é a pri“Nós temos um movimeira vez que consigo “Parece que o mento de reivindicação sentar na minha mesa”, Sindicato Médico do Sistema Único de conta ela, que trabalhaSaúde (SUS) que iniva sem um momento está negociando ciou em junho do ano de descanso há quase num tom de passado. Solicitamos a duas horas. Com oito ameaça e implantação de um plaanos de profissão, a chantagem”, diz no de carreira, cargos enfermeira construiu e salários”, recapitua maior parte da car- o presidente do la. Atualmente, o piso reira no Hospital Moi- Sindserv, João salarial dos médicos, nhos de Vento, em Dorlan da Silva como dos demais funPorto Alegre. No ano cionários públicos com passado, veio para Canível superior, é de R$ xias para trabalhar na UBS do Centro. 2.055,70. Eles exigem que o piso seja Bianca se mostra segura, mesmo com elevado para R$ 7 mil. “Logicamente o possível tumulto que se avizinha. que o nosso pedido não exige que se “A demanda permanece com a greve. passe automaticamente de R$ 2 mil Como enfermeira, muitas coisas, legal- para R$ 7 mil. A gente sabe que isso mente, não posso fazer. Entretanto, os é difícil, mas o que sempre se pediu é serviços como curativos especiais, par- que viesse uma proposta com um valor te do pré-natal, cadastros, acompanha- intermediário que atendesse, pelo mementos, vacinas, sinais vitais e medica- nos, o início das nossas reivindicações. mentos continuarão sendo oferecidos.” Valor este sempre atrelado à implanApesar de elencar as suas atribuições, tação de um plano de carreira, seja de Bianca sabe que a segunda-feira ini- imediato ou a médio prazo”, pondera. ciará de forma conturbada com a auComo essa proposta não chegou sência dos médicos, e muitas pessoas até a tarde de quinta-feira, véspera do exigirão ser atendidas. “Sei que alguns feriado, Marlonei convocou a categopacientes vão se sentir prejudicados, ria a parar nas 41 UBSs. Segundo ele, principalmente aqueles com doenças apenas os atendimentos de urgência agudas. Mas também compreendo o e emergência continuarão sendo realado do profissional, que tem a greve lizados no Pronto Atendimento 24h.

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3 a 9 de abril de 2010

O Caxiense

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Maicon Damasceno/O Caxiense

Marlonei: “Logicamente que o nosso pedido não exige que se passe automaticamente de R$ 2 mil para R$ 7 mil. A gente sabe que isso é difícil”

Lá, conforme o sindicalista, em torno de 70 profissionais, de um total de 100, continuarão trabalhando. “Os médicos comparecerão porque é serviço de urgência e emergência. A lei prevê que se deva ir. Mas atenderão apenas casos de urgência e emergência. Vou te dar um exemplo: a pessoa que teve uma cólica renal e está com uma dor insuportável. Esse tem que ser atendido. A pessoa que se acidentou, e está com esmagamento ou fraturas. Esse também tem que ser atendido. Se a pessoa chegar no Postão e disser ‘eu estou com a unha encravada’, não vai ser atendida; ‘eu estou gripado’, não vai ser atendido; ‘estou com dor no peito e suando’, bom, isso pode ser um infarto do miocárdio, então vai ser atendido”, explica. Marlonei enfatiza que a greve resulta da falta de uma “proposta real” exigida ainda no ano passado, quando ocorreu uma paralisação de três dias. Ela só foi suspensa, lembra o presidente, devido à proliferação do vírus H1N1. Em outubro, com o fim da gripe, o sindicato voltou a cobrar da prefeitura uma contraproposta. “No dia 16 de dezembro, nos reunimos com o prefeito. Nesta data ele determinou, junto com o secretários de Saúde e Finanças, que estavam na reunião, que apresentassem uma proposta concreta. Isso foi feito três dias depois pela secretária Maria do Rosário Antoniazzi na tela do com-

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O Caxiense

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putador, nada por escrito num documento formal. Um valor intermediário passando de R$ 2 mil para R$ 3 mil, e com algumas vantagens. A gente ficou de ver e marcar uma reunião para uma semana depois, que seria dia 23 de dezembro. Quando chegou o dia, nós ficamos sentados esperando e ninguém apareceu”, reclama. Marlonei argumenta que o aumento de 240% é um pedido referente a quase 50 anos de estagnação salarial. E acrescenta que o valor de R$ 7 mil não é aleatório. “A lei do piso do salarial é de 1961, e prevê três salários mínimos. A FGV corrigiu esse valor para os dias de hoje, o que resultou em R$ 7,5 mil. Em 1961, quem ganhava um salário mínimo, que hoje é R$ 550, recebia o equivalente a R$ 2,5 mil. Na verdade, todos nós perdemos”, analisa. O ultimato da classe médica não tem o apoio do Sindicato dos Servidores Municipais (Sindserv). O presidente da entidade, João Dorlan da Silva, queixa-se que, apesar de os médicos do SUS serem funcionários públicos, eles partem sozinhos numa campanha por aumento salarial que deixa de fora todas as demais categorias. “Lamentavelmente, o movimento é próprio. Ele não consulta o Sindserv. Não chama para uma ação conjunta”, afirma. Conforme João, foi acordado que todas as negociações salariais seriam através do

sindicato. “No ano passado, buscamos um aumento no ganho real de 7,83%, mas só conseguimos 2%, para todos os 8 mil servidores públicos. Nossa diferença é que nunca ameaçamos greve. Até podemos chegar a uma paralisação. Mas parece que o Sindicato Médico está negociando num tom de ameaça e chantagem”, conclui. De junho de 2009 para cá, o desencontro entre os representantes dos médicos e da prefeitura continuou. No dia 23 de março a categoria fez uma assembleia em que se determinou a paralisação dos serviços por cinco dias úteis. “Horas antes da reunião a secretária da Saúde ligou dizendo que estava fechando uma proposta salarial de R$ 3 mil, que com as gratificações e produtividade chegaria aos R$ 4 mil. Em princípio, era uma proposta que a gente aceitaria, porque é um avanço. Então ficamos aguardando. Eu liguei sexta-feira (26) para ela, preocupado, para manter o diálogo, e a secretária disse que estava com dificuldades, mas que a proposta viria.” A greve de julho de 2009 teve como reflexo 75% de adesão dos 368 médicos concursados em Caxias do Sul, conforme o sindicato. Marlonei diz que se 30% deles aderirem a essa nova paralisação, nas condições precárias em que o SUS em Caxias se encontra, a

bagunça será instalada em todo atendimento. E, persistindo o desacerto com a prefeitura, a categoria já planeja uma segunda paralisação, por mais cinco dias, a partir de 3 de maio. Caso o poder público aceite a briga e repita a postura do ano passado, o sindicato promete entrar em greve por mais cinco dias a partir de 3 de maio. A secretária da saúde, Maria do Rosário Antoniazzi, foi procurada mas não quis dar depoimento. Ao longo da semana, a secretária da Saúde, Maria do Rosário Antoniazzi, não se manifestou sobre o impasse com os médicos. O encarregado de responder pela crise foi o secretário de Recursos Humanos e Logística, Edson João Adami Mano. Ele diz que a prefeitura está estudando a possibilidade do reajuste, mas avisa que qualquer decisão precisará de um longo período de maturação. “O assunto é muito complexo. Esse aumento reflete diretamente na aposentadoria. Além disso, temos de saber se a prefeitura tem valor em caixa suficiente para este aumento, não só neste primeiro momento como nos próximos anos, visto que já sabemos com certeza que não teremos recursos da União”, argumentou Mano na quinta-feira. Diante desse diagnóstico, fica claro que a crise da saúde em Caxias só poderá ser resolvida depois de um longo (e doloroso) tratamento.

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


Artes artes@ocaxiense.com.br

POR AQUI

P Margarete Beatriz Zanchin | Sem título |

Uma cidade movida pela indústria do metal é retratada no mesmo material que a impulsiona. Com a técnica da calcografia, a artista plástica fez uma série de 11 imagens. Na gravura, parte da Avenida Itália.

por MARCELO MOURA

or aqui não sorriem de graça, logo estendem o chapéu, ou fazem tilintar as moedas que se encontram em suas canecas. Tudo é perto aqui, mesmo assim ninguém caminha tranquilo, existe pressa, ou um estranho receio de que as distâncias aumentem se os passos não forem largos. Por aqui existem palavras, nascem frases, surgem conversas e inventam-se histórias, o mundano é fantástico. Os prédios crescem para os lados por aqui, as plantas para cima, e as pessoas para dentro. Não canso de me perguntar se alguma dessas coisas chegará a ser grande um dia. Por aqui o sol nasce no leste, lê-se da esquerda para a direita, as faixas de pedestres são brancas, e os pedestres também são brancos, enfim, tudo de acordo. Tudo que é velho, quando contado por um novo,

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é novidade por aqui. Há música por todo o lado, e música de um lado só também, como uma invenção exclusiva! Discos sem um lado B. Por aqui é possível ver o último dos montes mesmo sem olhar para cima. Aqui o início e o fim são tão próximos que o espaço existente entre eles não pode ser determinado por nenhum forasteiro. Dizem por aí que, por aqui, pouca coisa brilha e nada soa bem... Se prestassem bem atenção veriam que isso não é verdade. Há diamantes por aqui, um ou outro, é verdade, mas há, também tem ouro de tolo, muito, sem dúvida, mas tem. Por aqui se resmunga pelos cantos, de uma forma que só é entendida por aqui – código inteligente – e no centro tentam explicar, para quem vem de fora dessa figura geométrica, o que foi dito nos cantos. Por aqui, muito se vê e sente-se muito, pouco se lê e entende-se pouco.

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Guia de Cultura guiadecultura@ocaxiense.com.br

DreamWorks Animation LLC, Divulgação/O Caxiense

Cinema | Como treinar o seu dragão

Como aprender com seu dragão por CÍNTIA HECHER

Um filme infantil com lição para adultos. A animação Como treinar o seu dragão ensina às crianças e relembra aos maiores a importância de ser fiel a si mesmo. Nem sempre seremos recompensados com a amizade de um dragão, mas vale a pena. No caso, é o pequeno viking Soluço quem conquista um dos lendários e temidos Fúria da Noite, a fera mais assustadora de todas, por não ser percebida até seu ataque mortal. Ninguém jamais sobreviveu para descrevê-lo. Tanto que em um livro sobre as espécies de dragão e suas características – sempre acompanhadas da recomendação “extremamente perigoso. Matar na hora” – o Fúria da Noite merece uma página em branco, sem detalhes. Soluço mora em uma aldeia próxima de lugares denominados “Desânimo” ou “Morrendo de frio”, para lembrar que o local mergulha em um inverno de nove meses. Porém, mesmo a aldeia sendo antiga, com 300 anos de história, as casas são novinhas. Logo se descobre por que: são constantemente destruídas por ataques de dragões. Os bichos são considerados pragas, e os vikings são matadores de dragões. Por mais que queira acompanhar a tradição, lutar, matar e deixar o pai orgulhoso, o menino não tem sucesso. Numa dessas tentativas, ele acerta o Fúria da Noite, mas ninguém acredita. Ao procurar onde o bicho atingido estaria, encontra um dragão da cor da noite, ferido e impossibilitado de voar. Ao invés de matá-lo (sua intenção inicial, para ganhar fama na aldeia), ele o liberta. Com o passar dos dias, Soluço sai do seu treinamento diário de caçador de dragões para o meio da mata e estuda o bicho atingido. Aos poucos, um laço vai se formando. O que aprende nessa convivência, Soluço aplica nos treinos. Já não luta com os dragões, passa a domá-los. A relação com Banguela, claro, é especial: Soluço se vê no dragão fragilizado. O menino recebe o conselho “pare de se esforçar tanto em ser quem você não é”. A oportunidade para se conhecer de verdade é encontrada no dragão. Eles se entendem por ambos serem diferentes e solitários. Mesmo com vikings bravios defendendo seu território e suas posses de violentos e gigantescos répteis voadores, momentos ternos aparecem, sem pieguice. Há cenas encantadoras, como quando Soluço apresenta seu dragão de estimação à menina que ele gosta: Banguela os leva em um passeio aéreo por fofas nuvens rosadas pelo crepúsculo, depois pela noite pontilhada de estrelas na beira do oceano. l Como treinar o seu dragão | Animação. De sábado a quinta, 13h30, 15h30, 17h30, 19h30 e 21h30 | Iguatemi A vida de um adolescente viking vira de cabeça para baixo quando conhece um dragão que desafia tanto ele quanto seus companheiros a encararem o mundo de um ponto de vista totalmente diferente. Dirigido por Dean DeBlois e Chris Sanders. Livre, 98 min., dub.. Online | Assista aos trailers dos filmes em cartaz na cidade em www.ocaxiense.com.br.

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Nas asas de um inesperado amigo, um adolescente viking entende a importância de ser fiel a si mesmo

CINEMA

l Chico Xavier – O Filme | Drama. De sábado à quinta, 14h10, 16h40, 19h10 e 21h40 | Iguatemi Trajetória do famoso médium brasileiro. Dirigido por Daniel Filho. Com Nelson Xavier e Tony Ramos. Livre, 124 min.. l Histórias de amor duram apenas 90 minutos | Comédia. De sábado a quinta, 14h, 16h10, 18h50 e 21h15 | Iguatemi Escritor de comportamento adolescente, ocioso e desmotivado para escrever romance, encontra inspiração ao descobrir que sua esposa o trai com outra mulher. Dirigido por Paulo Halm. Com Caio Blat e Maria Ribeiro. 16 anos, 94 min.. l Nova York, Eu Te Amo | Drama. De quinta a domingo, 20h | Ordovás Onze cineastas, entre eles Natalie Portman estreando na função, dirigem um curta-metragem cada, unidos para celebrar o amor na Big Apple. Dirigido por Allen Hughes e Mira Nair, entre outros. Com Christina Ricci e Kevin Bacon. 110 min., leg.. l O Presente | Drama. Quinta (8), 15h. Entrada franca | Ordovás Avô deixa 12 tarefas a neto para, ao final, ser merecedor de herança. Cada uma delas tem o objetivo de promover alguma mudança, mas nenhuma terá tanta força quanto o encontro casual com uma menina. Dirigido por Michael O. Sajbel. Com James Garner e Abigail Breslin. Livre, 114 min., leg.. Matinê às 3. l Um Sonho Possível | Drama. De sábado a quinta, 13h50, 16h30, 19h15 e 21h45 | Iguatemi Mãe de família acolhe em sua casa adolescente sem-teto, acredita em seu potencial e o integra a time de futebol americano. Dirigido por John Lee Hancock. Com Sandra Bullock e Quinton Aaron. 10 anos, 128 min., leg..

AINDA EM CARTAZ - Alvin e os Esquilos 2. De sábado a quinta, 16h. UCS. | Dupla Implacável. Ação. Sábado, 22h. Pré-estreia. Iguatemi | Ilha do Medo. Suspense. De sábado a quinta, 13h40, 16h20 e 19h. Iguatemi | Lembranças. Romance. De sábado a quinta, 21h50. Iguatemi | O Fada do Dente. Comédia. De sábado a quinta, 18h. UCS | O Livro de Eli. Ação. De sábado a quinta, 14h20, 16h50, 19h20 e 22h. Iguatemi | O Lobisomem | Suspense. De sábado a quinta, 20h. UCS INGRESSOS - Iguatemi: Segunda e quarta-feira (exceto feriados): R$ 11 (inteira), R$ 7,50 (Movie Club Preferencial) e R$ 5,50 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). Terça-feira: R$ 6,50 (promocional). Sexta-feira, sábado, domingo e feriados: R$ 13 (inteira), R$ 10 (Movie Club Preferencial) e R$ 6,50 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). RSC-453, 2.780, Distrito Industrial. 3209-5910 | UCS: R$ 10 e R$ 5 (para estudantes em geral, sênior, professores e funcionários da UCS). Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Galeria Universitária | Ordovás: R$ 5, meia entrada R$ 2 | Luiz Antunes, 312, Panazzolo. 3901-1316

CURSO DE CINEMA l Como ver um filme (com Ana Maria Bahiana) | 12 e 13 de abril "Como ver um filme" (Introdução à apreciação cinematográfica) é o curso gratuito que a Secretaria Municipal da Cultura vai realizar nos dias 12 e 13, no Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, em promoção da Florense e do jornal O Caxiense. A ministrante é a jornalista e escritora Ana Maria Bahiana, atual correspondente em Los Angeles do UOL, portal em que mantém o blog Hollywoodianas (http://anamariabahiana.blog.uol.com.br). A carreira de Ana Maria Bahiana cobre três décadas de reportagem e comentário de cultura no Brasil e no Exterior. Inte-

grante da Hollywood Foreign Press Association (que concede os Globos de Ouro), Ana Maria escreveu e escreve para as mais diferentes publicações. De 1992 a 1995, foi a chefe do escritório de Los Angeles da revista inglesa Screen International, e de 1996 a 2002, representante, produtora e correspondente da rede Telecine e da Rede Globo nos Estados Unidos. A idéia do curso é levar ao público, de uma forma simples, prática e divertida, elementos necessários para ver um filme do mesmo modo como diretores, roteiristas, atores e produtores o veem. O curso é dividido em quatro módulos, concentrados em duas noites – sempre a partir das 19h. Cada encontro será ilustrado por sequências de filmes que demonstrem os principais pontos das palestras. Ordovás Inscrições gratuitas pelo fone 3901.1067, com Jonas, ou no Ordovás | Luiz Antunes, 312, Panazzolo

INCENTIVO l Financiarte | Até dia 7 de abril | Inscrições abertas para projetos culturais. Esclarecimentos e instruções sobre preenchimento de formulários podem ser obtidos nas segundas-feiras, às 14h, na Secretaria Municipal de Cultura. O edital está disponível no www.caxias.rs.gov.br. Secretaria de Cultura Augusto Pestana, 50, São Pelegrino | 3901-1381

TEATRO l 12° Caxias em Cena | Até 14 de maio | O festival recebe inscrições de grupos e companhias, que devem enviar ficha de inscrição, ficha técnica, currículo do espetáculo, necessidades técnicas, material de divulgação, clipping e DVD/Vídeo do espetáculo na íntegra. O material pode ser entregue pessoalmente ou pelo email caxiasemcena@ caxias.rs.gov.br. Regulamento e ficha

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ARTE CIRCENSE l Encontro Estadual de Palhaços (EEPA!) | Até 11 de abril | Oficina de Iniciação Clown/Palhaço | De quinta (8) a domingo (11), das 8h às 13h | Ministrada pelo espanhol radicado em Florianópolis Pepe Nuñes disponibiliza 20 vagas. Cia. Municipal de Dança – Ordovás R$ 15 | Luiz Antunes, 312, Panazzolo | 3901-1316 l Oficina Maquialhaçada | Sexta (9), das 13h às 18h30 | Ministrada pelo maquiador Pepe Pessoa, a oficina ensina maquiagem para palhaço e teatro, disponibilizando 20 vagas. Sala de Ensaio Centro Cultural R$ 15 | Júlio de Castilhos, 1526, sala 2, Centro | 39221-0261 e 3028-0261

EXPOSIÇÕES l Amor à primeira vista | De segunda a quarta, das 9h às 18h e de quinta a domingo, das 9h às 22h | Inaugura nesta terça (6) a exposição com rótulos de garrafas de vinho, produzidos pela Degráfica. Hall da Sala de Cinema – Ordovás Entrada franca | Luiz Antunes, 312, Panazzolo | 3901-1316

LITERATURA l 44° Concurso Anual Literário de Caxias do Sul | Até 15 de abril | Concurso premia melhores obras literárias, contos, crônicas e poesias. Regulamento e ficha de inscrição na Biblioteca Pública Municipal. Biblioteca Pública – Casa da Cultura Dr. Montaury, 1333, Centro | 32145937 ou 3221-1118

DANÇA l Tango para iniciantes | Quartas, 20h30 às 22h | Inscrições abertas, com início das aulas em 7 de abril. Clube Ballroom R$ 160 mensais | Coronel Flores, 810, sala 107, São Pelegrino | 3223-2159

MÚSICA

l Superguidis e Zava | Rock. Sábado. 23h30 | Como diz em seu próprio site, a Superguidis é “um perfeito casamento de elementos underground com a ambição radiofônica, pop e em bom português”. Se é perfeito mesmo, só indo conferir o som dos caras, com larga influência de bandas como Pavement, Nirvana, Sonic Youth e Queens of the Stone Age. A prova está nos dois álbuns – um deles produzido por Philippe Seabra, da Plebe Rude – que a Superguidis já tem lançados. Antes deles, quem faz o show de abertura é

Exposição | Cataluña - Watercolors

a banda caxiense Zava, que traz seu power rock com uma novidade: agora é um trio. Esse é o primeiro show depois da saída do vocalista e compositor Vinícius Augusto de Lima, mas eles prometem exibir a mesma energia no palco, com o guitarrista João Perez assumindo os vocais. Vagão Bar R$ 15 ou R$ 12 com nome na comunidade | Coronel Flores, 789, São Pelegrino | 3223-0007

A Espanha pelo repórter das aquarelas por MARCELO ARAMIS

TAMBÉM TOCANDO - Sábado: A Dona da Banda. Pop rock. 23h. Pepsi Club. 3419-0900 | Blackout. Música eletrônica. 23h. Studio54Mix. 91043160 | Deep Purple Cover. Rock. 23h. Roxx Rock Bar. 3021-3597 | Fantasy in Wonderland. Música eletrônica. 23h. Nox Versus. 3027.1351 | Grupo Caô. Pagode. 23h. Europa Lounge Garden. 3536-2914 ou 8401-2029 | Libertá. Nativista e outros gêneros. 22h30. Libertá Danceteria. 3222-2002 | Marmanduke. Samba rock/MPB. 23h. Portal Bowling – Martcenter. 3220-5758 | Only Mayer. Rock/John Mayer Cover. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Saturday Night. Música eletrônica. 22h. Havana Café. 3215-6619 | Domingo: Swing Natural. Pagode. 21h. Europa Lounge Garden. 3536-2914 ou 8401-2029 | Terça (6): Fernando Aver Jazz Trio. Jazz. 22h. Leeds Pub. 3238-6068 | Ton e os Karas – Tributo a Rolling Stones. Rock. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Quarta (7): Bóra Balançá. Sertanejo universitário. 22h. Portal Bowling – Martcenter. 3220-5758 | Flávio Ozelame Trio. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Quinta (8): Evandro Demari e convidados. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Sexta (9): Ale Ravanello Blues Combo. Blues. 22h30. Mississippi Delta Blues Bar. 3028-6149 | Bipolar. Pop rock. 23h. Portal Bowling – Martcenter. 3220-5758 | Blackbirds. Rock. 23h. Vagão Bar. 3223-0007 | Os Oitavos. Indie rock. 22h. Leeds Pub. 32386068.

Antônio Giacomin/O Caxiense

l Antártida | De segunda a domingo, das 10h às 22h | Fotografias apresentam o continente sob o ponto de vista de Nei Maldaner, que viajou em um navio quebra gelo em 2004, 2006 e 2009. Shopping Iguatemi Caxias Entrada franca | RSC-453, 2.780, Distrito Industrial | 3289-9292

AINDA EM EXPOSIÇÃO - Corina, elegância e tradição nos figurinos da Festa da Uva . De segunda a sexta, das 9h às 17h. Museu Municipal. 32212423 | Mulher em foco. De segunda a sexta, das 8h às 20h. Jardim de Inverno – Sesc. 3221-5233 | Um olhar sobre a CIC. Até 6 de abril. Centro de Convivência – UCS. 3218-2100 |

Maicon Damasceno/O Caxiense

de inscrição estão disponíveis no site www.caxias.rs.gov.br. Unidade de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura Luiz Antunes, 312,Panazzolo | 39011316

Em 2008, Antônio Giacomin esteve na Espanha e encantou-se pelas arquiteturas moura, romana e bizantina, preservadas há séculos na região. Para o olhar do artista, que se dedica a pintar os efeitos do envelhecimento, aquele era um lugar de generosa oferta da sua principal matéria-prima, as ruínas do tempo. Em 2009, Giacomin voltou à Espanha, realizou uma mostra individual sobre a Costa Brava e colheu inspirações que deram origem à Cataluña – Watercolors. São 40 aquarelas, que mostram paisagens urbanas e rurais, prédios antigos e o cotidiano de 25 cidades espanholas. Uma coletânea de cartões-postais. No entanto, as imagens não se prendem na caricaturização turística da Espanha. Entre prédios históricos e paisagens famosas, Giacomin escolhe os reflexos nas poças d'água, as pacatas vilas do interior, as estratégicas réstias de sol. Em duas viagens, o olhar do turista-artista desvendou a beleza dos “fundos” da Espanha e registrou elementos considerados corriqueiros pelo olhar comum. O mesmo clima de preservação histórica que chamou a atenção de Giacomin no patrimônio arquitetônico espanhol foi encontrado nos costumes locais. A delicadeza no preparo da comida, o refinamento dos bares, o despojamento das refeições feitas ao ar livre e a tranquilidade dos pedestres conquistaram o artista pelo seu conteúdo nostálgico, que é a base da sua inspiração. Cataluña – Watercolors marca o ingresso da obra de Giacomin em uma fase de pinceladas leves: mais impressionistas e menos acadêmicas. No entanto, a precisão do traço, herança do design industrial, primeira atividade do artista, ainda resiste nos quadros. Na mistura entre a aquarela e o design – identidade de Giacomin –, borrões e tinta escorrida dão a nítida noção de profundidade e iluminação às cenas. No centro da galeria, há uma mostra do processo de criação de Giacomin, que sustentaria uma exposição à parte. O artista expõe ferramentas de trabalho, estudos e croquis que mostram os diversos momentos da carreira e a evolução de sua obra. São páginas dos seus “blocos de anotações”. É assim, com a mesma simplicidade dos temas que retrata, que Giacomin se refere aos cadernos de croquis. Como um repórter das aquarelas, sempre leva consigo um bloco, lápis, tinta e pincéis. O artista para diante de cada cena que merece virar notícia em suas telas. Não demora muito mais do que cinco minutos para captar o movimento, a luz e a essência do lugar. Para Giacomin, a despretensiosa anotação é a sua verdadeira obra de arte. E as obras que nascem a partir dos estudos são meros caprichos. A arte e os belos “caprichos” ficam em exposição até o final de abril. Visite sem pressa! l Cataluña – Watercolors | De segunda a sexta, das 8h30 às 18h, e aos sábados, das 10h às 16 | A exposição de Antônio Giacomin reúne 40 aquarelas inspiradas na Espanha, a partir de viagens do artista ao país, em 2008 e 2009. Galeria Municipal Entrada franca | Dr. Montaury, 1.333, Centro | 3221-3697

Partindo sempre de seu "bloco de anotações", Antônio Giacomin ilumina cenas cotidianas e cenários históricos

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Online | Veja a galeria de aquarelas de Antônio Giacomin em www.ocaxiense.com.br. 3 a 9 de abril de 2010

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TEM GENTE

INVESTINDO Espetáculos que ficavam em cartaz por curto período agora têm nova casa, onde podem ficar por longas temporadas

Zica Stockmans: “Éramos sempre convidados e agora nós que recebemos propostas, está mais divertido”.

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por CÍNTIA HECHER cintia.hecher@ocaxiense.com.br m texto que nos aproxima das loucuras que um coração é capaz condiz com a realidade do novo espaço cultural de Caxias, a Casa de Teatro. Isso porque, como enfatiza a atriz e diretora , Zica Stockmans, o elemento básico do teatro é a paixão. Nos dias 25 e 26 de março, a atriz porto-alegrense Ida Celina voltou a Caxias para apresentar, pela primeira vez, o monólogo Maldito coração me alegra que tu sofras, escrito pela dramaturga Vera Karam. Naqueles dias, entrava em cena, também, uma outra estreia. Era a inauguração da nova sede da escola de teatro Tem Gente Teatrando. A primeira noite foi para convidados. A segunda, aberta ao público, causou alegre surpresa aos organizadores: 80 lugares disponíveis, mas um público em torno de 100 pessoas. O terreno com duas casas recentemente reformadas para abrigar a Casa de Teatro fica na esquina das ruas Olavo Bilac e Regente Feijó, próximo aos trilhos do trem, no bairro São Pelegrino. Uma escadaria de pedra leva a uma espécie de átrio, com bancos e muitas plantas. A casa foi completamente transformada. A biblioteca era uma cozinha com azulejos velhos, agora com uma parede roxa e uma grande estante, do chão ao teto, com diversos livros sobre teatro, LPs e fitas de vídeo. No lado de fora, cercado por verde e um céu aberto convidativo, há a outra casa do complexo, de janelas amplas. Essa, foi “destruída”, diz Zica. As reformas ocorreram em aproximadamente 40 dias. Foram oito contêineres de entulho retirados das obras. Guardado por um biombo coberto por uma espécie de manta, encontrase o teatro, uma ampla sala que acomoda 80 cadeiras. O palco não tem degrau ou diferenciação do resto do espaço facilitando a adaptação, não há

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nada fixo. E essa é a maior qualidade do local. “É um conceito novo, o de se adequar ao criador. Não é o espetáculo que tem que se adaptar ao espaço. Aqui tudo pode ser diferente. É um conceito mais contemporâneo de arte”, explica Zica. A versatilidade, um trunfo do novo espaço. A escola, que também é companhia de teatro, completa 21 anos em 2010. Na sua maioridade, foi finalmente concretizada uma ideia antiga para suprir o que o povo teatreiro via como necessidade: um novo local para suas apresentações. “Caxias é carente de espaço. O Teatro Municipal tem que atender a demanda da cidade toda, não pode ficar só a Zica lá. Os particulares têm aluguéis caros. A proposta da Casa de Teatro é ser um excelente espaço, super adequado para os alunos e também para os grupos locais, com ensaios e espetáculos”, explica a diretora. Uma das melhorias fica por conta da adoção das temporadas. Ter espetáculos apresentados constantemente, com período maior em cartaz. O ator e membro da administração da escola, Sandro Martins, envolvido com a escola desde 1998, pensa que isto serve como aprendizado a qualquer um. “Olha a diferença que é um espetáculo ser apresentado uma vez agora, outra meses depois, ou ele ficar em cartaz por três semanas. O grande exercício é estar em cena”, diz Sandro. Para ele, o que a cidade mais tem a ganhar é na formação de plateia. O costume de visitar o teatro. A indicação de uma peça que, sim, continua em cartaz. “Ruim é dizer que assistiu uma peça ótima e perguntarem quando tem de novo. Responder que só em novembro desmotiva”, analisa. O teatro é considerado pequeno, de oito metros por 13, comparado a outros da cidade como os 402 lugares do Municipal ou os 750 do UCS Teatro. “Mas é preferível lotar um teatro de

80 lugares que colocar 80 pessoas em nativo, no sentido de ser diferenciado, um teatro de 400 lugares”, diz Sandro. de acolher manifestações cênicas e ouQuem concorda é a diretora da Casa tras formas de linguagem. A cena de da Cultura Percy Vargas de Abreu e Caxias vai se favorecer. Além do mais, Lima, Magali Quadros. De acordo com a casa é um charme!”, opina a atriz. A ela, Caxias está crescendo na área cê- convidada de honra das noites de esnica, não só o teatro como outras ma- treia encontrava-se confortavelmente nifestações. Ela chama o formato do disposta em um dos sofás da Casa de teatro da Casa de “teatro de bolso”, por Teatro, conversando com alunos da ter palco que comporta escola, professor, iluespaço de pequena diminador e até um exmensão. A adaptação “É o espaço aluno que passava por é uma atitude que, ela perfeito, lá e resolveu ficar para diz, se vê em outros o bate-papo. Essa é que contempla a lugares do Brasil e no uma característica que exterior. “Essa cultura necessidade o local quer manter: a de que tem que ser pal- contemporânea. de não só formar atoco italiano – o clássico, A cena de Caxias res, mas fazer amigos e como encontramos no vai se favorecer”, parceiros. Teatro Municipal – não é normal no resto do diz a atriz A Casa de Teatro mundo. O teatro não Ida Celina contempla o trabalho está limitado a essa arem grupo e a convivênquitetura cênica”, afircia. “É importante essa ma Magali. Ela deseja que esse novo roda viva. A pessoa passa, entra e pode espaço abra a cabeça das pessoas e gere encontrar algo. É espontâneo. O teatro multiplicidade cultural. Dessa forma, a é aglutinador”, define Ida. E lá todos diversidade começa a aparecer. concordam que o espaço recém-inauSegundo Sandro, a Casa de Teatro re- gurado favorece tanto a comunidade novou as perspectivas de futuro da es- quanto as aulas, guiadas pelo profescola. “Ensaiar no mesmo lugar onde se sor Miguel. Como resultado, os alunos apresenta depois é bárbaro”, diz Zica. O são agraciados e estimulados com um desafio agora é a manutenção, encon- espetáculo no final do período letivo, trar formas e parcerias para que a Casa juntamente com apresentações dos continue aberta. Nunca o será por falta profissionais da própria companhia. de produções, tanto locais quanto de Tudo isso resulta em uma mostra, que outras cidades. Não há nenhum espe- se encaminha para sua 12ª edição. E táculo agendado, mas a programação neste ano, será especial: será realizada, está sendo formada aos poucos. “Te- literalmente, em casa. mos um espaço adequado a receber A equipe Tem Gente Teatrando está outros tipos de proposta. Éramos sem- satisfeita, mesmo com as complicações pre convidados e agora nós que rece- enfrentadas. “Foi dificuldade física, bemos propostas, está mais divertido”, psíquica e financeira, mas foi um inalegra-se a diretora. vestimento. Vinte e um anos de trabaIda Celina, já parceira de anos da es- lho foram colocados aí. E os próximos cola, vindo de Porto Alegre para minis- 20 também, para pagarmos o financiatrar aulas ocasionais, considera a nova mento. Mas quando vi pronto foi como sede como o início de um novo ciclo. nascimento de filho, que a gente esque“É o espaço perfeito, que contempla a ce das dores e sofrimento”, diverte-se necessidade contemporânea, e é alter- Zica.

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Imersão cultural


Eleição na UCS

AS RAZÕES da

vitória de

zorzi

Viabilidade das propostas é o argumento dos membros do Conselho Diretor para a recondução de Isidoro Zorzi à reitoria

Zorzi, reeleito: “Eu esperava menos. Foi além da expectativa”

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por VALQUÍRIA VITA valquiria.vita@ocaxiense.com.br uando Isidoro Zorzi saiu da sala do Conselho Diretor no bloco A da Universidade de Caxias do Sul na noite de segunda-feira (29), caminhou firmemente até um saguão onde os repórteres o aguardavam ansiosos. Um pouco antes dele, o presidente do Conselho, João Paulo Reginatto, já havia enfrentado os mesmos repórteres e dado a notícia: o reitor havia sido reconduzido ao cargo, por 8 votos a 1. Zorzi, entretanto, tinha a expressão séria. Esboçou um tímido sorriso apenas ao responder a última das perguntas, sobre os votos que havia recebido dos membros do Conselho minutos antes: “Eu esperava menos. Foi além da expectativa. Esperava 7 a 2”. O reitor comprovou ali o que se dizia nos bastidores: a votação do Conselho, secreta, tinha um final já conhecido por muitos. Sabia-se que os únicos que não votariam em Zorzi seriam os dois representantes do Ministério da Educação (MEC), Roque Grazziotin e Marisa Formolo, apoiadores da vontade da comunidade acadêmica, que havia indicado a candidata Nilva Stédile. Roque, porém, surpreendeu até o reitor ao mudar o voto na última hora – e esta foi a maior surpresa do processo. “Padre Roque, por que o senhor acha que o Zorzi ganhou a eleição?”, pergunta a repórter. “Porque ele ganhou oito votos”, diz Roque, rindo. Depois da brincadeira, Roque explica por que mudou o voto, e garante que o fez apenas na sexta-feira (26), nas entrevistas do Conselho com os candidatos. “Os três apresentaram boas ideias, mas depois os conselheiros fizeram perguntas sobre como fazer o planejado e eu me decidi pelo Zorzi. Eu ia votar com a Marisa em quem vencesse a consulta.” Nilva foi bem no plano teórico, diz Roque, mas deixou dúvidas cruciais no conselheiro sobre sua capacidade de executar o que estava prometendo. “Ali achei que, para este momento, o Zorzi estava mais preparado para tocar a universidade. Porque já vi muita bobagem eleitoral, pessoas que vão pela propaganda”, explica. A outra representante do MEC, Marisa Formolo, manteve sua posição. “Eu votei na Nilva porque fui uma organizadora dos direitos dos funcionários,

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professores e alunos votarem. Na última consulta oficial, regrada, aprovada pelo Conselho Diretor (em 2006), eu organizei. E foi desta forma que a gente votou e aprovou a consulta elegendo o Zorzi. Eu continuo com o mesmo princípio.” Ela diz que se Zorzi ou Nestor Basso – candidato que, no decorrer do processo, acabou ficando em terceiro plano, pois a disputa se travou claramente entre os outros dois participantes – tivessem sido escolhidos pela consulta acadêmica, tomaria como base o mesmo pensamento. “Não tinha razão para não levar em conta a votação da consulta popular. Eu votei pra que se possa continuar o processo de participação da comunidade. Se ninguém votasse, o que seria dessa consulta?”, questiona Marisa, que prefere não opinar sobre o porquê de Nilva ter se saído bem na consulta e mal na eleição do Conselho pois não acompanhou os debates, já que não estava no Brasil. Reginatto é um dos únicos que não comentam sobre o voto, insistindo que a votação foi secreta. “O que eu posso fazer é uma análise ampla de por que o Zorzi foi reconduzido. Acho que as propostas que o professor apresentou foram mais convincentes. Mas falo de hipóteses. As duas propostas foram boas. Umas, claro, para o lado mais avançado, e outras um pouco mais conservadoras.” O presidente do Conselho admite que pode ter ocorrido um receio em arriscar o voto em quem apresentou essas propostas mais avançadas, mas diz que este medo é natural: “Lula e FHC foram reeleitos, o prefeito Sartori foi reeleito. No fundo, todos nós somos conservadores. A raça humana é receosa na inovação. Sem dúvida isso fez parte.” Por conta disso, destaca que foi estabelecido um limite de reeleição na universidade. É possível administrar a UCS por no máximo dois mandatos. “Dentro de quatro anos teremos outro reitor, por melhor que ele queira ser.” Hoje, a preocupação de Reginatto é uma só: que professores, funcionários e alunos não deem por encerrado o processo, como fez o Conselho. “A instituição é maior do que ter reitor reconduzido, do que aqueles que não ganharam. Que essa disputa que acabou se inventando não seja motivo de divisões lá dentro”, prega. 3 a 9 de abril de 2010

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Na universidade, o que se percebe é que além de o processo não ter sido encerrado a palavra democracia está sendo entoada como nunca antes. Com faixas e folders, alunos protestam e gritam por eleições diretas para uma próxima escolha. Sem rodeios, Reginatto prefere acabar de uma vez com essa expectativa: “Nunca vai ter eleição direta. Está totalmente fora. Sempre vai ser o Conselho que vai decidir”. Se a comunidade acadêmica tivesse poder de decisão, de acordo com ele, o candidato vencedor seria sempre aquele com as melhores promessas de campanha, que não necessariamente planejou como administrá-las com o dinheiro disponível na UCS. “Isso não é uma repartição pública, onde quando não se tem, se aumenta imposto. Numa instituição privada não tem essa. Democracia é bom, mas enquanto têm os bobos que pagam impostos, porque o Estado não quebra. A UCS vive do seu suor.” O representante da Mitra, Paulo César Nodari, e o da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC), Milton Corlatti, fazem coro ao que disse Roque para explicar os votos em Zorzi. “Depois da apresentação das propostas, na sexta, eu conversei com Dom Paulo Moretto e chegamos à conclusão de que seria o melhor nesta hora rumarmos junto nesse projeto com o Zorzi. Não pela simpatia, por isso ou aquilo, foi diante do projeto mesmo, que era real, embasado e concreto.” Corlatti utiliza as mesmas palavras

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para descrever o planejamento de Ao falar da derrota, a professora diz ter Zorzi, e acrescenta uma: “consistente”. certeza apenas de uma coisa: “Por ra“Não se pode fazer um planejamento zões acadêmicas e técnicas não foi. Eu sem a questão financeira. O do Zorzi apresentei uma proposta muito bem é mais sensato, com coisas que a UCS estruturada, bem explicada, com ações tem capacidade de fazer”, completa. centradas na situação real da universiNenhum dos dois acredita que hou- dade. Meu currículo é inquestionável e ve uma rejeição do Conselho à candi- fui bem na consulta acadêmica”. data Nilva, e deixam claro que as quesA incompreensão com a decisão, tões que conduziram conta Nilva, ocorre os votos não foram, de principalmente porque forma alguma, pesso- “Nunca vai ter ao longo daquela semaais. “Se ela não tivesse eleição direta. na ela recebeu elogios capacidade, não teria de vários conselheiros sido pró-reitora. Ela Está totalmente com quem conversou esteve como pró-rei- fora. Sempre individualmente. “Um tora do reitor por três vai ser o deles, inclusive, disanos e meio, não po- Conselho que se que a proposta está deria ter pensamento muito bem fundamentão diferente do Zor- vai decidir”, tada. Não sei o que fez zi”, analisa Corlatti. “Já afirma haver a combinação que trabalhei com a Nilva. Reginatto certamente houve. DiNão é questão de ter zer que não é exequível medo. Nada a ver. É o beira o absurdo. Estraaspecto concreto do projeto de uma nho muito que pessoas que entendem universidade para o futuro, e o apre- de gestão possam estar duvidando sentado pelo Zorzi foi o que melhor fez disso. Era bastante clara e falava por si isso”, diz Nodari. mesma”, argumenta, complementando: “A gestão do Zorzi poderia ser melhor. Nilva Stédile foi anunciada Se eles pensam diferente, a responsabivencedora da consulta acadêmica no lidade é completamente deles”. sábado (20). Como já percebia o apoio Nilva diz perceber uma tentativa de de alunos e professores, viu no resul- desqualificação da consulta que a aclatado a conquista que faltava para dei- mou, mas entende que esta iniciativa xá-la ainda mais confiante. Depois de não está sendo bem sucedida, prinpassar a semana seguinte inteira plane- cipalmente porque mais de 80% dos jando a vitória cada vez mais próxima, funcionários e dos professores partiNilva foi uma das primeiras a receber ciparam da votação. “A quantidade de o resultado da recondução de Zorzi. alunos que votaram é maior que nas

eleições dos EUA, onde um presidente se elege com 25% de votantes. E ninguém questiona a democracia lá.” Isidoro Zorzi analisa o resultado falando em terceira pessoa. “O Conselho Diretor é responsável pelos destinos da fundação perante a lei e perante a sociedade e, enquanto estiver vigendo essa determinação, dificilmente um Conselho abre mão de dar a última palavra na escolha do dirigente. Por que escolheu Zorzi e não Nilva, se ela foi a preferida pela comunidade, aí é equivocado dizer, porque eram 40 mil que poderiam ter votado (10.709 participaram), além do que, nessa consulta, foram excluídos funcionários do Hospital Geral, do Cetec e ETFAR, que são administrados pelo Conselho.” Os conselheiros, explica Zorzi, conhecem sua administração, que ele diz ter ocorrido até aqui sem atritos. “O Conselho viu na minha proposta mais firmeza, mais confiança. A da Nilva é bastante ampla, bonita, mas é muito aérea, abstrata. É declaração de muito boas intenções”, diz o reitor. Em carta à comunidade universitária um dia depois da decisão, Zorzi cita William Shakespeare: “Eu aprendi que Deus não fez tudo num só dia; o que me faz pensar que eu possa?”. Aos 67 anos, quatro já vividos como reitor, Zorzi deixou claro durante a breve campanha que não conseguiu executar tudo o que tem planejado para a universidade. Terá até 2014 para fazer bom uso desta segunda oportunidade.

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Polêmico ritual

AS RAÍZES LOCAIS DO

SANTO-DAIME

A ayahuasca foi introduzida em Caxias do Sul há 18 anos. Hoje, é consumida por cerca de 150 pessoas e tem até uma comunidade criada para cultuá-la no interior Participantes da cerimônia levam cobertores para, depois de ingerir a bebida, ficarem imóveis durante horas, em meditação

S

por GRAZIELA ANDREATTA graziela.andreatta@ocaxiense.com.br anta Bárbara é uma das muitas comunidades rurais de Caxias do Sul. Localizada a cinco quilômetros do centro de Ana Rech, é habitada principalmente por pequenos agricultores, a maioria descendente de italianos, que vivem do plantio de hortifrutigranjeiros. Mas o lugar tranquilo, silencioso e cercado de gente simples tem muito mais do que colonos e suas plantações. As estradas sinuosas de terra da pacata localidade levam também a uma espécie de condomínio onde moram oito famílias de médicos, advogados, professores e empresários, entre outros profissionais de classe média, unidos apenas por um elo: o santo-daime. Santa Bárbara é o lugar que essas pessoas escolheram para viver e praticar todos os rituais que envolvem o chá de ayahuasca (“cipó dos espíritos”, em língua quíchua), motivo de polêmica nacional depois que um dos consumidores do “vinho das almas”, como os daimistas chamam a bebida, matou o cartunista Glauco Villas Boas e seu filho Raoni, em São Paulo. O condomínio existe há 10 anos e fica em uma área de 17 hectares, cercada por vegetação. Suas características naturais e geográficas – longe do barulho, mas perto da zona urbana – foram o que motivou o grupo a escolher o lugar. Muitos dos seus moradores participavam de rituais em Caxias e em Porto Alegre desde o início dos

anos 90, mas achavam ruim não ter uma sede própria para praticar sua religião com tranquilidade. Por isso, além de se mudarem para Santa Bárbara, eles também construíram lá um templo para o santo-daime, que recebeu o nome de Centro Eclético da Fluente Luz Universal Enio Staub (Ceflues), em homenagem ao homem que ajudou a fundar o grupo em Caxias, um publicitário que comanda a igreja em Florianópolis. O templo é o ponto de encontro, de oração e de consumo da ayahuasca, que, segundo quem o ingere, conduz a um estado semelhante ao de meditação profunda que apenas um monge com 50 anos de treinamento seria capaz de alcançar, ampliando a percepção sobre o universo e sobre si mesmo. Um dos fundadores do grupo e coordenador do Ceflues é o empresário Fabrício Longaray, 41 anos, que trabalha com o mercado de exportações. Casado com uma advogada e pai de três filhos – duas meninas e um menino –, Longaray leva muito a sério a religião, que afirma ter lhe mostrado o verdadeiro caminho da espiritualidade, e garante que não há qualquer relação entre o daime e as drogas. Católico não praticante, ele conheceu os rituais com a ayahuasca a partir de um interesse pessoal pela Amazônia e pela cultura dos moradores de lá, em especial de uma comunidade chamada Vila do Mapiá, localizada na cidade de Pauini, no Amazonas. É nesse lugar que funciona a sede da igreja que

transformou o ritual da bebida em reli- unimos para rezar e, em alguns mogião, por meio do seringueiro Raimun- mentos, consagrar o santo-daime para do Irineu Serra (1892-1971), chamado bebê-lo, assim como os católicos fazem de Mestre Irineu. com a hóstia nas missas”, compara. Homem negro, de origem simples O pré-requisito para participar da e baixa escolaridade, ele teria tido o cerimônia de ingestão do chá, segundo contato com o chá por meio de curan- Longaray, é comparecer à oração que deiros do sertão. Depois de um transe, acontece todos os domingos. “O objecontou ter visto a Rainha da Floresta, tivo é justamente selecionar as pessoque se apresentou como Nossa Senho- as para eliminar, de cara, aquelas que ra da Conceição e lhe deu instruções pensam em tomar o chá para ter um para fundar uma igreja ‘barato’. É para ficar na qual o santo-daime claro que se trata de assumiria papel funda- “Nos unimos um ritual religioso e mental. O nome teria para rezar e sério. Quem pretende surgido das invocações usar pensando que é consagrar o dai-me amor, dai-me fé. uma droga, já desiste.” santo-daime para Movido pela curio- bebê-lo, assim O empresário, sidade e pelas histórias como os católicos que conheceu pessoque cercavam Mestre almente Glauco e a fazem com a Irineu, Longaray deciigreja fundada pelo diu largar tudo em Ca- hóstia”, compara cartunista, indigna-se xias, em 1994, para viver Longaray com as relações feitas na Vila do Mapiá. Ficou entre o daime e macopor um ano na comunha, cocaína ou bebinidade amazonense, onde trabalhou das alucinógenas. Ele rebate as acusacomo tesoureiro do Conselho Superior ções de que drogas já fizeram parte dos da Igreja do Santo-daime e aprofundou rituais e foram consagradas junto com os conhecimentos sobre o chá e os ritu- a ayahuasca com os nomes de Santa ais que o cercavam. Maria, para maconha, e Santa Clara, Ao voltar para Caxias, resolveu se para cocaína. “Dizem que o padrinho dedicar à religião. Hoje, comanda ora- Sebastião, um dos sucessores do Mesções, que são realizadas todos os do- tre Irineu, consagrava maconha junto mingos, às 18h, e rituais com o santo- com o daime nas cerimônias religiosas. daime pelo menos três vezes por mês: Mas isso não acontece, porque essas nos dias 15, 27 e 30 e também em fes- são drogas proibidas no Brasil. Na Hotas, como Natal, Dia das Mães ou datas landa, sei que usam maconha em ritualusivas a alguns santos. “Somos uma ais, porque lá é liberada, mas aqui não.” religião como qualquer outra. Nos Longaray parte da premissa de que o

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Jorge, que monta um altar daimista em seu restaurante vegetariano, usa a ayahuasca há oito anos: “É lindo. Me emociono só de falar”

santo-daime não é uma droga, muito Conad, não há evidências científicas menos alucinógena. Na sua opinião, sobre efeitos danosos à saúde das pestrata-se apenas de uma substância soas que utilizam o santo-daime. Por psicoativa que amplia os sentidos das isso, segundo a resolução que regulapessoas que a ingerem e as ajuda a en- menta o uso da bebida, ela pode ser contrar respostas para ingerida por qualquer as perguntas mais funpessoa, desde ela tenha damentais aos seres hu- “Ninguém vê ciência sobre seus efeimanos, como de onde bichinhos. Só tos. “O uso da ayahuasviemos, para onde va- se enxerga melhor ca por menores de 18 mos e por que estamos anos deve permanecer aqui. “Ninguém vê bi- a realidade”, diz como objeto de delibechinhos. Só se enxerga o empresário que ração dos pais ou resmelhor a realidade.” ponsáveis, no adequatrabalhou um Na avaliação do co- ano na Igreja do exercício do poder ordenador do Ceflues, familiar; e quanto às a ayahuasca é terapêu- do Santo-daime grávidas, cabe a elas a tica. Além de colocar na Amazônia responsabilidade pela as pessoas em contato medida de tal particom seu lado espiritual, cipação, atendendo, ela teria poder curativo. “Minha espo- permanentemente, a preservação do sa toma desde a primeira gravidez. Eu desenvolvimento e da estruturação da dou para meus filhos. Se fizesse mal, personalidade do menor e do nascitujamais faria isso.” ro” , descreve o documento. Nessa mesma resolução, o órgão reTecnicamente, a bebida é um comenda que a ingestão do chá deve tipo de chá elaborado a partir da mis- ser evitada por pessoas com histórico tura de duas plantas originárias da de transtornos mentais, sob efeito de Amazônia: um cipó conhecido como bebidas alcoólicas ou outras substânjagube (Banisteriopsis caapi) e um ar- cias psicoativas. Ela determina que busto chamado chacrona ou erva-rai- as instituições religiosas façam um nha (Psychotria viridis). O cipó é ma- “controle rigoroso” no momento de cerado e, depois, junto com as folhas autorizar o ingresso de novos adeptos da planta, fervido longamente. e realizem uma entrevista para saber O resultado é um líquido viscoso e se os possíveis consumidores usam turvo, de coloração ocre, cheiro azedo, drogas ou remédios de tarja preta, se gosto amargo e algumas substâncias já fizeram alguma cirurgia, se tiveram polêmicas. Uma delas é a harmina, epilepsia, convulsão ou espasmos, se uma espécie de antidepressivo. Outra sofrem de distúrbios psiquiátricos ou é a dimetiltriptamina, responsável pelo doenças como hipertensão e diabetes efeito imediato do chá logo após seu ou se têm problemas nos pulmões. consumo. A lista é extensa, e tem, justamente, o O santo-daime é produzido na Ama- objetivo de alertar seus consumidores zônia e também em alguns centros de sobre os riscos que eles correm se miscomunidades daimistas que têm auto- turarem o daime a outras substâncias rização legal específica e se encarregam ou associarem seu consumo a algum de distribuir a fórmula entre os templos tipo de distúrbio. Mas não é exigido espalhados pelo país. O chá chegou a nenhum atestado médico para confirconstar na lista de drogas alucinóge- mar se as informações prestadas são nas, mas está legalizado desde 2004. verdadeiras. Por isso, quem tiver – apaAtualmente, sua fabricação e consumo rentemente – condições físicas e mentêm autorização do Conselho Nacional tais para participar dos rituais estará Antidrogas (Conad), desde que seja habilitado a ingerir o misterioso chá. usado apenas com objetivo religioso e sem fins lucrativos. Não há estudos científicos No entendimento dos membros do que comprovem o poder curativo da

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mistura, e sua divulgação como plan- não podem se esquecer de que o santota terapêutica é até proibida, embora daime é uma droga com efeito alucinódaimistas promovam rituais de cura. O geno, independentemente da cultura que há, por enquanto, são afirmações que ele carrega. sobre seus efeitos negativos. Segundo A professora discorda que seja apeum documento produzido pelo Centro nas uma droga psicoativa, como arBrasileiro de Informações sobre Dro- gumentam os daimistas. “Diazepam é gas Psicotrópicas (Cebrid), da Univer- uma droga psicoativa usada para indusidade Federal de São Paulo, “são duas zir o sono, mas não causa alucinações. plantas alucinógenas que são utilizadas A própria maconha tem essa caracteconjuntamente sob forma de uma be- rística. Já o santo-daime faz com que bida que é ingerida no ritual santo-dai- seus consumidores enxerguem luzes me ou culto da União Vegetal e várias e imagens e acreditem estar se comuoutras seitas”. Fisicamente, elas podem nicando com pessoas e seres que não causar vômito, diarreia, palpitações, estão presentes. Isso é alucinação.” tremores, taquicardia e hipertensão. O farmacêutico pós-graduado em No Brasil, calcula-se que 19 toxicologia Marco Aurelio Neto Dor- mil fiéis utilizem a ayahuasca, que já neles, professor das universidades de está presente em pelo menos mais 25 Caxias do Sul (UCS) e Federal do Rio países. Em Caxias do Sul, as cerimôGrande do Sul (UFRGS), considera ab- nias em torno do chá acontecem desde surdo que uma substância como essa 1992, e reúnem cerca de 150 pessoas. seja liberada, ainda que para uso reli- Há, na cidade, pelo menos cinco temgioso. “É uma droga de consumo res- plos dedicados ao consumo da bebida trito, mas é uma droga.” e os rituais que a envolvem. Dorneles teve o primeiro contato O grupo mais antigo é o de Ana com o daime em 1980, quando coor- Rech, que introduziu o chá na cidade denava um grupo de alunos da área da antes de seus integrantes decidirem saúde no Projeto Rondon, em Rondô- morar em uma chácara ou construir nia. Lá, ele viu a ayahuasca ser usada um templo para a bebida. Eles pertendurante um culto. Chegou a ser convi- cem à mesma linha que era seguida dado para experimentá-la, mas negou- pelo cartunista Glauco, que considera se. “Eu vi aquelas pessoas alucinadas, o santo-daime uma religião. Os outros em estado de contemplação, e não quis quatro institutos são de uma corrente estar no lugar delas.” Depois disso, re- diferente, filiada à Federação do Rio solveu estudar seus componentes para Grande do Sul da Ayahuasca (Fersay), entender o motivo do que não se considera transe. religião. Chegou a ser “É uma droga de fundada em Caxias A professora de consumo restrito, uma terceira via, ligafarmacologia da UFR- mas é uma da à União do Vegetal GS Eliane Elisabetsky, (UDV), mas não se que tem formação em droga”, afirma o sabe se ela ainda está biomedicina, conta que farmacêutico ativa. há registros de uso do especialista em Essencialmente, as chá em toda a Améri- toxicologia duas correntes atuantes ca Latina. Ela entende na cidade têm objetique é louvável que ín- Marco Aurelio vos muito parecidos. dios tenham encontra- Dorneles Como manda a lei, amdo nessa mistura um bas consideram o rituuso importante para al religioso – embora, sua cultura – alguns a bebiam antes repita-se, a Fersay não se caracterize de tomar decisões importantes, outros como religião – e defendem o condavam às crianças para ensiná-las a se sumo da bebida apenas para ampliar relacionar com animais e plantas da a consciência de quem o ingere. Elas floresta –, mas salienta que as pessoas também se consideram universalistas:

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Jonas alerta sobre as restrições ao uso antes de servir o chá em copinhos de café: “Os dois primeiros nos libertam da casca. O terceiro nos ajuda a fluir melhor”

aceitam todas as crenças, cristãs, umbandistas, espíritas ou hinduístas, por entenderem que Deus não é monopólio de nenhuma instituição filosófica ou religiosa. Mas, apesar disso, por questões internas, seus participantes fazem questão de ressaltar que não pertencem ao mesmo grupo.

Conad. Só então recebiam autorização para entrar, recebendo um saquinho plástico para o caso de vômito – ou de “limpeza”, como dizem os daimistas. Homens se posicionam do lado direito da porta e mulheres do lado esquerdo. Eles devem usar calças compridas e camisas com mangas. Elas, vestidos longos, “A ayahuasca soltos no corpo e sem A reportagem d´O mudou a decotes ou transparênCaxiense assistiu a um minha vida. cias. “Parte disso tem ritual no Instituto Esrelação com a tradição, Compreendi que piritual Xamânico São mas parte está relacioJoão, ligado à Fersay, estou aqui de nada também ao efeito entre sexta-feira (26 de passagem, que do daime, que, como março) e sábado (27). esse corpo é amplia a consciência, A cerimônia foi denpode também trazer à só matéria”, tro de um templo no tona alguns sentidos bairro Serrano, na pro- resume Jorge ampliados. Por isso, é priedade do analista de melhor que as mulhesistemas Jonas Antunes res se vistam dessa maRamos, 37 anos, o padrinho do insti- neira”, explica o padrinho Jonas, que é tuto, e reuniu pessoas como um bom- o encarregado de cuidar para que tudo beiro, um dono de restaurante e um re- corra bem nas cerimônias. presentante comercial. O instituto fica Eram 22h30min quando foi iniciado bem no centro do bairro e é cercado o ritual. Jonas começou a cerimônia por moradias. Mas, como o terreno é explicando o que iria acontecer e resgrande e coberto por algumas árvores, saltando que aquele era um lugar de os adeptos do santo-daime conseguem oração, onde não poderiam ser usadas garantir um pouco de privacidade. drogas como álcool, maconha ou cocaO espaço destinado ao culto religioso ína, entre outras. Também lembrou do não lembra uma igreja. É quadrangu- questionário preenchido na entrada e lar, sem cruzes ou enfeites externos. Se das restrições em relação ao chá. Em parece mais com um pavilhão, embora seguida, convidou todos a rezar. bem menor. Do lado de dentro, o que se vê é uma imensa sala sem divisórias, Nada de Ave-Maria ou Pai-Noscom tapetes cobrindo o chão, cadeiras so. Cada um dos participantes, que já de plástico e quadros de divindades, de estavam acomodados nas cadeiras e Jesus Cristo e do Mestre Irineu Silva. envoltos pelos cobertores, fez uma preO altar fica no chão mesmo. O chá que ce em silêncio. Cinco minutos depois, será servido aos participantes é coloca- era formada a fila para receber a prido entre as imagens de deuses e santos, meira dose do chá – homens primeiro, incenso e algumas velas. mulheres depois. O padrinho Jonas serviu a cada um Os fiéis começaram a chegar doses equivalentes a dois copinhos por volta das 20h de sexta-feira, com de café. As pessoas recebiam a bebitravesseiros, cobertores e colchonetes, da e depois sentavam-se novamente pois já sabiam que passariam a noite em seus lugares, onde iniciavam o no lugar. Cada um deles era obrigado processo de meditação com ajuda da a tirar os sapatos antes de entrar. Os ayahuasca. Cerca de uma hora depois, que traziam chinelos substituíam os ele passava de cadeira em cadeira para calçados, os demais ficavam descalços. oferecer o terceiro copinho, que não Depois, eles apresentavam a carteira era obrigatório. “Os dois primeiros nos de identidade e preenchiam uma fi- libertam da casca. O terceiro nos ajuda cha com o questionário exigido pelo a fluir melhor”, explicou.

Um fundo musical com canções católicas, umbandistas e xamânicas, hinos de louvor à natureza ou letras que invocam a simplicidade e o desapego material acompanha a cerimônia. E esse é o único som que eles ouvem.

igreja católica e, por fim, templos Hare Krishna. Chegou a morar por seis anos em um templo, de onde acabou saindo porque queria ter filhos. Jorge ainda acorda todos os dias às 5h para meditar por uma hora e meia e segue os ensinamentos que recebeu Segundo o presidente do insti- ao longo de sua busca. Mas garante que tuto, leva em média 40 minutos para nada se compara ao chá. “A ayahuasca que o chá comece a fazer efeito, que mudou a minha vida. Eu compreendi dura entre quatro e cinco horas. Du- que estou aqui de passagem, que esse rante o transe, as pessoas permanecem corpo é só matéria. E essa compreenquase imóveis, em silêncio e sentadas são fez de mim uma pessoa melhor.” O na mesma posição do início ao fim do relato dele é semelhante ao da maioria ritual, que só terminou por volta das 4h das pessoas que participam dos rituais de sábado, quando os primeiros parti- com o santo-daime. Cada um vê e sencipantes começaram a deixar a cadeira te coisas diferentes, mas todos dizem e se deitar sobre o tapete para dormir. que, no final, a sensação é boa. Por uma questão de segurança, eles São depoimentos como esse que só são liberados para ir embora depois preocupam a professora Elaine Elisado amanhecer e de um café da manhã betsky e o farmacêutico Marco Aurelio organizado pelos próprios fiéis, com Neto Dorneles. Elaine lembra que não pratos de comida levados de casa e há ainda um estudo comprovando que compartilhados com os demais. Como o daime cause dependência ou ligando eles ficam depois de uma noite toda a bebida a distúrbios psíquicos. Mas já sob o efeito do chá? “Com essa cara de se sabe de seus efeitos sobre pessoas bobo de quem está leve e feliz”, definiu com problemas de saúde mental. “Se o bombeiro Vanderlei Mena Gonçal- a pessoa já possui um distúrbio pode ves, 41 anos, padrinho de uma institui- ter consequências que extrapolam, e ção em Flores da Cunha e presidente muito, os reflexos que a droga normalda Fersay. mente causaria.” Dorneles acrescenta E o que eles enxergam? Isso depen- que se o chá amazônico fosse inofenside da fé de cada um e do dia, dizem vo não haveria tantas restrições ao seu seus consumidores. De acordo com uso na legislação brasileira. “A morte seus relatos, católicos do cartunista Glauco podem ver Nossa Seestá aí para nos mosnhora e umbandistas, “Se a pessoa trar que o caso é sério”, ser embalados no colo já possui um diz, em referência ao de Iemanjá. “É lindo. assassino do cartunista, distúrbio, pode Me emociono só de faCarlos Eduardo Sunlar”, descreve Jorge Os- ter consequências dfeld Nunes, portador car de Matos, 48 anos, que extrapolam de transtornos psíquidono do restaurante os reflexos que a cos que teriam se agravegetariano Govinda e vado após sua adesão droga causaria”, usuário de ayahuasca ao daime. explica a há oito anos. O farmacêutico deixa biomédica Elaine claro que não é contra Jorge também coas pessoas praticarem ordena um institusua religião e terem to, que funciona junto ao restaurante. suas crenças. O que ele contesta é a diTodas as noites de sábado ele afasta vulgação do uso da ayahuasca sem que as mesas e cadeiras, monta um altar as pessoas tenham a real noção dos dae transforma o lugar em um templo nos que ela pode trazer. “Se eu tivesse dedicado ao santo-daime. Ele conta um filho que tomasse santo-daime, fique iniciou sua busca espiritual aos 17 caria muito preocupado. Acho que as anos, frequentando centros espíritas, a pessoas precisam refletir sobre isso”.

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Conhecer é remediar

Luciano Giácomo Rech: “Não se tinha muito conhecimento. Um médico sugeriu cortar, outros engessavam, éramos cobaias”

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SANGUE por RODRIGO LOPES

esponda rápido: das doenças a seguir, sobre qual você tem algum conhecimento, por mais simplista que seja: diabetes, hipertensão ou hemofilia? Provavelmente você dirá que o diabético não pode comer doces e açúcar e o hipertenso é aquele que tem pressão alta. Já o hemofílico é o que... tem o que mesmo? Se você titubeou, ok. Explicar o “problema” é algo a que eles estão acostumados. Em linhas rasas, são pessoas cujo organismo tem dificuldade em controlar uma hemorragia. Ou, pejorativamente falando, gente de “sangue solto”, como os mais antigos costumavam definir. Mesmo os profissionais de saúde admitem: a expressão hemofílico ainda é um termo obscuro, que acompanhou os nomes do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, do cartunista Henfil e do compositor Chico Mário em uma época nebulosa, os anos 80 e início dos 90, quando as transfusões de sangue vinham acompanhadas do fantasma da Aids, das seringas contaminadas e do pavor diante de um vírus até então pouco conhecido, o HIV. Porém, as campanhas de esclarecimento e o trabalho da Federação Brasileira de Hemofilia (FBH) ao longo das últimas três décadas vêm, aos poucos, tirandoa do rol das patologias que geram um ponto de interrogação ao serem pronunciadas. E a transferência, há exata-

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mente um ano, da sede da federação de Cuiabá, no Mato Grosso, para Caxias deve contribuir ainda mais para isso. Na Serra gaúcha, 158 pessoas convivem com a hemofilia, segundo a última atualização fornecida pelo Hemocentro Regional de Caxias do Sul (Hemocs). Só em Caxias do Sul são 76 pacientes, a grande maioria do sexo masculino (raramente mulheres nascem com a deficiência no fator de coagulação do sangue). O restante divide-se em outros 21 municípios, destacando-se Bento Gonçalves, em segundo lugar, com 35 casos. Todos estão cadastrados no Hemocs, um dos 62 Centros de Tratamento de Hemofilia espalhados pelo Brasil e que fornecem a aplicação gratuita aos portadores. Assim como a insulina está para os diabéticos, o Fator VIII está os hemofílicos. Importado pelo Ministério da Saúde e repassado para os estados, o fator de coagulação deficiente é injetado na veia através de uma agulha – o sangramento cessa quando o medicamento atinge o local afetado, geralmente articulações e músculos. Responsável pelo setor de hemofilia do Hemocentro, a enfermeira Eliete da Luz explica que a patologia atinge um em cada 10 mil meninos – por tratarse de uma doença genética ligada ao cromossomo X, acomete quase que exclusivamente indivíduos do sexo masculino. “Os sintomas aparecem

Transferência da sede da Federação Brasileira de Hemofilia para Caxias do Sul chama a atenção para uma patologia pouco conhecida

no primeiro ano de vida – quando a criança começa a engatinhar – e são caracterizados por manchas roxas na pele, hematomas, sangramentos nas articulações e até hemorragia cerebral”, completa. O diagnóstico é dado após avaliação clínica e exames laboratoriais que medem o tempo de coagulação. O histórico familiar também é avaliado, pois se trata de uma doença hereditária. No entanto, um terço dos casos acontece por mutações genéticas, aparecendo como primeiro caso na família. Em um mundo ideal, tudo correria desta forma. Mas a realidade de grande parte dos hemofílicos é bem diferente. Natural de Flores da Cunha, o viticultor Luciano Giácomo Rech, 31 anos, recorda da falta de conhecimento que existia quando apresentou os primeiros sintomas. “Lembro de toda uma perna ter ficado roxa. Como morávamos na colônia, não se tinha muito conhecimento. Um médico sugeriu cortar, outros engessavam, éramos como cobaias”, comenta Rech, que chegou a passar anos sem frequentar a escola por causa dos sangramentos. Hoje, ele tem noção de todos os cuidados e precauções. “Se vou ao dentista ou preciso fazer qualquer tipo de cirurgia, sei que preciso fazer uma aplicação do fator antes”, revela. Existem dois tipos de tratamento para assistência aos pacientes com hemofilia: o por demanda, quando o fa-

tor de coagulação é aplicado somente após a ocorrência de uma hemorragia; e o profilático, quando o fator é infundido preventivamente às hemorragias, de duas a três vezes por semana, com o objetivo de evitar possíveis sangramentos. Uma rotina que a pedagoga caxiense com especialização em Educação de Surdos Tania Maria Onzi Pietrobelli conhece bem há 30 anos. Ao adentrar na sala branca de pouco mais de 40 metros quadrados, nos fundos de um prédio comercial da Avenida Itália, pouco se vislumbra. Duas mesas de escritório, uma estante com folders e cartilhas explicativas, apenas três cadeiras, um computador portátil e um telefone celular, chamando quase que ininterruptamente. É nesse local que Tânia coordena, desde abril do ano passado, a Federação Brasileira de Hemofilia (FBH). O aparente vácuo do cenário contrasta com um cotidiano que em nada lembra ausência de atividades. De Caxias do Sul, Tania comanda uma entidade fundada em 1976 e que atualmente comporta 23 associações responsáveis por garantir o tratamento a todos os portadores. Além disso, participa da política de tratamento da hemofilia junto ao governo e à comunidade científica do país. “É um trabalho que não tem fim, desde palestras Brasil afora até a busca por mais verbas do governo federal. Estamos sempre na luta”, observa Tania.

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estudar a hemofilia a fundo. Voluntá- mento da doença. O vice-presidente ria, orientadora de famílias com porta- cita o exemplo de médicos do Canadá dores, vice-presidente e presidente da que estiveram em um evento da área Associação dos Hemofílicos da Região da hemofilia, em São Paulo, e ficaram Nordeste do Estado do Rio Grande do surpresos com a quantidade de cirurSul, vice-presidente da federação, ne- gias que ainda são realizadas em henhuma função escapou até ela assumir mofílicos brasileiros que desenvolvem a presidência. “Nunca foi fácil, mas sequelas. hoje, principalmente em Caxias do Sul, “O paciente não tratado, ou subtrapodemos nos considerar privilegiados. tado, torna-se obrigatoriamente um A estrutura para o tradeficiente físico. No tamento é bastante Canadá e em outros adequada, graças ao “É conhecendo países onde é feita a empenho da equipe do o problema profilaxia, os portadoHemocentro e da inte- que ficamos res não têm sequelas”, ração com a associacompleta. ção”, avalia Tania, que aptos a ajudar O hemofílico pode no próximo dia 16 de e dar o melhor levar uma vida normal, abril, véspera do Dia tratamento”, diz desde que faça o trado Hemofílico, partici- a vice-presidente tamento corretamenpa da Assembleia Geral te. Porém, quando ele da Federação Brasileira da federação, não faz a prevenção, de Hemofilia, em São Tania Pietrobelli certamente apresentaPaulo. rá incapacidade física, Em nível nacional, a por alterações crônisituação é um pouco diferente, e as as- cas, irreversíveis e progressivas. Uma sociações enfrentam outros problemas. das principais complicações da doença Segundo o médico carioca Emílio An- são os comprometimentos das articutonio da Rocha Neto, vice-presidente lações, que muitas vezes resultam na da FBH, as entidades necessitam de necessidade de cirurgias para a coloestrutura web, com sites atualizados, cação de próteses ortopédicas e geram para que a troca de informações seja incapacitação física, que limita ou até mais ágil e eficiente e para que o grupo impossibilita uma vida produtiva. conquiste maior visibilidade e apoios Lindonês Antunes da Silva, 41 anos, para os problemas dos hemofílicos. conhece bem essa realidade. Devido a uma artrose degenerativa nas car“Nossa bandeira de luta é a tilagens do joelho e do braço, teve de profilaxia e a garantia de tratamento. abandonar o mercado de trabalho há Hoje, quem tem hemofilia no Brasil dois anos e meio - cabelereiro, Lindoé refém dos serviços de hematologia. nês demorou um pouco a perceber que O paciente é subtratado. Só é tratado o manejo constante das tesouras e a após uma ocorrência de hemorragia”, permanência em pé por longos períorevela Neto. dos agravavam ainda mais os sintomas. É aí que Caxias sai na frente de várias A história dele também começa com outras cidades. O Hemocentro fornece o desconhecimento por parte da faa dose domiciliar, e o próprio paciente mília. Aos dois anos, ainda morando realiza a aplicação preventiva em casa, em Ibiaçá, no norte do Estado, caiu obedecendo aos critérios estipulados de uma escada e ficou com o queixo pelos médicos e evitando o agrava- roxo por semanas. A partir daí, foi

orientado pela mãe a evitar todas as brincadeiras “perigosas”: correr, jogar bola, subir em árvores, até andar de bicicleta. “Era a recomendação da época, ninguém sabia direito o que fazer”, recorda ele, que só deu início aos primeiros exames aos 10 anos, em Porto Alegre. “Chegavam a confundir hemofilia com reumatismo. Se ainda existe desconhecimento hoje, imagine há 30 anos”, completa. A própria presidente da Federação admite que jogar luz sobre a hemofilia é um trabalho de formiguinha. O estimulante é que ele desdobra-se em diversas iniciativas de apoio, de concursos de redação para pessoas portadoras até circuitos de atualização para profissionais de saúde. A mais recente dessas ações ocorreu no último final de semana, por ocasião do evento Homens na Cozinha, organizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas nos Pavilhões da Festa da Uva. No encontro, um real de cada rótulo vendido do Vinho Solidário Vinícola Perini, de Farroupilha, foi revertido para a Federação. O tema gera curiosidade também entre leigos. No caso da estudante Karina Pasquali, o trabalho como assistente administrativa na sede da federação motivou todo um estudo a respeito da hemofilia. Há pouco mais de 10 meses atuando no escritório em Caxias, a acadêmica de Administração de Empresas da Faculdade da Serra Gaúcha não teve dúvidas sobre o que abordar na disciplina Metodologia da Pesquisa Científica: O Tratamento Interdisciplinar das Pessoas com Hemofilia. “Quero avaliar a relação entre os portadores e os outros profissionais envolvidos no tratamento, como psicólogos e fisioterapeutas. A ideia é contribuir ainda mais com a qualidade de vida dessas pessoas”. O significado do termo hemofilia em grego não poderia ser mais propício: amor ao sangue. Maicon Damasceno/O Caxiense

Em novembro, a presidente foi à Brasília, onde realizou reuniões com os senadores Paulo Paim (PT-RS), Gin Argello (PTB-DF) e Serys Slhessarenko (PT-MT) e com o deputado federal Geraldo Magela (PT-DF). A intenção era clara: solicitar mais apoio à Federação - tanto para a compra de medicamentos suficientes que garantam a independência do paciente quanto para a implantação do tratamento preventivo (a profilaxia). Todas essas ações da Federação junto a classe política deram resultado: a verba do orçamento passou de R$ 210 milhões em 2009 para R$ 360 milhões em 2010. “Essa conquista é de grande importância, já que em 2009 os portadores de deficiências na coagulação, por desabastecimento de fator, acabaram recorrendo ao uso do crio-precipitado, uma técnica proibida por resolução do Ministério da Saúde, com altíssimo risco de contaminação, já que não é feita a eliminação dos vírus”, comemora. Tania já perdeu a conta das viagens, congressos e seminários relativos a hemofilia de que participou nas últimas três décadas, mas recorda com precisão do dia em que chegou em casa e percebeu uma espécie de hematoma no filho de apenas seis meses. “Pensei que ele tinha sido machucado por alguém, sei lá”, recorda. Corria o ano de 1979, e Tania nunca tinha ouvido falar em hemofilia – a Federação havia sido criada há apenas três e mal sabia-se a que se propunha. “Levei-o ao pediatra, que realizou os exames e deu o veredito. Fiquei chocada na hora, mas depois fui à luta. É conhecendo o problema que ficamos aptos a ajudar e dar o melhor tratamento”, ensina, completando que o filho sempre levou uma vida normal graças ao tratamento preventivo. “Hoje, ele costuma dizer que não tem uma doença, tem uma diferença”. De lá para cá, Tania incumbiu-se de

Quando criança, Lindonês Antunes da Silva evitava brincadeiras na rua: “Era a recomendação da época, ninguém sabia direito o que fazer”

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O mundo é uma bola

Teoria da

relatividade O Caxias faz até aqui uma excelente campanha no Gauchão. Mas esse bom momento pode dizer até onde vai o time no campeonato?

Julinho comemora, mas pondera: “Vivemos uma boa fase, mas amanhã já pode ser diferente. Cada jogo é um jogo. Falo para meus atletas que eles precisam ter os pés no chão”

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por MARCELO MUGNOL marcelo.mugnol@ocaxiense.com.br e alguém puder tirar Albert Einstein do recinto, melhor. É que fica chato para esse senhor, criador da Lei da Relatividade, entre outras descobertas, ver seus conceitos associados ao futebol. Dois assuntos circulam pelos habitantes do planeta bola em Caxias do Sul. Um deles é a boa fase do Caxias. O time grená está classificado para as finais da Taça Fabio Koff, segundo turno do Gauchão, com duas rodadas de antecedência. Ocupa a primeira posição e luta para ser o Campeão do Interior, posição que não ocupa desde 1989, segundo análise de historiadores como Jorge Roth e dirigentes como Vanderlei Bersaghi, o Pé. O outro assunto, óbvio, é a má fase do Juventude. Aliás, que fase, hein?! Faz três anos que o time só vem dando decepções. Vem caindo, caindo. Aliás, o torcedor alviverde viveu boa parte deste segundo turno com medo do rebaixamento. Para a série B do Gauchão. Desse mal o Juventude não sofre mais, não este ano, pelo menos. Mas existe uma particularidade nessa competição extra-campo, resultado, é claro, do que cada um dos times vem fazendo sobre o gramado. Tudo é relativo, como diria Einstein. Afinal de contas, só se consegue perceber a boa fase grená olhando através do prisma da má fase do Juventude. Ou ainda, se o Caxias não se classificou no primeiro turno é porque outros tinham sido melhor ainda do que ele. Como agora, mesmo com a boa campanha de clubes como o São José, o Caxias foi ainda melhor e por isso é líder, isolado. Na classificação geral, por enquanto, perde apenas para o Grêmio. Mais um ponto para Einstein e sua teoria relativística. O Caxias é melhor do que muitos, mas não ainda, podemos até reforçar isso no espaço e no tempo – não ainda –, melhor do que o Grêmio. O tricolor, aquele clube que

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muitos chamam de Imortal, é o único que venceu o time grená nesta temporada. E já faz tempo. Pra lá de dois meses. A importância desse feito depende ainda de cada ponto de vista. Para os papos, não tem a mínima importância, e o torcedor mais atento e apaixonado pelo seu verde clube vai se lembrar de um ano tal em que o Ju ficou o dobro de tempo sem perder. Da mesma forma, o Grêmio. Seu imortal torcedor não está nem aí para a invencibilidade do Caxias, porque ele tem a sua, dentro do Olímpico. Mas o Caxias vai lutar para sustentar a sua invencibilidade, pois quer ser Campeão do Interior, título que pode lhe dar uma vaga à Copa do Brasil em 2011. “E daí?”, dirá um alviverde com um tanto de inveja. “Já fomos até campeões da Copa do Brasil”, complementaria, saudosista. “Ah, mas o Caxias foi Campeão Gaúcho em 2000, fomos vice em 2009 e podemos ser campeões este ano”, responderá um ufanista torcedor grená. “Vice em 2009 tomando goleada na final”, retrucará o papo, verde de raiva. Tudo depende do ponto de vista, né, Einstein. O torcedor que não acompanha o dia a dia do clube grená só enxerga o sucesso do Caxias a partir do que vê em campo, ouve na rádio e lê n’O Caxiense. A maioria dos torcedores não tem a oportunidade de conversar fiado sobre futebol com Julinho Camargo, treinador do Caxias. Muito menos pode ouvir de Lê, atacante de origem e curinga de profissão, o carinho que ele tem pelo clube onde foi formado, e ao qual voltou como filho pródigo mas encontrou seu lugar na mesa já ocupado. Mesmo assim, Lê não deu uma de moleque mimado e ficou chorando pelos cantos. Foi aprender a viver de um jeito diferente. Lê, e talvez disso o torcedor não saiba, suou muito para aprender a jogar do jeito que o novo treinador desejava. E por amor ao clube, entrega-se de corpo e alma, mesmo

sem fazer gols (algo que ele tanto gos- poucos, mas parece ter dado uma ta), porque entendeu que senta em um certa regularidade ao time. Ed, como outro lugar à mesa. é chamado pelos companheiros, tem “Eu vivi coisas bem distintas aqui sua teoria: “Joguei todas as partidas dentro do clube. Sei o que é o Caxias desde o confronto contra o Porto Aleestar na Série B, e sei o que é viver a má gre e desde então estamos invictos”. A fase”, revela o atleta de 25 anos. Lê não declaração pega o próprio jogador de carrega o estereótipo do novo jogador surpresa, porque até então, durante a de futebol. Não usa brincos de bri- breve entrevista, Ed pensava em cada lhante, não ostenta relógio de grife. Ele palavra. Mas Ed não é desses caras se parece muito com que conseguem manter aquele primo esportismuito a concentração ta, boa pinta, um tanto “Eu vivi coisas numa coisa só. Printímido e que prefere bem distintas cipalmente quando é fazer seu trabalho sem para ser sério. O garoto aqui dentro sair por aí dizendo que Ed é brincalhão, mas faz e acontece. “Sei que do clube. em campo tem feito o torcedor não enten- Sei o que é o apresentações de gente dia no início, quando Caxias estar na grande. Julinho me colocava “O Julinho tem conSérie B, e sei o para jogar atrás, marversado muito com cando. Porque a torci- que é viver a má a gente durante esses da estava acostumada a fase”, revela Lê dias porque não conme ver de centroavanquistamos nada ainda. te. E não foi fácil para Não podemos entrar eu entender o que o Julinho queria. de salto alto, achando que ‘somos os Mas aos poucos a gente foi se enten- caras’. A gente sempre pode melhorar”, dendo e hoje sei muito bem qual é a diz, como se tivesse repetindo frase a minha função no time.” frase o que acabara de ouvir do treinaHá quem diga que Lê é o 12º jogador dor. Ed tem ainda alma de criança, mas grená. Faz sentido, porque Lê tem en- é obediente. A prova é o carinho da trado em quase todos os jogos, sempre torcida, a regularidade nos jogos e os para mudar a partida. Seja porque é telefonemas que o presidente Osvaldo preciso mais alguém para tocar a bola Voges vem recebendo por causa de sua com capricho no meio de campo, seja boa fase. “O presidente me disse esses para conter o avanço dos adversários dias que ligaram querendo me conpor um determinado espaço. Outro tratar, mas eu estou bem feliz no Caque sabe muito bem do seu lugar é xias, não quero fazer nada apressado. o meia Marcelo Costa. O capitão do Quando surgir algo bom para o Caxias time, referência em campo, foi trazido e para mim, eu vou.” ao Centenário por causa da sua expeQuem conhece Ed não consegue riência. No clube, tem sido essencial imaginá-lo infeliz, em lugar nenhum também por sua paciência e tranqui- no mundo. Mas antes que essa teoria lidade. “O Marcelo é o cara que diz relativística passasse pela cabeça do pra gente quando tem de avançar ou repórter, o jovem atleta saiu-se com quando tem de acalmar o jogo”, revela essa: “Feliz porque não chegou o inverEdenilson, 20 anos, o segundo mais jo- no ainda. Tá louco, aqui é muito frio. vem do elenco, atrás apenas do terceiro Vim de Porto Alegre e lá não é tão frio goleiro, Sidvan, de 17. como aqui”, brinca. E há sentimento mais relativo do que a felicidade? MarEdenilson foi entrando aos celo Costa, o camisa 10 grená, não é de

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“A gente sente que é uma boa fase. Mas cada jogo é um jogo. Hoje a gente pode estar muito bem, mas se perder a primeira partida da fase final já vão nos criticar e vai acabar a boa fase”, relativiza Marcelo Costa, 29 anos. E prossegue, sempre no mesmo tom, bem como é em campo: “Precisamos tomar cuidado porque todo mundo vai querer tirar a nossa invencibilidade”. Mesmo sem ouvir a declaração do camisa 10 grená, o experiente Vanderlei Bersaghi, 51 anos, mais conhecido como Pé, diz a mesma coisa, só que de outro jeito: “É na hora da boa fase que tem de tomar mais cuidado, porque todo mundo quer nos derrubar”. Pé é daqueles que acompanham até treino físico. Sabe o preço que custa cada bola oficial que o clube utiliza e já viveu bons e maus momentos dentro do Centenário. Tivesse estudado física, e não trabalhado em banco, como outrora, poderia escrever a Teoria da Relatividade do futebol, a partir dos estudos de Einstein. Pé já viu de tudo. “Olha aqui ó, para ter sucesso na vida, além de competência, é preciso ter sorte. O Caxias salvou em cima da linha duas vezes no jogo contra o Inter”, ensina Pé, discípulo de Einstein. Mas quem coloca em xeque-mate o seu próprio trabalho – sempre, diga-se de passagem –, é o jovem treinador Julinho Camargo, 39 anos. “A gente sabe das nossas limitações, vivemos uma boa fase, sim, mas amanhã já pode ser

diferente. Cada jogo é um jogo. Falo para os meus atletas que eles precisam ter os pés no chão. Se alguns já estão tendo alguma visibilidade aqui no Caxias, e nem conquistamos nada por enquanto, imagina quando estivermos melhor ainda.” Julinho não vê o futebol apenas do ponto de vista do torcedor, apaixonado, ufanista, que chora e ri em um intervalo de 3 segundos. Ninguém no planeta, nem Einstein, poderia dizer como seria o Caxias se jogasse com este no lugar daquele. Se o time grená, caso tivesse como treinador Osmar Loss, estaria classificado, ou se o alviverde, com Julinho Camargo, estaria em outra posição na tabela. Segundo Einstein, só seria possível comprovando, para depois comparar. Ou seja, manda parar o campeonato, troca os treinadores e começa tudo de novo. Quem topa? Einstein toparia. E quem sabe se fosse ele o responsável pela fórmula de disputa não teríamos um pouco mais de racionalidade na percepção do valor dos resultados. Observar o passado do Caxias pode nos dizer muita coisa. O time não perde há mais de dois meses. Até este domingo (4), o Caxias venceu nove partidas, empatou quatro e perdeu apenas uma. Fez 27 gols e levou 16, saldo 11. Se isso o credencia para disputar o título? Lógico que credencia. Porque o time já está classificado para a próxima fase. Agora, se vai ser campeão, nem mãe Dinah, aquela que mais erra do que acerta os prognósticos, nem Einstein e suas teorias certeiras podem descobrir. Uma porque Einstein, para quem não sabe, já morreu. Outra porque é preciso aplicar a teoria. E aplicar a teoria, no caso do futebol, é colocar o Caxias em campo, seja com quem for. Não tomar gols. E vencer.

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Maicon Damasceno/O Caxiense

soltar gargalhadas ao estilo Edenilson de ser, nem por isso é um cara triste. Mas assim que chegou ao clube ele era um pouco mais na dele do que é hoje. Marcelo vinha de um ano péssimo, enfrentava mais uma batalha espiritual para voltar a ser reconhecido no mundo da bola.

Edenilson, o alegre Ed, começa a ser cobiçado por outros clubes

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Guia de Esportes Maicon Damasceno/O Caxiense

guiadeesportes@ocaxiense.com.br

Atletas do Serra Rugby Clube serão a atração do intervalo de Juventude x Grêmio, no domingo à tarde

VÔLEI l Superliga de Vôlei | sábado, às 11h | O Caxias enfrenta o Pinheiros, de Giba, Rodrigão e Marcelinho, pela última rodada do returno. As duas equipes já estão classificadas para a fase eliminatória do campeonato, e o jogo serve para definir a colocação final dos clubes e quem eles enfrentarão nos playoffs. O grupo treinado por Jorginho Schmidt busca reencontrar o caminho das vitórias para ingressar embalado na fase das eliminatórias, que inicia nesta quinta-feira (8). Para isso, Jorginho conta com Bruno Araujo, o quinto maior pontuador do campeonato, Marcos Nascimento, segundo melhor bloqueio, e Thiago Machado, o sexto melhor saque. Ginásio Poliesportivo da UCS Ingressos a R$ 4 (funcionários da UCS e estudantes em geral mediante identificação) e R$ 8 (público em geral) | Francisco Getúlio Vargas, s/nº, Vila Olímpica da UCS, Petrópolis

FUTEBOL l Juventude x Grêmio | domingo, 16h | A equipe de Osmar Loss tem a difícil missão de quebrar a invencibilidade do Grêmio no Gauchão. Para se classificar à fase eliminatória, o Juventude precisa vencer o time da Capital e torcer por derrotas de Avenida e Ypiranga. Com 6 pontos, o alviverde amarga a 6ª posição na chave 10. A provável escalação do Ju: Carlão; Bressan, Fred e Ferreira; Bruno, Umberto, Gustavo,

Hiago e Calisto; Denner e Luan. Estádio Alfredo Jaconi Ingresso promocional a R$ 20, para compra antecipada de torcedores com a camisa do Ju (no dia do jogo, também é preciso comparecer com a camisa). Ingresso normal a R$ 40. Estudantes (com requerimento de matrícula ou histórico escolar) e pessoas acima de 60 anos, R$ 20. Sócios com mensalidades em dia e menores de 12 anos tem entrada gratuita. Cadeiras: R$ 30 para sócios, R$ 40 para público em geral e R$ 15 para menores de 12 anos | Hércules Galló, 1.547, Centro Online | Acompanhe a cobertura ao vivo, como fotos, áudio, vídeos e participação da torcida em www.ocaxiense. com.br.

l São Luiz x Caxias | domingo, 16h | Já classificado para as finais da Taça Fábio Koff, o esquadrão grená luta para ser Campeão do Interior na disputa contra o São Luiz. O desfalque dessa rodada é o lateral direito Alisson. Sem um substituto da posição no elenco, o treinador Julinho Camargo precisará improvisar. O principal nome para substituir Alisson é Edenilson, quem vem atuando como volante mas já jogou na lateral no próprio Caxias. Julinho também pensa em alternativas táticas para surpreender o São Luiz e testar opções para a sequência do Gauchão. Caso o zagueiro Tiago Saleti seja escalado, o time vai jogar no 3-5-2, tendo Edenilson como ala. Ele também pode manter Edenilson na lateral direita e promover a entrada de Lê para atuar no meio-campo. O Caxias deve começar com Fernando Wellington; Edu Silva, Anderson

AVERGS - Associação Vêneta do RS Rua Bento Gonçalves, 1283 sala 03 - Fone (54) 3223 5083

EDITAL DE CONVOCAÇÃO

Convocamos os Srs. associados, quites com a tesouraria, para uma Assembleia que será realizada no dia 13 de abril ( terça - feira) às 19:00, conforme determina o estatuto, tendo como local sua sede social cita no endereço acima, para apreciarem o seguinte: a) Alteração do endereço da Avergs no estatuto; b) Assuntos gerais; Caxias do Sul, 31 de março de 2010. Tito Armando Rossi - Presidente

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Bill, Neto e Edenilson; Marcos Rogério, Itaqui, Tiago Saleti (Lê) e Marcelo Costa; Cristian Borja e Everton. No banco, pela primeira vez no campeonato, estará à disposição o volante Renan, que recuperava-se de lesão. Sensação do Gauchão no primeiro turno, o São Luiz cedeu terreno aos adversários. Nesta fase, anda tropeçando em si mesmo. Precisa vencer e ainda torcer para outros resultados caso deseje passar à fase final. Por isso, a diretoria do clube resolveu atrair a torcida com preços especiais. Estádio 19 de Outubro Ingressos a R$ 10 (antecipados, para os 500 primeiros ingressos) e R$ 15 (na hora). Mulheres, R$ 5 | 24 de Fevereiro, s/nº, esq. 21 de Abril | Ijuí Online | Acompanhe a cobertura ao vivo, como fotos, áudio, vídeos e participação da torcida em www.ocaxiense. com.br.

RUGBY l Apresentação do Serra Rugby Clube | domingo, 16h45 | A equipe de rugby de Caxias fará uma demonstração no intervalo do jogo do Juventude contra o Grêmio. Nos 15 minutos que separam os dois tempos da partida, os torcedores poderão conhecer um pouco mais sobre o esporte, em ascensão no Brasil. Os atletas do Serra Rugby Clube se dividirão em duas equipes e farão uma partida, inclusive com juízes. A participação do time feminino, possivelmente com apresentações de ataque e defesa, também estava sendo programada. Estádio Alfredo Jaconi No intervalo de Juventude x Grêmio

TÊNIS l Inscrições para o Brisa Open de Tênis | Até 11 de abril | As inscrições iniciaram na última quarta-feira (1º) e se estendem até domingo (11). Os interessados devem procurar a Sede Recreativa do Clube Juvenil. A taxa de inscrição custa R$ 40. O campeonato, que faz parte da 2ª etapa do Circuito de Tênis da Serra Gaúcha e soma pontos para o ranking da Federação Gaúcha de Tênis, terá sua abertura no dia 16 de abril, seguindo até o dia 25, sempre nas sextas, sábados e domingos. Serão disputados os naipes masculino e feminino em diversas categorias. Sede Recreativa do Clube Juvenil Taxa de inscrição: R$ 40 | Rua Marquês do Herval, 197

PADEL l 1ª Copa de Padel Tinoco/UCS | Até 6 de abril | As inscrições para a 1ª Copa de Padel podem ser feitas até terça-feira (6), na sede da Tinoco Esportes, na UCS, pelo site www.tinocoesportes.com.br ou pelos telefones, 8402-6364 (com Jaqueline) e 8138-2759 (com Moisés Ribeiro). A taxa é de R$ 50 por atleta. Nesse valor estão incluídos uma camiseta, troféu para campeões e vices de cada classe e uma confraternização. Os jogos serão realizados no sábado (10) e domingo (11) e nos dias de semana, à noite. Quadra Tinoco Esportes, na Vila Olímpica da UCS Taxa de inscrição: R$ 50 | Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Petrópolis

Edital de Interdição 1° Vara de Família - Comarca de Caxias do Sul. Natureza: Interdição Processo: 010/1.09.0015330 -2 (CNPJ:.0153301- 63.2009.8.21.0010) Requerente: Maria do Carmo Cesa Valduga. Requerido: Nair Maria Cesa Barison. Objeto: Ciência a quem interessar possa de que foi decretada a INTERDIÇÃO do REQUERIDO(A): Nair Maria Cesa Barison, por sentença proferida em 16/12/2009. LIMITES DA INTERDIÇÃO: sem limites. CAUSA DA INTERDIÇÃO: incapacidade total e permanente da parte interditanda para reger sua pessoa e administrar seus bens, por sofrer de doença codificada na classificação internacional de doenças sob n° 10F00.9, G30.9 e 110.. PRAZO DA INTERDIÇÃO: indeterminado. CURADOR(A) NOMEADO(A): Maria do Carmo Cesa Valduga. O prazo deste edital é o do art. 1.184 do CPC. Caxias do Sul, 18 de março de 2010. SERVIDOR: Geovana Zamperetti Nicoletto, escrivã. JUIZ: Antônio Claret Flôres Ceccato.

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Maicon Damasceno/O Caxiense

Números alviverdes

NO LIMITE

O Ju escapou do rebaixamento, mas faz a sua pior campanha da década no Gauchão

Mesmo na última partida do segundo turno, o time esmeraldino somaria 15 pontos, muito abaixo dos 21 pontos de 2005

O

por ROBERTO HUNOFF roberto.hunoff@ocaxiense.com.br futebol é uma caixinha de surpresas. Sobre a veracidade deste dito popular não recai qualquer dúvida. Por isso ele é usado na abertura desta matéria. A surpresa, neste caso, será o Juventude superar o Grêmio, domingo, diante de sua torcida, interrompendo uma sequência de 14 vitórias do Tricolor da Azenha, e ainda sonhar com vaga na fase seguinte do Campeonato Gaúcho de 2010. Mas para que isto ocorra, além de vencer, é preciso a combinação de resultados paralelos – e aí os deuses do futebol terão de jogar muito bem. O Juventude torce por tropeços do Ypiranga, que recebe o Inter de Santa Maria, e – pode acreditar – do Avenida, que joga contra o Porto Alegre, na Capital do Estado. Neste momento, depois da vexatória derrota para o Avenida, lanterna da competição, em Santa Cruz, por um a zero, tudo parece caminhar para a confirmação de um desempenho histórico negativo do alviverde em competições estaduais. Pelo menos na última década. Com apenas 12 pontos na soma dos 14 jogos disputados, fruto de duas vitórias e seis empates, o Juventude faz a sua pior campanha desde a conquista do Gauchão em 1998 e da Copa do Brasil no ano seguinte. Em toda a história da competição estadual o alviverde caxiense ostenta seis vice-campeonatos, em 1965, 1994, 1996, 2001, 2007 e 2008, além do título de 1998. Nos demais anos desta primeira década do milênio, o Juventude sempre se manteve dentre os oito melhores. Neste campeonato, se não houver surpresa alguma no domingo, o clube deverá encerrar sua participação na 13ª ou 14ª posição, ou seja, no limite do rebaixamento, já que os dois últimos da classificação geral estarão na Série B do Gauchão em 2011. Abaixo, hoje, estão Porto Alegre, Esportivo e Avenida, mas nenhum em condições de alcançar o Juventude. Mesmo vencendo e somando 15

pontos, ou 30% de aproveitamento nas 15 partidas das fases classificatórias, o Juventude ficará muito abaixo dos seus piores momentos desta década. A menor pontuação, considerando a participação desde o início da competição, é a de 2005, com 21 pontos e a 7ª colocação – repetida no ano passado, mas com 23 pontos. Na história de campeonatos gaúchos, registrada partir de 1919, o Juventude garantiu 22 colocações dentre os quatro primeiros. Foi 4º colocado em seis oportunidades, nove vezes chegou ao 3º lugar, seis em 2º e uma em 1º. Nesta temporada, com time formado essencialmente por jovens da base e alguns contratados, mas nenhum de grande nome no cenário nacional, a equipe faz sua pior campanha, digna de ser esquecida. Mas, como disse o presidente Milton Scola, este time foi formado com objetivo de garantir o clube na Série A do Gauchão. E cumpriu sua missão, embora a duras penas e deixando o torcedor receoso de que não pudesse chegar lá. Espera-se que, neste domingo, mostre ser capaz de fazer muito mais. Se houver a repetição do empenho e da dedicação dos treinos desta semana, o Juventude tem a chance de mostrar algo mais do que as melancólicas atuações de todo o Gauchão. O problema está em enfrentar o Grêmio, líder absoluto da competição, garantido na final, e que deve vir com força máxima. Se considerar os 172 jogos já realizados entre os dois times, a vantagem gremista é assombrosa. Nas 17 partidas disputadas pelas competições estaduais desde 2000, o Grêmio sustenta 10 vitórias contra três do Juventude e quatro empates. Nas seis vezes em que foi vice-campeão, o Juventude perdeu quatro para o Grêmio. As estatísticas e o momento atual inclinam para o lado gremista. Mas... o futebol é uma caixinha de surpresas. O vice-presidente de futebol do alviverde, Juarez Ártico, reconhece que

desde o início do ano a diretoria tinha mento e o time pode jogar mais solto, a convicção de que esta temporada não liberado. “Se perder, nada vai mudar. seria nada fácil. O Juventude foi o úl- Se ganhar, terá a chance de seguir na timo clube a iniciar as atividades, for- competição. Desde o início do Estadumou um novo time em espaço de tem- al sempre tivemos que administrar a po muito curto e teve pouco mais de pressão vinda de todos os lados. Neste 15 dias de atividades antes da estreia. jogo estaremos livres dela e os jogadoSituação semelhante ocorreu somente res poderão mostrar o seu verdadeiro com a dupla Gre-Nal, embora esta te- futebol.” nha usado jogadores dos times B, em Embora a chance de classificação atividade desde o ano passado e atuan- exista, o Juventude já tem uma progrado juntos há tempos. mação definida para os próximos mePara o dirigente, tecnicamente o atu- ses. A mais importante é montar e preal grupo do Juventude não ficou mui- parar um grupo em condições de fazer to abaixo dos demais. frente à Série C, que se Ártico destaca que inicia em julho, após a na maioria dos jogos Copa do Mundo. houve a influência de “Se perder, nada O vice de futebol e o fatores pontuais, como vai mudar. Se auxiliar técnico de Osgol no início, expul- ganhar, terá a mar Loss, o ex-zagueisões ou pênaltis em ro Piccoli, viajam pelo chance de seguir momentos cruciais, e país na prospecção de as lesões, tanto é que na competição”, atletas para montar o alguns jogadores con- diz Juarez Ártico, grupo que representará tratados sequer pude- sobre o confronto o Juventude na terceira ram ser avaliados em divisão do Brasileiro, com o Grêmio, jogos profissionais. onde não há exibição Mas admite que num no domingo pela televisão, tampoutime formado, pronto co auxílios da Confepara uma competição, deração Brasileira de possivelmente os resultados seriam Futebol. É cada um por si. Para o Juoutros. “O Juventude teve pouco tem- ventude, é uma experiência nova depo de preparação, padecemos de lesões pois de 13 anos na Série A e dois na B. dos novos contratados e o time não conseguiu atingir um padrão”, pondeIndependentemente do resultara. do de domingo, a diretoria já definiu a Esta combinação de fatores acabou estratégia para a competição nacional. se refletindo no desempenho atual. A primeira decisão é que o time ganhaPara Ártico, que defendeu as cores al- rá reforços e a folha de pagamento do viverdes como jogador, um time pron- futebol profissional, atualmente na casa to, ajustado, reagiria melhor à pressão. de R$ 150 mil mensais, será reajustada, Um exemplo é o jogo contra o Aveni- encorpando-se algo como 40%, para da, em que o Juventude teve o lateral perto de R$ 240 mil. Logicamente que, Luiz Felipe expulso aos 24 minutos do em função do controle financeiro, ouprimeiro tempo. “Se o nosso time esti- tros setores acabarão sofrendo os reflevesse pronto, a reação certamente seria xos da tentativa de montar um time em diferente. Mas, como ainda não atin- condições de recolocar o clube na Série gimos um padrão, a pressão acaba se B – e de voltar a receber verbas de teletornando um grande obstáculo.” visão e outros benefícios da CBF. “Para gastar mais no futebol teremos de mePressão que pode não ser senti- xer em outras áreas. O orçamento geral da no jogo de domingo contra o Grê- da instituição não pode ser extrapolamio. Não há mais o perigo do rebaixa- do e isto tem sido motivo de discussão

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O vice de futebol Juarez Ártico: “O Juventude teve pouco tempo de preparação, padecemos de lesões dos novos contratados e o time não conseguiu atingir um padrão”

semanal no clube.” A direção, em conjunto com a comissão técnica, tem feito avaliações sistemáticas do grupo à disposição. De acordo com Ártico, a filosofia futura é fechar contratações com prazo de 18 meses, ou seja, até o final do ano de 2011. “Não dá para iniciar um ano sem grupo formado. É balela afirmar que o Gauchão deve servir como laboratório. Precisamos de elenco pronto para iniciar o Gauchão e, na sequência, o Brasileiro. Não dá para administrar uma situação como a deste ano, em que tivemos de formar e organizar um time em menos de um mês.” O grupo que Ártico pretende montar para a Série C terá como comandante o técnico Osmar Loss, embora uma parte da torcida defenda mudanças. Dos 14 contratados em 2010, seis ainda não tiveram a chance de mostrar o seu potencial, basicamente por problemas de lesão ou falta de oportunidade. Estes terão a chance nos amistosos que o clube realizará no período de quase

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100 dias que antecederá a Série C. Nes- Janeiro e Rio Grande do Sul. Eles dete meio tempo haverá muitos treinos e vem vir especialmente para o ataque e pré-temporada, algo que o Juventude defesa. Por questão ética, o dirigente não conseguiu fazer no início de ano. evita antecipar dispensas, mas jogadoPode até não ser a razão decisiva para res como Marcos Denner, com proposo mau desempenho até aqui, mas que ta do Criciúma, e o goleiro Sílvio Luiz, contratado para ser titular que virou exerce influência, é inegável. reserva de Carlão, não Dos oito contratadevem fazer parte do dos e aproveitados por grupo que defenderá Loss, três devem ser Direção já as cores alviverdes na dispensados, assim decidiu aumentar Série C. como alguns que viea folha, de ram da temporada pasVoltando ao Gausada. A meta da dire- R$ 150 mil para chão, o elenco atual ção é formar um grupo algo em torno de tem a oportunidade de 28 atletas. R$ 240 mil neste domingo de mos mensais, para O trabalho de trar que, apesar da pífia identificação de novos fazer frente colocação, tem garra, valores já se iniciou, à Série C empenho e hombridaporque o Juventude de. O resultado até não não pretende ficar apeé o mais importante, nas com a chamada “raspa de tacho”, porque o Juventude precisa contar com aqueles dispensáveis para qualquer a sorte, e muita, para se classificar. O agremiação. Ártico destaca que a di- que a torcida espera é um time focareção observa jogadores no interior do, motivado e preparado para quebrar de São Paulo, Santa Catarina, Rio de escritas no Jaconi: a invencibilidade de

14 jogos do Grêmio neste ano, considerando Gauchão e Copa do Brasil, e o fato de o alviverde não vencer o tricolor no Jaconi desde 22 de fevereiro de 2002 (placar de 2 x 1, pelo Estadual). Além do que, se vencer, o Ju premiará dentre outros o vice de futebol, Juarez Ártico, que depois de muitos anos passa uma Páscoa em Caxias do Sul, abrindo mão da pescaria na praia. Também poderá retocar seu retrato diante do ? torcedor, como fizeram funcionários do clube, que nesta semana repintaram em amarelo e branco a sinalização para estacionamento dos ônibus que transportam os profissionais e os atletas da base. Para atrair a torcida, a direção montou duas promoções: quem comprar o ingresso usando a camisa alviverde paga R$ 20. Caso contrário, é R$ 40. Mulheres com a camisa do Ju têm ingresso liberado. E antes de a bola rolar haverá uma partida recreativa, além da caça ao ninho, com crianças de até 12 anos. Depois, o presente ficará por conta dos jogadores.

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Renato Henrichs renato.henrichs@ocaxiense.com.br

Possibilidade zero

Ano eleitoral

O vereador e sindicalista Assis Melo (PC do B) insiste. Conseguiu uma audiência quinta-feira que vem, dia 8, em Brasília, com o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi. Voltará a tratar do caso do pagamento do PPR a funcionários da empresa Randon Implementos.

Agora vai

Elemento fundamental para o vereador Vinicius Ribeiro (PDT) deixar a Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade e voltar à Câmara foi a série de conversas telefônicas que manteve nos últimos dias com Romildo Bolzan Júnior. O presidente da sigla no RS assegurou que Vinicius sairá candidato a deputado estadual com o apoio da Juventude Pedetista e do diretório estadual. Em Caxias, o diretório local respaldou apenas as pretensões do vice-prefeito Alceu Barbosa Velho em disputar uma vaga na Assembleia Legislativa.

Por sinal

perguntas para

Jorge Spinelli Dutra

Depois de um ano e três meses, o técnico do setor retorna ao comando da Secretaria Municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade

O que significa esse retorno à Secretaria? Na verdade, nós não saímos da Secretaria. Estávamos respondendo pela direção geral, onde implementávamos com Vinicius Ribeiro, cada um com sua forma de trabalho e com distintas aspirações pessoais, o programa de governo da administração Sartori. E, sendo assim, vamos continuar avançando agora com esse programa de governo, que não é um plano pessoal ou da Secretaria. Vamos ter a mesma responsabilidade dos primeiros quatro anos, vamos atuar dentro das mesmas atribuições e vamos ter uma grande tarefa pela frente, muito trabalho, mas um trabalho que conhecemos. É claro que iremos repassar algumas atividades, temos pessoal qualificado na Secretaria e vamos ver quem pode assumir a direção geral, possivelmente alguém que já conheça a atividade, que possa entrar já produzindo.

Ao mesmo tempo em que o trabalho da Secretaria ganha muita visibilidade, com trabalhos de porte sendo realizados, os problemas e as críticas também se avolumam. Como fazer para obter um equilíbrio? Felizmente ou infelizmente, tivemos um incremento do número de veículos, carros ou mesmo motos. Isso gerou uma migração de muita gente que usava outro tipo de transporte (até vans, por exemplo). Com a facilidade de crédito, o crescimento da frota de veículos foi acelerado nos últimos três anos. Isso, é claro, motivou um impacto Diego Netto, Divulgação/O Caxiense

Aliados mostram indignação com as ações do comando local do PDT, que estaria tentando, das mais variadas formas, barrar a candidatura de Vinicius Ribeiro. Acham que o vereador já fez sacrifícios demais em nome do partido – concorrendo a deputado federal, abrindo espaço para colegas assumirem vaga na Câmara de Vereadores – e está na hora de investir em sua carreira política. Por isso, também, a decisão de se colocar como candidato a estadual.

Avelino Azevedo, presidente do Conselho Comunitário Municipal, na audiência pública sobre participação popular realizada na Câmara de Vereadores

direto no trânsito. A reativação da construção civil, que está numa fase de grande movimentação, também estimulou a concentração de veículos na área central. O contraveneno para isso? Estamos trabalhando pela troncalização do transporte coletivo, que possa absorver parte dos usuários do automóvel. Claro que tem que qualificar mais o transporte coletivo, mas a estruturação viária está sendo feita. Os acessos à cidade estão sendo melhorados. Mas a grande meta do programa de governo, pela qual o prefeito Sartori tem carinho especial, é a troncalização do transporte coletivo. Já temos recursos para as duas primeiras estações de passageiros. Luiz Chaves, Divulgação/O Caxiense

Em função de uma conversa paralela, ocorrida em reunião do diretório peemedebista local, espalhou-se um boato esta semana dando conta de que o prefeito José Ivo Sartori poderia deixar o comando do Executivo municipal para disputar uma vaga para a Câmara dos Deputados, nas eleições de outubro próximo. Bobagem pura, possibilidade zero. Sartori não só vai ficar na prefeitura como se prepara para auxiliar de perto as campanhas dos dois candidatos do PMDB caxiense: Maria Helena Sartori (para a Assembleia Legislativa) e Mauro Pereira (para a Câmara Federal).

Nossa luta é para a construção de escolas infantis, uma séria carência do município

E a possibilidade do fim de gratuidades no transporte coletivo? Temos que fazer uma discussão responsável. O problema está aumentando em todas as cidades, não só em Caxias. Isso porque o benefício não tem fonte de custeio. Quem paga é o usuário, e normalmente alguém de menor poder aquisitivo, cujo ganho sequer permite o suficiente para ele ter vale-transporte. Não tem sentido esse usuário subsidiar o transporte de muitos que têm condições de pagar a tarifa. Tudo bem, temos que discutir também o direito adquirido. Mas, da forma como está posta, ela não é justa. As pessoas que menos podem e que não têm outra alternativa, a não ser andar a pé, é que estão pagando essa gratuidade.

Comunitário x Participativo Afinal, aumentaram ou reduziram os investimentos em obras definidas no Orçamento Comunitário? A discussão pode ser antiga, mas não para os vereadores caxienses, que realizaram esta semana audiência pública sobre participação popular. Para Ana Corso (PT), o que o governo Sartori aplica no OC não chega à metade do que era aplicado no tempo da Frente Popular na prefeitura. Já Édio Elói Frizzo (PSB)

salienta o fato de a atual administração manter e ampliar a ideia da participação popular. Para ele, não deve existir competição entre os orçamentos Comunitário e Participativo: “Um é o aperfeiçoamento do outro”. Morosidade nos atendimentos das secretarias municipais e falta de transparência nos números do orçamento municipal foram outras reclamações surgidas no encontro.

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Pragmatismo Em ato de pragmatismo político-administrativo, o prefeito José Ivo Sartori e o diretor geral do Samae, Marcus Vinicius Caberlon, estiveram entre os 1,2 mil convidados que participaram, em Brasília, do lançamento da etapa dois do Programa de Aceleração do Crescimento, PAC 2. Utilizado como trampolim eleitoral para a agora ex-ministra Dilma Rousseff, o PAC 2 prevê investimentos de 1 trilhão e 590 bilhões de reais entre 2011 e 2014 – seja qual for o presidente da República nesse período. Sartori e Caberlon só estão atentos a um financiamento ou mesmo repasse a fundo perdido de R$ 30 milhões, diminuta parcela dos valores anunciados, mas suficiente para cobrir despesas com obras adicionais e atualização orçamentária da construção do sistema Marrecas.

Palanque

Apesar de não abrir publicamente o voto, ao menos por enquanto, e ao contrário do que pregam lideranças peemedebistas gaúchas, a começar pelo guru Pedro Simon, o prefeito José Ivo Sartori apoia a candidatura do tucano José Serra à presidência da República.

Choro de perdedor

Diante das críticas da bancada petista ao resultado da eleição para reitor da Universidade de Caxias do Sul (“Assassinato da democracia”, segundo a vereadora Denise Pessôa), o vereador Édio Elói Frizzo (PSB) lembrou de musiquinha adotada no tempo em que coordenava a Comissão Representativa do Básico: Chororô. E lembrou da trajetória democrática do reitor reeleito Isidoro Zorzi ao mesmo tempo em que ressaltou as dificuldades dos integrantes da Democracia Socialista (DS), tendência interna do PT, de assimilar derrotas eleitorais, inclusive no movimento estudantil.

Servidores

Sem confrontos desnecessários, de forma quase zen, o governo mostra firmeza diante da reivindicação dos médicos concursados do município (ou seria do sindicato da categoria médica?), que querem R$ 7 mil de piso salarial por 20 horas semanais de trabalho. Não fecha as portas à entidade sindical, mas também abre a possibilidade de iniciar qualquer negociação. Para início de conversa, diz que tal aspiração deve ser encaminhada por intermédio do Sindicato dos Servidores Municipais, já que os 368 médicos da prefeitura são, antes de qualquer outra coisa, funcionários do município – o que não é demérito para ninguém. Mesmo assim – ou por isso mesmo –, o Sindicato dos Médicos anuncia paralisação a partir desta segunda-feira. 3 a 9 de abril de 2010

O Caxiense

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