Edição 38

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RAÍZES DA AAPECAN

Metade da diretoria mora no Paraná, onde o atual supervisor de RH responde por estelionato |S21 |D22 |S23 |T24 |Q25 |Q26 |S27

André T. Susin/O Caxiense

Caxias do Sul, agosto de 2010 | Ano I, Edição 38 | R$ 2,50

UM DRAMA EM CARTAZ

Uma histórica tragédia caxiense preocupa os personagens do teatro local: a plateia reclama da escassez de atrações nas agendas; os artistas repetem as falas da falta de espaço e de incentivo; os administradores das casas de espetáculos fazem coro. A casa vazia, porém, é cena rara na cidade

Renato Henrichs: coquetel pode causar indigestão eleitoral em Alceu e Kalil | Caxias, o filme: retrato de uma cidade contraditória


Índice Divulgação/O Caxiense

www.OCAXIENSE.com.br

A Semana | 3

As notícias que foram destaque no site

Roberto Hunoff | 4

Orientação ideológica na proposta da Ceasa/ Serra para Conab

Graças à Graziela Andreatta e O Caxiense, as intenções da Aapecan estão vindo a público. Engana a quem doa e atende poucos doentes. Lucas Guarnieri

Ligações paranaenses | 5

Metade da diretoria da Aapecan mora no Paraná, onde o supervisor de RH é processado por estelionato

O Caxiense entrevista | 6

Candidato do PSTU ao Piratini, Julio Flores sonha com a revolução socialista

Patrono silencioso | 8

André T. Susin/O Caxiense

Um perfil de Marcos Fernando Kirst, o nome da Feira do Livro deste ano

Obra cosmopolita | 10

Operários de diversos estados se unem para construir o San Pelegrino

Contradições em cena | 11

Polêmico filme sobre Caxias estreia com atraso, mas satisfaz

@fran_becher Um salve à equipe do jornal @ocaxiense - sempre sabendo usar o melhor da Internet na cobertura jornalística! o/ #Edição37 @jornalisi No @ocaxiense, erros na ortografia são raríssimos, talvez até inexistentes. Vale sempre o exemplo de quem respeita a língua! Revisão sempre. #Edição37 @GabiAlcantaras Bem bacana a matéria “Incentivo que vale ouro” de @ocaxiense. Parabéns! #Edição37

Timidez no palco | 12

Monólogos dramáticos e diálogos plausíveis da cena cultural caxiense

@Clariiiiissa Parabéns @ocaxiense! Gostei muito das reportagens: sobre as rádios piratas e sobre Aapecan. #Edição37

Auxílio da Fé | 14

Missionário capuchinho ajuda a reconstruir o Haiti

@miguepb O @ocaxiense é demais. Sempre deixando o pessoal de Caxias do Sul bem informado ;) #Edição37

Guia de Cultura | 15

Um malvado e um bem amado nas telas

Artes | 18

A deusa da vitória e a musa do blues

@Potro123 @ocaxiense Só acredito no San Pelegrino no dia que inaugurar e eu entrar lá.... até que isso aconteça muita coisa pode acontecer. #sanpelegrino

Guia de Esportes | 19

Boliche, pingue-pongue, CA-JU juvenil e rodadas decisivas no futebol amador

Duplicidade grená | 20

No Site

Julinho Camargo se esmera para treinar para a Copinha RS e para a Série C

Aumento salarial dos servidores | Novamente a prefeitura não dá a mínima para os servidores. Parcelar em 20 meses? Ficaram loucos? Quando eles aumentaram o salário do prefeito, do vice e de secretários, o aumento veio no outro mês sem o parcelamento. Paulo Cesar Lopes

Troca alviverde | 21

Beto Almeida substitui Loss prometendo novos números para o Ju na tabela da Série C

Renato Henrichs | 23

Coquetel pago pelos pedetistas Alceu e Kalil pode custar caro

Expediente

Redação: André Tiago Susin, Camila Cardoso Boff, Cíntia Hecher, Fabiano Provin, Felipe Boff (editor), José Eduardo Coutelle, Luciana Lain, Marcelo Aramis (editor assistente), Marcelo Mugnol, Paula Sperb (editora), Renato Henrichs, Roberto Hunoff, Robin Siteneski e Valquíria Vita Comercial: Leandro Trintinaglia e Cláudia Pahl Circulação/Assinaturas: Tatyany Rodrigues de Oliveira Administrativo: Luiz Antônio Boff Impressão: Correio do Povo

Texto de ficção sobre SER Caxias | Lindo texto. E é alentador que O Caxiense, com muita perspicácia, abra espaço para isso. Parabéns. Juliana de Brito

Assine

Falta de água | Caxias é a cidade do tatu, cavam, cavam e cavam buraco. O Samae cavou um buraco na frente de casa e arrancou os fios de luz! Estamos há dois dias sem luz! E ligando insistentemente para RGE, muita incompetência destes órgãos públicos. Patricia Nabinger

Jornal O Caxiense Ltda. Rua Os 18 do Forte, 422, sala 1 | Lourdes | Caxias do Sul | 95020-471 Fone 3027-5538 | E-mail ocaxiense@ocaxiense.com.br www.ocaxiense.com.br

Capa | O ator Jocelito Carvalho, maquiado por Thiele Danieli (8401-1109) na escola de teatro Tem Gente Teatrando (3221-3130) e fotografado por André T. Susin.

Para assinar, acesse www.ocaxiense.com.br/assinaturas, ligue 3027-5538 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 18h) ou mande um e-mail para assine@ocaxiense.com.br. Trimestral: R$ 30 | Semestral: R$ 60 | Anual: 2x de R$ 60 ou 1x de R$ 120

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Comentário de Renato Henrichs | Caro Renato, o senhor fez uma leitura perfeita do primeiro debate presidencial. Sua opinião vai ao encontro, imagino, do que a maioria dos eleitores observa neste momento da corrida eleitoral. Juliano Favretto

O Caxiense

21 a 27 de agosto de 2010

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


paula.sperb@ocaxiense.com.br Divulgação/O Caxiense

Vera DAmian, Divulgação/O caxiense

Luiz Chaves, Divulgação/O Caxiense

editado por Paula Sperb

A Semana

Sindiserv promete greve setorizada; memória caxiense de 1982 é resgatada em documentário; Visate lança ônibus menores

SEGUNDA | 16 de agosto Aapecan

Conselho de Assistência Social não dará aval

Se a Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) quiser ser reconhecida como entidade filantrópica, terá que pedir o aval diretamente ao Ministério da Justiça. O Conselho Municipal de Saúde anulou o atestado de pleno e regular funcionamento da entidade e devolveu o caso ao Conselho Municipal de Assistência Social, que já adiantou: não pretende recadastrar a entidade. A assessora do Conselho de Assistência Ana Paula Flores salienta que a Aapecan teve sua inscrição cancelada “definitivamente” naquele órgão. A decisão teve o parecer referendado pelo Conselho Estadual de Assistência Social e será mantida, conforme ficou definido na última reunião do grupo, realizada na quinta-feira (12). Leia mais sobre a Aapecan na página 5.

Intercom

Congresso trará 3.163 pessoas a Caxias

Entre os dias 2 e 6 de setembro, sotaques de todos os cantos do Brasil serão ouvidos – tanto nas palestras como pelo campus da UCS – durante o 33º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom). São 3.163 inscrições confirmadas, um pouco abaixo do esperado: 4 mil. Alguns dos motivos podem ser o fato de o Intercom não ser realizado em uma capital e por ser na região Sul. Mesmo assim, 494 inscritos são do Nordeste, 228, do Norte, 173 do Centro-Oeste. A maior parte dos participantes é do Sul, 1.347.

TERÇA | 17 de agosto Trabalho

Comerciários não aceitam proposta do Sindilojas Diferente dos metalúrgicos que

aceitaram um aumento salarial de 8,1%, inferior aos 10% reivindicado, os comerciários ainda não entraram em acordo com o Sindilojas. Os trabalhadores pedem 9%, mas o sindicato patronal oferece 5,8%. A negociação está em andamento há pelo menos dois meses. O Sindilojas descarta outra proposta.

Assistência social

FAS promete novo abrigo

Maus tratos, abandono e dependência química dos pais são os principais motivos para a retirada de crianças e adolescentes de seus lares e o encaminhamento aos abrigos. Em Caxias do Sul, 93 crianças e adolescentes ocupam parte das 122 vagas existentes na cidade.Segundo a presidente da Fundação de Assistência Social (FAS), Maria de Lurdes Grison, Caxias deve ganhar um nova casa de acolhimento em breve. “Um novo abrigo junto ao Centro Assistencial Portal da Luz (no bairro Marechal Floriano) será aberto até o final do ano. A casa deverá ter oito vagas e receberá, principalmente, grupos de irmãos. O projeto já foi aprovado e os recursos serão repassados”, anuncia Maria de Lurdes.

QUARTA | 18 de agosto Cultura

Documentário Cio da Terra estreia primeiro em POA

Em outubro de 1982, em plena ditadura militar, Caxias do Sul viveu três dias e três noites de liberdade, música, teatro e debates políticos. O evento Cio da Terra reuniu 15 mil jovens idealistas nos Pavilhões da Festa da Uva, e deixou marcas até hoje em muita gente. Tanto que se tornou tema de um documentário homônimo, que estreou na sexta-feira (20), em Porto Alegre. Conforme o diretor, Cacá Nazario, o filme deve estrear em Caxias no período em que o Cio da Terra ocorreu: 29, 30 e 31 de outubro. Online | Veja imagens da época em www.ocaxiense.com.br.

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Eleições

Candidatos ao Piratini palestram na CIC

Dos 10 candidatos ao cargo de governador do Estado, 3 devem palestrar na Câmara de Indústria e Comércio de Caxias do Sul (CIC). Yeda Crusius (PSDB) fala na sexta-feira (27), José Fogaça (PMDB) em 9 de setembro e Tarso Genro (PT), sem data confirmada.

Sindiserv

Proposta rejeitada e promessa de greve

Os servidores municipais não aceitaram o aumento de 2,4% proposto pela prefeitura. O Sindiserv anunciou que irá organizar uma paralisação setorizada em órgãos municipais. Pela proposta do Executivo, o aumento seria parcelado até abril de 2012. O Sindicato, que reivindicava um aumento real de 8,93%, considerou a oferta muito aquém do solicitado.

QUINTA | 19 de agosto Vitória do Internacional

Dois homens queimados com fogos de artifício

Nem todos os colorados tiveram só alegrias com a vitória do Internacional sobre o Chivas por 3 a 2 . O pronto-socorro do Hospital Pompéia recebeu dois torcedores por causa de ferimentos provocados por fogos de artifício durante a comemoração. Um torcedor de Bom Jesus perdeu um dedo, enquanto outro caxiense sofreu queimaduras. A Brigada Militar recebeu 229 chamados de queixas pelo barulho durante a noite. O equivalente a um aumento de 340,38% em comparação ao dia anterior.

San Pelegrino Shopping

Autorizada retomada das obras

O Ministério do Trabalho vistoriou na tarde desta quarta-feira (18) as obras do San Pelegrino

Shopping Mall e levantou parcialmente o embargo à construção. Os fiscais constataram que os guarda-corpos da parte interna, que protegem os trabalhadores de possíveis quedas, foram adequados. Toda área comum e o espaço das lojas já estão autorizados a receber novamente os trabalhadores.

Transportes

Ministro apoia demandas locais

O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, esteve na Câmara da Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC) nesta quintafeira (19). Na ocasião, o presidente da CIC, Milton Corlatti, entregou uma correspondência com reivindicações da classe empresarial para a área. As demandas apresentadas pela entidade dizem respeito ao trem regional de passageiros e cargas, sobre o qual uma pesquisa com a população iniciou-se nesta semana, a construção do novo aeroporto internacional, que depende da definição do local de instalação por parte do governo do Estado, a solicitação da retirada da praça de pedágio na RS-122 entre Caxias do Sul e Farroupilha e a reivindicação por um anel rodoviário da BR-116, que desviaria o fluxo do perímetro urbano da cidade. Todas demandas receberam apoio do ministro.

SEXTA | 20 de agosto Transporte

Visate apresenta ônibus menores e sem cobradores

Como antecipado pelo jornal O Caxiense em 26 de julho, a Visate vai adotar ônibus menores e sem cobradores. Os novos modelos foram apresentados à comunidade nesta sexta (20), na Praça Dante. Os modelos mais econômicos da frota Sênior Midi, da Marcopolo, têm capacidade para 27 lugares e são equipados com GPS. Na próxima terça, a linha 37 Tijuca/Nossa Senhora da Paz já estará operando no novo sistema. 21 a 27 de agosto de 2010

O Caxiense

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Roberto Hunoff roberto.hunoff@ocaxiense.com.br

Nova coleção

Com projeção de crescimento de 12% nas vendas em comparação ao ano passado a Pinoti Baby lançou a coleção Primavera-Verão 2011. Há 30 anos no mercado e atuação em 17 estados, a empresa caxiense traz como novidade a utilização de materiais feitos a mão, como fuxicos, topes e detalhes em crochê. Criada pela estilista Alessandra Bulla Marques, a coleção tem 90 peças diferenciadas. A empresa comercializa média mensal de 12 mil peças para mais de duas mil lojas.

Depois de palestrar na CIC e fazer, como era de se esperar, apologia contundente ao governo do presidente Lula, defendendo claramente a sua continuidade, o ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, visitou duas empresas da cidade. Esteve na Marcopolo, onde tomou conhecimento dos investimentos superiores a R$ 300 milhões, consolidados a partir de 2007, que permitiram à empresa atingir capacidade de produção atual de cerca de 95 unidades por dia no Brasil. Na Guerra, que nesta sexta-feira, 20, iniciou programação comemorativa

aos seus 40 anos de fundação, conheceu novidades tecnológicas, como o modelo sobrechassi Wingliner, desenvolvido em parceria com empresa europeia, para o transporte de bebidas. O equipamento será apresentado oficialmente na ExpoConfenar, evento que reúne fornecedores da Confederação Nacional de Revendas Ambev e das Empresas de Logística da Distribuição. Neste sábado a Guerra lança o programa Maratona Paz na Estrada que objetiva conscientizar motoristas sobre a importância do respeito, da educação e gentileza no trânsito.

Perto da meta

A Marelli, fabricante de mobiliário corporativo, está próxima de confirmar receita de R$ 100 milhões neste ano, um marco em sua história. Para Daniel Castilhos, gerente de vendas e marketing, os sinais emitidos pelas lojas da rede indicam a possibilidade de a meta ser superada. Em 2009 a empresa investiu mais de R$ 1,7 milhão em ações sociais internas e externas. O valor refere-se a benefícios concedidos aos 174 colaboradores, distribuição dos resultados, investimentos em educação, treinamentos, saúde, esportes, lazer e qualidade de vida e ações voltadas à comunidade, como o Projeto Pescar, franquia social adotada pela Marelli desde 2006. Desse montante, R$ 834 mil foram distribuídos aos funcionários como participação nos resultados sobre o lucro operacional. Cada profissional recebeu até 4,4 salários nominais extras no ano.

Pedido exagerado

Divulgação/O Caxiense

A prefeitura de Caxias do Sul repassou mais R$ 74 mil do Fundo Municipal de Desenvolvimento Rural para nove agricultores. O mecanismo visa incentivar a permanência do agricultor no campo e desde 2005 beneficiou 133 agricultores, com recursos superiores a R$ 1,1 milhão. Os recursos liberados em 2005 e 2006 já voltaram aos cofres do Fundo. Dentre as obras financiadas recentemente destaque para a implantação de agroindústria de derivados do leite, compra de equipamentos e animais e construção de pavilhões.

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O Caxiense

21 a 27 de agosto de 2010

A Construesse entrega na sextafeira (27) o Residencial Brisa, construído no Loteamento Morada dos Alpes. O encontro também servirá para o lançamento do Brisa II e o Brisa III, localizados no Bairro Colina do Sol. Os prédios já em construção serão entregues em 12 meses. O primeiro empreendimento da Construesse edificado no Programa Minha Casa Minha Vida tem 40 apartamentos de dois dormitórios e uma vaga de estacionamento com valor individual de R$ 75 mil.

Rogério Formiguieri, Guerra/Divulgação/O Caxiense

Randon, Marcopolo, Lojas Colombo são as únicas representantes da Região da Serra na lista das 500 maiores empresas do Brasil, organizada pela revista Istoé Dinheiro. No segmento de autopeças, a Randon é considerada a melhor, com 434 pontos. Ela é primeira colocada nos critérios de sustentabilidade financeira e governança corporativa e segunda em responsabilidade social, recursos humanos e inovação e qualidade.

Apoio à agricultura

Primeiro exemplar

Campanha em visita

Entre as maiores

O Consórcio Ceasa/Serra Adcointer S/A (Administradora de Consórcios Intermunicipais) apresentou proposta à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) de aquisição da unidade da Ceasa/Serra, localizada no Bairro Santa Lúcia, em Caxias do Sul. A proposta é a de ressarcir os investimentos feitos pela Conab. Esta, por sua vez, exige ainda ressarcimento pelo terreno que foi doado em 1979 pelo Município e por investimentos consolidados na duplicação da parte física da Ceasa. Esta posição gerou impasse na negociação. Além de ter

doado o terreno, o Município realizou várias melhorias nos últimos anos, como asfaltamento, construção do pavilhão do produtor, nova portaria, central de embalagens e administração com recursos provenientes da Consulta Popular e da Adcointer. O diretor-presidente da Consórcio Ceasa/Serra Adcointer e secretário da Agricultura de Caxias, Nestor Pistorello, calcula que desde 2005 os municípios já investiram mais de R$ 1,3 milhão na estrutura. A posição da União parece ter orientação política e ideológica.

Futebol com negócio

As oportunidades de negócios decor- trutura, serviços, turismo e imagem do rentes da Copa de 2014 e das Olimpía- Brasil para os dois eventos esportivos. das de 2016 no Brasil centralizarão os A programação se inicia com reuniãodebates do 22º Fórum de Administra- almoço na CIC, tendo como palestrante ção, marcado para segunda e terça-feira o Secretário Extraordinário da Copa, (23 e 24), em Caxias do Sul. O presi- Eduardo Antonini. À noite, no Teatro dente da Associação dos Administra- da UCS, ocorrerá palestra com dirigendores da Região Nordeste do Estado tes de Inter, Juventude e SER Caxias. do Rio Grande do Sul, Luís Fernando Para terça-feira à noite está programaMassenz Gomes, afirma que o objedo o debate Negócios, Esporte e Gestão, tivo é discutir oportunidades com os com a presença de José Estevão Cocco, administradores da região, visando ao diretor-presidente da Academia Brasiplanejamento com relação à infraes- leira de Marketing Esportivo.

Mais tempo

A Microempa prorrogou até terça-feira (24) as inscrições para a 4ª Edição do Troféu Empreendedorismo Feminino. Para participar, a candidata deve ser sócia ou administradora de microempresa ou empresa de pequeno porte ou integrante de cooperativa ou

associação. A premiação será entregue no dia 21 de outubro. A coordenadora do troféu, Vanice Dani, informa que a Microempa pretende mapear o empreendedorismo feminino na região e identificar a participação da mulher empreendedora na economia local.

Em alta

O Bergson Executive Flat, de Caxias do Sul, apresentou taxa de ocupação de 75% no primeiro semestre do ano, superior aos 67% registrados no mesmo período de 2009. Na mesma base de comparação, o faturamento cresceu 30%.

Aprendizagem

A edição 2010 do projeto Empresário-Sombra por um Dia teve a participação de 55 alunos do segundo ano do ensino médio de Caxias do Sul. Na segunda-feira eles acompanharam todas as atividades realizadas por empresários e lideranças políticas da cidade. Dentre eles, o prefeito José Ivo Sartori, o presidente da CIC, Milton Corlatti, e seus vice-presidentes Carlos Heinen, Nelson Sbabo e Fúlvia Stedile Angeli Gazola.

Curtas A Regional Serra da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas promove quinta-feira (26) reunião-jantar na CIC de Caxias. O casal adeceano Jaime e Cleusa Lorandi falará sobre Ética na Família e no Trabalho. A Active Comunicação completou 10 anos de atuação no mercado de Caxias do Sul e região. Marcou a data com a imagem de um trevo de quatro folhas. A empresa desenvolve trabalhos na área de design e alia a propaganda ao planejamento de comunicação. Desde o início deste mês a Pit Comunicação e Marketing responde pela comunicação e o marketing do Hotel Blue Tree Towers Caxias do Sul. As ações incluirão também o Restaurante Luna Rossa, que atende ao público em geral. O consultor de moda Marcondes Tavares promove, de 24 a 26, o Fashion Demonstração no Farroupilhas’s Center. Por meio de desfiles serão apresentadas as coleções para lojistas e compradores. O ator convidado é Henri Castelli.

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Lucro filantrópico

AS RAÍZES PARANAENSES

DA AAPECAN

Metade da diretoria da milionária entidade mora em Jacarezinho (PR), a 880 km de Caxias. E o supervisor de RH está sendo processado em Curitiba por estelionato

A

por GRAZIELA ANDREATTA

ligações, foi Emilio quem finalmente atendeu o telefone. Mas aí o tom Associação de Apoio a Pessoas com tranquilo do evangélico que diz ajuCâncer (Aapecan), com sede em Ca- dar as pessoas porque “quem não nasxias, é muito mais paranaense do que ceu para servir não serve pra viver”, se imaginava. Não é apenas o presi- sempre acompanhador de um “Deus dente, Emilio de Oliveira, que mora te abençoe” nas despedidas, desapaem Jacarezinho (PR), onde trabalha receu. Emilio falou com O Caxiense como vigia noturno. A secretária que para dizer que não queria mais falar. integra a diretoria da organização, Afirmou que não daria mais inforMaria Ivonete Medeiros, também mações e recomendou que as dúvidas vive nessa cidadezinha de 40,5 mil fossem esclarecidas com Vasques. Só que Vasques também não quis habitantes, a 880 quilômetros daqui. E Maria Ivonete tem um bom motivo falar. E há muitas explicações pendentes. A entidade é milionária. A matriz para isso: é mulher de Emilio. O que causa mais estranheza, além e cinco de suas filiais no Estado declado fato de uma milionária entidade de raram ter arrecadado R$ 7.758.464,51 Caxias ser comandada (pelo menos em 2009, mas investiram somente R$ no papel) por moradores do interior 2.675.454,30 em filantropia, fechanparanaense, é que na semana anterior do o exercício do ano passado com Emilio afirmou ao jornal O Caxiense R$1.199.342,68 em espécie no caixa que não sabia quem era a secretária da das unidades. Sem contar o superávit de R$ 863.410,53. instituição. Mais da metade da diretoria de VasA diretoria da Aapecan é formada por quatro pessoas: um presidente, ques está a centenas de quilômetros de um vice, uma secretária e um tesou- Caxias, e essa reportagem não estaria nem citando seus intereiro. O vice-presidengrantes se dependesse te, Odanir Antonio do diretor executivo, Tomazzo, morreu em “Como pois ele não quis inmaio deste ano, vítima não existe quem eram as de câncer – não se tem condenação, não formar pessoas. Também não notícia de que alguém revelou quem são os o tenha substituído. O há impedimento membros do Conselho tesoureiro, portanto, legal. É outro Fiscal, que, como diz é o único da diretoria Estado, e abrir o nome, é responsável residente em Caxias uma associação por fiscalizar a aplicado Sul. ção do dinheiro doado Enquanto seus diri- é muito fácil”, pela comunidade. gentes acompanham afirma Isabel Vasques também tudo de longe, a Aanão fala sobre Cláudio pecan vai sendo comandada pelo seu diretor executivo Ciusz, atual supervisor de Recursos e fundador, Paulo Siqueira Vasques, Humanos da Aapecan. Ciusz – que também paranaense, mas que pelo tampouco quis falar com a reportamenos mora em Caxias. Ele tem qua- gem – foi preso, indiciado e denunciase mais poder do que o presidente, do pelo Ministério Público Estadual porque na ausência de Emilio – que é do Paraná em 2006 sob a acusação diária – é Vasques quem toma as de- de integrar um esquema que desviou cisões, dá entrevistas e decide quais pelo menos R$ 30 milhões de duas informações podem ou não ser repas- organizações não governamentais que atuavam no auxílio a pessoas com sadas à imprensa. câncer: o Grupo de Apoio a Pessoas Talvez isso explique o susto da com Câncer (GAPC) e a Associação secretária da instituição ao receber a Brasileira de Assistência a Pessoas ligação da reportagem d’O Caxiense. com Câncer (Abrapec). As entidades Ao atender o telefone, na quarta-feira tinham 50 filiais no Brasil, e Ciusz foi (18) à tarde, ela se identificou normal- apontado pelas autoridades como o mente. Mas, ao ser informada de que chefe de arrecadação da unidade de estava sendo contatada por integrar a Foz do Iguaçu (PR). diretoria da Aapecan, passou a dizer A GAPC e a Abrapec tinham que não ouvia bem. Ao perceber que a repórter também sabia que ela era uma maneira de trabalhar muito pamulher do presidente Emilio, desli- recida com a da Aapecan. Operadores gou imediatamente o telefone. E não de telemarketing ligavam para as pessoas pedindo doações e motoboys iam atendeu mais. Após muita insistência e repetidas até as casas e empresas para buscar o

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dinheiro. Mas apenas parte do que era ainda não foi realizado nenhum julgamento. arrecadado ia para os pacientes. O promotor da 2ª Vara Criminal de O delegado que conduziu a investigação na época, Marcus Michelotto, Curitiba Licínio Corrêa de Souza diz conta que desmantelou o esquema a que uma série de ações trabalhistas estão impedindo o anpartir de denúncias de damento do processo. ex-funcionários. Eles “Na época da ação da perceberam que a ar- “Decidimos Polícia Civil foi aprerecadação das ONGs investigar pois endida uma grande era bem maior do que a arrecadação quantidade de dinheios valores declarados. ro e de bens. Funcioná“De acordo com a lei, era a alta e a rios de diversas partes qualquer quantia que proporção dos do Brasil começaram elas recebessem deve- investimentos a mover ações na Jusria ser depositada em em pacientes tiça do Trabalho, que um banco e lançada na remete as demandas ao contabilidade, mesmo era pequena”, Tribunal de Justiça do que fosse R$ 10. Mas diz Nogueira Paraná por causa dos somente parte desse valores apreendidos. dinheiro ia para a conta das ONGs, o restante era desviado”, Cada vez que isso acontece, tem toda uma burocracia que precisa ser seguiafirma o delegado. Michelotto chamou a investigação da e para o processo criminal. Deveria de Operação Pharmako. Após desco- haver uma hierarquia que privilegiasbrir como o esquema funcionava, fez se o processo criminal, mas infelizuma parceria com as polícias de São mente isso não existe.” Paulo, Santa Catarina e Rio Grande O Ministério Público do Rio do Sul. Em algumas horas, os policiais prenderam 16 pessoas e apreenderam Grande do Sul começou a investigar documentos que depois comprova- a Aapecan em 2006, em Bento Gonriam a fraude. “Usamos recibos apre- çalves, pelas mãos do titular da 1ª endidos para confirmar a existência Promotoria Cível, Alécio Silveira Nogueira. “Decidimos investigar pois a de um Caixa 2.” As ONGs paranaenses foram fecha- arrecadação deles era a alta e a prodas e 21 pessoas acabaram denuncia- porção dos investimentos feitos em das por crime de estelionato. Entre pacientes com câncer era pequena”, elas, Ciusz, que deixou Foz do Iguaçu conta. O caso foi remetido para Caxias, para trabalhar na Aapecan em Caxias. A promotora Isabel Cláudia Guer- pois é onde fica a sede da entidade. reiro, que coordena o Centro de Apoio Outros documentos foram sendo junde Fundações e Terceiro Setor do Es- tados ao procedimento administratitado do Paraná, explica que é muito vo, que passou por mais cinco promocomum pessoas que trabalhavam torias até ser enviado a Porto Alegre em ONGs fechadas pelas autorida- pelo promotor criminal Alexander des se mudarem para outros estados Guterres Thomé. “Há denúncias de e prestarem serviços na área ou até irregularidades em várias cidades e, mesmo abrirem entidades semelhan- para evitar decisões isoladas sobre cada caso, entendemos tes. “Como não existe que seria melhor reucondenação, não há nir tudo em um único nenhum impedimento “Há denúncias procedimento e deixálegal. É outro Estado, e em várias lo nas mãos de uma abrir uma associação é cidades. promotoria que pudesmuito fácil. Qualquer se fazer uma investigapessoa pode fazer isso Entendemos ção estadual.” O caso e sair pedindo doa- que seria melhor está agora na Promotoções.” fazer uma ria Especializada CriAlém disso, ao que investigação minal da Capital, sob tudo indica, Ciusz e a responsabilidade de todos os outros de- estadual”, Frederico Schneider de nunciados em 2006 afirma Thomé Medeiros, que não dá devem se livrar das informações para não acusações, mesmo que a Polícia Civil e o Ministério Público prejudicar a apuração. Ele diz apenas sustentem ter provas do envolvimen- que há documentos sendo periciados. to deles nas irregularidades. O crime Não há previsão de conclusão da indeve prescrever no final deste ano, e vestigação. 21 a 27 de agosto de 2010

O Caxiense

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O Caxiense entrevista

“TEMOS MUITA

PACIÊNCIA” Julio Flores, candidato ao Piratini, quer expropriar multinacionais, estatizar quase tudo e deixar de pagar dívidas. Mas, por ora, contenta-se em divulgar o socialismo

E

por ROBIN SITENESKI, ROBERTO HUNOFF e RENATO HENRICHS le é a favor do aborto, do não pagamento das dívidas interna e externa, da expropriação de multinacionais e da reabertura de empresas estatais como a CRT. Candidato do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), o professor de matemática da rede pública Julio Flores, que já tentou ser deputado estadual e vereador de Porto Alegre, concorre ao cargo de governador pela primeira vez. A entrevista, feita por telefone na manhã da última quarta-feira (18), dá sequência à série de conversas do jornal O Caxiense com os candidatos ao Piratini. Em 2006, como candidato a deputado estadual, o senhor fez 10.242 votos. Ficou distante de uma cadeira na Assembleia. Como pretende aumentar sua votação para governador? Na verdade, 10 mil votos para um deputado não é pouca coisa. Para o Senado, Vera Guasso está com 5% em algumas pesquisas, ao redor de 400 mil votos. Isso significa que as ideias socialistas estão chegando e sendo abraçadas por uma parte do povo.

PSTU, Divulgação/O Caxiense

O PSTU surgiu de uma dissidência do PT, no contexto do movimento “Fora, Collor”. Como o partido vê, hoje, o apoio de Collor a Dilma, candidata petista à Presidência? Havia um processo de degeneração do Partido dos Trabalhadores naquela época, que foi aumentando, e hoje o PT é um partido que governa junto com o PMDB, com o próprio Collor e com partidos tradicionais da burguesia. Parafraseando o presidente da República, nunca antes na história deste país os banqueiros ganharam tanto dinheiro como no governo Lula. É uma realidade cruel. A gente observa um processo de adaptação do PT ao regime atual. Tínhamos razão sobre o curso que o PT tomava. Mantivemos nossa coerência e desde lá batalhamos para construir e consolidar nossas ideias no país e no Estado.

Julio Flores: “Os impostos para os grandes iriam aumentar enormemente”

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O Caxiense

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Como o senhor enxerga a crítica, comum no meio político, de que partidos menores só servem para barganhar cargos ou vender apoio? Não concordamos com esses partidos de aluguel e não nos confundimos com eles. O projeto do nosso partido é justamente não aceitar nenhuma doação de empresários. É uma questão de

princípio. Somos sustentados e financiados pelos trabalhadores e pela militância. Temos um projeto socialista coerente, que nos diferencia de todos os demais partidos. Somos o único que está propondo um governo socialista dos trabalhadores. Em hipótese alguma governaríamos com os partidos da burguesia ou aceitaríamos doações dos grandes empresários, coisa que é feita com uma naturalidade fantástica. Sabemos que aquele que financia a campanha vai depois cobrar as suas exigências aos eleitos. O PSTU prega que somente uma revolução é capaz de mudar a situação nacional. Isso quer dizer que o PSTU é um partido ditatorial de esquerda, contrário à democracia? Isso é um preconceito que a burguesia e os grandes interesses econômicos divulgam a respeito do nosso partido. Ele é ultrademocrático, as decisões são tomadas pela base. Propomos, como saída, um governo socialista dos trabalhadores. Seria uma democracia direta onde os próprios trabalhadores, em assembleias populares, elegeriam seus representantes para cada categoria, nas fábricas, no campo e na cidade. Comporíamos um Conselho que governaria e diria quem seriam os secretários e poderia a qualquer momento destituílos. Governador e vice estariam subordinados às decisões desse Conselho. O modelo de Hugo Chávez, na Venezuela, seria um exemplo a ser seguido, com referendos a cada dois anos? Não. O modelo de Chávez é um modelo burguês. Ele se apoia nessas instituições que hoje o Lula se apoia, no parlamento, no exército. Deveria haver uma reformulação profunda no Estado. Hoje, um deputado ganha R$ 12 mil. Deveria ganhar o salário de um operário especializado, em torno de R$ 2,5 mil. Não deveria ter privilégios, porque esses salários diferenciados são uma fonte de corrupção, de cooptação para os projetos dos banqueiros, dos latifundiários e dos industriais. O PSTU é contra a propriedade privada? Nosso projeto estratégico é a estatização do sistema financeiro, a expropriação das multinacionais, das grandes empresas. Inclui também suspender o pagamento da dívida externa, não pagar a dívida com o governo federal – que aqui no RS consome 18% da receita líquida, ou seja, R$ 2 bilhões –, acabar com as isenções fiscais para

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as grandes empresas, como GM e Gerdau, que têm um orçamento maior que muitos países e não precisam. Quem precisa de isenção é o povo. E mais, um combate firme contra a sonegação fiscal, porque sabemos que para cada real que se paga hoje, outro é sonegado. Esse dinheiro, cerca de R$ 10 bilhões, quase um orçamento inteiro, seria investido em um plano de obras públicas, que construa hospitais, escolas, moradias populares e infraestrutura. Também faríamos uma reforma agrária: expropriar o latifúndio e gerar milhares de empregos. Se o senhor for eleito, teremos a volta da CRT na telefonia e da CEEE à frente de todo o sistema de energia? Com certeza. E a reativação da rede ferroviária, que foi desmontada em função dos interesses das montadoras de automóveis, da indústria petrolífera e dos donos das empresas de transporte coletivo. Esse tripé, esse monopólio tem que ser quebrado. Na educação, o senhor pretende transformar universidades privadas e filantrópicas em estaduais? Várias redes privadas de ensino são ditas filantrópicas, mas de filantrópicas não têm nada. Servem para auferir lucros para poucos. O ensino é obrigação do Estado e direito da população. Caminharíamos para um processo de estatização da rede privada de ensino. Isso não incharia o Estado, não faria

com que os impostos aumentassem? Os impostos para os grandes iriam aumentar enormemente. Proporcional aos ganhos. Seria feito um imposto progressivo. Trabalhadores seriam isentos e alguns micro e pequeno empresários pagariam menos.

o que em geral a grande imprensa faz é assustar as pessoas com essas coisas. Há um preconceito contra as ideias socialistas. Mas, se a gente não tomar medidas profundas, as coisas vão continuar. Na região metropolitana, existem 224 mil desempregados e uma carência de 200 mil moradias. Há 130 mil famílias Essas medidas não fariam empresas de sem-terras no Estado, enquanto 838 deixarem o Estado? latifúndios com mais Seria um processo de 2 mil hectares são político, porque gover- “Aquelas usados para especulanar significa contrariar empresas que ção ou para a lucratiinteresses. Historicavidade de meia dúzia ameaçarem sair mente, quem tem seus de famílias. interesses contrariados do Estado com é o povo, são os traba- chantagem, nós O PSTU é favor da lhadores. Eles perderam passaríamos a descriminalização os direitos, estão no dedas drogas. O senhor encampá-las. semprego, na fome e na também? miséria. Porque o outro Sem nenhuma Queremos tratar lado dessa moeda, que indenização” isso como um problesão os banqueiros e inma de saúde pública. dustriais, está acumuDeverá ser controlado lando em cima do trabalho desse povo pelo Estado, tanto na produção quanto que sofre. Chegou a hora de inverter- na distribuição (das drogas). Mas isso é mos essas prioridades. Temos que reti- um processo, não é uma coisa que com rar esse dinheiro de onde ele está: nos um ‘canetaço’ se resolve. cofres dos banqueiros e dos industriais. Aquelas empresas que ameaçarem sair Se não passar ao 2º turno, quem irá do Estado com chantagem, nós passa- apoiar e quem o senhor acha que vai ríamos a encampá-las. Sem nenhuma ganhar as eleições? indenização do governo. Acho que é muito cedo para qualquer uma das duas afirmações e até Há clima político para uma mudança para debater isso. Mas, com certeza, como essa hoje? não será qualquer um desses que estão É possível construir essas condições. aí que obteria o nosso apoio, por conta Queremos convencer as pessoas de um de diferenças profundas. O projeto da projeto socialista dos trabalhadores. E Yeda é de retirada de direitos a serviço

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do Banco Mundial. O Fogaça estava no governo Yeda, então não tem diferença entre eles. O Fogaça estava no governo federal junto com o Tarso. Não tem unidade possível com esses setores. E como chegar ao governo sem se aliar a outros partidos? Do jeito que a gente sempre fez, participando dos movimentos populares e das lutas estudantis. Isso não tem gerado resultados significativos nas urnas. Tem gerado. Tanto que eu te mostrei o crescimento da nossa companheira Vera Guasso. Temos muita paciência. Óbvio que gostaríamos de ter uma coligação com o PSOL e o PCB, para fortalecer o projeto socialista. Mas, infelizmente, não pudemos, porque o PSOL aceita as doações das grandes empresas, o que não concordamos. Não vamos restringir nosso programa só para eleger. Queremos ser eleitos, sim, mas com as nossas propostas. Vamos chegar lá. Com paciência e tranquilidade para disputar as consciências. Qual foi o conflito com o PCB? O PCB preferiu lançar sua candidatura. Eles têm esse direito. Como não foi possível com o PSOL, é melhor que saiam os três partidos divulgando suas próprias ideias. Assim todos poderão explicitar suas opiniões. Online | Ouça trechos da entrevista em www.ocaxiense.com.br.

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Personagens da literatura

FAMA & ANONIMATO Kirst e o gato Bioy, que virou personagem de sua estreia na ficção, com um livro infanto-juvenil

A surpresa de ter sido escolhido patrono da Feira do Livro de Caxias pegou o escritor Marcos Fernando Kirst com 5 livros na gaveta, que não conseguirá publicar a tempo

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por MARCELO MUGNOL marcelo.mugnol@ocaxiense.com.br arcos Fernando Kirst, segurando um copo de água tônica numa mão e folheando o jornal com a outra, estava no canto mais reservado do restaurante. Não haviam loiras ao seu lado, nem ninguém mais desejando ouvi-lo falar. Kirst estava sozinho e era ele quem aguardava a sua hora de falar. Passara boa parte da noite falando, enquanto assistia O Bebê de Rosemary, ao lado da esposa, a jornalista Silvana Toazza. Gosta do filme de Polanski, nem tanto pelo horror que suscita lá pela metade da trama, mas pela narrativa conduzida pelo cineasta. E esta parecia ser a melhor hora para uma entrevista. Não só porque Kirst recém completou 44 anos, mas porque acaba de aceitar o convite para ser o Patrono da 26ª Feira do Livro de Caxias do Sul. Kirst é um homem alto e esguio. Se bem que já foi mais esguio noutras fases da vida. Não porque se dedicava mais aos esportes, mas porque de um tempo para cá se descobriu um bom cozinheiro. Mais por necessidade do que por gosto pela culinária. Mas, en-

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fim, uma coisa leva a outra, e é inevitável que o “bem esguio” fique como uma lembrança; como se fosse um personagem de si mesmo. Kirst vestese bem, mas sua vaidade termina no limite em que ele possa aparecer mais do que o outro. O tom sóbrio das roupas entrega: Kirst é um homem silencioso. Fosse um ator de cinema, os fios grisalhos do cabelo e do cavanhaque lhe credenciariam como um charmoso homem de meia idade. Sendo ele jornalista e escritor, o grisalho é só uma marca do tempo. Quem vê Kirst atravessando a rua, nada apressado, carregando uma bolsa preta, sendo sempre cortês, mesmo com quem ele não conhece, não imagina-o alvejando ônibus com pedras e qualquer outra coisa que pudesse causar estardalhaço. Mas Kirst já foi um militante estudantil. Em 1984 os estudantes brigavam por Diretas Já e o atual patrono da Feira do Livro de Caxias dedicava boa parte do seu tempo, daqueles idos anos, fazendo muito barulho. Pena ter sido por nada. Ou quase nada. O voto direto veio, mas não foi bem por causa da pressão estudantil. Mas esse é um tema para outra

colher de arroz, uma de feijão, um pedacinho de torta de espinafre, um kibe pequeno e verdura refogada. Não por desfeita, porque Kirst almoça no mesmo restaurante há 10 anos. É que o deleite gastronômico fica sempre para o “Quem organizava a Feira do jantar. É quando Kirst pede licença ao Livro em Santa Maria era o Diretório mundo dos livros, alimenta o aparelho Acadêmico de Comunicação. Hoje de som com um CD do bom e velho mudou, é claro. Mas, rock & roll e cria ele naquela época, uns mesmo o prato para coiam de caminhão para “Pensei até que roar o fim de mais um Porto Alegre conseguir poderia ser dia. “Percebi há pouco os livros consignados (patrono) um tempo, não faz muito, nas editoras e depois que o meu hobby nunvendê-los a um preço dia, mas depois ca foi a literatura, e sim baixo para a comuni- de 15 livros, cozinhar. Não sou um dade. Ninguém ia pra muitos anos como gourmet, mas um ás no aula. Todo mundo aju- escritor. Mas o fogão”, brinca. “E sabe dava. A gente conseque cozinho bem?”, diz guia lona emprestada, universo quis o patrono. A Silvana ficava nas bancas aju- assim”, diz Kirst sabe. dando a vender. Era o O tal do rock & roll maior envolvimento”, que acompanha Kirst revela Kirst, enquanto corta mais um na cozinha não se limita ao som lá de pedaço da tortinha de legumes e leva- 1960 ou 1970, nem só ao que o Quarteto Fabuloso de Liverpool criou. O o, com classe, à boca. Kirst serviu-se de pouca comida patrono, quem diria, o homem que no prato. Como se o almoço fosse da carrega uma valise preta, veste-se com mais alta culinária pós-moderna. Uma sobriedade e quase sempre usa camisa, dissertação. E não foi só por causa dessa nobre causa que Kirst demorou seis anos, dois a mais do que o regular, para se formar no curso de Jornalismo, em Santa Maria.

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cita o som do Nirvana como se estivés- um gato no meio dessa trilha literásemos em 1990 e Kirst usasse camisas ria de Kirst. Bioy, o personagem de O de flanela xadrez, tênis surrado e ca- gato que não sabia de nada, como um belo desgrenhado. “Eu só ouço rock. Garfield às avessas, aprontou das suas Até gosto de MPB, respeito o Caetano não apenas para chamar a atenção do e o Gilberto Gil. Se tocar uma músi- dono, mas também para estrear na ca deles na rádio não ficção antes mesmo de fico bravo... mas eu Dois Passos.... “Eu semgosto de rock”, diz, pre pensei que ia estrear acomodando o garfo “Escrevi meu na literatura com um no prato e gesticulan- primeiro romance romance e não com um do como se desse um como se fosse livro infanto-juvenil”, basta em toda e qualsorri Kirst. “Como nunnum transe. quer possível réplica. ca pensei que viraria paAcordava de trono agora. Pensei até Mas é no silên- madrugada, que poderia ser um dia, cio que Kirst escre- não tinha hora mas quem sabe depois ve. Crônicas podem de 15 livros publicados, para almoçar”, vir na companhia de e de muitos anos como música. Rock, é claro. relata o autor escritor. Mas o universo Mas ficção, Kirst só quis assim...”, reconhece. escreve no silêncio. Como se reproduzisse a mesma atmosO gato podia não saber de fera de um ávido leitor, que mergulha nada, porque, até que provem o connas páginas de um livro sem dia e hora trário, Bioy não sabe ler nem escrever, para voltar da vertigem. “Escrevi o mas Kirst aproveitou-se da boa vida do meu primeiro romance como se fosse felino para brincar de gato e rato. Há num transe. Acordava de madrugada, mais de Kirst no livro do gato do que não tinha hora pra almoçar. Eu dizia: sonha vossa vã filosofia. A começar ‘Silvana, hoje me esquece, vou ficar es- pelas digressões. Quem bate um papo, crevendo’. E terminei assim o livro, seis mesmo que breve, com o patrono da meses depois”, conta Kirst. “Não sei Feira do Livro de Caxias percebe que fazer diferente, não sei se é a melhor entre um apontamento e outro cabe forma. Mas é assim que escrevo ficção”, sempre uma viagem pelo fabuloso resume, como se desejasse uma expli- mundo da memória. “Mas eu começo cação do repórter. Mas Kirst não estava a contar uma coisa e depois me esqueço num divã, era só uma entrevista. e passo para outra”, entrega Bioy, em O Dois Passos Antes da Esquina, seu gato que não sabia de nada, publicado primeiro romance, parece ter personi- pela editora caxiense Belas-Letras. ficado alguns traços de Kirst. O silên“Tu poderias dizer que vive o mocio não foi só um impulso para que as mento mais feliz da tua vida?”, pergunideias que fervilhavam na sua cabeça to, antes de provar do canelone. fossem melhor transpostas para o pa“Estou num bom momento”, responpel. É a partir do silêncio que Otto, o de, coçando pela primeira vez a cabepersonagem principal de Dois Pas- ça, como se soubesse que a partir dessa sos..., compreende sua nova vida. É sua resposta não poderia haver pudor ouvindo seus pensamentos e confron- com mais nada. “Meus pais tinham tando o passado, sempre em silêncio, uma fazenda em São Borja, quando eu que Otto pode enfim dizer que ama. era criança. Eu passava as minhas férias Pode enfim reconhecer que para dizer lá, aquelas boas férias de três meses. Eu que ama é preciso tempo. “Separados ia pra lá e levava a minha pilha de lipor uma curta distância, compartilha- vros. Então eu lembro de perguntar ao vam o silêncio da vida que lhes fora meu pai se ‘quando eu fosse grande’ – íntima na juventude, na qual se conhe- na verdade, meu pai contou, porque eu ceram”, escreve Kirst no livro. Melhor não lembrava – eu poderia morar na quando se aprende isso antes da morte fazenda e passar o dia lendo. Meu pai de quem se ama, diria Otto. respondeu: ‘claro que pode’. Viu?, eu O romance foi escrito em 2007, mas já tinha até o incentivo. Claro que ele lançado apenas em 2009 pela editora concordou brincando, mas contei essa AGE. Era para ter sido a sua estreia história pra dizer que de certa forma na ficção. Mas não foi. É que havia eu estou vivendo de ler livros, de es-

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crever. A literatura faz parte da minha vida”, diz o escritor, nascido em Ijuí, que mora em Caxias desde 1992. O garoto que aos quatro anos já ouvia da mãe histórias de gibi – e não pregava o olho até a narrativa terminar –, que virou leitor sozinho, aos 10 anos, quando iniciou a compra da coleção dos livros de Monteiro Lobato com o dinheiro que guardava da semanada – que na verdade era para comprar lanche – virou homem, mas só com o convite para ser patrono conseguiu enfim apresentar-se como escritor. Kirst acabou virando escritor mais pelo reconhecimento dos outros do que pela sua iniciativa. Preferia ser sempre visto como um leitor voraz, ou como um addicted, um viciado, como ele mesmo se enxerga ainda hoje. Mas depois de um livro aqui, outro acolá, de uma palestra numa escola, de um gracejo literário nesse e naquele jornal, o escritor Kirst acabou sendo convidado para patrono da Feira do Livro de Caxias.

siderável como escritor. Mas as coisas acontecem assim na minha vida.” Kirst não parece ter caído na arapuca que geralmente um pouco de glamour traz consigo. Não tem pudor de revelar que conseguiu ler (e entender) Crime e Castigo, de Dostoiévski, não faz muito tempo, e que Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, é seu atual livro de cabeceira. Na 26ª Feira do Livro de Caxias vai lançar uma obra apenas. Com pouco texto e muitas fotos. Um Olhar de Pai para Filho, sobre a família Geremia. Como o título de patrono veio sem avisar, não deu tempo para Kirst tirar da gaveta um dos seus cinco livros já escritos e prepará-los para o lançamento. O romance Clara e o que não estava lá, o obra poética Em Silêncios, os dois livros de crônicas temáticas e inéditas, Vida Folheada e A Fome Crônica, e o infanto-juvenil A Loira Sem Cabeça e Sete Outros Mistérios ficarão para outras feiras, quem sabe até de outras querências.

Kirst vai ficar mais conhecido “Fui pego de surpresa. Caí do cava- na praça que o pônei de madeira e seu lo quando me ligaram convidando pra fiel escudeiro fotógrafo. Nem que seja ser patrono. Primeiro falou comigo o apenas durante a Feira do Livro. Não Antoninho (Antonio Feldmann, secre- importa quanto dure a fama, o anonitário da Cultura), depois a Luiza (Luiza mato de Kirst vai ser sempre um bálsaMotta, coordenadora do Programa Per- mo para o fim de cada dia. O escritor e manente de Estímulo à Leitura) e por suas panelas, ao som de um rock desses último o Gustavo (Gustavo Guertler), de acordar vizinhos metidos a blasé, que é o meu editor na Belas-Letras”, porque a casa acolhe os amores da sua diz, eufórico, mas sem perder a sobrie- vida. Além da esposa e de Bioy – que é dade nem sequer levantar o tom de o nome do seu gato real –, estão os seus voz. livros. Os ainda não publicados e os “E por que te escolheram como pa- outros 12 projetos rascunhados. Mas o trono?” patrono tem ainda um “Só posso te dizer o outro sonho que de que me disseram. Se é “Lembro de certa forma lhe transverdade ou não, só eles perguntar se porta à infância e ao pra te confirmar”, sorri ‘quando eu fosse seu primeiro romance, Kirst, servindo-se de Dois Passos Antes da mais um gole de água grande’ poderia Esquina. Kirst quer tônica. “Primeiro, me passar o dia ser pai. O autor que disseram que foi uma lendo. Meu pai não imaginava ser esta aprovação unânime, respondeu: ‘claro a hora de ser patrono ninguém do grupo de sabe que chegou a hora livreiros, nem o secre- que pode’”, de ser pai. “Quem sabe tário, ninguém levan- conta o escritor venha um herdeiro aí tou algo contra o meu nos próximos anos...”, nome. Segundo, por despista. Não importa reconhecimento a alguém que tem a hora, o universo há de saber o moum grande envolvimento com o livro mento, diria Kirst. O certo é que a colee o fomento à leitura. O que é verdade. ção de Monteiro Lobato estará à espera Mas nunca imaginei que esse momen- do herdeiro querido. E, nos livros de to seria agora. Imaginei que seria de- Lobato, o amor pela literatura e o zelo pois, quando eu tivesse uma obra con- por cada palavra dita – ou não dita.

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Longe de casa

Durante a folga forçada, operários – boa parte ainda impressionada com o frio – aproveitaram as tardes para tomar sol na frente de casa

SHOPPING

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por JOSÉ EDUARDO COUTELLE jeduardo.coutelle@ocaxiense.com.br

or duas semanas o som de brita, areia e cimento rolando dentro das betoneiras deu uma trégua aos moradores de São Pelegrino. Mas a administração do San Pelegrino Shopping Mall realizou, ainda que parcialmente, as medidas exigidas pelo Ministério do Trabalho, e conseguiu, na última quarta-feira (18), desembargar a maior parte da obra, parada desde 5 de agosto. Nesses dias de inatividade, os operários da construção aguardaram em casa o momento em que suas mãos calejadas retornariam ao batente. Na véspera, serventes, auxiliares e pedreiros recostados a uma parede na estreita calçada da Rua Irma Valiera, próximo à Igreja de São Pelegrino, compunham o retrato da espera. O lar temporário desses homens, que vieram de diversos lugares do Brasil em busca de trabalho, fica do outro lado da calçada, em uma casa cor de rosa. Carlito Moreira Gomes, 31 anos, veio de Minas Novas (MG). Usa uma touca preta para se proteger do frio incomum à sua cidade. Ele e outros 39 companheiros povoam a residência, dividida em três apartamentos, cada um com entrada individual. No andar superior, que fica no nível da rua, Carlito sobe a escada até a sala com assoalho de tabuão e uma televisão antiga e solitária encostada à divisória. Um corredor interliga os cinco quartos onde 21 pessoas dormem. Beliches ocupam todas as paredes, sem deixar espaço para roupeiros

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e armários. Próximo ao teto, cordas que atravessam os cômodos são usadas como varais, com dezenas de mudas de roupa penduradas. Do outro lado do apartamento ficam cozinha, banheiro e uma área de serviço. No período de embargo da construção do shopping, a atividade de Carlito se resumia a pegar sol, ouvir música e assistir televisão. Também não era necessário sair para almoçar, pois todas as refeições eram entregues em casa, em marmitas de alumínio. A pausa involuntária no trabalho só fez aumentar a saudade da esposa e dos filhos que ficaram na cidade mineira, a 1.731 quilômetros de Caxias. Entretanto, a solidão é combatida pela companhia dos nove colegas que vieram com ele. Carlito já trabalhou em usina de cana-de-açúcar e restaurante, e agora está na construção civil. Essa é uma história comum para parte desses operários, que, sem formação específica, buscam trabalho longe de casa. Colega de trabalho, quarto e cidade de origem, Otaviano Martins Pereira, 32 anos, é outro que se emociona ao lembrar da esposa e dos três filhos, que não vê há meses. O único que manteve o ritmo de trabalho no período da paralisação foi Felipe Alves de Aguiar Leme, 25 anos. Ele exerce uma atividade muito importante para a boa convivência entre os moradores. É o zelador encarregado de fazer a limpeza das áreas comuns, salas, banheiros e cozinha. Felipe, que costumava passar o dia

Obra do San Pelegrino, retomada na semana que passou, reúne sotaques de vários cantos do país sozinho, ganhou neste período a com- uma mesa de baralho. Além das parpanhia dos colegas. Natural de Mogi tidas de pife, o futebol ajuda a distraídas Cruzes (SP), Felipe viajou cerca de los. O mais novo da casa, Lucas Lima 16 horas de ônibus para chegar a Ca- Pereira, 18 anos, foi o responsável por xias para trabalhar, sem fazer ideia da comprar a bola que faz a diversão dos função que o esperava. trabalhadoras durante “Foi por acaso que me a folga. “Lá pelas 15h tornei zelador. Cada Em uma casa (durante o embargo pedreiro escolheu um da obra) vamos jogar dividida em três ajudante e eu fui sonuma quadra aqui perbrando. Me pergunta- apartamentos to. Ficamos até de noiram se eu não queria a acomodam-se 40 te”, conta Lucas, torcefunção e aceitei”, conta homens vindos dor do Palmeiras. o jovem, que deixou o de Pernambuco, filho de um ano e sete Por uma outra Ceará, Minas meses em São Paulo. entrada lateral se chega Em um quarto do Gerais e ao pavimento inferior, apartamento com en- São Paulo onde estão vivendo sete trada lateral, o pão de pessoas. Umas delas é o queijo dos mineiros dá ajudante de pedreiro espaço ao sarapatel dos cearenses. Ali Flávio Rodrigues Martins, 33 anos, que moram sete operários vindos da cidade veio de Custódia, Pernambuco. Sua de Granja. E, em vez de touca, Erasmo primeira experiência na construção Xavier de Brito, que descansa deitado civil é justamente o shopping San Pena parte inferior do beliche, usa o cha- legrino, onde começou a trabalhar no péu típico da sua região. Ao seu lado, dia 7 de abril. Longe de casa há pouco o pedreiro Antônio Carneiro de Oli- mais de quatro meses, Flávio ameniza veira, com pouco mais de dois meses a distância da família com o celular. de experiência na profissão, é o menos “De vez em quando bate uma saudaagasalhado da turma, impressionada de danada. Deixei mãe, irmãos e uma com o inverno de Caxias. “Aqui é um garota me esperando.” Como a maioria pouquinho frio, mas já me acostumei dos peões da obra, sua única informacom a temperatura quando trabalhei ção de Caxias era sobre o frio. “Às vezes em Mato Grosso”, justifica. fica tudo dormente. Mas pelo menos a Luiz Carlos Conceição, 21 anos, casa é quente”, afirma. acrescenta a segunda característica da Pernambucanos, cearenses, mineicidade que chamou atenção dos tra- ros e paulistas – a casa simples, de núbalhadores de fora: a beleza feminina. mero 89, acolhe a todos, tornando a “Aqui tem muita gaúcha bonita”, diz, curta e discreta Rua Irma Valiera uma alvoroçando os colegas reunidos em das mais cosmopolitas de Caxias.

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Documento cinematográfico

Sessão de pré-estreia ocorreu na quinta (19) com presença dos entrevistados, autoridades do município, equipe e até a mãe do diretor Airton Soares

CENAS DE UMA CIDADE

CONTRADITÓRIA Caxias do Sul – Tradição e Inovação de um Povo une fragmentos de uma terra multicultural e faz com que os caxienses possam rir de si mesmos

A

s fibras do carpete da entrada do GNC Cinemas afundam com os passos lentos de quem equilibra um grande pacote de pipocas. Abraçado na embalagem, o empresário Raul Randon oferece pipoca àqueles que o cumprimentam antes de entrarem na sala 2 para exibição da pré-estreia do filme Caxias do Sul – Tradição e Inovação de um Povo, que está em cartaz até a próxima quinta-feira (26) em quatro horários. O longa-metragem, cujas filmagens iniciaram em 21 de fevereiro deste ano, levou dois anos para ficar pronto, considerando a pré-produção. Com custo total de R$ 800 mil e auxílio de R$ 100 mil da prefeitura, aprovado pela Câmara de Vereadores, causou polêmica por não ter passado pelos trâmites comuns para obtenção de verba para cultura – como o Financiarte, por exemplo. O filme deveria ter estreado em junho, como um presente nas comemorações do aniversário da cidade, uma das justificativas para a verba pública. Mas só estreou agora, dois meses depois, com a explicação de que deveria ser lançado em um cinema comercial e ficar em cartaz. O presente foi entregue atrasado, mas com impacto da surpresa. Um presente com a cara do presenteado: o povo de Caxias.

ção, os depoimentos são intercalados de forma complementar e se apresentam divididos em tópicos não explícitos sobre a cocagna, imigração, religiosidade, presença da mulher, trabalho, 2ª Guerra Mundial, Festa da Uva de 1950, internacionalização das empresas e a Caxias de hoje. Depoimentos de pesquisadores como Loraine Slomp Giron, Tânia Tonet, Juventino Dal Bó, José Clemente Pozenato, Cleodes Ribeiro e Kenia Pozenato contextualizam os fenômenos sociais da imigração. Declarações de moradores de Caxias como Ida Zanetti mostram como hábitos dos imigrantes persistem. “Uma parte do tempo eu passo rezando. É só eu e Deus aqui dentro”, diz a entrevistada Ida ao falar sobre a religiosidade. Caxias do Sul – Tradição e Inovação de um Povo mostra que, apesar da cultura rígida do trabalho, o caxiense também sabe rir de si mesmo ao se identificar com situações que aparecem no filme.Foram pelo menos cinco momentos de gargalhadas da plateia na pré-estreia. Em um deles, imitando o sotaque colono, o cartunista Iotti pergunta: “De onde tu é? De que família tu vem?”. Todo caxiense já passou por essa situação. “Dizem que o homem é trabalhador. Trabalhador nada. Só sabe beber e jogar carta. Só ir em Forqueta e ver”, afirma a historiadora Loraine Giron, outra responsável por provocar risadas do público.

“O grande negócio desse filme é que não me meti na história. As pessoas é que contam, narram. Cada um tem uma opinião diferente, e elas aparecem lado a lado. Por isso o filme é contraditório, pois junta todos os pensamentos em uma história”, explica o diretor Airton Soares, que antes da sessão comentava com os convidados que estava com “frio na barriga e coração acelerado”. O documentário não tem narra-

Fotografias históricas da cidade aparecem em harmonia com músicas de Mario Michelon. Imagens aéreas tornam explícita a expansão geográfica do município. Há muito cinza, mas há muito verde. A natureza inclusive abre o filme, com um belo dia de sol. Câmera em movimento mostra as ruas do Centro com as fachadas poluídas por placas de estabelecimentos comerciais, a diversidade em convívio

por PAULA SPERB paula.sperb@ocaxiense.com.br

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na Praça Dante, o trânsito em um dia teria que influenciar. O filme precisa de chuva. Um dos melhores momen- dessa isenção”, justifica Feldmann. O tos é uma sensível metáfora em que a secretário salientou que o filme apreOrquestra da UCS aparece em perfor- senta, inclusive, críticos da gestão mumance com imagens intercaladas de nicipal, como Loraine Slomp Giron e indústrias metalúrgicas, cada uma no Juventino Dal Bó. “Vamos manter a seu ritmo e tempo, ambas convivendo linha de não privilegiar ninguém. Foi a no mesmo espaço urbano. “O filme é única (iniciativa do gênero) que aparemuito bem feito, bem amarrado. As ceu. Tenho convicção de que não teria imagens são bonitas, a o mesmo resultado se fotografia impecável”, tivesse interferência da analisa a professora “Cada um tem prefeitura. Conforme o Kenia Pozenato, que secretário, após sair de uma opinião também estuda e gosta cartaz do GNC, Caxias de cinema. “Ele con- diferente e elas do Sul – Inovação e seguiu manter o ritmo aparecem lado a Tradição de um Povo do começo ao fim. Dá lado. Por isso o será levado para os uma sequência a uma “recantos mais longínfilme é história contada por quos” da cidade, bairjustaposição. Quem as- contraditório”, ros, centros comunitásistir o filme terá uma diz o diretor rios, salões paroquiais, imagem consistente do Airton Soares fábricas, e terá sessões que é Caxias”, opina o comentadas. Certaescritor José Clemente mente, pelo caráter doPozenato, marido de Kenia. cumental, o filme deve seguir sua voO depoimento da professora Cleo- cação educativa após a semana em que des Ribeiro é o fio condutor de todo ficar em cartaz. A população de Caxias o documentário. Gravado nas réplicas deve assistir-lo. Motivos não faltam. O dos Pavilhões da Festa da Uva, conta principal deles é adquirir mais conhedo mito da cocagna ao momento atu- cimento sobre a própria história. Na al de busca de uma identidade, que carona, a produção serve como uma é, apesar de toda influência italiana, sessão de análise e autorreflexão. Basta acima de tudo brasileira. “A história é prestar atenção nos comentários dos contada com toda contradição possí- jornalistas Nivaldo Pereira e Renato vel”, afirma o prefeito José Ivo Sartori Henrichs. (PMDB), ressaltando que a prefeitura Quem não for ao cinema, pode ligar não influenciou em nada o conteúdo a televisão. O filme também será exibida película, apesar da verba pública do na TVE, UCS TV e TV Com. Mesdestinada. A mesma opinião é com- mo sem tapete vermelho na pré-estreia partilhada pelo secretário de Cultura, e sem um pôster que identificasse seu Antonio Feldmann. “Não é um vídeo espaço entre as películas hollywoodiapanfletário nem peça de marketing da nas do GNC, Caxias do Sul – Tradição prefeitura. A prefeitura colocou R$ 100 e Inovação de um Povo tem o requinte mil e não induziu, não exigiu nada. de uma grande produção – condizenOutro governo iria querer se meter na te com o tamanho da cidade. Deverá linha do filme. Não queríamos nos me- ser exibido em todo Brasil, no dia 11 ter. Se fosse por licitação, seria condu- de novembro, no canal por assinatura zido do nosso jeito. Obrigatoriamente History Channel. 21 a 27 de agosto de 2010

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Cena cotidiana

A MÁSCARA TRISTE DO TEATRO CAXIENSE

Atores e produtores culturais reivindicam espaço, protestam por investimentos e, embora a casa cheia seja situação frequente nos espetáculos, reclamam da falta de público

A

por CÍNTIA HECHER cintia.hecher@ocaxiense.com.br e MARCELO ARAMIS marcelo.aramis@ocaxiense.com.br brem-se as cortinas. Iluminado por um único foco de luz, o palco está vazio. O ator quebra o suspense. Desmotivado, entra em cena com dificuldade, anda até o centro do palco, cruza os braços e inicia um texto mais do que decorado. Começa narrando a vida difícil de quem vive de teatro, chora as mágoas da falta de incentivo, brada contra a falta de espaço. Quando cita os vilões,

emposta a voz para falar do problema central, a falta de público. Acendem-se as luzes no fundo do palco. Um coral de vozes roucas canta versos manjados, mantras de uma plateia que não paga para ver: Caxias não tem cultura. Na terra da uva, cultura é só Festa da Uva. Com a trilha dos descontentes, o ator conta uma piada velha sobre a Capital Brasileira da Cultura. É o fim do primeiro e único ato. É também a primeira e última sessão. Os produtores da peça e as casas de teatro preferem comédias vazias e plateias cheias de espectadores vazios. Fecham-se as cortinas. Ninguém aplaude. A cena caxiense conta com cinco casas de teatro. No total, a cidade oferece 1.833 poltronas e, quando há espetáculos, a maioria delas é ocupada. No entanto, a falta de público, pouco sentida na prática, é a principal reclamação de quem promove, sedia e vive de teatro. O ator Raulino Prezzi, que comanda o grupo Atores Reunidos, sucesso de bilheteria nas suas apresentações, se diz desanimado. Quando re-

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clama da falta de público, aponta para um problema tido como cultural em Caxias. “O caxiense não tem perfil de ir ao teatro.” A lendária falta de autoestima do caxiense também não passa despercebida. “Não é dinheiro o problema, e sim acreditar no trabalho das pessoas daqui.” Raulino diz que o teatro perde audiência para a preguiça e para a TV, como o cinema perde para a locadora. “Sala de cinema é magia que se perdeu. As pessoas preferem mil vezes deitar na cama e assistir ao filme.” Pelo menos, em relação ao teatro, o cinema ainda tem a vantagem das longas

R$ 232,44. Espetáculos com entrada franca pagam R$ 542,36 de locação. As taxas são ajustados pelo Valor de Referência Municipal (VRM). Sábado e domingo são as datas mais procuradas, mas os dias de semana têm se tornado úteis para o teatro. “Segunda era dia de semi-descanso, mas agora o agendamento tem avançado neste dia.” A maior parte dos eventos do único espaço público de teatro é de espetáculos musicais. De acordo com a diretora, isso é reflexo da produção cultural caxiense, mais desenvolvida na música do que no teatro. A última edição do

sistematicamente”, diz. Há os frequentadores não habituais, que assistem principalmente comédias e peças de ampla divulgação na mídia e elenco famoso. “Este é o público eventual”, explica. “Há essa comédia, puro entretenimento, e há a de qualidade, de arte. Elas atraem público diferente. As pessoas que assistem à primeira não querem pensar, não querem decodificar signo, só querem relaxar e dar risada.”

temporadas, que, conforme Raulino, fariam bem ao teatro. “São seis, sete meses de ensaio para ficar quatro dias em cartaz. É prazeroso, mas…”, hesita para encerrar, “eu sei que essa frase é meio piegas, meio pobre, mas é matar um leão a cada dia”. Segundo ele, realizar uma grande temporada é ter coragem para alugar um espaço e torcer para que tudo dê certo. “Caxias tem dinheiro para sair e jantar fora. Não é errado fazer isso, é curtir a vida, comer bem, tomar um bom vinho. Mas está na hora de saber que comida alimenta o corpo, mas teatro alimenta a alma.”

Financiarte confirma a teoria: foram 60 projetos inscritos na área da música contra apenas três de teatro. Ciente da preocupação dos teatreiros caxienses, Magali não descarta a necessidade da formação de público, uma tarefa educativa.“Você só gosta do que conhece, ou acaba gostando de tanto saber sobre, mesmo não vendo. Você não sente falta daquilo que não conhece.” As ações efetivas da prefeitura são projetos de formação e a Temporada Caxiense de Teatro, que reserva a segunda semana de cada mês para peças locais. “São micro-temporadas. Normalmente, de quatro dias. Mais que isso é difícil. A gente pede para o grupo se ele tem condições de fazer mais dias. Muitos não podem porque não são profissionais, então não podem largar o emprego durante a semana para organizar e apresentar a peça.” A intenção é criar a cultura de teatro e, então, ter longas temporadas. “Não temos o hábito de temporadas, o público não foi preparado para se organizar.” Magali diferencia públicos e espetáculos. “Tem um público que a gente vê

Guri de Uruguaiana, personagem gauchesco de humor escrachado. Um mês depois que o guri piadista lotou seis sessões no São Carlos, um trio erudito lotou três no Teatro Municipal, que sediou o musical Cabarecht, inspirado na obra do dramaturgo alemão Bertold Brecht. Do público plural de Caxias, a coordenadora Márcia Malicheski destaca uma característica singular da plateia do Guri: o exagero. “Sempre me perguntam quando volta. Tem lotação esgotada e fica gente falando ‘moça, eu sento no chão!’.” A maioria dos espetáculos sediados no São Carlos é promovida pela própria casa. Segundo Márcia, a agenda é democrática. “Pode ser uma megaprodução, como O Mágico de Oz, até pequenas produções locais.” Márcia diz que é difícil promover uma longa temporada no São Carlos. E o drama da coordenadora traz uma série de reclamações. “Tem a questão do público. Tem que ter esse respaldo”, destaca em primeiro lugar. Outro problema, das peças de fora, é a falta de disponibilidade de datas ou a incom-

Magali Helena de Quadros, diretora da Casa da Cultura, mostra um cenário otimista, de plateias cada vez mais famintas, e abre um largo sorriso quando fala da lotação da agenda do Teatro Municipal. “Isso é maravilhoso! Ter a agenda explodindo quer dizer que há consumo, há frequência.” A taxa cobrada pelo uso do espaço é de 14% sobre a bilheteria. Para eventos beneficentes ou com plateia pagante inferior a 40 pessoas, a taxa é de

A comédia fácil é o gênero de maior sucesso do Teatro São Carlos. Um exemplo são as apresentações do

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


patibilidade com a agenda do teatro. A falta de patrocínio também está na lista. “Quem são as empresas que patrocinam espetáculos? Consegue-se um restaurante que ofereça determinado número de refeições ao elenco, ou hotel que dá desconto em diária. Nenhum hotel banca diária completa”, reclama a coordenadora, que não divulga as taxas de locação do teatro. O alto custo frustrou a tentativa de Márcia de trazer A Bela e A Fera, clássico infantil com direção de Billy Bond, “uma megaprodução, com 1,2 mil envolvidos”. A proposta exigia patrocínio para 23 apartamentos e 48 refeições diárias, além do custo com a produção. Márcia desistiu do espetáculo, mas, se tivesse insistido, o público teria que pagar a conta. “Qual é o pai e a criança que viriam por R$ 150?”, duvida. Na agenda da casa, permanecem projetos menos audaciosos. Um dos espetáculos previstos é Homens de Perto 2. Na primeira versão da comédia, o público teve várias oportunidades de “rolar de rir”, como promete o site da peça: desde que Márcia coordena o São Carlos, há um ano e meio, foram três temporadas com três sessões cada. Ainda para 2010, a casa negocia

tende que o trabalho de montagem, já tem plano traçado: “Formar públiensaio e divulgação é o mesmo para co com mais vontade de ir ao teatro, um ou quatro dias de espetáculo. Ela trazendo projetos e produtos de qualidefende que, para criar uma cultura dade”, adianta Sinara Susin, coordenade longas temporadas, dora do projeto e futura é preciso ter no mínidiretora do Teatro do mo duas sessões. “Tem “A gente tem que Moinho, ainda em fase que criar o costume, entender que 10 de captação de recurtanto para os grupos sos. Um dos projetos, ou 20 pessoas é de teatro quanto para a intitulado Coisa Nospúblico. Não é população.” sa, pretende beneficiar por falta de inartistas locais. Grupos A justificativa centivo que não que já estrearam enconpara a falta de longas trarão lá espaço para se deva investir temporadas no UCS reapresentar suas peças, Teatro, da Universida- mais”, diz Liliane com entrada gratuita. de de Caxias do Sul, Vieiro Costa Inicialmente projetado é simples, de acordo para setembro de 2011, com a coordenadora o teatro provavelmente de Difusão Cultural, Suzana Borghet- será inaugurado somente em março de ti Furlan: o espaço dá prioridade aos 2012, com o peso da responsabilidade eventos acadêmicos. Além disso, mes- de dar espaço para longas temporadas mo com a disponibilidade de muitos de peças locais. auditórios na Cidade Universitária, a maioria das aulas inaugurais dos 58 Em 2007, com a sua peça Decursos da UCS é realizada no teatro. O funto e os Quase Mortos, a atriz Zica requisito para utilizar o local é a garan- Stockmans realizou uma temporada tia de uma plateia de no mínimo 300 de dois meses consecutivos, três noipessoas. Mesmo assim, alguns eventos tes por semana, na antiga sede da escom público menor são marcados lá, cola Tem Gente Teatrando. O público conforme a importância de quem será médio foi de 20 a 30 pessoas por ses-

Além da inserção das artes cênicas na escola, o chefe do departamento de Arte Dramática do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), João Pedro Gil, aposta na descentralização como estratégia de formação de plateia. Para Gil, a circulação dos espetáculos é mais eficaz do que as longas temporadas. “O artista precisa ir aonde o público está. Na escola, na fábrica, na universidade.” Para ele, a popularização de iniciativas como o teatro de rua é capaz de criar o hábito de ir ao teatro. “Arte e cultura não são necessidades básicas. E o intuito da arte é, mesmo não sendo necessária, tornar-se forte o bastante para virar necessidade.”

um stand up com o ator Eri Johnson e a vinda da peça Monólogos da Vagina, com texto de Miguel Falabella.

a atração. “Isso pelo requinte que o teatro oferece ao evento”, explica Suzana. O espaço que sobra é preenchido com atrações selecionadas pelo Conselho da Difusão Cultural, que avalia quais atrações valem a pena. “Não vou colocar lá o que não traz nada para a cultura”, diz Suzana. O espetáculo mais popular da casa é o porto-alegrense Tangos & Tragédias. “Eu chamo de clássico. As pessoas não cansam de assistir, de todas as idades. Se tiver duas, três, quatro sessões, sempre vai lotar.” O UCS Teatro não divulga o valor do aluguel nem contabiliza o público dos eventos dos quais não é promotor. O único número disponível é o público da Quinta Sinfônica, espetáculo mensal gratuito da Orquestra da UCS: cerca de 500 pessoas por sessão. As próximas atrações previstas são shows de humor, como Os Melhores do Mundo, e o lançamento de CD do grupo Rock de Galpão. Em novembro e dezembro é a vez de 15 espetáculos de final de ano de escolas infantis e de dança.

pesquisa a história da arte em Caxias, concorda com as históricas reclamações. Ela não condena um certo comodismo que detecta na classe artística caxiense, mas alerta: “A gente tem que entender que 10 ou 20 pessoas é público. Isso não pode ser balizador. Não é por falta de incentivo que não se deva investir mais”. Segundo Liliane, nossa cena cultural tem um elenco de personagens retraídos.“Temos uma produção cultural tímida, investimentos tímidos e plateias tímidas.” Para ela, o eixo da mudança está nos fundamentos da arte. “O teatro tem o compromisso de fazer refletir.” Se a reflexão é a base do teatro e driblar a timidez é uma de suas especialidades, então o roteiro está pronto e não há motivo para fazar drama. Basta a vontade entrar em cena. A partir de 10 de setembro o teatro caxiense terá o seu maior evento. No 12° Caxias em Cena, 32 espetáculos – 9 locais – serão apresentados em 17 dias. Não é a longa temporada tão desejada, mas pode funcionar como esboço de para um cenário mais otimista.

Fotos: André T. Susin/O Caxiense

A atriz e presidente da Associação Caxiense de Teatro (Acat), Justina Andrighetti, a Tina, percorre os bairros da cidade com a peça Eva Ave Marias. No entanto, não acredita que a descentralização seja suficiente para formar plateia. “Acham que o público que vê hoje no bairro vai na Casa da Cultura amanhã, mas não é assim que funciona”, argumenta, ao reclamar da falta de espaço. Liliane Vieiro Costa, professora de Artes que atualmente

A programação do teatro do Serviço Social do Comércio (Sesc) conta basicamente com as atrações do projeto Palco Giratório, que consiste na circulação de espetáculos nacionais pelas unidades do Sesc. Conforme a agente de Cultura e Lazer do Sesc de Caxias do Sul, Viviana Malfatti, a casa também recebe espetáculos locais e cobra uma taxa de 20% sobre a bilheteria. A preocupação de Viviana também recai sobre a plateia. “O povo de Caxias adora ficar em casa. Ainda mais no inverno, em que a frequência cai bastante. A média é de 30 a 80 pessoas por espetáculo”. Acostumada a ver as mesmas pessoas de sempre nas sessões do Sesc, Viviana notou a diferença na plateia de Play, com os globais Sérgio Marone e Maria Maya. Neste mês, o Sesc sediou as quatro apresentações do espetáculo caxiense de clown Cinta-Liga/Desliga, todas as noites com casa cheia. Viviana en-

Um teatro que ainda nem existe

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são. “De vez em quando lotava. Não adianta querer ter casa lotada, 400 pessoas, toda semana. Não há tradição nenhuma neste aspecto.” Realista, Zica encarou este ano um projeto de sonhadora. Em março abriu a Casa de Teatro, com propósito de manter peças locais em cartaz. Atualmente, enquanto oferece programação farta e variada, para apresentar o espaço ao público, as longas temporadas permanecem nos planos. Zica investe a longo prazo, mas tem uma meta audaciosa: tornar o teatro um hábito. “Só tem um jeito: insistência”, simplifica a atriz e coordenadora da Casa de Teatro. Para realizar uma longa temporada, ela diz que tudo deve ser muito bem pensado. E deixa escapar o receio.“O artista tem que ter o mínimo de garantia, tanto de retorno de público quanto financeiro. É muito trabalhoso fazer teatro.” Zica acredita em um futuro otimista, com investimento para divulgação e garantia financeira. “Tem tudo para ter público sempre. A produção cultural é grande, o povo tem poder aquisitivo para consumir e para investir em cultura”.

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Fotos: Arquivo Pessoal de Lori Vergani/O Caxiense

Socorro ao Haiti

A imagem do sacrifício, à esquerda, e a da solidariedade, à direita. Graças à foto onde aparece carregando crianças, Lori conseguiu levantar fundos para construir uma pinguela

A Fé que

EDIFICA A

por VALQUÍRIA VITA valquiria.vita@ocaxiense.com.br

terra ainda treme em Porto Príncipe. A Capital do país mais pobre do continente americano, o Haiti, não é e nem voltará a ser a mesma depois do terremoto da tarde de 12 de janeiro deste ano. O frei capuchinho Lori Antônio Vergani, 52 anos, estava em cima de uma escada, esmerilhando uma janela, na comunidade de Béraud, a 200 quilômetros a sudoeste da capital do país, quando sentiu o chão se mover. Mas, como vive em uma zona rural, só ficou sabendo do tamanho da catástrofe um dia depois. Tanto que na manhã do dia seguinte iniciou o sermão da missa com uma comparação: “Todo mundo viu que a terra tremeu. Estamos vivendo sobre um monstro, que acordou e mexeu os braços. Porque o peso estava demais”. Foi apenas na tarde do dia seguinte que Lori escutou no rádio as primeiras notícias sobre a dimensão do terremoto: magnitude 7 na escala Richter (índice que provoca danos graves em zonas vastas), centenas de milhares de mortos e feridos e cidades devastadas. Passados sete meses do desastre, cerca de 300 mil mortes foram contabilizadas no Haiti. Mesmo com toda a ajuda internacional, as cidades não estão nem perto de estar reconstruídas, e os haitianos passam ainda mais fome do que passavam antes do terremoto. Além disso, precisam conviver com pequenos tremores e a aterradora possibilidade de que o monstro queira esticar os braços novamente. Nascido na 4ª Légua, frei Lori sabia que quando ingressasse na vida religiosa entraria num caminho sem volta, de ajuda aos outros. “Não esco-

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lhi para ter vida boa, mas para estar a serviço da gente. Onde quer que ela esteja”, diz ele. Há três anos esse caminho levou-o à ilha do Haiti, onde vive como missionário. Lori recebeu O Caxiense em uma sala do Convento dos Capuchinhos em Caxias, onde, além de passar as férias, comemora 25 anos de sacerdócio. Fazia dois anos que o missionário não descansava. Dois anos que não pisava no Brasil. Magro, com uma comprida barba cinza, de calça verde musgo, blusão da mesma cor e calçando um tênis esportivo, frei Lori parece ágil. Os óculos de aros finos cobrem os olhos azuis, que rapidamente encontram num notebook as imagens do Haiti para tentar explicar as precárias condições em que vivem os haitianos. De tão acostumado a falar o créole (língua bem parecida com o francês, idioma oficial do país, e muito falada no Haiti), Lori às vezes precisa perguntar se determinada palavra existe em português. Lori chegou ao Haiti por intermédio dos capuchinhos espanhóis presentes na República Dominicana, que divide a ilha com a ex-colônia francesa. Em 2004, eles solicitaram que fossem enviados sacerdotes para ajudar também o vizinho – hoje os capuchinhos estão em 91 países, segundo o site da ordem. Frei Lori, que já dominava o francês – pois morou por 10 anos na França –, foi um dos poucos interessados, e, três anos depois, partiu para o Haiti. Com ele foram outros quatro freis. Hoje, eles estão em sete (três capuchinhos brasileiros, dois haitianos e dois franceses). Os religiosos instalaram-se na comunidade de Béraud, uma zona rural em que os habitantes vivem do comércio de subsistência e da pequena agricultura, onde as casas são feitas de madeira e folha de coqueiro e a energia

Num país miserável, um frei capuchinho caxiense reúne esforços para recuperar regiões que ficaram ainda mais pobres e abandonadas depois do terremoto de janeiro elétrica nem sempre está disponível. Vivem lá entre 12 mil e 14 mil pessoas. “Eles nos receberam muito bem. A nossa chegada foi motivo de esperança, porque uma pessoa de fora sempre traz desenvolvimento. E ninguém fazia esse atendimento às famílias antes. Quem se interessa pelos pobres?”, questiona o frei. As primeiras tarefas foram alugar uma casa e iniciar os trabalhos pastorais, como visitas aos doentes e às famílias da região. Aos poucos, os freis começaram a distribuir comida, quando a conseguiam. O que se come em Béraud, segundo Lori, é o básico: arroz e feijão. Os próprios moradores plantam, mas a terra é pouca, e a produção também. “E tem as frutas nativas, manga, banana, fruta-pão (uma pinha cujo interior se assemelha à batata-doce), cana-de-açúcar, abacate.” O calor do Haiti é sufocante. O clima tropical faz com que as temperaturas mais baixas fiquem em 23°C durante o inverno. “De noite só se dorme com lençol. Eu suo da cabeça aos pés, da manhã à noite”, conta. Há uma grande parte do povo haitiano que é católica, “que é crente e tem fé”, segundo Lori. Os freis começaram a realizar batizados, catequese e funerais. “Esses dias, antes de vir, batizei 45 crianças.” Também iniciaram as missas. Mas ainda não há uma igreja. Pelo menos não uma do jeito que conhecemos. Há uma estrutura, firmada com troncos de coqueiros e coberta com suas folhas trançadas. Frágeis, às vezes elas não resistem ao vento. “As capelas têm ‘ventilador’”, brinca Lori, referindo-se à ausência de paredes. O auxílio para que as crianças frequentem a escola é uma das prioridades. Os freis, com o dinheiro que arrecadam em diversos países (incluindo

o Brasil), disponibilizam 80% do valor da anuidade do colégio. Aos pais, cabe o pagamento do restante e a compra de material escolar e uniforme. Em Béraud há duas escolas, que somam 220 crianças, dependentes da paróquia. “As escolas já existiam, mas não tinham banco, mesa, quadro. Construímos tudo com nossos próprios braços. A gente aprende”, diz o frei. Durante meses Lori precisou ajudar as crianças da paróquia a atravessar um rio que corta o caminho das casas até uma das escolas. Todos os dias ia e voltava pelo rio com uma criança no colo e uma nas costas. A água bate nos joelhos de uma pessoa adulta, e nem todos os estudantes tinham a ajuda dos pais para a travessia. Lori enviou a conhecidos de outros países uma fotografia sua carregando os alunos no rio, e a imagem foi o argumento principal para motivar doações que somaram U$ 14 mil e possibilitaram a construção de uma pinguela. Hoje é possível passar pela ponte de bicicleta e até de moto. Ninguém mais precisa se molhar para chegar à escola. A estratégia de mandar fotos para mostrar ao resto do mundo o que acontece no Haiti tem dado certo. Um grupo, chamado “Os amigos do Frei Lori”, surgiu com o intuito de angariar fundos para projetos dos capuchinhos no país. Para enviar as imagens, Lori usa a internet da casa de irmãs religiosas haitianas, que “funciona com muita dificuldade”. As famílias das crianças também são ajudadas. Cerca de 60 moradias foram melhoradas com material de construção adquirido pelos freis. Se antes as paredes eram de folhas de coqueiros, agora há residências cimentadas, fortificadas com ferro e zinco. “Nem as es-

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


trebarias aqui são como eram aquelas casas. E ali vive gente. Vivem famílias.” Lori costuma agradecer pelas três graças que há no Haiti: não faz frio, não tem cobra venenosa e nem animal feroz. “Imagina uma criança numa casa assim se tivesse essas três coisas?” Os freis capuchinhos não auxiliam os haitianos com dinheiro, mas com material de construção para que suas moradias fiquem mais resistentes. Também não dão todo o material: disponibilizam ferro, cimento e zinco, e as famílias entram com areia, madeira, pedra e mão de obra. “Eu não podia fazer milagre. Não se dá tudo. Se fizesse isso, em vez de ter ajudado 60 casas, teria ajudado 15”, conta Lori. Com o fatídico dia 12 de janeiro, o que ocorreu em Béraud foi um aumento massivo de habitantes. Como a comunidade não fica próxima a Porto Príncipe, o terremoto não causou danos materiais à região. E quem morava na Capital ou próximo a ela migrou para as cidades que não foram destruídas. “Tivemos o aumento de bocas, de crianças para a escola e de casas para construir.” A ajuda internacional chegou também até Béraud. Um mês depois, os moradores receberam um contêiner de Porto Rico com alimentos enlatados, arroz, feijão, roupas e muita água. “E com ajuda financeira de Brasil e França compramos comida para 2,5 mil pessoas da paróquia. Mas foram duas, três refeições para cada.” Menos de uma semana depois do terremoto, o número de pessoas na ci-

dade chegou a aumentar 50%, de acordo com o frei. “Destas, 25% voltaram para Porto Príncipe. Mesmo assim, nossa paróquia está maior desde o terremoto. Porque em Porto Príncipe não tem muito emprego, tem biscates. E as pessoas vão atrás disso. Quem sobreviveu ao terremoto saiu de lá e depois de um tempo voltou, mas o lugar onde eles trabalhavam se foi, as casas se foram. Ficou uma situação terrível”, relata o frei. “Ouvi dizer que muitas pessoas, com pernas presas nos escombros, tiveram que ser deixadas lá. Como iam retirar toneladas de cimento? Muitos presenciaram pessoas morrendo por causa disso.” Frei Lori passou pela Capital algum tempo depois – algumas estradas afundaram, outras foram cobertas por terra, não era simples se locomover. Os capuchinhos tem uma caminhonete cedida pelos freis espanhóis e uma moto, que Lori teve que aprender a dirigir – o que não foi tão fácil em caminhos de morros e pedras. “Em Porto Príncipe já havia construções anárquicas antes do terremoto. Diziam que Porto Príncipe era uma grande favela. Imagine agora com todos os escombros.” Ele assegura que, até hoje, apenas 10% das ruínas das construções que desabaram foram removidos. O que foi retirado acabou depositado no meio da rua. “Tem ruas em que nem se passa mais. As ruas estão cheias de barracas, feitas de lençóis, onde as pessoas estão morando”, conta. A olho nu, segundo Lori, percebe-se que quase nada foi feito para ajudar a Capital destruída. Além das pessoas vivendo em tendas, os hospitais e as

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Frei Lori fica no Brasil até o início de dezembro, quando retorna ao Haiti, onde ficará “até que Deus dê a graça e que a saúde seja boa”. “Ele é doação total. Tem uma bondade infinita, uma simplicidade que o torna grandioso. Veio (para o Brasil) tratar da saúde, porque fica até a sensação de que ele vai se esgotar”, afirma frei Jaime Bettega, colega capuchinho.

A presença da ordem religiosa em um país como o Haiti, segundo frei Jaime, é uma questão de solidariedade internacional com um povo necessitado de tudo. “Para nós, estar lá é estar no lugar certo. O primeiro trabalho é o de dar comida, depois espiritualidade. Não se pode falar de Deus se a pessoa está com fome. Falar de Deus naquele momento é dar comida”, afirma. Com a chegada de frei Lori foram organizados pelos capuchinhos de Caxias dois almoços em ajuda ao Haiti. Um no dia 22 de agosto, em São João da 4ª légua, e outro no dia 29, no salão da Igreja Imaculada Conceição (Capuchinhos). Toda a comida servida nos almoços foi doada, segundo frei Jaime, e a arrecadação dos eventos será totalmente destinada ao país. Os ingressos para o primeiro almoço estão esgotados, mas é possível fazer reservas para o segundo, pelo telefone 3226-2322. Há uma conta bancária (Banrisul, agência 0874, conta 39.193465.0-5, em nome de Lori Antônio Vergani) na qual pode ser doado qualquer valor, que vai direto ao frei e será destinado ao trabalho humanitário. “Eu valorizo muito a confiança que o pessoal deposita na gente.” Com as doações está sendo possível ajudar algumas regiões do Haiti a se tornarem locais um pouco melhores para se viver. O trabalho diário, conforme o frei, não é fácil, mas é recompensador. “Não tem muitos meios, os pedidos são demasiados, às vezes ferve o sangue. Mas eu gosto muito. Se a gente não tivesse fé nem fosse teimoso, não aguentaria.”

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Fotos: Arquivo Pessoal de Lori Vergani/O Caxiense

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escolas foram organizados da mesma forma: “Vi os doentes quase ao ar livre. O comércio lá já se confundia com porcos e cabritos, no chão da rua, e com o terremoto ficou pior, veio ainda mais fome”. A pior sensação é não ter certeza do que aconteceu com todo o dinheiro enviado pela comunidade internacional. Se chegou ou não, não se sabe. Nem nunca se saberá. “Hoje a situação está praticamente idêntica. Essa ajuda veio ou não veio? O que falam na rádio do Haiti é que o dinheiro foi depositado no banco responsável, que exige um percentual para liberar essa quantia. E o banco quer enviar inspetores para ver se essa quantia vai ser usada, mas quem pagaria os inspetores seria o próprio dinheiro das doações.” Dói também perceber a falta de interesse pelo país. A mídia empenhou-se em noticiar os estragos do terremoto durante alguns dias, e agora silenciou. Como se o terremoto devastador fosse apenas lembrança de uma fatalidade que ocorreu no início do ano. “O complexo de mídia se volta para o momento, depois já não interessa mais. Interessa o que é o mais atual”, opina o frei.

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1. Lori ajuda a equipar uma sala de aula em Béraud, onde a congregação subsidia os estudos de 220 crianças; 2. O frei com uma família haitiana. Com recursos doados, ele conseguiu reformar 60 casas; 3. A precariedade da feira revela um cenário ainda pior, com mais gente passando fome; 4. Uma das “capelas” dos capuchinhos em Béraud, onde o calor é implacável até no inverno: “Eu suo da cabeça aos pés, da manhã à noite”, conta Lori.

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Guia de Cultura

por Cíntia Hecher | editado por Felipe Boff

Universal Pictures, Divulgação/O Caxiense

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Um supervilão é tocado pela inocência na animação Meu Malvado Favorito, em cartaz no Iguatemi

CINEMA l Caxias: Tradição e Inovação de um Povo | Documentário. 15h, 17h, 19h20 e 21h | Iguatemi O filme se propõe a contar a história da nossa cidade. Confira se os R$ 100 mil dados pela prefeitura à produção foram bem aproveitados. Dirigido por Airton Soares. Livre. l O Bem Amado | Comédia. 14h20, 16h50, 19h30 e 21h50 | Iguatemi Lembram da novela? Do Odorico Paraguaçu? Das irmãs Cajazeiras? Pois bem, está tudo aqui, na história do prefeito de Sucupira que quer inaugurar o cemitério na sua cidade. Trabalho difícil, já que não há defunto. Dirigido por Guel Arraes. Com Marco Nanini e José Wilker. 12 anos, 107 min.. l O Signo da Cidade | Sábado, 15h | Ordovás Sessão de Cinema AD (para deficientes visuais) desta semana mostra a vida dos ouvintes do programa de rádio de uma astróloga. A entrada é

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franca. De e com Bruna Lombardi. 95 min. l O Último Mestre do Ar – 3D | Aventura. 13h30, 15h40, 17h50 e 20 (dub.) e 22h10 (leg.) | Iguatemi Guerreiros lutam pelo equilíbrio do mundo. Baseado no desenho animado Avatar. Lógico que não poderia manter esse título. Dirigido por M. Night Shyamalan. Com Dev Patel e Noah Ringer. 12 anos, 94 min.. l Hiroshima Mon Amour | Drama. Terça (24), 19h | Sesc Desventuras e lembranças de uma atriz francesa durante dois dias em Paris com um affair japonês. Dirigido por Alain Resnais. Com Emmanuelle Riva e Eiji Okada. 10 anos, 90 min., leg.. AINDA EM CARTAZ – A Origem. Ação. 18h20 e 21h10. Iguatemi | Eclipse. Aventura. 20h. Domingo, 18h. UCS | O Aprendiz de Feiticeiro. Aventura. 14h, 16h30, 19h e 21h20. Iguatemi | O Pequeno Nicolau. Comédia. Quinta (19) a domingo. 20h. Ordovás | Os Mercenários. Ação. 14h10, 16h40, 19h10 e 21h30. Iguatemi | Pequenas

Histórias. Comédia. Quinta (26), 15h. Matinê às 3. Ordovás | Shrek Para Sempre. Animação. 16h30. Domingo, 14h e 16h. UCS. INGRESSOS - Iguatemi: Segunda e quarta-feira (exceto feriados): R$ 12 (inteira), R$ 10 (Movie Club Preferencial) e R$ 6 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sênior com mais de 60 anos). Terça-feira: R$ 6,50 (promocional). Sexta-feira, sábado, domingo e feriados: R$ 14 (inteira), R$ 12 (Movie Club Preferencial) e R$ 7 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). Sala 3D: R$ 22 (inteira), R$ 11 (estudantes, crianças menores de 12 anos e sênior com mais de 60 anos) e R$ 19 (Movie Club Preferencial). Horários das sessões de sábado a quinta – mudanças na programação ocorrem sexta. RSC-453, 2.780, Distrito Industrial. 3209-5910 | UCS: R$ 10 e R$ 5 (para estudantes em geral, sênior, professores e funcionários da UCS). Horários das sessões de sábado a quinta – mudanças na programação ocorrem sexta. Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Galeria Universitária. 3218-2255 | Ordovás: R$ 5, meia entrada R$ 2. Sessão

de Cinema AD tem entrada franca. Luiz Antunes, 312, Panazzolo. 39011316 | Sesc: Entrada franca. Moreira César, 2.462. 3221-5233.

TEATRO l 14ª Mostra de Teatro Estudantil | Até 3 de setembro | A Unidade de Teatro da Secretaria Municipal de Cultura recebe inscrições de grupos de escolas tanto municipais e estaduais quanto particulares interessados em se apresentar na Mostra, de 25 a 29 de outubro. Professores devem entrar em contato pelo e-mail ldalzott@caxias.rs.gov.br. Unidade de Teatro Luiz Antunes, 312 | 3901. 1316 e 39011317 l 2ª Mostra Mulher em Cena | Sábado e domingo | Peças, oficina e debates para discutir o gênero feminino no teatro. Sábado: Pensando o Corpo Feminino na Cena. Oficina com Maria Falkembach. 9h. Casa da Cultura | O Teatro, a Mulher e a Sociedade. De-

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bate com Mônica Montanari e Natália Pietra. 15h30. Anfiteatro da Câmara de Vereadores | Tantas Outras Quantas. Espetáculo com Márcia Baltazar. 20h. Casa da Cultura | Domingo: Maria Farrar. Espetáculo com Grupo Julietas e os Metabonecos. 14h30. Casa da Cultura | A Mulher e o Teatro em Movimento. Debate com Maria Falkembach. 15h30. Casa da Cultura | Encerramento. 18h. Casa da Cultura R$ 20 para cada espetáculo ou R$ 25 para os 3 espetáculos (antecipado). Debates e oficina gratuitos | 3215-4307 l Náufragos | Sexta (27), 20h | Dois homens que passam a vida entrando e saindo de hospitais psiquiátricos resolvem parar a terapia, denominar-se Don Quixote e Sancho Pança e enfrentar seus medos. Só pode assistir quem tem mais de 16 anos. Teatro do Sesc R$ 15 (público em geral), R$ 7,50 (estudante e sênior) e R$ 5 (comerciário) | Moreira César, 2.462 | 3221-5233 l Noite Cultural do Hospital Pompéia | Sexta (27), 20h | Evento tradicional do hospital, em sua 19ª edição, terá apresentações de música com Geovanna Toigo Poleti, grupo de ginástica e de dança Festa Mix, ambos do Pompéia, e peça O Mágico de Oz, encenada pelo grupo Estado de Choque. Encerra com espetáculo de dança de Rodrigo Scherer. Teatro Municipal Entrada franca | Dr. Montaury, 1.333 | 3221-3697 l Sexo, Humor e Gargalhadas | Quarta (25) e quinta (26), 20h | Pablo Capalonga, Paulo Adriane e Claudio Benevenga interpretam a comédia com seis personagens relacionados ao universo do sexo. Benevenga é autor e diretor das peças Como emagrecer fazendo sexo e Como agarrar um marido antes dos 40. Teatro Municipal R$ 25 (na hora), R$ 20 (antecipado) e R$ 10 (estudante e sênior) | Dr. Montaury, 1.333 | 3221-3697

EXPOSIÇÕES l Amor à Primeira Vista | De segunda a sexta, das 8h às 22h | Aproximadamente 50 quadros mostram rótulos autoadesivos criados pela Degráfica, de Flores da Cunha. Hall Inferior – Campus 8 Entrada franca | Rodovia RS-122, Km 69, s/nº | l Blues Jazz Dance | De segunda a sexta, das 9h às 12 e das 13h30 às 19h. Domingos, das 9h às 15h | Lindonês Silveira ilustra cenas musicais e de dança com preto, branco e vermelho em pintura acrílica sobre tela. Galeria Arte Quadros Entrada franca | Feijó Júnior, 975, Via Decoratta | 3028-7896 l Trajetórias de uma percepção | De 24 de agosto a 26 de setembro. De segunda a sábado, das 10h às 19h30, e domingos, das 16h às 19h |

Natália Bianchi apresenta obras em preto e branco, reflexo de sua deficiência visual da artista plástica. Natália é portadora de acromatopsia, que a impede de ver as cores. “Nos meus trabalhos eu expresso como sinto aquilo que vejo”, diz ela. Catna Café Entrada franca | Júlio de Castilhos, 2.854 (esquina La Salle) | 3212-7348 e 3021-7348 AINDA EM EXPOSIÇÃO – A Beleza de Ser. De segunda a sexta, das 9h às 21h. Sábados, domingos e feriados, das 15h às 21h. Saguão do Ordovás. 3901-1316 | Abstrato Contemporâneo. De terça a sábado, das 17h às 21h. Galeria em Transição. 8404-1731 | Arte em Rede. De segunda a sexta, das 8h30 às 18h, e sábados, das 10h às 16h. Galeria Municipal – Casa da Cultura. 3221-3697 | Mostra da Oficina de Decoração com Garrafas Pet. De segunda a sexta, das 8h30 às 18h30. Sábados, das 8h30 às 12h30. Espaço Cultural da Farmácia do IPAM. 40093150 | Pequenas Crises. De segunda a sexta, das 9h às 21h. Casa de Teatro – Tem Gente Teatrando. 3221-3130 | Tempo de Costurar. Hall do Campus 8 da UCS. 3289-9000.

literatura l Conversa com o Autor | Quarta (25), das 19h às 21h | Nesta edição de estreia, quem bate papo é a professora Ana Mery Sehbe de Carli, que falará sobre seu livro O corpo no cinema – variações do feminino. Boteco 13 Entrada franca | Augusto Pestana, s/nº | 9118-6533 l Oficina da Palavra | Terçasfeiras, das 19h às 21h. Até 17 de dezembro | A professora Ana Cardoso, com doutorado em Literatura Brasileira pela UFRGS, ministra oficina com objetivo de desenvolver a leitura e pensamento no texto escrito. Serão quatro módulos – crônica, conto, teatro e poesia –, que podem ser feitos individualmente, e encontros mensais com escritores e pesquisadores convidados. Tem Gente Teatrando R$ 120 por módulo | Olavo Bilac, 300 (esq. Regente Feijó) | 3221-3130

dança l Aulas Abertas | De segunda (23) a sexta (27), das 8h30 às 11h05 e das 13h50 às 17h55 | A Escola Preparatória de Dança da Cia. Municipal abre suas portas para a comunidade poder assistir as aulas da semana. Cia. de Dança Entrada franca | Luiz Antunes, 312 | 3901-1316 l Especial Tango | Sábado, 21h30 | O ritmo argentino é a estrela desta edição de Noites Dançantes, com os bailarinos Giovani Monteiro e Monia Viganó. Meia hora antes, pocket aula com Giovani.

Clube Ballroom R$ 50 (casal) | Coronel Flores, 810, sala 107 | 3223-2159

música l Bionika | Rock/eletrônico. Sábado, 23h | Com promoção do coletivo de cinema sujeito_coletivo, esta será a edição especial Anatomia da Boneca, espetáculo multimídia a ser apresentado em 1º de setembro. A festa, com locação em boate de strip-tease, terá no som DJ Jorgeeeeenho, DJs Bionikas e show com a banda Barracuda Project, que mistura rock com elementos eletrônicos. Ao final do show, performance de Andressa Cantergiani. Cassino Royale R$ 12 (até meia-noite) e R$ 15 (depois) | Coronel Flores, 777 | 3221-7734 l Ding-Dong Experience | Quarta (25), 21h | Série Grandes Nomes canta o Maluco Beleza Raul Seixas e aproveita a oportunidade para prestar homenagens ao baterista Mário Passtor, falecido recentemente. Os músicos Moises Oliveira (vocal e guitarra), Jorje Macedônia (baixo) e Pablo Lucena (guitarra) têm a companhia dos irmãos Richard e Jayson Mross, filhos de Passtor, que se revezarão na bateria. Zarabatana Café Entrada franca | Luiz Antunes, 312 | 3228-9046 TAMBÉM TOCANDO - Sábado: AC/DC Cover RS. Rock. 23h. Vagão. 3223-0007 | Blues de Bolso. Blues. 22h30. Mississippi. 3028-6149 | Beto e Thomas. MPB. 21h30. Zarabatana Café. 3228-9046 | Dan Ferretti. MPB. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Dinamite Joe. Pop rock. 23h. Portal Bowling. 3220-5758 | Izequiel Carraro. Pop. 23h. La Boom Snooker. 3221-6364 | Libertá. Nativista. 22h30. Libertá Danceteria. 3222-2002 | Los Rodrigues. Pop rock. Pepsi Club. 3419-0900 | Magnitude. Pagode. 23h. Europa. 3536-2917 | Paulo Bíglia e Jorje Macedônia. Pop rock. 22h. Badulê American Pub. 3419-5269 | Projeto Antenna. Música eletrônica. 23h. Havana. 3215-6619 | Só Batidão. Sertanejo universitário. 23h. Move. 3214-1805 | Sexy com Bacardi. Eletrônico. 23h. Nox Versus. 3027-1351 | The Best of Pride 2010. Eletrônico. 23h. Studio 54. 9104-3160 | Ton Rock and Roll e Robledo Rock. Rock. Santo Graal. 3221-1873 | Velho Hippie. Rock. Aristos. 3221-2679 | Terça (24): Pietro Ferretti e Bico Fino. Samba rock. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Quarta (25): Rodrigo Campagnolo e Graziano. Blues 22h30. Mississippi. 3028-6149 | Vini e Isack. MPB. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Quinta (26): Fabricio Beck e DJ Mono. Pop. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Flavio Ozelame Trio. Blues. Blues 22h30. Mississippi. 30286149 | Sexta (27): Electric Blues Explosion. Blues/rock. 22h30. Mississippi. 3028-6149 | Gustavo Reis. Pop rock. 22h. Bier Haus. 3221-6769 | Por Natureza. Reggae. 21h30. Zarabatana Café. 3228-9046 | Vera Loca. Pop rock. 23h. Vagão. 3223-0007.

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Cinema | Meu Malvado Favorito

Vilão, pero no mucho por CÍNTIA HECHER

A bondade, assim como a beleza, está nos olhos de quem vê. Isso soa confuso. Ser bom não abre prerrogativa para um talvez. Ou se é ou não, e pronto. Tendo a discordar depois de assistir Meu Malvado Favorito, onde o astro do filme é o vilão. Um que trata muito bem seus funcionários e é amado por eles. Um que é educado ao comprar seu café da manhã, mesmo depois de congelar a fila da lanchonete. Um ultrapassado, que não emplaca mais nenhum plano. Esse é Gru. Como superar os outros vilões, cheios de fôlego, tecnologia e anos a menos nas costas, é o desafio dele. O maior rival é o ofensivo Vetor, nerd de carteirinha com uma leve obsessão por animais marinhos. Para vencer essa batalha de egos e de maldades, a ideia de Gru não poderia ser mais espalhafatosa. Com seu sotaque não-sei-de-onde, meio europeu, meio latino, indecifrável, ele anuncia que o seu próximo ato entrará para a História: a peça afanada será nada mais nada menos do que a Lua. Para isso, Gru precisa da ajuda dos seus fiéis escudeiros: o Dr. Nefario, cientista velhote, e um exército de criaturinhas amarelas extremamente cativantes, os minions. Infelizmente, é muito barulho por nada: a quantidade é garantida, mas não se pode dizer o mesmo da eficiência. Ao observar o inimigo, Gru descobre seu calcanhar de Aquiles: biscoitos. Seguindo uma lógica que só funciona na cabeça dele, como as pequenas órfãs que vendem a guloseima entram facilmente no esconderijo do Vetor, o passo seguinte é, obviamente, adotá-las. Eu avisei que a lógica era só dele. E, assim, as meninas acabam entrando em sua vida e a girando em 360°. Sim, eu sei que isso é um círculo completo, que acaba no lugar de partida. Mas imagine esse movimento realizado milhões de vezes. Agora ficou compreensível, espero. Pois bem, Gru se vê às voltas com espetáculos de dança, brincadeiras, corre-corre e historinhas para dormir. Com certeza é mais um daqueles desenhos com lições vistas e revistas várias vezes, mas tem algo nele que é encantador. É a relação que acaba surgindo, entre pai e filhas, que derrete o coração de qualquer malvadeza. É de se esperar que algo do gênero aconteça, o filme não é surpreendente. O que se vê é um vilão sucumbindo não à bondade, não à inocência, mas ao amor, e sem perder sua essência vil. Até porque inocência é a última coisa que se pensa da menor das órfãs quando ela ganha o tão desejado unicórnio de pelúcia, por mais meiga que seja sua carinha. Enfim, todos temos o lado malvado e o lado bondoso. É só saber quando usar. É uma linha tênue, com certeza. Quem for assistir agora já não poderá mais ver a versão em 3D, mas não perde muito. Esse efeito só faz realmente diferença em poucos momentos, como em uma corrida de montanha-russa que fez a senhora sentada ao meu lado dar suspiros. E confesso, vá lá, que esse filme me roubou uma ou duas lágrimas. Meu lado bom fez com que eu me emocionasse no cinema. Meu lado mau me fez contar pra vocês. l Meu Malvado Favorito | Animação. 13h30 e 15h50 | Iguatemi Supervilão duela com rival ao mesmo tempo em que cuida de três pequenas órfãs. Dirigido por Pierre Coffin e Chris Renaud. Livre, 95 min., dub.. Online | Assista aos trailers dos filmes que estão em cartaz em www.ocaxiense.com.br. 21 a 27 de agosto de 2010

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Artes

Niké

por Jônatas Luis Maria Liquidifica esta fragrância em meu peito Que faz a minha alma estar perfumada. Então ter-se-á essências, talvez de ausência, De nutrir nossas faces chorosas de espelhos machucados.

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A beleza! A beleza toda infinda! A Vitória! Há dias a vida é só uma estratégia, de retalhos. Protège de l’enfance mon cœur attristé. Adormece tuas febres no meu peito coroado.

Lindonês Silveira

| O pianista e a musa | No acrílico sobre tela, os lamentos do blues transformam acordes em sonho azul. A figura da musa do artista se materializa e flutua sobre o piano, o mar da imaginação do músico. A obra integra a série Blues Jazz Dance (Veja no Guia de Cultura), uma coleção que homenageia a música e a dança, musas inspiradoras de Lindonês.

Diz de alegrias, que és tu, o maior dos brinquedos Cravado em silêncio num coração filho único Que só a ti tem como diversão, infinita e profunda. Spielzeug aus der Kindheit, meiner ewigen Liebe. Tua lembrança é um gole de Cabernet Vermelho frutado do amanhecer para Nice. Um pós-moderno sem medidas, sem cor. Um preto e branco vulgar nas telas do efêmero. In te, tutta l’arte è gioiosa dolore. Tão frágil frente a beijos morrendo! Sentir. Sem ti, Sou cinza, na ausência do abraço perdido, perdido Em noite de encontros em meio à chuva frágil fria. Pedaço de caco da noite que sobra soturna nas nuvens Y tenerte es crear un trueno entre los dedos. Teu corpo é veludo! Espinho. Crisântemo, Acorde de cordas elétricas, ressoando ressacas, Teu corpo é veludo nestes invernos memoriais tão frios! My childwood history, my fairytale. My lullaby. Participe | Envie para artes@ocaxiense.com.br o seu conto ou crônica (no máximo 4 mil caracteres), poesia (máximo 50 linhas) ou obra de artes plásticas (arquivo em JPG ou TIF, em alta resolução). Os melhores trabalhos serão publicados aqui.

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21 a 27 de agosto de 2010

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.


Guia de Esportes guiadeesportes@ocaxiense.com.br

Alex Kuse, Divulgação/O Caxiense

Daiane Nardino, Divulgação/O Caxiense

por José Eduardo Coutelle

Meninas da UCS entram em quadra duas vezes neste sábado; no Martcenter, também no sábado, campeonato abre as pistas de boliche aos amadores

FUTEBOL l Juventude x Brasil-Pe | Domingo, 16h | O Ju precisa vencer o Brasil de Pelotas para afastar a possibilidade de rebaixamento à Série D. De técnico novo, o alviverde soma até aqui três empates e uma derrota na Série C, e tem o pior ataque da competição. Beto Almeida, que substituiu Osmar Loss, treinou durante a semana com a mesma formação que seu antecessor vinha utilizando. A única novidade foi Fred na zaga, no lugar de Bruno Salvador. O Ju deve jogar com Jonatas; Luiz Felipe, Rafael Pereira, Fred (Bruno Salvador) e Calisto; Júlio César, Tiago Silva, Marcos Paraná (Christian) e Cristiano; Júlio Madureira e Fausto. Beto deve fazer um último treino antes do jogo na manhã deste sábado, no Jaconi. Estádio Alfredo Jaconi Ingressos a R$ 10 (papada; idosos e estudantes pagam R$ 5) e R$ 20 (visitantes; idosos e estudantes pagam R$ 10) | Rua Hércules Galló, 1.547, Centro | 3027.8700 l Campeonato Gaúcho Juvenil: Caxias x Juventude | Sábado, 15h | Depois de decidir o Estadual de Juniores (com vitória alviverde), a dupla CA-JU volta a se enfrentar nas categorias de base. O Caxias já iniciou com o pé direito, goleando por 4 a 1 o Gramadense fora de casa. Neste sábado, o clássico CA-JU é no Centenário. As demais equipes do grupo são Veranópolis, Garibaldi, Guaporé, Cruzeiro e Gramadense. A primeira fase é disputada em turno único, e os quatro primeiros avançam na competição. Estádio Francisco Stedile (Centenário) Entrada gratuita | Thomas Beltrão de Queiroz, 898, Marechal Floriano l Caxias x Juventus | Quarta, 15h | A equipe grená estreia em casa na Copa Enio Costamilan, nesta quarta, contra o Juventus. O Caxias, que usa o time B no torneio, está na chave 2, com Cerâmica, Lajeadense, Atlético Carazinho, Novo Hamburgo e Juventus. Os

jogos serão em turno e returno, e se classificam para o mata-mata os cinco melhores dos três grupos, mais a sexta melhor campanha. Estádio Francisco Stedile (Centenário) Entrada gratuita | Thomas Beltrão de Queiroz, 898, Marechal Floriano l Futebol Sete Master | Sábado, a partir das 10h45 | Esta é a última rodada da fase de grupos e somente a Pisani não tem chance de se classificar para a final. O vencedor de Marcopolo x Agrale, empatados com três pontos, estará com a vaga assegurada para a decisão. No outro grupo, a Randon precisa apenas de um empate contra a Master para disputar o título da competição. Sedes recreativas da Agrale e da Randon Entrada gratuita | Agrale: BR-116, km 145, 15.104; Randon: Estrada dos Imigrantes, s/n°, 3ª Légua l Campeonato Municipal | Sábado, 13h15, 15h15 | As primeiras decisões da Série Ouro foram adiadas para este sábado devido à falta de condições dos gramados. Nas semifinais, o XV de Novembro enfrenta a União De Zorzi e o Az de Ouro pega o Guarani. Estádio Municipal Entrada gratuita | Avenida Circular Pedro Mocelin, s/nº, Cinquentenário l Campeonato Integração 2010 | Sábado, 13h30 e 15h30, domingo, 13h45 e 15h45 | Das quatro categorias disputadas (Sênior, Veterano, Suplente e Titular), o clube Palmeiras lidera três. Neste final de semana, folga e torce para que seus adversários diretos não somem pontos. Entre os Sêniors, as equipes Aliança e Estrela devem definir quem fica como primeiro colocado do grupo. Quatro dos cinco times participantes do campeonato jogam neste fim de semana, em quatro categorias diferentes, no mesmo local e no mesmo horário: Estrela x Aliança e Santa Lúcia x Madrid. Campo do time mandante Entrada gratuita

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FUTSAL l 8ª Copa Ipam de Futsal Feminino | Domingo, 9h, 10h e 11h | O destaque da rodada fica com o confronto entre os líderes da chave D. A ACBF, que ainda não perdeu na segunda fase, enfrenta o BGF, que tem um ponto e um jogo mais. No outro grupo, o União Flores da Cunha, que folga neste domingo, torce para que a UCS não vença o Colégio Santa Catarina B. Ginásio Poliesportivo da UCS Entrada gratuita | Francisco Getúlio Vargas, s/n°, Petrópolis l Futsal Feminino do Sesi | Segunda, 18h45 | As meninas da Voges e da Marcopolo venceram todos os cinco jogos das fases iniciais e irão disputar o título. Centro Esportivo do Sesi Entrada gratuita | Cyro de Lavra Pinto, s/nº, Nossa Senhora de Fátima

HANDEBOL l Campeonato Estadual de Handebol Infantil | Sábado e domingo, a partir das 9h | O Recreio da Juventude sedia, durante todo este sábado e na manhã de domingo, a 1ª etapa do campeonato da categoria infantil masculino. As equipes Margarida Lopes, 15 de Novembro, Colégio Anchieta, Colégio Kennedy e Recreio da Juventude jogam entre si. Sede Campestre Recreio da Juventude Entrada gratuita | Atílio Andreazza, 3.525, Sagrada Família

TÊNIS l 2ª Etapa do Ranking Interno de Tênis | Sábado e domingo, a partir das 9h | Cinco quadras serão utilizadas para a disputa das semifinais em todas as categorias. As finais ocorrerão no dia 2 de setembro. Sede Recreativa Clube Juvenil

Entrada gratuita | Marquês do Herval, 197

BASQUETE l Campeonato Estadual Feminino Sub-15 | Sábado, 10h e 18h | As meninas da UCS entram em quadra para dois jogos em Galópolis. Às 10h, jogam contra o GAO/CR Esportes, e às 18h, enfrentam o Colégio Sinodal. Ginásio da Sociedade Recreativa Amigos de Galópolis Entrada gratuita | Edwiges Galló, 160, Galópolis

PINGUE-PONGUE l Jogos Abertos de Pingue-Pongue | Sábado, 13h | Os melhores das categorias Elite, Ascenso Masculino e Livre Feminina se encontram para o desafio das semifinais. Enxutão Entrada gratuita | Luiz Covolan, 1.560, Santa Catarina

BOLICHE l Campeonato de Boliche da 2ª Semana da Juventude | Sábado, 15h | Uma boa oportunidade para reunir e se divertir com os seus amigos é participar do Campeonato de Boliche. Qualquer pessoa pode jogar, desde as mais habilidosas até quem nunca praticou o esporte. O único requisito é que cada grupo, composto por cinco pessoas, tenha pelo menos uma mulher. As inscrições custam R$ 30, e podem ser feitas até as 14h30 de sábado no local. A organização espera pelo menos 20 grupos. A final ocorrerá no sábado seguinte. Quem for apenas acompanhar os amigos poderá assistir aos shows de diversas bandas de pop rock no palco do Portal. E de graça. Portal Bowling Inscrições: R$ 30 por equipe. Entrada gratuita | RS-453, Km 2, 4.140, Shopping Martcenter | 3220-5758 21 a 27 de agosto de 2010

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Rodrigo Fatturi, Divulgação/O Caxiense

Maratona grená

Técnico embarcou com o time da base para a Copinha, voltou às 5h e, às 9h, treinou para a Série C: “O treinador principal estar junto e vivendo essa situação dá mais respaldo”

Na estrada C

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por MARCELO MUGNOL marcelo.mugnol@ocaxiense.com.br

om todo respeito, ir a Carazinho enfrentar o Atlético é uma aventura como a de Geslomina, personagem interpretada por Giulietta Masina, no filme La Strada, de Federico Fellini. O torcedor grená que não viu ainda pode aproveitar a folga da Série C desse final de semana e assistir a metáfora do que o Caxias poderá vir a enfrentar na disputa da Copa Enio Costamilan. “De tudo um pouco”, grita um eufórico faztudo, que sempre assiste aos jogos do Caxias no Estádio Francisco Stedile, mais conhecido como Centenário. Pra quem não sabe ainda, é bom que se explique. O Caxias disputa duas competições paralelas. O Campeonato Brasileiro da Série C, que iniciou na ressaca da Copa do Mundo, aquela em que a seleção canarinho caiu de quatro diante de um pé de laranja, e a Copa Enio Costamilan, a charmosa Copinha RS. De um lado está em jogo uma vida melhor em 2011, quem sabe com um pouco mais de brilho e uma tabela mais afável, na tão sonhada Série B. De outro, um torneio que vale vaga à Série D, algo que o Caxias não espera nem no seu pior pesadelo recheado de inveja alviverde. E vaga que ronda os dias e noites juventudistas, mesmo sem que eles venham a participar da Copa Enio Costamilan. Outro detalhe importante é o nome da competição. Para orgulho e honra da nação grená, a Copinha RS deste ano é uma homenagem a Enio Costamilan, um dos mais importantes dirigentes do futebol no Estado. Seu Enio, como é ainda chamado pela torcida do Caxias, é fonte de inspiração para muita gente que trabalha no clube ainda hoje, como o supervisor de futebol Vanderlei Bersaghi, mais conhecido como Pé. Enio foi presidente do Caxias em 1989 e 1990, ano em que o clube

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conquistou o vice-campeonato no Gauchão. Mas desde os idos de 1960 já integrava a diretoria do clube. Seu Enio faleceu em novembro de 2009, vítima de parada cardíaca enquanto fazia hemodiálise. “Olha aqui ó, só de a Federação Gaúcha ter dado o nome da Copa pro Seu Enio, é por que eles reconhecem o valor do trabalho dele. Ele foi um dos melhores dirigentes com quem eu trabalhei. Era um cara inteligente, fora de série. Conhecia futebol, acompanhava tudo que era jogo. O Caxias cresceu muito com ele. Era um cara bem relacionado, não tinha maldade, nunca vi o cara triste”, conta Pé, como se passasse um filme na sua cabeça. Pé trabalhou com Costamilan desde 1985 até a Era Voges, quando Seu Enio teve de se afastar para tentar enfrentar o problema de saúde que lhe afligia. Se Pé pudesse olhar nos olhos de cada um dos jogadores do Caxias que vai disputar o torneio que leva o nome do ex-dirigente grená, diria a eles: “Temos de dar um presente pra ele, vencendo essa Copa”. E que assim seja. Porque, se tem um clube que merece ostentar um troféu com o nome de Enio Costamilan, é o Caxias. Talvez por isso, mas não só em função do nome da Copa, o clube grená vai encarar a competição de um outro modo este ano. A Copinha deixa de ser uma forma de o clube pedir desculpas por não ter subido pra Série B, e vira agora uma oportunidade a mais para formar jogadores e deixar outros em ponto de bala para quem sabe poderem disputar alguma partida da Série C. É preciso respeito ao Atlético de Carazinho. Primeiro, porque quem pensava que o Caxias ia voltar de lá com uma goleada se enganou. Se bem que se a equipe grená tivesse convertido em gol todas as oportunidades, o Caxias teria voltado de Carazinho com

Julinho Camargo encara o desafio de trabalhar com dois times e expectativas diferentes

uma goleada. Mas voltando a linha de raciocínio, é preciso respeito porque é nessa competição que muitos dos jogadores da base do Caxias, da equipe Sub-20 podem dar com mais segurança o próximo passo rumo à profissionalização. É nessa Copinha, chamada assim de uma forma carinhosa e não depreciativa, que os destaques do Gauchão Sub-20 vão poder mostrar se estão preparados mesmo para se tornarem jogadores profissionais. Julinho Camargo, treinador do Caxias, vem conquistando o respeito no cargo também em outras querências. Ou não vai pensar que ele não foi sondado pelo Grêmio, nessa saída pela esquerda que “deram” no Silas. Mas não era hora, reconhece Julinho. O pensamento dele é o Caxias e a vaga na Série B. O pensamento de Julinho está ainda em formar jogadores, em alimentar um novo e consistente ciclo virtuoso no Centenário. “Vamos usar a competição pra amadurecer a moçada dos juniores. E a porta de entrada para o profissional é a Copinha”, revela o treinador, por telefone, horas antes da partida de estreia na Copa Enio Costamilan, em Carazinho. “A gente no profissional não tem apenas o dever de abrir o vestiário para essa moçada, mas tem a obrigação de terminar o processo de formação do atleta. Porque o treinador profissional tem de saber que mesmo que o jogador tenha condições de subir da base para titular, ele ainda precisa de uma lapidação final”, complementa. Julinho vê com tanta importância esse processo de aproximar os jovens que dormiu menos de 4 horas para acompanhar a base. Ele mesmo resolveu entrar no ônibus, quarta-feira à tarde, enfrentar horas de viagem até Carazinho, treinar a equipe lá, jogar na noite de quinta-feira, tomar banho no vestiário, entrar no ônibus madru-

gada adentro, chegar em Caxias às 5h da última sexta-feira e dar o treino da manhã às 9h para o elenco que disputa a Série C. “O treinador principal estar junto e vivendo essa situação dá mais respaldo, mais peso e sempre que eu puder vou estar junto dando força pra que esse trabalho seja o melhor”, avisa Julinho. Mas a Copinha serve ainda para os jogadores do grupo principal do Caxias – que não estão sendo aproveitados por Julinho, às vezes nem no banco de reservas – para que eles possam dizer, em campo, porque podem ser titulares. Dar ritmo de jogo a eles e deixar todos em ponto de bala é o ideal, acredita Julinho. É isso que justifica, por exemplo, a “convocação” do volante Marcos Rogério para a disputa da primeira partida da Copinha, em Carazinho. Julinho enxerga ele mais do que um 12º homem do Caxias. Julinho quer Marcos Rogério com o mesmo ritmo de jogo dos demais atletas que estão disputando todas as partidas até agora. Até porque, pode ser que o Renan, atual titular da vaga, tome o terceiro cartão amarelo, e aí como é que fica? Como vai ocorrer no CA-JU do próximo final de semana, em que Julinho não vai poder contar com Neto e Aloísio, suspensos. “Felizmente, nesse caso, o Anderson Bill volta de suspensão, e como está em ritmo de jogo entra no lugar do Neto e provavelmente o Palacios, que também vem entrando em muitas partidas, entre no lugar do Aloísio”, explica Julinho. Olhando dessa forma, talvez os escolhidos pra jogar a Copinha comecem a enxergar a competição de um jeito mais carinhoso. Pode valer não apenas uma vaga no time titular, mas quem sabe uma renovação de contrato em um clube que em 2011 vai jogar a Copa do Brasil e pode estar ainda na Série B.

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André T. Susin/O Caxiense

Providências alviverdes

O porto-alegrense Beto Almeida, 55 anos, trabalhará no comando do Juventude pela quinta vez na carreira

O TÉCNICO MUDOU.

E OS PLANOS TAMBÉM Sai Osmar Loss, entra Beto Almeida – que chega prometendo não só evitar o rebaixamento, mas classificar o Ju à próxima fase da Série C

A

por FABIANO PROVIN fabiano.provin@ocaxiense.com.br viagem de ônibus de Chapecó para Caxias do Sul, na noite de domingo, foi certamente uma das mais cansativas já feitas por Osmar Loss Vieira, 34 anos. Mesmo com todo o apoio da direção desde o início do ano, após três empates e uma derrota na Série C do Campeonato Brasileiro, o estrategista foi demitido. O anúncio ocorreu por meio de uma nota oficial no site do Juventude, na madrugada do dia 16. Para o seu lugar foi contratado Beto Almeida, 55 anos, que comandará o clube pela quinta vez na carreira – a última delas foi em 2007, último ano do alviverde na Série A do Brasileirão. Seu primeiro desafio será o Brasil, de Pelotas, neste domingo, às 16h, no Estádio Alfredo Jaconi. “Nós temos de fazer a nossa parte dentro de campo. Com o apoio da torcida, e ela virá nos apoiar, vamos buscar a primeira vitória na competição contra o Brasil-Pe. A partir disso, faremos as contas do que precisará ser feito nas três partidas restantes do campeonato”, discursou Beto na sala de

imprensa do Jaconi, ladeado pelo presidente Milton Scola e pelo vice de futebol Juarez Ártico, na tarde do dia 18. Dois dias antes, na mesma sala, Scola sentou numa das cadeiras para oficializar a saída de Loss, “em comum acordo”. “O Osmar fez um excelente trabalho no Juventude. Tentamos um planejamento a longo prazo, mas os resultados não vieram. O que deu errado foram os resultados. Ele foi penalizado por isso. Nossa convicção, aquela do início do ano, foi por água abaixo. Não dá para resistir a isso tudo, como cobrança da torcida, da imprensa e de dentro do próprio clube”, lamentou o presidente Scola. Ártico lembrou, na tarde do dia 18, à beira do gramado do Jaconi, enquanto aguardava Beto comandar seu primeiro treino com o grupo, que ninguém soube explicar o que houve em Santa Catarina, na derrota por 2 a 0 para a Chapecoense. Loss agradeceu muito o respeito da direção e afirmou que é preciso continuar acreditando nos jogadores. “Uma mudança dentro do vestiário talvez mexa com o ambiente. Por isso

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decidimos, em comum acordo, pela (oito derrotas, seis empates e duas viminha saída. Infelizmente, o futebol tórias). Na Copa do Brasil, dois jogos brasileiro, diferentemente do europeu, e duas derrotas. Pela Série C, quatro prioriza os resultados. A cultura brasi- jogos, três empates e uma derrota. E, leira ainda é diferente. Posso dizer que em oito amistosos, teve quatro vitóconvivi com pessoas rias, dois empates e honestas e, sem dúviduas derrotas. Por ouda, saio outro homem tro lado, Beto Almeidaqui, mais maduro”, “Este grupo da chegou ressaltando explicou Loss. Em sua é desmotivado. seu índice de vitórias, opinião, o grupo, jo- Tem alguns “próximo de 70% nos últimos cinco anos”. O vem, está bem monproblemas, mas novo técnico ressaltou tado. “Saio porque as qualidades do Juvenestamos avaliando nada que um tude: boa técnica e quaresultados. Nosso ren- trabalho forte lidade defensiva. Endimento nos três pri- não faça atingir tretanto, analisou que meiros jogos da Série o sucesso”, o time carece de uma C foi muito bom, mas “contundência ofensio resultado não veio. O diz Beto va”. Tão logo encerrou aproveitamento ficou a entrevista coletiva, muito abaixo da minha palestrou no vestiário e comandou o expectativa”, despediu-se Loss. O ex-treinador Osmar Loss foi apre- primeiro treino. Almeida, que saiu do Pelotas – que sentado como pelo Ju em 23 de dezembro de 2009. Comandou o time em 30 disputa a Série D –, já treinou mais de jogos, entre oficiais e amistosos, so- 20 equipes. No Ju, enfatizou que não mando 13 derrotas, 11 empates e seis vem para apagar incêndio, mas para vitórias – um aproveitamento geral de ajudar o clube. “Chego para classifi32,2%. No Gauchão, foram 16 partidas car”, prometeu. Com contrato assinado 21 a 27 de agosto de 2010

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meu vocabulário do futebol, essa palavra não existe”, avaliou Beto. Em 2007, último ano na primeira divisão, ele foi contratado no dia 20 de agosto. Não salvou o Ju do rebaixamento porque era praticamente impossível. Em 2010, chegou no dia 18 de agosto, e dizendo que vai classificar o time para a próxima fase da Série C. Supersticioso? “Não”, respondeu o técnico.

Do atual grupo de jogadores, Beto lembra que já trabalhou com três: o lateral direito Luiz Felipe, o goleiro Jonatas e o zagueiro Bruno Salvador. O técnico disse que aceitou a “Hoje em dia você acaba conhecendo proposta do Ju porque acredita na res- muito dos jogadores sem ter trabalhaponsabilidade. “Fiz uma boa campa- do diretamente”, acrescentou o treinanha no Pelotas, depois dor. de sete anos na segunPara fugir da Série da divisão do Estadual. “Se (Loss) D e, quem sabe, clasEste ano fizemos um tivesse ganho sificar, Beto terá como belo Gauchão. Optei primeiro adversário o pelo Juventude pela contra a Brasil-Pe. Depois, vem grandeza do projeto, Chapecoense, o CA-JU, no Centepelo crescimento pro- estaria conosco nário, e em seguida a fissional e, também, hoje, a situação Chapecoense, em casa. pela questão financeiA última rodada será ra”, afirmou. Segundo na tabela seria em Santa Catarina, o vice de futebol Jua- diferente”, contra o Criciúma. rez Ártico, o primeiro diz Ártico O Juventude tem o contato com o técnico pior ataque da Série C ocorreu na terça-feira após quatro jogos, com (17). “Encontramos ele em Farroupilha apenas um gol marcado – Cristiano para conversar”, confirmou o dirigente. balançou a rede no empate contra o No final de 2009 o nome de Beto fora Criciúma. Depois aparecem, com três cogitado para assumir o time esmeral- gols cada, Brasil-Pe, Gama-DF e Saldino, além de Marcelo Rospide e Ca- gueiro-PE. semiro. “Precisávamos de uma pessoa O aproveitamento do Ju, até agora, para montar um grupo. O perfil do Os- é de 25% no campeonato. Para mumar Loss se encaixou perfeitamente na dar essa situação e sair da lanterna do nossa proposta. Um cara trabalhador Grupo D, o primeiro passo será vencer que, se tivesse ganho a partida contra os xavantes, que têm quatro pontos, a Chapecoense, estaria aqui conosco para encostar nos líderes – Criciúma hoje, porque a situação na tabela seria e Caxias, que têm sete pontos cada – diferente”, opinou Ártico. Desde o dia e torcer por um empate entre o Tigre 16, quando Loss foi demitido, o presi- catarinense e a Chapecoense, que tem dente Milton Scola admitiu que, entre seis pontos. Os grenás folgam antes do os profissionais procurados, estiveram CA-JU. Vagner Benazzi, Antônio Carlos e ArSem dúvida, desde o início da comgel Fucks, treinador do Criciúma, líder petição, os planos do Ju mudaram. Ando grupo na Série C. tes, o discurso era o de que em apenas Segundo Ártico, o novo comandante 10 jogos era possível estar na Série B. do vestiário papo não veio para fazer Agora, mudou também o técnico. Um milagres. “Ele teve coragem para as- empate no Jaconi neste domingo pode sumir. Vamos fazer de tudo para dar ser considerado um péssimo resultado, certo.” Scola destacou que Beto já co- pois a equipe permanecerá na lanternhece o cargo e alguns dirigentes, e na. E a partir daí restarão apenas três tem o apoio da torcida. “Aposto que, a partidas para decidir quem descerá partir de domingo, iniciaremos nossa ao inferno da quarta divisão nacional. recuperação”, afirmou o presidente. “A Otimista, Beto já avisou: começará a vibração da torcida será fundamental. fazer as contas depois da vitória contra A situação não é tranquila porque, no o Brasil-Pe. Que assim seja.

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Fabiano Provin/O Caxiense

até o final de 2011, ele disse que o primeiro objetivo é afastar a possibilidade de rebaixamento à Série D – o time é o lanterna de seu grupo na Série C, com três pontos em quatro jogos disputados. “Valorizo muito o clima de vestiário. Acompanhei alguns jogos do Juventude e posso dizer que este grupo não está ou é desmotivado. Tem alguns problemas, na minha opinião, que precisam ser corrigidos. Mas nada que um trabalho forte não faça atingir o sucesso”, discursou o porto-alegrense Beto Almeida.

Loss (em seu último treino, dia 13): “o rendimento foi bom, mas o resultado não veio”

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Renato Henrichs renato.henrichs@ocaxiense.com.br

Cercado de polêmicas, em função de um patrocínio oficial de R$ 100 mil, Caxias do Sul, tradição e inovação de um povo tem o mérito de, antes de mais nada, não fazer concessões. Apesar da ajuda oficial, o filme reúne dezenas de depoimentos de caxienses, mas nenhuma fala do prefeito ou do secretário da Cultura. Por sinal, o secretário Antônio Feldman faz questão de ressaltar esse ponto e provocar os adversários partidários: “que outro governo estimularia a realização de um filme assim, sem qualquer interferência ou aproveitamento político?”

Contrapontos

Em bom trabalho de edição, o filme de Airton Soares contrapõe o pensamento de estudiosos e pesquisadores importantes a respeito da história da imigração italiana e da própria cidade – entre eles Cleodes Piazza Julio Ribeiro, José Clemente Pozenato e Loraine Slomp Giron. Loraine defende que a expansão industrial de Caxias do Sul se ampliou a partir dos anos 1970 com o “milagre econômico brasileiro”. O empresário Raul Randon concorda com ela.

Para ver e discutir

Idealizado como um produto cultural feito para “vender” a imagem da cidade em outras plagas, Caxias do Sul, tradição e inovação de um povo funciona muito bem como um veículo para o caxiense se ver e discutir suas idiossincrasias.

Engajamento

Quem faz a máquina pública funcionar é o servidor

Presença do ministro Paulo Sérgio Passos, dos Transportes, esta semana na CIC, mostra que o empresariado caxiense não está assim tão indiferente, como às vezes procura fazer crer, ao processo eleitoral brasileiro. A reação à fala, digamos, oposicionista do deputado federal Ruy Pauletti (PSDB) deixou isso bem claro.

João Dorlan, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais (SindiServ), ao justificar a recusa da proposta de reajuste salarial de 2,4% feita pelo governo Sartori.

Candidatura posta

Candidato a deputado federal cuja candidatura encontra-se impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral, o vereador Mauro Pereira (PMDB) não pretende desistir tão cedo. Indiferente ao resultado que possa dar no TSE, Mauro vai entrar com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal. Cético em relação às chances de Mauro, o PMDB caxiense está preocu-

Perspectivas

Apesar das denúncias ocasionais, a realização de congressos para o setor público – na maioria das vezes em cidades à beira-mar – continua em alta. O mais recente foi o Congresso Nacional de Chefes de Gabinete, realizado entre os dias 11 e 13 deste mês, em Recife (PE). O próprio chefe de gabinete da prefeitura de Caxias

Zona de conforto

O presidente da Associação de Moradores do bairro São Pelegrino, Antíoco Sartor, admite que parte da mobilização contra mudanças no trânsito naquela área tem um objetivo: tirar da zona de conforto os técnicos da Secretaria Municipal de Trânsito,

Ou 8 ou 80

Muro em torno do novo presídio regional de Caxias do Sul, cuja construção finalmente se inicia, terá em alguns pontos até seis metros de altura (para cercar a área de convivência dos presos) – além de espiral de ferro laminado (arame farpado) no topo. Para um projeto considerado inovador, que dispensava a inclusão de muro, parece estar de bom tamanho.

Fim de diálogo

Não convidem para a mesma mesa de negociações o chefe de Gabinete Edson Nespolo e o presidente do SindiServ, João Dorlan. Por mais que Nespolo comprove que a política salarial e de recursos humanos adotada pela administração municipal teve avanços para a categoria (como a manutenção da trimestralidade), o representante dos servidores municipais diz que o chefe de Gabinete tem posição desesperada ao procurar desviar o foco da luta da categoria por reajuste.

Interesse comunitário

As lideranças da cidade têm feito a sua parte para pressionar a governadora Yeda Crusius a confirmar o caxiense Roberto Sbravatti como desembargador do Tribunal de Justiça do Estado?

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Custo elevado

pado com a perseverança do candidato, pela série de prejuízos que traz – ao partido, à candidatura de Maria Helena Sartori e a ele mesmo. A essa altura muitos se perguntam: como correr atrás do prejuízo? E quem vai substitui-lo se for confirmada a impossibilidade de Mauro concorrer? Nos últimos dias o nome mais cotado é o do vereador Ari Dallegrave.

O tempo passa, as reclamações aumentam e os preços dos combustíveis em Caxias do Sul permanecem mais altos do que em qualquer outra cidade brasileira. Aqui, o litro da gasolina comum custa em média R$ 2,69. Em São Paulo, capital cujo custo de vida é um dos mais altos do país, a mesma quantidade do mesmo combustível está na ordem de R$ 2,39 - em média. Alguém pode justificar tamanha diferença?

do Sul, Edson Nespolo, que participou do evento, surpreendeu-se com alguns itens da programação, como as palestras Gestão do conhecimento e relacionamento - poderosos ativos para as empresas, Perspectivas de crescimento de Pernambuco e Desafios e perspectivas para a diplomacia e política externa brasileira.

Para o povo

Transportes e Mobilidade. Determinadas soluções encontradas pela equipe da secretaria, como a redução da largura da calçada da Avenida Rio Branco, precisam do respaldo da população. Não podem ser impostas a qualquer custo. Reprodução/O Caxiense

Sem aproveitamento

Em mais um gesto que comprova estar sintonizada com as expectativa dos associados e da comunidade caxiense, a diretoria da CIC vai ouvir os três principais candidatos ao governo do Estado. A série começa na próxima sexta-feira, com a presença na entidade empresarial da governadora, candidata à reeleição, Yeda Crusius. Os candidatos poderiam aproveitar a oportunidade e falar também para a União das Associações de Bairros. A UAB tem todo o interesse em ouvi-los – e os candidatos deveriam ter todo o interesse em falar a ela.

Citação inconveniente

A Mesa Diretora da Câmara encontra-se em meio a uma saia justa, protagonizada pela diretora da Escola Helen Keller, Maria Alice Rodrigues. Ao final da sessão em homenagem aos 50 anos da escola, na última terçafeira, ela agradeceu ao deputado estadual Kalil Sehbe Neto e ao vice-prefeito Alceu Barbosa Velho, ambos do PDT e candidatos a cargos eletivos este ano, pelo patrocínio do “pequeno coquetel” que seria oferecido a seguir aos convidados. De acordo com representantes da bancada oposicionista na Câmara, esse patrocínio pode ser configurado como crime eleitoral, na medida em que fere a legislação eleitoral em vigor (Lei n 9.504/97, art. 23, parágrafo 5º.). O citado artigo veda ajuda de qualquer espécie feita pelo candidato, entre o registro e a eleição, a pessoas físicas ou jurídicas. A saída encontrada pela oradora, a pedido dos candidatos citados, foi pedir a retirada dos anais da Câmara do trecho de agradecimento (citação feita, aliás, por solicitação de um colaborador direto de Kalil Sehbe e Alceu Barbosa Velho). A gravação da sessão pela TV Câmara teve suprimido o trecho. O problema agora é a Mesa Diretora censurar o registro nos anais do legislativo caxiense. Até a tarde desta sexta-feira, nenhum partido ou outro candidato havia entrado com representação contra Alceu e Kalil na Justiça Eleitoral.

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