A HORA DO ABATE
Um relato cru do processo industrial que fornece alimento aos carnívoros |S23 |D24 |S25 |T26 |Q27 |Q28 |S29
Caxias do Sul, outubro de 2010 | Ano I, Edição 47 | R$ 2,50
COMO APAGAR
OS DANOS DO
CIGARRO
O trabalho de grupos de apoio e tratamento pode ganhar uma ajuda muito eficaz na luta contra o tabagismo: a Câmara de Vereadores discute a criação de uma lei para proibir o fumo em qualquer lugar fechado de uso coletivo em Caxias
Dilema ambulante: o confronto diário entre fiscais e vendedores de rua | Roberto Hunoff: Caxias do
Sul ainda espera fábrica da montadora NC² | Renato Henrichs: os ecos do comício de Dilma e Lula
Índice
www.OCAXIENSE.com.br
A Semana | 3
As notícias que foram destaque no site Fotos: André T. Susin/O Caxiense
Roberto Hunoff | 4
A maior feira de negócios da cidade precisa melhorar
A consciência adverte | 5 Como Caxias do Sul enfrenta o tabagismo
Alternativa de risco | 8
Não há lacre bem colado que me impeça de ler o jornal O Caxiense. Parabéns pela criatividade. Lucas Guarnieri
Fiscalização do comércio informal aumenta – e ambulante acaba atropelado
Fora do palanque | 9
@manoRo @ocaxiense sempre com notícias de primeira mão! É bom esse jornal hein! #online
Na vizinhança do comício, preces, imprecações e diversão
A sangue frio | 10
Como porcos e frangos morrem para chegar à mesa dos carnívoros
@danieldalsoto Edição do final de semana do @ocaxiense surpreendeu de novo. A minha mãe ficou encantada com a reportagem sobre o circo, da @val_borboleta. #edição46
Artes | 14
Um adeus antes da hora e uma despedida com tarefa cumprida
@anahifros Antes que esqueça de dizer, extremamente criativo o adesivo fechando @ocaxiense deste fim de semana. Usando todas as formas de linguagem... #edição46
Realidade Brasileira | 15 Tropa de Elite 2 retrata a miséria de um povinho, bate recorde e cria um herói do povão
@Lixiguana O @ocaxiense tem sido minha fonte de pesquisa sobre os eventos da cidade! #edição46
Movimentos de propulsão | 16 Caxias abre espaço democrático para a dança, no palco e na plateia
@eusouogabriel RT se você também rasgou @ocaxiense ao tentar abrir a #edição46 \o/ (Eu não posso ter sido o único)
Guia de Cultura | 18
Muito jazz, uma cozinha divertida e 21 curtas de animação no cinema do Ordovás
Onda na montanha | 20
@andrepelinser Meus parabéns pelo perfil publicado. Isso é jornalismo, e não mero noticiário. #bezbatti
Longe do mar, os caxienses remam para criar um campeonato de surf
Dupla CA-JU | 21
Questões não resolvidas da briga entre Caxias e Juventude no STJD
@LeonelFerreira Ótima a cobertura do @ocaxiense do comício da @Dilmabr. Transmissão ao vivo tem até espaço para galera debater! #aovivo
Guia de Esportes | 22
O Caxias volta para casa para acertar as contas com o Grêmio Bagé
@nine_stecanella Tô acompanhando o comício da Dilma ao vivo no site do @ocaxiense. #aovivo
Renato Henrichs | 23
A comunista Abgail reafirmou força no comício e deve ir para o secretariado estadual @reginaramao @ocaxiense Parabéns pela brilhante cobertura do comício! #aovivo
Expediente
Redação: André Tiago Susin, Camila Cardoso Boff, Cíntia Hecher, Fabiano Provin, Felipe Boff (editor), José Eduardo Coutelle, Luciana Lain, Marcelo Aramis (editor assistente), Marcelo Mugnol, Paula Sperb (editora), Renato Henrichs, Roberto Hunoff, Robin Siteneski e Valquíria Vita Comercial: Pita Loss e Cláudia Pahl Circulação/Assinaturas: Tatyany Rodrigues de Oliveira Administrativo: Luiz Antônio Boff Impressão: Correio do Povo
Assine
@alanfattori Estou acompanhando a bela transmissão do @ocaxiense sobre o comício da Dilma e do Lula em Caxias, parabéns @ocaxiense! #aovivo @brunafrizzo De olho no comício da Dilma e do Lula que tá rolando lá em Caxias...bela cobertura do @ocaxiense ;) #aovivo
Para assinar, acesse www.ocaxiense.com.br/assinaturas, ligue 3027-5538 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 18h) ou mande um e-mail para assine@ocaxiense.com.br. Trimestral: R$ 30 | Semestral: R$ 60 | Anual: 2x de R$ 60 ou 1x de R$ 120 Jornal O Caxiense Ltda. Rua Os 18 do Forte, 422, sala 1 | Lourdes | Caxias do Sul | 95020-471 Fone 3027-5538 | E-mail ocaxiense@ocaxiense.com.br www.ocaxiense.com.br
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O Caxiense
23 a 29 de outubro de 2010
Capa | Fotografia de André T. Susin, com arte de Marcelos Aramis e Luciana Lain.
Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.
editado por Paula Sperb
A Semana
SEGUNDA | 18 de outubro Finaciarte
Inscrições vão até 29 de novembro
O Financiamento de Arte e Cultura Caxiense recebe inscrições de projetos até 29 de novembro. Os projetos das áreas de Literatura, Música, Teatro, Dança, Artes Visuais, Cinema e Vídeo e Folclore e Artesanato devem ser inscritos na Secretaria da Cultura, na antiga Estação Férrea, das 10h às 16h. O edital completo e a documentação necessária estão disponíveis no site da prefeitura. O limite do financiamento para cada projeto é de R$ 23 mil. As Comissões de Avaliação, Seleção e Fiscalização (Casf) – que também estão com inscrições abertas – analisarão os trabalhos em dezembro e janeiro e os contemplados devem ser conhecidos em fevereiro.
Hey! Blues
Documentário estreia no Ordovás dia 25 O documentário Hey! Blues, produzido pela Spaghetti Filmes durante o Moinho da Estação Blues Festival 2009, terá sua estreia nos dias 25 e 26 de outubro, no Ordovás, em duas sessões, às 20h e 21h. A entrada é franca. Em outubro do ano passado, 4 mil espectadores, 82 trabalhadores, 150 músicos e 4 palcos transformaram o Largo da Estação Férrea de Caxias do Sul no local do maior festival de blues do Brasil e um dos maiores da América do Sul.
TERÇA | 19 de outubro San Pelegrino
Cinema deverá abrir só em março Os cinéfilos caxienses deverão esperar mais alguns meses para contar com as seis novas salas que abrirão no San Pelegrino Shopping
Mall, sob a administração do grupo mexicano Cinépolis. As salas estarão prontas em março, cinco meses depois da inauguração do complexo de compras, marcada para o dia 8 de novembro para convidados e dia 9 para consumidores.
Iguatemi
320 empregos temporários O incremento das vendas de fim de ano já está abrindo vagas de emprego temporário no Shopping Iguatemi. A previsão da administração é de que sejam contratadas, até dezembro, mais de 320 pessoas, a maior parte para a área de vendas. Também serão abertos postos de trabalho em áreas de apoio, como segurança, estacionamento e limpeza. Os processos de seleção para as vagas já começaram. Interessados devem se informar sobre as oportunidades diretamente nas lojas do Iguatemi e junto à administração do shopping.
QUARTA | 20 de outubro Meio Ambiente
Palanquinhos deve ser inaugurado em 2011
A secretaria de Meio Ambiente aprovou, na terça (19), o projeto do Parque dos Palanquinhos, em Criúva. De acordo com o secretário Adelino Teles, o prazo para entrega do parque é a metade do próximo ano. Além de trilhas e um mirante, o projeto prevê também um anfiteatro para cerca de 50 pessoas e uma lancheria. O parque terá 92 hectares – o Mato Sartori tem 6,6 hectares e o Jardim Botânico, 50. O Palanquinhos terá entre 70 e 72 hectares de área de livre visitação, já que o local ao redor do rio não deve ser ocupado. O parque é resultado de um Termo de Ajustamento de Conduta firmado entre a secretaria e o Grupo Bolognesi, que cortou cerca de 1,5 mil árvores sem licença para a construção de pequenas hidroelétricas. A empresa construirá o Palanquinhos.
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Carbono Neutro
paula.sperb@ocaxiense.com.br
UCS
330 mudas de araucárias são plantadas em Vila Seca
Alunos protestam contra aumento
A localidade de Morro Alegre, em Vila Seca, recebeu 330 mudas de araucárias. Alunos da Escola Municipal Érico Veríssimo plantaram as futuras árvores através do programa Carbono Neutro, da Polícia Federal, em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente e Samae. As mudas foram plantadas onde está sendo construída a Estação de Tratamento de Água do (ETA) do Sistema Marrecas.
Em pleno Portal das Profissões, evento que apresenta os cursos da UCS a estudantes do Ensino Médio, universitários protestaram contra o reajuste das mensalidades para o próximo ano. A proposta da instituição é de subir 7,94%. Cerca de 200 alunos participaram da manifestação, que ocorreu 13 dias depois de gestores da instituição apresentarem a proposta. Os estudantes também reivindicaram a manutenção dos descontos nos cursos de licenciatura, que hoje é de 20%. Durante o protesto, um abaixo-assinado foi passado entre os alunos para ser entregue à reitoria.
Educação
IFRS oferece vagas para cursos em Caxias
Estão abertas as inscrições para o processo seletivo 2011 para os cursos técnicos de nível médio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS). O campus de Caxias do Sul oferece vagas para os cursos técnicos em Fabricação Mecânica e Plásticos. As inscrições seguem até o dia 11 de novembro, e podem ser feitas somente pela internet. A taxa de inscrição é de R$ 30. A prova será aplicada no dia 5 de dezembro.
QUINTA | 21 outubro Visate
Começam testes do painel eletrônico Mais uma tentativa de teste do painel eletrônico da Viação Santa Tereza (Visate) na parada da Catedral começou a ser realizada na quinta-feira e deve prosseguir até meados da próxima semana. Os testes são feitos em todas as linhas, mas a princípio somente quatro roteiros serão informados no painel: Cinquentenário, Salgado Filho/Ana Rech, Cruzeiro e Planalto/São Victor. A intenção é corrigir todos os possíveis problemas técnicos antes que o painel entre em ação efetivamente.
Casamento Comunitário
Inscrições abertas para a cerimônia
A 5ª edição do Casamento Comunitário será no dia 18 de dezembro, no Restaurante Comunitário II. Para oficializar a união de forma gratuita com vestido, flores, sapatos e tudo que um casamento tem direito, é necessário entregar a documentação até 8 de novembro. As inscrições são realizadas no quarto piso do Centro Administrativo (Alfredo Chaves, 1333 ), de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h. Mais informações sobre os pré-requisitos necessários podem ser obtidas pelos telefones 3218-6193, 3218-6199 e 3218-6437.
SEXTA | 22 de outubro Solidariedade
Amigos do Bem entregam doações de alimentos A Prolar Imóveis, com o projeto Amigos do Bem, entregará doações de alimentos para o Centro Assistencial e de Promoção Social Joana d’Arc, neste sábado, às 13h. O ato beneficente será acompanhado de recreação, com pipoca e refrigerante.
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O Caxiense
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Roberto Hunoff roberto.hunoff@ocaxiense.com.br
Não era o que todos esperavam, mas pelo menos não foi desastre total. O início das operações da fabricante de caminhões NC² será em Caxias do Sul, em unidade da Agrale, que mantém, desde 1998, parceria com a Navistar, que tem participação na nova companhia. A montadora norte-americana aplicará US$ 10 milhões na modernização da planta e abrirá 150 novas vagas. Parte deste pessoal, principalmente de cargo técnico, como engenheiros, está sendo recrutada por meio de parcerias com universidades de Caxias do Sul e da Grande Porto Alegre. Já o preenchimento das vagas de produção determinará, com certeza, a abertura de espaço em outras empresas. O importante, agora, é criar condições para que a montadora decida-se por localizar sua fábrica em Caxias do Sul. Concorrentes é que não faltam, mas oportunidade como esta não pode ser desperdiçada. Todos os agentes públicos e privados precisam se mexer desde já.
Ser diferente
O diretor corporativo e de relações com investidores da Randon, Astor Schmitt, deixou recado claro na reunião-almoço da CIC: para manter-se integrante do mercado mundial o Brasil precisa, urgentemente, diferenciar-se dos concorrentes que investem em produtos de custo baixo. Schmitt citou, entre eles, Índia e China, já consolidados neste cenário, mas que logo ganhará novos sujeitos ativos, como Bangladesh, Vietnã e África. Na avaliação dele, ou o Brasil encontra uma maneira de
diferenciar-se, porque disputa mercado com países mais desenvolvidos, ou estará perdido. Para alcançar este grau de competitividade são necessárias medidas estruturais internas, já conhecidas por todos, mas ignoradas pelo governo central e pelos empresários: investir pesadamente em inovação, em capital humano e educação; ocupar espaços internacionalmente, ter eficiência dentro e fora das fábricas, resolver o custo Brasil no sentido amplo e solucionar a estrutura tributária e trabalhista. Júlio, Divulgação/O Caxiense
Mais empregos
Tem que melhorar
Schiavo Fotografias, Divulgação/O Caxiense
É incontestável que, do ponto de vista dos negócios, a Mercopar é a principal e maior feira de Caxias do Sul. Os números falam por si: nesta edição, encerrada sexta-feira (22), as vendas ficaram acima de R$ 70 milhões e mais de 31 mil pessoas percorreram os Pavilhões e o Centro de Eventos da Festa da Uva. Mas há dois aspectos estruturais que precisam melhorar. É inconcebível que os visitantes, mesmo os que tenham feito pré-credenciamento pela internet, tenham que passar pela humilhação de aguardar até 40 minutos, sob forte sol, na fila para confecção de crachás, como ocorreu na quinta-feira à tarde. E não vale o argumento de que foi um momento de pico, porque às 19h30 ainda havia filas, menores é verdade, mas havia. Faltou, sim, foi eficiência na prestação deste serviço. Outro problema: alguém, da administração municipal, terá de assumir compromisso para melhorar o isolamento térmico dos Pavilhões. Quando não é o frio insuportável do inverno, é o calor descomunal como o desta semana, que impôs enorme sacrifício a visitantes e expositores. E não havia sequer os ventiladores usados na Festa da Uva que aliviavam o calor. A próxima edição organizada pelo Sebrae/RS e Hannover Fairs será no período de 18 a 21 de outubro.
Troféu para elas
A Microempa entregou, nesta semana, do Troféu Empreendedorismo Feminino. A distinção deste ano foi recebida pelas empresárias Ana Paula Turatti Tonial, Cláudia Lima da Silva, Inês Fagherazzi Bettoni e Liana Salete Saugo Alberton.
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O Caxiense
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Projeto imobiliário
O empreendedor caxiense Flávio José Aguzzoli torna público na terçafeira (26) seu projeto residencial Jardim dos Beija-Flores, em obras em Bombinhas, Santa Catarina. Para
o próximo verão 2011 pretende ter prontos nove apartamentos duplex com capacidade para quatro pessoas. As atividades ocorrerão na Eiffel Citröen a partir das 19h30.
Pelo segundo ano consecutivo o diretor-presidente das Empresas Randon, David Abramo Randon, foi eleito Líder Empresarial 2010 do Rio Grande do Sul pelo voto dos leitores
da Revista Líderes em eleição que cobriu todo o território brasileiro. A entrega da premiação será no dia 29 de novembro, em São Paulo, durante o o 33º Fórum de Líderes
Líder empresarial
Curtas
A Regional Serra da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas promove quinta-feira (28) sua última reunião-jantar de 2010. A partir das 19h30min, na CIC de Caxias, haverá palestra com o teólogo Edgar Salvi sobre o tema Aliviando a bagagem.
Especializada em moda bebê e infantil, a Quadrinhos Baby realiza terça-feira (26) desfile beneficente em favor da Pastoral de Apoio ao Toxicômano Nova Aurora. Durante o evento, marcado para as 19h no Salão Social do Recreio da Juventude, acontecerá o lançamento da coleção primavera/verão da loja. Doenças ocupacionais e seu impacto no comércio varejista será o tema palestra organizada pelo Sindilojas para terça-feira (26). A médica do trabalho Marcia Marchetto abordará assuntos como as implicações legais dos afastamentos por doenças ocupacionais e as principais medidas para prevenir as doenças e evitar os afastamentos.
A reunião-almoço da CIC de segunda-feira (25) será comemorativa aos 15 Anos da SAE BRASIL – Seção Caxias. O evento terá palestra sobre Estratégia de competitividade global – Construindo o presente com visão no futuro – com o diretor de compras da Mercedes-Benz do Brasil, Ricardo Vieira Santos. Termina, neste sábado, a campanha Não quero morrer no trânsito, iniciativa da CDL Jovem. O tema desse ano, A imprudência deixa marcas, objetiva mostrar aos jovens de 18 a 35 anos, público alvo da campanha, que a imprudência e o uso de álcool ao volante, quando não matam, deixam marcas para sempre. As oportunidades para a indústria, trabalhadores e sociedade serão tema do seminário Pré-Sal e o Rio Grande do Sul programado para quarta-feira (27), na CIC de Caxias do Sul. A programação se inicia às 9h e um dos palestrantes será o presidente da Petrobras Biocombustíveis, Miguel Rossetto.
Formação gratuita A Fundação Caxias oferecerá dois cursos gratuitos de auxiliar de cozinha, desenvolvidos simultaneamente no Abracabrike (Centro) pela manhã e na Unidade Básica de Saúde do Bairro Mariani à tarde. A justificativa é que o setor de alimentação apresenta grande demanda de profissionais tanto para trabalhar em restaurantes e nas cozinhas industriais. Mesmo antes de iniciar o curso a equipe técnica da Fundação Caxias tem uma lista de 24 vagas em aberto em várias empresas da cidade para admissão imediata.
Mais recursos
Empresas associadas ao Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho terão à disposição nova linha de recursos com taxas diferenciadas para a modernização de suas operações. Convênio neste sentido foi assinado na noite de sexta-feira, 22, entre a diretoria da entidade e a Caixa Econômica Federal. Os recursos serão provenientes de linhas de crédito, como o Finame, específicas para adquirir equipamentos e financiar projetos a baixo custo.
Antecipando moda Lojistas de todo o Estado conhecerão terça e quarta-feira (26 e 27) as tendências da estação outono/ inverno 2011. A 3ª edição do Moda Serra é uma iniciativa de industriais do ramo têxtil de Caxias, Flores da Cunha e Farroupilha. No Centro Empresarial de Flores da Cunha, terá show room, rodadas de negócio, palestra e desfiles.
Feira automotiva
Com expectativa de reunir 180 expositores e receber 28 mil visitantes, a Diretriz Feiras e Eventos confirma para o período de 6 a 9 de julho de 2011 a realização da Autoparts nos Pavilhões da Festa da Uva. A apresentação oficial do evento ocorrerá na quarta-feira (27) em encontro na CIC de Caxias do Sul. A feira reunirá fornecedores de autopeças, motopeças, ferramentas, pneus, equipamentos para teste, lubrificantes e aditivos, frotistas e postos de serviços, entre outros.
Gastronomia
Com a realização da 6ª edição do Sabores de Criúva, se encerra neste sábado a programação da Semana de Criúva, iniciada em 10 de setembro. O evento gastronômico reúne 25 cozinhas, com diferentes sabores e culturas, visando à captação de recursos para viabilizar ações sociais voltadas à formação de crianças e adolescentes e a manutenção da Associação PróDesenvolvimento de Criúva.
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Pelo fim da fumaça
UNIÃO CONTRA A
INDÚSTRIA DO
CIGARRO Com iniciativas públicas e privadas e a proposta de uma legislação mais restritiva, Caxias do Sul avança no combate ao tabagismo. O número de fumantes que largaram o vício ainda é tímido, mas o crescimento da demanda pelos serviços de apoio confirma que a conscientização se enraíza na cidade. Na Câmara de Vereadores, a discussão sobre o tema pode resultar na proibição do fumo em todos os locais fechados de uso coletivo, a exemplo do que já acontece em São Paulo
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O Caxiense
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om apenas oito anos de idade, Carmem Lúcia Ribeiro da Silva foi tragada por um vício. Um mal que a acompanharia pelas quatro décadas seguintes. Hoje, aos 51, a atendente de enfermagem tenta se livrar dele. “É difícil parar”, sintetiza ela. A luta de Carmem, porém, ganhou aliados. Nos últimos anos, a crescente conscientização abriu terreno para a evolução de políticas públicas e privadas de combate ao tabagismo. São iniciativas na área da saúde, para tratamento dos dependentes químicos, e governamentais, com medidas restritivas ao consumo do tabaco, que criaram uma verdadeira frente social contra o cigarro. E Caxias do Sul está prestes a fazer um avanço importante nesse sentido. A Câmara de Vereadores discute uma lei que amplia a proibição ao fumo.
tes. O debate teve início em fevereiro de 2008, quando o vereador Vinicius Ribeiro (PDT) encaminhou projeto de lei que determina essas providências. Segundo ele, a ideia alinha-se a uma tendência mundial em prol da saúde da população, e levou em consideração as discussões realizadas em países europeus. “Sempre se trabalhou o direito do fumante. Esta lei é para o direito do não fumante”, defende Vinicius. E completa: “Meu principal argumento é: me apresente uma pessoa que tenha deixado de fumar e ficou pior.” Após analisar o projeto do pedetista, a Comissão de Constituição, Justiça e Legislação da Câmara apresentou um substitutivo, no qual a principal mudança fica a cargo do valor da multa. Na proposta de Vinicius, a infração seria punida com 500 VRMs (Valor de Referência do Município), que hoje totalizariam R$ 9.685. No substitutivo, passaria para 30 VRMs, ou R$ 581,10. Nos dois projetos, a multa seria aplica-
para o não fumante. “Na inauguração série de outros efeitos, o tabagismo teve muita gente que disse que o negó- aumenta o risco de doenças cardíacas cio já ia nascer quebrado”, lembra o ad- e está associado à impotência sexual. ministrador do Mississippi Delta Blues Os números mais recentes, no entanBar. De início, não havia a cobertura to, mostram que a população ainda que hoje existe na parte externa, e as não se conscientizou suficientemente pessoas que saíam para a respeito. Em 2008, fumar tinham de se segundo o Instituto adaptar ao clima rigo- “Meu principal Brasileiro de Geografia roso do inverno. Só em argumento é: e Estatística, 17,5% dos 2008 o bar construiu brasileiros eram fuum deck para abrigar me apresente mantes, o que significa os tabagistas. “Vimos uma pessoa 25 milhões de pessoas. que os não fumantes que tenha E o Rio Grande do Sul eram nosso público deixado de aparece como um dos principal. Eles voltamaiores responsáveis vam para casa com a fumar e ficou por esse índice, com roupa sem cheirar a pior”, afirma uma porcentagem acicigarro. E os próprios Vinicius ma da média: 20,7%. fumantes acharam inNo quadro nacional, teressante. Tive relatos os gaúchos só fumam de pessoas que disseram fumar menos menos que os acreanos. Em Porto Alepor não ser permitido dentro do Mis- gre, segundo uma pesquisa de 2006, a sissippi”, conta Toyo. proporção seria ainda maior: 21,2% da Três anos depois, foi a vez de o Za- população com mais de 18 anos. André T. Susin/O Caxiense
C
por JOSÉ EDUARDO COUTELLE jeduardo.coutelle@ocaxiense.com.br
Denara, do CES, planeja abrir mais um grupo de auxílio. Neuza, do Ipam, diz que o isolamento social é o maior motivo para as pessoas buscarem ajuda O veto ao cigarro em locais públicos da sobre o proprietário do estabelecijá tem mais de 10 anos. Veio com a lei mento que desobedecesse a lei. federal n° 9.294, que vigora desde julho Mesmo reduzido, o valor ainda é de 1996. Em sua definição, ela proíbe o motivo de divergência. A vereadora uso de cigarros ou de qualquer outro Geni Peteffi (PMDB) entende que a produto fumígeno, derivado ou não multa deve ser dividida também com o do tabaco, em recinto tabagista. “Acho incorcoletivo, privado ou púreto penalizar somente blico, salvo em área des- “Acho incorreto o dono do restaurante tinada exclusivamente a penalizar quando alguém for esse fim, devidamente somente o dono pego fumando. Discuisolada e com arejatimos reduzir a multa mento conveniente. A do restaurante. pela metade e também legislação ainda abran- Discutimos aplicar a penalização ge repartições públi- também aplicar sobre o fumante”, afircas, hospitais e postos a penalização ma. de saúde, salas de aula, bibliotecas, recintos de sobre o fumante”, Potencialmente, trabalho coletivo e salas defende Geni os bares, onde o hábito de teatro e cinema. de fumar ganha mais O que está sendo liberdade, seriam mais analisado agora em Caxias é a exten- afetados caso a nova lei seja aprovada. são dessa proibição federal a qualquer Mas pelo menos dois estabelecimentos recinto coletivo fechado, público ou desse tipo resolveram apagar os cigarprivado, da cidade. Isso implicaria, ros antes. Em 2006, Toyo Bagoso teve a por exemplo, no fim das áreas internas ideia de montar um espaço para cerca para fumantes em bares e restauran- de 100 pessoas que fosse uma opção
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O Caxiense
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rabatana Bar e Café restringir o uso do cigarro. Mesmo situado dentro de um espaço público, o Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho, o consumo lá era liberado. A proprietária, Lucimar Maitelli, conta que a proibição do tabaco no Zarabatana ocorreu logo após a aplicação, em São Paulo, de lei muito semelhante à que se pretende agora para Caxias. Alguns clientes fumantes não voltaram ao bar desde então, mas a maioria, segundo ela, adaptou-se: passou a fumar na rua. A própria Lucimar também já foi fumante, durante 15 de seus 37 anos. Resolveu cortar o vício ao saber que o “homem da Marlboro” estava com câncer – o garoto-propaganda da marca de cigarros, David McLean, morreu por causa da doença, em 1995. “Não quero morrer disso, então parei”, conta Lucimar. O câncer de pulmão é apenas o mais conhecido dos malefícios do cigarro. O vício diminui de cinco a oito anos a expectativa de vida. Entre uma
Mais do que reforçar o alerta contra o tabagismo, esses índices também impulsionaram a ação de instituições públicas e privadas para tentar reabilitar o fumante a viver sem cigarro. O Programa de Controle do Tabagismo, parceria entre o Instituto Nacional do Câncer (Inca) e as secretarias estaduais de Saúde, alia grupos de ajuda e medicação. De 2005 a 2009, recebeu 31.814 pacientes para uma primeira consulta, de avaliação clínica, no Rio Grande do Sul. A partir daí, os números vão se reduzindo, à medida em que o vício vai derrotando quem tenta abandoná-lo. Destes 31 mil iniciais, 27.137 fizeram a primeira sessão de tratamento, e somente 19.149 chegaram à quarta e última. O saldo dos que conseguiram efetivamente parar de fumar ainda é tímido: 11.090. Em Caxias, os resultados são melhores. O programa atendeu, no passado, 169 pessoas em primeira sessão. Na última, o número caiu para 112, e 89, ou 79,5% dos que completaram o tratamento, deixaram de ser tabagistas.
Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.
A psicóloga Liliana Filippini e fazem esse trabalho social. Ele observa o pneumologista Wilson Spiandorello que, embora o compartilhamento de são exemplos dos defensores ativos de experiências seja um método que dá um mundo livre do cigarro e das doen- resultado, muitas pessoas que buscam ças causador ele. Há oito anos, o casal o serviço ainda não estão preparadas criou o Grupo Interdisciplinar Anti- deixar de fumar. “Na maioria das vetabagismo (Giat), que zes, eles chegam deatende gratuitamente, sesperados. Segundo pelo SUS, no Ambula- “Na maioria nosso banco de dados, tório Central da UCS. apenas 33% retornam Cerca de 900 fumantes das vezes, para a segunda conjá passaram pelo grupo, eles chegam sulta. Acredito que seja que estabelece metas de desesperados. porque eles esperam redução progressiva do Porque por um remédio que os consumo do tabaco. cure”, diz Daniel. O programa é reali- esperam por Na reunião da última zado por estudantes de um remédio terça (19), apenas três Psicologia e Medici- que os cure”, pacientes comparecena, sob supervisão dos relata Daniel ram, todas mulheres. coordenadores. Todas Uma delas era Caras terças e sextas, às mem, que frequenta 13h30, os pacientes trocam experiên- o grupo há dois meses. Por enquancias sobre o cigarro em suas vidas. Os to, pelo menos, ela amenizou o vício: grupos são abertos. O diferencial é de 40 cigarros por dia, passou a uma que cada paciente recebe atendimento média de 16. Seguindo o mesmo tratapersonalizado. É acompanhado pelo mento, a comerciante Hulda Elizabeth mesmo universitário durante todo o Reichert, 54 anos, conseguiu cortar o tratamento, o que cria uma relação de cigarro após quatro décadas de convicumplicidade no processo. vência diária. “Eu conto por semanas. Largar o cigarro, porém, exige com- Com oito, parei de fumar”, diz ela. Na prometimento e muita força de von- primeira sessão, fumava em torno de tade. “Tem gente que vem aqui e acha 30 cigarros por dia. Quando reduziu que, se tomar um remédio, em 10 dias para cinco, começou o uso de reméestará curada”, conta Wilson. Ele diz dios. “Às vezes, chega a juntar água no que, para se considerar ex-fumante, canto da boca”, relata, com um misto uma pessoa deve ficar um ano sem co- de saudosismo e alegria por ter conselocar um cigarro na boca. Como esse guido vencer a tentação de fumar, mesperíodo é superior ao da duração de mo que a vontade perdure. Hulda vai a cada grupo, em três meses é entregue ambientes com fumantes sem maiores um certificado para a pessoa que lar- problemas, mas revela que ainda sente gou o vício. No ano passado, 21% dos a falta do cigarro. “Este vai ser o meu participantes conseguiram receber o carma pra vida toda”, lamenta. documento. Daniel Barazzetti, 21 anos, aluno de No Centro Especializado de Medicina, é um dos 12 estudantes que Saúde (CES), outra iniciativa contra o
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cigarro, criada em 2005, fará na terçaUm programa semelhante ao feira (26) o primeiro encontro de seu do CES é realizado pelo Instituto de 24º grupo de fumantes que tentam sair Previdência e Assistência Municipal dessa categoria. O Grupo de Aborda- (Ipam), voltado aos seus associados. O gem e Tratamento do Tabagismo tam- De bem com a vida sem o cigarro, cobém trabalha com a conscientização ordenado pela psicóloga Neuza Pereira pela troca de experiências e com a apli- e pelo psiquiatra João Marcos Fruet, cação de medicamentos. O processo completará seis anos no início de 2011, é composto de sete sessões, ao longo com 106 pessoas atendidas no período. de dois meses. A participação é totalCada grupo tem seis encontros, nos mente gratuita, pelo SUS. Entretanto, quais explica como funciona a dehá uma lista de espera de quase 300 pendência química e psicológica e se pessoas. esclarecem a consequências do fumo Em cinco anos de atividade, 282 fu- para a saúde. Durante o tratamento, o mantes começaram o tratamento no participante redige uma carta de comCES, e 65,24% chegaram ao final. Entre promisso apontando a data em que irá os que completaram as sete semanas, parar de fumar. “Não recomendamos a 120 pararam de fumar, representando redução parcial. Assim fica muito mais uma taxa de sucesso de 82,61% - no difícil. Quando se para aos poucos, se último grupo, com 12 pessoas, esse ín- mantém a compulsão”, explica Neuza. dice subiu para 83%. Baseados em entrevistas com paUma diferença é que, no CES, o mé- cientes, os coordenadores revelam que todo prevê uma interrupção abrupta o principal motivo para que os fumando consumo do tabaco. “Já na primei- tes queiram deixar o vício não são os ra sessão o paciente marca a data para malefícios do cigarro, mas as cobrandeixar de fumar”, diz a ças sociais. Neuza diz assistente social Eliane que eles se sentem isoZamboni. Segundo ela, “Não lados dentro das prómetade das pessoas prias famílias, tendo recomendamos que procuram o servique se retirar do espaço ço já apresentam pro- redução parcial. comum para fumar. O blemas de saúde – são Fica mais difícil. psiquiatra João compleencaminhadas pelos Quando se para ta com uma observação médicos. importante: a proibição aos poucos, se Aquém dos resuldo cigarro em órgãos tados obtidos, entre- mantém a públicos fez com que tanto, está o número compulsão”, muitas servidores mude vagas, que ainda é explica Neuza nicipais, que compõem restrito. São tratados os associados do Ipam, quatro grupos por ano, pensassem seriamente totalizando 60 fumantes. Conforme a em largar de vez o fumo. Sinal de que diretora do CES, Denara Rodrigues, há a ampliação das restrições, pretendida um projeto para abrir uma nova turma pela lei em discussão, pode aumentar em 2011, vespertino, a fim de atender decisivamente o fôlego da luta contra melhor a demanda. o cigarro.
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Fiscais e ambulantes
Jovens na faixa dos 20 anos, vindo de outros estados, faturam de R$ 30 a R$ 150 por dia com vendas no centro de Caxias
VIGIAR
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por CAMILA BOFF camila.boff@ocaxiense.com.br
or orientação superior, os fiscais da Secretaria de Urbanismo de Caxias não correm mais atrás de vendedores ambulantes para apreender produtos. Baiano sabe disso, mas como já havia sido pego outras cinco vezes, correu ao ver o carro da fiscalização estacionar ao lado da Praça Dante Alighieri, no começo da tarde de quinta-feira (14). Sem olhar para os lados, encontrou um Palio na esquina das ruas Sinimbu e Marquês do Herval e foi atropelado. O acidente resultou em cabeça, perna e braço esfolados. “Eu juro que pensei que fosse morrer”, conta, acelerando a fala carregada de sotaque nordestino. Baiano foi ao hospital sozinho, tomou os remédios e ficou três dias parado antes voltar a trabalhar. Nem precisou ir até a Secretaria pagar a multa de R$ 198 e buscar as carteiras e cintos que costuma vender, já que o fiscal desistiu da apreensão depois do atropelamento. Baiano é Edmilson Nascimento dos Santos, 21 anos, natural de Feira de Santana (BA). O vendedor está em Caxias há três anos e mora com colegas em uma casa alugada próximo à Estação Rodoviária. Ele reclama de vender somente três ou quatro peças por dia ao preço médio de R$ 10 cada. O material, conta ele, também é baiano. “Ixi, vende muito pouco. E tem que colocar um precinho um pouco maior porque o pessoal chora muito aqui, viu?” Apesar disso, não pretende trocar de ramo. Já experimentou vender óculos escuros, mas viu os produtos serem levados pela fiscalização para serem destruídos, enquanto as carteiras e cintos podem ser recuperados mediante o pagamento da multa. Mas isso deve mudar. Um projeto da Secretaria pretende repassar os produtos à Fundação de Assistência Social, que doará para
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O aumento da fiscalização do comércio informal e a promessa de medidas “mais efetivas” contra a pirataria não intimidam vendedores
entidades assistenciais. Baiano também já tentou vender guarda-chuvas em dias de mau tempo, mas acha que essa é uma venda mais arriscada. Os lojistas que expõem os mesmos produtos na portas das lojas denunciam com mais frequência a venda desses produtos pelos ambulantes. Quando não há nenhum ambulante na Praça Dante é por que um dos fiscais está por lá. Conforme o gerente de fiscalização da Secretaria de Urbanismo, Rodrigo Lazzarotto, faz parte da rotina diária dos fiscais a ronda pela praça. Primeiro, pedem que os vendedores ambulantes se retirem. Se permanecerem, os produtos são apreendidos. Os fiscais estimam que sejam 50 os ambulantes que circulam pelo Centro. Esse número deve aumentar nos últimos meses do ano com o aquecimento das vendas, quando a Secretaria passa a contar com o apoio da Brigada Militar nas fiscalizações. Conforme Lazzarotto, o progressivo aumento da fiscalização tem feito com que o comércio informal de rua diminua. “Nos dois últimos meses do ano passado, foram apreendidos 18 mil CDs e DVDs piratas. Nesses 10 meses de 2010 a apreensão foi de 20 mil”, compara. O aumento da fiscalização, no entanto, não significa que passou a ser feita de forma mais agressiva. A orientação é que os fiscais não corram atrás dos ambulantes. “Quando eu era fiscal, também corria, porque é o nosso trabalho. Mas agora a gente não corre mais por que é muito fácil derrubar uma criança, por exemplo, então queremos evitar problemas com o pedestre”, explica Lazzarotto. Porém, basta o fiscal sair do carro identificado com adesivos da Secretaria para os ambulantes correrem sozinhos, como fez Baiano. Enquanto os fiscais rondam a Praça Dante, os ambulantes se deslocam para ruas próximas ou escondem os produ-
tos em lancherias e bares de amigos. que o problema maior é a saudade de Vendedores de CDs e DVDs improvi- casa. O jovem nunca foi pego pela fissam cavaletes para expor os produtos calização. “Ainda não”, ressalva. Apesar – a forma mais prática para recolhê-los do temor, conta que não se imagina quando for a hora de fazendo outra coisa. O correr da fiscalização. desinteresse em sair da E mantêm o diálogo “Agora a gente informalidade é comcom os colegas para partilhado por outros não corre mais saber quando podem colegas ambulantes. retomar seus postos. por que é muito Preferem a liberdade Baiano lamenta o que fácil derrubar de poder voltar para a chama de invasão de uma criança, terra natal sempre que vendedores de outras a necessidade ou a vonqueremos evitar cidades, normalmentade mandarem. te no fim de ano. Mas problemas com Em Caxias, a criação ele próprio já tentou o pedestre”, diz da Associação Camel se aventurar em outras Lazzarotto Shopping Tropical, o clientelas. Porém, mal Camelódromo, serviu chegou a Gramado e para abrigar ambulanfoi parar na delegacia. “Lá a fiscaliza- tes que queriam se tornar comerciantes ção é forte mesmo. Me colocaram num formais, em 1993. No entanto, a iniciaônibus e me mandaram de volta”, re- tiva não representou o fim da venda de lembra. produtos falsificados por alguns deles. A uma quadra de distância, um ven- A mais recente atitude para coibir esse dedor de colchas e mantas esperava o tipo de crime foi tomada no último dia fiscal ir embora da praça. Alto, magro 13. As secretarias de Desenvolvimento e visivelmente tímido, resumia sua téc- Econômico, Trabalho e Emprego e de nica de venda a abrir um produto que Urbanismo atuam junto com o Minisimaginava combinar com o possível tério Público para tentar resolver o que cliente. Colchas de personagens infan- o chefe de fiscalização classifica como tis para mães que se aproximavam com “um caos em relação à pirataria”. Em crianças, mantas de sofá com estam- reunião com a associação que reprepas de flores para senhoras. Natural senta o Camelódromo, foi explicado da Paraíba, 21 anos de idade, há cin- que medidas mais efetivas seriam toco o jovem trabalha como ambulante. madas. As principais são a apreensão Chegou em Caxias há dois meses, de- do material, principalmente CDs e pois de uma temporada na terra natal DVDs, e a cassação do direito de uso e uma passagem por Goiás. Ele vende do ponto comercial, o que implicará pelo menos 10 peças por dia, a um pre- no fechamento da banca. Resta saber ço médio de R$ 15. “Aqui vende bem, se a advertência terá efeito por si só. A principalmente no fim do ano, mas medida de evitar a perseguição de fistodo mundo pechincha”, garante. Ape- cais e ambulantes foi adversa. Baiano, sar de achar que compensa trabalhar por exemplo, vai continuar correndo em Caxias, o ambulante pretende con- da fiscalização. E não importa que a tinuar por aqui somente até fevereiro. rua esteja vazia, agora ele só confia na “Aqui é uma prisão, não dá pra sair e luz verde da sinaleira de pedestre. “Tá eu sou muito festeiro”, argumenta, re- loca, moça? Esqueceu que eu podia ter clamando da violência. Mas admite morrido? Alguma coisa eu aprendi.”
Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.
Ao redor do comício
DA EMOÇÃO À INDIFERENÇA Enquanto muitos caxienses vibravam com Lula e Dilma, outros faziam compras no mercado deserto, desciam os barrancos do parque de bicicleta ou celebravam sua religião
nquanto organizadores colocam lonas com logotipos da campanha petista no palco, levantam os três telões localizados ao longo da Rua Alfredo Chaves e no estacionamento da prefeitura e colocam contenções para limitar a circulação de público no comício da presidenciável Dilma Rousseff (PT) em Caxias do Sul, a quinta-feira (21) segue quase que como outro dia qualquer no Centro Administrativo. Às 15h45, não é possível, a cerca de 300 metros do palco, instalado quase na esquina com a Rua Os 18 do Forte, escutar o jingle que toca incessantemente – Meu Brasil querido, vamos em frente sem voltar pra trás.... Na prefeitura, o atendimento segue normalmente, e o saguão está movimentado. Mas um evento que
disso aí”, conta o vice. O prefeito vistoriou obras da administração municipal durante toda a tarde. Na frente da prefeitura, skatistas aproveitam o tempo bom e a falta de veículos para praticar o esporte no meio da rua. A Andrade Neves, paralela à Alfredo, recebeu dezenas de brigadianos e entregadores de panfletos, graças ao tráfego intensificado. Na rua do comício, vendedores ambulantes aguardam a chegada de militantes sentados no meio-fio. Os primeiros apoiadores da campanha petista chegariam logo depois, às 16h50, minutos antes do início do que se tornaria uma acalorada sessão na Câmara de Vereadores, perto dali. Até então, a rotina seguia tranquila no Legislativo caxiense. Mais cedo, a Comissão de Saúde e Meio Ambiente havia se reunido e discutido a aparentemente
Zélia só queria ficar o mais perto pos- na homenagem ao Dia do Evangélico sível. “Vou ter um ataque de felicida- – e o vice-prefeito Alceu está lá, conde e dar um grito enorme quando ela forme o prometido. Do lado de fora, chegar: ‘Dilma, eu te amo’”, planejava bem diferente do respeitoso silêncio Zélia. dos evangélicos duranMãos já haviam sido te as intervenções dos apertadas e crianças “Conversei com pastores no plenário, beijadas em frente ao o Sartori hoje de os ciclistas Eduardo palco quando três ôniBaldasso, Luiz Otávio manhã e ele não bus encerram a viagem Roxo e Fernando Guisde de São Francisco quer nem saber so dos Reis conversam de Paula a Caxias, tra- disso aí”, contou no estacionamento da zendo pessoas para o o vice-prefeito prefeitura. Eles se encomício. Os veículos contraram por acaso. Alceu, que estacionam, depois da Luiz Otávio saiu de chegada do governa- recusou convite casa para descobrir a dor eleito Tarso Genro ao palanque razão do barulho e viu (PT) e de outros cabos os amigos. O trio aproeleitorais, na Rua Sanveitou, então, para destos Dumont, às 19h30, juntando-se a cer de bicicleta os barrancos do Parque outros oito ônibus. O volume do som dos Macaquinhos. Enquanto combinado comício já está muito mais alto ago- vam a aventura, nem percebiam o telão Fotos: André T. Susin/O Caxiense
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por ROBIN SITENESKI robin.siteneski@ocaxiense.com.br
O comício, com 8 mil pessoas, foi alvo de comentários dos vereadores na sessão da Câmara, que começou vazia e depois foi tomada por evangélicos reuniria quase 8 mil pessoas lá fora interminável greve dos médicos. Mas também tem suas consequências lá durante a plenária, que começou com dentro: da indiferença à mobilização. poucos vereadores – o que não chega Em seu gabinete, o vice-prefeito, Al- a ser incomum –, o vereador Ari Dalceu Barbosa Velho (PDT), despacha. legrave (PMDB) trouxe o comício à “Claro que não vou ao comício. Saio pauta, acusando o presidente de usar daqui a pouco e vou a máquina pública para para a casa me arrumar realizá-lo. As bancadas para a sessão solene na “Tinha até do PT e do PC do B Câmara”, explica, refe- curiosidade para partiram para a defesa. rindo-se à homenagem Tudo isso para um púver o presidente, ao Dia do Evangélico, blico de oito pessoas. em que representaria o a cor da pele, Espremida contra a prefeito, José Ivo Sarto- do cabelo, a grade que separava o ri (PMDB). “Chegaram altura, mas vim público do palco do a pedir”, revela Alceu, comício, a vendedora para conversar desconfortável, ao conde doces Zélia Alves da tar que naquela manhã mesmo”, disse Rosa, 75 anos, não estaas petistas Marisa For- Marcia no parque va ali a trabalho. Quemolo, Ana Corso e Deria garantir um bom nise Pessôa fizeram um lugar, à medida em que apelo para que ele participasse do ato a movimentação aumentava nos detecde campanha. O gabinete ao lado está tores de metais usadas para controlar vazio. “Conversei com o Sartori hoje a segurança na entrada. Os ambulantes de manhã e ele não quer nem saber em atividade tinham que ficar de fora.
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ra. O motorista Fernando Brusch reclama do fato de ter que trabalhar esta noite. “Não ganhamos hora extra. Preferia estar em casa com minha família.” Fernando não veria o comício. Com dois colegas motoristas, pretendia encontrar um lugar para jantar e depois assistir a um filme em um dos ônibus para passar o tempo. A poucos metros dali, Iva Maia levava compras de supermercado para casa, na Rua Carlos Giesen. “Nem olhei para o comício, mas espero que não atrapalhe meu sono.” Um lugar tranquilo, apesar de próximo, eram os corredores do Zaffari em frente à prefeitura. O estacionamento do mercado esteve praticamente vazio durante a tarde toda. A uma hora do fechamento, o fiscal de caixa Cristiano Nicola faz um balanço do dia. “O movimento ficou uns 90% abaixo do normal.” Às 20h15, a situação é outra na Câmara. Os 180 lugares estão lotados
às suas costas, que transmitia ao vivo o discurso de Dilma Rousseff (PT). Os adolescentes que jogam basquete na quadra ao lado também parecem não se importar com o comício. Tampouco as pessoas que caminham no parque ou jogam futebol de areia. Marcia Alves chegou aos Macaquinhos às 18h para tomar chimarrão com a irmã e um amigo. “Na verdade, tinha até curiosidade para ver o presidente, a cor da pele, do cabelo, a altura, mas vim para conversar mesmo.” No comício, o presidente Lula foi o último a falar. Logo em seguida, os ambulantes puderam aproveitar a fome daqueles que não queriam perder o lugar ou estavam muito eufóricos para comer durante os discursos; motoristas interromperam a sessão de cinema – esperavam que o evento terminasse uma hora mais tarde; e militantes tiveram muito o que falar sobre o dia em que viram o presidente e sua favorita para a eleição.
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Bastidores carnívoros
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A VIDA NO
Sangue frio é um dos requisitos para quem trabalha no mecanizado abate humanitário – como é chamado o processo nos abatedouros – de frangos e porcos
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MATADOURO
por VALQUÍRIA VITA valquiria.vita@ocaxiense.com.br
no tanque, se abaixa e, num movimento rápido, abre um buraco da largura da faca na jugular do porco, de onde jorra muito sangue. De um suíno de 90 quilos saem quase três litros de sangue. Percebendo o espanto de quem o assiste, Fenner tenta descontrair, oferecendo a faca e perguntando: “Querem experimentar?”.
rápido e certeiro o golpe de faca que atravessa o coração do porco. Em poucos segundos, o animal perde a vida para ter uma única utilidade, a de virar alimento. Minutos antes, ele dormia calmamente na chamada pocilga de descanso. O recinto, com 10 porcos confinados em jejum desde a Faz 10 anos que Fenner mata noite anterior, fica em um abatedou- porcos. Enfia a faca em 30 corações por ro de suínos em Santa Lúcia do Piaí, semana. “Não é qualquer um que serve em meio a montes verdes onde reina para esse serviço. Não é qualquer um a tranquilidade. O verde só é quebrado que consegue”, diz. Ele não tem como pelo branco das paredes do frigorífico contabilizar quantos porcos já matou: e das roupas dos funcionários do abate, “Impossível saber. Muitos”. que estão lá fora às 8h da manhã. O abate dos porcos é o sustento da Tudo está pronto. O proprietário, família. “Se tiver pena, eles ficam viMarcelo Fenner, 32 anos, aproxima- vos”, resume Fenner, um homem de se da pocilga sorrindo. Os porcos se poucas palavras. Sua mulher, Elisete, agitam. O homem começa a assoviar e 29 anos, não tem o mesmo sangue frio bater palmas, de forma a atraí-los em do marido. Nunca matou um porco. direção a um corredor. Alguns não “A parte de fincar a faca eu não tenho andam, e Fenner dá um tapa em seus coragem”, conta. Ela manuseia o anitraseiros. “Tapa não”, diz alto Daniela mal quando já está morto. “O serviço Jacobus, diretora do serviço de inspe- é cansativo”, explica, enquanto retira as ção da Secretaria da unhas do pé de um porAgricultura, Pecuária e co com uma faca. Ao Abastecimento de Camesmo tempo em que xias. “Um tapinha não “A parte de Elisete fala, carcaças fincar a faca dói”, responde Fenner. vão sendo levadas por Desajeitados, os ani- eu não tenho ganchos através da sala mais formam uma fila coragem”, do abate, mas a mulher, e seguem pelo correacostumada com o cedor da morte. Subi- conta Elisete, nário há seis anos, não tamente, o porco da que trabalha parece notá-las. “Não frente empaca, fazendo nas etapas se deve ter pena. Se ticom que todos atrás posteriores à ver pena é pior”, diz ela. dele se empurrem. CoNinguém conversa. meça aí um desespero morte do porco Só se ouve o barulho até que todos os bichos das correntes que ercheguem, arranhandoguem os cadáveres. se e grunhindo, no final do corredor. Nove pessoas trabalham na sala. Há É nesse espaço que ocorre a chama- um cheiro ruim. O mesmo odor que da insensibilização. Pela lei do abate havia nos porcos lá fora enquanto deshumanitário, que garante o bem estar cansavam, somado agora ao cheiro de dos animais da recepção até a sangria, sangue. eles devem estar desacordados quando Depois da sangria, Fenner coloca forem mortos. No caso do porco, o que o corpo do animal em um recipienacontece é um choque, feito por um te com água quente hiperclorada, na aparelho com dois eletrodos, que são chamada escaldagem, por cinco minuencostados entre as orelhas. Antes da tos. Esse banho facilita a remoção de insensibilização, o dono do abatedouro pelos, unhas e cascos, além da sujeira dá uma mangueirada nos animais. A do couro. Depois disso, ele é raspado água, além de limpar e acalmar, ajuda e depilado com facas. O porco morto, na condução da eletricidade. que vai subindo pelos ganchos, fica Fenner retira o aparelho da parede, cada vez mais branco. A cabeça é retiescolhe o porco mais próximo e dá nele rada, e o corpo é serrado ao meio por um choque que o faz, imediatamente, um homem que se equilibra em uma deitar-se no chão. O choque provoca escada. O mesmo funcionário retira os epilepsia, que impede a atividade me- órgãos do bicho. As vísceras são jogatabólica cerebral – ou seja, neutraliza das em uma rampa e escorregam para a dor. O bicho tem espasmos invo- a sala de inspeção. Serão utilizadas na luntários por alguns segundos. Com fabricação de embutidos e remédios. O a cena, os outros porcos, que antes pâncreas do porco, por exemplo, é usaespalhavam-se pelo local, juntam-se do na produção de insulina, que será em um aglomerado e, embora sejam utilizada por diabéticos. O homem reconsiderados uma espécie barulhenta, tira coração, pulmão e fígado com as ficam em silêncio. O porco desacorda- mãos e os arremessa em uma baixela do tem a pata traseira pendurada por de inox. A carcaça do suíno vai então uma corrente. Ele é levado para dentro para refrigeração, e mais tarde sua cardo abatedouro, onde é erguido de ca- ne é cortada em pedaços. beça para baixo. A porta se fecha. O choque é o suficiente para desaNão se abate sem fiscalização. cordar um porco por cinco minutos. O controle pode ser municipal (se o Mas, para não se correr o risco de que local vende carne para o município), ele acorde antes, o animal é morto em estadual (se for para o Estado) ou fede30 segundos. É Fenner o responsável ral (se for para o Brasil e outros países). por enfiar a faca no coração do bicho, Se não há fiscalização, o abatedouro é o que, de uma forma menos assustado- considerado ilegal. ra, é chamado no abate humanitário Todos os dias há abate de animais de sangria. Ele pega a faca, que estava em Caxias do Sul, que se destaca pela
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O primeiro passo é pendurá-las, assim como os porcos, de cabeça para baixo, pelas duas patas traseiras, em espécies de ganchos que as carregam até o final da produção. O trajeto que inicia ali parece não ter fim. Na primeira parte as aves vão ainda vivas, emitindo sons e soltando algumas penas. Elas têm suas cabeças mergulhadas em um tanque eletrificado com 45 volts. Os choques as deixam inconscientes, e o barulho vai cessando. Depois, uma serra circular faz a sangria, cortando jugulares. Há um funcionário responsável por observar as aves depois desse processo e conferir se o golpe da serra foi perfeito. Vez ou outra, o empregado usa uma faca para corrigir o corte feito pela serra. As galinhas vão para um tanque de água aquecida a 60ºC, o que facilita a retirada das penas, feita por uma máquina. Além de ter calor, barulho e odor forte, a produção do abatedouro de frangos é úmida e escorregadia. Chega-se ao local onde as vísceras das galinhas são removidas. Uma sala enorme, com umas 50 pessoas que trabalham muito rápido, sem conversar e sem se distrair. As galinhas não param de passar nos ganchos. A cada 50
mente embalados e seguem para a refrigeração. Na sala de pés, as patas são selecionadas em A e B. Se possuem algum calo, mancha ou fratura, são B. Se estão perfeitas, são A. Todas são exportadas. Depois das vísceras, funcionários aspiram, com sugadores como os da cloaca, os pulmões das galinhas. E, ao final desse processo, as aves perdem as cabeças, que não são cortadas, mas arrancadas. As cabeças são separadas dos corpos ao passar por um ferro, que as retém. Enquanto isso, os ganchos seguem com o que restou. As aves mortas são levadas a tanques com água fria, onde ficam por uma hora, o que faz com que sua temperatura caia a 7ºC. Uma parte vai inteira para a sala de resfriamento, e outra parte segue para outro setor, onde os corpos são separados em pedaços. Essa sala é maior, mais arejada e silenciosa. Os funcionários até conversam. Alguns estão sentados, sérios, em seus descansos de 10 minutos, tempo controlado por um relógio colocado na parede. Os empregados desse pavilhão trabalham em horários diferentes dos encarregadas pela retirada das vísceras. “Eles nunca se encontram”, diz Adriana. O primeiro passo ali é separar as coAndré T. Susin/O Caxiense
exportação de suínos e aves. Os mata- Daniela. douros municipais abateram, de janeiSuínos e aves recebem um choque, ro a setembro deste ano, mais de 112 enquanto ovinos e bovinos levam um mil aves, 3,9 mil ovinos e 2,6 mil suí- tiro de pistola pneumática entre os nos. Os dados da Superintendência Fe- olhos, que os deixa desacordados. “Não deral da Agricultura, Pecuária e Abas- é gerar sofrimento a mais, é para não tecimento no Estado – que fiscaliza, fazer sofrer. Tudo hoje é considerado além de Caxias, outras para que o animal não 52 cidades – impressofra”, diz Daniele Rosionam. No ano pas- “Os países drigues Siqueira, vetesado, foram abatidos importadores rinária da Secretaria da mais de 104,8 milhões exigem saber Agricultura. Os únicos de frangos. E, apesar bichos não insensibilide você provavelmen- como os animais zados na hora da sante comê-los apenas no foram abatidos. gria são os que fazem Natal, mais de 5,3 mi- Os bichos não parte do processo Halal, lhões de perus foram sentem nada”, que serão exportados mortos. No mesmo para países de tradição período foram abati- assegura muçulmana. São dedos mais de 40,2 mil Luiz Carlos golados acordados. Os bovinos e 39,5 mil ovicompradores exigem – nos. “Os países impore estão amparados pela tadores, que para essa região são mais legislação – que o animal seja morto de 200, exigem saber como os animais dessa forma. foram abatidos. Os bichos não sentem nada. O abate humanitário é um proA cada hora, 4 mil frangos são cesso que tem que ser calmo. Todos os abatidos em um matadouro em Nova matadouros que inspecionamos têm Sardenha, Farroupilha. A extrema raesse plano de abate, e eles são penali- pidez e o mecanicismo com que os zados se não fizerem dessa forma”, diz frangos são mortos provocam mal-esLuiz Carlos Pessin, chefe regional da tar. O que pode explicar os 20% de ro-
Os frangos levam um choque na água antes de sofrer um corte na jugular. Depois, têm as cabeças arrancadas superintendência. “O Brasil tem um grande potencial. É o maior exportador de carnes do mundo”, completa. É difícil o entendimento entre leigos e especialistas a respeito do sofrimento dos animais, segundo Daniela, da Secretaria da Agricultura. Por exemplo: na Feira do Peixe Vivo de Caxias, algumas pessoas ficam horrorizadas com a forma com que os peixes são mortos, com uma certeira marretada na cabeça. “Mas, se colocasse o peixe ainda vivo num saco, ele iria morrer de asfixia, sofrendo muito mais”, compara Daniela. Mesmo considerando o dilema entre a vida dos animais e o alimento dos humanos, ela entende que seu trabalho é garantir a segurança alimentar das pessoas. O processo do abate humanitário, como no caso dos porcos, visa ao conforto dos animais, além da qualidade da carne, já que ficou comprovado que um bicho estressado no abate resulta em carne mais dura e com gosto diferente. “Se há algum animal doente na hora do abate, esse vai por último, para não contaminar os outros. Se algum está machucado da viagem, vai primeiro, para não sofrer mais”, explica
tatividade entre os 700 funcionários da empresa. Dentro do frigorífico todos parecem iguais, vestindo calça, jaleco branco e uma espécie de touca árabe da mesma cor, que só deixa boca, nariz e olhos à mostra. “Eu não conheço os funcionários na rua”, comenta a gerente industrial, Adriana Sabadin Corrêa, que há 12 anos veste o traje branco sem se importar com ele. Abatendo dia e noite frangos vindos das localidades vizinhas, o matadouro de Nova Sardenha exporta para todo o Brasil e para outros 31 países. O gerente, Magno Milani, define um frango em três palavras: milho, soja e água. Ou seja, acredita que é feito daquilo que se alimenta. “Eu vejo o frango como uma espiga com pernas”, diz ele. “Alguém tem que fazer isso (matar os bichos) se as pessoas quiserem comer frango. É proteína”, resume Adriana. “Já viu carne mais barata que essa?”, completa Milani. Fora da empresa, as galinhas descansam em caixas empilhadas em quatro caminhões. Há 3 mil aves em cada um deles. Faz tanto calor – apesar dos grandes ventiladores – que, quando são retiradas das caixas e colocadas na esteira, elas parecem atordoadas.
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minutos de trabalho, cada funcionário ganha 10 minutos de descanso. O turno dura oito horas.
xas das aves, o que é feito com fortes golpes de faca, desferidos por homens. As mulheres fazem a próxima parte, cortando, mais suavemente, as asas. Os primeiros trabalhadores O que é cortado cai em uma esteira e – grande parte são mulheres – abrem vai para embalagem. O mesmo ocorre rapidamente as traqueias das aves com com o peito das galinhas. A cada duas uma faca. Os seguintes extraem as horas, as facas são trocadas e esterilicloacas, com uma espécie de sugador. zadas. Cada funcionário tem as suas. Quem faz isso precisa Adriana diz que não é utilizar protetores de comum ocorrerem aciouvido por causa do “Alguém tem dentes. ruído do aparelho. De- que fazer isso Na última etapa pois, há funcionários executada nessa sala, se as pessoas responsáveis por enfiar sobram, penduradas, as mãos, cobertas por quiserem comer apenas as carcaças das luvas, dentro do cor- frango. É galinhas. Assim como po das galinhas para proteína”, lembra todo o resto, elas não retirar as vísceras, que desperdiçadas. Adriana, gerente serão ficam penduradas para Seguem para a fabrifora. O que se aproveita industrial do cação de embutidos, vai para a sala de em- abatedouro como mortadelas e salbalagem. Há mulheres sichas. encarregadas de puxar Treinados diretao coração, e outras, o fígado. O que mente na prática, os funcionários de não se aproveita para consumo huma- todos os setores do abatedouro pareno, como as vísceras, vai para o setor cem trabalhar com a precisão e o ritde graxaria, onde virarão farinha para mo de máquinas. Mas provavelmente ração animal, junto com o sangue e as passam todo o expediente pensando penas. Assim que corações e fígados em assuntos mais amenos enquanto chegam na sala de moelas, são rapida- dilaceram uma galinha. 23 a 29 de outubro de 2010
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Mauro De Blanco (1923 - 2010)
Morto na última terça (19), vítima de um infarto, o fotógrafo Mauro De Blanco deixa para Caxias o legado de quem dedicou a vida ao registro da história. Na foto ao lado, de 1962, ele registrou os bastidores do Teatro da Aliança Francesa - Zilá de Azevedo maquiando o marido Renan Falcão de Azevedo. As fotos dos palcos caxienses também integram o acervo doado ao Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, em 1987, por ocasião da exposição comemorativa aos 50 anos de carreira do artista. Na época, Mauro recém havia parado de fotografar. Conforme Pablo Lopes De Blanco, filho de Mauro, as fotos do Arquivo - paisagens, retratos e fotos publicitárias, um apanhado das diversas fases da fotografia de Mauro - estão sendo organizadas para uma exposição especial em homenagem ao artista.
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O ADEUS PABLO HERNÁN BALLESTEROS
m amor não deveria existir às cruéis despedidas mudas. Quando a viu, na estação ferroviária, depois de tantos meses de separação e ausência, entendeu, pela leitura rápida que fez do seu rosto, que este encontro era a despedida final. O beijo, antigamente caloroso e úmido, cheio de saudades e de verões com calores soltos, desta vez foi uma insossa resposta à sua ternura. Era igual a um velho anúncio pregado, sem graça, no portal de qualquer igreja abandonada, por algum coroinha de fé aposentada. Aqueles olhos pareciam estar de luto; os cílios cobriam as luzes que em outros tempos, de noite ou de dia, brilhavam famintas de desejos. Hoje estavam como mortalhas pretas sobre uma viúva jovem. Mais pareciam viajantes cansados de caminhar, observando a mesma paisagem. E, por último, os lábios asilavam um sorriso já nascido morto. Todo o corpo de Angélica estava envolto num silêncio estranhamente assexual e as mãos, outrora pequenas ciganas dançando promessas de paixões futuras no proscênio de seu corpo, agora modelavam um vazio pesado e tormentoso como aquele dos adeuses que os amantes se dão sem aviso. Edgar tomou-lhe as mãos com a eterna e suave ternura que costumava cobrir sua nudez nas noites nupciais do passado.Desejava falar-lhe que todas as horas tricotadas nervosamente na solidão haviam sido como grades de cadeia perpétua de castidade. Do fundo da alma lutava por gritar e escrever-lhe no cérebro
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Mauro De Blanco, Arquivo Histórico Municipal de Caxias do Sul João Spadari Adami, Divulgação/O Caxiense
que sem ela era como viver caminhando entre troncos sem vida e queimados de uma selva de calendários; ir e vir sem esperança de encontrar aquelas ribeiras líquidas de seus lábios, nem a luz lunar de seu olhar. Com um abraço infantil e equatorial, apertou-a em seu peito, sentindo o tremor amoroso dos seios batendo no sofrimento de seu sangue. Tomou, como se toma um copo de água benta, seus curtos cabelos e depositou em seus abismos toda a dor do amor estraçalhado. Não falou nada do universo de emoções que se golpeavam em sua boca. Só conseguiu falar de coisas comuns, de circenses fenômenos sociais e de assuntos cotidianos sem importância e sem transcendência. Tudo tão distinto e desigual a seu amor! De sua garganta surgiram frases sem sentido, mal construídas e alinhavadas, enquanto caminhava nervoso para o seu apartamento. Olhando bem no fundo de seus olhos, onde estavam refletidos todos os segundos intelectualizados de ternura que construíram juntos, não achou senão lagoas salgadas, nas quais lágrimas se afogavam quase anônimas como se renunciando o passado, para por fim se libertarem e navegarem, sem a tripulação de lembranças, a outras praias, a fim de encontrar a companhia de gaivotas marinheiras, que as ajudassem a encontrar seu paraíso. Falavam sem se escutar e escutavamse sem falar. Eram monólogos soltos à procura de respostas. Ambos sabiam que tinham em seus bolsos os últimos beijos e em suas malas os últimos abraços. Nenhum dos dois entendia o porquê desta despedida, mas adivinhavam que não
desejavam continuar prisioneiros desse amor quase perfeito, nascido em muitas primaveras, e que jamais deixou de nascer, justamente para nunca morrer. Este era o misterioso fantasma que envolvia seus sentimentos e que misturava as frases em orações de idioma ininteligível. Conversavam com eles mesmos, sem que seus pensamentos fossem interrompidos pelo som das palavras. - Não desejo te deixar nua nos braços da distância. Quero fazer com que minhas mãos sejam o teu castelo e meu peito o reinado de tua vida. Amo-te assim como o entardecer ama as cores que a terra coloca nas bochechas do céu. Deixar-te ou que me deixes não é um plano escrito e decretado pelo grande Arquiteto deste universo desconhecido. Adoro e sempre adorei os suspiros de quando subias acima da inconsciência sexual. E a resposta silenciosa dela a esse diálogo quase monologado: - Não desejo que me deixes abandonada no meio desta multidão que não conheço. Não quero que penetrem em minha vida outros corpos estranhos que não seja tua proa de barco aventureiro. Também te amo sem te amar. Levo-te entre o pó de minha alma todas as palavras com que me vestiste de noite e me desvestiste de noite. Será um longo caminhar por sendeiros desconhecidos e gelados sem teu calor e sem tua presença. Quando deixar de viver neste corpo físico, desejo juntar-me a teus pensamentos, para que unidos pelo cordão umbilical do infinito, possamos escrever a uma só mão o melhor poema de amor pensado pelos românticos da história. Então seremos dois poetas em uma can-
ção de boas vindas à vida eterna. No mais completo silêncio, interpretado pelo encontro de suas carnes nuas, falaram-se tantas coisas que o pequeno apartamento fechou, envergonhado, os cílios de sua janela e a boca de sua porta, não querendo ser cúmplices do injusto assassinato de um amor, nascido criança, crescido em milhares de cartas que nunca encontraram saída para viver à luz do dia. Viajaram de volta, depois de seu giro espacial, de mãos dadas, mudos e silenciosos, regressando descansados, depois de terem bebido até a última gota do licor de suas paixões. Ela mais triste e vazia. Ele mais alegre, porque andariam para sempre nos espaços de seus nervos como pequenos monstros vestidos de futuro, os beijos que havia reconquistado e que ela havia depositado com renovada ternura, depositada em sua teimosa esperança de continuarem se amando. Não sabia por que lembrava, parado na estação, os rastros deixados pelo trem, os versos de Ronsard, rindo-se das lágrimas que molhavam as nuvens do seu rosto. “Quando tu fores bem velha,/ à luz de um círio,/ dirás cantando meus versos/ e toda maravilhada: / pensar que Paul me amava,/ quando ainda era jovem...” Talvez porque o amor é um eterno deus insatisfeito, desejando criar novos universos emocionais, mais físicos e mais perfeitos. Ficou no pátio, onde vivem as estrelas, a palavra que não se falaram: ADEUS. (Jamais se saberá por que duas pessoas começam a se amar e terminam se amando)
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Santo de casa
Osso DURo DE ROER A tropa corrupta, o povo desiludido e a elite amedrontada: na miséria de uma terra sem Deus, nasce um mito brasileiro
m mesmo emaranhado de terra visto do mesmo ponto de vista. Ou quase. De um lado, Eldorado, uma certa terra do nunca, poética e caótica. Do outro, Rio de Janeiro, e seu arsenal de balas estilhaçando vidraças e vidas e interrompendo sonhos. Em Terra em Transe, de Glauber Rocha, é o olho da câmera que desvela o mar, turvo, logo depois a floresta, cerrada. Em Tropa de Elite 2, entre o espectador e o foco da câmera, há um helicóptero preto. Esse interlocutor, um falcão negro faminto, fareja o problema. Dois filmes tão distantes, não só pelo ano de lançamento (1967 e 2010), nem pela estética (um baseado na fome, que gera violência metafórica; outro, na cosmética da fome, sustentada pela virulência plastificada). Entre a poesia e o pragmatismo, o mesmo alvo: a desordem. O enredo muda, mudam os personagens. E os mesmos questionamentos,
2, a devassidão, o nojo, o jogo, as tramoias, todos os elementos presentes no cenário político, seja dentro de uma ditadura ou na mais cândida democracia. A ação de Tropa 2, que mescla tiros, movimentos de câmera ligeiros e inquietos e a voz monocromática de Nascimento narrando os acontecimentos, como se fosse a consciência de um povo (ancorado ainda na classe média) a rever seus atos e punir-se com as escolhas erradas, se contrapõe à vaguidão dilacerante de Terra em Transe. No terreno de Glauber, na enfadonha Eldorado, o foco da lente procura desvendar o que pensam todos os envolvidos com planos fechados, muitos closes, com a câmera na mão. “Nós estávamos cegos, surdos e mudos para o óbvio. Terra em Transe era o Brasil. Aqueles sujeitos retorcidos em danações hediondas somos nós. Queríamos ver uma mesa bem posta, com tudo nos seus lugares, pratos, talheres e uma impressão de Manche-
mas, sobretudo, porque não há mais em quem confiar. Nascimento, no cinema, é a construção do herói mítico. É como se ele pudesse conduzir o espectador-eleitor por um tortuoso caminho até a realidade, sem escalas. Desprovidos das alegorias de Glauber, entende Padilha, seria possível chocar o povo brasileiro. Quem sabe até promover o levante por uma democracia de fato, justa e ironicamente independente dos políticos. Utopia de fazer rir de tédio o mais prosaico e infantil espectador. Piada de mau gosto, talvez a metáfora de maior poder destrutivo. Obra de Padilha e sua trupe (criados no Bope, lugar de extremado sentimento utópico). É um Nascimento mais humano, mais suscetível aos equívocos da vida, do que em Tropa 1, e talvez por isso, mais antenado com a realidade. E mesmo assim, e talvez por isso mesmo, Nascimento tenha enfim se tornado o primeiro herói nacional, pelo menos do cinema. Herói niilista, com certo
esperança ancorada na mudança dos personagens que ocuparão o Planalto Central. Assim como Glauber, Padilha anda sendo seduzido por todas as correntes. Naturalmente, a esquerda antecipou-se, no que o diretor precisou rebater tão logo viu seu nome associado a uma lista de artistas que estão apoiadores de Dilma: “Parafraseando o filósofo americano Henry David Thoreau, gostaria de esclarecer que eu não pertenço a nenhum partido, grupo político, agremiação, sindicato ou lista de apoio a candidatos, na qual eu não tenha me inscrito voluntariamente; e que ao contrário do que certos sites e tweets têm afirmado, e do que consta em lista de apoio enviada por um grupo que apoia a candidata do PT para os grandes jornais brasileiros, eu não aderi a candidato algum nesta eleição pelos motivos explícitos em Tropa de Elite 2. É uma pena que a falta de crítica e de compromisso com a verdade esteja sendo a principal marca dos dois lados desta campanha presidencial. Alexandre Lima, Divulgação/O Caxiense
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por MARCELO MUGNOL marcelo.mugnol@ocaxiense.com.br
Tropa de Elite 2 mostra Nascimento (Wagner Moura), agora coronel, como um personagem mais humano ora mais filosóficos, ora mais tacanhos, seguem martelando a cabeça do pobre espectador-eleitor. “Qual o sentido da coerência?”, ressoa em Terra e Transe e parece reverberar na mente de Nascimento, agora coronel, como se confrontasse a própria existência diante da incapacidade contra o inimigo feroz de Tropa 2. Onde haveria coerência na tela se fora dela não existe? Como julgar o duplo em Paulo Martins (Jardel Filho), que flerta entre a direita e a esquerda (quando ainda era possível, ou pelo menos mais fácil, estabelecer essa diferença)?; ou a cegueira de Nascimento, que parece obcecado apenas em abastecer as armas do Bope, sem perceber que assim ajudaria a escória a manter-se no poder? É como confiar em Serra ou Dilma. Quem cederá mais aos encantos dos políticos? Glauber Rocha e José Padilha não têm muito em comum. A não ser um certo gosto pela acidez dos seus discursos. Os dois, no entanto, revelam, em Terra em Transe e Tropa de Elite
te. Pois Glauber nos deu um vômito triunfal. Os Sertões, de Euclides, também foi o Brasil vomitado. E qualquer obra de arte, para ter sentido no Brasil, precisa ser essa golfada hedionda”, escreveu Nelson Rodrigues após a estreia do filme de Glauber, Essa “golfada hedionda” a que se refere Nelson vem com força brutal, descomunal, em Tropa 2. E Glauber já preconizava em 1965, em palestra a respeito da Estética da Fome, em Gênova, na Itália: “não é um filme, mas um conjunto de filmes em evolução que dará, por fim, ao público a consciência de sua própria miséria”. Se em Terra a miserabilidade vem a partir da poesia que narra o transe, em Tropa, ocorre a ratificação da miséria em todas as formas e níveis, escancarados diante da nossa impotência em reverter o quadro do horror. Não só porque a violência assusta a elite, amedrontada por quem vive a margem (sustentados pela droga, pelo niilismo e pelo jogo e flerte da politicagem com os guetos),
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dom para a porrada (literal e filosófica, mesmo que tacanha) e desprovido de esperança divina. E esta parece ser a herança de Glauber desperdiçada por esse novo cinema novo que coloca as manguinhas de fora. Em Tropa 2, Deus não existe. Só aparece numa cena breve, quando a câmera presa a uma grua desvela uma ruela da favela. Lá do alto, em mais um dos muitos planos de beleza plástica que suavizam a dura realidade, na tal da “cosmética” (a que se referia Ivana Bentes, ainda em 2001, acerca dos novos filmes brasileiros que escorregavam na maquiagem da vida como ela é), aparece uma casa fechada, pintada de azul desbotado, com a marca da Assembleia de Deus. É o contraponto a uma mesma cena, vista de cima que apresenta, didaticamente, os três poderes em Brasília. É como se Padilha trocasse a esperança divina, citada sempre em Glauber (seja para questionar o uso da fé para endeusar ou canonizar políticos, seja como o único amparo ao povo), pela
Um desrespeito ao eleitor brasileiro”. Quem sai da sessão de Tropa 2 tem a sensação de que Paulo, o poeta e jornalista de Terra em Transe, amparado por muitos textos de Nelson Rodrigues, tinha razão: “o povo é um imbecil, um analfabeto, um despolitizado”. Mas e o que dizer do eleitor politizado, alfabetizado e de elevado QI, que defende uma polícia corrupta e suas milícias como única forma de acalentar suas noites tranquilas para pegar um cineminha e voltar ileso para a sua muralha de pedra, grade, arame farpado e segurança privada? E os políticos que estimulam essa bandidagem de farda, a fim de que o povo não lhes incomode mais com picuinhas desse quilate? Em Terra em Transe, a ironia destila seu veneno: “Em Eldorado não há fome, não há violência, não há miséria”. É o que diz o político da situação. E a negação do enunciado, agride o político de oposição. E vai adiantar chamar o Bope, Nascimento?
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Solange Avelino, Divulgação/O Caxiense
Primeiro passo
ALÉM DAS
QUATRO PAREDES
Caxias em Movimento permite que escolas e grupos de dança caxienses conquistem novas plateias em espaços públicos e democráticos
Acostumado a buscar prêmios em festivais de outras cidades, o Ballet Margô Brusa terá a oportunidade de dançar em casa
P
por CÍNTIA HECHER cintia.hecher@ocaxiense.com.br endure uma teia de aranha gigante no meio da Praça Dante Alighieri. Encene no Parque dos Macaquinhos uma peça de teatro de rua – em uma língua inexistente. Também pode ser teatro do absurdo. Ou melhor, seja mais absurdo: ponha uma orquestra para tocar música erudita no mesmo parque, em um final de tarde de domingo. As pessoas vão parar e assistir. Também vão lembrar que já viram algo parecido por estas cercanias. A arte causará surpresa, não estranhamento. Na Caxias da diversidade cultural, dança do ventre, flamenco, tango e hip-hop são estilos conhecidos. A dança também não novidade em Caxias. Inusitado é tirá-la dos eventos de plateias restritas e colocá-la na praça ou nos palcos para grandes públicos. O Caxias em Movimento, primeiro evento público voltado exclusivamente à dança, que encerra no dia 6 de novembro, dá o primeiro passo para que essa iniciativa se torne hábito. Na terça feira (19), quatro bailarinos da grupo mineiro Strondum foram à praça Dante apresentar o Caxias em Movimento aos passantes de um jeito, digamos assim, bem contemporâneo. Esquina entre a Júlio de Castilhos e a Dr. Montaury. Onze horas da manhã. Os bailarinos, que não emitiam o mínimo som, interagiam entre si e com os pedestres em uma dança que somente eles compreendiam. Como que atingidos, jogavam-se no chão. Saltavam uns sobre os corpos estendidos dos outros. Corriam. Rodopiavam no ar. O quarteto se une, um de costas para o outro, como uma estrela de quatro pontas. Paletós são convidados para a dança. Cada um mantinha um dos braços em seu casaco enquanto o outro ganhava a manga do casaco do companheiro ao lado. Tornaramse, assim, um só. Os funcionários das
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lojas se aglomeravam nas portas dos estabelecimentos. As crianças fitavam curiosas – seus pais, mais ainda. Duas amigas passaram os olhos pelo que acontecia. “Que doido”, comentou uma delas. E sorriu. Esse foi, aliás, o adjetivo mais utilizado por quem observava a performance do quarteto. Até as ciganas, famosas por abordarem qualquer um na rua pedindo dinheiro em troca de uma leitura de mãos, deram trégua e não tiravam os olhos do inusitado espetáculo, a sorte do dia. Enquanto o centro da cidade orbitava ao seu redor, os quatro rapazes pareciam imunes aos olhares. Desceram a Avenida Júlio em direção à Visconde de Pelotas. Pausa. O quarteto se cumprimenta e se abraça pela performance. Logo, lembram o que os levou para lá e começam novamente a correr, se jogar no chão, ficar pendurados, inclusive de cabeça para baixo, em postes de luz e de semáforos. O professor Jander Bender observava montado em sua bicicleta. “Pensei que eles iam sair correndo pela praça, mas não. É bem contemporâneo mesmo”, enfatizou Bender, integrante do público que aplaude a cena cultural caxiense, elogiando a Feira do Livro e o Caxias em Cena. Nisso, o Strondum já havia se misturado e se perdido entre as pessoas. Vindos de Uberlândia (MG), os bailarinos foram indicados pela professora da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e atual presidente da Associação dos Profissionais de Dança de Caxias do Sul (Apdcs) Sigrid Nora, que também é responsável pelo grupo de dança contemporânea ArticulAÇÕES. A parceria entre o Strondum e a prefeitura revelou um trabalho diferenciado de qualquer dança na cidade. A diretora geral da Unidade de Dança da Secretaria Municipal de Cultura, Cristina Nora Calcagnotto, explica que “eles fazem uma avaliação mais urbana e possuem o que chamam de partituras, que são alguns movimentos pré-concebi-
dos. Depois, eles se adaptam ao meio.” ção, só se houvesse um número maior O Strondum também ministrou duas de inscritos.” A baixa se deve, segunoficinas em sua passagem por Caxias: do Cristina, ao fato de escolas e gruuma para a Cia. Municipal de Dança pos serem mais voltados para si e suas (que, aberta ao públipreocupações. “Muitas co, recebeu somente vezes eles não interauma pessoa além dos “Caxias gem. Caxias ainda preintegrantes da Cia.) e cisa evoluir muito. O ainda precisa outra para o ArticulAque falta é articulação”. ÇÕES. Nelas, o quarte- evoluir muito. Cristina conta que essa to se manteve em sala O que falta é é a maior deficiência da de aula e ensinou algu- articulação”, dança caxiense e cita o mas de suas técnicas. Financiarte 2010. Apeafirma Cristina nas cinco projetos conCristina não tem Nora, diretora correram na categoria segurança da precisão da Unidade dança a uma verba de dos números conta- de Dança até R$ 21 mil. Quatro bilizados no cadastro foram contemplados. da Unidade de Dança Segundo Cristina, o da Secretaria da Cultura, mas afirma mais comum de se encontrar no ceque há em torno de 30 grupos e es- nário da dança em Caxias são escolas colas em Caxias, além dos cerca 30 particulares, contentes em apresentar Centros de Tradições Gaúchas (CTG), seu espetáculo fechado no final do ano, de um universo de 83, que possuem recebendo seus pagamentos no final grupos de dança. É para esse público do mês e vivendo isoladas na sala de que paga para dançar ou tenta viver espelhos. “Deve-se ampliar horizontes, de dança que o Caxias em Movimento não só ficar olhando. Essa é a diferença foi criado. A intenção é reservar o mês de trabalhar pela dança”, aconselha. Na de outubro dos próximos anos para a Cia. Municipal de Dança, da qual Crismostra. “O evento é para movimentar tina também é diretora, há dois profesa cidade em torno da dança”, explica sores e 10 bailarinos profissionais. ToCristina, ao justificar o nome do nosso dos vivem da dança. Não dedicam-se Em Dança. A existência desta mostra é exclusivamente à Cia., mas fazem do justificada pela necessidade de espaços dançar sua forma de sustento. Alguns para os dançarinos da cidade se apre- fazem faculdades afins, que trabalham sentarem. Os ensaios ganham mais com o corpo, como fisioterapia, mas sentido quando a plateia não é feita não exercem a profissão. só de familiares nos onerosos festivais particulares de final de ano. E sair das É assim com o Ballet Margô, salas de ensaio é a melhor maneira de há 28 anos, completados em março, viconquistar novos públicos. “Se alguém vendo pura e exclusivamente da dança. for participar de um evento ou criá- Com o costume de arrebatar prêmios lo de forma particular, gasta dinheiro por onde passa, a escola sempre prepacom espaço, em suportar a produção. ra suas alunas para o palco. De acordo Aqui é tudo gratuito, sem custo. Bem com a produtora Katherine Brusa, a pelo contrário, até recebem cachê.” avaliação de jurados, pessoas de fora, O Caxias em Movimento abriu ins- é fundamental para a evolução dos escrições durante o mês de agosto. To- petáculos. É assim que os bailarinos dos os 24 inscritos estão participando. aprendem a lidar com a ansiedade no “Não precisou ser feita nenhuma sele- palco e amadurecem a cada apresenta-
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Jonas Ramos, Divulgação/O Caxiense Carol Ferreira, Divulgação/O Caxiense André T. Susin/O Caxiense Solange Avelino, Divulgação/O Caxiense
ção. “As alunas são preparadas para se- vitrine do palco é chamariz para novos rem bailarinas. Aí pensamos: ‘será que alunos. “As apresentações são um meio vale a pena tanta competitividade?’. de estimular. Assim se tem condições Participar é o que importa, vencendo de ver o que desperta emoção, o que ou não.” Para Katherine, a participa- atrai, e optar.” Para ela, esse é o prinção em um evento não competitivo, cipal ganho do Caxias em Movimento, como o Caxias em Movimento, é tão o espaço para a diversidade da dança. importante quanto. “É pelo pisar no “O bom é que não é focado em um depalco. É a melhor parte, a melhor hora. terminado gênero de dança, mas sim Elas ensaiam o ano inteiro, é puxado. E extremamente eclético. Qualquer tipo não é só nosso público assistindo. Há a de dança é bem-vindo. Isso gera uma troca, a conversa. Não é só por premia- interação muito legal”, celebra. ção”, explica a produtora. De acordo com a professora Sigrid O Ballet Margô, que em junho deste Nora, o movimento de dança em Caano trouxe 15 prêmios do 8° São Leo- xias é bastante significativo. “Profissiopoldo em Dança, também fez sucesso nalmente, se destaca a partir da décana casa de outro vizinho. As sapatilhas da de 80”, afirma Sigrid, que dirigiu o caxienses conquistaram 34 prêmios no talentoso Grupo Raízes nessa época. 18° Bento em Dança, Para ela, baseado no entre eles o de melhor desenvolvimento logrupo, principal hon- “Não é só o cal, a cidade merece tal raria do festival. Ao nosso público evento. “O público se atingir a maioridade, o beneficia pela oportuassistindo. Bento em Dança, que nidade de conhecer e já nasceu competiti- Há a troca, a estar em contato com vo e regional, se firma conversa”, a dança. E os ingressos como grande palco afirma Katherine são acessíveis (gratuipara onde migram baitos). Para mim, isso é Brusa, sobre larinos e coreografias democratização.” caxienses e de tantos o Caxias em Sigrid também é dioutros cantos do mun- Movimento retora do grupo Articudo. Neste ano, foram lAÇÕES, da UCS, com 240 escolas e 4.960 bai11 bailarinos. A arte larinos que se dividiram em 680 core- do grupo é a dança contemporânea, o ografias na mostra competitiva e cerca gênero mais difundido na cidade, de de 250 em um palco alternativo. Uma acordo com ela. Para a diretora, apredas assessoras de imprensa do even- sentações, não somente no Caxias em to, Vanessa Birk, afirmou que grupos Movimento, mas em qualquer evento de Bento Gonçalves são a menor fatia que ocupe espaço no cenário cultural, do bolo, não representam nem 2% do são significativas. “Sempre é passo que elenco do festival. No entanto, a cidade contribui para formação de plateia”, é roteiro respeitado no cenário da dan- avalia. ça nacional. Escolas de dança do ventre, como De acordo com Vanessa, o que se a Hayet e a Rakaça, são populares em ouvia de jurados e professores era a terras de colonização italiana. A bailacaracterística de aglutinar bailarinos e rina da Hayet Fabiana Patrícia Calloni um aprender com o outro. A competi- explica que o início veio com o sucesção fica em segundo plano. “Uma crí- so da novela O Clone. “E não foi fetica de dança disse que nos ensaios os bre, esta aí até hoje, bem difundida na dançarinos só olham para si, defronte cultura caxiense”, aponta. Ela vê com ao espelho. Numa mostra, há a possi- animação a iniciativa do Caxias em bilidade de olhar outros grupos e ter Movimento. “É perfeito! Caxias não diferentes pontos de vista. É a possibi- tem muita coisa para dança. Espero lidade de ver no outro a si.” De acor- que alcance mais edições. Quem sabe do com Cristina Nora, transformar o a gente não ganha o nosso Bento em Caxias em Movimento em competição Dança?”, sonha Fabiana. não faz parte do repertório de intenções da Secretaria Municipal da CulO encerramento do Caxias em tura: “Por enquanto, não visualizo isso Movimento será realizado em duas nem para o futuro. Vai se manter neste partes. Primeiro, ocorrerá a entrega formato de mostra.” O estímulo à par- de troféus de participação e certificaticipação, então, é a oportunidade de dos, na terça (26), a partir das 19h, no mostrar trabalho e, quem sabe, atrair Boteco 13. Porém, o evento vai adiante mais discípulos. e tem seu ponto final somente em noÉ o que acontece, por exemplo, com vembro, com a apresentação Dar Cara escola de flamenco La Cueva. Segun- ne à Memória II, que recebeu no ano do a professora e proprietária Elisabete passado o Prêmio Funarte de Dança da Cunha, a função da sua escola, há Klauss Vianna. É dança contemporâ10 anos, é a de formação. “É passar o nea com seis coreografias criadas por flamenco em forma de cultura.” Atual- Eva Schul. mente, a La Cueva tem três professores Entre saltos, piruetas e multiculturaque trabalham com 40 alunos, além dos lismo, o Caxias em Movimento tem a outros 70 que frequentam as oficinas pretensão de, com o passar dos anos, que a escola oferece em parceria com o ampliar seu alcance. “As inscrições foSesi, para crianças, adolescentes e ter- ram só para Caxias e região. Ainda esceira idade. “O flamenco foi caindo no tudaremos isso, mas a ideia é ampliar gosto. As pessoas procuram as aulas, para o Estado inteiro, além de investir bailarinos e músicos daqui são refe- em mais atrações de fora”, diz Cristina rência. Não precisamos mais importar Nora. Depois deste, tem um ano inteimúsicos”, explica. A base é a Espanha, rinho – e fartas opções - para aprender mas com cara caxiense. Conforme Eli- a dançar o que bem entender e pisar no sabete, há bastante público quando o palco do Teatro Municipal em 2011. La Cueva se apresenta na cidade. E a Para a cidade inteira ver.
Sem seleção, a mostra contemplou 24 grupos caxienses, de diversos estilos 23 a 29 de outubro de 2010
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Guia de Cultura
por Cíntia Hecher | editado por Marcelo Aramis
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Alma nas panelas por CÍNTIA HECHER Para ter uma noção do personagem principal de Soul Kitchen, imagine Jim Morrison: cabelão e suíça. Agora pense nele como um imigrante grego vivendo na Alemanha. Acrescente que ele é o dono de um restaurante não muito confiável, mas sempre com aqueles clientes fieis que não se importam em comer algo recém descongelado por um chef nada habilidoso. O restaurante endividado, o irmão saindo da cadeia, um amigo de infância fazendo de tudo para comprar o estabelecimento e a namorada que se muda para a China. Além disso, um mau jeito nas costas que faz o Jim Morrison andar torto a maior parte do filme. É uma comédia, mas não daquelas de gargalhar com as mãos na barriga. É a comédia do cotidiano. Claro que não soa tão comum assim ter vários destes problemas de uma vez só, mas todos são plausíveis ou, no mínimo, compreensíveis. Quem não se identificar com o coração partido de um apaixonado que tenta a todo custo manter o relacionamento mesmo que por meio de uma webcam não faz bom uso do seu próprio músculo involuntário a pulsar no peito. Para salvar sua vida e emprego, enfim, uma reviravolta. Um chef amalucado é a nova aquisição e ai de quem não apreciar seus pratos. Soul Kitchen, hein? Então, é para alimentar a alma também. Mas o que absolutamente dá certo no filme é a trilha sonora. O ecleticismo se compara à origem dos personagens. Ouve-se ritmos latinos, soul, rock & roll, black music e até música árabe com toque eletrônico. Assim o restaurante à beira da falência vira ponto de encontro badalado pelos lados alternativos de Hamburgo. Tudo poderia estar entrando nos eixos, mas nem sempre é para este lado que as coisas se encaminham, não é mesmo? A dor crônica nas costas, causada por excesso de peso de uma máquina de lavar louça grega e com funcionamento pobre, é motivo de situações engraçadas além de servir como metáfora do peso de ser imigrante. Nada é pretensioso em Soul Kitchen. Até os créditos finais são divertidos. É para ser sorvido com olhos e ouvidos atentos mas sem ambições mirabolantes. É o bom divertimento, enfim. Na sessão derradeira, a de domingo, haverá um daqueles gostosos debates onde todos os comentários são bem vindos e fontes para uma conversa sempre reveladora. Os falantes desta vez são o blogueiro, cinéfilo e querido Conrado Heoli e o curtametragista e crítico carioca Fabrício Duque. Quem ficar por lá também concorre a refeições oferecidas pelos restaurantes Per Mangiare, Granpiacer e Rech Gastronomia. l Soul Kitchen | Sábado (23) e domingo (24), 20h | Ordovás Proprietário de restaurante na zona portuária de Hamburgo, na Alemanha, vê seu negócio e sua vida pessoal irem por água abaixo. Dirigido por Fatih Akin. 14 anos, 99 min., leg..
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O Caxiense
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CINEMA l Atividade Paranormal 2 | Terror. 13h40, 15h40, 17h40, 19h40 e 21h40 | Iguatemi Na onda do sucesso do primeiro filme, um casal, seus filhos e seu cachorro são atormentados por sabe-se lá o que em uma casa de campo. Dirigido por Tod Williams. 14 anos, 90 min., leg.. l Piranha - 3D | Terror. 18h, 20h e 22h | Iguatemi Agora os peixes assassinos são liberados por um terremoto sob a superfície e vão à caça, famintos. Dirigido por Alexandre Aja. Com Elisabeth Shue e Christopher Lloyd. 10 anos, 88 min., leg.. l Hey! Blues | Documentário. Segunda (25), 20h, terça (26), 21h e quarta (27), 21h | Ordovás e Mississippi Imagens compiladas pela Spaghetti Filmes das atrações do 2º Moinho da Estação Blues Festival, realizado em Caxias do Sul em novembro do ano passado. Dirigido por Lissandro Stallivieri. 40 min.. l Dia Internacional da Animação | Quarta (27), 19h30 e Quinta (28), 18h | Ordovás Na quarta-feira (27), a conversa será literalmente animada. A Associação Brasileira de Cinema de Animação do Rio Grande do Sul (ABCA) promove bate-papo sobre animação com Lisandro Santos (Cartunaria de Desenhos-POA), André Luis Porto Macedo (Universidade de Pelotas), Frederico Pinto(Ulbra-POA), Luciana Lain (NADUCS e designer multimídia do jornal O Caxiense), Maurício Sabbi (Presidente ABCA-RS) e mais convidados. Na quinta-feira (28), diversos curtas-metragem de animação serão apresentados em sequência no Ordovás. Veja as produções nacionais: Tromba Trem - O Estrangeiro; O Acaso e a Borboleta; Doce Ballet; Quando as cores somem; Bonequinha do Papai; Musicaixa; Dias de Sol; Como comer um elefante; Voltage; O Divino, De Repente e Eu queria ser um monstro. Na lista internacional: Voa Voa num Prédio de Lisboa; Pássaros; Diário de uma Inspectora do Livro de Recordes; Kensho; Zsa Zsa Zsu; The Tale of How; Grandma Lo’A Lo’A (Hajja Lolo); HM HM; Hide & Seek; Ooga Booga Samba Mamba. Todas as atrações do evento têm entrada franca. l Vincere | Drama. De quinta (28) a domingo (7), 20h | Ordovás Benito Mussolini era só um embrião fascista quando conheceu sua primeira mulher, que passou a vida lutando para ela e seu filho serem reconheci-
Dia Internacional da Animação, Reprodução/O Caxiense
Cinema | Soul Kitchen dos. Dirigido por Marco Bellocchio. 128 min., leg.. l Cio da Terra | Documentário. Sexta (29), sábado (30) e domingo (31), 19h | Ordovás Filme que mostra às novas gerações os dias de paz e amor que atingiram a Serra Gaúcha em 1982, nos Pavilhões da Festa da Uva. Dirigido por Cacá Nazário. l Caxias do Sul: Tradição e Inovação de um Povo | Sábado (30), 17h O polêmico documentário sobre a cidade, que recebeu verba de R$ 100 mil da prefeitura com aprovação da Câmara de Vereadores, agora tem exibição gratuita. Quando em cartaz no GNC, apenas 216 pessoas assistiram ao filme. Parte das pessoas que tinham curiosidade mas não prestigiaram a produção alegaram o preço do ingresso do Iguatemi. Agora, a exibição é de graça e não há desculpa para não assistir o longa que fala da nossa história. Assista e tire suas próprias conclusões. Ordovás Entrada franca | Luiz Antunes, 312, Panazzolo | 3901-1316 AINDA EM CARTAZ – A Lenda dos Guardiões (3D). Animação. 13h50 e 15h50. Iguatemi | Comer, rezar, amar. Drama. 13h20, 16h, 18h50 e 21h50. Iguatemi | Como cães e gatos 2: A vingança de Kitty Galore. Animação. 14h10 e 16h10. Iguatemi | As Confissões de Schmidt. Comédia. Quinta (28), 15h. Matinê às 3. Ordovás | Meu Malvado Favorito. Animação. 16h. UCS | Nosso Lar. Drama. 18h30 e 21h. Iguatemi. 18h20 e 20h. UCS | Tropa de Elite 2. Policial. 14h, 15h20, 16h30, 17h50, 19h, 20h20 e 21h30. Iguatemi INGRESSOS - Iguatemi: Segunda e quarta-feira (exceto feriados): R$ 12 (inteira), R$ 10 (Movie Club Preferencial) e R$ 6 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sênior com mais de 60 anos). Terça-feira: R$ 6,50 (promocional). Sexta-feira, sábado, domingo e feriados: R$ 14 (inteira), R$ 12 (Movie Club Preferencial) e R$ 7 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sênior com mais de 60 anos). Sala 3D: R$ 22 (inteira), R$ 11 (estudantes, crianças menores de 12 anos e sênior com mais de 60 anos) e R$ 19 (Movie Club Preferencial). Horários das sessões de sábado a quinta – mudanças na programação ocorrem sexta. RSC-453, 2.780, Distrito Industrial. 3209-5910 | UCS: R$ 10 e R$ 5 (para estudantes em geral, sênior, professores e funcionários da UCS). Horários das sessões de sábado a quinta – mudanças na programação ocorrem sexta. Francisco Getúlio Vargas, 1.130, Galeria Universitária. 3218-2255 | Ordovás: R$ 5, meia entrada R$ 2. Luiz Antunes, 312, Panazzolo. 3901-1316.
Dia da Animação exibe 21 curtas
Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.
l As Aventuras no Trem da Leitura | Sábado e domingo, 16h e 20h | A viagem do trem da Cia Uerê continua. Com escalas nos clássicos da literatura nacional. Sesc R$ 10, R$ 8 (antecipado) e R$ 5 (comerciários, estudantes e sênior) | Moreira César, 2.462 | 3221-5233 l 14ª Mostra de Teatro Estudantil | De segunda (25) a sexta (29) | São 23 escolas municipais, estaduais e particulares de Caxias que apresentarão 42 esquetes. Segunda (25): E.M. José Protásio de Souza, Colégio La Salle Caxias e E.E. Galópolis. 08h15. E.M. Profª Marianinha de Queiroz e E.E. Santa Catarina. 14h15. Terça (26): E.M. Giuseppe Garibaldi, E.M. Dezenove de Abril, Colégio La Salle Caxias e Colégio Murialdo Centro. 08h15. E.M. Ramiro Pigozzi e Colégio Murialdo Ana Rech. 14h15. Cetec. 20h. Quarta (27): E.M. Fioravante Webber e Colégio Murialdo Ana Rech. 08h15. E. M. Dolaines Stedile Angeli, E.E. Galópolis, E.E. Dr. Renato Del Mese e Colégio La Salle Carmo. 14h15. E.E. Imigrante. 20h. Quinta (28): Colégio Muraildo Ana Rech, Casa do Adolescente Lefan, E.E. Presidente Vargas e E.M. Nova Esperança. 08h15. E.M. Santa Corona, Casa do Adolescente Lefan e E.E.Eng Dario Granja Sant Anna. 14h15. Sexta (29): E.E. Presidente Vargas, E.M. Angelina Sassi Comandulli e E.E. Melvin Jones. 08h15. Colégio La Salle Carmo e La Salle Caxias. 15h30 e 20h. l Além da Vida | Quarta (27), 20h30 |
EXPOSIÇÕES l 4° Salão Campus 8 | Até o dia 28, das 8h às 22h30 Sete alunos do curso de Artes da UCS, selecionados em concurso, expõe seus trabalhos de gravura, desenhos, escultura e istalações até o dia 28. No dia 1° de novembro a exposição ocupa o Centro de Cultura Ordovás. Hall inferior – Campus 8 Entrada franca l Combinações | Quarta (27), 20h | Abertura da exposição da artista plástica Karen Axelrud, que mostra traços que lembram sua primeira formação, a de arquiteta. Visitação de segunda a sexta, das 8h às 22h30. Hall Superior – Campus 8 Entrada franca | Rodovia RS-122, Km 69, s/nº | 3289-9000 AINDA EM EXPOSIÇÃO – Bez Batti – 70 anos. Bez Batti. De segunda a sexta-feira, das 8h30min às 18h e aos sábados, das 10h às 16h. Galeria Municipal. 3221-3697 | Caixas de Luz: A fotografia feita com câmeras artesanais. Myra Gonçalves. Até segunda (25), das 8h às 22h30. Hall inferior Campus 8. 3289-9000 | Impressões do Processo Litográfico. Coletiva. Até segunda (25), das 8h às 22h30. Hall Superior - Campus 8. | Cultura Tibetana nas peregrinações budistas. Ilka Filippini. De segunda a sábado, das 10h às 19h30min e domingos, das 16h às 19h.
DANÇA l Caxias em Movimento | De terça (19) a sábado (23) | Último dia do festival caxiense de dança. A entrada é franca e a entrega de troféu de participação e certificados será realizada na terça (26), às 19h, no Boteco 13. Sábado: As políticas e as produções culturais atuantes em Caxias do Sul. Pate-papo cultural. 16h30. Boteco 13 – Largo da Estação Férrea. Grupo de Pesquisa e Criação em Cultura Popular, Cia. Matheus Brusa, Essência Crew, Dependência, Endança Jazz e Cia e Núcleo de Dança Faculdade da Serra Gaúcha. 20h. Teatro Municipal.
MÚSICA l New Jazz Festival | Sábado e domingo, a partir das 15h | Primeiro evento do gênero na cidade, conjuga várias vertentes do ritmo e abre espaço para worshops. Sábado: Projeto Ccoma, DJ Negada Lucas, Mahabharata, Cia. Municipal de Dança, Projeto Panetone, Marcelinho Silva, Workshop: Circuit Bending e DJ Zonattão. | Domingo: Workshop: Jazz, com Fernando Aver, Mirta Gomez, Fernando Aver Jazz Trio, Livesoundtrack, Performance de dança Jazz Broadway, Joel Rodrigues e Alessandro Weber e Jam Session. Aristos London House Antecipados, R$ 20 (1 dia) e R$ 30 (2 dias). Na hora, R$ 25 ou R$ 35. Veja promoção do jornal O Caxiense na contracapa | Júlio, 1.677 | 3221-2679 l Loma e Carlos Catuípe | Sábado, 21h30 |
No show Loma Maçambiqueira serão apresentadas músicas do cancioneiro litorâneo. Nas letras, amor pela natureza, vida de pescador e histórias do litoral. Religião, cantigas, magia. Ordovás Entrada franca | Luiz Antunes, 312 | 3901-1316 l Rock In Concert | Domingo, 10h30 | Novamente a banda HardRockers se une à Orquestra Sinfônica da UCS e se apresenta no estacionamento em frente à UCS TV, acompanhadas pelo Coro da UCS. Serão distribuídas mudas de flores, água quente e erva mate. Se chover, corra até o UCS Teatro. UCS Entrada franca | Francisco Getúlio Vargas, 1.130 | 3218-2100 l Dan Ferretti e convidados | Quinta (28), 21h | A série Grandes Nomes desta vez homenageia Caetano Veloso e seus sucessos, como Soy loco por ti América, Debaixo dos caracóis dos seus cabelos e Alegria, Alegria. Zarabatana Entrada franca | Luiz Antunes, 312 | 3228-9046 TAMBÉM TOCANDO - Sábado: 90 Graus. Pop rock. Santo Graal. 32211873 | Ale Ravanello Blues Combo. Blues. 22h30. Mississippi. 3028-6149 | DJ Juliano Millidiu | Eletrônico. 23h. Havana. 3224-6619 | Hot Hot. Eletrônico. Pepsi Club. 3419-0900 | Izequiel Carraro. Pop. 23h. La Boom Snooker. 3221-6364 | KSamba. Pagode. 23h. Move. 3214-1805 | Libertá. Nativista. 22h30. Libertá Danceteria. 3222-2002 | Sunny Music. Anos 70 e 80. 23h. Vagão Bar. 3223-0007 | Ton & Os Karas. Pop rock. 23h. Portal Bowling. 3220-5758 | Quarta (27): Rafa Gubert e Tita Sachet. Blues. 22h30. Mississippi. 3028-6149 | Quinta (28): Marcelo Valêncio. Sertanejo universitário. 23h. Portal Bowling. 3220-5758 | Sexta (29): Andy & The Rockets. Blues. 22h30. Mississippi. 3028-6149 | Dinamite Joe. Pop rock. 23h. Portal Bowling. 3220-5758 | Los Infernales. Rock latino. 23h. Vagão Bar. 32230007 | Velho Hippie. Rock. 21h30. Zarabatana. 3228-9046.
Renato Prieto, Divulgação/O Caxiense
Dirigida por Renato Prieto, protagonista do filme Nosso Lar, a peça é baseada na obra psicografada de Chico Xavier e Divaldo Franco. Em 25 anos de longas temporadas, o espetáculo já atraiu mais de 2 milhões de espectadores. Agora, embarcado no sucesso do espiritismo no cinema, multiplica plateias. Teatro São Carlos R$ 40 (público geral), R$ 35 (antecipado) e R$ 20 (estudante e sênior) | Feijó
l Duelo de Palavras | Quarta (27), 22h | O escritor e poeta Fabrício Carpinejar bate papo com sua produtora Francesca Romani. A mediação é da jornalista Adriana Antunes. UCS Teatro Entrada franca | Francisco Getúlio Vargas, 1.130 | 3218-2100
Catna Café. 3212-7348 e 3021-7348 | Eu vivo, e você? Cristiane Marcante. De segunda a sexta, das das 9h às 12h e das 13h30 às 19h. Sábados das 9h às 15h. Galeria Arte Quadros. 3028-7896 | Frames da Dança. Coletiva. De segunda a sábado, das 17h às 21h. Galeria em Transição – Teatro Moinho da Estação. 8404-1713 | Quem é você? Cristiano Dub e Tiarle Camargo. Das 8h às 20h. Jardim de Inverno Sesc. 3221-5233.
Pandora Film, Divulgação/O Caxiense
TEATRO
Júnior, 778 | 3221-6387 l O Vale dos Sonhos | Sexta (29), 20h30 | Teatro de bonecos do Grupo Quiquiprocó, com trilha sonora ao vivo de Samuel Sodré. Menino terá que salvar a luz do arco-íris do vilão Noturno. Teatro São Carlos R$ 20 (geral) e R$ 10 (estudante e sênior) | Feijó Júnior, 778 | 3221-6387
Baseado na psicografia de Chico Xavier, Além da Vida comemora 25 anos no palco. Em Soul Kitchen, boa trilha sonora e comédia pra alimentar a alma
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Leonardo VArgas, Arquivo Pessoal, Divulgação/O Caxiense
Amor a distancia
CAXIAS DO SURF
A 170 quilômetros do mar, uma associação de aficionados do esporte tenta organizar o primeiro Circuito Caxiense de Surf
A saudade da areia é combatida pelos praticantes do surf sempre que possível, via Rota do Sol
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por ROBIN SITENESKI robin.siteneski@ocaxiense.com.br vida sobre a montanha de basalto onde se encontra Caxias do Sul não lembra em nada a calmaria e as temperaturas elevadas do litoral. Entretanto, mesmo a 170 quilômetros da praia, caxienses – que experimentam mais variações térmicas em um dia do que algumas cidades litorâneas durante o ano inteiro – insistem em praticar um esporte em que o mar é indispensável. Alguns deles integram a Associação Caxiense de Surf (ACS). No dia a dia, obviamente, os surfistas daqui se obrigam a trocar as bermudas e chinelos por vestimentas mais sóbrias. De camisa social azul, mas usando tênis em vez de sapatos, o empresário Maurício Zanatta lembra com saudade o tempo em que morou no litoral. Saudade que ele não deixa aumentar muito. Maurício não consegue ficar muito tempo longe da água salgada. O maior período que ficou sem surfar foi por um mês, um mês e meio. “Passo no máximo um final de semana em Caxias. A gente dá um dedo para ir à praia.” A paixão de Maurício pelo surf começou cedo. Aos oito anos, ganhou uma prancha dos pais durante as férias e aprendeu os primeiros passos do esporte com surfistas nativos. Desde então, coleciona aventuras no mar. Ou melhor, nos mares. Uma das histórias preferidas dele ocorreu na Indonésia, onde machucou a mão surfando e teve que passar limão no ferimento para curá-lo. “Surfar oxigena o cérebro, sei lá. Você não sabe o que está acontecendo do teu lado e está ali na água sem tocar o solo. Depois de surfar, saímos
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da água diferentes”, filosofa. Para os surfistas caxienses, acessar sites que mostram as condições das ondas, mesmo sem poder aproveitálas, é obrigação diária. Nas reuniões da associação, além de questões administrativas da entidade, as discussões sobre os equipamentos de surf são comuns. “Faz parte do dia a dia perguntar que quilha e que leash (a cordinha que prende a prancha à perna do dono) comprou”, afirma o presidente da ACS, Leonardo Vargas. Sem o bronzeado típico dos surfistas, os integrantes da Associação Caxiense de Surf criaram a entidade para organizar viagens para surfar, tentar conseguir um cartão de descontos com postos de gasolina, surf shops e restaurantes e, o mais importante, concretizar o primeiro Circuito Caxiense de Surf. A competição, que de caxiense só teria o nome e os concorrentes, daria visibilidade à ACS e atrairia atenção para o esporte na cidade. “A intenção é fazê-lo no segundo semestre de 2011”, anuncia Leonardo. A associação fez sua primeira assembleia geral em março do ano passado. Como ainda não tem sede própria, os surfistas se encontram na loja que Maurício gerencia, a Bali Móveis e Decorações, ou em bares da cidade. O presidente da ACS, que é vocalista de uma banda de surf music, faz questão de ressaltar que o verdadeiro surfista é regrado, bem distante do estereótipo de festeiro e pouco responsável. “Você não vai conseguir ser um bom surfista se for um beberrão maconheiro. Se entrar bêbado no mar, é capaz de não voltar”, diz Leonardo, que começou a surfar aos 30 – hoje tem 39.
“Surfar não é como futebol, onde você de Surf praticam outros esportes para fica 45 minutos atrás de uma bola. No ficarem preparados para cair na água. mar, são 30 segundos em cima de uma “Quando estamos remando para cheprancha e você sente uma adrenalina gar às ondas, a musculatura das costas que equivale a uma partida inteira.” fica muito contraída, e o esporte usa Leonardo explica que no sul a neces- muito os braços, então é importante sidade de um equipamento para surfar ter uma compensação”, aponta Rodrié quase obrigatória: o go. neoprene, roupa sinA dificuldade física tética que mantém a “Surfar e técnica do surf, no temperatura do corpo. oxigena o começo, faz com que Este e outros acessómuitos pensem em decérebro, sei lá. rios fazem parte do sistir dele. E mesmo vocabulário diário dos Depois de depois, nos dias em que surfistas aficionados, surfar, saímos a maré se volta contra que os faz esquecerem da água o surfista. “Às vezes a distância que estão levamos um caldo e diferentes”, das ondas – alguns depensamos: ‘será que eu les têm diversas pran- filosofa vou voltar?’”, recorda chas, de tamanhos dis- Maurício Maurício. Mas, seguntintos e para diferentes do o presidente da Fecondições do mar. deração Gaúcha de Surf O estilo de vida saudável e calmo (FGSurf), Orlando Carvalho, os desarelacionado ao esporte – e geralmen- fios iniciais acabam servindo de mote oposto ao cotidiano urbano – é um tivação. “O surf acaba atraindo novos dos motivos que atraem os caxienses adeptos porque é uma chance de extrapara o surf, segundo Leonardo. “Quan- polar nossos limites. É só olhar a felido estamos sozinhos no mar, há uma cidade daquelas pessoas pegando onda grande sensação de tranquilidade.” na beira da praia para comprovar.” Orlando, que mora em Porto Alegre, Rodrigo Molon, advogado e ins- repete uma expressão usada por surfistrutor de ioga caxiense que surfa desde tas caxienses – aliás, por praticantes do os 10 anos, lembra que, apesar de as mundo todo – para descrever o amor viagens ao litoral continuarem mais ao esporte: “É um vício que eu não demoradas do que os amantes locais consigo largar. Decidi que esse é o esdo surf gostariam, as condições já fo- tilo de vida que quero para mim.” Para ram piores. “A Rota do Sol ajudou bas- o caxiense Maurício, esse estilo acabou tante. Hoje, chegamos à praia em duas combinando bem com a vida profissiohoras. Por outro lado, também atrapa- nal. Ele jura que não foi por essa razão lhou por causa do aumento do trânsito que abriu o negócio, mas o fato é que e dos acidentes.” para abastecer sua loja precisa viajar Durante a semana, quando são obri- anualmente à Indonésia para falar com gados a manter distância das pranchas, fornecedores. E, claro, ele aproveita os integrantes da Associação Caxiense para surfar.
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CA-JU DUPLA
Fabiano Provin
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Eleição
de Juarez Ártico. Ártico ocupará a vicepresidência de patrimônio, no lugar de Roberto Tonietto. Este, por sua vez, será o vice administrativo e financeiro, no cargo atualmente ocupado por Luiz Carlos Ghiotti. A chapa inscrita será eleita com 50% mais um dos votos dos conselheiros presentes e aptos a votar. A eleição será a partir das 19h de segunda (25), no Salão Nobre Walter Dal Zotto, no Jaconi. Integram o grupo ainda Mauro Trojan (marketing) e Antonio Cumerlato (categorias de base). Maicon Damasceno/O Caxiense
O presidente do Conselho Deliberativo do Ju, Carlito Chies, foi atendido. Na reunião do grupo em 30 de setembro, ele pediu aos conselheiros para que fosse dada a chance de Milton Scola permanecer no cargo de presidente da diretoria executiva por mais um ano. Ou seja, nenhuma chapa de oposição foi inscrita no tempo hábil, até as 18h de quinta, dia 21. Em relação à atual diretoria, mudou o vice-presidente – Jones Biglia no lugar de Geandro Turcatti – e o vice de futebol – Raimundo Demore no posto
“A joia da coroa”
A declaração é do presidente grená: “O Edenílson é a joia da coroa grená”. Osvaldo Voges confirmou que o Caxias pode vender o atleta, lógico, se receber uma boa proposta. O clube até já providenciou para o habilidoso volante de 20 anos seu passaporte, caso um negócio de última hora seja formalizado no Centenário. O Mônaco (França) e o Spartak (Rússia) teriam manifestado interesse no jogador. “Por enquanto é especulação. Só ligaram para meu empresário (Jorge Machado)”, despistou Edenílson na manhã do dia 20. Ele ficou sem treinar devido a um tratamento dentário e se juntou à delegação grená que viajou para Bagé para o jogo das oitavas de final da Copa Enio Costamilan, contra o Grêmio Bagé. O Caxias acabou derrotado por 2 a 1 e, no domingo, precisa vencer para avançar na competição.
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Fernando Wellington (hoje no Bahia) e Rodrigo Paulista foram suspensos por duas partidas cada; Anderson Bill (no Grêmio Prudente), por ser reincidente, acabou punido com três partidas. Na prática, Scola só não pode assinar documentos endereçados à CBF. Ele foi suspenso após ter sido denunciado pelo Sindicato dos Árbitros do RS por um entrevista concedida à rádio Guaíba em 30 de agosto, na qual reclamou da atuação do árbitro no clássico. Scola respondeu por ameaça, incitação ao ódio e ofensa. O Caxias respondeu por “deixar de tomar providências capazes de prevenir e reprimir desordens em sua praça de desporto, invasão do campo e lançamento de objetos no campo”. Os jogadores foram para o banco dos réus enquadrados por provocação do público durante partida. Os departamentos jurídicos do Caxias e do Ju irão recorrer das sentenças.
Renovações
Ainda no lado alviverde, o zagueiro Fred foi o terceiro atleta a renovar com o clube para a temporada 2011. Ele se reapresenta com os demais jogadores no dia 25. Além dele, já renovaram os volantes Umberto e Éverton Garroni. Para o Gauchão, a direção já acertou a contratação do volante Jardel, 24 anos, que trabalhou com o técnico Beto Almeida no Pelotas, e do lateral esquerdo Anderson Pico, 21 anos. A partir de segunda Raimundo Demore, que já encaminha as negociações dos atletas como novo vice de futebol, vai contatar Marco Vanzini, empresário dos uruguaios Christian (meia) e Ismael Espiga (atacante). O ex-volante Vanzini atuou no Ju em 2007, último ano que o verdão disputou a Série A.
Aposta...
A direção do Juventude resolveu apostar em Anderson Pico. Revelado pelo Grêmio, o jovem lateral esquerdo atuou ainda pelo Figueirense, Santo Ângelo (Segundona Gaúcha) e Brasiliense (Série B). Sem clube, estava sem treinar. Vale ressaltar que, após sair do tricolor (até 2008 era titular), Anderson não conseguiu se firmar em nenhum time. O principal motivo: excesso de peso. Foi devolvido pelo Figueirense no ano passado. Não jogou no Santo Ângelo e acabou dispensado no início de outubro pelo Brasiliense. Anderson Pico veio para o Estádio Alfredo Jaconi em uma parceria com o Grêmio. Tomara que a aposta dê resultado. Maicon Damasceno/O Caxiense
be, nem tentando criar formulismos de como a competição deve ser disputada. O Caxias ficou onde está e o Juventude caiu para a D por apenas 3 pontos – uma vitória. Se cada um tivesse vencido um CA-JU, o Caxias teria passado de fase e, o Ju, pelo menos permaneceria na Série C. Faltou cumprirem seus papeis dentro de campo, que é jogar bola. Mas foram dois empates – 0 a 0 em 1º de agosto e 2 a 2 em 29 de agosto. Agora, a vida continua. No julgamento do STJD, o presidente do Juventude, Milton Scola, foi suspenso por 390 dias e multado em R$ 60 mil. O árbitro Vinícius Costa da Costa foi suspenso por 30 dias. O Caxias perdeu dois mandos de campo (competições nacionais), recebeu multa de R$ 500 e teve o estádio interditado (a partir do dia 25) até que seja feita uma vistoria por integrantes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Já os jogadores Alisson, Adriano,
Maicon Damasceno/O Caxiense
O rescaldo do julgamento do STJD
Quem está certo: o Juventude, que montou um vídeo com imagens do CAJU no Estádio Centenário e o enviou à Confederação Brasileira de Futebol (CBF), ou o Caxias, que permitiu que alguns jogadores hostilizassem a torcida adversária ao término do mesmo jogo? Cada torcedor, seja verde ou grená, sem dúvida, tem a sua opinião formada sobre o assunto. Quem não tem nada com isso é o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), que julgou a confusão após o CA-JU válido pelo returno da Série C, na casa do Caxias. Os auditores da Primeira Câmara Disciplinar determinaram punições para todos os envolvidos. Acredito que os geradores de tudo, o árbitro Vinícius Costa da Costa, e os jogadores que desfilaram caixões de isopor e papelão nas cores verde e branca, ainda foram os menos penalizados. Não estou aqui defendendo algum clu-
Desabafo presidencial
Ao colega Rafael Tomé, o famoso Cabide, da Rádio Caxias, o presidente Osvaldo Voges disse que o Juventude promoveu um enfrentamento desnecessário. “Vejo o presidente deles (Milton Scola) dando declarações infelizes. O Juventude fez um vídeo tendencioso, nos fez gastar com o julgamento na CBF. Isso encerra qualquer possibilidade de trabalharmos juntos com essa gestão”, desabafou. Voges acredita que as penalizações foram exageradas: “Querem criar um ambiente ruim na cidade. O Centenário pode ser interditado? Não. Vai ser inspecionado e liberado. Isso me deixou bastante chateado”.
Quase
Caxias e Juventude estão em fase final de tratativas com a operadora de telefonia Oi, a qual estamparia as camisas dos clubes no Gauchão 2011. Seriam apenas definições contratuais, pelo fato de a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) ter anunciado no dia 18 uma parceria com outra empresa do ramo, a Claro. Esta custeará materiais esportivos e seu logotipo estará no fardamento de 12 clubes da primeira divisão e de 26 da Segundona – exceto as duplas CA-JU e Gre-Nal, que terão a marca apenas em placas nos seus estádios. No lado do Ju, foi encaminhada uma parceria com a Brunoro Sports Business (BSB), a qual tem por objetivo reestruturar a gestão do clube nos setores administrativo, financeiro, comercial e de marketing. O diretor da empresa é José Carlos Brunoro, o responsável pela co-gestão do alviverde com a Parmalat, que durou de maio de 1993 a julho de 2000. A BSB deve entregar, em três meses, um diagnóstico da situação.
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Guia de Esportes
guiadeesportes@ocaxiense.com.br Rodrigo Fatturi, Divulgação/O Caxiense
por Cíntia Hecher
Caxias volta da Fronteira Oeste do Estado para enfrentar o mesmo adversário, o Bagé, e tenta reverter a derrota por 2 a 1 da última quinta (21)
FUTEBOL l Caxias x Bagé | Domingo, 16h | Partida de volta entre as equipes pelas oitavas de final da Copa Enio Costamilan. No jogo anterior, na quinta (21), o resultado foi de 2 a 1 para o Bagé, com jogo que foi até os 53 minutos no segundo tempo. Estádio Francisco Stedile (Centenário) Ingressos: R$ 20 (cadeira), R$ 15 (acompanhante de sócio), R$ 10 (arquibancada), R$ 5 (estudantes, idosos e acima de 60 anos) e R$ 20 (torcida visitante, R$ 10 meia entrada) | Thomas Beltrão de Queiroz, 898, Marechal Floriano l Campeonato Municipal Infantil | Sábado, 14h30 e 16h | Esta é a quarta rodada do campeonato, onde sete times jogam todos contra todos. A final é disputada pelos quatro primeiros colocados, em cruzamento olímpico. Sábado, 14h30: Sagrada Família x Grêmio Esportivo Conceição (Municipal 1), Galópolis Ativa x Águia Negra (Municipal 2) | 16h: Projeto Caê x Grêmio Murialdo (Municipal 1) Campo Municipal 1 e 2 Entrada gratuita | Av. Circular Pedro
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Mocelin, s/n°, Cinquentenário l Futebol Sete Série B | Sábado, das 12h45 às 17h45 | Neste final de semana acontecem os jogos da primeira e segunda fase da 4ª rodada. Sábado, 15h: Romamari x Jost | 16h: Sulbras x Tecbril | Domingo, 15h: Eaton x (perdedor segundo jogo) | 16h: Luna ALG x (perdedor primeiro jogo) Centro Esportivo do Sesi Entrada gratuita | Cyro de Lavra Pinto, s/nº, Nossa Senhora de Fátima
FUTSAL l 8ª Copa Ipam de Futsal Feminino | 19h, 20h, 21h e domingo, 9h, 10h e 11h | Tempo de decisão. No domingo, o primeiro jogo define os terceiros e quartos lugares da Série Ouro. O jogo das 10h define primeiro e segundo colocados da Série Prata e o último embate aponta primeiro e segundo lugares da Série Ouro. Sábado, 19h: BGF x UCS/Altech/ Tools | 20h: União Flores da Cunha x Escola Santa Catarina B | 21h: Escola Santa Catarina/Prefeitura Muni-
cipal x ACBF/Via Inox/Tramontina | Domingo, 9h: UCS/Altech/Tools x BGT | 10h: Escola Santa Catarina B x União Flores da Cunha| 11h: ACBF/ Via Inox/Tramontina x Escola Santa Catarina/Prefeitura Municipal Enxutão Entrada gratuita | Luiz Covolan, 1.560, Santa Catarina |
BASQUETE l Sul Brasileiro de Clubes Adulto Masculino | Sábado, 18h | Seis equipes disputam o 8º Campeonato Sul Brasileiro de Clubes Adulto Masculino. Quinta (21) e sexta (22) já tiveram seus duelos. Sábado, 16h: Pelotas 2 x Sogipa | 18h: Caxias do Sul Basquete x Ponta Grossa | Domingo, 14h: Decisão 3º e 4º lugares – 2º A x 2º B | 16h: Decisão 1º e 2º lugares – 1º A x 1º B Sede Recreativa do Clube Juvenil R$ 5 (antecipado) e R$ 8 (na hora) | Marquês do Herval, 197
PESCA l 4ª Etapa Embarcada Tour 2010 | Sábado, 8h15 |
A categoria embarcada significa que a pesca, neste caso em dupla, deve ser feita de dentro de um barco, com motorização elétrica ou de popa. A modalidade é prática de pesque e solte com uso exclusivo de iscas artificiais. Para quem já não está inscrito na prova, pode disponibilizar seu nome na hora ou pelo telefone, com Ítalo Franzói. O valor é de R$ 100 por dupla. Barragem do Divisa São Francisco de Paula | 9184-2426
RALLY l 19º Rally dos Gringos | Sábado, 12h30 | O trajeto do rally mais antigo do Brasil tem duração estimada de cinco horas e o destino é Nova Roma do Sul. Após o final do evento, os competidores se deslocarão de balsa até Otávio Rocha. A premiação será rem um jantar no Restaurante D. Adélia. A promoção é da Sociedade Caxiense de Automóveis Antigos (SCAA), que comemora seus 20 anos. A Transportes Panex fará uma blitz educativa no local conscientizando sobre a segurança no trânsito. Drops de Menta RS-122, largada no Villagio Iguatemi
Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.
Renato Henrichs renato.henrichs@ocaxiense.com.br
O candidato tucano à presidência da República, José Serra, deverá estar na cidade nesta terça-feira (26). Do alto dos 116.452 mil votos obtidos pelo ex-governador paulista em Caxias do Sul, o comitê suprapartidário Serra Presidente pretende realizar um comício que reúna milhares de pessoas, ainda que não conte com a máquina pública vista a serviço de Lula na quinta-feira (21). Os tucanos Geraldo Alckmin, reeleito para o governo de São Paulo, e Beto Richa, eleito governador do Paraná, também farão campanha pró-Serra em Caxias na próxima semana.
Tudo bem que tenha um namorico, mas beijo na boca não. Vice-prefeito Alceu Barbosa Velho, em seu Twitter, ao confirmar que, apesar de convidado, não participaria do comício de Dilma e Lula em Caxias. André T. Susin/O Caxiense
A vez de Serra
Extensão para Bento
A velha e ultrapassada rivalidade entre Caxias do Sul e Bento Gonçalves parece não ter fim. Depois dos recentes desacertos sobre a localização do novo Aeroporto Regional, ainda indefinida por conta da indecisão da governadora Yeda Crusius (PSDB), agora é a vez da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A exemplo de Caxias, Bento também reivindica uma extensão da UFRGS. Em função desse novo cenário, a comissão pró-universidade pública da Câmara de Vereadores – com Assis Melo (PC do B) à frente – marcou uma audiência com o reitor da UFRGS. Será nesta segunda-feira (25), em Porto Alegre.
Aliás
O governador eleito Tarso Genro (PT) prometeu, no comício de Lula, que vai tratar com Dilma – caso eleita – a respeito da extensão universitária da UFRGS.
Secretária da mulher
Mesmo que o governador Tarso Genro diga que ainda é cedo para falar em nomes que comporão o futuro secretariado estadual, há uma aposta crescente na cidade. Abgail Pereira (PC do B), a mulher de 1 milhão e meio de votos, ocupará sim a futura Secretaria da Mulher, dentro da nova estrutura de governo em formação. Por sinal, Abgail foi a única caxiense a falar no comício de Lula, passando por cima dos deputados petistas reeleitos Gilberto Pepe Vargas (federal) e Marisa Formolo (estadual).
Outras quinhentas
Vereador Elói Frizzo (PSB) passou a presidir a comissão temporária que vai rever, na Câmara, a Lei Orgânica do Município. A ideia é reduzir as atuais 8.028 leis municipais a cerca de 500 e agrupá-las por temas específicos. Mas há quem questione essa intenção: os integrantes da comissão – além de Frizzo, Ana Corso (PT), Arlindo Bandeira (PP) e Vinicius Ribeiro (PDT) – e o próprio grupo atual de vereadores têm autoridade suficiente para trabalho tão radical?
Consagração
Apoio relativo
Cobrança
Foi o comício de Lula. Com 81% de aprovação popular, o presidente saiu consagrado de Caxias do Sul na quinta-feira (21) à noite, depois de pedir votos para a sua candidata, Dilma Rousseff, no ato público promovido pela campanha na Rua Alfredo Chaves. Depois de Lula, o político petista mais aplaudido foi o ex-governador Olívio Dutra, que, por sinal, não discursou.
Jaison Barbosa, por ter participado da reunião preparatória ao comício de Lula, e Paulo Dahmer, em meio ao público na Alfredo Chaves, eram os integrantes do governo municipal que se posicionaram a favor da candidatura Dilma Rousseff. Os demais secretários de Sartori preferem Serra ou, se não simpatizam com o tucano, mantiveram-se alheios à movimentação de quinta.
No comício, foi a vez de Lula exigir reconhecimento. Classificou o ex-governador Germano Rigotto (PDMB) – apesar de tê-lo chamado de “companheiro Rigotto” – de ingrato por ele estar apoiando, no segundo turno, o candidato José Serra (no primeiro, votou em Marina Silva). O argumento de Lula: ajudou Rigotto com R$ 200 milhões para que ele fechasse as contas ao final de seu governo.
Sem Néspolo
Mencionado como um possível defensor de Dilma, o chefe de gabinete da prefeitura Edson Néspolo (PDT) declarou-se contra a candidata do PT, apoiada pelo diretório estadual pedetista. “Não fecho com a Dilma por to-
das as confusões ocorridas na Casa Civil e pela forma autoritária, antidemocrática, com o que presidente da República vem participando da campanha, chegando a sugerir a extinção de partidos políticos”, justifica Néspolo.
Gosto particular
Apesar de ser citado no palanque oficial, o vice-prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) também evitou participar do comício. Aliás, no seu Twitter, o deputado estadual eleito deixou claro que acata a decisão do
diretório estadual do PDT, fechado com a candidatura Dilma, “mas particularmente não gosto dela”. Para Alceu, Dilma Rousseff é uma candidata que “o partido está empurrando goela abaixo”.
Evangélicos em ação
Por coincidência, na quinta-feira à noite, quando Dilma iniciava seu discurso no comício, perto dali, na Câmara de Vereadores, encerravamse os discursos da sessão solene em comemoração ao Dia do Evangélico.
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A sessão culminou com o canto de um hino religioso, cujo ritmo foi devidamente acompanhado por palmas – com a adesão de muitos presentes e constrangimento de outros.
Máquina pública
Na Câmara, o vereador Ari Dallegrave (PMDB) criticou a estrutura montada para o comício. Com veemência, acusou o governo federal de utilizar a máquina pública na atividade. O vereador questionou a postura de Lula: ausente em eventos caxienses importantes, como a recente Festa da Uva, e presente em atividades eleitorais para favorecer a candidata à sucessão. “Lula utilizou o aparato da presidência para vir a Caxias, ou seja, verbas públicas, bancadas pelo contribuinte”, disparou o parlamentar.
Agradecimento
O vereador petista Marcos Daneluz rebateu as acusações do peemedebista Ari Dallegrave. Para Daneluz, a participação de autoridades municipais no comício de quinta seria uma forma de agradecimento aos investimentos do governo Lula em Caxias.
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