Edição 8

Page 1

M A po eta VA pu de N laç tra ÇO ão tar can o e S S ali sgo AN za to inv da ITÁ est ma R im io IO en r p tos art S pú e da bli co s

|S23 |D24 |S25 |T26 |Q27 |Q28 |S29

Semanalmente nas bancas, diariamente na internet.

A FORÇA QUE

CONSTRÓI CAXIAS

A construção civil deve erguer 20 mil apartamentos e casas na cidade somente este ano

Renato Henrichs filosofa com Jayme Paviani | Roberto Hunoff analisa o balanço do emprego no ano que passou | “O jogador de futebol é carente”, diz o preparador grená | No Ju, os mais novos são inspiração para os mais velhos

Maicon Damasceno/O Caxiense

Caxias do Sul, janeiro de 2010 | Ano I, Edição 8 | R$ 2,50


Índice

www.OCAXIENSE.com.br

A Semana | 3

Fotos: Maicon Damasceno/O Caxiense

Um resumo das notícias que foram destaque no site

Roberto Hunoff | 4

Apesar da crise, 2009 fechou com saldo positivo de empregos

Profissão de fé | 5 A história de Flora e Ester vale por mil sermões

Ideias sameadoras | 7

VÍDEOS (Acompanhe vídeos, áudio e fotos em www.ocaxiense. com.br/multimidia)

Plano do Samae, já em execução, pretende tratar 86% do esgoto da cidade até 2012

Artes | 12

O homem corre, as mulheres permanecem

Guia de Cultura | 12

l Programa Florescer, das empresas Randon, dá assistência a 685 jovens. O vídeo, com a participação do músico Lucas Lima, mostra o talento dessas crianças

Cidade em expansão | 13

l Cadeirantes podem praticar exercícios na primeira Academia para Especiais (APE) do Estado. Um professor de Educação Física orienta a prática nos aparelhos que ficam no Parque dos Macaquinhos

Ação no cinema, comédia no teatro e Orquestra ao ar livre A construção civil sedimenta a força da economia caxiense

Guia de Esportes | 16

Disputas nacionais nas areias dos Pavilhões e estaduais nos gramados de Caxias e Porto Alegre

ÁUDIO

Novidades esportivas | 17

l Outro podcast traz algumas das principais notícias da semana nas vozes dos jornalistas da Redação

Intimidades da bola | 19

(Acompanhe em www.twitter.com/ocaxiense)

l Caxias e Juventude: é só do que se fala no podcast de futebol d’O Caxiense com os repórteres Fabiano Provin e Marcelo Mugnol

O rugby conquista adeptos entre homens e mulheres caxienses

TWITTER

Carência e saudade também são problemas do preparador físico grená

@greicetedesco As capas do @ocaxiense são muito bem feitas. A cada edição é um show de criatividade e superação. Greice Tedesco, às 8h36 de 19 de janeiro

Força jovem | 21

O Ju se supera na Copinha, antessala do profissional

@danieldalsoto @ocaxiense Não sei nem como dar elogio, a edição deste final de semana ficou muito fera! A capa matou a pau mais uma vez! Parabéns a todos! Daniel Dalsoto, às 12h23 de 16 de janeiro

Renato Henrichs | 23

Movimentos peemedebistas, pedetistas, tucanos e comunistas no cenário pré-eleitoral

@mauvanelli @ocaxiense Parabéns pela dedicação. Vejo pelas notícias que realmente é um jornal que veio pra ficar. Maurício Vanelli às 14h07 de 15 de janeiro

FACEBOOK

(Acompanhe em www.facebook.com/ocaxiense) Parabéns pelo jornal! Faz tempo que dizia que tinha que ter outro jornal em Caxias. Esse foi melhor do que o esperado. Samuri José Prezzi, às 22h21 de 13 de janeiro

Expediente

ORKUT

Redação: Cíntia Hecher, Fabiano Provin, Felipe Boff (editor), Graziela Andreatta, José Eduardo Coutelle, Maicon Damasceno, Marcelo Aramis, Marcelo Mugnol, Paula Sperb (editora do site), Renato Henrichs, Roberto Hunoff e Valquíria Vita Comercial: Leandro Trintinaglia Circulação/Assinaturas: Tatyany Rodrigues Administrativo: Luiz Antônio Boff Impressão: Correio do Povo

Assine

Para assinar, acesse www.ocaxiense.com.br/assinaturas, ligue 3027-5538 (de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h e das 13h30 às 18h) ou mande um e-mail para assine@ocaxiense.com.br. Trimestral: R$ 30 | Semestral: R$ 60 | Anual: 2x de R$ 60 ou 1x de R$ 120 Jornal O Caxiense Ltda. Rua Os 18 do Forte, 422, sala 1 | Lourdes | Caxias do Sul | 95020-471 Fone 3027-5538 | E-mail ocaxiense@ocaxiense.com.br www.ocaxiense.com.br

2

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

(Escreva para ocaxiense@ocaxiense.com.br) Valeu pela força que estão dando aos dois times da cidade. Douglas Cavalheiro, em 18 de janeiro Parabéns, o jornal está muito bom. É legal ter, por aqui, um jornal feito para ler. Parabéns mesmo! Sabrina Santos, em 20 de janeiro Erramos | Talvez os papos não tenham percebido, mas os grenás certamente notaram: o destaque “Atletas acima dos 30, como Silvio Luiz, Calisto, Marcos Denner e Lauro, serão as referências dentro de um time jovem”, referente à reportagem sobre o Juventude, foi equivocadamente publicado também na reportagem sobre o Caxias (“Gauchão para pegar o embalo”) na última edição. | Na mesma edição: Dirley é zagueiro, e não lateralesquerdo (“A hora do contra-ataque”). | E ainda: o time da Ulbra passou a se chamar Universidade Sport Club, adotando novo escudo (acima).

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


A Semana

Graziela Andreatta, Divulgação/O Caxiense

Florescer, Divulgação/O Caxiense

Elza Fiúza, ABr, Divulgação/O Caxiense

Convite ao primeiro-ministro italiano, capina com ureia em estudo, vagas abertas e protesto sindical

Henrique Meirelles estará em Caxias mês que vem; Randon ajuda jovens no projeto Florescer; metalúrgicos fizeram paralisação na Keko e conseguiram readmissão de funcionários

SEGUNDA | 18 de janeiro Festa da Uva

Comissão quer trazer Berlusconi

O presidente da Comissão Comunitária, Gelson Palavro, garante que a direção da Festa da Uva faz contatos para convidar o primeiroministro italiano Silvio Berlusconi a visitar Caxias do Sul, ao lado do presidente Lula, no dia 18 de fevereiro. A anunciada vinda de Berlusconi ao Brasil revelou-se fator impeditivo para a presença do presidente na cerimônia de inauguração da Festa da Uva 2010. O convite oficial para Lula será feito no próximo dia 5.

TERÇA | 19 de janeiro Responsabilidade social

Randon ajuda 685 jovens Criado em 2002 para atendimento de 50 crianças e adolescentes, o Programa Florescer, iniciativa de responsabilidade social das Empresas Randon, fechará este ano contabilizando mais de 1,2 mil participantes. Atualmente são oferecidas atividades educativas e de lazer para 365

alunos de seis a 14 anos, número que chegará aos 685 com a assinatura de dois novos convênios de parceria.

leiro do Vinho (Ibravin). O Rio Grande do Sul responde por cerca de 90% da produção nacional.

SEXTA | 22 de janeiro

QUARTA | 20 de janeiro

QUINTA | 21 de janeiro

150 vagas temporárias abertas

Capina

Indústria

bicida glifosato na capina, rejeitada pela população e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram levantadas alternativas nas reuniões do Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Comdema). A mais promissora, para Adiló Didomenico, diretor da Companhia de Desenvolvimento de Caxias (Codeca), é a capina usando um composto orgânico à base de nitrogênio, a ureia. A pulverização de ureia no capim que cobre as ruas da cidade está sendo estudada pelos engenheiros da Codeca.

A Voges Motores, empresa do Grupo Voges, investirá R$ 16,5 milhões, ao longo de três anos, na construção de unidade fabril em Recife, capital de Pernambuco. O aporte faz parte da estratégia da companhia de aumentar sua capacidade de produção e melhorar o desempenho nas regiões do Norte e Nordeste.

Codeca poderá aplicar ureia Voges investirá R$ 16,5 milhões no Nordeste Para substituir a ideia de usar o her-

Vitivinicultura

Venda de vinhos cresce 12%

A comercialização de vinhos elaborados no Rio Grande do Sul cresceu 12% no ano passado no mercado nacional, atingindo volume de 240 milhões de litros. A informação é do Instituto Brasi-

Palestra

Festa da Uva

Há 150 vagas abertas para serviços temporários na Festa da Uva, que ocorre de 18 de fevereiro a 7 de março. As oportunidades são destinadas a recepção e orientação de turistas. Os salários variam entre R$ 500 e R$ 650. O único pré-requisito, conforme o diretor Administrativo e Financeiro da Festa, Paulo Poletto, é o candidato ser maior de idade. Os selecionados passarão por um treinamento no começo de fevereiro. Interessados devem procurar a Secretaria Municipal do Turismo.

Trabalho

Henrique Meirelles em Caxias

Keko reintegra demitidos

O presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, estará em Caxias do Sul no dia 5 de fevereiro para palestrar na reunião-almoço extraordinária da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC). A CIC vinha há tempos tentando trazer o economista para falar sobre os cenários nacional e internacional, e finalmente conseguiu uma data na sua agenda.

A Keko, fabricante de acessórios automotivos, decidiu reintegrar três funcionários demitidos após paralisação de cerca de 300 funcionários. A direção da empresa negociou com o Sindicato dos Metalúrgicos, que defendia a estabilidade no emprego dos funcionários que pertencem ao Sindicato e à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA).

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

3


Roberto Hunoff

roberto.hunoff@ocaxiense.com.br | www.ocaxiense.com.br/roberto-hunoff

Mais postos de trabalho

Gilmar Gomes, Divulgação/O Caxiense

Bem menor Em Caxias do Sul, a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em parceria com os sindicatos Rural e dos Trabalhadores Rurais, promove a 2ª Festa Oficial de Abertura da Colheita da Uva no dia 31. Os ingressos custam R$ 20 e já estão à venda. A festa será no Salão Paroquial da Comunidade de São Virgílio da 2ª Légua, em Forqueta, com início às 10h. Ainda bem que a cidade terá a Festa da Uva a partir de 18 de fevereiro... Mas é preciso, urgentemente, olhar com mais atenção para o segmento, que dá mostras de estar se movimentando para recuperar seu espaço.

Atenção ao atendimento

Estudo realizado em Porto Alegre apontou que 61% dos consumidores entrevistados elegeram atendimento como fator decisivo para uma compra. Denominada de “As empresas que mais respeitam os consumidores”, a pesquisa também mostrou que 43% dos clientes valorizam a qualidade dos produtos, 20% a imagem da companhia e 14% as condições de pagamento e preço.

Declaração digital

A partir de fevereiro a entrega da Declaração de Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF) precisará, obrigatoriamente, da assinatura digital. Ela será exigida para a transmissão de declarações e demonstrativos pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real, no lucro arbitrado e, a partir de agora, no lucro presumido. Para atender a demanda de contribuintes que vão aderir ao certificado digital em Caxias do Sul e região, o posto de validação AC Fenacon, localizado junto ao Sescon-Serra Gaúcha, ampliou a equipe de trabalho com a contratação de mais um agente.

4

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

Apesar da crise que se instalou na economia caxiense, contaminada pela situação mundial, o mercado de trabalho da cidade fechou o ano passado com saldo positivo de 415 novas vagas. Na comparação com o resultado de 2008, que abriu 7.860 postos, o recuo é de 95%. Mas é pre-

ciso comemorar considerando que a expectativa existente era de números negativos. Quadro semelhante se registrou no Brasil e no Rio Grande do Sul. No país surgiram 995 mil novas vagas, declínio de 32% na relação com 2008. No Rio Grande do Sul foram 64 mil, em queda de 29%.

BRASIL

-3.223 Dez. 2009 | -1.380

415 2009 |

2008 |

RS

Dez. 2008 |

7.860 Dez. 2009 | -11.724

Dez. 2008 |

2008 |

2009 |

64.226

-654.946

90.554

-27.678

Fonte: CAGED do Ministério do Trabalho e Emprego

Dez. 2009 | -415.192

Dez. 2008 |

995.110 2009 |

1.452204

Empregos gerados

2008 |

Para manter aquecidas as vendas de vinhos, espumantes e sucos, tal como ocorreu em 2009, e atrair turistas, entidades envolvidas com o setor vitivinícola programam atividades para o próximo final de semana. Vem de Bento Gonçalves a principal atração. A abertura da vindima do Vale dos Vinhedos, marcada para os dias 30 e 31, terá a tradicional colheita e “pisa” das uvas, como faziam os imigrantes italianos nos primórdios da colonização, e destacará o artesanato, os produtos coloniais e exemplares do trabalho, da cultura e gastronomia da região. A iniciativa é do Hotel Villa Michelon, com apoio da Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos, e integra a programação do Bento em Vindima, um projeto do Convention Bureau, que idealizou ações até 28 de fevereiro. As atividades do dia 30 terão início às 17h.

Caxias do Sul

Indústria em baixa

Surpresa em dezembro

O mercado de trabalho de Caxias do Sul foi salvo pelos segmentos da construção civil, serviços e comércio, responsáveis por mais de 3,1 mil novos empregos. Já a indústria de transformação, fortemente afetada por queda nas vendas para o exterior, fechou 2,9 mil vagas. Destaque para serviços com mais de 1,7 mil empregos. Os demais postos foram abertos na administração pública e na agropecuária. No geral foram admitidos 75,6 mil trabalhadores e demitidos 75,2 mil. Os dados fazem parte do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho liberados nesta semana.

Chama atenção o fechamento de vagas em dezembro, invertendo a curva que era ascendente desde setembro. Na cidade foram fechados 1.380 postos, recuo de 59% em relação aos 3.223 de dezembro de 2008. Coube ao setor de serviços a desativação de 633 vagas, mais de 55% do total, e acima das 590 do igual mês de 2008. Outro destaque negativo foi na agropecuária, com 366 vagas a menos, mais do que o dobro do mês correspondente. Importante é a recuperação na indústria de transformação. O fechamento de vagas caiu 95%: de 2,1 mil para 122 na comparação do último mês de cada ano.

Na cola da GM A Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq/RS) iniciou mobilização visando assegurar a participação dos fabricantes gaúchos de bens de capital nos fornecimentos para a expansão da fábrica da General Motors, em Gravataí. Do investimento programado de R$ 2 bilhões, em torno de R$ 600 milhões serão aplicados na aquisição de máquinas e equipamentos. A reivindicação do setor foi exposta pelos diretores regionais da entidade Hernane Cauduro e Mathias Elter ao diretor da planta da GM de Gravataí. Se atendido tal pleito, a indústria de Caxias tende a ser uma das mais beneficiadas.

Mercado ampliado

Em sua meta de duplicar a participação do segmento de reposição no seu faturamento até 2013, a Suspensys lançou, no ano passado, 26 novos produtos para esta linha. Com isso, repetiu no exercício o faturamento consolidado em 2008, que foi de R$ 660 milhões. O mercado nacional de reposição já responde por 7% do faturamento anual. O contínuo crescimento decorre de estratégia iniciada em 2006, com o lançamento da linha Reposição Aprovada, e seguido de investimentos de R$ 6 milhões em unidade própria, de 3 mil m², para este negócio. Atualmente a Suspensys tem 150 canais de venda e pós-venda.

Curtas A Escola de Gastronomia UCS-ICIF, em Flores da Cunha, encerra neste domingo, 24, o período de inscrições para o curso de formação básica de chef de cozinha, que já formou 15 turmas. As aulas ocorrerão de 22 de fevereiro a 10 de junho, num total de 600 horas. Também no domingo se encerram as inscrições para o curso Sommelier Internacional FISAR, programado para o período de 22 a 27 de fevereiro.

O Sindicato do Comércio Varejista de Caxias do Sul recebe até segunda-feira inscrições de chapas para as eleições de renovação da diretoria. A escolha ocorrerá nos dias 22 e 23 de fevereiro. Com 33 anos dedicados ao serviço público, Luiz Guilherme Farias Brum aposentou-se, nesta semana, de suas funções na Caixa Econômica Federal em Caxias do Sul. Ele era o

mais antigo gerente da Serra Gaúcha em atividade. Encerra-se no dia 29 o prazo para micro e pequenas empresas optarem pelo Simples Nacional, sistema que reduz e simplifica a arrecadação de tributos desse segmento empresarial. Esse também é o prazo para as empresas que já estão no sistema optarem pela classificação jurídica de Empreendedor Individual.

Chamamento

Os empresários Raul Randon, das Empresas Randon, e Lourenço Castellan, da Florense, conclamaram a classe empresarial a dedicar mais atenção para a educação. Participantes da reunião-almoço da CIC de Caxias do Sul desta semana, eles lembraram ações que desenvolvem para evitar que crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social tornemse presas fáceis para profissionais do crime. “Educar é prevenir”, resumiu Raul Randon, mentor do Projeto Florescer, que atualmente atende 685 crianças na faixa dos seis aos 14 anos, mas tem meta de chegar a 1,2 mil até o fim do ano. O presidente da Florense sustentou que os empresários precisam dar oportunidades aos jovens, que só assim terão condições de começar uma carreira profissional. “Sem dar ocupação e educação é muito difícil acabar com as drogas”, assinalou. S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .

Julio/Objetiva, Divulgação/O Caxiense

Estímulo ao turismo


Arquivo pessoal de Flora Roman/O Caxiense

Exemplos de caridade

A missionária Flora, em uma comunidade rural sertaneja: “Fomos para dar uma resposta àquela população carente em todos os sentidos”

VIVER PARA

AJUDAR

D

por GRAZIELA ANDREATTA graziela.andreatta@ocaxiense.com.br

omingo é dia de ir à missa para os católicos. O ritual se repete nos diversos templos espalhados pela cidade durante o dia inteiro, desde cedo até a noite. Todo final de semana é assim em todas as igrejas. Só muda a hora e o lugar. Mas em um desses domingos, em uma dessas igrejas, um depoimento especial fez com que as pessoas que saíram de casa para ir à missa voltassem para casa diferentes. Foi na igreja de Santo Antônio, no bairro Cinquentenário, região de classe média-alta da cidade. O templo fica em uma rua paralela à Avenida Júlio de Castilhos e passaria despercebido não fosse a cruz alta e prateada no topo da construção cinza, de arquitetura minimalista. O pequeno grupo de católicos – menos de 50 pessoas – que estava na cerimônia celebrada no primeiro domingo após o Natal teve a oportunidade de ouvir duas mulheres que, mais do que falar sobre o Evangelho e as lições deixadas por ele, mostram como é vivenciá-lo. As mulheres eram as freiras missionárias Flora Roman, 65 anos, e Maria Ester Aiolfi, 69 anos, da Congregação

das Irmãs de Jesus Bom Pastor. Elas ocuparam o espaço do sermão – momento em que o padre normalmente deixa a mensagem da missa do dia – para falar sobre a missão que cumprem na cidade de Conceição do Tocantins (TO), em pleno sertão. Falaram por cerca de meia hora, e provocaram um silêncio tão arrebatador quanto raro. Teve gente que chorou e sequer disfarçou. Naquele dia, essas duas mulheres simples, de voz suave e fala pausada, emocionaram. Aquelas pessoas privilegiadas por morarem em uma cidade rica, em um bairro bem-estruturado, ouviram como é viver em um lugar miserável onde faltam até recursos básicos como água ou comida. E nada de sofrimento ou tristeza na fala das religiosas. Pelo contrário. Com uma expressão serena e um sorriso suave, deixaram sua mensagem. “Deus nos dá tanta coisa. Nos dá saúde, força e coragem para enfrentarmos nossa missão. As outras coisas são tão pequenas perto disso”, simplificou Ester. Depois disso, as duas foram se sentar junto das outras pessoas que assistiam à missa. E o impacto do que elas haviam dito tinha sido tão forte que até o

Irmãs Pastorinhas tornam o sertão de Tocantins menos agreste com uma lição de desprendimento e amor ao próximo celebrante, padre Delvino Marin, ficou sem palavras. Nascida em Veranópolis, Ester ingressou na vida religiosa aos 15 anos, quando deixou a família e mudou-se para Caxias para ser aspirante à freira. Teve um início bem parecido com o de Flora, que mais jovem ainda, aos 13 anos, saiu de Bento Gonçalves com o objetivo de se tornar uma irmã Pastorinha. Nenhuma delas abraçou a vida religiosa por ser uma oportunidade de estudar, o que era comum para a época. Flora foi estimulada pelo irmão, que era padre. E Ester conta que desde os seis anos rezava para ser igual às freiras que ela via passar na rua e das quais ouvia falar. As duas chegaram a se encontrar quando eram aspirantes. Mas seu encontro mais importante foi em Conceição do Tocantins. Flora foi a primeira a ir para a cidade, em 1997, com o primeiro grupo de missionárias. Ester chegou quatro anos depois. E juntas elas começaram a realizar um trabalho transformador. “Eu nunca tinha visto um lugar tão pobre. Visitava as famílias e, quando ia para a casa, não tinha coragem de almoçar, porque olhava para a comida e pensava em toda aque-

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

la gente que não ia almoçar porque não tinha o que comer”, conta Flora, que ainda chora quando se lembra. A religiosa se estabeleceu em uma antiga casa paroquial que há muito não era usada, pois fazia 20 anos que o último padre residente havia passado pelo lugar. Por 15 dias, ela e outras quatro colegas percorreram as 20 comunidades rurais sertanejas das redondezas – a mais próxima a 12 quilômetros da cidade e a mais distante a 58 quilômetros, um lugar chamado Vaca Morta – ouvindo as pessoas para saber do que elas mais precisavam. “Fomos para dar uma resposta àquela população carente em todos os sentidos. Não tinham igreja, não tinham água. Bebiam a mesma água onde entravam os animais. Era marrom, sem as menores condições sanitárias. E no ano em que nós chegamos tinha dado uma seca terrível, metade dos animais tinha morrido e dava para sentir o cheiro de carniça da estrada.” Foi por isso que o trabalho das missionárias começou pela água. Com a ajuda das irmãs Pastorinhas da Itália e de um grupo de pessoas de Bento Gonçalves, mobilizadas pelo irmão de Flora, as missionárias conseguiram di-

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

5


mais para dar. Do que a gente precisa mais? De roupas? Uma saia jeans dura até 15 anos. Uma camiseta aguenta uns cinco anos. Tudo isso é tão pequeno perto do resto”, diz Ester.

Eles também fazem até 300 quilômetros a pé para pagar promessas e agradecer os milagres feitos pelo Senhor do Bonfim. E não perdem, por nada, a festa da padroeira, Imaculada Conceição, que garantem fazer milagres. “Quase não existem pontes naquela região. Em períodos de seca, quando os rios estão vazios, eles passam pelo trajeto sem problemas. Na época de chuvas, que coincide com a festa da padroeira, eles chegam a atravessar os rios com água até o pescoço, mas não deixam de comparecer para rezar e dar seu testemunho,” conta Ester.

Flora e Ester vivem sem a menor vaidade. Usam roupas e calçados que ganham de amigos e da família. Com os sertanejos, elas aprenderam a dar e a receber ajuda. “Tem uma senhora muito pobre que mora na cidade e que conseguiu se aposentar graças à nossa ajuda. Todos os meses, quando ela recebe, nos leva R$ 20 e recomenda: ‘esse dinheiro é para vocês comerem’. Essa senhora comprou uma Bíblia As religiosas não foram parar mesmo sem saber ler e diz que isso lhe em Conceição do Tocantins por acabasta para dar forças, já que é de onde so. Elas escolheram estar lá. Primeiro, tiramos as nossas palavras”, conta Flo- quando decidiram ser Pastorinhas. ra. Depois, ao serem convidadas para inAs duas religiosas acreditam que tegrar a missão que iria para o sertão. tudo faz parte da missão que elas rece- “A missão das Pastorinhas é estar onde beram. Por isso, junto com as orações o povo mais precisa. Então, estamos e a esperança, procuram levar todo o exatamente onde deveríamos estar”. resto que podem na tentativa de dar Não se trata de resignação. Flora reàs pessoas não apenas fé, mas também vela que a cidade miserável no meio dignidade. “Jesus não levava somente do sertão foi uma opção das religioa palavra. Ele também multiplicava os sas, que poderiam ter preferido outro pães, curava os doentes e acolhia os pe- lugar, mas quiseram esse: “Quando o cadores”, lembra Ester. grupo que sairia em missão foi organiE elas garantem que o povo retri- zado, ofereceram vários outros lugares bui com fé. Aliás, uma fé tão grande melhores para irmos, mas a irmã que que nunca foi vista por aqui. “Não há estava coordenando escolheu o mais padres residentes no necessitado. E escolheu sertão. Mas também certo,” considera Ester. não há igrejas. Então, “Não tinha Depois de mais de quando a gente visita coragem de uma década de missão, as comunidades, se rea opinião da religiosa almoçar porque úne para rezar debaixo continua a mesma. As de alguma árvore que olhava para a dificuldades de locotenha a copa grande. comida e pensava moção, falta de comida Quando fazemos esses em toda aquela e até a impotência dianencontros, tem gente te de tantos problemas gente que não que caminha meio dia nunca desanimou Flora para chegar até a ár- tinha o que nem Ester, que se uniu vore e rezar conosco”, comer”, diz Flora a ela anos depois. Pelo destaca Ester. contrário. Está nas paE a irmã diz que essa lavras e na expressão é apenas uma pequena demonstração das freiras a satisfação que elas sentem da fé daquelas pessoas. “Depois da Pás- em poder ajudar os sertanejos e deixar coa, é realizado um ritual no qual 12 seu exemplo às outras pessoas. “A noshomens saem a cavalo por 40 dias para sa missão encanta. Ela é belíssima. Eu anunciar, de casa em casa, a ressurrei- sabia das dificuldades e dos desafios ção de Cristo. E o povo vai se juntando desde o início. Mas eu também sabia a eles a pé e seguindo-os pelo caminho. que esse era o meu lugar”, resume EsÉ emocionante de ver”, acrescenta. ter. Maicon Damasceno/O Caxiense

nheiro para construir 11.552 cisternas umas 30 pessoas, mais ou menos. “Não de cimento, instaladas em alguns pon- tem como saber exatamente quantas tos do sertão, para recolher água do são porque não é bem um trabalho. As subterrâneo. pessoas vão lá nos pedir emprego, mas Mas era pouco. O médico mais a gente não tem como oferecer isso, próximo ficava a 110 quilômetros de nem dinheiro para pagar. Mas elas vão Conceição e o hospital mais perto a mesmo assim, com os filhos junto, e se 320 quilômetros, sendo que as pessoas oferecem para varrer o chão ou passar não tinham condições um pano em troca do de se deslocar até esalmoço e de algum troses locais. Além disso, “Deus nos dá cado.” o povo passava fome. saúde, força e “Eu ligava para o meu Mas não são apecoragem para irmão chorando pornas as irmãs que reque queria ajudar e não enfrentarmos partem o que têm. As tinha como. Então, ele nossa missão. dificuldades também falava com uns amigos, As outras coisas ensinaram os sertaneconseguia um dinheia serem solidários, são tão pequenas jos rinho e depositava. Deo que dá ânimo para pois, eu ia ao mercado perto disso”, as religiosas continuapara comprar comida e ensina Ester rem ajudando o povo. eles me davam descon“Uma vez meu irmão to porque sabiam qual foi me visitar na comseria o destino das minhas compras.” panhia de um advogado, que já nos Com ajuda que ia recebendo de vez ajudava daqui do Sul. E os dois passaem quando, a irmã montou a Casa do ram por várias famílias, onde deixaram Pão, um lugar que os sertanejos po- doações. Em uma delas, encontraram deriam procurar para conseguir co- apenas as crianças, pois os pais esmida, roupas, algum dinheiro para ir tavam trabalhando na roça. No dia ao médico e apoio. E hoje o espaço é seguinte, o pai dessas crianças foi até abastecido graças aos amigos de Bento a cidade de bicicleta com um pacote, que, a cada dois meses, mandam um que deu de presente ao meu irmão e a caminhão cheio de alimentos. Ainda esse advogado, recomendando que eles não tem para todo mundo, mas já aju- repartissem. Ao abrirem o pacote, enda bastante. contraram meia abóbora. E o sertanejo “Às vezes estamos almoçando e al- disse: ‘não repare, pois a outra metade guém bate na porta. Vamos abrir e a nós comemos no almoço’. Aquele adpessoa diz que apareceu só para dar vogado nunca mais foi o mesmo”, lemum oi. Mas a gente sabe que ela veio bra Flora, emocionada. para almoçar. Então, colocamos mais Convivendo com pessoas assim e um prato na mesa.” Nunca tem comi- com demonstrações como essa, Flora da sobrando, mas por mais gente que e Ester não aprenderam apenas a lichegue para comer com as religiosas, dar com os pobres. Elas se tornaram também nunca falta. “Lembra daquela pobres também. Moram em uma casa passagem do Evangelho na qual Jesus simples e recebem apenas um salário repartiu os pães e os peixes e, no final, mínimo por mês, que deve dar para a ainda sobrou comida? Quando a gente comida, os gastos em saúde, as passadivide o alimento, acontece isso”, justi- gens para visitar a família no final do fica Flora. ano e ainda para ajudar os sertanejos. Com a ajuda de outros amigos, desta O combustível que garante a ida delas vez de Caxias, elas também consegui- até as comunidades rurais é custeado ram construir um Centro Comunitário pelo ordenado das freiras, que preonde funciona uma escolinha para 110 cisam pagar ainda alguém da cidade crianças, com aulas de informática, ca- para levá-las, já que não possuem cartequese e parte dos 15 projetos sociais ro. Daquele salário, não sobra nada. que as missionárias desenvolvem na Mas isso não tem a menor importância região. O lugar também dá trabalho a para as missionárias. “Deus tem muito

Congregação das Irmãs de Bom Jesus Pastor, em Caxias do Sul, é o ponto de partida e o refúgio de Flora e Ester

6

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


Metas de saneamento

Maicon Damasceno/O Caxiense

ESFORÇO

CANALIZADO

Plano de despoluição projeta uma Caxias do Sul com 86% do esgoto tratado em 2012

ETE Tega, na beira do arroio que lhe dá o nome, no Reolon, é parte do conjunto de obras orçado em R$ 122 milhões

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

N

por VALQUÍRIA VITA valquiria.vita@ocaxiense.com.br as ruas do bairro Cânyon, toda vez que chove o Arroio Maestra transborda. E toda vez que faz sol o Arroio Maestra fede. Há quem diga que a situação já foi muito pior. Que antes o esgoto fazia parte das ruas, como se fosse normal que estivesse ali. Mesmo depois de algumas obras de saneamento, o esgoto, que se confunde com o arroio, ainda está lá, contornando as pequenas casas e invadindo as mais frágeis nos dias em que os temporais castigam a cidade. A artesã Elisa Gomes da Silva, 46 anos, 15 deles como moradora do Cânyon, tem vergonha de receber visitas. Não porque a casa é simples, de madeira. Mas por causa do mau cheiro do Arroio Maestra, que fica em frente. Há nove meses, Elisa convenceu uma vizinha para que a ajudasse a desentupir a passagem da água. Juntas, tiraram com as próprias mãos o lixo que obstruía parcialmente o córrego. “Mesmo assim, não tem quem aguente o cheiro no verão.” Uma das netas de Elisa começou a ter uma forte alergia na pele depois que se mudou para perto do arroio. A avó acha que é por causa do esgoto. A menina, Nicole, que logo vai fazer quatro anos, só sabe que a coceira incomoda muito. Na beira do imundo Maestra, Nicole e Tiago, filho de Elisa, brincam diariamente. Mesmo com a pequena diferença de idade – Tiago tem seis anos –, os dois são sobrinha e tio. “Eles brincam e brigam. De tudo um pouco”, diz Elisa. Num outro ponto do bairro, um problema parecido afeta a família do pedreiro Juliano Cesar Antunes de Matos, 37 anos. Ele foi um dos moradores que colocaram pedras na frente das moradias, numa tentativa de frear um pouco a correnteza d’água quando o arroio transborda. Matos tem quatro filhos, dois cachorros e um quintal fechado por uma cerca de madeira. Por causa do esgoto e dos ratos, que às vezes aparecem por ali, não permite nem que os filhos nem que os cachorros brinquem fora do perímetro da cerca. “Acho que deixaram o Cânyon”, acredita Matos, referindo-se aos políticos. “Só querem pegar as crianças no colo antes das eleições. As minhas, eu não deixo”, completa, apoiado na cerca. Um pouco para baixo, dois meninos jogam futebol na rua. Estão acostumados a brincar perto do arroio, mas às vezes alguma coisa trazida pela água os surpreende. Dias atrás viram uma cobra saindo do córrego. “Era mais ou menos assim”, diz Evandro da Rosa Silva, 10 anos, fazendo um espaço de 20 centímetros com os dedos. A cobra foi morta a pauladas. Além de gerar surpresas como a finada cobra, o esgoto do Maestra atrapalha a diversão de Evandro e dos amigos. “Quando começa a chover a gente sabe que tem que correr para casa.” Perto do “pior dos esgotos do Cânyon”, como classificam os próprios moradores, por ser o de canalização mais estreita, vive o casal Simone, 35 anos, e Roberto Paim, 36 anos. A residência de Simone e Roberto fica em um nível acima da rua, o que os livra de tê-la invadida pela água quando o

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

7


Belo, Pinhal, Samuara e Pena Branca estão em obras ou em fase de licitação. Além delas, já existem em Caxias, em funcionamento, as ETEs Maestra, Serrana, Dal Bó, Ana Rech, Vitória e Cânyon. A ETE Tega, de longe a mais avançada – com a primeira fase já completa –, está em construção próximo da Rota do Sol, com previsão de operar no final de 2011. É também a estação com a maior fatia do investimento, R$ 52 milhões. Para a estação do Samuara, a previsão de término é a mesma. As outras três, Belo, Pinhal e Pena Branca, estarão prontas até o final de 2012. Quando estiver completa e operando, só a estação do Tega tratará 440 litros de esgoto por segundo. A Pinhal, 280 litros. Pena Branca e Belo, 120 litros cada. E Samuara, 60 litros. “São 1.020 litros (de esgoto) por segundo que vamos impedir que cheguem nos arroios”, diz o diretor da divisão de esgoto. Com o projeto, estão sendo abertos cerca de 130 quilômetros de ruas para a implantação das novas redes, o equivalente à distância de Caxias a Porto Alegre. Quando as obras todas terminarem – o que está previsto para 2012, se o clima ficar estável –, o índice de

mais ao Arroio Maestra. O arroio está sendo recuperado, mas aquilo que foi depositado ao longo dos anos tem que ser retirado de lá”, afirma Caberlon. Entre uma consulta no cardiologista, seguida de uma reunião com a equipe, e uma viagem a Porto Alegre com o prefeito José Ivo Sartori, Caberlon, sentado na ampla sala da diretoria do Samae, explica a grandiosidade do plano de despoluição dos arroios. “É a grande sacada de aproveitar recursos federais para zerar um déficit que já tem 50 anos. É um plano rápido, de investimento enorme, até meio louco.” Vestindo um terno azul marinho com um bótom da prefeitura na gola, Caberlon explica que o Samae está indo adiante com esse plano o mais rápido possível para eliminar a defasagem de pessoas sem tratamento de esgoto, que aumenta assim como a população. Com esse plano concluído, ele acredita que a autarquia terá capacidade de acompanhar o crescimento de Caxias. Maria do Carmo, que começou a trabalhar na divisão de esgoto antes de o plano iniciar, conta que anos atrás andava pelos bairros e via que algo tinha que ser feito para tratar os esgotos. Fotos: Maicon Damasceno/O Caxiense

arroio transborda. O rio de esgoto, po- ção de um terceiro tubo nas ruas, além rém, bloqueia a saída de casa. “Desce dos dois tradicionais – o que leva a uma água preta fedorenta”, resume Si- água tratada para as casas e o que esmone. coa a água da chuva. Esse terceiro tubo, “É desde a administração do Pepe o exclusivo para o esgoto, é colocado que eu estou esperneando por esse es- em áreas de bacia de captação. A água goto”, explica o presidas cozinhas, chuveiros, dente da Associação lavanderias e banheiros dos Moradores do “São 1.020 litros é despejada neste tubo, Cânyon, Marciano (de esgoto) por que em vez de ir para as Correa, 71 anos. Nos fossas e para os arroios, segundo que seus pouco mais de é conduzida para uma 1m60 de altura, Mar- vamos impedir estação de tratamenciano imposta um que cheguem nos to – neste caso, para a poder digno de líder arroios”, diz Estação de Tratamento de bairro. Os cabelos Cânyon. César Casa, que ficaram brancos, Um dos planos de saa pele morena e os diretor da neamento da cidade, que óculos de grossos aros divisão de esgoto chama a atenção pelo pretos já presenciagrande investimento, é ram muitas lutas ao o Plano de Despoluição longo dos 32 anos em que ele ocupa o dos Arroios, que envolve a implantaposto. ção de redes coletoras (que coletam o Sem exageros, Marciano é conheci- esgoto das casas) e interceptoras (tubudo pelas 4 mil famílias que moram no lações maiores, que recebem o esgoto Cânyon. Andando pelo bairro, é cha- das coletoras e levam para as Estações mado a toda hora pelos vizinhos, que de Tratamento, as ETEs). O plano prepedem como ele está, fazem piadas, re- tende dar um grande passo para limclamam de algum problema nas ruas. par os córregos que atravessam a área “Quando algo dá errado, tipo o esgoto urbana. Eles compõem o que o diretor que transborda, o pessoal corre e cha- da divisão de esgoto do Samae, César

Cenira não deixa as crianças se aproximarem do Tega; no Cânyon, onde arroio é sinônimo de esgoto, o Maestra preocupa Juliano nos dias de chuva forte

ma o Marciano. Ele tem que se virar em 10”, relata Simone. “Somos vereadores sem salário”, responde o presidente do bairro. Além das moradias afetadas, Marciano mostra as portas fechadas de um pequeno mercado, que teve que se mudar para outra ponta do bairro por causa da proximidade do arroio. O cheiro forte que entrava sem pedir licença afastava clientes e estragava mercadorias. Há três pontos críticos de esgoto no bairro, mas o Cânyon é só um exemplo. Hoje, em Caxias do Sul, só 15% da população têm esgoto tratado, segundo dados do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae). Por 100 anos, o tratamento de esgoto sempre ficou em segundo plano em relação à distribuição de água. Até recentemente, um percentual ainda menor de esgoto coletivo era tratado – em 2005, apenas 4% das redes da cidade – e predominavam os sistemas de fossas. Na tentativa de diminuir situações graves como as do bairro Cânyon, o Samae empreende diferentes planos de tratamento de esgoto desde 2002. No Cânyon, com uma verba para núcleos de baixa renda, alguns trechos foram canalizados, e foi implantada uma rede de separador absoluto, que é a coloca-

8

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

Casa, costuma chamar de “espinha de peixe”. A expressão se deve ao fato de que, ao longo dos curso d’água que existem na cidade – como aquele que segue a Perimetral Norte –, vão desembocando vários arroios de diferentes bairros. “O rio seria a espinha principal e os arroios, os espinhos”, compara Casa. O plano tem investimento de R$ 122 milhões – sendo cerca de R$ 70 milhões financiados e o restante custeado pelo Samae. As novas redes funcionarão da seguinte forma: o Samae implanta tubulações ao longo dos arroios e, em vez de o esgoto das casas ser despejado na água, vai direto para esses canos, que são coletados e transportados para as ETEs. Com isso, além de os esgotos serem tratados nas ETEs, os arroios livram-se deles. Desde 2002, quando o Plano Diretor de Esgotamento Sanitário foi aprovado, todos os novos loteamentos são obrigados a fazer a rede de separador absoluto e sistema de tratamento de esgoto. “A intenção é que quando as ETEs estiverem prontas todos esses pequenos sistemas locais e menores sejam desativados, para que esse esgoto também vá para as novas estações”, diz Maria do Carmo Suita, gerente de esgoto do Samae. As estações de tratamento Tega,

população com esgoto tratado saltará Hoje nem acredita que está vendo o para 86%. No total, 47 bairros estão plano se concretizar. “Coletar e tratar incluídos no plano de despoluição, o esgoto de todo mundo é o sonho de mas mesmo onde as obras já foram qualquer sanitarista como eu”, diz Materminadas seus moradores ainda não ria do Carmo, cuja sala é tomada por veem resultados, porque as redes só caixas de arquivos adesivadas com os vão estar ligadas quando as estações de nomes das estações de tratamento. tratamento correspondentes estiverem Ela explica que a situação de bairconcluídas. “Estão sendo executadas ros que hoje têm o esgoto lançado redes interceptoras que diretamente no arroio vão direto para as esta– como o Reolon, que ções. As redes antigas “É um plano despeja tudo no Tega de esgoto existentes na rápido, de – vai mudar com o cidade, com o tempo, investimento plano de despoluição. também serão desvia“No Reolon, o esgoto é das para elas”, ressalta enorme, até meio lançado no cano do eslouco”, afirma Maria do Carmo. goto pluvial, e vai para Os moradores do Marcus Vinicius o Arroio Tega. Com a bairro Cânyon, que ain- Caberlon, ETE Tega pronta, espeda sofrem bastante com ramos que todo o esgoproblemas de esgoto, diretor-geral to do bairro vá para lá, ainda verão algumas do Samae e que a rede intercepobras acontecerem, tora capte o esgoto plumas, segundo o direvial (conhecido como tor-geral do Samae, Marcus Vinicius sistema misto) das redes mais antigas.” Caberlon, grande parte do esgoto do bairro já é tratado na ETE Cânyon, em Por enquanto, o Tega continua funcionamento desde 2007. Ele diz que sendo um vizinho inconveniente no as ligações domiciliares às estações de Reolon. Famílias do entorno do arroio tratamento estão feitas, mas que pode não sofrem tanto com alagamentos existir alguma que precise ser ainda como as famílias do Cânyon, mas tamconcluída. “O Cânyon foi o primei- bém são afetadas pelo mau cheiro, já ro em que implantamos isso. Agora, que o esgoto das casas do bairro ainda a carga orgânica do bairro não chega não é tratado.

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


mas plantinhas até tentam crescer nas uma máquina desse tamanho? “Não é bordas, mas, basicamente, o córrego é ‘dirigir’, moça, é ‘operar’ a máquina”, só água marrom com algumas pedras explica Lucena, sorrindo. corroídas pela acidez do esgoto. E um Em cima dos tubos separadores de pouco de lixo boiando. esgoto que recentemente estavam senA cada 20 metros, um cano despeja do colocados pela frente de obras de impiedosamente um líquido sujo. “Não Lucena, os próximos trabalhadores coprecisa esconder o rio, tem que limpar locariam uma camada de concreto. E o rio”, é a filosofia de César Casa. O os próximos, o asfalto. Depois de um arroio ali não será tapado. Mas a água tempo, ninguém mais irá sequer lemque desce dos canos cairá, depois do brar que ocorreram obras de esgoto ali. término das obras, direto na rede que “Tem aquela filosofia de que enterrar o plano de saneamento está implan- cano não dá voto, porque não se enxertando, e não mais no arroio. Seguirá, ga. Mas que bom que não se enxerga. desta forma, à estação de tratamento Se não tiver cano enterrado, vai ter re– neste caso, também a ETE Tega. O clamação. Se já não tem mais o esgoto lixo ficará retido no gradeamento das correndo é porque se fez alguma coisa”, novas tubulações. explica Casa. A obra da Perimetral Norte iniciou Os 130 quilômetros de obras em Caperto da Polícia Rodoviária Federal e xias estão na metade. Mesmo quando vai ainda até as proximidades do Res- estiverem encerrados, precisarão constaurante Gianella. Tudo está planejado tantemente de manutenção. E, ainda, para estar pronto para a Festa da Uva de complementos. A pretensão da deste ano, afinal, o trânsito não pode administração municipal é, no futuro, estar truncado por obras na época de chegar a 100% da população com esreceber os turistas. O desafio principal goto tratado. é aliar o trabalho e o fluxo de veículos Para isso, é preciso também colabosem prejudicar nenhuma das partes, ração dos moradores na preservação embora se saiba que isso não é nem um dos arroios. César faz uma analogia pouco fácil. com os banheiros. Quando se entra “Tem gente que nos num banheiro limpo, xinga, mas tem aquetoma-se todo o cuiles que são gente boa”, “A proximidade dado para não sujá-lo resume o operador de com o Tega, com nada. Mas quanmáquinas Lauro Ludo se entra num baque sempre foi cena, 50 anos, que innheiro sujo, já não tegra a aglomerado de algo ruim, vai há tanta preocupação trabalhadores da frente acabar sendo assim. É isso o que de obras da perimetral. um benefício”, acontece com os arLucena se orgulha de roios. Se eles estiverem projeta Ori saber trabalhar com limpos, “as pessoas não todos os tipos de má- Varela, presidente vão sujá-los com lixo”, quina, desde o trator do Reolon aposta Casa. “Tem que de esteira e retroescavahaver uma mudança deira até a escavadeira de consciência. As peshidráulica, “que são bem diferentes”, soas pensam que jogando lixo na bocadiz, com uma ponta de cigarro numa de-lobo sem que ninguém veja não vai das mãos. ter problema. Na verdade, vai entupir, A escavadeira hidráulica, enorme e e, de alguma forma, voltar para a prólaranja, é capaz de recolher tubos de pria pessoa que jogou”, diz Maria do concreto, abrir passagens e buracos, Carmo, apostando na conscientização mover terra e pedras. E como é dirigir das novas gerações. Maicon Damasceno/O Caxiense

Cenira Ramos Tubia, 45 anos, auxi- te, né?”, completa Tavares. liar de limpeza e vizinha de porta do A pensionista Therezinha Parayba, Tega, conta que desde que a Secretaria 75 anos, conta que a ela o Tega nunca de Obras limpou um pouco o arroio e incomodou. “Mas porque a gente cuiretirou parte do lixo que entupia algu- da. Temos uma lixeira particular. Cada mas passagens a situação até melhorou. um dos vizinhos pagou um pouco por “O problema é quando chove. Com a ela e todo mundo coloca lixo só ali”, força da água, desce diz enquanto toma um até cachorro e porco copo de água gelada morto”, relata Cenira “Coletar e tratar numa tarde de calor. na frente de sua casa o esgoto de todo Filho de criação de de tijolo, onde um baTherezinha, o soldador mundo é o sonho Eloi de Paula, 35 anos, lanço de corda foi feito para as netas que “Deus de qualquer ajuda na construção o livre, nunca chegam sanitarista”, de uma casa próxima à perto do arroio”. da mãe, onde pretende resume Maria A moradora, que morar com ela no final do Carmo, anos atrás já viu o Tega do ano. Eloi conta que a transbordar, viu tam- gerente de esgoto nova residência já está bém as obras referentes do Samae sendo construída com à tubulação do plano uma fossa séptica – o de despoluição serem que não existe na casa feitas bem perto de sua casa. As redes atual de Therezinha –, que servirá para coletoras já foram colocadas há cer- despejar o esgoto na tubulação da ETE ca de um ano no Reolon. Não foram quando ela estiver ativada. “Quando ativadas ainda porque aguardam o fizeram a tubulação já diziam que as término da ETE Tega. Ori Varela, 58 casas por onde ela passasse teriam que anos, presidente da Amob do Reolon, ter as fossas adaptadas”, lembra Eloi. projeta: “Com a estrutura que está cheAssim como muitos outros moradogando, esses problemas de saneamento res, ele sonha em poder um dia nadar vão ser resolvidos. A proximidade com e pescar nas águas do Tega. Mas sabe o Tega, que sempre foi algo ruim, vai que para que haja a despoluição total acabar sendo um benefício, porque a do arroio ainda vão se passar muitos rede está passando ao lado do arroio”. verões. Arrisca uma previsão: uns vinte Com a Estação de Tratamento do Tega anos ou mais. “Essa crosta que tem nas pronta, segundo Varela, as 20 mil fa- pedras do Tega não é de um dia para mílias da região – que, além do Reo- o outro para sair. Mas, pelo que eu vi, lon, inclui Vale da Esperança, Moinho a intenção é que seja um rio mesmo.” Germani, Tijuca e Santa Lúcia – serão beneficiadas. Pontos nas perimetrais NorMas os moradores sabem que grande te e Oeste são alguns exemplos de parte da responsabilidade para que o lugares de Caxias onde é possível ver Tega seja menos poluído é deles. O téc- trabalhadores abrindo e fechando bunico em eletrodomésticos Valdevino racos gigantescos para a colocação dos Vargas Tavares, 56 anos, já presenciou canos que levarão às novas estações de carros parando na beira do Tega e des- tratamento. Na Rubem Bento Alves, carregando sacos de lixo. “Já vi pessoas no sentido Moreira César-Pavilhões jogando lixo de noite para não serem da Festa da Uva, quem passa de carro denunciadas”, conta Kelvin Cristani, 11 vê apenas as plantas e pequenas árvoanos, neto de Tavares. “Sabemos que o res que cercam um comprido fosso. plano vai ajudar, mas tem que parar de Só se arriscando a caminhar na beira jogar lixo. Espero que melhore bastan- dele é possível enxergar o arroio. Algu-

Therezinha e Eloi vão se mudar para uma casa nova, também próxima ao Tega, agora com fossa séptica. Ele sonha em nadar e pescar no arroio um dia

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

9


Guia de Cultura

guiadecultura@ocaxiense.com.br

Comédias em cartaz no cinema e no teatro; orquestra de graça nos Macaquinhos

l Avatar | Ficção científica. De sábado a quinta, 19h e 22h | Classificação 12 anos, 166 minutos, legendado. Pepsi GNC 5 – Shopping Iguatemi l Bete Balanço | Drama. De quinta a domingo, dia 31, 20h | Bete é uma garota do interior recém aprovada no vestibular e cantora eventual de um bar de Governador Valadares (MG). Liberada na relação sexual

l O fada do dente | Comédia. De sábado a quinta, 14h20, 16h30, 18h50 e 21h | Conta a história de um cruel e sádico jogador de hockey com tendência de arrancar dentes de seus adversários, daí o apelido. Depois de dizer para uma menina que a fada do dente não existe, ele é condenado a se tornar uma delas. Dirigido por Michael

Estados Unidos em 1935 são afetados por um novo habitante: um enorme homem com um dom mágico, misterioso e miraculoso. Censura 14 anos, legendado, 188 minutos. Sala de Cinema Ulysses Geremia Entrada franca. A participação pode ser confirmada antes por agendamento ou reserva de ingresso, pelo 39011312, com Tatiéli | Luiz Antunes, 312, Panazzolo | 3901-1316 | 100 lugares l Xuxa em O Mistério da Feiurinha | Infantil. De sábado a quinta, 13h20 e 15h10 | A princesa Feiurinha desaparece e Chapeuzinho Vermelho pede ajuda a

New Line Cinema, Divulgação/O Caxiense

Warner Bros. Entertainment Inc , Div./O Caxiense

l Alvin e os Esquilos 2 | Comédia. De sábado a quinta, 13h30, 15h30, 17h30 e 19h30 | O trio de esquilos Alvin, Simon e Theodore participa de um concurso de bandas para salvar a escola de música com o dinheiro do prêmio, mas um dos concorrentes é um grupo formado por três fêmeas, as Chipettes. Dirigido por Tim Hill. Censura livre, 94 minutos, dublado. Pepsi GNC 4 - Shopping Iguatemi Segunda e quarta-feira (exceto feriados): R$ 11 (inteira), R$ 7,50 (Movie

dical, nos anos 80. Dirigido por Fábio Barreto, com Glória Pires, Cleo Pires e Juliana Baroni. Censura 12 anos, 130 minutos. Trabalhador sindicalizado paga meia entrada. Pepsi GNC 3 - Shopping Iguatemi

Paramount Home Entertainment, Inc., Div./O Caxiense

CINEMA

depois que um deles salva sua vida. Dirigido por James Cameron. Censura 12 anos, 166 minutos, dublado. Pepsi GNC 5 – Shopping Iguatemi

O Sherlock do diretor Guy Ritchie briga e investiga; a morte persegue jovens pela quarta vez na Premonição; George Clooney demite pessoas pelos EUA em Amor sem escalas

Club Preferencial) e R$ 5,50 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). Terça-feira: R$ 6,50 (promocional) Sexta-feira, sábado, domingo e feriados: R$ 13 (inteira), R$ 10 (Movie Club Preferencial) e R$ 6,50 (meia entrada, crianças menores de 12 anos e sêniors com mais de 60 anos). RSC-453 nº 2780 - Distrito Industrial | 3209-5910 l Amor sem escalas | Comédia romântica. De sábado a quinta, 14h30, 16h50, 19h40 e 22h10 | Homem que viaja pelos Estados Unidos despedindo funcionários de empresas sempre teve estilo de vida desapegado, com passagens frequentes por aeroportos e hotéis. Porém, ele começa a se conscientizar de sua solidão e de como seria sua vida sem esse emprego quando uma nova funcionária é contratada e ele tem que treiná-la. Dirigido por Jason Reitman. Com George Clooney e Vera Farmiga. Censura 12 anos, 109 minutos, legendado. Pepsi GNC 2 – Shopping Iguatemi l Avatar | Ficção científica. De sábado a quinta, 13h e 16h | Ex-fuzileiro naval é enviado ao planeta Pandora, onde encontra uma raça humanoide chamada Na’Vi. A missão dele é impedir que os Na’Vi atrapalhem a extração de minerais, mas o confronto com os alienígenas muda

10

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

com o namorado, curte teatro e sonha com um espaço maior para o seu prazer, no trabalho e na vida. A música a atrai para o Rio de Janeiro, pouco antes de completar 18 anos. Tudo o que experimenta, então, é uma inevitável sucessão de coisas boas e más. Dirigido por Lael Rodrigues. Com Debora Bloch, Lauro Corona e Diogo Vilela. 74 minutos. Sala de Cinema Ulysses Geremia R$ 1,99 | Luiz Antunes, 312, Panazzolo | 3901-1316 | 100 lugares l Coco antes de Chanel | Drama. De sábado a quinta, 17h e 19h10 | História da famosa estilista francesa Coco Chanel, que se tornou ícone da moda. Mostra a órfã de família humilde que se torna costureira durante o dia e cantora de cabaré à noite. De personalidade forte e vida repleta de romances, ela domina o mundo da moda com a ousadia de seus modelitos. Dirigido por Anne Fontaine. Com Audrey Tautou. Censura 14 anos, 110 minutos, legendado. Pepsi GNC 3 – Shopping Iguatemi l Lula, o Filho do Brasil | Drama. De sábado a quinta, 21h10 | O filme retrata a história do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde o nascimento no sertão pernambucano, passando pela infância na cidade portuária de Santos, em São Paulo, até o auge da atuação no movimento sin-

Lembeck. Com Dwayne Johnson (The Rock) e Julie Andrews. Censura livre, 103 minutos, dublado. Pepsi GNC 1 – Shopping Iguatemi l Premonição 4 | Terror. De sábado a quinta, 21h30 | No quarto filme da série, jovens escapam da morte em um autódromo depois da premonição de um deles. Mas eles ainda serão perseguidos um a um. Dirigido por Davir R. Ellis. Com Bobby Campo e Shantel Van Santen. Pré-estreia. Censura 18 anos, 81 minutos, legendado. Pepsi GNC 1 – Shopping Iguatemi l Sherlock Holmes | Ação. De sábado a quinta, 14h00, 16h40, 19h20 e 21h50 | Em meados do século XIX, o detetive Sherlock Holmes, mais ousado e bon vivant que em qualquer outra adaptação cinematográfica, é acompanhado pelo fiel escudeiro Dr. Watson na captura de um serial killer e bruxo. Dirigido por Guy Ritchie. Com Robert Downey Jr. e Jude Law. Censura 14 anos, 128 minutos, legendado. Pepsi GNC 6 – Shopping Iguatemi l À espera de um milagre | Drama. Quinta, dia 28, 15h | Adaptação de um livro de Stephen King, o filme conta a história de como os guardas e os prisioneiros do corredor da morte de uma cadeia do sul dos

todas as princesas famosas dos contos de fada, como Branca de Neve, Bela Adormecida, Rapunzel e Cinderela para encontrá-la. Para isso, até o mundo real é convocado. Com Xuxa, Sasha, Angélica e Hebe Camargo. Dirigido por Tizuka Yamasaki. Censura livre, 82 minutos. Pepsi GNC 3 - Shopping Iguatemi

TEATRO l A Farsa da Madame & A Mucama | Sábado, 20h | Com direção de Jonas Piccoli, a comédia mostra um divertido jogo de interesses e disputas de poder entre três personagens: a madame, a mucama e o conde. Um quer se aproveitar da riqueza do outro, sem saber que todos estão falidos. O elenco conta com Ciana Moraes, Marcelo Brinker e Raquel Machado. Censura 14 anos. Teatro Municipal Pedro Parenti – Casa da Cultura R$10 | Dr. Montaury, 1.333, Centro | 3028-8192 ou 8118-5152 l Pindorama – A saga de um cristo | Domingo, 15h30 | Grupo Nativos Terra Rasgada, de Sorocaba (SP), apresenta teatro de rua, que aborda alguns dos principais acontecimentos históricos do Brasil, agregando à narrativa três personagens bíblicos: Jesus, Maria Madalena

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


EXPOSIÇÕES l Arte e religiosidade na cultura italiana | Até dia 26 de fevereiro, de segunda à sexta-feira das 8h30 às 18h e aos sábados das 10h às 16h | Três artistas plásticas caxienses apresentam trabalhos envolvendo religião e imigração italiana. Isolda Pezzi cria réplicas de capelas de Antônio Prado em barro. Neusa Welter Bocchese faz pintura em acrílico sobre plástico transparente que remete a elaboradas cruzes de cemitérios. Rosa Maria Guerra promove uma releitura de elementos decorativos entalhados no interior de capelas, usando recorte e colagem. Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim – Casa da Cultura Entrada franca | Dr. Montaury, 1.333, Centro | 3221-3697

WORKSHOP

l Cinquentinha | Música eletrônica. Sábado, 23h | Festa com participação das drag queens Giovana Playmobil e Valma Classic Kieer. Com DJ Bebezão. Studio54Mix R$ 10 | Visconde de Pelotas, 87, Centro | 9104-3160 | www.studio54mix.com l D-Tones | Pop rock. Sábado, 23h | Músicas próprias e covers para a festa La Barra Vintage. Depois, DJ Rocha Netto. La Barra Valor não divulgado | Coronel Flores, 810, São Pelegrino | 3028-0406 | www. labarra.com.br l Dan Ferretti | Samba rock e MPB. Sábado, 22h30 | Sucessos do samba rock e da MPB. São Patrício Bar Entrada franca | Tronca esquina com Marechal Floriano, Centro | 30285227 | 50 pessoas l DJ Iziquiel Carraro | Música eletrônica. Sábado, 23h | Músicas para dançar. La Boom Snooker Entrada franca (feminino) e R$ 6 (masculino) | Feijó Junior, 1.023, sala 02, São Pelegrino | 3221-6364 | 1.200 pessoas

l Los Valderramas | Música latina. Sábado, 23h | Trabalho paralelo dos músicos Hernan Gonzáles e Fabrício Beck, da banda Vera Loca, com repertório latino. Vagão Bar R$ 15 ou R$ 12 (com nome na lista e até meia-noite) | Coronel Flores, 789, São Pelegrino | 3223-0007 | www. vagaobar.com.br | 500 pessoas l Mercedes Blues Band | Blues. Sábado, 23h | Banda traz o melhor do bom e velho ao moderno blues, além de pitadas de rhythm & blues. Mississippi Delta Blues Bar R$ 10 (feminino) e R$ 15 (masculino) | Augusto Pestana, 810, São Pelegrino | 3028-6149 | www.msdelta.com.br l Na Estrada Rock Fest | Rock. Sábado, 23h30 | Show com as bandas Babysitters, LaCross e Fighters, com músicas próprias e covers de sucessos do rock. Roxx Rock Bar R$ 13 (até 23h30) e R$ 15 (depois) | Av. Júlio de Castilhos, 1.343, Centro | 3021-3597 | 400 pessoas

l D’Skema Novo | Pagode. Sábado, 22h | Covers e músicas próprias. Expresso Pub Café R$ 10 (feminino) e R$ 12 (masculino) | Garibaldi, 984, Centro | 3025-4474 | 150 pessoas l Eder e Leucir | Pop rock. Sábado, 22h30 | Acústico com covers de bandas do pop rock nacional e internacional. Badulê American Pub Entrada franca até as 22h . Após, R$ 5,00. | Rua Marechal Floriano, 1.504, sala 1, Centro | 3419-5269 | 70 pessoas l Libertá | Nativista e outros gêne-

l Oltz | Rock. Sábado, 23h | Músicas próprias e covers de Queen, Aerosmith, Tina Turner, Amy Winehouse e Kiss. Depois, DJ Eddy. Portal Bowling – Martcenter R$ 10 (feminino) e R$ 15 (masculino) | RSC-453 Km 2, 4.140 | 3220-5758 | 1.000 pessoas | www.portalbowling. com.br l Pepsi Live | Música eletrônica. Sábado, 23h | Na pista, DJs Léo Z e Elias Cappellaro e VJ Gustavo Zanotto. No lounge, DJs Marcelo Falcas e Daniel. No palco, show com a banda Trahma.

Pepsi Club Feminino: R$ 20 e R$ 15 (com flyer). Masculino: R$ 40 e R$ 35 (com flyer) | Vereador Mário Pezzi, 1.450, Exposição | 3419-0900 | www.pepsiclub.com. br | 1.100 pessoas l Seduction | Música eletrônica. Sábado, 23h | Go-go dancers ao som do DJ Rodrigo Dias. Nox Versus R$ 15 (com nome na lista e até 0h30) e R$ 20 (após) | Darcy Zaparolli, 111, Villaggio Iguatemi | 3027.1351 | www. noxversus.com.br l Toys | Música eletrônica. Sábado, 23h | DJs residentes Alibu, Thobias, Fla Scola, Diego Oselame e Fran Bortolossi. Havana Café Feminino: R$ 20 e R$ 10 (com nome na lista). Masculino: R$ 40 e R$ 20 (com nome na lista) | Augusto Pestana, 145, São Pelegrino | 3215-6619 | www.havanacafe.com.br l Orquestra Municipal de Sopros | Domingo, 18h | Apresentação, regida pelo maestro Gilberto Salvagni, integra a programação do Calendário de Eventos Caxias 2010. Parque Getúlio Vargas (Macaquinhos) Entrada franca | Dom José Baréa, s/n, Centro l Swing Natural | Pagode. Domingo, 20h | Roda comandada por grupo que toca desde clássicos como Alcione e Zeca Pagodinho até sucessos de Art Popular, Inimigos da HP e Revelação, além de mostrar adaptações de músicas de Fabio Jr., Jota Quest, Papas da Língua e Sandra de Sá. Depois, DJ Anderson. Europa Lounge Garden Feminino: R$ 10 ou R$ 5 (com nome na lista). Masculino: R$ 20 ou R$ 15 (com nome na lista) | Feijó Júnior, 1.062, Via Decoratta | 3536-2914 ou 8401-2029 | 400 pessoas

Ueba Pró, Divulgação/O Caxiense

l Dança contemporânea | De 25 a 29, de segunda a quinta, das 15h às 17h, e sexta, das 11h às 13h | A bailarina e coreógrafa Simone Rorato ministra workshop de dança contemporânea. Simone tem formação em balé clássico e dança moderna, fundou o Grupo Terra, em Porto Alegre, e atuou no Balé da Cidade de São Paulo e no Tanztheater Christine Brunel, na Alemanha. Inscrições mediante entrega de breve currículo. Cia. Municipal de Dança Inscrições gratuitas | Luiz Antunes, 312, Panazzolo | 3901-1316 (ramal 203) ou ciadedanca@caxias.rs.gov.br

MÚSICA

ros. Sábado, 22h30 | Grupo com repertório variado, desde música gaúcha e sertaneja até MPB, passando por axé music e pagode. Libertá Danceteria R$ 10 (feminino) e R$ 20 (masculino) | 13 de maio, 1.684, Cristo Redentor | 3222-2002 | 700 pessoas

Rosa Maria Guerra, Divulgação/O Caxiense

e o Diabo. O espetáculo faz parte da abertura oficial da programação do Calendário de Eventos Caxias 2010. Em caso de chuva, a apresentação será realizada no saguão do Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho. Parque Getúlio Vargas (Macaquinhos) Entrada franca | Dom José Baréa, s/n, Centro

A mucama, o conde e a madame tentam tirar vantagem um do outro no Teatro Pedro Parenti; Rosa Maria Guerra usa recorte e colagem em releitura dos entalhes das capelas

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

11


Artes artes@ocaxiense.com.br

Victor Hugo Porto | Sem título |

As generosas curvas da sensualidade feminina, tema central das obras do caxiense Victor Hugo Porto, inauguram uma nova fase no trabalho do artista. Ao abordar a liberdade, as Marias de Victor Hugo dividem espaço com imagens absurdas e elementos surreais em uma mostra de 14 telas que abre em maio, na Galeria Municipal de Arte Gerd Bornheim. Cores vibrantes e formas exageradas contrastam com as sutilezas do erotismo. Neste acrílico sobre tela, um gato esconde o evidente para denunciar a nudez. São Marias que não se despem ao primeiro olhar.

O CORREDOR

C

12

por MARCELO MOURA orra rapaz! E ele correu, sem olhar para os lados, não acreditava no destino. O caminho se faz ao caminhar, vive-se a vida correndo. Ele correu, passadas curtas e ágeis no início, ritmo cadenciado depois, pés cansados e acostumados alguns anos mais tarde. Sim, ele correu, pisou de leve o chão de vilarejos, atravessou cidades, venceu metrópoles. Deixou bebês para trás, contemplou brevemente a face incompleta das crianças, cumprimentou ofegante os homens, declarou-se rapidamente para as mulheres. Assim como a ciência, ele correu, sentiu o vento esparramar seus cabelos, abandonou seus medos pelo caminho. Nunca refletiu, sempre lembrou de seguir adiante, afinal, o fim aguardava,

O Caxiense

imóvel, sua chegada. Ele correu, aprendeu o significado da determinação, adquiriu resistência e sabedoria. Admirou a capa de incontáveis livros, leu as primeiras páginas de alguns, não terminou sequer um, preferiu distribuílos a jovens universitários. Não parou para ver o tempo passar, ele correu contra o tempo. Seu relógio subitamente parou, a bússola jamais funcionou, faltava-lhe o norte. Ele correu, para que serviam as pernas senão para correr? Qual a sina do corpo senão se deteriorar? Munido de lógica e impulsividade ele correu, seguiu a ordem, correu os riscos, sobre os riscos amarelos da estrada. Quando menos esperava, sentiu um forte cansaço, não conseguiu mais, finalmente parou, e nesse exato instante ouviu: Volta rapaz! E por fim morreu, sem olhar para trás.

23 a 29 de janeiro de 2010

PEQUENOS POEMAS - I por VALDIR DOS SANTOS O outono desmancha o gozo das paixões, de sexta-feira, que não são santas. Redes violáceas de prazer acolhem abraços contatos tecidos suor e insuspeitos tremores presenciais de corpos que protagonizam descompassados arfares: rituais milenares de uma mesma procura.

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


Maicon Damasceno/O Caxiense

Economia Sólida

Ao longo deste ano, 20 mil apartamentos ou casas serão erguidos no município, uma impressionante média de 55 unidades habitacionais por dia

CAXIAS, CIDADE

EM OBRAS

E

por GRAZIELA ANDREATTA graziela.andreatta@ocaxiense.com.br nquanto você trabalha, descansa ou lê este jornal, milhares de tijolos são assentados em Caxias sem parar. Independentemente de clima e até dos últimos solavancos da economia, a construção civil se desenvolve freneticamente na cidade. Uma simples caminhada pelas ruas de qualquer bairro é suficiente para compreender o que ela representa. Faça isso olhando para os lados ou para cima. Quantas construções novas surgiram ao seu redor no último ano? Segundo informações da Secretaria Municipal de Urbanismo, em 2009 foram autorizados 889.586,56 metros quadrados de construção, divididos em 1.873 empreendimentos. Ou seja, quase um milhão de metros quadrados de obras novas entre casas, apartamentos, estabelecimentos comerciais e industriais. Para tentar visualizar isso, imagine o edifício mais alto do mundo, o Burj Khalifa, de Dubai (Emirados Árabes), inaugurado no início do mês. Ele tem 160 andares, 828 metros de altura e cerca de 500 mil metros quadrados – quase 300 mil metros quadrados a menos do que as construções autorizadas em Caxias no ano passado. “A construção civil em Caxias é uma loucura”, define o diretor da Secretaria de

Urbanismo, Nelson Carlos Sartori. É tanta loucura que os quatro profissionais do órgão responsáveis pela análise dos pedidos de autorização para novas obras mal dão conta da demanda. Por dia, cada um deles aprova oito projetos em média. Entre os que são aprovados e aqueles que precisam ser reencaminhados aos proprietários por falta de documentação ou informações equivocadas, esses servidores analisam de 15 a 20 projetos diariamente. Sartori explica que para ser aprovada uma construção necessita passar por diversos setores da prefeitura e diferentes secretarias, onde são feitos relatórios de localização, topografia, zoneamento e impacto de trânsito. Dependendo do tamanho do empreendimento também é exigido o laudo do Corpo de Bombeiros. Tudo isso, claro, acompanhado de um projeto técnico detalhado que leve em conta itens como redes de água e esgoto. “Depois que a pessoa tiver tudo isso, o projeto e a documentação vêm para a nossa secretaria, que analisa a papelada e aprova ou devolve o pedido para complementação caso tenha algo em desacordo com o Plano Diretor do município. E a gente recebe muito trabalho incompleto, que vai e volta diversas vezes.” Apesar de todas essas idas e vindas dos projetos, o secretário municipal de

Nem a crise do ano passado foi capaz de frear a construção civil, que continuou crescendo – e expandindo a urbanização Urbanismo, Francisco Spiandorello, acredita que entre as obras já em andamento e as que foram autorizadas no ano passado mas ainda iniciaram Caxias deverá ter, somente na área habitacional, 20 mil unidades sendo construídas em 2010. É o equivalente a quase 55 casas ou apartamentos por dia. Ou duas unidades por hora. É quase o mesmo tempo que se leva para ler este jor“Se você nal do início ao fim.

emprego, propagandeado em todos os cantos do país. Sua intenção não era ser construtor. Lino só queria estudar, já que em Ipê, na época localidade de Vacaria, não tinha ensino médio. Aqui, no entanto, encontrou o irmão, que trabalhava na construção civil. Passou a ajudá-lo nos horários em que não estava na escola e decidiu adotar a profissão. “Eu trabalhava ficar com meu irmão de dia e de noite ia para aula um ano sem O construtor passar por uma no Cristóvão de MenLino Cearon, 54 anos doza.” de idade e 37 de pro- rua, quando fizer Lino se especializou. fissão, garante: a cons- isso de novo Fez curso de leitura e trução civil de Caxias é capaz de não interpretação de desecresce tanto que até reconhecer nho no Senac e aprenquem trabalha na área deu todas as etapas da há muito tempo tem di- mais o lugar”, construção, do alicerce ficuldades para acom- diz construtor ao telhado, da carpinpanhar. “Se você ficar taria ao acabamento. um ano sem passar por Montou uma empresa uma rua, quando fizer isso de novo é que hoje conta com 12 funcionários. capaz de não reconhecer mais o lugar.” Em quase 40 anos trabalhando no seLino acompanhou de perto o desen- tor, nunca ficou sem serviço. “Todos os volvimento desse setor que cresce de dias tem gente ligando para nos con3% a 5% ao ano, segundo estimativas tratar. E eu sou obrigado a recusar pordo Sindicato da Construção Civil (Sin- que não tenho como dar conta.” duscon). Ele chegou a Caxias no início O construtor já não se impressiona dos anos de 1970, no auge da produção com o crescimento da construção civil industrial da cidade, junto com outras que tanto chamou sua atenção lá nos dezenas de famílias que vinham dia- anos 70, quando viu em Caxias, pela riamente para cá em busca do oásis do primeira vez, não um prédio, mas de-

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

13


Maicon Damasceno/O Caxiense

Lino: “Tem construção por toda a cidade. Mas ninguém presta atenção, já é comum”

14

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

zenas deles se proliferando. “Se você for olhar, tem construção sendo feita por toda a cidade. Mas ninguém presta atenção nisso, porque já é comum.”

cífico foi estimulado, e isso fez com que a crise passasse por ele como se nem tivesse existido”. E as casas e apartamentos populares se multiplicam da noite para o dia.

Segundo o presidente do Sinduscon, Rafael Tregansin, faz duas Outro fator que manteve os décadas que o setor cresce sem parar. números da construção civil em alta No ano passado, chegou a ocorrer uma foi aquele que já virou chavão para pequena retração em relação a 2008, deinir a economia da cidade: o empor causa da crise. “O ano de 2008 foi preendedorismo. Spiandorello teoriza excepcional para a construção civil. que muitos dos trabalhadores demitiHouve um salto em relação aos ante- dos em 2009, principalmente aqueles riores. Em 2009, veio a crise e os nú- que tinham muito tempo de empremeros inevitavelmente caíram. Mesmo sa, aproveitaram o dinheiro do FGTS assim, em comparação com as médias para começar um negócio. E, para isso, históricas, houve crescimento.” precisaram ampliar suas moradias ou Quem mais sofreu com o cenário fazer pequenas construções anexas às econômico de 2009 foi a área indus- casas. “Em 2009, foram protocolados trial. A quantidade de projetos aprova- na prefeitura 6.107 alvarás. Surgiram dos na prefeitura caiu de 61 para 50. O mais de 500 empreendimentos novos. vice-presidente do Sinduscon e sócio- Quem tinha experiência e algum digerente da Construtora Vêneto, Valde- nheiro investiu no próprio negócio e mor Trentin, conta que a maioria dos muitos fizeram obras em suas casas ou empresários evitou investimentos em terrenos.” obras civis. “As empresas deram contiE como a construção civil é consinuidade aos projetos que tinham sido derada um investimento seguro, quem iniciados, mas seguraram os demais.” tinha terreno e dinheiro mas não a Já os empreendimentos comerciais vontade de abrir uma empresa direcioe residenciais aumentaram, impedin- nou os investimentos para esse setor. do que a balança pendesse mais para O resultado foi uma multiplicação na o lado negativo. Além disso, no ano quantidade de pavilhões industriais – passado houve a consolidação de um quase todos iguais – ao redor de rodofenômeno que pode ser simplificado vias e das perimetrais. “Como a nossa como democratização região é empreendedoda habitação. As granra, é comum acontecer des responsáveis pelo As maiores isso. A pessoa tem um crescimento de 2009, responsáveis pelo terreno bem localizaem um dos raros mo- avanço do setor do, coloca um pavilhão mentos da história, em cima e aluga. É um foram as classes C e D, foram as classes C investimento com reque uma década atrás e D, beneficiadas torno garantido”, avalia não poderiam nem por programas Trentin. sonhar em fazer parte habitacionais O fenômeno é bem dessa estatística. parecido com o que “As classes média e e linhas de ocorre também nas árealta sempre lideraram crédito privadas as novas de comércio, os investimentos na principalmente próxiárea das construção cimas a estabelecimentos vil. Isso começou a mudar entre 2004 já consolidados, como shoppings. Foi o e 2005, devido a programas habitacio- que aconteceu com o conjunto de lojas nais e de financiamentos até de bancos em frente ao Iguatemi e também em privados voltados para as classes mais prédios isolados construídos nessas baixas. E esse fator foi decisivo no ano proximidades. passado”, avalia Tregansin. O dono da Empresa Urbanizadora Os programas Minha Casa, Minha Rodobrás, Ovídio Deitos, entrou nesse Vida, do governo federal, e Caxias, Mi- negócio quase por acaso. A atividade nha Casa, da prefeitura, que dão sub- da companhia dele é urbanizar terresídios principalmente a famílias com nos. Faz isso há 35 anos. Mas, casualrenda de zero a 3 salários mínimos, mente, era o proprietário de lotes em fizeram aumentar o número de uni- frente ao Iguatemi e ao lado do Mardades habitacionais em construção, fe- tcenter. Ao ser procurado por donos nômeno que deve se repetir em 2010. de duas revendas de veículos, não teve O diretor da Secretaria de Urbanismo, dúvida: construiu os prédios para seNelson Carlos Sartori, informa que rem usados pelas concessionárias em antes mesmo de fechar o mês de janei- troca do aluguel do espaço depois. ro já está prevista a liberação de mais “Quando compramos aquela área não 3 mil unidades populares. “Elas têm imaginávamos usá-la com esse fim. menor metragem quadrada, o que faz Mas o negócio surgiu e nós aceitamos. com que o resultado final, em metros E essa deve ser a característica princiquadrados, não seja tão grande. Em pal dos empreendimentos naquelas recompensação, em número de mora- giões”, analisa. dias, a conta cresce”, compara. O secretário Francisco Spiandorello Essa tendência não é apenas lembra que as classes mais baixas esta- uma casualidade. Começou com a vam carentes de programas de moradia ocupação das empresas e acabou se há muitos anos, e o déficit habitacional consolidando com a aprovação do Plaentre essas pessoas era muito alto. Isso no Diretor de Caxias do Sul, no final teria feito com que, a partir do mo- de 2007. Ele dividiu a cidade em zonas mento em que surgiram financiamen- conforme suas características físicas tos para essa camada social, a mudança e sociais e estabeleceu regras para as tenha sido tão rápida e drástica. “Em construções em cada uma delas. plena crise econômica, esse setor espeAs habitações podem ser realizadas

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


Mas o conhecimento prático em construção não foi desperdiçado por nenhum dos três. Na hora de construir suas casas, em terrenos próximos ao dos pais, os irmãos literalmente colocaram a mão na massa e trabalharam. “A minha casa eu fiz praticamente sozinho. Quando meus filhos foram fazer as deles, eu já tinha a empresa e os funcionários ajudaram, mas os guris também trabalharam, e bastante”, garante o pai.

outra, o setor se movimenta”, analisa Tregansin. O empresário Ovídio Deitos, que urbanizou 14 mil lotes nos últimos 35 anos, conta que em todo esse tempo de atuação no mercado imobiliário nunca viu o setor da construção retraído. “Às vezes, ele se mantém na média. Mas não diminui, independentemente do cenário econômico.” Deitos lembra que nos últimos 20 anos a população de Caxias do Sul praticamente dobrou. E com ela cresceram os novos empreTrabalhar bastante, aliás, é endimentos comerciais, industriais e a regra na construção civil. Em uma residenciais. “Só a necessidade dessa cidade com obras em praticamente gente morar seria suficiente para mantodas as regiões, chega a faltar mão de ter o setor. Mas tem todo o resto que obra. E sobra serviço. É tanta deman- vem junto.” da que as empresas do setor não dão O secretário municipal de Urbanisconta. O presidente do Sinduscon, Ra- mo, Francisco Spiandorello, aposta fael Tregansin, acredita que esse aque- em um índice de crescimento para o cimento ocorra também por causa da setor maior do que a média histórica, diversidade econômica da cidade, que devido à demanda reprimida de 2009. inevitavelmente reflete “Com base nos pedina construção. “Não dos que já estamos reexiste padrão. Caxias “Caxias é um cebendo, creio que teé um lugar onde se faz lugar onde se remos um incremento obras para o público faz obras para o de uns 10% sobre esses que vai desde a classe D índices atuais, que já até aquelas pessoas que público que vai são muito bons.” investem três ou quatro desde a classe D E o diretor da secremilhões de reais.” taria, Nelson Carlos até pessoas que Além disso, a cons- investem quatro Sartori, acredita que trução civil daqui se a tendência é crescer beneficia da migração. milhões de reais”, cada vez mais, porque “Caxias atrai gente de diz Tregansin ainda faltam casas em diversas regiões, e essas Caxias e o setor tem pessoas precisam motodas as condições de rar. Somado a isso, tem a movimenta- absorver a demanda, seja ela qual for. ção interna, de pessoas que já possuem “A construção civil é um segmento exuma casa mas querem se mudar para tremamente aquecido na nossa cidade. outra melhor. De uma maneira ou de Caxias sempre foi assim”. Maicon Damasceno/O Caxiense

em praticamente toda a cidade. Mas principalmente qualificada. O consos empreendimentos comerciais e in- trutor Lino Cearon, que adora a produstriais estão restritos a algumas áre- fissão que escolheu, acredita que o as específicas, a maioria delas já com problema ocorra justamente porque essas características. O Plano Diretor não se preparam mais profissionais também impôs restrições construtivas para a construção civil. Ele lembra que na chamada Zona das começou a trabalhar Águas, região que vai na área com 17 anos, mais ou menos de Ana Segmento situação que não se Rech até a divisa com reúne 4.660 repetiria hoje porque São Francisco de Paula. a lei permite contratar trabalhadores Como a região Sul (Gafuncionários para tralópolis) é praticamente em 1,2 mil balhar em obras apeum despenhadeiro, as empresas, sem nas após os 18 anos. construções estão se contar a mão de “Nas firmas eles poconcentrando nas zodem começar com 16. obra informal, nas Norte (Flores da Na construção, só com Cunha) e Oeste (Far- que é 18. Quando eles tesignificativa roupilha). riam idade para isso, já Quem se encarrega estão exercendo outra de todo esse crescimenprofissão. Então, acaba to horizontal – e vertical – diário da vindo para a obra quem não conseguiu cidade são basicamente 1,2 mil em- fazer outra coisa.” presas, entre construtoras, incorporaLino conta que ensinou o ofício aos doras e prestadoras de serviço. Juntas, três filhos – Marcelo, 29 anos, Gleidelas empregam 4.660 trabalhadores, son, 26 anos, e Fernando, 23 anos. E segundo dados de dezembro do Ca- todos trabalharam como construtores, dastro Geral de Empregados e Desem- assim como o pai. “O Gleidson foi o pregados (Caged) do Ministério do que menos me ajudou, porque fazia Trabalho e Emprego. faculdade de noite e logo conseguiu Mas há também um número gran- um emprego na área. Mas o Marcelo de de autônomos, que não trabalham e o Nando estudavam de dia. Como para essas empresas e não constam era difícil conseguir emprego, trabanos dados oficiais, que não pode ser lhavam comigo. O Marcelo sabe fazer ignorado. Não há como saber quantos tudo numa obra”, conta, orgulhoso. eles são, mas se você parar para penNenhum deles quis seguir a profissar 30 segundos lembrará rapidamente são do pai. Gleidson se formou em de um pedreiro – ou de alguém que Comércio Exterior e Fernando em Enconhece algum. E ele provavelmente fermagem. O que mais se aproximou trabalha por conta, sem registro, sem foi Marcelo, que é arquiteto. “Tenho empresa, sem nota fiscal. certeza de que o que ele aprendeu na Ainda assim, falta mão de obra, obra o ajuda na profissão”, diz Lino.

Empresário Ovídio Deitos trabalha com urbanização de terrenos há 35 anos e garante nunca ter visto os números do setor diminuírem

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

15


Guia de Esportes guiadeesportes@ocaxiense.com.br

Luiz Chaves, Divulgação/O Caxiense

Entre idas e vindas a Porto Alegre, dupla Ca-Ju tenta embalar no Gauchão

Semifinais e finais do Circuito Banco do Brasil esquentam as areias dos Pavilhões da Festa da Uva no fim de semana

VÔLEI DE PRAIA l Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia | sábado e domingo, das 8h30 às 17h | As melhores duplas de vôlei de praia do Brasil se enfrentam neste final de semana. Na manhã de sábado, 36 duplas, entre masculinas e femininas, disputam as vagas para as semifinais, que ocorrem à tarde. A grande final masculina e feminina será realizada no domingo pela manhã. Entre os principais participantes estão Fábio Luiz e Márcio (Medalha de Prata nos Jogos Olímpicos de Pequim/2008), Alison (campeão do Circuito Banco do Brasil 2009, vice-campeão mundial de 2009) e Emanuel (campeão olímpico de Atenas 2004, Medalha de Ouro nos Jogos Pan-Americanos 2007). Entre as mulheres, figuram atletas como Talita (campeã do Circuito Banco do Brasil 2009), Maria Elisa (campeã do Circuito Banco do Brasil 2009 e Medalha de Bronze no Campeonato Mundial de 2009) e Juliana (melhor jogadora do Circuito Mundial 2009 e Medalha de Prata no Campeonato Mundial em 2009). Estacionamento Externo da Festa da Uva Entrada: 1 kg de alimento não perecível

16

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

| Rua Ludovico Cavinato, 1.431, Santa Catarina |

FUTEBOL

l Juventude x Universidade | sábado, às 19h30 | Além de Zezinho, afastado por um estiramento muscular, Tiago Renz deve desfalcar o Juventude na partida válida pela terceira rodada do 1° turno do Gauchão 2010, contra o Universidade. O volante acusou dores musculares na coxa direita após a derrota por 3 a 1 para o Pelotas e pode ser preservado pelo Departamento Médico. Para o seu lugar o técnico Osmar Loss deve optar por Bruno. Na frente, Amoroso será mantido no lugar de Zezinho. Outro que pode não atuar é o goleiro Tiago Rocha. O atleta também disse estar com problemas musculares – foi substituído no intervalo da partida de quartafeira. Carlão é o substituto imediato em condições legais. O goleiro Silvio Luiz, que não joga uma partida oficial há 18 meses, pode estrear caso tenha sua documentação regularizada junto à Federação Gaúcha de Futebol (FGF). Provável time: Carlão (Silvio Luiz); Luiz Fellipe, Douglas, Dirley e Calisto; Fred, Lauro, Amoroso (Maycon) e Bruno; Ivo e Marcos Denner.

Estádio Alfredo Jaconi R$ 10 (arquibancadas), R$ 5 (idosos e estudantes com comprovantes), R$ 30 (cadeiras para associados) e R$ 40 (cadeiras para não associados). Menores de 12 anos têm acesso liberado | Abertura dos portões: 17h30 | Posto de venda de ingressos: Central de Relacionamento, junto ao Estádio Alfredo Jaconi | Hércules Galló, 1.547, no Centro | 3027-8700 l Porto Alegre x Caxias | domingo, às 11h | Depois de um empate contra o Inter-SM, em casa, e uma derrota contra o Grêmio, no Olímpico, o Caxias busca a reabilitação contra o Porto Alegre, na manhã de domingo. Por um acordo com a Federação Gaúcha de Futebol, o clube de Ronaldinho Gaúcho e seu irmão, o ex-jogador Assis, enfrentará as duplas Ca-Ju e Gre-Nal no Complexo Esportivo da Ulbra, em Canoas, e não no seu modesto estádio. O Caxias deve manter o mesmo time base que vem jogando as primeiras partidas no Gauchão. Começa com o goleiro Ricardo, os laterais Alisson e Ismael. Na zaga, Anderson Bill e Tiago Saletti. No meio-campo, Itaqui, Marcos Rogério, Marcelo Costa e Lê (ou Edenílson, caso o treinador queira um time mais marcador). Na frente,

Everton e Cristian Borja. O atacante Aloísio estará em condições de jogo, e poderá ser a surpresa na escalação. Complexo Esportivo da Ulbra R$ 10 e R$ 5 (estudantes e idosos) | Av. Farroupilha, 8.001, São José, Canoas | l Inter x Juventude | quarta, dia 27, 19h30 | Estádio Beira-Rio Valor a definir | Av. Padre Cacique, 891, Porto Alegre | (51) 3230-4600 l Caxias x Esportivo | quarta, 17h | Estádio Centenário Valor a definir | Thomas Beltrão de Queiroz, 898, Marechal Floriano |

VÔLEI

l Caxias x Náutico, pela Superliga de Vôlei Masculino | quinta, dia 28, às 20h | O time treinado por Jorginho Schmidt retorna a Caxias após dois jogos em São Paulo. O adversário luta para sair do fim da tabela. Ginásio Poliesportivo UCS Ingresso para dois jogos: R$ 5 (funcionários da UCS e estudantes em geral) e R$ 10. Para um jogo: R$ 4 (funcionários da UCS e estudantes em geral) e R$ 8 | Rua Francisco Getúlio Vargas, s/n - Vila Olímpica UCS, Petrópolis |

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


Maicon Damasceno/O Caxiense

Alternativas Esportivas

OENRAÍZA RUGBY EM CAXIAS

Fundado em 2005 a partir de um anúncio no jornal, o Serra Rugby Clube hoje tem 27 jogadores, que atualmente treinam em um campo emprestado no quartel

SE

N

por JOSÉ EDUARDO COUTELLE jeduardo.coutelle@ocaxiense.com.br em seria necessário tanta proteção. Dentro do espaço do quartel, militares armados com seus fuzis, deslocam seus olhares atentos em direção aos intrusos que ocupam o seu campo de futebol, já há algum tempo não utilizado. A grama alta seria um empecilho para a prática do esporte? Não para esses atletas, acostumados a serem derrubados constantemente. A bola é oval e jogada com as mãos. Os sete jogadores que se aventuram a treinar num dia de chuva praticam o rugby, esporte pouco conhecido no Brasil, porém um dos mais praticados do mundo. De início, é dificil para o espectador leigo compreender o funcionamento e as regras do jogo. Os passes são rápidos, e o jogo é parado muitas vezes. O jogador que está com a bola é o alvo dos adversários. Para a sorte do alvo, os atletas do Serra Rugby Clube estão treinando em uma modalidade do esporte na qual não se realiza o tackle (jogada em que se derruba aquele que está com a bola). “Touch”, grita um jogador ao tocar no que carrega a bola. Nesse instante, o jogo para e recomeça. Esse procedimento se repete dezenas de vezes. “Touch”, grita outro. O técnico Paulo Moraes constantemente instrui o time

sobre como realizar as jogadas. Num vacilo da marcação, um jogador dribla o adversário e corre costeando a linha lateral. Rápido como um guepardo, ele atravessa o campo e chega na linha do gol, marcando um try, jogada tão importante quanto o gol no futebol. O Serra Rugby Clube está treinando há duas semanas nesta temporada. A terça-feira, dia 19, foi dedicada a treinos de chute e recepção e, após, um pequeno coletivo entre os poucos jogadores que compareceram sob chuva e vento. Os sete atletas presentes não demostraram se importar com o gramado molhado e as várias poças formadas nas irregularidades do campo. O treinador Moraes, um dos membros fundadores do clube, pratica o esporte há cinco anos. Segundo ele, o rugby é bem semelhante ao futebol que nós brasileiros conhecemos muito bem. “O rugby é uma versão do futebol jogado com as mãos”, explica. A principal dificuldade dos novatos, observa, advém dos vícios de outros esportes. “O jogador chuta a bola quando não deve. Toca a bola para frente quando não é permitido e fica em posição de impedimento.” Tão antigo quanto o futebol, o rugby também tem raízes inglesas. É jogado em um campo similar aos gramados do futebol. A bola é bem dife-

Trazido por um argentino, jogo ganha adeptos na cidade, que já tem time no campeonato estadual e até loja de material esportivo

rente, oval, e é carregada com as mãos. outubro de 2005. Sua história transExistem quatro formas de marcar pon- cende as linhas territoriais do Brasil. tos no rugby: o try, apoiar a bola com Nazareno Corti Mac Lean nasceu na uma das mãos sobre o chão após a li- cidade de Corrientes, Argentina. Já nha dos postes da defesa adversária; a adulto, morando em Caxias, começou conversão, chute dado após o try, sen- a treinar o esporte nos clubes Guará, do que a bola deve passar por entre os de Canela, e Charrua, de Porto Alegre. postes; pontapé de ressalto, realizado Logo começou a levar consigo alguns da mesma forma que a conversão, mas amigos para conhecerem o esporte. com jogo em andamento; e pontapé de Com um anúncio no jornal, Nazareno penalidade, chute dado em forma de fez um chamado para formar um clube cobrança de falta, no qual a bola tam- e recrutar participantes. Comparecebém deve passar no meio dos postes. ram 40 interessados por esse esporte Entre as dezenas de diferente. Destes, oito regras do jogo, uma permanecem até hoje. chama especialmente a “Pessoas Atualmente, além dos atenção. O jogador não excluídas de 27 jogadores, entre as pode passar a bola para modalidades masculioutros esportes frente. Não existem na e feminina, o Serra lançamentos, exceto devido ao seu tem em torno de 60 e 70 com o pé. Além disso, o biotipo procuram pessoas que acompatackle pode assustar os o rugby como nham suas atividades. espectadores desavisa“Mais de 200 curiosos alternativa”, dos. A jogada consiste já passaram pelo Serra”, em derrubar o jogador diz o presidente conta Nazareno, presique está com a bola pe- do Serra Rugby dente do clube. gando-o pela cintura. Mas quem pensa que Contudo, ela não é vioo esporte é apenas uma lenta como aparenta ser, juram todos brincadeira entre amigos está compleos adeptos do esporte. A única pessoa tamente enganado. O Serra treina três que pode ser tacleada é a que está com vezes por semana, nas terças, quintas e a bola, e a jogada é treinada para que sábados – no fim de semana, o treino os envolvidos caiam sem se machucar. tem quatro horas de duração. Como O Serra Rugby Clube oficialmente o clube ainda não tem sede ou campo iniciou suas atividades no dia 22 de próprio, utiliza o Parque dos Maca-

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

17


nar mais familiar para as pessoas, asseguram seus praticantes. “Ela já não soa tão estranha”, afirma Nazareno. Rafael relembra um fato engraçado: “Me perguntaram uma vez se rugby era o nome de um cavalo.”

Aldo Javier Tamagusuku, 33 anos, é um dos que atenderam ao chamado de Nazareno para fazer parte do clube. Assim como o presidente do Serra, é argentino, de Córdoba. Abandonou a terra natal para viver em Caxias ao lado de sua esposa, que conheceu num verão no litoral gaúcho. Há sete anos morando na cidade, Aldo, vice-presidente do Serra Rugby Clube, sempre esteve em contato com o esporte. Ironicamente, porém, só começou a praticá-lo no Brasil. “Eu jogava futebol na Argentina. Mas aqui o nível técnico é muito alto, então resolvi começar a jogar o rugby”, revela. Porém, o que mais destaca Aldo no cenário local do rugby é o fato de ele possuir a única loja de Caxias que vende materiais relativos ao esporte. À primeira vista, o esporte A Sul Back é uma loja virtual, funparece violento e desconexo ao espec- dada em abril do ano passado. Vende tador leigo. Essa imagem é facilmente para todo o país proteções (bucal, cadesfeita com uma observação mais pacete, ombreira), acessórios (chaveiaprofundada O rugby é composto por ros, adesivos, canecas) e camisas gola dezenas de regras que delimitam a polo, que são o maior faturamento da ação de todos os jogadores. Os atletas loja. Praticamente todo o material é não podem nem falar importado importado com o árbitro, exceto da Argentina. Quando o capitão, e raramen- Mesmo fora há jogos, Aldo e sua te acontecem brigas. do regulamento, esposa montam um esNazareno diz que o para a venda dos o “terceiro tempo” tande número de lesões dos produtos nos estádios. atletas do rugby é mui- é obrigatório: é A loja acompanha os to menor do que nos quando o time principais clubes do Esdemais esportes. “Nun- da casa tado em seus jogos. Sua ca sofri uma lesão, por agenda para os próxipromove uma exemplo”, conta ele. mos meses inclui diverOutro motivo especial confraternização sas cidades gaúchas e se para o bom relaciona- com o visitante estende até o litoral de mento dos atletas de Santa Catarina. Aldo equipes rivais é o chaconta que o mercado é mado “terceiro tempo”. Mesmo sem muito promissor. “O esporte está no estar presente oficialmente no regula- início no Brasil. Ainda existem poucos mento, este é um espaço obrigatório consumidores. Mas a cada dia apareapós todas as partidas. Habitualmente, cem novos adeptos.” a equipe de casa oferece um almoço ou Conforme Aldo, o rugby está se pojantar de confraternização para os vi- pularizando por aqui. “Muitas pessoas sitantes, tornando o jogo, mais do que que fazem intercâmbio, trazem consimera competição, uma reunião entre go o esporte, que é muito praticado na amigos. Essas são algumas das carac- Europa e na Austrália.” A proximidade terísticas que atraem muitas pessoas com Argentina e Uruguai, que têm o para o esporte. Porém, ele funciona rugby como segundo esporte mais pracomo um grande funil. O excesso de ticado, também faz com que o Estado regras afasta o jogador acostumado se torne um polo no Brasil. Mesmo com o futebol. Além disso, o rugby é sem muita tradição, o país já tem o meum esporte no qual o coletivo é muito lhor time feminino da América Latina. importante. “Uma pessoa sozinha não Nesse último aspecto, o Serra Rugby resolve nada. Individualismo no rug- Clube não pretende ficar para atrás. by não se cria. Tudo gira em torno da Em novembro de 2009 foi lançado o união”, explica Nazareno. time feminino. Valdinéia Bender BoA ascensão do esporte é percebida nez, 16 anos, é uma das meninas que através dos números. Em 2005, havia 5 resolveram desafiar a imagem pré-contimes no Rio Grande do Sul. Em 2010, cebida de esporte violento e praticar o já são 23 times, que se tornaram polos rugby. Val, como é chamada, conhecia do esporte, com escolas e equipes de a modalidade há uns três anos e, como diversas categorias masculinas e femi- todo mundo, pensava que poderia ser ninas. O Campeonato Gaúcho de Ru- perigosa. “Rompi o mito da violência”, gby começou a ser disputado em 2006. ressalta ela, que nunca havia praticado Em dezembro de 2009 foi fundada a um esporte de forma mais séria e, agoFederação Gaúcha de Rugby. Cada vez ra, tem planos de se desenvolver no rumais o esporte é difundido no Estado gby. “Minha única atividade esportiva e no Brasil. O Rio Grande do Sul é o até então eram as exercidas na escola”, segundo maior polo de rugby do país, revela. Com meia dúzia de treinos, Val perdendo somente para São Paulo. A já se diz decidida: “Pretendo fazer carprópria palavra rugby começa a se tor- reira no Serra Rugby Clube”.

18

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

Fotos: Maicon Damasceno/O Caxiense

quinhos para treinos físicos. Para os táticos, joga no campo do quartel, sob autorização do comandante. Os jogos oficiais ocorrem no Estádio Municipal. Diferentemente de futebol, vôlei e basquete, o rugby não exige certo padrão de biotipo físico do atleta. Nele, todos têm espaço. O secretário do Serra, Rafael Matté, ou “o faz-tudo do clube”, como se denomina, diz que este é o esporte mais democrático de todos. “O rugby abrange todos os biotipos. Pessoas gordas, magras, altas e baixinhas têm espaço e podem exercer funções diferentes no time. Além disso, o esporte abrange desde pessoas bem jovens, de 16 a 17 anos, até jogadores que para o futebol seriam considerados velhos, com mais de 40 anos”, compara. Nazareno acrescenta: basta gostar do esporte. Porém, ele lembra que é necessário ter tempo livre para os treinos e frequentar academia. “Pessoas excluídas de outros esportes devido ao seu biotipo procuram o rugby como alternativa”, destaca Nazareno.

Moraes (foto inferior, à direita): “É uma versão do futebol jogado com as mãos”

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


FABIANO

Não ESTÁ SOZINHO

O responsável pelo preparo físico do Caxias entrega: “O jogador de futebol é carente”

Maicon Damasceno/O Caxiense

Personagens Grenás

Fabiano Vieira (de camisa branca), mais conhecido como Fabiano Chá, está sempre atento ao que os colegas de função estão aplicando: “Feio é imitar coisa errada”

O

por MARCELO MUGNOL marcelo.mugnol@ocaxiense.com.br sol brilha neste estranho verão do sul do Brasil. Quem pode, esconde-se à sombra. Tenta assim amenizar a incidência do sol que parece queimar a pele. À beira do gramado, pouco antes do árbitro apitar o início de mais uma jornada, de mais um campeonato que vai ficar guardado na bagagem de uma carreira em franca ascensão, Carlos Fabiano Mazolla Vieira, ou simplesmente Fabiano Chá, como é conhecido no mundo da bola, desvia o olhar do campo e por um breve instante lembra que está nessa sozinho. Não desmerece a torcida, os amigos fardados com as cores do Caxias, nem mesmo os companheiros da comissão técnica ou da direção do clube grená. Reverencia o brio de uma torcida que, faça chuva, dilúvio ou sol, está sempre apoiando o time do coração. Reconhece o valor do clube e valoriza o fato de um dia ter sido convidado a integrar esse grupo que planta todos os dias a melhor semente de olho na farta colheita. Fabiano Chá goza da mesma glória que o garoto Sidivan, terceiro goleiro do Caxias. Não distribui autógrafo e não tem sua foto estampada na lojinha do clube. Mas quem convive com Fabiano sabe que ele não é desses obcecados pelo poder de uma câmera de televisão. Sua missão é colocar os atletas em campo, com o melhor condicionamento físico possível. E mesmo que a massa grená não reconheça ou nem mesmo saiba, é ele um dos responsá-

veis por fazer o time avançar e defender sem se fatigar, sem permitir que a gana de vencer esmoreça diante do temporal, do sol de rachar o coco, ou de uns quilinhos a mais. Fabiano entrou nessa por gostar de futebol. Chutar uma bola murcha e vêla voar indefensável rumo ao gol adversário é a síntese do prazer da infância de milhares de garotos espalhados pelo Brasil. E por que seria diferente com Fabiano? Ninguém da sua família percorreu os caminhos e descaminhos do espinhoso mundo da bola. Nem por isso furtou-se do prazer de garoto. Inquieto, Fabiano resolveu virar o campo de cabeça para baixo. Na contramão daquela gente de futebol que via o jogo com outros olhos na década de 90, trancou-se na faculdade. Formado em Educação Física em Curitiba, cidade onde nasceu, ele percebeu a brecha na defesa adversária e correu veloz para saciar a sede de conhecimento. Com o diploma guardado em casa, Fabiano suava atrás do balcão no comércio da capital paranaense. “Só um ano depois de formado é que fui trabalhar no futebol. Em 1992 entrei nas categorias de base do Paraná Clube”, conta o preparador, 38 anos, depois de um treino puxado do Caxias. Muito calmo e tranquilo, surpreendeu-se com essa guinada ao passado instigada pelo repórter. Às vezes, rever o passado é tão estranho quanto tentar prever o futuro. Fabiano lembra-se de todas as vitórias e tropeços vivenciados, mas ao mesmo tempo, ao abrir seu baú de memórias, parece revelar

sua sina. Nada triste, porém nada fácil, nem simples assim de lidar, como imagina o mais desavisado torcedor. Lá do alto da arquibancada nem todos reconhecem o valor de um profissional de educação física. “Os caras pensam que a gente só manda correr”, brinca.

sentando na mesma sala de imprensa, aguardando sua vez de entrar no ar em um dos programas de esporte da Rádio Caxias, disse, brincando, que era sua culpa ter colocado o Fabiano nessa. Os dois caíram na gargalhada. O futebol prega dessas peças. Como uma faca de dois gumes, a amizade entre os Fabiano chegou ao Caxias no profissionais da bola acaba promovenmeio da Copa Arthur Dallegrave, de do reencontros como este, mas a mes2009, ainda na ressaca do Campeo- ma amizade e o desejo de vencer na nato Brasileiro da Série C. Pegou o profissão acaba afastando-os de suas barco andando e não famílias. “O jogador pôde interferir muito de futebol é carente. no processo. Escora- “O preparador Tá quase sempre longe do na bancada onde da família. A maioria os atletas e a comissão físico é muito é como uma criança, técnica concedem en- importante. Ele porque precisa de muitrevistas coletivas, na é o elo entre o ta atenção. E a gente da sala de imprensa do atleta e o comissão técnica acaba Estádio Centenário, ele se tornando parte da relembrava como foi treinador. É mais família desses caras”, contratado. “Vim para fácil o cara vir se observa Fabiano. cá através do Tato. Foi abrir comigo”, ele quem me indicou afirma Fabiano Um dos poucos ao presidente Osvaldo contatos que o torcedor Voges, que por sua vez tem com o preparador foi consultar o Gilson Kleina para con- físico é no aquecimento do time, mifirmar informações a meu respeito”, nutos antes de uma partida de futebol. revela. Lá de cima da arquibancada, o apaixoO preparador físico do Caxias citou nado torcedor só enxerga o profissiodois amigos que fez no futebol, ambos nal de educação física exercitando os nascidos em Curitiba. Kleina formou- atletas. Poucos deles acompanham o se com Fabiano na faculdade, lá em dia a dia do time. E um número menor 1991. Carlos Alberto de Araújo Pres- ainda sai de casa ou mobiliza os amites, mais conhecido como Tato, ex- gos para conferir treino físico durante jogador do Fluminense e outros tan- a semana. tos, que atualmente gerencia o futebol “O preparador físico é muito impordo Caxias, Fabiano foi conhecer em tante”, defende Fabiano. “Ele é o elo 2005, quando trabalhou com ele e com entre o atleta e o treinador. Porque o Kleina no Paysandu. Tato, que estava treinador tem de manter aquela certa

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

19


Dallegrave, em 2009, o preparador físico destaca o condicionamento dos atacantes Lê e Everton, dos volantes Itaqui e Edenílson e do lateral Alexandre Bindé. “O Bindé, por exemplo, hoje é reserva, mas ele está pronto pra jogar. Sempre digo aos que estão no banco que eles precisam estar prontos para quando a oportunidade aparecer. Porque se surgir a oportunidade e eles não estiverem prontos, aí sim não vai ter volta. É difícil, mas é preciso mantê-los motivados o tempo todo.” Quem vai ao estádio e vê o Everton correndo com a bola nos pés, rumo ao ataque, ou voltando rápido para fechar o meio-campo quando o Caxias se defende, não imagina a situação em que o atleta estava assim que pisou no Centenário. “Na avaliação do Everton percebemos que ele tinha uma diferença de musculatura de 3cm entre uma perna e outra por causa de uma cirurgia. Fizemos um trabalho forte de reforço muscular e hoje ele está com 1cm de diferença, o que é um índice considerado normal”, relata Fabiano. Outros dois bons exemplos. O meia Marcelo Costa e o atacante Marceli-

tar liberado para trabalhar com bola.” Fabiano está entrosado no clube. É respeitado e respeita desde o massagista até o presidente do clube. Reconhece que os objetivos do Caxias são os mesmos que ele carrega no peito. Quer vencer e conquistar ainda mais espaço nesse seleto e disputado campo que é o mercado da bola no Brasil. Vislumbra vitórias neste ano, mas sabe, por experiência e tempo dedicado ao futebol, que um ou outro tropeço é praticamente inevitável. No dia da conversa com o jornal O Caxiense, o preparador físico disse tanto sobre essa carência de quem vive da bola que se esqueceu de mencionar a sua solidão. Ao final da entrevista, como num último ato tardio de uma peça de teatro, já com o pano preto escondendo o cenário, Fabiano falou da família. A esposa Tatiane e os filhos Guilherme, 8 anos, e Amanda, 17 anos, moram em Curitiba. Fabiano revela assim a sua parte nessa história. “Quando acaba o treino, vou pra casa, ligo a tevê ou vou estudar, e aí me lembro que eles estão lá em Curitiba e eu aqui sozinho.” A falFotos: Maicon Damasceno/O Caxiense

distância. Faz parte, e tem de ser assim. em comunhão com o departamento Agora, a gente está sempre em conta- médico e metade depende da dedicato com o atleta, vive o dia a dia deles. ção do atleta. Alia-se a essa dedicação É mais fácil o cara vir se abrir comigo uma boa dose de disciplina, aí não tem do que com o treinador. Por isso que como não dar certo, revela Fabiano. eu costumo dizer que a gente tem de “A gente orienta tudo. Desde o traser um pouco preparador físico e um balho na academia, o que pode e o que pouco psicólogo também. Às vezes o não pode no dia do jogo, alimentação, atleta não diz, mas está tudo. O ideal é que eles com um problema na tenham uma boa noite família e isso acaba in- “Sempre digo de sono. Esse é o meterferindo no resultado aos que estão lhor remédio para uma dentro de campo.” boa recuperação. Por no banco que Fabiano é desses raisso falamos tanto a ros caras do mundo da eles precisam eles que a noite foi feita bola que sentem o mes- estar prontos. É pra dormir. Mas a genmo prazer trabalhando preciso mantête sabe como é, às vezes em campo ou em casa o cara quer sair e se dilos motivados o estudando. “Procuro vertir, tomar sua cerveobservar o trabalho de tempo todo”, jinha. Só que tem hora outros preparadores. Se explica Fabiano certa. Se o cara estiver um deles faz um exerde folga, não vai jogar cício de aquecimento no final de semana, é que não faço, vou lá e copio. Feio é uma coisa, mesmo assim, não dá pra imitar coisa errada”, brinca. “Fora isso, exagerar”, ensina Fabiano. eu estou sempre procurando ler, pesquiso em livros, na internet.” Sua disO treinador Julinho Camargo sertação de pós-graduação é tiro certo disse ainda antes da estreia do Caxias no calcanhar de Aquiles dos boleiros. contra o Inter de Santa Maria que sua Fabiano descobriu que quanto maior é equipe jogaria como ele sonha a partir

Trabalho de Fabiano abrange desde exercícios na academia até acompanhamento dos treinos e orientações para a alimentação dos atletas

o interesse dos atletas em aprimorar o seu conhecimento, estudar, ter curiosidade em evoluir mentalmente, melhor é o seu desempenho em campo. “Comprovo que se o jogador tem mais interesse no conhecimento, mostra um nível cognitivo melhor, ele acaba tendo um poder de reação maior quando estiver diante do goleiro, por exemplo. A velocidade de pensamento, de reação desse jogador vai ser maior se ele for um atleta que busca ter mais conhecimento”, explica. Difícil é justificar exceções como Garrincha, um gênio com a bola nos pés e um homem simples, para ser eufemista, longe da bola. Mas aí é covardia. Fabiano reconhece que hoje em dia os jogadores de futebol valorizam a atividade do preparador físico. Principalmente quando enxergam o resultado do trabalho. “Eles têm de entender que hoje pode ser um treino chato, mas que lá na frente vai ser benéfico”, lembra. “No futebol, costumo dizer, não tem o certo ou o errado. Eu trabalho da forma que acho a mais indicada. É o resultado em campo que vai dizer”, sintetiza. Esse resultado, no entanto, deve obedecer a uma equação muito bem equilibrada. Metade do mérito é fruto da orientação do preparador físico

20

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

da quarta ou quinta rodada. Porque é o tempo necessário para o elenco todo, não só os titulares, assimilarem a sua forma de jogar. Mas também por questões físicas. “Estamos na fase de transição de um treinamento mais forte, de força, mesmo que mesclado com movimentação com bola, para uma fase de jogo. Só se ganha ritmo de jogo jogando. Não tem outro jeito. Por isso, pra mim, por questões físicas, o Caxias vai estar com o seu condicionamento ideal a partir do terceiro ou quarto jogo”, observa Fabiano. Mesmo que exista um trabalho padrão, uma maneira de condicionar o atleta que seja mais coerente, segundo o pensamento de Fabiano, ele reconhece a necessidade de adaptar os trabalhos para cada tipo de atleta. “Tem de respeitar a individualidade biológica de cada um. Às vezes não adianta insistir com treinamento de velocidade com um jogador que nunca vai ser rápido”, avalia. “Eu nunca tinha trabalhado com o Julinho, mas já conhecia a carreira vitoriosa dele. E nos demos muito bem, porque o Julinho, assim como eu, faz trabalhos que visam explorar a força, a explosão e a velocidade do atleta.” Desse grupo de jogadores com os quais Fabiano vem trabalhando, alguns deles desde a metade da Copa Arthur

nho. Os dois ficaram muito tempo sem ta do sorriso de quem sempre está do jogar. Marcelo Costa estava sem ritmo seu lado, na mais brilhante vitória ou de jogo e precisava de um reforço mus- na mais estarrecedora derrota, é sua cular. Marcelinho, além disso tudo, ti- maior dor. “Já pensei em largar tudo nha o agravante da balança. “Quando por causa da saudade da família. Mas o Marcelinho chegou aqui já fui avi- não dá. O futebol é algo que me dá sando que não iria fazer um trabalho prazer, além de ser o meu ganha-pão”, para ele perder peso. desconversa. Parece diDe cara eu ia trabalhar zer que mesmo sozinho a força, com ganho de “Quando acaba o não se sente realmente massa muscular. De- treino, vou pra sozinho, porque o amor pois disso, a perda de da esposa e dos filhos casa, ligo a tevê peso dele foi natural. está cravado no peito Tanto que em pouco e aí me lembro como uma tatuagem. tempo de trabalho com que minha Segurando aquela bola ele já perdeu seis família está lá em lágrima de quem ama quilos”, atesta Fabiano. e sente falta, Fabiano Curitiba e eu De todos os atletas logo revela um doce do elenco do Caxias, o aqui sozinho”, sorriso ao falar que em volante Renan é o que diz o preparador poucos dias a mãe estamais o preocupa. Porrá em Caxias. “Ela semque Renan está sentinpre vai assistir aos jogos do dores decorrentes da cirurgia que nos clubes em que trabalho”, explica, fez no púbis. “Avisamos a ele que po- orgulhoso. E que ela traga, além de um deria sentir dor. Mas constatamos que abraço carinhoso e um beijo amoroso o problema dele é de reforço muscu- ao filho, uma brisa de boas novas ao lar. Tanto nas costas quando na parte Caxias. Que a paixão arrebatadora que frontal do abdômen e tórax. Não posso a Dona Marta, 77 anos, sente hoje pelo dizer se foi falha ou erro de prepara- Caxias possa revelar-se mais do que ção em outros clubes. Só posso dizer um apoio incondicional ao filho. Que como o encontramos e o que estamos esse carinho de mãe venha impulsiofazendo aqui no Caxias. O Renan é um nar este esquadrão grená que pretende jogador que se recupera muito rápido e alçar voos cada vez mais altos e duraacreditamos que em 15 dias ele vai es- douros.

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


Juventude, Divulgação/O Caxiense

Prenúncio de vitórias

Em São Paulo, o grupo, com o ex-goleiro Humberto (ao centro) e demais integrantes da comissão técnica, foi conhecer o Estádio de Morumbi, que será palco da final

ZEBRA LISTRADA

DE VERDE E BRANCO

N

por FABIANO PROVIN fabiano.provin@ocaxiense.com.br em direção, nem comissão técnica, muito menos torcedores e a imprensa do centro do país acreditavam. O Juventude era apenas um dos 92 clubes que iniciaram a Copa São Paulo de Futebol Júnior no dia 3. Divididas em 23 grupos, algumas equipes avançaram, e depois foram caindo, uma a uma. Até ficarem apenas quatro na competição: uma delas, o Ju. Após seis jogos (duas vitórias e quatro empates), a garotada alviverde estava eufórica. Uma euforia difícil de ser controlada, admitia o técnico Carlos Eduardo de Moraes. Porém, resultado de um trabalho sério que foi muito bem assimilado pelo grupo. Tão bem assimilado que entrou para a história do clube esmeraldino. Desde 1994, quando estreou no torneio e parou nas quartas de final, o time não havia conseguido chegar tão longe. Na última sexta-feira, às 16h (depois do fechamento desta edição), o Juventude, único gaúcho entre os quatro semifinalistas da Copinha, enfrentaria o São Paulo, em Jaguariúna. A outra semifinal seria entre Santos e

Palmeiras. “Agora, brigamos de igual para igual”, assinalava Moraes, por telefone. O adversário, porém, era mais do que favorito: até ali, fizera 26 gols e sofrera apenas dois. Antes de explicar como isso aconteceu, é preciso relembrar a campanha do alviverde. Na fase classificatória, o Ju estava no Grupo J. Estreou com um empate sem gols com o Juventus-SP. No segundo jogo, empate em 1 a 1 com o XV de Piracicaba-SP. A classificação foi garantida com uma vitória por 2 a 1 ante o Vila Nova-GO. Na segunda fase, novo empate, 1 a 1 com o América-SP. A vaga nas quartas de final foi garantida nos pênaltis, 4 a 3. O adversário seguinte era o todo-poderoso Corinthians, que conquistou sete vezes a competição e é seu atual campeão. Com dois gols do habilidoso meia Hiago, o Ju fez 2 a 1 e despachou o favorito. Nas oitavas de final, um jogo tenso. O time de Moraes era melhor em campo, mas foi o Clube de Futebol Zico, de Brasília (CFZ-DF), quem abriu o marcador. Hiago empatou, de pênalti (dos seis gols anotados por ele no torneio, cinco foram da marca da cal). Novamente a decisão foi para os pênaltis.

Juniores surpreendem e fazem uma campanha histórica na Copa SP

E em vez de brilhar a estrela do meia Hiago de Oliveira Ramiro, 17 anos, natural de Ariquemes (RO) – ele errou a cobrança –, foi a vez do goleiro Follmann entrar em cena. Defendeu três penalidades e garantiu a equipe na inédita semifinal da Copinha. O Juventude, um intruso entre os clubes paulistas, que eram maioria na fase final, mostrou evolução e apresentou suas qualidades coletivas e individuais ao longo de 20 dias de competição. Jackson Follmann, nascido em Alecrim (RS), tem 17 anos, mesma idade da maioria dos garotos que viajaram para São Paulo no dia 1º de janeiro e do colega de posição, Ismael Basso. Ismael substituiu Follmann contra o Corinthians e praticou defesas difíceis. Ambos são treinados pelo ex-goleiro Humberto, 37 anos, que participou da campanha de 1994. “Estavam naquele grupo o Lauro e o Itaqui no meio-campo, o Baggio na zaga e eu no gol. No segundo semestre fomos para o profissional em definitivo e conquistamos a Série B”, conta Humberto, lembrando a eliminação da Copa SP nas quartas de final nos pênaltis, pelo Guarani.

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

Lauro, que renovou o contrato com o Ju em 2010, lembra com detalhes daquela época em que era o volante do time, ao lado de Itaqui. “Tinha também o Fernando Rech no ataque. Todos os jogos eram disputados na capital, até porque a competição era menor”, explica o ídolo que vestiu 558 vezes a camisa do Ju. O treinador, ele recorda, era José Luiz Plein. “A Copa São Paulo é tradicionalmente conhecida por revelar jogadores. É a última etapa antes do profissionalismo”, ressalta Lauro. Para o Baixinho – assim chamado por colegas e torcedores por ter 1,68m, estatura considerada abaixo da média para um jogador de futebol –, no comparativo com 1994, a maior evolução foi da visibilidade da Copinha. “Naquela época não havia tanta divulgação. Hoje é muito mais fácil para o atleta aparecer”, opina. O ídolo da papada concorda que, para o clube, que passa por uma situação de dificuldade, nada melhor do que a garotada avançar na competição. “O Juventude tem valores e aposta nas categorias de base. Isso é bom. Vamos reverter esse quadro”, projeta, referindo-se aos dois

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

21


dentemente de eles passarem para a final, é positivíssima. Estou muito satisfeito também porque a maioria dos Para o treinador do grupo atletas tem 17 anos e tem qualidade, sub-18 do Ju, que trabalhou com o atu- ou seja, pode disputar a Copinha noal técnico do profissional, Osmar Loss, vamente no próximo ano. É cedo para nas categorias de base do Inter, chegar dizer se um ou outro subirá para o prona semifinal já foi um resultado acima fissional. Depois de retornarem para de qualquer expectativa. “Na verdade, Caxias é que vamos conversar sobre é uma consequência do trabalho que isso, com bastante calma”, adianta Loss. a comissão técnica desenvolveu. Os O presidente Milton Scola, abatido jogadores aceitaram nossas coloca- pela derrota por 3 a 1 para o Pelotas na ções e isso permitiu um crescimento. estreia do Ju no Gauchão, também resHoje temos equilíbrio, saltou o desempenho ou seja, defendemos dos juniores. Ele come atacamos bem. Essa “Hoje temos parou o início da Copicondição nos trouxe equilíbrio, ou nha com o do Estadual: até aqui”, contextualieles estavam bem seja, defendemos “Lá za Carlos Eduardo de preparados fisicamente Moraes, que comanda e atacamos bem. para a estreia, além de os juniores desde no- Essa condição jogarem juntos há mais vembro de 2009. Ele nos trouxe tempo. Aqui, faltou chegou no clube em tempo. Mas vamos evoaté aqui”, março do mesmo ano, luir”. Talvez as declaraapós trabalhar uma resume o ções de Scola logo após década no Inter, e assu- técnico Moraes ser eleito presidente, miu a categoria Juvenil. em 17 de dezembro do No Estadual, foram 30 ano passado, tenham jogos de invencibilidade, mas a equipe sido o estímulo que faltava aos junioacabou eliminada pelo Grêmio na se- res. Naquela ocasião, o dirigente anunmifinal. ciou que a aposta para esta temporada A pré-temporada da gurizada se ini- que começa com caixa negativo seria ciou no dia 20 de novembro, ou seja, 42 nas categorias de base. dias antes do início da Copa SP. Para Moraes, “um período curto”, mas que É consenso na comissão técnica serviu para aperfeiçoar as qualidades que está em São Paulo que o nível de dos jovens nascidos entre 1991 e 1992. exigência dos jovens é estressante. O Antes do Natal, o técnico já havia dito preparador de goleiros Humberto, que que a criação de um ambiente favorá- teve o nome cogitado para trabalhar vel de trabalho seria capaz de propor- com o grupo profissional em 2010, está cionar, gradativamente, o destaque de contente por ter participado de uma todo o grupo. “O favoritismo do Ju não segunda Copinha, “desta vez do lado existia e continua a não existir. Com de fora do gramado, passando a miorganização e planejamento consegui- nha experiência para os jogadores”. O mos os resultados dentro de campo. grupo viajou da capital para JaguariIsso porque é um grupo que se conhe- úna, palco da semifinal, na manhã de ce e que passa por um lento processo quinta-feira. Moraes comandou um de amadurecimento”, pondera. Mora- treino leve no hotel em que estavam es fala isso já pensando no retorno a hospedados. A final da Copa SP será Caxias do Sul, quando podem ocorrer disputada segunda, dia 25. Dos mais cobranças para que alguns juniores se- de 3 mil atletas que iniciaram a disjam guindados ao elenco profissional. puta, cerca de 100 ficaram para contar “É muito cedo para cogitarmos essa história. História que, para o Ju, não hipótese”, despista. só repetiu a de 1994, mas superou-a. E Sua opinião é compartilhada por Os- que, mesmo sem se saber o desfecho, mar Loss. Apesar de ter assistido ape- já é motivo de alegria. Independentenas ao segundo tempo da vitória sobre mente de quem chegar às finais ou de o Corinthians, Loss salienta que o time quem irá vencê-las, agora é o desempese compacta bem, rapidamente, e sabe nho do alviverde na Copinha que serve explorar as deficiências do adversário. de estímulo à equipe principal neste “A avaliação da campanha, indepen- início de temporada.

22

O Caxiense

23 a 29 de janeiro de 2010

Maicon Damasceno/O Caxiense

rebaixamentos ocorridos nos últimos três anos.

O volante Lauro, que enfrentou o Pelotas na quarta, foi revelado na Copinha de 1994

S e m an alm e nte n a s b an c a s , di ar i am e nte n a inte r n e t .


Renato Henrichs

renato.henrichs@ocaxiense.com.br | www.ocaxiense.com.br/renato-henrichs

Ouvidoria municipal

A Coordenadoria Regional dos Vinhedos do PMDB reúne-se nesta segunda-feira em Farroupilha para discutir o tema que, afinal, mais interessa a todos os políticos: eleições. Definidas as candidaturas peemedebistas da região para a Assembleia Legislativa – Maria Helena Sartori, Alberto Oliveira e Álvaro Boessio –, a preocupação maior está agora com a disputa para a Câmara Federal. Há quem insista, dentro do partido, que a candidatura do vereador Mauro Pereira é fictícia. E não são poucos os que sonham com o nome de, pasmem, José Ivo Sartori para concorrer a deputado federal. O PDT adoraria.

Chega de recesso

Os vereadores caxienses mostram trabalho neste início de ano. Nas três primeiras semanas de janeiro, apesar do recesso, eles apresentaram 229 indicações, requerimentos ou pedidos de providências para os mais diversos problemas. Está claro que não há registro de projetos, mas a movimentação dos parlamentares indica que eles permanecem atuantes e, mais importante, que o atual sistema de recesso parlamentar tem futuro incerto. Ele mais atrapalha do que ajuda, é constatação dos vereadores – daqueles que não entraram em férias, por certo.

Leandro Velho, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos, ao falar da demissão de três funcionários da Keko (dois representantes sindicais e um integrante da Cipa)

perguntas para

Jayme Paviani

Vem aí nova edição do livro “Sobre todas as coisas”, em que o filósofo e poeta Jayme Paviani propõe uma reflexão a respeito dos fatos da vida O que prevalece no livro, o olhar do poeta ou o do filósofo? Os textos do livro são o resultado revisto, trabalhado, de ensaios e crônicas publicadas em jornal. Apresento ao leitor uma linguagem acessível, um conteúdo de interesse permanente. O livro pode ser lido aos poucos, fragmentariamente e não como uma novela ou romance. Trata-se de um olhar reflexivo, sugestivo, com pretensões literárias e práticas mais do que de caráter teórico, embora alguns assuntos estejam ligados a questões consideradas filosóficas.

também de beleza e alegria. O que é simples e verdadeiro é igualmente sutil e profundo. A mídia, que tem também uma função de formação do cidadão, nem sempre efetiva esse objetivo. Ela procura atender a opinião pública e isso faz com que as exigências de um pensamento mais sofisticado fiquem de lado. O livro resulta da experiência vivida pelo senhor. Essa experiência o faz um otimista em relação ao futuro da cidade, do Brasil e do mundo? Interessa-me a realidade, mesmo que os fatos tenham quase sempre um toque de relativismo. Existem períodos em que as mudanças e as crises são mais agudas. Não há dúvidas que vivemos um desses momentos. No entanto, sou otimista com os pés no chão. Acredito no futuro do Brasil e de nossa região em relação à globalização que nos envolve, devido ao nosso espírito empreendedor.

O autor procura desvendar a densidade das coisas e a sutileza que envolve tudo o que é humano. No mundo de hoje, em que a chamada mídia tende a impor uma certa banalização a tudo, é possível buscar densidades e sutilezas? Uma grande parte das pessoas vive na e da superficialidade e da banalização. Outros, não a maioria, buscam o essencial, sabem que o cotidiano é uma mistura de dor, sofrimento e

Pedra no caminho tucano

Integrantes do PSDB nacional estão irritados com a governadora Yeda Crusius. Apesar das denúncias de corrupção e dos baixos índices de aprovação junto ao eleitorado gaúcho, ela insiste em sair candidata à reeleição ao Palácio Piratini.

Além de abrir uma brecha para a oposição na campanha do governador paulista José Serra à presidência da República (alguém duvida de que ele sairá candidato?), a pretensão de Yeda atrapalha os planos tucanos de uma aliança com o PMDB.

Candidato a deputado Um fato causou mais estranheza e indignação aos integrantes da diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos na demissão de três funcionários da empresa de acessórios automotivos Keko: a dispensa de um dos trabalhadores teria sido motivada por “baixa produtividade”. Em dezembro, porém, esse mesmo funcionário havia recebido da empresa uma placa em homenagem aos bons resultados obtidos no trabalho. Como o avião atrasou, Assis Mello voltou de São Pau-

lo a tempo apenas de concluir o protesto patrocinado pelo Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, cedinho da manhã de quinta-feira, na porta de entrada da fábrica da Keko. Em compensação, as notícias da capital paulista não poderiam ser melhores para o vereador comunista: no encontro nacional do PC do B, Assis Mello teve confirmada a dobradinha com Manuela D’Ávila (que quer a reeleição para a Câmara dos Deputados) para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa.

w w w . o c a x i e n s e . c o m . b r

Graziela Andreatta, Divulgação/O Caxiense

Deputado Sartori?

Foi uma perseguição sindical

Daiane Nardino, Div./O Caxiense

Deverá começar pelo São José a série de visitas e reuniões que os vereadores farão aos bairros caxienses, a partir do mês que vem, dentro da proposta de descentralização da Câmara de Vereadores apresentada pelo presidente Harty Moisés Paese (PDT). A ideia de Paese, comprada pelos demais parlamentares, é ouvir as demandas dos moradores de bairros para, depois, intermediar com a prefeitura e órgãos públicos em geral. Há uma curiosidade a respeito de como a União das Associações de Bairros (UAB) vai encarar essa prática.

Para prefeito

Cresce entre muitos pedetistas a convicção de que o vice-prefeito Alceu Barbosa Velho, por mais que declare o contrário em todas as oportunidades e entrevistas, não é candidato a deputado estadual na eleição de outubro. Para esses brizolistas, o vice-prefeito quer mesmo é negociar, de uma forma especial, com alas adversárias dentro do PDT caxiense. O que significa dizer: Alceu pretende obter antecipadamente a garantia de que ninguém (dentro do partido) vai lhe passar a perna, daqui a dois anos, na definição do nome para disputar a sucessão do prefeito José Ivo Sartori, depois de tudo o que fez em benefício do atual governo.

Direto da fonte

A vinda a Caxias do presidente do Banco Central é um ganho da atual diretoria da CIC. Há muito a entidade buscava a presença de Henrique Meirelles para que ele falasse sobre os cenários econômicos nacional e internacional ao empresariado caxiense. E as perspectivas este ano não poderiam ser mais auspiciosas, o que deve ter contribuído para que Meirelles aceitasse o convite. Aliás, como diria o presidente Lula, “nunca na história deste país os cenários foram tão positivos...”

Paraninfo

A uma semana de completar 80 anos de idade, o senador Pedro Simon (PMDB) vai estar em Caxias do Sul neste sábado. Ele será o paraninfo da nova turma de bacharéis do curso de Direito da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG). No próximo sábado, 30, Simon receberá homenagem de correligionários em grande encontro político na praia de Rainha do Mar, em que a estrela (depois do aniversariante, é claro) deverá ser o prefeito de Porto Alegre, José Fogaça, candidato peemedebista ao governo do Estado.

Eleição na UCS

O Conselho Diretor da Fundação da Universidade de Caxias do Sul começa a discutir na quinta-feira, 28, o formato da próxima eleição para escolha da nova reitoria da UCS. A definição de regras pela fundação é condição básica para que o atual reitor, professor Isidoro Zorzi, se coloque publicamente como candidato à reeleição. Até agora, apenas um nome foi lançado (pela internet) para concorrer a reitor: o da ex-pró-reitora de Graduação, Nilva Rech Stedile. Ela se afastou do cargo em agosto do ano passado, ao lado dos ex-pró-reitores Alexandre Viecelli (Extensão) e João Ignacio Pires Lucas (Planejamento). Ambos apoiam Nilva para a reitoria, em oposição a Zorzi.

23 a 29 de janeiro de 2010

O Caxiense

23


Nessas férias, mergulhe no melhor da notícia. O Caxiense, informação com profundidade.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.