Revista OCDS - Província São José
Mar/Abr de 2017 - N° 151
Monte Carmelo SIMPÓSIO INTERNACIONAL
pag.
Pag. 17
Santa Elisabete da Trindade Em comemoração pela sua canonização
20 a 23 ABRIL
2017
SANTO DO MÊS São José e as Virtudes Pag. 04
ENTREVISTA Fr. Afonso de Sta Teresinha, OCD Pag. 10
FORMAÇÃO HUMANA Conhecimento de si mesmo Pag. 30
EXPEDIENTE
SUMÁRIO
Revista Virtual Monte Carmelo, nº 151 (Mar/Abr de 2017) EDIÇÃO: Comissão de Comunicação da OCDS Província São José
03 04 10 12 14 17 30 36 47
EDITORIAL Palavra do Coordenador
COORDENADOR: João Paulo Matias Paiva
SANTO(A) DO MÊS São José
EQUIPE DE REDAÇÃO: João Paulo Matias Paiva Giovani Carvalho Mendes Andreia Silva Luciano Dídimo C. Vieira Rosemeire Lemos Piotto
ENTREVISTA Fr. Afonso de Sta Teresinha, ocd
COLABORADORES: José Luiz Rizzato Rosangela Gonçalves Ribeiro REVISÃO EDITORIAL: Artur Viana do Nascimento Neto Paulo Gautiele Ribeiro
VOZ DA IGREJA Homilia da Vigília Pascal
ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Wilderlânia Lima do Vale
TESTEMUNHO José Luiz Rizzato, OCDS SIMPÓSIO INTERNACIONAL Santa Elisabete da Trindade FORMAÇÃO HUMANA Conhecimento de si mesmo ASSOCIAÇÃO DAS COMUNIDADES DA ORDEM DOS CARMELITAS DESCALÇOS SECULARES NO BRASIL DA PROVÍNCIA SÃO JOSÉ CNPJ: 08.242.445/0001-90
NOTÍCIAS Casa Geral/Comunidades OCDS MARKETING Livros de Formação OCDS
Colabore com a edição da nossa Revista enviando suas sugestões, reclamações, notícias, testemunhos, artigos e poesias para: noticiasocds@gmail.com
MONTE CARMELO
Editorial
João Paulo Ma as Paiva, OCDS Coordenador da Comissão de Comunicação OCDS
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!
Caros irmãos da OCDS e demais leitores, o Senhor Ressuscitou, aleluia! É com esta alegria que apresentamos a todos vocês mais uma edição da Revista Virtual Monte Carmelo preparada com muito zelo e carinho por toda a Comissão de Comunicação OCDS. Neste bimestre (mar/abril) nosso irmão Giovani Mendes, de Fortaleza/CE, nos presenteia com um ar go sobre São José e as virtudes teologais e cardeais na seção Santo do Mês, tecendo assim uma excelente formação sobre o padroeiro de nossa Província OCDS. Compar lhamos ainda a oportunidade que vemos em entrevistar Frei Afonso de Santa Teresinha, padre provincial OCD, e conhecê-lo um pouco melhor. Na seção A Voz da Igreja, a homilia do Papa Francisco na Vigília Pascal quer nos lembrar da importância de comunicarmos a vida e a esperança a par r da experiência com o Ressuscitado. Na seção Testemunho, nosso irmão José Luiz de Jundiaí/SP, compar lha sua experiência de busca de Deus no Carmelo Secular e a inicia va de realização de encontro vocacional visando novos membros para a OCDS. E trazemos ainda, a par r de nossa irmã Andreia Virgínia de Sete Lagoas/MG, a cobertura do Simpósio Internacional Santa Elisabete da Trindade ocorrido em Minas Gerais no mês de abril e que contou com a presença de Frei Romano Gambalunga, Postulador Geral da Ordem. O evento foi um tempo de graças para o Carmelo Teresiano como bem se pode observar nos testemunhos dos par cipantes. Na seção Formação Humana, podemos acompanhar a temá ca do conhecimento de si e a sua importância, com a nossa irmã Rosângela Gonçalves Ribeiro de São Paulo. Não deixem de conferir as no cias de nossas comunidades/grupos OCDS e acompanhe a programação dos eventos, como o XIII Congresso Norte Nordeste da OCDS, II Congresso de Casais, II Congresso de Jovens e os Módulos da Escola de Formação. São sempre oportunidades de formação, oração e crescimento espiritual... Desejamos uma excelente leitura a todos. Sugestões de matérias podem ser compar lhadas pelo email: no ciasocds@gmail.com.
Um fraterno abraço! Deus os abençoe!
MONTE CARMELO
03
Santo(a) do Mês
São José
e as virtudes teologais e cardinais por Giovani Mendes, ocds Comunidade Flor do Carmelo de Sta Teresinha Fortaleza/Ce
São José, conforme crê a Igreja, é o maior Santo do Céu, estando “hierarquicamente” abaixo somente da San ssima Virgem Maria. O culto que lhe é devido é o de “proto-dulia”, isto é, de “veneração por primeiro”, não sendo lícito, portanto, alguém dizer: “para mim, São Francisco de Assis é maior que São José”. Faço aqui um parêntese, pois alguém poderia contestar tal afirma va dizendo que Jesus, referindo-se a São João Ba sta, disse: “entre os nascidos de mulher, nenhum é maior que João Ba sta” (Mt 11, 11). Conforme a interpretação do Magistério, Jesus referia-se aí à importância de São João Ba sta no contexto do profe smo, como o úl mo e maior dos profetas, aquele que é o Precursor do Messias, que tem a missão de “preparar os caminhos do Senhor” (Mateus 3, 3; Lucas 3, 4). Também foi ele quem apontou a seus discípulos a Ví ma Sem Mancha, o Cordeiro Pascal da Nova Aliança: “eis o Cordeiro de Deus, aquele que ra o pecado do mundo” (João 1, 29). Sim, São João Ba sta foi um grande Santo, tanto como profeta, quanto como discípulo (à distância) de Jesus, pois também creu no Salvador. Porém, não mais santo que São José, o chefe da Sagrada Família de Nazaré. Por séculos, na Liturgia mesmo, São José foi quase que esquecido. Nas pinturas e quadros sacros, São João Ba sta era retratado como aquele que estava à esquerda de Jesus na glória. Porém, felizmente, esse equívoco foi sanado pela Igreja, que deu a São José a devida honra que faz jus, tanto no Céu, quanto na Sagrada Liturgia. Bem, voltemos ao Santo Patriarca São José. Escolhido por Deus, da tribo de Judá,
04
MONTE CARMELO
descendente de Davi, para ser o pai nutrício ou puta vo do Menino Jesus. Seria ele quem daria o nome de Jesus ao Menino: “Ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mateus 1, 21). Ele seria aquele de quem Jesus receberia o nome, a filiação ao povo de Deus, a herança familiar, sendo conhecido por todos como “o filho do carpinteiro” (Mateus 13, 55). Ele é quem o circuncidaria (fazendo dele herdeiro da promessa de Abraão), quem sustentaria o Filho de Deus, quem lhe daria o alimento, o pão de cada dia, quem o protegeria, quem o ensinaria, quem o levaria à sinagoga para as orações, quem o apresentaria à comunidade judaica, quem o levaria para seu bahmitzwah (cerimônia judaica que equivaleria ao Crisma, fazendo do menino judeu “maduro” em sua fé). Enfim, “oficialmente”, São José era o pai de Jesus. Além do mais, seria o esposo cas ssimo e virginal da San ssima Mãe de Deus, a Virgem escolhida e eleita, que seria a Mãe do Senhor. Como Deus permi ria que a Virgem convivesse com um homem, mesmo que ele fosse muito bom, mas “comum”, que pudesse magoá-la, entristecê-la ou escandalizá-la, nem que fosse com pecado venial? Por isso que mís cas que contemplaram a vida de Jesus e de Maria (Beata Ana Catarina Emmerich, Venerável Maria de Ágreda, Serva de Deus Maria Valtorta) são unânimes em afirmar que a san dade de São José era sublime: muito maior do que a de muitos Santos e Santas. Não era imaculado, porém, foi san ficado e confirmado
em san dade já no ventre de sua mãe, à semelhança do Santo Precursor, São João Ba sta. Essa grande graça: da jus ficação e confirmação na graça san ficante não é tão rara na Igreja, Santo Padre João da Cruz a recebeu ao celebra sua primeira Missa. Portanto, sendo São José um grande Santo, viveu em grau eminente as principais Virtudes Cristãs: as Teologais (Fé, Esperança e Caridade) e as Cardeais (Jus ça, Fortaleza, Prudência e Temperança). As Virtudes Teologais e Cardinais são virtudes fundamentais à san ficação e à salvação eterna. Elas nos tornam filhos de Deus, herdeiros do Céu e fortes soldados de Cristo. São virtudes concedidas por Deus (daí o nome: dons) no Ba smo e alimentadas pelos demais Sacramentos. São de dois “ pos”: Virtudes Teologais e Virtudes Cardinais.
AS VIRTUDES TEOLOGAIS Virtudes vindas diretamente de Deus e que nos tornam semelhantes a Ele. São elas: FÉ, ESPERANÇA e CARIDADE.
A FÉ Virtude Teologal básica a todo cristão. A Fé faz-nos crer em Deus e crer em Sua ação-eficácia em nossas vidas. “Crer”, a linguagem bíblica, não é apenas “acreditar”, mas, “aderir” plenamente e viver o que se acredita, com todas as forças. A fé é, ao mesmo tempo, um dom que recebemos de Deus e uma virtude, visto que, precisa ser desejada, alimentada e fortalecida, graças a um desejo e esforço que todos nós temos que ter, em atenção e consideração à graça de Deus. Além disso, a fé muitas vezes é testada, sendo posta ao “fogo” das provações e tribulações. Se não for fortalecida pela oração, pela confiança, pela perseverança e constância, bem como pelas Virtudes da Esperança e Caridade, pode arrefecer. Será que São José nha essa virtude? Muito! E em al ssimo grau. São José, esposo de Maria, man nha com ela um casamento virginal, baseado na santa convivência, fraterna e esponsal (amor ágape), entre duas almas que se haviam consagrado ao Senhor. No entanto, começou a notar que Maria estava grávida. Mas, como? Como seria possível isso, visto que Ela, sua esposa san ssima e fidelíssima era virgem? Não havia explicação “racional” para isso. Tinha, por força MONTE CARMELO
05
da Lei mosaica, de denunciá-la aos rabinos da sinagoga, porém, como não duvidava nem um pouco da hones dade da esposa, e, ao mesmo tempo, sem ter como explicar o “fenômeno”, resolveu abandonála em segredo. Foi aí que, em sonhos, apareceu-lhe um anjo que disse: “José, filho de Davi, não temas receber Maria por esposa, pois o que nela foi concebido vem do Espírito Santo” (Mateus 1, 20). Quem, em seu são juízo, acreditaria num sonho desse? Somente quem tem FÉ, muita fé. A fé de São José era grande. Vivia em con nua oração, em “trato de amizade” (Santa Teresa de Jesus, Livro da Vida 8, 5) com Deus. Assim, mesmo sem compreender totalmente seus mistérios, nha condições de acolher a revelação como verídica, pois, conhecia em seu coração a “voz” de Deus. Quem tem vida de oração reconhece a “voz” do Senhor, mesmo em meio a grandes provações e tribulações. Jesus, futuramente diria: “as minhas ovelhas ouvem a minha voz” (João 10, 27). José era uma fidelíssima “ovelha” do Senhor. Mais tarde, mais uma vez sua grande fé foi provada, quando, chegando a Belém, veram que encontrar um abrigo improvisado para que o Menino nascesse: "reclinou-o num presépio; porque não havia lugar para eles na hospedaria” (Lucas 2, 7). Que dor para um pai zeloso como São José não poder oferecer à sua esposa e filho um lugar condigno para que pudessem se instalar! Certamente, a fé de São José o fortaleceu para que não desesperasse e visse nisso tudo a vontade de Deus. Mais a frente, ainda, sua fé foi posta à prova quando o anjo mais uma vez o adver u que par sse dali para o Egito, pois, Herodes procurava matar o Menino. Imaginem a situação. Se José não fosse um homem de fé, rapidamente desesperaria e murmuraria, mas, a Sagrada Escritura nos Santos Evangelhos demonstram que José era o homem do sim e do silêncio. Em nenhum momento dá a entender que “reclamou” de Deus. Em tudo aceitou seus santos desígnios e propósitos.
A ESPERANÇA É a Virtude Teologal do “caminhante”. Esperar é pôr nossa vida, nossas dificuldades e problemas totalmente em Deus (“esperar contra toda esperança”). É a virtude da confiança em Deus. Sem a Esperança somos as mais infelizes criaturas da terra. A
06
MONTE CARMELO
Esperança alimenta e fortalece a Fé. Esperança é diferente de “certeza”. Quem espera muitas vezes não vê o “fim úl mo” das coisas e nem sempre compreende o que Deus quer ou suas permissões, no entanto, crê sempre em sua bondade e em sua providência, sabendo que tudo que vem Dele é para o nosso bem. Pegando um “gancho” no que falamos em relação à Fé, podemos dizer também que São José viveu a Esperança em grau eminen ssimo. Sabia que tudo era vontade de Deus e que tudo servia a algum propósito de sua San ssima Sabedoria. Não compreendia tudo, mas silenciava, rezava e, à semelhança de Maria, guardava, em seu coração, todos os fatos que contemplava. Alguém sem esperança entraria rapidamente em desespero: desalojado de sua terra e de sua casa, exilado para uma terra estranha, tendo que começar lá uma nova vida, enfrentar vários problemas e dificuldades, anda mais sob a ameaça de um rei rano que matara centenas de inocentes... Se não fosse a Fé e a Esperança de São José, sua alma desmoronaria.
A CARIDADE (Amor) A Caridade é o “Dom Maior” de Deus (I Corín os 13). Cáritas, caridade, em la m, é o Amor de Deus amando em mim e por mim. Imaginem que grande graça! Quem é verdadeiramente caridoso, vive no Amor de Deus e é instrumento desse Amor para os outros. A caridade nos torna semelhantes a Deus. Infelizmente, ao contrário, são nossos pecados que nos tornam tão diferentes de Deus e, até mesmo, no caso dos pecados graves, seus “inimigos” (pois perdemos sua amizade com o pecado). A Caridade é a única virtude que persiste até a eternidade (“jamais se acabará”). Na visão bea fica da Trindade, quando todos os véus se descor narem, quando O contemplarmos face a face, a Fé e a Esperança deixarão de exis r. Na contemplação do Senhor não será necessária mais a Fé, pois O veremos tal como Ele é. Tampouco precisaremos da Esperança, pois, haveremos de ter conquistado o prêmio eterno, com todas as suas alegrias e recompensas. A Caridade não: ela é o bem e o tesouro que nos acompanha até a outra vida e será baseado nela que seremos julgados por Deus. O critério será: trabalhei ou não trabalhei em “prol” da caridade? Ela foi ou não a tutora de minha vida, meu ideal e norteadora? O quanto ela foi
importante no meu comportamento e no meu modo de agir? O juízo final relatado por Jesus em Mateus 25, 31-46 não passa disso: é o julgamento do Amor. Santo Padre João da Cruz nos disse: “no entardecer da vida seremos julgados pelo amor”. Assim, somente ela nos acompanha até à outra vida. Viveu São José a virtude da Caridade? Sim, com toda a certeza. A começar pelo belíssimo tulo que a Palavra de Deus lhe dá: José, o homem justo. Apesar também de ser uma virtude (que falaremos a seguir), a jus ça aqui não é somente “caminhar retamente perante o Senhor”, mas é viver no Amor de Deus, em sua bondade, misericórdia, paciência e s a n d a d e . É c o m p o r t a r- s e c o m o D e u s s e comportaria. Sendo assim, São José foi um grande imitador do Senhor em sua misericórdia. São José conviveu com Jesus e com Maria. Contemplava-os con nuamente, usufruindo de “um céu antecipado” (Santa Elisabete da Trindade) aqui na terra, pois gozava da presença con nua dos maiores tesouros do Céu: o próprio Deus humanado e a Rainha do Céu e da Terra. Se a oração e a contemplação dos mistérios divinos, como AS VIRTUDES CARDEAIS OU CARDINAIS por exemplo, o San ssimo Sacramento, podem levar, como dizem os mís cos, a “êxtases de amor”, quanto São virtudes “orientadoras”, virtudes “bússolas” mais a contemplação e convivência diárias com Jesus no caminho do cristão. São dadas por Deus, mas e com Maria. devem ser desejadas e buscadas através da vida de Certamente São José, mesmo em seu trabalho oração e frequência aos sacramentos. São elas: c o d i a n o, v i v i a a b s o r t o e m o ra ç ã o e e m Prudência, Jus ça, Fortaleza e Temperança. contemplação das maravilhas divinas, estando ele con nuamente junto à humanidade de Cristo e à presença san ssima de Maria! Imaginem os efeitos A PRUDÊNCIA na alma de São José causados pelo simples fato de estar com Jesus. Imaginem ter Jesus em seus braços, A Prudência é a “mãe de todas as virtudes”. É a olhar seu rosto, contemplar seu lindo olhar, ouvir sua virtude do cuidado, da “atenção espiritual”. Jesus voz, sen r seu calor e o cheiro de seu san ssimo uma vez adver u: “vigiai e orai para não cairdes em Corpo e, isso, diariamente! tentação”; e, em outra oportunidade disse: “Eis que Se aqueles que puderam ver a Virgem Maria por vos envio como ovelhas em meio a lobos: sejam alguns instantes, em breves aparições, referem uma prudentes como as serpentes e mansos como as sensação quase celes al pelo simples fato de vê-la, pombas”. A prudência nos protege contra as imaginem o que sen a São José ao conviver “armadilhas” do inimigo. Ser prudente não é ser diariamente com sua san ssima esposa, usufruindo medroso ou omisso, mas estar atento à possibilidade dos efeitos benéficos e san ficantes de sua alma de errar ou ser imperfeito. imaculada, ouvindo o som de sua voz e contemplando São José também foi modelo de prudência? Sim. todos os seus atos e gestos mais que angelicais! São José foi homem pruden ssimo, assim reza sua Ah! São José vivia pra camente mergulhado no ladainha: José pruden ssimo! fogo do amor divino e repleto de caridade ardente! Conviver com Jesus e com Maria ao mesmo tempo São José era um “serafim de amor”, correspondendo em que era um grande privilégio e honra, com seu amor o amor imenso que Jesus e Maria lhe necessariamente era uma grande responsabilidade. Beata Maria dos Anjos e Beato Sebas ão Valfré dedicavam. São José se sen a na obrigação de dar “o seu melhor”. Era um homem dedicado à sua família. Mais ainda: MONTE CARMELO
07
era um homem dedicado a seu Deus e à sua senhora e rainha, Maria San ssima. Sabia que Jesus era o Verbo de Deus feito homem, a Segunda Pessoa da San ssima Trindade. Quanta responsabilidade! Sabia que aquele Menino seria o Salvador, o Redentor do mundo! Portanto, toda sua vida foi dedicada a Ele. Seu suor, o trabalho na oficina no Egito e em Nazaré era todo dedicado ao sustento de sua casa. Ele era responsável por dar de comer ao seu Deus! Alguém já parou para pensar nisso? Ao mesmo tempo, São José sabia que sua esposa era a Eleita, a Mãe de Deus, a Rainha do Céu e da Terra, a Senhora do mundo e de todo o universo! Quanta responsabilidade em bem servi-la, em nunca causar-lhe o menor desgosto. Assim, em suas orações, certamente pedia a Deus luzes e forças para que pudesse ser sempre fiel. Isso é prudência. São José não confiava em suas próprias forças, mas, unicamente na graça e na ajuda de Deus.
A JUSTIÇA A Jus ça é a virtude do “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. O homem justo caminha retamente, sem desvios. O temor e o amor a Deus orientam o “caminhar” do justo. O justo adora somente a Deus e tudo coloca dentro da “ó ca de Deus” (vê e considera todas as coisas e todos os acontecimentos dentro do que pensa Deus). Podemos assim afirmar que São José mereceu demais o elogio do Evangelista São Mateus que o chamou “justo”. São José é modelo de homem justo. Como já falado no tocante às Virtudes Teologais e à virtude da Prudência, toda a vida de São José foi um caminho reto e direcionado apenas à obediência e à vontade de Deus. Era um digno imitador da san dade divina. Como poderia ser diferente aquele que seria o “representante” ou “subs tuto” de Deus Pai na terra? Como poderia ser um pecador cheio de defeitos aquele que educaria o Menino Jesus e seria referência perante a sociedade como seu verdadeiro pai? Era necessário que também São José fosse um homem muito santo, san ssimo, para que pudesse ser digno pai nutrício e puta vo de Jesus. Em todos os seus atos, em todos os seus movimentos, São José foi um homem justo e santo. Jamais ofendeu a Deus, nem mesmo no menor pecado venial, pois, nha que ser referência de san dade para o Menino Jesus que crescia “em estatura, sabedoria e graça diante de Deus e dos
08
MONTE CARMELO
homens” (Lucas 2, 52). Quando a vida de sua esposa estaria ameaçada diante de uma gravidez inexplicável, que não era dele, optou São José por abandoná-la em segredo. Optou pela desgraça, por ser banido de sua família e de seu povo para sempre, pelo simples fato de não querer ofender a Deus e nem à sua San ssima Maria, que ele tanto amava. Para tal decisão, precisou São José de outra grande virtude: a virtude da Fortaleza.
A FORTALEZA Também a Fortaleza é dom e virtude. Dom, pois Deus dá muitas vezes de forma sobrenatural a seus fiéis para que resistam bravamente às perseguições, tribulações e provações. Virtude, pois também é necessário que lutemos pela causa de Deus, que tenhamos paciência nas provações, que suportemos os males que Deus muitas vezes permite em nossas vidas. Diariamente somos tentados, temos nossa fé e confiança em Deus postas à prova. Satanás e seus demônios não nos dão sossego. Tudo isso Deus permite para que possamos ter algum merecimento diante dele, para que provemos nossa fé, nossa esperança e nosso amor por Ele. Deus permite a prova para que dela saiamos mais fortes e mais maduros na fé. A Fortaleza nos ajuda na “cruz co diana”. Também a Fortaleza precisa ser “fortalecida” por alguns meios que Deus nos colocou à disposição: a oração, a leitura meditada da Palavra de Deus, a frequência aos Sacramentos, especialmente Confissão e Eucaris a, e os atos penitenciais. São José foi um “homem forte”? Sim! Muito! Em sua Ladainha, uma das preces diz: “José for ssimo, rogai por nós!” São José suportou muitos sofrimentos, dores e angús as em seu serviço à Virgem Maria e ao Verbo Encarnado. A Tradição cita inclusive as “Sete Dores de São José”. São elas: 1. Ver-se obrigado pela lei a abandonar sua esposa Maria, que estava grávida. 2. Quando viu o Deus Menino nascendo em tanta pobreza. 3. Quando viu o sangue precioso do Redentor s e n d o d e r ra m a d o d o l o r o s a m e n t e n a circuncisão. 4. A profecia de Simeão a respeito dos futuros sofrimentos de Jesus e de Maria. 5. As penas e dificuldades que teve para sustentar e servir o Filho de Deus, especialmente na fuga e
exílio para o Egito. 6. Temor que o filho de Herodes, Arquelau, pudesse também perseguir o Menino. 7. Perda do Menino Jesus e angus ante procura por três dias.
pagã, levou sua vida de acordo com a vontade de Deus, no trabalho e na doação. 4. Quando retorna para Nazaré da Galileia, para recomeçar a vida, veio sem temor, confiante na proteção divina.
Além dessas dores, o que dizer do trabalho co diano, por quase trinta anos, para sustentar sua família? Será que São José não sofreu contrariedades? Será que não sofreu injus ças? Será que sempre foi bem remunerado ou será que aqui e ali alguém deixou de pagar por seus serviços, aproveitando-se de sua bondade e inocência? Mas, mesmo em suas dores e lágrimas, São José conservou-se forte na fé, na confiança, na esperança e no amor a Deus. Sempre foi humilde, pobre, simples e desapegado. Essas virtudes, longe de tornarem alguém “fraco”, o tornam um “gigante” perante o Senhor, pois Ele mesmo um dia diria: "Aquele que se fizer humilde como esta criança será maior no Reino dos céus (Mateus 18, 4)”. Forte é todo aquele que põe no Senhor, unicamente nele, toda a sua esperança e confiança. Não confia em suas próprias forças, mas sabe que tudo vem de Deus, pois é Deus quem nos ampara e sustenta. São José foi assim.
Suportar as provas sem desespero exige não somente fé, esperança, caridade e fortaleza, mas, temperança. É necessário equilíbrio emocional para suportar as agruras, contradições e os problemas do dia a dia. Peçamos a São José que nos fortaleça também na temperança. Conclusão Vemos assim que realmente São José foi um grande Santo. Se fosse necessário “canonizá-lo” nos dias atuais, o postulador de sua causa não encontraria dificuldades nessa tarefa. Suas virtudes eminen ssimas são verdadeiros faróis a iluminar a todos nós que somos seus filhos e devotos. Aprendamos com Santa Teresa a ter São José em al ssima conta, nunca se esquecendo de pedir-lhe a intercessão, o amparo e sua proteção em nossa caminhada rumo à casa do Pai.
A TEMPERANÇA A Temperança é virtude do “equilíbrio”. A palavra “temperança” vem de “tempero”. O temperante dá o “devido gosto” às coisas, sem exageros. O temperante resiste mais facilmente aos “apelos da carne e do mundo”. A Temperança domina os “impulsos de nossa natureza corrompida”. É inimiga de todos os vícios carnais. Faz-nos “atletas” no combate espiritual. São José, mesmo sendo puríssimo e cas ssimo, exercitou-se na virtude da temperança. Não tanto os ape tes carnais, que possivelmente não possuía, visto que estava confirmado em graça, mas sim no que toca ao equilíbrio emocional de seu comportamento. Intui-se isso por suas a tudes perante grandes provações e perigos: 1. Quando pensou deixar Maria em segredo, sabia a consequência de seu ato. 2. Quando recebeu do anjo o aviso que par sse para o Egito, conservou a paz e a serenidade. 3. Quando viveu no Egito, em terra estrangeira e MONTE CARMELO
09
Entrevista
Entrevista com Frei Afonso de Santa Teresinha, ocd por João Paulo Ma as Paiva, ocds Coordenador da Comissão de Comunicação OCDS Comunidade Flor do Carmelo de Santa Teresinha - Fortaleza-CE
1. Revista Virtual do Monte Carmelo: Frei Afonso, poderia nos contar, resumidamente, como descobriu o Carmelo Descalço e como foi sua caminhada vocacional na Ordem? Resposta: Sempre ouvira falar do Carmelo fe m i n i n o ; o C a r m e l o m a s c u l i n o e r a - m e desconhecido. Em 1983, ganhei o livro “Nada é pequeno onde o amor é grande”. Aí descobri Santa Teresinha e a auten cidade de sua vida tocou-me profundamente. Procurei outros livros sobre ela e, o que ia encontrando, lia. Depois de um tempo, descobri os Frades Carmelitas Descalços. Em 1984, escrevi a este convento onde hoje vivo e fui acompanhado por frei Jorge Jacinto Correia. Em 13 de maio de 1985, entrei no postulantado, em Cara nga/MG. 2. Revista Virtual do Monte Carmelo: Frei Afonso, poderia nos elucidar, de modo geral, qual sua missão efe va e direta na província São José, enquanto superior provincial? Resposta: A missão do Provincial, auxiliado por seus Conselheiros é, antes de tudo e com a graça de Deus, animar os frades da Província, criando vínculos de fraternidade entre as comunidades, estar em estreita sintonia com o Padre Geral, estreitar laços com os mosteiros de Monjas e com as comunidades OCDS. Para além das atribuições canônico-jurídicas, deve procurar, de todo coração, viver com auten cidade a sua vocação.
10
MONTE CARMELO
3. Revista Virtual do Monte Carmelo: Sabemos, frei Afonso, que a Ordem do Carmelo é formada por três ramos dis ntos, mas unidos em uma só espiritualidade e vocação: os frades, as monjas e os seculares. Pergunto-lhe, portanto, de que forma um carmelita secular deve corresponder à sua vocação e testemunhá-la no mundo? Resposta: Como nos recordam os Documentos que regem a OCDS, ser Carmelita secular é ser Deus no meio do povo, assumindo os valores seculares e denunciando, existencialmente, o secularismo, ou seja, tudo o que se opõe ou dificulta o anúncio e a vivência do Evangelho. Tenho como exemplo de Carmelita secular Santa Teresa dos Andes: era santa antes de entrar no mosteiro. Uma vida toda dedicada a Deus, vivida sadiamente na sociedade, entre festas, esportes, encontros, engajamento na Igreja... 4. Revista Virtual do Monte Carmelo: Frei, estamos vivendo um ano jubilar mariano. O senhor poderia nos falar um pouco sobre a relação tão estreita que há entre o modelo para nós que é a Virgem Maria e a
vocação carmelita? Resposta: Em poucas palavras é di cil responder. Sabemos que “o Carmelo é todo de Maria e Maria é toda do Carmelo”. Os nossos Santos são exemplos vivos de vida mariana, vida “marioforme”. Insistem especialmente na in midade amorosa para com a Mãe do Senhor: e A amam segundo a Doutrina da Igreja, de modo profundo, sincero, deixando-se atrair por Ela. Não desprezam nenhuma devoção recomendada pelo Magistério da Igreja e sempre procuram pra cá-las, porém não se prendem, doen amente, a nenhuma delas. O carmelita não tem necessidade de “devoções curiosas” em relação à Virgem, mas busca, antes de tudo, pôr em prá ca suas palavras: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. Recomendo a leitura orante do poema “Porque te amo, Maria” (Poema 54), de Santa Teresinha. É atualíssimo! E em profunda sintonia com os ensinamentos do Papa Francisco. 5. Revista Virtual do Monte Carmelo: Frei Afonso, próximo ano comemoraremos o centenário da presença da OCDS no Brasil. Pergunto-lhe, enquanto provincial, o que a Província São José espera de nós OCDS, e de que forma, segundo nossa vocação à vida secular, nós podemos contribuir mais com a missão do Carmelo? Resposta: Para responder, ouso u lizar as palavras do nosso Padre Geral, Savério Cannistrà: “Que sejam cada vez mais Carmelitas seculares! Que vivam a vocação com consciência, coerência e consequência”. Quando estava na formação, sempre refle a com os nossos formandos – e isso o assumo por primeiro – que entrar e permanecer ao Carmelo não é di cil. O desafio é deixar o Carmelo entrar e permanecer em nós.
deixe uma mensagem para todos nós da OCDS como também aos demais leitores de nossa Revista Virtual... Resposta: Já que se aproxima o Congresso Mariano da OCDS, neste Ano Mariano Nacional, deixo-lhes este testamento de Santa Teresinha: “Não tenhas medo de amar demais a San ssima Virgem; nunca a amarás suficientemente e Jesus ficará muito sa sfeito, visto que a San ssima Virgem é sua mãe” (Carta de 30/05/1889). Revista Virtual do Monte Carmelo: Frei Afonso, agradecemos imensamente sua disponibilidade em responder às nossas perguntas, certamente suas palavras nos ajudarão demais na nossa caminhada vocacional e no nosso compromisso com a Ordem. Agradecemos ao bom Deus pelo dom da sua vocação, e fazemos preces para que nunca lhe faltem o auxílio divino e a ajuda dos irmãos para o cumprimento da sua missão. Que o Senhor e Santa Teresinha o abençoem! Frei Afonso: Agradeço ao João Paulo pelo convite para par cipar desta edição da Revista virtual da OCDS. Muito obrigado e Deus lhes abençoe, confirmando-os na vocação de cristãos e carmelitas. Abraço fraterno.
6. Revista Virtual do Monte Carmelo: Gostaríamos de encerrar este breve momento pedindo-lhe que MONTE CARMELO
11
Voz da Igreja
Homilia do Papa Francisco na Solene Vigília Pascal da Ressurreição do Senhor 15 de abril de 2017. «Terminado o sábado, ao romper do primeiro dia da semana, Maria de Madalena e a outra Maria foram visitar o sepulcro» (Mt 28, 1). Podemos imaginar aqueles passos: o passo pico de quem vai ao cemitério, passo cansado da confusão, passo debilitado de quem não se convence que tudo tenha acabado assim. Podemos imaginar os seus rostos pálidos, banhados pelas lágrimas. E a pergunta: Como é possível que o Amor tenha morrido? Ao contrário dos discípulos, elas ali vão, como já acompanharam o úl mo respiro do Mestre na cruz e, depois, a sepultura que Lhe deu José de Arimateia; duas mulheres capazes de não fugir, capazes de resis r, de enfrentar a vida tal como se apresenta e suportar o sabor amargo das injus ças. Ei-las chegar diante do sepulcro, divididas entre a tristeza e a incapacidade de se resignarem, de aceitarem que tudo tenha sempre de acabar assim. E, se fizermos um esforço de imaginação, no rosto destas mulheres podemos encontrar os rostos de tantas mães e avós, os rostos de crianças e jovens que suportam o peso e o sofrimento de tanta desumana injus ça. Nos seus rostos, vemos refle dos os rostos de todos aqueles que, caminhando pela cidade, sentem
12
MONTE CARMELO
a tribulação da miséria, a tribulação causada pela exploração e o tráfico humano. Neles, vemos também os rostos daqueles que experimentam o desprezo, porque são imigrantes, órfãos de pátria, de casa, de família; os rostos daqueles cujo olhar revela solidão e abandono, porque têm mãos com demasiadas rugas. Refletem o rosto de mulheres, de mães que choram ao ver que a vida dos seus filhos fica sepultada sob o peso da corrupção que subtrai direitos e quebra tantas aspirações, sob o egoísmo diário que crucifica e sepulta a esperança de muitos, sob a burocracia paralisadora e estéril que não permite que as coisas mudem. Na sua tristeza, elas têm o rosto de todos aqueles que, ao caminhar pela cidade, veem a dignidade crucificada. No rosto destas mulheres, há muitos rostos; talvez encontremos o teu rosto e o meu. Como elas, podemos sen r-nos impelidos a caminhar, não nos resignando com o facto de que as coisas devem acabar assim. É verdade que trazemos dentro uma promessa e a certeza da fidelidade de Deus. Mas também os nossos rostos falam de feridas, falam de muitas infidelidades – nossas e dos outros –, falam de tenta vas e de batalhas perdidas. O nosso
coração sabe que as coisas podem ser diferentes; mas, quase sem nos apercebermos, podemos habituar-nos a conviver com o sepulcro, a conviver com a frustração. Mais ainda, podemos chegar a convencer-nos de que esta seja a lei da vida anestesiando-nos com evasões que nada mais fazem que apagar a esperança colocada por Deus nas nossas mãos. Muitas vezes, são assim os nossos passos, é assim o nosso caminhar, como o destas mulheres, um caminhar por entre o desejo de Deus e uma triste resignação. Não morre só o Mestre; com Ele, morre a nossa esperança. «Nisto, houve um grande terremoto» (Mt 28, 2). De improviso, aquelas mulheres receberam um forte estremeção, algo e alguém fez tremer o solo sob os seus pés. Mais uma vez, alguém vem ao encontro delas dizendo: «Não tenhais medo», mas desta vez acrescentando: «Ressuscitou, como nha dito». E tal é o anúncio com que nos presenteia, de geração em geração, esta Noite Santa: Não tenhamos medo, irmãos! Ressuscitou como nha dito. A vida arrancada, destruída, aniquilada na cruz despertou e volta a palpitar de novo (cf. R. Guardini, Il Signore, Milão 1984, 501). O palpitar do Ressuscitado é-nos oferecido como dom, como presente, como horizonte. O palpitar do Ressuscitado é aquilo que nos foi dado, sendo-nos pedido para, por nossa vez, o darmos como força transformadora, como fermento de nova humanidade. Com a Ressurreição, Cristo não deitou por terra apenas a pedra do sepulcro, mas quer fazer saltar também todas as barreiras que nos fecham nos nossos pessimismos estéreis, nos nossos mundos conceptuais bem calculados que nos afastam da vida, nas nossas obcecadas buscas de segurança e nas ambições desmesuradas capazes de jogar com a dignidade alheia. Quando o sumo sacerdote, os chefes religiosos em conivência com os romanos pensaram poder calcular
tudo, quando pensaram que estava dita a úl ma palavra e que compe a a eles estabelecê-la, irrompe Deus para transtornar todos os critérios e, assim, oferecer uma nova oportunidade. Uma vez mais, Deus vem ao nosso encontro para estabelecer e consolidar um tempo novo: o tempo da misericórdia. Esta é a promessa desde sempre reservada, esta é a surpresa de Deus para o seu povo fiel: alegra-te, porque a tua vida esconde um germe de ressurreição, uma oferta de vida que aguarda o despertar. Eis o que esta noite nos chama a anunciar: o palpitar do Ressuscitado, Cristo vive! E foi isto que mudou o passo de Maria de Magdala e da outra Maria: é o que as faz regressar à pressa e correr a dar a no cia (Mt 28, 8); é o que as faz voltar sobre os seus passos e sobre os seus olhares; regressam à cidade para se encontrar com os outros. Como entramos com elas no sepulcro, assim vos convido a irmos também com elas, a regressarmos à cidade, a voltarmos sobre os nossos passos, sobre os nossos olhares. Vamos com elas comunicar a no cia, vamos… a todos aqueles lugares onde pareça que o sepulcro tenha a úl ma palavra e onde pareça que a morte tenha sido a única solução. Vamos anunciar, par lhar, revelar que é verdade: o Senhor está Vivo. Está vivo e quer ressurgir em tantos rostos que sepultaram a esperança, sepultaram os sonhos, sepultaram a dignidade. E, se não somos capazes de deixar que o Espírito nos conduza por esta estrada, então não somos cristãos. Vamos e deixemo-nos surpreender p o r e sta a l vo ra d a d i fe re nte , d e i xe m o - n o s surpreender pela novidade que só Cristo pode dar. Deixemos que a sua ternura e o seu amor movam os nossos passos, deixemos que o pulsar do seu coração transforme o nosso ténue palpitar. Fonte: h p://w2.va can.va/content/francesco/pt/homilies/2017/documents/papafrancesco_20170415_omelia-veglia-pasquale.html
MONTE CARMELO
13
Testemunho
D
esejando par lhar uma experiência comunitária edificante, vou falar um pouco sobre nosso encontro de oração aberto a nossa paróquia de Santo Antônio, em Jundiaí, juntamente com a comunidade da OCDS e alguns irmãos da ordem que nos ajudaram. Esse encontro foi gestado dentro de nossa comunidade, e iluminado pela percepção da nossa fragilidade como comunidade e missionários carmelitas. Desejando renovar a comunidade e irmos em busca de novas vocações, decidimos realizar um encontro juntamente com o grupo das Santas Missões Populares (SMP), que está em andamento na paróquia e diocese. Sou carmelita desde quando o Senhor me buscou na sarjeta da vida e me permi u me apaixonar Dele pelo Carmelo. Par cipo da Ordem desde fevereiro de 2012, fiz minhas promessas temporárias em 23/08/2014. Porém trinta anos antes de conhecer o Carmelo e a OCDS, vivi, por quatro anos, o espírito das promessas numa comunidade de leigos, entre 1979 e 1982. Foi nesse período que conheci, através de D. Gabriel Paulino Bueno Couto, nosso primeiro bispo, a teologia mís ca, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz. Foram anos de busca de Deus através da oração diária e do trabalho apostólico com os jovens no MOJUC – Movimentos de jovens da diocese.
14
MONTE CARMELO
Infelizmente, problemas sérios aconteceram e o futuro Ins tuto Secular se desintegrou e, com ele, todo meu fervor e espírito missionário. A maioria dos irmãos se acomodou nas pastorais e movimentos da diocese, alguns se decidiram pelo matrimônio, mas não deixaram a Igreja, digamos que o Senhor, na sua infinita misericórdia, abriu uma porta para cada um dos que sinceramente desejavam con nuar suas caminhadas, de modo que nenhum se perdeu. Na contramão da maioria, eu não me encaixei em nenhuma pastoral, e na agitação desse desmonte das muitas vidas, fiquei a deriva por um bom tempo, numa escuridão muito grande, magoado, sofrido e sem o conforto da família espiritual. Mergulhei no trabalho e na busca da sobrevivência da minha família humana, decidimos por vivermos, eu e minha irmã de comunidade, um relacionamento a dois sem o matrimônio, relacionamento esse que nos deu duas filhas entre 1984 e 1986. Durante esses anos, o Senhor esteve sempre nos protegendo de armadilhas maiores, houve muitos momentos em que percebi sua presença nos fatos e dificuldades, muitos bons amigos que nos ajudaram, mas não havia o reconhecimento de minha humilhação, de minhas necessidades e da infinita misericórdia de Deus. Nós nos casamos no Civil, em 1986, e no Religioso, em 2000, depois de muito refle r e perceber a mão do Senhor me puxando. A par r de então, voltei à mesa da Eucaris a e dos demais sacramentos, par cipamos de algumas pastorais e nos esforçamos a educar nossas filhas na Igreja. Eu sempre insa sfeito e o Senhor me buscando! Enfim, numa experiência de dor e de graça, em setembro de 2011, deparei-me com a morte e inevitavelmente com a vida, minha história com o Senhor! Com a descoberta de um câncer maligno no colo do intes no, minha vida deu uma volta radical. Foram quatro dias em observação com o intes no entupido, uma cirurgia com trinta pontos no abdômen, mais de quinze dias de pós-operatório com uma infecção interna de brinde. Foram muitos dias de dor, orações, suplicas, solidão e contrição. De fato minha maior constatação foi da inu lidade da minha vida até então, por mais que vesse par cipado da Igreja como apóstolo, naquela hora minha percepção foi de que tudo era um grande engodo, se fosse que me apresentar naquela hora diante do Senhor iria de mãos vazias, sem nenhum “talento”. Foi o meu juízo final, pedi ao
Senhor humilhado que me desse a graça de con nuar a viver e de ser realmente seu apóstolo. Foi o reconhecimento de minha autossuficiência, de minha arrogância e da necessidade da misericórdia de Deus. Durante a convalescença de três meses, li muito, meditei e escrevi muito, crescendo assim minha gra dão e reconhecimento de minha pequenez e dependência de Deus, da Igreja e da necessidade de estar inserido numa comunidade de vida. Mas qual comunidade? Já reconciliado com Deus e com a Igreja, e na busca por uma conversa mais profunda sobre o que deveria fazer, o Senhor me levou de volta a nossa irmã, sempre Madre Maria Inês, ocd, do Carmelo São José, com quem havia conversado trinta e três anos atrás, quando estava me decidindo por qual caminho iria seguir o Senhor. Foi um encontro magnífico com aquela senhora idosa e santa, foi uma conversa de muita alegria e dor, de reconhecimento de minha indignidade e da imensa misericórdia de Deus! Conversamos por mais de uma hora, a madre não falou sequer uma palavra sobre par cipar da OCDS, por mais que tenha deixado claros meus desejos e necessidades. Mas o Senhor sabia o que me daria. Já na saída, passando em frente ao stand da livraria do Carmelo S. José, leitor voraz que sou de temas que me interessam, correndo curioso os tulos, deparei-me com um livrinho chamado “O Mundo é meu Carmelo”, de Frei Patrício Sciadini, que fala exatamente do que é ser um carmelita secular e de como sê-lo. Nasceu ai um desejo incon do de conhecer sua proposta, e minha surpresa foi que sua proposta de vida era algo muito parecido com o que desejávamos viver no ex nto Ins tuto trinta anos atrás. Com algum esforço, encontrei os contatos da an ga presidente da comunidade, depois de uma agradável acolhida, fui conhecê-los e nunca mais sai de lá. Não tenho dúvidas sobre minha vocação! No inicio da minha caminhada, havia um desejo muito grande de beber, sem medidas, de toda a doutrina e graças do Carmelo, porém o tempo foi mostrando que todos éramos necessitados de amor e perdão, o que me levou por algum tempo a me decepcionar com a comunidade. Assim, nas minhas orações, fui compreendendo que “Onde não houver amor, devemos colocar amor”. Foi o que fiz, todos os dias, orava pela nossa comunidade e por meus irmãos, e então passei a olhá-los com olhar de misericórdia. Hoje, caminhando com minha comunidade, crescendo e sofrendo as vicissitudes de nossa vida
secular, cresceu em mim um desejo grande de fazer algo por ela e pela OCDS, um desejo de viver e de par lhar com os demais cristãos nossa experiência de vida; foi assim que nos decidimos, junto com o conselho, a comunidade e a comissão vocacional pela realização desse encontro. Tivemos muitas dificuldades para sua realização: minha pouca experiência, assim como dos demais membros, em realizar um encontro com muitas pessoas, mas com a graça do Senhor e a ajuda, mesmo a distância, dos membros da comissão vocacional, as coisas foram se acomodando e tomando forma. Divulgamos na paróquia, e em mais algumas paróquias de nossa região pastoral, distribuímos um panfleto pequeno nas celebrações e no Carmelo, fizemos também vinte cartazes: dez de tamanho A3 e dez de tamanho A4, distribuídos nas paróquias e nos estabelecimentos interessados. Recebemos, no total, 45 par cipantes, dentre os grupos da OCDS, SMP e os demais da Paróquia. Suplicamos ao Senhor que mandasse seu Espírito Santo, cientes de nossas limitações, Ele mandou também frei Pierino, ocd, e nossa irmã e vicepresidente Rose Pio o, ocds, que foram fundamentais nas catequeses e na clareza que passaram para os presentes sobre a Ordem e sobre a importância da Igreja. O Frei representando a hierarquia da Ordem e Rose, leiga carmelita veterana, falando com autoridade para leigos que estavam lá para aprenderem a orar! Foi um empreendimento que demandou algum empenho. Como infelizmente estou novamente em tratamento quimioterápico, havia a possibilidade de que eu não es vesse bem no dia, mas o Senhor foi generoso comigo, até me permi u dar um pequeno testemunho sobre minha vida e conversão! O que os irmãos presentes levarão para suas vidas somente o Senhor sabe, percebemos olhos brilhantes e corações ardentes, e ficou em nós uma experiência muito forte e edificante: 1 – de que é possível, mesmo em comunidades muito limitadas como a nossa, organizarmos e realizarmos encontros missionários de oração e formação carmelitana; 2 – de que mesmo a distância poderá ser diminuída com algum esforço, contando com uma ajuda nos custos dos deslocamentos dos catequistas; 3 – de que é possível dar um toque local no encontro, com a nossa cara, sem rar a caracterís ca carmelitana; MONTE CARMELO
15
4 – de que a colaboração das Irmãs no Carmelo com os anúncios nas suas celebrações e suas orações são fundamentais; 5 – de que nossa comunidade, Santa Terezinha do Menino Jesus Doutora, esquecida e estéril no que diz respeito ao apostolado da espiritualidade na paróquia, surge como uma opção para se viver uma vida de oração, como a ensinada por Santa Teresa de Jesus; 6 – de que o Carmelo Secular é uma porta aberta que leva a um caminho de oração a quem o Senhor quiser chamar! José Luiz Rizzato, OCDS – Jundiaí-SP Conselheiro da Comunidade Santa Terezinha do Menino Jesus Doutora Jundiaí, 08 de Abril de 2017
16
MONTE CARMELO
Simpósio Santa Elisabete da Trindade
SIMPÓSIO INTERNACIONAL
Santa Elisabete da Trindade Em comemoração pela sua canonização
20 a 23 ABRIL
2017 por Andréia Virgínia da Silva, ocds Comunidade São José - Sete Lagoas-MG
G
o sta r i a d e co m e ça r e sta m até r i a compar lhando com vocês as inúmeras graças derramadas no Simpósio Internacional Santa Elisabete da Trindade, que aconteceu no Recanto São Jose, em Belo Horizonte, nos dias de 20 a 23 de abril. Além dos ensinamentos proporcionados pelos conferencistas, vivenciamos ali momentos de oração, formação e par lha. Elisabete da Trindade em tudo se deixou amar por Deus e, assim amada, buscou ser um louvor de glória. E s t a m u l h e r m a rav i l h o s a m e n t e fo r t e e determinada que, para nós, carmelitas seculares, tem tantos conselhos e ensinamentos, que quase visualizam nossa vida no Carmelo e faz de nós
“par cipantes” deste céu antecipado, que é podermos viver, morar e beber desta fonte junto de nossa família carmelitana. Frei Romano Gambalunga (Religioso OCD e Postulador Geral da Ordem) enriqueceu-nos com suas palavras e sua presença de filho de Teresa, sempre a caminho. Destacarei aqui alguns pontos fortes das conferências ministradas por Frei Romano em parceria com Frei Cleber: · Elisabete da Trindade, uma jovem sensível, inteligente, vivaz, comunica va, empenhada na vida eclesial. Seu carisma manifesta-se numa vida de simplicidade e humildade, aceitando a própria fraqueza e aceitando ser amada. Um modelo para que nos deixemos atrair por Deus.
MONTE CARMELO
17
“Eu prometi a meu Jesus de me humilhar e renunciar cada vez que tiver ocasião por amor dele, e pedi a este Esposo Bem-Amado para ajudar a minha fraqueza a fim de que eu faça de minha vida uma oração contínua, um ato de amor. Que nada possa me distrair dele. Que eu viva no mundo sem ser do mundo: eu posso ser carmelita no meu interior e o quero ser. Ó meu Bem-Amado, que eu passe santamente este tempo que me resta a viver no mundo; que eu o passe na vossa união, na vossa intimidade; que eu o passe fazendo o bem. Mestre, eu sou vossa, tomai-me toda inteira. Desejo muito ir para o Carmelo... Ó Bem-Amado, regulai meus desejos, que vossa vontade seja sempre a minha; no mundo eu posso vos pertencer, não é? Ó meu Jesus, há muito tempo que eu já vos dei tudo, hoje eu vos renovo esta oferenda, sou vossa pequena vítima. Ah! Que Elisabete desapareça, que não reste senão Jesus!”.
· Seu encontro real com Jesus se deu na primeira
comunhão. A experiência real do cristão é a Encarnação de Jesus – obra do Espírito Santo – que transforma a humanidade, a “inabitação trinitária” que tem sua raiz na experiência Eucarís ca: o corpo e o sangue de Jesus que, no corpo mís co, se tornam nosso corpo e nosso sangue (Jo 6, 56)e fazem de nosso corpo o templo de Deus. O Espírito Santo vem habitar no coração do cristão e aí forma Cristo (Gl 4, 19), tornando esse coração templo de Deus, casa do Pai, do Filho e também sua habitação ( Jo 14,23 e 17), seu mistério: “Cristo em vós, esperança da glória” ( Cl 1,7). Quando tomamos a decisão de seguir o Senhor, Cristo não é mais exterior a nós, não é somente um mestre a ser seguido no caminho para o Pai, mas Ele está em nós.
A importância desse conceito é que por meio de Cristo, podemos tocar e alcançar a vida divina. O mistério trinitário é muito profundo. A encarnação nos possibilita tocar o mistério de Deus. A experiência de comunhão com Jesus fez Elisabete esquecer-se de si mesma e, por isso, teve os olhos voltados para os outros. Esquecer-se de si não é um exercício psicológico ou estratégia psicológica, é uma a tude espiritual, porque no centro está Jesus, “O SENHOR EUCARÍSTICO”. · Elisabete liga a Eucaris a ao mistério da Encarnação.
O Natal é a encarnação que se realiza em Maria, a Eucaris a é a encarnação que se realiza em nós. Eucaris a é uma Luz esplêndida que torna visível a efusão da caridade e união com Deus, que se realiza na fé: É em minha alma que se dá a nova encarnação;
18
MONTE CARMELO
é “o face a face” através da sombra da fé. (Poesia 75). · A vivência na presença de Deus suscitava a
admiração das pessoas que percebiam isso e se sen am atraídas por esse mistério. Porque Elisabete da Trindade é recolhida em si e presente em si, pode se tornar presente diante de Cristo e revelar isso as pessoas. A importância de analisar os escritos de Elisabete é a melhor forma de compreender sua doutrina e missão. Em síntese, quem busca Elisabete recebe de Deus ajuda para voltar-se para si mesmo e transformar-se. É preciso encontrar tempo para estarmos presentes em nós mesmos, contrapondo-nos aquilo que nos arrasta para fora de nós mesmos. A unidade com Deus nos torna eternos. Estar mergulhado em Deus é como estar na eternidade, o que cura nossa falta de tempo. É necessário sair de nós mesmos, para aderirmos a Deus, como filhos, para que Deus se imprima em nosso ser. A vida espiritual é simples, mas não é fácil. Elisabete da Trindade nos apresenta esse caminho simples, porque Deus deseja imprimir-se em nós, para transforma-nos Nele e, assim, tornamo-nos nós mesmos. · O processo de conversão não é buscar um comportamento moral contrário ao pecado, mas pedir o amor – o primeiro ato é um ato de amor. Não apenas no sen do comportamental moral, mas na transformação do coração. A coisa mais importante que podemos pedir ao Senhor é que “cada ba da do coração seja um grito de reconhecimento e amor”. · Diante da provação, Elisabete aceita tudo, pede apenas para ser fiel. Quando Deus nos prova, podemos tocar com as mãos a realidade em que nos encontramos, temos a oportunidade de tocar e sen r a presença de Deus. · Santa Teresa é a santa de predileção de Elisabete:
“morro porque não morro”; virtude de preferência: pureza: “os puros verão a Deus”; defeito que inspira mais aversão: egoísmo; livro de preferência: Imitação de Cristo; nome que desejaria ter no céu: Vontade de Deus. · A misericórdia é um contato constante – ser amada
por Deus e amar, em nossa fraqueza, em nosso abismo. “Aquele que age pelo temor não avança na virtude. É preciso pensar na misericórdia de Deus, em como é grande sua paciência com o pecador, com que
bondade nos acolhe.” A cruz é um abraço, um abraço cósmico no meio do sofrimento; é preciso pensar no amor. Pensar no amor da misericórdia: é ser como um filho que sabe que a mãe está presente, que tem uma morada, uma referência. Assim, temos também uma morada interior – Deus, para Elisabete, é uma morada. DEUS É AMOR SEMPRE.
no céu, na caridade da Trindade – oferta do Filho a todos por amor, solidão cheia de comunhão que nunca abandona, vive dentro da sua alma. Eu posso ver a união de Deus comigo através da paixão de amor do Crucificado. “O sen do de minha vida é descobrir esta união e viver esta união pela caridade – os Três são Um”.
· Santa Teresa diz que uma alma é como “mil
· Carta aos Efésios: “fomos pensados e predes nados
mundos”, infinita. Elisabete fala que a interioridade é um universo, um abismo insondável. Para ela, são dois abismos que se atraem e se amam. “Possuímos dentro de nós um abismo de amor. É simples encontrar o amor, nós o temos dentro de nós – é o mistério de Deus que está unido a nós.”
desde a eternidade para ser santos e imaculados no amor”. Por isso, para viver esta realidade, Elisabete ama muito o silêncio e a solidão para escutar o que Deus lhe fala. É necessário silêncio para as palavras a ngirem o fundo do nosso ser e imprimir-se em nós como onda da caridade.
· A fé de Elisabete é sólida e se fundamenta no abismo
· Carta aos Hebreus revela o valor da Palavra.
de amor, como experiência do Crucificado. É uma fé que abre portas e janelas para a esperança. Sempre fala e vê adiante, pensa e deseja o céu, mas não tem a cabeça nas nuvens. “Espero ir cantar no céu as misericórdias do Senhor”, sem esquecer sua realidade de fraqueza. Deixa tudo, abandona tudo com confiança nos braços de Deus: “não tenho nada para mim: pecado, preocupações, fraquezas; tudo entrego ao Senhor. ISSO É REPOUSAR.”
Elisabete dá o espaço fecundo à Palavra para que esta tenha ação e produza frutos. O mais importante é o fato de nós podermos entrar no repouso de Deus. O autor fala da Palavra, centralizando o repouso de Deus, onde o Senhor nos guarda e gera. Todavia, é possível perder esta graça.
Para Elisabete, o maior prazer de sua vida é repousar em Deus, no sen mento de sua impotência diante de Deus. Expressando-se, assim, mostra que encontrou o verdadeiro sen do de sua vida. Eu alcanço o abismo de amor quando me esqueço de mim mesmo e esqueço todas as coisas; o impulso vem do amor. O segredo da felicidade consiste em negar-se em todo momento, despreocupar-se. O melhor modo de matar o orgulho é matá-lo de fome.
Atualização do autor sagrado explicando o Salmo 94: “Hoje, se ouvir sua voz, não fechei os corações”. A Palavra é viva e eficaz, porque é o Senhor quem vem na Palavra. A nossa forma de relação com a Palavra é o silêncio, para que ela nos transmita toda potência e graça. A graça é a realidade de Deus e do mundo a par r de Deus. Por isso, Elisabete fala da paixão pelo invisível – não aquilo que não se vê; mas, o amor de Deus que ilumina e transforma toda a realidade. O invisível é o que se faz ver dentro do visível – ação da graça de Deus que conduz a história. · No silêncio está vossa força. Conservar a fortaleza
· Quando mergulho no abismo do meu nada, posso adorar! Adorar é uma palavra própria do céu – êxtase do amor enquanto imersão em Deus.
para Deus é recolher as potências da alma – pensamentos, memória, vontade, desejos – para ocupá-las no exercício do amor. Amar em todas as partes do nosso ser; olhar simples que permite à Luz iluminar-nos. Ter uma intenção única que é exercitarnos no amor de Deus, deixá-lo agir em nós em sua Palavra. A pessoa que silencia tem sua inteligência iluminada pela fé.
· Para Elisabete da Trindade: “Uma alma carmelita é
· “NADA MAIS SEI! NADA MAIS IMPORTA DIANTE DA
uma alma que contemplou o Divino Crucificado.” Somos chamados e atraídos à contemplação de amor como Ele, fazendo uma oferta de amor ao Pai pela salvação das pessoas. A contemplação da cruz é a contemplação de amor do Pai que gera o Filho, que está unido e entregue ao Pai. O carmelita vive já como
PRESENÇA DE JESUS QUE NOS FALA!” Isso é silenciar, é exercício do amor; não estratégia psicológica. Sem fé isso seria loucura ou alienação. “Tudo que não é feito por Deus nos esvazia ao invés de nos preencher”. Par lhar entre nós a Palavra de Deus e a graça que ele nos concede, nos ajuda a recordar a
· Carta 324: AMA SUA MISÉRIA, PORQUE É SOBRE
ELA QUE DEUS EXERCE SUA MISERICÓRDIA. NÃO POSSO REJEITAR MINHA MISÉRIA PORQUE ISSO É REJEITAR A MISERCÓRDIA DE DEUS.
MONTE CARMELO
19
presença de Deus, que con nuamente nos preenche e nos integra na interioridade. · Elisabete afirma que “toda a riqueza espiritual é
para fazer a vontade de Deus”, ser fiel aos mandamentos e à igreja. “Para isso, precisa comunhão, obediência, verdade; para que seja uma experiência harmônica.” Nada que é humano está fora de Deus; mas é preciso que Deus esteja no centro para unificar a pessoa humana. · RETIRO “CÉU NA FÉ” (20) e ÚLTIMO RETIRO (26):
Elisabete propõe a experiência de fé como fonte e origem da unificação interior. O grande ato de fé é acreditar no grande e imenso amor de Deus por nós. Neste re ro, número 20, a santa diz que “temos reconhecido o amor de Deus por nós e nele cremos”, e isso causa a exultação da alma. A experiência de Deus se torna o alicerce fundamental de nossa fé. Quando Elisabete fala da fé, se refere a algo real, tangível, que pode ser tocado. Por isso, é possível transpor os obstáculos e repousar em Deus. · A fé é um poder. Não apenas uma consolação, dom,
graça, meio sobrenatural de conhecer a Deus. É ter um poder de escolha, algo que determina a vida. Jesus diz a Madalena: “tua fé te salvou”. · Reconhecer com quanto amor somos amados, este
é o segredo para esquecer-se de si mesmo. A maturidade tem como raiz a decisão de permanecer centrado em Deus. · SER HUMANIDADE DE ACRÉSCIMO: abrir-nos a Luz
da fé, descobrindo Deus presente e vivente em nós. É necessário aproximamo-nos do Mestre e estar em comunhão com sua alma, para depois cumprir a vontade do Pai. · IDENTIFICAR-SE COM OS SENTIMENTOS DE CRISTO: é possível alcançar essa profundidade à medida que, na Eucaris a, nos deixamos transformar por Ele, e não mais colocamos resistência à ação de Deus. A Eucaris a é a realidade concreta da Palavra.
MINICURSO 1 O i nerário trinitário de Elisabete da Trindade Frei José Cláudio, ocd Obje vo: apresentar o i nerário de Santa Elisabete da Trindade, para nos fazer perceber que toda a vida
20
MONTE CARMELO
dela foi um caminho gradual de in midade com Deus que passou do Deus “INFINITO” e dos horizontes ilimitados, até chegar “AOS MEUS TRÊS”, que ela descobriu no fundo de sua alma. Elisabete, numa carta, apresenta um texto luminoso, onde descreve essa passagem da busca de Deus fora até chegar a descobri-lo no seu interior: “que estes Três, que ambas tanto amamos, sejam verdadeiramente o Centro em que decorra a nossa vida! Santa Teresa disse que a alma é como um cristal no qual se reflete a Divindade. Gosto tanto desta comparação que, quando vejo os raios do sol inundando os nossos claustros, penso que é assim que Deus invade a alma que nada mais procura que senão a Ele! Minha querida, vivamos na intimidade com o nosso Bem-Amado, sejamos inteiramente Dele, como Ele é todo nosso” (C 136 –
À Germana de Gemeaux,14 de setembro de 1902). Elisabete que antes gostava de encontrar Deus no sol, nas montanhas, no mar e etc., agora começa a viver em in midade com Ele dentro dela mesma. Seu caminho de in midade com os Três passou também pelo sofrimento da busca, da iden ficação com Cristo na Eucaris a e na oração silenciosa, até chegar aos clarões da Bea ssima Trindade! E esta experiência de se descobrir habitada pelo Deus Amor, Santa Elisabete não a guardou somente para ela, mas quis comunicá-la a seus parentes e a seus amigos e amigas, a quem introduziu no mistério da Inabitação Trinitária. Baste-nos, como exemplo, o que de Elisabete diz sua amiga Margarida Golot, no Processo de Canonização de Elisabete: “Ela era possuída pela Trindade... A San ssima Trindade era o seu TUDO! A San ssima Trindade e nada mais. Ao final de nossos encontros, um pouco mais tarde, ela já quase não falava mais dela, pois estava possuída pela San ssima Trindade que estava dentro dela”. Ou seja, a San ssima Trindade se tornou o centro a par r do qual se desenvolveu a sua vida. E ela soube corresponder a essa in midade das Três pessoas divinas vivendo imersa e abismada nesse Mistério. E ela o comunica e ensina a cada um de nós, que o Amor de Deus Uno e Trino deve ser experimentado e comunicado a todos os nossos irmãos e irmãs, que vivem “órfãos de Deus” e que desconhecem que “são da Família de Deus” e que Deus os des nou para viver em comunhão com OS TRÊS. “Deus nos chama, pela nossa vocação, a viver nestas santas claridades! Que mistério adorável de caridade! Quereria corresponderlhe passando pela terra como a santa virgem, «guardando todas estas coisas em meu
coração», sepultando-me por assim dizer no fundo da minha alma para me perder na Trindade que aí mora, para Nela me transformar” (carta 185).
MINICURSO 2 As intuições de Elisabete sobre a Trindade na oração de elevação. Frei José Cláudio, ocd Santa Elisabete, nesta oração, ainda que use termos teológicos, como imóvel, eternidade, profundeza e etc., ela não u liza a especulação puramente intelectual como caminho. Tudo o que ela expressa aí vem de sua experiência pessoal do mistério trinitário. Por sua vez, ao usar termos como “adorante” e “contemplar”, ela nos mostra que vive o mistério trinitário que se revelou a ela e que nos transmite. Na Oração de Elevação, Santa Elisabete fala de “Cristo Jesus” para se referir à sua natureza humana, e fala de “Verbo Eterno” para referir-se à sua natureza divina. Na maior parte do tempo ela fala de Jesus, pois é por meio Dele que ela é introduzida no mistério da Trindade. O Pai e o Espírito Santo aparecem pouco na oração, mas se pressupõe a presença Deles sempre que ela fala do Filho. O ideal de Santa Elisabete é o de se assemelhar ao Filho. E para que o Pai possa ver o Filho nela, é necessário a “Encarnação de Cristo” na sua alma, e este é o papel do Espírito Santo, que vai transformando-a e fazendo-a viver no interior de si mesma. Elevação à Santíssima Trindade Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente para me fixar em Vós, imóvel a pacifica como se a minha alma estivesse já na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me faça penetrar mais na profundidade do vosso Mistério. Pacificai a minha alma, fazei nela o vosso céu, a vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que eu nunca Vos deixe só, mas que aí permaneça com todo o meu ser, bem desperta na minha fé, toda em adoração, toda entregue à vossa Ação criadora. Ó meu Cristo amado, crucificado por amor,
quereria ser uma esposa para o vosso Coração, quereria cobrir-Vos de glória, quereria amarVos… até morrer de amor! Mas sinto a minha impotência a peço-Vos para me “revestir de Vós mesmos”, para identificar a minha alma com todos os movimentos da Vossa alma, para me submergir, invadindome, a substituindo-Vos a mim, para que a minha vida não seja senão uma irradiação da vossa Vida. Vinde a mim como Adorador, como Reparador, a como Salvador. Ó Verbo eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-Vos, quero tornar-me inteiramente dócil, para tudo aprender de Vós. Depois, através de todas as noites, de todos os vazios, de todas as impotências, quero fixar-Vos sempre a permanecer sob a vossa grande luz; ó meu Astro amado, fascinai-me para que eu não possa jamais sair da vossa irradiação. Ó Fogo consumador, Espírito de amor, “descei sobre mim”, para que na minha alma se faça como que uma encarnação do Verbo: que eu seja para Ele uma humanidade de acréscimo na qual Ele renove todo o seu Mistério. E Vós, ó Pai, debruçai-vos sobre a vossa pequena criatura, “cobri-a com a vossa sombra”, não vendo nela senão o “Bem-Amado no qual pusestes todas as vossas complacências”. Ó meus Três, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão infinita, Imensidade onde me perco, entrego-me a Vós como uma presa. SepultaiVos em mim para que eu me sepulte em Vós, enquanto espero ir contemplar na vossa luz o abismo das vossas grandezas.
MINICURSO 2 A misericórdia na espiritualidade de Santa Elisabete da Trindade Prof. Dr. Carlos Eduardo da Eucaris a, ocds “Nós somos tão fracas ou, até mesmo, não somos senão miséria; mas Ele sabe disso e gosta de perdoar-nos, de erguer-nos e, depois, de arrebatar-nos para junto de Si, na Sua pureza, na Sua santidade infinita”. Santa Elisabeth da Trindade
MONTE CARMELO
21
O obje vo do minicurso, realizado em duas tardes seguidas, foi apresentar a espiritualidade de Santa Elisabete da Trindade na perspec va da Misericórdia, incen vando a vivência da mesa na “Família carmelitana”: irmãs, frades e seculares. A proposta do curso foi mo var, mistagogicamente, a vivência da misericórdia de Deus, a par r da espiritualidade de Santa Elisabete da Trindade. A apresentação focou-se na vivência da Misericórdia de Deus, apresentando elementos fundamentais da espiritualidade de Santa Elisabete da Trindade, de maneira a incen var a formação de grupos carmelitas de oração. Além de um resumo biográfico e doutrinário da vida de Santa Elisabete da Trindade, foi apresentada uma contextualização da espiritualidade da misericórdia. Foi mostrado como a vida da santa carmelita francesa manifestou a misericórdia de Deus testemunhando amor, fé e confiança a cada dia, apesar das provações e sofrimentos. Também foi lembrada, de modo especial, a importância da Eucaris a e de Nossa Senhora na vida de Santa Elisabete da Trindade. Santa Elisabete testemunhou o amor e a misericórdia do Cristo ressuscitado, vivo e presente na história e na sua existência. Ela foi toda docilidade e toda escuta à voz misericordiosa do Divino Mestre. Sen a-se imersa no amor misericordioso e infinito de Deus. Ele foi a sua vida, o seu “Tudo”. Sua presença floresce também na vida dos outros pelo seu testemunho de vida na ação concreta e misericordiosa, na doação de sua vida, na família, na Igreja, no trabalho, na sociedade, sendo expressão concreta do amor e da misericórdia de Deus pelos homens. Como Santa Elisabete da Trindade, expressemos em nosso co diano a descoberta do céu que existe dentro de nós e semeemos o Reino de Deus com nossas vidas, começando a viver o Céu, por meio da fé. “Se caio a cada instante, na fé confiante, deixarei que Ele me levante”. (Santa Elisabeth da Trindade)
Peçamos, portanto, à Santa Elisabete da Trindade que interceda por cada um de nós e nos alcance esta graça de humildade: a de passar santamente por esta vida terrena, esperando o céu, onde mergulharemos após tantas saudades de Deus.
“Deixe-se amar por Deus”! Deixe que este Deus a ame acima de tudo e seja você
22
MONTE CARMELO
para ele também um louvor de Sua Glória! Que sua vida seja um louvor a Deus!
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA: Élisabeth de la Trinité, Oeuvres Complètes. Les Edi ons du Cerf, Paris 2002. Isabel da Trindade. Obras Completas. Edições Carmelo, Avessadas – Marco de Canaveses 2008. Elisabete da Trindade. Obras Completas, Vozes, Petrópolis 1993. Michel Philipon. Doutrina Espiritual de Elisabete da Trindade. 2ª ed, Paulus, S. Paulo 1988. Carmel de Bourges. Les Mots d'Élisabeh de la Trinité – Concordance. Carmel Bourges et Carmel-Edit, Belgique 2006. Conrad de Meester. Élisabeth de la Trinité – Biographie. Presses de la Renaissance, Paris, 2006. J. Clapier. La aventura mis ca de Isabel de la Trinidad. Monte Carmelo, Burgos 2007. Memórias da Santa Elisabeth da Trindade (Madre Germana de Jesus, Frei Patrício Sciadini, org., LTR Editora, 2006, 216p.). “Eu, Elisabete da Trindade” (Frei Patrício Sciadini, Edições Loyola, 2006, 293p.). Uma hora com Elisabete da Trindade (Frei Patrício Sciadini, org., Edições Loyola, 2000, 137p.). Rezando os mistérios do Rosário e a Via-Sacra com Elisabete da Trindade (Frei Patrício Sciadini, org., Edições Loyola, 2005, 39p.). O mistério da inabitação divina em Ir. Elisabete da Trindade. Dissertação de Mestrado em Teologia. (Irma Guarnieri, PUC-RS, 2012, 88p.). Uma definição espiritual do Tempo como 'eternidade começada e sempre em progresso' – ou o ensinamento do Céu na Terra segundo Elisabeth de laTrinité (Carlos H. do C. Silva, Didaskalia, xxxvii (2007) 1, p. 197-245). Carmelo de Dijon (h p://carmel-flavignerot.fr/ h p://www.elisabeth-dijon.org/)
MONTE CARMELO
23
24
MONTE CARMELO
MONTE CARMELO
25
26
MONTE CARMELO
DEPOIMENTOS Irmã Adriana do Sagrado Coração de Jesus, ocd. Carmelo de Nazaré - Cariacica/ES. Para mim, o Simpósio Internacional sobre Santa Elisabete da Trindade foi uma experiência de encontro. 1°. Um encontro com a Trindade: As palestras e a Oração Litúrgica me proporcionaram um verdadeiro encontro com o Deus-Amor. Ouvindo sobre Elisabete, pude compreender que o amor que Deus dispensa sobre mim é um amor concreto, direto. Experimentar esse Amor, que me ama para além de minhas fraquezas e limitações, é o chão firme e seguro, sobre o qual posso caminhar. 2°. Um encontro com Elisabete: Em minha caminhada de quase 18 anos de Carmelo, sempre procurei me aproximar dos escritos de Elisabete. No entanto, sempre experimentei a enorme distância que existe entre mim e esta "Presa da Trindade". Neste Simpósio, ve a oportunidade de me aproximar da Elisabete que trilhou os mesmos caminhos que nós hoje trilhamos, que lutou, que se esforçou para "entrar em si", que experimentou em si mesma o peso de suas debilidades, mas que se abriu com uma confiança inabalável aos Três; que deixou-se conduzir e transformar na imagem do próprio Cristo Senhor. Com Elisabete, aprendi que por mais di cil que seja o caminho pelo qual Deus nos conduz, se es vermos atentos à sua presença, nós também seremos uma irradiação sua neste mundo. 3°. Um encontro com os irmãos: Como foi bonito e edificante conhecer e reencontrar os irmãos! Nestes dias de Simpósio, pude perceber como o coração de dilata e se alarga para deixar entrar os irmãos e as irmãs que comigo par lham o mesmo ideal de vida carmelitana. Que riqueza de vida, de testemunho e de experiência pude perceber nos carmelitas seculares! A eles agradeço a oportunidade que nos deram, a nós monjas, de par cipar desde Simpósio. Que a Virgem San ssima, a "Toda de Deus", ajude a cada um de nós, seus filhos, a fazermos, em todos os momentos, a vontade do Bom Deus!
Micheline de Faria Silva Comunidade Santa Edith Stein - Dininópolis-MG Este Simpósio é, para mim, uma oportunidade única! Digo "é", e não "foi", porque as palavras ouvidas con nuam ecoando no coração. Pudemos começar ou alimentar a amizade com alguém muito especial, que nos conduz ao silêncio e à adoração à Trindade. Como terapeuta, percebo que Santa Elisabete nos aponta o caminho para a interioridade, onde podemos estreitar o relacionamento com Deus. E assim é possível encontrar respostas para muitos males psíquicos, como depressão, pânico, etc. Santa Elisabete, ensinai-nos sempre mais a estarmos com o Amado em nossa própria interioridade.
MONTE CARMELO
27
Prof. Dr. Carlos Eduardo da Eucaris a, OCDS Conselheiro da Província OCDS Nossa Senhora do Carmo Foi uma grande alegria poder par cipar do Simpósio sobre Santa Elisabeth da Trindade, organizado pela Escola de Formação Edith Stein (OCDS), na cidade de Belo Horizonte. Foi uma oportunidade abençoada para a família carmelitana, no Brasil, comemorar a recente canonização de Santa Elisabete da Trindade. A Província São José (OCDS) está de parabéns pela inicia va evangelizadora. Por um lado, posso dizer que o interesse em conhecer a vida e a espiritualidade de Santa Elisabete da Trindade surgiu a par r de uma inspiração de Santa Teresinha do Menino Jesus e da própria vontade de conhecer melhor o carisma carmelitano. A história da minha “amizade espiritual” com Santa Elisabete da Trindade se confunde, portanto, com o desenvolvimento da minha vocação como carmelita descalço secular e com a formação do núcleo familiar que cons tuí com a minha esposa, Adineia Maria. Na nossa caminhada, vemos acesso aos livros de Santa Elisabete da Trindade, com sua personalidade jovem e mís ca. Eu e minha esposa vemos muita curiosidade em conhecer mais sobre essa espiritualidade marcada pela oração, silêncio, adoração, amor, habitação divina e “Louvor de Glória”. Que Santa Elisabete da Trindade interceda para que mais pessoas possam buscar a união com Deus por meio da oração carmelitana. Agradeço muito a oportunidade de poder ministrar o minicurso “A Misericórdia na Espiritualidade de Santa Elisabete da Trindade”, inspirado no livro que lançarei pela Editora LTR, com prefácio do Frei Patrício Sciadini, OCD.
Marcio Luiz Rodrigues Dantas, OCDS Grupo Virgem de Nazaré - Cariacica/Es Pedi ao Pai para receber a graça de assis r ao Simpósio com os olhos da fé, com os olhos da alma. E vi a mão do Senhor em cada palestra e ensinamento recebido. Sen uma profunda gra dão por cada irmão e irmã que conheci e reconheci a doçura do Carmelo em seus corações. Testemunhei a delicadeza, a humildade e o acolhimento de todos, um para com os outros e todos para com um. Vi nas almas Maria, José e Jesus. Vi no grupo o Espírito da Sagrada Família na força da sua união. Vi também a mão do Senhor na Vida de Santa Elisabete da Trindade canonizada exatamente 100 anos após a úl ma aparição do Anjo do Senhor a Irmã Lucia, Francisco e Jacinta na Loca do Cabeço - Fá ma Portugal. Nesta aparição, deixando o cálice e a Hós a suspensos no ar, o Anjo prostrouse em terra junto às crianças e fez as repe r três vezes a oração: “San ssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, ofereço-Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os sacrários da Terra, em reparação dos ultrajes, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos de seu San ssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores". Depois, levantando-se, deu a Hós a a Lúcia, e o cálice, deu-o a beber a Francisco e Jacinta, dizendo: "Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos! Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus". As estruturas da Santa Igreja serão abaladas nestes tempos finais, poucos pilares ficarão de pé, entre eles, a Ordem do Carmelo que será um pilar inabalável e fundamental como base de apoio de Nosso Jesus Amado para reconstrução. Elisabete da Trindade, rogai por nós!
28
MONTE CARMELO
Ir. Regina Lúcia do Espírito Santo e Ir. Ma. Elisabete da Trindade Carmelo Sagrado Coração de Jesus e Madre Teresa – Bananeiras/PB Desde que soube da realização do Simpósio sobre Santa Elisabete da Trindade, sen -me interiormente atraída. Tinha muito desejo de me aprofundar mais sobre a nova santa de nossa Ordem. Fiquei muito agradecida à Trindade Santa, a minha Comunidade, de modo especial à Nossa Madre, por essa oportunidade. Foram dias de "tocar" o céu. De aprofundar na vocação, em nossa missão espiritual. A ida de nossa noviça, Ir. Elisabete da Trindade ao Simpósio, também foi uma graça especial. Mesmo antes de seu ingresso ao Mosteiro, manifestava sua admiração à Santa Elisabete da Trindade, o que só tem crescido, por isso recebeu o seu nome e a graça de par cipar do Simpósio. A cada explanação e acontecimento fraterno no encontro, ela percebia a ação da Trindade. Ficou muito agradecida e cada vez mais ca vada interiormente. Em todos os momentos com frei Romano e o minicurso do frei José Cláudio, fomos acompanhando o amadurecer humano/espiritual da graça, em Santa Elisabete da Trindade. Tentando resumir, nos unimos a ela num triplo "movimento": "se não nos sen mos atraídos por Deus, é porque não conhecemos o Seu amor" (conhecer/relacionar-se), "missão de atrair almas" (atrair), e "cada ba mento do meu coração seja um grito de reconhecimento e amor" (gra dão, permanecer na graça, fidelidade). Para encerrar nossa simples par lha, eis o nosso desejo, nossa oração: "Que nada possa vir rar a minha paz, nem me fazer sair de Vós, ó meu imutável, mas que a cada instante me faça penetrar mais na profundidade de vosso mistério." (Santa Elisabete da Trindade).
Padre Luiz Roberto Teixeira Di Lascio Paróquia N.S. do Rosário de Pompéia - Arquidiocese de Campinas - SP O Simpósio sobre Santa Elisabete da Trindade foi um aggiornamento (atualização), na minha vida espiritual e na dos par cipantes que foram tocados pela graça de Deus através da vida e missão da Santa do Silencio. O convívio com a família Carmelitana possibilitou que o Encontro ultrapassasse as expecta vas, levando-nos a fazer uma experiência de fé e vida seguindo o i nerário espiritual de Santa Elisabete. Os expositores foram fieis nas suas apresentações, tratando-as com seriedade e competência. Parabenizo a equipe organizadora pelo empenho e acolhida. De minha parte, fico agradecido a todos pela acolhida e atenção na troca de experiências, e saio fortalecido e mais apaixonado pela santa que conheci no ano de 2009, durante o re ro de trinta dias que fiz pelos meus 25 anos de sacerdócio. Fazendo o re ro, encontrei, numa livraria, um livro sobre Elisabete da Trindade e qual foi a minha surpresa quando descobri que ela foi bea ficada no dia 25 de novembro de 1984 pelo Santo Papa João Paulo II, neste mesmo dia e hora eu recebia, pela imposição das mãos de Dom Paulo Evaristo Arns, a ordem do presbiterado. Tive a graça de estar presente na Canonização do Papa João Paulo II, em Roma. Logo após o Papa Bento XVI ter proclamado oficialmente santo o Papa João Paulo II, eu ajoelhei-me na Praça São Pedro em Roma e fiz um pedido especial: São João Paulo II interceda junto a San ssima Trindade pela canonização já, de Elisabete da Trindade. E, em outubro de 2016, a Igreja Católica elevou ao altar dos Santos a nossa querida irmãzinha de Dijon. Conheço-a há dezoito anos e desde 2009 sinto aumentar dia a dia o desejo de viver como um sacerdote para o Louvor e Glória da San ssima Trindade.
MONTE CARMELO
29
Formação Humana
Que coisa é o conhecimento de si mesmo? Qual a sua importância? por Rosangela Gonçalves Ribeiro, ocds Comunidade Nossa Senhora do Carmo e Santa Teresa de Jesus Higienópolis, SP
O autoconhecimento é um tema relevante para diversas áreas, mas para um Carmelita Descalço, o conhecimento de si assume uma grande importância. É um tema abordado não só em Santa Teresa de Jesus, como também em São João da Cruz e, não menos, em Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), em seus trabalhos antropológicos. O beato Maria-Eugênio do Menino Jesus (OCD), no livro Quero ver a Deus, publicado em 1947, na França, e em 2015 no Brasil, e também o frei Francisco Javier Sancho Fermín, em seu texto El conocimiento de sí em la medita ón teresiana, publicado em 2002 – cuja tradução para o português, feita pelo Frei Wilson Gomes, OCD nos foi recentemente compar lhada – tratam do conhecimento de si mesmo, principalmente a par r dos escritos de Santa Teresa de Jesus, pela tamanha importância que ela dá ao tema presente em suas grandes obras: Livro da Vida, Caminho de Perfeição, Fundações, sobretudo nas Moradas ou Castelo Interior. Teresa valoriza tanto o conhecimento de si que, no Livro da Vida, pede para que ele nunca seja abandonado, nem haja alma, nesse caminho, que se esqueça disso, e diz que o repe rá outras vezes, por ser muito importante que não haja “estado de oração tão elevado que torne desnecessário voltar ao princípio com frequência — sendo os pecados e o conhecimento próprio o pão com que todos os manjares, por mais delicados, devem ser comidos nesse caminho da oração (pão sem o qual ninguém
poderia se sustentar1)”. Teresa tem consciência da grande dignidade do ser humano, a ponto de comparar, em sua célebre obra Castelo Interior, a grande formosura de uma alma e a sua grande capacidade a um castelo todo de diamante. Sabe que a inteligência humana “por aguda que seja — mal chega a compreendê-la, assim como não pode chegar a compreender a Deus; pois Ele mesmo disse que nos criou à Sua imagem e semelhança”. Tem uma concepção humanista e posi va do ser humano. Ama a verdade e considera o conhecimento de si mesmo um caminho imprescindível, ao qual todos são chamados. E acrescenta: “Não é pequena lás ma e confusão que, por nossa culpa, não nos entendamos a nós mesmos nem saibamos quem somos.”2 Nas Cons tuições da OCDS, o n. 24-a diz que a pessoa humana, enquanto imagem e semelhança de Deus, é chamada a viver em comunhão de amor com a Trindade e “À luz deste mistério revela-se a verdadeira iden dade e dignidade de cada pessoa e par cularmente a vocação de cada um dos fiéis cristãos na Igreja. De natureza espiritual, a pessoa humana realiza-se e amadurece ao ser numa relação autên ca com Deus, mas também com outras pessoas”. Mas em que consiste o conhecimento de si mesmo? Não é um processo solitário, egoísta, em bene cio próprio; também nas Cons tuições da OCDS, o n. 24-c diz que: “Santa Teresa de Jesus 1. V 13,15 2. 1 M 1,1
30
MONTE CARMELO
valoriza a ajuda do outro na vida espiritual: a caridade cresce por meio de um diálogo respeitoso, cuja finalidade é a de conhecer-se melhor para ser agradável a Deus”. Muito menos dissimulado é esse conhecimento, men roso ou, como alerta Santa Teresa para que não se tenha a “insensatez, muito maior, sem comparação é a nossa quando não procuramos saber quem somos e só nos detemos no corpo”.3 Isso não significa que o conhecimento do corpo, da materialidade, seja ruim, mas, como afirma Santa Edith Stein, “o corpo, uma parte da pessoa, não está em função de si, é parte do ser como fonte e expressão da sua vida espiritual”4. A que po de conhecimento Teresa está se referindo? Firmín diz que ela não se refere ao aspecto psicológico do conhecimento, reconhece a importância do equilíbrio psicoafe vo, pressupõe esse equilíbrio, mas “seu interesse está voltado à dimensão espiritual”5. Beato Maria-Eugênio diz que Teresa propõe que se tenha “um certo conhecimento psicológico da alma”, pois tal conhecimento pode evitar “sofrimentos”, “dificuldades” e tem um papel importante na cons tuição da pessoa, favorecendo o desenvolvimento da vida espiritual. Teresa descreve essa parte da alma: “penetra nesse mundo interior, recolhe todas as vibrações, dis ngue a a vidade e as reações de cada uma das faculdades, disseca, de certo modo, a própria alma até as suas profundezas”6. Mas, o seu interesse está no “conhecimento
espiritual”, pois é ele que revela o que se é diante de Deus, “está fundamentado no valor da alma perante Deus”. Esse é o pão do qual Teresa diz: “com que todos os manjares, por mais delicados, devem ser comidos nesse caminho da oração”. Nele “Deus é, a um só tempo, fim e princípio do conhecimento próprio”7. Teresa descreve essa dimensão ao dizer que “a alma não é algo escuro (pois, como não a vemos, o mais frequente é parecer que não há outra luz interior além da que vemos). Supomos, equivocadamente, que dentro de nós reina uma espécie de escuridão”8. Para Santa Teresa “se entende com clareza que há no interior da alma Alguém que lança essas setas e dá vida a essa vida. Um sol de onde provém uma grande luz, enviada do interior da alma às faculdades”9. É i m p o r ta nte i nte re s s a r- s e p e l o ato d e conhecimento que possibilita a autotranscedência, conhecer a si mesmo para saber como modificar sua relação para consigo, com os outros e com Deus, para chegar à verdade que lhe revelará a sua verdadeira iden dade e dignidade como pessoa. Segundo Edith, porque o ser humano é espiritual ele é capaz de ter acesso à união com Deus e “pela intervenção da graça, o seu ser sente-se necessitado da união para se completar e aperfeiçoar”10. Pela sua genialidade e enorme capacidade de análise, Teresa de Jesus penetra em sua interioridade p o r m e i o d a o ra çã o, d ete r m i n a d a a v i ve r intensamente essa aventura em busca de si mesma e de Deus.
3. 1 M 1,2 4. SANCHO FIRMIN. 100 Fichas sobre Edith Stein, p. 168 5. Ibid. O conhecimento de si na meditação teresiana, p. 19 6. Maria-Eugênio do Menino Jesus, OCD, Quero ver a Deus, p. 77
7. Maria-Eugênio do Menino Jesus, OCD. Quero ver a Deus, p. 76 8. 7 M 1,3 9. 7 M 2,6 10. SANCHO FIRMIN. 100 Fichas sobre Edith Stein, p. 178
MONTE CARMELO
31
Para Gilberto Safra, Teresa de Jesus encontrou na oração seu veículo transacional que lhe possibilitava operar subje vamente dando-lhe um lugar a par r do qual podia operar em si mesma. O conhecimento de si mesmo é um dos elementos mais originais na oração teresiana, pois dis ngue a meditação teresiana de outros caminhos de meditação. É uma via de mão dupla: quanto mais cresce o conhecimento de si mesmo, maior é o grau de meditação e vice-versa, mais se aproxima de Deus, melhor se conhece a si mesmo. A oração, no âmbito da espiritualidade, tem uma função subje va que possibilita à pessoa tomar consciência de sua interioridade e cul vá-la nos diversos níveis de consciência e de espiritualidade em relação a si mesma, o conhecimento próprio; a Deus, em diálogo de comunicação recíproca; e aos demais, numa relação de amor, para além das aparências, chegando até as pessoas, até “reconhecê-las” no mesmo nível de dignidade e de interioridade descoberto em si. Esse reconhecimento, entendido em sua amplitude, não se restringe apenas às pessoas, mas se estende a toda criatura de Deus, à natureza, ao planeta.... No início da sua caminhada espiritual, Teresa conta que “Enquanto orava, mesmo ofendendo a Deus
32
MONTE CARMELO
algumas vezes, eu conseguia, com o Seu auxílio, recolher-me e apartar-me da ocasião”11. Na oração, diante de Deus, pode-se ver mais claramente aquilo que nos altera, adultera, torna menos humano, do que nos é próprio como templo do Espírito Santo. Teresa entendia o que se passava no seu interior quando orava, sabia que não estava só, de tal forma que se apropriou de si mesma, buscou o sen do da sua existência, buscou viver na presença do Senhor e com Ele interagiu. Construiu seu autoconhecimento numa relação em que o próprio Cristo foi o seu Outro, num desvelamento progressivo, percebendo-O na direção de sua vida. A Psicologia se propõe acompanhar a pessoa na recuperação daquilo que é o seu sen do da vida. Pode-se dizer que Teresa criou uma psicologia, seu caminho espiritual por meio do conhecimento de si e da oração/meditação, entendida como busca de união com Deus, abre uma possibilidade para a pessoa obter a recuperação daquilo que é o seu sen do da vida, o sen do da sua existência. Ao ler as obras de Teresa de Jesus, percebe-se nelas todo o trabalho que ela fez por meio do conhecimento, mesmo que indireto, da Sagrada 11. V 7,11
Escritura, das confissões frequentes, direções espirituais, leituras espirituais, intensa vida eucarís ca e de oração profunda (não de meras “devoções tolas”), colocando-se inteiramente a serviço da Igreja. Conforme foi-se desvelando o seu horizonte de interioridade, percebe-se sobretudo a ação de Deus, pela graça e a misericórdia divina, sem as quais, reconhece ela humildemente, não poderia atravessar as fronteiras do mundo da interioridade, travar batalhas consigo mesma para encontrar a verdade. Por meio da oração entendida como um diálogo amoroso com Deus, uma meditação que tem como chave o amor, a par r da sua realidade humana, Teresa descobre sua alma na medida em que penetra em sua interioridade na busca da plenitude humana e cristã. Santa Edith Stein, refle ndo sobre os “caminhos alterna vos aos da oração que podem conduzir o homem a penetrar na sua alma e a conhecer-se, afirma que é possível esse conhecimento pela [...] relação com os outros, a experiência pessoal, e a inves gação cien fica realizada pelas ciências do espírito”. Mas Santa Edith Stein adverte: “são caminhos que conduzem até um determinado ponto [...] essa ação humana tem um limite. O centro mais profundo só é possível ser alcançado como dom da graça e do caminho da oração”12.
Teresa de Jesus, para explicar como se dá esse conhecimento espiritual, de si e de Deus, por meio da oração, vai compará-lo ao trabalho da abelha, a fim de torná-lo mais compreensível, mostrando também como se exercita a virtude da humildade: “consideremos que a abelha não deixa de sair e voar para trazer flores. Do mesmo modo, a alma voltada para o próprio conhecimento deve voar algumas vezes, a fim de considerar a grandeza e a majestade do seu Deus. Ela constatará a sua baixeza mais do que olhando para si, libertando-se dos parasitas que entram nos primeiros aposentos, que são os do próprio conhecimento. Embora seja grande misericórdia de Deus a alma exercitar-se nisso, tanto se peca por excesso como por falta, segundo se costuma dizer. E crede nisto: com a virtude de Deus, pra caremos assim melhor a virtude do que muito presas ao nosso barro”13.
Muito rica essa comparação de Santa Teresa: as abelhas em seu deslocamento se orientam, principalmente, pelo sol, que é para elas referência mesmo nos dias nublados e encobertos. Pelo Sol, guiam suas companheiras em relação às fontes de alimento. Exatamente o que Teresa propõe: que o conhecimento de si mesmo se dê à luz de Deus, por meio de um processo dinâmico, permanente, em que ora se ocupa de si, ora se põe em voo com abertura para Deus e também ao outro, numa ação labora va de criatura a serviço de Deus. Como afirma Teresa de Jesus, é necessário sair de si mesmo para não distorcer o conhecimento próprio. Teresa viveu esse processo de conhecimento de si como uma pessoa que vive na presença de Deus, mas é produ va, concreta, conectada à realidade do seu 12. SANCHO FIRMIN. 100 Fichas sobre Edith Stein, p. 169.
13. 2 M 1,8
MONTE CARMELO
33
tempo no âmbito econômico, polí co, social e religioso. Não presa a uma falsa imagem de si mesma e tampouco a uma imagem distorcida de Deus, mas, sim, numa relação autên ca com o Senhor e também com as pessoas, numa a tude humilde de escuta reflexiva que se coloca a serviço. Teresa insiste, e quer ser clara o suficiente sobre a importância da humildade no conhecimento de si, quando diz: “Não sei se fui clara o bastante, porque a questão de nos conhecer é tão importante que eu gostaria que não houvesse nisso nenhuma negligência, por mais elevadas que estejais nos céus. Enquanto estamos nesta terra, não há coisa que mais nos importe do que a humildade”14. Santa Teresa tem uma grande capacidade de colocar as pessoas em movimento, de desinstalá-las. Para ela, do conhecimento de si ninguém está dispensado “enquanto vivermos, e até por humildade, é bom conhecer a nossa natureza miserável”15. É por meio do autoconhecimento, à luz de Deus, que se desenvolve a virtude da humildade que, juntamente com a virtude do desapego, tornam possíveis o ato de conhecer-se e de viver na verdade, conhecendo a Deus. Segundo o Beato frei Maria-Eugênio, sob a ação divina, pelos diversos efeitos que produz na alma, pode-se explorar o conhecimento espiritual em três domínios: o que se é diante de Deus; os dons – imagem e semelhança de Deus; e as más tendências. Nesse processo, é preciso reconhecer o que se é diante de Deus, compreendendo nossa condição de seres limitados, experimentando em nosso ser a pequenez extrema, a precariedade de ser inacabado. Maria-Eugênio, para mostrar a real condição humana, conta que Nosso Senhor dizia a Santa Catarina: “Sabes, minha filha, quem tu és e quem eu sou? Tu és aquela que não é: eu sou Aquele que sou”16. Para ele, Santa Teresa, encontrou nessa dupla luz “o respeito profundo por Deus, este comovente temor de humilde súdita de Sua Majestade, este horror ao pecado, que se aliam tão bem aos ardores e aos impulsos do seu amor audacioso de filha e de esposa. Esta ciência do infinito [...] inspira todas as suas a tudes, revela-se nas suas decisões e nos seus conselhos” [...]. Que “esse reconhecimento da condição humana, da verdade de Deus e da pessoa,
14. 2 M 1,9 15. V 13,1 16. Maria-Eugênio do Menino Jesus, OCD. Quero ver a Deus, p. 81
34
MONTE CARMELO
deve assegurar em nós o triunfo de toda a verdade, mesmo que ela acuse contrastes desconcertantes [...], estes contrastes existem no homem. [...] O cristão deve conhecer a sua dignidade [...] não deve ignorar o valor das graças especiais que recebeu”17. No processo de conhecimento de si mesmo a pessoa se depara com o que o Beato Maria-Eugênio chama de más tendências, pois o “homem descobre em si a concupiscência ou forças desordenadas dos sen dos, o orgulho do espírito e da vontade”. São João da Cruz, citado por Maria-Eugênio, fala que “as tendências cansam a alma, atormentam-na, mancham-na e a enfraquecem”18. Para ele, essas “tendências tomarão formas par culares conforme a educação recebida, o meio fragmentado, os pecados come dos, os hábitos adquiridos, podendo agir como forças muito poderosas ou até como leis fatais”19. Mas, alerta que “o espiritual precisa conhecer as suas tendências, especialmente as dominantes, para ver a necessidade dessa ascese e para conduzi-la eficazmente”20.
Para Firmín, esse processo de “conhecimento de si, não como ato externo, mas como elemento integrante da meditação teresiana, desempenha um papel válido a consideração da própria vida e dos próprios pecados: do que se é e do que carece, sem fugir da própria verdade, aceitando-a e assumindo-a, porque só a par r da própria condição pode-se alcançar a Deus”21. 17. Ibid. p. 83-84 18. Ibid. p. 86 19. Ibid. p. 87 20. Ibid. p. 88 21. Sancho Firmín. O conhecimento de si na meditação teresiana, p. 22
Em Santa Teresa de Jesus, o processo do conhecimento de si mesmo deu-se pela ação de Deus na sua alma, revelando-lhe sua estrutura do mundo interior. À luz de Deus, ela descobriu o que era, qual era o valor dos dons sobrenaturais e o caráter nocivo das suas tendências. À luz de Deus, Teresa aprendeu a se conhecer. Mas, como alerta Maria-Eugênio, nesse caminho também há o perigo “de procurar a Deus na sua alma, de frequentemente não encontrar senão consigo mesmo, ou, pelo menos, de n ã o a p re n d e r, n a o b s c u r i d a d e silenciosa que envolve a vida do Deus interior, mais do que as emoções da sensibilidade e a agitação confusa das fa c u l d a d e s d i l a t a d a s p o r e s s e silêncio”22. Segundo Maria-Eugênio, é na luz de Deus que a pessoa aprende a se conhecer; experimentando a sua miséria de criatura e a grandeza de Deus, pode construir um conhecimento mais qualificado e mais profundo de si mesmo e de Deus. Diz q u e S a n t a Te r e s a r e s s a l t a a importância da humildade nesse processo, quando a alma se depara com a sua condição limitada, os seus pecados, mesmo “que a pessoa, por se considerar ruim, entenda com clareza que merece estar no inferno, afligindose e tendo a impressão de dever ser justamente condenada por todas as pessoas, quase não ousando pedir misericórdias; se a humildade for boa, esse sofrimento trará consigo uma suavidade e uma alegria de que não gostaríamos de nos ver privadas”23. A verdadeira humildade não provoca a “angús a, mas amplia o coração, tornando a alma capaz de servir mais a Deus”24. Santa Teresa diz: “Por isso digo, filhas: ponhamos os olhos em Cristo,
22. Maria-Eugênio do Menino Jesus, OCD. Quero ver a Deus, p. 88-89 23. Maria-Eugênio do Menino Jesus, OCD. Quero ver a Deus, p. 91 24. CP, 39,2
nosso bem, e com Ele, bem como com seus santos, aprenderemos a verdadeira humildade. Isso nos enobrecerá o intelecto, como eu disse, e evitará que o nosso conhecimento próprio se torne rasteiro e covarde”25. São João da Cruz compara o conhecimento de Deus e de si com a escada de Jacó: ora exercita em um, ora noutro; esse processo exercita a humildade, conhecendo as suas misérias e experimentando a secreta contemplação, até a união com D e u s 2 6 . F i r m í n a l e r t a q u e “o s elementos caracterís cos na doutrina teresiana, como o amor ao próximo, o desapego e a humildade, só são possíveis a par r do conhecimento de si”27. Edith Stein diz que “A alma deve primeiro chegar à possessão de sua essência, e sua vida é o caminho que a conduz até ali. (...) é necessário que alma possa ter um conhecimento sobre si mesma e que possa tomar posição frente a frente de si mesma. A alma deve chegar até si mesma em dois sen dos: conhecer-se ela mesma e chegar a ser o que ela deve ser”28. Esse movimento da pessoa na busca de si mesma, do sen do da sua existência, para Gilberto Safra, é tentar responder à pergunta que se deve fazer: na hora da minha morte, olhando para minha vida – deveríamos nos perguntar – como eu deveria ter vivido minha vida? Referências: ÁVILA, Teresa de. Obras Completas. 3ª ed. São Paulo: Loyola, 1995. Cons tuições da Ordem dos Carmelitas Descalços. MENINO JESUS, Maria-Eugênio do. Quero ver a Deus. Trad.: Carmelo do Imaculado Coração de Maria e Santa Teresinha, Co a. São Paulo/Rio de Janeiro: Vozes, 2015. SANCHO FIRMÍN, J. F. 100 Fichas sobre Edith Stein: Para aprender e ensinar. Lisboa: Ed. Carmelo Convento de Avesssadas. SANCHO FIRMÍN, J. F. El conocimiento de sí em la meditación teresiana. In: La meditación teresiana. Avila: CITeS, 2002. Trad.: Wilson Gomes, OCD. SAFRA, Gilberto. Santa Teresa e as tarefas clínicas. DVD. São Paulo: Sobornost, 2005. 25. Maria-Eugênio do Menino Jesus, OCD. Quero ver a Deus, p. 90 26. Noite Escura II – cap. XVIII, 4, p. 548-549 27. Sancho Firmín. O conhecimento de si na meditação teresiana, p. 4 28. Ibid, p. 4
MONTE CARMELO
35
Notícias Notícias Gerais Carmelitas com novas propostas orantes no mundo digital A Província de Portugal reuniu esforços nas suas três expressões carismá cas, irmãs, frades e seculares, a fim de apresentar novas propostas de oração e espiritualidade no mundo digital. Aspirando cumprir a nossa missão nos tempos que nos tocam viver, a par r do passado dia 19 de Março, Solenidade de S. José, passamos a transmi r diariamente a oração litúrgica de Laudes e Vésperas. Esta transmissão é realizada em diversas plataformas digitais, todas disponíveis através do site www.carmelitas.pt: uma webrádio, denominada «Monte Carmelo», radio.carmelitas.pt; uma secção mul média, mul media.carmelitas.pt; e redes sociais, concretamente em Facebook da Ordem dos Carmelitas Descalços. A oração de Laudes é transmi da, em diferido, às 8h30 da manhã e a oração de Vésperas, em direto, às 18h15. Numa primeira fase, emi mos a par r do Carmelo de S. José, em Fá ma, mas futuramente oferecemos estas orações a par r de outros Carmelos de Portugal. Também planeamos fazer algumas transmissões em direto, sobretudo nas grandes festas do calendário litúrgico da Ordem dos Carmelitas Descalços. Com este passo, o Carmelo Teresiano enriquece a sua oferta orante no mundo digital. Já disponibilizamos há três anos o «Orar com os Mís cos», um recurso orante que enviamos diariamente a todos os que se inscrevem na newsle er acima referida. Estas orações diárias também serão disponibilizadas, em versão áudio, na webrádio «Monte Carmelo» que, além de privilegiar a música com mensagem da espiritualidade carmelita e música litúrgica, oferece também momentos orantes (como o Terço, o Ângelus, Via Sacra, Completas…), temas de formação de espiritualidade cristã e carmelita, o Evangelho diário, no cias da vida das comunidades e das inicia vas da família carmelita, momentos para os mais pequenos (orações infan s, histórias infan s da vida dos nossos santos…) e outros conteúdos que vamos criando a par r das comunidades de padres, de irmãs e dos leigos carmelitas. Outras inicia vas digitais que pretendem oferecer à Igreja o cul vo da vida espiritual são o Bole m de Espiritualidade (cuja inscrição gratuita se pode fazer em espiritualidade.carmelitas.pt), onde reunimos várias propostas rela vas à vida espiritual. Na secção Mul média disponibilizamos também diversos vídeos de formação das inicia vas que realizamos na nossa Província. Futuramente, aproveitando as novas tecnologias, pensamos criar novas formas de levar o Evangelho, vivido segundo a espiritualidade do Carmelo, ao maior número possível de pessoas, com o desejo de sermos fiéis à missão no mundo de hoje. Os meios humanos e técnicos que dispomos são escassos mas pretendemos ir mais longe com a vossa ajuda e a generosidade de todos.
Inundações no Peru Nossos irmãos e irmãs no Peru sofreram as consequências das inundações que a ngiram o país, mas não de modo trágico, como nos comunica Frei Alfredo Ames , ocd – superior do Comissariado. As regiões mais afetadas são as do norte do país, onde se encontram o convento de Trujillo e os mosteiros de Trujillo e Piura, que sofreram pequenas inundações e infiltrações de água. Na zona sul do país, o mosteiro de San Vicente de Cañete foi, por graça de Deus, preservado de uma avalanche de lama e pedras (huaico em quéchua, a língua indígena), que passou perto do edi cio. As comunidades de Lima sofreram somente cortes de água e eletricidade. O Padre Comissário agradece a todos que estão orando para que a situação melhore e àqueles que estão se mobilizando para ajudar os mais afetados.
36
MONTE CARMELO
O santuário de São José, dos carmelitas de Poznan, elevado a Basílica Menor A igreja conventual dos carmelitas descalços de Poznan (Polônia) foi proclamada Basílica Menor no úl mo dia 19 de março, em solene cerimônia presidida pelo arcebispo Gadecki, acompanhado por diversos membros do clero secular e vários religiosos e religiosas. Também as autoridades civis quiseram unir-se a um numeroso grupo de fiéis da cidade. O Padre Provincial – Jan Piotr Malicki – também esteve presente à cerimônia, acompanhado de um bom grupo de religiosos carmelitas. Compar lhamos a alegria de nossos irmãos da Província de Varsóvia e desejamos que a nova Basílica converta-se em foco de evangelização e irradiação da devoção a São José.
Carmelitas Descalças em Tânger (Marrocos) Com a ajuda de Deus, a presença do Carmelo Teresiano no Marrocos, visível na comunidade de carmelitas descalças de Tânger, con nua sua caminhada nas terras do Islã. Ao longo do ano de 2016, marcado pelo Jubileu da Misericórdia, acolheram diversas a vidades promovidas por sua Arquidiocese, pois a comunidade cons tui um ponto de referência para todos os cristãos que peregrinam em Tânger. Vários religiosos carmelitas, a começar pelo provincial – Frei Miguel Márquez, ocd, Ordinário da comunidade – acompanharam nossas irmãs, ministrando-lhes cursos de formação ou re ros, e elas puderam também estar presentes em encontros federais ou promovidos pelo Centro da Ordem. Além de sua vinculação à Federação das Carmelitas Descalças de Andaluzia, as monjas de Tânger cul vam sua relação com as carmelitas da Terra Santa e, aproveitando sua presença em Roma, convocadas pelo Papa Francisco, as Irmãs Maria Inês – coordenadora da Associação da Terra Santa e priora do Carmelo de Jerusalém – e Maria – priora do Carmelo de Haifa – puderam visitar a comunidade de Tânger em princípios de fevereiro. Nossas Irmãs con nuam com grande empenho sua formação nas línguas do país, já que o espanhol é cada vez menos corrente entre os cidadãos de Tânger. Por isso, receberam diversas ajudas para melhorar seus conhecimentos de francês e árabe. Irmã Júlia, da comunidade de Pescara, encerrou seu período de estadia em Tânger. A par r de 10 de outubro, Irmã Anastasia – procedente do Carmelo de Osiny (Polônia) – faz parte da comunidade monás ca marroquina. Também nesse ano a Irmã Maria Ana, do Carmelo de Campinas (Brasil), incorporou-se à comunidade. A presença da família teresiana no Marrocos vê-se assim enriquecida graças à generosidade dessas Irmãs e de suas comunidades. Por fim, recolhemos aqui as palavras de nossas Irmãs em Tânger: "Damos graças por tudo que recebemos de nossos benfeitores, graças aos quais pudemos arcar com obras de reestruturação, algumas muito urgentes, em casa. Graças a eles, também pudemos arrumar uma nova capelinha interna, que foi abençoada no dia 22 de dezembro por nosso arcebispo e chamada por ele mesmo de Tenda do encontro. 'Crer que um Ser chamado Amor habita em nós a todo instante do dia e da noite e que nos pede viver em sociedade com Ele, eis o que fez de minha vida um Céu antecipado' (Santa Elisabeth da Trindade). Que esse encontro perene com Jesus, que vive em nós, nos ajude a ser sempre lugar de comunhão e de encontro".
MONTE CARMELO
37
Notícias das Comunidades/Grupos OCDS COMUNIDADES COMPARTILHAM SUAS ATIVIDADES ATRAVÉS DOS GRUPOS DE WHATSAPP
38
Grp. Sta Elisabeth da Trindade - Cel Fabriciano/MG Frei Gregório falou sobre Elisabeth da Trindade
Com. Maria, Mãe e Rainha do Carmelo Jabaquara/SP - Meditação da Via-Sacra
Com. Sta Teresa e Sta Myriam - Franca/SP Reflexão sobre o Auto Conhecimento
Com. Santa Teresa de Jesus – Campinho/RJ Domingo de Ramos no Carmelo São José.
10 anos de fundação da Com. Sta Teresinha do Menino Jesus e da Sta Face - Camaragibe
Grupo Virgem de Nazaré - Vitória-ES Começou a se reunir no Convento de Cariacica
MONTE CARMELO
Com. Flor do Carmelo de Sta Teresinha - Fortaleza /CE Meditação da Via-Sacra em Santa Teresa de Jesus
Comunidade São José - Sete Lagoas/MG Reunião com o Tema: "Salmos" - Rejane
Com. Sta Teresinha do Menino Jesus - Cara nga/MG Primeiro re ro anual da comunidade.
Com. São José de Santa Teresa - Fortaleza/CE Reunião de formação: "Liturgia das horas"
Com. Sta Teresinha Menino Jesus, Doutora - Jundiaí/SP Santa Missa presidida por Frei Pierino
Grupo São José - Petrópolis/RJ Reunião de formação: "Salmos" - Luciane.
MONTE CARMELO
39
40
Grupo Santa Teresa de Jesus - Tagua nga/DF Santa Missa presidida por Frei Claudiano Admissão de alguns membros a OCDS
Grupo São José - Petrópolis/RJ Reunião de oração, par lha e um Jogral ao "Glorioso São José".
Grupo São João da Cruz - Ibiapina/CE Reunião e formação.
Com. São José de Santa Teresa - Fortaleza/CE Livro da Vida, por Lairte Castro, especialista.
Comunidade São José - Sete Lagoas/MG Almoço beneficente aos irmãos que vivem nas ruas.
Com. Santa Edith Stein - Divinópolis/MG Presença do Reverendíssimo Frei Cléber, OCD
MONTE CARMELO
Com. N.S do Carmo e Santa Teresa de Jesus Higienópolis/São Paulo
Comunidade São José - Sete Lagoas/MG Visita do Presidente Provincial e Delegado Provincial
Com. Sta Teresa e Sta Myriam J.C. - Franca/SP Formação: "Perseverança na oração em Sta Teresa"
Grupo Nossa Senhora do Sorriso - Natal/RN Reunião de formação.
Visita do Senhor Arcebispo Dom Airton José as Comunidades de Campina e Paulínia - SP
Grupo Madre Tereza Margarida-Campo Belo/MG Re ro quaresmal.
MONTE CARMELO
41
42
Com. Flor do Carmelo de Sta Teresinha - Fortaleza/CE Formação sobre Quaresma
Com. Sta Teresa e Sta Myriam J. C. - Franca/SP. Reunião com tema " Santa Teresa de Jesus".
Com Sta Teresinha do Menino Jesus - Cara nga /MG Meditou a Via Crucis em Santa Teresinha
Carmelo Sta Teresinha e OCDS de Fortaleza promoveram o Curso de Espiritualidade Sta Teresinha
Comunidade São José - Sete Lagoas/MG Preparo de alimentos para os irmãos de rua
Com. N.S. do Carmo e Sta Teresa - Higienópolis /SP Santa Missa presidida pelo Frei João Bontem
MONTE CARMELO
Com.Maria, Mãe e Rainha do Carmelo – Jabaquara/SP Re ro preparatório para Prom. Temporárias e Admição
Comunidade Santa Teresina - Sete Lagoas/MG Admissão de alguns membros por Frei Cléber
Comunidade santa Teresa de Jesus - Campinho/RJ Santa Missa no Carmelo e logo após teve formação
Comunidade São João da Cruz Belo Horizonte/MG
Comunidade de Campinas/SP e Paulinia/SP Renovação das Promessas na Vigilia Pascal
Grupo São José - Petrópolis/RJ Formação na casa de uma integrante enferma
MONTE CARMELO
43
COMUNIDADES COMPARTILHAM SUAS ATIVIDADES ATRAVÉS DOS GRUPOS DE WHATSAPP Os membros da OCDS que desejarem entrar nos grupos de WhatsApp, podem enviar suas solicitações para Luciano Dídimo: (85) 988955966. Grupos de WhatsApp da OCDS da Província São José: · CARMELO JOVEM
· OCDS PROVÍNCIA SÃO JOSÉ
· CASAIS OCDS
NOSSOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO, confira... (h p://www.ocdsprovsaojose.com.br/) h p://ocdsprovinciasaojose.blogspot.com.br/
h ps://www.facebook.com/pages/Ordem-Dos-CarmelitasDescal%C3%A7os-Seculares/132884536754686?ref=hl
COMISSÃO DE INTERCESSÃO Dir-se-ia que na oração és como uma rainha que tem livre acesso ao Rei e que dele podes alcançar tudo o que pedires!" (Santa Teresinha) A Comissão tem a finalidade de interceder e promover a intercessão junto às Comunidades e Grupos por todos os nossos eventos, pelos nossos membros mais necessitados, pelas nossas autoridades, pela Ordem. O e-mail para o envio dos pedidos de oração é: intercessaoocds@gmail.com.
AGENDA OCDS 2017 15 a 18/06/2017 - XIII CONGRESSO DA OCDS NORTE/NORDESTE Casa Cordimariana de Encontros e Re ros Ir. Ma. do Amparo - Fortaleza-CE Informações: h p://congressonortenord.wixsite.com/nortenordeste2017 E-mail: congressonortenordesteocds2017@gmail.com 13 a 16/07/17 - ESCOLA DE FORMAÇÃO EDITH STEIN – MÓDULO II – DIMENSÃO DOUTRINAL Incluído hospedagem, café da manhã, almoço, jantar, material didá co. Informações: escoladeformacaoocds@gmail.com Seminário São José - Av. Alberto Craveiro, 2300 - Castelão - Fortaleza-CE 20 a 23/07/17 - ESCOLA DE FORMAÇÃO EDITH STEIN – MÓDULO III – DIMENSÃO CARMELITANA Incluído hospedagem, café da manhã, almoço, jantar, material didá co. Informações: escoladeformacaoocds@gmail.com Centro Teresiano de Espiritualidade - Rodovia Raposo Tavares 18131 - São Roque - SP 21 a 23/07/17 - II CONGRESSO DE CASAIS DA OCDS Informações: comissaodecasaisocds@gmail.com Centro Teresiano de Espiritualidade - Rod. Raposo Tavares 18131 - São Roque - SP 28 a 30/07/17 - II CONGRESSO DA JUVENTUDE DO CARMELO DESCALÇO Informações: carmelojovemprovinciasaojose@gmail.com Centro Teresiano de Espiritualidade - Rod. Raposo Tavares 18131 - São Roque - SP 02 a 05/11/2017 - XXXIII CONGRESSO PROVINCIAL DA OCDS Informações: Carmelita - carmelita_ocds@yahoo.com.br Centro Teresiano de Espiritualidade - Rodovia Raposo Tavares 18131 - São Roque - SP
44
MONTE CARMELO
MONTE CARMELO
45
46
MONTE CARMELO
Marketing
Nova edição revista e atualizada do livro de
1º livro de Formação OCDS
DOCUMENTOS DA OCDS
PREPARAÇÃO PARA ADMISSÃO
R$ 20,00
R$ 30,00
(a unidade)
(a unidade)
2º livro de Formação OCDS
3º livro de Formação OCDS
PROMESSAS TEMPORÁRIAS - 1º ano
PROMESSAS TEMPORÁRIAS - 2º ano
R$ 30,00
R$ 30,00
(a unidade)
(a unidade)
PROMOÇÃO Documentos OCDS
Formação OCDS I, II e III
05 unidades: R$ 75,00 (15,00 cada)
05 unidades: R$ 125,00 (25,00 cada)
10 unidades: R$ 120,00 (12,00 cada)
10 unidades: R$ 220,00 (22,00 cada)
Pedidos: livrosocds@gmail.com. Valor + Frete (Correios)
MONTE CARMELO
47
Elevação à Santíssima Trindade Ó meu Deus, Trindade que eu adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente para me xar em Vós, imóvel a pacica como se a minha alma estivesse já na eternidade. Que nada possa perturbar a minha paz, nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me faça penetrar mais na profundidade do vosso Mistério. Pacicai a minha alma, fazei nela o vosso céu, a vossa morada querida e o lugar do vosso repouso. Que eu nunca Vos deixe só, mas que aí permaneça com todo o meu ser, bem desperta na minha fé, toda em adoração, toda entregue à vossa Ação criadora. Ó meu Cristo amado, crucicado por amor, quereria ser uma esposa para o vosso Coração, quereria cobrir-Vos de glória, quereria amar-Vos… até morrer de amor! Mas sinto a minha impotência a peço-Vos para me “revestir de Vós mesmos”, para identicar a minha alma com todos os movimentos da Vossa alma, para me submergir, invadindome, a substituindo-Vos a mim, para que a minha vida não seja senão uma irradiação da vossa Vida. Vinde a mim como Adorador, como Reparador, a como Salvador. Ó Verbo eterno, Palavra do meu Deus, quero passar a minha vida a escutar-Vos, quero tornar-me inteiramente dócil, para tudo aprender de Vós. Depois, através de todas as noites, de todos os vazios, de todas as impotências, quero xar-Vos sempre a permanecer sob a vossa grande luz; ó meu Astro amado, fascinai-me para que eu não possa jamais sair da vossa irradiação. Ó Fogo consumador, Espírito de amor, “descei sobre mim”, para que na minha alma se faça como que uma encarnação do Verbo: que eu seja para Ele uma humanidade de acréscimo na qual Ele renove todo o seu Mistério. E Vós, ó Pai, debruçai-vos sobre a vossa pequena criatura, “cobri-a com a vossa sombra”, não vendo nela senão o “Bem-Amado no qual pusestes todas as vossas complacências”. Ó meus Três, meu Tudo, minha Beatitude, Solidão innita, Imensidade onde me perco, entrego-me a Vós como uma presa. Sepultai-Vos em mim para que eu me sepulte em Vós, enquanto espero ir contemplar na vossa luz o abismo das