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Parte III

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Parte II

Parte II

A casa era simples e aconchegante, não sei se devido à arquitetura, aos moradores, aos vizinhos ou pelo fato de que éramos crianças. Dois pisos de madeira, com um pequeno porão. Tinha um páteo interno dividido em três: uma área cimentada; um terço ocupado com flores e ervas, ao lado da edícula; e separado por uma singela cerquinha de madeira, com um portão que abria para um bosque de frutíferas com quatro árvores: laranjeira, bergamoteira, macieira e um pé de nêspera, desde sempre chamado de ameixeira. Ali o piso era de terra, enquanto o caminho do jardim era pavimentado com pequenas pedras de seixo rolado, o que era meio estranho para Sebastião. Explicável: estes espaços tinham sido projetados e executados pelo antigo proprietário. Com o tempo, e não foi muito tempo, ela com seu espírito modernizador, aliados as necessidades de espaço para os filhos, alterou esse edílico recanto.

— Precisamos de uma churrasqueira e um varal para pendurar roupa, decretou.

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E assim foram abaixo a cerca e duas frutíferas. As outras resistiram um tempo, e finalmente restou apenas a ameixeira. Uma parte do bosque foi coberta e equipada com mesa, bancos e churrasqueira. Tempos depois uma parreira, raquítica, de uva Isabel, surgiu junto ao muro uma troca justa na opinião de Sebastião.

A casa tinha um fogão à lenha que esquentava todo o térreo nos dias frios do inverno, e no piso de cima, no banheiro, um aquecedor a lenha, com uma serpentina, providenciava quentíssimos banhos de banheira e aquecia os três quartos. Na cozinha, uma mesa de abrir e fechar, para oito lugares, era onde se comia no dia a dia.

— Sai daí, é o meu lugar. Ô mãe…

— Quem foi ao ar, perdeu o lugar.

O grande quarto da frente tinha duas janelas, o do meio uma grande janela de quatro folhas, e o dos fundos uma janela pequena, de duas folhas. Os pais dormiam no da frente; as duas meninas no quarto do meio; e os rapazes, em dois beliches, nos fundos. A bagunça era grande, ele lembra de fazer tiro ao alvo na janela dos fundos da casa oposta da rua detrás, com uma espingarda de chumbinho, que não sei como existia em nossas mãos.

Mas havia disciplina na hora das lições de casa.

Nao demorou para a modernização derrubar este o primeiro fogão a gás, ela aposentou o de lenha, onde costumávamos fazer bifes na chapa, apreciando os chiados da carne sendo apertada sobre o metal. Ela também se livrou do aquecedor e da banheira, no andar de cima, trocandoo conjunto por um box de alumínio e plástico com chuveiro elétrico. E completou a reforma revestindo as paredes com modernos azulejos. Aquilo era típico, mas na época Sebastião não percebia nem se irritava com a frase preferida dela:

É mais prático.

A sala de estar tinha móveis de linhas simples, quase modernistas, com uma mesa estendível para os dias de almoços ou jantares festivos e uma sala formal com duas poltronas, um sofá e um piano de parede. A escada de madeira bem desenhada, em curva, tinha os degraus forrados com uma passadeira que abafava os ruídos de quem chegava tarde e não queria ser percebido e, além disso, o vão embaixo dela era um bom lugar para brincadeiras e esconderijos. Mas geralmente virava depósito de coisas sem lugar definido…

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