Revista Digital Olho Latino - nº15

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Revista Digital Olho Latino nº 15

A obra da capa é a pintura Explosão de Celina Carvalho. Faz parte da mostra “Sintonia dos Opostos” da artista com Paulo Cheida Sans no Espaço de Arte da Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural da Universidade Estadual de Campinas, aqui analisada no ensaio de Luciene Sans. O texto inicial é sobre o Espaço de Arte e Cultura Lugar Pantemporâneo em São Paulo, que vem realizando atividades e mostras compondo uma programação significativa. Tornou-se um novo ponto de encontro entre artistas, intelectuais e apreciadores da arte e da leitura. A mostra “A Forma Oculta” do artista Antonio Peticov, no Espaço Cultural Citi, em São Paulo, é foco de atenção no texto crítico de Jacob Klintowitz. Para o crítico, Peticov “é um artista multifacetado e os seus interesses estéticos e humanos são marcantes, pois obedecem a uma linha cultural contínua”.

Revista Digital Olho Latino nº 15 - maio de 2010 ISSN 1980-4229 Edições Anteriores: www.olholatino.com.br Editor Paulo de Tarso Cheida Sans

A primeira mostra individual “Possibilidades da Linha” de Eni Ilis é apresentada por Régis de Morais que diz: “Tudo é a mesma magia que tece fios de risos e súplicas, a mesma que escreve poema sobre massas coloridas”.

Jornalista responsável: Luciene Sans Conselho Editorial: Alex Roch Celina Carvalho Euclides Sandoval Luciene Sans Tiago Carvalho Sans

A leitura indicada é o livro “Ser artista, ser professor: razões e paixões do ofício” de Célia Maria de Castro Almeida, publicado pela Editora Unesp. A autora reflete sobre as convicções e os mitos que envolvem o ensino de arte e, sobretudo, dá voz aos artistas-professores ao indagar o que eles pensam sobre sua prática e como se relacionam com as instituições de ensino.

Arte e diagramação: Luciene Sans Capa de maio de 2010: Celina Carvalho – Explosão – pintura mista sobre tela Os artigos e reportagens assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista, sendo de responsabilidade exclusiva de seus autores. Não pode ser reproduzida sem autorização do editor.

Desejamos aos leitores uma boa leitura e que nos envie suas opiniões para que, cada vez mais, a nossa Revista seja aprimorada e apreciada.

Revista Digital Olho Latino é uma publicação do Museu de Arte Contemporânea Olho Latino. Alameda Prof. Lucas Nogueira Garcêz, 511 Parque das Águas - Estância de Atibaia, SP. CEP: 12941-650 www.olholatino.com.br Contato: museu@olholatino.com.br

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Paulo Cheida Sans

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EXPOSIÇÃO

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Lugar Pantemporâneo, local multicultural Paulo Cheida Sans

ARTISTA

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Antonio Peticov e a forma oculta Jacob Klintowitz

ENSAIO

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A “Sincronia dos Opostos” de Celina Carvalho e Paulo Cheida Sans Luciene Sans

APRESENTAÇÃO

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Eni Ilis Rivelino Possibilidades da Linha Regis de Morais

LEITURA

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Ser artista, ser professor: razões e paixões do ofício, de Célia Almeida 1234 Paulo Cheida Sans

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EXPOSIÇÃO

Lugar Pantemporâneo, local multicultural

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Paulo Cheida Sans

Lugar Pantemporâneo - São Paulo, SP.

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Espaço de Arte e Cultura Lugar Pantemporâneo, nos Jardins, em São Paulo, aberto em meados do ano passado, já tem delineado seu perfil de atuação em pró das artes visuais, da literatura e de outras manifestações artísticas. A arquitetura do prédio é moderna, ocupa uma área de 1500m², distribuídos em quatro andares com pé direito de aproximadamente 15 metros e uma clarabóia que deixa a luz natural penetrar nos corredores e nos ambientes, composto por três salas de exposições, uma livraria e local para cursos e palestras. O projeto arquitetônico é assinado por Antonio Dias Neto. 4

O Lugar Pantemporâneo conta com a sensibilidade empresarial e cultural de Valdir Rocha e é um belíssimo local para receber visitas dos apreciadores da arte e da leitura. Já registra um perfil de atuação e pode ser considerado um promissor destaque nacional das Artes. Lugar Pantemporâneo foi concebido como um espaço cultural catalisador de imagens, livros e idéias como uma proposta de atuação viva, duradoura. A significação do nome Pantemporâneo pode ser entendida como um neologismo. Formado pelo prefixo grego pan ou pantós, que significa “todo”, e pelo adjetivo latino temporaneu, que indica o nº15


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Vista parcial do Lugar Pantemporâneo.

ocorrido num determinado tempo, Pantemporâneo é muito mais que contemporâneo. É a junção do antes, do agora e do depois. Vive o presente, sem esquecer o passado, e espera contribuir para o futuro como algo que perdura ou mostra características independente do momento em que foi criado. Pantemporâneo tem selo próprio e livros publicados, como o “Jornalismo Cultural Apontamentos, Resenhas e Críticas sobre Artes” e “Wega Nery”, ambos de autoria do crítico Jorge Anthonio.

Vários escritores e artistas participaram de encontros com o público. Entre outros, falaram Glauco Mattoso, Miriam Carvalho, Celso de Alencar, Guto Lacaz, Gregório Gruber, Caciporé Torres e Vlavianos. Em suas salas já foram realizadas as seguintes exposições: “Fotografias” de André Carneiro, “Esculturas” de Valdir Rocha e “Pinturas” de Wega Nery. A exposição “Baravelli: 16 partes” apresentou 42 obras do artista realizadas de 1976 a 2009. nº15

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Celina Carvalho

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Fernando Durão.

Kenichi Kaneko.

Carelli; Antonio Henrique Amaral; Antonio Peticov;Aprigio Fonseca; Baravelli; Barbara Schubert Spanoudis; Caciporé Torres; Cássio Lázaro; César Romero; Chris Trucco; Christina Parisi; Cildo Oliveira; Dalmau; Diana Marth; Duda Rosa; Eduardo Iglesias; Eva Reiter; Evandro Carlos Jardim; Fernando Durão; Francisco Baratti; Gastão de Magalhães; Gracita Garcia Bueno; Gregório Gruber; Guilherme de Faria; Ida Zami; Inácio Rodrigues; Inês Benou; Kamori; Kenichi Kaneko; Lily Simon; Lorena Hollander; Lucio Tamino Gruber; Luis Bayón; Luis Castañón; Marcos Rizolli; Maria dos Anjos; Marilzes Petroni; Mário Gruber; Marysia Portinari; Meiri Levin; Nelson Screnci; Neno

Três mostras ocupam a programação no momento: “Indivíduos, Juntamente Sós” com 30 desenhos e pinturas de Valdir Rocha; “Fotografias Urbanas” de Maurício Simonetti; e “Autorretratos e Autorretratos” - Como sou, como fui, como seria, como queria ser, como me vêem ou deveriam me ver - que mostra obras de 70 destacados artistas e conta com o apoio da APAP - Associação Profissional dos Artistas Profissionais de São Paulo, cujo presidente é o artista plástico Fernando Durão. Participam desta última os seguintes artistas: Agi Straus; Alberto Teixeira; Alcindo Moreira Filho; Alice Brill; Álvaro Alves de Faria; Ana Alice Francisquetti; Anapana; Angelo Milani; Antonio 6

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Paulo Cheida Sans.

Silvio Dworecki.

Ramos; Nicolai Dragos; Nino Millán; Norberto Stori; Paulino Lazur; Paulo Acencio; Paulo Cheida Sans; Rodolpho Tamanini Netto; Ronaldo Gifalli; Rubens Ianelli; Sara Goldman-Belz; Sergio Lucena; Silvio Dworecki; Sonia Von Brusky; Taro Kaneko; Teresinha Ehmke; Tomoshige Kusuno; Valdir Rocha;

Valdir Rocha.

Vera Salamanca; Walter Miranda e Walter Tommasi. O Lugar Pantemporâneo merece entrar para o roteiro cultural dos apreciadores da arte e da leitura. Está situado na Av. Nove de Julho, 3.653 Jardim Paulista - São Paulo-SP. * * *

Mostras: “Indivíduos, Juntamente Sós” - desenhos e pinturas de Valdir Rocha; “Fotografias Urbanas” de Maurício Simonetti; e “Autorretratos e Autorretratos” com obras de 70 artistas. Data: 18 de maio a 05 de junho de 2010 Visitação: de segunda a sábado, das 10h às 18h. Entrada franca. Local: Lugar Pantemporâneo Endereço: Av. Nove de Julho 3.653 – Jardim Paulista – São Paulo, SP Telefone: (11) 3018-2230 Observação: O local possui estacionamento e acesso para pessoas portadoras de necessidades especiais

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ARTISTA

Antonio Peticov e a forma oculta

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Jacob Klintowitz

Galáxia - acrílica sobre tela - 2003.

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ntonio Peticov é o artista da invenção e da descoberta de um universo oculto feito de beleza, harmonia e magia. É um artista multifacetado e os seus interesses estéticos e humanos são marcantes, pois obedecem a uma linha cultural contínua. E não há qualquer diferença entre os interesses do artista Peticov e do homem Peticov, o que é mais raro do que se pensa. Esta unidade confere forte 8

autenticidade ao seu percurso pessoal feito unicamente de reflexão. As anotações visuais de Peticov tratam das relações com a terra, árvores, paisagens e frutos; o registro do ser humano; as formas simbólicas; a criação de sistemas lúdicos bidimensionais ou tridimensionais, que tenham significados subjacentes e ofereçam leituras em vários níveis. E todas estas construções do espírito são nº15


objeto de constante experimentação, cotejos, remontagens, comparações, apropriações e, finalmente, de discussão e procura da herança grega, a proporção áurea, vínculos com a história da arte e as regras de construção da forma. Entretanto, nesta atividade esférica feita de brilhos e destaques, em nenhum momento Antonio Peticov demonstrou ter perdido a sua fidelidade ao humanismo ou pensou em soluções que não sejam plásticas e visuais. E não perdeu de vista o público e o público também não deixou de se comunicar com este artista tão singular. Neste caminho, o processo de Antonio Peticov tem sido o da

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maturação lenta, o da transformação permanente e, para fazer relação com uma disciplina arcaica, o da decantação da matéria. Neste artista a dedicação ao sentimento e a procura de imagens essenciais não o afasta do público. Desconfio que é justamente nessa veracidade e no exercício permanente da emoção que as pessoas encontram a sua empatia com a arte de Peticov. Se aplicarmos à sua trajetória o mesmo olhar retrospectivo que ele parece, neste momento, dirigir a si mesmo, encontraremos uma produção de diversificada visualidade. Mas são as ilusões da aparência, pois tudo está integrado por uma única emoção, o prazer de vir a conhecer.

Mosaicos - acrílica sobre tela - 2009.

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divulgação

Da Janela - acrílica sobre tela - 2008.

Sobre a exposição de Antonio Peticov fonte: assessoria de imprensa do CITI

O Espaço Cultural Citi, a galeria de arte da Avenida Paulista, apresenta a partir de 24 de maio, a exposição inédita Antonio Peticov – A Forma Oculta, com 22 trabalhos de tinta acrílica sobre tela que cobrem um período de 1988 à 2009, com absoluto predomínio de obras realizadas a partir de 2006. A exposição permanecerá até 16 de julho. 10

Nascido em Assis, interior de São Paulo, em 1946, Peticov é autodidata que desde o início da adolescência optou pelas artes plásticas. Estudante de história da arte, começa a expor na primeira metade da década de 1960. A partir de 1970, muda-se para Londres, dali para Milão e, em 1986, para Nova York, retornando ao Brasil apenas em 1999. nº15


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O curador da exposição, o crítico Jacob Klintowitz, diz: “Antonio Peticov é o artista da invenção e da descoberta de um universo oculto feito de beleza, harmonia e magia. É um artista multifacetado e os seus interesses estéticos e humanos são marcantes, pois obedecem a uma linha cultural contínua. E não há qualquer diferença entre os interesses do artista Peticov e do homem Peticov, o que é mais raro do que se pensa. Esta unidade confere forte autenticidade ao seu percurso pessoal feito unicamente de reflexão.” Importante crítico de arte, o poeta Ferreira Gullar observa: “A sensação que me fica, ao refletir sobre a personalidade de Antonio Peticov e sua obra tão diversa e instigante, é a de que estou diante de um artista em pleno domínio de sua técnica, maduro e que, no entanto, mantém vivo dentro de si um menino ainda encantado com as formas e as cores do mundo.” O Espaço Cultural Citi é uma galeria pública visitada mensalmente por cerca de 50 mil pessoas que trafegam entre a Avenida Paulista e a Alameda Santos. O espaço mantém a sua vocação de mostrar obras de arte no centro vital de São Paulo.

Bicicleta - acrílica sobre tela - 2006.

Desde 2005, passaram por ali as obras de nomes consagrados, como Rubens Gerchman, Luiz Paulo Baravelli, Gregório Gruber, Romero Britto, Newton Mesquita, Odetto Guersoni, Ivald Granato, Takashi Fukushima, Caciporé Torres, Sérgio Lucena e a ceramista Shoko Suzuki, além de jovens que se firmam como Luciana Maas, Maurício Parra, Carola Trimano e Manu Maltez. O Espaço Cultural Citi (Av. Paulista, 1111, térreo, fone 11.4009.3000) fica aberto para visitação de segunda a sexta-feira, das 9 às 19 horas; aos sábados, domingos e feriados, das 10 às 17 horas. Acesso a pessoas com deficiência física pela Alameda Santos, 1146. A entrada é gratuita. nº15

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The Betrayal II - acrílica sobre tela - 2007.

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Antonio Peticov.

Sobre o artista: Antonio Peticov (Assis SP 1946). Com produção diversificada, Peticov trabalha com pintura, desenho, gravura, escultura e ilustração. Faz instalações como Balli Ballet (1982), em Cloudwalk Farm, Connecticut, e The Big Ladder - Scala Cromatica (1983), para a New York Art Expo, nos Estados Unidos. Apresenta, em 1989, o Projeto Natura - Rio Pinheiros na 20ª Bienal de São Paulo, prevendo a plantação de várias espécies de árvores ao longo do rio Pinheiros. Em 1992, cria o Projeto Bosque Natura, para a Conferência da Organização das

Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, no Rio de Janeiro. Realiza, em 1990, o mural Momento Antropofágico com Oswald de Andrade, instalado na estação República do metrô, em homenagem ao centenário do escritor. Em 2003, lança o livro Trabalhos Escolhidos, juntamente com a exposição no MASP. Em suas pinturas trabalha freqüentemente com séries temáticas, utilizando conceitos da física e da matemática, relacionados ao espectro de cores e à luz. fonte: Enciclopédia Cultural Itaú.

Mostra: “Antonio Peticov – A Forma Oculta” – 22 pinturas com tinta acrílica sobre tela – de 1988 a 2009. Curadoria: Jacob Klintowitz. Data: 24 de maio a 16 de julho de 2010. Visitação: de segunda a sexta-feira das 09h às 19h, aos sábados, domingos e feriados, das 10h às 17h. Entrada franca. Local: Espaço Cultural Citi. Endereço: Av. Paulista, 1111 – São Paulo, SP. Telefone: (11) 4009-3000.

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ENSAIO

A “Sincronia dos Opostos” da Celina Carvalho e Paulo Cheida Sans Luciene Sans

constante em seus trabalhos mais casal de artistas Celina recentes. A temática envolve o seu Carvalho e Paulo Cheida universo criativo que tem um Sans expõe a mostra “Sincronia dos universo onírico de gentes e animais. Opostos”, composta por 14 obras Apresentação: entre pinturas, gravuras e técnicas Uma oportunidade como esta de mistas, de 10 de junho a 01 de julho no sincronizar os opostos nem sempre Espaço de Arte da Coordenadoria de é possível. Mas com o casal de Desenvolvimento Cultural (CDC) da artistas, Paulo Cheida Unicamp. A mostra Sans e Celina será inaugurada no dia Para a exposição, o Carvalho, muitas 10 de junho, às 12h30. casal escolheu obras Para a exposição, o recentes que representam sincronias se tornam o modo particular de viáveis. Figuras casal escolheu obras pintar de cada um. delineadas, tons recentes que opacos misturados representam o modo com uma linha de produção satírica particular de pintar de cada um. Celina valoriza detalhes de paisagens que acompanha as gravuras bem humoradas e críticas de Paulo que geralmente passam contrastam com as cores despercebidos pelo olhar. Mas não exuberantes, as figuras difusas e à são paisagens no sentido de força imaginativa que as obras de representação da natureza e sim de Celina causam no expectador, levado uma criação que alude ao tema a uma dimensão de criação e análise numa mirada veloz, permanecendo da obra em seu íntimo. o essencial do foco representado. Enquanto os barbantes prendem, Paulo mostra pinturas mistas que como um emaranhado tão complexo são feitas com impressões de e reflexivo da vida refletida em cada gravuras em sintonia com outros um, a explosão corrompe elos e adereços, como o barbante que tem transpassa as sensações adquiridas sido utilizado de modo mais

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Celina Carvalho - Explosão - pintura mista sobre tela - 2009.

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Celina Carvalho - Encontro universal dos guardiões das sombras, do tempo e do universo - pintura mista sobre tecido - 2010.

ao se contemplar esses opostos que se sintonizam, praticamente se completam, sendo um a causa da existência do outro. Mais que artistas, mais que cônjugues, seres em constante vibração que são tão opostos em suas criações, mas tão sintonizados em seus objetivos. Existe um equilíbrio entre a arte de Paulo e Celina, que, apesar de possuírem estilos tão distintos, sintonizam entre 16

si as obras numa espécie de complementariedade. Os opostos coabitam a mesma vivência. Condição de existência, motivo de definição, complemento da vida, alimento da salvação. Sem amarras, não existe libertação. Sem críticas, não existe a expressão. Se não fosse o escuro, não haveria o claro. Intimamente ligados, sintonizados... Se não fosse a sincronia, não haveria opostos. nº15


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Paulo Cheida Sans - Depositório para um anjo (detalhe) - linogravura sobre madeira - 2009.

Sobre os artistas: Os dois artistas possuem currículos extensos. Foram colegas de classe como alunos do Curso de Educação Artística da PUCCampinas, onde se conheceram em 1976. Estão casados há 28 anos e trabalham direto com Artes Visuais. Fundaram o Museu Olho Latino, especializado em gravura, que funciona em Atibaia, SP, além de coordenarem um grupo de arte com o mesmo nome, com artistas de Campinas e região. Celina expôs em inúmeras mostras pelo país, como em Salvador, Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, além de ter participado de importantes

eventos internacionais, entre os quais se destacam as Bienais de Gravura na Índia, Romênia, Espanha, Inglaterra, Canadá e Panamá. Paulo Cheida é professor do Curso de Artes Visuais da PUC-Campinas, doutor em Artes pela Unicamp e expôs em mais de 400 mostras no país e exterior. Recebeu 41 premiações, sendo 3 no exterior: Portugal, França e Estados Unidos. É autor de livros na área de Artes. Vale conferir a mostra que é uma oportunidade para apreciar obras de um casal de artistas que faz da Arte uma visão de vida. nº15

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Paulo Cheida Sans - Depositório para um anjo III - linogravura sobre madeira - 2009.

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Celina Carvalho - Reflexos luminosos do pensamento - pintura mista sobre tela - 2010.

* * * Exposição: “Sincronia dos opostos”–Celina Carvalho e Paulo Cheida Sans. Pinturas, gravuras e técnicas mistas. Abertura: 9 de junho, às 12h. Data: de 09 de junho a 01 de julho de 2010. Visitação: de segunda a sexta-feira, da 9h às 17h. Entrada franca. Local: Espaço de Arte da Coordenadoria de Desenvolvimento Cultural (CDC) da Unicamp. Endereço: Universidade Estadual de Campinas - Rua Elis Regina 131Cidade Universitária “Zeferino Vaz” – Barão Geraldo – Campinas, SP. Telefone: (19) 3521-1733.

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ACERVO APRESENTAÇÃO ACERVO

Eni Ilis Rivelino Possibilidades da Linha Regis de Morais

Tudo é a mesma magia que tece fios de risos e súplicas, a mesma que escreve poema sobre massas coloridas.

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ni sempre me pareceu uma casa ampla e silenciosa, mas com grande agitação nos seus espaços interiores. O tráfego de ideias, sensibilidades, tipos (reais ou fantásticos), o movimento de formas desafiadoras sempre adivinhei existirem lá no seu íntimo. Hoje confiro, pela generosidade de seus contatos amigos, a substância de minhas adivinhações, toda cheia de figuras dostoievskianas, de emoções que mobilizam risos e lágrimas, bem como trabalhos de arte que vêm brotando de suas mãos, como se estas fossem raízes que sustentam frondes. Ora seus trabalhos amam a superfície, o espaço desenhável em que linhas e riscos tecem emoções, ora certa tridimensionalidade a cativa, originando formas volumétricas. No entanto, em tudo há movimento, seja brincando de 20

infância ou lacrimejando gesticulações humano-arbóricas. Tudo é a mesma magia que tece fios de risos e súplicas, a mesma que escreve poema sobre massas coloridas. Eni, socialmente, é estreante; ela não é nem um pouco iniciante. Conhecemo-nos quando ela era minha aluna há alguns anos, mas em cada aula em que eu tratava do mistério humano, sempre li nas expressões de Eni as auroras, os redemoinhos e os crepúsculos que lhe moviam a interioridade. Pensava eu: se for o caso, um dia a aluna falará comigo. Mas melhor: expondo seus trabalhos tão expressivos ela, surpreendentemente, põe-se a prosear com todas as sensibilidades que a queiram e possam acolher. Que Eni deixe seu silencioso casarão ferver por dentro. Que a artista prossiga. nº15


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Geografia de si - grafite e pastel - 2010.

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Depoimento da artista A minha escrita não é invisível como a do artista que em uma pedra muito fina que sustenta o céu. Não. A minha escrita é outra. A minha escrita tem repetições Pulsações... é linha que vai se puxando e seguindo para o Dentro. Escrevo o dentro das coisas. A luz da raiz onde está? Palavras rijas/ duras/ sujas de intensidade. Nem toda ascese conduz a A escrita é um testemunho. A escrita é um comprometer-se, por isso, hoje poucos escrevam, somente repassem – talvez. A escrita é um tornar-se na superfície das palavras. A minha escrita, ao contrário do artista que tem uma pedra muito fina que sustenta o céu, é legível, mas para quantos? Ler também é comprometer-se. Comunhão. Eni Ilis 22

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O desenho é a metamorfose da escrita, escrita-linha, blocos de linha que se adensam ou se espalham formando figuras, lançando/ embaraçando fios, suspendendo-se em agulhas, bico-de-pena, abrindose em árvores e raízes. Esferográfica, grafite, giz paste, nanquim, colagem são instrumentos para capturar um instante de um acontecimento, um efetuar de algo que pode a qualquer momento irromper. Espelho de movimento que pode ser desencadeado. A sensação de alerta é aguçada, ao mesmo tempo

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Possibilidades da Linha Texto Curador

O risco é o grito da linha 1 - bico de pena - 2010.

em que tudo pode perdurar. Nessa série está-se na iminência de algo, de percursos internos de procuras, nascimentos, rupturas de desconhecidos. Curadoria: João Bosco. * * *

Mostra: “Possibilidades da Linha” - desenhos de Eni Elis Data: 19 de maio a 11 de junho de 2010 Local: Auditório – Nepp / Nepo - Núcleo de Estudos de Políticas Públicas e Núcleo de Estudos de População Endereço: Av. Albert Einstein, 1300 – Unicamp – Campinas, SP Data: 15 a 29 de junho de 2010 Local: Espaço de Arte – Cecom - Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica Endereço: Rua Vital Brasil, 150 – Unicamp – Campinas, SP Data: 1 a 27 de julho Local: Espaço de Arte – CDC - Coordenadoria de desenvolvimento Cultural Endereço: Rua Elis Regina, 131 - Unicamp – Campinas, SP Visitação: de segunda a sábado, das 9h às 17h. Entrada franca.

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LEITURA ARTIGO

Ser artista, ser professor: razões e paixões do ofício, de Célia Almeida Paulo Cheida Sans

A versão desse doutorado, publicada neste ano com o título de “Ser artista, ser professor: razões e paixões do ofício”, pela editora UNESP, mostra um estudo feito há dezoito anos, mas que se mantém atual e pertinente para o entendimento da arte nas escolas e da arte como ofício de professores e artistas. Embora o assunto seja importante, ainda hoje, temos poucas publicações que possam clarear as questões do artistaprofessor e este livro de Célia Almeida vem a colaborar de modo profícuo para o reconhecimento do professor com veia artística na labuta de seu ofício. A publicação conta com o prefácio do prof. Dr. Milton José de Almeida, da Faculdade de Educação da Unicamp. Os professores-artistas entrevistados para compor a trama de análise tecida pela autora foram: Alberto Teixeira, Alcindo Moreira, Álvaro de Bautista, Branca de Oliveira, Iole Di Natale, José Moraes, Lucimar Bello, Luise Weiss,

A autora Célia Maria de Castro Almeida, educadora e pesquisadora, com larga experiência acadêmica, tendo pertencido ao quadro docente da PUC-Campinas (1875-86), da Unicamp (1986-97) e, atualmente, a partir de 1999, é docente no mestrado em Educação e no Curso de Pedagogia da Universidade de Uberaba (MG). Defendeu sua tese de doutorado na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, em 1992, intitulada “O trabalho do artista plástico na instituição de ensino superior; razões e paixões do artista-professor”. 24

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Marco Buti, Marcos Rizolli, Mário Ishicawa, Norberto Stori, Norma Grimberg, Paulo Cheida Sans, Paulo Portella e Percival Tirapeli. Célia Almeida partiu da voz dos artistas-professores para refletir sobre os mitos e convicções que permeiam o ensino da arte. Ao falarem o que pensam sobre a sua prática e sobre como se relacionam com as instituições superiores, embasados em experiências e no papel de educadores, a autora discute a produção e o ensino superior das artes visuais. Partindo de como os artistas-professores vivenciam a prática com seus alunos e seus pares, a autora desmistifica as concepções teóricas sobre o ensino de arte e estabelece uma pluralidade de ações e interações dotadas de sentido. Para a autora, discutir o trabalho do artista-professor no ensino superior colaborou para “entender que a produção e o ensino de arte contêm o determinismo das condições sócio-históricas e a determinação pessoal do artista-professor, derivada de seu compromisso com a verdade” (p. 154). É uma leitura indispensável para os profissionais e estudantes que lidam com a cultura. * * * Livro: Ser artista, ser professor: razões e paixões do ofício Autora: Almeida, Célia Maria de Castro ISBN: 9788571399914 Assunto: Educação Coleção: Arte e Educação Idioma: Português Formato: 14 x 21cm Páginas: 166 Edição: 1ª Ano: 2010 Acabamento: Brochura com orelhas Peso: 210g Preço: R$ 32,00 Informações: http://www.editoraunesp.com.br/ titulo_view.asp?IDT=1138

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Colaboradores desta edição:

Jacob Klintowitz - Jornalista, escritor e crítico de arte. Membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte. É autor de mais de 100 livros sobre Arte e Cultura.

Luciene Sans - Jornalista e assessora de imprensa do Museu Olho Latino e jornalista responsável pela Revista Digital Olho Latino.

Paulo Cheida Sans - Professor do Curso de Artes Visuais da PUCCampinas. Doutor em Artes Visuais pela Unicamp. Curador do Museu Olho Latino.

Regis de Morais - Mestre em Filosofia Social, Doutor em Educação e Livre Docente em Filosofia da Educação.Tem 44 livros publicados nas áreas de Filosofia, Sociologia e Literatura.

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