Revista Digital Olho Latino - nº23

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Revista Digital Olho Latino nº 23 Dos manequins à atmosfera visual

Revista Digital Olho Latino nº 23 - janeiro e fevereiro de 2011 ISSN 1980-4229 Edições Anteriores: www.olholatino.com.br/revista/arquivo/arquivo1.htm Editor Paulo de Tarso Cheida Sans Jornalista responsável: Luciene Sans Conselho Editorial: Alex Roch Celina Carvalho Luciene Sans Tiago Carvalho Sans Arte e diagramação: Luciene Sans Obra da capa de janeiro e fevereiro de 2011: Vitor Carvalho – fotografia pertencente ao livro “AR” Os artigos e reportagens assinadas não refletem necessariamente a opinião da revista, sendo de responsabilidade exclusiva de seus autores. Não pode ser reproduzida sem autorização do editor. Revista Digital Olho Latino é uma publicação do Museu de Arte Contemporânea Olho Latino. Alameda Prof. Lucas Nogueira Garcêz, 511 Parque das Águas - Estância de Atibaia, SP. CEP: 12941-650 www.olholatino.com.br Contato: museu@olholatino.com.br

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A Revista Digital Olho Latino muda temporariamente a sua periodicidade para bimestral. O seu objetivo histórico permanece, uma vez que geralmente os artigos publicados servem para pesquisas universitárias e estudantis. Logo que passarmos essa breve fase, voltaremos ao caráter mensal. A Revista Olho Latino nº 23 apresenta o ensaio de Eni Elis inspirado na série Manequins Urbanos do artista João Bosco. A intenção da autora foi a de compartilhar impressões e refletir a narrativa de subjetividades, atritos e formações, apontando a pitada poética da Vida em sua vastidão. Outro assunto é a mostra “Sobras-Primas” de Euclides Sandoval no Museu Olho Latino. A exposição é constituída por fotografias que sofreram intervenções mecanográficas e manuais do registro fotográfico das performances realizadas na I Bienal do Esquisito em 2001. Dez anos se passaram e as fotos reinterpretadas são um testemunho de uma das principais realizações do grupo de arte do Museu Olho Latino. O destaque da capa é para o recém lançado livro do artista Vitor Carvalho, intitulado AR, fruto do Prêmio Marc Ferrez de Fotografia na categoria Documentação Fotográfica - registro das transformações do cotidiano na sociedade. É uma eficiente prova da inserção da fotografia enquanto reforço expressivo da criação artística. O destaque do acervo Olho Latino é para o artista peruano Jorge Ara, falecido em 30 de maio de 2010. Jorge participou de várias mostras realizadas pelo Museu Olho Latino, representando o seu país. A sua obra percorreu grande parte do mundo. Orientou e foi professor de várias gerações de artistas na Escola de Artes plásticas e na PUC Peru, em Lima. Desejamos aos leitores uma boa leitura. Paulo Cheida Sans

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APRESENTAÇÃO

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Manequins Urbanos: uma leitura Eni Ilis

EXPOSIÇÃO

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Sobras-Primas de Euclides Sandoval Paulo Cheida Sans

CAPA

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A Atmosfera Visual de Vitor Carvalho Paulo Cheida Sans

ACERVO

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Jorge Ara: afeição pela terra Paulo Cheida Sans

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APRESENTAÇÃO

Manequins Urbanos: uma leitura

Eni Ilis

O

mito é realidade, é uma discurso que narrativa que somado aos encanta não só outros, permitepor seu lado nos ter uma mágico, mas percepção mais também porque é intensa da um fio condutor realidade, no que para nosso tange a sua esfera entendimento de simbólica, poética estar no mundo; é tão vital quanto à uma explicação pragmática. poética que Se o discurso fornece sentidos racional/ que ressoam no científico prima íntimo. Com o pelo rigor e tempo, essa comprovação linguagem foi mediante sendo substituída experiências, João Bosco – Manequins Urbanos 2. por outra que esmerando-se em ganhou mais peso e densidade de um vocabulário preciso e necessário verdade com seu intuito de – os conceitos e definições são objetividade e imparcialidade, a saber: ferramentas para a produção do a ciência. Mesmo assim, a linguagem conhecimento. Na arte opera-se com mítica persiste, migrou para a arte outras motivações, fazendo destas para poder se manifestar com o ferramentas não mais expressões de mesmo impacto de antes. Se agora o clareza e objetividade. Ocorre, mito não é o único discurso para a portanto outras movimentações que 4

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despertam outras potencialidades da percepção em suas esferas poéticas, metafóricas, originais, singularizantes... Em suma, se em um registro busca-se a unicidade de sentido para poder transitar no conhecimento e a partir daí inferir suas conclusões, no outro o que se apresenta é como que um indício, uma pista, uma isca a atingir/ deflagrar justamente nossos próprios repertórios imateriais e inconscientes. Se de um lado operase para fora na construção de um conhecimento objetivo da realidade, do outro se desencadeia um conhecimento simbólico da realidade e a junção de ambas as formas de conhecimento é o desafio e ousadia do permanente processo de humanizar-se, posto que, é o permanente processo de exercitar a capacidade sensível e intelectiva de se colocar diante do mundo e, em decorrência, de si mesmo. Ainda aqui, podemos acrescentar que a experiência da arte é sempre um trilhar primeiro, ou seja, por mais referências e influências que se possa ter ou conhecer, o contato instaura um encontro único e original. O que se desencadeia, os símbolos que são remexidos e despertos tramam uma leitura referente à nossa situação no mundo que pode não ter a mínima Olho Latino nº23

relação com quem fez a obra. Tal como um jogo de espelhos, os reflexos produzidos são nossos e tanto mais quanto mais habitados formos. Eis que a obra torna-se um indício para o autoconhecimento de quem a contempla, que pode sempre retomar/ aprofundar uma impressão e aí instaurar diálogos internos, sendo uma aliada muda desse processo de se deparar com os próprios abismos. Certo é que nem toda obra nos provoca e empurra para esses confrontos. Contudo, passeios introspectivos podem ser feitos com maiores ou menores intensidades. E, mesmo aqui, alguma coisa se produz nem que seja conhecermos quais são nossas paisagens mentais com suas fronteiras e horizontes. Exercício,portanto, de sensibilização através do olhar e capacidade de metaforização por se permitir deixar tocar e remexer em sentidos adormecidos, desencadear processos de significação da existência e isso a partir do próprio repertório existencial que é refletido na obra. E, se diálogos introspectivos ocorrem, esses são primeiro nível para que outros possam ocorrer: no compartilhar saindo da esfera individual e tocando outros imaginários. Um movimento de troca e mudança, assimilação e 5


permanência, novas fissuras por onde os sentidos podem se manifestar... Enfim, território de expansão de compreensões de uma obra e, em última instância, de si. As fronteiras se alargam à medida que esses nômades (sentidos, compreensões, trocas) vão permeando nossas leituras. A obra permanece ilesa, nós não. Ela pode então ser um porto-seguro para nossos níveis de compreensão? Espelho que nos revela sempre que estamos em vias de ser? E o que é esse ser além dessa permanente combinação de impressões? Outra coisa a se considerar é que tudo isso ocorre no silêncio e tempo – outro. O processo de contato com a obra e formação de sentidos de forma consciente, obedecem à lógica não linear, posto que, operam as lembranças, fragmentos de fala, intuições, dúvidas, enfim tudo o que permeia nosso campo de significação e nos permite ter um a leitura do mundo e de nós. O contato com a obra toca vários eixos concomitantemente, mas estes operam segundo seus próprios ritmos, daí a compreensão não ser imediata, mas gestada no silêncio de nossas ações conscientes. Aliás, é alguma destas ações que justamente abrirá a porta para que a compreensão surja em sua 6

“inteireza”. Todos os elementos já estão presentes esperando um gesto unificador... Que foge a nossa determinação racional. E estar aberto a essa forma de conhecimento é estar aberto a possibilidades de intuir e significar a vida a partir dos próprios referenciais que formam nossa “matéria bruta”, nossos símbolos, nossas ferramentas de nomear. É assim que surgem leituras tão diferentes em intensidades e direções de uma mesma obra, que tanto mais rica é quanto mais tem esse poder desencadeador. Todavia, algumas leituras acabam por se tornar predominantes, acabam por se impor abafando outras que são tão legítimas quanto, mas aqui está-se no âmbito das relações de poder que podem sim nivelar e abafar a alteridade e o diálogo, mas não deixa de ser uma leitura entre outras. Cabe ter sempre isso presente, mesmo porque, momento chega que o silenciado por força irrompe... Temos claro que, tudo o que aqui já vai não é original nem pretende sêlo, antes só tenta trazer essas linhas para justificar a leitura da série MANEQUINS URBANOS. Aqui então, não se trata de analisar essa série segundo escolas ou discorrer sobre as técnicas e qualidades da composição. O intuito é outro: compartilhar impressões provocadas, Olho Larino nº23


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expor e seguir reflexões de símbolos despertos, “pescar” na reflexão o que tais imagens foram de isca e assim oferecer um aprofundamento, uma leitura desencadeada. Começou-se falando de mito e da força da linguagem poética, justamente porque assim afigura-se essa série: um mito de nossa contemporaneidade. E a narrativa visual não poderia ser mais bela. Tal como os mitos, essas imagens não são condescendentes nem moralizantes – antes enfatizam e desfilam situações do humano de uma forma crua. É como se tivéssemos diante de nós retratos dos alicerces dos paradigmas de nossa época despido de historicidade e julgamento, mas dispostos em suas diferentes facetas. É como se pudéssemos observar o por dentro de nossa cultura racional e suas possibilidades e limitações. Vislumbrar conseqüências da hiperbolização da razão/ técnica e os espaços para a utopia... ... Eis que no terceiro dia não houve ressurreição. E, no tempo em que se está posto a existir, algo aconteceu. Explosão e conflito.

Explosão e duelo. Explosão e imposição e desequilíbrio e escravidão. Senhor/ escravo, fique entendido. Não no fora, campo das relações, apesar daqui ter os seus reflexos. Não. Senhor/ escravo no vasto espaço subterrâneo de cada um1. Estranho, mas assim é: todos e cada um é um território percorrido por forças devastadoras de uma batalha... O que se ignora e se mantêm guardado nos fundos das gavetas pode, ao invés de murchar e ressecar, latejar e fervilhar mais força ainda. E chega momento que isso irrompe qual uma explosão sem ater-se ao entorno e a si mesmo. Força contida é força potencializada, não é à toa que traga conseqüências devastadoras quando sobem à tona – e é esse o incessante processo de nossa educação: contenção, repressão de toda uma potência que tem que ser canalizada dentro de espaços e costumes estabelecidos. Ora, o excedente dessa força não evapora, é represado para o fundo de nossas gavetas e sem sol, luz, movimentos apodrece e se ressente. E ficar engavetado/ encaixotado é

1. (...) o homem é vasto, vasto até demais; eu o faria mais estreito (...). Aí lutam o diabo e Deus, e o campo de batalha é o coração dos homens. Aliás, é a dor que ensina a gemer. (Dostoievski, Os Irmãos Karamázovi, vol. 1 ed. 34)

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ficar sorvendo a própria força, experienciando o próprio ser que se torna tão auto-referente que o outro inexiste nessa escuridão da gaveta – mas a vida existe. Existe através de um EU tão intensamente experienciado que é por esse canal que vai se afirmar quando transpor o espaço fechado em toda sua força abafada: tirania não é senão outra forma de se afirmar/ impor o que antes se era nos espaços escuros e restritos... Visão unilateral tão visceralmente assim arraigada traz para fora toda possibilidade existencial – eis que há que se transformar o mundo externo no reflexo do que se tem como critério e verdade e realidade, ou seja, a si mesmo. Trabalho de destruição do outro? Não, porque não se tem a dimensão desse outro como assinalado a pouco, mas esse outro é destruído a começar por sua voz que é possibilidade de se comunicar com o fora e instaurar a relação de alteridade. Emudecendo o outro, fica mais forte a sensação de só existir o próprio discurso e tudo o que e o que lhe retorna é eco oco, não outra voz fundante de uma subjetividade. Fala abortada é ponte interrompida e para impedir que ela retorne, há que se preencher o indivíduo com sua própria linguagem, sua própria alma para prendê-lo agora em suas cadeias significantes e reduzi-lo a funções, posto que, esvaziado de seu conteúdo interno o que o outro passa a ser além de eco e possibilidade de extensão/ manutenção do próprio discurso? Cumpre encaixar o outro 10

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dentro dessas formatações/ engavetá-los nessas funções para justo esse discurso poder se dinamizar e perpetuar... Reduzir o outro a sua função para extrair nessa a identidade é mutilá-lo em suas outras dimensões para poder ater-se e desempenhar tão somente sua função – nada mais interessa – pois o que interessa é as partes que estão compondo esse todo funcional para o tirano, não interessa que essas partes em si sejam toda uma totalidade (a educação vai justamente formar/ moldar/ fragmentar isso, pois não?). E isso é possível com planejamento, técnica, imposição, vigia – tudo atuando junto para esquadrinhar, adaptar o outro num espaço para ele limitado para fazer um sentido, o sentido tirano fluir e se afirmar. É assim que fazemos e é assim que fazem conosco. Relações de força e abafamentos, atrofiamentos e contenções – e isso é cultura também. Tirana, bizarra, racional e eficiente. Os indivíduos despojados de sua “inteireza”, reduzidos a partes funcionais ocas, são seres mutilados, mas eficientes, captados pelas cadeias de sentido de um. Seres ocos e hipertrofiados em suas funções, presos em sentidos alheios existindo assim com referência externa: tornaram-se manequins a exterioridade funcional de uma mentalidade imposta. Contudo, isso não é algo seguro e permanente, as cadeias significantes e incorporação do discurso em palavras de ordem devem ser incessantes, pois se externamente os seres foram 11


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esquartejados em partes funcionais, lateja a totalidade que se mantêm difusa e transposta em pequenas e permitidas ações, não se dissipa, posto que, isso também é VIDA. Daí talvez, a ação limitada possível, mas não necessariamente com a concordância/ adesão plena do manequim que intui, sem mesmo o saber outros espaços/ potências de si. Mesmo sem saber em palavras, sabese por outras esferas que só esperam como que uma fissura para poderem sair... Eis porque a permanente necessidade do controle das tiranias, podarem qualquer sopro de vida que 12

fuja a seus paradigmas, trabalho extenuante e sem fim. Diga-se ainda que esse movimento interno do que se tornou oco é difícil, não só pela introjeção de palavras de ordem e vigia automação/ especialização de ações permanentes, mas também porque os seres estão encerrados por sua vez em suas caixas/ gavetas/ espaços reduzidos a solidão. Seres amedrontados justo porque foram esvaziados de suas referências internas e existem como uma extensão de um sistema que lhes é estranho. Medo de se tornar obsoleto, medo de não saber abafar/ controlar as próprias sombras vitais que lhe latejam... Note-se que esse medo pode e é camuflado na evidência da aparência e seu aprimoramento. Manequins que se fixam em suas superfícies e a lapidam em vaidades e exercícios de bem estar, ou seja, melhor adequação e consonância. Se por um lado estão quebrados na solidão, podem transformar essa em uma face/ persona que tanto melhor será quanto mais se adaptar ao meio e se mostrar flexível a incorporação e descarte dessas e daquelas qualidades conforme a situação. Sensação de bem estar está dito, desenvolvimento da auto-estima e autocontrole que se tornam espaços seguros que talvez nem se precise de muito mais. E a Olho Larino nº23


manutenção do sistema depende em grande parte desses que não querem ver sua auto-estima arranhada ou colocada em risco, pois é justo nela que percebem o caráter e o que são. Num mundo assim racional, existência pragmática de superfícies, o autocontrole acaba por ser uma saída, a incorporação do tirano em diferentes formas. Reino de solidão e esterilidade não há dúvida, mas também desenvolvimento de tecnologia para controle e eficiência na produção. Desenvolvimento criativo, portanto veiculado a permanente manutenção e reparo de um sistema. Não se almeja criar, transcender nada, somente afirmar e manter uma vontade soberana que também é escrava de si, pois ao se absorver nessa lógica de controle, habitua-se, limita-se também a essa realidade cegando-se a outras ações e possibilidades. E como abafou qualquer possibilidade de alteridade ao sufocar a voz de outrem, só tem os seus próprios ecos que não acrescentam nem alteram. E eis que temos também a atrofia da vontade que se desenvolve e aprimora cada vez mais no seu território conhecido.

Lembrando que no terceiro dia não houve ressurreição. A cruz ali posta, já é o símbolo do que seria um presente/ eterno/ estéril: caixas/ símbolos da especialização, atrofias para maior eficiência/ manutenção de um mundo feito o reflexo de uma vontade. Colocados desse modo, esses manequins mutilados funcionais, não tem raiz, antes existem no terreno urbano que é a geografia racional por excelência, posto que, sua formação/ organização/ funcionalidade dá-se pelo objetivo de uma vontade e não do ritmo da natureza. Espaço revestido de símbolos e sentidos que passam a ser o solo em que pisam.2 Não há enraizamento e compromisso com o lugar, mas fluidez de acordo com as diretrizes de funcionamento e eficácia do momento, novamente percebe-se os fatores determinantes são externos, exteriores aos indivíduos quebrados. E, no entanto, a VIDA é sempre mais do que tudo isso. O profeta não prediz o futuro, antes tem a capacidade de nos re-ligar ao passado, a ancestralidade do que nunca existimos e somos. Traz presente o que lateja sem palavras nesses

2. O ser humano contemporâneo é fundamentalmente desterritorializado (...) seus territórios (...) não estão mais dispostos em um ponto preciso da terra, mas se incrustam, no essencial, em universos incorporais. (Guattari. Caosmose, p. 169) Olho Latino nº23

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manequins, daí não sucumbir nem se rebelar para impor outra ditadura. Está em outra esfera, permeia outros horizontes que não o predomínio da racionalidade/ urbano/ cinza. Navega por memórias do que não viveu e isso o mantém como que alheio a esse presente, posto que, intui outras verdades e movimentações vitais. E o que ele sabe não é para si. Outros, apesar de suas atrofias e ocasidades, podem ser tocados e remexer em suas próprias sombras e vislumbrar também forças e sentidos que nem sequer imaginavam reduzidos que estavam em suas funções. Lentamente processo de (auto) descoberta e olhar/ significar o entorno com esse novo impulso livre e original, capacidade de ver como que pela primeira vez, pois se alcança com o próprio olhar3 e aqui vai se ganhando fôlego toda uma movimentação de preenchimento, de significação, de análise... Processo que vai fortalecendo esse conhecer, não a partir das palavras dominantes, conhecimento ainda sem palavras... E o que é mutilado ganha/ resgata outras dimensões/ extensões/

potências. O eficiente terreno racional da manutenção é remexido para que camadas mais amplas possam se revelar: a transcendência, a integração, o reconhecimento também desse aspecto de permanência. Tudo isso a compor vastidões humanas. Processo que uma vez iniciado desencadeia outros. Transformação do presente/ estéril em gestação de um porvir. O ego pode ser quebrado, não se tem mais um importante sustentáculo para a visão unilateral se perpetuar. E derrubando a imagem/ ego, pode-se chegar ao outro... Quando movimentações mais amplas começam a preencher esses manequins, começa-se também a gestar uma nova presença que agora sim – íntegra – pode perceber e crescer em alteridade. Nascimento de uma nova humanidade será os manequins urbanos um momento doloroso e passado para o que está por vir. Existiram todos em um paradigma racional que foi ao longo atrofiando, dês- sensibilizando, reduzindo-os a máscaras/ egos/ personas/ manequins... Que será necessário todo um outro paradigma

3. “- Eu... não chamo... quando uma vez pensei nisso, senti-o como uma idéia inteiramente nova. -Sentiu uma idéia? – falou Kirilov – Isso é bom. Há muitas idéias que estão sempre aí e que subitamente se tornam novas. Isso é verdade. Hoje vejo muita coisa como se fosse pela primeira vez.” (Dostoievski –Os Demônios, p. 237)

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que absorva, integre, elabore todas essas forças que os compõem e que tão habilmente foram separada e reduzidas em quantas partes para o benefício das análises e especializações... No lugar do tirano/ especialista/ mantenedor de sua vontade está a caminho o Poeta, justo ele não precisará impor sua palavra, reduzir outrem a funções, aferrar-se em satisfação pela auto-estima nos lugares fechados, posto que, está em consonância com a Vida em sua vastidão. Terminamos repetindo o início, todo esse processo ocorre em todos e cada um embebidos por nossa cultura racional ocidental. Toda essa narrativa dos Manequins Urbanos é a narrativa das subjetividades e suas constituições/ atritos/ formações e...

Revoluções. Muitos serão atrofiados a existência inteira e talvez se sintam salvos em auto-estimas “saudáveis”. Outros muitos serão tragados em sua vontade egocêntrica de tiranizar. Outros ainda serão engolidos por suas pulsões não codificadas na rotina. Mas haverá aqueles que vão trilhar a vastidão que são... Os poetas. E essa narrativa visual, só nos faz lembrar o que já sabemos mesmo sem ter vivido. * * * Referências: Dostoievski, F. Os Demônios, SP: Ed. 34, 2004. ____________. Os Irmãos Karamázovi, vol. 1, SP: Ed. 34, 2008. Guattari, F. Caosmose, SP: Ed. 34, 1992.

João Bosco é artista plástico e ilustrador. Atualmente faz parte do quadro de ilustradores da Folha de São Paulo (coluna Tendências/Debates) e é colaborador da Revista Época. Participou, entre outros, dos seguintes eventos: 2010 - Livro sobre a morte (Coletiva de arte-postal) MuBE - São Paulo, SP; IV e V e Bienal do Esquisito (2007 / 2010) no Museu Olho Latino, em Atibaia, SP. 2009 - Livro do Artista Coletivo/09 - Coletivo 308 – Guarulhos, SP. 1995 - Prêmio Business de Pintura - MAC Campinas, SP. 1991 - Medalha de Ouro no XV Salão de Artes Plásticas de São João da Boa Vista, SP. 1980 - Menção Especial e Honrosa na ABD Associação Brasileira de Desenho e Artes Visuais. Olho Latino nº23

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EXPOSIÇÃO ACERVO

Sobras-Primas

de Euclides Sandoval

Acervo Olho Latino

Paulo Cheida Sans

Euclides Sandoval – Sobras-Primas II.

A

I Bienal do Esquisito aconteceu no SESC Campinas em 2001, despertando a atenção do público para a apreciação da arte contemporânea. Foi um evento inovador e revelador. Inovador pelo esquema experimental. Mostrou obras feitas com materiais não comuns, propondo uma exposição de vanguarda, sem limites entre as artes plásticas e as expressões artísticas. Revelador por mostrar artistas de ponta, à margem do esquema mercadológico e não consumados pelos ditames da elite artística. 16

A Bienal, inicialmente, foi feita para os integrantes do Grupo Olho Latino apresentarem suas obras. Coordenei o grupo e direcionei as metas do recém fundado Museu Olho Latino, sendo a Bienal do Esquisito uma marca essencial de nossa conduta curatorial e uma possibilidade real de inserção na mídia cultural nacional. Ocupando as instalações do SESC, como o espaço multiuso com a mostra, o espaço Arena com performances e também outras salas com workshops ministrados por alguns expositores, o evento foi um grande sucesso. Olho Larino nº23


Acervo Olho Latino

Euclides Sandoval – Sobras-Primas IV.

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Acervo Olho Latino

Como parte da Bienal aconteceu o desfile “A Moda da Anti-Moda”, apresentando performances dos artistas expositores, aliando obra e corpo numa integração das linguagens artísticas. A temática proposta para o evento foi “A moda da anti-moda”. Tema este que ainda seria atual nos dias de hoje. Instigados pelo tema, artistas expositores prepararam performances com suas propostas “roupais” inusitadas. Cada um montou sua performance com coadjuvantes ou não, com instalação ou não e o mais importante na proposta de apresentação é que a performance não tinha ensaio, era ao vivo e numa única apresentação. O êxito do visual das roupas criadas para as performances foi notório que, mais adiante, aconteceu a mostra “Narração Visual de um Momento Inefável”, também realizada no SESC Campinas, em 2003. Nesta exposição foram expostas peças montadas em estruturas diversas como “figurinosinstalações”, mostrando os figurinos utilizados no desfile juntamente com as fotos das performances reinterpretadas pelo artista Euclides Sandoval. Passado alguns anos desses dois eventos, as fotos “Sobras- Primas” de Euclides Sandoval foram

incorporadas ao acervo do Museu Olho Latino e, em boa hora, apresentamos em nossa sede expositiva a mostra dessa série de trabalhos. As fotografias sofreram intervenções mecanográficas e manuais. De registro fotográfico passaram a ser uma nova versão artística, caracterizada pelo talento do artista, que denominou a série como “Sobras-Primas”. Olho Larino nº23


Euclides Sandoval – Sobras-Primas VIII.

As fotos reinterpretadas “narram” de um modo inusitado um “momento inefável” de uma das principais mostras do grupo de arte do Museu Olho Latino. Euclides Sandoval nasceu em Franca, SP, e reside em Atibaia há 27 anos. É formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo. Desde 1964 participa de salões de artes visuais, expondo nas mais variadas modalidades artísticas. Em 1972 Olho Latino nº23

recebeu o primeiro lugar em concurso de fotografia no Museu de Arte de São Paulo. Como premiado realizou uma mostra individual com a curadoria de Maureen Bisilliat. Depois participou da coletiva de 25 fotógrafos nacionais e estrangeiros no MASP – Museu de Arte de São Paulo. Na época, a imprensa se referiu à mostra como um marco na fotografia brasileira: “Eles inovaram a fotografia”. Participou de várias mostras com fotos e audiovisuais, recebendo prêmios. Sandoval foi descoberto pelo artista baiano Raimundo de Oliveira quando participava de sua primeira exposição de pintura em 1964, em São Paulo. Recebeu Medalha de Prata no XI Encontro de Artes Plásticas de Atibaia, realizado no Museu João Batista Conti em 1996. Participou de salões de humor em Volta Redonda e Atibaia; fundou jornais, fez ilustrações e criou personagens de cartuns. Foi professor universitário na área de Artes por mais de 20 anos e também é diretor teatral e ator. É autor dos livros: Ecos & Sombras, Cinema com Pipoca e Cadernos do Beiral. A mostra “Sobras-Primas” poderá ser visitada até 30 de janeiro de 2011, de terça a sábado, das 09h às 17h, na Al. Lucas Nogueira Garcez, 511, Parque das Águas, Atibaia, SP. 19


Luciene Snas

Euclides Sandoval.

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SOBRAS – PRIMAS Em arte o mais importante é a idéia como numa estilingada. Você acerta em artes visuais quando o resultado é plástico. É da tensão do elástico que surge a obra. Acontece o aleatório ... erros, acertos inesperados, erros que dão certo, atravancamentos pelo tempo, imagem de um movimento que não existe. Aliás, movimento na dualidade espaço-tempo é o que não falta. Angústias, pela insônia da ansiedade ... o recado esperado, sempre longe daquela perfeição inatingível. Desejamos a calma impossível, sem a qual não aconteceria a obra de arte ... a despeito de tudo é preciso acreditar mais na idéia, uma idéia que não vale a pena explicar, ou se cria a concorrência desleal entre o fácil e o denso. Daí a tensão, daí as sobras que podem ser primas. A arte como sobra-prima. Euclides Sandoval Atibaia, 24 de abril, 2003. * * *

Exposição: “Sobras-Primas” - Fotografias de Euclides Sandoval. Período da mostra: 16 de dezembro de 2010 a 03 de fevereiro de 2011 Curadoria: Paulo Cheida Sans Visitação: de terça a sábado, das 09h às 17h. Local: Museu Olho Latino (mezanino do Centro de Convenções e Eventos “Victor Brecheret”). Endereço: Al. Lucas Nogueira Garcez, 511 - Estância de Atibaia, SP. Realização: Museu Olho Latino e Prefeitura Municipal da Estância de Atibaia. Telefone: (11) 4412 7776. Olho Latino nº23

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CAPA ARTIGO

A Atmosfera Visual de Vitor Carvalho

Vitor Carvalho

Paulo Cheida Sans

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livro recém lançado de Vitor Carvalho, intitulado AR, fruto do Prêmio Marc Ferrez de Fotografia na categoria Documentação Fotográfica registro das transformações do cotidiano na sociedade -, é uma prova da inserção da fotografia enquanto reforço expressivo da criação artística. 22

Já faz um tempo considerável que a fotografia é entendida como arte. O instante fotografado está repleto de sensações, emoções e sentimentos que eternizam o momento, por meio das retinas fotográficas ou da memória das câmeras digitais. Saber fotografar e regular habilmente a câmara não garante que por isso o fotógrafo seja considerado Olho Larino nº23


Vitor Carvalho Olho Latino nยบ23

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Vitor Carvalho

um artista, principalmente na época em que vivemos de valorização e difusão da imagem como meio mais acessível a todos. Deliberadamente existem fotos e mais fotos que nada dizem além do foco fisicamente retratado. A arte é mais abrangente do que um sentido restrito de uma simples documentação. Claro que fotos podem ser consideradas como parte da memória de um povo e também podem ser analisadas sobre o aspecto cultural da sociedade. Esses argumentos já seriam suficientes para colocar a fotografia como sendo de inestimável importância para a cultura social. 24

Proponho apreciar o livro AR no contexto da elevação da imagem fotográfica original como proposta artística. O experiente artista e escritor André Carneiro já tinha percebido a riqueza de trabalho do artista, quando disse: “Os retratos de Vitor se caracterizam por uma representação subjetiva, usando recursos pictóricos que transcendem o real”. O livro mostra a fotografia no parâmetro da arte. Em cada foto de Vitor não está contida apenas uma mera representação da realidade. A foto-arte transcende o instante, torna-se um testemunho do pensamento íntimo do fotógrafo artista que perpetua o foco retratado a seu modo e critério de percepção do mundo. Vitor Carvalho faz da fotografia o seu material expressivo, o seu meio de mostrar ao outro o seu universo e pensamento. As fotos fazem parte de seu repertório de 20 anos de produção. Usou de diversas possibilidades técnicas, desde a fotografia analógica, a revelação, até a construção da imagem na era digital com interferências plásticas. O “brincar” está imbuído em sua forma de trabalho e criação. O livro contém uma espécie de “brincadeira” no seu contexto visual, Olho Larino nº23


Vitor Carvalho

onde o leitor tem que casar as legendas e mensagens com as fotografias para ter o entendimento proposto pelo autor. Isso mostra um pouco o temperamento lúdico do artista ao propor a interação do leitor com o livro por meio de descobertas e de revelações. Vitor diz: “Ao final você vai descobrir uma proposta interativa onde os Anônimos serão Revelados...”. Casando os dados corretos com as imagens, o leitor conseguirá identificar o “retratado”. Olho Latino nº23

Vale realçar que a produção gráfica da edição está adequada com o teor atemporal das imagens. A ação do lúdico é estimulada como sabedoria para retratar amigos e personagens para representá-los com “vida”. Geralmente o retrato mostra apenas uma determinada cena e as imagens de Vitor não são somente “retratos”. Suas fotos expandem o conhecimento do retratado. É uma expansão da “alma”, do sentir e de sua percepção sobre o “retratado” 25


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divulgação

que ganha com o carinho e amizade do fotógrafo uma espécie de “aura” representativa. O retrato deixa de ser um mero retrato para ser algo “pulsante”, vivo e imortal. A cena enfocada passa a ser dramatizada numa ficção mentirosa que serve ao propósito da “verdade” do fotógrafo. Em cada foto há o tratamento criativo. O retrato é acrescido com um “algo mais”. A imagem ganha uma força poderosa que fala, denuncia e traz a baila o “invisível” que envolve e que liga o fotógrafo e o retratado. Suas fotos emanam um sopro de vida, onde o autor transcende o seu conhecimento sobre o retratado. O crítico de arte e fotógrafo Paulo Klein, no texto de apresentação do livro AR, situa a importância de Vitor para o cenário artístico brasileiro: “Com este livro e as obras aqui selecionadas, resultado de experiências, trabalhos acadêmicos e ‘brincadeiras’ na solidão de seu estúdio, Vitor Carvalho prepara fôlego para inserir-se entre o primeiro time de fotógrafos autorais brasileiro”. Klein observa que o artista está consciente do momento em que vive a Arte Contemporânea hoje e que sua produção se iniciou com a fotografia analógica e “se expande com a fotografia digital”.

Livro: AR Autor: Vit Realizaçã XI Prêmio Idioma: P Páginas: Edição: 1 Ano: 2011 Informaç

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Vitor Carvalho.

R tor Carvalho ão: Funarte - MinC - Governo Federal o Marc Ferrez de Fotografia Português 54 ª 1 ões: vitorcarvalho@ig.com.br

Pode-se afirmar que o valor dessa publicação, além de ser resultado de um prêmio importantíssimo e merecido, está no seu conteúdo estético, num gosto refinado de abordagem artística que faz o artista visual Vitor Carvalho mostrar a sua (e nossa) grande Atibaia por meio da amizade, da beleza e da simplicidade. O seu mundo povoado de pessoas anônimas ou amigas são, no seu livro AR, todas representantes de uma comunhão de vida de teor humanístico, não somente representam a cidade em que estão inseridas, mas nos representam como cidadãos, como pessoas de carne e osso com toda simpatia e amor que elegemos a alegria de viver, sorrir e também de “brincar”. Parafraseando Paulo Klein diria: “Brinquedo sério este trabalho desenvolvido por Vitor Carvalho a partir da fotografia...” Vitor Carvalho retrata a figura humana com suas histórias, criando transformações cotidianas em ícones simbólicos e representativos de nosso povo. Fotos: obras de Vitor Carvalho retiradas do livro “Ar”.

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ACERVO

Jorge Ara:

afeição pela terra

Acervo Olho Latino

Paulo Cheida Sans

Jorge Ara - sem título - xilogravura, 1996 - 54cm X 69,5cm

O

destaque do acervo é para o artista Jorge Ara, falecido em 30 de maio de 2010. Jorge participou de várias mostras realizadas pelo Museu Olho Latino, representando o seu país. A sua obra percorreu grande parte do mundo. Orientou e foi professor de várias gerações de artistas na Escola de Artes plásticas e na PUC Peru, em Lima. Jorge Eduardo Ara Manchego nasceu em Tacna em 17 de agosto de 1946. Ingressou na Escola de 28

Artes Plásticas da Pontifícia Universidade Católica do Peru em 1972, especializando-se em Gravura quatros anos depois, ocasião em que foi o responsável e promotor do curso de serigrafia aplicada à arte da gravura nessa universidade. Especialista em gravura sob a direção de Adolfo Winternitz, Orlando Condeso, José Lima e Víctor Femenias. Foi professor Associado de Gravura da Faculdade de Arte da Pontifícia Universidade Olho Larino nº23


Católica do Peru por mais de 30 anos. Com o intuito de proporcionar um ateliê para o gravador e um Museu de Gravura, fundou o importante Taller 72 com Eulalia Orsero, Miguel Gutiérrez e Alberto Agapito. Foi professor de gravura de La Escuela Nacional Superior Autónoma de Bellas Artes del Perú, em Lima, de 1974 a 1993. Recebeu o título de “Professor Honorário” da “Escuela Superior Autónoma de Bellas Artes del Cusco ‘Diego Toto Quispe’ “ (resolução ano 1991). Jorge participou de inúmeras exposições, entre elas: 2º, 3ª, 4ª, 5ª e 6ª Bienal de Grabado Latinoamenricano y del Caribe, San Juan, Porto Rico (1972 a 1983); Novena Edición del Premio Internazionalle Biella por Incisione, Biella, Itália (1983); “Gravuras Latino-Americanas” - Festival Latino-Americano de Arte e Cultura - Brasília, Brasil (1987); Exposición Grabado Contemporáneo, Osaka, Japão. Recebeu vários prêmios, entre eles: Terceiro Premio Nacional de Gravura da ICPNA, Lima (1973); Segundo Premio Nacional de ICPNA, Lima (1972); Melhor Expositor da Galeria “Cueva Polêmica” (1976); Menção Honrosa na 1ª Bienal de Gravura, Cusco (1986). Olho Latino nº23

As duas xilogravuras de sua autoria do acervo Olho Latino mostram a sua exímia capacidade como artista gravador. Sua habilidade técnica é primorosa, destacando-se as minúcias com um tratamento meticuloso com os materiais cortantes. Conhece profundamente a arte da gravura, sabendo lidar e se expressar nas mais variadas possibilidades técnicas. Cria um jogo equilibrado de branco e preto, valorizando detalhes, numa atmosfera adequada entre a figura e o fundo. A temática dessas obras focaliza animais e aves, valendo-se de uma caracterização própria e inconfundível. Jorge Ara é um dos principais gravadores latinos. Dedicou a seu país um amor imensurável. Em sua carreira recebeu diversas propostas para trabalhar no exterior, montar ateliês na Venezuela, Bolívia e ministrar aulas em outras Escolas de Belas Artes. Mas, a sua personalidade era intimamente peruana e não queria deixar de colaborar com seu conhecimento, experiência e dedicação à arte da gravura, sobretudo em seu país. Sem dúvida, Jorge Ara, ilustre descendente do Cacique José Rosa Ara, influenciou e beneficiou gerações de artistas. 29


Acervo Olho Latino

Jorge Ara - sem título - xilogravura, 1995 - 73cm X 54cm

Em dezembro de 2007 a Especialid de Grabado - PUCP, coordenada pela profa. Carolina Salinas, contando com a organização dos professores, Zoila Reyes e Máximo Antezana, realizou uma mostra coletiva de gravadores que foram alunos de Jorge Ara. A exposição homenagem proporcionou um rico livro catálogo com o desenho gráfico de Carolina Arredondo, publicado pela Faculdade de Arte da Pontifícia Universidade Católica do Peru. Esta publicação registra a importância de Jorge Ara como artista docente que, 30

em entrevista concedida ao prof. Juan Peralta disse: “La classe de serigrafia que les enseñaba a los alumnos no era del tipo plano e industrial, mi interes era abordalo de manera amplia, com um carácter pictórico (...) em esa época em que la serigrafia era um secreto profisional, Yo he sido el primero em aprenderlo com um enfoque hacia el arte...” Jorge Ara foi um artista ativo e soube registrar na arte da gravura a sua filosofia de vida e amor ao seu país. * * * Olho Larino nº23


Colaboradores desta edição:

Eni Ilis Rivelino - Professora de Filosofia licenciada pela PUCCampinas. Artista autodidata. Produção escrita com temas entre filosofia e literatura, em especial relacionados com obras de Nietzsche e Dostoievski.

Paulo Cheida Sans - Professor do Curso de Artes Visuais da PUCCampinas. Doutor em Artes Visuais pela Unicamp. Curador do Museu Olho Latino.

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