I (13)
II (14)
III (17) IV (18) V (21)
VI (22)
VII (23)
NO PANORAMA DO TEMPO O MENINO SE ALARGA (27) CORPORAL (28)
THE END OU IN MEMORIAN (29)
I a menina-anjo que sonhei na infância
brinca de carrossel na roda dos enjeitados. o calor das silhuetas contradiz-se na noite;
a ramagem no escalpo goteja em silêncio.
sua face encara a triste vertigem das janelas e o ângulo da varanda engolindo meu corpo antigo.
a doce geometria apalpa nossas línguas
com a violência de um céu que despenca do telhado.
II 1 rebeldia:
o instinto venenoso excita o sadismo dos olhos. desprezo:
dançamos sobre as máscaras que vedam as ruínas do abismo. dentro, o sufoco as�ixia os meninos. fora, tudo é claridade espreitando-se na pele.
engolimos o kaos para escândalo das massas e da catracas ao olhar dos porteiros e cobradores indecisos.
2 o mapa da cidade é relevo impresso na carne de asfalto. tarde proibida:
a cegueira no labirinto e a poesia na leveza das pegadas. tarde sacra violada:
a displicência dos livreiros é uma ponta da lança beijando nossos calcanhares. o vento que turva a crepitação das cabeleiras aguarda nossos espectros do lado de fora. encontramos na caverna o leão de juba negra:
ele ruge em versos o segredo da posição dos astros;
semeia sonhos transcritos pelo antigo branco dos dentes.
3 é preciso enganar os portais e escapar da cúpula.
é preciso fugir para onde os signos são um mistério feliz na mansidão das Astúrias. o aspecto é banal:
corações aéreos deslizam pela quietude do tédio;
queremos engolir a madrugada incendiária junto à próxima calmaria. pela manhã: a noite ainda esperneia.
III da textura do piso brotam perguntas
no toque esquecido das mãos. �lutuando na sala meu olho espia
atrás do corpo sentado na noite. a madrugada é mãe da afasia.
a incerteza resgata-se milenar.
compreender o desespero das formas: sentir sede e não saber o nome da água. lamber a queda dos calendários: desenhar no tempo o calor da língua. não saberíamos da febre ou das datas.
não seríamos capazes de um palpite.
qual o volume do sono atado à coluna infantil?
IV monótono sob os olhos pesa o silêncio da areia: sepultura do primeiro amigo:
espírito simples, um brinquedo. o corpo vermelho e duro delira nas mãos do inventor.
a terra, particular, geme sobre a mão do menino-coveiro.
atrapalha a busca, a perda, torna-se o desa�io da quiromante.
d'um plástico mudo tirei lições. d'um metal oxidado compreendi tempo: a solidez da forma excita a dança das imagens.
solidão no pátio. um relincho que sabe seu �im.
cavalo rubro mergulha num sonho, sob giros do sol, envolto nas dunas.
V sobre o sigilo das pedras, os pés são gêmeos de tecido: brincam o jogo de amarelinha. antes: o modelo estático na ideia:
brincadeiras sem vértebras em composição de velocidade confundem o gesto das sirenes. o depois tatua-se no eco alongado:
uma vez distintos nos vértices, os olhares se perdem na partida de vez para um outro retiro. apostar o desejo pueril no terreno da memória é dar-se por vencido.
o corpo ósseo das falanges toca a queda dos cabelos: a recordação do menino eriça os sentimentos, transverbera-se ágil na carne das nucas.
VI (com ajuda de Waly Salomão) na escama vazada do verbo acontece a promessa irreal dos atos. damos corda ao corpo sem dívidas da engenharia das letras esperando um milagre �inanceiro ou um encontro de amor & prazer "no ventre amargo do profeta".
somente é possível alterar-se ileso na realidade atada às retinas. realidade absoluta X multiexistência & outros planos
VII teu berro ainda ecoa entre as paredes sujas: mãos que tecem o desejo dos peixes.
o equilíbrio se faz da matéria de kaos: cantos tímidos retinem pela boca em acordo com os agitos da alameda.
o equilíbrio é o �ilho mais velho do kaos: trago por detrás da sombra tímida o dilema da guerrilha não terminada.
cravada em punhos de alpendre, tenho uma vara de imburana selvagem:
ela �loresce quando posta ao fogo; dança, rizomática, em raras madrugadas; observa os movimentos sutis e cisma: uma noite acrobata imagina friezas e se desfaz com as lâminas.
NO PANORAMA DO TEMPO O MENINO SE ALARGA sinto-me teatro de sombras, ampulheta, mapa mundi, cemitério de elefantes.
sinto-me na �igura da mulher tecelã e sinto-me o �io a penetrar-lhe o futuro. metade do que pressinto é grito de armas lâmina e fogo;
metade é uma profecia mães sorrindo alegres e uma possível utopia aérea.
eu, porém, sou impulso de encontro às locomotivas; ogiva que despenca sobre os restos.
sou tigre, mulher e menino, e danço sobre as covas da eternidade.
CORPORAL existem os braços e existem os lábios, procurando na pele a memória perdida pelos fotogramas.
existem os lábios alisando o desejo e existem os olhos amansando os lábios.
existe o corpo triste e um corpo escondido observando de longe o design solar,
imóvel detalhe entre pressa e distância; imóvel ser confuso entre dedos cansados.
existe o tédio pela astrologia e a dança dentro das nossas bocas. uma transformação de tigres em anjos sonoros e pássaros decaídos em crianças de bronze.
existe esta demanda cega por alguma coisa que não sabemos dizer sem o uso do poema.
existe a mão ociosa dançando entre os gestos, procurando no vazio a solidão de outro membro.
THE END OU IN MEMORIAN sons de tiro abafam este pássaro. a queda sem recomeços, sem avanços detona os casulos de um poema. o som de um pássaro: esta degola: retinas líquidas gotejam no chão. tudo aponta em tudo as pontas cegas,
enroladas no mutirão do meio-dia
soterradas sob um presságio de concreto.
um bioma de delírios é abortado no movimento de tratores cruéis.
seiva e resina: a poética ancestral sufoca sob a muralha de poeira.
(botas de plástico, o limiar da vida)
meus pés vacilam sobre a planície: as vitórias do metal, nudez das raízes.
fanzine de total mente artesanal/
poemas
agradecimento + que especial a
Demetrios Galv達o,
pela ajuda e cuidado com os textos, &a Pedro Rocha
(pedrim),
pelo desenhos no corpo do zine. a todos? a todos! a todos:
compartilhe arte , poetize-se.
lucas rolim * compartilha desde 1995 das alucinações e delírios solares na província perdida de teresina, onde nasceu e reside. olucasrolim@outlook.com facebook.com/olucasrolim
os poemas desta edição de no panorama do tempo o menino se alarga são os mesmos da primeira edição, porém revisados e reescritos. o o�ício da poesia é o�ício de busca da perfeição. a essência é a mesma: a forma, os canais, as portas de passagem são mutáveis. para ler os poemas da primeira edição, acesse: goo.gl/RgEbsF ou
zine n. _______