O Instituto Votorantim apóia essa causa. ONDA JOVEM
E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.
www.ondajovem.com.br
família
O portal www.ondajovem.com.br dá acesso a todas as edições da revista, oferecendo ainda conteúdos exclusivos, como notícias diárias e planos de aula, propondo atividades com jovens baseadas nos assuntos em pauta.
ONDA JOVEM É UM DOS 50 JEITOS BRASILEIROS DE MUDAR O MUNDO Título concedido pelo Programa de Voluntários das Nações Unidas no Brasil – 2007
Em plena transformação, as relações familiares permanecem fundamentais para os jovens brasileiros
ano 4 – número 10 – março/maio 2008
a educadores, jovens, gestores públicos, pesquisadores, formadores de opinião e parceiros.
número 10 – março/maio 2008 – www.ondajovem.com.br
A causa é a juventude. A estratégia é o conhecimento. Onda Jovem dissemina idéias e práticas que interessam
FAMÍLIA
sonar
Família é a principal referência para 72% dos jovens Pais são os interlocutores preferidos de 76% dos jovens
40% das uniões precoces terminam durante a gravidez
Mulheres, entre avós e mães, chefiam 30% das famílias
pág. 20
Iniciativas apóiam integração dos pais
pág. 16
Estudos tentam explicar famílias de jovens pág. 40
3 CIA DE FOTO/ SAMBAPHOTO
Projetos buscam fortalecer a família
Políticas ainda não atendem a novos modelos familiares pág. 44
âncoras
“Se você não tem uma família bem estruturada, que te ama, te orienta e transmite bons valores, nada vai para frente.” Maria Luiza Campiotti da Cunha,
24 anos, filha única e adotiva
“A família é um forte referencial para os jovens. Contraditoriamente, ela não tem a exata dimensão de sua própria importância e dos efeitos que exerce sobre o jovem, em função da forma como o enxerga e lida com ele.” Maria Ângela Santa Cruz,
psicanalista e coordenadora de curso do Instituto Sedes Sapientiae
“O principal problema é os pais não respeitarem os sonhos dos filhos. Tudo aquilo que os jovens idealizam os pais costumam não valorizar.” Gustavo Lang,
Salviano Machado
17 anos, de Paraupebas (PA)
“O jovem é quem introduz um outro ponto de vista, por meio de novos discursos que abalam o “discurso oficial” da família sobre si mesma.” Cynthia A. Sarti,
antropóloga e professora da Universidade Federal de São Paulo
“Muitos pais não conseguem enxergar as mudanças no mundo. Eles se tornam conservadores, com dificuldade para compreender o ponto de vista dos jovens.” Rodolfo Sousa,
17 anos, de Curitiba
“Os movimentos feministas e de jovens sempre buscaram autonomia e liberdade e acabaram deixando a família de lado.” Mary Castro,
doutora em sociologia e pesquisadora
“É na família que se impõem os limites, e os jovens estão em uma fase da vida em que não aceitam nenhum tipo de imposição.” Sandra Oliveira, Cristino Martins
23 anos, de Santos
“Toda criança que cresceu com os pais separados gostaria que isso não tivesse acontecido. Mas minha família é a base de tudo. Sinto-me segura e acolhida pela minha mãe, meu pai e meus avós.” Mariana Rocha,
18 anos, mora com a mãe em Belém
“A gravidez precoce, o álcool, a questão da idade penal são discussões que a juventude e as famílias estão fazendo, mas que nem sempre as políticas acompanham.” Marcelo Neri,
“Uma boa passagem da infância para a idade adulta não é uma questão de recursos materiais. A qualidade essencial é ser amado.” Ziraldo Alves Pinto,
cartunista e escritor
deise lane Lima
economista e coordenador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas – RJ
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ONDA JOVEM 10 ano 4 número 10 março / maio 2008
Seva Kunja Devi Dasi Cid Barbosa
expediente
Um projeto de comunicação apoiado pelo Instituto Votorantim Projeto editorial e realização Fátima Falcão e Marcelo Nonato Olhar Cidadão - Estratégias para o Desenvolvimento Humano www.olharcidadao.com.br
Secretaria editorial Lélia Chacon
08 Márcia zoet
Direção editorial Josiane Lopes
Projeto gráfico Artur Lescher e Ricardo van Steen (Tempo Design) Colaboradores texto: Aydano André Motta, Cristiane Parente, Cynthia Sarti, Eliza Muto, Frances Jones, Marcelo Barreto, Maria Alice Nogueira, Maria José Braga Viana, Mariza Corrêa, Simone Barreto, Valmir Rodrigues, Yuri Vasconcelos
Ilustração: Seva Kunja Devi Dasi, Leandro Gonçalves (Cufa)
16 Divulgação
foto: Amanda Perobelli, Carlos Nogueira, Cid Barbosa, Cristino Martins, Deise Lane Lima, Estevam Scuoteguazza, Felipe Barra, Henk Nieman, Márcia Zoet, Marcos Fernandes, Rodrigues Moura, Salviano Machado, Tiago Bonagura, Tom Cabral
Capa: Juliermes Pereira da Silva e avó Josefa, fotografados por Tom Cabral Apoio editorial Equipe do Instituto Votorantim Revisão: Moira de Andrade Diagramação D´Lippi Editorial
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Tiragem 10 mil exemplares Como entrar em contato com Onda Jovem: E-mail: ondajovem@olharcidadao.com.br Endereço: R. Dr. Neto de Araújo, 320 – conj. 403, São Paulo, CEP 04111 001 Tel.: 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464 www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude
amanda perobelli
Impressão Ipsis
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08 – NAVEGANTES Jovens brasileiros comentam suas relações com a família e a importância dela em suas vidas 16 – EDUCADORES Pais e professores de São Paulo, Rio e Distrito Federal mostram como a família pode ser mais integrada 20 – BANCO DE PRÁTICAS Quatro diferentes iniciativas investem no trabalho com a família e sua relação com os jovens 24 – ÂNGULO 1 Mariza Corrêa comenta as mudanças que vêm atingindo a família brasileira desde o período colonial 28 – ÂNGULO 2
MAIS ONDA JOVEM
Ao entrar no quarto ano de circulação, a revista amplia a tiragem e o número de edições. A partir deste número, a periodicidade de ONDA JOVEM passa de quadrimestral a trimestral, com edições mais concisas, mantendo a proposta editorial e a distribuição gratuita para o público interessado nas questões juvenis.
Cynthia Sarti escreve sobre o abalo que os membros jovens provocam na estrutura de uma família 32 – ÂNGULO 3 Maria Alice Nogueira e Maria José Viana apontam a aproximação e as diferenças entre família e escola
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36 – O SUJEITO DA FRASE
SONAR 02
Ziraldo, autor do Menino Maluquinho, diz como seria um adolescente ou um jovem maluquinho
Números e ações do universo familiar
40 – LUNETA Fenômeno atual, a gravidez precoce acelera a formação de casais jovens, em relações pouco duradouras 44 – .GOV.COM O papel social da família não se reflete em políticas públicas eficazes, que incluam seus membros jovens 48 – CIÊNCIA O grupo familiar tem uma organização psicológica própria, incluindo conflitos com seus membros jovens
ÂNCORAS 04 Alguns conceitos e comentários sobre família
CARTAS 56 As mensagens dos leitores
52 – CHAT DE REVISTA
NAVEGANDO 58
A tensão entre pais e filhos e as formas de superá-la são temas de debate entre quatro jovens
A arte gráfica de Leandro Gonçalves, da Cufa
navegantes
JOVENS
DE FAMÍLIA Em transformação, a instituição familiar vem sendo cada vez mais valorizada pela juventude brasileira 9
O recifense Juliermes Pereira da Silva, 17 anos: criado pela mãe e pela avó
Tom Cabral
por _ Yuri Vasconcelos
Cid Barbosa
AS FAMÍLIAS PODEM NÃO SABER, MAS PESQUISAS CONFIRMAM QUE ELAS OCUPAM POSIÇÃO IMPORTANTE PARA O JOVEM, QUE TEM NOS PAIS SEUS PRINCIPAIS INTERLOCUTORES Esses resultados, aparentemente surpreendentes num momento em que o modelo familiar tradicional (pai, mãe e filho vivendo juntos) encontra-se em profunda transformação, não foram novidade para a psicanalista e analista institucional paulista Maria Ângela Santa Cruz, coordenadora do curso “Adolescência e Juventude na Contemporaneidade – suas Instituições e sua Clínica”, do Instituto Sedes Sapientiae, em São Paulo. “A família é um forte referencial para os jovens, e sua importância não se mede pela calmaria ou falta de conflito. Contraditoriamente, ela [a família] não tem a exata dimensão de sua própria importância e dos efeitos que exerce sobre o jovem, em função da forma como o enxerga e lida com ele”, diz Maria Ângela. “Nos últimos tempos, a família passou a ser o locus da afetividade; o local onde as relações são baseadas no código dos afetos.” É o que confirma a pesquisa nacional do instituto Datafolha, realizada em 2007: a família é a instituição mais importante para 69% dos entrevistados, que afirmam manter ótima/boa relação com a mãe (91%) e com o pai (76%), e também com os irmãos. A família, quem diria, está em alta entre os jovens brasileiros. Uma série de pesquisas vem confirmando o fato. Um dos primeiros levantamentos a mostrar o quadro foi o coordenado pelo Instituto da Cidadania, de São Paulo. Realizado no fim de 2003, o estudo ouviu 3.501 jovens de 15 a 24 anos, de 198 municípios, em áreas urbanas e rurais de todo o País. Entre várias revelações, a pesquisa mostrou que, para 72% dos entrevistados, a família é o espaço mais importante para seu amadurecimento, deixando para trás outras instituições consagradas como a “rua” (13%), a escola (7%), o trabalho (5%) e a igreja (3%). Outro dado relevante diz respeito às pessoas mais ouvidas quando os jovens precisam conversar sobre assuntos importantes: primeiro vem a mãe, com 63% da preferência, seguida do pai (13%), cônjuge (5%), professor (2%), padre ou pastor (2%).
Longe ou perto demais Que o diga a universitária cearense Mayara Dayse Sousa Barreto, de 21 anos. Há dois anos, ela se mudou de Canindé, no interior do Ceará, onde morava com os pais, para estudar em Fortaleza. “Tenho muita saudade dos meus pais. Sinto falta do carinho deles”, conta. Desde que mudou para a capital cearense, onde faz o segundo ano do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mayara vive com seus tios e primos. Mas a relação com a “nova” família não é nada fácil. “Eles [os tios] são controladores e não confiam em mim como os meus pais. Querem sempre saber o que vou fazer, e eu acho que não preciso dar satisfação”, diz. Para a jovem, morar longe dos pais traz certa insegurança. “Tenho uma relação muito próxima com meus pais, principalmente com a minha mãe. São pessoas que eu sei que posso contar nos momentos difíceis”, afirma. A brasiliense Danuse Queiroz, de 22 anos, hoje também sabe que pode recorrer aos pais nos momentos difíceis, embora a relação entre eles tenha sido marcada por conflitos. “Meus pais são muito religiosos e me privaram de uma série de coisas. Desde pequena, era obrigada a ir aos cultos e só fui vestir minha primeira calça jeans aos
A cearense Mayara Barreto, 21 anos:
longe da família
Os pernambucanos Denis Franco e Geane com a filha Ana Clara:
mudança radical
A catarinense Maria Luiza Cunha, 24 anos,
Henk Nieman
é a cara da mãe adotiva
TOM CABRAL
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15 anos. Pintar as unhas e usar maquiagem, apenas aos 18”, diz Danuse, que faz o 2º ano do curso de Letras na Unip e trabalha no programa Superação Jovem do Instituto Ayrton Senna. Para Danuse, seus pais receberam uma educação muito rígida quando pequenos e achavam que esta era uma forma de protegê-la dos perigos da vida. “Como eu não aceitava, sempre era tachada de rebelde”, conta. O conflito também impedia que a jovem falasse com os pais sobre assuntos de sua intimidade. Finalmente, Danuse criou condições para morar sozinha, mas sem romper com os pais. A história da catarinense Maria Luiza Campiotti da Cunha, de 24 anos, é diferente. Filha única e adotiva, a família, para ela, vem antes de tudo. “Minha família é minha vida. Ela ocupa um lugar primordial e é meu tudo”, afirma. Segundo a jovem, o fato de ser adotada é uma situação completamente tranqüila na sua vida. “Falo numa boa que sou adotada, e muitos amigos nem acreditam. Tenho o sorriso de minha mãe e o jeito dengoso do meu pai.” Formada em jornalismo, Maria Luiza acredita que a família é o principal pilar na formação dos indivíduos. “Se você não tem uma família bem estruturada, que te ama, te orienta e transmite bons valores, nada vai para frente. Você não vai ser bom aluno, bom amigo, bom trabalhador ou bom companheiro”. E continua: “Minha família sempre valorizou estar junto e perto de quem você ama. Temos uma relação muito franca e aberta, e minha mãe costuma dizer que
Marcos Fernandes
Marcos Fernandes
Os novos arranjos, com pais separados ou famílias chefiadas somente por mulheres, não enfraqueceram a instituição como referência para os jovens
é minha melhor amiga. Mas existem coisas que não converso com eles, e sei que tem coisas que eles não falam comigo”, diz. A jovem catarinense tem razão. Para muitos especialistas, é falsa a idéia de que pais e filhos podem ser “melhores amigos” e manter uma relação totalmente aberta e sem segredos. A amizade é um aspecto importante do vínculo familiar. Pode e deve existir, mas não se deve cair nesse reducionismo. “O lugar dos pais é o da autoridade e do poder. Eles têm o poder e o dever de sustentar seus filhos e a autoridade civil sobre eles. Por isso, não podem ser melhores amigos. Nos momentos difíceis, quem segura a barra e faz o contraponto da realidade são os pais”, afirma o psiquiatra paulista Içami Tiba, autor do livro Quem ama educa! Formando cidadãos éticos (Integrare Editora). Opinião semelhante tem a psicanalista Maria Ângela Santa Cruz. “Numa família, não dá para cair no simplismo de achar que somos todos amigos. A relação
Transição tardia Além de “porto seguro” dos jovens, a família ocupa papel central na fase de transição para a idade adulta. Sair da casa dos pais e formar suas próprias famílias é um dos aspectos mais marcantes dessa passagem. Ao contrário do que acontecia no passado, no entanto, uma série de fatores tem feito que muitos jovens alonguem sua estada no lar paterno. Nas classes médias, as características do que os sociólogos denominam “sociedade de risco”, marcada pelas dificuldades da vida contemporânea, aliadas à maior liberdade familiar, tornam a casa dos pais atraente por mais tempo. Nas camadas populares, a convivência também continua, mas com a extensão da família a partir dos relacionamentos dos filhos, que se estabelecem praticamente dentro de casa.
Muitas dessas novas famílias já são iniciadas a três, como é o caso do pernambucano Denis Manoel de Franco, de 25 anos. No ano passado, sua namorada, Geane, também de 25 anos, ficou grávida, e eles passaram a morar juntos – o rapaz morava com a mãe, que era viúva havia dez anos. O nascimento da pequena Ana Clara, hoje com 10 meses, representou uma mudança radical na vida do jovem casal. “Agora tenho que ser mais responsável, pois alguém depende de mim para viver”, diz Denis, que trabalha numa fábrica de panelas. “Amo demais minha filha e, embora seu nascimento não tenha sido planejado, ela é a melhor coisa da minha vida.” Na família do casal de sergipanos Domingos, de 57 anos, e Domingas Bispo, de 42 anos, moradores em Guarulhos, na Grande São Paulo, também os filhos cresceram e estão constituindo suas famílias, mas continuam gravitando em torno deles. Diogo, de 21 anos, casou-se em 2007 e passou a morar numa casa de dois cômodos no quintal dos pais. O mesmo acontece com Cristina, a Tina, de 24 anos, que está para se mudar para a casa vizinha, em cima da serralheria do pai, para viver com o namorado. “Não tenho medo da interferência dos meus pais por morarmos tão próximos. Eles respeitam minha relação com meu namorado, e eu me sinto segura em morar do lado deles”, diz Tina, que estudou até o 3º ano do ensino médio e há três anos trabalha com o pai. Segundo Diogo, questões de
Cristino Martins
Felipe Barra
de poder dentro da família está em constante mudança, é verdade, mas os adultos precisam saber que as crianças e os adolescentes dependem deles”, diz.
Os irmãos Tina, com o namorado, e diogo, com a mulher: vivendo junto dos pais
A brasiliense Danuse Queiroz, 22 anos: divergências com os pais
Mariana Rocha, 18 anos,
mora em Belém com a mãe e convive com os avós
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ordem econômica o levaram a morar com os pais. “Trabalho no aeroporto de Guarulhos, mas planejo fazer faculdade de Educação Física. Assim que conseguir um melhor salário, penso em sair daqui e ir para minha própria casa”, diz o rapaz. Novos arranjos A permanência de Tina e Diogo junto aos pais é facilitada pela boa relação existente entre eles. “Minha família é muito bacana e mais me ajuda do que atrapalha. Meus pais são autoritários, mas, comparados com os pais de antigamente, até acho que são liberais”, diz Tina. Este parece ser um novo traço da multifacetada família moderna: num mundo cada vez mais dinâmico e em permanente transformação, muitos pais têm uma mentalidade mais aberta, o que possibilita maior aproximação com os filhos. Isso pode ser constatado não apenas em núcleos familiares tradicionais, formados pelo pai, mãe e filhos vivendo sob o mesmo teto, mas também naqueles com novos padrões de arranjo. Esta é a realidade da universitária paulista Mariana Rebecca Bastos Rocha, de 18 anos, que mora em Belém com a mãe e os avós maternos. Seus pais se separaram quando ela tinha apenas três anos. Na ocasião, os três viviam em São Paulo. Quatro anos depois da separação, Mariana mudou-se com a mãe para a capital paraense, terra dos avós maternos. “Acho que toda criança que cresceu com os pais separados gostaria que isso não tivesse acontecido. Sinto muita falta da presença de meu pai, ainda mais agora que ele vive fora do Brasil”, diz Mariana. Segundo a jovem, apesar da separação de seus pais, a família tem uma importância incontestável na sua vida. “Ela é a base de tudo. Sinto-me segura e acolhida pela minha mãe, meu pai e meus avós. Como minha mãe viaja constantemente, passo a maior parte do tempo na casa dos meus avós. Daí, ‘rolam’ alguns conflitos no cotidiano. Eles pegam no meu pé porque acham que eu devo dar mais atenção aos estudos do que aos amigos, por exemplo”, diz.
Mariana faz parte da grande legião de jovens brasileiros filhos de pais separados. Segundo a pesquisa Datafolha, um terço (32%) dos jovens de 16 a 25 anos está nessa condição. Por ser uma situação tão comum, o preconceito diminuiu muito, mas ela é dolorosa para quem a vivencia, como revela o estudante pernambucano Juliermes Pereira da Silva, de 17 anos. “Meus pais se separaram quando eu tinha apenas um ano. Passei a morar com minha mãe e minha avó e, até os sete anos, quase não tive contato com meu pai. A falta que sentia dele era enorme, enorme mesmo”, diz o rapaz, que faz o 3º ano do ensino médio e é educador social do Instituto Papai, de Recife, que presta ajuda a pais jovens. “Nesse período, minha mãe, Michele, foi pai e mãe ao mesmo tempo”, diz, resumindo a realidade de 30% dos domicílios brasileiros, que são chefiados por mulheres. “Acho que não ter crescido numa família com pai e mãe morando juntos trouxe alguns prejuízos, mas, por outro lado, recebi muito apoio e amor da minha mãe e da minha avó”, diz ele. Para a psicanalista Maria Ângela Santa Cruz, este é um dos aspectos – se não, o aspecto – mais importante na relação entre pais e filhos: a disponibilidade afetiva. “Não concordo com a idéia de que filhos das famílias baseadas no modelo da família burguesa (pai, mãe e filho) sejam mais estruturados do que os demais. A questão que realmente importa não é o arranjo familiar, mas o quanto de afeto os pais têm para investir em seus filhos. E, aí, não importa se é a mãe, tia ou avó que cuida da criança”, diz ela. “O que importa é a disponibilidade afetiva em relação aos filhos.”
Vivendo nas ruas ou em abrigos, a maior dificuldade é estruturar um projeto de vida
Já que, como apontam estudos e especialistas, a família tem uma importância tão grande para jovens e adolescentes, o que acontece com quem cresce nas ruas ou em abrigos, longe dos pais e irmãos biológicos? Eles sentem na pele a carência afetiva e sofrem com as conseqüências provocadas pela privação do convívio familiar. “A falta da família faz com que os jovens não vejam o amanhã. Eles ficam sem projeto de vida, perdem a utopia e não dão atenção à educação. Muitos caem na depressão e alguns se encaminham para as drogas e o crime”, afirma Herivelto Silva Teixeira, o Del, de 32 anos, ele próprio um ex-menino de rua e atual coordenador do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) do Ceará. Segundo Herivelto, “a família organizada que a gente vê na televisão, nos programas juvenis ou nas novelas da TV, infelizmente não existe na periferia. O que tem lá são mãezinhas que trabalham 12 horas por dia e pais alcoólatras. Esta é a triste realidade das periferias do Brasil”, afirma. “Essas famílias, carentes financeiramente e desequilibradas, não oferecem oportunidade para seus filhos se desenvolverem plenamente”, afirma ele. A relevância da família na estruturação psíquica e social do indivíduo leva os especialistas a defender o investimento no núcleo familiar de forma a amparar seus membros jovens. Quando, porém, essa condição não for possível, a dura realidade pode ser atenuada se crianças e adolescentes forem encaminhados para instituições e abrigos bem-estruturados. “Essas entidades, naturalmente, não substituem os pais biológicos ou adotivos, mas se elas forem acolhedoras, cria-se um vínculo entre os jovens e as pessoas que as conduzem. Essas crianças ficam um pouco mais saudáveis do que aquela que não conta com uma figura substitutiva da mãe e do pai”, diz o psiquiatra paulista Içami Tiba. O curioso, diz o especialista, é que se essa experiência for positiva e gratificante, muitas das crianças que viveram um tempo em abrigo, quando adultas, dedicam sua vida a outras instituições do gênero. Em São Paulo, a Associação Maria Helen Drexel, que mantém um projeto voltado a ajudar crianças abandonadas pelos pais, ou cuja família não tem condições econômicas de mantê-las, prevê também
o encaminhamento de jovens que chegam à maioridade sem ter um lar que os acolha. A instituição mantém oito lares, formados por um casal social que tem, no máximo, dois filhos biológicos. Cada lar recebe até dez crianças que lá permanecem até terem condições de voltar para a família de origem, serem adotadas, ou completarem 18 anos. Segundo Rosana Pereira Damásio, assistente social da instituição, por meio do convívio com a nova família, “as crianças recuperam o equilíbrio afetivo indispensável a um desenvolvimento integral e harmonioso”. Do total de crianças atendidas pela instituição (253 desde que a associação foi criada, em 1973), 81 foram adotadas – a grande maioria quando pequenas – e 132 retornaram aos seus lares de origem. As demais saíram da instituição aos 18 anos e passaram a tocar suas vidas. “Nesse caso, nós continuamos a apoiar os jovens. O vínculo precisa ser mantido, pois somos a principal referência familiar deles”, diz Rosana. O mais importante é ter tido uma rotina de cuidados e afeto. Segundo Cláudia Ramos, coordenadora dos voluntários da associação, as crianças e os jovens “vivem numa casa normal, onde a mãe social exerce o papel de mãe biológica mesmo. Ela os leva na escola, faz comida e vai ao pediatra. O pai, embora não seja funcionário da associação, tem uma função importante, enquanto figura masculina. Nos lares que mantemos, são formadas grandes famílias. Prova disso é que as mães sofrem muito quando vai ocorrer um desabrigamento”.
Júlio Bittencourt/SambaPhoto
Crescer só
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presidentes da Escola de Pais do Brasil: respostas às angústias da família
Márcia Zoet
O casal santista Sonia educadores e Ariovaldo Jorge,
Rede de sustentação PARA EDUCADORES, O APOIO À FAMÍLIA É ESTRATÉGICO PARA O DESENVOLVIMENTO JUVENIL Criar cidadãos para o mundo. Esse é o desafio de quatro educadores envolvidos com a formação juvenil – o casal Sonia Maria Jorge e Ariovaldo Jorge, de Santos, em São Paulo; o professor de artes Cleiton Torres, do Distrito Federal; e a economista Elisabeth Ferraz, do Rio de Janeiro. Os quatro estão à frente de projetos que buscam, junto com a família, contribuir para o desenvolvimento de jovens em todo o País, a fim de que eles se tornem indivíduos realizados e felizes. Esses educadores acreditam que, apesar das dificuldades enfrentadas atualmente por pais e mães na criação dos filhos, é possível educar as crianças e os jovens e promover o entendimento na família. Assim, todo mundo sai ganhando: o jovem, a família, a escola e a comunidade.
Dúvidas de pais Será que estou educando meu filho direito? Como lidar com os filhos adolescentes e jovens? Essas questões já atormentavam o casal Sonia Maria Ariovaldo há trinta anos. Na época, eles tinham três filhas – nos anos seguintes, vieram mais duas – e decidiram participar de um círculo de debates promovido pela Escola de Pais do Brasil, uma organização não-governamental que auxilia pais na educação dos filhos. Sonia, professora de inglês, e Ariovaldo se envolveram totalmente e, de lá para cá, vêm ajudando outras famílias a refletir sobre o papel educativo dos pais. “Vesti a camisa”, diz Sonia, que, junto com o marido, preside a Escola de Pais do Brasil há seis anos. Com sede na capital paulista, a organização tem hoje cerca de 120 escolas de pais espalhadas por todo o País que atuam principalmente em escolas, mas também em empresas, centros comunitários e paróquias. Por meio de uma série de debates orientados, com duração de dez semanas, um casal voluntário discute com os participantes a paternidade e a maternidade
responsáveis, o preparo para um mundo em constante mudança e o reforço da família. Em 2006, foram realizados 234 círculos de debates em diversas cidades brasileiras, com a participação de 8.616 pais e mães. “Indiretamente, atingimos 12.307 filhos”, calcula Sonia. A organização trabalha para que os pais entendam seu papel na educação dos filhos. “A escola é informativa, mas a formação de cidadão acontece na família”, afirma Ariovaldo. “Tudo começa na família. Ela é a ‘célula’, o começo de tudo”, diz Sonia, para quem os pais não podem se esquecer de que estão preparando a sociedade do futuro. Ela reconhece, entretanto, que a tarefa dos pais não é fácil. “Acho que estão um pouco perdidos. Em primeiro lugar, estão mais ausentes, em função da corrida no mercado de trabalho, da falta de tempo, da
Por _ Eliza Muto
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Canal de comunicação A mesma receita de diálogo foi empregada por Cleiton Torres no projeto “Ligando as Cores”, implantado pelo professor de artes no Centro de Ensino Fundamental 2 – mais conhecido como Escola Paroquial –, em Planaltina, no Distrito Federal. Desde 2004, o projeto envolve os alunos e suas
famílias na discussão e reflexão sobre temas relevantes para a comunidade. O projeto já abordou o preconceito, a preservação do meio ambiente e a violência, usando textos, cores, músicas e representações. Para envolver os pais e as mães, Cleiton criou uma “mala-direta” entre a escola e a família por meio de questionários enviados, por intermédio dos alunos, para as casas. Dessa forma, pais e filhos tiveram a oportunidade de conversar sobre racismo, refletir sobre a importância da preservação do patrimônio e discutir formas de superar a violência. Em contrapartida, a “mala-direta” despertou o interesse dos pais pela escola. “Como não temos condições de trazer os pais para a escola o tempo todo, em função do trabalho e dos compromissos, nós fizemos o contrário”, diz o professor de artes. Ou seja, levaram um pouco das questões da escola para serem discutidas pela família.
Professor Cleiton Torres, de Planaltina, autor de projeto que integra os pais dos estudantes: escola como espaço de mudança educacional
Felipe Barra
pressão da sociedade. Além disso, o modelo familiar vem mudando nos últimos anos, em função de vivermos em uma sociedade diversificada cultural e socialmente.” Mas, ao testemunhar as dificuldades que suas filhas enfrentam para criar seus três netos, o casal percebe que, apesar de todas as mudanças, hoje a família tem à disposição mais recursos para se adaptar a esse novo modelo familiar, como livros e cursos sobre a criação de filhos. Para os pais de jovens e adolescentes, a dica do casal: é preciso tentar ouvir, dialogar e entender qual é o problema. Isso não significa, de acordo com Sonia, que os pais têm de ser os melhores amigos dos filhos – uma idéia muito comum hoje em dia. “Antes de tudo, eles têm de ser pais. E preparar os filhos para serem amigos.” O maior erro é se acomodar, diz Sonia. “Tem de acompanhar o filho vida afora”, resume.
Embora atualmente lecione no Centro de Ensino Fundamental Nossa Senhora de Fátima, também em Planaltina, e não participe mais do projeto na Escola Paroquial, o professor plantou lá a semente de sua convicção: “Nós temos condições de desenvolver um trabalho que faça diferença na educação, e a escola é o grande canal”. Tudo começou em 2003, quando Cleiton percebeu que os professores e os alunos mais antigos da Escola Paroquial, oriundos de bairros mais tradicionais, não aceitavam muito bem os estudantes que vinham da periferia. No ano seguinte, após apresentar a idéia à diretoria, Cleiton realizou um censo racial da escola para saber de onde vinham seus alunos. A partir daí, envolveu os outros professores. “Todas as disciplinas são integradas ao projeto, e os estudantes também são avaliados, para que a escola tenha noção do que foi aprendido por eles”, diz. A relação entre a família e a Escola Paroquial foi ainda mais estreitada em 2005, quando o tema trabalhado foi o meio ambiente. Naquele ano, os estudantes discutiram o valor dos bens culturais para a identidade de Planaltina – no caso, a própria escola, a mais antiga da cidade-satélite de Brasília. Com o apoio do projeto Tesouros do Brasil, patrocinado pela Fundação Fiat, os estudantes não só levantaram documentos e imagens do passado e descobriram projetos pedagógicos desenvolvidos em sua história, como também envolveram toda a comunidade de Planaltina –, incluindo suas famílias. Afinal, a Escola Paroquial sempre esteve presente na vida da comunidade, e os pais da maioria dos alunos também estudaram lá, diz Cleiton. “Esse é um trabalho coletivo. Quando todos atuam juntos, a idéia acontece. E, no fim, todo mundo ganha em termos de valorização humana”. O professor acredita, no entanto, que o envolvimento dos pais com a educação dos filhos nas escolas poderia ser ainda maior. “A escola ainda não sabe o que fazer com os pais”, avalia. Para ele, sempre que a família é solicitada a participar nas
formadora de jovens multiplicadores de educação sexual: informação aos pais abranda tensões familiares
atividades educativas, ela participa. “Acredito que a escola tem de rever como quer o envolvimento dos pais. Ela não compartilha com a família seu sucesso, somente o seu fracasso.” Cumplicidade A economista Elisabeth Ferraz acredita que é essencial contar com esse envolvimento dos pais no trabalho desenvolvido com os jovens na Bemfam – Bem-Estar Familiar no Brasil –, organização não-governamental que atua na área de educação e assistência em saúde sexual e reprodutiva, com presença em 14 estados. “É fundamental ter a cumplicidade da família”, diz Elisabeth, coordenadora do Departamento de Pesquisas Sociais da Bemfam e uma das responsáveis pelo ProJovem, programa da entidade dirigido a adolescentes e jovens. “Em 1993, desenvolvemos um projeto de educação sexual em parceria com as escolas. Ao longo do tempo, foram surgindo outros projetos de promoção da cidadania, dos direitos e da saúde, e o programa foi oficialmente instituído em 1999”, conta Elisabeth. Hoje, o programa dispõe de sete Centros de Jovens instalados em Fortaleza (CE), São Luís (MA), João Pessoa (PB), Recife (PE), Natal (RN), Rio de Janeiro (RJ) e Florianópolis (SC). Neles, jovens de 10 a 24 anos têm acesso a biblioteca, computadores, material educativo e orientação com
Rodrigues Moura
A carioca Elizabeth Ferraz,
profissionais das áreas de saúde e educação, assim como a preservativos. Além disso, nesses centros, a Bemfam trabalha na formação de jovens multiplicadores que vão divulgar atitudes e práticas saudáveis para outros jovens e também para seus pais. Em cada centro, atuam 20 multiplicadores de ambos os sexos, com idades de 14 a 24 anos. “Os estudos mostram que o trabalho de multiplicação de jovem para jovem é muito melhor, principalmente nas questões de sexualidade. Os jovens aprendem e discutem com os amigos”, diz Elisabeth. Mas a família também acaba sendo beneficiada nesse processo. A equipe do programa percebeu que, em geral, os familiares têm dificuldade de abordar assuntos relacionados à sexualidade com os adolescentes. “Alguns pais acham que podem incentivar ou precipitar o início da vida sexual se conversarem sobre esses assuntos com os filhos. Acreditam que, quanto menos eles falarem sobre isso, mais tarde os adolescentes iniciarão a vida sexual”, afirma a economista. Por isso, muitos avaliam que é mais confortável ter à disposição um espaço para falar sobre essas questões, como o Centro de Jovens. Ao mesmo tempo, os próprios pais também têm necessidade de saber mais sobre métodos anticoncepcionais, gravidez, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). E eles
para fazer
aprendem com os filhos, que contam em casa o que ouviram e discutiram no Projovem. Eles se tornam agentes multiplicadores na família. Além disso, a Bemfam desenvolve, em parceria com escolas públicas, um projeto de educação sexual e reprodutiva. As ações envolvem a capacitação de professores – que são estimulados a tratar de eqüidade de gênero, contracepção e DSTs na sala de aula –, a formação de um grupo de alunos multiplicadores e a sensibilização da família. Em 2006, o projeto atingiu, em escolas de Natal, Recife e João Pessoa, 40 mil jovens e suas famílias. “O trabalho com os pais é muito importante. Às vezes, existe conflito dentro de casa por falta de informação por parte dos pais”, diz Elisabeth. “Depois que participam de vivências, eles começam a ver a questão com outra ótica e, em muitos casos, há um abrandamento das tensões familiares.”
contato
Bemfam – Bem-Estar Familiar no Brasil. Tel.: 21/3861-2400. Fax: 21/ 3861-2469. Av. República do Chile, 230/17º andar, Centro, Rio de Janeiro, RJ – CEP 20.031-170. Site: www.bemfam.org.br Escola de Pais do Brasil Site: www.escoladepais.org.br Professor Cleiton Torres e-mail: cleiton.torres@zipmail.com.br
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QUATRO PROGRAMAS INVESTEM NO SUPORTE FAMILIAR PARA PROTEGER OS JOVENS
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banco de práticas
Por_Valmir Rodrigues
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indesejada, trabalho em situação insalubre e outros tantos desafios. O apoio ao núcleo familiar para responder a esses desafios e, por extensão, fortalecer a comunidade norteia as atividades de organizações que ajudam famílias e seus membros a lidarem com assuntos tão delicados. Este é o caso da Associação Brasileira Terra dos Homens, do Rio de Janeiro, que iniciou suas atividades no Brasil em 1982. Inicialmente como um programa afiliado à Fondation Terre des Hommes, da Suíça, em 1997 tornou-se uma instituição independente. Desde então, a ABTH beneficiou cerca de 11.000 crianças e adolescentes. Seguindo proposta semelhante, em São Paulo, desde 1983, o Centro de Estudos e Assistência à Família – CEAF oferece atendimento psicológico preventivo, terapêutico e também socioeducacional gratuitos para famílias de baixa renda. Já em Fortaleza, a Fundação da Criança e da Família Cidadã (FUNCI), órgão da prefeitura municipal, desenvolve diversos mecanismos de promoção dos direitos e proteção integral, com envolvimento de toda a família, especialmente a participação efetiva de crianças e adolescentes. Com presença em quase todos os estados do Brasil, além de representações na Argentina e no Uruguai, os grupos de apoio Amor-Exigente fomentam encontros nos quais os próprios membros se ajudam, na tentativa de mudar seus comportamentos e atitudes relativos ao uso de drogas. Leia a seguir um pouco mais sobre o trabalho dessas organizações, que atuam no mesmo sentido: o do fortalecimento do núcleo familiar e comunitário em direção ao desenvolvimento da sociedade.
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Se a juventude é o momento de sair para o mundo, ganhar a vida e conquistar mais autonomia, todo jovem deveria ter o “direito” de encontrar em casa um porto seguro, a base para sua sustentação emocional e social, pois é a família que, teoricamente, absorveria os impactos do mundo externo sobre seus filhos. Mas nem sempre ela dá conta dessa responsabilidade, num quadro complexo que abrange situações de vulnerabilidade social, como vivência de rua, violência, uso de drogas e bebidas, abuso e exploração sexual, gravidez
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BASES DE APOIO
Rio de Janeiro
Associação Brasileira Terra dos Homens
São Paulo
Programa Caminhando do Centro de Estudos e Assistência à Família
Restabelecimento da convivência familiar e comunitária de crianças e adolescentes que estejam separados ou em vias de separar-se de suas famílias, vivendo em instituições de abrigo, nas ruas, ou em contexto de violência doméstica. Este é um dos eixos de atuação da Associação Brasileira Terra dos Homens. Todo o trabalho é voltado para a potencialização do núcleo familiar, como um espaço privilegiado que permite o pleno desenvolvimento físico, psicológico e emocional do indivíduo. “A ABTH acredita que uma família capaz de defender seus direitos e exercer sua >>
Fundado em 1983, o Centro de Estudos e Assistência à Família (CEAF) presta atendimento psicológico preventivo, terapêutico e também socioeducacional gratuitos para famílias de baixa renda. Do ponto de vista da ong, o abandono e a negligência com crianças e adolescentes, abuso e violência, uso de drogas, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência são problemas que podem ser amenizados com ações preventivas. Este é o foco do programa Caminhando, que há 10 anos trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco social >>
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Fortaleza
Programa Família Cidadã da FUNCI
Brasil
Amor-Exigente
Uma ação eficaz na vida de crianças e adolescentes é indissociável do atendimento às famílias. Este é o conceito que permeia as ações da Fundação da Criança e da Família Cidadã (FUNCI), órgão da prefeitura de Fortaleza, que desenvolve diversos mecanismos de promoção dos direitos e proteção integral de crianças e adolescentes, entre eles o Família Cidadã e o Programa de Atendimento Psicossocial Integrado. O primeiro é um programa de proteção social destinado a famílias com crianças e adolescentes de até 17 anos, que estejam em situações >>
Os grupos da Amor-Exigente (AE) são núcleos de apoio à família nos quais os próprios membros se ajudam, na tentativa de mudar seus comportamentos e, conseqüentemente, os comportamentos dos seus pares, apoiando e orientando em especial as famílias que tenham dependentes químicos. Além disso, buscam desenvolver e colaborar com programas e instituições que se ocupem da prevenção. Pedro Simões, ex-coordenador do grupo Redentor, no Rio de Janeiro, explica a dinâmica da instituição. “O grupo de jovens Redentor >>
>> cidadania passa a participar ativamente da sua comunidade. E se torna a grande resposta social ao problema que milhares de crianças e adolescentes vivenciam pela falta de proteção familiar”, diz Claudia Cabral, diretora-executiva. Os programas de reintegração familiar e comunitária da ABTH estão voltados essencialmente para crianças e ado-
>> e pessoal. O programa cria espaços protegidos para o questionamento da sexualidade, das demandas e necessidades singulares que precisam ser elaboradas, tendo um adulto ou orientador na relação com o grupo. São encontros semanais com uma hora e meia de duração, durante um trimestre, um semestre ou um ano, em
>> de vulnerabilidade social. Trata-se também de um programa de renda mínima vinculada a ações de apoio à emancipação, por meio de programas e serviços de assistência social, atendimento psicológico, saúde, educação e geração de trabalho e renda. Em 2007, mais de 500 famílias foram atendidas, seja por meio de encontros
>> trabalha a prevenção e a recuperação de forma conjunta, sem separá-las. Para juntar jovens com interesses aparentemente tão diferentes, foi preciso mudar o enfoque. O grupo não trabalha com drogas e sim, com vida. Não trabalha com problemas e sim com soluções. Dessa forma, independentemente de o jovem ter envolvimento com drogas
Crescer com Arte, no qual jovens e adolescentes são convidados a expressar seus anseios por meio de atividades artísticas, como grafite, música, teatro, percussão e serigrafia. A fundação é responsável ainda pelo Agente Jovem em Fortaleza, que atende 1.650 jovens entre 15 e 17 anos, moradores dos bairros de menor IDH.
ou não, a proposta se aplica da mesma forma: a qualidade de vida pode e deve ser buscada por todos.” Segundo Pedro, foi importante dar protagonismo aos jovens. Ao cuidar das tarefas do grupo, como coordenação, tesouraria, palestras, eles aprendem a ser responsáveis e se sentem úteis, valorizados. Jorge Gasparello, orientador do grupo, diz que
a abordagem pela qualidade de vida tem ampla aceitação dos participantes. “O espelhamento, com cada um se vendo no lugar do outro, seja num trabalho de prevenção ou de recuperação, tem ajudado bastante no alcance dos objetivos. As pessoas percebem que todos têm problemas e dificuldades, entendendo que podem e devem voltar ao convívio normal”.
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mensais, seja por visitas domiciliares. Já o Programa de Atendimento Psicossocial Integrado proporciona suporte psicossocial a crianças e adolescentes, incluindo o trabalho com suas famílias, e promove a valorização do sujeito, o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários e a ampliação da cidadania. Destaca-se também o projeto
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análise, discussão e solução de seus problemas. Nosso objetivo é fortalecer o indivíduo enquanto sujeito de seu próprio destino”, diz Maria Isabel Dias, presidente da ong. O programa inclui ainda seminários e palestras com profissionais especializados nos temas de interesse do grupo, bem como encontros com as equipes das instituições parceiras.
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grupos, em instituições, ou na sede do CEAF. O programa inclui reuniões com as famílias para integrá-las aos projetos, acolher suas dúvidas e dificuldades, possibilitar reflexão sobre seu papel no desenvolvimento dos filhos, resgatar o amor próprio, os valores familiares e a cidadania. “Acreditamos na importância da participação ativa das pessoas na
reassumir seus filhos. O conceito e a metodologia de gestão do programa Família Acolhedora foram utilizados como base para políticas públicas na cidade do Rio de Janeiro, por seis anos, e de Niterói, durante dois anos. Além disso, têm servido de parâmetro para outras iniciativas em diversos estados do País.
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lescentes em situação de rua ou de abrigo. Outra vertente é o programa Família Acolhedora, voltado a crianças e adolescentes submetidos à violência doméstica. Neste caso, os filhos são afastados provisoriamente e abrigados em outra família. O objetivo não é a adoção, mas o trabalho com a família de origem até que ela possa
PROJETO REINTEGRAÇÃO FAMILIAR E COMUNITÁRIA DA ASSOCIAÇÃO TERRA DOS HOMENS ÁREA DE ATUAÇÃO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PROPOSTA Promover a reintegração familiar e comunitária de crianças e adolescentes em situação de risco social, por meio de um trabalho psicológico e social com suas respectivas famílias, fortalecendo assim os vínculos familiares. JOVENS ATENDIDOS 11.000 crianças e adolescentes atendidos desde 1997. APOIO Unicef Brasil, agência suíça Fondation Terre des Hommes, Secretaria Especial de Direitos Humanos, Instituto Camargo Corrêa, Instituto C&A, Fundação Avina, Fundação Air France, Ashoka, “Instituto e” e agência Red Café. CONTATO Av. General Justo, 275, sala 518, Centro, Rio de Janeiro, RJ. CEP: 20021-130. Tel: 21/ 2524-1073. E-mail: terradoshomens@terradoshomens.org.br. Site: www.terradoshomens.org.br
CAMINHANDO, DO CENTRO DE ESTUDO E ASSISTÊNCIA À FAMÍLIA ÁREA DE ATUAÇÃO CIDADE DE SÃO PAULO PROPOSTA Criação de espaços adequados e protegidos para adolescentes, a fim de facilitar o questionamento da sexualidade e de outras demandas e necessidades. A intermediação é feita por um adulto orientador. JOVENS ATENDIDOS 255 adolescentes atendidos em 2007, 192 deles na faixa de 15 a 21 anos. APOIO Associação Profissionalizante BM&F, Obra Social Franciscana Pio XII e Centro de Promoção e Atenção à Saúde do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis. CONTATO Rua Japuanga, 235, Alto da Lapa, São Paulo, SP. CEP: 05455-010. Tel: 11/ 3022-9596. Fax: 11/ 3022-3840. E-mail: ceafpsi@uol.com.br. Site: www.ceaf.org.br
FAMÍLIA CIDADÃ, DA FUNDAÇÃO DA CRIANÇA E DA FAMÍLIA CIDADÃ (FUNCI) ÁREA DE ATUAÇÃO CIDADE DE FORTALEZA PROPOSTA Oferecer proteção social a famílias com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social JOVENS ATENDIDOS Mais de 500 famílias atendidas em 2007 APOIO Prefeitura Municipal de Fortaleza. CONTATO Rua Pedro I, s/n, Cidade da Criança, Fortaleza, CE. CEP: 60733-395. Tel: 85/ 3452-2324. E-mail: funcipmf@yahoo.com.br. Site: www.funci.fortaleza.ce.gov.br
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GRUPOS DE AMOR-EXIGENTE ÁREA DE ATUAÇÃO EM QUASE TODOS OS ESTADOS DO BRASIL, ALÉM DE ARGENTINA E URUGUAI PROPOSTA Apoiar e orientar famílias que tenham dependentes químicos entre seus membros, principalmente os jovens, e incentivar voluntários a trabalhar nesta linha em suas comunidades, entre outras atividades. JOVENS ATENDIDOS Há cerca de 800 grupos de apoio a famílias. APOIO Contribuições voluntárias. CONTATO Tel: 19/ 3252-2630. E-mail: info@amorexigente.org.br. Site: www. amorexigente.org.br
VÍNCULOS EM MUTAÇÃO DO PERÍODO COLONIAL AO CONTEMPORÂNEO, A ORGANIZAÇÃO DA FAMÍLIA BRASILEIRA VEM MODIFICANDO AS RELAÇÕES DE SANGUE E DE AFINIDADE Maria é filha de pais separados: sua mãe, Iara, casou de novo com outro homem, Marcelo, e seu pai, João, se casou com outra mulher, Célia. Cada um deles, Marcelo e Célia, tinha um filho, Julio, e uma filha, Sandra, dos casamentos anteriores. Julio ficou morando com sua mãe, Beatriz, e Maria ficou morando com sua mãe, Iara, e Marcelo; Sandra ficou morando com a mãe, Célia, e seu novo marido, João. Qual é a família de Maria, Julio e Sandra? É claro que Sandra continua a visitar seu pai, Luís, e que Julio continua a visitar seu pai, Marcelo, mas Julio mora só com sua mãe, Beatriz, e Maria e Sandra agora têm um padrasto. Parece complicado, não? Mas quantos de nós conhecemos arranjos familiares semelhantes? Se quisermos acrescentar os avós biológicos dessas crianças, e os ‘avós adotivos’, que elas ganharam com o
Por _ Mariza Corrêa
novo casamento de seus pais, o número de familiares com quem elas se relacionam aumenta ainda mais – e aumenta também o número de unidades domésticas pelas quais elas circulam. Como definimos, então, o que é família, se o modelo biológico, bíblico e psicanalítico papai-mamãe-filhos já não parece mais ser o único existente na nossa sociedade?
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Família e história
Em todas as sociedades humanas, as pessoas se utilizam dos laços de sangue (consangüinidade) e dos laços de aliança, ou casamento (afinidade), para definir quem é e quem não é seu parente. Dito assim parece simples, mas, na realidade, a maneira como se definem os consangüíneos e os afins varia muito de sociedade para sociedade. E varia também historicamente, em cada sociedade. No Brasil, muitos autores acreditavam que, no início de sua colonização, o que se entendia por família era a chamada família patriarcal, vigente nas fazendas de plantação de cana-de-açúcar: o pai era a autoridade máxima da família, que era composta não só por sua
mulher e seus filhos, mas também por uma série de outros parentes, além dos agregados e escravos – ele podia punir, e até mandar matar, as pessoas sob sua jurisdição, sem ser contestado. Este é o modelo presente na obra Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre. Depois de muita pesquisa, o quadro ficou mais matizado: percebeu-se, por exemplo, que entre os escravos, e apesar das enormes dificuldades enfrentadas por eles em sua sociabilidade, também havia laços familiares, e que esses laços podiam se perpetuar por várias gerações; que entre os pobres, livres, havia um grande número de famílias compostas apenas pelas mães e seus filhos – como há até hoje no Brasil, agora em todas as camadas sociais, e que o número de casais legalmente casados era de fato muito pequeno e restringia-se às famílias da elite. Descobriu-se também que, nessas famílias da elite, eram relativamente comuns os casamentos entre primos, ou entre tios e sobrinhas, o que era uma estratégia para manter a herança nas mãos de uma mesma família. Família, de fato, era muitas vezes mais sinônimo de grupo político que de grupo de parentesco. Isso persiste até hoje, embora seja cada vez menos comum: basta ler a página política dos jornais para perceber como algumas famílias ainda dominam o cenário político em várias localidades do País. Surge a família nuclear Nas descrições da História e das Ciências Sociais sobre a história da família no Brasil, passou-se, primeiro, do modelo de família patriarcal para o modelo de família nuclear – isto é, composta apenas por pai, mãe e filhos, e que teria vigência não mais nas grandes propriedades de terra, mas agora nas zonas urbanas do País. Mais uma vez, as pesquisas apontaram para imensas variações desse modelo, não só em exemplos como os citados acima, das famílias de Maria, Júlio e Sandra, como em outros exemplos, alguns mais comuns, outros menos, existentes em nossa sociedade.
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Ângulo 1
A família é uma instituição que se transforma ao longo da história, e cada época tem uma variedade de modelos de organização
Exemplos mais comuns são o grande número de jovens adolescentes que engravidam de um namorado e que, sem recursos para constituir família, vivem, com ou sem o namorado, com seus pais, ou com os pais dele. Exemplos menos comuns são os de casais gays – homens e mulheres – que adotam crianças, ou que passam a criar seus filhos biológicos com novos companheiros ou companheiras do mesmo sexo. Menos comuns ainda são os exemplos de pessoas de alto poder aquisitivo que procuram médicos especialistas no que se chama de novas tecnologias reprodutivas – o que vai desde o ‘aluguel’ ou o ‘empréstimo’ de uma barriga, até o uso de tecnologias muito sofisticadas para implante de óvulos no útero de uma mulher, quando o casal não consegue ter filhos. Todos viram nos jornais a notícia recente de uma mulher que gestou os filhos de sua filha – seus netos, portanto –, porque a filha não conseguia engravidar. Essa senhora é mãe ou avó de seus filhos/netos? Certamente vai se comportar como avó, mesmo tendo dado à luz essas crianças. Esse é apenas um dos exemplos de aplicação das novas tecnologias reprodutivas. Há, ainda, um aspecto sombrio das relações familiares, que apenas recentemente está sendo analisado pelas pesquisas em ciências sociais – o da violência dentro da família. Várias pesquisas têm mostrado que, ao contrário do senso comum, promovido pelas campanhas do dia das mães, dia dos pais, dia da criança, a família não é um universo de paz, amor e tranqüilidade, mas é, antes, um cenário de disputas e conflitos que pode até resultar em morte. Notícias a respeito da morte de filhos pelos pais e de pais pelos filhos – para não falar da morte entre casais, já analisada há mais tempo pela literatura – vêm chamando a atenção dos analistas, que se perguntam por que um número tão pequeno dos acusados das mortes em família vai a julgamento. Talvez a Justiça esteja reconhecendo, tacitamente, que há muitas tensões presentes em relações tão delicadas e complicadas? Nuances contemporâneas Esse quadro geral, pintado com pinceladas muito grossas, não dá conta, é claro, de todas as nuances com que tanto a história da família como a família contemporânea merecem ser olhadas para se aprofundar o seu estudo – seria preciso pensar, com mais cuidado, nas diferenças existentes entre famílias urbanas e rurais, ou entre essas famílias e as famílias existentes nas sociedades indígenas, muito bem
estudadas, todas elas, por antropólogos, sociólogos e demógrafos. Seria preciso, também, avaliar com mais precisão as conseqüências das diferenças de classe e de raça, bem como as de educação e religião – e, claro, observar mais de perto a situação das mulheres –, a fim de termos um retrato mais refinado do que significa família no Brasil. No que diz respeito à contribuição das mulheres ao trabalho familiar, seria importante pensar tanto no fato de que a carga das mulheres é cinco vezes maior que a dos homens
Mariza Corrêa é antropóloga, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero/Pagu, da Universidade de Campinas. É autora do livro “Morte em Família” (1983). E-mail: correa.mariza@uol.com.br
Mas não são só as diferenças que interessam aos antropólogos, ainda que elas sejam o alvo principal de seus estudos. As semelhanças também são interessantes para se pensar. Claude Lévi-Strauss, o antropólogo francês que passou algum tempo entre nós e deixou um legado duradouro de pesquisa, até hoje explorado por muitos pesquisadores brasileiros, fez uma observação interessante a respeito de um índio Bororo que encontrou: “sujo, mal alimentado, triste e solitário”, porque era solteiro. Ainda que o número de solteiros e de casados no País permaneça estável, 69% dos entrevistados numa pesquisa recente do Datafolha afirmaram que a família é a instituição mais importante de todas – e os números mostram que os brasileiros são os que mais se casam na América Latina.
Ou seja, apesar de todas as transformações sofridas pela própria noção de família, ou talvez por isso mesmo, as pessoas ainda usam o exemplo da família como modelo de sua sociabilidade básica: quando um amigo é muito próximo, não dizemos que ele é um ‘irmão’? As professoras não são chamadas de ‘tias’ pelos alunos? Ou quando alguém, homem ou mulher, é muito generoso com outro alguém, não dizemos que é uma ‘mãe’? Para não falar dos ‘pais’ da pátria...
amanda perobelli
no trabalho doméstico, como no fato de que as mulheres são absoluta maioria no trabalho doméstico assalariado – e são, em sua maioria, negras (babás, empregadas, faxineiras, etc.). A violência contra essas mulheres, seja pelos seus patrões, ou filhos dos patrões – como aconteceu recentemente no Rio de Janeiro, numa agressão à mulher que estava num ponto de ônibus, por parte de meninos da classe média –, ou por seus companheiros, também já está bem documentada pelas pesquisas feitas no País.
“Meu pai já tinha sido casado e tinha tido um filho quando casou com minha mãe. Hoje, os dois são separados e têm novos companheiros. O companheiro da minha mãe tem filhos. A companheira do meu pai também. Então minha irmã e eu fazemos parte de um grupo familiar maior, convivemos com várias famílias. Não é sempre, mas de vez em quando, como em época de férias ou na festa de passagem de ano, quando alguns de nós estamos juntos. No geral, acho positivo. Porque você vê o jeito dos seus pais, dos seus avós de um lado e de outro, e ainda os jeitos das outras famílias dos seus pais, com parâmetros, costumes diferentes. E há muito assunto, mais histórias. Isso é legal, acho que abre a cabeça. Problemas? Às vezes tem umas pressões. Por exemplo, para não paquerar a filha de alguém que faz parte do grupo. Outras vezes há muita opinião, me sinto um pouco confuso, dividido. Como na questão da faculdade. Faço Psicologia, mas estou procurando outras coisas também. Aí tem a família do meu avô do lado da minha mãe, mais de direita. Já o meu pai foi meio hippie, a família é mais de esquerda. Eu ainda não sei...”
Lucas Ribeiro Arruda, 19 anos, estudante de Psicologia
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Família e juventude
O ABALO JUVENIL Por _ Cynthia A. Sarti
O LUGAR DO JOVEM É O DE QUEM TRAZ ESTRANHAMENTOS PARA A FAMÍLIA, CUJAS REAÇÕES SÃO DECISIVAS PARA A SUA BUSCA DE IDENTIDADE
Quando trabalhamos com o tema da família, uma das dificuldades é a excessiva proximidade. Pela forte identificação da família com o que somos, confundimos facilmente família com a “nossa” família. A tendência a projetar a família com a qual nos identificamos no que é (ou deve ser) a família nos impede de enxergar outros pontos de vista. Abordar a família exige um esforço de estranhamento, nem sempre fácil, quando estão em jogo referências culturais e sociais diferentes das nossas. Espelhar a realidade externa naquilo que é “familiar” significa traduzir o “estranho” em termos
conhecidos, sem procurar escutá-lo e entendê-lo em sua maneira de explicar a si mesmo. A exigência desta vigilância acentua-se quando se trabalha com problemas de família, pelas intensas questões emocionais que o tema suscita e mobiliza. Para evitar tais dificuldades, propomos pensar a noção de família com base no sentido a ela atribuído por quem a vive, considerando-a um
mas a todos os seus membros, ao longo de suas vidas. “Crescer”, assim, desvincula-se do mero processo biológico e constitui, também, um processo simbólico. As condições favoráveis para que uma criança “cresça” ou um jovem se desenvolva na família se ampliam quando seu pai, sua mãe, ou quem dele cuide possa se pensar como alguém em permanente crescimento, em cada novo lugar que ocupe na família. Crescer significa poder relativizar as referências familiares, o que permite, no mundo moderno, o processo de singularização do indivíduo. Este processo atualiza-se constantemente e diz respeito não apenas ao indivíduo com relação à sua família, mas às formas alternativas de organização familiar diante dos “modelos” legitimados do ponto de vista social. O “crescimento” é, portanto, entendido não verticalmente, mas horizontalmente, como mudanças de lugares.
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Ariel Neets/SambaPhoto
ponto de vista. Para isto, sugere-se uma abordagem de família como um mundo de relações – entre cônjuges, entre gerações, entre irmãos, etc. – que se organizam de distintas maneiras e não, um “modelo” a ser seguido. A família delimita-se pela história que conta aos indivíduos desde que nascem, por meio de palavras, gestos, atitudes ou silêncios, e que será por eles re-significada, à sua maneira. Cada família constrói sua própria história, ou seu próprio mito, no qual se expressam o significado e a explicação da realidade vivida, com base nos elementos acessíveis aos indivíduos na cultura e na sociedade em que vivem. Mitos familiares imprimem marca à família, herança a ser perpetuada. Pensar a família como uma realidade constituída pelo discurso sobre si própria, que explica sua própria configuração, é uma forma de buscar uma definição que não se antecipe à família, mas permita partir de como a família constrói, ela mesma, sua noção de si, supondo evidentemente que isto se faz dentro dos parâmetros coletivos do tempo e do espaço em que se vive. Quando ouvimos as primeiras falas, não aprendemos apenas a nos comunicar, mas, acima de tudo, captamos uma forma de ordenar o mundo, segundo as regras da sociedade. É na família que começa esse processo de socialização. A família é o lugar onde se ouvem as primeiras falas com as quais se constrói a auto-imagem e a imagem do mundo exterior. Seja qual for sua configuração, a família é o filtro através do qual se começa a ver e a significar o mundo, processo que se prolonga a partir dos diferentes lugares que se ocupa na família. Esta concepção permite pensar o processo de “crescimento” na família como uma questão que diz respeito não apenas às crianças,
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“Filhos, principalmente jovens, são uma provocação! Eles nos obrigam a olhar para as coisas de jeitos sempre inusitados. Trazem o mundo transformado para dentro de casa, chacoalham nossas certezas, nos obrigam a repensar tudo que julgávamos resolvido, nos ajudam a ver coisas de dentro e de fora. Cê, minha caçula de 16 anos, recentemente me trouxe a Tailândia – e a meditação, o budismo, jeitos exóticos e até a idéia de comer grilos! Quando o mais velho, Pedro, apareceu pela primeira vez com alguém para dormir, me mostrou que noras não precisam ser ameaçadoras, podem ser filhas queridas. Dos outros dois filhos recebi toques valiosos. Num momento de crise com meu marido, Maria me disse: ‘Mãe, escuta, você é legal, tem uma profissão legal, as pessoas gostam de você e você fica aí se resumindo a uma crise...’. E o Jonny quis me virar do avesso: ‘Mãe, por que você não conseguiu me impedir de largar a Faculdade de Economia?’ E por que mesmo? Será que eu não consegui, será que eu tive medo, quis evitar a briga? Por histórias como essas nunca pude entender como alguém se entedia criando filhos ou lastima a rotina, a mesmice... Filhos são os melhores antídotos contra a rotina!”
Arquivo Pessoal
A IDEALIZAÇÃO DO MUNDO FAMILIAR DIFICULTA A PERCEPÇÃO DE QUE O JOVEM AFIRMA-SE AO SE OPOR, FAZENDO DO CONFLITO ALGO NECESSÁRIO AO SEU PROCESSO DE TORNAR-SE SUJEITO
Adília Belotti,
editora de um portal da Internet, é mãe de Pedro, 25, João, 24, Maria, 19, e Celina, 16 anos
O lugar do jovem As fronteiras da família, delimitadas pela história que vai sendo contada aos indivíduos ao longo de suas vidas, são, entretanto, permanentemente redefinidas pelas várias mensagens que lhe chegam, vindas do mundo de fora. Além disso, cada um conta esta história do seu jeito. O discurso muda não apenas de acordo com quem fala, mas também em relação a quem se fala. Nessa linha de argumentação, pretende-se sugerir o lugar do jovem na família como aquele de quem introduz um outro ponto de vista, por meio de novos discursos que abalam o “discurso oficial” da família sobre si mesma. As reações da família, de fechamento ou de abertura diante dos “estranhos”, são decisivas para o jovem, em busca de identidade própria, que se constrói pelas referências de alteridade com as quais se enfrenta. A disponibilidade e a definição dos limites da família para deixar entrar, aceitar, rejeitar, enfim, lidar com estes “outros” do mundo jovem, sem ignorá-los, serão determinantes para as relações do jovem com a família. Os jovens necessitam falar de si no plural, recriando “famílias” fora de seu âmbito familiar de origem, por meio dos vários grupos de pares com os quais convivem, em torno de atividades culturais, como a música (rock, rap) e outras formas de expressão
juvenis no espaço público. Essas experiências evidentemente variam: têm a marca da condição social e respondem aos recursos simbólicos e materiais disponíveis para cada família. É fundamental mencionar os meios de comunicação – televisão, publicidade, Internet –, por criarem referências de identidade para os jovens que a família tampouco pode ignorar, dada a exposição de todos os segmentos sociais a suas mensagens. Isto é particularmente importante diante do risco, a que estamos todos expostos, de que a relação com os meios de comunicação substitua as relações entre as pessoas. Mesmo presentes, elas passam a não se relacionar entre si, pois estão conectadas aos meios e não umas às outras, sobretudo nas famílias que têm recursos econômicos para dispor, de forma ampla, de tecnologia e acesso à Internet. Cabe observar o fato de que, em nossa sociedade, o período da adolescência e da juventude não corresponde a lugar definido algum. Na ausência de rituais que instituam esse momento como uma preparação para uma nova posição social, o jovem vive seu lugar como o da contestação, como um “outro” lado, em contraposição ao mundo adulto. Ele é não-mais-criança e não-adulto e, freqüentemente, considerado um problema para o mundo adulto.
Há uma tendência a localizar no jovem as situações indesejáveis na família, eximindo o mundo adulto de nelas se incluir
Pode-se supor, portanto, que no lugar socialmente designado para o adolescente e o jovem há uma projeção do mundo adulto, em sentidos distintos. Primeiro, como objeto das expectativas familiares, os jovens têm os rumos de suas vidas traçados por seus pais de forma a cumprir o que a família espera para si. São conhecidos os conflitos deflagrados pela resistência dos jovens a concretizar esta forma de herança e de perpetuação de sua “família”. Gostaríamos, no entanto, de chamar a atenção para outra forma de projeção que se refere à tendência a localizar no jovem o indesejável na família. Aos jovens se atribuem as situações que configuram problema para a família, eximindo o mundo adulto de nelas se incluir. Grande parte da dificuldade de lidar com as questões juvenis, em especial aquelas ligadas à sexualidade, a escolhas ou indagações existenciais, tem a ver com o fato de que tocam em pontos difíceis para os pais, em suas próprias vidas. Transferem-se para o jovem essas questões, que se transformam em “problema de jovem”, supostamente próprio desta etapa da vida, na busca vã de que se restabeleça alguma calma familiar, que corre o risco de se instituir como violência, pelo que implica de negação.
A negação do diferente, base de todo o preconceito, funda-se precisamente na dificuldade de aceitar que o suposto diferente se parece muito conosco e pode nomear o que para nós é inominável. Na verdade, ele revela muito de nós mesmos e põe em questão o caráter absoluto de nossas próprias referências: se o outro pode estar certo, isto significa que posso estar errado? Esta é a ameaça, difícil de enfrentar, que os jovens com freqüência representam para a família. Esta projeção dos problemas familiares sobre os jovens remete à idealização do mundo familiar e à dificuldade de pensar que o conflito é inerente às relações familiares. O jovem afirma-se ao se opor, fazendo do conflito algo necessário e imprescindível a seu processo de tornar-se sujeito, na família e no mundo social. O conflito é, assim, intrínseco à família, o que faz pensar nos limites do que é ou não negociável nas relações familiares, com base na indagação sobre o que constitui conflito para a própria família (não como uma definição externa e disciplinadora), que permita a elaboração dos problemas, valendo-se de recursos que podem estar no próprio âmbito familiar. Para isto, fica a indagação: será que somos capazes de falar na hora certa e escutar mais? Cynthia A. Sarti é antropóloga. Professora na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretora acadêmica do Campus de Guarulhos. É autora do livro “A Família como Espelho: Um Estudo sobre a Moral dos Pobres” (Cortez Editora).
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Família e escola
abrigo de tensões
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AS RELAÇÕES ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA NUNCA FORAM TÃO PRÓXIMAS, MAS SE RESSENTEM DAS DIFERENÇAS DE LÓGICA ENTRE AS DUAS INSTITUIÇÕES
por_Maria Alice Nogueira e Maria José Braga Viana
Nos dias atuais, a família e a escola constituem os dois espaços principais de socialização das novas gerações. É sobretudo por meio dessas duas instituições que os jovens de hoje constroem sua identidade, formam seus valores e preparam-se para a vida adulta, em particular a vida profissional. O estudo das relações entre essas duas esferas da vida social vem se desenvolvendo lentamente, mas apresentando resultados de pesquisa que começam a se consolidar. Talvez o maior deles resida numa dupla constatação: a) de que família e escola nunca mantiveram relações tão próximas e intensas quanto na atualidade; b) de que há hoje uma forte disseminação – tanto nos meios educacionais, quanto na opinião pública – da crença de que esses dois agentes precisam estabelecer uma sólida parceria e colaboração, para que não haja incongruências entre as práticas e os processos educativos desenvolvidos em cada uma dessas duas instâncias. No entanto, se este último pressuposto se assenta numa racionalidade lógica, ele desconhece a razão socio(lógica) que faz que a socialização familiar – que se diferencia de um meio social a outro – dote a criança e o jovem de instrumentos (cognitivos e comportamen-
tais) diversificados e mais ou menos adaptados às exigências implícitas ou explícitas do sistema escolar. Assim, ao investigar as relações que as famílias populares mantêm com a escola, o pesquisador depara com um fato marcante: os contrastes ou as dissonâncias existentes entre o modo de socialização que rege o universo pedagógico das escolas e aquele que vigora no universo doméstico das famílias populares. Lógicas distintas Mesmo considerando que as famílias populares apresentam diferenças entre si e que elas não constituem, portanto, um todo homogêneo, estudos sociológicos recentes vêm identificando lógicas que marcam o seu modo de socializar e que têm um forte impacto sobre a escolarização dos filhos, dentre elas: os sentidos atribuídos à escola, as posturas corporais e os comportamentos desenvolvidos, as disposições temporais construídas. Em primeiro lugar, o sentido atribuído à escolaridade dos filhos orientase especialmente pela lógica da eficácia. Para os pais, as aprendizagens escolares devem culminar em trunfos profissionais que possibilitem que os jovens “se virem” na vida e escapem das dificuldades vividas por eles. A escolarização dos filhos é, por conseguinte, carregada de expectativas de ascensão social, ainda que, muitas vezes, a ambição escolar seja modesta, não ultrapassando a conclusão do ensino médio. Por não possuírem (ou não sentirem que possuem) as condições culturais necessárias para compreender o universo pedagógico e para monitorar a escolaridade dos filhos – como fazem, com regularidade, as classes médias –, as atenções
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“A minha escola, a Escola Estadual Maximiliano Pereira dos Santos, em Pinheiros, Zona Oeste de São Paulo, estava ameaçada de fechamento. A situação era crítica: alunos em debandada, ambiente detonado. Eu mesma já procurava outro lugar para estudar. Aí os professores se mobilizaram, os alunos, ex-alunos, as famílias, a comunidade. Montamos o movimento Desafio Max. Os pais ajudavam nas reuniões, com doações, no recolhimento de assinaturas em abaixo-assinados. Eram mais ou menos uns 20 pais, pouco para o número de alunos, mas deu pra ver como pode ser legal. A maioria só quer saber se o filho passou de ano. Mas aqueles pais descobriram coisas na escola. Agora querem colaborar com seus talentos. Uns ficaram com vontade de dar aulas, outros pensam em voltar a estudar. Estamos fazendo projetos para o futuro com essas idéias, como oficinas e cursos extras. O fato é que a escola não fechou, e o envolvimento de todos está melhorando dia a dia o ambiente. Quando a escola melhora, fica bacana, o aluno tem orgulho, o professor tem orgulho, a família gosta, todo mundo se envolve mais. Este ano vai ter eleição para o grêmio, eu vou me candidatar. Quero trazer mais alunos para o Max, mais professores, mais parcerias.”
amanda perobelli
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e atitudes parentais concentram-se nos resultados escolares imediatos: a nota, a promoção de uma série ou ciclo a outro, etc. O problema é que, de modo geral, a lógica escolar se inscreve na longa duração e inferioriza as aprendizagens meramente utilitárias (para passar de ano, tirar o diploma, etc.), em favor do conhecimento desejado por si mesmo, como forma de enriquecimento intelectual do indivíduo. Em segundo lugar, o confronto entre certas exigências comportamentais da escola (consideradas como condição para a efetivação das atividades cognitivas) e as disposições corporais produzidas pelas condições de existência próprias dos meios populares. A escola exige dos alunos um corpo “disciplinado”, “disposto” de determinada forma. Eles devem permanecer assentados em ”seu” lugar, ter uma postura de escuta e de registro
Greicy Karla de Paulo Faria, 17 anos,
estudante do 3º ano do ensino médio
das aulas, responder às solicitações de forma e em momentos estabelecidos, etc. Tudo isso pressupõe controle sobre si mesmo, autodisciplina e concentração; posturas que são desigualmente repartidas entre os indivíduos dos diferentes grupos sociais. Os estudos têm apontado que essas posturas corporais representam constrangimentos para as camadas populares, porque não encontram lastro em sua socialização familiar. Os jovens desses meios – sobretudo as crianças – adotam, em sala de aula, posturas de grande mobilidade física ou de apatia, ambas resultantes de
A ESCOLA SE PAUTA POR CRITÉRIOS DE DESEMPENHO, DIMENSÕES DE TEMPO E ATÉ POSTURAS CORPORAIS DIFERENTES DAQUELES VIVENCIADOS PELAS FAMÍLIAS DAS CAMADAS POPULARES, MARCADAS PELA URGÊNCIA DE RESULTADOS
Maria Alice Nogueira é professoratitular da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutora em Educação pela Universidade de Paris V, é autora de livros como “Família & Escola – Trajetórias de Escolarização em Camadas Médias e Populares” (Vozes, 2000, em co-autoria com G. Romanelli e N. Zago) e “A Escolarização das Elites” (Vozes, 2002, em co-autoria com A. Almeida). Maria José Braga Viana é professoraadjunta da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais. Doutora em Educação pela FaE/UFMG, é autora do livro “Longevidade Escolar em Famílias Populares” (Ed. da Universidade Católica de Goiás, 2007).
uma reação ao contexto da atividade escolar, que requer disposições distantes daquelas criadas em seu universo de origem. Um terceiro fator é constituído pelo distanciamento entre famílias populares e escola no âmbito das temporalidades. Nas famílias populares, em especial no caso daquelas que enfrentam extrema precariedade econômica, vivencia-se uma temporalidade linear e arrítmica; o tempo se desenrola sem escansão; os eventos da vida acontecem freqüentemente sob o signo da urgência, o que dificulta ou impossibilita a previsibilidade e a planificação. A socialização familiar, nesse contexto, caracteriza-se por um frágil enquadramento do tempo dos filhos, como os horários de estudo, de refeições, de ver televisão, de dormir, etc. Já no universo da escola, o que prevalece é: a regularidade temporal (horários e calendários escolares, sucessão de atividades pedagógicas organizadas no tempo); a lógica da planificação das aprendizagens, materializada, por exemplo, no uso da agenda e no recurso às reuniões entre professores e pais. Se as temporalidades existentes no universo escolar e no universo das famílias populares divergem, a interdependência entre essas diferentes lógicas torna-se potencialmente produtora de contradições. Com efeito, estudos que
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têm buscado identificar condições possibilitadoras de sucesso escolar em meios populares vêm concluindo que determinadas disposições em face do futuro mostram-se mais favorecedoras do êxito na escola. São disposições caracterizadas pela extensão de horizontes, pela tomada de distância em relação ao presente, pela possibilidade (subjetiva e objetiva) de construção de projetos de vida. Em suma, da perspectiva dos modos de socialização, as relações entre as famílias populares e a instituição escolar se caracterizam por um confronto desigual, tenso e potencialmente constitutivo de dificuldades para professores e famílias. Dificuldades que, com certeza, seriam minimizadas se conseguíssemos tornar as lógicas socializatórias populares mais visíveis e mais inteligíveis aos olhos de boa parte dos professores e outros profissionais da educação escolar.
o sujeito da frase
“Fora da família não há solução” A porta branca enfeitada por uma placa de madeira colorida com os dizeres “Ziraldo – Dibujante” se abre e revela lá dentro um senhor de cabelos encaracolados e grisalhos sentado numa cadeira cercada de estantes por todos os lados. As prateleiras estão abarrotadas de livros infantis, de arte e de ilustração, revistas em quadrinhos, desenhos acabados e inacabados. À frente do anfitrião, uma grande prancheta, coberta de lápis e canetas que fizeram muitos dos trabalhos também expostos nas paredes. Atrás, um busto em tamanho quase natural do Super Homem, de braços cruzados e olhar de herói, como que zelando pela paz do lugar. Não é difícil, para quem entra, imaginar que está aí um lugar onde o Menino Maluquinho, mesmo depois de crescido, se sentiria à vontade. Pois quem ocupa esse endereço, na Zona Sul do Rio de Janeiro, é justamente o criador de um dos personagens mais famosos da literatura infantil brasileira. Ziraldo Alves Pinto, mineiro de Caratinga, tem 75 anos, e a palavra em espanhol que o anuncia na entrada apenas começa a descrevê-lo: ele é desenhista, sim, mas também pintor, cartazista, jornalista, teatrólogo, chargista, caricaturista e escritor, como informa seu site na internet (www. ziraldo.com.br). São tantas as atividades de Ziraldo que a pergunta “O que é que você tem feito?”, lançada assim, como quem não quer nada, só para começar o papo, é respondida com um pedido a uma das secretárias do estúdio: “Traz os livros aqui que o Marcelo tá mal informado!” O pronto atendimento produz uma respeitável pilha sobre a
Para Ziraldo, autor do Menino Maluquinho, a adolescência e a juventude são travessias que exigem apoio e paciência dos pais
Aos 75 anos, o desenhista e escritor mineiro Ziraldo Alves Pinto continua defendendo a tese de que o amor da família, principalmente na infância, determina a qualidade do adulto
Por _ Marcelo Barreto Fotos _ Deise Lane Lima
mesa. No topo está “Menina das Estrelas”, seu mais recente lançamento para o público infantil. Mas o tema da entrevista, o papel da família, remete a um livro bem mais antigo, que já virou história em quadrinhos, peça de teatro, filme, site na Internet (www.meninomaluquinho.com.br) e marca de muitos produtos. “O Menino Maluquinho” nasceu em 1980 e, desde então, faz parte da infância de milhões de leitores no Brasil, na América Latina e até na Coréia do Sul. Como se descobre no fim do livro, é o relato da infância de um “cara legal, mesmo”, que, afinal, havia sido apenas um menino feliz. A história foi inspirada numa reunião de pais e mestres da qual Ziraldo, pai de três filhos, participava e na qual se discutia a “receita” para criar bem os filhos. O enredo do livro é coerente com sua convicção de que um canalha é alguém que não teve uma boa infância e o apoio da família. A seguir, Ziraldo fala da passagem da infância para a idade adulta e da importância da família nesse processo. Temas, a exemplo do Menino Maluquinho, universais.
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ONDA JOVEM: Seu livro “O Menino Maluquinho”, de 1980, retrata o personagem principal na infância e, nas páginas finais, salta diretamente para a idade adulta, quando ele se torna “o cara mais legal do mundo”. O que acontece nesse intervalo que permite essa transformação? Ziraldo: Sou muito ligado à família. No mundo de hoje, fora da família não há solução. Na infância, o que há de mais importante é o amparo familiar, do pai e da mãe. O Menino Maluquinho tem um histórico familiar importante. Ele foi bem amado na infância, e é por isso que nas páginas finais do livro se descobre que ele foi, na verdade, um menino feliz. Minha tese, a confirmar, é de que quem foi querido e teve amparo na infância tem uma possibilidade muito grande de ser um cara melhor.
Outra coisa que não fica clara é a idade do Menino Maluquinho. Ele foi criado para representar toda a infância? Faço uma distinção entre criança e menino ou menina. Para mim, até por volta dos oito anos de idade somos crianças, indistintamente. Até temos lembranças dessa fase, mas é só entre os 8 e os 11 anos que inauguramos a memória afetiva e começamos a categorizar as pessoas. Essa é a fase em que somos menino ou menina. Nosso cérebro se torna uma máquina fotográfica com filme dentro. Eu, por exemplo, sou capaz de desenhar cada casa da rua onde morei, em Caratinga. Essa fase, que dura pouco, porque logo depois já começa a pré-adolescência, é a que retrato no Menino Maluquinho.
Esse amparo está ligado às condições materiais? O Menino Maluquinho tem uma qualidade essencial: pode se identificar com qualquer criança. É impossível perceber, por exemplo, a que classe social ele pertence. A história vale para qualquer situação social? Uma boa passagem da infância para a idade adulta não é uma questão de recursos materiais. O cara pode ser rico e se tornar um sujeito péssimo. Veja o Collor (Fernando Collor de Mello, ex-presidente do Brasil e hoje senador por Alagoas). Esse cara teve todas as vantagens na infância. Ter uma infância boa não significa ser atendido em tudo. A qualidade essencial é ser amado.
E como seria o adolescente Maluquinho? A adolescência não é uma fase tão brilhante, tão maravilhosa quanto essa de menino ou menina. É uma época de muitos traumas. O adolescente já tem as funções do adulto, pode ter um filho, por exemplo. Mas não tem vivência, é despreparado. Escrevi um livro sobre a adolescência, “Vito Grandam”. O adolescente é um estabanado, porque o cérebro dele ainda acha que comanda os braços de uma criança, mas os braços já cresceram, têm o tamanho dos de um adulto.
A história de Vito Grandam fala de amor. O amor familiar, que você considera fundamental na passagem para a idade adulta, pode ajudar também a atravessar a adolescência e a juventude? Outro problema do adolescente é que a mente dele já está pronta, mas ainda tem pouca informação. Só que ele acredita já ter elementos suficientes para julgar o mundo, principalmente o pai e a mãe. Isso abre uma gama de possibilidades muito grande: ele pode se tornar uma pessoa difícil ou ter uma grande consciência do que ocorre à sua volta. O Chico Buarque de Hollanda foi criado numa casa com uma ordem moral importante e se tornou um adulto brilhante. Mas na adolescência “puxou” um carro. Os pais se desesperaram, acharam que o filho tinha descambado para a criminalidade, mas no fim descobriram que era só uma farra, uma brincadeira entre amigos. São coisas que acontecem na juventude. Quer dizer então que o Menino Maluquinho, mesmo tendo sido amado na infância e se tornado o cara mais legal do mundo na idade adulta, não teve garantias ao enfrentar a adolescência? O adolescente não tem saudade da infância. A adolescência é um mergulho num mar sem fundo. O cara emerge de lá um adulto bom ou ruim. E o amor e a segurança que ele recebeu na infância vão representar um papel muito importante nessa transformação. O Menino Maluquinho pode ter virado um adolescente maravilhoso ou o adolescente mais chato do mundo. A adolescência é uma travessia. O que os pais têm de fazer é tentar se lembrar da travessia deles.
Mas as travessias não são sempre diferentes? Nem sempre os pais reconhecem nos filhos as mudanças pelas quais eles próprios passaram. Muitos pais ficam se perguntando o que eles fizeram para que seus filhos se transformem em adolescentes consumistas, por exemplo. Mas isso não vem necessariamente da infância, pode ser apenas uma reação do adolescente às influências da sociedade. Outra área sujeita a isso é a da sexualidade. Outro dia vi um programa de televisão que tratava como homossexualismo o fato de uma menina gostar de outra. Não é nada disso! É uma fase de descobertas, e meninas são mais carinhosas. Também são mais reflexivas, e por isso gostam de relatar suas experiências em diários. Você sabia que no Orkut (site de relacionamentos da Internet) 80% dos perfis são de adolescentes do sexo feminino? Entre a adolescência propriamente dita e a idade adulta, o Menino Maluquinho, como todos os meninos e meninas que fazem o que você chamou de travessia da adolescência, passou pela juventude. Podemos imaginar também como seria o Jovem Maluquinho? Isso dependeria muito da época. Hoje em dia, os jovens que precisam ajudar na renda da família encaram desde cedo o mercado de trabalho, mas nas famílias de classe média a adolescência pode ir até os 30 anos. Os filhos da classe média demoram cada vez mais a sair da casa dos pais, e o medo da violência faz com que a casa ocupe mais espaço na vida das pessoas. É cada vez mais comum, por exemplo, namorar em casa. Grande parte desses filhos de classe média vai acabar dando certo, mas os pais e mães de garotos imaturos precisam ter paciência. Não acho que se deva deixar o filho sofrer para aprender.
“A adolescência é um mergulho num mar sem fundo. O que os pais têm de fazer é tentar se lembrar da travessia deles.”
O jovem Maluquinho já estaria sujeito a esse processo? Essa história de filhos pendurados nos pais foi inaugurada quando os filhos da minha geração se tornaram pais. Quando eu saí de Caratinga, aos 16 anos, para ganhar a vida, peguei um empréstimo com meu pai, com avalista e tudo. Paguei cada centavo depois que consegui um emprego. Hoje ninguém imagina uma situação dessas. A música “Eduardo e Mônica”, do Legião Urbana, que foi composta alguns anos depois que escrevi o Maluquinho, é um retrato perfeito do nosso tempo. Eles acabam se casando e tendo filhos, mas no começo... (vai se lembrando da letra aos poucos) o Eduardo gostava de novela e jogava futebol de botão com seu avô... Finalmente, chegamos ao momento em que o Menino Maluquinho se torna o cara mais legal do mundo. O que é, para você, um cara legal? E como seria o adulto Maluquinho? Um cara legal é aquele que não vai precisar gastar metade do salário com análise (risos). No Menino Maluquinho, eu não tinha como desenhar esse cara. Tentei fazer um retrato de um amigo meu que era muito legal, mas no desenho ele ficou um cafajeste. A solução foi pedir a Apoena, filha dele, então com seis anos, que desenhasse essas páginas. Assim, o livro termina com a visão infantil de como é um cara legal. É o melhor retrato que se poderia ter do Maluquinho hoje.
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UM DIFÍCIL COMEÇO A GRAVIDEZ PRECOCE ACELERA A FORMAÇÃO DE FAMÍLIAS JUVENIS, GERALMENTE APOIADAS NAS FAMÍLIAS DOS PAIS E COM UNIÕES DE POUCA DURABILIDADE por _ Simone Barreto e Aydano André Motta
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luneta
Matrioskas são bonecas de madeira, típicas da Rússia, encaixadas da maior para a menor, uma abrigando a outra, numa cadência de mãe e filha, mãe e filha, até a última peça. Dona Maria Aparecida de Freitas Souza, 70 anos, é uma matrioska de carne e osso. De seu ventre vieram 12 filhos, que geraram mais 12 netos e depois 8 bisnetos. Na casa de seis cômodos, no Morro da Mangueira, Zona Norte do Rio de Janeiro, são 13 pessoas vivendo sob sua responsabilidade. Enquanto encaixa uma lembrança dentro de outra para contar sua história, ela embala a mais nova moradora, sua oitava bisneta, Maria Clara, com pouco mais de um mês de vida. A menina é filha de sua neta Paula Caroline de Lima, de 20 anos. Atleta do projeto social da Mangueira – a escola de samba que tornou a favela famosa – e solteira, Paula planeja voltar rapidamente aos treinos, lançando dardos para garantir a bolsa de R$ 170 e ajudar na criação da filha. Com o pai de Maria Clara, que também vive na favela, ela não tem contato. Ele
tampouco tem demonstrado qualquer interesse em acompanhar o crescimento da filha. O casal confirma estatísticas levantadas pelo Programa de Saúde do Adolescente, em São Paulo: a cada cinco jovens mães, apenas uma mantém algum tipo de relacionamento confortável com o companheiro; das uniões que não seguem adiante, o abandono da relação pelo pai acontece em 40% das vezes durante a gravidez e 20% após o primeiro ano de vida da criança. A história também ilustra novas formas no processo de formação da família, um dos marcos de passagem da juventude para a vida adulta. A ordem social tradicional – começar a trabalhar, sair da casa dos pais, casar e ter filhos – foge cada vez mais à regra. “Tem crescido o número de mães jovens ou casais jovens que vivem nos domicílios onde residem seus pais ou parentes”, assinala a pesquisadora Ana Amélia Camarano, uma das autoras do livro Transição para a Vida Adulta ou Vida Adulta em Transição? (Ipea, 2007). Ela cita dados demográficos de 2000: os domicílios de jovens (onde o jovem estava na condição de chefe ou cônjuge) eram 23,9% do total; os domicílios com jovens (nos quais o jovem ocupa qualquer outra condição) eram 37,7% do total; em 12,6% dos domicílios com jovens, encontravam-se famílias formadas por jovens. Mesmo que não constituam um núcleo com independência econômica, os censos consideram que esses arranjos são novas famílias no interior dos domicílios de origem. Segundo Camarano, o modelo tradicional de formação da família “respondia a uma dinâmica, propiciada pelo crescimento econômico e do nível de emprego, que foi colocada à prova com as mudanças, entre outras, no mundo do trabalho ...”. Hoje, a falta de emprego ou a maior necessidade de escolarização estariam na origem da permanência mais longa dos jovens na casa dos pais. E outra mudança importante ocorre no campo comportamental: o exercício prematuro da sexualidade desvinculado da união conjugal, e que freqüentemente resulta na gravidez precoce – a grande alavanca formadora das famílias juvenis. “Os estudos recentes têm mostrado que as experiências de vida e as expectativas da atual geração são mais complexas e menos previsíveis que as de suas predecessoras, sugerindo que os modelos lineares de transição [do ser jovem para ser adulto] estão se tornando cada vez mais inapropriados para o contexto de mudança social e econômica das últimas décadas”, escreve Camarano. Conquistas necessárias Inapropriado também, observam os especialistas, seria Dona Maria assumir a responsabilidade integral pela nova família constituída pela neta Paula e a bisneta Maria Clara, ainda que seu coração e sua casa comportem mãe e filha. “É importante estimular o caminho dos jovens e adolescentes para a vida adulta, vencendo suas inseguranças para que conquistem a independência. Mas os pais desses jovens não devem
assumir netos como filhos e, sim, estimular seus filhos a estabelecer vínculos positivos com as crianças geradas”, diz a ginecologista e obstetra Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do programa de Saúde do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. “Acolhimento é uma palavra importante para essas famílias”. À frente do trabalho de pesquisa – realizado em parceria com a Unesco – desde 1986, Albertina explica que as famílias nunca estão preparadas para acolher essas novas relações: “Até os anos 1970, quando a gravidez acontecia, os jovens eram expulsos de casa. Hoje esse novo núcleo familiar é recebido fisicamente pelos pais, mas muitas vezes é estabelecida uma relação de dominação – dos pais sobre os filhos e netos –, e os jovens não são convidados a participar”. Pelos levantamentos, em 72% dos casos, é a família da jovem que assume a responsabilidade e, em 18% das vezes, a do pai. E não é o dinheiro o fator determinante para que a nova família se
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MAIS DA METADE DAS UNIÕES FORMADAS A PARTIR DA GRAVIDEZ PRECOCE TERMINAM ATÉ O PRIMEIRO ANO DE VIDA DA CRIANÇA
estabeleça. “Há casos de pais de classe média que podem dar condições financeiras, um apartamento, mas não orientam quanto à administração do lar, o que multiplica a insegurança dos jovens”, diz Albertina. “O importante, mais uma vez, é fazer com que o jovem supere as etapas da adolescência e seja apoiado não somente no parto, mas também após o nascimento da criança”. Surpresa e medo Coordenadora pedagógica numa escola em Ourinhos, interior de São Paulo, Carla Virginia Libório passa os dias em busca da mesma superação, enquanto vê sua própria história se repetir. Ela também nasceu de uma gravidez acidental, e sua mãe tinha os mesmos 20 anos quando aconteceu. Caio chegará em junho, e Carla o espera junto com o pai do menino, Alex, 24 anos, namorado e colega de faculdade. “Feliz, num primeiro momento, a gente nunca fica. É muita surpresa, muito medo de ter que administrar a vida tão cedo”, diz ela, que, nascida numa comunidade pobre, tem visto várias amigas de infância vivendo a mesma história. Na faculdade, ninho da classe média, Carla é a única da turma que está grávida. “Tudo se torna inseguro, emprego, faculdade. E como conseguir criar uma criança? No começo, a gente só pensa que não era para ter esse tipo de responsabilidade agora”, continua ela. Mas os sentimentos vão mudando, amadurecendo. Num caminho pantanoso – Carla e Alex (que ficou com mais medo ainda) brigaram, chegaram a se separar, mas se reconciliaram.
Quando a realidade se impôs, vieram as perguntas – casar ou não, a principal delas. “No início, achava que era obrigatório, fruto da minha educação”, diz. “Hoje, resolvemos montar a casa do nosso filho e só depois decidir se vamos morar juntos. Estamos namorando, mas felizes”, diz ela, que mantém, com Alex, o blog Amor de Pai e Mãe (www.amordepaiemae.blogspot.com/), onde eles descrevem a aventura em que a vida se transformou. Informação e formação Um estudo das antropólogas Elaine Reis Brandão e Maria Luiza Heilborn, do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, adverte que qualquer discussão sobre sexualidade e reprodução na juventude não pode estar isolada do contexto que modela as relações sociais dos jovens. Intitulado “Sexualidade e Gravidez na Adolescência entre Jovens de Camadas Médias do Rio de Janeiro, Brasil”, o trabalho alerta para a importância do entendimento do papel da família, além da relação dos casais de adolescentes. O argumento abarca a classe média, também sujeita às turbulências provocadas pela gravidez precoce. “O lugar que a sexualidade ocupa no processo de autonomização juvenil, ainda hoje muito marcado pela hierarquia de gênero, torna-se a chave para uma leitura mais acurada do fenômeno da gravidez na adolescência”, escrevem as professoras da UERJ.
A gravidez precoce se relaciona com a experimentação sexual dos adolescentes e jovens, que tem sentido de construção da autonomia pessoal, de chegada à vida adulta, embora eles ainda dependam dos pais
Vem daí a necessidade do entendimento das intrincadas questões que passam pela cabeça dos jovens, antes de qualquer proposta de política para prevenção à gravidez na adolescência. “Ela não pode estar apenas ancorada na transmissão de informações relativas à contracepção e proteção às doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids”, alertam. A lógica que orienta a experimentação sexual com o parceiro tem, como via motivadora principal, a construção da autonomia pessoal, a chegada à vida adulta, mesmo com o paradoxo de as mudanças ocorrerem no cenário mais comum, o de dependência dos pais. “O arbítrio sobre o próprio corpo coloca-se como um espaço de legitimação da autonomia”, responde o texto da pesquisadora do Ipea Ana Amélia Camarano.
As reflexões do estudo de Maria Luiza Heilborn e Elaine Reis Brandão surgiram de entrevistas com jovens cariocas de classe média, com experiência de paternidade ou maternidade na adolescência, além de pais e mães de jovens. Nelas, as professoras constataram que as regras do relacionamento afetivo-sexual entre adolescentes se alteraram muito nas últimas décadas, até mesmo com as relações se dando com consentimento dos adultos. “Os relacionamentos juvenis guardam uma esfera própria de autonomia do casal, mas também se constituem em estreita interdependência com os ditames parentais de ambos os jovens. A sexualidade propicia o aprendizado da autonomia, fomentando o processo de construção na adolescência e juventude”, explicam elas, que identificaram os contatos afetivo-sexuais juvenis menos atrelados ao casamento e mais voltados ao desenvolvimento pessoal e do próprio relacionamento. “Construir um vínculo afetivo-sexual, diferente da amizade, constitui-se em forte via de individualização juvenil”, sustenta o estudo. É nesta fase que a dedicação aos estudos torna-se uma exigência familiar, trazendo, no bojo, as expectativas sobre a definição futura da carreira profissional. Logo, a “liberdade” experimentada na relação afetivo-sexual pode funcionar como contrapartida. “O exercício da sexualidade na adolescência torna-se uma via privilegiada para aquisição gradativa de liberdade e autonomia, mesmo sob o teto parental”. Sentido social Doutora em psicologia clínica e psicopatologia pela Universidade de Paris, Diana Dadoorian dedicou-se ao estudo da questão nas faixas mais populares e também concluiu que a gravidez adolescente não é fruto da falta de informação, mas da falta de formação. “Fornecer o conhecimento sobre as questões referentes à fisiologia sexual e às práticas contraceptivas é uma política insuficiente
e pouco eficaz para evitar as graves conseqüências que daí advêm. O canal que leva essa informação deve se abrir à complexidade do universo psicossocial dessas adolescentes, particularizando a significação da gravidez nesse segmento social”, escreve a psicanalista. Diana constatou que as jovens iniciam sua vida sexual logo após a primeira menstruação e engravidam num curto período de tempo. “A gravidez certifica para a adolescente que o seu corpo já está preparado para a concepção. A confirmação da capacidade reprodutiva desencadeia um sentimento de surpresa em relação à gravidez, quando constata que não é mais menina e, sim, mulher. Pode-se dizer que essas adolescentes estabelecem uma equivalência: exercer a sexualidade significa ter filho, o que demarca a sua entrada na vida adulta”. E o dilema, claro, é o capítulo seguinte, como descreve Diana Dadoorian. Falta, nas adolescentes que engravidam, a visão mais abrangente sobre o seu estado e as conseqüências dele. Tanto no plano individual, em seus aspectos psicológicos, como no social. “A gravidez em adolescentes, sobretudo em jovens provenientes de classes populares, multiplica as condições de reprodução da pobreza econômica e social”, conclui a professora. Portanto, ao inverter a seqüência tradicional, que coloca o casamento antes da gravidez, os jovens promovem novos arranjos de família, que afetam também seus círculos familiares. E esse protagonismo juvenil na esfera familiar é um desafio aos próprios jovens e as suas famílias.
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proteção RELATIVa
doutora em sociologia Mary Castro: “Os movimentos feministas e de jovens sempre buscaram autonomia e liberdade e acabaram deixando a família de lado. É preciso realmente questionar o modelo autoritário, patriarcal e tradicional, mas não se pode negar o papel que ela tem em nossas vidas. Ela foi deixada de lado nos movimentos sociais, como se todas as famílias fossem iguais. Os movimentos falharam e estão resgatando agora essa relação”, afirma. Para Mary Castro, a sociedade tem exigido muito da família, mas não tem dado condições a ela. “É preciso oferecer creche e restaurante comunitário para as famílias, por exemplo, porque as mães acabam tendo de deixar seus filhos so-
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Os tempos mudaram e as famílias também. Entretanto, por mais diversas que sejam, as famílias modernas não perderam sua importância como espaço fundamental de formação do indivíduo e célula primeira da sociedade. Várias pesquisas nas áreas da antropologia, sociologia e psicologia têm mostrado que elas estão se modificando, juntamente com as relações de autoridade e vínculo, mas continuam sendo referenciais para o desenvolvimento pessoal, em especial da criança e do jovem. Essa constatação levanta questões como: as políticas públicas refletem a nova realidade? Quais os desafios de se criarem políticas públicas para os jovens por intermédio das famílias? A importância da família não vem sendo reconhecida, nem pelas organizações da sociedade civil, nem pelo Estado, segundo a pesquisadora e
COM O POUCO RECONHECIMENTO SOCIAL DA FAMÍLIA, AS POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA ELA AINDA SÃO MINORITÁRIAS E INCOMPLETAS
Por _ Cristiane Parente
45 zinhos.” As políticas não estão conseguindo também acompanhar um fato cada vez mais comum que é os avós manterem um papel de provedor das famílias. “Eles muitas vezes arcam com todas as despesas dos netos, mas não são protegidos em seus direitos, não têm nem como descontar essas despesas no Imposto de Renda”, diz a pesquisadora, que defende que uma boa política para a família, por exemplo, seria a guarda compartilhada tanto dos filhos em relação aos pais, quanto dos netos, entre pais e avós. Aspectos culturais Para Fábio Silvestre da Silva, Gerente de Projeto do Atendimento Socioeducativo (dirigido a adolescentes em conflito com a lei), da Secretaria Especial de Direitos Humanos, o maior desafio hoje, para a implementação de políticas para as famílias, é cultural. “Vivemos a cultura de buscar culpados para o fracasso de tudo e para o aumento da
violência, e a família sempre leva a culpa.” Mas, segundo Fábio, pouco se fala da histórica falta de apoio às famílias pelo poder público. Atualmente, segundo Fábio, dois marcos legais que indicam a necessidade de se pensar a família são o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase) e o Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária. Fábio diz que um dos princípios do Sinase é justamente proporcionar a convivência na família, estimulando sua responsabilidade na educação dos filhos. Para isso, o sistema prevê espaços de convivência nas instituições socioeducativas em meio fechado e oferece atendimento
AS POLÍTICAS QUE VISAM A ALCANÇAR O JOVEM POR MEIO DA FAMÍLIA DEVEM MIRAR NA ESCOLARIDADE, MUITO BAIXA NESTE SEGMENTO psicossocial a famílias e adolescentes ou jovens que cumprem medidas socioeducativas em regime aberto. No caso específico das famílias de jovens em conflito com a lei, o Sinase defende a municipalização das medidas em meio aberto, para que não haja a perda dos vínculos. Já o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária propõe ações para reverter a internação desse público e estimular o convívio familiar, como a inclusão das famílias nos programas de geração e transferência de renda e sua participação no Plano Individual de Atendimento, feito conjuntamente com o adolescente ou jovem que está internado e o técnico da instituição. A família deve ajudar o jovem a alcançar as metas estabelecidas no plano – que envolvem desde aspectos pessoais até a qualificação profissional – e a se desligar da instituição.
Para Marisa Tardelli, Coordenadora do Programa de Fortalecimento do Sistema de Garantias dos Direitos das Crianças e Adolescentes, da Subsecretaria de Promoção dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes, é um hábito cultural desvalorizar o papel da família e imaginar logo que o Estado vai cuidar de tudo, retirando o adolescente ou jovem daquele núcleo, quando a família deve ser pensada como um todo. Ela diz que, neste ano, serão repassados recursos de até R$ 2.000,00 para famílias de jovens que estão abrigados por causa da pobreza. O recurso será aplicado na causa daquele problema específico, para permitir a volta do adolescente ou jovem ao lar. Ela destaca ainda a necessidade de os governos se organizarem em torno de um aluguel social e da construção de repúblicas para jovens que perderam o vínculo com suas famílias originais, mas que acabaram criando laços e um novo modelo de família por afinidade. “Essa realidade, que já é contemplada no Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, tem de ser pensada pelos governos, porque o plano quer trabalhar com o jovem abrigado, as famílias e o poder judiciário, mas não é isso que se faz por enquanto”. No papel e na realidade Para Mary Castro, porém, as políticas sociais no Brasil ainda estão longe de considerar as reais necessidades das famílias em toda a sua complexidade. “As políticas estão geralmente voltadas para os indivíduos, no máximo para tipos de indivíduos. Para família mesmo, são poucas”, diz. “O Brasil ainda está longe de chegar à situação de alguns países da Europa e da América Latina, por exemplo, que criaram secretarias da família nas quais se pensa a unidade familiar, se planejam medidas que beneficiam a todos. Onde está, na lei, a condição da família de dar todas as possibilidades para os filhos? Onde está o tempo para o cuidado afetivo?”, questiona a pes-
quisadora, que lamenta também o papel sempre secundário que é dado aos meninos no tocante à família e que se reflete na juventude e idade adulta. Um exemplo disso é a Lei da Maternidade. Se por um lado o País avançou na possibilidade de se estender a licença para seis meses, por outro, se esta fosse uma política de família, diz Mary, deveria ter contemplado também os homens, que desde esse momento já têm secundarizado o papel do pai. Em países como a Itália e a Suécia, por exemplo, Mary Castro identifica a “economia do cuidado”. São famílias que recebem recursos do governo para cuidarem de seus filhos até a maioridade, sem que a mãe (normalmente) precise sair de casa para trabalhar.
Incluir a família nos processos de socioeducação de jovens em conflito com a lei e criar condições para os novos arranjos familiares juvenis são modelos de políticas contemporâneas
Ela também cita o caso da Argentina, onde as escolas com meninas grávidas são obrigadas a oferecer creches e assistência social, reduzindo os índices de abandono escolar por causa da gravidez precoce. Entender contextos Para o Coordenador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, o economista Marcelo Neri, o jovem está numa fase de transição entre a família original e uma nova, que será constituída por ele. Neste aspecto, há uma crise de valores entre a família original e aquela que começa precocemente. “Os valores herdados estão em cheque e, às vezes, há um vácuo que acaba se tornando um terreno fértil para dilemas e problemas. É fundamental que as políticas públicas entendam as cabeças dos jovens e o contexto em que vivem”, afirma. Para Neri, um marco importante nas políticas públicas para as famílias e jovens é a expansão do programa Bolsa Família para as famílias com jovens de 15 a 17 anos, quando antes apenas aquelas com crianças e adolescentes de até 15 anos recebiam o recurso. O economista observa que o principal benefício dessa ação pode ser educacional, já que 18% dos jovens de 15 a 17 anos estão fora da escola, enquanto apenas 3% do contingente de 7 a 14 anos, a que o programa Bolsa família atende prioritariamente, não vai à escola. “É um público que vai ser beneficiado agora. Teremos um ganho com essa inclusão.”, diz Neri, que defende que o recurso seja repassado diretamente para o jovem e não para o responsável pela família. “A nova geração de políticas públicas vai tocar em muitos aspectos os jovens e suas famílias, porque eles são a porta de entrada para a sociedade adulta, com os aspectos positivos e negativos que isto inclui”, diz o economista, para quem o grande desafio do governo
“é formular políticas públicas para lidar com temas típicos do jovem, como a gravidez precoce, o álcool, a questão da idade penal, que são discussões que a juventude e as famílias estão fazendo, mas que nem sempre as políticas acompanham.” Ainda segundo Neri, é preciso um conjunto de políticas atuando de forma integrada e não isoladamente. “Se você faz uma política educacional boa, por exemplo, esse jovem terá capacidade de gerar renda no futuro e ajudar a família, mas ele também precisará de um estímulo, de créditos, para que possa se desvencilhar das armadilhas que o mantêm preso à pobreza. “Não é uma questão de doação, mas de sustentabilidade”. E cita o exemplo da Poupança Escola, da Inglaterra. À medida que avança no ensino fundamental, o estudante recebe recursos na sua poupança e, quando termina o ensino médio, tem acesso a esse crédito. O economista chama a atenção, porém, para o fato de que essa política tem de ser combinada com incentivos e que deve ter uma avaliação constante. No Brasil, por exemplo, o CrediAmigo poderia estar na plataforma do Bolsa Família, gerando créditos para o jovem e sua família. Neri também defende que o Bolsa Família apóie famílias constituídas por jovens, apesar do risco de que isso possa estimular a gravidez precoce: “É legítimo ter medo de que isso ocorra, mas a melhor política ‘anti-fertilidade’ é a educação. Por isso, as duas devem ser combinadas.” Ele sugere ainda que as políticas para famílias procurem refletir as diferenças de gênero e possam ser “testadas” antes, em escalas menores, e somente depois ampliadas para o País. Para Lúcia Modesto, diretora do Departamento de Cadastro Único do Bolsa Família, do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o maior desafio de políticas públicas para famílias, que alcancem os jovens, é mantê-los na escola. A evasão é muito grande nas
populações pobres, perpetuando a pobreza. Para ela, a expansão do Bolsa Família pode dar conta dessa realidade. São 11 milhões de famílias atendidas pelo programa e estimase que a ampliação atinja cerca de dois milhões e meio de jovens. “Se o Bolsa Família conseguir garantir a permanência desse jovem na escola, até o fim do ensino fundamental, já teremos um avanço”, diz Lúcia. Ao contrário de Marcelo Neri, ela defende que o recurso seja entregue ao responsável pela família e não ao jovem e que, no caso das contrapartidas exigidas pelo programa, as políticas se cruzem, para que as escolas possam oferecer mais qualidade ao aluno e ele tenha interesse em permanecer nela. Neste sentido, Neri lembra que, do público de 15 a 17 anos que está fora da escola, apenas 25% alegam motivos econômicos, levantando a seguinte questão: Por que a escola não consegue manter os jovens em sala de aula? No mínimo, ela precisa ser mais atrativa, concorda o economista, para quem a condicionalidade, na hora de repassar o recurso, deve ocorrer não só em relação à presença do aluno na escola, mas da evolução do seu aprendizado. Ele sugere ainda que essa avaliação não fique a cargo somente do professor, que estabelece uma relação íntima com o aluno e pode acabar não tendo coragem de avaliá-lo mal, para que ele não perca o recurso. “Deve haver uma avaliação externa. Isso ajudaria a distensionar a relação professor-aluno.”
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ciência
LAÇOS DE FAMÍLIA OS ARRANJOS ESTÃO MUDANDO, MAS A PRESENÇA PROTETORA DA FAMÍLIA CONTINUA IMPRESCINDÍVEL para OS JOVENS Por _ Frances Jones Ilustração _ Seva Kunja Devi Dasi
No turbilhão de mudanças vividas nos últimos 30 anos com relação à estrutura familiar, as fronteiras entre o que é e o que não é uma família já não parecem muito claras. Os álbuns de fotografias com papai, mamãe e seus filhos biológicos no mesmo quadro perdem espaço para arranjos dos mais variados, cujas possibilidades foram ampliadas pelo declínio da sociedade patriarcal e pelos avanços científicos na área de reprodução humana. No campo da psicologia e da psicanálise, a definição sobre o que é uma família e quais são suas funções também pode variar bastante, mas há consensos. “Não é qualquer grupo organizado em torno de relações de afeto e cuidado que compõe uma família”, diz o psicanalista Christian Ingo Lenz Dunker, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
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A CONQUISTA DA AUTONOMIA E DA INDEPENDÊNCIA GERA CONFUSÃO, DESAGUANDO em CONFLITOS ENTRE PAIS E FILHOS Os elementos centrais para a constituição de um grupo familiar, afirma Dunker, giram em torno de três pontos: as relações de troca e interdição dentro da família (os casamentos e os laços sexuais devem ocorrer com elementos exteriores à família em que se nasce), as relações “nãoinversíveis” dentro de uma configuração familiar (o pai jamais será filho e o filho jamais será pai na família em que se encontra) e a possibilidade de transmissão simbólica de objetos (culturais e econômicos), de palavras (o nome e a história familiar) e de funções (paternidade, maternidade e fraternidade). “Discute-se se todos esses elementos se concentram ou não na figura do filho”, afirma Dunker. “Dessa maneira, a possibilidade de estabelecer filiação, seja ela sobreposta aos eventos biológicos, ou não (como na adoção, por exemplo), seria o elemento constitutivo de uma família.” Para a psicanalista Maria Consuêlo Passos, coordenadora de pós-graduação de psicologia da Universidade São Marcos, em São Paulo, o que faz a diferença entre uma família e os demais grupos são os investimentos de afeto recíprocos “de uma natureza muitís-
simo diferente dos outros tipos de investimento”. “Esse lugar que a criança adquire na família, possibilitado pelo grupo familiar, é a matriz de todos os lugares que ela vai ocupar no mundo ou ao longo de sua vida.” Uma das transformações percebidas pelos estudiosos é de que a família vem perdendo gradualmente a organização vertical, com uma geração tendo forte ascendência de autoridade sobre a outra, e tem se tornado cada vez mais horizontal, com a valorização de laços fraternos e paritários. Hoje, não se pensa mais em um único modelo de família, mas já se fala em famílias monoparentais (constituídas em torno apenas do pai, ou da mãe), homoparentais (com duas pessoas do mesmo sexo) e em um retorno das famílias estendidas ou ampliadas, com filhos de vários casamentos convivendo juntos de modo flutuante, ou alternado, em diversas casas. As novas formas podem até surpreender os adultos, mas pesquisas indicam que crianças e jovens são tolerantes com relação aos arranjos atuais.
Confrontos à vista Independentemente da forma do arranjo familiar, psicólogos e psicanalistas vêem uma importância crucial da família nos anos da adolescência e da juventude, quando o sujeito passa de criança a adulto. Nesse período, o jovem tem de compor a sua nova identidade e encontrar o seu lugar no mundo, que não se restringe ao antigo círculo familiar. Nesse momento, as autoridades paterna e materna são desmistificadas e ganham novo significado. Ao construir a própria autonomia, o jovem questiona a autoridade dos pais. “É preciso destruir o outro simbolicamente para ressignificá-lo”, diz Maria Consuêlo. Ao mesmo tempo em que exploram os limites e exercitam suas regras, os jovens demandam dos pais, muitas vezes sem expressá-lo verbalmente, referências firmes e contenção dos seus excessos. De acordo com Christian Dunker, o “jogo” de conflitos entre pais e adolescentes e jovens vem da confusão mútua entre independência e autonomia (definida pela capacidade de alguém responsabilizar-se pelo próprio desejo). “Geralmente os jovens esperam ter sua dependência atendida e ao mesmo tempo sua autonomia preservada. Inversamente, os pais querem ter a sua autonomia recuperada (após tanto tempo de dependência intensa para com os filhos) e relutam em abrir mão da autoridade que a dependência lhes confere”, afirma Christian. “A dolorosa solução passa pela descoberta de que a única autonomia possível é aquela conquistada pelo próprio sujeito.”
Apesar de o grupo familiar poder ser visto como um refúgio – já que em tese os pais amam os filhos pelo que eles são e não pelo que fazem, ao contrário do universo social –, essa estrutura também pode ser percebida como um obstáculo para a livre construção da identidade.
Refúgio e obstáculo A estudante de publicidade e propaganda da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Júlia Dias Fontes, de 19 anos, reconhece que é muito difícil conviver com outras pessoas, “mesmo sendo sua família”, mas percebe o grupo como fundamental. “Nada dispensa uma família. Ser humano nenhum vive sem a idéia de uma. Não precisa ter papai, mamãe, irmão, papagaio e cachorro, mas só ter a idéia de família é muito importante para a cabeça da pessoa. Acho que pessoas sem idéia de família, solitárias, são um pouco perdidas, de certa forma.” Clara Ribeiro Camargo, de 20 anos, que estuda relações internacionais na Unesp, em Franca (SP), e mora com amigas em uma cidade diferente da dos pais e irmãos, vê pontos positivos no conflito familiar. “Não é muito bom para a convivência ter conflito sempre, porque fica cansativo, mas depois que briga, a família fica toda linda, a gente se abraça e fica mais próximo.” Para ela, uma das diferenças fundamentais entre o grupo da família e um grupo de amigos é a franqueza e a disponibilidade constante. “Você pode ter certeza de que pode contar com a família em qualquer lugar e em qualquer hora que precisar.”
Porto seguro Outra questão é que, apesar de existir um movimento mais democrático dentro das famílias, muitas vezes na sociedade atual os diversos arranjos também podem vir junto com uma fragilização das trocas afetivas, afirma Maria Consuêlo. Ao não se colocarem na posição de autoridade, os pais têm dificuldades em exercer suas funções. Sem contarem com um “porto seguro” na família, independentemente de sua forma, os jovens partem em busca de outros ‘lugares’, que podem ser as drogas, o álcool, o uso abusivo das relações virtuais e até mesmo as academias de ginástica. Um estudo feito por pesquisadores do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), publicado em 2005 na Revista de Saúde Pública, com 62 jovens entre 16 e 24 anos, de classe social baixa de São Paulo, apontou uma “estrutura familiar protetora” como uma das principais razões, ao lado da informação, para indivíduos considerados em situação de risco não usarem drogas ilícitas. O que os pesquisadores chamaram de “estrutura familiar protetora”, no entanto, está longe daquilo que em geral se apresenta no comercial de margarina. “A maior parte dos entrevistados morava apenas com a mãe e alguns eram filhos de pais diferentes que seus irmãos”, ressalta Zila van der Meer Sanchez, pesquisadora do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid), uma das coordenadoras do estudo. “A grande diferença entre o grupo de usuários e de não-usuários de drogas estava no relacionamento familiar: era importante ter alguém que se preocupava com o filho. Por exemplo, que queria saber como foi o dia na escola, com quem havia voltado da escola, com quem estava brincando na rua, quem eram os amigos e os pais dos amigos dos filhos”. Um grande desafio para a psicologia agora é investigar como as novas configurações – quando, por exemplo, técnicas de reprodução assistida são utilizadas para gerar filhos dentro de arranjos “não-clássicos”, como homens ou mulheres numa relação homossexual, ou mulheres sozinhas que buscam fertilização – vão repercutir na subjetivação e na constituição psíquica dos filhos. “Esse tipo de questão é instigante, mas não partindo da idéia de que possa gerar doença”, afirma Maria Consuêlo. “Do meu ponto de vista, isso não se coloca no momento, a partir das pesquisas às quais tenho acesso.” Nessas novas configurações, diz, “perde a biologia, mas ganha o desejo”.
Crescer impõe mudanças nas relações com a família, mas os jovens ainda demandam referências protetoras
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Gustavo Lang, 17 anos, é de Paraupebas (PA)
Salviano Machado
chat de revista
GUERRA E PAZ QUATRO JOVENS DISCUTEM AS CAUSAS DAS TENSÕES NAS RELAÇÕES FAMILIARES Sandra Oliveira, 23 anos,
Carlos Nogueira
é paulista de Santos
Estevam Scuoteguazza
Gabriela de Oliveira, 21 anos, é de Campinas (SP)
projeto Meninos de 4 Pinheiros. E o estudante e músico Gustavo Lang, também de 17 anos, faz parte do Vale Juventude, em Paraupebas, no Pará. No projeto, patrocinado pela Fundação Vale do Rio Doce, o tema família permeia todas as atividades. A seguir, os principais trechos do bate-papo entre os jovens.
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Rodolfo de Sousa, 17 anos, é de Curitiba
Tiago Bonagura
O desenvolvimento do indivíduo depende das relações que ele constrói nos diversos espaços sociais, em especial na família. Suporte essencial na infância, o valor da família é reconhecido também pelos jovens, o que não elimina conflitos – muitos filhos que afirmam considerar a família importantíssima admitem que no diaa-dia vivem em pé de guerra com os pais ou irmãos. Neste chat de revista, quatro jovens comentam o tema e tentam explicar o porquê dessa tensão tão freqüente. Todos participam de projetos sociais que procuram reunir de alguma forma pais e filhos. Como Gabriela Maria Rodrigues de Oliveira, 21 anos, que atua na ONG Semente Viva, em Campinas (SP). A instituição aposta na família para preservar e recuperar o meio ambiente. A universitária Sandra Oliveira, 23 anos, faz estágio no projeto Família Legal, em Santos (SP), prestando orientação jurídica à reintegração familiar de crianças e jovens que vivem em abrigos. Rodolfo Monteiro de Sousa, 17 anos, de Curitiba (PR), é um dos jovens beneficiados pela Fundação Profeta Elias, que presta assistência a crianças e adolescentes de rua com o
ONDA JOVEM: Por que é tão comum haver conflito entre o jovem e sua família? Sandra: Embora os jovens tenham consciência de que a família é muito importante, é nesse meio que se impõem os limites. E os jovens estão em uma fase da vida em que não aceitam nenhum tipo de imposição. Acho que pode ser essa a explicação para eles viverem em pé de guerra com os pais ou outros familiares. Rodolfo: Porque muitos pais não conseguem enxergar as mudanças que ocorrem no mundo. Eles se tornam conservadores em muitos casos, com dificuldade para compreender o ponto de vista dos jovens. Gabriela: Para mim, os conflitos aparecem mais quando as opiniões não combinam, e, em geral, as opiniões não combinam porque falta mais convívio entre pais e filhos. Gustavo: O ser humano está em constante transformação e o jovem passa por um processo de consolidação da personalidade. Por isso, os conflitos de idéias entre os membros das famílias irão sempre ocorrer. O importante é ter diálogo. E tem mais um ponto: o jovem acredita que é capaz de resolver tudo sozinho, que a opinião dos pais é ultrapassada, que os irmãos não podem ou devem participar do mesmo grupo de amizades, mas, com o passar do tempo, ele passa a valorizar o meio familiar, principalmente quando ele vai viver longe de casa. gustavo
“Os pais pensam no futuro, e os filhos querem viver o presente”
Gustavo Lang
para fazer
contato
OS MENINOS DE 4 PINHEIROS, da Fundação Educacional Meninos e Meninas de Rua Profeta Elias Contato BR 116 – KM 149,8 – Caixa Postal 13018, CEP 83800-000 – Quatro Pinheiros, Mandirituba, Paraná. Tel./fax: 41/3633-1159 e 3633-5034. E-mail: fundação@4pinheiros.org.br. Site: www.4pinheiros.org.br ONG SEMENTE VIVA Contato Rua Pedro Gianfrancisco, 7, Parque Via Norte, CEP 13065-195, Campinas, SP. Tels.: 19/3032-7864/9196-8485. E-mails: sementeviva@sementeviva.com.br; sementeviva04@yahoo.com.br. Site: www.sementeviva.com.br
Você acredita que a família é uma fonte de estímulo ou um obstáculo a ser superado? Por quê? Rodolfo: Acredito que a família deveria ser sempre uma fonte de estímulo para o jovem, pois é na família que podemos confiar, é onde firmamos laços de afetividade. Gustavo: Acho que tudo depende do grau de parentesco, do relacionamento e do entrosamento entre as pessoas que fazem parte do grupo familiar. A meu ver, a família representa estímulo quando pais e filhos conseguem conrodolfo versar sobre interesses mútuos, conseguem fazer planos para o futuro e, principalmente, conseguem dialogar sobre os problemas que cada membro da família está vivendo. Nas situações inversas, a família é obstáculo. Isto é, na situação em que cada um vive em seu próprio mundo, sem compartilhar sonhos e até, algumas vezes, prejudicando os planos do outro por considerar bobagem, por falta de apoio. Muitas vezes, os pais preferem se omitir diante das indagações dos filhos. Sandra: Acredito que a família seja uma fonte de estímulo, quando se apresenta bem estruturada e consciente da responsabilidade que exerce para a formação e a inclusão do jovem na sociedade. Gabriela: Na minha família, encontro estímulo, mas isso depende muito da educação e do convívio familiar. Na sua experiência, o que mais costuma atrapalhar a boa convivência com a família? Sandra: Muitas vezes, é a intolerância dos pais com o jovem e sua necessidade crescente da descoberta e da novidade. Outro fator importante é a presença de todos na rotina familiar. Os pais estão mais ausentes hoje, o que dificulta a construção de vínculos com os membros da família. Rodolfo: Acho que a falta de comunicação e a falta de limites são os principais fatores para atrapalhar a convivência numa família. Gabriela: O que mais atrapalha é a falta de afinidade, de compreensão e de respeito. Gustavo: O principal problema é os pais não respeitarem os sonhos dos filhos. Tudo aquilo que os jovens idealizam os pais costumam não valorizar. Querem que os filhos assumam responsabilidades que eles ainda não estão preparados para executar. São mundos diferentes, os pais pensam no futuro, e os filhos querem viver o presente.
Quais seriam as condições básicas para uma boa relação entre pais e filhos? Rodolfo: Respeito, diálogo e confiança. Gustavo: O diálogo ainda é a melhor maneira de se ter uma boa relação familiar. Na adolescência, passamos por vários conflitos e muitas vezes nos envolvemos em situações perigosas devido a esses conflitos. Se nossa relação com os nossos pais for aberta e confiável, assuntos que discutimos com amigos (muitas vezes mais perdidos que nós) seriam conversados e esclarecidos em casa. Sandra: Respeito mútuo e muito diálogo são as regras básicas de qualquer bom relacionamento, seja familiar, entre um casal, ou entre amigos. É que em qualquer relação existem conflitos, e o respeito e o diálogo são os melhores instrumentos para superá-los sem grandes transtornos. Gabriela: Acho que são várias coisas. Entre pais e filhos, é preciso de mais carinho, mais atenção, mais conversa, mais participação em atividades esportivas ou na escola. Você acredita que questões sociais mais amplas, como a violência, a pobreza, o desemprego, podem afetar as relações familiares? Sandra: Creio que sim. Questões como essas podem atingir cada membro da família isoladamente, mas causar transtornos e afetar de modo momentâneo ou permanente as relações de toda a família. Gustavo: Sim, é claro. A violência apavora os nossos pais, fazendo com que eles tentem nos deixar cada vez mais protegidos (sob suas asas), mas essa atitude irrita muito os jovens, que tendem a ser destemidos, aventureiros, achando que conseguem resolver qualquer situação. A desigualdade social também atrai problemas para a família. Os jovens que não conseguem adquirir os bens materiais que estão na moda com freqüência têm conflitos familiares. Enfim, todas as questões sociais podem ser fatores de risco para a família, interferindo diretamente, pois a família é uma microcomunidade. Gabriela: Sem dúvida. E muitas vezes vemos isso acontecer por culpa das autoridades responsáveis. Como no caso de faltar remédio num centro de saúde. Uma situação como essa Gabriela vai gerar desgastes, brigas e afetar a “saúde” da família.
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FAMÍLIA LEGAL, da Universidade Metropolitana de Santos – Unimes e Associação Comunidade de Mãos Dadas – ACMD Contato Rua da Constituição, 374. Tel.: 13/3226-3400, ramal 3467 (Família Legal/Unimes); Av. Ana Costa, 255, 1º andar, CEP 11060-001. Tel.: 13/3222-5002 (ACMD) VALE JUVENTUDE, da Vale do Rio Doce Atuação: Abaetetuba, Barcarena, Marabá, Paraupebas e Tomé Açu, no Pará Contato: Márcia Campos, Instituto Aliança, Rua Frederico Simões, 153, Ed. Orlando Gomes, sala 1406, Salvador, Bahia, CEP 41.820 – 774, e-mail: mcmapos@institutoalianca.org.br
Na sua opinião, que ação do governo pode beneficiar os jovens e suas famílias? Rodolfo: Acho que seriam boas medidas reduzir horários de bares, criar centros recreativos para promover a integração comunitária do jovem e de sua família e fazer palestras para aumentar a informação sobre temas polêmicos como violência e drogas, entre outros. Gabriela: O governo deveria dar mais apoio a projetos sociais e esportivos. Seria legal, por exemplo, um sorteio anual de casas populares totalmente gratuitas para famílias carentes. Acho que é o tipo de ação que beneficiaria o jovem e sua família. Gustavo: Importante seria um investimento maior na educação, vincular ações de empresas privadas com ações do governo, para capacitar com eficácia os jovens para o mundo do trabalho, e aprimorar significativamente a educação no País. É importante também que o acesso do jovem ao mercado de trabalho seja facilitado, pois isso ajudaria a melhorar a situação financeira de várias famílias. Sandra: Sem dúvida, melhorias na educação. Os jovens que têm uma boa educação serão filhos melhores e, futuramente, pais exemplares em condições de formar famílias com princípios dignos.
“Respeito mútuo e muito diálogo são as regras básicas do bom relacionamento familiar”
Sandra Oliveira
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Cartas
COMUNICAÇÃO E PAZ
Nós, do Programa Reflexões e Debates para a Consciência Negra, recebemos a mais recente edição da revista Onda Jovem com o tema Paz. Obrigado e o que mais dizer? Mais um show de bola! Acho que já dissemos tudo de um repertório de elogios. É surpreendente como vocês colocaram o gabarito no mais alto patamar e o mantém edição a edição. Sabendo o que isso requer, ficamos de boca aberta. George de Araújo e Carla Lopes, Rio de Janeiro, RJ
Recebi a revista Onda Jovem sobre Paz. Está muito boa! Sou coordenadora do Projeto Jovem Liderança, da Secretaria Municipal de Educação de Varginha, que está iniciando suas atividades com o subprojeto Grêmio nas Escolas – Pelo Fim da Violência, e gostaria de receber outras edições. Priscilla Bibiano, Varginha, MG
Recebi a edição de Onda Jovem sobre Paz e adorei o trabalho de vocês! Parabéns ao Grupo Votorantim pela iniciativa. Sou colaboradora de uma empresa que possui em seu quadro funcional menores aprendizes (estagiários) e, por isso, gostaríamos de receber outras edições. Gabriela Machado, Florianópolis, SC Vocês podem me enviar o exemplar de Onda Jovem que tem como tema Comunicação? Sou estudante dessa área e também educadora popular da ONG cearense Instituto de Juventude Contemporânea (IJC). Comunicação é o tema com o qual mais trabalho. A revista será de muita utilidade para as discussões. Roberta França, por e-mail Tenho 22 anos e coordeno um trabalho com 50 jovens em uma ONG em São Mateus, periferia de São Paulo. Os jovens desenvolvem ações para promover e incentivar o hábito da leitura. Atuamos em centros educacionais, praças públicas e hospitais. Conheci um número de Onda Jovem, sobre Comunicação, e levei para os jovens do grupo. Eles gostaram muito e seria ótimo receber todas as edições. Beto Silva, São Paulo, SP Sou coordenadora de Comunicação Social e Cultura da Província Marista do Brasil Centro-Norte. Gostaria de receber a revista Onda Jovem com o tema Comunicação. Aproveito para parabenizá-los pela qualidade técnica e editorial da publicação. Amanda Ribeiro, por e-mail
APOIO À EDUCAÇÃO
Sou professor de Matemática na Escola Estadual Valace Marques e gostaria de ressaltar a qualidade e a importância dos artigos da revista Onda Jovem para nossos alunos, em qualquer disciplina. Por isso reforço o pedido de recebimento da publicação. Obrigado. Edivelton Tadeu Mendes, São Paulo, SP
Faça contato Envie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. Onda Jovem se reserva o direito de resumir os textos. Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320, conjunto 403, CEP 04111-001, São Paulo, SP. E-mail:
ondajovem@olharcidadao.com.br.
Tenho 25 anos, sou professora de História e trabalho com juventude em periferia. Desenvolvi o projeto de formação protagonista do Grupo Juventude Zona Leste e fui convidada a trabalhar na Universidade Federal de Rondônia. Estamos planejando projetos voltados para a juventude. Tive acesso à revista Onda Jovem e fiquei encantada com a qualidade do material, em todos os aspectos. Nina Sayonara de Melo Lima, Porto Velho, RO
Sou professor da rede estadual em Pernambuco. Ganhei a última edição de Onda Jovem e gostei muito do conteúdo. A revista será muito útil em meu trabalho com os alunos. Gostaria de receber as próximas edições. Wagner Germano Lima, por e-mail Trabalho no setor pedagógico da Secretaria Municipal de Educação e gostaria de receber a revista. Se possível, até números anteriores. Raquel Zanotto Maffessoni, Caxias do Sul, RS Fiquei conhecendo a revista Onda Jovem e achei muito interessante. Trabalho no Juizado da Infância e Juventude de minha cidade, e os assuntos abordados por vocês têm relação com o meu trabalho. Claudia Rosa Pansini Cunha Belo Horizonte, MG Sou da Cruzada do Menor, instituição social sem fins lucrativos, com foco em projetos socioeducativos. Sou fã da revista Onda Jovem. Os assuntos abordados têm nos ajudado na reflexão com nossos jovens. Patrícia Monte, por e-mail Sou coordenador do Casa Brasil de Vila Velha, da Cáritas Arquidiocesana. Conheço o trabalho de vocês e gostaria de receber Onda Jovem. Eduardo Mariano Ribeiro, Vitória, ES
Gostaria de receber a revista Onda Jovem, pois sou educadora social. Trabalho com jovens e atuo numa associação socioeducativa da cultura hip hop, no Capão Bonito. Leonice da Silva São Paulo, SP
PROJETOS JUVENIS
Somos da Red de Organizaciones Juveniles Autónomas (ROJA) e gostaríamos muito de manter comunicação. Wankar Fulguera Condori Cochabamba, Bolivia Sou gestor do ProJovem. O programa, do governo federal, é dirigido ao público jovem, de 18 a 24 anos, e por isso temos interesse específico na revista Onda Jovem. Sua linguagem é acessível, dinâmica, e os assuntos são de interesse dos jovens. Solicitamos o envio de exemplares para a biblioteca e também para atividades em sala de aula. Paulo Sérgio Vieira, Vitória, ES Parabéns pelo trabalho de vocês! Aqui, no Ponto de Cultura Tô Aí, temos recebido suas notícias, que repassamos para os jovens, que também as divulgam. Lucila, São Paulo, SP Recebemos a revista Onda Jovem. Maravilha! É um excelente trabalho voltado a este nosso público que é, pensa e age jovem. Somos o Ponto de Cultura Capoeira Cidadã. A revista reflete o que vivemos cotidianamente, traz matérias que reluzem em nossas vidas. Luiz Santana, Araci, BA Quero muitas revistas Onda Jovem! Sou assistente social e trabalho no projeto Agente Jovem. As revistas são fonte de informação no meu trabalho na comunidade. Juliana Marcelino, Fortaleza, CE
Gostaríamos muito de receber a revista. Sou coordenador de Juventude de Porto Velho. Temos um site (www.juventudedepvh.com) e estamos articulando a criação da Rede Amazonidas, de jovens comunicadores. Samuel Pessoa da Silva, Porto Velho, RO Sou educadora de inclusão digital e trabalho com adolescentes em um projeto da prefeitura de Londrina. A revista trata de assuntos que são riquíssimos nas discussões em oficinas. A publicação será uma ferramenta no desenvolvimento do meu trabalho. Fabiana Redon, Londrina, PR Faço parte de um projeto que trabalha com a juventude paraibana, e utilizamos algumas reportagens nas atividades com os jovens. Por isso, temos grande interesse em obter as edições de Onda Jovem. Jeane Borges, por e-mail Sou presidente de uma associação de jovens e me interessei pela causa de Onda Jovem. Somos muito desprovidos de informação e, com certeza, a revista nos ajudará muito. Daniel Gleyson Silva dos Santos, por e-mail Gostaria de obter exemplares antigos de Onda Jovem para finalizar um workshop com jovens do projeto EJA (Educação de Jovens e Adultos). Sandra Maria Barbosa Albuquerque, por e-mail Sou assistente social do ProJovem e gostaria muito de receber exemplares da revista Onda Jovem. Obrigada pelo trabalho que vocês vêm realizando. Elisangela Maria Silva, Aparecida de Goiânia, GO Sou diretor da UPES (União Paulista dos Estudantes Secundaristas) e pertenço ao Movimento Mudança, que incentiva a construção de grêmios estudantis e dá suporte àqueles que já existem, por meio de rádios escolares, jornais estudantis, peças de teatro, etc. Gostaria de receber as edições de Onda Jovem, pois queremos ter ainda mais acesso a outros grupos de jovens para fazer intercâmbios. Wilson de Souza, São Paulo, SP
Como assistente social, trabalho com programas e projetos voltados para a juventude. Por isso, gostaria de receber a revista Onda Jovem. Thatiana Ferreira de Aquino, Cariacia, ES
ACESSO AMPLIADO
Foi com grande satisfação que a Biblioteca Madre Cristina do Instituto Sedes Sapientiae recebeu o exemplar de Onda Jovem sobre o tema Paz. Agradecemos a preciosa colaboração. Selma Dias da Cruz, São Paulo, SP Nós, da Biblioteca Paul Harris – SCSul, agradecemos o envio de Onda Jovem, que veio enriquecer nosso acervo. Biblioteca Paul Harris – SCSul, por e-mail Entro em contato para solicitar exemplares de Onda Jovem, que farão parte do acervo do Centro de Referência Adelmo Turra. Claudia Penalvo, por e-mail Em nome da Biblioteca Comunitária Jacob Daglian, do Centro Universitário Fundação Santo André, agradecemos o envio da revista Onda Jovem. A publicação passa a integrar nosso acervo para consulta de alunos, professores e comunidade em geral. Marcia C. Alecrim, Santo André, SP
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Navegando
comunidade em família A visão gráfica de um designer carioca
Admirador das artes do rap, o carioca Leandro Fernandes Gonçalves, 23 anos, só começou a se interessar pelo desenho gráfico ao fazer um curso sobre o tema, em 2004. Hoje, é designer gráfico do setor de Informática da Cufa, a Central Única de Favelas (www.cufa.com.br), organização criada no Rio de Janeiro que faz do rap um motivador para a iniciação artística de centenas de jovens, inclusive nas artes visuais. O setor de Informática, coordenado por Bruno Graça, é responsável pela criação de materiais gráficos e manutenção de sites da Cufa e suas muitas produções, como a Libbra – Liga Brasileira de Basquete de Rua, o Cine Cufa, festival de cinema internacional que exibe somente filmes realizados por periferias, e o Hutúz, o maior festival de hip hop da América Latina. Para Leandro, o tema família evoca a vida em comunidade, como na montagem com fotos produzida nos eventos da Cufa.
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O Instituto Votorantim apóia essa causa. ONDA JOVEM
E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.
www.ondajovem.com.br
família
O portal www.ondajovem.com.br dá acesso a todas as edições da revista, oferecendo ainda conteúdos exclusivos, como notícias diárias e planos de aula, propondo atividades com jovens baseadas nos assuntos em pauta.
ONDA JOVEM É UM DOS 50 JEITOS BRASILEIROS DE MUDAR O MUNDO Título concedido pelo Programa de Voluntários das Nações Unidas no Brasil – 2007
Em plena transformação, as relações familiares permanecem fundamentais para os jovens brasileiros
ano 4 – número 10 – março/maio 2008
a educadores, jovens, gestores públicos, pesquisadores, formadores de opinião e parceiros.
número 10 – março/maio 2008 – www.ondajovem.com.br
A causa é a juventude. A estratégia é o conhecimento. Onda Jovem dissemina idéias e práticas que interessam
FAMÍLIA