O Instituto Votorantim apóia essa causa. ONDA JOVEM
E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.
www.ondajovem.com.br
COMUNICAÇÃO ano 3 – número 8 – julho 2007
número 8 – julho 2007 – www.ondajovem.com.br
Porque, desde que foi criado, em 2002, para qualificar o investimento social do Grupo Votorantim, o Instituto Votorantim abraçou a causa juvenil, apoiando tecnologias sociais nas áreas de educação e trabalho, favorecendo articulações e disseminando conhecimento para promover o desenvolvimento integral do jovem. Nessa perspectiva, Onda Jovem é um projeto de comunicação a serviço da difusão de idéias e práticas, compartilhando as visões de educadores, jovens, gestores públicos, pesquisadores, formadores de opinião e outros segmentos que lidam com a juventude nas diferentes áreas. A revista é quadrimestral e distribuída gratuitamente em todo o país. Os conteúdos estão disponíveis também no portal www.ondajovem.com.br, com acréscimos exclusivos, como os planos de aula, que sugerem a aplicação dos textos em dinâmicas e atividades de reflexão com jovens.
COMUNICAÇÃO A contribuição das mídias à educação juvenil
sonar
EM
2006, O BRASIL TINHA 16.722 PONTOS DE INCLUSÃO DIGITAL
Jornais brasileiros têm tiragem diária média de 7,2 milhões de exemplares
ESCOLAS DE NÍVEL MÉDIO DEVEM
PAÍS É 2O NO MUNDO EM EMISSORAS DE RÁDIO
ANDRÉ ARRUDA-SAMBAPHOTO
SER INFORMATIZADAS ATÉ DEZEMBRO
DIVULGAÇÃO
Programa capacita jovens na
Paraíba pág. 8
ALUNOS DO ENSINO MÉDIO EDITAM JORNAIS NO CEARÁ pág. 22
3
PROJETO DE EMANCIPAÇÃO DIGITAL FORMA PROFESSORES ON-LINE pág. 46
Rádio une
estudantes rurais no Pará pág. 68
âncoras
“O jovem precisa saber como e onde buscar ferramentas que o representem fielmente.” Ana Cristina de Jesus, 18 anos,
integra projeto de produção de vídeos na Bahia
Serginho Groisman,
apresentador de programa de TV
MÁRCIA ZOET
“Os meios de comunicação que a juventude mais ouve são muito superficiais. Mas, hoje em dia, existem mídias especializadas para quem quiser.”
“Vale observar a capacidade dos meios de comunicação em contribuir para o desenvolvimento de uma visão crítica e de uma postura mais participativa entre o público jovem.” Veet Vivarta,
secretário executivo da ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância
“Estou passando da adolescência para a vida adulta publicamente, na internet. Falo de situações e problemas que acontecem com todo mundo.” Ana Paula Matta, 20 anos,
codinome Ímpar, tem um fotoblog
“O rádio abriu a minha mente e outros caminhos pra mim.” DEISE LANE LIMA
Fábio Campos, 25 anos,
ex-morador de rua, coordena a rádio carioca Madame Satã
“Eu não percebia o quanto é prioritária a acessibilidade para as pessoas com alguma deficiência.” Fábio Meirelles, 23 anos,
oficineiro da Escola de Gente, do Rio
“A educação pela comunicação pode se tornar uma metodologia poderosa de ensino e aprendizagem, capaz de transformar a escola e outros espaços para atender à demanda de educação no século 21.” Fernando Rossetti,
diretor do Gife e autor de livro sobre comunicação e educação
“Com a internet, não existe distância que a gente não consiga percorrer.” Mirtes de Araújo Anjos, 19 anos,
monitora digital em João Pessoa 5
Fabiano Leal, 19 anos,
estudante pré-vestibular on-line
AUGUSTO PESSOA
“O problema é a falta de local gratuito com profissionais capacitados para mostrar aos jovens o que a ferramenta digital oferece.”
“Não basta abrir portas para que os jovens tenham acesso às fontes de informação. É preciso permitir que eles próprios tornem-se produtores de conhecimentos.” Anna Penido,
diretora executiva da ONG Cipó – Comunicação Interativa
expediente
EQUIPE OI KABUM! RIO
ano 3 - número 8 julho/outubro 2007
ODAIR LEAL
Um projeto de comunicação apoiado pelo Instituto Votorantim Projeto editorial e realização Fátima Falcão e Marcelo Nonato Olhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humano www.olharcidadao.com.br Direção editorial Josiane Lopes
08
Projeto gráfico Artur Lescher e Ricardo van Steen (Tempo Design) Colaboradores texto: Anna Penido, Antônio Albino Canelas Rubim, Aydano André Motta, Cecília Dourado, Claudius Ceccon, Cristiane Ballerini, Cristiane Parente, Ismar de Oliveira Soares, Jane Soares, Karina Yamamoto, Marcelo Barreto, Marilena Dêgelo, Tetê Oliveira, Valmir Rodrigues, Veet Vivarta, Yuri Vasconcelos
CÉSAR TONIASSO
Secretaria editorial Lélia Chacon
foto: Augusto Pessoa, Beatriz Assumpção, Bruno Vilela, César Toniasso, Claiton Araújo, Davilym Dourado, Deise Lane Lima, Francisco Campos, Francisco Valdean, Gustavo Lourenção, Jaqueline Felix, Maiara Vieira, Márcia Zoet, Marcelo Mendonça, Odair Leal, Ronnievon Dantas, Samuel Silveira Lima
Capa: Clebinho Santos em “frame” do vídeo “Vila Maria”, produzido pela equipe da Rede Jovem de Cidadania, de Belo Horizonte
DIVULGAÇÃO
ilustração: Jey, Equipe Oi Kabum Rio
14
Apoio editorial: Instituto Votorantim/Izabella Ceccato Revisão: Moira de Andrade Diagramação Érico Prado Martins (D’Lippi Editorial) Tratamento de Imagem Anderson Torres (D’Lippi Editorial)
18
Impressão Ipsis Como entrar em contato com Onda Jovem: E-mail: ondajovem@olharcidadao.com.br Endereço: R. Dr. Neto de Araújo, 320 – conj. 403, São Paulo, CEP 04111 001 Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464 www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude Tiragem: 8 mil exemplares
DIVULGAÇÃO
Fotolito D’Lippi Editorial
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8 – Navegantes Jovens brasileiros, de diferentes regiões e condições, dizem como enfrentam os desafios de viver em plena era da informação e do conhecimento
14 – Mestres Os projetos de três educadores – do Rio Grande do Sul, de São Paulo e do Rio de Janeiro – transformam veículos de comunicação em ferramenta pedagógica
18 – Banco de Práticas Quatro iniciativas que fazem dos jovens os protagonistas da comunicação em Brasília, Niterói, Recife e Belo Horizonte
22 – Caminho das Pedras A ONG cearense Cultura e Comunicação vem superando resistências e ampliando o Clube do Jornal, que envolve estudantes do ensino médio na produção de jornais
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é o número de projetos com jovens que você verá nesta edição
26 – Horizonte Global O pesquisador colombiano Bernardo Toro explica por que a comunicação é tão importante para o aprendizado humano
30 – Sextante Antonio Albino Canelas Rubim defende que a identidade juvenil na Idade Mídia passa pela sua conexão com a comunicação e configura um direito cultural
32 – 90 Graus Claudius Ceccon analisa as estreitas relações entre a produção de conteúdos e a expressão artística e cultural
36 – 180 Graus Anna Penido comenta as contribuições que o uso consistente dos meios de comunicação pode trazer ao desenvolvimento integral dos jovens
40 – 270 Graus Ismar de Oliveira Soares escreve sobre o potencial pedagógico da educomunicação e sua percepção pela escola brasileira
44 – 360 Graus Veet Vivarta aponta avanços quantitativos e qualitativos -- que nem sempre são percebidos – na mídia dirigida aos jovens brasileiros
Sonar
02 Pistas do todo e de partes do universo da comunicação
7
Âncoras 04 Alguns conceitos e comentários sobre comunicação
48 – Sem Bússola A falta de um contexto educacional adequado atrasa ainda mais o pleno acesso dos jovens às tecnologias da informação e da comunicação
Fato Positivo
54 – O Sujeito da Frase
Jovens ampliam o espaço de produção na TV
Serginho Groisman, reconhecido pela qualidade de seu trabalho como apresentador de programas juvenis
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58 – Luneta A linguagem popular e a tecnologia acessível fazem do rádio um dos veículos mais favoráveis à educação pela comunicação
62 – .gov.com A inclusão digital está na pauta dos programas governamentais para a juventude, mas ainda falta ajustar o foco e a sintonia entre eles
Cartas
76 As mensagens dos leitores
66 – Ciência O avanço tecnológico impõe aos jovens uma realidade virtual que altera os modos tradicionais de relacionamento e traz novas questões
Navegando
70 – Chat da Revista
As fotos autorais dos jovens fotógrafos da agência Imagens do Povo, do Rio de Janeiro
Jovens do Pará, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia debatem a imagem da juventude veiculada pela mídia
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navegantes
GERAÇÃO PLUGADA Por _ Cristiane Ballerini
A chamada era da informação impõe muitos desafios aos jovens. O mundo está cada vez mais rápido e complexo. Os meios de comunicação tradicionais, como rádio e TV, se multiplicaram. O volume de dados digitalizados dobra a cada vinte meses e a internet se tornou a maior base de dados do mundo. Os celulares se popularizaram e os novos modelos oferecem cada vez mais opções de convergência. Jamais a humanidade produziu e veiculou tamanha quantidade de informação. Mas como transformar tanta informação em conhecimento relevante para a própria vida? Como participar ativamente desse cenário? Os jovens brasileiros estão buscando, ao seu modo, as respostas para estas questões. Sintonizados com o tempo, sabem que precisam de mais acesso às tecnologias da comunicação, mas também de mais educação – e respondem à altura quando encontram as duas coisas juntas. Na última década, várias iniciativas unindo duas áreas de conhecimento – a comunicação e a educação – vêm contribuindo para colocar milhares de jovens mais perto das respostas. As propostas de como fazê-lo são variadas, assim como a nomencla-
Os jovens brasileiros procuram responder aos desafios da era da informação e do conhecimento, mesmo com pouca formação e acesso precário às tecnologias tura: educação pela comunicação, educomunicação e mídia-educação, entre outros nomes. “A educação pela comunicação pode se tornar uma metodologia poderosa de ensino e aprendizagem. Capaz de transformar a escola e outros espaços para atender à demanda de educação no século 21”, diz Fernando Rossetti, diretor do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas e autor do livro Mídia e Escola – Perspectivas para Políticas Públicas, resultado de uma pesquisa iniciada em 2002, patrocinada pelo UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância, sobre projetos nos quais crianças e jovens criavam seus próprios meios de comunicação, como jornais, vídeos e sites. O poder transformador da experiência de “fazer comunicação” pode ser explicado por várias razões. A primeira é evidente: para realizar um produto de comunicação, os jovens passam a discutir idéias, a lidar com valores, prazos e padrões, desenvolvendo uma série de habilidades e competências. Uma prévia do que pode ser a vida adulta e o mundo do trabalho. Com relação ao currículo escolar, atividades dessa natureza são naturalmente
BRUNO VILELA/OFICINA DE IMAGENS
ROGER INÁCIO DOS SANTOS, 18 ANOS, é assistente de edição de vídeo em Belo Horizonte
inter e transdisciplinares, capazes de envolver conteúdos de diversas áreas e vários professores. Outra vantagem está nas relações mais horizontais que se estabelecem entre professores e alunos. Esses projetos pressupõem diálogo, construção coletiva do conhecimento, e todos aprendem juntos. Talvez esteja justamente nesse caráter “subversivo” uma das razões por que a educação pela comunicação não seja ainda uma metodologia adotada em larga escala pelas escolas. Para Rossetti, “sempre que você coloca uma mediação tecnológica nas mãos daqueles que estão abaixo na hierarquia de poder, eles questionam essa hierarquia. A comunicação faz isso nas escolas e gera alguma tensão. Em geral, as escolas brasileiras não lidam bem com isso. Elas experimentam pouco, são burocráticas e ainda estão presas à idéia de que devem apenas transmitir conteúdos”. O Colégio Bandeirantes, em São Paulo, é uma das escolas que investe esforços para fugir à regra. Há três anos, promove a edição de uma revista produzida inteiramente pelos alunos do segundo ano do ensino médio, um projeto implementado pelo jornalista Alexandre Le Voci Sayad, que é secretário executivo da Rede CEP, Rede de Experiências em Comunicação, Educação e Participação, que reúne algumas das primeiras instituições a utilizar a produção de mídia para a educação e o ativismo comunitário. “No colégio, há liberdade total para a escolha de temas e o produto final tem a marca dos alunos. Minha intenção é ser um moderador. Criar oportunidades para que eles interpretem e produzam mídia. É uma atividade que, entre outras coisas, gera algo para além dos muros da escola e cria um elo entre o conhecimento e o cotidiano dos alunos”, diz Alexandre.
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comanda o programa jovem de rádio comunitária em São Luís
DEISE LANE LIMA
realizou um filme sobre a história recente de seu povo, no Acre
MIRTES ANJOS, 19 ANOS, é monitora de inclusão digital em João Pessoa
A HUMANIDADE NUNCA PRODUZIU E VEICULOU TANTA INFORMAÇÃO. TRANSFORMAR O BOMBARDEIO DE DADOS EM CONHECIMENTOS RELEVANTES PARA A PRÓPRIA VIDA É UM DESAFIO PARA OS JOVENS
ODAIR LEAL
ZEZINHO KAXINAWA, 24 ANOS,
AUGUSTO PESSOA
FRANCISCO CAMPOS
TATIANA FERREIRA, 23 ANOS,
ANA PAULA, A APÊ, 20 ANOS é a fotoblogueira carioca Ímpar, que registra até 70 mil acessos por semana
CLAITON ARAÚJO
Fabiana Bastos, 16 anos, está entre o grupo que orgulhosamente assina a produção da revista publicada no fim de 2006, com 1.400 exemplares: “Achei a experiência muito legal. Aprendi muito. A gente começa a pesquisar e a discutir um assunto com um ponto de vista e termina com outro. Tem também a responsabilidade de fazer as coisas bem feitas e no prazo”.
Vídeo na aldeia Zezinho Kaxinawa, 24 anos, ainda se lembra das visitas dos brancos à aldeia de seu povo, no Acre. Na época, o que mais lhe despertava curiosidade não eram as roupas, a língua ou o modo como se portavam os homens da cidade. O menino adorava as câmeras e os gravadores.
MOISÉS FILOCRE, 18 ANOS, é o coordenador da web rádio de Irecê, na Bahia
FABIANA BASTOS, 16 ANOS, participa da edição da revista de sua escola, em São Paulo
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GUSTAVO LOURENÇÃO
Olhar adestrado Democratização, nesse caso, não passa apenas por disponibilizar meios de produção para que um grupo expresse suas idéias. O poder dos padrões dominantes em “adestrar” olhares pode levar o jovem a simplesmente repetir o que vê, como o telejornal ou a novela das nove. Para Bernardo Brant, sócio-fundador e coordenador de projetos da Oficina de Imagens, em Belo Horizonte, uma das principais funções da educação pela comunicação é favorecer uma análise crítica da mídia e dos modelos conhecidos para, então, dar início a uma produção mais genuína. “Nós procuramos desmontar esses padrões, fazer uma decupagem dos discursos e estabelecer relações entre várias manifestações, como pintura, cinema e fotografia”, diz. A Oficina de Imagens existe há nove anos. Durante três anos, entre 2002 e 2005, realizou um curso na rede municipal de ensino de Belo Horizonte, formando alunos e professores com a perspectiva de articular o conteúdo curricular e o processo de comunicação, sempre utilizando a fotografia como ponto de partida. Roger Inácio dos Santos, hoje com 18 anos, estava na sétima série quando sua escola foi selecionada para participar do projeto. No LATANET as câmeras fotográficas artesanais eram construídas a partir de latinhas de alumínio e as fotos expostas na internet. “Eu não era exatamente um bom aluno. Ia levando, como a maioria dos colegas, mas, quando começamos a estudar daquela maneira, mais dinâmica, minha relação com a escola mudou”, conta Roger. O rapaz se identificou tanto com a proposta de trabalhar com comunicação que se tornou monitor em outra escola. Hoje, Roger é assistente de edição dos vídeos produzidos por comunidades que participam do projeto Ocupar Espaços. Para as comunidades, o vídeo é uma forma de estabelecer intercâmbio cultural entre diversos grupos. Para Roger, a possibilidade de um futuro profissional: “Estou recebendo uma excelente formação nessa área e já penso em estudar e trabalhar com mídia”, diz.
Até os 11 anos de idade, Zezinho vivia numa aldeia isolada, na cabeceira de um rio, divisa do Brasil com o Peru e a Bolívia. A partir do contato mais intenso com os brancos, passou a estudar também o português e, aos 17 anos, viajou pela primeira vez para a cidade grande. “Tudo era muito diferente, mas eu queria aprender sobre a sociedade dos brancos”, diz.
Pouco tempo depois, veio a oportunidade de participar de uma oficina de vídeo promovida pela Vídeo nas Aldeias. A ONG existe há 14 anos e sua proposta é tornar o vídeo um instrumento de expressão da cultura indígena, estimulando a troca de imagens e informações entre os povos. Para isso, instala equipamentos nas aldeias e forma realizadores indígenas. Câmera
DAVILYM DOURADO
A EDUCAÇÃO PELA COMUNICAÇÃO ENVOLVE VÁRIAS HABILIDADES E PODE SER UMA FERRAMENTA PODEROSA DE ENSINO E APRENDIZAGEM, ESPECIALMENTE PARA OS JOVENS. MAS A ESCOLA AINDA É TÍMIDA NO SEU USO
O FUTURO É AGORA “De alguma maneira, eu sempre soube que iria trabalhar com algo que me possibilitasse liberdade de expressão. Em 2004, na escola onde cursava o último ano do ensino básico, pude participar do projeto EDUCOM do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo. Essa experiência começou a mudar minha vida. Como eu já estava na oitava série, para conseguir um lugar, me comprometi a continuar trabalhando com outros jovens, repassando conhecimento ao final do projeto. Tivemos uma formação em rádio e, durante três meses, fizemos vários programas. Com esse processo, um mundo se abriu para mim. Ganhei uma visão mais ampliada e crítica sobre vários assuntos, especialmente a comunicação e os processos envolvidos nas mídias. Em 2004, fui convidado a integrar o conselho editorial jovem da revista Viração. É uma publicação mensal, iniciativa do jornalista Paulo Pereira Lima. O que diferencia a Viração é o fato de jovens do Brasil inteiro – quase 300, em 17 capitais – participarem de todo o processo da revista: pautas, apuração, fotos e redação das matérias. Dá um trabalho danado, porque, imagine administrar as diferenças ideológicas, os conflitos que surgem a partir da relação entre tantas pessoas. A intenção da Viração é integrar o maior número de opiniões possíveis, dando voz aos jovens – especialmente àqueles ligados no que acontece em seus bairros, suas comunidades. No futuro, espero estudar Comunicação e Filosofia e continuar trabalhando como educomunicador, sempre articulando projetos que provoquem inquietação.”
DOUGLAS LIMA DOS SANTOS, 18 ANOS, é educomunicador do projeto Viração
em punho, Zezinho sabia exatamente onde queria chegar. Seu primeiro filme é um média-metragem, de 53 minutos, no qual três personagens – o pajé, a esposa e seu pai – mostram o cotidiano na aldeia e falam de um tempo desconhecido para os Kaxinawas mais jovens. “Até os anos de 1970, antes das demarcações, nosso povo trabalhava como escravo dos
seringalistas. Produzíamos borracha e não tínhamos liberdade de falar nossa língua ou praticar rituais”, conta Zezinho. Entre os 14 povos indígenas do Acre, os Kaxinawas são os mais numerosos. O filme de Zezinho foi o primeiro a registrar sua história e cultura. “Tudo isso é muito emocionante. Com essa tecnologia, as
novas gerações podem saber mais sobre nosso povo. E até o homem branco pode quebrar seu preconceito. Porque fica na sociedade essa idéia de que índio é tudo igual. Mas todos os povos têm sua identidade e uma diversidade enorme de línguas e tradições”, diz Zezinho Kaxinawa, que já dirigiu um segundo documentário. A voz da periferia Esquecidas na periferia da capital São Luís, no Maranhão, as comunidades pobres do Coroadinho encontraram no rádio uma forma de ação. Há cinco anos, com equipamentos doados por uma ONG, um grupo de moradores voluntários fundou a Rádio Conquista FM. Totalmente produzida pelos voluntários, a programação é composta por enquetes, entrevistas, debates – sempre a respeito de um tema que mobilize a população. Tatiana Ferreira, 23 anos, é a voz que comanda a revista sonora Mundo Jovem. Incentivada pela mãe, que sempre participou de movimentos sociais, Tatiana acredita no poder transformador da comunicação. “Nossa população não vive em um estado de direito pleno. Não temos acesso a serviços básicos, como saúde, e a violência por aqui é muito grave. A ação mobilizadora por meio do rádio e o diálogo com o poder público são estratégias para tentar mudar essa realidade”, diz a jovem que, longe dos microfones, estuda Engenharia de Pesca. Apesar das manifestações, como passeatas em favor da rádio comunitária, recentemente a Conquista FM teve a autorização de funcionamento negada pelo Ministério das Comunicações. Mas os moradores prometem insistir no projeto. “Estamos buscando explicações sobre as razões para estarmos fora do ar. Temos espírito comunicador e esse trabalho tem grande significado nos bairros”, diz Tatiana. Sem distâncias Trabalhar em rádio também fascina Moisés Filocre, 18 anos. É ele quem digitaliza todo o áudio e coloca no ar a programação da primeira rádio web de Irecê, na Bahia. A rádio faz parte do Ciberparque, um centro de produção multimídia que recebe apoio da prefeitura municipal e da Universidade Federal da Bahia, para democratizar o
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gigantesco”, diz Durval Leal Filho, presidente da ONG Para’iwa Coletivo de Assessoria e Documentação, que atua na Paraíba há doze anos. Um dos projetos da Para’iwa é criar uma rede de formação nas comunidades sem acesso à informática, possibilitando o uso da tecnologia digital como canal de comunicação. Dois centros, um em João Pessoa e o outro em Bananeiras, já oferecem cursos. Mirtes de Araújo Anjos, 19 anos, foi uma das primeiras a participar e hoje ensina as crianças do bairro. “Minha
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acesso à cultura digital. Moisés começou como voluntário e, em seguida, foi formado para trabalhar com softwares livres: “Hoje, sou contratado pela prefeitura e tenho um grande orgulho de transmitir nossos eventos culturais e festivais. Até gente do exterior fica sabendo o que acontece em Irecê porque, pelo computador, todos podem nos escutar”. Também a vida da carioca Ana Paula Matta, 20 anos, seria muito diferente sem a internet. Ela começou a ser conhecida na rede aos 15 anos, quando criou seu primeiro blog. “Eu não tinha um projeto. Queria mesmo era falar da minha vida, me comunicar com outras pessoas”, diz Apê, como é conhecida. Com o codinome Ímpar, ela passou a publicar um fotoblog, com fotos e textos, sobre seu diaa-dia e moda. Foi um sucesso e as visitas semanais chegaram a 70 mil. Por conta disso, Apê recebeu o convite de uma marca de sandálias para ser uma espécie de “embaixadora” do produto. “Acho que o sucesso rola porque as pessoas se identificam. Estou passando da adolescência para a vida adulta publicamente, na internet. Falo de situações e problemas que acontecem com todo mundo, seja em Portugal, na Alemanha ou no México”, diz Apê, que se prepara para o vestibular de moda. “A internet me trouxe mais do que um canal de expressão. Também fiz grandes amigos, gente que talvez seria difícil conhecer, pelas distâncias”. Mas os recursos tecnológicos que colocam o trabalho de Moisés e o mundo de Apê na web ainda estão distantes da maioria dos jovens do país. No Brasil, a internet tem somente 35 milhões de usuários, a maioria nos grandes centros urbanos e entre as classes favorecidas. Anunciado por especialistas e discutido na universidade, o apartheid digital caminha ao lado de outras formas de exclusão. “Em um dos bairros onde atuamos, moram 16 mil pessoas, em uma área de cinco quilômetros quadrados. Há esgoto a céu aberto, violência, pobreza. Trabalhar para inserir uma comunidade com problemas estruturais na era da informação é um desafio
vida mudou desde que aprendi a usar o computador. Participo de palestras on-line e conferências. Como faço parte de um projeto de economia solidária, preciso estar sempre me informando sobre outras experiências”, diz Mirtes, otimista com a expansão de seus projetos. “Com a internet, não existe distância que a gente não consiga percorrer.”
PROJETO OFICINA DE IMAGENS ÁREA DE ATUAÇÃO MINAS GERAIS, COM AÇÕES CONCENTRADAS NA CAPITAL, NA REGIÃO NORTE DO ESTADO E VALE DO JEQUITINHONHA. PROPOSTA Desenvolver projetos na área de Comunicação e Educação que auxiliem na promoção dos direitos humanos, especialmente das crianças e adolescentes brasileiros. JOVENS ATENDIDOS 700 jovens, em 9 anos de atuação. APOIO Avina, Cemig, Unicef, Tim, Visão Mundial, Instituto Telemig Celular, Instituto Credicard, Rede Andi, Gráfica O Lutador, Wabrasil. CONTATO Rua Salinas, 1101. Bairro Santa Tereza – Belo Horizonte, MG. CEP: 31015-190. Tel.: 31/ 3482-0217. Site: www.oficinadeimagens.org.br. E-mail: administracao@oficinadeimagens.org.br
PROJETO PARA’IWA COLETIVO DE ASSESSORIA E DOCUMENTAÇÃO ÁREA DE ATUAÇÃO ESTADO DA PARAÍBA. NA CIDADE DE JOÃO PESSOA, O PROJETO DA OFICINA DE IMAGENS SE CONCENTRA NO BAIRRO SÃO JOSÉ. PROPOSTA Reconhecimento e difusão da realidade regional por meio da linguagem audiovisual e multimídia. JOVENS ATENDIDOS 256 jovens no Ponto de Cultura Para’iwa Multivisual.net, em dois anos de atuação. APOIO Ministério da Cultura (Programa Cultura Viva), Universidade Federal da Paraíba/BRAC/COEX, Associação Unificada do Bairro São José, Sebrae PB. CONTATO Tel.: 83/ 3225-4772. Site: www.paraiwa.org.br. E-mail: paraiwa@gmail.com
PROJETO VÍDEO NAS ALDEIAS ÁREA DE ATUAÇÃO E POVOS INDÍGENAS MATO GROSSO (XAVANTE, SUYÁ, IKPENG, KUIKURO E PANARÁ), ACRE (ASHANINKA, KAXINAWA, MANCHINERI E YAWANAWA), AMAZONAS (WAIMIRI-ATROARI, PIRATAPUIA, TUKANO, BARÉ E TARIANO) E RORAIMA (MAKUXI). PROPOSTAS Formar realizadores indígenas, tornando-se escola e centro de produção de vídeo. Apoiar as lutas dos povos indígenas e fortalecer suas identidades e patrimônios culturais e territoriais. Já foram produzidos 41 vídeos e instalados equipamentos de vídeo em 20 comunidades indígenas. JOVENS ATENDIDOS 72 alunos em 41 oficinas realizadas. APOIO NORAD – Programa Norueguês para Povos Indígenas; Ford Foundation, Ministério da Cultura. CONTATO Rua de São Francisco, 162 – Carmo. CEP 53120-070 – Olinda, PE Tel./Fax:81/4933063. E-mail: videonasaldeias@videonasaldeias.org.br. Site: www.videonasaldeias.org.br
PROJETO PONTO DE CULTURA CIBERPARQUE ANÍSIO TEIXEIRA. ÁREA DE ATUAÇÃO IRECÊ, BAHIA. PROPOSTAS Tornar-se um centro de produção multimídia, aberto e livre. Possibilitar o acesso aos meios digitais de produção cultural a todos os cidadãos, especialmente os jovens. APOIO Prefeitura Municipal de Irecê e Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia. CONTATO Tel.: 74/ 3641-4792. E-mail: ciberparquebr@yahoo.com.br
PROJETO REVISTA VIRAÇÃO ÁREA DE ATUAÇÃO BRASIL PROPOSTA Estimular práticas de comunicação e educação entre os jovens e adolescentes e a participação na produção de conteúdo para as revistas impressa e eletrônica. JOVENS ATENDIDOS 300 jovens e adolescentes de 17 capitais APOIO INSTITUCIONAL Ashoka, Unicef, Unesco, Andi, NCE-USP CONTATO Rua Augusta, 1239, Conj. 11 CEP 01305-100 – São Paulo, SP – Tel.: 11/3237-4091. Site www.revistaviracao.com.br. E-mail: redacao@revistaviracao.com.br
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CÉSAR TONIASSO
mestres
MAGNA REGINA TESSARO é professora de Sociologia no Colégio Estadual Jesus Menino, na gaúcha Barracão
Por _ Marcelo Barreto
Se você é um produtor de TV trabalhando numa escola, não é difícil imaginar que um dia a comunicação vai cruzar o seu caminho. “Sou produtor de TV, fui sócio de uma produtora”, conta Carlos Eduardo Dias Lopes, o Cadu, fundador e coordenador do Centro de Produção de TV e Vídeo do Colégio Marista São José, no Rio de Janeiro. “O surgimento do núcleo me permitiu levar esse conhecimento à escola e compartilhá-lo com os alunos.”
Mas o que leva, por exemplo, uma assistente social ou uma professora dedicada ao estudo da sociologia a tomar a mesma direção? “Tenho mais de trinta anos de vida profissional, sou da época da máquina de escrever”, diverte-se a assistente social Rosane Ferreira Faria, diretora de projetos da Fundação Hélio Augusto de Souza (FUNDHAS), de São José dos Campos (SP). “A chamada educomunicação é uma busca nova para mim, uma oportunidade de crescimento pessoal.” “O principal aparelho de comunicação nas escolas ainda é o quadro negro, e os professores ainda são muito voltados para o livro didático”, constata Magna Regina Tessaro Barp, professora de uma escola pública de Ensino Médio em Barracão (RS).
VEÍCULOS DO CONHECIMENTO TRÊS PROJETOS INDICAM COMO AS INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS PODEM DESENVOLVER A EDUCAÇÃO PELA COMUNICAÇÃO Hoje, Cadu, Rosane e Regina são mestres que ajudam a dar novos rumos à educação. E as mudanças que eles experimentaram na vida pessoal começam a contagiar quem está à volta deles. A começar pelos próprios alunos. “Já temos um bom número de ex-integrantes do Centro seguindo carreira no mundo da comunicação”, conta Cadu, que no começo do projeto tinha como repórter Rodrigo Rodrigues, hoje apresentador do programa Vitrine, da TV Cultura. – Nossa instituição tem experimentado um despertar do protagonismo juvenil – diz Rosane. – Hoje, não há jovem que não tenha celular ou não saiba usar o computador. Os que aprendem com o auxílio dessa linguagem mudam a postura, o interesse e até se colocam melhor no mercado de trabalho. Outros professores também já começaram a se interessar pelos resultados de quem trabalha com educomunicação. “Não tenho mais sossego”, brinca Magna Regina. “Muitos professores e diretores da escola querem saber mais sobre o que faço, mas querem, principalmente, ajudar.”
Tela fértil O termo mídia-educação, preferido por Cadu, começou a ser ouvido nos corredores do Colégio Marista São José, no Rio de Janeiro, em 1995. Nessa época, o colégio foi convidado a participar do primeiro programa da emissora católica Rede Vida voltado para o público jovem. A semente caiu em solo fértil. Carlos Eduardo Dias Lopes, o Cadu, funcionário do colégio, aproveitou sua experiência como produtor de TV para comandar a equipe que assumiu a responsabilidade pelo programa, batizado de Convocação Geral. “Compramos um equipamento moderno, de Super-VHS, que era bom o suficiente para produzir o programa e ainda nos dava capacidade para investir em outras iniciativas”, diz Cadu. E essa capacidade foi logo utilizada. No ano seguinte, o Centro de Produção de TV e Vídeo já estava funcionando e produzindo um telejornal diário, que provocou o surgimento de outro jornal, em papel, com periodicidade bimestral. Era a primeira de uma série de iniciativas que ajudariam a manter o Centro em atividade, mesmo depois do fim da contribuição com o Convocação Geral. No começo, a maior dificuldade era explicar aos diretores do colégio que o ritmo de uma produtora de TV é bastante diferente da rotina de uma escola. “Muitas vezes, eu virava a noite editando um programa e ninguém entendia como eu podia passar tanto do horário”, diz Cadu.
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ARNALDO CARVALHO
CARLOS EDUARDO LOPES, O CADU, coordena o Centro de Produção de TV e Vídeo do Colégio Marista São José, no Rio de Janeiro Dentro dos limites do colégio, o Centro também foi ganhando espaço, envolvendo até as crianças. Em 2001, o projeto Descobridores Mirins reuniu as áreas de Ciências, História e Artes na produção de um videodocumentário, que levou à inédita construção de um sítio arqueológico simulado. No ano seguinte, a proposta, em termos de comunicação, foi ainda mais ousada: um talk show , ou programa de entrevistas, sobre química. A integração entre mídias continuou em 2006, com a transformação de “Neuronial”, uma coluna do jornal impresso, em documentário. O tema foi as serestas de Conservatória, cidade do interior do Rio, na visão dos jovens. E o resultado é talvez o maior orgulho de Cadu: “Fomos selecionados para um festival no Chile. Éramos a única escola brasileira
representada na seleção final, ao lado de produções da TV Globo, por exemplo”. Os projetos mais recentes ganharam espaço na TV pública: o “De olho no futuro”, com a visão dos jovens sobre profissões como mídia-educação, gastronomia e relações internacionais, contou com o apoio da Associação de Pais e Mestres do Colégio para ganhar meia hora por semana na TV Comunitária do Rio. O “Por quê?”, mostrando a visão de crianças de 8 a 13 anos sobre a AIDS, foi exibido pela TVE no Dia Internacional da Criança na Mídia. E se depender do entusiasmo de Cadu, vem muito mais por aí. Mãos na massa A primeira tentativa de fugir do convencional foi por meio da arte. Logo depois de assumir como diretora técnica da Fundação Hélio Augusto de Souza (Fundhas), com sede em São José dos Campos, em 1997, a assistente social Rosane Ferreira Faria começou a procurar formas mais eficientes de atingir os alunos atendidos pela fundação, que atua especialmente na área de reforço escolar. “Fazemos reforço de aprendizagem, com a reprodução do período escolar”, explica Rosane. “Não poderíamos apenas oferecer aos alunos o que eles já recebiam na escola.” A arte-educação, com iniciativas de música e teatro, deu resultados que estimularam Rosane e sua equipe a procurarem uma referência nacional em novas iniciativas de ensino. A fundação recebeu a visita de assesso-
rias para refletir sobre a capacitação dos funcionários e, em 2005, decidiu desenvolver a educomunicação. O primeiro passo foi o investimento em informática, com a criação de laboratórios e o estímulo à pesquisa na internet. Hoje, já são mais de 20 programas usando recursos de rádio e TV como proposta pedagógica, todas reunidas no portal web da fundação (www.fundhas.org.br). O nome da seção que reúne os sites desenvolvidos pelos alunos é bem significativo: Canteiro de Projetos. “Tudo é mantido pelos próprios alunos, que passam a trabalhar com os sites quando se formam no nosso curso de webdesign”. No portal, é possível saber, por exemplo, como andam os trabalhos no curso de horta caseira da Unidade Jardim São José; ver as fotos da apresentação dos trabalhos de finalização do curso do Programa Aprendiz; acompanhar o processo de formação de educomunicadores; e até ler as edições on-line de jornais como o Fundhazinho e o Jornal do Adolescente do Jardim Paulista.
SOBRE SOBRE PARA SABER MAIS
SOBRE E as iniciativas da fundação e de seus alunos não se restringiram ao mundo virtual. O sucesso das primeiras iniciativas levou à criação de um núcleo de rádio, artes e expressão. Hoje, alunos da Fundhas têm um programa de rádio voltado para a comunidade da cidade vizinha de São Francisco Xavier. “São iniciativas que fazem com que o jovem participe, que ele queira estar presente”, diz Rosane. Outros projetos, como Nossas Lendas, Contos que Encantam, Misturando Contos, Narrativas Literárias – Causos, Histórias da Minha Terra e Se eu Fosse… acabaram transformados em livros. São histórias contadas pelos próprios alunos em alguns projetos da fundação. Na introdução de Nossas Lendas, a professora Maria das Graças Miacci escreve: “Espero
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PARA SABER MAIS
é diretora de projetos da Fundhas, de São José dos Campos
PARA SABER MAIS
MAIARA VIEIRA / FUNDHAS
ROSANE FERREIRA FARIA
NOME CENTRO DE PRODUÇÃO DE CINEMA E VÍDEO ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO, RJ PROPOSTA Produção de vídeos e programas de TV ligados ao currículo escolar JOVENS ATENDIDOS 25 a 30 diretamente (atuando no centro) e 1.800 em toda a escola APOIO Colégio Marista São José ENDEREÇO Rua Conde de Bonfim, 1.067 – Tijuca – Rio de Janeiro, RJ CONTATO cadudl.rj@marista.edu.br
NOME II SEMINÁRIO ESCOLAR, COM O TEMA “A INFLUÊNCIA DA MÍDIA NA FORMAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE” ÁREA DE ATUAÇÃO BARRACÃO, RS PROPOSTA Promover um debate sobre o tema, com cobertura dos meios de comunicação locais JOVENS ATENDIDOS 28 APOIO Colégio Estadual Jesus Menino e veículos de comunicação locais ENDEREÇO Avenida Brasília, s/nº – Barracão, RS CONTATO magna.barp@unoesc.org.br
NOME PROGRAMA ARTE-EDUCAÇÃO E EDUCOMUNICAÇÃO ÁREA DE ATUAÇÃO SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SP PROPOSTA Uso da educomunicação em projetos da Fundação Hélio Augusto de Souza (FUNDHAS) JOVENS ATENDIDOS 2.600 APOIO Prefeitura Municipal de São José dos Campos ENDEREÇO Rua Santarém, 590 – Parque Industrial – São José dos Campos, SP CONTATO www.fundhas.org.br
que gostem do nosso livreco de lendas”. Está tudo lá, on-line – numa história que não é lenda e vem rendendo muito mais do que um livreco. Visão sociológica Quando organizou um seminário sobre a proposta de legalização do aborto, há dois anos, a professora de escola pública Magna Regina Tessaro Barp pensava apenas em levar a público um de seus temas de estudo de Sociologia, disciplina recentemente tornada obrigatória nos cursos de ensino médio. Mas a repercussão foi grande e alcançou cobertura na rádio local de Barracão, cidade onde ela vive e leciona, no norte do Rio Grande do Sul. E acabou abrindo um caminho novo para a educação no Colégio Estadual Jesus Menino. – Os alunos pesquisaram o tema, deram entrevistas à rádio – relembra Magna Regina. – Tenho certeza de que não esqueceram o que aprenderam, mas provavelmente já não se lembrariam do assunto no dia seguinte, se eu tivesse apenas falado sobre ele em sala de aula. Hoje, os alunos de Sociologia do terceiro ano estão divididos em dois grupos de estudo: um deles, sobre a maioridade penal; o outro, sobre a influência da mídia na formação e na educação do adolescente. Que este último se transformasse em seminário foi um caminho quase natural, e assim surgiu o projeto Leitura Crítica dos Meios de Comunicação.
Um estudante de Comunicação auxilia na pesquisas dos alunos, que procuram fazer uma leitura crítica da comunicação. Ele também participa da mesa de debates, ao lado de um pedagogo, um psicólogo e um ou dois pais. A cobertura na rádio local já está garantida, e o Departamento de Marketing da Universidade do Oeste de Santa Catarina (Unoesc), onde Magna Regina também leciona, vai ajudar na divulgação. “Tudo isso faz com que a comunidade se envolva no debate, e torna a participação dos alunos ainda mais significativa”, diz a professora. O relacionamento com a comunicação ainda é incipiente, mas ela já percebeu que esse é o caminho a seguir. E o próximo passo já está planejado: um projeto com alunos do segundo ano envolve a pesquisa e a análise de notícias relacionadas à sexualidade, o principal tema de estudo de Magna Regina na área da Sociologia. Os resultados devem ser publicados em livro. “O impacto é positivo, sem sombra de dúvida. Afinal, vivemos na era da comunicação”, lembra a socióloga.
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QUATRO INICIATIVAS COLOCAM AO ALCANCE DOS JOVENS AS FERRAMENTAS DA COMUNICAÇÃO
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banco de práticas
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Na era vivida até outro dia, produzir e transmitir conteúdo eram privilégios exercidos por poucos. Hoje, mudou – escrever, falar, narrar, registrar, fotografar, filmar, documentar são atos que se transformam, a cada dia, em ofício de um número cada vez maior de pessoas, num cenário que atrai, ou quase enfeitiça, sobretudo os jovens. Da sedução, unida à busca por mais eficiência na missão de educar, nasceu um novo conceito: a educação pela comunicação. Via de mão dupla, capaz de formar consciências ao mesmo tempo em que abre caminhos nos mais diversos meios, a prática pavimenta intervenções sociais, ao permitir a construção de ambientes atraentes em espaços educativos. Com a evolução tecnológica e o conseqüente acesso a equipamentos que facilitam o trabalho, a estratégia virou feitiço. Pelo Brasil, espalham-se iniciativas que se aproveitam deste contexto mais favorável. É exatamente o que fazem ONGs como a Bem TV, da cidade fluminense de Niterói, com projetos que garantem acesso à produção nas áreas de fotografia e vídeo a jovens de comunidades populares. Ou como a Auçuba – Comunicação e Educação, que criou a Escola de Vídeo, programa desenvolvido em Recife e Olinda, no qual jovens formam Núcleos de Comunicação Comunitária. A educação pela comunicação norteia ainda a Rede Jovem de Cidadania, que une jovens de vários pontos de Belo Horizonte, num trabalho promovido pela ONG Associação Imagem Comunitária. É, ainda, o alicerce do YB News – Agência Juvenil de Comunicação, projeto que nasceu na Inglaterra e integra jovens brasileiros. O aprendizado de todos esses jovens se materializa em meio ao exercício do direito de pensar – e disseminar as idéias e as informações. Cada vez para um número maior de pessoas. A seguir, leia mais sobre estas práticas.
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Por _ Aydano André Motta
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PRODUÇÃO PRÓPRIA
Pernambuco
Canal Auçuba
Rio de Janeiro
Projeto Olho Vivo, da Bem TV
A cena clássica da sala de aula, com os estudantes assistindo passivamente ao mestre discorrer sobre um assunto depois do outro, virou apenas uma parte da rotina para jovens com idades entre 13 e 18 anos, de cinco comunidades em Recife e Olinda. No cotidiano deles, aprender está diretamente ligado a se comunicar, na Escola de Comunicação e Vídeo, projeto do Canal Auçuba, da ONG do mesmo nome. A escola surgiu em 1995 para enfrentar um conjunto ameaçador de perspectivas sociais: a integração veloz imposta pelas >>
Viver na cidade que ostenta o terceiro melhor índice de desenvolvimento nacional orgulha os habitantes de Niterói. Mas a antiga capital fluminense fica no Brasil – e a luta contra a desigualdade nesta terra ensolarada não tem hora nem lugar. Há uma década e meia, a ONG Bem TV usa a comunicação para abrir caminho na busca por justiça e solidariedade. O principal projeto da entidade é o Olho Vivo, que beneficia jovens de três comunidades populares – Grota, Preventório e Jurujuba –, ensinando a eles >>
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Minas Gerais
Rede Jovem de Cidadania
Brasília
Agência YB News
A lógica de rede, que pressupõe igualdade e cooperação, tem demolido barreiras que isolavam adolescentes de uma mesma capital. Na contramão da intolerância endêmica nas grandes cidades e da supremacia do poder econômico, a Rede Jovem de Cidadania, de Belo Horizonte, ajuda a integrar pessoas separadas por geografia e desigualdade social, pela via da comunicação. Com oficinas em escolas públicas, jovens de 16 a 27 anos aprendem a pensar e a discutir questões ligadas a juventude, >>
A distância atlântica entre as realidades sociais de Brasil e Inglaterra não impediu a materialização de uma iniciativa de inclusão social que usa a comunicação para educar em pares. Uma simples idéia de intercâmbio serviu de gênese a uma ambiciosa parceria, que incentiva a participação cidadã de jovens, na Agência YBNews de Notícias. Fruto do convênio firmado entre o Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC) e o Conse- >>
>> novas tecnologias de comunicação, pontilhada de estímulos consumistas que falseiam o mundo real; isso num país onde a dificuldade de acesso ao mercado de trabalho é dramática. O Canal Auçuba busca contribuir para o aprimoramento do senso crítico e da criatividade. “A Escola de Vídeo apresenta um caráter formador glo-
>> uma tecnologia da comunicação. A capacitação técnica, assim, vem atrelada à oportunidade de conhecer a realidade dos lugares onde eles vivem. “É o primeiro passo para sensibilizar o jovem a assumir uma postura mais protagônica”, diz Márcia Corrêa e Castro, coordenadora da Bem TV. “Das capa-
>> mídia e cidadania. E passa na TV. O resultado do trabalho dos meninos e meninas vai ao ar, no programa semanal que leva o nome do projeto, toda terça-feira, no nobre horário das 21h, na Rede Minas de Televisão (equivalente, no estado, à TV Cultura de São Paulo). Expressão de uma grande mistura, cada
>> lho Britânico, a agência aposta na ação de jovens que documentam experiências pessoais e coletivas. Chamados de correspondentes, eles publicam artigos na Revista Eletrônica do site do projeto. Os temas são claros: cidadania, responsabilidade social, desenvolvimento sustentável e políticas públicas, além dos que
edição do programa é diferente da outra. A gestão é coletiva, fundamental ao entendimento político de rede. Os programas não têm um diretor, nem formato fixo”, diz Ana Tereza Brandão, do núcleo de coordenação e pesquisa da Associação Imagem Comunitária (AIC), ONG responsável pelo projeto. Não
surgem na dinâmica dos próprios jovens. “A agência é um espaço interativo para o intercâmbio de idéias, projetos e iniciativas”, diz Beatriz Caitana, assessora executiva do IIDAC. “Ela permite aproximar diferentes realidades e problemas, apontando para soluções comuns e para a transferência de saberes”.
há donos do saber, para impor tom ou forma. Um conselho editorial de 50 jovens decide a ordem de apresentação dos grupos. Há quatro anos “no ar”, a rede já formou cinegrafistas, videomakers e autores de videoclipes. Novos horizontes num mundo antes improvável, para os jovens do projeto.
Três anos depois de instalada, a rede YBNews – Educação de Pares conta com 30 representantes de grupos juvenis das cinco regiões brasileiras. Outros 30 correspondentes, que completaram três anos de atividade, passam a compor o quadro editorial da agência, dividindo-se entre conselheiros e editores.
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projeto a usar a comunicação como metodologia pedagógica. A contrapartida, para a Bem TV, é um conhecimento mais preciso da realidade do ensino público oferecido aos jovens beneficiados pela ONG. Uma forma de contribuir, em diferentes instâncias, para a formação de um círculo virtuoso.
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citações, acabaram emergindo os grupos de ‘jovens comunicadores’, que atuam em suas comunidades e a quem garantimos assessoria”. Outra ação da Bem TV é a Educomunicar, que inclui professores das três escolas públicas da região do Preventório. Desde o ano passado, os educadores aprendem no
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gráfica, comunicação digital, história da arte e oficina da palavra. As ações incluem exibições de TV de rua, TVs comunitárias e oficinas variadas. E as atividades, que hoje são desenvolvidas em quatro comunidades de Recife e uma de Olinda, serão estendidas a mais uma comunidade na capital a partir de agosto.
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bal, para ampliar as possibilidades de desenvolvimento social, baseado no acesso ao conhecimento tecnológico e na preparação do cidadão informado, crítico e criativo”, explica Gorete Linhares, coordenadora do projeto, que, com um ano e meio de duração, oferece atividades em sete núcleos: vídeo, fotografia, design, computação
PROJETO CANAL AUÇUBA ÁREA DE ATUAÇÃO RECIFE E OLINDA, PE PROPOSTA Encontrar alternativas que contribuam para a melhoria da qualidade educacional dos jovens, permitindo o desenvolvimento do espírito crítico e da criatividade. JOVENS ATENDIDOS 35 adolescentes (13 a 18 anos) de quatro comunidades do Recife e uma de Olinda, que estejam na escola. APOIO OI Futuro, CEDCA, Prefeitura da Cidade do Recife, Unesco, Save The Children UK, DED, Unicef, Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Instituto C&A, Instituto Credicard, Fundação Itaú Social e Fundação BankBoston. CONTATO Rua Quarenta e Oito, nº 668 – Encruzilhada – Recife, PE. CEP: 52050-380. Tel.: 81/3426-6386. Site: www.aucuba.org.br.
PROJETO OLHO VIVO, DA BEM TV ÁREA DE ATUAÇÃO NITERÓI, RJ PROPOSTA Usar a comunicação como instrumento para viabilizar a formação de jovens críticos e comprometidos com a construção de uma sociedade solidária. JOVENS ATENDIDOS Hoje são 115 beneficiados. Ao todo, quase 500 jovens passaram pelo projeto. APOIO Petrobras, Instituto Unibanco e Unesco. CONTATO R. General Osório, 49 – São Domingos – Niterói, RJ. CEP 24.210-190. Tel.: 21/ 3604-1500. Site: www.bemtv.org.br.
PROJETO REDE JOVEM DE CIDADANIA, COORDENADA PELA ASSOCIAÇÃO IMAGEM COMUNITÁRIA ÁREA DE ATUAÇÃO BELO HORIZONTE, MG PROPOSTA Usar os meios de comunicação para criar um espaço aberto à livre expressão dos grupos e movimentos juvenis. Potencializar iniciativas por meio da rede de comunicação, visando à promoção da cultura e do desenvolvimento comunitário. JOVENS ATENDIDOS Diretamente, são cerca de 800 participantes das oficinas e atividades de produção de mídia. Mais de 300 entidades e grupos de jovens têm vínculos com as mídias do projeto. APOIO Petrobras, Prefeitura de Belo Horizonte e Rede Minas de Televisão. CONTATO Rua Aquiles Lobo, 309 – Floresta – Belo Horizonte, MG. CEP: 30.150-160. Tel/Fax: 31/3224-3463 / 3213-8299. E-mail: aic@aic.org.br. Site: www.aic.org.br
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PROJETO AGÊNCIA YB NEWS DE NOTÍCIAS ÁREA DE ATUAÇÃO CIDADES ESPALHADAS PELAS CINCO REGIÕES BRASILEIRAS PROPOSTA Intercâmbio de idéias, projetos e iniciativas juvenis baseadas no fortalecimento da cidadania digital e no uso das novas tecnologias de comunicação aplicadas ao espaço educacional e comunitário. JOVENS ATENDIDOS 60, entre correspondentes, conselheiros e editores. APOIO British Council, Fundação Educar DPaschoal, Voluntários das Nações Unidas – UNV, Unicef, Instituto Protagonistas, Instituto Brasil Voluntário – Faça Parte, Governo do Estado de Santa Catarina, CELESC, Governo de Goiás, Governo do Maranhão. CONTATO Rua Pedro Racoski nº 270 – Pilarzinho – Curitiba, PR. CEP: 82110-050. Tels.: 41/ 338-5565 / 322-9013 / 324-3451. Internet: www.iidac.org.br; iidac@iidac.org.
caminho das pedras
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Nesta página, estudantes do Clube do Jornal buscam a edição impressa na Comunicação e Cultura, em Fortaleza; na página oposta, reunião de avaliação do jornal
por _ Yuri Vasconcelos O ano de 2006 teve um significado especial para o sociólogo Daniel Raviolo e a instituição fundada por ele, a ONG Comunicação e Cultura, especializada em apoiar a publicação de jornais escolares e estudantis. Os dois projetos de comunicação coordenados pela entidade – Clube do Jornal e Primeiras Letras – resultaram na publicação de 1.584.629 exemplares de periódicos em quatro estados das regiões Norte e Nordeste: Ceará, Pernambuco, Bahia e Pará. Essa tiragem – difícil de ser alcançada até por muitos veículos de comunicação de massa – é o coroamento de um trabalho pioneiro iniciado há exatos vinte anos e que tornou a Comunicação e Cultura uma das principais organizações brasileiras na área de educação pela comunicação.
“A missão da nossa entidade é promover atividades e projetos junto às populações de baixa renda, em especial os jovens, utilizando os recursos da comunicação alternativa e da mobilização social”, diz Daniel Raviolo. Com sede em Fortaleza, no Ceará, a ONG nasceu quase sem querer. “No fim de 1987, fomos procurados pela Associação de Moradores do Mucuripe, um importante bairro popular de Fortaleza, para assessorar os jovens que desejavam publicar o jornal da comunidade”, recorda-se. “Fizemos uma ampla pesquisa sobre mídia popular impressa e demos assessoria a diversos grupos de jovens. Em junho de 1991, lançamos o projeto Jornais Comunitários Associados, para facilitar a publicação de jornais nos bairros da Grande Fortaleza.” Da publicação de periódicos populares para o início de atuação no
universo escolar foi um pulo. O primeiro projeto criado, em 1994, foi o Clube do Jornal, em que jovens e adolescentes do ensino médio protagonizam a publicação das edições. Já o Primeiras Letras, voltado à produção de jornais escolares editados por professores do ensino fundamental, com textos e desenhos feitos pelos alunos, surgiu no ano 2000. Hoje, o Clube do Jornal está presente em 135 escolas cearenses e 13 pernambucanas, mobilizando um total de 639 jovens de 45 municípios dos dois estados. Os jornais são totalmente independentes da direção da escola, e cabe aos alunos definir a pauta, a programação visual, o nome da publicação e sua periodicidade, que não pode ser superior a uma vez por mês. No seu formato padrão, ela tem quatro páginas e impressão em preto e branco.
Superando resistências “O Clube do Jornal tem como princípio a liberdade de imprensa na escola. Travamos uma luta cotidiana para que esse princípio seja respeitado”, afirma Raviolo. Mas isso nem sempre é fácil. Às vezes, os jovens que fazem o jornal enfrentam resistências por parte dos núcleos gestores das escolas, que estão pouco habituados à liberdade de expressão dos alunos. Noutras, a reação é das autoridades locais, como aconteceu recentemente em Guaramiranga, a 100 quilômetros de Fortaleza. No segundo semestre do ano passado, uma edição do jornal “Relicário”, feito por estudantes da escola pública Zélio Matos de Brito, causou grande polêmica ao indicar os responsáveis pelo fato de os alunos não terem feito o Exa-
O CLUBE DO JORNAL INCENTIVA ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DO CEARÁ E DE PERNAMBUCO A PUBLICAR SEUS PRÓPRIOS JORNAIS
AULAS DE LIBERDADE 23
AS VANTAGENS PEDAGÓGICAS DA EDIÇÃO DE UM JORNAL NEM SEMPRE SUPERAM AS DIFICULDADES DA ESCOLA DE CONVIVER COM A LIBERDADE DE EXPRESSÃO DOS JOVENS
me Nacional do Ensino Médio (ENEM) – um órgão público havia prometido o transporte, que não chegou – para levar os alunos ao local da prova, em um município vizinho. “O jornal informou o que tinha ocorrido e causou um burburinho na cidade. Como resultado, nossos alunos tiveram de enfrentar a ira das autoridades”, recorda-se a professora Cláudia Torres, diretora da escola e uma das grandes incentivadoras do Clube do Jornal. “Acredito na força da comunicação como instrumento de transformação social e, por isso, acho tão importante os alunos se engajarem em projetos como esse”, diz ela. Para Raviolo, os estudantes que participam do Clube do Jornal têm muito a ganhar. O processo de produção dos jornais e os próprios jornais são recursos pedagógicos e didáticos
importantes para desenvolver a oralidade, a leitura e a escrita dos alunos. Também estimulam a pesquisa e a participação na sala de aula. “O projeto promove uma mudança nas referências culturais e na visão de mundo dos jovens. A formação oferecida e o intenso exercício de cidadania que acontece nos clubes fazem dessa iniciativa um celeiro de lideranças juvenis com pensamento próprio e autonomia para tomada de decisões”, diz ele. O projeto também enfatiza a educação para a recepção crítica das informações veiculadas pelos órgãos de imprensa, melhora as condições do aproveitamento escolar e trabalha uma série de conteúdos (saúde reprodutiva e sexual, drogas, direitos humanos, cultura da não-violência, etc.), que contribuem para mudanças de comportamento e para a adoção de atitudes preventivas, ao partir do cuidado de si mesmo e do cuidado com o outro. O estudante Sol Coêlho Santos, de 18 anos, coordenador do jornal “Relicário”, percebe esse potencial. “Participar do jornal amplia nossa visão do mundo e aumenta o nosso nível de informações sobre o que acontece ao nosso redor. Ao mesmo tempo, melhora a formação escolar, pois amplia
nosso vocabulário, aperfeiçoa nossa redação e nos ajuda a nos comunicar melhor”, diz o jovem, que, entusiasmado com a atividade de comunicador, pretende prestar vestibular no final deste ano para Jornalismo ou Publicidade e Propaganda na Universidade Federal do Ceará (UFC). Falso discurso Mesmo com todos os benefícios gerados pelo Clube do Jornal, sua implantação nas escolas nem sempre é tarefa fácil. O maior desafio, segundo Raviolo, não é trabalhar com os jovens, embora ele perceba deficiências na capacidade de expressão escrita dos alunos. “A principal dificuldade reside no autoritarismo da escola. A instituição tem um discurso democrático e participativo, mas nossa experiência mostra que os educandos encontram dificuldades e restrições para exercer o direito de expressão”, diz. Além disso, existem entraves estruturais, já que nem todas as escolas dispõem de laboratórios de informática para a editoração eletrônica do jornal, e problemas de financiamento para manter o projeto – os jornais são rodados na gráfica do Comunicação e Cultura e os clubes arcam com 20% dos custos de impressão. Essa é a única despesa do clube, que conta com plena assessoria da ONG para implantação do projeto. O
Estudantes em um Intercâmbio de Experiências do Projeto Clube do Jornal: reflexões sobre a realidade
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social juvenil”, explica Daniel Raviolo. Para a estudante Keywilla da Silva Venceslau, de 17 anos, aluna do 3º ano do ensino médio do Liceu Estadual de Maracanaú, município nos arredores de Fortaleza, e coordenadora do clube O Verbo, os intercâmbios são um dos pontos altos do projeto. “Nesses encontros, discutimos assuntos muito interessantes, que vão desde a história do jornalismo no Ceará até como evitar doenças sexualmente transmissíveis ou a importância do Estatuto da Criança e do Adolescente”, diz. “Saio da escola no fim deste ano, mas não consigo me imaginar longe do Clube do Jornal. Pretendo continuar participando dos intercâmbios, dando o meu testemunho da época em que coordenei o clube da minha escola e, ao mesmo tempo, alargando os meus horizontes.”
PARA SABER MAIS
primeiro passo para a criação de um clube é a realização de uma reunião com a direção da escola, em que são apresentados os dois princípios básicos do projeto: protagonismo juvenil e liberdade de expressão. Em seguida, os técnicos da ONG realizam uma atividade de quatro horas, com os estudantes interessados, em que são transmitidas informações sobre o projeto, como iniciar a formação do grupo e como fazer para elaborar a primeira edição, que é assistida por um assessor pedagógico da Comunicação e Cultura. A partir do segundo número, todo o trabalho é tocado pelos alunos, que continuam tendo o acompanhamento dos profissionais da ONG. Os “jornalistas” recebem visitas de educadores da entidade, que também conversam com a direção da escola, para avaliar a relação dela com o clube. Nesses encontros, são organizadas atividades específicas com o objetivo de mobilizar os estudantes envolvidos no projeto para resolver determinados problemas relacionados ao trabalho em grupo, à organização interna do clube e outras questões que eventualmente dificultem a publicação do jornal, como, por exemplo, a falta de patrocínio. Também faz parte da implementação do projeto a realização mensal de um encontro de intercâmbio de experiências, em que os sócios de diversos clubes discutem os desafios que representa publicar um jornal livre e alternativo na escola. “Esse é um momento importante que dá ao projeto um caráter de movimento
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No alto, reunião de sensibilização com integrantes do Clube do Jornal; no centro, reunião de avaliação do jornal; acima, mais reunião de pauta
PROGRAMA CLUBE DO JORNAL INSTITUIÇÃO EXECUTORA COMUNICAÇÃO E CULTURA ÁREA DE ATUAÇÃO CEARÁ E PERNAMBUCO PROPOSTA Apoiar a publicação de jornais estudantis com autonomia por jovens do ensino médio e, assim, promover a escola democrática por meio da liberdade de imprensa e do protagonismo juvenil. JOVENS ATENDIDOS 639 (535 no Ceará e 104 em Pernambuco) ESCOLAS ENVOLVIDAS 148 (135 do Ceará e 13 de Pernambuco) APOIO Unesco, BNDES, Instituto C&A, Fundação Avina, Ashoka Empreendedores Sociais e Secretarias Estaduais e Municipais de Educação CONTATO Rua Castro e Silva, 121 – Centro – Fortaleza, Ceará. CEP: 60.030-010. Tel.: 85/3455-2150. Site: www.comcultura.org.br
horizonte global
FUTUROS POSSÍVEIS A comunicação e a educação são dois universos simbólicos distintos, mas que interagem e são essenciais para que as sociedades gerenciem os conflitos de interesse em uma democracia, diz o professor e filósofo colombiano Bernardo Toro. Assessor estratégico da presidência da Fundação Avina, em Bogotá, Toro é coordenador da Inspetoria Especial para o Fundo de Investimento para a Paz, da Presidência da Colômbia, mas é reconhecido principalmente por suas reflexões acerca da educação e da comunicação. Além do conhecimento teórico, tem experiência nos dois campos: deu aula na Universidade Javeriana de Bogotá e foi professor convidado da Universidade de Toronto, no Canadá; fundou e dirigiu a revista “Educación Hoy: Perspectivas Latinoamericanas”, e foi gerente da Cenpro Televisión. Como consultor, faz ou já fez parte de comitês do Banco Mundial, Banco Interamericano, PNUD e Unesco.
PARA O EDUCADOR COLOMBIANO BERNARDO TORO, A COMUNICAÇÃO É DISTINTA DA EDUCAÇÃO, MAS ESSENCIAL PARA PERMITIR AO JOVEM VISLUMBRAR NOVAS POSSIBILIDADES
Na entrevista concedida a Onda Jovem, Bernardo Toro falou sobre a importância da comunicação e da educação para que os jovens encontrem o seu lugar na sociedade e participem produtivamente da criação de uma democracia fundamentada na ética e na dignidade humana. “Cada sociedade deve criar a sua própria democracia”, disse.
Onda Jovem: Como a comunicação se relaciona com a educação? Bernardo Toro: Não é possível educar sem uma boa comunicação e todo ato comunicativo produz aprendizados diversos e imprevisíveis. Comunicação e educação são dois universos simbólicos, dois espaços de socialização e duas formas de intervenção social que interagem, mas são distintas. A comunicação não pode resolver os problemas educativos e a educação não pode resolver os problemas da comunicação.
Quais problemas? O principal problema da educação na América Latina é que a maioria é mal alfabetizada, tem pouca capacidade de entender o que está escrito e manifestar idéias por escrito. Tem ainda dificuldade em trabalhar em grupo, em localizar e usar a informação acumulada, em ter uma participação cidadã na sociedade. Os meios de comunicação, por outro lado, também têm problemas. O principal é que só divulgam determinadas formas de ver o mundo, deixando de lado a diversidade cultural. Poderiam e deveriam contribuir para que conceitos de diversas culturas circulassem, em igualdade de condições, e não excluir diferentes formas de viver, como as dos indígenas, negros, imigrantes, camponeses. Outras culturas devem ter a mesma visibilidade da cultura dos políticos, dos famosos, dos ricos.
Por _ Cecília Dourado Ilustração _ Jey
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QUANDO O UNIVERSO ÉTICO DA COMUNICAÇÃO E DA EDUCAÇÃO DIVERGE, O RESULTADO É CONFUSÃO E AMBIGÜIDADE ENTRE OS JOVENS
Quando esses dois universos simbólicos, da educação e da comunicação, interagem? Tanto a comunicação como a educação buscam modificar modos de pensar, sentir e atuar. Ao aprender a ler, as pessoas aprendem a pensar e isso vai influenciar toda a sua vida. Ao ver uma pirâmide do Egito na televisão, as pessoas percebem que existem profundas diferenças culturais. Devido a esse potencial de criar mudanças, a educação e a comunicação deveriam ser orientadas pelos mesmos marcos éticos. Quando o universo ético da comunicação e da educação diverge, o resultado é confusão e ambigüidade entre os jovens. Na família e na escola, por exemplo, os jovens em geral aprendem que devem poupar e se comportar responsavelmente em relação ao dinheiro. O apelo dos meios de comunicação, porém, é apenas pelo consumo. Escola e família também ensinam o respeito à vida humana, mas os filmes e as revistas em quadrinhos são cheias de violência. Por outro lado, quando existe um marco ético comum entre os comunicadores e os educadores, esses dois universos simbólicos reforçam o impacto da comunicação e o aprendizado da educação. Algumas novelas brasileiras falaram sobre a grande epopéia indígena, o que ajuda as pessoas a perceberem a importância da cultura indígena no Brasil. Como se pode conseguir essa convergência de valores nos espaços de socialização? É importante que os adultos se sintam responsáveis por todos os jovens da sociedade, e não apenas por seus filhos. É preciso fortalecer e ampliar os espaços de socialização, dando atenção especial à família e à escola. Na América Latina, ainda não conseguimos manter todas as crianças e os jovens na escola e a vida universitária é um privilégio. Além disso, nesses e em outros espaços de socialização – trabalho, igrejas, organizações de bairro, partidos políticos, clubes, sindicatos, grupos de amigos – é preciso entender os universos simbólicos dos jovens.
O senhor foi professor de ensino médio e já atuou diretamente com jovens. Quais as especificidades dos jovens como alunos? Os jovens dependem dos adultos. Não existe nenhum projeto bem-sucedido com jovens sem o envolvimento de adultos. Os projetos juvenis exigem o conhecimento e o compromisso dos adultos para terem êxito. Os jovens, como as crianças, são recém-chegados ao planeta. Isso parece evidente, mas em geral não é levado em conta. Como qualquer recém-chegado, o jovem procura entender o que está acontecendo para se ajustar, identificar e sentir que faz parte desse lugar. Para tanto, observa, pergunta e imita, procurando o reconhecimento e o apoio dos adultos. Essa busca da sua identidade no mundo nos leva à segunda grande especificidade dos jovens: eles se identificam entre si por universos simbólicos, como a música, moda, ecologia, esportes. Há mais afinidade entre um roqueiro de Bogotá e um roqueiro de Chicago do que entre o jovem colombiano e seu vizinho que prefere o hip hop. A publicidade compreende bem a importância dessas culturas juvenis. Procura-se criar, por exemplo, uma “cultura Nike” ou uma “cultura Adidas”.
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Isso representa perigo de imperialismos culturais? Não necessariamente. As culturas juvenis trafegam em todas as direções. Muitos ritmos, como o hip hop, nasceram como uma cultura marginal e se espalharam pelo mundo. O jeito sensual da mulher latina é imitado por jovens de todo o mundo. O problema não é esse, mas o fato de que não conseguimos, na publicidade e na comunicação, a formação e valorização de uma ética cidadã ou política.
TECNOLOGI
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“A democracia é como o amor: não pode ser copiada, não pode ser imitada, não pode ser comprada. Só pode ser vivida e construída”
Como essas “culturas juvenis” influenciam os jovens? Influenciam profundamente, com a criação de modelos. Nos Estados Unidos, existem muitos pesquisadores e cientistas, em parte porque existem pesquisadores e cientistas que agem como modelos para os jovens. No Brasil, existem muitos jogadores de futebol e outros esportistas, pela mesma razão. Muitos querem ser um novo Ayrton Senna. Como, em geral, os meios de comunicação e a publicidade não apresentam muitos modelos de pessoas que não sejam grandes esportistas ou artistas, os hábitos e costumes aprendidos na infância têm uma importância especial. Se o dia-a-dia da família e da sociedade oferecer ao jovem a sensação de que ele é importante e que faz parte da sociedade, ele se sente seguro e tende a se comportar produtivamente. Como a comunicação pode contribuir especificamente para a educação juvenil? A comunicação é um espaço de identidade e auto-reconhecimento. Todo ato comunicativo está relacionado com a leitura que temos de nós mesmos. A comunicação é útil para os jovens e para todos quando contribui para entender por que somos como somos, quando contribui para ordenar o caos presente e quando nos ajuda a ver futuros possíveis. Este último é o aspecto que mais interessa aos jovens. É importante que eles tenham acesso à informação, para verem futuros possíveis.
O senhor estuda as relações entre comunicação, mobilização social e democracia. Como essas relações acontecem em países da América do Sul? Mobilizar é criar a convergência de interesses. Todos temos os nossos interesses por natureza. Não há a gratuidade em nenhuma ação humana, toda ação é interesseira. A democracia consiste em criar as condições para administrar os conflitos, as diferenças e a diversidade, para que os interesses diversos possam competir em igualdade de condições. E é por isso que a comunicação, o debate público e a transparência institucional são tão importantes. O debate público é o grande instrumento para construir a democracia, a unidade a partir da diversidade. A democracia, portanto, supõe a organização política, social, cultural, econômica. A democracia se baseia em um projeto ético não negociável, a dignidade humana, e não existe um modelo de democracia que possamos copiar. A democracia é como o amor: não pode ser copiada, não pode ser imitada, não pode ser comprada. Só pode ser vivida e construída. Conseguir que esses princípios passem a fazer parte do imaginário e da consciência social é um dos grandes desafios da comunicação e da política na América Latina.
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SEXTANTE
Por _ Antonio Albino Canelas Rubim
IDADE MÍDIA
AGÊNCIA O GLOBO
ESTAR CONECTADO É CONDIÇÃO VITAL PARA SER JOVEM E CONFIGURA UMA EXPRESSÃO DA CIDADANIA
Vivemos na Idade Mídia. Em todos os espaços, as velhas e as novas mídias proliferam. Fomos atirados em um cenário densamente midiático. Mais que isso, estamos envolvidos cotidianamente por um ambiente de mídias, tentaculares, em rede, que perpassam toda a circunstância societária. Vivemos, como assinalou Manoel Castells, em uma sociedade-rede. A contemporaneidade se caracteriza por esta sociabilidade singular, que conjuga: espaços geográficos e eletrônicos, convivências e televivências (vivências à distância), realidade contígua e telerrealidade, local e global, em uma inovadora existência glocal. Nesta sociabilidade, estar conectado é um valor. É um diferencial que divide e distingue. Estar incluído ou excluído, estar conectado ou não, eis a questão. Na Idade Mídia, a exclusão comunicacional (digital ou não) separa, empobrece econômica e culturalmente, interdita possibilidades e bloqueia perspectivas. A exclusão comunicacional aparece como uma face atual da exclusão social, tão característica da desigual sociedade brasileira. Todos os jovens de hoje já nascem e se socializam imersos neste ambiente cultural e comunicacional. A conformação da Idade Mídia acon-
teceu através da enorme expansão da comunicação, da proliferação das mídias e da implantação das redes, primeiramente televisivas (anos 1970 em diante) e depois, de modo mais contundente, informáticas (anos 1990). Nesta circunstância, estar conectado é condição vital para ser jovem. É um atributo essencial para quem deseja o mundo, busca uma intensa interatividade presencial e virtual e quer incessantemente aberturas, que permitam conhecer e viver intensamente múltiplas experiências existenciais, sociais e culturais. Microcomputadores e celulares são hoje extensões quase inseparáveis do ser jovem. Mas esta cultura jovem para se realizar em plenitude encontra em nossa sociedade enormes obstáculos. Primeiro a exclusão social e cultural de grande parte da juventude, decorrente da desigualdade presente na sociedade capitalista brasileira. Segundo, intimamente associada à anterior, a violência que se alastra pelo Brasil e atinge, conforme as estatísticas, intensamente a juventude, seja porque ela é sua maior vítima, seja porque ela exprime a falta de perspectivas de uma parcela dos jovens brasileiros excluídos. Terceiro, a ausência de democratização da mídia faz com que os espaços midiáticos sejam tomados quase integralmente por conteúdos como violência e escândalos, descartando a presença de outros conteúdos que possam formar melhor ou deixar a juventude se expressar de modo mais adequado. Quarto, nas poucas oportunidades em que os conteúdos jovens emergem na grande mídia, eles vêm carregados de intenso teor mercantil, reduzindo a cultura ao mercado jovem. A concentração da mídia no Brasil impede a pluralidade de visões políticas e a diversidade de expressões sociais, regionais, étnicas e etárias. Reduzidos conteúdos, sempre com forte apelo mercantil, destinam-se aos jovens. Poucos espaços e veículos foram conquistados pela juventude para exprimir sua cultura singular. O exercício de um evidente direito de cidadania está sendo impedido aos jovens. A cidadania, na acepção formulada por Marshall como direito a ter direitos, historicamente vem agregando novos direitos: individuais ou civis (século XVIII), políticos (século XIX), sociais (século XX) e culturais (séculos XX e XXI). Os denominados direitos culturais estão associados à possibilidade de expressão identitária dos diferentes grupos sociais, inclusive da juventude, e sua aceitação e reconhecimento pela sociedade. Trata-se, em suma, da assimilação da diversidade cultural como valor essencial da sociedade humana. Entretanto, diversidade não significa apenas tolerância e harmonia, mas também aceitação de contradições e busca de suas resoluções através de procedimentos democráticos. A democracia emerge como tema vital para a juventude, sua presença física e simbólica na atualidade, sua atitude de rebeldia e sua realização cidadã. A democratização da sociedade para a juventude deve ter como metas: a superação das desigualdades sociais; a
reversão da perversa distribuição de renda; a eqüidade de oportunidades; a socialização do poder e a abertura de perspectivas para a juventude. Superados tais bloqueios, todo jovem pode ter direito a experimentar e expressar tudo aquilo que caracteriza a juventude como um momento singular da vida humana: descoberta do mundo, abertura para os outros, rebeldia e possibilidade de escolha e de realização de novas experiências. O desenvolvimento de todas estas potencialidades exige a democratização da cultura e da mídia. Ela deve possibilitar a ampla abertura para as manifestações simbólicas jovens, a expressão plena de sua criatividade, o exercício de experimentação do novo. O presente e o futuro do país dependem de políticas públicas para os jovens e de uma aposta radical e sem medo na juventude.
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Antonio Albino Canelas Rubim é professor da Universidade Federal da Bahia. Pesquisador do CNPq e do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade (www.poscultura. ufba.br) e Coordenador do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (www.cult.ufba.br)
COMUNICAÇÃO E CULTURA
90º A ORGANIZAÇÃO E O SENTIDO DAS IDÉIAS E COMPORTAMENTOS SOCIAIS SÃO PRODUZIDOS E REPRODUZIDOS TAMBÉM PELAS FORMAS DE COMUNICAÇÃO
A GRAMÁTICA SIMBÓLICA
DIVULGAÇÃO
Por _ Claudius Ceccon
Jovens do CECIP fazem encenação
No sentido antropológico, cultura não é o capital de saberes acumulados individualmente. Ao contrário, é uma espécie de gramática simbólica que organiza e dá sentido às idéias, aos comportamentos, às práticas sociais. A comunicação e as relações sociais são fundamentais na produção, reprodução, circulação e apropriação da cultura, conferindo-lhe um caráter dinâmico, de permanente re-criação, atravessada por relações de força, por interesses em disputa. Os indivíduos, em razão de sua posição social, têm acessos diferenciados à chamada cultura legítima, produzindo sínteses particulares para a interpretação do mundo. Então, ‘vamos combinar’ que cultura tem a ver com valores, modos de pensar, comportamentos; com crenças e teorias que ajudam a explicar o mundo e o lugar que alguém ocupa nesse mundo. E ainda com normas, regras e princípios morais que determinam de que maneira as pessoas devem agir. Utopia realizável A comunicação acontece de muitas maneiras: gesto, expressão corporal, som, palavra. Mesmo regidos pela escrita, em leis, códigos e contratos, a realidade é que vivemos cercados de imagens. Literalmente bombardeados o tempo todo por elas, acabamos por absorvê-las,
Claudius Ceccon é diretor executivo do CECIP – Centro de Criação de Imagem Popular (www.cecip.org.br)
sem nos dar conta, tornando-as parte de nosso modo de pensar e sentir. O olhar é o principal agente desse processo. Tomemos a cidade, que nos convida a leituras visuais do seu tecido urbano: o modo de organização do seu espaço, a qualidade desigual dos bairros, aqui os elegantes e bem cuidados, lá longe a periferia caótica e feia. Outras mensagens nos chegam pela publicidade em outdoors, em vitrines de grandes lojas, em anúncios luminosos, nas bancas de jornal, multicoloridas – quem lê tanta notícia? –, em muros grafitados, pelos sinais de trânsito e outros signos que ordenam a vida urbana. Há, ainda, os meios eletrônicos, que emitem, em cadeia nacional, imagens de um modo de vida Zona Sul do Rio de Janeiro, tão “naturais” e prazerosas, que acabam por anestesiar nossa capacidade de reflexão. O embrulho é atraente, esteticamente agradável e, com isso, eventuais valores nocivos acabam sendo “comprados” imperceptivelmente: “Beba com moderação”, diz a voz suave, amiga, paternal, que tudo permite, ao mesmo tempo absolvendo de toda responsabilidade quem aconselha. Se a visão de mundo que prevalece em uma sociedade é articulada com base em determinados valores, e se nessa sociedade um grupo detém os meios de produzir e impor seus
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BOMBARDEADOS PELAS IMAGENS, ACABAMOS POR ABSORVÊ-LAS, TORNANDO-AS PARTE DE NOSSO MODO DE PENSAR E SENTIR “Na Fundação Gol de Letra, eu e um amigo, o Ivanildo, fazíamos teatro e gostávamos de escrever depois críticas sobre a peça. Pensamos em fazer exatamente isso quando, na Fundação, entramos para o Núcleo de Projetos Comunitários. Mas resolvemos ampliar a idéia para um jornal que divulgasse para os jovens a cultura de São Paulo e assim ampliasse o acesso deles às manifestações artísticas. Surgiu o jornal Vai Vendo, que é mensal, com tiragem de 500 exemplares, distribuídos em escolas públicas. O retorno tem sido muito bom, acho que a gente vem conseguindo despertar o interesse dos jovens pela cultura, levando informação do que acontece na cidade. O jovem costuma ter mais atração pela TV, então o jornal, que tem de ser lido, é um desafio para nós e para eles. Por isso, estamos sempre inventando estratégias para chamar mais atenção. Na última edição, por exemplo, a gente fez o jornal de trás para frente. Outra idéia é apresentar o que acontece de cultura na nossa comunidade, na Zona Norte de São Paulo. Estamos
O desafio da educomunicação Comunicação implica troca, interação, participação, co-autoria. Comunicação é, portanto, outra coisa, bem diferente da simples informação transmitida em mão única pela mídia. Paulo Freire dizia que “Aprender a ler é conhecer o mundo, e aprender a escrever é adquirir o poder de mudar esse mundo”. O que seria, hoje, aprender a ler e a escrever com as novas tecnologias,? O que significa aprender a conceber, realizar, compor, editar, emitir, exprimir-se em uma nova linguagem, apoderando-se de instrumentos até há pouco tempo fora do alcance da grande maioria? Que lugar é mais DIVULGAÇÃO
90º
valores e suas próprias idéias aos demais, não será isso incompatível com a prática da democracia? Como ser capaz de uma leitura da vida cotidiana que proporcione uma visão crítica do que nos chega pela mídia, considerando-nos um dócil rebanho de consumidores passivos? Que instrumental de análise é preciso adquirir para desvelar seu verdadeiro conteúdo, aquele que nos é escamoteado? Quando e onde se aprende isso? Será uma utopia irrealizável responder dizendo “desde pequenos, na escola”?
THAÍS FRANÇA E IVANILDO do jornal Vai Vendo, da Fundação Gol de Letra (www.goldeletra.org.br); blog do Vai Vendo: vaivendo_gmm@hotmail.com
pensando em apresentar e comentar as peças do Teatro Vocacional, que são aulas grátis de teatro, e também as atividades gratuitas da Pinacoteca do Estado. Tudo isso deixa o jovem mais informado, estimula o pensamento crítico, amplia a visão da realidade. Acho que são esses os ganhos que eu e os jovens leitores estamos tendo com essa experiência.”
propício, mais adequado, mais democrático para esse aprendizado do que a escola, onde estão crianças e adolescentes, professores e gestores, além das famílias, cuja participação é fundamental, e da comunidade na qual a escola está física e culturalmente inserida? Para uma escola que ainda não usa adequadamente sequer os livros, as TICs, tecnologias de informação e comunicação, parecem um obstáculo quase intransponível. Suas características – interatividade, interdisciplinaridade, iniciativa, pesquisa, co-autoria dos alunos da sua própria formação (aprender a aprender) – são alguns dos desafios que a escola já poderia ter transformado, há tempos, em ação pedagógica cotidiana. Afinal, era parte do discurso da universidade e dos especialistas, discurso agora incorporado às diretrizes que, teoricamente, orientam todo o sistema educacional... mas, como custam a baixar no terreiro da realidade da escola pública! Entretanto, a cada geração, a cada nova turma, a esperança se renova. Então, nada de pessimismos. A verdade é que há muitas experiências que vêm sendo feitas, cujos resultados animadores indicam novos caminhos. Algumas dessas experiências estão às portas da escola (ainda do lado de fora), mas outras já estão confirmando suas promessas dentro da sala de aula. O que está dando certo pode ser disseminado, multiplicado e virar política pública, em resposta a demandas urgentes da sociedade. Aqui vão algumas amostras do que começa a acontecer. Botando a mão na mídia Tudo começou com a TV Maxambomba, um projeto do CECIP – Centro de Criação de Imagem Popular, localizado na Baixada Fluminense, região metropolitana do Rio de Janeiro. Vídeos concebidos e realizados com
a participação da população eram projetados em praças públicas, ao anoitecer, num telão instalado em cima de uma Kombi. Os moradores deixavam televisão e novela em casa e vinham assistir à programação variada da TV Maxambomba na praça, para ver a si próprios nos vídeos projetados, ver sua realidade, seus problemas e as soluções inventadas para superá-los. Viam seus artistas, compositores, empreendedores, toda a rica criatividade que não sai em jornal, nem se vê na televisão, onde periferia é só pobreza, crime e catástrofes. Ao final da sessão, quem quisesse falar, criticar, dar sua opinião, tinha sua imagem projetada no telão, ao vivo, e tempo suficiente para desenvolver um raciocínio, defender uma posição, expor argumentos. Com isso, interagindo, modificando, completando, reeditando a informação recebida, numa experiência participativa, totalmente diferente do “assistir” passivamente à televisão em casa. A experiência seguinte foi entrar na escola, a convite da diretora, propondo aos alunos gravar a discussão depois da exibição de vídeos sobre assuntos de seu interesse, como sexualidade, cidadania, drogas, gravidez. Em vez da esperada inibição diante da câmera, as discussões rolaram tão intensamente que foi preciso pedir que parassem, para poder trocar a fita e continuar gravando as sessões de hora e meia. Uma semana depois, voltamos com 20 minutos editados. Os alunos viram a si mesmos falando e perceberam carências, vícios de linguagem, dificuldade em expor o que pensavam. Além disso, a edição era arbitrária,
faltavam falas. “Por que vocês usaram essa frase e não a que eu disse antes?” O editor tinha seus critérios sobre o que usar ou cortar: “Na televisão, também é assim”, explicou, “de uma fala de dez minutos, você usa uma frase que, dependendo da edição, pode dizer o contrário do que você queria”. Os alunos, então, quiseram aprender a fazer, apoderar-se da tecnologia, botar a mão na mídia. Algumas semanas mais tarde, a experiência começou a chamar a atenção dos professores: os alunos estavam mais interessados, mais presentes, fazendo perguntas, passando a freqüentar a biblioteca. O que estava acontecendo? É que para fazer um vídeo é preciso trabalhar em equipe. Escrever um roteiro exige linguagem correta, para que todo mundo entenda. Produzir é calcular custos, discutir, argumentar, ouvir outras opiniões. É uma obra coletiva, visando um objetivo comum, uma experiência que coloca em questão o antigo modo individual de aprender. Organizamos oficinas para os professores, a seu pedido, abrindo espaço para suas reflexões e suas queixas sobre o desinteresse dos alunos. A certa altura, resolvemos mostrar-lhes o que os alunos pensavam deles. E, aos alunos, como os professores os viam. Superado o choque recíproco inicial e as discussões acaloradas em cada grupo, organizamos um encontro entre professores e alunos, em que eles puderam dialogar em igualdade de condições, experiência inédita para todos. O resultado foi uma série de mudanças na escola, onde um novo respeito mútuo entre professores e alunos criou um ambiente de co-responsabilidade pelo ensino e a aprendizagem. Ao longo dos cinco, seis anos seguintes, muitas outras experiências foram sendo feitas, e o que começou espontaneamente teve de ser aprofundado, buscando embasamento teórico que nos ajudasse a aperfeiçoar a prática. A certa altura, decidimos sistematizar a experiência, elaborando o kit “Botando a Mão na Mídia”. Ali está, passo a passo, uma metodologia de teoria e prática, de ação e reflexão. Isto deu novo impulso a esse trabalho. Além do que aconteceu no estado do Rio de Janeiro, onde todos os responsáveis por telepostos participaram de seminários de formação organizados pelo CECIP, a pedido da Secretaria, em 2006 este material foi distribuído nacionalmente a três mil escolas pela SECAD, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, do MEC. É um processo em marcha, o começo de uma mudança.
O Centro Cultural da Criança Esta é uma experiência que se inicia como desenvolvimento de um processo em curso: os alunos de uma das mais violentas favelas do Rio de Janeiro, a do Morro dos Macacos, dispõem de um lugar, depois das aulas, onde podem decidir o que querem fazer, escolhendo livremente uma atividade. O espaço lhes proporciona acesso a bens culturais que, de outra forma, lhes seriam totalmente inalcançáveis: uma sala de informática, instalada pela Future Kids, que formou e acompanha os jovens monitores; uma biblioteca, com livros doados pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil e pela Fundação Lygia Bojunga; uma brinquedoteca, com uma profusão de jogos; uma videoteca, formada com doações escolhidas, particulares e da Fundação Roberto Marinho; uma sala de artes, uma de música e um espaço para atividades de expressão corporal, teatro e dança. Tudo isso criado com base em uma parceria entre o CECIP e a Associação Comunitária local e o apoio da Fundação van Leer. O que se espera dessa experiência? Que esses estudantes tenham outras opções de vida; que tenham outro aproveitamento escolar; que vivam uma experiência de cidadania responsável, que orientará todas as suas vidas. Esperamos, sobretudo, que os resultados mostrem que essa experiência pode servir de modelo a uma política pública para crianças e jovens em outros lugares, com características semelhantes, nos grandes centros urbanos brasileiros. Cultura, comunicação e cidadania intimamente ligadas.
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JUVENTUDE E COMUNICAÇÃO
180º
TECNOLOGIA PARA A VIDA Há cerca de 20 anos, quando comecei a me envolver com projetos sociais que utilizavam a comunicação para promover a formação de jovens, deparei-me com a resistência de muitos educadores que consideravam a mídia uma inimiga da educação. Criticavam-na pela má influência que exercia e condenavam a superficialidade e os maus exemplos que disseminavam. Dez anos depois, assisti a esses mesmos educadores se renderem aos programas que equiparam suas escolas e organizações sociais com tevês, vídeos, antenas parabólicas, computadores, impressoras e acesso à internet. A justificativa nesse caso era evitar que crianças e jovens de comunidades populares sofressem um novo tipo de marginalização: a exclusão digital. Mais uma década se passou e hoje são os programas de “inclusão digital” que estão na berlinda. Pesquisas demonstram que a parafernália tecnológica montada nas escolas não foi capaz de elevar as notas dos alunos
e que os telecentros comunitários ainda não mudaram as condições de vida dos seus usuários. As mudanças de percepção evidenciam que o problema não está nas tecnologias em si, mas na forma como têm sido utilizadas. Vale destacar que mesmo o mais potente dos medicamentos só salva a vida do paciente se for aplicado corretamente. Caso contrário, corre o risco de não fazer efeito ou até mesmo gerar sintomas adversos. Minha experiência demonstra que os meios de comunicação são aliados inestimáveis do processo de formação das novas gerações. Os efeitos da sua boa utilização incluem o crescimento intelectual, a ampliação de repertório, a aquisição de habilidades e o desenvolvimento de valores e atitudes capazes de assegurar que os jovens tenham a autonomia e a responsabilidade necessárias para enfrentar os desafios da vida contemporânea. Mas, para que tudo isso aconteça, não basta lidar apenas com o aspecto instrumental. O propósito não é ensinar a eles os comandos de hardwares ou softwares, mas fazer com que descubram como utilizar essas
Por _ Anna Penido
Jovens alunos da Cipó em atividade
A CONTRIBUIÇÃO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO PODE SER INESTIMÁVEL QUANDO USADA PARA FORMAR JOVENS PRODUTORES DE CONHECIMENTO
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Anna Penido é jornalista e diretora-executiva da Cipó – Comunicação Interativa (www.cipo.org.br)
180º
facilidades para assumir o comando de suas próprias vidas. Também não basta abrir portas para que tenham acesso às fontes de informação. É preciso permitir que eles próprios tornem-se produtores de conhecimentos. Aprender a ser humano A formação integral acontece quando os jovens passam a interagir com as tecnologias não apenas como usuários, mas sobretudo como produtores e difusores de mídia. Quando criam vídeos, programas de rádio, revistas em quadrinhos, jornais, sites e blogs. Quando utilizam os materiais que criaram para educar outras pessoas, mobilizar sua comunidade e interferir na realidade que os cerca. O processo permite que desenvolvam simultaneamente a sua capacidade de aprender, fazer, ser e conviver. Tome-se como exemplo a experiência vivida pelos jovens que participaram do projeto Estúdio CIPÓ de Multimeios em 2002. Para elaborar um conjunto de materiais multimídia sobre o design popular da Bahia, eles precisaram se tornar investigadores atentos e aptos a construir pontes entre diferentes saberes. Começaram sua pesquisa consultando livros e sites, participando de palestras e entrevistando especialistas. Em seguida, munidos de câmeras, gravadores e microfones, viajaram pelo Recôncavo e litoral do estado,
OS EFEITOS DO BOM USO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO INCLUEM CRESCIMENTO INTELECTUAL, AQUISIÇÃO DE HABILIDADES E DESENVOLVIMENTO DE VALORES E ATITUDES QUE ASSEGURAM A AUTONOMIA JUVENIL conversando com pessoas comuns que utilizam a sua criatividade para inventar objetos capazes de garantir a sua sobrevivência. Ao longo de todo esse processo, os investigadores sabiam que o seu estudo tinha uma função importante e seria utilizado por muitas pessoas, ao contrário da maioria dos seus trabalhos escolares, que geralmente são lidos apenas pelo professor e só servem para assegurar a nota no boletim. Esse estímulo fez com que se envolvessem e aprendessem a selecionar, processar e sistematizar informações com níveis crescentes de complexidade. Os dados colhidos nortearam o conteúdo do site e de vídeos, cartazes fotográficos e revistas em quadrinhos elaborados pelo grupo. Na etapa de produção, os jovens
exercitaram todo o seu potencial criativo quando planejavam as peças e adquiriam as habilidades necessárias para confeccioná-las. O aprendizado técnico respondia às demandas do processo produtivo. Aprendia-se a fazer, fazendo. Ou seja, observando e experimentando. Neste tipo de experiência, a convivência intensa em meio ao processo de construção coletiva amplia a capacidade do grupo de interagir, ouvir, propor, negociar e trabalhar em equipe. As decisões são tomadas em conjunto, e as tarefas, partilhadas
Efeitos colaterais positivos Envolver os jovens na produção de uma peça de comunicação também é a forma mais eficaz de ampliar a sua visão crítica em relação à própria mídia. Antes de produzir um vídeo, o grupo tem de analisar muitas outras produções audiovisuais. Além disso, quando estão no comando, percebem o quanto podem utilizar os recursos de que dispõem para adulterar a realidade. Durante encontro realizado com as famílias dos jovens que participam dos programas da CIPÓ, uma mãe alegou que na sua casa ninguém mais assiste televisão do mesmo jeito, pois haviam aprendido com sua filha a criticar os que manipulavam as notícias e a observar os aspectos técnicos. Outro efeito da educação pela comunicação é a subversão dos papéis inerentes a um processo educativo convencional. Especialmente durante a etapa da produção, educadores e jovens tornam-se co-autores e passam a constituir uma equipe multidisciplinar. Há os que escrevem, desenham, entrevistam, filmam, fotografam, narram, organizam e operam equipamentos. Nenhum talento vale mais do que o outro. Quanto mais diversos os estilos e as competências, mais rico se constitui o resultado do trabalho. Os eixos centrais do processo de formação integral de jovens são a identidade e o projeto de vida. A identidade porque os ajuda a entender e acolher suas características e cultura, a rever valores, reconhecer potenciais e lidar com limitações pessoais com respeito, mas sem determinismo, acreditando que existem também para serem superadas. Já o projeto de vida
os faz desejar e planejar os passos que precisam dar para tornar seus sonhos realidade. Quando bem estruturado, um programa dessa natureza favorece que os jovens descubram seus talentos e ampliem sua auto-estima, processo intensificado pela satisfação que os domina diante do resultado e da repercussão do seu trabalho. Muitas vezes ouvi educadores afirmarem que o importante nesse tipo de projeto não é garantir a qualidade do produto, mas a excelência do processo. Discordo dessa tese por acreditar que um processo realmente completo gera um produto igualmente primoroso, indicando que os jovens desenvolveram-se em todas as dimensões esperadas e que o material gerado está pronto para cumprir a sua função social. É importante destacar que a utilização das tecnologias para promover a formação integral de jovens tem como
DIVULGAÇÃO
entre todos, conforme o potencial, o desejo e a disponibilidade de cada um. Encontros de desenvolvimento pessoal e social aprofundam reflexões e discussões sobre situações vividas em meio ao trabalho e preparam os jovens para exercer papel cada vez mais atuante na sociedade, fazendoos compreender que os materiais que produzem e os conhecimentos e habilidades que adquirem poderão ser utilizados para transformar o seu entorno.
FRANCISCA JOSÉLIA PAULINO, 24 ANOS, do projeto Dois Dedos de Prosa, da Catavento Comunicação e Educação (www.catavento.org.br)
pano de fundo a convicção de que a comunicação é um direito inalienável do ser humano e componente fundamental para o fortalecimento da democracia. Por isso, é imprescindível que os meios de acesso, produção e difusão da comunicação sejam disponibilizados para o conjunto da população, especialmente os jovens. Só assim eles poderão expressar suas idéias e participar de forma cada vez mais ativa da vida política e comunitária, libertando-se do manto da invisibilidade que recobre os excluídos e vivenciando a sua cidadania de forma plena.
“Sou participante do projeto de rádio Dois Dedos de Prosa, que começou a ser desenvolvido no ano passado, aqui no Assentamento Boa Água, no município de Banabuiu, na região central do sertão do Ceará. A ONG Catavento trouxe a proposta para nossa escola e 25 jovens estão envolvidos no projeto. Participamos de uma oficina de rádio, outra para aprender a pesquisar e agora estamos fazendo o mapeamento cultural da nossa região. Ainda não colocamos a rádio no ar por problemas de energia, mas planejamos toda a programação, e só esse trabalho já está valendo muito, porque os jovens daqui estão se organizando e conversando, estão mais informados sobre os problemas da comunidade e, principalmente, estamos descobrindo a nossa cultura. Vamos apresentar na rádio, por exemplo, as nossas lendas e também as cantigas de vaqueiros, notícias sobre eventos na comunidade, sobre esportes, música, teatro, atividades dos jovens. A rádio também vai servir para informar pais e alunos sobre o que está acontecendo dentro da escola. A experiência é muito boa. Está mobilizando muito os jovens, que antes não tinham o que fazer.”
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COMUNICAÇÃO E EDUCAÇÃO
POTENCIAL PEDAGÓGICO Por _ Ismar de Oliveira Soares Intensificou-se, a partir da década de 1970, em todo o mundo, a preocupação da sociedade com o poder de influência da mídia. O que sempre esteve em questão era a capacidade dos meios de comunicação de balizar a construção da identidade das novas gerações, definindo os valores com base nos quais a infância e a juventude viessem a construir suas visões de mundo. Em alguns países, a preocupação começou bem antes, como ocorreu na Inglaterra, onde a BBC, já em meados de 1930, instituiu um programa de preparação dos jovens espectadores para conviverem adequadamente com a produção cinematográfica. Foi, contudo, nos Estados Unidos, por volta de 1970, que os estudos da área da psicologia social, passaram a apontar para o perigo da mídia, em especial da TV, substituir os pais e os educadores em seu papel de orientadores e mestres. A questão da violência, a exploração de cenas de sexo e o permanente apelo ao consumo eram o foco dos debates. Debitava-se à Teoria da Aprendizagem Social a certeza de que a ação dos meios incidiria diretamente sobre seus receptores, fato que legitimava todo esforço no sentido de equilibrar
as relações entre TV e criança por meio de programas educativos denominados genericamente de media education ou media literacy. No caso da Europa e dos Estados Unidos, foram especialmente os educadores que se voltaram para o tema. Já na América Latina, o mesmo esforço foi denominado de educación a la comunicación, sob a liderança de ONGs e grupos do denominado “movimento social”, preocupados em esclarecer os trabalhadores sobre as possíveis manipulações dos meios massivos sobre suas audiências. Por aqui, o foco era político, combatendo-se uma indesejável “invasão cultural” do hemisfério Norte sobre o Sul. Para tanto, a partir da década de 1980, os programas de educação para a comunicação passaram
MAIS DO QUE RECURSOS DIDÁTICOS, A EDUCOMUNICAÇÃO PROPÕE AÇÕES PARA A CONSTRUÇÃO, NO ESPAÇO DA EDUCAÇÃO, DE UMA NOVA PRÁTICA COMUNICATIVA
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270º
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270º a incluir em suas plataformas a democratização da prática comunicativa, associando à análise da produção massiva um conjunto de ações direcionadas à criação de formas alternativas de comunicação. No campo da educação formal, os professores mantiveram-se, na prática, distantes do problema, ao menos em sua perspectiva mais sociológica. O assunto, contudo, não deixou de chegar, em 1996, ao texto da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sendo levado aos Parâmetros Curriculares Nacionais e às Normas para a Reforma do Ensino Médio. No caso do ensino médio, a perspectiva criada era a de que a comunicação se convertesse em parte substancial da temática a ser abordada em sala de aula. Os olhares e a atenção dos dirigentes educacionais preferiram, contudo, voltar-se para os benefícios que as tecnologias – em especial a informática – trariam para a melhoria do processo de aprendizagem. Uma certa visão tecnicista tentava suplantar, desta forma, uma possível abordagem mais psicossocial ou mesmo política da comunicação. Nasce a Educomunicação Foi justamente o embate ideológico entre estes distintos ideários que acabou por propiciar o surgimento paulatino de uma terceira via para o tratamento dos problemas relacionados à interface comunicação/educação, propiciando a consolidação do que hoje denominamos “prática educomunicativa”. Foi o que apontou pesquisa desenvolvida pelo Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE/USP) junto a especialistas de 12 países da América Latina e da Península Ibérica, no fim dos anos de 1990. A educomunicação passou a ser, assim, definida pelo NCE como o conjunto das ações voltadas para o
planejamento e a criação de ecossistemas comunicativos abertos e criativos, envolvendo comunidades, empresas e escolas em programas destinados a ampliar a capacidade de expressão dos sujeitos sociais, tornando-os capazes de analisar suas próprias práticas comunicativas bem como a produção da indústria cultural, garantindo, desta forma, maior coeficiente comunicativo para as ações educativas, sejam elas as formais, as não-formais ou as informais. No campo da educação informal, assiste-se, hoje, a um crescimento exponencial de programas e produtos veiculados pelos meios massivos, especialmente pela TV, destinados a assegurar à comunidade formas alternativas de construção de conhecimentos. No campo das organizações sociais, inúmeras ONGs se apropriam criativamente dos princípios defendidos pela educomunicação, no atendimento de crianças e jovens. Já no campo da educação formal, a educomunicação se converte em política pública quando uma prefeitura como a de São Paulo implementa um curso para a formação de professores-educomunicadores em suas 455 escolas de ensino fundamental (o Educom.rádio), ou um ministério como o do Meio Ambiente cria um área de projetos denominada educomunicação socioambiental. Aplicada ao campo da educação formal, a educomunicação veio garantir que, mais importante que “defender” as crianças e jovens dos meios de informação, seria ajudá-los a apoderarem-se deles, coletiva e colaborativamente. A nova perspectiva não nega que os professores devam, eles próprios, dominar as novas tecnologias, mas propugna que é a comunidade educativa, composta por mestres e discípulos, que deve realizar, em conjunto, o exercício da prática comunicativa por meio de uma gestão democrática dos recursos tecnológicos. A questão não seria, pois, apenas adequar-se à sociedade da informação, mas construir um novo modelo de comunicação para a própria sociedade. Não se pretende apenas promover o conhecimento sobre como funciona o sistema de meios, mas, substancialmente, propor ações voltadas para a construção, no espaço da educação, de uma nova prática comunicativa, inspirada no ideário de Paulo Freire de uma educação dialógica. Nos últimos cinco anos, os cursos de formação de educomunicadores sustentados pelo poder público,
em muitos casos com a colaboração da iniciativa privada, atingiram um número expressivo de professores e alunos dos sistemas de ensino. É importante lembrar que cursos de formação em educomunicação não se confundem simplesmente com “oficinas de rádio”, “oficinas de vídeo”, ou mesmo de “leitura crítica da mídia”. O que se busca é um esforço processual coletivo – envolvendo direção, professores e alunos de uma escola – no sentido da comunidade se apoderar não apenas das novas linguagens, mas notadamente dos conceitos e métodos inerentes ao planejamento e execução de propostas voltadas a criar um novo ambiente de comunicação em espaços educativos, aberto e criativo, mediante o uso das formas de expressão (como o teatro, o canto e a dança) e/ou das tecnologias da informação, como a imprensa, o rádio, o vídeo e a internet.
À COMUNIDADE EDUCATIVA CABE CRIAR UM NOVO AMBIENTE COMUNICATIVO, MEDIANTE AS FORMAS DE EXPRESSÃO ARTÍSTICAS E AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO, COMO IMPRENSA, RÁDIO, VÍDEO, TV
Neste sentido, a visão corrente do uso pontual dos recursos da comunicação, de caráter instrumentalista, voltado exclusivamente para a melhoria da performance didática dos professores ante suas audiências está sendo confrontada por uma visão processual que qualifica, sobretudo, a condição da comunidade escolar como produtora de cultura, favorecendo a expressão de todos os sujeitos, sejam professores, sejam aluno ou mesmo outros membros da comunidade escolar. Tal confronto não chega a ser percebido pelos docentes com pouca familiaridade com as tecnologias educativas. Já no ambiente dos iniciados, ganha a dimensão de polêmica estabelecida. Incomodados, certos educadores chegam a desabafar: estão invadindo a nossa praia! No que estão corretos, pois a prática educomunicativa desestabiliza a acomodação da denominada “educação bancária”. Já para os que optam pela visão processual do uso das tecnologias, os conceitos dominantes passam a ser “comunicação/participação” e não apenas “ensino/aprendizado”. Nesta linha, há os que defendem um aprofundamento do tema, admitindo a necessidade de se chegar a uma gestão coletiva e democrática dos recursos disponíveis no espaço escolar. A questão deixa, pois, de ser a dicotomia “usar ou não usar” as
tecnologias na educação, passando a ser “como usálas”, de forma a produzir experiências significativas de criação de comunidades dialogantes. A percepção da escola e dos educadores Existe, ainda, um longo caminho a ser percorrido pelos que defendem o novo conceito e sua aplicação nas relações sociais e educativas. Na verdade, ainda é grande a resistência dos que – formados com base em uma visão funcionalista dos processos comunicativos – entendem que o conceito de educomunicação representa uma ameaça à perspectiva do marketing educacional. Aflora, aqui, a questão do campo científico. A educomunicação pertenceria ao campo da comunicação, da educação ou estaria conformando um terceiro espaço de intervenção social? Trata-se de uma questão em debate na universidade, sobre a qual não pretendemos nos deter neste artigo, por exigir espaço específico de tratamento. O que importa recordar, contudo, é o significado que DIVULGAÇÃO
Ismar de Oliveira Soares é Coordenador do Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo – NCE/USP(www.usp.br/nce). É membro do Instituto Internacional de Jornalismo e Comunicação de Genebra, Suíça (www.iijc.info)
DIÓGENES VINÍCIO SILVA MALAQUIAS, 18 ANOS, do projeto Escola Animada, da Casa de Animação, em Sabará (MG) – www.casadaanimacao.com.br
o termo começa a alcançar, no Brasil e no exterior, justamente depois que o Núcleo de Comunicação e Educação da ECA/USP identificou, em suas pesquisas, que o movimento social havia estabelecido práticas de manejo da comunicação para finalidades educativas que não se balizavam exatamente pelas teorias e práticas dos dois campos tradicionais. Aplicando tal perspectiva às ações de comunidades e suas lideranças, percebe-se, como resultado, a autonomia do aluno e seu compromisso com a transformação da sociedade. Ecos destas experiências certamente contribuirão para mudar a percepção que a escola brasileira tem do potencial pedagógico da educomunicação. “Além de ser um desafio, aprender sobre comunicação aproxima o jovem do que ele gosta de fazer, que é criar canais legais de expressão. Foi o que percebi ao participar durante cinco meses da oficina de audiovisual do projeto Escola Animada, desenvolvido pela Casa de Animação e a Ação Faça Uma Família Sorrir, de Sabará. Aprendemos várias coisas, como técnicas de animação, roteiros para TV, edição de uma matéria. Daí surgiu a idéia de fazermos na escola um jornal informativo sobre o que acontece lá e também na cidade. O jornal aproxima os estudantes dos professores e também da comunidade. Conseguimos mobilizar muita gente, por exemplo, com uma edição que tratou da Agenda 21. Na escola, 95% dos alunos lêem o jornal e acho que ele se tornou uma fonte importante para estimular a diversidade de opiniões. Nossos recreios ficaram mais animados. Agora, planejo para o final do ano fazer um audiovisual sobre a turma que se formará no ensino médio. Vamos ter de preparar um roteiro, fazer a pré-produção e a produção. A idéia está mobilizando bastante o pessoal. Quero também achar um jeito de passar para outros jovens da escola o que aprendi na oficina, porque é muito legal.”
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JUVENTUDE E MÍDIA
360º
SINTONIA FINA Por _ Veet Vivarta
Veet Vivarta é jornalista, secretário executivo da ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância (www.andi.org.br)
UMA PERSPECTIVA REDUCIONISTA DA MÍDIA JOVEM IMPEDE O RECONHECIMENTO DE SUA EVOLUÇÃO, REFLETINDO AINDA MAIS PRECONCEITOS CONTRA A JUVENTUDE
Quem não se lembra da campanha que a MTV Brasil colocou no ar logo nos primeiros meses de 2006, convidando seu público a posicionar-se criticamente em relação ao processo eleitoral? Polêmica, ácida e muito eficiente do ponto de vista comunicacional, a iniciativa estendeu-se por vários meses, atingindo plenamente seu objetivo primordial: estimular o debate e a participação em meio ao clima de apatia que se abatera sobre boa parte da população, desde quando, no ano anterior, uma série de escândalos havia tomado conta do cenário político nacional. Este é apenas um exemplo da importante contribuição que os veículos de comunicação dirigidos aos adolescentes e jovens vêm dando ao processo democrático e à cidadania – inúmeros outros podem ser facilmente apontados. Apesar disso, não é raro encontrar quem acuse a chamada Mídia Jovem de tratar seu público essencialmente da perspectiva do consumidor; ou seja, oferecendo-lhe publicações e
programas com pouca consistência informativa ou reflexiva. Como explicar tal paradoxo? Boa fatia da responsabilidade, sem dúvida, pode ser atribuída à própria visão preconceituosa que parte da sociedade ainda dedica aos jovens. Se estes são inconseqüentes e alienados, nada mais lógico que os conteúdos midiáticos a eles dirigidos também apresentem baixa qualidade. O problema dessa abordagem é que, como ocorre em toda leitura estereotipada, um riquíssimo conjunto de experiências e aprendizados acaba permanecendo pouco conhecido – e, pior, subaproveitado no que se refere a seu potencial de disseminação e replicação.
Sedução versus responsabilidade Quem opta pela visão reducionista ignora também que os veículos de comunicação, se por um lado estão buscando atrair a atenção de garotos e garotas, por outro, defrontam-se com uma crescente dose de demandas quanto à sua função social. Isto porque os espaços tradicionais de referência para o adolescente e o jovem – como a família e a escola – nem sempre têm conseguido responder às necessidades por informação e orientação geradas pela realidade atual, em acelerado e contínuo processo de mudança. Nesse contexto, na grande maioria dos países é a mídia que vem se firmando – independentemente do quanto gostemos ou não dos conteúdos que veicula – como instrumento crucial no processo de socialização das novas gerações. Além de reconhecer essa influência na formação de valores, mentalidades, hábitos e atitudes, vale observar especificamente a capacidade dos meios de comunicação de contribuir para o desenvolvimento de uma visão crítica
e de uma postura mais participativa entre esse público. Em um país que segue ostentando o título de um dos mais desiguais e socialmente injustos do planeta, esse aporte da mídia para a consolidação de uma consciência cidadã não pode ser avaliado de modo superficial. Há, porém, que colocar foco em alguns elementos que complicam este quadro. Ao contrário do que muita gente imagina, não é tarefa simples produzir conteúdo de qualidade para essas faixas etárias – as experiências mais bem-sucedidas costumam aliar, em doses variáveis, informação e formação, entretenimento e educação, bom humor e reflexão. Além disso, as publicações e programas gerados para esse público nem sempre contam com as condições ideais para seu desenvolvimento e implementação.
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Processo em evolução Esse tipo de panorama exige, portanto, uma compreensão tecnicamente mais consistente dos
“Faço parte de um coletivo jovem, o FACA (Foco de Atividade de Cultura Alternativa), que quer mostrar justamente o jovem atuante na cultura, na produção de mídia, nos movimentos organizados – tudo que não costuma aparecer na mídia convencional e que retrata a diversidade dos interesses e movimentação da juventude. Muitos jovens, por exemplo, estão criando sua própria mídia no cinema, na fotografia, nos fanzines, nas rádios comunitárias, nas manifestações artísticas. É um trabalho de formiguinha, mas acredito no potencial dessas iniciativas para ampliar e enriquecer a visão da juventude na mídia convencional. Para falar a verdade, nem acompanho muito essa grande mídia, mas percebo, por exemplo, na TV Cultura, um interesse positivo em se aproximar do jovem. A revista Caros Amigos também é interessante neste sentido, e a MTV faz essa tentativa, mas não chega a se diferenciar, acaba mostrando sobre juventude apenas o que está no fluxo da grande mídia com uma imagem mais teen. Os veículos de comunicação ainda estão devendo espaço para a juventude e toda a sua diversidade de expressão.”
mecanismos pelos quais a Mídia Jovem brasileira vem moldando sua atuação – uma tarefa que nos últimos dez anos tem sido assumida pela ANDI – Agência de Notícias dos Direitos da Infância. Em suas atividades de monitoramento e análise de meios de comunicação de todo o país, a citada ONG brasiliense foi registrando a existência de um número significativo de veículos que procuravam estabelecer vínculos mais próximos com adolescentes e jovens, por meio de cadernos ou seções especiais. Concebidos em formato, linguagem e conteúdo diferenciados, tais produtos pautavam-se por uma abordagem original: não apenas dirigiam-se diretamente a esses públicos, como também abriam espaço para que eles tivessem voz e participação. Já nessa época suplementos como o Folhateen (Folha de S. Paulo) e o Zap (O Estado de S. Paulo) tornavam clara a viabilidade de dialogar com o público jovem, sem abrir BEATRIZ ASSUMPÇÃO
Isto ocorre, em primeiro lugar, porque os profissionais responsáveis por tais produtos não contam com um espaço qualificado de formação – seja no âmbito da graduação universitária, seja em iniciativas de escopo complementar. Para piorar, muitos deles não encontram o devido suporte e reconhecimento por parte das empresas de comunicação; com raras exceções, elas ainda atribuem um caráter secundário aos conteúdos direcionados ao público jovem.
KLEBER LUIS GONÇALVES DA SILVA, 25 ANOS, do coletivo jovem FACA faca3X5@gmail.com; Tels.: 11/5971-3200 e 7374-1840)
mão dos princípios do bom jornalismo. No campo das revistas femininas, destacavam-se reportagens de Capricho e Atrevida, especialmente no campo dos direitos reprodutivos e sexuais. E, na televisão, começavam a ocupar espaço programas que fizeram escola, como os do apresentador Serginho Groisman (primeiro na TV Cultura e depois no SBT) e o lendário Barraco, da MTV Brasil. Foi esse cenário bastante promissor que incentivou a ANDI a implementar, em 1997, sua Coordenação de Mídia Jovem. Por trás da idéia, estava o entendimento de que era possível colaborar com a consolidação e qualificação dessas diversas iniciativas e, ao mesmo tempo, incentivar sua multiplicação. Várias ações e metodologias foram desenvolvidas com esse intuito, permitindo que se estabelecesse um relacionamento próximo entre a equipe responsável pelo projeto e as redações e produções dos principais veículos dirigidos ao público adolescente e jovem. Relevância social Partindo-se dessas atividades, não é difícil exemplificar o nível de qualidade alcançado nos últimos anos pela Mídia Jovem – esse exercício, na verdade, traz o risco de se cometerem graves injustiças. Um bom começo é lembrar outra iniciativa da MTV Brasil relacionada ao processo eleitoral, só que com foco em 2002 – a série de programas Tome Conta do Brasil, que mesclava doses iguais de irreverência e de convite à
EM DEZ ANOS, O ÍNDICE DE RELEVÂNCIA SOCIAL DOS TEMAS ABORDADOS PELA MÍDIA JOVEM NO BRASIL CRESCEU DE 24% PARA 70%.
Se os jovens são alienados, parece lógico que a mídia dirigida a eles também tenha baixa qualidade. Nesta abordagem, um rico conjunto de experiências acaba pouco conhecido e sem replicação
participação cidadã. Em geral, consideradas tema árido para a juventude, as eleições também serviram de mote para o projeto Saia do Muro, desenvolvido pelo jornal O Povo, de Fortaleza, naquele mesmo ano – vale assinalar que a iniciativa contribuiu diretamente para elevar o percentual de adolescentes, de 16 e 17 anos, decididos a exercer o direito ao voto no Ceará, em relação ao pleito anterior. Mais: o já citado Folhateen foi o primeiro veículo a abordar o documentário Falcão, sobre o envolvimento de adolescentes com o tráfico de drogas, então em fase de produção pelo rapper carioca MV Bill (a reportagem acabou merecendo o Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo). Na Bahia, o Caderno Dez!, do jornal A Tarde,
apostou em uma interação próxima com as escolas e com os grupos que estimulam a participação juvenil. E uma inovação importante foi trazida pela TVE do Rio de Janeiro, que, no início dos anos 2000, escalou o ainda adolescente Leo Almeida para comandar seus programas dirigidos ao público jovem – o investimento deu certo, tanto que o apresentador segue em atividade, agora na JB TV, oferecendo diariamente um cardápio em que não faltam debates sobre tópicos socialmente relevantes. Finalmente, merece destaque o campo do entretenimento, com a evolução experimentada pela novela Malhação, da Rede Globo. No início, desenhada sem maiores preocupações com o conteúdo, a atração pouco a pouco foi integrando questões de densidade à sua trama, não raro fazendo uso do recurso do merchandising social e conquistando o reconhecimento de diversas organizações que trabalham com a agenda juvenil ou adolescente. Investimento em análise e qualificação O conjunto da produção desses veículos também justifica atenção. A Coordenação de Mídia Jovem da ANDI estruturou, ainda em 1997, um sistema inédito de monitoramento e análise do conteúdo editorial das publicações voltadas a este público. Os resultados da primeira pesquisa realizada com base nesta metodologia, publicados na edição de estréia do relatório denominado A Mídia dos Jovens, apontavam que a principal referência dos profissionais de comunicação que se dirigiam à juventude era o jornalismo de comportamento e entretenimento, típico dos suplementos de cultura. Mas o cenário tem mudado consideravelmente desde então. Para registrar as variações no espaço ocupado na Mídia Jovem por temáticas relacionadas à educação, aos direitos humanos, à saúde, à diversidade e à violência, entre outras, a ANDI criou um Índice de Relevância Social. De pouco mais de 24%, assinalados no início de 1997, o indicador saltou para cerca de 70%, em 2006 – um processo acompanhado por evoluções importantes também no perfil das fontes de informação ouvidas pelos
jornalistas e no nível de interesse pela opinião dos adolescentes e jovens. Vários fatores, além das ações específicas implementadas pela ANDI, somaram-se para que parcela considerável desses veículos viesse a superar o entendimento de que seu público deveria ser abordado apenas como consumidor de moda e lazer. Um deles foi o diálogo próximo de editores e repórteres com projetos sociais nos quais os adolescentes são apoiados a desenvolverem uma atitude participativa em relação à sua comunidade e à sociedade como um todo. Merece também reconhecimento a iniciativa de muitas publicações e programas de tevê em estabelecer – segundo os mais diversos formatos e estruturas – seus “conselhos editoriais jovens”. E um terceiro elemento está associado ao próprio amadurecimento do cenário brasileiro em relação à população juvenil, em razão das mobilizações que acabaram resultando, por exemplo, na criação da Secretaria e do Conselho Nacional de Juventude. É claro que ainda há muito a ser aprimorado na produção que os meios de comunicação de massa brasileiros oferecem aos jovens – a idéia aqui não é induzir o leitor ou leitora a acreditar que inexistem falhas ou imperfeições neste processo. Mas parece evidente que qualquer esforço a ser operado em tal sentido deve, necessariamente, utilizar como referência a série de avanços conquistados e as inúmeras boas práticas do passado e do presente.
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sem bússola
O PLENO ACESSO DA JUVENTUDE ÀS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO EXIGE UM CONTEXTO EDUCACIONAL E UMA ADESÃO DE EDUCADORES QUE AINDA SÃO FRÁGEIS NO BRASIL
AS TEIAS DA EXCLUSÃO
MARIANA DUPAS-SAMBAPHOTO
Sem capacitar professores para lidar com a nova realidade tecnológica, não adianta equipar salas com laboratórios de comunicação, computadores e conexão de internet nas escolas e nos espaços públicos. Esse é o pensamento comum de dirigentes de organizações nãogovernamentais, pesquisadores de universidades e jovens de comunidades populares. A pedagoga Nilza Godoy Gomes, pesquisadora do grupo Comunic, da Universidade Federal de Santa Catarina, verificou em trabalho realizado em escola de Florianópolis que os alunos, mesmo os que têm pouco acesso à internet, estão se apropriando dos conteúdos de uma forma autodidata. “Eles demonstram capacidade para aprender, sozinhos, coisas sofisticadas, testam hipóteses, com software ou em rede”, diz Nilza. Segundo ela, os alunos estão dominando as ferramentas, enquanto os professores estão distantes, com medo de experimentar. “O professor diz: ‘os alunos sabem mais do que eu’. Então, ele precisa ser formado para potencializar o ensino com esses recursos.”
Por _ Marilena Dêgelo
Para Gilson Schwartz, coordenador e fundador da Cidade do Conhecimento e professor de cinema, rádio e TV, no curso de Audiovisual, da Universidade de São Paulo, o sistema educacional brasileiro não está preparado para essas formas de comunicação. “O Brasil está perdendo a corrida tecnológica no ensino. Apesar de alguns investimentos, o que fazemos é insuficiente e inadequado”, afirma. Ele cobra do governo a aplicação de cinco bilhões de reais, que seriam suficientes para uma política pública de estratégia educacional para o futuro. “O dinheiro deveria ser aplicado para desenvolver os projetos pilotos, realizados por universidades e entidades preocupadas com a questão da educação e da tecnologia, que apresentaram resultados. Mas isso não está acontecendo e é um escândalo.” Pouca inteligência Responsável por 30 projetos desenvolvidos pela Cidade do Conhecimento que empregam mídias eletrônicas no ensino, Schwartz diz que a inteligência no uso da informática é pouca e, por isso, a educação em São Paulo piorou. “Aumentou o crédito da população e abaixou a nota nas escolas. As pessoas consomem mais e estudam menos. O desafio é fazer as pessoas comerem bem para estudar mais. Ou a gente fica mais inteligente, ou mais obeso.” Um dos projetos criados pela instituição foi o Rede Pipa Sabe, em um vilarejo na praia do Pipa, no Rio Grande do Norte. Lá, um grupo de
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SAMUEL SILVEIRA LIMA
jovens aprendeu a criar conteúdos que foram difundidos por empresas de telefonia celular. Josiene Nascimento Silva, de 24 anos, foi voluntária nas oficinas do Rede Pipa desde o início, em 2003. Ela mora com a família num espaço precário e, após concluir o segundo grau, trabalhou em lojas e pousadas. “Não sobrava tempo para estudar. Estava me sentindo burra”, afirma. Aprendeu a fazer wall paper com fotos de quadros de pintores do vilarejo para protetor de tela de celular e ring tones com músicas de artistas locais, que foram aproveitados pela operadora Oi. No telecentro, montado com seis computadores e antena de internet, passou a pesquisar e trocar e-mails. “Só tive a oportunidade de apertar a tecla enter pela primeira vez aos 21 anos. Em três anos, minha vida mudou, entrei numa roda-viva. Descobri um mundo de coisas. Passei a ver minha comunidade de outra forma”, diz. Em 2005, Josiene e mais dois jovens aprenderam a usar a câmera e criaram a TV Pipa, agora com o apoio da ONG Educapipa, para produzir documentários sobre o vilarejo. “Hoje, domino o computador com software
VIDA DE REPÓRTER “Sem dúvida, o trabalho de jornalista ficou mais fácil nas últimas duas décadas com a informatização das redações de jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão. Há 30 anos, quando iniciei na profissão, as pesadas máquinas de escrever, feitas de ferro, o telefone e o telégrafo eram nossas ferramentas de trabalho. As únicas fontes de pesquisa eram o ensebado dicionário, as velhas enciclopédias e as visitas aos arquivos das editoras. Levávamos dias para conseguir montar uma boa reportagem. Descobrir o que estava acontecendo na esquina exigia muitas horas ao telefone. Não havia sites noticiando a cada segundo. Confesso que foi difícil, para mim, passar das laudas de papel jornal para as telas dos microcomputadores. Não fiz curso de informática, nem recebi aulas nas redações onde trabalhei. Com a ajuda de meu filho, que cedo ganhou um computador, acabei me beneficiando e sendo incluída nesse universo de constante aprendizado. Descobri como usar todas as ferramentas e acessar as fontes de pesquisa. Fico maravilhada cada
MARILENA DÊGELO é jornalista há três decádas
vez que aprendo algo novo e com a rapidez para checar a grafia correta de uma palavra ou do nome de uma celebridade. Fiquei indignada durante essa reportagem para Onda Jovem quando constatei que as salas de informática nas escolas públicas acabam não sendo utilizadas como deveriam para a pesquisa e o estudo dos alunos de comunidades pobres. E, pior, que a maioria dos professores ainda não sabe e, por isso, não consegue ensinar os estudantes a utilizar essas ferramentas. Imagino a alegria de cada um deles quando tiver a oportunidade de navegar nesse imenso mundo de informações.”
livre. Crio blogs, ajudo a fazer sites comunitários e troco mensagens com quem quer conhecer o projeto”, afirma a garota, que atualmente ganha dinheiro gravando festas de casamento e aniversário. Sua expectativa é comprar novos equipamentos: “Vamos ampliar nosso trabalho, fazendo documentários sobre as comunidades vizinhas”. Emancipação digital Segundo Schwartz, o que aconteceu em Pipa foi a emancipação digital, que a Cidade do Conhecimento procura promover em comunidades pobres. O projeto, financiado pelo convênio com a Casa Civil da Presidência da República e o ITI – Instituto Nacional de Tecnologia, ganhou o prêmio Top 30 pela inovação. “Falam de inclusão digital, mas nós temos a emancipação digital, que é usar a informática com inteligência para gerar renda. Envolve educação, tecnologia e economia. Se a população não tem educação, não pode consumir a tecnologia de forma inteligente”, afirma o professor. Outro projeto da Cidade do Conhecimento é o Programa Educar pela Emancipação Digital, que usa software de 3D para debater assuntos diversos. No semestre passado, o conflito
CAPACITADOS PARA DOMINAR AS TECNOLOGIAS ATUAIS, OS PROFESSORES PODEM SER OS GRANDES LÍDERES DA TRANSFORMAÇÃO NA ÁREA DA EDUCAÇÃO
TONY GENÉRICO-SAMBAPHOTO
no Oriente Médio foi discutido em duas sessões, com 60 professores participantes em cada uma. Em 25 módulos do programa, mais de 2 mil professores foram certificados pela USP. “O professor pode ser a grande liderança da transformação no mundo da educação, com essa ferramenta tecnológica bem dominada.” Na opinião da pedagoga Nilza, os professores devem ser formados para utilizar esses recursos e compreender as novas formas de aprender e de ensinar. “Essas tecnologias devem ser usadas de forma crítica, como ferramenta pedagógica ou objeto de reflexão, para criar a figura do professor voltado para a mídia-educação”, afirma. Na pesquisa realizada em 2005, ela constatou que o aluno pobre não tem permissão para entrar nos laboratórios de informática da escola, que ficam fechados porque não há professores capacitados para monitorá-los. “Quando perguntamos aos alunos se eles sabiam usar o computador, a maioria listou endereços na internet, o que demonstra o interesse de ter acesso”, diz Nilza. Alguns alunos contaram que vão a lojas ou a casas de parentes para utilizá-lo por algum tempo. “Ou seja, eles
criam estratégias, vão atrás. Só falta o professor incorporar essa prática no ensino, com estratégias inovadoras de aprendizagem”, afirma a pedagoga. Segundo ela, os professores não podem continuar levando os alunos para o laboratório apenas para digitar textos. Por isso, sugere a criação de projetos que integrem várias disciplinas e que agreguem tarefas de pesquisa, investigação e discussão com outras fontes. “Os alunos devem ser desafiados a responder questões que vão motivá-los. Se conseguem sozinhos aprender a jogar, têm capacidade para estudar e trabalhar.” Aprendizado dirigido Ex-monitor de informática no espaço gratuito da Rede Jovem, entidade mantida pela organização Comunitas, Fabiano Leal, 19 anos, concorda com os pesquisadores universitários. “As lan houses até suprem a falta de computador em casa”, diz ele, referindo-se aos estabelecimentos comerciais que disponibilizam o acesso a computadores e à internet. “O problema é a falta de local gratuito com profissionais capacitados para mostrar aos jovens o que a ferramenta digital oferece”, diz. Para ele, as pessoas precisam aprender a utilizar as novas tecnologias da informação para o crescimento pessoal, educacional e profissional. “A maioria só usa para a diversão.” Fabiano teve o primeiro contato com a internet há seis anos, quando estudava na EM Cecília Meirelles, em Vila Cosme, no subúrbio do Rio de Janeiro. Ele fazia parte do grêmio e tinha acesso ao computador da secretaria. Havia salas de informática na escola, mas não podiam ser usadas pelos alunos fora da aula. Quando foi criado o Espaço Jovem na Associação dos Moradores do bairro, ele foi chamado para atuar como monitor e aprendeu como estudar e fazer pesquisas na internet. “Usei bastante durante oito meses, mas há três anos o espaço fechou”, diz. Atualmente, Fabiano paga R$ 2 por uma hora numa lan house, onde passa de duas a três horas por dia. Checa e-mails, entra no Orkut, consulta o site 0800, da Rede Jovem, e cria sites para a igreja e ONGs, além de estudar. Atualmente, ele se prepara para o vestibular da Faculdade de Serviço Social em curso on-line gratuito. “Muitos jovens não estão usufruindo disso porque não sabem que podem.”
Os pontos de acesso estão aumentando, mas ainda falta orientação para o uso produtivo das novas mídias
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AGÊNCIA O GLOBO
EM MUITAS ESCOLAS PÚBLICAS, OS LABORATÓRIOS FICAM FECHADOS AOS ALUNOS, POR FALTA DE PROFESSORES E MONITORES HABILITADOS
Oportunidades no celular Se seu celular não tivesse sido roubado, Fabiano queria ser um dos 500 jovens selecionados, inicialmente, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo e em São Paulo, para participar de novo projeto 0800, da Rede Jovem, que prevê enviar 20 torpedos por mês com ofertas de emprego, cursos, palestras e shows gratuitos, perto de cada comunidade. “Ainda está em fase de testes, mas vai beneficiar quem não tem computador em casa nem dinheiro para pagar lan house. É um projeto dinâmico porque, por intermédio do SMS, a pessoa logo recebe a mensagem”, diz. Patricia Azevedo, coordenadora de interação do Programa Rede Jovem e executiva dos projetos “0800 Rede Jovem” e “Conexões em curso”, diz que atualmente estão em funcionamento apenas 26 dos 56 Espaços Jovem, criados, a partir de 2000, em 16 cidades de oito estados do Brasil. “Os outros 30 foram desativados com o fim
da parceria com a Prefeitura do Rio de Janeiro, mas esperamos retomá-los em breve”, afirma Patricia. Nesses locais, os jovens podem discutir seus problemas, pesquisar, criar e-mail, procurar emprego e ler revistas e jornais. São realizadas oficinas, com três horas de aula, para introdução aos conhecimentos básicos de informática. Chama-se cyberbanho. “Os Espaços Jovens foram criados tendo a inclusão digital como meio, e não fim, visando a inclusão social de jovens pobres”, diz a coordenadora. “Todos ouvem falar em Orkut, tudo é feito virtualmente. Para esses jovens, é importante se comunicar da mesma forma.” O site 0800, que na gíria carioca significa gratuito, é um espaço virtual onde os jovens divulgam e consultam oportunidades a custo zero. O mesmo conteúdo está sendo enviado em torpedos para os celulares dos 500 jovens cadastrados na fase de teste. Acesso para todos Além dos jovens de comunidades populares, um outro grupo sofre com as dificuldades de acesso às tecnologias de informática e comunicação. São os portadores de deficiência física, visual e auditiva. A ONG carioca Escola de Gente promove a inclusão dessas pessoas utilizando a educomunicação.
SOBRE PARA SABER MAIS
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SOBRE PARA SABER MAIS
“Nosso papel é educar no sentido de levar a conscientização”, diz Patricia Moreira, gerente de projetos. Na opinião dela, quem não convive com pessoas com deficiências não questiona, por exemplo, a falta de rampa e de portas largas para facilitar o acesso de cadeira de rodas a salas de informática públicas, ou a lan houses, nem a ausência de programas de voz nos computadores para cegos e de linguagem brasileira de sinais – LIBRAS – para surdos. “Nossa provocação é: se a inclusão digital visa todos os jovens, por que a maioria dos locais não contempla essas questões, que constam em lei como normas de acessibilidade para funcionamento?” As oficinas da Escola da Gente capacitam os jovens para defender o direito à inclusão em todas as áreas. “Temos projetos voltados para a juventude porque é a geração mais aberta a novas idéias. Montamos peça de teatro para despertá-los, mas é nas oficinas que eles se aprofundam no tema”, diz Patricia. Em quatro horas de palestra, eles refletem e se tornam mais sensíveis aos problemas dos deficientes. Muitos são estudantes de cursos universitários que poderão aplicar as idéias nas futuras profissões. “Produzimos conteúdos publicados em livros e manual com nossa me-
todologia. Nossas reivindicações acabam favorecendo obesos, grávidas ou acidentados, que também passam a ter melhor acesso aos lugares.” Os jovens participantes da ONG, chamados de oficineiros, fazem blitz nos teatros, nas casas de shows e em outros espaços públicos, para verificar se estão sendo cumpridas as normas de acessibilidade, como programas em braile e em LIBRAS. Nas áreas de informática e comunicação, Patricia indica o site www.rybena.org.br para a aquisição de produtos de acessibilidade para surdos, que convertem textos em português para a língua brasileira de sinais (LIBRAS) e produzem mensagens de torpedos para celular nessa linguagem. E, para cegos, indica o programa VozWeb, com vocalização do que aparece na tela, e VoIP, que permite conversa pela internet. Na Escola da Gente, os jovens fazem ainda programas de rádio e oficinas inclusivas pela internet, discutindo políticas públicas com a mesma metodologia e o mesmo conteúdo aplicados ao vivo. Em fase piloto, o segundo módulo do projeto Jovens em Rede pela Não-Discriminação, organizado pela ONG, envolve 100 participantes de cinco redes do país: Pastoral da Juventude, Jovens do Nordeste, Sou de Atitude (Salvador), Jovem da Comunitas e Jovem Petrobras. “Enviamos e-mails com provocações e recebemos as respostas”, diz Fábio Meirelles, 23 anos, que é oficineiro desde 2003 e suplente no Conselho Nacional da Juventude, ligado à Secretaria Geral da Presidência da República. “Antes da atividade na Escola
de Gente, eu não percebia o quanto é prioritária a acessibilidade para as pessoas com alguma deficiência. Eu estudei em escola pública e não convivi com nenhuma delas”, diz. “A educação precisa ser inclusiva.”
PROJETO CIDADE DO CONHECIMENTO ÁREA DE ATUAÇÃO VÁRIOS ESTADOS, PRINCIPALMENTE RIO GRANDE DO NORTE E SÃO PAULO PROPOSTA DE TRABALHO Criar, planejar e desenvolver projetos de emancipação digital, em redes digitais colaborativas, que conectam a Universidade de São Paulo, pólos regionais e centros de pesquisa internacionais. Projetos-piloto, como o Rede Pipa Sabe, e programas como Educar na Sociedade de Informação, para professores, na Universidade de São Paulo. NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 300 visitam por mês o Telecentro Pipa Sabe, em Timbaú do Sul, RN APOIOS Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República, Ministérios das Comunicações, da Educação e das Relações Exteriores, entre outros CONTATOS Av. Professor Lúcio Martins Rodrigues, 443 – Bloco 04 – Sala 26 – Cidade Universitária – São Paulo. CEP: 05508-900. Tel.: 11/ 3091-4012. Site: www.cidade.usp.br
PROJETO 0800 REDE JOVEM ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO, SÃO PAULO E ESPÍRITO SANTO PROPOSTA DE TRABALHO Construção coletiva de um espaço virtual para divulgação e consulta de oportunidades a custo zero para a juventude, filtradas de acordo com as comunidades, bairros e cidades onde vivem os jovens participantes. NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 500 participantes no projeto-piloto de torpedos pelo celular APOIOS Instituto Oi Futuro, Okto Mobile Ideas e cinco organizações comunitárias CONTATOS Tel.: 21/ 3874-5544. Site: www.redejovem.org.br
PROJETO ESCOLA DE GENTE ÁREA DE ATUAÇÃO EM TODO O BRASIL, ESPECIALMENTE, RIO DE JANEIRO E SÃO PAULO, E PARAGUAI PROPOSTA DE TRABALHO Formar e capacitar jovens para multiplicar o conceito de inclusão para outros jovens. Transformar políticas públicas em políticas inclusivas, para que pessoas com e sem deficiência exerçam seus direitos. NÚMERO DE JOVENS ATENDIDOS 1.675 jovens atendidos em 67 oficinas. APOIOS Ashoka Empreendedores Sociais, Fundação Avina Brasil, Fundação Avina Paraguai, BNDES, Fosfértil, Save the Children Suécia, Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, entre outros CONTATO Av. Evandro Lins e Silva, 840, Sala 814, Barra da Tijuca – Rio de Janeiro, RJ CEP: 22631-470. Tel.: 21/ 3154-7934. Site: www.escoladegente.org.br
o sujeito da frase
Por _ Jane Soares Fotos _ Márcia Zoet
Todas as semanas, 300 jovens disputam um lugarzinho na platéia para participar do Altas Horas, o programa do jornalista Serginho Groisman, que vai ao ar no final das noites de sábado, pela Globo, onde trabalha desde outubro de 2000. Sem ser galã de novela, esse paulistano – e corintiano convicto – de 56 anos conseguiu se transformar em um ídolo dos adolescentes com uma fórmula de programa aparentemente simples – deixar a moçada falar, debater, opinar. O formato faz sucesso desde os idos dos anos 1980 e já passou por várias emissoras. Começou na TV Cultura, com o Matéria Prima, passou pelo SBT, com o Programa Livre, e desembarcou no Altas Horas da Globo.
Aliado ao sucesso com os jovens, Serginho conseguiu amealhar credibilidade também junto aos críticos da programação juvenil brasileira. Mas ele não é somente um apresentador. Participando ativamente da elaboração e direção do Altas Horas, conseguiu um feito difícil na televisão brasileira: transformou o programa em um canal para colocar em prática vários projetos pessoais. “O que eu quero fazer em televisão, faço no Altas Horas”, afirma. O jornalista não fica por aí. Também usa o Ação, que vai ao ar nas manhãs de sábado, para discutir formas de inclusão e mobilização social, as mazelas e as soluções para o combalido sistema educacional brasileiro, uma de suas grandes preocupações.
“É PRECISO
SENSO CRÍTICO PARA MUDAR A TV” O jornalista Serginho Groisman diz que cabe à escola a formação da consciência necessária para a transformação dos meios de comunicação
Para Serginho, a mídia não tem o papel da escola. Mas tem o papel ético de oferecer uma diversão ética.
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Vivendo da televisão, Serginho não se deslumbra com o veículo. Conhece suas limitações, critica sua superficialidade, mas defende seu papel de fornecer entretenimento para a população. E acredita que as novas mídias, por melhores que sejam, não podem substituir a formação escolar. Por isso, não cansa de pregar a melhora da qualidade do ensino para se conseguir formar cidadãos capazes de criticar e transformar a realidade – incluindo os próprios meios de comunicação. O horário do Altas Horas não angustia seu diretor e apresentador. A madrugada abre espaço para discutir assuntos mais polêmicos, embora possa prejudicar a audiência, ainda assim considerada boa para o horário: 9 pontos no Ibope, ou seja, nada menos que 445,5 mil domicílios somente na Grande São Paulo. A inquietude – um traço cuja permanência atribui ao seu contato com os jovens –, tem levado o jornalista a experimentar outras formas de expressão. No ano passado, estreou no teatro sob a direção de Gerald Thomas, no espetáculo Brasas no Congelador. Agora, já pensa em produzir uma peça e testar novas formas de comunicação com seu público. Leia, a seguir, os principais trechos de sua entrevista.
“Essa é uma idade em que as pessoas ainda não têm muita censura. Elas falam aquilo que realmente pensam.”
ONDA JOVEM: Por que a opção de trabalhar com jovens? Minha relação com a juventude vem desde a adolescência, quando comecei a trabalhar na escola. E nunca mais foi interrompida. Em 1990, na TV Cultura, desenvolvi o atual formato do programa com o Matéria Prima. A fórmula permanece até agora. As emissoras mudaram, mas o formato permaneceu com algumas mudanças. Essa é uma idade em que as pessoas ainda não têm muita censura. Elas falam aquilo que realmente pensam, atitude essencial em um programa como o meu, que precisa de perguntas. O bom é que os jovens fazem as perguntas sem ter qualquer compromisso jornalístico. Não têm editor, não têm fonte para agradar ou desagradar. A essência do programa é fazer com que o adolescente fale, reflita, questione. Além disso, é uma platéia alegre, colorida, bonita. Como você vê a juventude brasileira? Quais as mudanças que você observou em todos esses anos trabalhando com os jovens? É difícil falar sobre isso porque vivemos em um Brasil muito grande, muito diversificado social e economicamente. Não podemos achar que um jovem de 15 anos, morador de São Paulo, estudante de escola particular, é igual ao jovem do interior da Amazônia, que estuda em escola pública. São realidades muito diferentes. Para os jovens urbanos, de classe média, a grande revolução foi a internet, uma grande ferramenta de pesquisa, de comunicação, muito utilizada por essa população. Também evoluíram a consciência ecológica, a social e até mesmo a política, embora não satisfatoriamente. De resto, o jovem continua lendo muito pouco, vendo muita televisão, freqüentando muito a internet – não
para pesquisar, mas para estabelecer relações pessoais. O problema é que ainda falta ao Brasil um sistema educacional melhor, que implante nas escolas princípios para a formação de um jovem bem estruturado, que tenha opinião crítica. Você acha que a mídia mantém um “bom diálogo” com a juventude brasileira? Os meios de comunicação, como a televisão, o rádio, principalmente FM, que ela mais ouve, são muito superficiais. Mas, hoje em dia, existem mídias especializadas para quem quiser. As que se propõem a ter uma boa comunicação com os jovens são bem dirigidas, a exemplo da MTV, como televisão, da Trip, como revista, e de algumas FMs. O jornalismo impresso, por sua vez, precisa ser mais acessível ao entendimento da população, de uma forma geral. Os jovens teriam de ler mais jornais, mais revistas, mais livros. Falta leitura. As pessoas lêem pouco porque nas escolas ainda não existe um incentivo à leitura contemporânea. Se existisse isso, os jovens leriam com mais prazer. Como superar isso? Uma saída seria incentivar a leitura, a discussão a respeito das coisas que acontecem no Brasil e no mundo dentro de sala de aula. É o que fazemos no Altas Horas. Você fala na necessidade de os jornais se tornarem mais acessíveis e de os jovens serem mais críticos. O que é preciso fazer para mudar para essa realidade? É preciso despertar o prazer pela leitura e pela curiosidade. A curiosidade tem de ser um prazer e não uma obrigação. Sendo curiosas, as pessoas serão mais investigativas, serão mais críticas. Para se chegar a isso, volto a repetir, tem de se trabalhar melhor a escola. Os pais que tiveram uma formação crítica vão transmitir isso a seus filhos naturalmente. Mas a maioria deles não tem condições de fazer isso porque não receberam esse tipo de formação. Então, essa função tem de ser da escola.
“FALTA AO BRASIL UM SISTEMA EDUCACIONAL MELHOR, QUE IMPLANTE NAS ESCOLAS PRINCÍPIOS PARA A FORMAÇÃO DE UM JOVEM BEM ESTRUTURADO, QUE TENHA OPINIÃO CRÍTICA” Você acha que se houvesse mais programas nos quais as pessoas pudessem falar, discutir, tivessem de ouvir, seria mais fácil despertar esse senso crítico? Não sei. Esse não é o caminho nem o papel da televisão. Ao contrário. É preciso despertar o senso crítico para poder mudar a televisão. Claro que eu gostaria de ver mais gente
conversando na televisão. Mas ela não pode ser uma conversa só. As pessoas também querem se divertir. É um direito que elas têm. Como você vê a educação pela comunicação? Acho que ajuda. Mas é um complemento. O que tem maior sentido é investir na formação do professor, na estrutura da escola. Tem de ter mais vagas na escola pública. E é preciso qualificá-la. Essas são as grandes questões. A mídia não tem o papel da escola. Mas tem o papel ético de oferecer uma diversão ética. Falando em ética, você acha que o jovem tem hoje uma preocupação maior com esse aspecto ou valoriza o mais “esperto”? Acho muito difícil traçar um perfil. É muito complicado generalizar. Mas acho que, hoje em dia, ele está um pouco mais qualificado nesse sentido. Só que existe muita desinformação. A violência, por exemplo, faz com que a população queira soluções imediatas, o que é correto. Algumas dessas soluções, no entanto, ferem a ética. É o caso da posição do “vamos matar todos os bandidos”. São coisas muito imediatistas. Isso não acontece só com os jovens, mas com a população em geral. Como o Estado não cumpre direito seu dever, as pessoas passam a exigir soluções práticas e caem no erro de discutir pouco a respeito de certos temas. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a discussão sobre a diminuição da idade penal? Há sempre espaço para a discussão. Pode-se debater qualquer coisa. O importante é que as pessoas tentem se informar, pesem os prós e os contras de
cada posição. O problema é que essas discussões sempre ocorrem quando acontece uma barbaridade. Quando ficam todos muito envolvidos e começam a acreditar em soluções como essas, sem examiná-las sob todos os aspectos. Não é nesse sentido. É preciso discutir com mais tranqüilidade. Você também tem um programa sobre responsabilidade social. Você acha que a juventude está mais preocupada com o aspecto social? Acho. Há muita participação em programas de voluntariado, em ONGs. Acho importante e interessante a juventude despertar para um país paralelo, onde, se o Estado não faz, o Brasil faz. Tem muito jovem envolvido nisso. O que essa convivência permanente com os jovens trouxe para você? Trouxe essa inquietação, essa necessidade de nunca ficar parado. Agora, eu sou, antes de tudo, jornalista. Um jornalista que trabalha com adolescentes. Eu procuro sempre me informar pelo prazer de estar sempre bem informado. E procuro trazer esse mundo da informação para uma platéia de jovens.
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CÁSSIO VASCONCELLOS-SAMBAPHOTO
luneta
COM LINGUAGEM POPULAR E TECNOLOGIA MAIS ACESSÍVEL, O RÁDIO SE TORNA UM DOS PRINCIPAIS ALIADOS NA FORMAÇÃO JUVENIL
A ONDA DO RÁDIO
Aos 11 anos, Laila El Alam deixou de ser somente uma ouvinte e teve seu primeiro contato com os bastidores de uma rádio. E foi na sua própria escola. Hoje, aos 16, a aluna do 3º ano do curso Técnico em Processamento de Dados resume a importância da experiência vivida na Carlos Pasquale, escola municipal na Zona Leste da capital paulista e integrante da Educom. Rádio, uma parceria entre o Núcleo de Comunicação e Educação da Universidade de São Paulo (NCE-USP) e o Projeto Vida da Prefeitura de São Paulo. “Tive oportunidade de conhecer como a mídia deve colaborar na cidadania”, diz Laila. No Rio de Janeiro, a ONG Ex-Cola também recorreu ao rádio para se aproximar mais de crianças e adolescentes em situação de rua. No fim dos anos 1990, seus educadores levaram caixas de som e microfones para uma praça da Lapa, na região central da cidade. Lá, os jovens eram incentivados a contar histórias que rolavam nas ruas, fazer entrevistas, divulgar notícias locais. Os programas eram veiculados em uma emissora comunitária vizinha. Toni Monteiro, um dos coordenadores da ONG, explica a opção pelo rádio. “É o veículo mais democrático. Ele utiliza uma linguagem mais próxima dos meninos, permite uma fácil comunicação e todos têm contato com ele, inclusive a população de rua”, diz. A maior acessibilidade ao rádio também é destacada por Grácia Lopes Lima, coordenadora dos Projetos de Educomunicação em Rádio e Vídeo do GENS – Serviços Educacionais para redes municipais de ensino e espaços de educação não-formal (www.portalgens.com.br), e da ONG paulistana Projeto Cala-boca já morreu, uma das mais atuantes nesta área. “Até mesmo quem não tem todas as competências para ler e
Por _ Tetê Oliveira
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ENTRANHADO NA EXPERIÊNCIA DOS JOVENS BRASILEIROS, O RÁDIO TEM ALCANCE DEMOCRÁTICO E SUA ESPONTANEIDADE DESAFIA A EXPRESSÃO ORAL
Força mobilizadora O rádio parece ter mesmo um apelo altamente mobilizador. De 2001 a 2004, 455 unidades da rede pública municipal integraram o projeto Educom Rádio, cujo objetivo era promover a educomunicação no ambiente escolar, numa tentativa de reduzir a violência nas escolas. A metodologia aplicada incluía a participação de alunos, professores, pais e moradores do entorno das unidades. “Nos encontros e palestras emergiam problemas do dia-a-dia. Esse ecos-
Meio multidisciplinar A ONG UNIRR – União e Inclusão em Redes de Rádio, no Rio de Janeiro, que tem entre seus parceiros a Madame Satã, investe prioritariamente na capacitação de jovens, portadores de necessidades especiais e representantes de entidades da sociedade civil. Seu coordenador executivo, Marcus Aurélio de Carvalho, considera o rádio o meio mais multidisciplinar para educar e aponta uma grande vantagem desse veículo em comparação com as outras mídias: “Por ser quase todo ao vivo, ele é um desafio à expressão oral e obriga você a se virar diante de uma resposta inesperada do entrevistado, como acontece numa entrevista para emprego e em situações da vida real”.
PARA SABER MAIS
SOBRE
escrever tem chance de se expressar por meio da linguagem radiofônica. O rádio fala a mesma língua que usamos todo dia, em casa, na escola ou no trabalho. Ele pode facilitar para o ouvinte entender melhor todo tipo de informação”, diz Grácia. Para ela, só esse aspecto já bastaria para que o rádio seja considerado um dos principais aliados da educação: “Saber das coisas que acontecem ao nosso redor é o primeiro passo para que sejamos pessoas menos ingênuas e, portanto, menos influenciáveis”.
sistema projetado foi muito rico e importante até nas escolas que não receberam o material previsto para funcionamento das rádios, na avaliação dos próprios atores do projeto”, diz Patrícia Horta, uma das coordenadoras do Educom.Rádio e de Projetos do NCE-USP. Em alguns casos, as escolas procuraram condições alternativas para desenvolver a atividade. A Ex-cola, depois de iniciar as atividades radiofônicas com os jovens de rua, promoveu um curso de capacitação em locução e operação de áudio e montou a rádio comunitária Madame Satã FM 92,1, com o apoio do Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Aos 25 anos, Fábio Campos, mais conhecido como Mosca, coordena a Madame Satã há quatro anos. Mosca morou nas ruas por uma década, período em que se envolveu com drogas. Aos poucos, passou a ser um dos jovens mais assíduos do projeto. “Comecei a fazer locução, pôr músicas, colocar a minha linguagem pra fora. O rádio abriu a minha mente e outros caminhos pra mim”, diz o rapaz, que cursa a 8ª série e apresenta, três vezes por semana, o programa “O Revoltado”, abordando questões da juventude.
NOME ASSOCIAÇÃO EX-COLA ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO, RJ PROPOSTA Desenvolver metodologias educacionais alternativas para grupos de crianças e jovens em situação de risco social e capacitar grupos de igual perfil, visando à multiplicação de ações. JOVENS ATENDIDOS 112 crianças, adolescentes e jovens até 24 anos, em quatro projetos, incluindo a Rádio Madame Satã APOIO Visão Mundial, Ministério da Saúde, FIA - Fundação para Infância e Adolescência, The Global Fund for Children, VIC – Vlaams International Centrum, Foundation Terre des Hommes. Contato Av. General Justo 275, sala 217 – bloco B – Centro, Rio de Janeiro. Site: www.excola.org.br ; E-mail: excola@excola.org.br
Operador de áudio na Rádio Tupi, uma das grandes emissoras comerciais do Rio de Janeiro, Luciano Braga, de 28 anos, integrou uma das turmas de Educomunicação da UNIRR, em parceria com a ONG Campo – Centro de Apoio ao Movimento Popular da Zona Oeste. Na época, aos 16 anos, o rapaz tinha experiência numa rádio comunitária, mas nunca havia feito um curso na área. “Eu já trabalhava com pré-produção, locução e jornalismo. Aprendi um pouco mais e optei pela área técnica, que não conhecia tanto”, diz Luciano. Ele e Mosca são exceções. A maioria dos jovens que vivem a experiência de educação em rádio não investe na mídia como profissão. “O mais importante, nos cursos nas comunidades, não é o virar radialista, cantor ou bancário. O que importa é que o rádio funcionou como meio de inclusão deste jovem”, diz Marcus Aurélio, que tem apenas 10% da capacidade visual. Também para Grácia Lopes, o princípio básico da educação pela comunicação é a intervenção social. “À medida que exercitam a comunicação, os jovens percebem a diferença entre ser receptor de informação e produtor de mensagens. Passam, por decorrência, a entender o poder da comunicação local como um forte aliado, se estiver nas mãos de pessoas comprometidas com o lugar em que vivem”. Camila Oliveira Silvestre de Lima descobriu esse poder como apresentadora do Marca de Batom, na Manguezais FM 100,9, emissora comunitária em Itaboraí, região metropolitana do Rio de Janeiro. “Com o programa, passei a conhecer mais o lugar onde nasci e ter o reconhecimento da comunidade”, diz a jovem de 18 anos, que discute ao microfone temas como aborto, gra-
Rádio informatizado A informática tem sido um meio facilitador do uso do rádio na educação. Segundo Carlos Alberto Mendes de Lima, coordenador do programa Nas Ondas do Rádio, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, a opção pelo computador barateia o custo da implementação de uma rádio escolar. “A plataforma integrada entre rádio e informática é mais versátil e fácil de operar. O software Audacity permite a produção de programas e vinhetas. Depois, é só conectar o computador ao equipamento de som disponível na escola, para a transmissão dos programas gravados no computador”, explica Carlos Alberto, que é professor de inglês e participou do Educom. Rádio na Escola Carlos Pasquale. A proposta é que o rádio faça parte do projeto político-pedagógico (PPP) das escolas e não seja apenas uma forma de entreter os alunos nos intervalos das aulas.
SOBRE PARA SABER MAIS
SOBRE PARA SABER MAIS
videz precoce e mercado de trabalho para a mulher. Esse trabalho mudou o comportamento da estudante do 3º ano do ensino médio. “Amadureci em todos os sentidos”, reconhece Camila, que desde março participa do Projeto Rede de Cidadania nas Ondas do Rádio, seu primeiro curso na área. Parceria da ONG Criar Brasil – Centro de Imprensa, Assessoria e Rádio com a Petrobras, o projeto vai capacitar 15 jovens de diferentes cidades brasileiras. “Eles serão responsáveis pela produção de reportagens e flashes sobre suas comunidades, para a montagem de programas e radionovelas, que serão distribuídos para 600 rádios comunitárias e comerciais de pequeno porte no país”, diz a jornalista Adriana Maria, coordenadora de produção da Criar Brasil.
NOME UNIRR – UNIÃO E INCLUSÃO EM REDES DE RÁDIO ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO, RJ PROPOSTA Realiza capacitação radiofônica, visando à qualidade profissional, a democracia e a inclusão social por meio do rádio. JOVENS ATENDIDOS 20 em comunidades e 16 alunos em cursos ministrados na sede APOIO doações dos participantes do Conselho e da Coordenação da ONG. CONTATO Avenida Almirante Barroso, 6, sala 1301 – Centro – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20021-000. Tel.: 21/ 2544-8415. Site: www.unirr.org. E-mail: unirr@unirr.org, unirr@uol.com.br
NOME REDE DE CIDADANIA NAS ONDAS DO RÁDIO DO CENTRO DE IMPRENSA, ASSESSORIA E RÁDIO – CRIAR BRASIL ÁREA DE ATUAÇÃO NACIONAL PROPOSTA apoiar as organizações dos movimentos sociais por meio da produção, capacitação, assessoria e pesquisa radiofônica, visando à democratização da comunicação no Brasil. JOVENS ATENDIDOS 14 jovens pelo projeto Rede de Cidadania nas Ondas do Rádio, e 18 jovens pelo projeto Escola Aberta para o Rádio. APOIO Petrobras, Instituto Votorantim, FINEP, INCA Contato Rua Teotônio Regadas 26, sala 403 – Lapa, RJ. Tel.: 21/2508-5204. Site: www.criarbrasil.org.br; E-mail: criar@criarbrasil.org.br
O professor de Produção Publicitária em Rádio, TV e Cinema (RTVC) Renato Tavares, de 25 anos, analisou qualitativamente a continuidade das práticas educativas de produção radiofônica nas escolas, nos dois anos subseqüentes ao projeto Educom.Rádio, em 2005 e 2006, para sua dissertação de Mestrado em Ciências da Comunicação, na USP. Ele estudou quatro escolas e descobriu projetos que apostaram também em outros meios de comunicação e arte, como jornalmural, fanzine e graffitti. Um caso exemplar é o da EMEF Euclides de Oliveira Figueiredo, que nem sequer recebeu o equipamento previsto para a implantação da rádio, mas onde o projeto cresceu tanto que deu origem à ONG Rede Interferência. A pesquisa indica que a participação dos alunos é mais efetiva que a da maioria dos professores. Para Tavares, isso se explica pelo receio de muitos professores em utilizar uma mídia e uma linguagem que não dominam. E, segundo Patrícia Horta, uma das reivindicações dos alunos era justamente que o professor não deveria ditar o que eles tinham de fazer, mas que todos pudessem discutir conteúdo e forma das produções. “Com o projeto, pudemos trabalhar juntos, dividindo opiniões e idéias. A relação com os professores ficou mais forte”, atesta Laila El Alam, que é colaboradora do Programa de Formação Continuada Mídias na Educação, desenvolvido pela Secretaria de Educação a Distância (SEED-MEC), em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e o NCE-USP. Em uma questão, no entanto, a pesquisa registrou uma quase unanimidade: 95% dos entrevistados concordaram que o rádio incentivou o protagonismo juvenil, facilitou o trabalho em grupo, melhorou a capacidade expressiva, a auto-estima, a flexibilidade, a criatividade, a argumentação e a autonomia dos alunos. “Eles começaram a ver a escola como um local agradável para a aprendizagem”, conclui Renato.
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Tema crucial quando se fala em educação pela comunicação, a inclusão digital tem estado presente nos debates públicos, na mídia, nas pesquisas com jovens e nos discursos do governo. Entre 2005 e 2006, o número de pontos de inclusão digital (PIDs) no Brasil cresceu 40%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT. Mas o que significa realmente esta inclusão e qual a sua importância?
Por _ Cristiane Parente
Para Rodrigo Baggio, Diretor Executivo do Comitê para Democratização da Informática – CDI (organização não-governamental que desde 1995 promove a inclusão social utilizando a tecnologia da informação), os projetos de inclusão digital devem ter a clara noção de que o computador é um mero instrumento, uma ferramenta, não um fim em si mesmo. “Inclusão vai além de ensinar as pessoas a usarem a máquina”, diz. Baggio considera que “é preciso oferecer ao jovem a possibilidade de compreender como a sociedade em que vive funciona,
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CIRCUITOS DE ACESSO
qual o seu papel nesse cenário e como transformar seus sonhos em realidade. O computador constitui um aliado nessa trajetória”. Mas como o governo tem conciliado a urgência de colocar a inclusão digital na sua agenda e as políticas públicas para a juventude? Segundo Beto Cury, responsável pela Secretaria Nacional de Juventude, que coordena 19 programas de ministérios voltados para os jovens, as políticas públicas para este segmento da população somam recursos da ordem de R$ 1 bilhão, tendo o ProJovem, que é o principal programa, previstos para este ano R$ 208 milhões a serem distribuídos entre capacitação, material didático e laboratórios de informática. Além disso, o governo participa, em parceria com instituições como Banco do Brasil, Petrobras e Caixa Econômica, de dezenas de projetos de inclusão digital que beneficiam comunidades de maneira geral.
Jovens no foco Juventude e Comunicação é uma das quatro unidades formativas que compõem o ProJovem, criado em 2005, em parceria com os ministérios da Educação, do Trabalho e Emprego, e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (as outras três unidades são Juventude e Cidade, Juventude e Trabalho, e Juventude e Cidadania). O programa, desenvolvido principalmente nas regiões metropolitanas, é voltado a jovens de 18 a 24 anos, sem carteira assinada, possibilitando-lhes a conclusão do ensino fundamental em 12 meses. É no eixo da comunicação, segundo a coordenadora do ProJovem, Maria José Vieira Féres, que os jovens discutem a inclusão e a exclusão no acesso à informação e comunicação e refletem criticamente sobre os meios, numa atitude que ela considera educomunicativa. “A inclusão digital proporcionada pelo ProJovem não é simplesmente a compra de computadores. Trabalhamos a reflexão crítica sobre o que aquela máquina pode trazer a cada um e a qualificação das pessoas envolvidas no processo”, afirma. Entretanto, para Max Maciel, 24 anos, membro do Conselho Nacional da Juventude e coordenador em Brasília da CUFA – Central Única de Favelas, o ProJovem não consegue atingir um público maior, e em algumas cidades há sobra de vagas, porque o jovem de 14 a 24 anos muitas vezes já é pai e não consegue sobreviver com uma bolsa de R$ 100,00 por mês, concedida pelo programa. Para Maciel, o governo federal ainda patina quando o assunto é política pública para a juventude, justamente porque não foca um público específico, preferindo trabalhar em grande escala, o que dificulta o contato com o jovem e o acompanhamento e a avaliação dos programas. Isso inclui os projetos de inclusão digital, que ainda são poucos, levando-se em consideração que o Brasil tem cerca de 50 milhões de jovens entre 15 e 29 anos – o que equivale a 80% dos jovens do Cone Sul e 50% dos jovens latino-americanos. Crescimento e massificação A pesquisa do IBICT revelou que existiam no ano passado 16.722 pontos de inclusão digital, promovidos por 108 iniciativas dos governos federal, estaduais e municipais, além do Terceiro Setor. Em 2005, uma pesquisa da Unesco havia identificado 12 mil pontos de acesso público à internet. Outra constatação foi que 43% dessas iniciativas eram de ONGs, mas é o governo que financia 60% de todos os PIDs. Comparando as regiões do Brasil, o Sudeste vem na frente, com 38% dos PIDs, seguido pelo Nordeste, com 35%, Sul, com 16%, e, por fim, as regiões Norte, com 8%, e CentroOeste, com 7%. Rodrigo Baggio, do CDI, entretanto, critica a massificação do computador e defende que, mais do que essa atitude, é preciso ampliar o acesso e a infra-estrutura de conexão, propiciar a formação de técnicos e
OS PRINCIPAIS PROGRAMAS GOVERNAMENTAIS PARA JOVENS PREVÊEM INCLUSÃO DIGITAL, MAS AINDA FALTAM MELHOR DEFINIÇÃO DOS PÚBLICOS E MAIS SINTONIA NAS AÇÕES especialistas e investir em pesquisa, gerando mais oportunidades de trabalho. Segundo Baggio, a falta de uma completa sintonia entre os programas de inclusão digital do governo, e entre eles e os da esfera privada, dificilmente poderá propiciar uma verdadeira ação educativa, que supera o mero ensino do uso das máquinas. Ampliando o acesso Para tentar diminuir o alto índice de brasileiros que nunca fizeram uso do computador ou nunca acessaram qualquer informação na internet, o Ministério da Ciência e Tecnologia criou em 2005 um programa – não específico para os jovens – voltado à inclusão digital, com três frentes de ação: Computador para Todos (produção de computadores com baixo custo de venda para as classes C e D); Casa Brasil (espaços com acesso público e gratuito às tecnologias
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de informação e comunicação, com unidades funcionando como um centro de alfabetização tecnológica, cidadania e divulgação cultural) e Telecentros comunitários (nos últimos dois anos, foram investidos cerca de R$ 5 milhões na instalação de mil telecentros, especialmente em escolas públicas). Outro programa de inclusão digital e estímulo ao emprego, dessa vez voltado para jovens, é o Projeto Computadores para a Inclusão (PI), do governo federal. Coordenado pelo Ministério do Planejamento, em parceria com diversas fundações e ONGs, o programa (www.governoeletronico. gov.br/projetoci) pretende resolver dois problemas: a falta de emprego (e de inclusão digital) entre jovens de 18 a 24 anos que, segundo o IBGE, está na casa dos 39,9%, e o descarte de computadores que existe no Brasil: nos últimos 25 anos, foram cerca de 850 mil.
O jovem precisa compreender a sociedade, seu papel nela e como transformar seus sonhos em realidade. O computador é um aliado nesta trajetória
A estratégia encontrada foi o recondicionamento dos computadores que virariam sucata. Dessa maneira, são criados postos de trabalhos para os jovens – que são capacitados na recuperação dos computadores doados ou descartados por instituições públicas e privadas –, e é possível beneficiar projetos de inclusão digital e social espalhados pelo país, levando computadores reciclados a bibliotecas, escolas e telecentros. Por enquanto, contudo, só existem três Centros de Recondicionamento de Computadores (CRC) no país. Um em Porto Alegre (RS), um em Guarulhos (SP) e outro no Gama (DF). Cada jovem que participa do projeto recebe capacitação e uma bolsa de R$ 300,00 mensais.
Informatização nas escolas Com o lançamento do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), o governo federal deve investir R$ 650 milhões na informatização das escolas públicas brasileiras. A meta é que até 2010 todas as 130 mil escolas públicas do país estejam equipadas com computadores com conteúdo digital, beneficiando cerca de 55 milhões de alunos. E as primeiras a receberem o equipamento serão as do ensino médio. A previsão é que até dezembro deste ano todas as 15.700 escolas desse nível estejam informatizadas. Logo depois, até o fim de 2008, todas as escolas do ensino fundamental de 5ª a 8ª séries deverão ser contempladas. Por fim, as escolas de 1ª a 4ª séries, entre 2009 e 2010. O programa responsável pela informatização das escolas é o ProInfo – Programa Nacional de Informática na Educação, o maior projeto de inclusão digital do governo federal, que existe desde 1997. Ligado à Secretaria de Educação a Distância do MEC, ele tem como objetivo
ALERUARO-SAMBAPHOTO
INCLUSÃO JUVENIL REQUER INVESTIMENTOS ESTRUTURAIS PARA AMPLIAR CONEXÕES, PESQUISAS E EMPREGOS, E MAIS SINTONIA ENTRE OS PROGRAMAS DO GOVERNO E DOS DEMAIS SETORES
possibilitar o uso pedagógico da informática nas escolas de ensino fundamental e médio da rede pública. Valdir de Lima Moizinho, coordenador do ProInfo-DF, afirma que o programa desenvolve a educomunicação em suas ações, com base na reflexão estimulada junto aos alunos de que não existe apenas a exclusão digital, mas também a informacional: “Sem a informação, o jovem não vai conseguir produzir conteúdo. Por isso é preciso saber lidar de forma crítica com a informação e as tecnologias”. Moizinho destaca a RIVED – Rede Interativa Virtual de Educação – como um exemplo de trabalho com as tecnologias de informação e comunicação no qual o jovem tem um papel de criador de conteúdos e não só de receptor. O programa, da Secretaria de Educação a Distância do MEC, possibilita a jovens de cursos universitários criar conteúdos pedagógicos digitais, na forma de objetos de aprendizagem, para outros jovens, adolescentes e crianças de escolas de ensino fundamental
e médio, estimulando o raciocínio e o pensamento crítico (tanto de quem cria, quanto de quem usa). A meta é melhorar a aprendizagem das disciplinas da educação básica e, ao mesmo tempo, a formação cidadã do aluno. Todo o conteúdo pedagógico é disponibilizado gratuitamente no site http://rived.proinfo.mec.gov.br. Políticas locais Esforços locais também são importantes quando se trata de educar tomando-se por base a comunicação. A pequena Bandeirantes, cidade com pouco mais de 30 mil habitantes no interior do Paraná, tem chamado a atenção com seus projetos de comunicação e educação. Segundo Tiago Dedoné, assessor de comunicação da prefeitura e coordenador das ações educomunicativas, o tema já faz parte das políticas públicas locais e possibilita diversas ações como oficinas de audiovisual para crianças, adolescentes, jovens e idosos, com o objetivo de capacitá-los a fazerem uma leitura crítica da mídia. Além disso, há fóruns que reúnem educadores e gestores de áreas diversas, para discutir a possibilidade de trabalho com a educomunicação e trocar experiências, e o programa de democratização da comunicação, que desenvolve ações nas escolas. No Paraná, já há até projeto propondo que leitura crítica da mídia seja disciplina no ensino médio.
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ciĂŞncia
Para a grande maioria dos jovens incluídos no mundo digital, são obrigações da vida diária verificar a caixa de mensagens, os recados no Orkut e ler as notícias – na internet, é lógico. Alguns, mais plugados, fazem tudo isso do celular. Outros ligam o computador para executar tais tarefas. Durante o dia, as conversas se desenrolam via programas de mensagens instantâneas, como o MSN e o Google Talk. Esse é um caminho sem volta. Quem se educou e se estabeleceu num mundo em que as relações humanas eram exercitadas notadamente cara a cara, desbrava com cuidado esses caminhos, questionando seus eventuais riscos para a formação da personalidade e o desenvolvimento das relações humanas. Os jovens, porém, se sentem inteiramente à vontade nessa nova maneira on-line de interagir e não parecem ver nela nenhuma dificuldade. Essa completa mudança de parâmetros – amigos de Orkut, parceiros sexuais de Second Life, paixões que começam e terminam via MSN – estabelece novos conceitos para idéias como tempo e realidade. E traz perguntas ainda sem respostas claras. O futuro é virtual? E já chegou?
Por _ Karina Yamamoto Ilustração _ Equipe Oi Kabum! Rio
“Hoje em dia, é muito difícil definir o que é virtual e real, uma vez que a tecnologia de comunicação está tão intimamente ligada à nossa realidade”, diz o psicanalista Rodrigo Reis, de São Paulo. Mas ele não é um pessimista. “Na medida em que pessoas que não se conheciam passam a se conhecer e se encontram realmente, a tecnologia afeta a realidade dessas pessoas e, se afeta dessa maneira, provocando encontros, como poderiam ser estas relações meramente virtuais?” A velocidade dos bites Se antes, pais e educadores discutiam as vantagens e os malefícios da televisão e do video game, hoje a preocupação paira sobre os computadores que fazem o mesmo que os outros aparelhos, mas possibilitam muito, muito mais. Eles oferecem não apenas fontes de entretenimento ou de informação – eles se tornaram espaço para a interação social. Na constante alimentação de blogs e fotoblogs, no vai-e-vem de e-mails e mensagens seguem pensamentos, emoções e desejos. Mas os bites – e as opções que eles oferecem – podem se modificar de maneira mais veloz que as
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REALIDADE VIRTUAL A COMUNICAÇÃO FREQÜENTE E INSTANTÂNEA, SEM CONTATO FÍSICO, INAUGURA A ERA VIRTUAL E DETERMINA NOVAS FORMAS DE RELACIONAMENTO ENTRE OS JOVENS
NA ERA DA CONVERGÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO, A TECNOLOGIA DETERMINA OS NOVOS ESPAÇOS DE SOCIALIZAÇÃO DOS JOVENS
interações experimentadas no mundo das pessoas. São novas percepções do tempo, com impactos na formação da identidade. Os apelidos com que os usuários se apresentam podem dar alguma dimensão disso – é possível trocar de identidade quantas vezes deseje o internauta, seja na sala de bate-papo, seja no programa de troca de mensagens e até mesmo em sua ficha no Orkut. “Há uns anos atrás havia uma discussão sobre o ‘nick name’, ou apelido, como uma máscara virtual, com a qual você pode projetar suas fantasias e desejos de ser o que não é, como o magrinho dizer que é fortão”, diz Rodrigo. Esses jovens, tão acostumados a criar identidades virtuais de acordo com as necessidades momentâneas da vida em rede, possivelmente naturalizam isso em suas vidas. Mudam as preferências, as tendências, os quereres, as formas de tratamento velozmente. Para qualquer questão de vida ou posição que o interlocutor apresenta, há uma pessoa totalmente diferente no jovem que reage ou responde. Bem, acontece que na vida real as coisas não se passam nessa velocidade, e você tem que responder por suas afirmações, dia após dia. Por que a novidade constante – e a velocidade com que ela aparece é cada vez maior – atrai tanto a juventude a neurociência já esclareceu. Nessa fase da vida, o cérebro está passando por transformações e, uma delas, é a queda de receptores de dopamina, uma substância química bastante relacionada ao prazer. Por isso, muitos jovens parecem entediados com tudo ao seu redor e, para sair desse estado, precisam de uma carga de estímulos mais intensa que os seres humanos de outras idades. Mas isso não é necessariamente ruim. Esse comportamento con-
tribui para que os jovens se interessem pelo mundo externo à família, ajudandoos a procurar novas atividades fora do núcleo infantil. E a boa notícia é: com o passar dos anos e o amadurecimento do cérebro, a causa fisiológica do tédio se atenua e o indivíduo tende a se expor menos a situações intensas, especialmente aquelas que trazem risco à sua integridade. Acordo e intervenção Mas o que fazer quando o jovem parece completamente entregue aos efeitos visuais e ao estímulo do video game, não desgruda do celular e, quando o desliga, é para se pendurar no computador? A palavra-resposta é negociação. Segundo um clássico da literatura do gênero, “Getting to Yes”, dos americanos Roger Fisher e William Ury (“Como Chegar ao Sim”, editora Imago, 2005), há quatro princípios para se chegar a um desfecho feliz – e eles ajudam tanto em situações extremas como em pequenas querelas cotidianas. O primeiro deles é separar as pessoas dos problemas, ou seja, exercer a objetividade. Depois, deve-se manter o foco nos interesses e não nos posicionamentos – se os jovens são tecnomaníacos, não se deve combater
simples e puramente o uso de computadores e celulares, mas pensar de que maneira essas ferramentas podem ser usadas para que eles se informem e se comuniquem melhor. O terceiro passo da negociação justa é um exercício de tolerância e amor: trabalhar juntos para criar opções que satisfaçam ambas as partes. E, por último, um alerta para resistir à tentação de usar golpes baixos – como ameaças de punição e chantagens emocionais – para atingir os objetivos. Esse método pode se mostrar oportuno com a chegado ao Brasil da versão em português do Second Life, um jogo em três dimensões on-line, que tem mais de 5 milhões de usuários no mundo. É viciante. Como o próprio nome sugere, é um ambiente para que o jogador tenha uma segunda vida. Ali, os personagens andam, voam, consomem, trabalham e namoram por meio de seus avatares, que são os personagens do jogo -- esses bonecos podem ser humanos, ou animais, e a troca de pele, olhos e sexo está a um ou dois cliques de distância. Entender esse novo mundo em que a fronteira entre o que chamávamos de real e de virtual está ficando cada vez mais tênue ajuda na hora em que um adulto deve interferir. E, às vezes, os próprios adolescentes e jovens querem essa intervenção. Numa pesquisa sobre os valores juvenis, realizada no ano passado com alunos da rede pública de ensino, a psicóloga Maria Isabel Leme, da Universidade de São Paulo, achou pertinente acrescentar uma questão sobre o famoso Orkut. Com a pergunta, queria mensurar a expectativa dos adolescentes quando se encontrassem em situação de difamação via internet. “A
69 grande maioria acredita que seja melhor um adulto intervir para resolver a situação”, diz a pesquisadora, que não se espantou com o resultado: “Eles querem uma figura de autoridade, querem a mediação do conflito”. Instante e memória Instantaneidade é um conceito que vem a reboque desse assunto. E traz consigo a questão da memória: como preservá-la em tempos de vivências fugazes? O projeto “Um Milhão de Histórias de Vida de Jovens”, desenvolvido pelo Museu da Pessoa, de São Paulo, tem como um de seus pilares a digitalização dos relatos de jovens de todo o país, como forma de assegurar que o acervo vai estar disponibilizado a quem interessar possa. Um de seus diferenciais é a maneira como as histórias são coletadas. Quem explica é a coordenadora do projeto, Carolina Misorelli, 26 anos: “Os jovens se sentam em círculo e contam um episódio relevante de suas vidas. O grupo ajuda a montar a narrativa e a escrever os roteiros que serão gravados em áudio. Depois, colocam trilha sonora e nós disponibilizamos na internet.” O endereço é: www.museudapessoa.com.br. Os círculos são conduzidos por mediadores chamados de agentes de histórias – que podem ser ainda outros
jovens. A idéia é criar uma percepção da importância de cada um dos participantes, de cada uma de suas histórias e, dessa maneira, conscientizar o jovem de sua relevância no processo de mudança da sua própria condição. “É realmente muito interessante a maneira como resgatamos a contação de histórias em círculo”, diz o técnico em informática Edney Santos, de Manaus. Ele é o dono da comunidade do movimento no Orkut. No entanto, o grupo não se abstém das reuniões físicas – ou presenciais, como Edney diz. A tecnologia, nesses casos, serve de instrumento poderoso em favor da mudança. “Quando a gente atrela o uso da tecnologia à memória, a gente dá sentido a essas ferramentas. O jovem passa de simples espectador a produtor de conteúdo”, diz Carolina. “Quando o nosso projeto estiver finalizado, teremos mais que uma grande biblioteca, teremos uma passeata virtual.”
QUATRO ESTUDANTES DEBATEM A REPRESENTAÇÃO DO JOVEM NA MÍDIA
BEATRIZ ASSUMPÇÃO
chat da revista
A juventude vem conquistando mais espaço na mídia brasileira. Em seminários recentes sobre o tema, especialistas afirmam mesmo estar ocorrendo um “boom de visibilidade” dos jovens nos veículos de comunicação. Mas a questão principal, para eles, é como o jovem é representado nesses espaços. Os estudiosos apontam, por exemplo, que a publicidade valoriza o jovem para vender, utilizando uma imagem de “elite civilizada e vitoriosa”. Já a juventude pobre ganharia mais visibilidade no que se refere à questão da violência, da criminalização, com uma série de estereótipos. Onda Jovem convidou quatro jovens para refletir sobre o tema: a universitária paulistana Juliana Santos, 21 anos, estudante de Letras e participante do projeto Jornal Becos e Vielas – A Voz da Periferia; o paraense
de Santarém, Genildo Delgado Júnior, 16 anos, estudante do ensino médio e participante do projeto Rádio pela Educação; a estudante baiana de Comunicação Social Ana Cristina Barbosa de Jesus, 18 anos, participante do projeto de produção de vídeos no Programa EnterJovem, de Salvador; e o carioca Henrique Guimarães, 17 anos, que faz o terceiro ano do ensino médio, participa do grêmio estudantil em sua escola e disputará, no vestibular deste ano, uma vaga em Comunicação. A seguir, os principais pontos do debate.
RONNIEVON DANTAS
AUDIÊNCIA CRÍTICA JULIANA SANTOS, 21 ANOS, de São Paulo (SP)
GENILDO JÚNIOR, 16 ANOS, de Santarém (PA)
ANA CRISTINA DE JESUS, 18 ANOS, de Salvador (BA)
HENRIQUE GUIMARÃES, 17 ANOS, do Rio de Janeiro (RJ)
MARCELO MENDONÇA
FRANCISCO VALDEAN / IMAGENS DO POVO
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“Espaço na mídia para a diversidade? Rsrsrsrs...”
Onda Jovem: De que forma a juventude é retratada pela mídia? HENRIQUE: A juventude é uma espécie de “enlatado”. Somos o futuro... precisamos agir como os jovens de “Malhação”, porém, o perigo reside em nós, pois querem diminuir a maioridade penal. JÚNIOR: A representação é feita basicamente de duas formas: o jovem vulnerável e o jovem consumista. JULIANA: Temos o jovem da periferia associado ao crime e o jovem transformador participante de ONGs com suas propostas de protagonismo juvenil. Então, o jovem da periferia só terá futuro se tiver passado por essas organizações. Isso me irrita. E aí chovem matérias que mostram esse jovem no computador (a inclusão digital) ou na biblioteca (ele sabe ler!). O jovem da periferia precisa ser apadrinhado por essas instituições para receber o olhar da mídia? ANA CRISTINA: Antes eu via a mídia retratando, de um lado, um jovem inconseqüente e rebelde e, de outro, o jovem “careta” participante de ações sociais. Hoje, percebo um perfil menos uniforme. A gente encontra na mídia, por exemplo, o jovem que vive em baladas, mas tem um projeto de vida.
Os veículos de comunicação oferecem espaço para a diversidade juvenil? O que falta? JULIANA: Espaço na mídia para a diversidade? Rsrsrsrs... Essa pergunta me faz lembrar as tardes que eu passava com minha avó quando eu tinha 15 anos, vendo na TV um programa que surrava a periferia e seus moradores. “Bandido bom é bandido morto” era um dos chavões do programa. Essa era a imagem que minha comunidade tinha na mídia. Nada se falava sobre jovens como eu brincarem descalços na rua, jogarem bola, soltarem pipa na laje. Éramos reduzidos a facções criminosas. Por outro lado, temos ainda as novelas nos representando como empregados domésticos, motoristas, babás, seres invisíveis na sociedade. JÚNIOR: Não oferecem. Em geral, o jovem está apagado atrás das câmeras, dos microfones, dos textos escritos. ANA CRISTINA: Alguns veículos, sim. No rádio, aos poucos, as redes comunitárias ganham espaço e dão maior visibilidade aos jovens, uma vez que, em sua maioria, são eles que tomam a iniciativa de criar a rádio e expressar seus anseios. E a internet é indiscutivelmente o refúgio dos jovens.
JULIANA JULIANA
HENRIQUE: Não, principalmente quando se trata de TV aberta. São pouquíssimas as rádios e redes de televisão que apresentam programações que entretenham os jovens com qualidade e diversidade.
Quais as principais distorções da imagem da juventude veiculadas? Como isso afeta sua vida? JÚNIOR: É o jovem ser colocado como um agente irresponsável que nunca deve estar à frente, assumindo compromissos, mas sempre acompanhado por alguém. JULIANA: Uma grande distorção é a mídia associar os jovens da periferia ao hip hop, como se essa fosse a nossa única cultura. Os jovens da periferia são descendentes de nordestinos e escravos, trazemos uma infinita bagagem cultural. ANA CRISTINA: São muitas as distorções: que o jovem só pensa em festa; que o jovem pobre ou é malandro ou é alienado; que os jovens ricos só querem se dar bem passando por cima dos outros; que os jovens perdem a identidade para se adequar a uma nova “tribo” etc. HENRIQUE: Pela imagem veiculada na mídia, os jovens ou são totalmente chatos e politicamente corretos, ou fúteis e incorretos. Não somos todos bonzinhos ou mauzinhos, somos humanos, muito diferentes, certamente. Mas, para a mídia, somos ou “marginais” ou “playboys”. Acredito que os meios de comunicação só contribuem para essa guerra entre os “playboys” e os “marginais” e seus estereótipos.
Os jovens podem contribuir para a construção de uma imagem mais real na mídia? De que forma? O que você faria? JÚNIOR: Com certeza. O jovem tem um grande potencial e precisa exigir esse reconhecimento mostrando seu rosto, seu jeito, sua opinião. No projeto do qual participo, o Rádio pela Educação, tento contribuir para a construção de uma mídia clara em relação ao jovem, sem qualquer censura ou cortes, mostrando o jeito como o jovem pensa. HENRIQUE: Às vezes, acho que falta interesse, mas acho que a luta dos jovens por uma mídia melhor é possível, porém árdua. Somos os que mais podem contribuir para essa mudança. JULIANA: É justamente por conta da associação negativa que a mídia faz com a periferia que, junto com alguns amigos, criamos um veículo de comunicação: o jornal Becos e Vielas Z/S – A Voz da Periferia. Estávamos cansados de esperar uma representação mais fidedigna ou menos ilusória sobre a nossa realidade. Iniciativas como esta podem contribuir para uma imagem mais real dos jovens. ANA CRISTINA: O jovem precisa buscar fontes diferenciadas de informação, que o ajudem a construir e a expressar ANA CRISTINA sua própria visão dos fatos.
Quais outros grupos ou instituições têm sua imagem distorcida pela mídia? ANA CRISTINA: Acho que a mídia também generaliza de forma prejudicial a ação de grupos como os políticos, os trabalhadores informais, os trabalhadores públicos... JÚNIOR: Os índios, os negros, os idosos também têm apresentação distorcida na mídia. A sociedade não é bem informada sobre a realidade desses grupos, que, por isso, sofrem discriminações e julgamentos negativos. JULIANA: A mídia tem o poder nas mãos. Pode dizer o que quiser por meio de uma fala, de uma
HENRIQUE
PARA SABER MAIS
SOBRE
JÚNIOR
SOBRE
JÚNIOR: Acima de HENRIQUE tudo, os jovens da periferia têm de cobrar seu espaço na mídia para mostrar seu potencial, seu valor, tudo de bom que sabem fazer. HENRIQUE: Difícil, muito difícil... Não são apenas os jovens da periferia que são alvo da mistificação da mídia, mas, com certeza, são os que mais sofrem. Somos todos alvo do “enlatamento” da mídia. Rachemos essas latas! ANA CRISTINA: A solução é identificar e apoiar líderes comunitários que projetem atividades socioculturais de incentivo aos jovens, tornando-os mais representativos.
“Para a mídia, somos ou ‘marginais’ ou ‘playboys’”
PARA SABER MAIS
Como conseguir desmistificar os preconceitos relacionados à juventude da periferia?
JULIANA: Acho que é preciso cuidado com os posicionamentos do senso comum, como dizer que os jovens são acomodados. Muitos de nós reproduzimos discursos falidos. Não acredito nessa história de acomodação juvenil, senão Vocês consideram a juventude aco- não teríamos tantos projetos e modada diante de sua representação iniciativas de videotecas, jornais comunitários, fanzines, grupos de distorcida na mídia? HENRIQUE: Alguns jovens estão acomodados discussões. Concordar com isso diante da mídia tendenciosa, porém não se pode é não acreditar em meu próprio culpá-los pela criação dos estereótipos, nem eles trabalho e no trabalho de muitos jovens. respondem pelos anseios da maioria.
SOBRE
HENRIQUE: Precisamos de conscientização e vontade de lutar para buscarmos nossos espaços, seja por meio de manifestações públicas ou da criação de organizações que defendam os interesses dos jovens. ANA CRISTINA: O jovem precisa desenvolver uma visão mais crítica do seu poder e espaço, para saber como e onde buscar ferramentas que representem fielmente as suas necessidades. JULIANA: Se não estamos satisfeitos com o que veiculam sobre nós na mídia, ou se nos enganam nos fazendo acreditar que estamos sendo representados por novelinhas como “Malhação”, o primeiro passo é reconhecermos isso e não darmos ibope para essas falsas representações da realidade juvenil.
edição. Na eleição de 1992, por exemplo, foi visível a preferência da rede Globo pelo candidato Fernando Collor na edição do debate entre os candidatos. E deu certo, pois o dito cujo foi eleito. Vimos como essa e tantas outras ações da mídia podem prejudicar toda a sociedade.
PARA SABER MAIS
O que fazer para o jovem passar a cobrar de fato o seu espaço na mídia?
PROJETO JORNAL BECOS E VIELAS Z/S – A VOZ DA PERIFERIA ÁREA DE ATUAÇÃO SÃO PAULO (BAIRRO DO JARDIM ÂNGELA E ADJACÊNCIAS, NA ZONA SUL DA CAPITAL) JOVENS ATENDIDOS 250 jovens desde o início do projeto, em 1999. Atualmente, 30 jovens e 40 educadores em oficinas. PROPOSTA O jornal é fruto da Oficina Experimental de Jornalismo, projeto desenvolvido pela Associação de Incentivo à Comunicação Papel Jornal. Os jovens já produziram oito edições do “Becos e Vielas”, uma edição do jornal “União Periférica”, seis edições do Jornal Mural, afixado em escolas, cartilhas, e também fundaram o cine “Becos e Vielas”. APOIO Instituto Ayrton Senna, Ministério da Justiça – Programa Paz nas Escolas, CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço, Petrobras, ONG Moradia e Cidadania de funcionários da Caixa Econômica Federal, Máquina da Notícia, e apoio institucional da Unicef - Fundo das Nações Unidas para a Infância CONTATO AIC Papel Jornal, Av. Ivirapema 42 A (altura do n. 6100 da Estrada do M’Boi Mirim), Jardim Ranieri – São Paulo, SP. Tel.: 11/ 5831-5954 e 9196-8600. Site: www.papeljornal.org.br; www.becosevielaszs.blogspot.com. Juliana Santos, e-mail: tsuroju@yahoo.com.br
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PROJETO PROGRAMA ENTERJOVEM ÁREA DE ATUAÇÃO SALVADOR (BA), FORTALEZA (CE) E RECIFE (PE) JOVENS ATENDIDOS cerca de 3.100 jovens entre 14 e 21 anos, em quatro anos de atuação do programa em Salvador, Recife e Fortaleza. PROPOSTA Criar oportunidades para que jovens de baixa renda participem de forma completa e produtiva do desenvolvimento econômico do país, por meio tanto de capacitação em oficinas e cursos, como de produção de vídeos, de uso de informática, cidadania e empreendedorismo, entre outros. APOIO USAID, CDI, IBRAD e AIR CONTATO Programa EnterJovem, Praça 15 de Novembro nº 13, ed. Bouzas, 4º andar, Terreiro de Jesus – Pelourinho – Salvador, Bahia. Tel.: 71/3321-7668. Internet: www.enterjovem.org.br; anacristina@enterjovem.org.br
PROJETO RÁDIO PELA EDUCAÇÃO/ DIOCESE DE SANTARÉM ÁREA DE ATUAÇÃO MUNICÍPIOS DE SANTARÉM E BELTERRA, NA REGIÃO OESTE DO ESTADO DO PARÁ. JOVENS ATENDIDOS O projeto beneficia mais de 30.000 crianças e adolescentes, que ouvem em sala de aula o programa de rádio. PROPOSTA O principal objetivo do projeto é proporcionar a crianças e adolescentes a oportunidade de falarem e serem ouvidos, valorizando o direito à liberdade de expressão. APOIO O projeto é financiado pela Diocese de Santarém, por meio da Rádio Rural de Santarém, e conta com a parceria das Secretarias de Educação dos municípios envolvidos. A implantação do projeto, em 1999, foi financiada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância – Unicef. CONTATO Rádio Rural de Santarém, Av. São Sebastião, n° 622 A, Bairro Santa Clara – Santarém, Pará. CEP: 68005-090. Tel.: 93/3523-1679. E-mail: radiopelaeducacao@gmail.com e blog: www.radiopelaeducacao.blogspot.com
Fato Positivo
POR TRÁS DE CÂMERAS, ILHAS DE EDIÇÃO, ROTEIROS E PAUTAS, OS JOVENS AMPLIAM SEU ESPAÇO NA TELEVISÃO
Uma TV que respeite a inteligência do jovem. Que tenha conteúdo, abordagem e linguagem juvenil. E que sirva de opção à televisão convencional. Duas experiências, no Ceará e no Rio de Janeiro, caminham nessa direção e dão exemplo de que os jovens e a produção alternativa estão ganhando espaço no mundo da comunicação. E melhor! Eles mesmos estão por trás das câmeras, roteiros, ilhas de edição e pautas, propondo a programação de seu interesse e ganhando com isso várias experiências: aprendizado da comunicação audiovisual, maior acompanhamento dos fatos cotidianos e, principalmente, fortalecimento da cidadania.
Por_ Valmir Rodrigues
No Ceará, são jovens das escolas públicas de Fortaleza que produzem o programa Megafone, exibido pela TV Ceará aos domingos, às 14h, com reprise aos sábados, às 16h30. Da pauta à apresentação, tudo é feito pelos alunos, que participam do curso de formação de arte-comunicação social, realizado na sede da ONG Encine (www.encine.org.br), que há cinco anos coordena a iniciativa. Os quadros do Megafone fogem do formato convencional do que costuma ser oferecido ao público juvenil pela TV aberta e pelos canais de assinatura. “A linguagem é leve e descontraída, sem formalismos ou pretensas imagens de qualidade profissional”, explica Ives Albuquerque, coordenador geral da equipe. “O que vale é o conteúdo e a construção do conhecimento gerado pelo programa. Antes de tudo, o Megafone é uma ferramen-
DIVULGAÇÃO / PARCEIROS VOLUNTÁRIOS
JUVENTUDE NA TELA
Avesso
Ampliar o espaço dedicado à boa programação e melhorar a qualidade do que é oferecido aos jovens na TV é o principal desafio de iniciativas como as da Encine e Multirio. “Não precisamos de mais canais de TV. As TVs é que precisam levar a sério suas programações, reconhecendo a necessidade de qualquer programa ter um componente educativo, cultural e de entretenimento. Entendemos isso como um direito inalienável de nossas crianças, adolescentes e jovens, bem como de suas famílias e de seus professores”, diz Regina Assis. “A meu ver não se trata de censura, como muitos apregoam, mas de responsabilidade social”. Para Ivez Albuquerque, da Encine, a questão é fazer uma TV para o cidadão.
ta de educação não tradicional, pois mantém vínculo estreito com a escola pública. Aliás, a maioria dos quadros é gravada dentro das escolas municipais e estaduais. Nós trabalhamos um tema central a cada edição e reunimos 150 pessoas, entre alunos, professores e especialistas, para um grande debate, que é realizado no Centro Cultural Banco do Nordeste. O extrato desse debate é veiculado no programa, servindo de referência até em sala de aula”. Fabrícia Góis, a jovem apresentadora do Megafone, não esconde o entusiasmo. “A experiência de construir um programa de TV é única. Tenho aprendido muito. Não só no que se refere à produção, mas como lição de vida. Tive que pesquisar e buscar informação sobre muitos temas a que eu não dava importância. Nosso programa tem ajudado a mudar a realidade, de forma consciente e ética. A gente não impõe nada. Mostramos os diversos pontos de vista e estimulamos o telespectador a pensar”. O Megafone deu ao Ceará o status de primeiro estado do Nordeste a ter um programa de TV com a certificação “Especialmente recomendado para crianças e adolescentes”. Este selo, concedido pelo Ministério da Justiça, foi criado para indicar obras educativas e informativas que promovam respeito à diversidade, aos direitos humanos, à cultura de paz e à cultura regional.
IMAGENS: DIVULGAÇÃO
À esq., gravação do Megafone da Encine; acima e à dir., entrevista e desenho da Multirio
75 Mídia de qualidade No Rio de Janeiro, os mesmos valores estão na base das atividades de comunicação produzidas com adolescentes e jovens pela Multirio, empresa ligada à Secretaria de Educação da cidade. “As novas gerações têm direito a uma mídia de qualidade e, aqui, nós lutamos muito por isso”, diz Regina de Assis, presidente da organização. Criada em 1993, a Multirio começou produzindo programas de TV e vídeos para uso de professores e alunos da rede municipal de ensino. Hoje conta com três núcleos de produção: TV, rádio e cinema, tecnologias da informação e publicações, além de projetos especiais, como um site e materiais de apoio pedagógico. O núcleo de TV dedica-se à produção de documentários, programas culturais e informativos de prestação de serviço. A programação é exibida diariamente pela Band Rio e pelos canais 14 da Net Educação e Net Rio (confira em www.multirio.rj.gov.br). O talk show Abrindo o Verbo é uma das atrações para os jovens, promovendo debates sobre o mundo do trabalho. Outro sucesso é a série Juro que Vi, de desenhos animados produzidos pela equipe de animação da Multirio em parceria com
alunos de escolas públicas. Com base em lendas do folclore brasileiro, como Curupira, Boto, Iara e Matita Perera, os jovens são estimulados a recontar histórias e a trabalhar a cultura nacional. A série ganhou diversos prêmios nacionais e internacionais e também espaço na TV Sesc e em barcaças do rio São Francisco e do rio Amazonas, chegando, assim, a populações ribeirinhas. Na TV, a Multirio tem sua principal ferramenta de mídia, mas outras linguagens, como a escrita e a falada, são fundamentais em seu trabalho. Segundo Regina, “o bom texto e a boa narrativa estão na base de nossas atividades. É o que nos leva a produzir roteiros de qualidade e, conseqüentemente, programas de qualidade, colocando em evidência, para os jovens, valores éticos, políticos e estéticos”.
Cartas
BOAS PARCERIAS O Ministério Público do Maranhão realiza o programa de TV “Teleconferências: capacitando os agentes de transformação social”. Edita também um manual com textos que abordam as discussões do programa. Gostaríamos de publicar no manual o texto “Questão de mercado”, da edição 6 de Onda Jovem, que aborda educação juvenil e trabalho. Marcelo Amorim, Centro de Apoio da Infância e Juventude do Ministério Público do Maranhão Represento a Juventude Proativa, entidade que promove inclusão social por meio do acesso à informação e assim possibilita ao jovem ser um agente e não, apenas, um receptor de políticas públicas. Gostaria de receber Onda Jovem, que pode contribuir com nossas discussões e bate-papos com jovens. Antonio Marcos dos Santos Leite, Itapevi, SP
Somos da Secretaria de Educação do município de Lauro de Freitas. Conhecemos Onda Jovem por meio de parceiros em projetos juvenis, como a Fundação Roberto Marinho e o Canal Futura. Gostaríamos de receber as edições. Fernanda de Paula Maia, Salvador, BA Nós, o Instituto Socio-Educativo Juvenil, somos executores do projeto Primeiro Emprego – Consórcio Social da Juventude, do governo federal. Gostaríamos de ter Onda Jovem em nossa biblioteca. Hélio Martins, por e-mail Integramos do Consórcio Social da Juventude de Goiânia – Gente Cidadã. Gostaríamos de ter Onda Jovem em nossa biblioteca. Célia Regina, Goiânia, GO Somos do Conselho Nacional da Juventude de Cabo Verde e, pelas informações contidas no vosso site, pressupomos termos objectivos convergentes. Emanuel Almeida, por e-mail Faço trabalhos sociais com crianças e jovens na cidade de Cáceres e gostaria de receber a revista, que será de muita utilidade em nossas ações. Natanael V. de Souza, Cáceres, MT Gostaríamos de receber as edições de Onda Jovem para utilizá-las em nosso projeto Agente Jovem. Rozane Alencar, Fortaleza, CE Somos uma Oscip, a Mais Diferenças, que atua com inclusão social de pessoas com deficiência, assessorando o poder público, empresas e terceiro setor em projetos da área. Gostaríamos de receber Onda Jovem. Cláudia Kranz, por e-mail
FAÇA CONTATO Envie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. ONDA JOVEM se reserva o direito de resumir os textos. Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320, conjunto 403, CEP 04111-001, São Paulo, SP. E-mail:
ondajovem@olharcidadao.com.br.
A Fundação Sol para Reconstrução Social teve a honra de receber este trabalho precioso chamado Onda Jovem. Minha esperança se renovou. Os exemplos trazidos pela revista representarão muita mudança por aqui. Amélia Mari Passos Da Silva, Porto Alegre, RS Sou coordenador regional do CDI-MG (Comitê para Democratização da Informática). Gostaria de receber a revista para fortalecer nossas ações com os jovens. Esdmar Carvalho Resende, por e-mail Sou consultor do Projeto Jovem Líder. Onda Jovem tem nos ajudado em nossos trabalhos junto à juventude. Lucivaldo da Mata, por e-mail
PEDAGOGIA JUVENIL Inovação. É o que posso dizer de Onda Jovem. A qualidade dos artigos e sua importância para pautar discussões são fundamentais para a mudança de comportamento. Fico feliz de partilhar esse trabalho com meus alunos. Sérgio Barbosa, por e-mail Sou professora da Escola Estadual Kleber Pacheco, em Salvador (BA), e estou gostando muito de Onda Jovem. A revista oferece a oportunidade de eu trabalhar com os alunos temas transversais. Angélica Carrascosa, Salvador, BA Sou orientadora educacional e gostaria de solicitar o texto “Por si mesmo”, publicado na edição de Onda Jovem que trata de saúde e juventude. Achei o conteúdo muito interessante e pretendo trabalhar o tema com meus alunos. Jacy Alves Ansuattigui, por e-mail Sou educadora e desenvolvo projetos de interação e inclusão com jovens que não têm acesso a boas leituras, principalmente em publicações que falem a língua deles. Achei a revista Onda Jovem maravilhosa. Suzi Montanha, São Paulo, SP Amei conhecer em Onda Jovem projetos que diminuem a evasão de alunos. Leylla Marciano, Goiânia, GO Sou educadora e lido com crianças e adolescentes de baixa renda. Sempre acesso o site da revista e acho os roteiros e as matérias fantásticas. Ana Maria Silva Vieira, Sete Lagoas, MG Gostaríamos de receber Onda Jovem para a biblioteca da Faculdade Rio Claro. Prof. José Carlos A. Bastos, Ijuí, RS
Sou professora da escola estadual Dr. Murtinho Nobre e gostaria de receber Onda Jovem. Maria Regina Martins Mimura, São Paulo, SP Sou educador social em minha cidade e gostaria de receber Onda Jovem, que pode me ajudar em meus projetos. Reginaldo Pereira Chaves, por e-mail Na escola em que sou coordenadora pedagógica, materiais pedagógicos praticamente não existem e por isso gostaria de receber Onda Jovem. Cristiane Machado, Jequié, BA Atuo como educadora no terceiro setor com adolescentes e por isso quero receber a revista Onda Jovem. Laura Cristina Valadares dos Santos, Campo Grande, MS Gostaria de receber Onda Jovem. Sou educador social, músico, graduado em educação física e mestrando em educação. Mateus Silva de Araújo, Montenegro, RS Informamos que Onda Jovem será indexada no Centro de Documentação e Informação do Instituto Pólis e disponibilizada para consulta dos alunos da Escola da Cidadania e demais pesquisadores do CDI. Ruth Simão Paulino, São Paulo, SP
EDIÇÃO AMBIENTAL A Rejuma da região Centro-Oeste parabeniza Onda Jovem pela excelente contribuição ao movimento ambientalista no Brasil! A publicação acrescenta na nossa atuação local e coletiva. Diogo Damasceno Pires, por e-mail O Instituto Adventista Cruzeiro do Sul acha muito importante uma publicação como essa para conscientizar os jovens da necessidade de preservar o meio ambiente. Vanderlei Ricken, Taquara, RS
A edição de meio ambiente informa sobre uma pesquisa para orientar ações de cidadania ambiental com jovens, realizada pela professora Regina Viegas, do Rio de Janeiro. Gostaria de mais informações, pois quero implantar a disciplina de educação ambiental em meu município. Pablo Alves, por e-mail Para nós, do Conselho Nacional da Juventude da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, a edição sobre meio ambiente é um recurso importante para o trabalho com grupos comunitários, quer sejam adolescentes, jovens ou adultos. Queremos receber Onda Jovem para desafiar e animar as diversas juventudes que alcançamos. Cláudio Becker, por e-mail Vi a edição de meio ambiente de Onda Jovem e gostaria de receber mais material sobre o tema, pois sou professor de educação ambiental e geografia. Dirceu Betiol, por e-mail Edito um jornal em minha cidade e participo de uma ONG ligada ao meio ambiente. Parabéns pela edição de Onda Jovem on-line sobre o tema. Renata Alves Lima, por e-mail Sou jornalista e trabalho em organizações do terceiro setor com comunicação para jovens e adolescentes. Gostaria de receber a edição de Onda Jovem que aborda meio ambiente. Joelma Oliveira, João Pessoa, PB
JOVENS PROTAGONISMOS Adorei Onda Jovem. Sou um jovem protagonista do SuperAção jovem. A revista é o máximo, muito educativa e valoriza a ação dos jovens. Fabulo Souza Assis, São Paulo, SP Sou voluntário no projeto Tear da Juventude, que oferece cursos profissionalizantes para ajudar jovens a ingressarem no mercado de trabalho. Gostaria de receber Onda Jovem. Ismael Cabral, Teresina, PI Estou fazendo um trabalho para a faculdade sobre projeto de vida e achei muito interessante a edição de Onda Jovem sobre o tema. Quero que ela faça parte do meu trabalho. Mathilde Santos, por e-mail Sou estudante de jornalismo e Onda Jovem chamou minha atenção porque estudo no momento a influência da mídia nos jovens e seu relacionamento com ela. Também estou projetando um
jornal comunitário para ser trabalhado em escolas. Joanice Sampaio, Fortaleza, CE Sou presidente da Associação Gaúcha de Pais e Amigos dos Surdocegos e Multideficientes (Agapasm). Tenho uma sugestão: espaço no site e na revista para matérias sobre jovens com deficiência. Alex Garcia, por e-mail Cumprimentamos Onda Jovem pelo rico e valioso trabalho de grande importância para o florescimento saudável e criativo do protagonismo da juventude brasileira. Maria Abadia Silva, Diretora Geral da Unipaz Goiás Trabalho com um projeto cultural, no Ceará, ligado à dança. Gostaria de receber Onda Jovem e também, quem sabe, contribuir com a revista. Fernanda Cavalcanti, por e-mail Sou jornalista e mestranda em educação e desenvolvo um projeto em comunicação e educação pelo Jornal Cidade de Bragança. Quero receber Onda Jovem. Vanessa Pipinis, Bragança Paulista, SP Parabéns pela iniciativa. Gostaríamos de mostrar em Onda Jovem nosso trabalho com jovens nas áreas cênica e de artes plásticas. Simão Pedro e Antonieta Guido, Belém, PA Participo de vários trabalhos com juventude em organizações sociais, nas áreas de cidadania, saúde e sexualidade. Gostaria de receber a revista. Francisco Rômulo do Nascimento Silva, Fortaleza, CE
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Navegando
Há muita alegria, ingenuidade e grande beleza na infância que se vive nas favelas. É o que salta aos olhos de quem mora ali, em contraposição aos costumeiros registros de observadores externos, sempre mais atentos às dificuldades e às carências do cotidiano nas comunidades populares. E é isso que revela a exposição Olhares da Favela, recortada do acervo produzido por
23 integrantes da equipe da Escola de Fotógrafos Populares – Projeto de Imagens do Povo, agência de fotografia coordenada pelo fotógrafo João Roberto Ripper, com o apoio do Observatório de Favelas. A mostra, que tem curadoria de Eloísa Sabóia e Luiza Vieira, foi inaugurada em abril e tem sido exibida em diferentes espaços no Rio de Janeiro. Fornecedora de trabalhos fotográficos desde o primeiro número de Onda Jovem, a Imagens do Povo (imagensdopovo@ observatóriodefavelas.org.br) conta com um grupo de profissionais em formação que inclui um significativo número de jovens, entre eles alguns dos autores que compõem este pequeno recorte da exposição: uma terna perspectiva de quem, há pouco, também ainda era criança.
QUASE AUTO-RETRATO
Uma pipa contra o pôr-do-sol
A menina na janela
Adriana Cunha, da favela Nova Holanda
Davi Marcos, da Maré
Pique-esconde bem pertinho Rovena Rosa, de Niterói
Tarde de sol na favela Francisco Valdean, da Baixa do Sapateiro
Uma viagem ao mar Jaqueline Felix, Parque Maré
O pequeno bloco da alegria Ratão Diniz, Parque Maré
O balé do skatista Dyego Rodrigues, Proventório
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O Instituto Votorantim apóia essa causa. ONDA JOVEM
E quer ver muitos jovens fazendo sucesso na capa.
www.ondajovem.com.br
COMUNICAÇÃO ano 3 – número 8 – julho 2007
número 8 – julho 2007 – www.ondajovem.com.br
Porque, desde que foi criado, em 2002, para qualificar o investimento social do Grupo Votorantim, o Instituto Votorantim abraçou a causa juvenil, apoiando tecnologias sociais nas áreas de educação e trabalho, favorecendo articulações e disseminando conhecimento para promover o desenvolvimento integral do jovem. Nessa perspectiva, Onda Jovem é um projeto de comunicação a serviço da difusão de idéias e práticas, compartilhando as visões de educadores, jovens, gestores públicos, pesquisadores, formadores de opinião e outros segmentos que lidam com a juventude nas diferentes áreas. A revista é quadrimestral e distribuída gratuitamente em todo o país. Os conteúdos estão disponíveis também no portal www.ondajovem.com.br, com acréscimos exclusivos, como os planos de aula, que sugerem a aplicação dos textos em dinâmicas e atividades de reflexão com jovens.
COMUNICAÇÃO A contribuição das mídias à educação juvenil