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Popular
by ONG FASE
individual e das famílias dos usuários. Começa a ser questionada a formação que é dada aos professores na sala de aula e o saber transmitido chega lá no bairro filtrado pelos olhos da experiência do dia-adia do confronto com a sua aplicabilidade real. Isso permite uma reinterpretação cultural das mensagens veiculadas com as categorias próprias da cultura popular. Usando a expressão de Verret, dir-se-ia que contribui, nesse campo, para "dominar os efeitos da dominação" (1972, 29), isto é, para uma defesa do direito de acesso ao saber e aos meios de desenvolvimento do pensamento como exigência contra as pressões de exploração. Assim as Escolas Comunitárias funcionam não apenas como antesalas da escola pública, mas podem também estimular a formação de professores com outro nível de qualidade em termos de adequação à realidade das classes populares. Pois, não se trata de produzir um ensino de terceira categoria baseado nos preconceitos que levam a menosprezar o potencial intelectucl das crianças pobres (através da condescendência ou da omissão), e sim de conseguir conciliar eficiência técnica com respeito às condições de vida, de tal forma que se consiga trazer as crianças, retê-las na escola e transmitir-lhes o saber a que fazem jus. • As Escolas Comunitárias e a
Educação Popular
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O outro aspecto educativo da experiência que pode ser captado em ambas está ao nível do que se convenciona chamar "educação popular", entendida aqui como um instrumento agenciado por educadores "comprometidos", dirigida à produção de conhecimento popular capaz de orientar e fortalecer a prática dos movimentos populares.2 O primeiro ponto a ser observado é a própria injeção nas discussões políticas através de um projeto concreto, ao invés da simples transmissão pelo discurso ideológico. Isso significa prática e avaliação de organização, desenvolvimento da iniciativa pessoal e comunitária, de eficiência e compromisso em atividades específicas, de compreensão da proposta concreta na totalidade do movimento popular, e por fim é uma aprendizagem, pelo exercício, das regras da democracia. Essa práxis (como mostra o relato de Belém e acontece nas escolas da Rocinha) revela as contradições internas dos próprios grupos e a busca de sua superação, as-
2 Não se pretende aqui entrar na controvérsia do conceito "educação Para tanto há artigos elucidativos tais como o de Celso Beisegel, "Ensino Popular"; de João Bosco Pinto, "Reflexões sobre as Estratégias Educativas do Estado e a Prática da Educação Popular"; Carlos Brandão, "Educação Alternativa na Sociedade Autoritária". Todos são artigos da coletânea organizada por Vanilda Paiva, Perspectivas e Dilemas da Educaçio Popular, Ed. Graal, 1984, Rio de Janeiro. · sim como uma visão dinâmica e dialética da socie.dade onde convivem e se confrontam interesses entre as classes e intraclasses. O segundo ponto está relacionado à interação da organização comunitária com os órgãos governamentais e oficiais, ondé as lições são muito importantes para os interesses populares. Aprendem que o Estado não é uma instituição monopol ística e portanto não se trata de estabelecer com ele uma relação maniqueísta em que o dominador está sempre armado para engofir o dominado. A estrutura política é !fermeável através do jogo de forças e de interesses e sofre mediações não necessariamente opostas às classes populares. Ao mesmo tempo, constatam que o discurso participativo criado pelos órgãos públicos na sua relação com as classes populares costuma ser, na verdade, uma forma de