Edição 60, março / 1994

Page 84

VIOLÊNCIA NA BAIXADA FLUMINENSE: UM CASO DE POLÍTICA Hélio Ricardo Porto Jorge Florêncio de Oliveira Orlando Alves dos Santos Junior O extermínio físico aterroriza. pelos grupos sociais, até chegar às Talvez porque ele seja a maior marelações entre Estado e sociedade. Se o conceito utilizado for o de nifestação de barbárie que uma soviolência física, mesmo assim não ciedade pode experimentar. Nos está resolvido o problema. últimos anos, esta manifestação cruel de violência tem sido um 1. R. RIPPERJIMAGENs DA TERRA dos principais problemas enfrentados pelas grandes cidades e motivo de preocupação de diversos setores sociais. Não é sem razão. Só em 1992, o número de menores exterminados no Rio de Janeiro aumentou em 39,6%. Na Baixada Fluminense, nos últimos quatro anos, mais de 7.5JO pessoas foram executadas. Os matadores usam como armas escopetas, facões, pistolas e revólveres 38 e, após o extermínio, expõem os corpos nas ruas ou mutilam, queimam, jogam ácido e atiram as vítimas em poços profundos ou rios, sem as vísceras para não boiar. São cenas aterrorizantes que já fazem parte do cotidiano urbano de diversas cidades do nos.so ~s. Analisar a violência, suas causas, tendências e perspectivas de superação Esquadrão da Morfe - Caxias (RJ) não é tarefa fácil. A começar O que dizer dos altos índices de pela questão semântica. De que viomortalidade infantil na Baixada, lência estamos falando? Se considerarmos o termo violência como conseqüência da ausência de rede hospitalar, atendimento maternoconstrangimento físico ou moral; uso da força ou coerção (definição infantil e rede de saneamento básido Aurélio), então poderíamos dico? A solução neste caso é precisar zer que o fenômeno de violência ainda mais o conceito. Talvez pudéssemos utilizar o conceito de "viperpassa o conjunto da sociedade, das relações individuais, passando olência física praticada pelos gruProposta n2 60 março de 1994

pos de extermínio", para então podermos prosseguir nossa análise. Antes de prosseguir, no entanto, é preciso ter clareza de que o fenômeno da "violência física praticada pelos grupos de extermínio" acontece principalmente em grandes cidades marcadas por uma enormidade de problemas sociais. Com uma população composta de mais de 2,5 milhões habitantes, na Baixada Fluminense, cerca de 70% das famflias na região recebem até dois salários mínimos; a rede escolar pública e privada atinge apenas a 85% das crianças entre 7 e 14 anos; dois terços das ruas não têm pavimentação nem microdrenagem ; o déficit de consultas médicas é da ordem de 12 milhões por ano, representando uma carência de 500 consultórios; a coleta de lixo é precária e inexistente na maioria dos logradouros; as inundações fazem parte do cotidiano dos moradores a cada verão; déficit de moradias é estimado em mais de 230 mil HÉLIO RICARDO PORTO - Historiador e

técnico do PPU - Programa Popular Urbano da FASE Ri o de Janeiro. JORGE FLORtNCIO DE OLIVEIRA -E.du-

cador e técnico do PPU - Programa Popular Urbano da FASE Rio de Janeiro. ORLANDO ALVES DOS SANTOS JUNIOR -

Sociólogo e técnico do PPU - Programa Popular Urbano da FASE Rio de Janeiro.

81


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.