mundo h. 07 JUN.JUL.AGO.09
Ano2 Distribuição Gratuita
MOÇAMBIQUE INAUGURAÇÃO DE DOIS POÇOS; S. TOMÉ PRIMEIRAS DISTRIBUIÇÕES; PORTUGAL CONCURSO DE IDEIAS; MAIS MUNDO A CRISE NOS PAÍSES EM VIAS DE DESENVOLVIMENTO; ESTÓRIAS CONVITE AO TURISMO RESPONSÁVEL; MAIS DO QUE PADRINHOS CAMPANHA DE RECOLHA DE LIVROS; QUEM HELPA TAP OFERECE VIAGEM; I MAIS CARTAS DOS AFILHADOS.
ÍNDICE 3
22
EDITORIAL
MAIS DO QUE PADRINHOS
indignação em vias de extinção.
aCAMPANHA-nos?
4
MOÇAMBIQUE dias de esperança.
24
QUEM HELPA? a TAP “helpou”.
6
um momento especial emMontepuez. 8
25
partilhando sorrisos. 26
S. TOMÉ E PRÍNCIPE
i MAIS
baby steps, mas com chinelos.
cartas de junho.
10
PORTUGAL help(o)ing people. 12
uma questão de (boa) Educação. 14
MAIS MUNDO a crise desenvolvida vs. a crise em vias de desenvolvimento. 16
ESTÓRIAS venha ser padrinho, anule a distância! 20
memórias e momentos.
material informático. recrutamamento para o programa de voluntariado internacional.
EDITORIAL
INDIGNAÇÃO EM VIAS DE EXTINÇÃO Cascais, Joana Lopes Clemente
H
á muito que me parece que a indignação é um dom. Um dom raro, difícil de cultivar e sobretudo de preservar, uma capacidade que parece ter caído em desuso e cuja utilidade tem vindo a ser subvalorizada. A indignação é uma engrenagem; um sentimento de rebuliço interior que impele à acção para uma mudança do estado das coisas. E só esta, uma indignação catalisadora, (e por isso fatigante, que desgasta e que está associada a inúmeros outros conceitos cujo seguimento desgasta também, por residir num caminho difícil trilhado pela coerência, ou seja, a conformidade entre o que se pensa, o que se sente, o que se experiencia, e o que se faz) só esta indignação merece destaque e medidas de propósitos semelhantes às de protecção e preservação de espécies. Numa sociedade de informação, cujo ritmo crescente de aceleração da transmissão de informações se vai fazendo patrocinar pela tecnologia a uma velocidade de fibra óptica e quantidade semelhante à da enchente das marés, a indignação começa a carecer de espaço e de tempo para percorrer a ponte que estabelece a ligação entre o referido rebuliço interior e a acção; começa então a perder o seu carácter catalisador e a limitar-se a semear em nós as sensações desagradáveis que deixam de constituir um conversor-de-agir-para-a-mudança, para passarem a constituir um acumular de bases científicas do pessimismo instalado na sociedade. Este sentimento, esta emoção, começa a perder a sua vertente positiva, apesar de preservar assim, a sua vertente negativa. O facto é que, a muita informação que chega até nós, muitas vezes sem uma selecção cuidada e sem que se enquadre numa escala de hierarquias que responda ao interesse social global, ou ao dito interesse público, é estrangulada por esse ritmo
alucinante, essa quantidade desmedida e acaba por fomentar uma dispersão da atenção individual em assuntos fundamentais, ao invés de promover uma visão focada da sociedade, no que respeita a esses assuntos. Paralelamente, nascem organizações, associações, entidades públicas e departamentos de responsabilidade social das empresas, que se propõem a fazer o serviço completo por nós, (por nós enquanto indivíduos que compõem uma realidade, enquanto seres humanos capazes de sentir, de problematizar e de agir). Todas estas entidades se tornam especialistas na capacidade de se indignarem, naquela de se deixarem invadir pela revolta sublime da injustiça social e na de construírem pequenos actos de rebeldia sob forma de projectos. Todas estas entidades mergulham profundamente no seu sector de actuação, procurando reunir, seleccionar e difundir mais informação, a informação propícia à provocação da indignação em massa, que seja capaz de levar à angariação de “simpatizantes” de cada uma das causas defendidas. E é aqui que reside o perigo: o perigo de não se ser bem sucedido nesta chamada de atenção, o perigo de que cada um encontre nos agentes sociais e de desenvolvimento, uma substituição à sua própria capacidade (eu diria mesmo, ao seu dever), de indignação. Procuramos por isso desenvolver mecanismos de acção com uma componente elevada de participação de quem partilha das nossas preocupações e procura, assim como nós, agir para a mudança. Procuramos, de facto, converter cada vez mais este mundo num mundo humano, mas queremos também promover a consciência de que esse papel não é nosso enquanto Organização Não Governamental, mas sim de todos, enquanto seres humanos.
MOÇAMBIQUE
dias de esperança. Nampula, Nuno Mendes
Q
uando se reflecte sobre o fim e o fundamento da acção no terreno de uma organização humanitária, há várias ideias que surgem e que, aparentemente, assumem importância semelhante. Porque as solicitações são muitas e todas parecem demasiado urgentes. Sejam a favor de um indivíduo ou de vários, as intervenções em geral são entendidas como benéficas e úteis, sobretudo aos olhos do observador externo. São conceitos complexos. Fim e fundamento implicam juízos morais, que habitualmente variam consoante a pessoa e consoante o contexto, sem que isso afecte a convicção pessoal da validade de cada uma. O que traz naturalmente alguma dificuldade no encontro de consensos. Há porém, algumas dessas ideias que, pela característica intrínseca de elementaridade e pela abrangência universal dos seus efeitos, se tornam um pouco “mais importantes” à luz da maioria dos juízos e das convicções. Moçambique é um país que, apesar da muita chuva que cai na estação húmida, sofre com a falta de água. E isto acontece porque não existem infra-estruturas que garantam não só o armazenamento da água mas também e sobretudo, a distribuição em rede. O que acarreta uma realidade bem conhecida no interior de Portugal até há poucas dezenas de anos, que é a necessidade de percorrer muitos quilómetros para ter alguma água em casa. Este simples facto traz atrasos na lida diária da casa e no quotidiano das gentes de tal ordem que a questão assume foros de
verdadeira tarefa diária, como o nosso “ir às compras” ou “ir tratar de um assunto à cidade”. Desta forma, a importância da água e do seu abastecimento acessível é um pouco “maior” para comunidades empobrecidas que, para obter um pouco dela, são obrigadas a calcorrear centenas de quilómetros por mês, sempre debaixo de um sol impiedoso. Quando, em finais de Março, a Helpo inaugurou dois poços junto a duas escolas que não tinham água pelo menos a três quilómetros de distância, as populações rejubilaram e agradeceram.
“a Helpo inaugurou dois poços junto a duas escolas que não tinham água” Houve festa, em Makassa e em Natchetche. Houve discursos formais e gargalhadas informais, deles e de nós, houve música ao vivo, houve sumo, houve brilhos nos olhares e alegria nos sons. Algumas crianças brincavam na água, como se esse gesto fosse exorcizar o peso que tanto as oprimiu desde que nasceram. Mas mais que o arrebatamento das mães emocionadas a aper-
tarem-nos o braço quando viram água a jorrar, mexia connosco a vigilância militante de adultos e meninos durante a prospecção do furo. Fazer um furo pode durar mais ou menos tempo. Obviamente. Mas leva sempre o seu tempo. Primeiro, é necessário que, através de tradições ancestrais ou de técnicas modernas, algo ou alguém afiance que corre água naquele ponto, vários metros abaixo da superfície. Depois, a máquina entra em acção. O problema está em que, mesmo que seja verdade que algures ali corre água, seja a vinte ou a quarenta metros de profundidade, pelo caminho pode encontrar-se o maior inimigo da empreitada: rocha. Se surgir um veio de rocha no caminho do furo, nada há a fazer senão desistir e tentar de novo noutro lado. Como todos sabem disso, ninguém arreda de junto da máquina. Como se estivessem aguardando pelo desfecho de um parto difícil, com curiosidade e tensão, com medo e ansiedade, com um desejo genuíno de que tudo corra bem e com um receio não menos verdadeiro de que num segundo o sonho se desfaça. É nesse momento que nos apercebemos claramente da importância daquilo que estamos a fazer. Mais até do que no momento da inauguração em si. Todas as intervenções são importantes, mas a verdade primordial é que sem água não existe vida. E com tanto tempo e saúde que são poupados com este tipo de intervenção a esta gente que teve de caminhar e sofrer tantos anos, aqui encontramos um sentido. Um fim e um propósito.
MOÇAMBIQUE
um momento especial em Montepuez. Cabo Delgado, Ana Luísa Machado
C
omo os nossos queridos padrinhos já sabem, pelo menos os que já nos acompanham há cerca de um ano, em África, para além de se comemorar o Dia Mundial da Criança a 1 de Junho, o dia 16 do mesmo mês é igualmente marcante, adquirindo uma especial relevância na luta pelos direitos das crianças africanas, mais especificamente das órfãs e vulneráveis vítimas da fome, da violência, da doença (Malária, SIDA, …), da excisão genital, da guerra, do tráfico ou da extrema
pobreza. O sistema segregacionista sul-africano, instituído na década de 1950, forçava os negros a pagar para frequentar escolas com classes superlotadas e professores sem qualificação adequada, ou mesmo inferior, enquanto a educação para os brancos era gratuita. Em 1975, o governo decretou a obrigatoriedade do ensino no idioma africânder, antes em inglês, para as matérias académicas nas escolas secundárias negras.
Para os estudantes negros a medida era uma ponte para o fracasso: para terem sucesso precisavam de ser fluentes nos idiomas oficiais do país, ou seja no inglês e africânder, quando as suas línguas maternas eram completamente ignoradas pelos dirigentes. O Levante de Soweto (subúrbio negro em Joanesburgo) foi um dos mais sangrentos episódios de rebelião negra desde o início da década de 60, desencadeado pela repressão policial à passeata de 10 mil
estudantes, em 16 de Junho de 1976, que protestavam contra a inferioridade das “escolas negras” na África do Sul. A manifestação pacífica de milhares de estudantes negros, que cantando, marchavam por Soweto em direcção a um estádio aberto, onde fariam um comício, foi alvo de uma bomba de gás lacrimogéneo para, em seguida, ser atingida por disparos das tropas de choque munidas de armas automáticas. O massacre matou cerca de uma centena de estudantes, sendo que há também relatos de cerca de trezentas mortes. Numa tentativa de honrar a memória das crianças e estudantes que, naquele dia, perderam a vida, a Organização de Unidade Africana (OUA) instituiu o dia 16 de Junho o dia da Criança Africana. Poder-se-á perguntar: mas porquê comemorar um dia específico só para crianças africanas? E as crianças europeias ou mesmo as asiáticas órfãs e vulneráveis? Da minha curta experiencia em África sou obrigada a concluir que este é um dia simbólico que faz relembrar todas as enormes dificuldades que estas crianças enfrentam. O direito à educação, apesar de estar instituído na Constituição da República de Moçambique e na Carta dos Direitos da Criança, em muitos distritos deste país é uma verdadeira utopia. Não se pense que estas crianças não têm acesso à escola. Efectivamente têm, mas em péssimas condições. As escolas primárias, na sua grande maioria, são construídas em matope e capim (as paredes são erguidas com barrotes de madeira e paus, sendo o interior preenchido com barro (matope)). O tecto é de palha (capim), sem o mínimo de condições.
Não existem casas-de-banho, mas pequenos buracos no chão disfarçados com folhas de coqueiros ou palmeiras. As crianças que frequentam este tipo de escolas são, apesar de tudo, felizardas, uma vez que não faltam “escolas” debaixo de cajueiros. Sem apoio, estas crianças africanas não terão acesso à escola na época da chuva, porque as forças da natureza lhes retirarão esse direito. Sem uma ajuda, essas mesmas crianças africanas também não chegarão à escola em tempo de seca, porque a terra não deu o alimento necessário ou a água suficiente para que haja concentração e as dores de cabeça se vão embora. Estas crianças africanas terão educação quando algo ou alguém se lembrar de lhes permitir ter educação. Estas crianças africanas, deixam de o ser muito cedo. Se tivermos em conta que uma menina é sujeita a ritos de iniciação sexual entre os 10 e os 14 anos e que logo após está pronta para ser mãe; se pensarmos que a taxa de órfãos cresce exorbitantemente a cada dia que passa devido ao flagelo da SIDA; se pensarmos que estas crianças terão de crescer à força para conseguirem manter as suas famílias, veremos que realmente elas merecem um dia só para elas. Estas crianças, mais do que quaisquer outras, são lutadoras e vencedoras. Não dão por isso, porque esse é o seu karma. Quantas vezes ouvimos dizer “Deus assim quis…” num tom de sofrimento e de uma calma estranha, como se não obtivessem nada mais a esperar da vida do que crescerem, tornarem-se homens e mulheres
de repente e arranjarem alimento para a sua prole? Em Moçambique, existem inúmeras crianças que têm a seu cargo pai, mãe e avós. Como é que essas crianças o poderão ser? Como é que terão direito à educação? Quando terão oportunidade de mudar a sua realidade? Para que algumas dessas crianças africanas tenham direito a o serem, a família Helpo, tenta, a cada dia que passa, proporcionar-lhes dias e momentos especiais. Em Cabo Delgado, vamos apoiar as comemorações oficiais do dia 16 de Junho. A Direcção Provincial de Acção Social desafiou-nos para financiar um dia diferente para 350 crianças do Distrito de Montepuez. Trata-se de um município extremamente pobre do interior Norte daquela Província. Foi com agrado, que demos as mãos, para concretizar este pequeno sonho, num dos distritos, onde a Helpo está a iniciar o apoio a várias escolinhas. Neste dia de festa, procederemos, com o governo provincial, à distribuição de bens alimentares às crianças órfãs e vulneráveis daquele distrito. Serão, ainda, distribuídos brinquedos e balões como forma de recordar a data que se comemora, mas, acima de tudo, do convívio. Serão realizados, também, jogos de exterior e de grupo de modo a cativar as crianças e a proporcionar-lhes um dia especial. A nossa intenção, para além de permitir um dia único e uma refeição quente às crianças que serão beneficiadas, é devolver a estas crianças a vontade de o serem, por muito mais e muito melhor tempo.
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
baby steps, mas com chinelos. Trindade, Raquel Pinheiro
H
á coisas que para mim serão sempre um intrigante mistério. Um exemplo disso é a capacidade de uma criança se transfigurar de êxtase, chegando quase ao ponto de perder a voz, quando vê uma bola de futebol. Quanto mais observo este fenómeno (e tenho tido várias oportunidades de o fazer desde que a Helpo distribuiu kits Lúdicos pelas creches das roças de S. José, Bemposta, Saudade e Santa Catarina) maior a minha certeza de que, em S. Tomé, o Sol quando nasce é de facto maior, mas ainda não é para todos. A bola de futebol é apenas a fracção de um “bolo” distribuido para a creche, constituído por uma simples resma de folhas A4, lápis de cor e afias, um par de dados, um baralho de cartas, vários piões pequeninos de plástico, uma corda para saltar, um elástico para jogar e plasticina para ajudar, quem sabe, a moldar uma alternativa. Para dar remédio ao que pouco remediado estava, distribuiu-se também um kit de Primeiros Socorros: algodão e desinfectante, material para fazer ligaduras, clotrimasol, paracetamol para as febres que advêm das chuvas frequentes e uma receita de soro caseiro para evitar a desidratação em caso de diarreias. Em troca, pedimos que se use muito e bem cada uma destas coisas. A cada passo que damos, depositamos na comunidade uma expectativa humilde mas grande. Se o brinquedo é estimado, avancemos então para o passo seguinte: quais são as necessidades estruturais que por cá existem?
S. José respondeu de forma clara: latrinas e água potável! Na reunião comunitária de 15 de Maio, foram diversas as carências apontadas, principalmente ao nível da educação e da saúde. Um exemplo: o tanque comum, ainda a única forma de obter água e proporcionar alguma higiene aos escassos haveres - e aos seus donos - de tão degradado que está, torna-se em si um obstáculo ao funcionamento regular da comunidade. A simples impossibilidade de recolha dos desperdícios e dejectos que aí se acumulam dão origem a doenças parasitárias que, a ser tratadas, só o poderá ser no Hospital de Monte Café, a uma hora a pé de distância e apenas duas vezes por semana. As crianças são sempre as mais afectadas. Alcançar objectivos como “desenvolvimento” e “autonomia” não é possível sem a cooperação e o trabalho de equipa, mas arrancar as comunidades ao conformismo por vezes não é fácil. Por isso - e porque também a Helpo é ainda uma criança em S. Tomé - começámos por dar passos pequeninos: assim, desde o dia 15 de Maio, há chinelos novos nos pés dos meninos e meninas de S. José, batas para a escola feitas à medida, capas para a chuva e sacolas para guardar tudo isto e o que mais quiserem. A distribuição foi feita no meio do aparato humano que seguiu a reunião comunitária e ainda assim, todos ajudaram, o que é um excelente começo para atingir qualquer objectivo. É que, mais do que fazer parte da equipa, estas pessoas fazem parte da solução!
“na reunião comunitária, foram diversas as carências apontadas, principalmente ao nível da educação e da saúde”
PORTUGAL
help(o)ing people. Cascais, Joana Lopes Clemente
E
porque não, cultivarmos o sentimento doce (mas volátil), de que podemos mudar o mundo? E porque não, aceitarmos o devaneio simples de que as nossas acções, produzem consequências? E porque não, conferirmos um lugar de destaque à fantasia de que cada um de nós, pode fazer a diferença? É certo que a inocência de se acreditar em determinadas sensações pode ter um custo demasiado alto, efeitos secundários associados à frustração ou à desilusão que, não raras vezes, lhe cortam as asas precoces; à construção sorrateira de um toldo invisível emprestado pelas emoções, e inimigo da objectividade e da eficácia, (um toldo difícil de identificar, impossível de contornar em todos os momentos). Mas não é esta inocência, a capacidade de ousar acreditar no pequeno-grande poder de cada um, que patrocina teimosamente o universo do sonho que sobrevive, discreto, dentro de nós? Não é no cruzamento ínfimo do equilíbrio entre a inocência, a teimosia e a objectividade, que as quimeras rompem o rótulo do irrealizável, e se concretizam? Sem necessidade de metamorfoses embrulhadas em trajes de super-herói, sem costelas emprestadas de animais cujo rebuscado ADN se mistura com o nosso, sem recurso a poderes especiais de qualquer espécie: este apelo é dirigido
a pessoas que sonham e que procuram traçar os trilhos por onde concretizar esses sonhos. Decidimos tirar o dia para acreditar. Patrocinar a ousadia. Fazer um plano para mudar o mundo. Executar os projectos escondidos numa tarde entorpecida. Premiar a crítica construtiva; facultar-lhe uma ferramenta rumo à solução. Acreditar no dom da indignação, na engrenagem do desejo de justiça e na empresa individual do sonho. Apresentar uma alternativa ao alinhamento cinzento-enfadonho do telejornal, invariavelmente à hora certa; invariavelmente recheado de notícias revisitadas. Criar uma hora para além das 24 e desafiar as rotinas encaixadas nos relógios. Decidimos criar percursos variantes, fora do círculo eterno das sentenças e das taxas preocupantes, das taxas erradas por conceito, das taxas demasiado elevadas (taxas-de-deixar-de-sorrir-porque-o-mundo-se-desmorona-enquanto-compomos-o-seu-cenário-na-óptica-do-observador). Decidimos criar uma oficina com o propósito de agir. Uma oficina com morada global, com tantos operários quantas ideias em carteira, e com um nome próprio: Help(o)ing people. A partir do dia 1 de Junho e até ao final do ano de 2009, desafiamos todos aqueles que têm ideias em carteira, a traduzi-las para uma linguagem de projecto.
Help(o)ing people é um concurso de ideias para intervenções na área do apoio social e da Cooperação Internacional. Pretende ser um meio para converter pessoas com boas ideias, em agentes activos na mudança do mundo em que vivemos. O lançamento deste concurso serve, à partida, vários propósitos: por um lado, estendemos o número de agentes que podem contribuir para o alcance da meta que nos move diariamente (tornar o mundo mais humano), a todos aqueles que acalentam esse desejo, sem saberem onde se escondem as oportunidades para o concretizar; por outro lado, sensibilizar toda a sociedade não só para uma necessidade cada vez mais premente e mais urgente de agir, como também para o facto de que a mudança pode começar, de facto, numa só pessoa que encontre uma fórmula de contágio para um comportamento, uma mentalidade, um serviço…aprender com aqueles que nos apoiam, é outro dos objectivos que pretendemos alcançar com este concurso e os seus concorrentes. No website da Associação Helpo estará publicado o regulamento do concurso Help(o)ing People. Fica lançado o repto, fica feito o convite, e fica assim cumprido, o nosso papel. Aguardamos agora pelas ideias que, com hora marcada, local definido e autor encontrado, farão engrenar o motor da mudança, a mudança do nosso mundo.
PORTUGAL
uma questão de (boa) Educação. Cascais, Raquel Pombo
É
na senda da construção de um Mundo em que as disparidades sejam cada vez menos uma constante, que há gestos que assumem proporções de passos de gigante, não pelo desenvolvimento imediato (tarefa impossível no âmbito das ciências humanas) mas pelo potencial de transformação que lhes está inerente. Pelo investimento que são para um futuro mais próspero, mais justo, mais humano, de características globais em que a cidadania é desterritorializada, juntamente com os seus pressupostos, para uma escala mundial. Contudo mudanças desta dimensão, ao nível dos comportamentos e ao nível da mentalidade vigente, são lentas, e só têm resultados efectivos se forem tomadas à escala do indivíduo. Daí que se torne premente a aposta incisiva na educação como estratégia privilegiada para a obtenção dos resultados pretendidos. De difícil definição por aglutinar dois conceitos de larga abrangência e com variadas interpretações, a Educação para o Desenvolvimento (ED) já conta com uma longa história. Iniciou o seu percurso no contexto dos processos de descolonização do pós-guerra e das
campanhas humanitárias que se lhe seguiram. Altura em que o futuro da Humanidade era tido como uma linha ascendente em que o progresso era sinónimo de crescimento económico. As meras descrições da miséria nos países do então chamado “Terceiro Mundo” foram sendo substituídas por análises sobre as causas e as consequências do “desenvolvimento” e do “subdesenvolvimento”. A visão do planeta repartia-se entre Norte, Sul, Este, Oeste. Mas na segunda metade da década de 70 descobrem-se o “norte” no Sul e o “sul” no Norte, pondo-se em causa uma visão simplista e tornando mais clara a ideia de interdependência. Havia ainda problemas graves de desenvolvimento, tanto no Norte como no Sul - assim surgiram os conceitos de “falso desenvolvimento” e de “desenvolvimento autosustentado”. Nos dias que correm, o quadro de referência dos direitos e responsabilidades sociais é cada vez mais uma interacção complexa entre o planeta no seu todo e o local em que habitamos ou em que agimos, o que faz de cada indivíduo um agente na resolução das assimetrias Globais. Partindo deste pressuposto, torna-se
claro que o direito ou melhor dizendo o dever cívico de impelir o desenvolvimento, deve estar presente em cada um de nós. Em Portugal, embora a noção de ED só tenha sido integrada em 1985, os compromissos mundiais estão actualmente a ser levados a cabo e até ao final deste ano deve estar completa a ENED (Estratégia Nacional de Educação para o Desenvolvimento), acompanhando diversos processos internacionais designadamente o do Conselho da Europa, o do Comité de Ajuda ao Desenvolvimento e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico. Acreditamos que as sinergias geradas a partir desta estratégia nos permitem optimizar o trabalho efectuado evitando a repetição de esforços e o desperdício de recursos, permitindo assim caminhar para uma sociedade realmente mais justa. A ED preocupa-se em desvendar as causas estruturais dos problemas globais e locais, das desigualdades e das injustiças, assumindo-se enquanto processo de aprendizagem contínuo que contempla não só a sensibilização mas também a reflexão, a formação e a acção com o objectivo ultimo da transformação social.
MAIS MUNDO
a crise desenvolvida vs. a crise em vias de desenvolvimento. Cascais, Sofia Nobre
A
“famosa” crise internacional desencadeada por uma má gestão de recursos, traduziu-se na falta deles e sobretudo na falta de esperança, no medo e no caos, instalados no Mundo! O aumento das situações de falência que por sua vez levam ao aumento das taxas de desemprego, o aumento efectivo dos pedidos de crédito causado pelo aumento dos endividamentos, a queda do poder de compra e a diminuição do consumo, assumem um papel secundário neste cenário catastrófico. O aumento exponencial nos números da fome é a preocupação primordial, num cenário de urgência do combate à crise; uma crise financeira que já provocou mais de duas centenas de milhões de pobres no Mundo! Se uma criança que nasce num País em Vias de Desenvolvimento, à partida já tem em média 13 vezes mais probabilidades de morrer precocemente do que uma criança nascida num país industrializado, com a chegada da crise, o risco de morte infantil tornar-se-á ainda mais elevado. Calcula-se que a actual crise económica comportará entre 200 mil a 400 mil mortes por ano, devido em grande parte,
à dramática deterioração da situação relativa à subnutrição infantil. Atendendo a este panorama, erradicar a pobreza extrema e a fome no Mundo, parecem um horizonte cada vez mais dificil de alcançar. Ao invés disto, o Banco Mundial, estima que mais de 100 milhões de pessoas já foram empurradas para a “pobreza extrema” nos últimos tempos. O relatório de 2008 sobre “a insegurança alimentar” apresentado pela FAO (Food and Agriculture Organization) é agora, mais que um grito de dor, um grito de alarme! Em vez de diminuir, a percentagem do conjunto dos seres humanos subnutridos, aumenta assustadoramente. Não é por nada que se assiste a protestos indignados da população em países como o Haiti, os Camarões, o Egipto e a Indonésia. O aumento dos preços é chocante e dá apenas uma ideia do que está a acontecer, enquanto milhões continuam a lutar para alimentar as suas famílias. (Em El Salvador, os pobres estão a comer metade do que comiam há um ano atrás). Num país em que a crise já se encontra desenvolvida há
muito, as dificuldades de desenvolvimento são cada vez maiores: o crescimento económico do continente Africano prevê-se que seja de 3% em 2009, longe dos 5,4% registados em 2008. Se a crise fosse um fogo a combater, dir-se-ia que em países subdesenvolvidos o alerta é vermelho, atingido níveis de prioridade máximos! Em Países em Vias de Desenvolvimento, como é o caso da maioria dos países do continente Africano, não existe uma protecção social institucionalizada. Não existem apoios ao desemprego, nem seguros de saúde. Assim, quando um chefe de família perde o trabalho, a casa ou o modo de sustento da família, não há outro recurso porque esse, era o único recurso. Ao nível do ambiente familiar, isto tem um impacto fortíssimo. A preocupação deixa de ser se a criança vai à escola ou se tem algo para vestir, para passar a ser, como alimentá-la! Então o desenvolvimento a que se tem vindo a assistir e pelo qual se tem vindo a lutar, começa a regredir! Isto, para não falar nos efeitos negativos que a crise finan-
ceira Mundial tem vindo a produzir no que diz respeito à tensão política e social, e ao entrave à continuidade dos programas de financiamento. O continente africano recebeu em 2007, pela primeira vez, mais investimento estrangeiro privado (53 mil milhões de dólares) do que ajuda financeira internacional, mas a crise impediu a continuidade dos programas de investimentos. Em África no ano passado a ajuda estrangeira foi de menos 20 mil milhões de dólares que o prometido. Estará esta crise a sensibilizar as pessoas para uma maior entreajuda como seria desejável ou estará a anular cada vez mais a ajuda internacional, a ajuda nacional, a ajuda vizinha? Se a crise económica nos países do norte do mundo tem impacto no nível de vida, nos países do sul do mundo tem impacto NA VIDA, ou ausência dela! É urgente uma mudança de atitude e de comportamentos. É urgente uma política de união em detrimento do “Salve-se quem puder e como puder”. É urgente combater a desesperança que se sobrepõe à racionalidade!
ESTÓRIAS
VENHA SER PADRINHO, ANULE A DISTÂNCIA! Cascais, Raquel Pombo Um dos nossos objectivos comuns enquanto participantes activos deste projecto é a redução da distância entre padrinhos e afilhados, é aproximar Portugal de Moçambique e mais recentemente de São Tomé e Príncipe. No número 3 da mundo h. em Junho de 2008, convidámo-lo a conhecer o seu afilhado e a visitar a província de Nampula onde se encontravam à data todas as crianças apadrinhadas , ou seja, todas as comunidades em que a Helpo operava. Agora e um ano depois desse convite, que é mantido com apreço, temos o prazer de lhe acrescentar vozes… A Helpo cresceu, alargou a acção e com este alargamento aumentaram também os convites para uma visita, aumentou a curiosidade de descobrir quem é que de tão longe lhes proporciona melhorias, tanta felicidade… e aumentaram também os sítios que o convidamos a conhecer este Verão. É portanto a sequela de um convite à província de Nampula, um convite novinho em folha prontinho a estrear para conhecer a província de Pemba em Moçambique, e um pré convite para conhecer a partir de Outubro* as províncias de Lembá e Mé-Zochi em São Tomé e Príncipe, que faz com que estas palavras se ordenem neste papel. Muitos foram os padrinhos que embarcaram nesta experiência, muitos deles já a relataram em edições anteriores desta revista, cada um à sua maneira e com sensibilidades distintas, contudo todos com um denominador comum de alegria e concretização. As emoções serão deixadas para a viagem, para a primeira pessoa do singular, para o aqui em vez de para o lá, para a concretização e não para o plano… Agora, a partir desta página, o desafio não é feito ao coração mas sim à curiosidade, à descoberta… *Devido ao recente início do programa em São Tomé (Março do corrente ano) ainda não estão reunidas as condições necessárias para a recepção dos padrinhos, contudo o convite já está lançado e a partir de Outubro teremos todo o gosto em cumprir a nossa função de anfitriões.
NAMPULA, A SEQUELA
Nampula é uma província de paisagens surpreendentes. Onde as florestas de miombos alternam com enormes cumes de rochas arredondadas e escarpadas. É nesta província que se localiza o Porto de Nacala, um dos maiores Portos naturais do continente africano. Comunidades apoiadas: Ilha de Moçambique, Ilocone, Makasssa, Marrere, Matibane, Maunha, Momola, Munimaca, Nacahe, Namialo, Napacala, Nawitipele, Natchetche, Natoa, Niapala, Saua-Saua, Teacane. Gastronomia: A culinária de Nampula é de uma extrema riqueza devido às influências que recebe quer da cozinha oriental, da cozinha norte africana e até da cozinha europeia. É na Ilha de Moçambique que pode encontrar muitas das iguarias que conjugam estes ramos do saber culinário, que caracterizam Nampula. A matapa, os pratos com camarão de Moçambique ou carangueijo, merecem destaque. Praia de Fernão Veloso. Com localização perto de Nacala esta praia dista 80km para
norte da Ilha de Moçambique. Praia das Chocas e Farol da Ilha de Goa. São praias muito procuradas pelos habitantes de Nampula, devido à proximidade a que se encontram da ilha de Moçambique, como destino de férias. São caracterizadas pelas suas areias claras e pela existência de corais. Apresentam uma fauna rica e variada potenciando uma experiência de mergulho inesquecível, à qual se alia a possibilidade de observação de navios naufragados com séculos de histórias. Convidam ainda a nadar com os golfinhos e nas noites quentes do perído da desova é possível ver tartarugas gigantes a “semear” uma nova geração. Turismo Cultural: Os Macua formam o principal grupo étnico de Moçambique e a sua presença em Nampula é impactante a nível cultural. A observação das suas tradições, arte e costumes constitui uma experiência altamente enriquecedora. Os artigos artesanais como as esculturas de pau-preto e olaria, a produção de artigos de palha como é o caso das peneiras, cestos e as esteiras, são alguns dos exemplos deste artesanato.
O canto e a dança Macuas apresentam relevância cultural, aconselhamos vivamente que sejam observados com atenção e se ceda ao convite do ritmo do corpo para entrar na dança. Ilha de Moçambique. Um dos aspectos culturais que identifica a Ilha de Moçambique é o uso por parte das mulheres, do Musiro, uma máscara de beleza branca, extraída de uma raiz que reveste o rosto e o protege do sol tornando a pele macia e suave, justificação para os rostos pintados de branco, uma das imagens mais famosas e características daquela região considerada Património Mundial da Humanidade decretado pela UNESCO em 1996. O cruzamento secular e histórico de vários povos que ali sucedeu faz com que a importância histórico-cultural da Ilha ultrapasse as fronteiras nacionais. Os pontos de interesse histórico-cultural são vários, do Museu de arte Sacra, à capela Manuelina, Palácio de São Paulo, templo Hindu, Monumento Luís de Camões, Fortaleza de São Sebastião, entre tantos outros. PEMBA, A ESTREIA
A antiga cidade de Porto Amélia, nome herdado da Rainha Portuguesa D. Amélia, é hoje uma cidadezinha aprazível quase adormecida. Foi fundada pelos portugueses no inicio do século XX e actualmente responde à denominação de Pemba, sede de município e capital da província de Cabo Delgado. Situada na Baía de Pemba no Norte de Moçambique, é um importante centro turístico e comercial e uma das regiões mais bonitas da ex-colónia Portuguesa. Em Cabo Delgado pode ainda apreciar-se o modo de vida de três grupos étnicos: a comunidade Macua, que também ocupa toda a província de Nampula; as tribos Macondes que conservam uma relação estreita com os Macondes da Tânzania com os quais partilham diversas tradições, como o comportamento aguerrido, as manifestações artísticas, os batuques e as danças de máscaras; e os Muari Comunidades apoiadas: Pastorelas, Silva Macua, Montepuez. Gastronomia: A culinária moçambicana apresenta características diversas de
região para região, sendo a do norte rica em pratos confeccionados à base de coco, mandioca, peixes diversos (no litoral) e temperos típicos. Paquitequete. É um bairro típico na parte mais antiga da cidade de Pemba, uma zona piscatória que vale a pena visitar com cautela e seguindo o aconselhamento dos nossos técnicos. Wimbe. O Wimbe representa um dos areais mais importantes desta zona, é uma praia de areias brancas onde coabitam as gentes locais e os turistas. Parque Nacional das Quirimbas. Tem a singularidade de ter sido estabelecido em resposta a solicitações das comunidades locais, devendo ser entendido como uma iniciativa “de baixo para cima”, foi classificado de parque nacional em Junho de 2002. Constitui um ponto de paragem obrigatório para os viajantes, composto por um conjunto de 32 fabulosas ilhas que se estendem ao longo de 200km desde Pemba até à foz do rio Rovuma. Este é um verdadeiro paraíso para os ecologistas, uma zona de grande beleza paisagística, enorme biodiversidade de significado mundial e importante património histórico. Se é amante da pesca, do mergulho de praias com areais a perder de vista das quais pode desfrutar sozinho, então está no lugar certo! Turismo Cultural: O centro urbano de Pemba contrasta com um grande bairro de casas típicas, protegidas pela sombra dos embondeiros. Os mercados africanos são sempre locais a visitar. É aí que se pode provar a vida das gentes da terra. O mercado de Pemba tem quase 2km de comprimento e é um local onde se vende um pouco de tudo, do peixe à fruta, passando pelas especiarias ou utilidades. SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, BREVEMENTE (Distritos de Lembá e Mé-Zochi) É uma antiga colónia portuguesa independente desde 1975, cuja economia é baseada essencialmente no cacau, no café, na
pequena agricultura e na pesca. O Arquipélago, de origem vulcânica, é constituído pelas ilhas de São Tomé e pela ilha do Príncipe e ainda por inúmeros ilhéus. Possui uma vegetação exuberante, rica em cursos de água e riachos, tem um relevo acidentado e um clima tropical. Sendo a população santomense resultado da miscigenação entre portugueses e nativos oriundos da costa do Golfo da Guiné, Angola, Cabo Verde e Moçambique, temos justificada a riqueza cultural deste povo, no seu folclore, na língua, na dança, na música, nos rituais e na gastronomia. Comunidades apoiadas: Santa Catarina, Saudade, Bemposta e São José. Cultura: Na área arquitectónica: a fortaleza de São Sebastião, a catedral da Santa Sé, o Palácio Presidencial e o Arquivo Histórico de inspiração barroca são espaços de visita obrigatória. O Museu, situado na capital, possui uma colecção de arte sacra e de reconstituição de interiores tradicionais da época colonial. Natureza: Uma grande parte do arquipélago forma o parque ‘Ôbo’, um parque natural protegido que representa nada mais, nada menos que um terço da superfície do país, ou seja cerca de 300 km². Ôbo significa ‘bosque selvagem, impenetrável’. Existem vários trilhos para descobrir de perto estas paisagens, a maioria destas caminhadas parte de Bom Sucesso. Terá a ocasião de descobrir uma floresta primária densa, algumas roças e cascatas. A não faltar Lagoa Amélia, cratera de um antigo vulcão: com um guia pode andar na cratera sobre uma camada vegetal esponjosa muito densa. Durante as caminhadas podem observar-se algumas orquídeas, dentre as quais muitas são endémicas na ilha de São Tomé, vários pássaros e pequenos macacos. Feito o convite, Faça a mala, a Helpo ajuda com a burocracia, reservas de voos internos, alojamento e transporte para as comunidades e projectos que deseje visitar. Boa Viagem!!!
ESTÓRIAS
MEMÓRIAS E MOMENTOS Nampula, Samir Noorali
Samir Noorali, é o vencedor do concurso Helpo Frames que a Helpo promoveu o ano passado e que teve como principal objectivo desmistificar o Apadrinhamento Crianças à Distancia. Entre vários participantes, o filme do Samir foi aquele que mais impressionou o júri. Através de uma reunião de imagens captadas em território Nacional e em Moçambique, o Samir deu voz e expressão a essas imagens conseguindo passar uma mensagem clara e fiel à realidade. (Poderá visualizar o filme em http://www.vimeo.com/2801047). O Samir foi premiado com uma viagem a Moçambique (gentilmente oferecida à Helpo pela TAP), onde esteve durante o período de um mês com os técnicos da Organização no terreno, em Nampula e em Pemba, a acompanhar o seu trabalho e a tomar parte do seu dia-a-dia e foi com agrado que partilhou um pouco da sua experiência connosco.
M
oçambique sempre teve algo de próximo e distante. Cresci a ouvir as histórias das tardes no Polana, da Laurentina com camarões na praia, dos ceús africanos, as histórias de uma vida com um sentido diferente. Uma vida enraizada no presente, em forte contraste com o dia-a-dia em Portugal onde o peso do passado e do futuro premeia todas as acções. A África da memória imaginada. No final do ano passado foi-me dada a oportunidade de contar uma história de Moçambique, à distância, com material vídeo capturado durante as intervenções/visitas da Helpo às comunidades onde trabalham. Quatro horas de material em bruto filmado em Moçambique, quatro horas de entrevistas em Portugal. À procura de um fio condutor percorri imagens de sorrisos, opiniões, ajuda, prioridades simplificadas, tudo sob um ceú africano carregado e amplo, mais próximo que distante. O resultado está no site da Helpo em www.helpo.pt, (na secção Helpo tv). Meses depois, a história contada permitiu-me atravessar a distância que separava o Moçambique da minha imaginação, sair da sala de montagem, passar para o outro lado da câmara
e aterrar nesta terra tão carregada de memórias portuguesas. Maputo, Pemba, Ilha de Moçambique, Nampula, Murrupula... Agora estamos juntos. Com o acolhimento da equipa da Helpo tenho encontrado vários Moçambiques enquanto a acompanho no processo de ajudar a construir um futuro melhor nas comunidades em que intervêm, sem esquecer de dar alegrias no presente. Educação, sensibilização a cuidados médicos, acesso a água potável, proteínas, uma manta, uma escola... A dádiva da oportunidade de conhecer outros caminhos, algum tempo para cada criança construir/ imaginar a sua história é uma parte do legado desta equipa. A introdução já foi feita e encontro-me agora no princípio do 2º acto deste “regresso” a Moçambique. Não me atrai o turismo da pobreza mas sim a descoberta de outras formas de estar na vida. Aqui, a paisagem humana puxou-me para dentro com o seu calor, com os sorrisos contagiantes e com as agruras. Alguns desses momentos estão registados e acompanham estas palavras, alguns estão guardados na memória e outros virão mais tarde, sob a forma de vídeo quando a distância lhes conseguir dar um sentido. Por enquanto, ainda no presente.
“Com o acolhimento da Helpo (...) acompanho no processo de ajudar a construir um futuro melhor”
MAIS DO QUE PADRINHOS
aCAMPANHA-nos? Cascais, Raquel Pombo
A
solidariedade e, consequentemente, o gesto solidário, são mais do que o prestar um serviço ao próximo, incidem principalmente num comportamento social, um modelo positivo de cidadania que pressupõe o bem-estar comum. A sua manifestação assume diversas formas, desde o voluntariado aos donativos, da sensibilização, ao apoio em géneros. Usualmente o apoio prestado pela Helpo visa um contributo monetário, na medida em que por operarmos em países em vias de desenvolvimento é fundamental que invistamos no desenvolvimento local. Contudo e para confirmar a regra, há excepções. Há determinados bens que muito dificilmente são encontrados no terreno, ou que quando encontrados apresentam um custo muito inflacionado devido à pouca oferta. É nestes casos que se torna vantajosa a recolha em Portugal e o posterior envio via contentor. E aqui chegamos ao motivo deste artigo! Vários são os padrinhos e entidades que têm demonstrado a amplitude da sua solidariedade encabeçando campanhas de recolhas de géneros com destino a Moçambique. Os gestos de solidariedade vêm dos quadrantes mais distintos da sociedade, de particulares a escolas, de fábricas a produtoras cinematográficas. Acreditamos que é através de pequenos gestos que se muda o mundo e agradecemos, em nome do Desenvolvimento, todas essas iniciativas. Acreditamos também que ninguém sai ileso de uma interacção solidária na medida em que é potenciado um momento de partilha pois são cruzados universos de significação criando um “mundo” maior a cada um dos indivíduos envolvidos na interacção. Sentimento este que transparece no depoimento da professora Fátima Antunes Caeiro, que pode ler na caixa desta página, que coordenou uma campanha de recolha de material junto dos seus alunos e Encarregados de Educação.
actual situação difícil do nosso país, da Europa e do próprio mundo. Todavia, se fizermos um pequeno esforço reflexivo, há no mundo milhões de pessoas que (sobre) vivem do nada e praticamente sem nada. Há adultos e crianças para quem não é fácil mudar o curso das suas vidas, para quem ir à escola e aprender é um privilégio, para quem ter uma casa ou algumas condições de vida saudável é quase um sonho. Incomoda-me e aflige-me ouvir os nossos adolescentes queixar-se dos horários escolares, dos TPC que têm para fazer, da falta de tempo para sair com os amigos ou da comida da cantina que não é ao seu gosto, quando, ao invés, há milhões de crianças sem nada e incapazes de lamentar-se… Ajudar com pouco pode fazer muito e o pouco, ainda assim, pode marcar a diferença! Na disciplina de Francês, no 9º ano, o tema da Solidariedade e o trabalho das ONG integra os conteúdos programáticos a trabalhar. Surgiu então a ideia de fazer uma campanha de solidariedade a favor das crianças de Moçambique, ajudadas pela Helpo. Mãos à obra! Lançou-se a campanha na localidade e sensibilizaram-se os alunos e Encarregados de Educação de todos os estabelecimentos do Agrupamento de Escolas de Minde. Na medida das possibilidades de cada um, a contribuição para esta campanha foi generosa e podemos sentir-nos mais «gente com alma», porque estamos a contribuir para a alegria de muitas outras crianças, mesmo que estas estejam a milhares de quilómetros de nós. A todos os que participaram com a sua
boa vontade, com toda a certeza, as crianças de Moçambique agradecem! Para a generosidade e para a solidariedade também «não há longe nem distância»!
Campanha de Solidariedade a favor das crianças de Moçambique Fátima Antunes Caeiro Não sei muito bem por onde começar, ainda que goste imenso de escrever. O assunto não é complicado nem complexo, se considerarmos que há um sem fim de palavras para falar de solidariedade, dádiva, ajuda, amor… contudo, falar de tudo isto usando as nossas acções é tarefa bem mais morosa. Nos dias de hoje, em pleno século XXI, somos bombardeados por um sem fim de palavras relacionadas com a
É no cruzamento desta convicção com a necessidade de investimento na educação sentida em Moçambique, que surge este novo repto, desta vez lançado por nós mas que se estende a um “passe-a-palavra-e-envolva-o-seu-mundo”. A Helpo tem agendada, para o corrente ano, a construção de mais duas bibliotecas em Moçambique (pode consultar o portfolio de projectos da Helpo em http://issuu.com/onghelpo/ docs/portfolio_pt-mz) para as quais se torna imprescindível a recolha do seu recheio, livros! Surge a pergunta, aCAMPANHA-
QUEM HELPA?
a TAP “helpou”. Cascais, Sofia Nobre
O
correspondente ao valor dispendido numa viagem de Lisboa – Maputo e Maputo – Lisboa, permitiria à Helpo fazer uma distribuição de Inverno, que inclui um cobertor, uma peça de roupa da época e uma barra de sabão, a uma comunidade de 200 crianças; permitiria fazer uma distribuição de redes mosquiteiras embebidas em pesticida beneficiando cerca de 360 crianças; permitiria comemorar o dia da criança, num dia repleto de actividades com direito a um pequeno-almoço reforçado, almoço e lanche, com a oferta de um kit com uma t-shirt e um boné para cada, tornando com esta acção, o dia da criança num dia diferente e especial para 350 crianças; e representa ainda 1/6 do valor necessário para a construção de um poço que pode beneficiar uma comunidade até 2500 habitantes. Conscientes deste “peso” que representa para nós o custo de uma viagem para Moçambique que é tão necessária quanto dispendiosa, a TAP “Helpou-nos” e ofereceu a viagem do vencedor do concurso de Edição Helpo Frames promovido durante o ano de 2008, que teve como principal objectivo desmistificar a ideia do Apadrinhamento de Crianças à Distância (ver website www.helpo.pt). A oferta dos voos Lisboa-Maputo e Maputo- Lisboa que nos permitiu presentear o vencedor do concurso, teve um significado especial para nós, pois o termos tido a possibilidade de promover este concurso e presentear o vencedor do mesmo com uma viagem a Moçambique, que permitirá acompanhar o trabalho desenvolvido pelos nossos técnicos no terreno, representa uma enorme mais-valia para nós, no que respeita ao reforço da credibilidade da Helpo junto do público. Por termos conhecimento da dificuldade que representa para as companhias aéreas oferecerem este tipo de contributo e pelos motivos acima apresentados, este apoio adquiriu uma enorme importância para a Helpo e como tal gostaríamos de
agradecer publicamente à TAP este gesto! Além do apoio que representa a oferta desta viagem, a Helpo teve ainda o usufruto, por várias vezes utilizado, de transporte de peso extra nos voos entre Lisboa e Maputo, de forma a pudermos colmatar algumas graves necessidades que enfrentamos no terreno. Para quem ainda não teve oportunidade de ter contacto com a rubrica Estórias deste número, poderá fazê-lo na sequência da leitura deste artigo; o Samir Noorali já se encontra no terreno a acompanhar as nossas actividades e partilhou connosco a sua experiência.
partilhando sorrisos. Cascais, Sofia Nobre
A
responsabilidade social é bem mais do que um acto de caridade: é um dever, é um contribuir para uma sociedade mais justa e equitativa. Essa consciência tem-se vindo a verificar cada vez mais nas estratégias de comunicação delineadas pelas empresas, que utilizam a influência que têm sobre os seus clientes para sensibilizar, educar, chamar a atenção para temas urgentes que necessitam que a comunidade se volte para eles. A somar a isto, muitos dos nossos padrinhos vão ganhando uma sensibilidade acrescida no que respeita a estas problemáticas e procurando outras formas de agir, em todas as áreas das suas vidas. Assim aconteceu com Miguel Leitão, padrinho da Helpo e sócio fundador da DentalToday. A DentalToday, um dos maiores centros de Implantologia em Portugal, sediada em Lisboa, nasceu já sobre um pilar de Responsabilidade Social sólido, cujo lugar de destaque se deveu à consciência dos seus fundadores. Deste modo, além de pretender chegar ao mercado oferecendo um produto diferente que satisfaça as necessidades da população na área dentária, esta empresa pretende ir mais longe e aliar à prestação de serviços que oferece, uma vertente social que consiste no apoio de projectos desenvolvidos pela Helpo. E de que forma a DentalToday pretende helpar-nos? Para poder contribuir de modo constante para os projectos seleccionados, esta empresa pensou em doar 5% da facturação reunida através do seu plano de saúde, à nossa Organização. Por cada adesão ao plano de saúde DentalToday, um dos projectos da Helpo beneficiará de 5% do valor recebido, e no caso desta adesão se fazer por parte de um padrinho da Helpo, além dos 5%, outros 10% irão reverter a favor da Associação. Para premiar a participação no apoio do programa de apadrinhamento, porque é de premiar acções de solidariedade, que trata esta ideia, cada padrinho poderá ter ainda um desconto
Consultório equipado com um dos mais avançados orthopantamografos do país. de 10% na adesão ao plano de saúde e valores especiais adicionais, nos serviços da clínica, bem como dos seus parceiros. A DentalToday já conta com parceiros como a Clínica Atlanta, a Loja de Ortopedia Farchem, o Hospital da Ordem Terceira, Clínicas variadas, Spas e ginásios distribuídos por todo o país. Para obter mais informações sobre este serviço poderá consultar o website da DentalToday em www.dentaltoday.pt. Pretende-se oferecer, com um serviço de qualidade superior a um baixo preço, a possibilidade de se sorrir sem preconceitos. Vamos fazer com que estes sorrisos gerem novos sorrisos àqueles que têm bem menos motivos para sorrir? A DentalToday deixa a proposta, e a Helpo agradece!
i MAIS
cartas de Junho. E stamos no mês de Junho e com ele chegam as tão esperadas cartas dos afilhados. Este momento é, para a grande maioria dos padrinhos, uma altura de expectativas e ansiedades. Receber notícias do afilhado, é sem dúvida, um dos momentos mais importantes do Programa de Apadrinhamento. Porém, alguns Padrinhos gostariam de receber uma carta diferente; ou porque o afilhado ainda não escreve, apenas desenha, ou porque não se nota a evolução dese-
jada ao nível da escrita/desenho, ou simplesmente porque não recebeu as informações porque anseia. Queremos relembrar e reforçar que a elaboração das cartas, não é um processo simples e fácil. As comunidades onde a Helpo opera, são na sua maioria, comunidades distantes e de difícil acesso, pelo que a elaboração das cartas, é feita com antecedência, para que todas as crianças possam participar. No entanto, nem sempre esta participação é total; a criança pode não comparecer
no dia agendado, por motivo de doença ou pode ter-se ausentado temporariamente da comunidade (algumas tradições, como o nojo, podem exigi-lo) o que dificulta esta actividade, prolongando-a por várias semanas. Por outro lado, estamos perante crianças pouco estimuladas e com fracos conhecimentos de vocabulário (é normal uma criança de 12 anos frequentar a 1ª classe e ainda não saber escrever; relembramos que a língua materna não é o português). A grande maioria de-
las, necessita mesmo de ajuda para poderem escrever e, por vezes, até mesmo desenhar, nas primeiras cartas que escrevem. A Helpo sabe o quão importante é este momento e esforça-se por proporcioná-lo da melhor forma. Apelamos, por isso, à vossa compreensão se carta não corresponder às expectativas criadas não só pelas condições acima descritas, mas também pelo esforço que estas crianças fazem para conseguirem levar um pouco do seu mundo até si.
material informático. I nformamos os nossos Padrinhos que nos encontramos a fazer uma reciclagem do nosso material informático Actualmen-
te, temos 7 postos de trabalho com computador, todos eles em situação debilitada. Deste modo, apelamos aos nossos Padrinhos, sejam eles
empresas ou particulares e que tenham computadores novos, semi-novos ou que se encontrem em bom estado, que lhes dêem um novo des-
tino, a Helpo. Agradecemos desde já a vossa colaboração na divulgação deste apelo.
recrutamento para o Programa de Voluntariado Internacional.
D
urante o mês de Setembro, a Helpo irá realizar novo recrutamento para o Programa de Voluntariado Internacional. Os candidatos deverão possuir uma disponibilidade mínima de 10 meses, que se encontra dividida por dois módulos: 4 meses de formação na sede da Helpo, em Cascais e a partida para o terreno, cuja duração
pode ir de um mínimo de 6 meses a um máximo de 12 meses, consoante a vontade do voluntário e as necessidades da Associação. A Associação Helpo recruta dois voluntários de cada vez, embora se reserve o direito, caso considere que os candidatos ao programa não disponham das características pretendidas, de não cumprir esta regra. Os voluntários da
Helpo não são remunerados, contudo não suportam quaisquer custos relacionados com a sua formação durante todo o período de colaboração com a Organização. As viagens, transporte, alimentação e alojamento ficam a cargo da Associação. Assim, todos os interessados deverão remeter-nos o seu Curriculum Vitae, até ao final de Agosto, acompanhado de
uma carta de motivação. Poderão enviar a candidatura para os emails: recrutamento@helpo.pt ou info@helpo. pt. Ou por correio (Associação HELPO, Rua Manuel Joaquim Gama Machado, nº 4, 2750 – 422 Cascais). Se desejar mais informações, pode consultar o nosso site www.helpo.pt ou contactar-nos através do telefone 214844075.
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Morada e Redacção: Rua Manuel Joaquim Gama Machado, nº 4 2750 - 422 Cascais
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