mundo h. nº4

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mundo h. 04 SET.OUT.NOV.08

Ano1 Distribuição Gratuita

MOÇAMBIQUE REINTEGRAÇÃO DE ORFÃOS; S. TOMÉ EDUCAÇÃO TIRADA A FERROS; PORTUGAL 4º ANIVERSÁRIO DA HELPO; MAIS MUNDO SER ÓRFÃO EM DIFERENTES LATITUDES; ESTÓRIAS A MISSÃO DE CUIDAR; MAIS DO QUE PADRINHOS COMUNICAÇÃO APADRINHADA; I MAIS DESAFIO SOLIDÁRIO.


ÍNDICE 3

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EDITORIAL

ESTÓRIAS

helpo, sob o fogo de sagitário.

cuidar no Marrere.

4

MOÇAMBIQUE

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próxima paragem: Nampula.

encurtar a distância rumo ao desenvolvimento. 22

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um presente é uma dádiva.

MAIS DO QUE PADRINHOS do pensamento à acção.

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S. TOMÉ E PRÍNCIPE passos menores que as pernas.

24

i MAIS La Redoute Desafio Solidario. Moçambique a “40 Pés”.

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PORTUGAL 4... 3... 2... 1... Helpo Frames (em dois actos). 13

eu helpo no Verão.

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MAIS MUNDO órfãos.

eu helpo, e tu?


EDITORIAL

HELPO, SOB O FOGO DE SAGITÁRIO Cascais, Carlos J. B. Almeida

N

o papel de membro da Direcção, calhou-me em sorte escrever um artigo sobre o aniversário da Helpo. Ao longo de 4 anos muitas coisas aconteceram, dignas de reportagem, mas ao fazer uma espécie de viagem no tempo, quis a todo o custo evitar uma descrição do passeio cronológico no crescimento desta Associação, que ainda é um bebé. Foi então que me ocorreu uma curiosidade: Será que as organizações também têm signo zodiacal e que as características de uma associação também irão ser influenciadas pela posição em que estão os astros no momento em que esta vê a luz do sol? Não, não sou daquelas pessoas que todas as manhãs passa rapidamente as páginas do jornal de forma a saber o que os astros lhe destinaram para as 24 horas que se aproximam. Não sou um aprendiz de Maya ou de Paulo Cardoso, mas admito que tenho uma certa curiosidade em, por vezes, tentar perceber de que forma é que as características dos diversos signos aparecem espelhadas na personalidade das pessoas que se cruzam comigo. Não sou crente mas também não sou um céptico. Por isso, e tendo a Helpo nascido a 26 de Novembro, tive a curiosidade de pesquisar sobre as características dos Sagitários, tentado estabelecer um paralelismo com aquilo que a nossa Associação representa para mim, e possivelmente para muitos dos nossos padrinhos e amigos. Comecei por ler umas frases curtas que definem os Sagitários: “Não conseguem evitar ser brutalmente honestos; Dizem as coisas exactamente como são; São sábios e farão com que os ouçamos horas a fio; Estão sempre à procura de novos horizontes; Fazem amigos onde quer que vão; Gostam de pessoas espertas e sempre a postos. São óptimos companheiros de viagem; Aventureiros, amam riscos, descobrir e explorar novos horizontes”; “Para o Sagitário, a vida é uma caminhada, uma aventura infinitamente interessante e rica em possibilidades;

Optimistas incuráveis, têm grandes sonhos, aspirações e esperanças para o futuro; Geralmente estão sempre na senda de algum objectivo maior; Também têm uma grande fé e confiança em si mesmos e no que acreditam; Vêem sempre mais adiante quando fracassam nalguma coisa e a sua atitude quase sempre é:...não foi desta vez, mas vou conseguir de outra maneira; Encaram a vida como um jogo amistoso e a sua atitude para com ela é desportista; São extremamente generosos e sentem uma cordial aversão ao que é mesquinho. Compartilham ideais, e são companheiros ideais”. Neste curto percurso que a Helpo tem pelas costas, encontro já algumas similaridades: a transparência, o encarar os problemas de frente, a abertura e frontalidade com os padrinhos, as histórias que os técnicos lhes trazem, vindas directamente do terreno, as aspirações e sonhos sempre maiores (de que são exemplo a abertura de novos escritórios), a disponibilidade para ouvir as propostas de todos aqueles que vêm ao seu encontro, e implementá-las (veja-se a angariação de fundos para a escola de Chigamane encabeçada pela madrinha Adelina Morais, ou a recolha de fundos para o poço de Momola lavada a cabo pelo Faial arrastado pela madrinha Luísa Borges). Apesar do contexto difícil em que nos encontramos, neste Portugal que se encontra desmoralizado pelo fraco crescimento económico dos últimos anos, nada melhor que um nativo de sagitário para conseguir manter o optimismo e a cabeça levantada, por terras onde as adversidades se vestem de outro tipo de preocupação. Além da Organização, os nossos padrinhos estão de parabéns! Todas estas pessoas que têm a energia para compartilhar ideias e lutar pelos mesmos objectivos, têm não só a responsabilidade de terem feito crescer esta Associação, mas sobretudo aquela de terem ajudado a fazer do mundo, um lugar mais humano.


MOÇAMBIQUE

encurtar a distância rumo ao desenvolvimento. Cascais, Joana Lopes Clemente


C

ontra uma quase total falta de meios, a competência, o empenho e a força de vontade são armas inglórias. A Direcção da Mulher e da Acção Social da província de Nampula tem sob sua tutela os casos que exijam uma intervenção ou acompanhamento social em situação de carência extrema, abuso, abandono e outras circunstâncias que representem um risco elevado para a integridade e sobrevivência de cada um, principalmente entre grupos mais fragilizados da população como as crianças e as mulheres; tem também uma equipa dinâmica e motivada, com a qual é possível coordenar esforços e trabalhar em conjunto, com uma total consciência das suas limitações; e finalmente, tem em curso uma luta permanente e desiquilibrada entre as necessidades da população e os recursos, mais que escassos, ao seu alcance. Esta combinação de ingredientes servida num prato forte, feito de uma província com uma dimensão quase tão grande como Portugal Continental e com cerca de 4 milhões de habitantes, coloca estas entidades e sobretudo aqueles que delas dependem, numa situação de enorme fragilidade. Foi a consciência desta fragilidade somada a uma presença sólida da Helpo no terreno, que levou a que uníssemos esforços com os técnicos da Acção Social e começássemos a desenhar uma estratégia de parceria que fortalecesse o trabalho de ambas as partes, evitando uma duplicação de esforços e proporcionando um crescimento mútuo a nível de intervenção. Entre outras iniciativas, nasceu um projecto de reintegração das crianças órfãs

acolhidas pelo Orfanato da cidade, em ambiente familiar. A Helpo apoia este orfanato desde 2007 e teve a oportunidade de acompanhar de perto as crianças residentes, técnicos que as tutelam e problemas que atingem a instituição. O Infantário Provincial de Nampula, nome dado a esta instituição, serve sobretudo de centro de acolhimento a crianças órfãs, abandonadas, ou a crianças cujas famílias deixaram de ter condições para sustentar. Muitas das crianças aqui residentes estão de passagem, a aguardar a descoberta

“o objectivo é conseguir condições, para que as famílias possam receber as crianças” de um familiar distante, ou uma trégua da vida que permita que as suas famílias voltem a ter condições para as receber. O contexto de insegurança (a vários níveis) a que estas crianças são votadas, é particularmente sensível uma vez que aquando da sua reintegração, não existe qualquer mecanismo que permita assegurar que estas foram recebidas num ambiente minimamente digno, que reune condições bá-

sicas de sobrevivência, que frequentam a escola ou que não sofrem abusos no seio da sua nova realidade. Assim, a Helpo, a Acção Social e a Universidade Católica de Nampula, deram as mãos para criar um projecto de acompanhamento das crianças neste processo de reintegração: a Acção Social localiza as famílias de destino e cria espaço, dentro do próprio Infantário Provincial (instituição sob a sua tutela), para a instauração deste projecto; a Universidade Católica cede estagiários que possam, em concordância com a Acção Social e a Helpo, e numa lógica de contenção de custos, colocar em prática a monitorização de cada um dos processos de reintegração; e a Helpo fornece o acompanhamento aos estagiários, o financiamento de kits de reintegração (que permitam suavizar, do ponto de vista económico, o peso que um novo elemento representa no agregado familiar) e subsidia as deslocações in-loco necessárias ao acompanhamento individual de cada processo, nos meses seguintes à reitegração. O objectivo da Helpo é conseguir impor condições mínimas, acordadas com a Acção Social, para que as famílias possam receber as crianças. Entre essas condições contam-se a obrigatoriedade de frequentarem a escola, a possibilidade de durante todo o ano estas crianças poderem ter acesso à alimentação necessária ao seu desenvolvimento, e a necessidade de serem reencaminhadas para serviços médicos em caso de necessidade. O caminho é longo, os passos a concretizar são inúmeros, mas as distâncias serão sempre mais curtas se forem repartidas por quem pretende percorrê-las.


MOÇAMBIQUE

um presente é uma dádiva. Nampula, Patrícia Cunha


E

m Junho o tempo arrefece em Moçambique, chegando o Inverno, não como nós o conhecemos no hemisfério norte, mas de qualquer das formas com umas temperaturas que convidam a um agasalho ao início e ao fim do dia. Assim, e tendo em conta as necessidades das comunidades onde a Helpo está presente, demos início, no decorrer do mês de Junho, à distribuição de vestuário de “época” nas escolas. Em Nampula, o tempo frio dura aproximadamente três meses, de Junho a Agosto. Após um levantamento dos locais onde poderíamos adquirir roupa em grandes quantidades, dado o elevado número de crianças já apadrinhadas pela Helpo, optámos por uma ONG também presente em Nampula, a ADPP (Associação do Povo para o Povo), cujos fundos adquiridos com a venda de roupa usada, proveniente da Europa, revertem a favor dos seus projectos de Educação e Formação de crianças e jovens, com Escolas Profissionais e de Ofícios, onde se aprendem profissões como carpinteiro, electricista, canalizador, entre outras. Levantados os fardos de roupa, de 45 quilos cada, a um preço “negociado”, visto ambas as Organizações serem sem fins lucrativos e o objectivo ser a ajuda mútua, começou o trabalho de separação das cerca de 300 peças de roupa que compõem um fardo e a sua “atribuição” às crianças, de acordo com o sexo e a idade. Para esta tarefa, contámos com a ajuda dos Animadores Sociais de algumas escolas, uma vez que estes, enquanto Professores e Directores Pedagógicos, estão em contacto diário com elas, conhecendo-as melhor do que nós e tendo a noção, muitas vezes não visível na fotografia de apadrinhamento, se a criança é mais ou menos desenvolvida para a idade, tendo em conta que esta pode não corresponder à realidade pois as crianças são, muitas vezes, registadas um ou mais anos após o nascimento.

Durante este processo, algo moroso, acabam por se trocar ideias e partilhar conhecimentos. Experiências de vida diferentes, de quem sonha com um futuro melhor, com menos dificuldades, e de quem busca um presente “real”, com menos facilidades. E no final do trabalho, um lanche bem merecido, tão raro para os africanos e tão usual e necessário para os europeus. Algumas mamãs, que têm crianças mais pequenas, deslocam-se também à escola neste dia, para que ninguém lhes tire as coisas que ganharam no caminho para casa. No entanto, é ne-

“Conseguimos ver a alegria estampada nos rostos das crianças” cessário ir a uma mesma escola no mínimo três vezes, até a distribuição estar completa. Isto acontece também com as cartas e os presentes enviados pelos padrinhos, que “viajam” não só de Portugal para Moçambique, mas também várias vezes, já neste segundo país, até chegarem às mãos de quem pertencem. Outras vezes, acontecem os tais imprevistos tão “previsíveis” em África, que nos obrigam a alterar os nossos planos, servindo o carro Helpo de ambulância, a uma professora que se sentiu mal e desmaiou mesmo antes de nós chegarmos à escola para fazer a distribuição, de “chapa”, dando boleia a pessoas e carga que vão ficando pelo caminho,

ou mesmo de carro da polícia, perseguindo um camião que bateu num autocarro de passageiros, o conhecido “machimbombo”, e se pôs em fuga. Este dia acaba por ser um dia importante pois tanto o dia de aniversário, muitas vezes ignorado, como o dia de Natal passam, ano após ano, despercebidos. Conseguimos ver a alegria estampada nos rostos das crianças, quando ao ouvir o seu nome respondem “presente”, levantando-se e estendendo as mãos gratas, por algo que foi especialmente pensado e trazido para elas. Este momento é realmente uma dádiva, que nos faz pensar que o presente vale a pena e que, por maiores que sejam os objectivos e as metas a alcançar, só este dia justificou todos os esforços passados, ao mesmo tempo que mantém acesos todos os sonhos futuros. Por outro lado, estas distribuições de vestuário, de material escolar, de produtos de higiene, bem como os presentes que estas crianças recebem dos padrinhos, são um estímulo para continuarem a estudar e para os pais colaborarem connosco, aquando do processo de apadrinhamento, facultando os dados e deslocando-se, a maior parte das vezes, à escola neste dia. Vêem, desta forma, “recompensado” o esforço de caminhar quase duas horas até chegar à escola, após outras tantas passadas já na “machamba”, a cultivar e a cortar o capim, e sentem que são especiais para alguém que, mesmo longe, está presente. Afortunadamente para a Helpo, e para nós, este “presente” repete-se várias vezes, nas muitas escolas e com as muitas crianças que apoiamos. No entanto, não podemos esquecer que o presente, especialmente num país que enfrenta inúmeras dificuldades e onde há ainda tantas necessidades básicas, a nível da educação, da saúde, da alimentação, da água e saneamento, é realmente uma dádiva.


SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

passos menores que as pernas. Cascais, Joana Clemente


F

alamos de subdesenvolvimento, de pobreza, de falta de oportunidades e de uma conjuntura que torna aparentemente irremediável o desenho circular destes contextos, sem o vislumbre de uma saída de emergência, de um escape à margem das histórias viciadas de escassez de tudo. Bem sei que é do conhecimento de todos que a pobreza é um flagelo que afecta milhões; que produz condições às quais a grande maioria da população do planeta vive votada; que tem rostos, formas e perfis difíceis de encarar. (“Chover no molhado”, insistir num “lugar comum”?). Também sei que há temas cuja importância extrema deve trazer consigo a imposição de que não se esgotem, nunca. S. Tomé e Príncipe ocupa o 123º lugar entre os países que constam do último relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), no que toca à tabela do Índice de Desenvolvimento Humano. Este índice, que combina dados sobre o rendimento, educação e saúde da população de cada país, (tendo esta última a esperança média de vida à nascença, como indicador), procura fornecer uma perspectiva abrangente sobre o Desenvolvimento, através de uma abordagem integrada do mesmo, conseguida pela conjugação dos elementos referidos. Nesta equação, os dados sobre o acesso a uma educação continuada no tempo são gritantes, e são particularmente preocupantes quando extrapolados da tabela de numeração para o contexto real do país, para o qual se olha além da objectividade acrescentando-se-lhe um vislumbre do futuro embelezado com esperança. No entanto, é difícil compor no imaginário imagens promissoras quando o presente não parece construído para contrariar o passado. 84,9 % da população de S. Tomé e Princípe é iliterada, fragilizando e limitando um processo de empowerment urgente e fundamental para um Desenvolvimento efectivo do país; as condicionantes que daí advêm são inúmeras e a população são-tomense vê-se impossibilidada de participar em pleno num crescimento económico há muito prometido e do qual se vão sentindo pequenos rasgos, em círculos restrictos. A gravidade da situação, não se reporta apenas à actualidade, mas também à incapacidade das urgências em celebrarem uma

sintonia com o calendário e os acontecimentos. O presente não oferece instrumentos capazes de inverter a situação no futuro: a única instituição do país que proporciona a frequência do 12º ano, o IDF (Instituto Diocesano de Formação), é privada, e a propina exigida para a frequência escolar sofreu um aumento na ordem dos 500% (de 240,000 dobras para 1.250,000 dobras). A educação está assim longe de estar ao alcance de todos, e o sonho de um curso superior, grande parte das vezes, não passa disso mesmo. Além dos obstáculos inerentes ao quadro relatado, interpõem-se, no percurso vincado com esforço pelos mais resistentes (ou mais abastados), os obstáculos que vão além da natureza das coisas: os necessários mas incompreensíveis esquemas burocráticos, administrativos, governamentais. No passado mês de Setembro, um grupo de 63 estudantes sãotomenses, constituiu uma vigília à porta da embaixada portuguesa, na esperança de conseguir obter os vistos de estudante que lhes teriam sido negados pelo governo português. Os estudantes em causa tinham a matrícula efectuada em Lisboa e os respectivos termos de responsabilidade, e esperavam poder frequentar uma formação profissional e superior ao abrigo de um acordo celebrado entre a Câmara Distrital de Água Grande e a sua congénere da Maia. Segundo as autoridades portuguesas em S. Tomé, a recusa da atribuição de vistos a estes estudantes prendia-se com o facto da legislação portuguesa em vigor desde 2007 não permitir facultar estes documentos para efeitos de formação profissional a indivíduos com idades superiores a 21 anos de idade (será que aquando da aprovação do referido diploma se verificou qual a média de anos necessária à conclusão da escolaridade liceal neste país?). A somar a todos as pedras no caminho, refira-se mais uma: o facto deste país não ter a dimensão, os recursos ou população em número suficiente, que lhe confira a importância necessária à aparição destas e de outras notícias na comunicação social portuguesa. Por estes motivos e mais alguns, a Helpo procura e procurará fazer contra-peso, abordando repetidamente todos os temas que encaixam numa definição de “importante” à margem dos moldes de colarinho branco, mas à imagem de um mundo “mais humano”: o nosso.


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PORTUGAL

4... 3... 2... 1... Helpo Frames (em 2 Actos). Cascais, Raquel Pombo

E

stamos em contagem decrescente para o dia que marca o crescimento da Helpo. Dia 26 de Novembro celebramos o 4º aniversário da Associação, um dia em que estamos todos de Parabéns! Parabéns pela dedicação, pelo apoio, pelo empenho, pela seriedade e pelo crescimento efectivo que se torna possível levar a cabo por estarmos unidos, padrinhos, voluntários, colaboradores, patrocinadores e funcionários sob um propósito comum: potencializar a melhoria da condição da população e grupos desfavorecidos do Sul do Mundo, na senda do desenvolvimento económico, social e humano partindo da perspectiva comunitária para um âmbito sempre mais global e abrangente; E numa consciencialização efectiva do Norte do Mundo acerca destas problemáticas desenhando um caminho comum que leve à sua resolução. E como todos os aniversários, este também foi preparado de forma especial, um marco na vida da Organização. O caminho não é fácil e é construído em cada passo, por isso e neste 4º aniversário queríamos ilustrar o percurso. Como uma imagem vale mais de mil palavras... queremos muitas imagens, como estar parado não combina com crescimento... queremos movimento, e assim foi, com muitas imagens e movimento está a ser construído um Vídeo da Helpo.

I ACTO Ao longo do primeiro semestre do ano de 2008, pusemos mãos à obra e embarcamos na odisseia de captar todas as peças que constroem o puzzle Helpo. A Escola Profissional Val do Rio, através do Professor Paulo Manuel Martins e do incansável Alex, juntou-se a nós, vestiu a T-shirt “eu helpo e tu?”

(se ainda não conhece pode vê-la na secção imais desta revista) e pôs a câmara ao ombro para que ficasse tudo registado. Efectuámos em conjunto uma recolha de imagens, entrevistas, testemunhos e desabafos junto de padrinhos, patrocinadores, colaboradores, parceiros e beneficiários que todos os dias trabalham para tornar possíveis os projectos de apoio a milhares de pessoas carenciadas. No inicio de Setembro, a Organização lançou a público um concurso para a edição do filme que deverá nascer da montagem das imagens recolhidas. Pretendemos assim dar vida a um conjunto de imagens documentais que sejam capazes de transmitir ao público em geral como se desenrola um programa de apoio e mais especificamente, o que é o programa de Apadrinhamento de Crianças à Distância. Porque este programa está ao alcance de qualquer um de nós e dá a todos os que assim o desejarem um papel interventivo e concreto na luta por um desenvolvimento mais justo; porque este método constitui já um canal de melhoria das condições de vida de milhares de famílias em todo o mundo; porque a única forma de multiplicar o seu impacto positivo é multiplicando o conhecimento acerca da sua existência por parte da população em geral; porque para garantir a continuidade deste tipo de apoio é absolutamente vital que se coloquem as expectativas subjectivas de cada um que pretende ajudar, frente à realidade concreta dos destinatários desta ajuda; porque é um programa desenvolvido por pessoas e pelas pessoas envolvendo expectativas, emoções e realidades contrastantes, facilmente capazes de serem traduzidas por imagens impactantes e esclarecedoras. A receptividade foi muito positiva e acreditamos vir a ter muitas dores de cabeça para seleccionar o vencedor. Por isso esta


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tarefa árdua da selecção foi incumbida a uma equipa de especialistas, entre os quais se encontram um membro da Escola Val do Rio e um membro da Câmara Municipal de Cascais, bem como um membro da Direcção da Helpo. Os resultados serão apurados no dia 12 de Novembro, contudo só serão tornados públicos no dia 25 do mesmo mês... E porquê só no dia 25?

II ACTO A melhor montagem será exibida por ocasião do 4º aniversário da Helpo, assinalado no dia 25 de Novembro de 2008, durante um cocktail no Centro de Congressos do Estoril. O vencedor do concurso será presenteado com uma viagem a Moçambique onde passará o período de um mês com os técnicos da Organização no terreno, a acompanhar o seu trabalho e a tomar parte do seu dia-a-dia. Contudo, não ficámos por aqui, a par da apresentação do referido filme, haverá uma exposição de obras de arte, inspiradas no programa de ACD (Apadrinhamento de Crianças à Distância), que estarão disponíveis para venda. Sendo que todos os proveitos económicos provenientes deste evento reverterão para a Helpo, para o projecto de alargamento do programa de ACD a outros países carenciados. O filme vencedor do concurso e exibido durante o aniversário da Helpo, estará disponível para visionamento no site da Helpo a partir de dia 26 de Novembro, em www.helpo.pt. Este evento contará com o apoio da comunicação social e com a presença de algumas personalidades que dão a cara pelo projecto e darão o seu testemunho sobre a sua participação nos projectos da Organização.




CONVITE É com enorme prazer que convidamos todos os padrinhos a estarem presentes neste evento, para que juntos celebremos o que juntos construímos, neste dia que é tão especial para a organização. Queremos que esta comemoração seja, para além da sua componente “festiva”, um compromisso de continuidade e de crescimento para que daqui a quatro anos quando olhar-mos para trás o caminho percorrido seja ainda mais extenso, o apoio mais eficaz e o desenvolvimento uma realidade mais próxima. Apostar no alargamento do programa de ACD - Apadrinhamento de Crianças à Distância, é fazer com que a ajuda chegue cada vez mais longe, aproximando culturas, optimizando o conhecimento e desenvolvendo relações de companheirismo e entreajuda entre povos. É por todos estes motivos que a sua presença é imprescindível, no dia 25 de Novembro pelas 19h no Centro de Congressos do Estoril, para além de que nunca se viu um aniversariante faltar à sua própria festa de aniversário... Venha dar-se a conhecer, venha conhecer outros padrinhos, venha conhecer as caras que costumam estar atrás do telefone Helpo... Venha festejar connosco este dia tão especial!!!

Agradecemos que confirme a sua presença pelo telefone 21 484 40 75 para que possamos proceder ao envio do convite corpóreo para a sua morada. Até breve, vemo-nos 3ª feira dia 25!!!

MUITO OBRIGADO! Para todo este processo contámos com a ajuda de vários colaboradores sem os quais nada disto seria possível. Assim sendo, queremos deixar aqui o nosso Muito Obrigado à Escola Profissional Val do Rio por ter disponibilizado todos os meios técnicos para a captura dos depoimentos em Portugal, à Fundação Calouste Gulbenkian, e à Fundação Dom Luís pela cedência de espaços para a gravações, assim como a todos os interveniente desde padrinhos a colaboradores, professores e crianças integradas no projecto Veki que despenderam do seu tempo para prestar o seu testemunho do que é fazer parte do mundo Helpo. Agradecemos ainda o grande envolvimento e dedicação da Câmara Municipal de Cascais, o apoio do Centro de Congressos do Estoril e da empresa Irene Ramos Produção de Eventos na planificação e realização do Evento Helpo Frames.




PORTUGAL

eu helpo no Verão. A

Joana é estudante de 11º ano de Ciências Sociais e Económicas, está ligada desde muito cedo ao voluntariado através da Associação Guias de Portugal e este Verão ofereceu-se como voluntária na Helpo. O que te levou a fazer voluntariado durante as férias de Verão? Joana Mello. Nestas férias queria fazer alguma coisa de util, já que tinha três meses de férias havia que ajudar o próximo, a Raquel sugeriu-me esta oportunidade e eu aproveitei. Não conhecia este tipo de trabalho e tornou-se uma experiência muito boa. O que é que ganhas ao fazer voluntariado? O que é que aprendes? Joana Mello. Ganhei a experiência de trabalhar numa Associação, por vezes as pessoas de fora não vêm o trabalho todo que está por detrás. Aprendi a ver a realidade de outro país, que me era desconhecido, nunca pensei que a vida em Moçambique fosse assim. Nunca tinha pensado como é que seria a alimentação das crianças que vivem neste país, com que regularidade tinham refeições e como é que os seus pais ganhavam dinheiro para garantir o sustento da família ou como seria a escola e a habitação destas crianças. Qual é para ti o papel do voluntário? Joana Mello. É ajudar o próximo em troca de alguma coisa. O “em troca de alguma coisa” não precisa de ser um objecto nem uma remuneração financeira, mas sim experiência de vida e novas formas de ver o mundo. Quais eram as tuas principais expectativas? Joana Mello. Eu vim em busca do desconhecido! Não conhecia a Helpo, nem fazia ideia que o Apadrinhamento de crianças à distância existia. O que se concretizou? O que não se con-

cretizou? Joana Melo. Sinto que ganhei experiência de vida. Ainda não concretizei o apadrinhamento de uma criança mas quando poder irei fazê-lo. Como descreves esta experiência? Joana Mello. Esta experiência foi bastante boa. Adorei ter vindo fazer voluntariado para a Helpo, foi uma experiência excelente. É um pouco complicado descrever... Adorei ter vindo fazer voluntariado! O que achas do Apadrinhamento de crianças à distância? Joana Mello. Acho bem e importante.... Se tivermos em conta como a vida corre nos dias de hoje. Bem sei que aqui em Portugal se quero beber água basta-me pegar no copo e abrir a torneira e tenho àgua boa e desinfectada, em Moçambique não é assim, ter um poço para ir buscar àgua é uma “sorte” ... custa-me acreditar nisso mas lá é assim! Aqui em Portugal as pessoas mais necessitadas conseguem ter a ajuda do Banco Alimentar e de outras instituições de solidariedade social, lá as crianças têm a ajuda de um padrinho, o que é optimo para o seu crescimento e educação, têm

um apoio de fora. Tinhas consciência das diferenças que existem entre Portugal e Moçambique? Que discrepancias é que te tocaram mais? Joana Mello. Não, não tinha consciência. As coisas que me tocaram mais foi ter noção das dificuldades que sentem, as doenças, a escacez alimentar, o rendimento escolar e a precaridade das habitações. Qual a mensagem que gostavas deixar a outros jovens que não fazem trabalho voluntariado? Joana Mello. Não estejam a espera de trabalhar só para receber dinheiro em troca. A experiência de vida vale mais do que o dinheiro. Quando dizia aos meus companheiros/ amigos que estava a fazer voluntariado a primeira pergunta era: Quanto é que estás a ganhar? A minha resposta era: Experiência de Vida!! Queres deixar alguma mensagem aos padrinhos da Helpo? Joana Mello. Que continuem a apadrinhar e não desistam, o papel deles na Helpo é muito importante. Os padrinhos fazem os sorrisos das crianças!!


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MAIS MUNDO

órfãos. Cascais, Sofia Nobre




I

nfelizmente a palavra “órfão” ainda não foi erradicada do nosso planeta, nem se prevê que este seja um objectivo a curto prazo dada a sua impossibilidade de concretização. Se muitos dos Objectivos do Milénio fossem atingidos isso diminuiria em parte esta problemática, mas a verdade é que este pensamento não é realista. E a problemática de crianças sem tutores não se encerra na óptica de falta de pai ou mãe, estende-se ao conceito de criança com pai ou mãe que por diversas razões não podem “reclamar” o cuidado dos seus filhos sendo obrigados a deixar estas crianças a cargo de instituições especializadas para o efeito. Em Portugal existem 10800 crianças, com idades compreendidas entre os 0 e 21 anos, que se encontram em acolhimento institucional e familiar, espalhadas por instituições da rede solidária, Segurança Social, Casa do Gaiato e Santa Casa da Misericórdia. No entanto, segundo revelou à agência Lusa a responsável pela área social do Instituto de Segurança Social (ISS), apenas 800 destas crianças reúnem condições para serem adoptadas. A esmagadora maioria das crianças que se encontra actualmente em acolhimento institucional e familiar nunca será adoptada e uma percentagem significativa tem família e deverá voltar para a mesma. Segundo pesquisa efectuada, existem cerca de três mil candidatos para adopção aprovados, sendo que existe uma desproporção enorme entre a procura (muitos candidatos), e o número de crianças em condições de serem adoptadas. Contudo, existem muitas crianças em situação de adoptabilidade, para as quais ainda não foi possível encontrar candidato pois as crianças não preenchem os requisitos pretendidos pelos futuros pais. E assim, os que vão ficando nas instituições têm “mais de sete anos, alguns com características ou problemas de saúde que não correspondem ao perfil desejado pelos candidatos, (crianças até 2/3 anos, de raça caucasiana e sem problemas graves de saúde)”, refe-

rem os técnicos do ISS. Nos Países em Vias de Desenvolvimento aumenta o número de órfãos devido à falta de condições vividas nestes países, e números como mais de 300 mil crianças órfãs que vivem actualmente no Ruanda devido à guerra e ao genocídio ocorrido em 1994, tornam-se assustadoramente impressionantes. Em Moçambique há neste momento um milhão e setecentas mil crianças órfãs em situação de risco, sendo que a esperança média de vida naquele país oscila entre 39 e 45 anos. Uma das causas mais relevantes no aumento deste número é o elevado número de pessoas afectadas pelo VIH/Sida. Em Moçambique, o conceito de órfão ganha outros contornos devido ao variado número de adversidades que caracterizam o dia-a-dia daquele país. Este conceito inclui crianças entre os 0 e os 18 anos, que tenham perdido um ou os dois pais. A distinção entre órfão de VIH/Sida e outros não é realizada, mas a maior parte é afectada pela doença. Entre as crianças afectadas pelo VIH/ Sida contam-se as que cuidam dos pais/encarregados de educação doentes, as crianças rejeitadas devido ao estigma, as crianças chefes de famílias, as crianças que vivem com o VIH/Sida, as crianças que vivem em famílias chefiadas por idosos, as crianças que vivem em comunidades com elevados índices de seroprevalência e as que são órfãs de um ou ambos os pais. Segundo as estatísticas do INE Moçambique, o número de órfãos maternos devido ao VIH/SIDA irá continuar a aumentar substancialmente, alcançando 520 mil até ao ano 2010. Quando me propus escrever este artigo sabia que ele não teria um princípio, meio e fim, como se de uma história se tratasse; que seria apenas a exposição de um acontecimento que afecta o Mundo, onde os números falam por si, sem grandes explicações, e onde a resolução para o problema caminha a par da incerteza para um destino desconhecido, embora existam esforços nesse sentido.


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ESTÓRIAS

CUIDAR NO MARRERE

U

mas férias em 2003 e uma conversa de ocasião com colegas recém-chegados de um período de voluntariado em Lichinga, no Norte de Moçambique, foram o suficiente para deixar semeada uma ideia que Eugénia Oliveira, enfermeira e natural de Gouveia, foi acarinhando ao longo dos anos de serviço que restavam até à reforma. Esta ideia ganhou forma, corpo e vida e a Helpo quer ajudá-la a sobreviver. O primeiro passo é a divulgação da iniciativa, de como nasceu e de como se desenvolveu. A aposentadoria trouxe a Eugénia um tempo extra para ginásio, cinema, convívio com os amigos

e viagens, mas 38 anos de serviço e conhecimento acumulados podiam ser potencializados de formas enriquecedoras para um sem número de pessoas. Um contacto estreito que tinha com um amigo residente em Moçambique, ao serviço da congregação dos Missionários de S. João Baptista, permitiu-lhe queimar etapas e pôr-se a caminho do norte do país, província de Nampula, onde ficaria a prestar serviços como voluntária no Hospital do Marrere (um hospital fora da cidade, inserido num contexto de maior isolamento e ruralidade).




Como imaginava que seria esta experiência e em que e que se revelou distante das suas expectativas? Eugénia Oliveira. Já tinha tido um primeiro contacto com a população durante a minha estadia de férias em Murrupula, mas honestamente não tinha grande opinião formada relativamente à área da saúde nem noção do verdadeiro drama com que viria a deparar-me. A minha integração iniciou-se com a permanência durante um curto período de tempo na consulta externa do Hospital. O contacto com a população sofrendo de tuberculose, o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST), parasitoses, malária etc., contribuíram para que o início tivesse sido muito difícil. Para além deste choque tinha grandes problemas de comunicação, em particular com as mulheres, que geralmente aprendem menos o domínio da língua portuguesa. O contacto diário com a pobreza extrema, doentes descalços e esfomeados, andrajosos… É angustiante depararmo-nos com um quadro tão dilacerante do que é a condição humana em contextos tão carentes. Tive que tomar consciência de que os cuidados de protecção social a doentes são praticamente inexistentes. Quando um doente é hospitalizado, é a família que cuida da higiene, da roupa de cama, da alimentação e qualquer outra necessidade do doente. Os técnicos de saúde não se ocupam de nenhuma destas tarefas. A enfermagem, como profissão, tal como nós enfermeiras a concebemos na Europa, praticamente não existe! Estar ao serviço de alguém, identificar as suas necessidades, dar-lhes resposta, actuar ao nível da prevenção e apoio, não são preocupações aplicadas aqui neste contexto. Dedica-se muito tempo à administração de medicamentos, prescrição e trabalho administrativo e praticamente tudo se resume a esse tipo de tarefas. Tive oportunidade de passar cerca de duas semanas em cada um dos serviços do hospital e constatei isso mesmo. Por um lado, os colegas não assumem aquele tipo de funções como suas, por outro, os recursos são escassos (há só um enfermeiro por enfermaria durante os turnos), os doentes passam fome e outro tipo de necessidades mesmo dentro do hospital. A realidade não é passível de ser comparada...

Eugénia Oliveira. Há que fazer um exercício diário de revisão de conceitos e um esforço por compreender esta realidade, as vivências das pessoas, os costumes, tradições e crenças. Há uma tentação muito grande de recriminar, condenar, fazer juízos de valor em vez de procurar perceber esta realidade cultural. Um exemplo disso são os cuidados na primeira infância, o parto, a gravidez, os primeiros dias das crianças, etc. Em acções de formação sobre planeamento familiar, ouvi crenças e costumes que se diziam em Portugal no tempo dos nossos tetravós. Quando as crianças nascem, não têm nome, não têm uma peça de enxoval, é frequente ficarem 3 ou 4 meses sem nome porque tudo o que se prepare antecipadamente, traz má sorte! Pode exemplificar com casos concretos de situações em que o contexto cultural jogue contra a manutenção da saúde? Eugénia Oliveira. Uma vez uma mamã, com 4 ou 5 filhos e infectada com o vírus da Sida, veio ter comigo com o seu filho recém-nascido. Era um bebé doente com muito baixo peso para a idade. Depois de ter realizado os cuidados necessários perguntei-lhe se achava que valia a pena ter mais filhos, crianças doentes, e aconselhei-a a frequentar o planeamento familiar. Falei com ela, expliquei-lhe de que se tratava, ela compreendeu. No final da conversa perguntei-lhe o que ela achava de ir a uma consulta de planeamento familiar e respondeu-me que não podia dizer sem falar primeiro com o “titio“. Esta é uma situação emblemática do peso que tem a estrutura da família alargada! As decisões nunca são tomadas individualmente ainda que impliquem a vida de alguém, o lado negativo disto é que também nunca desenvolvem competências de autonomia e responsabilização, nem individual nem colectivamente, pelas decisões tomadas, o que acarreta graves consequências. Como é que acabou por desenvolver o projecto que actualmente leva a cabo? Pode falar-nos dele e explicar do que se trata? Eugénia Oliveira. Em Março de 2007 conheci uma mamã seropositiva que teve um bebé, o Justininho. Apareceu a chorar na consulta porque não tinha leite para lhe dar e não sabia o que fazer. O Justino nasceu no dia do meu aniversário, e


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prontifiquei-me para assumir o fornecimento do leite em pó. Ajudei ainda uma outra mãe em circunstâncias idênticas. No desenvolvimento das minhas actividades na consulta comecei a aperceber-me da quantidade de crianças desnutridas e perturbava-me muito não as poder ajudar. Entretanto voltei a Portugal e quando se concretizou o meu regresso pedi para ficar ligada à área da pediatria. Procurei reunir apoios para um grupo de crianças que frequentava a consulta. A ideia era agir rápido e intervir no esclarecimento das mães e alimentação das crianças, para tentar evitar a transmissão vertical do vírus da Sida em crianças filhas de mães infectadas. Um grande número de crianças eram filhas de mães em tratamento com antiretrovirais mas que não estavam clinicamente controladas. Nestas circunstâncias recomenda-se o desmame precoce (aos seis meses) para diminuir o risco de transmissão do vírus. Para a concretização desta recomendação é fundamental assegurar o fornecimento de um leite de transição, caso contrário, as mães vão continuar a amamentar e logicamente a transmitir-lhes o vírus, ensombrando muito o prognóstico das crianças. A reunião de alguns apoios sólidos, nomeadamente de leite em pó e papas e posteriormente do apoio do projecto por parte da APARF, deram-me um novo ânimo e pude alargar a outras famílias com outro tipo de problemas que impediam que as crianças fossem amamentadas (situações relacionadas com mastites puerperais gravíssimas). Neste momento apoiamos mais de 30 crianças e mais de metade são filhas de mães seropositivas. A grande maioria destas crianças tinha baixo peso ou muito baixo peso para a idade. Feita a avaliação neste momento, 22 melhoraram significativamente a situação nutricional. Há algumas situações de crianças que ainda não atingiram o peso ideal apesar de terem recuperado peso. Por vezes nalgumas situações a nossa intervenção é muito limitada, pois temos de esperar que a família concorde com o desmame, pedir para a família vir para conversar, explicar a gravidade da situação para evitar situações conflituosas familiares graves.

Quais são as maiores dificuldades que enfrenta no seu dia-adia? Eugénia Oliveira. A sustentabilidade e continuidade do projecto, que carece de recursos financeiros e humanos. Não consegui que os colegas do hospital olhassem para o projecto como uma mais-valia. A pobreza, a doença e a escassez são conceitos com os quais as pessoas se habituaram a conviver. Apresentei um relatório de resultados ao Director do Hospital, que só então me pare-


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fazer e ter um filho é perfeitamente natural mas não existe a preocupação em dar-lhe condições, para crescer e se desenvolver com o mínimo de qualidade. O valor da vida humana de uma criança é muito baixo e isso é encarado com normalidade: uma mulher pode engravidar 10, 12 vezes para chegar a ficar com cinco filhos vivos. É prioritário desenvolver acções e muito trabalho na área da saúde materna e primeira infância para reduzir as taxas de mortalidade infantil e materna. O que a move? O que é que a faz continuar? Eugénia Oliveira. Os resultados obtidos com esta pequena intervenção (uma gota de água no oceano de necessidades) foram muito compensadores. Conheço as 30 crianças uma por uma e as suas famílias; sinto uma grande gratificação. Tenho consciência da incapacidade em poder ajudar muitas mais mas sei que pelo menos estas não passam fome enquanto estou junto delas. Sempre fui combativa na minha vida profissional, como enfermeira num hospital pediátrico em Coimbra. Confrontada com estas situações não posso ficar indiferente e por isso tenho de me questionar sobre estas dramáticas desigualdades e procurar minorar o sofrimento das crianças. Porque é que as políticas têm as consequências que têm, porque é que uns não têm sequer o básico entre o mais básico e outros têm demais? Esta é só uma tentativa de ajudar, de estar ao serviço de quem precisa, de lhes dar o mínimo de dignidade.

ceu aperceber-se do alcance do projecto. Depois, a barreira da língua, o nível de formação dos próprios colegas, o analfabetismo das mamãs que ficam totalmente dependentes de quem execute tarefas básicas, o desconhecimento de princípios de higiene básicos e o descuido com a disciplina na primeira infância (não há horas para dar de comer às crianças, por exemplo). Há uma grande falta de investimento humano nas crianças;

Até quando é que este projecto vai poder contar consigo? Eugénia Oliveira. Gostaria de continuar, de desenvolver e de consolidar este projecto. Preciso de mais fontes de financiamento, de sensibilizar mais pessoas, porque se este país não se ocupar das crianças, então não terá futuro. Este trabalho não pode centrar-se e cingir-se a uma voluntária; são precisas instalações, recursos e condições. Para os colegas que tinham dúvidas, ficou demonstrado que funciona, agora só temos que encontrar meios para desenvolver e consolidar este projecto de modo a contribuir para o combate à desnutrição infantil porque é uma das principais causas de morte em Moçambique.




ESTÓRIAS

Próxima paragem: Nampula Braga, Luísa Soares de Sousa e José Alfredo




D

esde que decidimos fazer nova visita a Moçambique, ficou assente que não poderíamos desperdiçar a oportunidade de conhecer a Atija, minha afilhada. A partir de então o tempo arrastou-se muito lentamente, pois embora tivesse uma foto da Atija, era enorme a expectativa criada com a perspectiva de a conhecer pessoalmente. Estávamos ainda em Pemba, quando entrámos em contacto com a Helpo em Nampula para acertarmos a nossa visita. Já em Nampula, a equipa da Helpo foi buscar-nos ao Hotel e arrancámos rumo a Momola. A nossa ansiedade era grande e os 25 km percorridos numa viatura 4X4 pareceram-nos muito longos. Finalmente chegámos e lá se encontravam à nossa espera a pequena Atija acompanhada dos seus pais e mana. Ela é muito mais pequena do que me parecia na fotografia, muito envergonhada e mal sabia falar o português, o que tornava a comunicação algo difícil. Mas aqueles olhinhos muito negros não despegavam de mim e ela parecia uma boneca com as suas vestes de gala. Tentei uma aproximação, mas devido à sua timidez não conseguia entabular conversa apesar dos incentivos dos pais. A minha conquista foi concretizada através de uma linda boneca, com mudas de roupa que eu levava comigo como sua prenda pessoal. Aí, ela não resistiu; os seus olhos cintilaram e um minuto depois a Atija, a sua irmã Joaquina e outras pequenas suas companheiras, brincavam encantadas com a boneca, e já totalmente descontraídas. Foi enorme a nossa comoção ao ver como aqueles olhos brilhavam como estrelas, de tanta alegria, por poderem brincar com uma simples boneca. Com o passar do tempo, a timidez da Atija foi desaparecendo e os nossos diálogos evoluiram. Às tantas, a sua mãozinha na minha, e a Atija quis mostrar-me a sua sala de aula e a carteira onde ela se sentava. Já conduzidos pelo Hugo, (Gestor de Zona da Helpo em Moçambique), fomos conhecer todo o complexo escolar: instalações muito válidas, construídas com a preciosa ajuda de várias entidades e particulares e que nos surpreenderam muito agradavelmente, por conhecermos a realidade do sector e as carências existentes nas aldeias à volta dos centros urbanos. Tivémos também o prazer de ver, a poucos passos da escola, o

poço de Nossa Senhora de Fátima, obra igualmente resultante de donativos importantes feitos à Helpo . Toda a comunidade residente nas imediações da escola aí se abastece de água potável, quando antes se viam obrigados a percorrer quilómetros para aceder a esse bem tão essencial como precioso. Não posso deixar de me referir à simpatia do animador e intérprete, o Gonçalves, sempre preocupado em prestar-nos todas as informações relativas à escola, ao mesmo tempo que sempre atencioso para com as crianças e seus pais. Esta visita estava a ser, para nós, plena de emoções e mais emocionados ainda ficámos quando os pais da Atija nos ofereceram umas colheres e um pilão em madeira, feitos pelo próprio pai, e ainda um enorme cacho de bananas. Além de tudo, ainda nos honraram com um convite para visitarmos a sua casa. A casa ficava a uma curta distância da escola, em caminho no nosso percurso de regresso. E foi assim que fomos visitar a casa onde mora a minha afilhada (muito modesta, mas bonita e limpa). Simplesmente adorámos, e não nos foi possível evitar uma lágrima debaixo da pestana ao vermos tanta simplicidade, dignidade e grandeza de alma. Foram horas de um são convívio, que passaram num abrir e fechar de olhos. A despedida foi triste mas ficou-nos uma grande vontade de regrassarmos para uma nova visita, muito brevemente. Quero destacar a grande importância que a Helpo tem nesta e noutras escolas e é comevedor observar o carinho com que os técnicos tratam os pequenitos. É igualmente muito gratificante apreciar como esses mesmos pequenitos correspondem ao seu afecto. No dia seguinte fomos convidados a almoçar nas instalações da Helpo, em Nampula, onde tivemos o prazer de conhecer os restantes membros da equipa. Assim, foi-nos possível familiarizar-nos com toda a logística desta Associação, que não tem mãos a medir para conseguir chegar, e bem, de modo a acudir às necessidades mais prementes daqueles que tanto precisam. Como o nosso avião partia ao final da tarde, os nossos amigos Helpos levaram-nos a visitar mais escolas e infantários e…que bonito trabalho fazem! Bem hajam os Hugos, as Joanas, as Anas Luísas e as Saras por tudo o que fazem e dão de si próprios. E que haja sempre muitos mais padrinhos e madrinhas para ajudar.




ESTÓRIAS

Devolver o que recebi Nampula, Patrícia Cunha

A

pós seis meses de voluntariado com a Helpo, em Nampula, deixo de ser “caloira” e acolho agora os novos voluntários que chegam ao terreno. Recordo as minhas motivações e expectativas quando, no início do ano, também eu embarquei neste projecto. Vêmme à memória as primeiras impressões, o calor e o cheiro de África que me abraçaram à chegada, o “encantamento” dos primeiros encontros com as crianças e os lugares, o irremediável choque cultural, as dificuldades iniciais, a adaptação... Tento recuperar estes momentos, de modo a partilhar e a “devolver” o que recebi desta terra e desta gente. Terra imensa, onde tudo “estica” e do pouco se faz muito; terra “bantu”, de e para as pessoas, também elas grandes de coração; terra matrilinear, onde “o fruto pertence ao dono do saco”; terra “vermelha” e quente, que nos seduz e nos prende de maneira inexplicável. Gente “cansada”, de sofrer, de promessas, de ser esquecida; gente “móvel”, para quem nem o nome é algo fixo e adquirido; gente “macua”, simples e sábia, que não tem medo de viver no presente, que ocupa o seu papel na sociedade e o respeita, sabendo “meter-se” no seu lugar, que aprende com os mais velhos e com os antepassados, aceitando que tudo o que se iniciou tem de se finalizar. Por outro lado, apesar de acabarmos sempre por receber muito mais do que aquilo que damos, não nos podemos esquecer que enveredámos por este caminho com um propósito maior do que uma simples, mas também importante, experiência intercultural. Assim, também nós, enquanto voluntários europeus que continuamos a ser, apesar de estarmos em África e por melhor que seja a nossa capacidade de adaptação, temos algo para fazer e “devolver” a esta terra e a esta gente, sabendo pôr-nos igualmente no nosso lugar. Neste momento, como “veterana”, e tendo sempre em mente o que me levou a estar aqui, arrisco partilhar algumas atitudes e sentimentos que me acompanharam ao longo desta caminhada, enquanto voluntária. Apesar de saber que não vou mudar o mundo, e muito menos as pessoas, sei também que sou parte integrante e responsável deste, podendo contribuir de forma activa para melhorar a vida das crianças que, por terem nascido do lado “pobre” do globo, não têm, a maioria das vezes, as mesmas oportunidades que nós. Assim, há palavras que devemos ter sempre presentes: Radicalidade, tenacidade, persistência – partimos com um objectivo, para um local a onze mil quilómetros de distância, devendo lutar até ao fim para o alcançar e não desanimar nem desistir perante os inúmeros obstáculos com que nos deparamos, incluindo o facto de estarmos longe de casa, da família e dos amigos;

Aprendizagem, experiência, abertura – temos de aproveitar a oportunidade de estarmos no terreno para absorvermos todo o conhecimento, prático, que esta nos pode oferecer, devendo ser suficientemente humildes e “abertos” à diferença e ao inesperado; Respeito, tolerância – não só para com as pessoas locais, com quem nos vamos cruzar e trabalhar, mas também para com as pessoas que fazem parte da Helpo e com quem vamos partilhar tudo: casa, refeições, momentos laborais e de lazer, alturas felizes e outras mais difíceis; Responsabilidade, trabalho – costuma dizer-se que sem trabalho não se consegue alcançar aquilo a que nos propomos, por isso não podemos esquecer que, apesar de um projecto de voluntariado deste género não ser só “trabalho” pois tem também presente a componente de desenvolvimento pessoal, de grupo (viver e trabalhar em equipa), bem como o contacto e o convívio com a comunidade local, há tarefas a cumprir e metas a alcançar, devendo o voluntariado ser sempre encarado de forma responsável; Solidariedade, disponibilidade – estando atentos ao que nos rodeia, poderemos perceber quantas pessoas, dentro e fora de casa, precisam da nossa “ajuda”, da nossa capacidade de escuta, do nosso olhar compreensivo, dos nossos gestos disponíveis, do nosso sorriso e, acima de tudo, do nosso tempo. Posto isto, só me resta dar as boas vindas aos nossos principiantes e cooperar para que a sua experiência de voluntariado seja tão ou mais gratificante que aquela que eu vivi.




MAIS DO QUE PADRINHOS

do pensamento à acção. O José Vicente, que demonstra o seu espírito jovem afirmando não ter mais de 30 anos, é Media buyer Director na Havas Media, mora em Cascais e é padrinho de uma criança pela Helpo. A Teresa Lopes é Business Developer na One-to-one, tem 43 anos e apesar de ainda não fazer parte do Programa da Apadrinhamento à Distância encontrou outra forma de ajudar que tem uma importância igualmente relevante, uma vez que a Helpo desenvolve projectos de desenvolvimento comunitário para além do Apadrinhamento e precisa de fundos para que os mesmos possam tomar forma. Para isso, a Teresa, com a equipa da One to One, desenvolveu uma campanha com o objectivo de difundir a imagem da Helpo e procurar outras formas de apoio para além do apadrinhamento e o José encontrou os meios para que essa mesma campanha fosse para o ar e atingisse o público em geral. Dada a importância da acção e iniciativa, sim porque importa referir que a iniciativa partiu de sua vontade própria, considerámos relevante realizar uma entrevista onde podemos perceber quais as suas motivações, conselhos para outras formas de ajudar e aprender um pouco mais com eles.


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ção (que não falta) de chegar onde deve: ao coração! Perante tantas carências a nível mundial, fica o sentimento “confortável” de que “não sou eu que vou conseguir mudar o mundo”. E as pessoas demitem-se da sua obrigação de contribuir para um mundo melhor. Acredito que se conseguirmos, com a nossa campanha e com iniciativas como a que estamos a implementar com a La Redoute (a decorrer em Setembro), levar a mensagem da Helpo a mais e mais portugueses, e vencer a barreira da indiferença, estaremos certamente a contribuir para construir um mundo mais humano. Afinal, ser humano é também ser responsável. José, o que o levou a criar outras formas de ajudar para além do apadrinhamento? José Vicente. Achei que a minha singela contribuição era muito pouco e que com um pequeno esforço e com o que tinha à minha mercê, devido aos meus contactos profissionais , podia realmente ajudar não apenas uma criança mas umas dezenas ou centenas de crianças.

Como tiveram conhecimento da Helpo? José Vicente. Tive conhecimento da Helpo através da minha filha Joana, que é amiga de um amigo da Joana clemente. Teresa Lopes. Foi através do José Vicente, que acarinha a vossa organização de uma forma muito especial e isso é contagiante. O que os motiva a ajudar a Associação? José Vicente. Inspiraram-me confiança , gostei das pessoas e das boas intenções. Teresa Lopes. No meu caso, para além de ser naturalmente sensível a causas sociais, encontrei na Helpo dois aspectos que me tocam particularmente: - o facto de estarmos a ajudar crianças, criando condições para que sejam mais felizes enquanto crianças e para que possam tornar-se adultos mais capazes, garantindo um futuro melhor para o seu país; - o facto de eu própria ter passado a minha infância em Moçambique, na cidade de Nampula, reforça ainda mais a minha afinidade com a causa. Seria impossível ficar indiferente... Em que medidade consideram que o vosso contributo ajuda a construir um Mundo mais humano? José Vicente. É essencial a consciencialização das pessoas para ajudarem quem precisa , porque em tempos pensei em apadrinhar uma criança e trazê-la para casa ao fim de semana mas não o fiz , decidi -me assim pelo apadrinhamento à distância. Teresa Lopes. Acredito que muitas pessoas não colaboram neste tipo de causas por inércia. E na verdade as pessoas acabam por ouvir tanta desgraça todos os dias na televisão, nos jornais... que acabam por ficar imunes ao sofrimento alheio. Acaba por se criar um escudo protector que impede a informa-

Teresa, visto não ser madrinha da Helpo o que a levou a ter uma participação tão activa não estando emocionalmente ligada a este projecto? Teresa Lopes. Conheci a Helpo há relativamente pouco tempo e ainda não me consegui mobilizar para apadrinhar, mas quero fazê-lo. Aliás, não será a primeira vez que o faço, através de outras associações. A ligação emocional a este projecto surgiu desde o primeiro momento, pela afinidade com a causa e também pelas raízes que tenho em Moçambique. E a One to One tem também uma postura de responsabilidade social, pelo que o nosso envolvimento nunca foi questionado. Queremos ajudar... e toda a equipa está envolvida nesta causa. Para vocês, qual a importância da comunicação numa Organização deste género? José Vicente. É essencial a comunicação e de preferência uma boa comunicação, que desperte as pessoas. Segundo estudos, somos bombardeados com 5 mil mensagens publicitárias por dia, não são só os da televisão, mas todos os logótipos que vemos por dia, começa pela marca do despertador e acaba na marca do despertador, daí que qualquer organização com ou sem fins lucrativos tenha que comunicar desde que queira “vender” qualquer coisa. “Se tiveres um produto para vender e não lhe fizeres publicidade, é como piscar o olho a uma miúda no escuro, só tu é que sabes”. Teresa Lopes. A comunicação é fundamental em tudo nesta vida. E numa Organização como a Helpo assume um papel ainda mais determinante. Tem de ser capaz de provocar e mexer com as consciências. Fazer as pessoas pensar... e levá-las a querer saber mais sobre a causa. Só assim, poderemos conquistar mais apoios. E, muito importante, fazer com que uma pessoa que tome conhecimento desta causa a partilhe com terceiros. A experiência do apadrinhamento é algo que mexe com as emoções, dá uma sensação de protecção e intervenção de que os “padrinhos” se orgulham. Queremos que essa experiência seja partilhada. A comunicação pode ser desencadeada por nós, mas o fantástico será conseguir que a mensagem ganhe vida própria e se espalhe, através do passa-palavra (a forma de


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comunicação mais poderosa!). Teresa, o que a levou a conceber esta campanha? Quer explicar a associação entre a imagem e texto e o paralelismo com a realidade? Teresa Lopes. Quisemos criar uma campanha que provocasse. Que não fosse mais uma mensagem pela negativa. O conceito criativo desta campanha não é da minha autoria, mas de uma dupla criativa da One to One (a Alexandra e a Filipa) que traduziu muito bem a mensagem que queríamos passar. A ideia partiu do paralelismo entre a nossa realidade “confortável e desenvolvida” e a realidade das crianças de Moçambique, a quem tudo falta. “Aqui são formados os novos administradores de bancos” é o headline do primeiro anúncio a divulgar. A imagem (uma “sala” de aula sem quaisquer condições) contrasta com a perspectiva da “alta administração”, e o texto confirma o contraste: os bancos aqui são troncos e o que se administra são os fracos recursos. Mas mudar está nas mãos de cada um de nós! O slogan “O nosso mundo é humano. E o seu?” funciona como a provocação final. Que mais valias pessoais e profissionais adquiriram com esta intervenção a favor da Helpo? José Vicente. É sempre bom colocarmo-nos à prova e às pessoas com que lidamos, trabalhar pró-bono não é para todas as consciências e à que abaná-las e nesse aspecto temos muitas e boas surpresas. Teresa Lopes. Está a ser uma experiência muito rica, especialmente a procura de ideias e de outros parceiros que possam trazer novas formas de apoio. A título pessoal, confesso que me preenche. O sucesso para a Helpo será sempre a melhor das compensações. Qual o impacto temporal que esta iniciativa provoca no vosso quotidiano? É dificil gerir o tempo despendido? José Vicente. Decidi já à uns tempos tentar dar 10% do meu tempo para ajudar , daí , como já tinha a decisão tomada , foi fácil. Teresa Lopes. É verdade que esta acção representou um sobreesforço não só para mim, mas para toda a equipa envolvida. Numa actividade em que já é normal lutarmos diariamente contra o tempo, este nosso envolvimento veio complicar um pouco mais o fluxo de trabalho. Mas, na verdade, é um sacrifício que todos fazemos com um sorriso, porque toda a equipa se revê nesta causa. Consideram possível a intervenção de outras áreas em beneficio da Helpo? José Vicente. Todas as pessoas podem ajudar , vocês podem criar um marketing de rede às pessoas que já apadrinham crianças , que conhecem a Helpo , a podem recomendar e que são da “velha economia “( não têm e-mail ). Vocês podem enviar uns folhetos por correio com uma carta explicativa, a pedir para as pessoas os distribuírem por amigos , na farmácia , na mercearia , na bomba da gasolina , no infantário dos filhos, etc. Se tiverem 1000 padrinhos e enviarem 30 folhetos para cada um ( e eles os distribuírem ) são 30 mil folhetos , ou seja

30 mil pessoas contactadas.Quanto às pessoas da nova economia ( as que têm e-mail ) devia ser feita uma newsletter mensal que vocês enviariam aos padrinhos e eles reenviariam aos seus amigos e conhecidos , criar-se-ia assim uma cadeia. Agradeço também a vossa disponibilidade para trabalharem em algo que acrescente valor humano à sociedade. É que nós somos culpados também por aquilo que não fazemos. Teresa Lopes. Claro que sim. Quando se quer ajudar, encontrase sempre a melhor forma. É importante, em primeiro lugar, que se saiba que a Helpo existe, que desenvolve um trabalho notável... Para isso estamos cá nós e os muitos parceiros que, com o excelente trabalho do José Vicente, já aceitaram colaborar na divulgação da nossa campanha. Esperemos que muitas outras empresas encontrem a sua forma de colaborar. Sejamos (todos) criativos! E para terminar, o que aconselham, ou seja, como poderão as pessoas ajudar para alem do apadrinhamento? Teresa Lopes. A recolha de fundos é essencial para que a Helpo possa levar a cabo os objectivos a que se propõe. Se é através do apadrinhamento ou através de donativos, isso não é relevante. O importante é que as pessoas e as empresas se mobilizem para apoiar. E no que toca a empresas, nunca é demais lembrar que é possível valorizar a imagem da própria empresa, associando-se a esta causa tão nobre e implementando iniciativas comerciais que possam reverter, no todo ou em parte, para a Helpo. Outras formas de ajudar poderão ser as ofertas de materiais, como livros, computadores... Poderá a Helpo, melhor do que ninguém, esclarecer que tipo de ofertas farão mais falta. Mas desculpas para não ajudar... não temos!


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i MAIS

La Redoute Desafio Solidário

I

Investindo numa campanha de regresso às aulas com intervenção social, a La Redoute vestiu a camisola da Helpo e desafiou os seus clientes de palmo e meio a pintarem uma t-shirt inspirada na escola. Contudo esta proposta está inserida num projecto ainda mais lato... Os participantes são convidados a descobrir como é a escola em diversos pontos do mundo e a desenvolver

o seu potencial criativo e consciência global. As propostas de ilustração foram recolhidas até dia 31 de Outubro e as três T-shirts selecciondas serão colocadas à venda em laredoute.pt, os lucros das suas vendas irão reverter a favor da Helpo em projectos de apoio à educação em Moçambique. Os resultados saem já dia 12 de Novembro, como será que estes pequenos artistas vestiram a escola?

Moçambique a “40 Pés”!

A

Apostando na redução da distância no apadrinhamento, seguiu no passado dia 15 de Outubro um contentor de 40 pés de material escolar, bens de higiene, roupa, livros e

brinquedos, para o porto de Napacala em Nampula. O material escolar recolhido permitirá uma maior eficácia do ensino, garantindo as condições minímas a todas as crianças das comunidades inseridas no

programa de Apadrinhamento de Crianças à Distância. Os presentes dos padrinhos chegarão às comunidades no Natal, é com ansiedade que esperamos as reacções de cada criança ao receber o

seu presente, mostrando que é possível partilhar emoções à distância e que comparado com o tamanho do contentamento, Portugal e Moçambique ficam muito, mas mesmo muito perto.

eu helpo e tu?

J

á duas vezes anunciadas, é agora que as T-shirts Helpo mostram a cara, faça a sua escolha e vista a camisola!

Preços para os três modelos disponíveis (tamanhos S, M, L, e XL, no caso da t-shirt de Homem). T-shirt clássica senhora: 14,90€, Top Senho-

ra: 12,90€, T-shirt homem: 14,90€. Para comprar a t-shirt Helpo poderá faze-lo através do nosso site (www.helpo.pt), via telefone (214844075) ou

ainda por email (info@helpo. pt), sendo que as receitas que advêm das suas vendas, revertem a favor dos projectos Helpo.


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FICHA TÉCNICA

Entidade Proprietária e Editor

Correspondente em África

Associação Helpo

Hugo Neto

Morada e Redacção: Rua Manuel Joaquim Gama Machado, nº 4 2750 - 422 Cascais

Design

Director Responsável

Ilustração

Carlos José Bernardo Almeida

Luís Nascimento

Directora Editorial

Joana Clemente Nº de registo no ICS: 124771 Tiragem: 3750 exemplares

Codex - Design e Relações Públicas

Informações: Associação Helpo

Tel.: 214844075 Fax: 214843154 info@helpo.pt www.helpo.pt

Periodicidade:

Trimestral NIF: 507136845 Depósito Legal: 232622/05 Impressão

Linha Criativa

Rua João Chagas, nº 59 piso 1 esq.1495-073 Algés Redacção Portuguesa

Sofia Nobre (secretária de redacção) Joana Clemente Margarida Assunção Raquel Pombo Colaboradores neste número

Carlos José B. Almeida Eugénia Oliveira Joana Clemente Joana Mello José Querido Vicente Patrícia Cunha Raquel Pombo Sofia Nobre Teresa Lopes

A responsabilidade dos artigos é dos seus autores. A redacção responsabiliza-se pelos artigos sem assinatura. Para a reprodução dos artigos da revista mundo h, integral ou parte, contactar a redacção através de: info@helpo.pt.


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