mundo h. 02 MAR.ABR.MAI.08
Ano1 Distribuição Gratuita
MOÇAMBIQUE ALÉM DAS COMUNIDADES; S. TOMÉ ANTES DA INTERVENÇÃO; PORTUGAL DIVERSIDADE CULTURAL NA ESCOLA; MAIS MUNDO GRAVIDEZ E MORTALIDADE; ESTÓRIAS THE BRIGHT SIDE OF LIFE; MAIS DO QUE PADRINHOS HELPO DESLOCA-SE AO FAIAL; I MAIS HELPO NA PLATAFORMA DAS ONGD.
ÍNDICE 3
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EDITORIAL
ESTÓRIAS
ao subir a montanha.
turbilhão de sensações na chegada das voluntárias ao terreno.
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MOÇAMBIQUE dar a mão a quem precisa, para além das comunidades rurais.
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“always look at the bright side of life.” 22
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abrindo mais portas para melhor conhecer as carências.
MAIS DO QUE PADRINHOS a helpo desloca-se à ilha do faial para mais um evento local.
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S. TOMÉ E PRÍNCIPE
24
perfil de um país à espera de apoio.
i MAIS
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PORTUGAL a diversidade cultural.
eu helpo, e tu? integração na plataforma das ONGD. espaço padrinhos. 25
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o projecto veki nas nossas vidas.
world runday. nuno markl e a loja do cão azul.
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26
quando as necessidades e as expectativas se cruzam.
contentor segue viagem.
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MAIS MUNDO gravidez precoce e mortalidade no parto.
voluntariado internacional continua.
EDITORIAL
AO SUBIR A MONTANHA Cascais, Joana Clemente
Q
uando se empreende a escalada de uma montanha íngreme e interminável, não se espera encontrar no percurso planícies amplas e descidas suaves. O mesmo acontece quando um grupo de pessoas se compromete a intervir a favor de pequenas mas profundas mudanças no estado do mundo. Além dos inúmeros obstáculos e imprevistos que vão compondo o caminho, o tempo é quase sempre um inimigo a combater; a escassez do tempo de que dispomos é medida pelas estatísticas relativas ao abandono escolar, à subnutrição, às vítimas de catástrofes naturais, à orfandade e às causas de morte da população. Por esse motivo, não há tempo a perder. O tempo é demasiado escasso e o mundo é demasiado vasto. Assim, mal recuperámos o fôlego das profundas transformações ocorridas no interior na nossa Organização, e já contamos os poucos passos que nos separam de uma nova zona de intervenção: S. Tomé e Príncipe. Neste número introduzimos parte dos resultados de um primeiro estudo de diagnóstico efectuado. Queremos aproximar esta realidade dos nossos padrinhos, queremos apresentar-lhes uma outra face deste país. Uma face menos exposta, menos publicitada, menos glamourosa, mas muito mais real. Queremos que S. Tomé e Príncipe passe a ser, para nós, mais do que um belíssimo país perdido entre a imensidão do atlântico e espraiado ao largo do continente africano; mais do que um povo afável que fala português e que acolhe a lusofonia
como uma esperança de conexão ao resto do mundo; mais do que um destino turístico que figura entre os paraísos perdidos que têm tanto de exótico como de estranhamente familiar. S. Tomé passará a ser também o nome que abarca os números dramáticos relativamente ao absentismo escolar e falta de vagas no ensino avançado, à violência doméstica, aos maus tratos a crianças e idosos, ao desemprego, ao rendimento individual. Às imagens de paisagens que chegam até nós através das revistas de turismo, livros editados por viajantes e documentários do travel channel, juntar-se-ão as imagens das escolas improvisadas, das famílias expectantes e os rostos de centenas de crianças que encontraram na Helpo e nos seus padrinhos o vislumbre de uma vida mais à medida dos seus sonhos simples. Junto dos padrinhos portugueses, a Helpo encontra um apoio diário e concreto que se traduz no poder de gerar pequenas grandes transformações nas vidas de milhares de pessoas. A Helpo acredita que ter esse poder, é ter também a responsabilidade não só de usá-lo como de multiplicá-lo. Afinal, as crianças que vivem em situações de carência extrema não cabem nos limites de um número que não chega para nos mostrar o peso real das suas necessidades básicas por preencher. É esta imensidão de mundo que vive em dias de quase nada que nos faz estender a intervenção a mais um país, procurando minimizar a altura da montanha impossível que continuamos a descobrir, subindo, numa luta em que tentamos fazer do tempo, um aliado, correndo juntamente com ele na direcção daqueles que precisam de nós.
MOÇAMBIQUE
dar a mão a quem precisa, para além das comunidades rurais. Nampula, Raquel Roldão
E
m Julho de 2007 a Helpo deu início à integração de Centros Indirectos da província de Nampula, nos seus programas de apoio. Começou por apadrinhar 3 Centros: A Associação dos Amigos da ilha de Moçambique onde identificou 421 crianças em situação de vulnerabilidade, o orfanato Evanjáfrica onde encontrou 44 crianças nestas condições, e o Infantário Provincial onde das 20 crianças acolhidas, apadrinhámos 14. A Associação dos amigos da Ilha de Moçambique desenvolve vários projectos ao nível da saúde, educação e formação, criados consoante as necessidades das comunidades. As 421 crianças apadrinhadas nesta instituição frequentam 4 escolas primárias diferentes e 6 escolinhas (ensino préprimário). Ao longo deste tempo visitámos várias vezes a Ilha, passeámos pelos bairros, observamos a forma de viver destas pessoas e fomos conversando, com o intuído de conseguirmos estabelecer uma maior proximidade. Em Moçambique as férias escolares de verão terminam a 31 de Janeiro. Agora é preciso fazer o levantamento de necessidades e “ir ás compras”. A Helpo, juntamente com uma responsável desta Associação, está a preparar a distribuição a ser efectuada brevemente. Vamos começar pelo material escolar necessário para que a aprendizagem aconteça de uma forma fluente. Também são necessárias redes mosquiteiras, ou não fosse este um país de mosquito, de Malária. Na ilha há casas onde podemos colocar redes mosquiteiras nas janelas, pois a sua estrutura suporta-as e como temos esta possibilidade, vamos experimentá-la. Entre estas crianças, há uma percentagem mínima que não frequenta a escola (1,4%) devido a deficiências várias. A estas crianças é entregue material didáctico para que desenvolvam as suas actividades habituais (desenhar) e completa-se o kit de distribuição com o suplemento alimentar. O segundo centro indirecto referido, a Evanjáfrica, é um orfanato na periferia de Nampula. Este orfanato tem como responsável o filho de um pastor da Igreja Evangélica que estudou um ano nos Estados Unidos
(2000/2001) e que no regresso trazia uma missão: a de construir um orfanato que acabou por nascer no final do ano de 2001 na própria casa dos pais e chegou a albergar 60 crianças oriundas das províncias de Maputo, Tete, Zambézia, Niassa e também de Nampula. Devido à luta por um orfanato digno e ao carácter empreendedor do responsável por este projecto, ao longo do tempo este espaço tem sofrido alterações e mudanças que têm vindo a ser importantes na vida destas crianças. Ao longo dos anos o Victor tem tido apoio da Direcção Provincial da Mulher e da Acção Social e agora conta com o apoio da Helpo. Em 2007 o Victor tinha 50 “filhos” com idades compreendidas entre os 2 e os 24 anos. Este orfanato é composto por vários es-
“ Helpo faz distribuições: vamos começar pelo material escolar ” paços aos quais não podemos chamar edifícios por razões óbvias. Todas as casas são feitas em material local e devido a más condições climatéricas nem sempre se mantêm em boas condições. Com as últimas chuvas, o capim da cozinha cedeu e ainda caiu a casa onde os rapazes mais velhos dormem e têm os seus pertences. Além da cozinha (espaço aberto coberto por capim com uma fogueira onde se cozinha), e das duas casas de quartos (uma para as meninas e outra para os meninos), há ainda espaço para o refeitório, onde encontramos um estrado com viola, baixo, bateria, ferrinhos, (tudo doado pela igreja evangélica norte-americana), pois a música neste orfanato é uma constante, e para a casa central, onde dorme o Victor, e onde encontramos uma sala comum com televisão. Nessa sala, toda a familia tem permissão para diariamen-
te assistir ao noticiário ás 19h00 e ainda semanalmente a 2 filmes escolhidos pelo patriarca. A Helpo participou, apadrinhando. Demos o nosso primeiro contributo significativo em Dezembro melhorando assim o Natal das crianças deste orfanato. Neste momento participamos ainda, em conjunto com a Evanjáfrica, na educação destas crianças, comparticipando ténis, uniformes, cadernos, canetas, lápis, mochilas e todo o material necessário para uma boa educação. Por último mas não menos importante, temos o nosso infantário que conta com cerca de 20 crianças, onde 5 ou 6 têm mais de 18 anos. Para nós por vezes é difícil contabilizar as crianças, porque esta é uma instituição que depende directamente da Acção Social e é procurada muitas vezes temporariamente. Um exemplo concreto é o de uma criança que perde a sua mãe e uma Tia diz que pode educar, mas tem de criar condições para isso, como uma inscrição na escola ou até mesmo um cantinho para dormir. Enquanto esta tia prepara a chegada da criança, esta fica á guarda do infantário. Este infantário tem um poço, com torneira no espaço interior onde as crianças adoram tomar banho. Nalguns quartos há redes mosquiteiras que não estão colocadas porque os quartos não têm condições para as suportar. Aqui, há menos actividades desenvolvidas, mas há muitas brincadeiras e há olhos brilhantes. A Helpo é uma organização que interfere nas necessidades básicas do ser humano, como higiene, alimentação mas vamos ainda mais longe, estamos a trabalhar o contexto escolar e com a chegada dos voluntários a Moçambique vamos iniciar um projecto de ateliers que têm em conta a necessidade de estímulos das crianças. Fantoches, contos tradicionais africanos e portugueses e cantigas dos dois países vão preencher estas horas onde se começam a ouvir as perguntas destas crianças sobre os hábitos e costumes dos seus padrinhos portugueses. A Helpo decidiu integrar nos seus programas de apoio estes três centros indirectos caracterizados por uma carência extrema, com a promessa de que este apadrinhamento trará novidades, resultados de distribuições, visitas, actividades, conversas, brincadeiras e muita agitação.
MOÇAMBIQUE
abrindo mais portas para melhor conhecer as carências. Nampula, Raquel Roldão
C
ada dia que passa em Nampula significa que foi dado mais um passo, que a caminhada continua. O tempo faz acontecer…acontecem momentos, situações, abrem-se janelas e portas. Inesperadamente, desta vez abrimos um portão - é engraçado, mas quando menos esperamos, surge uma novidade e até mesmo uma oportunidade: um sim-
ples telefonema com a intenção de cumprimentar, deu origem a um convite que proporcionou 2 dias diferentes. A Helpo esteve presente no 2º seminário dos Presidentes dos Comités Comunitários e das Coligações dos Cuidados Comunitários que aconteceu em Janeiro do corrente ano e teve como objectivo a planificação conjunta de cada ano de trabalho. A orga-
nização deste seminário esteve a cargo da Direcção da Mulher e da Acção Social e foi esta mesma direcção que nos convidou. É de salientar que este departamento é um dos nossos principais parceiros. Para Nós foram dois dias intensos e cheios de significado durante os quais ouvimos e registámos com muita atenção as necessidades dos 11 distritos da Província de Nampula.
Sendo a nossa presença aqui recente e tendo em conta a dimensão do território, esta foi uma oportunidade única para conhecermos os responsáveis dos 55 Comités que se encontram distribuídos pela província. Os temas, as realidades e as preocupações de quem está no terreno, não são muito diferentes e o debate girou à volta do trabalho feito, das facilidades e dificuldades e o que se encontra na gaveta para fazer em 2008. Mas o que é um Comité Comunitário? É o nome que se dá a um grupo de 15 pessoas, onde há um Presidente, um Vice-Presidente, um Secretário e um Logístico que trabalham a Área Social directamente no terreno. Estes Comités são conhecedores de todas as problemáticas, das carências, da cultura, do terreno, da comunidade na sua totalidade e de uma só vez podemos trocar ideias com todos eles. Sabemos que em Moçambique, tudo o que é longe pode ficar perto e para tal, estes trabalhadores deslocam-se em bicicletas, doadas por organizações não governamentais. Fazem quilómetros e mais quilómetros para poderem chegar a quem mais precisa. No primeiro dia, a directora desta Direcção Provincial pediu para que a Helpo se apresentasse e explicasse qual o seu objecto de trabalho. Pois bem, em 40 minutos dissemos quem somos, o que podemos fazer junto destas comunidades, onde e qual é o nosso raio de acção. Depois da apresentação muitas foram as questões colocadas pelos responsáveis dos Comités, todas demonstrativas de preocupações com as suas realidades. Esta foi a primeira apresentação pública da Helpo e chegou a todos os distritos sem excepção. Passemos então à prática. Estes Comités são portadores do conhecimento e a sua intervenção é na área dos registos, escolar, alimentar, criação de estruturas, relações humanas e ainda tudo o que possa ter ligação ao desenvolvimento local, até mesmo projectos que sejam geradores de rendimento. Convém salientar que também trabalham com a criança órfã e vulnerável. Aprofundemos os temas referidos anteriormente. Quando nascemos temos direito a “ser gente” e para isso alguém tem de nos registar. É público e do conhecimento de to-
dos que em África por vicissitudes várias, é difícil haver um registo de nascimentos, problema este que por vezes só é sentido aquando da matricula na escola. O governo Moçambicano e em particular estes Comités estão a fazer um bom trabalho de sensibilização, junto das comunidades para que os pais registem os seus filhos, dando-lhes assim uma identidade. Assim sendo, se este registo for até aos 120 dias após a data de nascimento, é gratuito, se assim não for há uma multa de 50 meticais (+/- 1,40 €). Há ainda uma grande insistência para que as crianças frequentem a escola, mas não é suficiente, é necessário criar condições para que o processo escolar seja global. Uma das soluções encontradas foi a entrega de Kits à população, sendo estes com-
“ A primeira apresentação da Helpo chegou a todos os distritos ” postos por alimentos, redes mosquiteiras, roupas, sapatos, entre outros produtos necessários a todos. Este último comentário leva-nos a outra questão: Se estamos num país em vias de desenvolvimento e de pobreza extrema, como é que estes Comités, sendo locais e sem verbas, conseguem proporcionar/ entregar estes produtos às populações? O governo financia este serviço, com 7 mil meticais, aproximadamente 190 euros anuais. Sobrevivem com doações de Organizações não governamentais e assim estes kits são cíclicos, em alturas certas, como o início das aulas, as fortes chuvas, ou ao contrário em tempos de seca, no Ramadão em Outubro, no Natal e outras datas festivas ou marcantes. É ainda importante referir que as pessoas que trabalham nestes Comités não têm qualquer remuneração.
É aqui que está a razão da nossa existência. Estes serviços locais, podem certamente ser os mediadores entre nós, Helpo, e a comunidade e se até têm estudos e dados sobre os maiores problemas/ dificuldades/ carências, então para nós serão agentes facilitadores que rapidamente nos dão a conhecer a sua comunidade, a sua aldeia. São também os portadores de competências para planificar as actividades das comunidades e responsáveis pela envolvência de toda a população na aplicação das mesmas. Queremos então dizer que, quando se constrói uma escola, um poço ou até mesmo casas, quem vai usufruir deve participar na construção. Há ainda uma intenção de responsabilizar a população pela protecção e manutenção daquilo que lhes pertence, sejam machambas, casas, escolas ou apenas terra. Para que tudo isto seja possível a comunidade deve viver em harmonia. Parece-nos por isso que estes Comités podem ser bastante importantes e úteis na eficácia da nossa acção e que muito tempo e saber podemos ganhar ao trabalharmos em conjunto. Neste seminário conhecemos ainda outras preocupações da Direcção Provincial da Mulher e da Acção Social. O tráfico de crianças é agora um assunto de grande destaque, pois não é a primeira vez que há suspeitas desta problemática, na Província de Nampula. A notícia surge na comunicação social na 3ª semana de Janeiro. Dizem os responsáveis que não há provas da sua veracidade, contudo é preciso prevenir. Um outro tema foi a pessoa portadora de deficiência, pois as deficiências físicas estão bastante presentes nas ruas de Nampula. Certamente que várias são as causas, mas como o trabalho de prevenção não é exaustivo, este departamento prepara campanhas de angariação de cadeiras de rodas, de canadianas entre outros aparelhos que possam dar um pouco mais de dignidade a estas pessoas. Ficámos muito satisfeitos por termos estado presentes neste seminário e temos a certeza que a Helpo vai poder dar o seu contributo na melhoria de condições de vida de algumas populações e no desenvolvimento de alguns destes distritos.
SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
perfil de um país à espera de apoio. Lisboa, Teresa Casas Novas
Antes de iniciarmos a nossa intervenção numa qualquer região, há todo um processo que deve ser seguido, sem queimar etapas: um exaustivo estudo de diagnóstico feito com bases nos dados estatísticos recolhidos pelas entidades de referência, embaixadas, congregações e missões já presentes no terreno; um contacto directo com aqueles que, trabalhando na área da Cooperação Internacional, tiveram oportunidade de viver de perto a realidade que os livros procuram traduzir, e podem confirmar ou refutar todos os dados que figuram no nosso estudo; e finalmente uma missão de reconhecimento na qual nós, os técnicos da Helpo, verificamos pessoalmente a existência de todas as condições para passarmos da teoria, à prática. Aqui podem ler-se alguns dos resultados das duas primeiras etapas deste diagnóstico.
P
ara escrever sobre São Tomé e Príncipe recorri não só a livros com dados estatísticos e que falam dos contextos históricos, sociais e económicos mas também a pessoas que viveram diferentes experiências nestas ilhas; ilhas que apresentam características tão diversas e específicas como as opiniões e definições dessas pessoas que de uma forma ou de outra tiveram contacto com São Tomé e Príncipe. Há quem diga que São Tomé “é o país felizardo de África, onde tudo falta mas onde parece que tudo existe”, há quem diga que não é sequer um país, pois apesar de não existirem conflitos há décadas e de São Tomé ter sido um dos primeiros países africanos a realizar reformas democráticas e a nível económico e social, tendo inclusivamente em 1990, aprovando uma nova Constituição, não se tem vindo a desenvolver positivamente. Na embaixada de São Tomé e Príncipe em Lisboa assisti a uma conversa entre dois são-tomenses residentes em Portugal a gracejarem sobre a situação de São Tomé que entre gargalhadas lá definiram desta forma: “Há três anos que não se produz nada, que estão à espera do petróleo, que não se sabe se existe ou não”. Ao abrir um jornal são-tomense on-line deparei-me então com um termo em crioulo que me pareceu ser um ponto em comum nas diferentes opiniões e definições das pessoas que tinham estado em São Tomé e Príncipe: o artigo falava do termo bicabala que é o termo crioulo são-tomense para definir como se faz para sobreviver no dia-a-dia, ou seja, pela lei do desenrasca. De tudo o que li e ouvi, pareceu-me que o denominador comum era este: em S. Tomé vai-se vivendo à espera que dias melhores surjam. Além destas diferentes experiências, que por serem pessoais não deixam de ter uma pitada de parcialidade, é também importante apresentar São Tomé e Príncipe tal como vem nos livros para que assim tenhamos uma ideia mais completa do que aconteceu e acontece nestas ilhas: São Tomé e Príncipe é um estado insular, localizado no Golfo da Guiné, a cerca de 300 km do continente africano. É composto por duas ilhas principais e várias ilhotas. As duas ilhas principais são a lha de S. Tomé, cuja capital é a cidade de S. Tomé, único centro urbano e capital do país onde vive 40 % da população, e a ilha do Príncipe, que desde 1995 constitui uma região autónoma. São Tomé e Príncipe administrativamente está dividido em sete
distritos: Água Grande, Cantagalo, Caué, Cantagalo, Lembá, Lobata, Má-Zochi e Pagué. A língua oficial de S. Tomé e Príncipe é o português, falado por cerca de 95% da população. Existem também três crioulos que têm origem no português: forro ou santomense, angolar (S. Tomé), principense ou lunguyé (Príncipe). A moeda utilizada é a dobra e as principais actividades económicas são o turismo, o petróleo, a pesca e a plantação e exportação de cacau. O salário mínimo é de 23€. A população São Tomense descende de vários grupos étnicos que emigraram para as ilhas desde 1485. Na década de 1970 houve dois fluxos populacionais significativos, o êxodo da maior parte dos 4000 residentes portugueses e o influxo de várias centenas de refugiados são-tomenses vindos de Angola. A maioria dos ilhéus apresenta uma cultura comum luso-africana. Os Forros e Angolares são as duas etnias mais importantes. Nos forros, a etnia mais antiga, a ascendência europeia é superior à dos angolares, composta por descendentes de escravos da costa oeste africana, sendo os forros mais abertos relativamente a outras populações. São Tomé e Príncipe apresenta em relação a outros países africanos uma taxa de alfabetização razoavelmente elevada, cerca de 70%, contudo um dos principais problemas em São Tomé é a falta de formação dos professores e o acesso à educação nomeadamente nos distritos de Lembá e Lobata. Outro grande problema em São Tomé e Príncipe são os maustratos a crianças e idosos. Actualmente, este parece constituir um dos grandes problemas sociais em São Tomé e Príncipe e nomeadamente no caso dos idosos que é especialmente consternador na medida em que na maior parte das culturas dos diferentes países africanos, os idosos são muito respeitados e tidos em consideração como fonte de experiência e sabedoria. São Tomé e Príncipe é um país de contrastes; um país pelo qual todos se parecem encantar, embora o definam de uma forma desencantada; um país que segundo Miguel Sousa Tavares “não é bem um país, é um projecto dos deuses atraiçoado pelos homens”, e onde há ainda um longo percurso a fazer até que todos, crianças, adultos e idosos não estejam só vivendo à espera de dias melhores, mas que vivam dias melhores.
PORTUGAL
a diversidade cultural. Estoril, Cláudia Félix e Conceição Fundo
O
conceito de cultura é um conceito amplo que atinge os membros de um grupo, ou de uma categoria de pessoas, em relação ao outro. Geertz refere que a cultura é “um padrão de significados traduzidos em símbolos transmitidos historicamente, um sistema herdado de concepções expressas de forma simbólica, através das quais as pessoas comunicam, perpetuam e desenvolvem o seu conhecimento acerca das atitudes perante a vida.” (in Prestelo, 2001; 33). Contudo, nas sociedades modernas, não podemos classificar a cultura como uma construção estanque, mas sim como uma construção “em movimento”, que se transforma constantemente. Temos que ter em conta que a cultura depende da experiência, da personalidade, das características (físicas e mentais), das motivações e das necessidades de cada indivíduo. Ao longo da vida as categorias sociais estão em constante transição e redefine cada indivíduo. Portugal é considerado um país multicultural, uma vez que sofreu com a descolonização, da abertura à Europa e da necessidade de mão-de-obra barata. O acto pedagógico é um sistema multicultural; basta atender à diferença entre professor e aluno e à diversidade cultural dos alunos entre si; mesmo em escolas pequenas e isoladas; basta atender aos diferentes níveis culturais dos agentes educativos e das diferentes fontes de informação que nos atingem de forma diferenciada. A maioria das escolas de hoje são constituídas por um público vasto, pertencente a uma sociedade também ela diversificada e complexa. A escola acolhe públicos que até há pouco não a frequentavam,
como o caso dos meninos e adolescentes ciganos. O fluxo migratório veio alargar a diversidade já existente em cada estabelecimento de ensino, contemplando
assim crianças africanas, asiáticas, latinoamericanas e europeus, nomeadamente de leste. Isto veio dificultar o papel da escola em assumir a diversidade cultural do
seu público, contudo veio também abrir caminho para a construção de um pilar fundamental que designamos por interculturalidade. Uma problemática central
assombrou o sistema de ensino com a diversidade cultural, ligado à emigração, o problema do insucesso escolar traduzido em exclusão social. Inserida no Bairro Novo do Pinhal, em São João do Estoril, a Escola Básica N.º1 da Galiza assume um papel de dinamizador na integração das diversas culturas existentes na sociedade envolvente. Recebendo maioritariamente crianças e jovens oriundos de vários países multiculturais, tais como Angola, Cabo Verde, Guiné-bissau, Brasil, Roménia, etc. O papel desta escola é abrir igualdade de oportunidades educativas e sociais. Procurar meios para combater atitudes discriminatórias; oferecendo melhores condições para o completo desenvolvimento das suas capacidades e aceitar a existência dos diferentes modos de ser dentro do contexto social é o objectivo fundamental do Projecto Educativo da escola, que se assume como um instrumento que mobiliza os diferentes elementos da comunidade educativa através de uma dinâmica participativa. Esta dinâmica diária implica uma flexibilidade na organização escolar, passando por estratégias de ensino e pela gestão dos recursos e currículos. Pretende-se integrar o aluno no continuo processo de aprender – criando uma cultura pedagógica diferenciada e igualdades educativas. É fundamental a implementação do princípio desta igualdade para o sucesso escolar e depende maioritariamente de um comportamento inter/multicultural por parte dos agentes educativos, na qual os mesmos deverão encarar a diversidade cultural como fonte de riqueza para o processo do ensino / aprendizagem.
A realidade que se encontra presente actualmente nas escolas portuguesas, fruto da crescente imigração e aculturação, faz com que exista uma grande diversidade cultural dentro das mesmas. Uma vez que nos programas escolares este tema não é inserido, fica ao critério das escolas ou mais concretamente dos professores sensibilizar as crianças para os conceitos que este acarreta, sendo que muitas vezes as crianças só se deparam com a realidade da diversidade cultural existente no seu país quando contactam directamente com ela na sua própria escola. A Helpo, com o projecto Veki, deparou-se com dois tipos de realidade, escolas onde a diversidade cultural não se encontra tão presente e escolas onde esta diversidade sobressai. Na primeira situação, o Veki ajuda a desmistificar os preconceitos que as crianças adquirem durante o seu processo de socialização, enquanto que na segunda solidifica e aprofunda as experiências multiculturais presentes no seu dia-a-dia.
PORTUGAL
o projecto Veki nas nossas vidas. Cascais, Helena Correia
O
Projecto Veki (Projecto de Educação para o Desenvolvimento) nasceu da necessidade de sensibilizar as crianças do nosso país para a diversidade cultural que, cada vez mais, se faz sentir em todos os cantos do mundo. Foi então aplicado em pleno, sob a temática do interculturalismo, no ano lectivo de 2006/ 2007 em 15 escolas do Concelho de Cascais, com a colaboração de duas estagiárias da área de Psicologia, da Universidade Lusófona de Lisboa. O projecto Veki aprofundou de forma mais concertada as diversas temáticas relacionadas com o Interculturalismo e contribuiu para o despertar das consciências das crianças e para o desenvolvimento de uma atitude activa no que respeita à aceitação e ao estabelecimento de relações humanas saudáveis, ao mesmo tempo que têm consciência das diversidades e contrastes culturais. O feedback positivo dos alunos e professores veio ajudar a comprovar a utilidade do projecto e a importância da sua reprodutibilidade. Neste sentido, a Helpo, decidiu implementar neste ano lectivo de 2007/2008, para além do projecto conhecido sobre o Interculturalismo, dois novos módulos/temas que vêm completar a nossa actuação na área da Educação para o Desenvolvimento. Diversificando e aprofundando o nosso projecto, nasceram dois novos módulos temáticos: um relativo aos DH e um à Globalização (disparidades Norte /Sul). Com o módulo dos Direitos Humanos pretendese alertar e consciencializar as crianças da existência de Direitos Básicos para cujo respeito continua a lutar-se diariamente e para uma primeira abordagem aos mesmos. No módulo da Globalização, pretende-se alertar para este fenómeno e suas consequências, bem como as disparidades entre Norte/Sul
na gestão e distribuição dos recursos. Após o pedido, por parte de algumas escolas onde efectuámos o projecto, para que o voltássemos a realizar este ano, e o contacto com outras escolas “estreantes”, demos inicio ao projecto. Solicitámos a cada escola participante que escolhesse um dos módulos à disposição. Conseguimos, assim, aplicar todos os módulos para que se possa verificar/ avaliar a implementação dos dois novos temas e sua consequente viabilidade.
A experiência tem sido positiva e destacamos as escolas onde há turmas compostas por alunos de diversas etnias e nacionalidades. O Projecto está a ser muito bem aceite, pois é enriquecido pelas histórias de vida que cada aluno coloca em plenário, o que enriquece não só a nossa intervenção, como permite que os restantes alunos possam partilhar e confrontarse com realidades diferentes e específicas, compreendendo melhor os conceitos inerentes ao módulo. No que diz respeito ao módulo da Glo-
balização, verificámos uma boa aceitação por parte das crianças e, ao contrário do que esperávamos dada a complexidade do tema, têm contribuído activamente nos dinâmicas desenvolvidas, o que demonstra não só interesse pelo mesmo, como também algum conhecimento prévio das diferenças entre o Norte e o Sul do Globo. O apoio dos nossos voluntários é fundamental, quer na preparação das sessões, quer na aplicação das actividades junto das crianças, já que a execução do projecto integra a formação dos mesmos e revela-se também enriquecedor para eles. Ao estudar e ao transmitir as temáticas abordados no projecto Veki apercebemse de realidades e conceitos que em breve se tornarão mais presentes na sua vida, já que o período de formação na nossa sede em Portugal antecede uma segunda fase em que os voluntários passam a colaborar com a Organização no terreno. Deste modo a Helpo espera proporcionar também aos seus voluntários uma forma de se prepararem para novos desafios e realidades. Sendo assim o projecto Veki é, não só uma forma de “acordar” as crianças para o mundo em que vivemos, mas também um meio de aprendizagem mútuo entre quem o aplica e quem o recebe. O projecto Veki está cada vez mais presente não só na vida das crianças com quem trabalhamos, como também na nossa, despertando-nos para esta importância de educarmos os nossos jovens para a diversidade e desenvolvimento. E é sempre bom verificarmos a abertura dos participantes aos temas que é expressa através do seu entusiasmo: quando chegamos às escolas vemos o carinho e a alegria com que as crianças nos acolhem, gritando muitas vezes “hoje é dia de Veki! Vivam as Professoras Veki!”.
PORTUGAL
quando as necessidades e as expectativas se cruzam Sintra, Margarida Assunção
P
or definição a palavra “padrinho” quer dizer protector. Se tirarmos a última parte da palavra - “inho” ficamos com “padre”, que antigamente queria dizer pai: o padrinho deve ser portanto alguém que apoia o pai e a mãe no crescimento do filho, alguém que o protege. No Apadrinhamento à Distância o papel do padrinho mantém-se, contudo novas formas sobem ao palco desta relação, que a distância e acima de tudo o contexto em que estão inseridos os beneficiários dos nossos programas de apoio, exigem. Parte do trabalho que tenho o prazer de desenvolver na Helpo, centra-se no ténue mas significativo vínculo entre padrinhos e afilhados. É uma actividade muito gratificante, embora não sejam poucas as vezes em que me deparo com inúmeros obstáculos resultantes da distância física e contextual que existe entre ambos. Se por um lado os padrinhos pretendem fazer chegar um divertido brinquedo a pilhas ao terreno, os seus destinatários apenas anseiam ter uma folha e um lápis onde ensaiar a escrita; enquanto os primeiros aspiram a que a criança decore o seu rosto, esta desconhece o nome da própria mãe ou do pai; os padrinhos sonham em abrir uma porta para a faculdade aos seus afilhados, enquanto que o esforço quotidiano reside ainda na obtenção de um tecto ao abrigo do qual se poderá aprender a ler… São opostos como estes que compõem o meu dia-a-dia, e me envolvem numa dualidade de sentimentos da qual é difícil por vezes
sair, porque apesar de ambas as expectativas serem válidas, padrinhos e crianças apresentam necessidades nem sempre convergentes e realizáveis a curto prazo. No meu papel diário de mediadora de emoções, expectativas e aspirações, há padrinhos que me ajudam a conciliar a esperança e a realidade, construindo possibilidades de caminhos que possam fazer sentido para ambas as partes; pontes entre dois mundos; pontos de encontro. Neste sentido para alguns padrinhos vai o meu agradecimento especial, pela forma incansável com que abraçam o âmbito deste projecto, pela espirituosidade com que vestem a camisola e que inconscientemente me ajuda e dá força quando por ventura a fraqueza das pernas teima em não me deixar andar. Assim como as pequenas conquistas que se constróem diariamente junto das crianças apoiadas, são também os pequenos gestos dos padrinhos que,
muitas vezes sem se aperceberam, me impelem para a frente neste projecto de partilha. Pequenos gestos como a humildade de pensar e partilhar sobre o que é melhor para este universo de crianças, ou ler um livro na ânsia de descobrir mais sobre o dia-a-dia destes meninos… São bons os elogios pelos motivos certos, mas também as correcções através de criticas construtivas, pois denunciam envolvimento e sentimento de pertença. É bom conhecer os padrinhos pessoalmente, através de telefone, ou mesmo por e-mail. E neste espaço de partilha, por momentos, imaginamos que somos reis de qualquer coisa, e por breves instantes temos a destreza de pensar em soluções reais para melhorar o dia-a-dia de alguém. Nestes momentos, ainda partilhamos o sentimento de que poderia ser eu, poderias ser tu, mas foram eles que tiveram o revés de nascer do “lado errado do mundo”.
MAIS MUNDO
gravidez precoce e mortalidade no parto. Cascais, Sofia Nobre
A
situação da maternidade prematura é preocupante em diversas regiões do mundo. A cada ano, 13 milhões de crianças e adolescentes dão a luz no mundo e 70 mil delas morrem por gravidez prematuras e complicações no parto. As mães adolescentes são consideradas como alto risco porque, devido a sua idade, não estão preparadas nem física nem psicologicamente para ser mães. Assim, as complicações durante a gravidez e o parto constituem a primeira causa de morte entre as adolescentes em países em vias de desenvolvimento, sobretudo nas crianças entre 10 e 15 anos. Os países em vias de desenvolvimento são os mais afectados pelo problema da maternidade infantil. Nestes lugares, 33% das mulheres são mães antes dos 20 anos. Com uma população de pouco mais de 11 milhões de habitantes, em que aproximadamente um quarto dela está entre os 10 e 19 anos, Guatemala tem a terceira taxa mais alta da América Latina em maternidade precoce. A cada ano, 114 de cada mil mulheres guatemaltecas, entre 15 e 19 anos, tornam-se mães. Na “Cimeira do Milénio” da ONU, que teve lugar em Setembro de 2000, os países membros assinaram, em conjunto, uma declaração, a Declaração do Milénio, que fixou 8 objectivos de desenvolvimento específicos, a serem atingidos até 2015. Entre estes objectivos, chamados os “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio” (ODM), podemos encon-
trar um objectivo que concerne a esta problemática: ”reduzir em três quartos a taxa de mortalidade materna”, uma vez que morrem, por ano, mais de 500.000 mulheres durante a gravidez ou parto, sendo que 99% destas mortes ocorrem em países em vias de desenvolvimento. Uma em cada 16 mulheres africanas corre o risco de morrer durante a gravidez ou no parto, média que é 175 vezes superior à dos países desenvolvidos. Calcula-se que 15% das mulheres gestantes estão ameaçadas por complicações relacionadas com atenção não qualificada, sendo que a grande maioria das mortes poderia ser evitada se todas as mulheres tivessem acesso a assistência especializada durante a gravidez e no parto, bem como a medicamentos básicos no caso de sofrerem algumas complicações. Uma das maiores causas do abandono escolar em Moçambique é a gravidez precoce, levando muitas raparigas a abandonar a escola para cuidar de um novo membro da família que antecede os muitos outros que ainda virão, uma vez que as mulheres, nas áreas rurais, tem em média 6 filhos. A precocidade sexual que origina a gravidez adolescente, também constitui um factor de preocupação nas comunidades rurais em São Tomé e Príncipe, onde só no ano passado se registaram 631 casos de gravidez entre jovens, incluindo algumas raparigas de apenas 11 anos, sendo que a maioria destas adolescentes grávidas tem apenas o ensino primário concluído.
ESTÓRIAS
TURBILHÃO DE SENSAÇÕES NA CHEGADA DAS VOLUNTÁRIAS AO TERRENO Nampula, Patrícia Cunha e Teresa Casas Novas
Após aproximadamente três anos, regresso a Moçambique. Coração apertado, olhar atento à procura de alguma referência, algo familiar. Nampula, a província mais populosa do país, recebe-nos com a sua “quentura” húmida e envolvente, tão típica de África. Aqui, já tinha estado durante meia hora à espera de um outro voo para Lichinga, no Niassa. Guardava uma foto no terraço do aeroporto, com o avião da LAM e as imensas palmeiras como pano de fundo. A mesma t-shirt da girafa, a “encantadora”, o mesmo brilho no olhar. Não sei se acredito em coincidências
ou no destino, mas reencontrei a minha referência e a minha vontade de estar, mais uma vez, em África. Envolta por colossais montanhas e vegetação, Nampula abriga centenas de pessoas que todos os dias lutam pela sua sobrevivência. Percorrem quilómetros, de “chapa” ou a pé, sempre à procura. À procura de um tecto, depois da sua casa ter sido destruída pelas chuvas, de um trabalho, porque os produtos da “machamba” deixaram de ser suficientes para alimentar toda a família, ou mesmo de uma escola, pois a mais próxima já não aceita matrículas.
Cidade esburacada, uma vez que as fortes e momentâneas chuvas não destroem só as casas, mais vulneráveis devido ao material local utilizado, o “matope” para as paredes e o capim ou o zinco para o telhado, mas deixam o seu rasto também pelas estradas, tornando o trânsito ainda mais caótico. Cidade barulhenta, onde os condutores apitam por tudo e por nada e onde se fala exageradamente alto. Cidade suja, onde o lixo é deixado ao fim do dia, longe dos olhares, em qualquer buraco ou esquina. Cidade “gradeada”, é rara a casa ou apartamento, independentemente do andar, que não tenha grades nas janelas. Aparentemente insegura, dada a quantidade de empresas de segurança existentes. Quando cai a noite podem ver-se, à porta dos estabelecimentos e das casas, inúmeros homens deitados ou sentados e não são mendigos, como poderia parecer à primeira vista, mas sim seguranças. Alguns usam farda, algemas, arma, walkie-talkie, durante toda a noite em alerta, ainda que em posição horizontal. Outras profissões curiosas são a de empregado doméstico ou baby-sitter, para nós profissões tipicamente femininas, mas aqui exercidas maioritariamente pelos homens. Cidade “amarela”, onde uma das duas empresas de rede móvel, a MCel, além de usar as paredes dos edifícios, pintando-as de amarelo, para fazer publicidade, algo habitual em Moçambique, mantém espalhados pelas ruas dezenas de rapazes de colete amarelo a vender “giro” pré-pago, estilo “raspadinha” com um código para se carregar o telemóvel. Também pré-paga é a electricidade, o chamado “credelec”, com uma série de dígitos para introduzir no contador e ter desta forma energia. Cidade “mesclada”, onde se pode ver uma mistura de gentes, liderada pela indiana, de arquitecturas, desfasadas no tempo, e de religiões, convivendo lado a lado igrejas e mesquitas, mas sendo a maioria da população muçulmana. Cidade aparentemente receptiva ao desenvolvimento e ao conhecimento, dada a existência de meia dezena de universidades e à afluência de várias gentes de diferentes continentes, África, Ásia, Europa… Cidade “macua”, a cultura dominante no norte de Moçambique e a maior do país, que poeticamente significa “barco flutuante nas águas” e que tão bem ilustra o “deixar andar”, desenrascando-se com o que aparecer ou estendendo a mão, sendo o “tou a pidir”, seja o que for, uma das frases mais ouvidas aqui. Um episódio curioso, que faz jus à lei do desenrasca, passou-se num dos mercados da cidade onde escolhia uns sapatos para a Mena, uma menina de quatro anos que vive no Evanjáfrica, um dos orfanatos apoiados pela Helpo. Quando pedimos o par
de uma sandália que ela estava a experimentar, o vendedor estendeu-nos uma diferente e prontamente explicou: “a sandália do pé direito é do rei leão, mas a do pé esquerdo já é do homem aranha”. Questiono-me assim sobre Nampula, “a linda”, como era denominada antigamente e também sobre as minhas expectativas e impressões no meio deste caos urbano, onde a diversidade não é sinónimo de riqueza e onde as pessoas não lidam tão bem, como aparentam, com a diferença, alimentando-se um antigo ou moderno, complexo de “inferioridade” ou “superioridade”, dependendo do ponto de vista. Apesar de me ter reencontrado no calor hipnotizador, nas muitas bicicletas que se passeiam pela cidade, nas coloridas “capulanas” das mulheres moçambicanas, no barulho dos majestosos corvos que, tal como em Lichinga, continuam a encher os fins de tarde, com a beleza natural desta terra vermelha e deste céu imenso, quando nos afastamos do centro da cidade, sinto que muito falta ainda. Terminada esta primeira fase de adaptação, à cidade, às distintas pessoas que nela habitam, aos costumes diferentes, ao clima, anseio por começar a trabalhar com as comunidades nos meios rurais, de partilhar um pouco de mim com as pessoas e principalmente com as crianças. De reencontrar o calor humano e a genuinidade, por vezes difícil de sentir num centro urbano, ainda que em África. Assim, as minhas impressões, são as incertezas de um primeiro contacto, que terão espaço para se desenvolver e talvez modificar nos próximos seis meses. Até agora, apercebi-me da vastidão do continente africano, no qual cada país, bem como cada cidade, tem a sua particularidade e personalidade, sendo por isso arriscado fazer comparações. No entanto, e apesar de não ter certezas, sei que o brilho nos olhos e o “encantamento” são comuns, quer se esteja em Moçambique, na Guiné-Bissau ou em Cabo Verde pois é impossível ficar indiferente à sensação de espaço e ao silêncio, sábio, da girafa. Patrícia Cunha Foi há três semanas que embarcámos nesta viagem pelo voluntariado, por África, Moçambique, Nampula. Neste momento não sei se diga se já foi há três semanas ou se só foi há três semanas que aterrámos em Moçambique. E, tal como a minha noção do tempo é frágil e dúbia também as impressões sobre as quais irei falar neste artigo são ainda pouco sólidas e totalmente susceptíveis a alterações de minuto a minuto, ou não fossem elas primeiras impressões. Chegadas a Moçambique, mais concretamente a Maputo,
ESTÓRIAS
deparamo-nos com cor, sujidade e gente. A cor, se quisermos ser poéticos, podemos dizer que salta das capulanas das moçambicanas contudo, se formos menos líricos e mais realistas podemos dizer que surge mesmo é da publicidade agressiva da Mcel (telecomunicações) e da Coca-Cola. Casa sim, casa não, e não falamos só das casas nas cidades grandes, também fora delas e em pleno campo isto acontece, é amarela ou vermelha, dependendo da marca a que faz publicidade. Naturalmente, a estratégia é eficiente, prova disso está que na primeira semana já tínhamos um telemóvel com um cartão da Mcel e já pedíamos “uma coca, por favor” em cada café que entrávamos. Quando chegámos a Nampula, a cor, a sujidade e a gente era idêntica à de Maputo mas como é normal outros sentimentos surgiram, uma vez que seria nesta cidade, mais concretamente na Rua da Beira, porta 14, que iríamos passar os próximos seis meses. Nampula é a cidade que em tempos os portugueses chamavam de “a linda” e que neste momento é tudo menos linda. Um centro urbano sujo, casas a cair, grades até nos andares mais altos, buracos nas estradas que por vezes têm alcatrão - ou o que resta dele após as chuvadas, que aparecem de repente e que com a mesma pressa cessam e dão de novo lugar ao sol. Devo dizer que é um pouco chocante ver uma cidade degradada assim, mas corresponde à ideia que tinha das cidades em Moçambique. E, de qualquer modo, não vinha na expectativa de encontrar cidades bonitas, mas sim paisagens a perder de vista e de uma beleza exclusiva do continente africano, o que quando se sai das cidades acaba por acontecer. Em Nampula e no norte de Moçambique a maioria da população é muçulmana o que faz com que durante o dia oiçamos um senhor a fazer o chamamento para as mesquitas. Para mim, que não sou muçulmana, estes chamamentos que são feitos à mesma hora todos os dias, têm o mesmo efeito dos sinos das nossas igrejas que me indicam as horas, acho interessante. Foi também curioso assistir a uma convivência harmoniosa entre as religiões. As diferentes religiões (católica, protestante, muçulmana, entre outras…) convivem realmente de uma forma pacífica sendo muito naturais as conversões de uma religião para a outra, no contexto de casamento, por exemplo, mesmo que o resto da família da mulher que casa seja de outra religião. Numa experiência como esta é inevitável o choque cultural e o primeiro foi sem dúvida a presença de um homem de nome Zeferino que faz os trabalhos domésticos cá em casa. A primeira reacção foi de grande estranhamento uma vez que olhei
para o Zeferino com os meus olhos de portuguesa e europeia e pensei: “Mas por que raio uma casa de uma ONG, onde vivem só três mulheres, precisa de um empregado doméstico?” Após alguma reflexão e pensando um pouco na realidade moçambicana, onde o ordenado mínimo é de 50 euros e o desemprego abunda, criar um posto de trabalho é positivo e um modo de ajudar directamente uma pessoa. Para além disso, o Zeferino acaba por ser mais do que um empregado doméstico, uma vez que quando estamos fora o dia todo com os projectos a casa não fica sozinha o que previne assaltos, algo que ao princípio nem me passou pela cabeça. Considero-o por isso mais um
trabalhador da Helpo, que também contribui para criar condições que nos permitem trabalhar e daí querer apresentá-lo aos padrinhos: O Zeferino, como a maioria dos moçambicanos, tem problemas como não ter conseguido continuar os estudos, ter de sair da sua terra, na província da Zambézia, para procurar melhores condições, conseguir que a filha vá à escola que é do outro lado da estrada, mas as probabilidades dela ser atropelada nessa estrada são muitas e por isso tem de ir para uma escola mais longe, conseguir ter dinheiro para a escola e para os cadernos e lápis, conseguir ter dinheiro para arranjar uma barraca onde a mulher venda sabões à porta de casa,
esperar que nem ele, nem a família morram de malária ou de qualquer outra doença, ter alimentos para comerem uma vez por dia, no fundo, problemas que afectam sempre o mesmo, a sobrevivência num país onde há fome. Estes são alguns dos problemas do Zeferino e mesmo assim ele acaba por ser um moçambicano privilegiado que recebe mais do que o salário mínimo e tem um emprego estável, podemos então imaginar como a maioria dos moçambicanos vive. O que tenho percebido relativamente ao Zeferino e a outras pessoas que vivem neste país é que realmente é muito complicado uma pessoa evoluir na formação pessoal e intelectual ou ter uma mentalidade que vise a construção e o pensamento a longo prazo, quando se está preocupado em sobreviver. Ainda assim, há quem o consiga fazer, há quem tenha consciência que educação e conhecimento pode levar mais longe e penso que o Zeferino é um exemplo disso, senão um dia não se teria dirigido a mim e perguntado: “Menina, vou-lhe pedir um favor. Ensine-me a falar Inglês”. Realmente, só posso confirmar o que em Portugal já achava: “ignorância não é não saber, é não querer saber” e por isso é tão importante que quem queira saber tenha oportunidade para tal, oportunidade essa que está muito em falta neste país. O segundo choque cultural foi assistir à complexidade que é a convivência entre as diferentes comunidades de estrangeiros que vivem em Nampula. Posso dizer que até agora, tenho vivido não só uma adaptação cultural à realidade moçambicana, mas também à comunidade portuguesa que cá vive. Esta adaptação à comunidade que já aqui residia foi sem dúvida uma surpresa, porque de repente vi-me em Moçambique a lidar não só com uma cultura completamente diferente, como a moçambicana, mas também a lidar com pessoas da minha própria cultura mas que inseridas neste contexto também elas já apresentam características e comportamentos muito particulares. Com tantas impressões e estas foram apenas aquelas que considero mais marcantes, com tanta informação que recebemos e que temos de processar é muito fácil por vezes dispersar-nos do que realmente interessa: as crianças apadrinhadas. No entanto, basta uma tarde ou um dia com elas para regressar com toda a força ao nosso objectivo: vê-las sorrir. Basta isso para nos esquecermos o quão difícil pode por vezes ser a adaptação a uma realidade como esta, basta conversar e brincar com elas para retomar a energia e lidarmos então com toda a diferença que estamos a viver. Basta um sorriso para voltarmos a perceber porque vale a pena estar aqui. Teresa Casas Novas
ESTÓRIAS
“ALWAYS LOOK AT THE BRIGHT SIDE OF LIFE” Cascais, Carlos Almeida
Mais do que uma simples separação geográfica do planeta, a divisão em hemisfério sul e hemisfério norte, representa uma enorme clivagem entre nações desenvolvidas e, o termo politicamente correcto de Países em Vias de Desenvolvimento. A terminologia a utilizar não pretende ferir susceptibilidades, provavelmente de quem vive no hemisfério norte e que estando longe, não percebe que a via para o desenvolvimento parece mesmo muito distante. Para quem vive esse dia-a-dia, essa palavra vem num dicionário diferente onde as terminologias se revestem de uma dureza que tem massacrado um continente durante 5 séculos. Há várias coisas na vida que fazem o meu coração bater forte: O amor pelo meu ofício, a profissão docente que recentemente tem sido tão mal tratada neste cantinho da Europa; o amor pelo desporto; o amor pelo mar e pelo sol, e pelas viagens. Já tive oportunidade de conhecer 4 continentes, mais de 30 países, mas numa das poucas incursões pelo hemisfério sul, passei dias que me marcaram para sempre. Moçambique foi muito marcante por diversos motivos: tive a oportunidade de estar num território que, há pouco mais de 30 anos, fazia parte do meu país e que não consegue perder a impressão digital por nós deixada; por ter-me deixado levar pelo ritmo calmo e vagaroso que o stress instalado no hemisfério já não permite gozar; por ter sentido de perto o sorriso das crianças que, muitas vezes, nada mais têm do que essa alegria que vem de dentro sem razão aparente. Uma dessas crianças foi o meu afilhado, que tive oportunidade de visitar enquanto padrinho, quando era essa a minha ligação à Helpo, em Novembro de 2006. Hoje, recomendo essa visita também como membro da Direcção desta Organização. Para quem tem espírito aventureiro, antes de recomendar vivamente a visita ao seu afilhado, devo fazer um aviso que deverá ser levado muito a sério: Quem faz esta visita corre sérios riscos de ter a tentação de ficar por lá e trabalhar num programa de voluntariado, ou mesmo mudar de malas e bagagens para o hemisfério sul, pois o que irão ver e sentir será certamente marcante. Digo isto porque é impossível ficar indiferente à reacção que as crianças têm quando vêem passar a pessoa que distribui materiais na sua escola, ou ao sorriso envergonhado dos meninos que adoram ver-se nas fotografias. Quando regressei a Portugal, comecei a ver as coisas de maneira diferente e, desde então, ficou sempre em aberto a possibilidade de abraçar um projecto de solidariedade nalguma ex-colónia portuguesa. Acredito que é através do investimento na educação que se atinge o desenvolvimento e senti que em Moçambique o professor ocupa um cargo de importância fulcral. Mas qualquer que fosse a minha profissão, acredito que poderia sempre fazer a diferença, E acredito isso pelas sensações que toda a experiência me transmitiu. Quem passa um tempo em África fica para sempre marcado e quem consegue contactar mais de perto com a realidade que está para além dos hotéis de luxo consegue uma recompensa que ficará para sempre, como ver que ainda há crianças que apesar de nada terem, dividem o pouco que lhes oferecem pelos irmãos e amigos. Uma visita a África para conhecer o afilhado não deve ser encarado como turismo para ver e ajudar os “coitadinhos”, mas sim como uma enriquecedora experiência que nos ajudará a aprender com aqueles que nada têm e que, ainda assim, conseguem sempre sorrir e fazer aquilo que os célebres comediantes ingleses Monty Python tanto recomendavam: “Always look at the bright side of life” – Olha sempre para o lado fixe da vida. Se lá forem irão mais facilmente pensar que isto é possível, por uma simples razão. Porque é possível!!! Basta ter lá estado para acreditar.
MAIS DO QUE PADRINHOS
a helpo desloca-se à ilha do Faial para mais um evento local. Cascais, Joana Clemente
Foi há menos de um ano que Luísa Borges, uma madrinha da Helpo natural e residente na ilha do faial, nos Açores, estabeleceu o primeiro contacto com a nossa organização e manifestou o desejo de realizar alguns eventos locais. O objectivo era o de recolher fundos suficientes para a construção de um poço na província de Nampula, em Moçambique. Alguns eventos passados, organizados por um grupo de voluntários, mas cujo sucesso se deve à participação de centenas de pessoas munidas de um espírito único de participação, responsabilidade e cooperação, e o primeiro objectivo foi cumprido. Agora, o Faial une-se novamente em torno de um novo objectivo que consiste em ajudar a Helpo na construção de uma escola nesta província, e desta vez não podíamos deixar de marcar presença num almoço que contou com a presença de mais de 500 pessoas. A pedido de muitas voluntárias coordenadas por Luísa Borges, e respondendo ao apelo do Padre João, a freguesia dos Cedros, na ilha do Faial, organizou no passado dia 17 de Fevereiro, um almoço cujo prato forte foram as tradicionais “sopas do espírito santo”. A Vice-presidente da Helpo, Sofia Diniz e a Coordenadora Geral da organização, Joana Lopes Clemente marcaram presença neste almoço, arregaçaram as mangas e serviram os convidados, juntamente com o grupo de voluntários da Ilha. O resultado foi um grande passo no cumprimento de mais este objectivo, com a recolha de 4.911,00€.
A
simpatia sentia-se desde sempre, nos telefonemas mantidos durante quase um ano e nos quais se trocavam expectativas e impressões do que ia acontecendo e do que não acontecia, embora a gente quisesse muito. A simpatia vinha acompanhada de uma voz que falava de coração aberto, sem reservas. Aquela voz não tinha para mim nada de desconhecido; depois de muito tempo de partilha conhecia-lhe o tom de inquietação, de entusiasmo, de surpresa, de preocupação mas sobretudo conhecia-lhe as gargalhadas e energia capazes de impulsionar quem quer que fosse, a empreender o que quer que fosse. Quando aterrámos na ilha, quase um ano depois do primeiro telefonema, essa simpatia ganhou uma dimensão mais concreta, mais real, mais próxima e muito maior. Muito maior, porque essa simpatia fez-se do tamanho de uma ilha inteira; espelhada nos olhos e sorrisos das pessoas, mesmo daquelas que não sorriam ou que não deixavam ver o olhar. Espelhada nas vozes atarefadas de quem mede o tempo por afazeres e nas gargalhadas sonoras de quem ainda guarda um riso fácil. A sensação de desconhecido não nos invadiu nem por um instante. A ilha sabe a “casa” e as pessoas, a família, em menos de nada. O único espanto em nós era sacudido pela simplicidade com
que tudo era belo. Como se fosse natural que todas as coisas exibissem uma beleza assim. Tínhamos a sensação de que todos sabiam ao que vínhamos. De que ninguém na ilha aceitaria ser deixado de fora deste acontecimento nascido precisamente da vontade das suas gentes. Um domingo. Muita carne, muito pão, muito caldo e três mesas corridas a perder de vista, postas e decoradas com primor. Uma sala onde o espaço se fez pouco para tanta gente, e muitas, muitas mãos e horas oferecidas a uma causa: a nossa; ajudar a Helpo a ajudar as crianças e comunidades com fortes carências, em Moçambique. Tudo se deu, com a generosidade em bruto, à flor da pele: as vacas para as sopas, a experiência e sabedoria, o tempo, as horas roubadas ao sono… Aquelas caras, aqueles abraços, aquela energia fulgurante, encontraram dentro de nós, de uma forma automática, um lugar especial, como que a sugerir que esse lugar já ali estava, guardado, à espera de quem soubesse ocupá-lo. A ilha é pequena, conhecemos-lhe o perfil em menos de um dia e adivinhámos-lhe as histórias, os mistérios, os segredos. Sim, a ilha é pequena em dimensão. E é enorme em imagens, gigante em beleza e incomensurável em solidariedade. Obrigada à freguesia dos Cedros, obrigada à Ilha do Faial.
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eu, helpo e tu? A Helpo ganhou uma nova força motivada pela sua nova imagem, contemplando-nos com mais uma ideia que brilha pela originalidade. Eu, Helpo e Tu? é o que poderá ver estampado nas nossas t-shirts, pretendendo criar um Mundo imaginário
onde a Helpo convida os seus padrinhos, colaboradores e potenciais padrinhos a entrar numa luta singular por uma causa global que é esta de ajudar a desenvolver os países cujos habitantes sozinhos não o conseguem fazer. Ao adquirir esta t-shirt estará também a convidar outras pessoas a
entrar neste Mundo, aumentando cada vez mais o leque de ajuda que traz esperança a este povo. Mais do que querer que a Helpo cresça e ganhe força enquanto ONGD portuguesa, queremos alargar os nossos horizontes aumentando cada vez mais a possibilidade da nossa ajuda.
integração na plataforma das ONGD. P ercorrido um caminho de 3 anos e resultado de um esforço da qual os nossos padrinhos fazem parte, é com grande satisfação que comunicamos que a Helpo já faz parte da plataforma das ONGD´s (Organização Não Governamental para o Desenvolvimento), mais uma etapa atingida neste combate pelo desenvolvimento
que a Helpo tanto prima. A Plataforma Portuguesa das Organizações Não Governamentais para Desenvolvimento é uma associação privada sem fins lucrativos que representa a grande maioria das ONGD portuguesas registadas no Ministério dos Negócios Estrangeiros, potenciando o trabalho das suas associadas a nível político e legislativo e promoven-
do as boas práticas. As ONGD têm como áreas fundamentais de intervenção: a Cooperação para o Desenvolvimento, a Educação para o Desenvolvimento e a Ajuda Humanitária e de Emergência acreditando na importância de uma acção solidária, orientada para os objectivos das comunidades com as quais e para as quais trabalham.
Para comprar a t-shirt Helpo poderá faze-lo através do nosso site www.helpo.pt), via telefone (214844075) ou ainda por email (info@helpo. pt), sendo que as receitas que advêm das suas vendas, revertem a favor dos projectos inseridos na Helpo. Junte-se a nós!
As ONGD regem-se ainda de acordo com todos os princípios de respeito pelos Direitos Humanos e promovem a participação da sociedade civil na Cooperação para o Desenvolvimento. Convidamos assim todos as pessoas a visitarem o site da plataforma: www.plataforma.pt, e testemunharem este facto de que a Helpo tanto se orgulha.
espaço padrinhos. E spaço padrinhos é uma nova rubrica da Associação que visa estreitar ainda mais a relação entre a Helpo e os seus padri-
nhos. O Espaço Padrinhos é um “cantinho” onde os padrinhos podem expressar a sua opinião, colocar questões, sugestões, criticas construtivas, desabafos,
dar voz as ideias. Pretende-se com esta iniciativa uma participação mais activa por parte dos padrinhos, de forma a que possam contribuir para o
crescimento da Organização. Aguardamos as iniciativas da vossa parte neste espaço que é vosso e que se encontra presente no site da Helpo.
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world run day.
S
usana Ferreira Curralo, professora e Directora do Curso Tecnológico de Acção Social, na Didáxis, Cooperativa de Ensino em Riba de Ave, quis associar-se à iniciativa do World Run Day, que pretende que num dia do ano, várias
cidades no mundo se unam, juntando o intuito de promoção de saúde, com uma corrida ou caminhada e uma causa solidária. Este ano, realizou-se esta marcha no dia 11 de Novembro na cidade de V. N. de Famalicão, promovida pelas suas
alunas, às quais se juntou ainda o núcleo de Crianças da Amnistia Internacional e o Roctary Club de Famalicão. Este ano a instituição beneficiária seleccionada para receber os proveitos desta iniciativa, foi a nossa Organização, uma vez que trabalha com crianças
especialmente fragilizadas, proporcionando-lhes educação e alimentação. Os fundos angariados são meramente simbólicos uma vez que as origens das alunas que organizam e se juntam à campanha são muito humildes. No dia 11 de Novembro, no âmbito do World Run Day, estiveram a caminhar 65 pessoas com o objectivo de chamar a atenção para o problema da fome no mundo. Cada participante deu um contributo e na semana seguinte, fez-se circular uma caixinha de recolha de contributos, sensibilizando professores, alunos e funcionários da escola que decidiu participar nesta iniciativa. O objectivo foi a obtenção de mil euros.
Nuno Markl e a loja do cão azul. N o mês de Outubro de 2007 o conhecido comediante Nuno Markl contactou a nossa organização, já que A Loja do Cão Azul (www.caoazul.com) uma loja que desenha e fabrica t-shirts com desenhos originais, lhe propôs que desenhasse algumas t-shirts que esta entidade desejava comercializar. De seguida, Nuno Markl propôs-nos que, a parte da venda das t-shirts que deve-
ria reverter para si, revertesse para a nossa Organização e mais especificamente para o programa de construção de poços. A construção de poços em comunidades rurais onde a população tem um acesso difícil à água, além de melhorar significativamente as condições de vida em que a população vive, permite melhorar a saúde dos habitantes, sobretudo das crianças que são mais vulneráveis às doenças que
podem advir do consumo de água imprópria ou da falta de higiene, e ainda combater o abandono escolar (uma vez que muitas raparigas são retiradas da escola para ajudar a uma das tarefas domésticas que é da sua responsabilidade: a recolha de água diariamente para a família). Procurámos sensibilizar os nossos padrinhos para participarem nesta campanha contribuindo com a compra de t-shirts. A vontade de
prosseguir com esta recolha de fundos e sobretudo de acumular uma soma significativa que pudesse incentivar fortemente a construção de um poço, fizeram com que esta iniciativa se prolongasse por mais tempo do que o previsto, encontrando-se ainda a decorrer. Mais uma vez, deixamos aqui um apelo aos nossos leitores: compre uma t-shirt, proporcione mais uma gota, ofereça milhares de sorrisos.
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contentor segue viagem! A pós uma longa espera, é com uma enorme alegria que comunicamos que o contentor já foi enviado. Um contentor repleto de sonhos, esperanças, expectativas e emoções que os padrinhos pacientemente aguardaram e que finalmente levará às crianças palavras, gestos e bens que estes carinhosamente enviaram para a nossa Associação.
Como foi referido no número anterior, será efectuado um registo fotográfico da entrega dos presentes às crianças. Porém este processo será um pouco moroso, dado que entre o envio do contentor, a sua chegada ao terreno e a distribuição dos bens, contamos com um espaço de 5 meses, tempo esse que exigirá uma nova espera para a qual pedimos a vossa compreensão.
voluntariado internacional continua... O voluntariado internacional, um dos projectos da Helpo, continua com êxito. As voluntárias que durante 4 meses cooperaram connosco na sede, já partiram para o terreno. As expectativas são muitas, o trabalho que as espera ainda mais, mas o entusiasmo não é deixado para trás servindo como alavanca
para o cumprimento eficiente do trabalho. Actualmente encontram-se a realizar formação na Helpo duas novas voluntárias que partirão em Junho deste ano. As inscrições já se encontram abertas para aqueles que como estes voluntários querem partir para missão no terreno e dar a cara pelo trabalho que vai sendo desenvolvido na sede.. O pro-
grama de voluntariado começará em Setembro e passará por uma formação de 4 meses na sede da Organização. Janeiro é a data de partida para o terreno cuja duração poderá ser de 6,9 ou 12 meses. Caso esteja interessado pode enviar o seu currículo com foto e carta de motivação para o seguinte endereço: recrutamento@helpo.pt.
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Correspondente em África
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Ilustração
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Sofia Nobre (secretária de redacção) Joana Clemente Helena Correia Margarida Assunção Colaboradores neste número
Carlos Almeida Helena Correia Joana Clemente Margarida Assunção Patrícia Cunha Raquel Roldão Sofia Nobre Sónia Borges Teresa Casas Novas
A responsabilidade dos artigos é dos seus autores. A redacção responsabiliza-se pelos artigos sem assinatura. Para a reprodução dos artigos da revista mundo h, integral ou parte, contactar a redacção através de: info@helpo.pt.