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mundo h. 

06 MAR.ABR.MAI.09

Ano2 Distribuição Gratuita

MOÇAMBIQUE BIBLIOTECA HELPO; S. TOMÉ PRIMEIROS APADRINHAMENTOS; PORTUGAL APADRINHAMENTO NEONATAL; MAIS MUNDO ISRAEL VS. PALESTINA; ESTÓRIAS ENTREVISTA AO PADRE JACOB; MAIS DO QUE PADRINHOS SOPAS DO ESPÍRITO SANTO; QUEM HELPA CAMPANHA DELTA; I MAIS HELPO TV.


ÍNDICE 3

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EDITORIAL

ESTÓRIAS

solidariedade com valor acrescido.

padre jacob - um percurso por moçambique. 20

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MOÇAMBIQUE quanto vale o conhecimento? 6

a helpo em cabo delgado.

expectativas a duas mãos. 24

ser uma helpa.

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MAIS DO QUE PADRINHOS comunidade helpo.

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S. TOMÉ E PRÍNCIPE as primeiras histórias de são tomé

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QUEM HELPA? campanha “um café por timor”.

PORTUGAL “apresente-nos a um amigo!”.

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world runday.

apadrinhar, onde o chão parece fugir.

i MAIS envio de prendas para os afilhados. helpo tv.

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MAIS MUNDO paz israel - palestina, uma utopia?.


EDITORIAL

SOLIDARIEDADE COM VALOR ACRESCIDO Cascais, Joana Lopes Clemente

O

que destingue 2009 de outros anos, de outros calendários? Qual é o impacto da crise internacional na actuação de uma ONG? Qual é a influência que a queda da bolsa de Nova Iorque produz na vida das comunidades rurais dos Países em Vias de Desenvolvimento? Sonhei que fazia uma viagem no tempo e que acordava num mundo moderno inteiramente mergulhado numa crise financeira: o mercado imobiliário empreendia uma queda memorável; as taxas de desemprego trepavam uma montanha sem fim a uma velocidade desconcertante; o preço do combustível dançava uma dança imperceptível de oscilações abruptas e o mundo tornava-se mais igual! Mais igual, não porque as diferenças se esbatessem, mas mais igual porque mais imprevisível, por inteiro. O imprevisto faz parte do relógio de quem vive numa casa de capim que voa na estação dos ciclones, que desaparece com o cálculo falhado da última queimada; de quem exerce profissões diferentes todos os dias porque a carreira que escolheu é aquela que for capaz de trocar as horas de trabalho por moedas aceites em todas as bancas do mercado; de quem faz depender os dias de aulas e de trabalho dos dias em que as chuvas concedem uma trégua. A insegurança aqui já não tem nome, nem rosto. É uma entre as cores que compõem a paisagem. A oscilação da prestação do crédito; o contrato de trabalho “a termo”; a lista interminável de catástrofes sociais anunciada no noticiário das 20:00h; a subida do preço do pão…são primos demasiado afastados de uma realidade crua. A única realidade conhecida pela esmagadora maioria da população do planeta.

Se é verdade que nos momentos críticos se aguça o espírito do individualismo e que as sociedades se fecham, se voltam para dentro, também não deixa de ser verdade que nestes contextos os gestos de solidariedade se revestem de um valor diferente, de um significado precioso. Assim como não deixa de ser verdade que a solidariedade passa a ser mais necessária onde e para com quem quer que seja. Apesar disto, sabe-se que numa queda chega sempre primeiro ao chão quem já estava perto do fundo, e é por isso que para nós 2009 é um ano diferente. Num mundo interdependente, todos sofrem algum resultado do que quer que afecte uma das partes. Todos se ressentem do “bater de asas da borboleta”, e a população beneficiária dos nossos projectos, não é excepção. Assim, para a Helpo, 2009 é um ano de desafios redobrados. É um ano de construção de projectos e de multiplicação de apoio, num esforço construído a partir de um mundo munido de medo e de insegurança. É um ano em que a nossa agenda foi desenhada para procurar contrariar, à priori, as consequências nefastas que um contexto de retracção profunda traz na manga, para as camadas mais fragilizadas da população mundial. Sempre com os pés bem assentes no chão, empreendemos mais uma caminhada em direcção às nuvens esperando que o bater de asas da borboleta não despolete um furacão, mas sim uma onda de compreensão, uma descoberta de significados na partilha das incertezas e a construção da convicção da necessidade de agir como um todo e pelo todo, para evitar novas crises financeiras e sobretudo, novas crises sociais e humanas, à escala mundial.


MOÇAMBIQUE

quanto vale o conhecimento? Nampula, Joana Lopes Clemente

Q

uanto vale um conjunto de livros alinhados em estantes toscas, feitas à medida das paredes cansadas dos retoques a branco, repetidos ao longo dos anos? Quanto vale um conjunto de mesas e cadeiras feitas de madeira, engenho e suor; poupando os pregos e os acabamentos luxuosos e cujo aspecto não apela a nada mais que não a sua utilização prática? Quando vale uma biblioteca inventada de um depósito de material inutilizado? Reabilitada, mobilada, equipada com recheio saído de um contentor, tão demorado quanto desejado? Tudo isto vale uma fila interminável de alunos, professores, líderes comunitários e curiosos disfarçados de títulos oficiais; uma fila só não, duas filas: a ladear o longo corredor que se estende do portão de entrada no recinto escolar, até à porta do universo misterioso do conhecimento, vestido de capa dura. Um contorno de sorrisos luminosos e ansiosos, capaz de fazer esquecer a mais impressionante das passadeiras vermelhas. Vale uma fita azul de largos anéis entrelaçados a desenhar um percurso abrupto que nasce nas extremidades superiores da fachada do edifício protagonista deste dia, e termina num abraço contínuo, selado exactamente no centro da porta aberta da biblioteca, a aguardar a separação definitiva ditada pela tesoura, vestida a preceito para a cerimónia.

Vale uma espera de fazer enlouquecer os ponteiros dos relógios, a procurar fugir à omnipresença do sol impiedoso. Uma daquelas esperas que culmina com a chegada de comitivas adornadas por câmaras de televisão e microfones. No dia 20 de Março, no edifício da Escola Polivalente do Marrere, com a presença da Directora Provincial da Educação, da Televisão de Moçambique, dos Missionários de S. João Baptista (co-responsáveis pela gestão daquela estrutura escolar), dos representantes da comunidade e de incontáveis alunos impecavelmente apresentados com os seus uniformes escolares, foi inaugurada a primeira Biblioteca Helpo da província de Nampula. O edifício está preparado para uma estreia em grande estilo. Os alunos ensaiaram teatros para sensibilizar todos os utilizadores da biblioteca quanto à necessidade de preservação dos livros. Grupos de rapazes e raparigas chamaram a atenção para a proibição de escrever nos livros, rasgar páginas ou levá-los indevidamente das instalações sem que se lhes siga o devido retorno. Compuseram-se poemas em forma de agradecimento à Helpo, (deixando lugar a uma inevitável comoção), com direito a uma declamação exemplar. Não faltou nada, nem ninguém. Inaugurou-se assim uma ferramente preciosa: o passaporte para a ruptura do ciclo da pobreza. O conhecimento, agora ao alcance dos alunos e profes-

sores da escola polivalente do Marrere, permite ter acesso ao mundo exterior; permite saber e sonhar, e saber com o que é possível sonhar. Sem acesso ao mundo exterior, ao mundo para lá das fronteiras de uma província distante, não existe caminho para a construção de sonhos, porque não existe matéria-prima para construir seja o que for fora do alcance da imaginação (e alguém disse que a imaginação consiste apenas em combinações diferentes de fracções daquilo que conhecemos). A porta da biblioteca é a entrada para um universo que prova a imensidão de possibilidades ao nosso alcance, ao alcance de todos. E essa comprovação está em cada história, em cada experiência, em cada mapa, guardados nos livros que recheiam todas as estantes e que permitem dilatar o universo de imaginar, de supor, de ousar e ambicionar. Pretendemos inaugurar não só uma biblioteca, mas um pequeno passo mais na estrada da construção de um caminho autónomo, com ambições e projectos pessoais próprios, baseados não no conhecimento do contexto em que se nasce, mas no universo do que é possível construir nesse contexto. Inaugurou-se a primeira biblioteca Helpo, e com ela esperamos ter inaugurado uma auto-estrada de possibilidades que faz deste projecto, um projecto que ultrapassa em muito as dimensões de uma sala recuperada.


Ficha técnica Localidade do projecto: Marrere Distrito: Rapale Província: Nampula Beneficiários: Alunos e professores da Escola Polivalente do Marrere (cerca de 400) Acção: Reabilitação da estrutura, fornecimento de mobiliário e de equipamento (livros escolares, livros infantis e juvenis, romances, livros técnicos, enciclopédias e dicionários) Custo: 3826€


MOÇAMBIQUE

a helpo em cabo delgado. Cabo Delgado, Ana Luísa Machado


A

Helpo, com a sua vontade de crescer e chegar mais além, apoiando ainda mais crianças carenciadas, abriu um novo escritório em Cabo Delgado (a Província mais a Norte de Moçambique, na fronteira com a Tanzânia). O processo prévio à instalação, de apuramento das dificuldades que mais se fazem sentir no terreno, verificação do tipo de apoio que a Helpo poderia prestar e de que forma, até à abertura de uma casa/escritório não foi simples e requereu esforço e empenho. No entanto, ao fim de seis meses de trabalho, a Helpo já era conhecida e o seu trabalho reconhecido pelas várias Direcções Provinciais que enquadram o Governo Provincial de Cabo Delgado. Com efeito, durante o segundo semestre do ano transacto, procedemos a várias apresentações junto das várias Direcções Provinciais, do trabalho já desenvolvido, nomeadamente na Província de Nampula. Confesso que este foi um período de alguma frustração. Por um lado, não conseguíamos encontrar um espaço suficientemente agradável e razoavelmente conservado para receber e instalar a Helpo; por outro lado, os custos inerentes ao arrendamento nem sempre justificavam cada opção: ou porque a casa/escritório era boa demais e não se justificava o dispêndio de uma renda tão avultada, ou porque era pequena ou degradada demais e, apesar da renda ser adequada, o investimento inicial, com obras de restauro e reparações, era incomportável. No entanto, o que não falta na equipa da Helpo é ânimo para continuar e ultrapassar todas as barreiras ou dificuldades. Assim, encontrámos uma casa/escritório bem simpática, capaz de acolher os “Helpos”, bem como todos os padrinhos que nos queiram visitar. Acresce que é dotada de uns anexos novos onde instalamos o escritório e onde as primeiras capas de arquivo já constam do mobiliário. Não se pense que, pelo menos isto, foi fácil. Se em Portugal basta escolher uma operadora para se ter telefone fixo, celebrar o respectivo contrato e proceder à instalação do telefone, aqui as coisas são mais complicadas, principalmente quando

se está numa zona onde não passam linhas telefónicas. Pois é, a TDM (Telecomunicações de Moçambique) teve de colocar postes e cabos propositadamente para a nós. Com a internet passa-se o mesmo, mas desta vez mais grave, porque não há qualquer possibilidade de a fazer chegar ao escritório. Como somos teimosos e perseverantes, garantiram-nos que, já no início do próximo mês ou ainda no final do corrente, iríamos ter acesso à ADSL! Posto isto, passamos a ser convidados assíduos da Direcção Provincial da Mulher e Acção Social de Cabo Delgado. Para grande satisfação nossa, fomos convidados para integrar o denominado “Grupo Técnico Provincial” (órgão constituído por

“encontrámos uma casa simpática capaz de acolher todos os padrinhos que nos queiram visitar” instituições do Governo e organizações da sociedade civil, cujas actividades estão ligadas à área da criança e do qual fazem parte, entre outras, a UNICEF, Fundação Agha Khan, Helvetas, Médicos del Mundo, Cooperação Espanhola e Cruz Vermelha de Moçambique). O Sr. Director recebeu-nos e demonstrou todo o interesse no nosso trabalho, incentivando uma parceria que passaria, numa fase inicial, pelo apoio dos centros que recebem crianças órfãs e vulneráveis de Cabo Delgado. Apresentaram-nos vários “centros fechados” (orfanatos, berçários e instituições de acolhimento de crianças portadoras de deficiências múltiplas), onde as crianças são acolhidas e por ali permanecem, normalmente até terminarem a escolaridade obrigatória (7ª classe) e serem capazes de

refazer as suas vidas, constituindo família e arranjando um emprego. É de notar que alguns centros já estão a ser apoiados por outras organizações, instituições ou associações. Pretende-se que, cada uma destas, na sua área de actuação, coopere com as outras para que o produto final seja do total interesse destas crianças que, só por si, já foram tão marcadas pelas mais inúmeras adversidades da vida. Neste momento, e de acordo com os registos existentes até Novembro de 2008, há 6495 crianças órfãs e vulneráveis identificadas na Província de Cabo Delgado, sendo que este número não é minimamente fiável, porquanto os comités que procedem a estas identificações ainda só fizeram o levantamento em 5 Distritos completos, sendo que nos restantes 12 ainda não foi efectuado qualquer diagnóstico a nível das localidades ou aldeias. Pelos números já apresentados, é de adivinhar que haja mais de 20.000 crianças em situação de vulnerabilidade. Acresce que o número de órfãos é cada vez maior devido a todas as enfermidades que, apesar de não serem letais, acabam por matar milhares de moçambicanos. Isto, sem falar no flagelo do HIV/SIDA. A todo o exposto, é, ainda de referir que esta, no geral e à excepção da cidade de Pemba, é uma Província mais pobre que Nampula: os bens são mais escassos e, consequentemente, com preços superiores, o que impede parte da população a ter acesso aos mesmos. Além disso, há um outro flagelo que não está a ajudar a camada mais baixa da sociedade moçambicana: a presença de estrangeiros em busca de petróleo. Estas empresas compram os bens ao preço que lhes é apresentado sem olhar a custos, uma vez que, ainda assim, aos olhos europeus ou americanos, continuam a ser de baixo valor e extremamente acessíveis para quem ganha pequenas fortunas mensais. Ora, tamanha aceitação de inflação acaba por disparar os preços também para os nacionais e, concludentemente, empobrecer as famílias, criando situações de fome. É urgente intensificar o trabalho nesta Província que, tanto tem de bela e gigante como de pobre e enferma.


SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

as primeiras histórias de são tomé. São Tomé, Raquel Pinheiro

S

e por um lado, quem aterra pela primeira vez em S. Tomé e Principe não cai no erro de pensar que está perante um país desenvolvido, por outro também não pensa que está num país pobre. É que aqui, tudo abunda: a natureza é generosa - não há épocas de fome nem de seca - e há praticamente todo o tipo de recursos naturais necessários para iniciar o processo de desenvolvimento há muito adiado. No entanto, a indiferença é muitas vezes proporcional à abundância e é aqui, no mais paralizante estado de desprezo, que vive gente que ainda não sabe retirar da generosidade desta terra sequer as condições básicas para viver. O apadrinhamento de crianças à distância é feito de pequenas histórias de vida, que duram gerações inteiras: tem-se o primeiro filho cedo, na idade das primeiras paixões. Depois, é vê-los crescer e, sempre que o pouco orçamento da família permite, mandá-los para a escola onde pelo menos têm uma refeição de fuba ou feijão garantida. Por vezes adiam-se as 50 mil dobras da inscrição (cerca de 2 euros) e compra-se antes um peixe para o jantar e quem sabe, um bule de vinho de palma. Às vezes, só o vinho. É uma realidade distante, repleta de histórias onde os números parecem não querer encaixar: um ordenado de 300 mil dobras (cerca de 30 euros) para uma família, de às vezes 10 filhos, não permite com certeza a aquisição de uma barra de sabão para a casa. Assim, a creche funciona como uma âncora a um mun-

do que lhes pode dar mais uma hipótese, e onde estas mesmas crianças, por vezes já alienadas num mundo repleto de relatos, por vezes hostis, de mães que não sabem a data de nascimento ou de filhos que não conhecem sequer os pais, vão buscar as suas primeiras noções de civismo. Cada criança na creche tem a sua história e até agora, conseguimos reunir um pouco mais de 100 dessas histórias, resumidas num formulário para quem sabe, um dia as podermos prevenir. A realização das candidaturas é mais do que uma simples formalidade. É um instrumento que permite tentar perceber, com o rigor possível e num sentido lato, as características de cada comunidade para delas se tirar o melhor partido, a seu favor; num sentido mais restrito, ajuda-nos a conhecer e a relatar aos padrinhos a história daquele menino ou menina em particular. Os meninos ajudam, cooperam e é como se gostassem já do padrinho que ainda não conhecem. No momento de tirar a fotografia para a candidatura, as expressões até aí galhofeiras, alteram-se: há meninos tão tímidos que choram sem parar e só acalmam ao colo dos pais; outros, absorvidos pela responsabilidade de tirar a fotografia para o padrinho, ficam hirtos, quase carrancudos. Finda a tarefa, as caras descontraem e as brincadeiras recomeçam. Descalços no chão e a brincar na água suja, aguardam a sua oportunidade de repetir a história - ou, quem sabe, um dia finalmente crescer e alterá-la de vez.

“a creche funciona como uma âncora a um mundo que lhes pode dar mais uma hipótese”





PORTUGAL

“apresente-nos a um amigo!”. Cascais, Raquel Pombo & Joana Lopes Clemente

M

udam-se os tempos, mas não se mudam as vontades. Em vez disso, concretizamo-las em acções: a Helpo lança em 2009 uma campanha lata e abrangente ao nível do público-alvo mas determinadamente focada ao nível da acção e, para concretizá-la, desafiamo-lo a fazer de nós tema de conversa. Criámos um portfolio onde apresentamos o nosso plano de construção de projectos estruturais em Moçambique para o período entre Março de 2009 e Março de 2010. O objectivo é, uma vez mais, aproximarmo-nos de todos aqueles que têm vontade de conhecer melhor, de saber mais; é converter as nossas metas em metas comuns e fazer dos meios que estão ao seu alcance, a estrada para a edificação das metas que partilhamos. É por isso que para a concretização deste plano precisamos da sua ajuda e essa ajuda traduz-se em converter-nos em assunto de interesse no seio da sua empresa, entre os seus colegas de trabalho, ou mesmo entre o seu grupo de amigos. As formas de apoiar são tantas quantas a imaginação nos permitir, e porque acreditamos que corresponder aos nossos interesses pode constituir o interesse de alguém, a divulgação destas possibilidades é o melhor caminho para encontrarmos esse alguém e fazer desse encontro a solução para as necessidades das várias partes. Será esta convicção ingénua em tempos de crise? Veja-se, por exemplo, a Responsabilidade Social das Empresas: constituirá a sua prática, uma via unilateral de vantagens? Em 2009 continuaremos a trabalhar para o fornecimento de água potável, o proporcionar de condições que permitam a melhoria do ensino básico, o colmatar da fome, o aumentar o

acesso à informação e à saúde. Através da construção de estruturas escolares e pré-escolares, zonas de cultivo, furos em profundidade e bibliotecas, contamos ter um impacto positivo na vida de mais de 5000 crianças apoiadas e das suas famílias. Para acelerar o processo de conversão de sonhos em realidades, já sabe qual a fórmula recomendada: fale de nós e das nossas expectativas, faça-nos perguntas se sentir que não sabe o suficiente; seja curioso e desperte curiosidade nos demais e verá que a sublevação desta onda levará a sua força a uma enorme avalanche de resultados. O desafio que propomos é que conheça e dê a conhecer os diferentes projectos, as formas de apoiar que colocámos à disposição e os resultados que serão apresentados. O apoio proporcionado pela Helpo é um apoio continuado e tentamos colmatar necessidades básicas das comunidades em que operamos. O objectivo não é unicamente actuar frente a uma emergência mas também criar os meios, as infra-estruturas básicas para que uma comunidade se torne autónoma e consiga subsistir. Em que consiste o portfolio Helpo? Na exposição das necessidades da população local oriunda das comunidades onde trabalhamos e na procura de soluções para a satisfação dessas necessidades. Aqui fica uma amostra da documentação que produzimos e que temos à disposição para envio a todos os particulares e empresas interessados em conhecer (envie o seu pedido para info@helpo.pt). Aqui fica também o nosso agradecimento antecipado, por aquela conversa de café em que a Helpo serviu de pano de fundo…




10 Boas razões para apoiar os nossos projectos 1- Porque num mundo global, um problema social não se confina a fronteiras geográficas e participar na resolução de um problema externo é antecipar a resolução de um problema interno. 2- Porque agir de forma responsável, converte-nos em seres humanos responsáveis. 3- Porque confrontarmo-nos com as dificuldades de realidades contrastantes com a nossa confere-nos a noção da verdadeira dimensão das nossas dificuldades. 4- Porque se obtém um retorno automático traduzido numa sensação de gratificação. 5- Porque os beneficiários destes projectos têm de facto necessidades profundas e nós temos as ferramentas necessárias à transformação das suas vidas. 6- Porque damos o que recebemos. 7- Porque conquistarmos a resolução de problemas aparentemente irresolúveis torna-nos mais aptos e proactivos na resolução dos nossos próprios problemas. 8- Porque uma Instituição com intervenção na área da Responsabilidade Social promove uma equipa mais humana. 9- Porque criar oportunidades onde elas não existem é potenciar a criação de novos sectores/parceiros de negócio. 10- Porque não há nenhuma boa razão para deixar de o fazer.




PORTUGAL

apadrinhar, onde o chão parece fugir. Cascais, Joana Lopes Clemente




Q

uando falamos no Programa de Apadrinhamento de Crianças à Distância, de forma mais ou menos directa, falamos também em procurar prevenir situações que colocam em risco a vida das crianças. Exemplos disso são as intervenções ao nível das distribuições alimentares, dos produtos de higiene, das redes mosquiteiras ou do fornecimento de água às comunidades. No entanto, situações existem em que a relação entre o apoio prestado e a preservação da vida dos beneficiários é, mais do que causal, indissociável. Um exemplo disso é o apoio prestado pelo projecto de prevenção da transmissão vertical do HIV/SIDA por parte de mães infectadas com o vírus, para os seus filhos, desenvolvido no Hospital do Marrere, na província de Nampula. Uma mulher infectada com o vírus do HIV/SIDA, que cumpra todas as precauções médicas recomendadas a partir do início do período de gestação tem mais de 98% de hipóteses de gerar uma criança saudável, isto é, não infectada com o mesmo vírus. Apesar do optimismo da percentagem, em contextos de escassez profunda, a dificuldade em atingir números risonhos é imensa. Destaco duas condicionantes chave que parecem tornar inatingível uma taxa que é já apontada

como um enorme sucesso e que derivam, precisamente, da escassez; da escassez de informação e do acesso a ela, e da escassez de recursos económicos. A identificação destes dois obstáculos não pretende descurar a enorme importância de outros factores, como o preconceito relativamente à SIDA, que constitui um tabu enraizado ao mais profundo nível na sociedade moçambicana. Mas entremos num universo de hipóteses que já só contempla as mulheres que acederam a fazer o teste, que sabem ser portadoras da doença e que se preparam para conceber a vida a uma criança. O desconhecimento de que existem procedimentos a que podem recorrer e que permitem gerar uma vida livre de uma pesada sentença desde a casa da partida, e sobretudo o desconhecimento destas alternativas por parte dos decisores em família acaba, muitas vezes, por ensombrar uma estrada repleta de possibilidades e convertê-la numa rua de sentido único e de percursos circulares. Como se o cenário que o desconhecimento compõe não fosse negro bastante, a falta de recursos económicos associa-se-lhe, e acaba por fazer o resto: uma vez nascida a criança, há que convencer um mundo inteiro de mitos seculares e uma dezena de carteiras va-

zias de que a mãe, enquanto portadora do vírus da SIDA, não pode amamentar o bebé. Se estivéssemos perante o caso de uma mulher que tivesse seguido de forma exemplar toda e qualquer recomendação médica (o que em termos estatísticos não se consegue traduzir sequer por um número inteiro), estaríamos apenas a metade do caminho que leva à anulação do vírus na criança. Ao longo do restante percurso, a necessidade de substituição do leite materno por leite em pó, embateria a cada hora da refeição com os dois obstáculos apontados: os mitos de que a criança cresceria amaldiçoada ou de alguma forma diminuída por se ver privada do leite da mãe, e a inexistência de recursos que suportem um luxo tão precioso quanto inacessível: o leite em pó. É neste contexto que a Helpo não pode deixar de apoiar o projecto de protecção neonatal a crianças filhas de mães infectadas com o HIV/SIDA ou, por motivos similares, em risco, profundamente carenciadas e sem opção que não seja a de recorrer à esperança de uma promessa de vida para os seus filhos. Pretendemos criar alternativas para quem não as tem, através da constituição de pontes entre quem tem o acesso à informação e aos recursos, e quem tem tudo por conquistar.

Nasce assim uma nova modalidade de apadrinhamento, o Apadrinhamento Neonatal, que permitirá a sobrevivência e alargamento de um serviço hospitalar coordenado por uma enfermeira portuguesa, mentora do projecto (ver nº 4 desta publicação) e cujo apoio será monitorizado pelos técnicos da Helpo presentes na província. Este apoio possibilitará, numa primeira fase, abranger entre 30 a 50 crianças e suas mães e permitirá concretamente a compra de leite em pó, biberões, papas de crescimento, medicamentos, carvão e recipientes onde ferver a água, e a manutenção de um serviço que pretende, mais do que assistir, ensinar procedimentos, educar mentalidades e apoiar estas mães ao nível do conhecimento necessário para proporcionarem aos seus filhos uma promessa de vida. Esta modalidade de apadrinhamento implica uma contribuição de 25€ mensais e tem a durabilidade de um ano ao longo do qual os padrinhos receberão uma ficha contendo toda a informação acerca das condições de saúde das crianças e uma fotografia, uma actualização periódica sobre a evolução do estado de saúde dos afilhados acompanhada de uma fotografia e um ponto da situação no final do período em que decorreu o apoio, que lhe proporcione a consciência real e concreta do que o que o seu apoio permitiu produzir em termos de resultados. N.B. É importante que se tenha consciência da vulnerabilidade das crianças e, apesar de todos os esforços, da possibilidade de insucesso de alguns casos em estado considerado muito grave.




MAIS MUNDO

paz israel – palestina, uma utopia? Cascais, Sofia Nobre

N

os últimos meses, temos vindo a “assistir” e a acompanhar com assombro o agravamento do conflito existente entre a Palestina e Israel. Agressões sucedem-se de ambas as partes: a interminável sequência de ataques suicidas palestinos, seguidos de retaliações pesadas das forças armadas israelitas confere ao conflito dimensões que ultrapassam a disputa pelo território da antiga “terra prometida”. O número de vítimas inocentes, que tem vindo a aumentar, e as perdas causadas pela ocupação recorrente das cidades palestinianas instigam ainda mais os ânimos revoltos que fortalecem os grupos extremistas das duas partes, criando uma maior hostilidade e afastando cada vez mais as perspectivas de um acordo possível, justo e negociado. A situação degenerou a tal ponto que a comunidade internacional foi obrigada a intervir no sentido de procurar colocar um paradeiro ao conflito e obrigar os dois lados a sentarem-se novamente à mesa de negociações, com vista ao diálogo até a superação dos impasses actuais. As argumentações e justificações das partes envolvidas no conflito apenas constituem clareza para os próprios ora-

dores, deixando confusos os observadores e analistas do conflito e incrementando na sociedade uma troca de provocações e palavras ofensivas dependendo da posição que tomam neste conflito. Os palestinianos justificam os ataques suicidas como respostas necessárias aos assassinatos selectivos de líderes do Hamas e Jihad Islâmica pelo exército israelita e cada ataque provoca por sua vez retaliações por parte de Israel, inviabilizando as ténues tentativas de entendimento dos representantes dos governos. Cada novo incidente parece afastar ainda mais as oportunidades de um acordo, conseguindo os sentimentos de ódio e vingança sobressair dos escombros que impelem a voz da razão de vir à tona! Contudo, não nos podemos esquecer que as raízes do conflito remontam aos fins do século XIX. Deste modo, as questões que envolvem este litígio, transcendem a contemporaneidade. Têm origens históricas profundas. Por tudo isto, não se trata de uma questão simples. Mas até quando teremos de “assistir” a tal atrocidade? Até quando homens, mulheres e crianças terão de sofrer na busca incessante do entendimento entre os povos? Geralmente quando é fácil atribuir a razão a uma das partes,




a resolução do conflito parece ser clara, contudo neste caso, outra questão se impõe: como atribuir a razão neste conflito? Ao Hamas, que durante anos tem vindo a lançar mísseis em territórios judeus? A Israel, que responde às provocações de forma desproporcional? Este é um conflito irracional, onde a razão não toma parte de nenhum dos lados. É preciso negociar e ceder posições, para que os civis, a parte mais fragilizada do conflito, não sofram consequências tão horrendas, como as que vemos actualmente. A fórmula para resolver este problema é certamente muito complexa e implicará que, quer uma parte quer outra abdiquem de muitas reivindicações. Como afirmou Fernando Nobre: “É urgente a Paz. Em nome dela são necessárias concessões bilaterais para que se criem pontes de diálogo e de entendimento.” Não resisto a fazer um parêntesis: ao realizar uma pesquisa sobre esta temática para a realização do presente artigo, procurei recolher opiniões neutras e deparei-me com inúmeros sites e blogs onde se encontrava um espaço aberto a discussão sobre este conflito que avassala o Médio Oriente e constatei as inúmeras trocas de palavras ofensivas e ten-

tativas de imposição de ideias. Como podem querer as pessoas que os povos com diferentes ideais políticos e religiosos se entendam tão facilmente, se mesmo entre cidadãos do mesmo país não há entendimento e há ofensa? Como podem as pessoas julgar-se detentoras do conhecimento da resolução de um conflito que dura há décadas, depois da leitura de algumas matérias sobre o assunto, se mesmo elas geram conflito ao imporem as suas ideias? Contudo, apesar de todas as adversidades que atravessam a sociedade global de hoje, temos vindo a assistir a um estreitar de laços cada vez maior entre os povos. As fronteiras geográficas e as mentalidades xenófobas estão cada vez mais esbatidas e o mundo caminha cada vez mais olhando na mesma direcção. Apesar de ainda ser evidente um desenvolvimento assimétrico dos países, principalmente dos Países em Vias de Desenvolvimento, não pode haver dúvida quanto à necessidade improrrogável de coadjuvação em todas as esferas da vida social, para assegurar a sobrevivência da humanidade. Somos todos seres humanos e devemo-nos respeitar acima de tudo, nessa condição!




ESTÓRIAS

PADRE JACOB UM PERCURSO POR MOÇAMBIQUE Marrere, Padre Jacob

Há quanto tempo é que está aqui em Nampula no Marrere? Encontro-me na Missão de S. João Baptista, no Marrere, desde o dia 1 de Dezembro de 2008. Esta Missão compreende 21 comunidades cristãs que assisto espiritualmente. Sou ainda responsável pela Escola Polivalente que tem 382 alunos do ensino secundário e director dos dois lares com 191 alunos. Para além destas actividades dirijo uma carpintaria e serralharia com 10 trabalhadores e uma área agrícola estimada em cerca de 600 hectares (ainda não delimitada). Sou ainda capelão do Hospital Geral do Marrere com cerca de 120 doentes. Como é viver em Moçambique, longe da família dedicando a vida ao próximo? Não é fácil viver em Moçambique ou em qualquer outro país africano. Acresce dizer que este país, “a janela do Índico”, oferece outros desafios face às constantes calamidades com que frequentemente é assolado. Todos os anos surgem relatos de cheias, ciclones, secas, fomes, surtos de cólera, malária, índices elevados de tuberculose e de Sida. A juntar a este leque de contrariedades é o facto de que estamos longe dos nossos familiares e amigos. É um sacrifício enorme não ter o calor fraterno e amigo dos que connosco viveram os momentos mais marcantes da vida. Agora, é o tempo de nos doarmos sem

Carlos Manuel Jacob Foitinho, 49 anos, nascido em Aldeia Viçosa, concelho e Distrito da Guarda, ordenado sacerdote no dia 13 de Junho de 1986 em Gouveia. Iniciou a sua actividade missionária na Escola Apostólica de Cristo-Rei, Seminário dos Missionários de S.João Baptista, em Gouveia. Interrompeu-a durante dois anos para fazer o serviço militar obrigatório, primeiro na Brigada Mista Independente de Sta. Margarida e depois no Regimento de Infantaria em Castelo Branco. No dia 8 de Novembro de 1998 assumiu a Missão de N. Senhora das Graças, em Murrupula, na Província e Arquidiocese de Nampula - Moçambique, onde esteve 10 anos nas cerca de 200 comunidades espalhadas por uma área de 3070km2. Desde o dia 1 de Dezembro de 2008, encontra-se na Missão de S. João Baptista do Marrere. Esteve também por diversas vezes, nas férias escolares do Verão, na Alemanha e nos Estados Unidos ao serviço das comunidades portuguesas.


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limites, independentemente das adversidades que nos surgem ou deste mundo estranho em que nos encontramos com costumes, tradições, língua, alimentação, clima, cores, ritmos, gestos… bem diferentes. Como caracterizaria a missão no Marrere? A Missão de S. João Baptista do Marrere é uma Missão de referência. No passado ficou conhecida sobretudo pelo Hospital que foi dos maiores da província de Nampula e até do País. Com as nacionalizações e o abandono do pessoal religioso a Missão foi perdendo a sua importância e inevitavelmente foi-se degradando. Foram feitas várias tentativas de recuperação, mas a meu ver nem todas surtiram efeito. Das mais importantes e por certo aquela que marcou a mudança foi a intervenção da Fundação Teresa Regojo com as obras de recuperação do Hospital do Marrere. Hoje, a par deste contributo mantêm a sua colaboração na recuperação do Hospital e em outras apostas ligadas à sustentabilidade desta unidade de Saúde. A própria recuperação das instalações da Missão recebeu o seu valioso apoio. Sendo assim a Missão surge no panorama nacional como uma mais-valia pelas diversas apostas em curso. A par da Saúde, onde houve intervenções de grande vulto: electricidade, rede de água, instalações sanitárias, esgotos, recuperação do bloco cirúrgico, laboratório, construção do hospital de dia para atendimento de portadores do HIV/Sida, gabinete de apoio nutricional, cardiologia. Há ainda outros projectos que o catapultam, como a construção de um serviço de Radiologia e um pavilhão para os doentes de Tuberculose ( Tisiologia). Claro que tem havido outros parceiros: Associação Portuguesa Raul Follereau, Manos Unidas, Câmara de Concorrenzo em Itália. De facto, através da Igreja Católica há um conjunto de intervenções que nos levam a acreditar que o Hospital Geral do Marrere terá no futuro um lugar de topo pela oferta de serviços de qualidade e de quantidade. Ao nível da educação recuperou-se recentemente a Escola Polivalente e os lares que possibilitaram o aumento em mais de 30% de alunos. O facto de se ter celebrado, em Janeiro do presente ano, um protocolo com o Ministério da Educação no sentido de os docentes serem pagos pelo Estado, permitiu-nos baixar as taxas cobradas na matricula e permitir que o ensino se tornasse acessível aos mais pobres. Para o próximo ano estabelecemos já um contrato com a Cooperação Belga, para construir um Instituto Industrial com cursos de carpintaria, marcenaria e informática. Ao nível agro-pecuário há também novos projectos que nos irão permitir aproveitar a área agrícola, produzindo os alimentos para os doentes e alunos. Em suma a Missão é um enorme desafio na certeza de que o

mais importante é a ajuda aos pobres dos mais pobres. Caracterização da área de trabalho. O meu trabalho missionário para além dos cerca de 15 mil cristãos que assisto espiritualmente, sou professor no Seminário Mater Apostolorum e responsável da Missão nas diversas componentes que já destaquei. A atenção às pessoas e a resolução das suas preocupações tem sido a minha grande tarefa neste mar de solicitações. Principais necessidades. As principais necessidades são de diversa ordem. Dividi-las-ia em duas partes: as da Missão (estrutura), que se centram sobretudo na falta de recursos económicos e de pessoal e as necessidades desta gente fragilizada pela doença, miséria e morte. Repare que todos os dias somos confrontados com esta tríade que engrossa a pobreza absoluta. A falta de meios impossibilita-nos de chegarmos a todos. É uma dor na alma vermos sofrer tanta gente e não as podermos socorrer. Como sabe todos os anos há focos de fome. As cheias ou a escassez de água impossibilita o desenvolvimento das culturas o que provoca bolsas graves de fome. Todos os dias chegam, por exemplo, crianças desnutridas ao Hospital que são apoiadas pelo programa lançado pela enfermeira Eugénia a que a Helpo generosamente também respondeu. Não podemos escamotear ou esquecer a triste realidade do sofrimento humano. Ser missionário, não é mais do que traduzir na prática os valores do Evangelho de cuidar dos pobres, dos doentes, dos segregados, dos órfãos …de todos aqueles que não têm voz e vez. Fragilidades. Na vida de doação, para além de sermos semeadores de esperança, há intrinsecamente sinais de fragilidade ou de limitação, como queiramos chamar. Muitos são inerentes à nossa personalidade, outros à nossa formação e outras ainda às circunstâncias que vivemos ou experimentamos. No entanto, penso que para qualquer missionário a grande fragilidade que encontra é o antagonismo entre o dar-se e o saber dar-se. Este dualismo entre o que podemos dar e o que devemos dar é um desafio permanente e até angustiante. Os enganos a que somos sujeitos e as revoltas que vivemos face às mentiras de que somos alvos, faz-nos perder alguma capacidade de entrega sem reservas. Somos demasiado intervenientes, por vezes para nos darmos conta de que também cultivamos contra valores. De facto o contexto que nos envolve não nos permite descobrir a capacidade de discernir e de agir correctamente. Necessitamos de


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ESTÓRIAS

recuperar energias perante os desencantos e cultivar sempre a arte de recomeçar com optimismo. Forças. A força de viver e de lutar vem da certeza de que não estamos sós e o que fazemos não é para nossa glória ou nosso proveito. Somos formiguinhas nesta terra maravilhosa onde ainda há injustiças gritantes e que ninguém pode calar ou esconder. Somos artífices de boas novas e profetas de amanhãs. Acredito firmemente de que fui escolhido e enviado por Deus para contribuir para que este mundo seja mais belo e humano. Pode parecer utópico, poético, ingénuo, simplista, desenquadrado, louco ou aventureiro, mas quem não cultiva a capacidade do risco, a força da generosidade e alimenta a alma ou o espírito, mais tarde ou mais cedo desiste, desanima ou definha. Há, como diz o filósofo Pascal “razões que só o coração conhece”. Ninguém consegue explicar a força que recebemos de Deus para quem nos damos e vivemos no serviço aos mais pobres. Competências a desenvolver. Neste leque de actividades tenho a sorte de não estar sozinho. Pertenço a um Instituto que se chama Missionários de S. João Baptista que na retaguarda me apoia e encoraja. No terreno vivo e partilho o meu dia-a-dia com sete voluntários no momento (três portugueses, dois italianos e dois alemães). Não posso de maneira nenhuma esquecer nem minimizar o papel de tantos parceiros, como a Fundação Teresa Regojo, a Helpo, a Associação Portuguesa Amigos Raoul Follereau, Manos Unidas, Caritas da Guarda, Cume, Paróquias de Gouveia, Guarda, Pateket, Danbury e uma multidão de muitos outros benfeitores anónimos. Face à conjuntura em que a sociedade moçambicana vive a Helpo doou este ano uma biblioteca à Missão, inaugurada no dia 20 de Março. A Escola e o Lar não tinham qualquer subsídio escolar para que os alunos pudessem investigar ou mesmo estudar. A Fundação Teresa Regojo projecta arrancar em 2010 com um grande projecto agro-pecuário de sustentabilidade do Hospital, sobretudo para que os doentes não passem fome. A Arquidiocese e a Missão estabeleceram também uma nova parceria com a Cooperação Belga no sentido de se criar um Instituto Industrial com os cursos de carpintaria e marcenaria. São pontes de desenvolvimento que se abrem e que criam em todos nós uma capacidade de sonhar. Quais são as principais áreas de acção? As principais áreas de intervenção são as da pastoral, da saúde, da educação e da agro-pecuária. Onde começa uma e

acaba a outra, no meu dia-a-dia, é difícil de dizer e de perceber. Actuo de acordo com as situações que surgem, sempre na fidelidade ao ideal que abracei: “Servir a Deus nos irmãos”. Claro que estamos sempre abertos a novos desafios desde que sejam para o bem comum. O que é que lhe dá alento, de onde vem a motivação? O alento aparece fruto do que os nossos olhos vêem, os ouvidos escutam e o nosso coração sente. A realidade interpela-nos continuamente e não podemos deixar de dar resposta porque muitas vezes somos olhados como “salvadores”. Claro que não devemos cair num paternalismo que a longo prazo


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Os desafios pessoais são sempre comunitários. Aprendi a esquecer-me de mim para me dar totalmente aos outros. É esta entrega que me faz sentir útil. Vivemos não para nós próprios. A capacidade altruísta é algo que nos permite olhar o mundo sem lentes desfocadas ou embaciadas. O optimismo e o gosto de viver e de lutar brotam desta vivência solidária. Aliás, o Evangelho que me esforço por seguir, é vida em todos os que querem ter mais vida. Dificuldades no cumprimento da missão. As dificuldades são de diversa ordem. O problema de comunicação, pois não sei macua (língua que se fala nesta província), as diferenças culturais, de mentalidade, são factores que impedem um relacionamento completo e sem problemas. Claro que a falta de meios económicos e de pessoa, como já frisei, são também empecilhos nesta missão.

cria dependência. Ser agente de esperança nem sempre é fácil. Temos que ganhar sempre novas energias porque quando falharem é sinal que a nossa missão se esgotou. A motivação vem sempre dos que caminham connosco ou estão ao nosso lado. São eles também os verdadeiros protagonistas da Missão. Ser missionário não é uma tarefa isolada ou restringida a uma pessoa ou a um lugar. Missão é de todos e para todos. Nesta tarefa encontramos para além da força de Deus, a força dos que calcorreiam ao nosso lado ou que connosco estão de muitas e diversas formas. Quais são os desafios pessoais com que se trava nesta missão?

Como é o seu quotidiano, o quotidiano de uma missão humanitária? O meu quotidiano depende muito dos problemas que surgem no dia-a-dia. Normalmente levanto-me muito cedo. Às 4h00 começo por me ligar aos amigos e familiares, através da Internet. Às 4h45 tenho que fazer a chamada dos trabalhadores que iniciam as suas actividades na machamba (terrenos das culturas), pelas 5h00. Depois, vou rezar. Em seguida, começo a distribuir os trabalhos dos pedreiros que chegam às 6h00 e a orientar as actividades de limpeza do recinto escolar com os alunos internos. Tomo o pequeno-almoço às 6h30, para às 7h00 organizar o trabalho dos carpinteiros e serralheiros e cumprimentar ao mesmo tempo os alunos e professores que iniciam as aulas no turno da manhã. Depois até ao almoço reparto-me pela escola e pelas actividades agrícolas ou na resolução de qualquer problema. Depois do almoço visito as obras de reabilitação na Missão e acompanho os rapazes nas diversas actividades até às 18h00, hora a que celebro a missa. Janto às 19h00 e muitas vezes visito ainda os doentes ou assisto ao estudo dos alunos internos. É evidente que atendo muitas solicitações dos trabalhadores, dos alunos, do pessoal da Missão e do Hospital. Também dou aulas no Seminário duas manhãs por semana e aproveito a ida à cidade para resolver problemas, contactar pessoas e fazer as compras do material necessário para o andamento dos trabalhos na Missão. Na tarde de Sábado celebro a Missa no Hospital, para os doentes e cristãos das comunidades vizinhas. Aos Domingos assisto as comunidades espalhadas por toda a Paróquia, algumas a mais de 30kms.


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ESTÓRIAS

EXPECTATIVAS A DUAS MÃOS Cascais, Raquel Pinheiro e Leonor Lemos

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erante o desafio de, a duas mãos, soltarmos sentimentos numa folha de papel, duas pessoas tão diferentes mas na verdade tão parecidas, unimo-nos e decidimos envolver-vos no que desejamos e esperamos que o futuro nos reserve… Partilhamos o mesmo escritório, funções, projectos, decisões, opiniões, olhares… Partilhamos medos e vontades tão idênticas quanto únicas… Vamos?! Sim, aqui vamos nós de partida para o terreno… A pouco tempo do início desta fase, acreditamos numa viagem de vida e numa viagem de aventura, que fará cumprir ao coração as vontades que nele se escondem… Assim, partilhamos convosco as expectativas para esta incógnita que nos guia.

Raquel Pinheiro Contrariamente às minhas próprias expectativas, não vou começar este artigo com um saudosista: “Ainda me lembro da primeira vez que entrei na sede Helpo”. Continua nítida a lembrança desse dia mas, ainda assim, prefiro inverter a ordem cronológica dos acontecimentos e começar pelo presente. Estou de partida para a segunda - e a mais ambicionada - fase do projecto de voluntariado da Helpo. Quais as minhas expectativas? Desde o início que me fazem essa pergunta mas é sempre difícil responder. Julgo que um aspecto comum a quase todas as pessoas que ingressam num projecto de voluntariado com esta dimensão, é uma espécie de inclinação inicial para sonhar acordado. Nisto, eu não fui diferente: ainda estava a dar os primeiros passos na Helpo e já a minha cabeça experimentava tudo o que os relatos indicavam que o terreno (inicialmente Moçambique) teria para oferecer: um sorriso, uma palavra nova, uma explicação sobre determinado aspecto da vida local, um sabor. No fundo, para mim, o voluntariado é isso: a oportunidade de experimentar a energia de uma nova cultura, com a vantagem de poder oferecer algo em troca. Recentemente soube que em sorte me calhou a hipótese de

mudar de rota e partir com destino a um novo projecto da Helpo em S. Tomé e Príncipe. Porque não? Contribuir para o início desta nova fase vai ser um desafio notável e sinto-me privilegiada por poder fazer parte disso. Aqui entre nós, ainda me fascina o solo alaranjado de Moçambique, que revi tantas vezes em fotografias – cheia de inveja dos que para lá vão, devo acrescentar. Tive com esse país um namoro à distância, com direito a choros furtivos, fantasias e suspiros, mesmo à antiga. Mas por outro lado a possibilidade de partir rumo a um país que desconheço, anima-me, no sentido mais primário da palavra: subitamente, cada partícula de mim renasceu com vontade de ver chegar o momento de lançar mãos à obra. Se vai ser difícil? Com toda a certeza. Se estou preparada? Sem dúvida. Se vou reagir bem? Não sei. Mas sei que vou dar o melhor que tenho a oferecer. E tal como há apenas algumas semanas sonhava com as cores alaranjadas de Moçambique, agora penso no verde, de S. Tomé. Os desafios mudam, mas a vontade é a mesma. Confesso que, depois de um ano em que vivi tantos imprevistos na Helpo, o lado esquerdo do meu cérebro - mais racional - está a treinar para tentar não criar expectativas; no entanto, sou distraída e quando dou por mim, já o lado direito fugiu - algures para o equador.


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ESTÓRIAS

Leonor Lemos Um começo atribulado, na sede da Helpo, em Cascais. Cheio de perguntas, respostas que nunca satisfazem a necessidade de quem questiona, dúvidas sobre todo o meu processo nesta Associação, incertezas sobre esta parte do meu caminho que se faz por aqui. Um início descoberto de protecção e de encantos, um desconhecido que acabou por me reconhecer, após uma temporada neste grupo. O período de formação tem um sabor a pré-época. Uma pré-época de 4 meses de certezas e incertezas, vontades e necessidades de aconchegos, com uma sequela de uma época intensiva de 6 meses por terras africanas, na companhia de pessoas que espero que se tornem companheiros de equipa e de vontades. Um dia, já no final dos primeiros 4 meses de formação e antes da partida para o terreno, pediram-me: “Leonor conta-nos quais são as tuas expectativas em relação à viagem que vais realizar”. E eu comecei a contar…Quando procurei uma definição para este estado psicológico (estar na expectativa), encontrei numa consulta ao dicionário, a seguinte afirmação, “expectativa: situação de quem espera a ocorrência de algo, ou sua probabilidade de ocorrência, em determinado momento”; Palavra derivada do substantivo latim ex(s)pectatum, do verbo ex(s)pectáre, significa estar na expectativa de, esperar, desejar, ter esperança. Aqui vos entrego então a expectativa do meu futuro. Melhor dizendo, entrego-vos um pouco de mim… Desde que nasceu a vontade de ir para terras africanas, e pos-

teriormente o concurso a voluntária e selecção por parte desta organização, foi-me dada a oportunidade de criar os meus “macaquinhos no sótão”, de criar mais e mais emoções sobre o projecto a desenvolver. De fabricar emoções desde a antecipação da partida até à emoção da chegada… desde a possibilidade de poder libertar a minha imaginação no que respeita à terra que daqui a uns dias me irá acolher, como a ansiosa vontade de poder olhar de perto a mistura de alegria e tristeza dos tão peculiares seres humanos que vivem nessa terra! Encontro-me assim permanentemente acompanhada por um turbilhão de emoções, ideias, conceitos por definir, cheiros por cheirar, cores por encontrar, quem sabe, pessoas para abraçar, gostos por descobrir e encantos para me encantar… A sensação é aquela de quando se sente tanta coisa, se deseja tantas emoções, se anseia por tantos mistérios, se percorrem caminhos imaginários à procura de respostas…tudo coisas que só se encontram quando nos deparamos de facto com a realidade; aquela que nos pode realmente esclarecer sobre tudo isso que nos tem vindo a envolver! É assim que me sinto! Num dos recantos do Continente Africano, cheio de “pepitas” de cultura e história, de riqueza e beleza natural, com um posicionamento geográfico especial, espero sentir-me aconchegada e envolvida, na esperança de crescer enquanto pessoa e profissional e partilhar o meu coração com todo esse mundo de potencialidades que me encanta e me faz sonhar! Como estou hoje?!... À espera de tudo o que este recanto do mundo me queira entregar!

“(...) na esperança de crescer enquanto pessoa e profissional e partilhar o meu coração com o mundo”





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ESTÓRIAS

SER UMA HELPA Cascais, Sofia Diniz

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amizade tem destas coisas… Numas ocasiões dá para se partilhar experiências de vida, como casar, comprar casa ou ter filhos. Noutras, dá para perseguir sonhos

comuns. Foi assim, com o nascimento de uma grande amizade, que começou a minha grande aventura na Helpo. Na verdade sempre houve em mim o “bichinho” do associativismo, pois, já desde os tempos de liceu envolvi-me na associação de estudantes. O mesmo aconteceu durante a faculdade, onde durante três anos fiz parte da direcção da Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa. O certo é que, mesmo durante estas duas experiências, os projectos que levei a cabo e concretizei tiveram sempre como objectivo principal o desenvolvimento humano, fosse porque estavam ligados à educação para a cidadania, fosse porque almejavam a progressão cultural do seu público-alvo que, na altura, eram os estudantes. Daí que, já depois de finalizar a minha formação universitária, integrar a direcção da Helpo fosse um passo quase natural para a minha forma de estar na vida. Claro que, tal nunca seria possível sem o conhecimento que tive “a priori” do funcionamento desta associação e que me foi dado através da grande amizade que construí ao longo dos anos com a sua Coordenadora-Geral, Joana Clemente. Isto porque, eu nunca eria capaz de integrar a direcção de uma associação, fosse de que género fosse, sem saber à partida que estava perante uma organização que, para além do mais, se pauta pela honestidade e pela prossecução dos interesses de quem a apoia e que são, desde logo, os seus padrinhos. A minha experiência na Helpo começou com o apadrinhamento, já que fui madrinha de uma criança moçambicana e assim contactei com o funcionamento do programa de apadrinhamento à distância, projecto fulcral na actividade da Associação. Não era ainda “uma Helpa a sério”, pois limitava-me a ler as informações que me eram dadas nesta revista e nas cartas que eram enviadas do terreno. Mas sempre houve uma grande vontade em participar mais activamente. Assim, quando fui con-

vidada para integrar a direcção da Associação, dei o meu sim imediato. E aí vi as grandes virtudes deste projecto. Para além do facto de ajudarmos milhares de crianças que vivem com dificuldades que o mundo moderno nem sequer concebe, daí tiramos um prazer imenso. É um prazer-realização, é algo que nos ultrapassa e que nos impele a continuar até conseguirmos cada vez mais. É o atingirmos um objectivo e não sermos capazes de parar por aí. Acaba por nos ser indispensável ter uma nova ideia, conceber uma nova forma de ajuda e pô-la em prática, eternamente. Isto sem sequer pensar que vamos ter que fazer sacrifícios, que vamos ter que ter reuniões ao fim do dia, depois de uma jornada de trabalho. Que vamos comer salgadinhos para enganar a fome até encontrarmos a solução para aquela nova ideia que entretanto surgiu e que vai sempre surgir. Que a nossa família não nos vê nesses dias e que, quando chegamos a casa, não falamos senão naquilo que fizemos e que teremos que fazer para atingir sempre o mesmo fim: ajudar as crianças que de nós acabam por depender. É muito gratificante quando podemos dizer, por fim, que fomos nós que levámos a cabo essa ajuda, integrando-se nesse “nós” todos aqueles que são importantes em todo o processo de concretização dos projectos da Helpo: os seus padrinhos, os seus funcionários, a sua direcção e todos os demais parceiros que, pontualmente ou de forma continuada, lhe vão prestando qualquer ajuda. Ter a Helpo como algo que é muito nosso, que faz parte de mim enquanto pessoa activa na sociedade que pretendo ser, é que é o que mais me importa. Pois, se não houvesse Helpo algo de mim estava por preencher e eu não vivia satisfeita comigo própria. Esta é a minha forma de “ser uma Helpa”, é ser eu e a Helpo num sonho que é comum a todos aqueles que fazem parte deste “nós”. Por isso, muito obrigada a todos, agradeço-vos eu talvez um pouco egoisticamente, pois, além de ajudarmos os nossos afilhados e todos aqueles que participam e beneficiam com os nossos projectos, ajudam-me também a mim a ser uma pessoa melhor.


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MAIS DO QUE PADRINHOS

comunidade helpo. Cascais, Raquel Pombo


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A

chegada aos Açores tem sempre qualquer coisa de especial, não sei se é do ar insular, da força da natureza, da imponência dos vulcões, da presença absoluta do mar ou da arte de bem receber dos seus habitantes. A verdade é que é impossível ficar indiferente à coragem e humildade daqueles que vivem em harmonia com os desígnios da criação. Dizem os Km2 que o Faial é uma ilha pequena, lamento muito mas tenho de discordar desta medida tão comummente utilizada. Não consegui encontrar a pequenez… Onde é que está a pequenez no assombro da caldeira? Onde é que está a pequenez no fenómeno vulcânico dos Capelinhos? Onde é que está a pequenez numa marina que alberga histórias de marinheiros de todo mundo? Onde é que está a pequenez numa comunidade como os Cedros cujos habitantes são prova viva do que é uma comunhão, do que é a partilha? Tudo o que vi foi de uma grandeza imensa, de uma dedicação inspiradora e de uma força comovente… Confesso que a expectativa já era uma rapariga crescida, com muitas provas dadas e no entanto deu um pulo astronómico quando se encontrou com a realidade. As Sopas do Espírito Santo foram realizadas em 2008 na freguesia dos Cedros, no dia 17 de Fevereiro. Contaram com a colaboração comunitária, juntaram mais de 500 pessoas e ajudaram à reunião dos fundos necessários à construção de mais um poço, após a construção do furo na comunidade de Momola, em Moçambique, inaugurado em 25 de Julho de 2008 também com a ajuda dos fundos provenientes da ilha do Faial, e que dá agora de beber a mais de 750 crianças. Este ano tive a hipótese de ver de perto o acontecimento e parti, juntamente com Carlos Almeida, membro da direcção da Helpo, no dia 13 de Março, rumo à cidade da Horta no Faial, onde um grupo de valentes senhoras voltou a reunir-se e provou que é possível concretizar sonhos, desde que temperados com a dedicação e o empenho que só a vontade genuína proporciona. A Casa do Povo dos Cedros entrou em reboliço, a cozinha parecia um armazém de uma grande superfície comercial, a comida estendia-se pelas bancadas, desde os ovos para o arroz doce à massa sovada, dos legumes para as sopas, até aos grandes alguidares que guardavam a carne de vaca. Sendo que todos estes alimentos, e acredite-se não era de todo “coisa-pouca”, foram doados à causa, oferecidos, reunidos e partilhados. Os tachos também se alinhavam em compridos corredores pela

cozinha fora, ostentando as suas dimensões imponentes e dificultando as passagens. Na sala polivalente as mesas cresciam, as cadeiras aprumavam-se justapostas como se de uma dança se tratasse e num instante os braços encadeavam trabalhos e transformavam o espaço vazio numa sala de jantar com 4 mesas infindáveis, postas com brio e cuidado para os participantes daquele “manjar”. O trabalho era tanto que afugentou o cansaço e desde as 3h00 da madrugada do dia 15 de Março que a cozinha se transformou. Os legumes descascados de véspera esperavam a sua vez, enquanto nos tachos se juntavam as carnes e as especiarias para o delicioso caldo. A força dos homens foi requerida para o levantamento dos tachos até ao fogão. Depois foi ferver, temperar, cuidar, e esperar … Às 10h da manhã o cheiro a sopas já impregnava os Cedros chamando as pessoas, que levariam a sua porção para casa, à casa do povo trazendo na mão os sacos com panelas, tachos e caixas plásticas. Os carros das voluntárias enchiam-se de arroz doce, massas e sopas, para serem levadas a quem mora mais longe e não podia sair de casa. É com o final da missa que começa a azáfama de servir as mais de 500 pessoas que comeram na casa do povo, um esquema perfeitamente ensaiado que faria qualquer formiga corar de vergonha. Como o tempo corre quando corre por gosto, num instante a sala começou a vazar e foi a vez do almoço de todos os voluntários que, convenhamos são tão ou mais convidados do que qualquer outro, compraram o seu bilhete para as sopas e pagaram para trabalhar! Às 18h00 parecia que nada tinha acontecido!!! Tudo impecável, a cozinha brilhava e os utensílios já tinham sido devolvidos aos seus donos, a sala varrida, as mesas arrumadas, o espaço descansava e demonstrava-se pronto para outra! Contudo o que aconteceu ali foi mágico, para além dos sorrisos exaustos, das amizades conquistadas e de uma comunidade fortificada, houve um mundo que mudou, que se tornou mais humano e que ganhou renovadas condições… Foram angariados 5.753,50€ para a construção de um outro poço em Moçambique, mais crianças terão acesso a água potável evitando as longas caminhadas, as faltas à escola, às águas impróprias e as doenças que delas derivam… É por todas estas crianças e pelo exemplo comunitário, que deixamos aqui o nosso muito obrigado, por serem membros activos na construção de um Mundo mais Humano.


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QUEM HELPA?

campanha “um café por timor”. Cascais, Sofia Nobre

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o contexto social, marcar pela diferença não é fazer algo diferente dos outros mas algo diferente pelos outros. Empenhadas em exercer uma cidadania responsável, as empresas têm procurado de forma crescente assumir uma postura social, ética e ambiental consciente. Desta forma, procuram interagir com as comunidades envolventes, retribuindo-lhes parte do que delas recebem. Com base nesse pressuposto a gestão das empresas não deve ser norteada apenas pelo cumprimento de interesses dos proprietários das mesmas, mas também pelos de outros detentores de interesses como, por exemplo, os trabalhadores, as comunidades locais, os clientes, os fornecedores, as autoridades públicas, os concorrentes e acima de tudo a sociedade em geral. Para melhor servir estes propósitos, várias empresas têm-se associado a diversas organizações que desenvolvem projectos neste âmbito. Através da conjugação de esforços entre empresas e organizações que têm em comum práticas socialmente responsáveis, é assim possível contribuir para uma maior consciencialização sobre as vantagens desta prática, que beneficiam empresas, organizações e alvos a que se destinam estas acções. Esta rubrica, que trimestralmente ilustrará as páginas do mundo h., pretende dar a conhecer “Quem Helpa”, sejam criadores, apoiantes ou dinamizadores de acções de Responsabilidade Social com a Helpo ou com outra Organização/Entidade, que julguemos merecedores da sua divulgação, potenciando e incentivando este tipo de diligências. Neste âmbito destacámos a Delta, que escolheu impor-se no mercado pela sua dimensão social. A Novadelta S.A. foi a primeira empresa portuguesa a implementar a Certificação de Responsabilidade Social SA 8000 - um padrão ético desenvolvido para promover o negócio socialmente responsável. Trata-se de uma norma que foi estabelecida com base nas convenções da Organização Internacional de Trabalho, na Declaração Mundial

dos Direitos Humanos e na Convenção das Nações Unidas para os Direitos das Crianças e que tem por base nove requisitos, nos quais as empresas devem sustentar as suas políticas e procedimentos (por exemplo, nas áreas do Trabalho Infantil, Trabalho Forçado, Saúde e Segurança, Discriminação, Remuneração, etc). Recentemente esta postura ética alcançou uma nova dimensão, com o projecto de Desenvolvimento Sustentável das regiões produtoras de café, que teve em Timor o mais forte e mediático embrião. O objectivo deste projecto é contribuir para o desenvolvimento ambiental, social e económico das regiões produtoras de café. Dos seus princípios fazem parte a integridade e transparência das relações entre parceiros, o incentivo à qualidade, a formação de pequenos produtores e os princípios que regem o Comércio Justo, que têm como objectivo primordial trazer mais-valias para a comunidade. Na prática, e no caso de Timor, não só a compra do café deveria ser ao preço justo do mercado, como a margem de comercialização do café torrado seria aplicada na região. A par deste projecto, a Delta comunicou com os seus consumidores e incentivou-os a participar: por cada embalagem de Café Delta Timor 250g produzida, a Delta Cafés enviou 0,25 euros para Timor, revertendo esta quantia para a construção de infra-estruturas de apoio à população, construção de escolas e fornecimento de equipamentos e materiais escolares. Esta iniciativa beneficiou mais de 1800 alunos em várias localidades, permitindo-lhes o acesso a uma Educação adequada e regular e beneficiando igualmente toda a população onde estes projectos se inserem. O projecto foi implementado pela primeira vez em Timor, mas está a ser alargado a outras regiões, como o Brasil, Angola e São Tomé. A Helpo acompanhará estas e outras acções que tornam o nosso mundo num mundo cada vez mais humano!


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Resultados da campanha “Um café por Timor”: - Escola Primária de Fahíte, EP2007, 210 alunos, edifício, mobiliário, equipamento e material escolar; - Escola Primária de Tibar EP04, 650 alunos, mobiliário, equipamento e material escolar; - Escola Primária de Leorema EP02, 690 alunos, mobiliário, equipamento e material escolar; - Escola Primária de Gleno SDN01, 340 alunos, edifício, mobiliário, equipamento e material escolar; - Universidade de Timor/Dili, gerador e cafetaria; - Escola Agrícola de Natar Bora, edifício, mobiliário e equipamento; - Jardim Escola Vila Verde, edifício, mobiliário, equipamento, ludoteca e leite.




i MAIS

world runday. P

ela segunda vez consecutiva, a Helpo foi representada no World Runday, uma iniciativa que decorre a nível internacional, em que várias cidades do

mundo aliam a prática de vida saudável a uma causa solidária. Assim, e tendo este ano como tema base a fome que vitima as crianças pelo mundo inteiro, Susana Curralo, uma

das nossas madrinhas, disponibilizou o seu tempo e motivou um grupo de alunos para a participação e defesa desta causa, angariando donativos para a Helpo.

A Helpo agradece à Susana o interesse e a iniciativa em divulgar os nossos projectos e a nossa causa neste evento.

envio de prendas para os afilhados. T

odos os trimestres, a Helpo realiza envios de pequenos volumes para o terreno, para que todos os padrinhos tenham a oportunidade de enviar presentes aos seus afilhados. Relembramos que, cada padrinho poderá enviar-nos para a nossa sede, um envelope A4, com uma carta, uma fotografia, um postal e/

ou uma pequena lembrança para dar à criança (um Livro, cadernos, lápis, um Brinquedo…). O próximo envio será no dia 15 de Junho e assim sucessivamente, trimestralmente. Pedimos também que nos enviem o envelope com a lembrança, até uma semana antes da data de envio. Posteriormente, e durante o ano corrente, teremos tam-

bém o envio de um contentor, cuja data ainda não está estipulada. Neste envio cada Padrinho poderá entregar-nos uma caixa de tamanho XL, cujo peso não poderá exceder os 5,5kg. Os bens mais aconselhados para enviarem por contentor são os bens de higiene pessoal (barras de sabão azul e branco, sabo-

netes de glicerina, óleo para bebé e vaselina), o material escolar ( cadernos, lápis, canetas, borrachas, afias, jogos didácticos, mapas mundi, livros para colorir, etc) e livros infantis. Se tiver alguma dúvida sobre o tema, poderá consultar o nosso site: www.helpo.pt (ou contactar-nos via e-mail ou telefone).

de vídeo sobre o Apadrinhamento de Crianças à Distância). O filme vencedor, editado por Samir Noorali foi exibido no dia 25 de Novembro, por oca-

sião do IV aniversário da Helpo, celebrado no Centro de Congressos do Estoril e poderá ser visto através do seguinte link:

helpo tv. I

nformamos que a Helpo lançou, no início do ano a “Helpo T.V.”, onde poderá visualizar pequenos filmes sobre os projectos e o trabalho

desenvolvido com as comunidades que apoiamos. Poderá também visualizar o filme vencedor do concurso Helpo Frames (concurso de edição

http://www.vimeo.com/2801047.


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FICHA TÉCNICA

Entidade Proprietária e Editor

Correspondente em África

Associação Helpo

Hugo Neto

Morada e Redacção: Rua Manuel Joaquim Gama Machado, nº 4 2750 - 422 Cascais

Design

Director Responsável

Ilustração

Carlos José Bernardo Almeida

Luís Nascimento

Directora Editorial

Joana Clemente Nº de registo no ICS: 124771 Tiragem: 3500 exemplares

Codex - Design e Relações Públicas

Informações: Associação Helpo

Tel.: 214844075 Fax: 214843154 info@helpo.pt www.helpo.pt

Periodicidade:

Trimestral NIF: 507136845 Depósito Legal: 232622/05 Impressão

Linha Criativa

Rua João Chagas, nº 59 piso 1 esq.1495-073 Algés Redacção Portuguesa

Sofia Nobre (secretária de redacção) Joana Clemente Helena Correia Margarida Assunção Raquel Pombo Colaboradores neste número

Ana Luísa Machado Helena Correia Joana Clemente Leonor Lemos Padre Jacob Raquel Pinheiro Raquel Pombo Sofia Diniz Sofia Nobre

A responsabilidade dos artigos é dos seus autores. A redacção responsabiliza-se pelos artigos sem assinatura. Para a reprodução dos artigos da revista mundo h, integral ou parcial, contactar a redacção através de: info@helpo.pt.


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