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Entrevista
LINDA PEREIRA: “Precisamos de mais Mulheres na liderança e na política”
Linda Pereira é uma luso-britânica, nascida em Inglaterra, residente no Estoril. Visitou Portugal, pela primeira vez, no final dos anos 70, ainda estudante. Em 1983, imigrou sozinha, para Portugal, onde não tinha família. Em 1985 criou a sua própria empresa e, em 1992, antes da Expo98, envolveu-se na organização da primeira Presidência Portuguesa da UE. Palestrante, consultora, especialista em comunicação estratégica, escritora e educadora, empreendedora, consultora internacional, especialista em comunicação estratégica e diplomacia corporativa.
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Foi considerada uma das cinco personalidades portuguesas mais influentes na indústria e recebeu vários prémios internacionais, entre eles, uma medalha de honra de empreendedorismo. Atualmente é Presidente do L&I Communications Group, CEO da CPL Events, e foi escolhida como “Global Chair” de Portugal, do G-100 Global Network Meeting, que se realizou em Cascais, entre 19 e 22 de maio.
O G-100 EM PORTUGAL, É DEFINITIVO?
O trabalho foi para ser definitivo. E posso dizer, em primeira mão, que sim, que o G-100 já aprovou três anos de evento em Portugal. Este era o lançamento, e já conseguimos captar o evento maior, que vai ser para o ano, de 18 a 21 de maio. Ainda não foi assinado, mas está confirmado para o ano.
NA CIDADE DE CASCAIS?
Vai ser em Cascais. Não vai ser aqui porque este ano o que nós queríamos fazer era mostrar um bocadinho do que é a alma cultural, que Cascais tem, no âmbito da tradição, da beleza e da arte. Para o ano, vamos para outro lugar, porque temos mais gente, é maior, mais impactante, é mais mundial, é híbrido. Somos, neste momento, à volta de 2,5 milhões, estamos a caminhar para os 5 milhões, portanto, estamos a contar, para o ano, termos à volta de 2500 participantes e, como tal, temos que escolher um lugar como o Centro de Congressos, ou uma coisa parecida.
O QUE NOS TEM A DIZER SOBRE A EVOLUÇÃO DO EMPODERAMENTO FEMININO, EM PORTUGAL, NA ÚLTIMA DÉCADA?
Eu sou uma eterna insatisfeita. Quando as pessoas, em lugares de poder, me dizem que já andámos muito, eu acho que não, que andámos pouco, começámos muito tarde. Até muito tarde em Portugal, as mulheres foram as formiguinhas. As mulheres trabalham imenso, são brilhantes, fazem coisas, mas é para dar brilho e luz a quem está acima, e, quem está em cima são homens. Portanto, temos muito, muito, muito, muito para andar. A minha vida é relembrar- -me diariamente que temos de agir localmente e internacionalmente, porque enquanto eu estiver em Portugal e me sentir bem, nós dizemos que estamos todos bem. Não é verdade, porque o resto do mundo não está bem. Enquanto não subirmos todos, ninguém subiu. É muito importante lembrarmo-nos disso. E em Portugal eu reconheço que é difícil. Porque para um ter o outro, o outro tem que perder. É uma transição complicada. Mas em Portugal, temos grandes leis, leis fabulosas, que não são aplicadas no dia a dia. Temos muito que andar. O próprio ministro admitiu isso perfeitamente, que temos um longo caminho para andar.
POLÍTICAS DE IGUALDADE DE GÉNERO, AINDA HÁ MUITO PARA SER FEITO. O QUE FOI FEITO ATÉ AGORA, QUE POSSA SERVIR DE IMPULSO, PARA INICIATIVAS COMO O G-100?
Em Portugal, nos últimos quatro anos tivemos um Secretário de Estado para a paridade, que tinha alguma influência e que lutou muito. Já implementámos leis fantásticas, como o “work life balance”. Mas uma coisa é ter uma lei, uma coisa é aplicar uma lei, e nós sabemos que elas não são aplicadas todos os dias. E eu sei disso, porque trabalho na área. Ninguém imaginava que o G-100 teria uma “Global Chair” em Portugal. Portugal não é um país de grande influência no mundo, não é um país tão conhecido como nós achamos que somos, e não é um país que dos 100 países do mundo, porque há 195, seria uma escolha óbvia para ter uma “Global Chair”. Uma “Global Chair” ter sido escolhida para Portugal, quer dizer que temos alguma palavra a dizer. Mas agora compete-nos a nós Mulheres, com os nossos parceiros masculinos, agir para que o que já há seja implementado, e para o que ainda não há passe a ser. Precisamos de mais Mulheres na liderança, mais Mulheres na política, o Governo deu um grande exemplo. Vamos ver se as empresas seguem.
QUE PALAVRAS PODERIA DIZER QUE SIRVAM DE INSPIRAÇÃO ÀS MULHERES EMPREENDEDORAS EM PORTUGAL E NO MUNDO?
Nós mulheres somos muito mais perfecionistas e temos aquela tendência de esperar até ter tudo perfeito antes de lançarmos ou fazermos. O que digo às mulheres empresárias, fundadoras, criativas de qualquer área, é não fiquem num gabinete ou na vossa casa, ou seja onde for, fechadas a lutar com os vossos demónios. Venham a eventos destes, que vos dão a conhecer pessoas que já passaram por isso. Partilhem a vossa história, juntem-se a outras mulheres que têm coisas para vos dizer, que têm coisas para partilhar, que podem aconselhar. Porque eu sou absolutamente fundamentalista sobre o fato de que se queremos ir longe, temos que ir acompanhadas. Partilhem, perguntem, tenham uma rede, aumentem a vossa rede. Os homens fazem isso brilhantemente. Está na altura de nós darmos o passo que nós devemos dar, para nós podermos criar um movimento de apoio entre mulheres.
ESTE NETWORKING NÃO É APENAS UMA TROCA DE CONTATOS, MAS UMA TROCA DE EXPERIÊNCIAS E SERVIR DE INSPIRAÇÃO UMAS ÀS OUTRAS?
Exatamente. O networking é trabalho, o networking não é cházinho e coquetéis, nada disso. O networking é conhecer pessoas que têm um percurso, que já passaram por uma experiência, que podem olhar para trás e dizer: “Olha, faz assim.”, “Esta é a melhor estratégia.”, “Eu tenho uma rede de contatos de compradores de produtos. Queres entrar na minha rede?” Eu posso promoverte.”. Essencialmente, nós estamos aqui para trocar experiências. Eu costumo dizer que é “connect, share, development and grow”. Nós, todas juntas, conseguimos ser uma força imparável.
