8 minute read
Entrevista
PEDRO MARIANO acredita que pode fazer a diferença
Estudou Marketing e Publicidade, mas desistiu para trabalhar na banca. Escreveu um livro. Nos tempos que correm é um empreendedor dedicado a lutar contra a injustiça na sociedade civil. Criou a plataforma assedius.pt após ter sido vítima de assédio moral no local de trabalho. Tem como objetivo principal resolver o problema individual de cada uma das vítimas que se apresentam. Defende que o assédio laboral ainda é um tema tabu em Portugal, mas apesar do “caminho de pedras” que tem percorrido, considera que a evolução tem sido positiva e constante. É lutador, resiliente, mas positivo. Acima de tudo acredita que pode fazer a diferença, pois a luta pela justiça é a sua maior arma.
Advertisement
EM PRIMEIRO LUGAR, FALE-NOS UM POUCO SOBRE SI: QUEM É PEDRO MARIANO A TÍTULO PESSOAL?
Sou um empreendedor e um criativo, com grande espírito de curiosidade, inovação e resiliência. Cada vez mais sigo a minha intuição e pontualmente peço conselhos aos meus mentores, e depois tomo a decisão que a minha consciência/razão manda e normalmente nunca se engana. Por outro lado, tenho um ensurdecedor sentimento de justiça que me impulsiona a atuar ativamente na sociedade civil, desenvolvendo projetos que têm em vista a melhoria da qualidade de vida das pessoas e das empresas.
AO LONGO DA SUA VIDA ESTEVE SEMPRE LIGADO AO VOLUNTARIADO. FEZ VOLUNTARIADO EM VÁRIOS SÍTIOS, EMPRESAS, LOCAIS. O QUE SIGNIFICA O VOLUNTARIADO PARA SI?
Fui escuteiro e desde aí gostei sempre de ajudar e cuidar dos outros. O Voluntariado é para mim um princípio pessoal de interajuda e preocupação com os outros permanente. Ao longo da minha vida estive sempre inscrito e participei em ações de voluntariado em todas as empresas que trabalhei, e também nas ações desenvolvidas pela comunidade onde resido. Pode parecer um cliché, mas ganhei sempre mais do que dei, a vida é uma grande lição, todos precisamos de todos! Aprendi com o meu primeiro gerente, o meu querido amigo Santos Silva, que é preciso muita paciência e resiliência para liderar equipas, e desde aí quando assumi o primeiro cargo de gestão segui o seu conselho: ouvir as preocupações e quais os objetivos de carreira de cada colaborador. Para obter estas respostas, com simplicidade, basta escutá-los e depois tomar decisões que os ajude a concretizar os objetivos a que se propõem dentro do que é imposto como objetivo da instituição.
ESTEVE INSCRITO NO ISCET EM MARKETING E PUBLICIDADE, MAS DESISTIU PARA IR PARA A BANCA. O QUE O LEVOU A MUDAR DE ÁREA, E A DESISTIR DO CURSO?
O que me fez mudar de área naquele momento, foi a busca pela minha independência económica em relação aos meus pais, embora, tenha gostado muito do meu trabalho na banca e nos princípios que àquela ocasião a mesma encerrava. Contudo, o gosto pelo marketing e publicidade esteve sempre presente, e a par daquela atividade fui exercendo também nesta área, desenvolvendo inúmeros projetos. Ao longo dos anos os princípios em que acreditava na banca foram-se alterando, deixei de me rever como pessoa nesse trabalho e então dediquei-me a tempo inteiro apenas à área de marketing, publicidade e novas tecnologias.
ESTEVE MAIS DE 20 ANOS LIGADO À BANCA. DURANTE ESTE TEMPO CONSEGUIU ATINGIR O QUE SE PROPUNHA, OS SEUS OBJETIVOS?
Durante o tempo que trabalhei na banca, não só cumpri os objetivos que me eram propostos, como muitas vezes os ultrapassei. Como referi na resposta anterior, durante muito tempo revi-me profissionalmente nos valores que a banca defendia, e isso constituía um estimulo para cada vez mais melhorar a minha performance, liderando grandes equipas e obtendo excelentes resultados. Quando a situação se alterou, e determinados valores se alteraram, com os quais não me identificava e que me recusava a seguir, porque considerava eticamente reprováveis, acabei sendo vitima de assedio moral no trabalho, o que me levou abandonar essa área.
SAIU QUANDO ERA GERENTE DO BALCÃO DO BANCO. O QUE O LEVOU A SAIR?
Na continuidade da resposta dada à questão anterior, os motivos que me levaram a sair foram o facto de não me identificar com os princípios poucos éticos de determinadas pessoas com quem me relacionava profissionalmente na banca, o que resvalou na prática do referido assédio moral e por conseguinte me levou à tomada de decisão da minha saída.
É O FUNDADOR DA ASSEDIUS.PT. O QUE O LEVOU A FUNDAR ESTA EMPRESA? EM QUE CONSISTE ESTA PLATAFORMA?
Antes de mais, a principal razão que fundamentou a criação desta plataforma foi o facto de eu próprio ter sido vitima de assedio moral no local de trabalho e ter conhecido na pele os efeitos nefastos que esse assédio acarreta. Depois lancei o desafio à Dra. Noémia Carvalho de escrever o livro “Assédio Laboral – Quando o trabalho aprisiona”, todo ele dedicado ao tema do assédio e também com o meu testemunho pessoal. Como gosto muito de pessoas e de partilhar tudo que sei, resolvi juntar todos e toda a informação que dispunha para começar a desenvolver uma plataforma para a internet e assim nasce a assedius. A plataforma consiste num mecanismo tecnológico absolutamente privado, que vive de capitais próprios, absolutamente independente de ideologias ou de poderes instituídos. A principal função dessa plataforma é a receção imparcial e tratamento isento de casos decorrentes de assédio moral e/ ou sexual no local de trabalho, consistindo numa orientação quer jurídica, quer psicológica, das vitimas desses comportamentos. O grande objetivo é a pronta e eficaz resolução da degradação individual que a vítima de assédio sofre.
QUAIS AS MAIORES DIFICULDADES QUE ENCONTROU DESDE QUE LANÇOU ESTA PLATAFORMA?
A maior dificuldade encontrada foi a sua divulgação pública junto dos meios de comunicação social, junto das instituições publicas e privadas, pois sem subterfúgios, o tema é ainda um tabu na sociedade portuguesa. Apesar de tudo, tendo a noção que fazemos ainda “o caminho das pedras”, a evolução tem sido positiva e constante.
QUAL O PERFIL DAS VÍTIMAS QUE RECORREM A VOCÊS E RESULTADOS?
Agora já com 5 anos de experiência temos uma perceção de todo o percurso das vítimas que chegam até nós. Este problema é transversal, vai desde o varredor de rua até a cargos de administração. O assédio acontece normalmente mais entre chefias e subordinados, mas também chegam casos entre pares e subordinados sobre chefias, este último menos comum. Ninguém está seguro! Após a primeira consulta, todos ficam esclarecidos e mais aliviados, uma vez que a partir daí passam a ter o nosso apoio e podem recorrer sempre que desejarem. Nos casos mais graves é fornecido um número de telefone disponível 24 horas para dar o acompanhamento à vítima. As vítimas ficam sempre muito gratas pelo nosso trabalho e pontualmente vamos recebendo chamadas a informar do desenrolar da situação. Infelizmente o maior número de vitimas ainda é entre as mulheres e entre estas as que têm cargos de relevância, responsabilidade e que exige competência. Alvos fáceis para quem quer denegrir a sua imagem profissional a fim de atingir o seu posto de trabalho.
A ASSEDIUS.PT CONTA AINDA COM REGINA SAMPAIO (ADVOGADA), NOÉMIA CARVALHO E SILVIA CORAZZA (PSICÓLOGA), QUE FAZEM O ACOMPANHAMENTO DAS VÍTIMAS. QUAL A IMPORTÂNCIA DESTE ACOMPANHAMENTO?
A equipa da assedius.pt conta ainda com a colaboração de mais duas juristas (Dra Filipa Leal e Dra Diana Maria Nunes que também ocupa o cargo de CLO) e um colaborador administrativo (Mário Bessa). A importância desta equipa é, como referido no ponto anterior, a orientação, a ajuda das vítimas com o recurso de profissionais muito experientes nesta matéria com o fito primordial de resolução da contingência laboral, mas e principalmente na ajuda da resolução da questão de saúde/doença que inevitavelmente os comportamentos de assédio provocam nas vítimas e nas suas famílias ou pessoas próximas. Acrescento a tais factos um prejuízo económico, antes de mais para as vítimas que a amiúde recorrem a baixa médica, para as próprias empresas ou instituições onde laboram, e em última instância para o Estado que somos todos nós.
QUAIS OS OBJETIVOS? QUE PRETENDE ATINGIR COM A ASSEDIUS?
O objetivo principal é resolver o problema individual de cada uma das vítimas. Tendo sido uma delas sei bem da importância disso. Para isso houve a necessidade de preencher um vazio que existia no combate ao assédio no nosso país, com uma plataforma absolutamente isenta e que trata globalmente os problemas das vítimas, isto é, que ao nível jurídico, quer ao nível de saúde mental. Pretendemos ser uma referência neste campo, diferenciando-nos de todas as instituições públicas e semipúblicas que já existem, tudo com o fim de sensibilizar, prevenir, resolver e combater um fenómeno em pleno crescimento na nossa sociedade, que é hoje considerada a sociedade exausta.