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The charm of Malmsey

Madeira Wine from the Malmsey grape variety has conquered the palate of many and become a reference in world literature O Vinho Madeira da casta Malvasia conquistou o palato de muitos e tornou-se uma referência na literatura mundial

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TEXT CLÁUDIA CAIRES SOUSA • PHOTOS MIGUEL NÓBREGA

Madeira Wine is a nectar of the gods which throughout several centuries has crossed world literature. It has seduced authors, inspired characters, and has even become the most expensive wine in the world, especially in the second quarter of the 18th century in the United States, although it is also highly appreciated by the British, who call it "Malmsey".

In his "Henry IV" play, William Shakespeare even writes that the character John Falstaff trades his soul with the Devil in exchange for a glass of Madeira wine. Another reference by the English playwright to the Madeiran nectar appears in the "Richard III” play , in which the Duke of Clarence, in the late 15th century, chose to be executed in a barrel of Malvasia.

But what made this drink so coveted, especially when tasting a dessert? It all has its origins in the Malvasia-Cândida grape variety, native to Ancient Greece, and which was the first to be planted in the Region, in Fajã dos Padres.

However, internationally renowned winemaker Francisco Albuquerque, oenologist at Blandy’s Wine Lodge, explains that as "the population grew and houses were built on larger plots of land, in warm areas by the sea, the Malmsey migrated to the north coast of the Region, more precisely to São Jorge, in Santana, and gave rise to the Malvasia-de-São-Jorge grape variety. This strain is completely different from Candida, but equal in quality, by producing "structured, complex and appealing wines".

Malmsey stands out for its sweet flavour of "high quality grade", "extremely aromatic, almost floral", and started to attract attention mainly due to the fact that it grows in very large and even "impressive" bunches.

OVinho Madeira é um néctar dos deuses que ao longo de vários séculos atravessou a literatura mundial. Seduziu autores, inspirou personagens e chegou mesmo a ser o vinho mais caro do mundo, sobretudo no segundo quartel do século XVIII, nos Estados Unidos, embora muito apreciado igualmente pelos britânicos, que o chamam de “Malmsey”.

William Shakespeare na peça “Henrique IV” escreve inclusivamente que a personagem John Flastaff negoceia com o Diabo a sua alma em troca de um copo de Vinho Madeira. Outra referência do dramaturgo inglês ao rubinéctar madeirense aparece na peça “Ricardo III”, em que o Duque de Clarence, em finais do século XV, terá escolhido ser executado num tonel de Malvasia.

Mas o que tornou esta bebida tão cobiçada, sobretudo no momento de degustar uma sobremesa? Tudo tem origem na casta Malvasia-Cândida, natural da Grécia Antiga, e que foi a primeira a ser plantada na Região, na Fajã dos Padres.

Todavia, o enólogo de renome internacional, Francisco Albuquerque, produtor de vinho na Blandy Wine Lodge, explica que à medida que “a população foi aumentando e as casas construídas nos maiores terrenos, em zonas quentes, à beira-mar, a Malvasia migrou para a costa norte da Região, mais precisamente para São Jorge, em Santana, e deu origem à casta Malvasia-de-São-Jorge”. Esta estirpe é completamente diferente da Cândida, mas iguala na qualidade, ao originar “vinhos estruturados, complexos e apelativos”.

A Malvasia destaca-se pelo seu sabor doce de “grau elevado de qualidade”, “extremamente aromático, quase floral”, sendo que começou a chamar a atenção sobretudo pelo facto de ter cachos muito grandes e até mesmo “impressionantes”.

“As outras castas na Madeira eram pouco aromáticas. Se esmagássemos o bago, praticamente o vinho só tinha aroma depois de fermentado. No caso da Malvasia, bastava esmagar o bago na mão e tínhamos um aroma muito reconhecido”, realça Francisco Albuquerque.

Nos dias de hoje esta casta continua a ser muito procurada e prestigiada. Porém, existe em cada vez menor quantidade a Malvasia-Cândida e embora tenhamos na Região alguma Malvasia-de-São-Jorge, em breve poderá atingir níveis preocupantes para o sector, que conta atualmente com 106 produtores, num espaço de produção de 30 hectares.

“Futuramente vamos ter de arranjar um colono de outra Malvasia porque é uma casta tão importante para a Região Autónoma da

PHOTO: IVBAM

"The other varieties in Madeira were not very aromatic. If we crushed the berry, practically only the wine had aroma after fermentation. In the case of Malmsey, all you had to do was crush the grapes in your hand and you had a very recognizable aroma", emphasizes Francisco Albuquerque.

Nowadays this grape variety continues to be very sought after and prestigious. However, there are fewer and fewer MalvasiaCândida and although we have some Malvasia-de-São-Jorge in the Region, it may soon reach worrying levels for the sector, which currently has 106 producers in a production area of 30 hectares. "In the future we will have to find a settler of another Malmsey because it is such an important grape variety for the Autonomous Region of Madeira that we have to continue to produce at least the quantities we sell. Our company alone sells more than 50 thousand liters of Madeira Wine per year from the Malmsey variety, which means we are talking about 70 thousand bottles", says the winemaker, alerting to the fact that this wine takes between 7 to 11 years to be produced. "We cannot think that we are going to buy and sell it the following year, so it is necessary to have a long-term strategy, which sometimes makes this business complex and dramatic", explains the winemaker, who is passionate about this subject.

In this sense, Francisco Albuquerque stresses that it is important "to identify a settler that produces well, in different places in Madeira, which are not urbanized" and pointed out "Ponta do Pargo" as a possible option to be explored, since "Malvasia-Cândida is a very sensitive variety that does not grow in very hot and humid climates", on the contrary, it needs "hot and dry climates".

To try to reverse this trend of low production, one of the solutions presented by the winemaker is to institute a new pattern of consumption. "The wines today are better and better, there is more quality control and better

Madeira que temos de continuar a produzir pelo menos as quantidades que vendemos. Só a nossa empresa vende mais de 50 mil litros de Vinho Madeira, por ano, da casta de Malvasia, o que significa que estamos a falar de 70 mil garrafas”, afirma o enólogo, alertando para o facto de este vinho demorar entre 7 a 11 anos a ser produzido.

“Não podemos pensar que vamos comprar e vender no ano seguinte, pelo que é preciso ter uma estratégia a longo prazo, o que torna, por vezes complexo e dramático este negócio”, explica o enólogo, que é apaixonado por este tema.

Nesse sentido, Francisco Albuquerque vinca que é importante “identificar um colono que produza bem, em terrenos por sítios diferentes na Madeira, que não estejam urbanizados” e apontou a “Ponta do Pargo” como uma possível opção por explorar, já que a “Malvasia-Cândida é uma casta muito sensível e que não se dá em climas muito quentes e húmidos”, pelo contrário, necessita de “climas quentes e secos”.

Para tentar inverter esta tendência de baixa produção, uma das soluções apresentada pelo enólogo, passa por instituir um novo padrão de consumo.

“Os vinhos atualmente são cada vez melhores, há mais controlo de qualidade e melhores produtos. O gosto evolui com o tempo e muda”, e dessa forma poderá ser uma boa ideia ligar o Vinho Madeira à doçaria artesanal.

“Esta é uma bebida que faz um match muito bom com o chocolate, por exemplo, ou até mesmo com os doces típicos da Região, como as queijadas. Os vinhos acompanham sempre a evolução da gastronomia. À medida que os sabores se vão apurando, os vinhos seguem o mesmo caminho”.

Francisco Albuquerque considera ainda que o Vinho Madeira não tem obrigatoriamente que ser consumido com sobremesas, e que

PHOTO: IVBAM

products. Taste evolves with time and changes", and that way it may be a good idea to link Madeira Wine to handcrafted confectionery. "This is a drink that makes a very good match with chocolate, for example, or even with the typical sweets of the region, such as queijadas. Wines always accompanythe evolution of gastronomy. As the flavours become more refined, the wines follow suit".

Francisco Albuquerque also considers that Madeira Wine doesn't necessarily have to be consumed with desserts, and that it can be a great drink for socializing moments.

In short, for the Malmsey variety nectar to continue to endure in the pages of the island's history and tradition, it is essential that a new settler be identified, that it be planted in unoccupied land, preferably in the south, encourage producers, and institute new consumption patterns. This is the only way to ensure the continuity of the best "wine that can be found in the universe," as Gaspar Frutuoso, a parish priest in Ribeira Grande who used Madeira wine in liturgical acts, used to call it.

pode ser uma ótima bebida para momentos de socialização.

Em suma, para que o rubinéctar da casta Malvasia continue a perdurar nas páginas da história e da tradição da ilha, é essencial que se identifique um novo colono, que seja plantado em terrenos desocupados, preferencialmente na zona sul, incentivar os produtores, e instituir novos padrões de consumo. Só assim se poderá assegurar a continuidade do melhor “vinho que se encontra no universo”, como dizia Gaspar Frutuoso, pároco na Ribeira Grande que utilizava o Vinho Madeira nos atos litúrgicos.

FRANCISCO ALBUQUERQUE

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