Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br
ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 12 • número 43 • Divisão C • jan-mar 2015
a energia que nos falta
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do sistema sucroenergético
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Opiniões
índice
a energia que nos falta Editorial da Edição:
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Xico Graziano
Estrategista especializado em agricultura e M-A
Ensaio Especial: Maurilio Biagi Filho Empresário
Visão de Estrategistas:
20 22 24 27
Governador do Estado do Mato Grosso do Sul
Geraldo Alckmin
Governador do Estado de São Paulo
Marconi Perillo
Governador do Estado de Goiás
Beto Richa
Governador do Estado do Paraná
Arnaldo Jardim
Secretário de Agricultura do Estado de SP
Economista
Eduardo Pereira de Carvalho Economista
Julio Maria M. Borges
30 32 34 36 38
40 42 44
Sócio-Diretor da JOB Economia
Igor Montenegro Celestino Otto Diretor-superintendente do Sebrae/GO
Visão das Entidades:
Visão de Governo: Reinaldo Azambuja
Roberto Luis Troster
Antonio Eduardo Tonielo
Presidente da Copercana e Sindicato Rural de Stz
Gustavo Diniz Junqueira Presidente da SRB
Celso Torquato Junqueira Franco Presidente da Udop
Elizabeth Farina Presidente da Única
Paulo Antonio Skaf Presidente da Fiesp
46 48 50 52 54 57 60
Miguel Rubens Tranin
Presidente da Alcopar, Siapar, Sialpar e Sibiopar-PR
Mário Campos Filho Presidente da Siamig-MG
Antonio Eduardo Tonielo Filho Presidente do CEISE Br
Visão dos Fornecedores: Alan Riddell
Sócio da KPMG - lider setor de agronegócio
Dario Costa Gaeta Presidente da Zanini
Celso Procknor
Presidente da Procknor
Andy Duff
Estrategista Global do Rabobank Brasil
Paulo Roberto Gallo Diretor da Servserth
José Ieda Neto
Diretor da Ieda Neto Engenharia
Helgo Paul Hermann Ackermann Diretor da Iprosucar Consultoria
Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: Opinioes@RevistaOpinioes.com.br n Diretor Geral de Operações e Editor Chefe: William Domingues de Souza - 16 3965-4660 - WDS@RevistaOpinioes.com.br nGerente Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Souza - Fone: 16 3965-4606 - VRDS@RevistaOpinioes.com.br nExecutivo de Contas Especiais: Fábio Soares Rodrigues - 16 3965-4616 - Celular: 16 99777-7919 - FR@RevistaOpinioes.com.br nVendas: Lilian Restino - 16 3965-4696 - LR@RevistaOpinioes.com.br • Eliane Vieira Mendes - Fone: 16 3965-4616 - EV@RevistaOpinioes.com.br • Beatriz Rodrigues dos Santos - 16 3965-4698 - BS@RevistaOpinioes. com.br • Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 - boniceli@globo.com n Assistente do Editor Chefe: Fernanda Aparecida da Silva e Silva - 16 3965-4661 - FS@RevistaOpinioes. com.br nJornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@RevistaOpinioes.com.br nEdição Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - Fone: 16 99132-9231 boniceli@globo.com nProjetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 2604-2006 - JuliaBR@RevistaOpinioes.com.br nProjetos Avançados: Luisa Boniceli Rolo - 2304-2012 - LuisaBR@RevistaOpinioes.com. br nConsultoria Juridica: Priscilla Araujo Rocha nCorrespondente na Europa (Augsburg Alemanha): Sonia Liepold-Mai - Fone: +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de nDesenvolvimento de Mercados na Ásia: Marcelo Gonçalez - MG@RevistaOpinioes.com.br nExpedição: Donizete Souza Mendonça - DSM@RevistaOpinioes.com.br nCopydesk: Roseli Aparecida de Sousa - RAS@ RevistaOpinioes.com.br nAgência de Propaganda: Agência Chat Publicom - Fone: 11 5669-2511 - 11 98470-4486 nTratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) nFinalização: Douglas José de Almeida nImpressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP nArtigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões de seus autores nFoto da Capa: Acervo Revista Opiniões nFoto do Índice: Acervo Revista Opiniões nFotos das Ilustrações: Paulo Alfafin Fotografia - 19 3422-2502 - 19 8111-8887 - paulo@pauloaltafin.com.br • Ary Diesendruck Photografer - 11 3814-4644 - 11 99604-5244 - ad@arydiesendruck.com.br • Tadeu Fessel Fotografias - 11 3262-2360 - 11 95606-9777 - tadeu.fessel@gmail.com • Acervo Revista Opiniões e dos específicos articulistas n Fotos dos Articulistas: Acervo Pessoal dos Articulistas e de seus fotógrafos pessoais ou corporativos nVeiculação Comprovada: Através da apresentação dos documentos fiscais de pagamento dos serviços de Gráfica e de Postagem dos Correios nTiragem Revista Impressa: 7.000 exemplares nRevista eletrônica: Cadastre-se no Site da Revista Opiniões e receba diretamente em seu computador a edição eletrônica, imagemn fiel da revista impressa nPortal: Estão disponíveis em nosso Site todos os artigos, de todos os articulistas, de todas as edições, de todas as divisões das publicações da Editora WDS, desde os seus respectivos lançamentos nHome-Page: www.RevistaOpinioes.com.br
Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano
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fcn tecnologia FINAME
editorial
qual é a energia que nos
falta? Xico Graziano
Estrategista especializado em agricultura e meio ambiente
Quando, em 27 de janeiro último, oito mil trabalhadores e sindicalistas bloquearam, por três horas e meia, duas rodovias em Sertãozinho-SP, eu pensei: agora, sim, a agenda começou a mudar. Batizado de "Movimento pela retomada do setor sucroenergético", a inusitada manifestação contra a crise parou a cidade e fechou as portas do comércio. Nunca a defesa do etanol havia recebido uma passeata dessa magnitude. A energia que nos falta é exatamente essa: capacidade de indignação contra o desleixo do setor público. Todos nós, mais ou menos, temos sido lenientes, tolerantes, pacatos. Vem de longe certo comportamento condescendente dos brasileiros. Desde os tempos coloniais, nós fomos acostumados a argumentar dentro dos salões da Corte, para convencer no pé do ouvido os maiorais. Na história recente, durante o regime militar, com a economia controlada e tabelada, importante era saber percorrer os íntimos corredores do poder, buscando os favores das canetas autoritárias.
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Opiniões Nosso jogo político, desde lá de trás, nunca foi verdadeiramente democrático, transparente, participativo. Mais valor tinham os arranjos, os conchavos, para não dizer as propinas. Daí veio o segredo do sucesso: um bom pistolão. Em decorrência dessa manipulação histórica sobre o poder centralizado, nossa democracia se erigiu na subserviência. Nasceu, assim, um “jeitinho” manso na forma de o povo se expressar. Culturalmente, fruto da dominação colonial, certo pacifismo se estabeleceu por aqui. A tranquila Independência, a calma Proclamação da República... nós nunca precisamos brigar, de verdade, pelas nossas conquistas. Houve, claro, conturbações da ordem, porém nada grave: Zumbi e, depois, Antônio Conselheiro, se revoltaram, fizemos uma pequena guerra contra o Paraguai, Tiradentes deixou seu exemplo contra a derrama, São Paulo lutou em 1932 pela hegemonia perdida. Nada que alterasse o caráter bondoso de um povo miscigenado entre tantas raças e acostumado a sorrir ingenuamente para seu futuro. Chega de paciência. Um crime contra a civilização foi cometido pelo Governo Federal do Brasil, que, ao invés de ensinar ao mundo como se produz energia renovável da biomassa, fez o enterro de seus produtores na vala da falência. Numa época em que o aquecimento global provoca crises hídricas jamais imaginadas, como as verificadas na Califórnia, na Austrália e, agora, no Brasil, nós desperdi-
Chega de paciência. Um crime contra a civilização foi cometido pelo Governo Federal do Brasil, que, ao invés de ensinar ao mundo como se produz energia renovável da biomassa, fez o enterro de seus produtores na vala da falência. "
çamos a oportunidade de mitigar as emissões de carbono e proteger a biosfera, ajudando a preservar a biodiversidade no planeta Terra. O país que inventou o Proálcool preferiu favorecer a gasolina. Um vexame mundial. Há anos, temos acompanhado, atônitos, essa triste situação que levou à insolvência do setor sucroalcooleiro. Ninguém sequer conseguiu, ao certo, entender o porquê dessa tragédia. Ela não foi anunciada. Pelo contrário, configurou um conto do vigário. Quando Lula recebeu Bush nas terras tupiniquins, fazendo discursos enaltecedores, loas exageradas se direcionaram ao setor. Como se tocados por fadas madrinhas, os empresários se assanharam, meteram a mão no bolso, emprestaram o que não tinham, associaram-se a estrangeiros, investiram, felizes da vida. Parecia um sonho. Acordaram, anos depois, no suadouro do maior pesadelo de sua história. Durante esses anos de gestação da derrocada, os pistolões de sempre falaram: “deixem que eu resolvo, vou falar com fulano”. Os mais graúdos diziam: “fiquem tranquilos, vou ao Palácio acertar isso”. Nada acontecia.
Uns, malandros, se aproveitaram da crise para pendurar as contas que traziam endividadas, botando a culpa nos outros para socializar o prejuízo. O tempo passava, piorava a remuneração do biocombustível. Lula saiu, passou o bastão do poder para a presidente Dilma. Agora vai melhorar, pensaram os otimistas. Tudo, desgraçadamente, piorou. As dezenas de destilarias que fecharam as portas ou entraram em concordata, os 60 mil empregos diretos perdidos, a quebradeira nos fornecedores de equipamentos, a penúria dos plantadores de cana, a tristeza das cidades canavieiras, essa turma que aposta na sustentabilidade resolveu dar um basta no descaso governamental. Decidiu gritar contra a incompetência pública. Foi a melhor notícia do setor sucroenergético ao começar o Ano Novo de 2015. Agora, quebrada a Petrobras e com o preço do barril do petróleo despencado, com as finanças públicas do País arrebentadas, nenhum analista sério arrisca um palpite sobre o que acontecerá na matriz energética nacional. A elevação da mistura do álcool anidro na gasolina ajuda. A promessa de retorno da contribuição da Cide alenta. O fraco preço internacional do açúcar assopra a favor do etanol. Mas a seca castiga as plantações, o consumo popular recua, freando a macroeconomia, o déficit geral de energia vai segurar o crescimento econômico. Que ninguém se iluda. Neste ano de 2015, o faturamento do setor sucroenergético, no montante de R$ 70 bilhões, segundo Plínio Nastari, será inferior à dívida das empresas, estimada em R$ 77 bilhões. Falou bem Manoel Carlos Ortolan, presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do País – Orplana: “Há possibilidade de dias melhores no futuro... para quem sobrar”. Quem restará? Aqueles empresários que permanecerem sonhando com a mentirada dos caciques de outrora, esses, com certeza, dançarão. Seguirão o mesmo destino os imprudentes, que expandem seu negócio como se os mercados obedecessem, ilogicamente, aos seus caprichos da ganância. Sobre os espertos, que tomam dinheiro do contribuinte para onerar a pessoa jurídica e se enriquecer na pessoa física, parece que o sistema democrático lhes acabará com a mamata. Mas, sinceramente, ainda tenho dúvidas sobre o desmantelamento dos esquemas corruptos que grassam nas instituições, roubando-lhe seu republicanismo. Toda crise é sempre uma oportunidade. Há empreendedores do Centro-Oeste querendo alternar a fermentação do milho com a da cana-de-açúcar. Pode vingar. Bons empresários ajustaram seus custos, investiram na produtividade da indústria e dos canaviais, acreditaram na boa administração. Saem-se bem. Quem acreditou na tecnologia e apertou o cinto mira a luz no fim do túnel; quem continuou perdulário e submisso ao governo, permanece na fila das lamentações. Jamais o setor sucroenergético será o mesmo. Mas a indignação finalmente despertada entre suas lideranças o ajudará, com certeza, a direcionar um rumo virtuoso após sair do fundo do poço. Mais que da bioenergia, o Brasil precisa da garra de seus jovens empresários e administradores, da competência de seus técnicos e pesquisadores, do trabalho dedicado de seus operários agrícolas e industriais. Eu acredito: nós seremos uma grande Nação. Dependerá de manter aceso nosso idealismo. E de lutar, de peito aberto, pela nossa causa: as energias renováveis. A começar pelo etanol.
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visão de governo
Opiniões
biomassa: alternativa
crescente
Mato Grosso do Sul é um estado reconhecido pela riqueza de recursos naturais, excelente capacidade hidrelétrica, grande quantidade de terras cultiváveis para a produção de biocombustíveis. Porém a história humana e as crises contemporâneas vividas em todas as regiões do Brasil mostram que, mesmo o que se considerava abundante, pode se tornar escasso sem o devido planejamento. A saída está na modernização da gestão das diversas matrizes energéticas.
a produção de energia por biomassa terá potencial de geração de 14.000 megawatts. Para efeito de comparação, a usina de Belo Monte, quando finalizada, poderá gerar 4.571 MW médios. "
Reinaldo Azambuja
Governador do Estado do Mato Grosso do Sul
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Com 22 usinas de açúcar e álcool em funcionamento atualmente, Mato Grosso do Sul investe em pesquisa e apoio logístico para que os empreendimentos diminuam a “carga” sobre a produção de energia elétrica a partir dos rios brasileiros. A produção oriunda dessas usinas – cerca de 750 mil hectares de cana na safra 2015/2016 colhidos em 97% dos casos de forma mecanizada – deve render ao estado e ao País um mínimo de 3 bilhões de litros de etanol e 2,2 milhões de toneladas de açúcar, oferecendo maior oferta do combustível vegetal e ampliando a matriz econômica através das exportações.
A força do arranque da sua cana.
Aplique somente as doses recomendadas. Descarte corretamente as embalagens e restos de produtos. Incluir outros métodos de controle dentro do programa do Manejo Integrado de Pragas (MIP) quando disponíveis e apropriados. Uso exclusivamente agrícola. Registro MAPA nº 08801.
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visão de governo Somente na safra passada, as usinas sul-mato-grossenses produziram 2,44 bilhões de litros de etanol, volume 9,7% maior em relação à safra anterior. Desse total, 1,77 bilhão de litros de hidratado, que é direcionado para as bombas dos postos de combustíveis, e 668,6 milhões de litros de anidro, utilizado na mistura com a gasolina regida pelo Governo Federal. O volume produzido cresce ano a ano. No plano energético, porém, as usinas vão além da produção de etanol. Elas transformaram o que era considerado um passivo ambiental – o bagaço da cana-de-açúcar – em energia elétrica, capaz de ampliar de forma significativa a oferta de eletricidade no País. Sobra do processamento do açúcar e do etanol, o bagaço deixou de ser um problema ambiental e passou a ser considerado uma rica fonte alternativa de energia, uma importante matéria-prima para o setor de bioeletricidade. Em 2014, das 22 unidades de produção de açúcar e etanol instaladas no estado, 12 conseguiram exportar excedente de bioeletricidade para o sistema elétrico nacional. Foram adicionados ao consumo brasileiro 2.182,7 GWh. E esses números podem crescer exponencialmente. Os valores de incremento ao setor de energia elétrica mostram que, com apoio em pesquisa e incentivos produtivos, a geração de bioeletricidade pode, de forma consistente, garantir a demanda de consumo futuro. Para este ano, estão previstos mais dois empreendimentos: duas usinas térmicas com uso de biomassa, que poderão incluir no sistema nacional 201 megawatts. E a tendência é o crescimento sustentável se manter, com gestão responsável e inovadora. De acordo com os dados compilados pela Superintendência de Gestão da Informação de Mato Grosso do Sul, o consumo residencial de energia elétrica no estado cresce 9% ao ano. Em 2011, o consumo foi de 1.340 gigawatts-hora. Em 2014, ultrapassou os 1.500 GWh. Já o consumo industrial foi de 1.153 GWh. Os números nos mostram que a geração de energia por biomassa no estado poderá suprir, nas próximas safras, os valores de consumo residencial e industrial de Mato Grosso do Sul, ajudando sobremaneira a elevar a oferta, gerando lucros para o estado e para as usinas produtoras. O crescimento do volume de energia produzida a partir da biomassa em Mato Grosso do Sul é grandioso. Em 2009, quando as usinas começaram a modernizar suas plantas, foram exportados 202 MWh. Em cinco anos, o volume de produção energética se multiplicou por 11, ou seja, mais de 1000%. A eletricidade cogerada pelas usinas instaladas em nosso estado é adicionada ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e é distribuída em todo o País, conforme determinação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Com isso, os investimentos na diversificação da atuação das usinas ao setor garantem retorno em rentabilidade e,
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principalmente, no suprimento de um bem vital para o desenvolvimento do País. Considerada uma fonte energética complementar às hidrelétricas e termelétricas movidas a combustíveis fósseis, também atuantes em Mato Grosso do Sul, o aproveitamento da biomassa da cana-de-açúcar, de acordo com a Embrapa, tem seu maior potencial concentrado entre os meses de abril e novembro, exatamente o período em que o nível dos reservatórios das hidrelétricas diminui e quando são acionadas termoelétricas de alto custo econômico e ambiental, que utilizam como matéria-prima combustíveis poluentes, como gás natural e carvão mineral. É importante destacar o papel de cada fonte geradora de energia no contexto nacional. Elas se complementam, e ganham todos – produtores e consumidores – com investimentos em novas técnicas e na modernização da geração. Cada qual com seu potencial, seu passivo ambiental e com suas possibilidades de compensação através de ações sociais ou de sustentabilidade. O mais importante é que o planejamento possa abraçar todas as alternativas e garantir que, a curto, médio e longo prazo, a capacidade energética seja bem usada, sem entraves ao desenvolvimento e sem intervenções danosas ao meio ambiente. De acordo com informações da Unica – União da Indústria de Cana-de-açúcar, em 2021, a produção de energia por biomassa terá potencial de geração de 14.000 megawatts. Para efeito de comparação, a usina de Belo Monte, quando finalizada, poderá gerar 4.571 MW médios. Os dados, compilados no relatório O setor elétrico brasileiro e a sustentabilidade no século 21 – oportunidades e desafios, sustentam que o Brasil possui maturidade na produção sucroalcooleira, concentrada nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, próxima aos principais centros consumidores de energia. “Assim, reduz-se a necessidade de expansão de novas linhas de transmissão, por meio da geração distribuída, trazendo economia para o País”. E o cenário atual da geração por hidrelétricas inspira cuidados e investimentos contínuos, principalmente em fontes alternativas. Segundo dados apresentados pela Associação dos Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul, o setor foi responsável por 7% de economia nos reservatórios das usinas hidrelétricas estaduais. Uma resposta para a demanda nacional, já que a estiagem abrange grande parte do País em uma época em que os reservatórios estão mais críticos. Para a produção energética por biomassa continuar crescendo, sem depender da ampliação da área plantada, é necessário investimento em pesquisa e tecnologia. Atualmente, já estão em prática de campo técnicas de utilização das pontas da cana e da palha dos canaviais nas caldeiras das usinas. A matéria-prima é recolhida após a colheita mecanizada e representa cerca de 30% da energia contida na cana. É claro que o planejamento estratégico do setor energético em Mato Grosso do Sul contempla hidrelétricas, energia eólica, as próprias termelétricas já incorporadas ao sistema. Todos os segmentos recebem do governo a devida atenção e são importantes peças de um tabuleiro de estudos, projetos e financiamentos cujo objetivo é garantir o crescimento a longo prazo. Mas a energia que faltava, desperdiçada nos grandes campos sul-mato-grossenses, agora é matéria-prima que garante o nosso estado no grupo das unidades federativas capazes de garantir a eletricidade necessária para o crescimento do Brasil. Os combustíveis desse novo momento são a coragem dos produtores, a tecnologia acadêmica e o apoio governamental.
Opiniões
desenvolvimento: o novo nome da paz São Paulo é palco fundamental da história do setor sucroenergético no País. Foi aqui, em nosso estado, que o colonizador português Martin Afonso de Souza iniciou o cultivo de cana-de-açúcar, ainda no século XVI, em São Vicente. Hoje, o setor desponta como um dos cinco principais do agronegócio paulista. São Paulo se tornou o maior produtor mundial de cana-de-açúcar. Também contamos com a maior produção de etanol (50,6% do total nacional) e de açúcar (63,5%). A bioeletricidade é outro segmento que passa por grande expansão, a partir de biomassa, como o bagaço da cana. O Brasil produz mais de 3.000 megawatts por bioeletricidade através de cogeração, dos quais mais de 75%, ou 2.300 megawatts, no estado de São Paulo. Essa energia, por ser gerada diretamente nesse grande centro consumidor, dispensa altos custos com transmissão, por exemplo. É uma alternativa promissora, especialmente nos tempos atuais, de energia mais cara e escassa. O potencial de todo o setor sucroenergético vai além da renda e dos empregos gerados. Ele passa também pelos ganhos ambientais do uso do etanol. Enquanto São Paulo tem cerca de 55% de participação de energias limpas, esse percentual é de apenas 12,5% no mundo e de 45% no Brasil. A previsão é que, até 2020, a participação das fontes renováveis passe para 69% da matriz energética paulista. Ultimamente, o biocombustível voltou a ganhar competitividade em relação à gasolina, ainda que por razões bastante diversas daquela dos tempos do Programa Nacional do Álcool – Proálcool, em 1975, impulsionado numa época de crise do petróleo, quando os preços internacionais do produto estavam em franca ascensão. Hoje, apesar do petróleo barato no exterior, o aumento da gasolina passa por fatores, como o aumento da margem de lucro da Petrobras, e impostos, como a nova alíquota do PIS/Cofins e o ressurgimento da Cide. No ano passado, a lógica era inversa, com a gasolina vendida a preços defasados em relação ao exterior. Independente do cenário nacional, o Governo do Estado de São Paulo buscou promover o setor sucroenergético. Ainda em 2003, o ICMS do etanol vendido na bomba foi
reduzido a 12%. É, até hoje, o menor imposto do País, justamente no maior mercado nacional. Outros diversos incentivos fiscais foram tomados ao longo do tempo, buscando estimular todos os segmentos do setor. Em fevereiro deste ano, anunciamos o mais recente deles: o diferimento do ICMS – antes previsto apenas para cana-de-açúcar – também para produtos envolvidos na geração de energia, como milho, eucalipto, palha, o melaço e o bagaço de cana. Na área de pesquisa e desenvolvimento, há 20 anos, foi criado o Programa Cana, do Instituto Agronômico – IAC, em parceria com a iniciativa privada. O programa resultou no desenvolvimento de 22 variedades de cana-de-açúcar. No ano passado, também pelo IAC, inauguramos, em Ribeirão Preto, a Biofábrica de Cana-de-Açúcar, com capacidade para produzir 4 milhões de mudas de cana livres de doenças por ano, que serão multiplicadas em viveiros do setor privado e, depois, disponibilizadas aos produtores. O projeto foi desenvolvido pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios – Apta. Outro incentivo direto do poder público ao setor foi o Programa Paulista de Biocombustíveis para o uso do etanol na frota vinculada ao governo do estado. Tudo isso foi feito sem abrir mão de uma medida importante para o meio ambiente, que foi a redução gradual da queima da palha da cana, em diálogo permanente com os representantes do setor. Em 2007, foi assinado o Protocolo Ambiental, antecipando ainda mais os prazos legais para o fim das queimadas, sendo 2014 o último ano para as áreas mecanizáveis e 2017 para as áreas não mecanizáveis. Na safra de 2013/2014, 83,7% da colheita foi feita sem fogo, contra 72,6% na safra anterior. Como dizia o papa João XXIII, o desenvolvimento é o novo nome da paz. Qual modo melhor de progresso do que aquele que traz ganhos ambientais, que participa da história e da vida de tantos paulistas, que se vislumbra como alternativa viável ao petróleo no Brasil e no mundo? São Paulo é o estado do setor sucroalcooleiro. Há muito, nos preparamos e muito mais ainda faremos para o seu crescimento sustentável e a multiplicação do seu sucesso para o restante do País.
Enquanto São Paulo tem cerca de 55% de participação de energias limpas, esse percentual é de apenas 12,5% no mundo e de 45% no Brasil. A previsão é que, até 2020, a participação das fontes renováveis passe para 69% da matriz energética paulista. "
Geraldo Alckmin
Governador do Estado de São Paulo
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visão de governo
Opiniões
o mundo
precisa de combustíveis
melhores
Em 15 anos, em nosso estado, houve um salto de 11 para 36 usinas, hoje em funcionamento. Goiás é o segundo estado da federação em produção de cana-da-açúcar e de etanol. "
Marconi Perillo
Governador do Estado de Goiás
A expansão populacional e de bens que o nosso mundo vive está exigindo alternativas em todos os campos sociais e econômicos, com a inserção de novas tecnologias, para que possamos continuar tendo um nível de vida razoável neste planeta. Em função disso, quaisquer mudanças nas condições normais de clima e meio ambiente provocam alterações consideráveis na vida das pessoas. Essas variáveis passaram a fazer parte do debate, da economia e das preocupações educacionais a partir da década de 1960, e estamos vivenciando, hoje, o auge dessas transformações, que exigem de todos nós uma acurada atenção e uma denodada atuação, especialmente na expansão das matrizes energéticas e no trabalho paralelo de preservação do meio ambiente. O desejo dos países de crescer economicamente e, ainda assim, manter o ambiente preservado para as futuras gerações é algo controverso. É imprescindível muita vontade política para manter um crescimento econômico de forma tão desregrada,
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O MUNDO PRECISA DE ENERGIA Reduzir o uso de combustíveis fósseis que afetam as mudanças climáticas é uma prioridade. O mundo precisa de energia e precisará ainda mais no futuro – e bioenergia, incluindo amido, etanol celulósico, biodiesel e outros biogases, os quais serão componentes crescentes da nossa futura © Novozymes A/S · Customer Communications · No. 2012-08243-01
matriz energética. O papel dos líderes industriais da cadeia produtiva de bioenergia, dos formuladores de políticas públicas e do setor agrícola é assegurar o suprimento da demanda por alimentos, bem como por energia – e fazê-lo de forma sustentável. A bioenergia é uma das opções para ajudar o mundo a alcançar sucesso neste desafio. A Novozymes apoia fortemente a produção sustentável de bioenergia e investe no desenvolvimento deste negócio.
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visão de governo como ocorre atualmente, e ainda pensar em preservação. É necessária uma mudança de ideais e de mentalidades para que seja possível preservar o mundo um lugar habitável para a humanidade. Esse é o grande argumento para priorizar as políticas de investimento nas energias renováveis. Quando assumimos o governo de Goiás pela primeira vez, em janeiro de 1999, tínhamos a visualização desse modelo de desenvolvimento e de transformações por que passava, e ainda passa, o mundo atual, onde a informatização começava a ganhar corpo, e as novas tecnologias da comunicação passaram a definir um novo conceito de comportamento. Priorizamos construir uma Universidade (a Universidade Estadual de Goiás), aprimorar a qualidade da educação ministrada pelo estado, investir em tecnologias que facilitassem a vida do cidadão, que precisa dos serviços do governo, e também em infraestrutura, para garantir melhor qualidade de vida nas áreas de saneamento e energia e no melhoramento e expansão da nossa malha rodoviária. Felizmente, Goiás tem se destacado, nos últimos 15 anos, como uma insinuante locomotiva do crescimento brasileiro. Até o final dos anos 1990, essa locomotiva andava em ritmo lento, ainda assim nem sempre constante. A partir dos anos 2000, ganhou velocidade e entrou nos trilhos do desenvolvimento sustentável, da era industrial, ganhando rumo e ampliando sua bagagem de conhecimentos técnicos e parceiros industriais. Para isso, foram importantes o investimento e a busca por novas tecnologias para a produção de combustível alternativo, em especial do etanol, tendo o setor sucroalcooleiro atingido níveis consideráveis de crescimento em nosso estado. Desde o final da década de 1990, passamos a incentivar a produção do etanol e contamos também com a garra e a eficiência das iniciativas produtivas dos empresários que vislumbraram Goiás como celeiro para o desenvolvimento desse setor. Em 15 anos, em nosso estado, houve um salto de 11 para 36 usinas, hoje em funcionamento. Goiás é o segundo estado da federação em produção de cana-da-açúcar e de etanol. O setor produtivo goiano é testemunha dos esforços do nosso governo para viabilizar investimentos que revelem ao País as inúmeras e imensas oportunidades de Goiás. Que mostrem ao Brasil as condições que vimos aperfeiçoando para modernizar o estado e diversificar as unidades produtivas. Foi com esse intuito que investimos pesado no saneamento básico. Goiás, com seus 246 municípios, tinha 12 Estações de Tratamento de Esgoto. Hoje, conta com 82. Aumentamos em 53% a população atendida com água tratada, e, hoje, 95% da população goiana conta com esse serviço. Nos últimos 15 anos, houve um crescimento de 174% da população atendida com esgoto sanitário, fizemos 10 mil quilômetros de redes e temos 45% da população atendida com redes de esgoto. Nesse mesmo período, nossa malha viária asfaltada cresceu em 6 mil quilômetros. Só no governo anterior, recuperamos e construímos 5 mil quilômetros de rodovias estaduais. Para resumir, nosso Produto Interno Bruto saltou de R$ 17,4 bilhões, em 1998, para R$ 144,2 bilhões, em 2014, bastante significativo e muito acima da média nacional. Nesse período, o estado experimentou um crescimento de 2000% em sua balança comercial, saindo de US$ 381
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milhões para US$ 7,5 bilhões em exportação. Na área da energia elétrica, pegamos uma Celg (Centrais Elétricas de Goiás) combalida e, após muito esforço, conseguimos negociar a maioria das ações com a Eletrobras e recuperar sua capacidade para novos investimentos. Goiás é hoje a 9ª economia do País. Fizemos uma aposta decisiva e vigorosa na política de incentivos que atraiam investimentos e que gerem energia limpa e fomentem negócios sustentáveis. Sabemos que é preciso continuar essa caminhada, amparando as ideias e as ações para melhorar as condições de produção e de participação social e econômica dos nossos empreendedores. Com uma conta de petróleo sem liquidez e uma de energia elétrica carregada de subsídios e sobrecarregando o bom andamento fiscal do País, torna-se fundamental a necessidade de investimentos em novas matrizes energéticas, para, inclusive, aumentar nossas condições de concorrência com os mercados externos. Nos últimos anos, nossa balança comercial sofre as consequências dessa política, que tem propiciado reflexos dolorosos para a produção industrial brasileira. Na esteira dessas consequências, torna-se imprescindível o incentivo e o investimento em novas matrizes energéticas, inclusive menos poluidoras, como os casos do etanol, da biomassa, da eólica e solar. Há algum tempo, temos prospectado, em especial na Europa e nos Estados Unidos, novos investimentos nessas áreas. É importante observar que temos uma interessante política de incentivos e benefícios fiscais para novos empreendimentos em Goiás, destacando, com especial atenção, essa área de produção de energia limpa e renovável. Estamos engatinhando em produção de energia eólica, mas já temos bons resultados na produção do etanol, da biomassa e da solar. Goiás consegue ser um dos poucos estados em que a utilização do etanol é sempre compensadora em relação aos combustíveis fósseis para automóveis. Não temos crise interna nesse setor, a não ser aquela proveniente da política nacional, que torna sem competitividade o preço do etanol. Mesmo assim, usamos uma política fiscal que tem contribuído para preservar o ânimo dos nossos produtores. A variação das políticas nos últimos 40 anos fez com que o setor sucroenergético se encontrasse a todo instante na via das incertezas, o que poderia provocar retrocessos de dimensão não fossem a persistência e o profissionalismo dos que lidam diretamente nessa cadeia, o que sempre exigiu esforço redobrado e sabedoria para se adaptar às diferentes conjunturas. Percebo que são imprescindíveis, urgentes e necessários os incentivos fiscais e financeiros para as empresas que adotarem o etanol e as outras matrizes energéticas renováveis como principal combustível e desoneração para ganho de competitividade frente à gasolina e aos demais combustíveis fósseis. Importa muito ao País abraçar uma matriz energética que não pode abrir mão do critério essencial da sustentabilidade, com o Brasil tendo essa grande oportunidade de se firmar como líder global na política de combustíveis. O etanol tem sido, para os goianos essencialmente, uma âncora verde que já desenvolve uma importantíssima cadeia de negócios, produzindo biocombustíveis, estimulando pesquisas e sedimentando condições apropriadas à expansão do nosso crescimento.
Opiniões
a energia da
segurança Atualmente, a situação se apresenta absolutamente crítica, quase insustentável, reflexo do visível descaso das autoridades federais, além de seus erros frequentes, para uma questão estratégica e que não admite desleixo. "
Beto Richa
Governador do Estado do Paraná
O que nos falta, hoje, é, principalmente, energia (leia-se vontade política) para, com planejamento, racionalidade, previsibilidade e sem arroubos demagógicos, determinar e cumprir uma política energética que atenda às demandas do País, evitando os atuais equívocos que, como frisam especialistas da área, comprometem seriamente o desenvolvimento socioeconômico brasileiro, prejudicando, em última análise, os contribuintes, responsáveis pela maior parte do financiamento de todo o sistema. A energia que o Governo Federal não tem para essa determinação desequilibra fortemente o perfil energético e prejudica o atendimento à população brasileira. O Governo Federal não assimilou os sinais de um iminente e grave problema no setor elétrico quando o País começou a enfrentar uma onda de “apagões”. Atualmente, a situação se apresenta absolutamente crítica, quase insustentável, reflexo do visível descaso das autoridades federais, além de seus erros frequentes, para uma questão estratégica e que não admite desleixo.
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visão de governo A Companhia Paranaense de Energia (Copel), mesmo com os danos causados por medidas para o setor tomadas pela presidente Dilma Rousseff, que provocaram corrosão na saúde financeira das empresas estaduais e inclusive da Eletrobras, com consequências ameaçadoras para todos, tem objetivos claros: contribuir para o progresso do País. Observando aspectos ambientais, operacionais e financeiros, a Copel tem definida uma política clara de produção, transmissão e distribuição de energia, visando atender aos paranaenses e aos brasileiros. Trabalhando com várias fontes de energia, a companhia vive um dos momentos mais importantes de seus 60 anos, mesmo integrando o sistema nacional e amargando a sangria financeira provocada pelas decisões do Governo Federal. A responsabilidade ambiental da empresa e sua aposta no crescimento da geração da energia a partir de fontes alternativas fizeram com que se criasse, em 2013, uma subsidiária específica para gerir os negócios nesse segmento, a Copel Renováveis S/A. Atualmente, essa subsidiária administra 28 centrais eólicas já concluídas, em instalação ou em projeto, reunidas em cinco grandes complexos no Rio Grande do Norte. Os complexos absorverão R$ 3 bilhões em investimentos e somarão, juntos, 700 MW de potência instalada, o suficiente para abastecer 2 milhões de residências. Um dos objetivos da Copel é ampliar a produção de energia eólica dos atuais 96 megawatts (MW) de potência instalada para 3 mil MW, até 2019, com um incremento de 3.000%. Sabemos que a fonte renovável demonstra um custo-benefício cada vez melhor. Apesar de os investimentos iniciais de implantação serem altos, a não emissão de poluentes e o baixo impacto ao ambiente tornam prioritária, do ponto de vista ambiental, a chamada energia limpa. A produção dessa energia faz parte de um cardápio que tem altos investimentos, com a empresa presente em dez estados brasileiros (Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Maranhão e Rio Grande do Norte), com 4,3 milhões de clientes, 188 mil quilômetros de redes de distribuição e 350 subestações. Em 2015, a Copel investirá R$ 2,47 bilhões e pretende manter esse patamar nos anos seguintes, exatamente para reforçar sua oferta e alcançar seus objetivos. Só em distribuição, a Copel investirá R$ 784 milhões para continuar a modernizar sua rede, reforçando a capacidade de fornecer energia, com mínimo possível de interrupções, consolidando sua posição de melhor distribuidora da América Latina. A diversidade de atividades para cumprir seus objetivos, de forma programada, e a oportunidade de explorar hidrocarbonetos na região central de nosso estado nos levaram a liderar a criação, em setembro último, de uma sociedade de propósito específico, a Paraná Gás, que atuará em atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural convencional em blocos da Bacia do Paraná. O consórcio da Copel arrematou quatro dos onze blocos e centralizará estudos em dois deles com perspectiva
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Opiniões de gás convencional, na região de Pitanga. Se for confirmado o alto potencial produtivo da região, a exploração pode gerar uma nova fonte de energia e a consequente frente de desenvolvimento econômico. Outra preocupação do Paraná é favorecer a instalação, por outros empreendedores, de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), usinas com capacidade menor que 30 megawatts e que não dependem de leilão para serem concedidas, apenas de autorização da Aneel e do governo do estado. São investimentos que variam de R$ 100 milhões a R$ 300 milhões e geram até 500 empregos na obra. Depois de prontas, as PCHs, além de reforçarem o sistema nacional com energia mais barata, serão importantes fontes de receitas para os municípios sedes, que chegam a arrecadar R$ 1 milhão por ano de impostos com a usina. Paralelo a tudo isso, a conclusão da Usina Mauá, em Telêmaco Borba, e a construção de outra em Colíder, no Mato Grosso, consolidaram o retorno da Copel aos grandes empreendimentos hidráulicos desde a inauguração da Usina Salto Caxias, há 15 anos. Entre obras em construção e projetos em carteira, a Copel possui duas hidrelétricas e 28 centrais eólicas. Em Colíder, a empresa estará presente na última fronteira de expansão da geração hidrelétrica no Brasil, a região amazônica. Com 300 MW de potência, suficiente para atender a 850 mil pessoas, a usina está sendo erguida no rio Teles Pires e deve começar a operar, comercialmente, neste ano. Na transmissão de energia, a participação em leilões promovidos pelo Governo Federal desde 2012, com a chinesa State Grid como principal parceira na maioria deles, somará, nos próximos anos, 2.507 quilômetros aos 2.471 quilômetros em operação, dobrando os ativos da empresa nesse segmento. Sabemos que o Brasil tem um enorme potencial hídrico, porém a ausência, nos últimos doze anos, de investimentos adequados e bem programados em infraestrutura acabou condenando o País a uma realidade constrangedora no cenário internacional. Isso se reflete, claro, no setor energético. Os equívocos se somam à – mais constrangedora ainda – situação da Petrobras, fonte de escândalos e de escárnio internacional. O fato, indiretamente, nos remete à atividade sucroalcooleira. No final da última década, quando a atividade sucroalcooleira, apesar da crise global iniciada em 2008/2009, vislumbrava ainda um futuro promissor para seus produtos e atraía capital externo, especialistas afirmavam que o conjunto das usinas brasileiras poderia representar, em volume de cogeração, uma capacidade semelhante à de uma Itaipu Binacional – simplesmente uma das maiores hidrelétricas do mundo. Mas o que se viu foi o desestímulo ao setor sucroenergético e o desperdício do grande potencial das unidades sucroenergéticas. Essas, por meio da cogeração, produzem a energia elétrica que consomem em sua atividade, na fabricação de etanol, açúcar e outros itens, e comercializam o excedente. Porém, ao desonerar e dar preferência à gasolina importada, em detrimento do etanol brasileiro, Dilma não só desestimulou o segmento e fez com que os empresários deixassem de lado projetos para ampliar suas estruturas de cogeração (que utilizam uma matéria-prima extremamente barata e abundante, o bagaço da própria cana-de-açúcar), como manteve, por muito tempo, por razões demagógicas/eleitorais, o preço artificial da gasolina, que era revendida no mercado interno a um valor mais baixo que o custo de importação. Assim, contribuiu ainda mais para corroer as finanças da Petrobras, já extremamente combalidas pela corrupção. A energia que nos falta se chama, em síntese, segurança. O governo, se tivesse direção, teria segurança para definir o que pretende, diante das demandas do País e com amparo técnico, para o setor. Com isso, proporcionaria segurança às empresas estatais e privadas, aos investidores e, fundamentalmente, aos contribuintes de todo o País.
visão de governo
o diferencial
do etanol
Se o agronegócio paulista fosse uma vitrine, o centro seria dedicado, com certeza, à cadeia de produção da cana-de-açúcar. "
Arnaldo Jardim
Secretário de Agricultura do Estado de São Paulo
Se o agronegócio paulista fosse uma vitrine, o centro seria dedicado, com certeza, à cadeia de produção da cana-de-açúcar, com destaque para o papel que os produtos desempenham no comércio exterior paulista e brasileiro. No entanto o setor sucroalcooleiro vive um dos piores momentos de sua história. O grande desafio que se impõe para 2015 é a superação da grave crise que acometeu o setor ainda em 2008, que afetou os produtores de açúcar e etanol, causando grande desemprego entre os trabalhadores da área industrial, agrícola e de serviços vinculados ao segmento. Para auxiliar os produtores nessa luta, foi criada a Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético (Frente do Etanol), colegiado que tive a honra de presidir no Congresso Nacional.
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Opiniões Essa Frente organizou mobilizações no interior de São Paulo que reuniram produtores rurais, sindicalistas, empresários e parlamentares para cobrar a implementação de políticas públicas visando à recuperação do combustível verde-amarelo. Conseguimos, ainda, a desoneração do PIS/Cofins, até então incidente sobre a produção da cana-de-açúcar. Outra conquista alcançada foi a redução de IPI para os carros com motores flex movidos a etanol, com maior eficiência energética. A proposta que apresentei na MP-638 está, agora, inserida no Inovar-Auto (Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores) e aguarda o sinal verde do governo para ser implementada. De acordo com o dispositivo que introduzimos no projeto de conversão da MP (Lei 12.996), a redução de impostos incluirá os carros com motores flex cuja relação de consumo entre etanol e gasolina seja superior a 75%. Em 2015, o compromisso da Frente do Etanol é reforçar a luta pela reversão do atual cenário de dificuldade econômica enfrentada pelo setor sucroenergético, buscando a adoção de uma política de longo prazo consistente, que valorize uma matriz energética diversificada e que reconheça as contribuições ambientais do etanol e da bioeletricidade gerada a partir do bagaço e da palha da cana. O governador Geraldo Alckmin, que já havia diminuído o ICMS do etanol de 25% para 12%, adotou uma série de medidas importantes para o setor sucroenergético. Essas medidas farão com que a cogeração possa, cada vez mais, se tornar realidade e se beneficiar dessas fontes adicionais de recursos que complementarão a renda do setor, assim como o etanol e o açúcar. A retomada do setor depende de questões estruturais, e só agora alguns sinais têm vindo do Governo Federal. O primeiro se refere à composição da Cide. Um passo importante reclamado por nós há muito tempo, mas a Cide precisa ser preservada. Não podemos ter uma alteração de definição de preços na Petrobras que, na prática, revogue esse dispositivo. O segundo é o implemento do aumento na mistura de 25% para 27,5% que adicionará ao mercado 1,3 bilhão de litros de etanol, o que vai provocar um impacto altamente positivo não apenas no setor sucroenergético, mas também no meio ambiente e consumidores. De qualquer forma, o futuro do etanol está muito vinculado a uma definição que seja adotada e respeitada pelo governo no que diz respeito à participação desse recurso na matriz de combustíveis do País. Importante também é nossa participação relativa, a energia gerada pela biomassa (a nossa bioeletricidade) e sua presença na matriz energética nacional. Aqui em São Paulo, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento está empenhada na recuperação e no fortalecimento do setor sucroenergético, não só com políticas de apoio e parceria com empresas, produtores de cana e entidades representativas, mas também com incentivo às pesquisas para o etanol de segunda geração, no desenvolvimento de pesquisas para novas variedades, no apoio às medidas de logística, na viabilização da bioeletricidade e também no apoio político às reivindicações do setor. O estado de São Paulo é o maior produtor brasileiro de bioeletricidade. Somente em julho de 2014, a cana-de-açúcar gerou 9.562 MW. Estima-se que o potencial de geração de eletricidade a partir da cana, na safra 2014/2015, possa chegar a 14 MW (superior à Itaipu Binacional), dos quais mais de 50% serão provenientes das usinas paulistas.
Por isso reafirmamos a necessidade de incentivar a produção da eletricidade proveniente da biomassa da cana, uma das alternativas energéticas mais eficientes disponíveis atualmente para fazer frente à escassez de eletricidade que ameaça o País com apagões e racionamento. Neste propósito, saúdo e festejo a iniciativa da Unica – União da Indústria da Cana-de-açúcar de criar o Selo Energia Verde, lançado no início desta semana, para certificar as empresas produtoras e consumidoras de energia limpa e renovável. Desenvolvido pela Unica em acordo de cooperação com a CCEE – Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, o Selo Energia Verde será concedido por meio de um certificado atestando que pelo menos 20% da energia elétrica consumida pelas empresas é produzida de forma sustentável. A criação do Selo é parte integrante do Programa de Certificação da Bioeletricidade, que permitirá a troca de informações entre a Unica e CCEE, como a confirmação sobre a origem contratual da energia comercializada pelas usinas movidas a biomassa de cana no mercado livre de energia. O que se cobra são políticas públicas planejadas e perenes para não desperdiçarmos o enorme potencial de energias renováveis de que dispomos, a formalização da bioenergia na matriz energética e a imediata homologação do aumento do teto da mistura de etanol à gasolina. Essas definições estratégicas ajudarão a preservar o inestimável patrimônio constituído pelo etanol e são a garantia de maiores oportunidades para colocarmos o Brasil na vanguarda desse combustível renovável que faz inveja ao mundo todo: é barato, não poluente e gerador de empregos. É minha convicção que o Brasil é maior que os desacertos momentâneos. No caso específico do etanol e da produção de açúcar que foi uma cadeia produtiva construída durante séculos pela dedicação de homens e mulheres do nosso país, seja trabalhando na lavoura ou nas usinas, seja pela percepção de homens públicos em diversos momentos, temos aí um grande patrimônio. Não podemos, nem devemos nos dispersar. Nós temos o biocombustível mais amigável do mundo ao meio ambiente, combustível renovável, e não podemos abrir mão das suas vantagens. O etanol é o nosso grande diferencial num mundo que luta contra a emissão de gases do efeito estufa, que combate as mudanças climáticas e que busca novos parâmetros para uma economia de baixo carbono.
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visão de estrategistas
Opiniões
falta apenas a energia cívica Energia hidroelétrica, eólica, nuclear, solar e térmica o Brasil tem e consegue correr atrás de mais, para tanto, falta apenas a energia cívica. Urge sua geração. Cada dia que passa, o sonho dos brasileiros cantado no hino nacional fica mais longe. "Gigante pela própria natureza,/ És belo, és forte, impávido colosso,/ E o teu futuro espelha essa grandeza." Esses versos mostram como são antigos os desejos de melhorar o desempenho do País. Não se consegue crescer no grito ou com protestos esporádicos. É necessária uma energia cívica que coordene esforços de todos na direção correta. Os problemas que o setor de açúcar e álcool e o País enfrentam não são triviais, mas são superáveis. As raízes das dificuldades são três: corrupção, inépcia e conformismo, e sua superação está em justiça e boa gestão, na elaboração e na concretização do sonho de um Brasil melhor e em um choque de energia cívica. É possível traçar um paralelo com 1932. Na época, paulistas, inconformados com o que ocorria na capital da República, se organizaram e lutaram contra a ditadura. O civismo paulista fez história. Mesmo derrotados nos campos de batalha, ganharam a guerra e fortaleceram as instituições nacionais. Vive-se um momento em que a realidade cobra o preço do neopopulismo praticado nos últimos anos. Os custos econômicos e sociais são altos. Mais grave é o conformismo que está se propagando como uma praga no País. Há uma letargia inaceitável. Na capital da República, há ações que perpetuam e agravam a situação atual. Enquanto o País necessita de ajustes fiscais no curto prazo, no Congresso Nacional, foram feitas 600 propostas de emendas com mais gastos. Um sinal inequívoco de falta de comprometimento com o futuro do Brasil. Apesar de a estabilização da moeda completar 21 anos no fim deste semestre, quase não se avançou na agenda do desenvolvimento do País.Os problemas são graves, mas não insolúveis, e o potencial do Brasil é grande. Mesmo considerando uma desaceleração da economia chinesa e os problemas da Europa, a economia mundial está crescendo a taxas baixas porém crescentes. O resto do mundo tem uma dinâmica própria que sustenta a demanda por produtos brasileiros, com
impacto positivo na atividade econômica interna. Ilustrando o ponto, as exportações brasileiras projetadas para este ano, US$ 230 bilhões, são 50% maiores que as de cinco anos atrás. O quadro macroeconômico, de inflação alta, dívida pública em trajetória perigosa e perda de competitividade, é difícil, mas pode ser revertido com choque rapidamente. O cenário brasileiro permite sonhar e voar alto. Não para este ano, há um ajuste a ser feito, que pode permitir que o Brasil comece a crescer a taxas parrudas em dois ou três anos e as sustente por muito tempo. O mundo está se transformando. Avanços tecnológicos e alterações na estrutura econômica criam novas oportunidades de crescimento, que têm que ser aproveitadas. Mesmo assim, insiste-se em repetir mais do mesmo, em vez de ajustar-se à nova realidade. Há uma agenda latente de reformas que tem que ser retomada, para aproveitar as mutações. Avançar na educação, nas relações trabalhistas, na questão fundiária, na previdência, numa justiça eficiente, na redução da burocracia, na segurança, na infraestrutura legal etc. Há um conjunto de subsídios e privilégios a ser revisto; a estrutura de gastos e tributos não está em sintonia com a realidade do País. Não se pode usar, neste século, o plano de voo do passado. O Brasil pode continuar com o piloto automático ou traçar um plano de voo num patamar em sintonia com suas potencialidades, ou seja, um novo ciclo de crescimento acelerado. Dois objetivos devem ser considerados como prioritários no ajuste da política econômica: a solvência do Estado no curto prazo e a promoção do crescimento sustentado nos próximos anos. A dívida pública está numa trajetória perigosa, já passou a barreira dos 60% do PIB e pode se tornar incontrolável. Exige um tratamento de choque para garantir a solvência do Estado. O segundo objetivo é a promoção do crescimento econômico sustentável, decorrente da necessidade, cada vez mais impreterível, de que a economia brasileira retome e mantenha níveis de crescimento compatíveis com seu potencial. Os níveis atuais de crescimento estão bem aquém do potencial do País. Somente uma retomada consistente e balanceada do crescimento viabilizará uma redução duradoura da pobreza e um aumento de oportunidades para todos os brasileiros. Com esses objetivos e o quadro econômico presentes, torna-se necessário um detalhamento das ações para a redução da pobreza, as reformas institucionais, as medidas para melhorar a qualidade de vida, a gestão macroeconômica, as políticas setoriais, incluindo a de açúcar e álcool, e a redefinição do papel do governo. Nesse sentido, está a importância da energia cívica dos paulistas para propor e, dentro das regras democráticas, impor a direção a ser seguida para concretizar o potencial de futuro do País.
Não se consegue crescer no grito ou com protestos esporádicos. É necessária uma energia cívica que coordene esforços de todos na direção correta. Os problemas que o setor de açúcar e álcool e o País enfrentam não são triviais, mas são superáveis. "
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Roberto Luis Troster Economista
visão de estrategistas
aqui, na planície, ninguém sabe.
no Planalto, talvez.
Falar, mais uma vez, sobre a longa crise do setor sucroenergético não é tarefa simples. Quase tudo já foi dito, e parece nos faltar a energia necessária para superar os problemas que vivemos. Há, porém, novidades, algumas alvissareiras. Finalmente, parece – embora, no momento em que escrevo estas linhas, a decisão ainda não tenha sido sacramentada – que as autoridades concordaram em fixar o novo nível de mistura do etanol à gasolina, acrescentando uns 800 milhões de litros anuais à demanda por etanol anidro. Muito? Pouco? De qualquer modo, o que não nos falta – e é preciso enfatizar esse ponto – é demanda: menos de 30% da atual frota de veículos leves de motores flex está usando etanol, e toda a produção tem sido vendida. Há espaço para mais que dobrá-la, só no mercado brasileiro. Mas nos faltam preços para o negócio ser rentável, e, como os preços do hidratado e do anidro estão umbilicalmente ligados, dá tudo na mesma: o anidro adicional virá da redução do hidratado disponível. Outra medida, importantíssima, foi a correção do PIS/Cofins e principalmente a reposição da Cide, com efeito líquido de um aumento de R$ 0,22 por litro da gasolina saída das refinarias, com óbvios benefícios sobre o etanol. Parece que se resgata o papel estratégico desse instrumento regulatório para uma adequada política de longo prazo – ainda inexistente – para os biocombustíveis. Preocupa-me o atual ciclo dos preços do petróleo. Não sendo Pitonisa, meus longos anos de economista me livram da impossível tarefa de predizer preços futuros de commodities. Já acreditei nas teorias do peak oil, de que o preço do barril do petróleo iria para as nuvens, qualquer coisa acima dos US$ 200... Vemos que a equação é bem mais complexa: aos preços vigentes até há poucos meses, um grande número de reservas tornaram-se viáveis: o shale gas and oil, nos Estados Unidos; as areias betuminosas
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de Alberta, no Canadá; as reservas do pré-sal, no Brasil e Angola; os depósitos do deep offshore, no Golfo do México; a exploração petrolífera, no Ártico; as novas técnicas de extração adicional nos campos, até então classificados como esgotados etc., etc., etc. O que se convencionou chamar de non conventional oil passa a ser parte importante da produção marginal desse combustível. Veio a oferta adicional, criaram-se as pressões para a baixa de preços. Presente, também, a relevante queda do consumo de energia por unidade do produto nacional no mundo desenvolvido e a diminuição das taxas de crescimento na China. Pode-se facilmente juntar outros argumentos nessa direção. Estamos numa guerra entre o óleo saudita e o óleo de xisto? Há razões fundamentais embasando tais movimentos de preços? Estamos em um ciclo de baixa de longo prazo? Isso é extremamente importante. O problema, no presente, é sabermos por quanto tempo o petróleo estará no entorno dos US$ 50/60 o barril. Nesse nível, sem um poderoso aumento da Cide, o etanol de cana é, hoje em dia, no estado atual de nossas usinas e nossos canaviais, inviável para um grande número de produtores, caso a gasolina seja vendida a preços equivalentes a esses do petróleo. Claro que tão relevantes quanto o preço do barril são as perspectivas da taxa cambial, cuja tendência de desvalorização parece ser nossa melhor aposta no momento. Isso é positivo. Mas o ponto essencial continua a ser a falta de políticas públicas claras para os combustíveis líquidos. “Nunca antes nesse país” essa ausência foi mais evidente. Assim, por mais aplausos que se façam ao restabelecimento da Cide, ninguém sabe realmente quais as reações de sua reimplantação. Simples operação arrecadadora de tributos adicionais? Instrumento efetivo para incentivar o uso de combustíveis renováveis? Tentativa de melhorar os péssimos números do balanço da Petrobras? Aqui, na planície, ninguém sabe. No Planalto, talvez... Essa incerteza quanto ao ambiente regulatório é o grande ponto do quadro de absoluto desânimo prevalecente. Quando é que vamos conversar a sério, sociedade civil, produtores, consumidores, governo? Nas crises anteriores, as saídas sempre foram através de intenso diálogo entre todos, no qual políticas públicas e novas tecnologias eram abertamente discutidas.
Opiniões O que nos falta para repetirmos esses feitos? Liderança, fundamentalmente. São notórias as razões dessa carência, resultado das profundas mudanças estruturais por que passou o setor. Infelizmente, os esforços para superar essa condição não têm tido sucesso. É preciso definir uma pauta em torno da qual se construa o consenso. Quais os itens potencialmente mais importantes? Qualquer lista não deixaria de incluir, certamente: mecanismos regulatórios para manter o preço do etanol competitivo com o a da gasolina; tratamento tributário compatível com as externalidades ambientais positivas de seus produtos; valorização adequada da produção de energia elétrica da biomassa; manutenção e ampliação da mistura obrigatória; uniformidade no tratamento tributário estadual (ICMS); financiamentos adequados para os investimentos; apoio ao desenvolvimento tecnológico, tanto industrial quanto agrícola; abertura e ampliação de mercados externos; subsídios explícitos e implícitos de variada natureza; um Proer específico para o setor; esforço tecnológico na melhoria da performance dos motores flex quando usem etanol. A lista pode ser ainda bem maior.
Um grupo restrito de temas básicos – mínimo denominador comum capaz de unir todos – é o caminho com chances de sucesso. Não nos faltam instituições onde continuar a desenvolver os esforços nessa direção. O presente movimento de arregimentação de um número significativo de governadores em torno de um Fórum de Etanol tem tudo para ajudar, em muito, a sairmos dos impasses atuais, a criar clima político favorável. Passo importante pode ser a uniformização dos tratamentos fiscais estaduais ao etanol, como instrumento real estimulador da retomada dos investimentos no setor. Como procurei argumentar, não creio em mudanças significativas no quadro atual, e nem em soluções milagrosas, salvo o gerado por um grande esforço daqueles que, capitalizados, tenham coragem de continuar investindo na consolidação do setor. Não vejo alternativa para um número importante de usinas, cuja única saída é a capitalização externa a seus atuais acionistas, seja por seus credores, seja por terceiros. A sobrevivência está na eficiência. Industrial: cogeração, terceiros produtos, etanol de segunda geração (quando disponível: até agora, não competitiva). Agrícola: novas variedades; novas técnicas de operação; agricultura de precisão. Gestão: completa revolução. Financeira: capitalização. A história de cinco séculos da cana-de-açúcar no Brasil mostra nosso ponto forte: Resiliência.
Mas o ponto essencial continua a ser a falta de políticas públicas claras para os combustíveis líquidos. 'Nunca antes na história desse país' essa ausência foi mais evidente. "
Eduardo Pereira de Carvalho Economista
Não quero entrar na discussão de mérito de cada um dos pontos a serem incluídos nessa hipotética porém indispensável conversa. Mas parece claro que uma pauta com todos aqueles itens é muito mais um programa de ação de médio e longo prazo de todo o setor, na sua maioria em pleno andamento. Para se alcançar êxito, é condição mandatória a união de todos os produtores. Sem isso, não há jogo. Nada mais propício ao fracasso dessa empreitada que uma longa lista de reivindicações, muitas inviáveis e irrealistas, sem consenso claro entre os produtores, a serem apresentadas a um interlocutor – o Governo Federal – que já se apresenta, de cara, com manifesta má vontade. E há que se levar em conta os demais pontos de vista dos outros interessados: governo, em seus diferentes níveis; consumidores; trabalhadores; fornecedores de serviços, insumos e equipamentos; os fabricantes de automóveis; a Petrobras e demais distribuidoras de combustíveis.
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visão de estrategistas
Opiniões
condições para o crescimento do
agronegócio Por melhor performance que o setor venha a ter no futuro, sempre iremos ver empresas fracassarem na luta pela sobrevivência. Saídas do mercado por mau desempenho econômico-financeiro fazem parte da regra do jogo "
Julio Maria M. Borges
Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento
Esta edição da Revista Opiniões nos propõe responder à pergunta: qual a energia que falta ao setor de cana-de-açúcar no Brasil? A resposta a essa questão depende do tipo de energia a que nos referimos. Em se tratando de energia empresarial construtiva, em minha opinião, nada tem faltado. Pelo contrário, tem havido uma quantidade de energia suficiente para posicionar o setor como importante componente da atividade econômica do País e como líder no mercado mundial de açúcar. O que tem faltado então? O mundo deve entrar em novo ciclo de crescimento econômico. Tudo indica que a crise iniciada nos EUA em 2008 está chegando ao seu final.
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visão de estrategistas A retomada do crescimento econômico global de forma sustentável é bem-vinda e fará bem a todos, em particular aos países em desenvolvimento, que buscam melhores condições de vida. Dessa forma, as oportunidades e os desafios de uma nova fase de crescimento devem voltar à tona. Uma demanda crescente de alimentos e energia será retomada. O meio ambiente será agredido e sua preservação voltará à cena. Essa nova condição de crescimento da economia mundial tem tudo a ver com o setor de cana-de-açúcar no Brasil, que é competitivo em escala global e amigável do ponto de vista ambiental. Nesse caso, porque produz energia renovável – através do etanol e da cogeração de energia elétrica com a utilização do bagaço da cana. Ou seja, os fundamentos de médio e longo prazo são favoráveis ao setor. A origem da crise atual: Desde 2013, os preços do açúcar no mercado externo vêm caindo por excesso de oferta global, após terem atingido níveis recordes no período 2010-2012. Nas duas últimas safras, chegaram a níveis muito baixos, incompatíveis com a sustentação do negócio. Considerando que cerca de metade da cana disponível para moagem é destinada à produção de açúcar e que, aproximadamente, 70% desse produto é exportado no Brasil, podemos ter uma ideia da importância do mercado externo de açúcar para o resultado econômico do setor. A crise acessória: O Governo Federal contribuiu para reforçar a crise econômico-financeira por que tem passado o setor. Na medida em que segurou o preço da gasolina na bomba, impediu que os produtores de etanol hidratado tivessem preços mais remuneradores pelo produto, o que gerou prejuízos para a Petrobras na importação da gasolina. Cabe lembrar também que o Governo Federal deu apoio aos produtores de açúcar e etanol quando reduziu a carga tributária sobre os produtos e criou linhas de crédito para financiamento da atividade a juros relativamente baixos. Essas duas condições, com efeitos contrários sobre o resultado econômico-financeiro da atividade, resultaram, infelizmente, em um saldo líquido negativo. As empresas do setor, de forma geral, têm tido prejuízos nas suas operações, e o endividamento vem aumentando de maneira insustentável. A lanterna na popa: É conhecido no mundo dos negócios que as commodities, açúcar em particular, passam por ciclos de preços altos e baixos ao longo do tempo. Ou seja, existem momentos de lucros extraordinários e existem momentos de prejuízos indesejáveis, mesmo que sejam minimizados através de boa política de gestão de riscos. Isso é antigo e deve se repetir num futuro previsível. Ou seja, quem está no setor de commodities deve se preparar para ganhar na média anual e deixar de acreditar que uma determinada fase do ciclo será determinante para o sucesso ou fracasso do negócio. E por que o setor, hoje, vive uma situação fragilizada, do ponto de vista financeiro, se a condição referida é sobejamente conhecida? Vale lembrar
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que o que acontece hoje é uma repetição do que aconteceu em 2007-2008. Na ocasião, os vilões da história foram os preços baixos do açúcar em 2007 e a crise americana de 2008. O que falta para o setor neste mundo global? Para uma boa parcela do setor, falta gestão. Para muitos, falta estratégia. Como escreveu Samuel Taylor Coleridge (1772-1834), citado por Roberto Campos, no livro A lanterna na popa: memórias: “Mas a paixão cega nossos olhos, e a luz que a experiência nos dá é a de uma lanterna na popa, que ilumina apenas as ondas que deixamos para trás". É frequente, no Brasil, encontrarmos empresários que foram bem-sucedidos no passado, em diferentes setores de atividade, que insistem em manter a estratégia antiga seguindo a máxima de que "em time que está ganhando não se mexe". Em certos casos, o empresário até reage a mudanças de mercado, só que tardiamente... a lanterna na popa. Além disso, é frequente encontrarmos, neste País, empresários todo-poderosos, que sabem tudo de tudo, incluindo o futuro, e não erram. A culpa de erros cometidos em suas empresas é dos funcionários, sempre... mas a paixão cega nossos olhos. Neste mundo globalizado, onde o Estado, antigo protetor a qualquer custo, tem tido ações cada vez mais limitadas, vai prevalecer a excelência da gestão e da estratégia empresarial. As variáveis que afetam os resultados das empresas são muito mais diversificadas que aquelas do passado. O processo decisório é muito mais complexo. Planejamento e controle, conselhos de administração e conselhos consultivos nas empresas, hoje, se fazem necessários porque são úteis. Em nosso próximo Seminário (XIV), a ser realizado em Abril/2015, vamos enfatizar essa convivência da cana-de-açúcar com o mundo globalizado. O negócio de cana, açúcar e etanol no Brasil tem um futuro igual ou melhor que aquele verificado no passado recente. Por outro lado, os desafios de gestão mudaram e passam pela busca de eficiência econômica e boa estratégia empresarial. Por melhor performance que o setor venha a ter no futuro, sempre iremos ver empresas fracassarem na luta pela sobrevivência. Saídas do mercado por mau desempenho econômico-financeiro fazem parte da regra do jogo e refletem, entre outras, diferenças de condições de produção, localização, características pessoais dos empresários e talentos individuais. O desafio, contudo, não muda: é ser bem-sucedido.
Opiniões
criar o
futuro Podemos analisar bem a situação atual do negócio e definir com precisão os recursos necessários. E, então, devemos partir para a ação, através de uma execução exemplar. É assim que se cria o futuro. "
Igor Montenegro Celestino Otto Diretor-superintendente do SEBRAE/GO
Como Peter Drucker dizia com frequência, você não pode prever o futuro, mas pode criá-lo. Atualmente, temos dedicado tempo demais nos preocupando com o futuro. Nos preocupamos com as crises reais e com as hipotéticas. Nos preocupamos, diariamente, com as oscilações dos preços dos nossos produtos no mercado, com os juros, com o poder de compra do consumidor, com a força dos nossos concorrentes, com os produtos substitutos, com a escassez de mão de obra qualificada, com a oferta de crédito ou a falta dela, com o papel do governo e com tudo mais que envolve o nosso negócio e o nosso segmento. Ou seja, estamos sempre nos preocupando com as variáveis que fogem ao nosso controle. Nesse processo, muitas vezes, estamos perdendo o foco das variáveis que realmente estão sob o nosso controle, que é o poder de planejar e de executar uma gestão altamente eficiente. De nada adianta tentar prever o futuro do negócio, pois ninguém pode fazer isso. Mas podemos traçar uma boa estratégia. Podemos analisar bem a situação atual do negócio e definir com precisão os recursos necessários. E, então, devemos partir para a ação, através de uma execução exemplar. É assim que se cria o futuro.
Ao focar no próprio negócio, o primeiro passo é desenvolver uma boa gestão de pessoas. Só há uma forma de obter bons resultados, e essa forma é através das pessoas. É preciso desenvolver bons relacionamentos em um ambiente de colaboração dentro da equipe. É preciso saber ouvir colaboradores e clientes. É preciso investir no desenvolvimento das competências e também no reconhecimento de bons resultados da equipe. É preciso oferecer clareza de objetivos para os colaboradores: deixando claro para cada pessoa como deve desempenhar o seu trabalho, dizendo qual deve ser o resultado final a ser apresentado e informando a quem ela deve se reportar. Sem espaço para dúvidas. O segundo passo é fazer um bom gerenciamento estratégico. Analisar os ambientes interno e externo. Avaliar as cinco forças de Porter, como a ameaça de novos entrantes, a ameaça de produtos ou serviços substitutos, o poder de barganha dos clientes, o poder de barganha dos fornecedores e a competição dentro do setor, visando definir a situação competitiva atual. Identificar a cadeia de valor para melhorar a eficácia organizacional. Identificar estratégias específicas para aumentar o valor dos produtos e serviços da organização. Enfim, definir com clareza a missão, visão, valores, metas, objetivos, estratégias, ações e tarefas, controle e recompensas do negócio.
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visão de estrategistas
Opiniões O terceiro passo é desenvolver um eficaz gerenciamento da execução. Focar no que é realmente importante, selecionando entre uma e três metas crucialmente importantes. Delimitando o foco, ficará mais fácil para a equipe priorizar as ações, melhorar a comunicação e alcançar os resultados desejados. Atuar nas medidas de direção. Boas medidas de direção não olham para trás como medidas históricas do negócio, mas olham para frente, pois são preditivas no alcance das metas e podem ser influenciadas pelos membros da equipe. Manter um placar de resultados, gerando mais engajamento e alcançando alto desempenho da equipe. E criar uma cadência de responsabilidade, sob um princípio de responsabilização consciente e mútua de toda a equipe. O quarto passo é melhorar o gerenciamento da qualidade da produção. Identificar padrões de benchmarking – melhores práticas – internos e externos que podem ser utilizados na produção. Analisar a causa e o efeito dos problemas. Implantar um sistema de controle de qualidade que assegure que se faça certo na primeira vez, evitando retrabalho e perda de matéria-prima. Evitar perder clientes por causa de má qualidade de produtos e serviços. Desenvolver sistema de qualidade e de boas práticas visando à melhoria contínua. O quinto passo é desenvolver uma boa estratégia de marketing. De acordo com Peter Drucker, o marketing é a base de qualquer negócio. Portanto é preciso definir, com clareza, o posicionamento de mercado da empresa. Implantar uma política clara para produto, preço, praça e promoção. E identificar o nicho de mercado em que a organização vai focar os seus esforços de comercialização. Não há alternativa melhor para as organizações do que focar verdadeiramente nos seus aspectos internos. Somente assim será possível reduzir os custos, aumentar a produtividade, melhorar o desempenho da comercialização e obter lucratividade do negócio. E isso só será possível se a empresa não perder de vista a importância da inovação, seja nos seus processos ou nos seus produtos e serviços. William A. Cohen nos conta uma história que ilustra como a inovação pode ser a diferença para o sucesso de um negócio. "Henry Ford não constituiu a primeira empresa automobilística bem-sucedida. Essa proeza foi da Oldsmobile, fundada em 1897 por Ransom E. Olds. A Cadillac foi constituída em 1902 por Henry M. Leland. Também se destacou como marca de sucesso. Ford só criou a Ford Motor Company em 1903. Sua manifestação de genialidade não foi a linha de montagem, que já vinha sendo usada por empresas de embalagem de carne, mas, sim, o desenvolvimento pioneiro da estratégia de produzir carros para as massas, adotando, em consequência, a linha de montagem. A linha de montagem móvel foi importante como tática que possibilitou preços baixos em apoio à estratégia. Por conseguinte, o famoso Modelo T dominou o setor durante várias décadas e foi, em tese, o modelo mais bem-sucedido de todos os tempos. Só mais tarde, Ford partiu para outros segmentos do mercado de preços médios e de altos. No entanto, se Ford tivesse escolhido estratégia diferente para atender a clientes de alta renda, como a Cadillac e a Oldsmobile, a tática de linha de montagem teria sido incongruente com a estratégia. Por mais bem implementada que tivesse sido sua linha de montagem, a superprodução e a falta de singularidade e de exclusividade não teria sido atraente para os clientes potenciais ricos. Sem dúvida, a estratégia é mais importante que as táticas. Embora seja desejável acertar em ambas, é muito melhor adotar a estratégia de marketing certa." Voltando ao princípio, é tempo de focar a atenção no negócio, buscar a inovação e criar o futuro. Simples é melhor.
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visão de entidades
a energia é o nosso
desafio O que falta, então, é a energia de quem dá as cartas na esfera pública, para formar uma coalizão que enfrente os urgentes desafios com diálogo e transparência. "
Antonio Eduardo Tonielo
Presidente da Copercana (Cooperativa dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo), Sicoob Cocred (Cooperativa de Crédito dos Produtores Rurais e Empresários do Interior Paulista) e Sindicato Rural de Sertãozinho
No atual momento da história do Brasil, em que vivemos uma situação bastante grave de falta de um recurso essencial para a vida – a água –, o que afeta a produção de energia elétrica, é oportuno lembrar o slogan da Petrobras, a estatal que, há vários meses, tem estado no centro das atenções, estampando as manchetes de jornal, pelos inúmeros escândalos de corrupção e por conta da política equivocada do Governo Federal para os combustíveis: “O desafio é a nossa energia”. O lema da maior empresa brasileira bem que poderia ser lido às avessas. “A energia é o nosso desafio” poderia – por que não? – ser a marca de uma nova campanha publicitária. E que desafio!
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Opiniões A frase, de trás para frente, reflete um cenário em que, realmente, presenciamos uma inversão de valores. A crise que o país atravessa, liderada pelo poder público, parece se estender para setores primordiais da economia brasileira e dar indícios de generalização. A indústria, a duras penas, busca o fôlego que lhe garanta a sobrevivência e, com isso, de outros diversos ramos de atividade que dela dependem. O sistema educacional, que pede socorro, não consegue oferecer os subsídios necessários para prover o País de conhecimento e mão de obra qualificada, capazes de reverter a realidade degradante das instituições. Os tentáculos dos desvios éticos e da impunidade crescem e avançam, deixando, como legado, uma ponta de desesperança de que a gestão pública vire verdadeiramente esse jogo. Basta olhar para a recente pesquisa Datafolha que avaliou o governo de Dilma Rousseff. A pesquisa divulgada no último dia 7 de fevereiro mostra que a aprovação da Presidente despencou de 42% para 23%, quase a metade. A popularidade é mais baixa que a de junho de 2013 (30%), quando uma série de protestos mobilizou o País de norte a sul. Para 52% dos entrevistados, Dilma sabia da corrupção na Petrobras e nada fez para evitá-la. São informações que evidenciam as incertezas enfrentadas pelo Brasil neste início de 2015 e que vão nos ocupar durante todo este ano e, talvez, por mais alguns ainda. Caso não haja medidas emergenciais, que minimizem os impactos dessas instabilidades que nos têm tirado o sossego e o sono, corremos o iminente risco de pagar um preço alto demais – se é que já não estamos pagando – para problemas que poderiam ter sido solucionados lá atrás, num passado recente. Claro que é preciso contar com uma “mãozinha de São Pedro”, por exemplo, para ajudar a solucionar o profundamente crítico problema da água. Caso ele atendesse a nossos insistentes pedidos por chuva, o que elevaria, inclusive, a produtividade de nossas lavouras e daria, literalmente, um “refresco” para as dificuldades que perturbam os agricultores, sobretudo os que dependem da cana-de-açúcar, já representaria um tremendo alívio. Mas não podemos esquecer os alertas de especialistas, nos últimos anos, de que a sobrecarga na exploração poderia comprometer os recursos hídricos, antes tão generosos. Uma hora ou outra, mesmo com a constância de chuvas torrenciais, o uso desenfreado e o desperdício causariam um colapso. Diante disso, não há dúvidas de que a falta de decisões políticas que permitissem reservação de água e investimento em fontes alternativas para geração de energia elétrica, como a biomassa, a eólica e a solar, evitando a dependência excessiva das hidrelétricas, colocou no futuro do nosso desenvolvimento um gigantesco ponto de interrogação.
O mais surpreendente é que a teimosia parece não ter sido vencida, ainda, pelo cansaço. As obras em curso de usinas como a de Belo Monte, no Pará, dão um demonstrativo de que as armas para enfrentar essa guerra continuam apontando na direção errada. Enquanto isso, o setor sucroenergético sofre com o abandono, agravado nos últimos quatro anos, em função da ausência de uma política sólida e segura para o etanol e para a bioeletricidade a partir do bagaço e da palha da cana. A política de controle da inflação por meio do congelamento do preço da gasolina, que contribuiu para a penúria financeira da Petrobras, penalizou, também, de forma significativa, nosso combustível limpo e renovável, em detrimento dos derivados fósseis. Praticamente, um atentado contra um setor que busca dar ao Governo Federal, de bandeja, muitas das soluções de que ele necessita para encarar a crise. As recentes atitudes tomadas, de significativa interferência do Estado na economia, só não condenaram, ainda mais, a cadeia produtiva da cana-de-açúcar e seus esforços para o desenvolvimento de novas tecnologias, porque existe uma obstinação do setor em acreditar na retomada, em participar da construção de um país pujante, pleno de empregos e qualidade de vida. Cerca de 80 usinas fecharam suas portas nesse período. Todas autossuficientes em energia elétrica proveniente de resíduos da produção de cana-de-açúcar e muitas delas equipadas e preparadas para a venda de excedentes para a rede. Um leve impulso a esse sistema, entre cujos muitos benefícios oferecidos está o sequestro de poluentes e a transformação em créditos de carbono, ajudaria a torná-lo um dos carros-chefes da geração de eletricidade no Brasil e – o melhor – sem o risco de apagões. Em novembro de 2013, de acordo com a Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar, a energia gerada por 474 usinas sucroenergéticas em operação atingiu um total de 11.250 MW, o equivalente ao que a hidrelétrica de Belo Monte terá em potência instalada. Até 2020, a previsão é produzir 14 mil MW, mesmo volume da usina de Itaipu, a segunda maior do mundo, atrás apenas da chinesa de Três Gargantas (22.400 MW). Não bastasse isso, a demanda por energia limpa cresce a saltos largos no Brasil. Em 2008, as fontes não renováveis, como o petróleo, respondiam por 54% do consumo de energia no País. De lá para cá, a participação das fontes renováveis cresceu 9,5% ao ano, com destaque para a biomassa da cana-de-açúcar. O etanol, por sua vez, tem a chance de se consolidar, não só no mercado interno, mas além das fronteiras do País, como caminho viável para assegurar a responsabilidade ambiental, tão preconizada pelos protocolos mundiais. O biocombustível, no entanto, perdeu competitividade e ainda patina para retomar a força que impulsionou a produção e o aumento do consumo dos carros flex, o que deu poder de escolha aos consumidores brasileiros. Desperdiçar, portanto, todas essas potencialidades é reforçar a inversão de valores que faz o Brasil andar para trás, sem energia para avançar. Um contrassenso, já que, no setor sucroenergético, por exemplo, há energia sobrando: a energia do trabalho, do empreendedorismo, dos homens que sustentam a cadeia canavieira. Energia limpa e renovável. O que falta, então, é a energia de quem dá as cartas na esfera pública, para formar uma coalizão que enfrente os urgentes desafios com diálogo e transparência.
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Opiniões
agro orientado ao mercado O setor rural tem uma dinâmica própria, devido à peculiar situação da demanda e às condições naturais para a produção dos 4Fs (Food, Feed, Fiber, Fuel). Temos um agronegócio forte em commodities, que ganha cada vez mais musculatura em produtos de maior valor agregado, pavimentando um crescimento da dimensão quantitativa para a qualitativa. O Brasil saiu da condição de importador de alimentos, para exportador, assumindo papel chave no agronegócio mundial. Obviamente, muito ainda precisa ser feito, especialmente no que diz respeito à inserção do agro nas cadeias globais de valor, mas é inegável que o setor saiu da condição de coadjuvante para ser protagonista. Em razão de nossa vantagem natural e comparativa e, principalmente, pela capilaridade geográfica do negócio, o agro é um instrumento de desenvolvimento regional que tem papel fundamental no contraponto ao de outros setores estabelecidos em saturadas áreas urbanas. Cidades pequenas e médias que têm o agro como a atividade econômica principal têm apresentado altos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) e um padrão de empreendedorismo e autoestima superiores à média nacional. Além da riqueza, emprego e renda proporcionados pelos negócios atrelados à sua cadeia produtiva, o agro tem efeito multiplicador ao gerar externalidades positivas para a indústria, o comércio e o segmento de serviços. E, de olho no futuro, há espaço para a transformação de um agronegócio calcado em força empreendedora para um agro de precisão, orientado ao mercado e na certificação de produtos. Para os produtores rurais, esse novo comportamento requer orientação voltada à “produção puxada”. Trata-se de, primeiro, estudar as tendências de mercado e a seguir, definir o perfil de produtos que melhor atendem às exigências do consumidor final. Por sua vez, o governo precisa adaptar sua estrutura às demandas de um agro exportador e gerador de riqueza, renda e empregos para o País. Celeridade e foco na regulamentação e no controle devem substituir políticas tradicionais de defesa de um Estado que, durante décadas, regulamentava mais as importações do que as exportações. Dessa maneira, tanto os setores produtivos quanto o governo precisam elaborar planejamentos, mas, concomitantemente, agir. Temos que funcionar em ambiente “beta”, planejando sim, mas fazendo acontecer, testando na prática e promovendo ajustes, de acordo com as necessidades.
Nesse desafio, o fomento à incorporação de novas tecnologias e práticas de gestão dos produtores de porte médio será decisivo para a inclusão de centenas de milhares de fazendeiros na agricultura moderna, o que se constituirá em ganhos econômicos e também sociais para o País. Assim, a construção de processos de comunicação e capacitação contínua, por meio de uma cada vez maior integração das atividades das diversas entidades que representam o agro, assume importância na estratégia da Sociedade Rural Brasileira (SRB) nos próximos anos. A elaboração de uma estratégia de médio e longo prazo para o setor, visando à modernização das estruturas, à integração e ao bom funcionamento das diversas cadeias produtivas do agro, é um dos focos da SBR. Além disso, direcionamos, ainda, o trabalho para a construção de um projeto de médio e longo prazo também para o Brasil, ancorado na perspectiva de como o agro integrado aos outros setores pode aumentar sua contribuição para o desenvolvimento socioeconômico do País. Quem atua de modo reativo já sai perdendo – inclusive financeiramente – no quesito inovação, por isso é tão importante, para não dizer imprescindível, a construção de um projeto estratégico para o agro e para o País. Ao ser destaque na agenda de desenvolvimento, o agro tem a obrigação institucional de participar ativamente do debate de caráter social, dos serviços públicos mais próximos do dia a dia da população. Isso porque o setor é parte da convivência física e social. Seu trabalho de prover alimentos, energia, etc., de produzir com insumos seguros, de empregar pessoas cada vez mais capacitadas, de atuar de maneira horizontal faz o agro interagir de modo amplo e profundo com todos os demais segmentos. Justamente por sua relevância econômica (gerador de riqueza, emprego e renda), com efeito e impacto direto no aspecto social, o agro tem o direito e a obrigação de ser coformulador das políticas que influenciam no pacote de serviços públicos de saúde, educação, segurança, transporte, infraestrutura, entre outros. Se o setor é o mais bem-sucedido do País, e a percepção da sociedade em relação a isso avançou, está mais do que na hora de o agronegócio acentuar a sua participação nas discussões dos mais relevantes temas da agenda pública nacional. Os mesmos problemas – senão piores – que atingem as cidades também atingem o campo. O agronegócio pode e deve contribuir como um importante agente transformador.
Para os produtores rurais, esse novo comportamento requer orientação voltada à 'produção puxada'. Trata-se de, primeiro, estudar as tendências de mercado e, a seguir, definir o perfil de produtos que atendem às exigências. "
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Gustavo Diniz Junqueira
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e agora?
Após a crise de energia de 2001, o Governo Federal iniciou um programa de diversificação da matriz de geração de energia elétrica no Brasil, incentivando investimentos privados em novas fontes de energia, principalmente eólica, biomassa e PCH’s (Pequenas Centrais Hidrelétricas), com o objetivo de ampliar a capacidade de geração, até então predominantemente por Grandes Centrais Hidrelétricas. Paralelamente, criou-se um parque de geração térmica para uso exclusivamente emergencial, queimando combustível fóssil. O período seco mais prolongado que ocorreu em 2001 alertou as autoridades quanto ao risco de abastecimento de energia elétrica do País com modelo totalmente dependente da água. Também foi identificado que o sistema de transmissão nacional não era suficiente para transportar eventual energia excedente gerada das regiões Norte e Nordeste para a região Sudeste. Em 2002, estabeleceu-se uma política de diversificação de fontes de energia com o programa Proinfa, em que se pretendia distribuir a geração com novas fontes, como biomassa, eólica e PCH’s a fio d’água, sem reservatório. Até então, o Brasil teve a política de geração elétrica amparada nas grandes Centrais Hidrelétricas, que se tratava de grandes investimentos com período de implantação que ultrapassava 5 anos, demandando, portanto, uma antecipação na decisão de implantação
Pior será quando faltar a energia que nos move, amparada nas crenças e valores cultivados pelas gerações passadas, que nos ensinaram a lutar para vencer obstáculos, desbravar as diversidades com a coragem e a determinação dos que lutam por causas maiores que seus interesses pessoais. "
Celso Torquato Junqueira Franco Presidente da UDOP
de qualquer nova usina, amparado em um planejamento de longo prazo, que garantia não só a demanda, mas também um excesso de capacidade e, principalmente, uma reserva de energia nos reservatórios, suficiente para 6 meses de consumo. A capacidade maior que a demanda, com um sistema de geração de baixo custo, após realizados os investimentos, proporcionava ao sistema uma oferta de energia segura e barata, que somente era viável com investimentos públicos, mas proporcionava ao Brasil uma excelente competitividade, principalmente nas indústrias de alto consumo de energia elétrica, somente viável pelos subsídios dos investimentos públicos. Esse modelo com forte presença do Estado limitava o desenvolvimento do Brasil, portanto se necessitava de mudanças, que foram iniciadas durante os anos 1990, com o modelo de privatizações e novos contratos de energia.
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Opiniões Nesse período, também já nos deparávamos com os novos questionamentos ambientais causados pelas áreas alagadas dos reservatórios das hidrelétricas, resultando em impacto significativo no modelo, pois os novos projetos, com reservatórios menores, não contemplavam mais a capacidade de reserva de água, podendo gerar energia a plena capacidade apenas no período das chuvas, e, ainda assim, quando normais. Portanto nosso sistema, já altamente dependente das chuvas, ficou ainda mais vulnerável, pois, agora, sequer tinham reservas adicionais para as costumeiras anormalidades pluviométricas, necessitando, então, de um sistema de segurança complementar, criado com as Centrais Termelétricas, para uso emergencial, utilizando combustível fóssil. Com o retorno da normalidade das chuvas em 2003, o Governo postergou o início de operação dos projetos do Proinfa e reduziu drasticamente os incentivos para novos projetos, estabelecendo um preço teto para a energia que não remunerava os investimentos. Essas medidas praticamente colocaram um fim ao Proinfa, que sequer atingiu 33% de seu objetivo inicial. Uma nova política de atração de investimentos em geração distribuída veio a partir de 1989, com leilões reversos, em que o governo estabeleceu preços teto para início, e os interessados disputavam os volumes com lances sempre para baixo, reduzindo, assim, o preço da energia. Esse modelo vem apresentando duas grandes falhas: primeiro, o volume de oferta, geralmente, é baixo, algumas vezes até menor que a demanda total de contratação; segundo, que também influencia no primeiro, o preço teto muito baixo, não atraindo o interesse dos investidores. O resultado geralmente apresenta um volume contratado menor que a demanda, agravando o problema no futuro. Caso tivéssemos os reservatórios com 100% de reserva, o que seria normal nesta época do ano – final de verão –, teríamos reserva para atender a apenas 3 meses de consumo, ou seja, metade da reserva que tínhamos 12 anos atrás. Com o nível atual, menor que 20%, sequer temos reserva para um mês, já no final do período de chuvas mais intensas. E agora? Nós, que tínhamos energia barata sobrando, criamos um modelo de modicidade tarifária, a partir de 2009, que preconizava adquirir energia com preço cada vez menor, não fomos capazes de entender as limitações de cada fonte, impedindo a competitividade e a oferta de energia para atender às necessidades, nos vemos com energia a preços crescentes (involuntariamente), sem previsibilidade de custo e, o que é pior, sem garantia de oferta. A energia mais cara é aquela que não temos! Estamos assistindo à estagnação dos investimentos e da economia por total insegurança do futuro próximo, dos dias seguintes. Os governantes não são responsáveis pela falta de chuvas. Esse é um fator indesejável, mas natural. Assim como outros países que têm outras limitações de recursos naturais afetadas pelo clima, demandam planejamento, decisão e ação das autoridades públicas. Nesses casos, temos duas opções: primeira, fazer investimentos que garantam o funcionamento pleno, sejam quais forem as adversidades climáticas, que exigem um custo de investimento adicional com outro sistema alternativo redundante, em regime de back-up, neste caso, suportado integralmente por recursos públicos, pois não garantem qualquer retorno ao investidor, provedor do serviço; segunda, adequar o consumo quando adversidades acontecerem, com total controle e comando pelo Estado, com política clara em relação às taxas e restrições de oferta, de maneira a reduzir o
impacto para a economia e a sociedade durante o período de escassez de recursos. O que não podemos é conviver com a incerteza e a insegurança quando toda a sociedade pressente o problema, e os governantes sequer aceitam a existência desse problema. Se não temos problemas, não temos necessidade de agir, corrigir rotas, disciplinar regras, preparar a comunidade, conscientizar para o consumo seletivo. Essa é a situação... A indústria de bens de capital, totalmente nacional, sangra por falta de pedidos de equipamentos, com demissões de pessoal mês a mês, e vê seu patrimônio e know-how sendo rapidamente corroído. As usinas de açúcar e etanol já produzem a cana de que precisam para otimizar o uso de seus derivados, bagaço e palha, para aumentar a receita, garantir competitividade e, assim, evitar a paralização da atividade, que seria tão danosa à sociedade e ao País. Os investidores da indústria consumidora de energia estão paralisando suas atividades e/ou migrando seus investimentos para outros países, em busca de segurança de continuidade da atividade. A sociedade está perdendo expectativa de um futuro melhor, com a retração da atividade econômica, perda de emprego, queda na remuneração e aumento do custo de vida, sentindo na pele a perda do poder de compra. O que fazer? O Brasil, felizmente, tem solução, basta vontade política para implementá-las. Obviamente, no caso da energia, o processo é inverso. A tendência é que o próximo MWh tenha um custo mais alto que o último, prevalecendo as condições tributárias e de financiamento dos investimentos, em que podem ser criados modelos de grande impacto no custo final da energia. Também precisamos aprimorar o modelo de incentivo das fontes que gerem menores perdas, menores impactos ambientais e menores investimentos correlatos, tal como transmissão. Nesse caso, as melhores soluções são da geração distribuída, próximas ao consumidor, com capacidade de geração, principalmente, no período seco, sendo complementar ao predominante sistema hídrico. Temos como exemplo a biomassa da cana-de-açúcar, com capacidade de gerar 20% de toda a energia elétrica consumida no País, equivalente a toda a energia térmica emergencial atualmente em plena carga, gerando, hoje, apenas 1,5%, ou seja, 8% do potencial. Poderíamos suprir somente com o potencial da biomassa da cana-de-açúcar toda a energia consumida atualmente no País, aproveitando apenas os combustíveis já produzidos, desligando as poluentes e caras térmicas a óleo, proporcionando segurança ao sistema, desonerando em cerca de R$ 60 bilhões (custo da operação das térmicas nos últimos 3 anos), com investimentos que não ultrapassam R$ 50 bilhões. Precisamos, urgentemente, alocar os parcos recursos públicos e privados, enquanto existem, em infraestrutura que alavanquem a economia brasileira, gerando empregos, renda, impostos e investimentos, enquanto ainda existirem também nossos empreendedores, capazes de acreditar neste país. Tudo ainda parece simples, viável e recuperável... Pior será quando faltar a energia que nos move, amparada nas crenças e valores cultivados pelas gerações passadas, que nos ensinaram a lutar para vencer obstáculos, desbravar as diversidades com a coragem e a determinação dos que lutam por causas maiores que seus interesses pessoais. Não vamos deixar a chama de esperança se apagar. Precisamos salvar as futuras gerações de brasileiros, que venham a ter orgulho de sua terra e de sua gente.
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visão de entidades
a energia desprezada Em tempos de ameaça de apagão, não podemos nos dar ao luxo de desperdiçar o potencial da biomassa da cana-de-açúcar. Com os riscos cada vez mais evidentes das mudanças climáticas, também não podemos nos dar ao luxo de não aproveitar o etanol para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Qual a energia que nos falta? Aproveitar melhor o que já temos! O primeiro passo para ampliar a oferta de energia doméstica passa pelo melhor uso do potencial já disponível, especialmente no setor sucroenergético. Nesse contexto, chama a atenção o papel da bioeletricidade. Em 2014, a energia da cana-de-açúcar atingiu quase 21 mil GWh ofertados à rede elétrica, o que equivale a cerca de um quarto da geração da usina de Itaipu. Esse volume representa o abastecimento, por um ano todo, de quase metade da demanda de Portugal, ou duas vezes aquela observada no Uruguai. Por ser produzida no chamado período seco e crítico do setor elétrico, a bioeletricidade gerada em 2014 representou uma economia de 14% da água nos reservatórios das hidrelétricas no mercado das regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsável por 70% da capacidade dos reservatórios no Brasil. Considerando que esses reservatórios chegaram a 19% de capacidade, podemos afirmar que uma fonte limpa e renovável, capaz de poupar um volume significativo de água, já não tem um papel de mera coadjuvante no setor elétrico brasileiro. No médio prazo, será cada vez mais complexo o aproveitamento do potencial hídrico remanescente no País e a construção de novas hidrelétricas. Logo, a biomassa de cana-de-açúcar desponta como uma opção importante e prioritária para fazer frente à crescente demanda nacional por energia elétrica. Segundo as próprias estimativas da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), com a reforma das usinas e o pleno aproveitamento da biomassa da cana-de-açúcar, o setor sucroenergético poderia ampliar em seis vezes sua produção atual de energia elétrica sem precisar plantar um único hectare adicional de cana-de-açúcar. O aproveitamento desse potencial passa pela promoção de leilões dedicados à biomassa, com contratação regular e contínua, além de preços condizentes com os
Opiniões
custos para o processo de retrofit do parque termelétrico e do uso da palha, que atualmente é deixada no campo. O desenvolvimento de estudos para a conexão elétrica dos empreendimentos, a garantia dos direitos contratuais no ambiente regulado no caso de indisponibilidade dos sistemas de transmissão e distribuição, bem como condições mais adequadas para a aquisição de máquinas e equipamentos associados à geração e ao recolhimento da palha também são elementos importantes desse processo. O cenário observado no setor elétrico não se distingue daquele vislumbrado para o mercado de combustíveis. As previsões realizadas pela EPE indicam que a oferta de gasolina deve ficar praticamente estagnada nos próximos anos, com a necessidade crescente de importação de combustíveis para o atendimento da demanda doméstica. Diante desse cenário, o País terá de escolher entre importar mais gasolina ou promover condições para a ampliação da oferta interna de etanol. As consequências dessas opções são evidentes e conferem enorme vantagem à segunda alternativa, ante os benefícios evidentes decorrentes do maior uso do biocombustível, como a geração de empregos, a redução das emissões de gases de efeito estufa, a queda nos gastos com saúde pública, a ampliação da segurança energética, entre outros. Em 2009, o etanol hidratado chegou a representar 30% da energia consumida pelos automóveis e motocicletas em circulação no Brasil. Em 2014, esse percentual atingiu apenas 17%. No total, a oferta do setor sucroenergético, contabilizando o etanol anidro e o etanol hidratado, caiu de 46%, em 2009, para 35% no último ano. Assim como no caso da bioeletricidade, o potencial para a expansão da oferta interna de etanol, no médio e longo prazos, é enorme. O Brasil dispõe de condições singulares para a ampliação da produção do biocombustível. Além disso, os avanços no desenvolvimento de novas variedades de cana-de-açúcar, de novas técnicas de plantio e do etanol de segunda geração ampliam significativamente a viabilidade de crescimento da oferta. Para viabilizar um novo ciclo de investimentos no biocombustível, é necessário medidas centradas em dois pilares fundamentais para qualquer programa de energias renováveis: previsibilidade e reconhecimento das externalidades positivas associadas a essa fonte renovável de energia. Essa indústria já mostrou que pode responder rapidamente com o aumento de sua produção. Contudo o País precisa definir urgentemente uma estratégia clara e estável sobre o papel do setor sucroenergético na geração de energia elétrica e na oferta de combustíveis limpos e renováveis. Sem uma política energética adequada, continuaremos queimando combustíveis fósseis para a geração de energia elétrica e importando gasolina para o atendimento da frota interna.
com a reforma das usinas e o pleno aproveitamento da biomassa da cana, o setor sucroenergético poderia ampliar em seis vezes sua produção atual de energia elétrica sem precisar plantar um único hectare adicional "
Elizabeth Farina
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Presidente da Unica
Colaboração: Luciano Rodrigues e Zilmar Souza, Gerente de Economia e Análise Setorial e Gerente de Bioeletricidade da Unica, respectivamente.
A primeira comercializadora de energia elétrica e gás natural do N/NE • Representação da sua usina na CCEE • Mesa de compra e venda de Energia Elétrica • Projetos de energia solar • Projetos de cogeração de energia (Biomassa e Gás)
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momento de decisão
Milhares de trabalhadores perderam seus empregos. Outros milhares estão na iminência de ver sua função ser extinta, uma vez que não há perspectiva, a curto prazo, de melhora no setor "
Paulo Antonio Skaf Presidente da Fiesp
O ano de 2014 foi bastante negativo para a indústria, mas particularmente ruim para o setor sucroalcooleiro, que teve cerca de 60 usinas fechadas na região Centro-Sul, desde a safra 2007/2008, de acordo com estudos do Deagro – Departamento de Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – Fiesp. A moagem de cana-de-açúcar no País quebrou um ciclo de dez anos de crescimento, iniciado em 2000/2001, depois de alcançar 620 milhões de toneladas na safra 2010/2011. O endividamento, o clima, que afetou bruscamente as safras de 2011 e 2014, a redução da área de cultivo, o aumento do custo de produção, a dificuldade de manter um nível necessário de tratos culturais dos canaviais, a adaptação à ampliação de mecanização da colheita e, posteriormente, o plantio, somando-se à política de preços da gasolina do Governo Federal e à perda da competitividade, foram alguns dos fatores que levaram o setor sucroalcooleiro a um cenário marcado pela maior crise no setor nos últimos trinta anos, por recuperações judiciais, por paralisações e por demissões crescentes. Milhares de trabalhadores perderam seus empregos. Outros milhares estão na iminência de ver sua função ser extinta, uma vez que não há perspectiva, a curto prazo, de melhora no setor, o que já está afetando indústrias que fornecem máquinas e equipamentos para as usinas e o emprego de seus trabalhadores.
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Com esse cenário nada promissor, a produtividade da cultura despencou: a produção de cana-de-açúcar por hectare caiu de 75,9 toneladas na safra de 2007/2008 para 68 toneladas em 2014/2015, ao mesmo tempo que a qualidade da matéria-prima, medida em quantidade de ATR (açúcar total recuperável) por tonelada de cana, passou de 144 toneladas em 2007/2008 para 133 em 2013/2014. Em 2014, o setor sucroalcooleiro atingiu o auge de uma crise anunciada. Contribuíram para isso as adversidades climáticas e de mercado e a política de manutenção dos preços dos combustíveis artificialmente baixos, adotada pelo Governo Federal. Ou seja, a gasolina comercializada ao consumidor foi feita a um valor inferior ao valor pago para a sua própria importação. Com isso, o etanol hidratado, que tem como limite de preço na bomba um percentual em torno de 70% em relação à gasolina, não pôde passar pelos necessários reajustes de preços, diante dos seguidos aumentos dos custos de produção. Para se ter uma ideia, em 2013, o preço médio do etanol hidratado nas usinas de São Paulo, sem impostos, foi de R$ 1,18. Se o preço da gasolina praticado pela Petrobras no mercado interno fosse equivalente ao preço internacional, e considerando a mesma paridade de preço do etanol em relação à gasolina observada em 2013, o preço do etanol hidratado na usina deveria ser R$ 1,34 por litro. Nesse caso, haveria também um reajuste proporcional no preço do etanol anidro. Essas diferenças de preço representariam um aumento de cerca de R$ 4,5 bilhões somente nas receitas do setor com etanol.
Opiniões Isso sem contar que o etanol, voltando a ser atrativo, traria ganhos potenciais também para o açúcar, pois haveria um redirecionamento do mix de produção médio do setor mais voltado ao combustível, por causa da maior demanda pelos consumidores e pela melhora das margens. Por essa lógica e por ser o maior exportador mundial de açúcar, ao reduzir a oferta do produto, o Brasil contribuiria de forma importante para acelerar a recomposição dos preços desse produto no mercado internacional. Essas receitas adicionais seriam muito importantes para um setor que chegou, em 2013, a um endividamento total de R$ 66 bilhões, equivalente a, praticamente, todo o valor da receita anual das usinas. Com esse cenário, o processo de reestruturação do setor significará uma nova fase de fusões e aquisições no Brasil. A retomada de investimentos só se dará após o equilíbrio entre o endividamento das empresas e sua capacidade de geração de renda. No médio prazo, o setor não terá condições de crescer significativamente, mas o início de um novo ciclo deve se dar em 2015, ano em que a produção global de açúcar será deficitária em relação ao consumo, delineando novos patamares de preços. A velocidade dessa retomada dependerá, em boa parte, de mudança na política de regulação dos preços dos combustíveis, o que definirá, de certa forma, o futuro do etanol hidratado no País.
Uma política de equalização dos preços dos combustíveis ao mercado externo promoveria um cenário de retomada do setor. Já a continuidade do artificialismo dos preços internos da gasolina pode comprometer, de forma grave, as empresas, reduzindo gradativamente a oferta de etanol hidratado, que será convertido em aumento da oferta de etanol anidro e um excedente de açúcar, condição que impedirá uma recuperação dos preços. O cenário atual é preocupante para usineiros, empregados, fornecedores e prestadores de serviço. Em uma época em que as contratações estariam a pleno vapor, o que vemos é demissão em massa e cidades inteiras que dependem basicamente do cultivo e da moagem da cana de braços cruzados. A indústria tem feito a sua parte. Por meio do Senai-SP, criou, em 2014, escolas móveis para atender ao setor e capacitar os operários em manutenção e operação de máquinas de última geração. Com o protocolo ambiental que visa eliminar a queima de cana, é essencial dar oportunidade para que esses profissionais adquiram know-how e façam a transição do cultivo manual para o cultivo mecânico. O setor investiu em máquinas, em tecnologia de colheitadeira, em informação, em capacitação. Mas o cenário nada animador fez com que houvesse fechamento de usinas, demissões em massa, corte de vagas no mercado de trabalho, além da falta de perspectiva e de estímulo para qualquer tipo de investimento. As medidas a serem tomadas pelo governo em relação ao setor serão determinantes para que os rumos desse segmento sejam alterados de maneira positiva nos próximos anos. Precisam ser rápidas e assertivas, para que possamos readquirir fôlego, competitividade e, mais do que isso, contribuir para o desenvolvimento econômico do Brasil.
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Opiniões
a esperança é nossa energia renovável A esperança é sinônimo de produtor rural em nosso país. Essa é a energia que move o Brasil e nos impulsiona a continuar, mesmo que o setor sucroenergético esteja enfrentando uma das piores crises de sua história. É energia sempre renovável. Mesmo quando os prognósticos não são favoráveis, o agricultor acredita ou, pelo menos, espera que possam ser boas as condições climáticas. E, por maior que seja sua dedicação, que faça o combate a pragas, a doenças e que aplique todos os insumos necessários, sempre estará sujeito a alterações na política agrícola, que poderá influenciar diretamente no resultado da atividade. A crise financeira mundial entre 2008 e 2009, em pleno período de expansão e de fortes investimentos do setor para atender à projeção de demanda por seus produtos, foi potencializada pelas adversidades climáticas que se seguiram, pelo abandono do setor e pelo congelamento do preço da gasolina por vários anos, situação que levou à lona nossos produtores. Em meio a esse ambiente, nos últimos anos, o setor sucroenergético, por diversas vezes, buscou junto ao governo um interlocutor que pudesse auxiliá-lo diante da grave situação que levou diversas empresas à extrema dificuldade financeira e até a falência. É verdade que perdemos nossa produtividade, mas isso em função da absurda elevação do nosso custo de produção, do cenário negativo que ampliou a dificuldade de acesso ao crédito e da necessidade de uma rápida mecanização das operações no campo, sem o desenvolvimento de tecnologias adequadas. Por um período, o que sustentou o setor foram os preços do açúcar, devido às adversidades nos países concorrentes. Mas, nos últimos tempos, os produtores vinham amargando anos seguidos de baixos preços do açúcar no mercado internacional. Recentemente, a retração na economia mundial e a violenta queda no preço do petróleo agravaram ainda mais o cenário. Agora, passadas as eleições, continuamos nossa busca por essa interlocução, e creio que encontramos uma pessoa sensata, de firme decisão e com função digna de sua competência. O Ministro Aloísio Mercadante tem se mostrado atento às reivindicações, com base em referências técnicas para sua tomada de decisão e com pulso forte para cobrar de todos os compromissos assumidos, sempre pensando no bem maior, em benefício dos cidadãos brasileiros. Os produtores paranaenses apresentaram suas reivindicações. Umas já foram adotadas, algumas estão em andamento, e outras, em fase de estudo. Dentre as importantes conquistas do setor, podemos ressaltar o estabelecimento de um cronograma para a volta da Cide – Contribuição sobre Intervenção do Domínio Econômico, sobre os combustíveis fósseis, fator fundamental para a diferenciação dos combustíveis renováveis. Também já foram incluídos, no Programa Inovar-Auto, benefícios adicionais às montadoras que desenvolverem veículos mais
eficientes, com o uso do etanol hidratado, a fim de aumentar a relação econômica entre os preços do etanol e da gasolina para níveis acima dos atuais 70%. Outra reivindicação do setor que já está em andamento é a elevação para 27% da mistura de etanol anidro na gasolina C e a restituição de 3% dos impostos cobrados sobre exportações de açúcar e etanol, dentro do Reintegra. Só isso, entretanto, não basta para reverter a grave situação em que se encontra o setor sucroenergético. Há outras medidas emergenciais a serem adotadas, sem contar a determinação da matriz energética que o País deseja, com a elaboração de uma política de longo prazo. É preciso transformar o Prorenova e o financiamento de estoques (warrantagem) em programas permanentes de governo. Todos os anos, é necessário que o produtor renove pelo menos 20% do canavial para manutenção de seus níveis de produtividade. Além disso, como a produção é sazonal (produz em sete meses e comercializa em doze), é fundamental oferecer uma linha de financiamento para estocagem. Outro ponto determinante para que as usinas possam voltar a produzir e a crescer, devido ao grande endividamento do setor, é o estabelecimento de um programa de renegociação de dívidas, a exemplo do Pesa – Programa Especial de Saneamento de Ativos, que alongou as dívidas do agronegócio no final da década de 1990. Medida necessária, pois o efeito seria imediato, permitindo o acesso ao crédito por muitas empresas, hoje impossibilitadas por uma série de restrições. É preciso, ainda, desenvolver um programa de incentivo à bioeletricidade, energia elétrica produzida a partir do bagaço e da palha de cana, com a realização de leilões por fontes e regionais, além de incentivar, no Brasil, a pesquisa para a criação de veículos totalmente verdes, como o híbrido a etanol. Esse sim seria o veículo ideal, do ponto de vista ecológico. Como o desenvolvimento tecnológico é base para qualquer crescimento, é imprescindível o apoio à Embrapa, não só na pesquisa e na geração de novas variedades, mas em trabalhos que gerem soluções para os problemas criados com a forte mecanização da produção agrícola e a não queima da palha da cana, que trouxeram fortes reflexos sobre a produtividade dos canaviais.
A esperança é sinônimo de produtor rural em nosso país. Essa é a energia que move o Brasil e nos impulsiona a continuar, mesmo que o setor sucroenergético esteja enfrentando uma das piores crises de sua história. "
Miguel Rubens Tranin
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Presidente da Alcopar, Siapar, Sialpar e Sibiopar - Paraná
visão de entidades
2015: um convite à
retomada
Os últimos anos foram muitos difíceis para o setor sucroenergético brasileiro. O segmento viveu uma crise originada por decisões que afetaram toda a cadeia produtiva, desde o produtor rural, passando pelo prestador de serviço, até o fornecedor de máquinas e equipamentos às agroindústrias canavieiras. Uma crise sem precedentes, que levou o setor a uma situação financeira de difícil solução. As vozes do setor formaram um grande coro de protesto e, com muita coragem, deram corpo e voz aos anseios que vinham do interior, das diversas regiões produtoras de cana do Brasil. Nunca o setor foi tão debatido, clamando por uma política energética mais limpa e sem intervenções. A mídia brasileira deu um enorme espaço para as reivindicações setoriais, e boa parte da opinião pública entendeu as dificuldades.
Um exemplo disso foi o amplo espaço que os temas relacionados ao setor tiveram durante a campanha eleitoral de 2014. A eleição já passou, e os brasileiros escolheram seus representantes para os próximos quatro anos. Em vez de olhar para trás e ficar remoendo o que não foi feito, o setor tem o desafio de olhar para frente e encontrar, novamente, o caminho da prosperidade. A recuperação não virá no curto prazo, e também não será uma medida isolada que resolverá os grandes problemas setoriais. A escolha de ministros mais ligados aos setores produtivos foi um importante indicativo da retomada do diálogo com o setor, apesar da mudança drástica da política econômica do Governo Federal em 2015. O passivo financeiro das empresas é muito alto e de difícil solução e necessitará de uma gestão profissional e criativa conjugada com um ambiente institucional estável, sem intervenção e com apoio ao setor. O apoio institucional do governo, representado pelos discursos de seus maiores líderes, é imprescindível para o crescimento de qualquer setor no Brasil.
Em vez de olhar para trás e ficar remoendo o que não foi feito, o setor tem o desafio de olhar para frente e encontrar, novamente, o caminho da prosperidade. "
Mário Campos Filho
Presidente Executivo da Siamig - Minas Gerais
É necessário falar bem do etanol, um produto brasileiro e extremamente importante à nossa matriz veicular, assim como do açúcar, item com grande participação nas exportações brasileiras, imprescindível na dieta da população e enraizado na nossa cultura. Isso sem falar da bioeletricidade, da energia elétrica da biomassa, com potencial incrível de auxiliar o País a sair da crise energética. O setor é muito grande, pulverizado e bastante heterogêneo, com características regionais/estaduais importantes. É por esse motivo que os sindicatos estaduais são fortes, com uma necessidade muito grande de interlocução com órgãos e instituições estaduais e, em muitos casos, municipais. Quando essas forças se uniram e se mostraram a serviço da recuperação setorial, o
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Opiniões Fórum Nacional Sucroenergético – nossa entidade nacional formada por 17 sindicatos e associações estaduais – foi fortalecido e, atualmente, tem presença importante em todas as discussões do setor no Brasil. A continuidade do fortalecimento do Fórum, hoje muito bem presidido por André Rocha, do Sifaeg de Goiás, é peça fundamental para a recuperação do setor. Uma série de medidas precisa ser tomada para que a recuperação seja iniciada. Divido em quatro eixos prioritários. O primeiro deles é o eixo principal das ações e reflete a necessidade de planejamento, seja para o setor privado, seja para o setor público. É a discussão de qual o tamanho que o setor pode ter no futuro e quais medidas indutoras precisam ser adotadas para se chegar ao objetivo. Qual será o papel do setor privado, o que caberá ao setor público, que ambiente regulatório é necessário. São pontos muito polêmicos, com diversas opiniões conflitantes dentro do setor privado e também do público. De qualquer forma, não é possível fugir mais desse debate, e ele precisa começar com muita rapidez. O segundo eixo refere-se à rentabilidade e à competitividade dos produtos do setor. Não será possível começar a solucionar o problema financeiro sem antes voltar a ser rentável, ou seja, gerar lucro em toda a cadeia sucroenergética. Para tal, o setor precisa vender seus produtos acima dos custos de produção, considerando os custos financeiros, o que não vinha fazendo há alguns anos. E não é só com preços altos que se resolve essa ação, mas também é necessário reduzir os custos de produção. O Brasil viveu um processo de encarecimento generalizado nos últimos anos, que prejudicou muito a economia brasileira e afetou o setor sucroenergético, com sérios problemas relacionados à legislação trabalhista, ambiental e tributária. Além disso, o setor foi prejudicado por uma situação climática instável, que, juntamente com a dificuldade financeira e a rápida mecanização do plantio e da colheita, trouxeram impactos significativos na produtividade do canavial. A cana representa 60% do custo final de produção; qualquer variação negativa de produtividade do canavial influencia significativamente os resultados. Esse segundo eixo não é tarefa fácil, mas algumas medidas anunciadas no final de 2014 e início de 2015 já trouxeram uma reversão importante das expectativas para o mercado de etanol hidratado, o grande problema do setor nos últimos anos. Para começar, Minas Gerais, terceiro maior produtor de etanol e segundo mercado de combustíveis no Brasil, adotará, a partir de março, uma alíquota de 14% para o hidratado e 29% para a gasolina. Será a maior diferença entre as alíquotas de ICMS do etanol e gasolina do Brasil, 15 pontos percentuais, uma grande novidade em um mercado pouco usuário de etanol. Ao mesmo tempo, outros dois estados terão mudanças importantes, com um potencial de elevação do consumo de hidratado: no Paraná, a alíquota de ICMS da gasolina passou de 28% para 29%; já na Bahia, que tem alíquota para o etanol de 19%, está prevista uma elevação da alíquota da gasolina de 27% para 30%. E não para por aí, outros estados estudam mais mudanças que poderão ser implantadas a partir de 2016. Esse trabalho para alteração das alíquotas de ICMS dos combustíveis, muito bem desenvolvido pelas entidades estaduais, é extremamente importante, porque, atualmente, é o único imposto incidente no produto renovável. Já o tão solicitado e esperado retorno da Cide foi anunciado, em uma composição com o aumento do PIS/Cofins, que elevou o preço da gasolina A em R$ 0,22, dando mais competitividade ao etanol hidratado. Dessa forma, 2015 promete ser um ano diferente para o etanol, e a rentabilidade tende a retornar para esse mercado. Ainda no eixo da rentabilidade e da competitividade, o setor tem um grande produto, forte gerador de caixa, que tende a crescer
muito nos próximos anos: a bioeletricidade. Depois de passar alguns anos esquecida pelo planejamento energético, a energia de biomassa voltou com grande força em 2014 com o uso de bagaço, mas também associando cavaco de madeira e, agora, a palha de cana. O setor tem um grande potencial, tanto de expansão das usinas que já estão nas redes quanto com retrofits das empresas que ainda não vendem o insumo, mas têm a escala necessária para viabilizar o investimento. Para isso, o setor ainda necessita dos leilões exclusivos para fonte de biomassa e que suas características positivas sejam consideradas na formação do preço. O terceiro eixo é o trabalho para ampliação e fortalecimento do mercado para os produtos. Recentemente, o governo anunciou o aumento da mistura do anidro na gasolina para 27%, uma grande conquista para o setor, com potencial de acréscimo de 1 bilhão de litros/ano. Também é preciso trabalhar fortemente junto ao governo e ao setor automobilístico para melhorar a eficiência dos carros flex no uso do etanol, além de negociar incentivos para que a nova geração de veículos, os híbridos, venha com motorização flex. E também não se pode esquecer da valorização do mercado de açúcar interno e externo como resposta frente a uma onda mundial de redução da participação desse produto na dieta alimentar da população. Há muitos mitos nesse debate que necessitam ser esclarecidos, e o setor precisa estar atento. Por fim, o quarto eixo seria o da comunicação, do marketing, mais especificamente. Essa é uma batalha árdua e precisa de um alto investimento e de uma drástica mudança de cultura dentro do setor. Além de enfrentar pesos pesados da economia, alguns dos maiores anunciantes do Brasil, o setor enfrenta um passivo de mais de 450 anos de história com informações infundadas e inverdades que não mais condizem com a situação atual da agroindústria canavieira brasileira. O frentista do posto, hoje, também virou um consultor de vendas que induz o consumidor a colocar determinado combustível. Em 2015, com a volta da competitividade do etanol, será necessário realizar um grande trabalho para divulgar o hidratado junto aos consumidores, já que muitos proprietários de veículos flex nunca abasteceram com etanol. Com essas novidades, o setor começou 2015 com melhores expectativas, mas ainda convivendo com a crise financeira. Os próximos anos serão de severos ajustes, de recuperação do fôlego, momento de aproveitar as oportunidades do mercado. Devido ao tamanho do passivo financeiro, poderemos ter um momento com novas fusões e aquisições que poderão ajudar no ajuste. A continuidade das pesquisas para descoberta de variedades mais produtivas, a evolução do etanol 2G e a perspectiva de uma situação climática menos extremada nos próximos anos poderão também ajudar o setor a se colocar novamente nos trilhos do crescimento, continuando a trazer desenvolvimento econômico para o interior do nosso país.
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visão de entidades
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competitividade e energia Competitividade. Não há como falar do setor sucroenergético sem falar de competitividade – principal elemento que devemos levar em consideração para traçar qualquer estratégia e/ou medida, visando à sua retomada. A recuperação da cadeia produtiva da cana-de-açúcar, inclusive das usinas e da própria indústria de base, depende do aumento da competitividade de seus produtos e subprodutos no mercado para atrair novos investimentos e reconquistar a confiança sobre os negócios. A competitividade do etanol começa a ser esboçada a partir de medidas como a volta da Cide – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, sobre a gasolina, que já foi anunciada e tem previsão de ser implementada a partir de maio, e o aumento da mistura de etanol anidro à gasolina, de 25 para 27%, também já divulgado pelo governo. Além dessas ações, precisam ser estimulados programas mais específicos, como o regime automotivo Inovar-Auto, para que as montadoras invistam em pesquisas de aprimoramento da eficiência dos motores flex, quanto ao uso de etanol. A redução do ICMS do biocombustível em outros estados, como já é praticada em SP e, mais recentemente, em MG, contribui para o aumento do consumo e, consequentemente, da arrecadação, beneficiando também produtores e o consumidor final.
A cogeração de energia elétrica a partir do bagaço e da palha da cana-de-açúcar, subprodutos da cadeia produtiva, enfrenta entraves e despreza uma fonte limpa e barata. A inclusão dessa energia pode ser viabilizada através de leilões específicos, assim como com a definição clara do papel da biomassa na matriz energética brasileira. As medidas citadas só podem ser executadas, em sua maioria, através do interesse e disposição do Governo Federal e de governos de estados produtores. As plataformas administrativas sabem da crise que acomete o setor, reconhecem as reivindicações e urgências e têm mostrado inclinação em prol da retomada. No entanto os empresários do setor precisam “mexer esse caldeirão, fazer a coisa andar”. Mas como conseguir isso? Não, não é mesmo uma tarefa simples, mas é necessário, primeiro, que os elos se fortaleçam em um objetivo comum, organizado, mais sólido e/ ou mais próximo da realidade, ou seja, com reais possibilidades de sair do papel, sempre pensando, é claro, na competitividade. Hoje, um dos maiores problemas do Brasil é a produção de energia elétrica suficiente para atender à demanda. Estamos no gargalo e, no curto prazo, o setor sucroenergético pode ajudar a resolver a escassez de oferta de energia. Temos condições de aumentar a disponibilidade de geração de energia pelas unidades produtoras em operação, que não exportam energia excedente, através da melhoria da eficiência das caldeiras instaladas, ampliando a geração de energia e reduzindo as perdas. No curtíssimo prazo, esse projeto, que começa na indústria de base e é direcionado às usinas, beneficia os demais vínculos da cadeia e ajuda a amenizar a crise energética – originada pela fragilidade da principal fonte, a hidrelétrica, que sofre os efeitos das drásticas mudanças climáticas, das barreiras ambientais, da falta de planejamento estrutural e da própria ação depreciativa do homem. Esse déficit de energia pode ser sanado por meio da energia elétrica produzida nas usinas de açúcar e álcool, de forma limpa, sustentável, mais barata e gerando milhares de empregos e renda. Outra externalidade positiva da energia elétrica proveniente do setor sucroenergético é que ela é produzida, justamente, no período de seca. No médio e longo prazo, temos condições de aumentar e melhorar a eficiência das plantas já exportadoras de energia elétrica, além da implantação de novas unidades geradoras. Este é momento de se pensar além, de tomar atitudes mais concretas, de abrir a mente para as oportunidades que o mercado tem oferecido e exigido e unir forças em busca da superação de um dos setores mais importantes para a economia do País. E, lógico, a efetiva recuperação do setor depende, e muito, da vontade política das autoridades competentes.
Os empresários do setor precisam 'mexer esse caldeirão, fazer a coisa andar'. Mas como conseguir isso? "
Antonio Eduardo Tonielo Filho
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Presidente do CEISE Br – Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis
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a gestão
pode atenuar a crise Estabelecer uma visão de longo prazo é questão de sobrevivência. No setor sucroalcooleiro, a tomada de decisão impactará os resultados para os próximos ciclos da cultura, contados em cinco ou dez anos. "
Alan Riddell
Sócio da KPMG e líder para o setor de agronegócio
A crise do setor sucroalcooleiro, que se intensificou em 2014 e é apontada por especialistas como a pior em três décadas, parece longe de terminar. No Centro-Sul, segundo a Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar, cerca de 80 usinas fecharam as portas por dificuldades financeiras, e outras 67 seguem em recuperação judicial em todo o País. Com isso, nos últimos dois anos, perderam-se 60 mil empregos. Infelizmente, ainda há risco concreto de que mais nove produtores paralisem suas atividades em 2015. Levantamentos apontam que a safra de 2015 poderá ser 12,1% menor em São Paulo em relação a 2014, com queda de 7,8% no Centro-Sul. Tal retração é um retrato da conjuntura negativa da atividade, cuja situação agravou-se devido a vários fatores. Além da crise hídrica sem precedentes, que atingiu todo o agronegócio brasileiro, a dificuldade na obtenção de crédito está aumentando, e os juros, crescendo. Isso eleva o nível de endividamento das empresas. Não resta alternativa ao setor senão se reinventar para sobreviver. Os produtores já vinham enfrentando grandes dificuldades com a restrição de crédito pelos bancos. Recentemente, esse entrave estendeu-se aos investidores internacionais. O cenário, então, é o seguinte: crise na produção e obstáculos na captação de recursos. Dessa forma, com a redução da rentabilidade, combinada com a necessidade de investimentos altos, as usinas não conseguem gerar free cash flow suficiente para bancar o serviço da dívida.
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Num cenário sem crédito disponível para refinanciar os vencimentos, o risco financeiro aumenta dramaticamente, o que levou várias usinas a recorrerem à recuperação judicial. Em pesquisa da KPMG no Brasil – em evento sobre gestão e recuperação de ativos e investimentos que reuniu executivos de instituições financeiras, investidores e empresários –, 16% dos respondentes apontaram o setor de energia, enquanto outros 13% citaram o agronegócio como os segmentos mais afetados pelo atual cenário de incertezas. Isso deve demandar esforço adicional na reestruturação dos negócios, principalmente quanto à adequação da estrutura de capital para diminuição do grau de alavancagem e de redução de custos. Um dos pontos levantados na mesma pesquisa foi o crescimento no número de pedido de recuperação judicial. Para 22% dos entrevistados, esse aumento aconteceu devido à elevação das taxas de juros e à restrição de crédito para as empresas. Outros fatores citados foram a intervenção do governo sobre setores da economia (15%) e a desaceleração da economia brasileira (13%). Ou seja, todos os fatores com impacto negativo no setor sucroalcooleiro.
Ainda segundo o levantamento, 90% dos pesquisados acreditam que a taxa básica de juros irá manter-se no mesmo patamar ou aumentar até o final de 2015. Isso gera crescente insegurança, cujas consequências são o aperto da concessão de crédito e tendência de aumento nos pedidos de recuperação judicial. Outra constatação foi que problemas gerados internamente no controle da administração (42%) e um equilíbrio entre fatores internos e externos (43%) são os principais motivos que levam uma empresa a entrar em estágio de crise. Isso se reflete diretamente na visão que os executivos têm do que deve ser feito para que as companhias tenham uma reestruturação bem-sucedida. 41% acreditam que a profissionalização da gestão e melhor governança corporativa são fundamentais, seguindo-se um eficiente sistema de gestão, em especial financeira, citado por 34% dos entrevistados. Ao olharmos para o setor sucroalcooleiro e o agronegócio em geral, a preocupação é ainda maior, já que muitas empresas ainda contam com uma gestão familiar. Processos de profissionalização, no entanto, não significam alijar a família da operação, mas garantir que a empresa e seus funcionários (acionistas ou não) ocupem espaços de acordo com as regras de mercado. Isso facilita a vida da empresa, a começar pela maior facilidade na obtenção de crédito. A governança corporativa gera melhor estruturação de toda a companhia, incluindo os setores de contabilidade, economia, finanças, gestão e a própria estratégia corporativa. Por isso a sua adoção tem papel fundamental no desempenho de uma empresa, incluindo a definição de um planejamento estratégico, que é parte fundamental do empreendedorismo, seja ele no âmbito das empresas familiares ou empresariais.
Estabelecer uma visão de longo prazo é questão de sobrevivência. No setor sucroalcooleiro, a tomada de decisão impactará os resultados para os próximos ciclos da cultura, contados em cinco ou dez anos. No exercício do planejamento, mais importante do que acertar a previsão é levar a empresa a se manter de olho no foco e na direção correta. Fazer mais com menos deve ser o lema que direcionará os próximos passos do setor sucroalcooleiro. Não podemos esquecer que o governo tem papel fundamental nos seus resultados. É necessário apoios e definições, como qual será a real participação do etanol e da biomassa de cana na matriz energética brasileira nos próximos anos. Os governantes não entenderam que podem contar com uma força poderosa a seu favor e em benefício da sociedade, no desenvolvimento da renda, empregos, e impostos sustentando uma cadeia industrial maior que a automotiva ou mesmo de óleo e gás, além de atuar aumentando a autossuficiência e segurança energética do País. Portanto fica a mensagem aos governantes: estamos prontos para ajudar a construir um Brasil melhor, com mais renda, mais energia, mais tecnologia própria, levando para o interior desenvolvimento e oportunidades. Porém temos que fazer, pelo menos, a nossa parte. Acima de tudo, empreendedores, bancos e investidores, dentre outros, devem ter uma parceria integrada, atuar em conjunto e adaptar suas práticas para, dessa forma, utilizar suas competências com o objetivo de mitigar os impactos das crises, realizar uma eficaz gestão de riscos, preservar o valor das empresas e fazer com que 2015 seja um ano diferente, contrariando as previsões negativas.
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a solução está ao nosso alcance O tema mais importante dos últimos meses e seguramente dos próximos é a energia. Em todos os países onde se valoriza a indústria, três são os fatores imprescindíveis para garantir o seu crescimento: matéria-prima, mão de obra e energia. A falta ou escassez de um ou mais desses recursos pode desacelerar o processo de industrialização, causar dependência de importação energética ou mesmo, em casos persistentes, acabar com a indústria de um país. Felizmente, o Brasil é privilegiado em todos os três fatores. Temos uma das maiores populações do planeta, fornecendo mão de obra abundante (mas não necessariamente qualificada). Nossas dimensões continentais oferece todo tipo de matéria-prima para ser transformada em abundância, e sua geografia e clima apresentam as melhores condições para gerar energia: eólica, hidráulica, térmica de biomassa, entre várias outras. Mas nem tudo são flores em terras tupiniquins. Para que todas as engrenagens funcionem corretamente e da maneira mais eficiente possível, uma política energética correta é a diferença entre o sucesso e o fracasso. A história brasileira mostra que, no longo prazo, temos acertado sempre nossas apostas quanto à política energética. A nossa política está muito longe de poder ser comparada com a norte-americana. Lá, o interesse da nação sobrepõe-se a quaisquer outros interesses. Os objetivos traçados são respeitados por presidente após presidente, que tem consciência de que toda infraestrutura não se faz em um só mandato. Às vezes, em três ou quatro. Enquanto isso, no curto prazo, estamos vivendo a tempestade quase perfeita. Quem imaginou que no país desenhado com artérias fluviais, cavernas com água pura do Guarani e chuvas abundantes no verão chegaria a se pensar que os rios iriam secar e reservatórios apontariam seu nível ao mínimo histórico? Ao mesmo tempo, quem imaginou que o preço “administrado” de energia para agradar ao consumidor acabaria por sucatear nossa infraestrutura de geração e distribuição e que, em prol do povo, os preços mais uma vez “administrados” da gasolina acabariam por colocar na beira do precipício, numa só tacada, as duas maiores indústrias energéticas do País: a sucroenergética e a Petrobras? A tempestade descrita traz consigo consequências importantes: nunca se viu tanto raio cair em pontos estratégicos de distribuição de energia elétrica causando panes temporárias. Problemas técnicos são observados frequentemente, provavelmente por causa das descargas elétricas, resultando em “apagões seletivos”.
Por fim, outro fenômeno “natural” é o excessivo consumo de energia por parte das indústrias, fazendo com que exista uma sobrecarga no sistema. Afinal, nosso Produto Interno Bruto nunca esteve mais pujante. Estamos a poucos passos do final da tempestade. A solução é conhecida e está ao nosso alcance. O único problema citado neste artigo que, por enquanto, não temos como melhorar é o regime descontrolado das chuvas. Todo o resto é muito simples. A solução da produção de combustível e de caixa da Petrobras passa, necessariamente, pelo setor sucroenergético. Sem dúvida nenhuma, quanto mais investimento ocorrer na indústria de etanol, mais rápida será a recuperação operacional e financeira da Petrobras. Negar a existência de uma correlação entre ambas é um pecado empresarial. Entre as várias inter-relações possíveis, uma radical parece-me mais atraente: assim como hoje, teríamos dois tipos de combustível para os automóveis: um seria a gasolina misturada com etanol (E25), que já conhecemos, para ser usado nos carros não flex, cujo preço seria acima de R$ 6 por litro; o outro combustível seria uma mistura, administrada pela ANP ou outro órgão regulador, de todo o volume de gasolina misturado com todo o volume de etanol produzido num determinado período de tempo. Todos os carros flex usariam essa mistura, cujo preço flutuaria de acordo com o percentual de etanol e gasolina de cada período. Assim, quanto maior o volume de etanol usado nesse novo combustível, menor seria o de gasolina a ser importado pela Petrobras. Essa redução da importação funcionaria de imediato, ainda mais com nossas refinarias nos seus limites produtivos. O preço desse novo combustível promoveria a maior produção de etanol, reduzindo a importação de gasolina. Entraríamos num círculo virtuoso cujo equilíbrio seria encontrado no limite de produção de gasolina e etanol. Os 3 milhões de veículos que entram no mercado por ano impulsionariam a construção de uma usina de etanol por mês e uma nova refinaria num tempo mais longo, por causa das dinâmicas de cada mercado e de escala de cada unidade. O brasileiro é criativo e lutador; os problemas terão soluções. Mas, como nem tudo é perfeito, sofremos de um apagão com poucas chances de mudar no curto prazo. Trata-se de outra área estratégica, largada ao sabor do vento e com muito menos apelo econômico se comparado ao de energia: a educação. Sem ela, cresce o coeficiente de ignorância entre nós, brasileiros. Esse crescimento acelerado, infeliz e inversamente proporcional, faz com que nos falte a energia de querer mudar.
quem imaginou que o preço 'administrado' ... da gasolina acabaria por colocar na beira do precipício, numa só tacada, as duas maiores indústrias energéticas do País: a sucroenergética e a Petrobras? "
Dario Costa Gaeta
Diretor-presidente da Zanini
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comunicação com a
sociedade
é a energia que nos falta É preciso lembrar que é muito mais fácil distribuir renda do que produzir renda. Hoje, o que não falta no Brasil é gente querendo distribuir renda sem produzir nenhuma. "
Celso Procknor
Presidente da Procknor
Habituado que estou à elaboração de textos de natureza técnica, fui surpreendido pelo amável convite da Revista Opiniões para escrever sobre um tema de natureza institucional. Como sou movido por desafios, vou tentar dar conta do recado. Para o atendimento de uma proposta dessa natureza, é sempre bom contar com a colaboração de expoentes nas suas respectivas atividades. Li, recentemente, duas matérias muito interessantes, uma do biólogo Fernando Reinach e outra do professor José Goldemberg, aliás, meu professor na Poli e que nos pagou um jantar “pendura” algumas décadas atrás. Ambos os textos foram publicados no jornal O Estado de São Paulo, vale a pena conferir.
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O Dr. Reinach discorre sobre os “Sinais vitais da humanosfera”. Ele começa lembrando os sinais vitais que, normalmente, utilizamos para monitorar o adequado funcionamento do nosso organismo, como a temperatura do corpo, a pressão arterial, a frequência cardíaca, a composição do sangue, além de vários outros. E, depois, ele informa que, de maneira análoga aos sinais vitais da vida humana, os cientistas já iniciaram a definição de quais seriam os sinais que deveriam ser monitorados em relação ao nosso planeta, com a finalidade de garantir a sobrevivência das nossas sociedades.
Opiniões Os cientistas selecionaram oito grandes processos que precisam ser monitorados: as mudanças climáticas, a integridade da biosfera, a composição da estratosfera, a acidificação dos oceanos, os fluxos biogeoquímicos, a cobertura dos solos, o uso de água doce e a quantidade de aerossóis na atmosfera. Por exemplo, o intervalo adequado da concentração de gás carbônico na atmosfera estaria entre 350 e 450 ppm, sendo o valor atual de 398,5 ppm. O Professor Goldemberg discorre sobre “O fim da era do petróleo”. Ele começa mencionando que a pergunta que se faz atualmente em todo o mundo: “Como o preço do petróleo pode ter recuado mais de 50% em tão pouco tempo?”, não é a pergunta correta. A pergunta correta seria: “Por que o preço do petróleo atingiu o valor absurdo de US$ 140/barril, sabendo-se que o seu custo de produção é muito mais baixo?”. E, depois, ele informa que o consumo de petróleo nos países industrializados caiu de 50,1 milhões de barris por dia, em 2005, para 45,5 milhões de barris por dia, em 2013, tendência esta que se iniciou antes da crise financeira de 2008. Basicamente, o preço do petróleo está caindo por causa de questões estruturais. Cada vez mais, se extrai petróleo com maior eficiência e em várias partes do mundo, o que provoca menor necessidade de importações dos grandes produtores. Cada vez mais, veículos mais eficientes, híbridos ou elétricos, reduzem o consumo específico de gasolina e de diesel. E a China, o mais importante consumidor de energia no mundo em desenvolvimento, anunciou que as suas emissões de carbono atingirão o máximo no ano de 2030 e devem declinar daí em diante. Se essas tendências se confirmarem no longo prazo, quem vai quebrar não são os produtores americanos de gás e de óleo de xisto, mas sim os produtores de petróleo com alto custo de extração. Será que alguma empresa brasileira estaria correndo esse risco se não fosse estatal? Esses dois excelentes artigos têm tudo a ver com os desafios que enfrentamos no campo da produção de energia renovável. O primeiro texto mostra como será importante para a preservação da humanidade monitorar e controlar, na medida do possível, os sinais vitais do nosso planeta, usando, de forma responsável, os recursos naturais disponíveis para a preservação do meio ambiente. Naturalmente, pode ser uma questão de mais ou menos tempo, mas a sociedade vai se convencer de que deve reduzir as emissões de carbono. O segundo texto mostra que, por sua própria natureza, as energias renováveis e as medidas para aumento de eficiência energética são atividades descentralizadas e, portanto, menos suscetíveis de terem seus preços controlados por cartéis, os quais só funcionam quando existem poucos produtores. Posso, agora, voltar ao tema desta edição para dizer que, na minha opinião, a energia que nos falta (e que nos tem faltado) é a energia para explicarmos esses conceitos à nossa sociedade. Necessitamos de energia para desenvolvermos uma comunicação eficaz com a sociedade e com aqueles que tomam decisões por ela. Nossa sociedade deve ser esclarecida para dizer ao Sr. Lula que, se o petróleo fosse um fator determinante para a prosperidade de um país, o Japão seria pobre, e o Irã seria rico. Aqui, na nossa malfadada América Latina, vale a mesma comparação com o Chile, com a Venezuela.
Obrigar a Petrobras a correr 30% dos riscos de exploração do pré-sal é um contrassenso. Nossa sociedade deve ser esclarecida para lembrar à Sra. Dilma que a decisão de zerar a Cide e passar a subsidiar um combustível fóssil em detrimento de um renovável foi um típico jogo “perde-perde”. Perdemos os investidores na produção de etanol, perdeu o caixa da Petrobras e perdeu o pagador de impostos de baixa renda que, sem saber, subsidiou a gasolina de gente que tinha renda para pagar um preço justo. Nossa sociedade deve ser esclarecida para informar ao Sr. Stedile que, nos países desenvolvidos, cada vez menos gente trabalhando no campo está produzindo cada vez mais alimento para gente vivendo nos médios e grandes centros urbanos. A urbanização das sociedades humanas mais desenvolvidas é uma tendência irreversível. Só não enxerga essa tendência quem é míope ou mal-intencionado. O combate ao agronegócio é puramente ideológico; a minha experiência profissional mostrou claramente como a renda das comunidades no interior aumenta de forma significativa quando um empreendimento agroindustrial é implantado em regiões remotas. Precisamos explicar aos moradores desses centros urbanos que eles necessitam de energia renovável e não poluente, não só para garantir a saúde do planeta, como já mencionado, mas, principalmente, para garantir a sua própria saúde. São inúmeras e incontroversas as evidências dos prejuízos à saúde pela poluição causada pelo uso de combustíveis fósseis. Precisamos informar ao nosso governo que estamos indignados pelo fato de o Brasil ter ficado a reboque nos últimos eventos internacionais sobre as mudanças climáticas. Perdemos nosso protagonismo nessa área, o que é lamentável para um país com as nossas potencialidades. Até a China, o grande poluidor do planeta, ganhou mais protagonismo pelo acordo firmado com os Estados Unidos no final do ano passado. Precisamos esclarecer para a nossa sociedade que energia renovável, seja de qual fonte for, tem tudo a ver com produção descentralizada de energia. Petróleo tem tudo a ver com produção centralizada e, por consequência, com cartéis. Cartéis são tudo o que os políticos querem. Podem controlá-los com mais facilidade, em favor dos seus interesses. E, se for um cartel estatal, melhor ainda! Precisamos convencer os nossos jovens de que não existe almoço de graça. O Brasil é um país muito desigual, e políticas de distribuição de renda são indispensáveis. Mas, antes de ser distribuída, a renda precisa ser produzida. Para produzir renda, necessitamos de crescimento econômico, pois a renda sempre é distribuída a partir dos impostos pagos por toda a sociedade. É preciso lembrar que é muito mais fácil distribuir renda do que produzir renda. Hoje, o que não falta no Brasil é gente querendo distribuir renda sem produzir nenhuma. Precisamos de jovens que queiram produzir a renda a ser distribuída depois! Resumindo, a energia que nos falta é uma comunicação corporativa adequada com a sociedade proporcionada pelas entidades do nosso setor. E uma comunicação boca a boca com a nossa juventude, tarefa esta que deve ficar a cargo de todos nós. Haja comunicação! E haja energia!
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atravessando tempos
turbulentos
Desde a crise financeira internacional de 2008/ 2009, o setor sucroenergético brasileiro enfrentou uma série de desafios – do clima, dos mercados e da regulação –, resultando em uma estagnação da produção do setor e em uma deterioração preocupante da situação financeira de uma parte significativa do setor. Como é comum em qualquer mercado de commodity que sofre uma crise, os impactos mais severos dessa crise no setor sucroenergético têm sido nos participantes menores; a grande maioria das dezenas de usinas fechadas, ou que entraram em recuperação judicial nos anos recentes, são pequenas.
por outro lado, o preço internacional de açúcar continua pressionado pelo desequilíbrio entre oferta e demanda e pelo fortalecimento do dólar. Além disso, a queda expressiva do preço internacional do petróleo no segundo semestre de 2014 e a possibilidade de que os preços possam ficar em níveis baixos por um longo período fazem com que a trajetória dos preços internos da gasolina, de 2016 em diante, seja uma nova fonte de incerteza. É verdade também que o enfraquecimento do real frente ao dólar traz uma melhora de competitividade ao setor, mas não há garantias de que essa situação permanecerá para sempre. Por isso, com controle zero sobre os preços internacionais e o câmbio, o foco do setor para a recuperação das margens e a volta ao equilíbrio financeiro sustentável no futuro terão que ser, em grande parte, via controle e redução de custos.
o foco do setor para a recuperação das margens e a volta ao equilíbrio financeiro sustentável no futuro terão que ser, em grande parte, via controle e redução de custos "
Andy Duff
Gerente de Pesquisa e Estrategista Global de Açúcar do Rabobank Brasil
Porém, o ambiente tem sido desafiador para todos, e até várias grandes empresas já se afundaram ou estão lutando para sobreviver. A realidade é que qualquer empresa que opera com níveis altos de endividamento, ou que fica com muita dívida no curto prazo e/ou com liquidez baixa, ou que não consegue controlar os custos, continua vulnerável no cenário atual. Isso porque, apesar dos seis anos de crise estendida já passados, parece que a tormenta ainda não acabou. É verdade que o Governo Federal apresentou novas medidas em 2015 que vão ajudar o setor, como a volta da Cide e o aumento da mistura de anidro à gasolina, mas,
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Um dos maiores impedimentos à redução dos custos em anos recentes tem sido a estagnação da produtividade e da produção da cana, que provocou um aumento de custos unitários no campo e no processamento, dado que os custos fixos estão sendo distribuídos por um volume reduzido de produção. Diante desse problema, resultado da seca e da redução dos investimentos no canavial, algumas empresas ampliaram a produção, via esforço no replantio, ou expansão da cana própria. Outra resposta, no caso de grupos que operam várias unidades, tem sido a parada de operações em uma planta para maximizar a utilização de capacidade das outras que vão continuar em operação. Olhando mais para frente, a esperança é a de que a tecnologia ofereça muitos caminhos promissores para aumentos da produtividade, ganhos em eficiência e redução de custos.
Opiniões O CTC e outros estão desenvolvendo variedades novas de cana, e algumas empresas estão avançando com o etanol de segunda geração. Enquanto o timing da chegada dessas tecnologias novas permanece incerto, existe um leque de iniciativas menos revolucionárias, direcionadas ao melhoramento incremental das operações, especialmente na logística das operações no campo; cortando o tempo e os gastos associados, por exemplo, ao transporte das equipes de trabalho e do maquinário nas frentes de trabalho. Em outra iniciativa, várias empresas estão trabalhando para melhor aproveitar o potencial da palha, visando, assim, aumentar a geração e a venda de eletricidade. Os ganhos em produtividade e a redução de custos que virão em decorrência dessas iniciativas não serão de graça – para cada ganho, um investimento tem que ser feito. Contudo, dado o caráter incremental desses investimentos, o impacto na alavancagem da empresa é menor, permitindo a ela manter um perfil conservador e, portanto, adequado, diante de tanta incerteza. Entre as iniciativas que exigem um investimento além do incremental, uma em que – parece – ainda falta estímulo suficiente para realmente catalisar alguma mudança positiva é cogeração de energia elétrica. Tais projetos oferecem não só uma diversificação da renda para as usinas, aumentando a receita e reduzindo a volatilidade do seu fluxo de caixa, mas também um fortalecimento da oferta nacional de energia, que, de novo, se mostra vulnerável. Por isso um esforço adicional para ampliar a geração de energia elétrica de bagaço e de palha, neste momento, ajudaria tanto ao País quanto ao setor. Em contraste com os investimentos incrementais, hoje em dia, é difícil imaginar que qualquer
empresa do setor estaria disposta a cogitar um projeto de greenfield para os próximos anos. Mesmo para quem tenha condições e vontade de expandir, a aquisição de ativos sairia hoje mais rápido e barato (em termos de gerar um novo fluxo de caixa) que a construção de novas unidades. Por outro lado, um impedimento a esse tipo de movimentação entre empresas do setor tem sido a enorme diferença entre as ideias dos potenciais compradores e os potenciais vendedores a respeito do preço justo desses ativos. Parece que, nesse caso, faltam mecanismos que reflitam melhor os riscos de comprar ou vender ativos diante das incertezas atuais e que permitam que, por exemplo, pelo menos, uma parte dos benefícios ou perdas decorrentes de uma venda sejam, para um tempo definido depois do fechamento, compartilhados entre comprador e vendedor. Claro que, como sempre, é fácil identificar o que falta, mas é longe de ser fácil propor uma solução que agrade tanto ao vendedor quanto ao comprador. Mas desenvolver soluções para esse dilema seria, ao menos, um caminho para catalisar a consolidação do setor, evitando, assim, a insolvência, e todas as complicações associadas, de empresas enfraquecidas pela crise. Diante do pano de fundo atual das incertezas dos mercados e da situação financeira do setor, mais estímulo para o desenvolvimento de cogeração e mais mecanismos para suavizar a consolidação ajudariam a indústria sucroenergética a atravessar esses tempos turbulentos. Isso, aliado aos melhoramentos incrementais já em obra por muitas empresas, elevará a eficiência e a competitividade dessa indústria, permitindo, assim, que ela possa enfrentar o futuro com mais confiança.
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é hora de
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agir
É desnecessário perder tempo falando sobre as virtudes do setor sucroenergético e seus inquestionáveis reflexos positivos em termos econômicos, sociais, tecnológicos e ambientais. Defender esse setor pelas suas qualidades é fácil; tarefa bem mais difícil é tentar compreender por que ele parece estar constantemente à beira do precipício, com um somatório de anos ruins que é sempre maior que o de anos bons. O setor, ciclicamente, está em crise, mas o que é bastante preocupante é que, desta vez, a crise tem sido muito profunda e muito longa. Houve outras situações difíceis no passado, mas este ciclo está caprichando: são praticamente sete anos de estagnação e desalento, com um drástico aperto nas margens operacionais das unidades produtivas, com um quadro de arrocho de preços e alta de custos e despesas.
No período de quatro anos, entre o início de 2011 e o final de 2014, o etanol hidratado, por exemplo, sofreu um reajuste médio do preço negociado pelas usinas da ordem de 3,5% (em São Paulo), ante uma variação ao redor de 27% no IPCA no mesmo período. Os preços do anidro e do açúcar também tiveram um comportamento fraquíssimo no período, e a redução da mistura de 25% para 20% do anidro à gasolina, entre 2011 e 2013, também teve um impacto fortíssimo sobre o faturamento do setor. Somem-se às questões de preços outros aspectos negativos, como o clima e a perda significativa de rendimento nos canaviais (tanto de volume quanto de quantidade de açúcares), e temos o que se poderia chamar de tempestade perfeita.
Somem-se às questões de preços outros aspectos negativos, como o clima e a perda significativa de rendimento nos canaviais, e temos o que se poderia chamar de tempestade perfeita. "
Paulo Roberto Gallo Diretor da Servserth
Com raras e honrosas exceções, o setor vem amargando, nos últimos anos, prejuízos que beiram o insuportável, levando à situação caótica presente, com inúmeras unidades produtoras em processos de recuperação judicial, algumas encerrando suas atividades, e muitas com um endividamento altíssimo – um quadro que praticamente eliminou o investimento no setor e tem disseminado uma crise sistêmica em uma enorme quantidade de municípios canavieiros, em diversas regiões do Brasil. O ano de 2015 começou com notícias razoáveis, sendo as principais o retorno da Cide sobre os combustíveis fósseis e a sinalização do aumento de 25 para 27,5% da adição de etanol anidro à gasolina.
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visão de fornecedores do sistema Houve algumas iniciativas por parte do governo do estado de São Paulo em termos de alíquotas do ICMS para insumos e alguns subprodutos da atividade canavieira, e, finalmente, há sinais de que o Governo Federal começa a se sensibilizar diante do quadro crítico em que o setor se encontra – em boa parte, um reflexo da manifestação pública realizada em Sertãozinho-SP, que reuniu cerca de 15.000 pessoas e paralisou importantes rodovias da região, pleiteando a retomada dos investimentos no setor. Mas o que precisa ser feito para que essa tão desejada retomada de investimentos ocorra? Em primeiro lugar, é preciso dar previsibilidade ao setor, com o estabelecimento de um marco regulatório, um plano diretor de longo prazo, em que os investidores possam avaliar os riscos e oportunidades, já que o setor é de uso intensivo de capital – as plantas são caras para implantar e caras para manter, o que gera prazos de retorno longos. Sem um mínimo de previsibilidade, não há um mínimo de segurança; sem segurança, não há investimentos. O País precisa definir o que quer do etanol e da bioeletricidade. É preciso estabelecer metas e direções a serem seguidas. Um exemplo forte da falta que faz um bom planejamento pode ser percebido quando comparamos números de produção de etanol nos Estados Unidos e no Brasil: em 2005, ambos produziram algo em torno de 15 bilhões de litros do combustível (anidro + hidratado); em 2014, nós produzimos, aproximadamente, 28,5 bilhões de litros, contra cerca de 51 bilhões de litros produzidos pelos Estados Unidos – isto é, eles abriram uma frente de mais de 20 bilhões de litros, em 10 anos, em termos de volume de produção. Lá existe planejamento de longo prazo. Aqui não. A atual crise hídrica e a consequente crise energética pelas quais o Brasil passa em 2015 poderiam ser fortemente mitigadas se nós utilizássemos a capacidade de produção de energia a partir da biomassa da cana; estima-se que, nos canaviais brasileiros, tenhamos, atualmente, um potencial para geração do equivalente a duas ou três usinas como a de Belo Monte, que, apesar de contar com uma potência instalada de aproximadamente 11.000 MW, produzirá, efetivamente, 4.500 MW. A geração por meio da biomassa da cana, além de não gerar quaisquer impactos ambientais adicionais, seria uma energia a partir de fonte renovável, rápida de se obter, e que pouparia aos cofres públicos grandes volumes de recursos atualmente dispendidos com as termoelétricas, alimentadas por combustíveis fósseis, que, além de caras para operar, são fontes de gases de efeitos estufa.
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O desenvolvimento de novas centrais geradoras nas usinas geraria fontes adicionais de receita para as unidades produtivas e, certamente, irrigaria grande parte da indústria de base voltada ao setor, hoje amargando uma ociosidade estimada em mais de 60% de sua capacidade de produção. Por que, então, não disparamos um plano energético em grande escala, a partir da biomassa? Basicamente, porque os preços estipulados pelo Governo Federal para o MW gerado não têm sido atrativos o bastante para estimular investimentos. No último leilão para energia gerada a partir de novos empreendimentos, realizado em novembro de 2014, na modalidade A5 (para geração a partir de 2019, por prazos contratuais de 20 anos), o teto estabelecido foi de R$ 210,00, e foram fechados contratos a preço médio de R$ 200,00 o MW/h. Segundo vários executivos do mercado, esse preço deveria ficar acima de R$ 270,00 pelo menos. Como resultado, a energia gerada a partir da biomassa naquele leilão vai corresponder a meros 5% dos investimentos totais decorrentes desses contratos, tendo atraído um número irrisório de interessados: apenas seis usinas fecharam algum tipo de contrato de fornecimento. No final de abril de 2015, haverá um novo leilão, dessa vez com contratos para empreendimentos já existentes, com geração a partir de janeiro de 2016 e julho de 2017. O que se espera é que seja possível o estabelecimento de um teto de preços mais realista, mas não há, neste momento, nada sinalizado nessa direção. O que precisamos, doravante, para que se possa recuperar o setor, é ação; precisamos, urgentemente, ultrapassar a fase de debates infindáveis, estudos e reuniões e passar para uma fase executiva, com ações estruturadas de curto, médio e longo prazo. Há várias frentes possíveis para ação: do lado do Governo Federal, o desenvolvimento de um marco regulatório é fundamental e inadiável, mas há ainda questões envolvendo tributação, flexibilidade para o acesso a crédito, incentivos para o aprimoramento tecnológico dos motores flex, melhoria na legislação ambiental e na agilização da análise de novos projetos e/ou ampliações; do lado dos produtores, há ações a serem tomadas na melhoria da gestão das unidades (tanto na indústria quanto na lavoura), no aprimoramento das relações com os demais elos da cadeia produtiva sucroenergética como um todo e até mesmo nos esforços de comunicação com o público em geral – que, na ponta final, representa aqueles que consomem os produtos das usinas e são os clientes que pagam (ou decidem não pagar) as contas das operações envolvidas.
Opiniões
agora é valores
o momento de repensar
a energia que nos falta é trabalhar com criatividade e com uma nova visão de negócio. "
José Ieda Neto
Diretor da Ieda Neto Engenharia e Consultoria Industrial
Nosso novo governo (novo?!), mais impostos, falta de água, falta de energia elétrica, racionamento de água e energia elétrica, queda de produtividade no canavial, aperto financeiro, empresas encerrando atividades, preços defasados, dólar em alta, corrupção, falta de uma politica clara para o setor e para o Brasil, enfim, outra crise! O que nos resta? Nessa nova dificuldade, vislumbramos como uma saída, além do clássico apertar de cintos e de redução de todos os custos, aumento de produção, aumento do rendimento industrial. Teremos que ousar mais e transformar nossas usinas em complexos industriais, com operação e produção durante praticamente todo o ano, com novos produ-
tos, derivados ou agregados, e cada unidade encontrar sua sinergia. Produtos como açúcar, etanol e energia elétrica não são mais suficientes para pagar a conta, deverão ser acrescidos de etanol de segunda geração (do bagaço), etanol de milho, levedura seca, biodiesel e outros. Assim, aumentamos as possibilidades de faturamento com mais e novos produtos, possibilitando o faturamento durante todo o ano, eliminando a entressafra. A manutenção industrial terá que ser repensada e readequada à nova realidade operacional, com a disponibilidade anual da fábrica. Uma unidade bem desenhada e operada pode produzir açúcar, etanol e exportar energia elétrica, descontada a consumida – conforme mostra a tabela em destaque.
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visão de fornecedores do sistema Esse é o potencial de uma unidade desse porte; claramente, não é simples, mas possível. Esse quadro demonstra o resultado de um longo trabalho que permitirá a oportunidade de negócio e mostra o potencial de uma mesma cana processada em uma unidade com o sistema de cogeração e outra sem estar equipada para a cogeração, considerando a mesma quantidade de cana, produzindo o mesmo mix de produtos, demonstrando ser possível uma extração maior ou menor, de acordo com a otimização dos processos, dependendo da tecnologia aplicada e do investimento realizado. É fato que o valor do MW está com bom preço atualmente e que esse valor oscila muito, dependendo da época do ano e se a unidade possui ou não contrato de energia segurado. Uma unidade que possua cogeração e seja energeticamente equilibrada, com sobra de bagaço para operar a geração de energia na entressafra, permitirá a operação por mais tempo, reduzindo o período disponibilizado para a manutenção, aumentando o período de faturamento e utilização do parque industrial por mais tempo, representando otimização de recursos, além de abrir a possibilidade de ampliação do leque de produtos. O etanol de segunda geração – que utiliza exclusivamente o bagaço de cana através do processo de sacarificação da celulose contida no bagaço – implicará na instalação de novos equipamentos e processos, transformando a usina num complexo industrial. Uma nova possibilidade está se abrindo para as usinas para o processamento do milho para a produção do etanol, durante a entressafra da cana, com a energia gerada pelo bagaço excedente da safra. Desse modo, o milho que era nosso concorrente direto passará a ser aliado na implantação de novos produtos e usos de nossas plantas industriais. Como a maior parte das usinas geram energia com turbinas de contrapressão e, portanto, produzem vapor de processo, esse vapor é desperdiçado quando operamos apenas a geração de energia elétrica. Devido à disponibilidade do vapor de processo, acaba-se tendo uma sinergia muito grande, e podemos processar milho, pois o vapor sai “de graça”, já que, anteriormente, era liberado para a atmosfera, e toda a fermentação e destilaria que estão disponíveis passam a ser utilizadas, pois, nesse ponto, os processos são parecidos e passíveis de integração. Novos processos deverão ser agregados à planta industrial, como a recepção, a estocagem, a moagem do milho e a sacarificação do amido do milho, integrando equipamentos e sistemas já existentes, otimizando ativos e minimizando ou diluindo custos e agregando etanol na entressafra. Podem, ainda, no futuro, produzir os demais derivados do milho, pois as modernas plantas possuem bagaço para praticamente toda a entressafra e, por conseguinte, energia para o processamento desses produtos, além da disponibilidade de maior Cana
Opiniões
oferta de energia elétrica, minimizando a escassez que ronda atualmente o País. Com um pouco mais de empenho e trabalho, é possível operar com os dois processos ao mesmo tempo, ampliando a capacidade da unidade. É certo que será necessária a aplicação de muita engenharia, mudança de procedimentos e cultura, mas a otimização da energia térmica da planta terá que ser explorada ao máximo, permitindo a ampliação das possibilidades. Passaremos de unidades que consomem 500 a 460 kg de vapor por tonelada de cana (kV/ TV) para unidade de 430 a 360 Kv/TC, com a utilização de vapores vegetais V1, V2, V3; regeneradores de calor, permitindo que toda fonte quente seja utilizada. O novo desafio – que agora se torna premente – é a redução do consumo de água nas usinas, com revisão de processos, eliminação do desperdício e introdução do reúso da água, baixando significativamente a utilização desse líquido, cada vez mais precioso; tratamento de todos os efluentes líquidos e sólidos, para operação de menor impacto ambiental, tornando as usinas cada vez mais sustentáveis e eliminando o estigma de poluidoras do passado. As unidades que, no passado, utilizavam 1,0 m3/ TC terão que focar na redução drástica para algo como 0,3 m3/TC, ou menos ainda. Toda água de embebição e processo deverá ser proveniente de água condensada de vapor do caldo produzido no processo de fabricação do açúcar e etanol e/ou de reúso. A vinhaça terá que ser concentrada, e a água resultante desse processo, depois de devidamente tratada, retornar ao processo, o mesmo ocorrendo com a flegmaça, tratada e retornada ao processo. Toda a água residual, de limpeza de processo, de equipamentos, etc., deverá passar por tratamento específico em ETE (Estações de Tratamento de Efluentes); os sólidos desse processo podem ser agregados à torta do filtro, incrementando a fertilização do solo, e utilizados na plantação da cana ou na cana soqueira. Passaremos por uma profunda mudança de comportamento e de procedimento; estamos passando de oferta abundante de água para a escassez, portanto tudo que fazemos até hoje deverá ser repensado com urgência, e novos procedimentos, equipamentos e tecnologia terão que ser implantados em curtíssimo intervalo de tempo. Vamos requerer novas posturas de todos os agentes da cadeia do agronegócio, equipamentos mais modernos com baixa utilização de água, processos mais modernos com redução do consumo, procedimentos operacionais mais racionais com menor utilização da água. Uma grande revolução será implantada em todas as unidades, pois essa escassez é geral e afeta a todos, uns mais outros menos, mas todos deverão, imediatamente, pensar e agir na redução do consumo da água. Essa é a energia que nos falta: trabalhar com criatividade e com uma nova visão de negócio.
Açúcar
Etanol
3.000.000 ton
5.021.804 sacas
89.910.871 litros
Valor referência
50,00
1,35
300,00
Com Cogeração
251.090.216,28
121.379.676,28
42.096.732,99
414.566.625,55
Sem Cogeração
251.090.216,28
121.379.676,28
0,00
372.469.892,57
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Energia 140.322 MW
Valor total da safra (base: Fev/2015)
visão de fornecedores do sistema
a necessidade de atualização
tecnológica
Haverá necessidade de investirmos em novas tecnologias tão logo apareçam as oportunidades, e, sobretudo, retorne a credibilidade internacional pela economia brasileira e sua força. "
Helgo Paul Hermann Ackermann Diretor da Iprosucar Consultoria
Cada país, tradicionalmente, se identifica por uma vocação específica. O setor sucroalcooleiro, insere em si, uma forte atividade tradicional tipicamente brasileira que remonta séculos passados. Em vários setores, o Brasil é altamente atuante, porém com pouca expressão. Por exemplo, no setor automobilístico, os veículos fabricados são oriundos de projetos de outros países, apesar de o Brasil ser muito bem colocado no ranking mundial de produção e de consumo. Isso porque o País ainda não desenvolveu nenhum projeto próprio de expressão nesse setor, e os países estrangeiros têm instalado montadoras aqui por vários fatores atrativos, como o potencial de mercado, disponibilidade de mão de obra e localização estratégica. Em outros setores da indústria brasileira, temos observado condição similar. Nós, brasileiros, possuímos tecnologia e identidade para desenvolver vários setores industriais da economia.
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Opiniões Em muitas áreas, o Brasil também é atuante, mas está exposto a interesses estrangeiros. Com relação à produção de minérios, por exemplo, o País possui um grande potencial, como ferro, alumínio e metais preciosos, que não são exportados como produtos acabados – como ferro-liga, ligas de alumínio, nióbio etc. –, mas sim como minérios que, posteriormente, serão beneficiados nos países importadores. Seríamos muito mais atuantes no cenário internacional se produzíssemos o produto final, com maior valor agregado, se quisermos ser, futuramente, uma democracia de verdade e forte. Contamos com plenas condições de desenvolvimento. A mineração também é uma vocação genuinamente brasileira. O Brasil é detentor de tecnologia para desenvolver os setores de siderurgia e metalurgia de modo a beneficiar a economia. O que nos falta é autoridade e atuação governamental – por receio, competência ou inércia do povo brasileiro. No setor sucroalcooleiro, a situação é semelhante. Há séculos, temos nos envolvido com a produção de produtos da cana-de-açúcar – açúcar, bebidas e, recentemente, os biocombustíveis (etanol e biodiesel) e a cogeração de energia. Para a obtenção desses produtos, nos valemos de tecnologia própria, mas que estão estabelecidas há anos. Não temos tido progressos importantes nessa área. Grande parte das tecnologias utilizadas atualmente, principalmente as mais modernas – como o etanol de segunda geração, biodiesel e álcool a partir de milho –, são desenvolvidas em outros países, embora tenhamos competência técnica e pessoas de boa base tecnológica para desenvolvê-las. Para isso, é de grande importância termos incentivos bem direcionados, sejam do governo ou de grupos empresariais. Sentimos falta de institutos de pesquisa independentes e de desenvolvimento sustentável por parte dos nossos governos. Não podemos continuar convivendo com intenções, precisamos de ações verdadeiras e exequíveis dos governantes. Destacamos que, se não agirmos de forma atuante, não teremos uma democracia plena e continuaremos sendo o “quintal dos outros”. Não poderemos esperar desenvolvimento sem ações e sem esforços conjuntos, que nos conduzam a um Brasil mais forte, competitivo e sustentável. Com relação às tecnologias de melhorias – principalmente em relação às eficiências energéticas disponíveis no setor sucroalcooleiro –, temos muito a oferecer em estudos para o desenvolvimento. Entretanto, na prática, há muita relutância e poucos recursos para a aplicação dessas novas tecnologias, que são viáveis, mas, para que aconteçam, é preciso contar com iniciativas particulares ou governamentais com real vontade de investir. O investimento necessário, resultado desses estudos, poderia ser realizado posteriormente e em épocas após a atual recessão.
Como o setor sucroalcooleiro brasileiro está sendo conduzido pela iniciativa privada, é necessária uma meta com visão futurista dos empresários e grupos de empresários, os quais, em muitos casos, não estão propensos à aplicação de novas tecnologias e priorizam apenas investimentos com maiores rendimentos produtivos, que promovem o retorno rápido do capital investido. Um fato muitas vezes esquecido é que os resultados e os retornos positivos – frutos da aplicação em tecnologias mais modernas – só acontecem a médio e longo prazos. A fim de nos tornarmos respeitáveis no setor sucroalcooleiro, é de grande importância tomarmos decisões quanto aos investimentos futuros de impacto. Não haverá mais condições, inclusive de sobrevivência, se focarmos somente em projetos de retornos fáceis e de curto prazo. Haverá necessidade de investirmos em novas tecnologias tão logo apareçam as oportunidades, e, sobretudo, retorne a credibilidade internacional pela economia brasileira e sua força. Há empresários com uma grande visão futurista que estão desenvolvendo estudos possíveis de retornos financeiros razoáveis a curto e médio prazos. Essas ações beneficiam a eles próprios e também ao nosso país. Infelizmente, é de consenso que, se houver continuidade do status quo, estaremos fadados, a curto e médio prazos, a assistir ao desfecho final da produção do etanol. Outros países já estão pesquisando a utilização de combustíveis alternativos e se preparando para utilizá-los no futuro. A imprensa relata pesquisas realizadas com carros movidos a energia elétrica, hidrogênio, butanol e outros. Outro fator que influencia profundamente o nosso futuro é a falta de desenvolvimento tecnológico e de aperfeiçoamento profissional no nosso setor. Há anos, poderiam ser citadas entidades não governamentais que promoviam cursos para desenvolvimento de técnicos açucareiros e alcooleiros. Modelos existentes como os do Sesi, Senai e Sesc poderiam ser utilizados para instalar esses cursos. O que, infelizmente, sentimos é a falta de incentivos para realizar esse desenvolvimento tão importante para a sobrevivência do nosso setor. Estamos observando, isoladamente, cursos de desenvolvimento individualizados de tecnologia, com acesso restrito aos profissionais. Além da fabricação de produtos como o açúcar, o álcool e a cogeração de energia, existem esforços pontuais, mas pouca iniciativa brasileira em desenvolver a viabilidade de produção de outros subprodutos da cana-de-açúcar, como a cera, a vinhaça concentrada e o álcool de segunda geração. Resumindo, ressaltamos a necessidade de desenvolvermos tecnologia em nosso setor para não sermos ultrapassados por outros países com mais recursos financeiros, como europeus e norte-americanos. Não podemos depender mais de manobras governamentais, principalmente em relação ao controle de preços, de mercado e de impostos. O importante, dessa feita, é desenvolvermos estudos e iniciativas para o progresso do nosso setor e nos tornarmos independentes dos governos – que, ultimamente, estão sendo tão prejudiciais para área sucroalcooleira. O nosso setor não pode mais ser fragilizado por iniciativas falhas dos governantes das esferas federal, estadual e municipal. Precisamos nos fortalecer para não mais entrarmos em crises que corroem o setor e atrasam nosso desenvolvimento. Afinal, outros países já estão nos ultrapassando em vários setores.
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ensaio especial
Opiniões
a bioenergia é o caminho O futuro só será sustentável quando o uso da energia renovável, ainda que mais cara que a fóssil, for amplamente difundido. O jornal Valor Econômico publicou um breve cenário traçado pelo geólogo Jeremy Leggett, um dos maiores especialistas da Inglaterra em energias renováveis, para o futuro das energias fósseis. Segundo ele, é game over: “Se os governos estiverem falando sério em conter o aquecimento da temperatura em 2°C, o risco de se investir em novos projetos de petróleo, carvão e gás é muito grande. Com o preço de energias alternativas em queda e os investimentos nessas fontes em alta, projetos em combustíveis fósseis se tornam menos atraentes e mais ameaçados. Explorar petróleo em novas fronteiras geológicas, como o Ártico ou o pré-sal, são obras ambientalmente temerárias e com forte probabilidade de se perder dinheiro”. Temos vivido numa montanha russa no Brasil, alternando expectativas positivas e frustrações insuportáveis. A evolução do panorama energético reflete bem essa realidade. Nossa autoestima oscila de 0 a 100, mas nada me convence de que não podemos ser autossuficientes e campeões mundiais em energias renováveis. Cheguei a uma conclusão, no final dos anos 1990, após fazer uma continha simples, baseada na área cultivada de cana-de-açúcar e no rendimento dos nossos canaviais: “O Brasil possui uma Itaipu adormecida em seus canaviais”. Essa metáfora rodou o mundo, foi repetida por muitos, parafraseada e aumentada por outros. Houve um momento em que parecia ter sido assimilada. No meio do caminho, porém, o potencial energético do setor canavieiro foi esquecido diante da euforia do pré-sal, e os biocombustíveis, sustentáveis e renováveis, foram deixados de lado. Hoje dá até para entender... Ao menos, o fundo do poço é um bom ponto de partida, pois delimita perfeitamente o campo de observação e serve de base para novo impulso. Olha-se para cima, e lá está a luz que sinaliza o caminho certo. Com o barril do petróleo nos preços atuais, o pré-sal fica prejudicado. Nosso potencial hidrelétrico é compatível com o eólico, que, por sua vez, é compatível com a energia solar, que não é mais apenas uma promessa e que, por sua vez, também é compatível com a energia de biomassa. Por outro lado, ainda há um desperdício enorme do potencial de energia renovável, barata e segura. Ainda assim, no ano passado, apenas em São Paulo, a energia do bagaço foi quase 20% da eletricidade total produzida. Isso não representa nem meia Itaipu, mas já é alguma coisa. Vale lembrar que, em 2013, a energia de biomassa no Brasil atingiu uma produção equivalente à geração total que a Usina Belo Monte produzirá a partir de 2019, quando estiver a plena capacidade, e nas águas...
Mesmo passando por uma profunda crise existencial, o setor agroenergético é um caminho seguro para gerar emprego, renda e arrecadação em larga escala, sem depender de tecnologia estrangeira. Pelo contrário, podemos exportar equipamentos e serviços nesse campo. Sem falar que – como já disse uma vez e muitos discordaram – a retomada do setor irá ocorrer por meio do açúcar, que, no passado, dava viabilidade econômica ao etanol e, por incrível que pareça, tem sido o elo mais fraco da cadeia nos últimos anos. Então, por que insistimos em deixar a bioenergia de lado? Especialistas do mundo inteiro consideram o etanol de cana o mais bem-sucedido programa de combustíveis renováveis, mas as autoridades brasileiras parecem não acreditar nisso. Nesse momento de incerteza, é hora de chamar a atenção do gigante adormecido para seu próprio potencial renovável, rentável e sustentável. Num país rico em terras, clima, gente e experiências tecnológicas de sucesso no campo energético, o que falta? Vontade. A vontade de fazer a coisa certa com autonomia, bom senso e visão de futuro. É fundamental manter o foco, com competência política e técnica, sob uma liderança única e clara. Proponho, despretensiosamente, que o setor se baseie em um conjunto de ações simples, sem peso individual, mas cujo somatório certamente trará resultados relevantes. Não quero entrar em detalhes sobre essas medidas – duas já aprovadas – para não despertar discussões antecipadas. Está mais do que na hora de unir forças e abrir um espaço institucional junto ao governo para a discussão de um programa energético racional de longo prazo. O setor precisa organizar-se em torno de uma instituição nacional – como outros setores fazem com sucesso – que traga o consenso das diversas entidades existentes, com penetração política e um plano global audacioso, focado em geração de energia em larga escala, baseado em premissas factíveis, exequíveis e que possam ser aceitas pelo governo. Faço este artigo para propor algo simples e honesto, fruto da crença no futuro deste administrador de empresas que segue frequentando a escola brasileira de crises e não perdeu a esperança.
Ao menos, o fundo do poço é um bom ponto de partida, pois delimita perfeitamente o campo de observação e serve de base para novo impulso. "
Maurilio Biagi Filho
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Empresário
A revolução já começou.
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