A renovação e remodelagem do sistema sucroenergético - OpAA57

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Opiniões www.RevistaOpinioes.com.br

ISSN: 2177-6504

SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 15 • número 57 • Divisão C • Jul-Set 2018

a renovação e a remodelagem

do sistema sucroenergético


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a renovação e a remodelagem do setor sucroenergético

índice

Editorial de abertura:

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Manoel Carlos de Azevedo Ortolan Presidente da Copercana e da Canaoeste

Especialistas:

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Pedro Luiz Fernandes

Vice-presidente da Novozymes

Celso Procknor

Presidente da Procknor Engenharia

Roberto Luis Troster Economista

José Eduardo Holler Branco

Professor da Escola de Engenharia da USP-São Carlos

Henrique Berbert de Amorim Neto Presidente da Fermentec

Julio Maria M. Borges

Sócio-Diretor da Job Economia

Produtores:

32 34 38 42 44 46

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio Diretor do Grupo Alto Alegre

Pedro Isamu Mizutani Vice-Presidente da Raízen

José Carlos Teixeira

Diretor de Tecnologia Industrial da Atvos

José Pedro Andrade Diretor da Usina Cerradão

Otávio Lage de Siqueira Filho Presidente da Usina Jalles Machado

Sidney Meneguetti

Entidades:

48 50 52 54 56

Luciano Rodrigues

Gerente de Economia e Análise setorial da Unica

Amaury Pekelman Presidente da UDOP

Miguel Rubens Tranin Presidente da Alcopar

Mário Campos Filho Presidente da Siamig

Bruno Rangel Geraldo Martins Presidente da Socicana

Diretor-presidente do Grupo Santa Terezinha

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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Edimar de Melo Cardoso • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano


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editorial de abertura

os caminhos necessários para a confiança e os investimentos De acordo com a 7ª edição da pesquisa Hábitos do Produtor Rural ABMRA (Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio), 4 em cada 10 produtores rurais acessam a internet e, destes, 93% acessam as redes sociais, o que mostra uma mudança no perfil do homem do campo, apontando o seu envolvimento com as novas tecnologias e as mídias consultadas para sua informação pessoal e profissional. Também podemos lembrar que, alguns anos atrás, os produtores e os proprietários agrícolas trabalhavam no campo e viam o êxodo como futuro, ou seja, ele plantava e colhia, mas seu filho não iria fazer o mesmo e sim estudar para se tornar médico, dentista ou engenheiro. Sem sucessão, o produtor se via em outro problema, afinal quem iria cuidar da propriedade e da plantação? Porém, atualmente, o campo é um lugar atrativo e tecnológico. Um pulverizador uniport, por exemplo, tem 12 computadores, oito quiWag um consilômetros de fios e 60 sensores, sendo necessário ações da Amata derável nível de tecnificação para operá-lo.

O mesmo vale para uma colhedora, e o produtor precisa pagar um profissional para operar esses equipamentos com um salário competitivo e compatível com o mercado. Novos tempos que demandam profissionalização, recursos e investimentos, pois o que antes parecia distante das lavouras, como internet das coisas, satélites, drones, tratores autônomos e outros, já está aí e faz parte do dia a dia dos produtores rurais. Com a renovação e a remodelagem do setor, é importante que o produtor rural esteja atento à questão do futuro, pois essa é uma das principais premissas para ele, as associações e as empresas que o atendem para se manterem na atividade. Nesse contexto, precisamos pensar também no ato de vizinhar. Hoje, se não trabalharmos o ganho de escala, não é possível ser sustentável. E ser sustentável não é ser amigo do meio ambiente. A sustentabilidade engloba a questão econômica, social e ambiental: é ser racional com o uso dos recursos financeiros, gerar emprego e renda para a sociedade e contribuir para a conservação do meio ambiente, fechando os três pilares. Ainda na questão econômica, seria interessante os produtores criarem uma cadeia de economia circular. Um produtor pode não ter condições de adquirir um pulverizador uniport, mas, se se juntarem dez produtores de cana, talvez um tenha o pulverizador, um outro, a colhedora, e assim por diante.

Com a renovação e a remodelagem do setor, é importante que o produtor rural esteja atento à questão do futuro, pois essa é uma das principais premissas para ele, as associações e as empresas que o atendem para se manterem na atividade. "

Manoel Carlos de Azevedo Ortolan Presidente da Copercana e da Canaoeste

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Opiniões Com essa união, é possível atender à necessidade de todos. A ação de vizinhar permite processos que levam à eficiência e equilibram os padrões de negociação, ao mesmo tempo em que nos faz refletir sobre o conhecido ditado de que “uma andorinha só não faz verão”. Há a necessidade de se pensar em escala e não mais de forma individual. Um exemplo é a formação de blocos de condomínio. Quando se entende geograficamente a região, também se começa a montar blocos de negociação. Se uma usina está localizada em determinada área, há grande tendência de colher a sua safra na região, chegando até mesmo a pagar mais pela matéria-prima devido à proximidade e à qualidade. A ajuda e a orientação de uma associação como a Canaoeste, por exemplo, é primordial para isso, pois, na hora de recomendar as variedades, um bloco pode ter canas precoces, média e tardia para uma estratégia de autossustentabilidade durante toda a safra. A gestão profissional é outra questão defendida e adotada pela associação. Com a profissionalização, os resultados começam a mudar, e o produtor precisa ter essa visão. Não dá mais para pensar em ser o agricultor das cavernas e nem o agricultor executivo de terno. Tem que ser agrogestor e estar no campo atento à tecnologia, à gestão, aos índices, aos resultados e aos padrões, pois é isso que fará com que a atividade seja sustentável. Estamos em uma nova realidade, onde é preciso se adaptar. Além disso, a comunicação (tanto no setor como do setor para a sociedade) precisa ser muito assertiva e ter uma estratégia conjunta. A questão das queimadas, por exemplo, é algo mal comunicado para a sociedade. O setor não queima cana há anos, e muitas pessoas ainda não têm conhecimento sobre isso. Elas precisam saber, por exemplo, de todo o trabalho que é realizado para a prevenção de incêndios, muitos deles criminosos. Temos muito a fazer na área de comunicação. Em paralelo, é preciso trabalhar em outras questões. O atual sistema de pagamento entrou em um impasse que está difícil de ser resolvido, e um ponto que

precisa ser levado em consideração é a questão da fibra da cana, visto que o sistema está fundamentado no tempo em que se fazia apenas açúcar e etanol e o bagaço produzia energia elétrica apenas para uso próprio da usina. A questão da bioenergia é uma certeza no setor sucroenergético e, com base nisso, deveria ser agregado algo para o produtor de cana. Se, até então, só se remunerava o caldo, a fibra também, em um contexto mais moderno, deveria fazer parte da remuneração da cana. O RenovaBio poderá ser uma oportunidade de ganho para o setor, através de créditos que englobam desde o plantio da cana até a produção final de açúcar e de etanol. O produtor de cana, por sua vez, deve ter direito a parte desses créditos, por ser um importante ator da cadeia sucroenergética. Segundo trabalhos realizados pelo Pecege, existe uma diferença significativa na questão do pagamento de cana, em parte compensada por acordos individuais entre produtores e usinas. Contudo seria salutar um preço mais justo, similar a um critério como o Consecana e com valores que deem aos produtores a oportunidade de investirem nos canaviais, de forma a garantirem uma cana com maior produtividade para as indústrias. Há de haver um foco na recuperação da produtividade dos canaviais. É certo que fatores como clima e preço interferem, mas passamos por um crescimento do setor um tanto apressado, abdicando de tecnologia, bem como tivemos a implementação do plantio e da colheita mecanizados, que também contribuíram para reduzir a produtividade. A concentração de grandes áreas nas mãos dos grandes grupos também pesa nessa questão. Temos exemplos de grupos que passaram áreas de cana para os produtores e, ao que tudo indica, têm tido melhores resultados. Temos que continuar insistindo no RenovaBio para que ele se torne uma realidade e dê ao setor a tão aguardada previsibilidade para investimentos. Se o programa entrar em execução, com certeza, o setor terá uma guinada substancial. Também é preciso investir mais em pesquisa, porque entendemos que os ganhos, obtidos com custos cada vez menores, virão do aumento de produtividade e de eficiência por unidade, seja em hectare no campo, seja em rendimento na indústria. O setor deve crescer o mais verticalmente possível, pois avançou muito ao expandir em áreas, mas retrocedeu em ganhos de produtividade. Com o RenovaBio, o incentivo à pesquisa e uma melhor remuneração para os produtores de cana, o setor poderá sim alavancar, bem como conquistar a confiança de todos para o retorno dos investimentos necessários. n

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biotecnologia

o poder de impulsão da A produção sucroalcooleira do Brasil é uma das maiores do mundo. Uma usina de médio porte processa em torno de 15 a 20 mil toneladas de cana-de-açúcar por dia. Essa indústria é composta por cerca de 380 unidades de produção no Brasil, com mais de mil municípios com atividades relacionadas a ela. O setor emprega, diretamente, mais de 950 mil pessoas, já que o País é o maior produtor e exportador mundial de açúcar e o segundo maior produtor de etanol. E a biotecnologia contribui com a inovação necessária para essa consolidada indústria de produção de etanol. Cada vez mais, essas empresas buscam ampliar suas atuações e produção diversificando as matérias-primas voltadas à produção sustentável de energia elétrica e de biocombustíveis. Nesse momento em que a produção global de etanol deverá duplicar em volume ao longo dos próximos anos, a experiência brasileira deve ser importante para o mundo. Em 2003, por exemplo, o País começou a produzir veículos de combustível flex, que funcionam com etanol hidratado e gasolina, Para ter sucesso, qualquer indústria precisa aumentar as receitas ou reduzir os custos operacionais. As usinas brasileiras de cana-de-açúcar querem fazer os dois, mas operam em um ambiente desigual. "

Pedro Luiz Fernandes Vice-presidente de Assuntos Corporativos e Sustentabilidade da Novozymes

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biotecnologia

que, no Brasil, é uma mistura de 18% a 27,5% de etanol anidro e gasolina. Em 2015, esses veículos já representavam 68% da frota nacional de veículos comerciais leves e com a expectativa de que esse número chegue a 85% até 2020, e isso porque, com a definição governamental de que a mistura chegue a 27,5%, o mercado interno do etanol irá se aquecer ainda mais. Essa indústria ainda é importante para a sustentabilidade e para o meio ambiente. É uma indústria ecológica. Estima-se que a combinação de etanol e os veículos de combustível flex tenha reduzido as emissões de dióxido de carbono no Brasil em mais de 189 milhões de toneladas desde 2013, o que é equivalente a plantar e a manter 1.355 milhões de árvores por 20 anos. Isso é bastante relevante quando olhamos para o setor de transportes.


Opiniões Cerca de 25% das emissões globais de CO2, atualmente, provêm desse setor, e diferentes estratégias estão sendo consideradas para resolver isso. Esse é um imenso desafio, já que se avalia que mais da metade das emissões de CO2 provenientes do transporte em 2050 não virão de carros, mas de veículos pesados, como os aviões, navios, trens, caminhões e outros. Apesar da imagem de estagnação da economia brasileira, esse setor obteve alguns avanços importantes ao longo dos últimos anos. Ainda hoje, ele continua sendo responsável por algo em torno de 2% do PIB brasileiro, e não é de agora. Nos últimos dez anos, o segmento manteve a média anual de 600M toneladas de cana-de-açúcar processada, não conseguindo superar esses números. Mesmo com os altos e baixos da nossa economia, como nos anos de 2009 a 2011, quando o crescimento da capacidade e do investimento desacelerou, os preços do açúcar continuaram altos, e as usinas foram geralmente lucrativas. Entendemos que o período mais difícil foi entre 2012 e 2015, quando mais de 60 usinas brasileiras – representando uma em cada sete – entraram em falência. Além disso, os níveis de dívidas aumentaram dramaticamente, comprometendo a estabilidade financeira de muitas delas. Não há culpados. As causas da crise vieram de muitas direções diferentes e incluíram preços baixos para o açúcar e o etanol, colheitas de cana-de-açúcar pobres devido ao mau tempo, menor disponibilidade de linhas de crédito, controles governamentais sobre os preços da gasolina, que limitaram os lucros dos produtores de etanol, e outros muitos fatores. O resultado disso nós vimos na prática. Até 2013, apenas 23% dos proprietários de automóveis de combustível flex no Brasil usavam etanol regularmente, número que era 66% em 2009. Em 2014, o País começou a importar etanol dos Estados Unidos. Hoje, mesmo enquanto ainda vemos os reflexos da crise econômica nos mais diversos setores, o mercado brasileiro de etanol é o mais otimista. Uma importante e nova legislação, o RenovaBio, foi assinada e é semelhante ao programa de combustíveis com baixa emissão de carbono da Califórnia. Ao mesmo tempo, o acordo de mudança climática de Paris aumentou as expectativas para a produção global de etanol, agora prevista para duplicar em 2030, de acordo com a Agência Internacional de Energia. Somente na América Latina, a produção de etanol deve aumentar em cerca de 20 bilhões de litros por ano nos próximos 12 anos.

A indústria, que viveu os anos de crise, aprendeu valiosas lições sobre o investimento em inovação, flexibilidade, eficiência e controle de custos para tornar o negócio à prova de crise. Para ter sucesso, qualquer indústria precisa aumentar as receitas ou reduzir os custos operacionais. As usinas brasileiras de cana-de-açúcar querem fazer os dois, mas operam em um ambiente desigual. Por isso o segmento precisa avançar em termos de implementação de tecnologias, tanto na melhoria de eficiências dos processos existentes, quanto na adoção de tecnologias disruptivas, como o etanol de segunda geração. A biotecnologia pode, certamente, contribuir para esse processo de modernização do setor, contribuindo para diversas propostas, como a expansão da capacidade associada à eficiência, por meio de soluções que possam otimizar o processo do campo ao consumidor final, dentre outras, que vão desde a diversidade de variedades de cana-de-açúcar mais resistentes a pragas ou com maior produtividade por hectare, até o crop protection, com a utilização de micro-organismos, enzimas para aceleração de reações na fermentação etanólica, recirculação de vinhaça ou produção de biogás com soluções biotecnológicas, além de soluções disruptivas, como o etanol 2G ou a produção de produtos de alto valor agregado a partir dos mesmos açúcares da cana. Um exemplo de utilização de biotecnologia para aumentar a capacidade já está disponível no mercado brasileiro. As usinas conseguiram aumentar o rendimento de etanol em uma média de 3%-4% usando métodos mais recentes de biotecnologia para liberar seus fermentadores. Estimamos que uma usina brasileira de cana-de-açúcar de 3 milhões de toneladas que produza 60/40 de mistura de açúcar/etanol poderia produzir um equivalente adicional de 4.000m 3 de etanol por ano, se mudar para soluções de biotecnologia, potencializando seu fluxo de receita em estimados USD 2 milhões (EUR 1,7 milhão). Além disso, as usinas podem economizar, em média, BRL 140.000 por ano (cerca de USD 42.000/EUR 35.000), isoladamente, em produtos químicos relacionados à espuma, usando métodos baseados na biotecnologia. Embora seja uma melhoria relativamente modesta, essas economias de custos podem ser consideravelmente maiores se os custos indiretos de produtos químicos também forem considerados, por exemplo, menor produtividade devido ao volume morto de fermentadores causado pela espuma, menor eficiência de centrifugação, incrustação de equipamentos, etc. n

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cogeração de energia

Opiniões

conservação de energia,

um caminho para o setor sucroenergético

Discorrer sobre a “renovação e a remodelagem do setor sucroenergético”, de uma forma coerente e sem sonhar, é um enorme desafio. Mas vamos a ele, sempre antes com o nosso agradecimento pelo amável convite desta excelente publicação. Vivemos tempos difíceis. Ao otimismo decorrente do Acordo de Paris, sobreveio o pessimismo decorrente da eleição do Sr. Trump, retardando investimentos em energia renovável. Ao otimismo decorrente da possibilidade de usarmos açúcares como matéria-prima na indústria sucroquímica, sobreveio a percepção de que os veículos elétricos serão massivamente utilizados num futuro muito próximo, o que inibe investimentos. Ao otimismo decorrente das perspectivas de renovação da nossa classe política, sobreveio o fato de que, nas próximas eleições, vamos provavelmente ter mais do mesmo, com um risco considerável de desagregação social, o que inibe investimentos no País de uma forma generalizada. Mas, como diz o ditado, descartado o suicídio, só nos resta o otimismo. No longo prazo, a produção massiva de alimentos e de energia renovável sempre permitirá que o Brasil esteja em papel de

destaque no cenário mundial, principalmente se, nas eleições, o povo disser para o Lula: “Chega de postes, precisamos de luz!”. O termo "sucroenergético", cunhado quando do início da exportação de energia elétrica pelas usinas, indica que a produção e a conservação de energia são fatores que sempre devem ser levados em conta no planejamento estratégico das empresas. E, quando falamos em energia, temos que levar em conta toda a agroindústria, pois o setor agronômico pode afetar o setor industrial e vice-versa. O importante é procurar o máximo de conservação de energia nos dois setores. As máximas produções específicas de açúcar e de energia elétrica por tonelada de cana processada são parâmetros conflitantes. Para aumentar a extração na moenda, podemos aumentar a embebição, mas, nesse caso, reduzimos a produção de energia elétrica. Para produzir o máximo de energia elétrica, é necessário dispor de muito vapor vegetal dos primeiros efeitos da evaporação, o que significa submeter o caldo de cana com brix mais alto, a temperaturas mais elevadas e durante mais tempo, aumentando,

a produção massiva de alimentos e de energia renovável sempre permitirá que o Brasil esteja em papel de destaque no cenário mundial, principalmente se, nas eleições, o povo disser para o Lula: 'Chega de postes, precisamos de luz!'. "

Celso Procknor Presidente da Procknor Engenharia

dessa maneira, as perdas de sacarose no sistema de evaporação. As perdas na evaporação induzem a perdas maiores no cozimento e, assim, uma usina exportando muita energia elétrica pode chegar a perder até 1,5% na produção de açúcar. Entretanto usinas que exportam energia elétrica reportam que a receita correspondente varia de 10% a 15% do faturamento total, demonstrando que a produção e a conservação de energia de uma forma geral serão fatores

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Pitangueiras e Cerradão optam por alta eficiência e baixa manutenção Com foco em custo-benefício, as Usinas Pitangueiras e Cerradão escolheram a Siemens para ampliar a produção e exportar mais energia. Além de produzir os tradicionais derivados da cana, ambas se lançaram recentemente a um desafio de grandes proporções: aumentar a lucratividade de seus negócios com uma geração mais eficiente e com mais energia exportada para a rede. E a solução veio com a marca Siemens! As usinas Cerradão e Pitangueiras serão equipadas com turbinas a vapor fabricadas em Jundiaí, que além da alta capacidade de geração energética, ainda oferecem baixos índices de manutenção, com a primeira abertura de máquina possível em até doze safras operadas. Exemplos como estes mostram a presença da Siemens no desenvolvimento de soluções de alta tecnologia personalizadas para o setor sucroenergético, buscando sempre superar as expectativas dos clientes. E, para apresentar suas recentes inovações, a Siemens marcará presença na 26ª edição da Fenasucro, de 21 a 24 de agosto de 2018, em Sertãozinho (SP). Venha visitar o nosso stand!

siemens.com.br/turbinasavapor


cogeração de energia cruciais no planejamento estratégico, principalmente levando em conta a tendência generalizada nos países mais desenvolvidos de redução de consumo de açúcar per capita, tendência esta que cedo ou tarde vai se espraiar pelos demais países. Tendo em mente obter a máxima eficácia na indústria, podemos, a partir de agora, discorrer sobre tecnologias, novas ou não, que estão em desenvolvimento ou que já estão consolidadas em outros setores da indústria e que podem ser utilizadas no nosso setor. É importante ressaltar que uma tecnologia tecnicamente viável pode, eventualmente, não ser ainda economicamente viável, mas deve ser sistematicamente reavaliada em função de alterações que possam ocorrer nos custos de produção, nos preços de venda e nas condições de financiamento. É possível iniciar com os combustíveis primários disponíveis. Com o corte mecanizado, a palha deve ser sempre considerada como fonte de energia, desde que o setor agronômico da usina considere adequado para a lavoura a sua remoção. Ao contrário do bagaço usado para geração do vapor utilizado na produção de açúcar e de etanol, o qual produz energia térmica e elétrica (cogeração), o bagaço excedente e a palha produzem apenas energia elétrica, num ciclo de baixa eficiência e, por consequência, de menor viabilidade econômica. A melhor alternativa será sempre procurar anexar à usina de cana agroindústrias que demandem energia térmica além da elétrica. Exemplos típicos: pasta de tomate, etanol de milho, sucroquímica, etc. Trazer grandes quantidades de palha com a cana implica instalar Sistemas de Limpeza a Seco (SLS) para aumentar a capacidade da moenda e reduzir a sua manutenção. O SLS proporciona um maior Poder Calorífico Inferior (PCI) médio do combustível, mas o ganho representativo encontra-se realmente no sistema de moagem. O ganho relevante no PCI ocorre trazendo palha enfardada do campo, com umidade muito mais baixa. Já estão sendo oferecidas no mercado caldeiras projetadas especificamente para a queima de palha enfardada. Para garantir a máxima eficácia na utilização da biomassa como combustível, já estão disponíveis no mercado tecnologias para a medição volumétrica de biomassa e para a medição, em tempo real, da sua umidade. Para materiais com densidade muito baixa, a medição volumétrica é mais precisa, e a medição da umidade, que impacta diretamente o valor do PCI, permite operar o sistema com máxima eficiência, pois só controlamos os parâmetros que medimos de forma eficaz. Como há, nas usinas, muitas fontes de calor pobres com baixa temperatura, que usualmente são desperdiçadas, já existem no mercado tecnologias para usar essas fontes de calor para a secagem do bagaço, aumentando, assim, o seu PCI.

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Opiniões Tais equipamentos são muito utilizados nas usinas de açúcar de beterraba, e o primeiro deles entrou em operação em 2018, em uma usina de cana na Tailândia. Um combustível alternativo que pode ser produzido na usina é o biometano. Realizamos um estudo para a Cogen em 2017, e foi possível estimar, nos estados do Centro-Sul, um potencial de produção de biometano na faixa de 2.900 x 106 Nm3/ano, que corresponde à geração de 10.960.000 MWh/ano com ciclo motor e a uma sobra de bagaço de 13.700.000 t de bagaço para gerar a mesma energia. A tecnologia está disponível, e o que falta é a viabilidade econômica que depende do preço de venda da energia. Falando a respeito de biometano, não é possível deixar de mencionar o Gás Natural (GN), principalmente no cenário do estado de São Paulo e no caso de usinas do Centro-Sul que estejam, eventualmente, próximas de gasodutos. O GN é um combustível fóssil, embora muito menos poluente do que o diesel, e, do ponto de vista ambiental e regulatório, esse aspecto sempre deve ser levado em conta quando planejamos o futuro de empresas que produzem energia renovável, mas, muito provavelmente, a pegada de carbono seria reduzida. No caso da agroindústria da cana, provavelmente a eventual porta de entrada para o GN será o setor de motomecanização agrícola. Já existem em circulação caminhões cujo motor diesel foi adaptado para se tornar um motor flex diesel-gás, usando de 35% a 40% de GN. Dependendo do sucesso desses testes, o GN poderá ter acesso ao setor industrial para ser usado, por exemplo, como substituto do biometano durante a entressafra, já que a sua produção é sazonal. O GN pode também ser usado em sistemas de cogeração, com a instalação de ciclos termodinâmicos híbridos (CTH) utilizando bagaço e GN. Trata-se de um ciclo usando turbo gerador com sistema de reaquecimento de vapor, ciclo este usado em centrais de geração de grande porte. No caso em questão, o GN é usado em uma turbina a gás que gera energia elétrica e cujos gases de exaustão podem ser utilizados para o aquecimento de vapor no turbo gerador e para o aquecimento de ar da caldeira. O CTH tem como vantagens otimizar o ciclo termodinâmico da biomassa, permitir operação durante todo o ano e amortecer eventuais faltas de biomassa devido a condições climáticas adversas, como temos no presente ano. Na produção de etanol, podemos economizar muita energia, passando a utilizar sistemas de água gelada na fermentação para operar com vinho de alto teor alcoólico, reduzindo o consumo de vapor na destilação e na concentração de vinhaça e, de qualquer maneira, economizando ainda mais energia nos sistemas de distribuição de vinhaça na lavoura. Mãos à obra! n



macroeconomia

Opiniões

uma proposta de

renovação

A competitividade do setor sucroenergético é relativa e depende de como seus preços internacionais (câmbio) e produtividade evoluem em relação aos concorrentes. Se forem mais eficazes que os demais, aumentam sua rentabilidade, ganham mercados e atraem investimentos. Dessa forma, criam num círculo virtuoso de mais investimentos, mais competitividade e mais mercados. A produtividade do setor, da porteira para dentro do Brasil, é das melhores do mundo; já do lado de fora, é medíocre, tem uma infraestrutura física e institucional capenga. Um componente é a estrutura do câmbio que é antiquada e faz com que o real seja uma das moedas mais voláteis do mundo. Um câmbio desvalorizado ajuda a determinados agentes em situações diversas; quando valorizado, beneficia a outros. Volátil, como o real, prejudica a todos. O lucro do setor, que é dado pela diferença de preços na compra de insumos e de venda da safra, vira uma loteria, que depende do humor do setor cambial.

As cinco propostas (aqui contidas) só dependem do poder executivo, não necessitam de aprovação do Congresso Nacional, podem ser implantadas de imediato e contribuiriam positivamente para futuro do País e do setor sucroenergético "

Roberto Luis Troster Economista

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O motivo é um só: a obsolescência do mercado de divisas no Brasil. O decreto que dispõe sobre as operações de câmbio no Brasil é de 1933, assinado por Getúlio Vargas e Osvaldo Euclides de Sousa Aranha (!). Sua concepção é de uma época em que havia restrições crônicas de divisas, e a economia era fechada. A realidade é outra, entretanto as transações financeiras de exportações e de compra de bilhetes e para turismo continuam burocráticas, demoradas e minuciosamente reguladas há décadas. Já o mercado futuro de divisas brasileiro está entre os mais sofisticados e dinâmicos do mundo. Enquanto os volumes no mercado à vista são medidos em milhões de reais/dólares por dia, na B3 (BM&F), registram-se bilhões. O primeiro é travado e burocrático, e o segundo é ágil e eficiente. A consequência lógica é que a cotação do dólar fica refém da dinâmica do humor dos investidores internacionais, que é mais volátil e incerta do que os fundamentos econômicos do mercado cambial.


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macroeconomia Agravando o quadro, o Brasil adota uma política de reservas mercantilista. É cara, custa cerca de 1% do PIB por ano, e é perversa. Quanto maior for o volume de divisas acumuladas, mais o custo aumenta por conta do diferencial de juros com o exterior, e o risco país cai pelo caixa alto em dólar. Mais segurança atrai mais recursos do resto do mundo, pressiona o câmbio, deteriora o déficit fiscal e segura o crescimento da economia. Agravando o quadro, a volatilidade da taxa cambial e a indefinição sobre o patamar em que se deve estabilizar a moeda norte americana geram incertezas para empresários, que postergam decisões de investir e produzir. Outro impacto adverso é que a desvalorização brusca do real fez com que as dívidas em dólares de empresas brasileiras aumentassem consideravelmente, fragilizando-as, dessa forma. Mais um efeito é na credibilidade da equipe de governo. Como o preço do dólar é um termômetro imperfeito do desempenho da gestão econômica, a alta rápida e a exacerbação da volatilidade alimentam inseguranças sobre os rumos na condução do País. O ponto é que a cotação da divisa norte-americana é um problemão, e continuará a ser, se não mudarem a forma de gerir o câmbio. Depende de fatores externos, como as taxas de juros nos Estados Unidos e os preços das commodities, sobre os quais o governo brasileiro não tem nenhum controle de condicionantes internos, a evolução das contas públicas e a produtividade das empresas, onde a condução econômica do País tem alguma influência e da política cambial brasileira, que é totalmente controlada pelo Banco Central do Brasil. A atuação da autoridade monetária no câmbio se dá em três frentes: mantendo o volume de reservas elevado, usando operações de swaps cambiais para influenciar a cotação do dólar, sem uma estratégia conhecida publicamente, e conservando imaculada a legislação cambial. O custo de carregar as reservas internacionais é astronômico: são US$ 380 bilhões, a R$ 3,8/US$ com um diferencial de taxas de 5%, totalizando R$ 72 bilhões por ano. É um disparate, assim como é a organização institucional das negociações com moeda estrangeira no Brasil. As transações com divisas estão estruturadas em dois compartimentos comunicantes: um é o das operações à vista, o pronto, que negocia algumas centenas de milhões por dia, e o outro é o futuro, em que são transacionadas dezenas de bilhões diariamente.

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Opiniões Três correções são necessárias para melhorar esse quadro, diminuindo a volatilidade cambial e reduzindo as despesas para manter o estoque de dólares elevado. A primeira, a mais urgente e a mais importante é mudar o paradigma cambial. A visão neomercantilista de gestão do câmbio apavora analistas preocupados com o futuro do Brasil. A segunda é desburocratizar o mercado à vista e permitir contas em dólar em todos os bancos brasileiros. A medida reduziria o custo de carregar reservas (o ativo do Banco Central teria como passivo contas em divisas de empresas e cidadãos), permitiria um hedge mais barato para empresas brasileiras, alargaria o volume de transações spot, e, dependendo de como for implantada, pode até aumentar o volume de divisas internacionais no País. A criminalização do câmbio vem da época em que a escassez de divisas era crônica no Brasil, quando a economia era mais fechada e o sistema financeiro, mais rudimentar. Não é mais o caso. Os bancos brasileiros têm todas as condições de operar contas em dólar para residentes, que atualmente podem operar em instituições no exterior, mas não no próprio país. A liberação da posse e uso de divisas no País acabaria com um anacronismo de décadas, elevaria a demanda interna de moeda estrangeira, tiraria parte do custo das reservas do Banco Central do Brasil e diminuiria o risco sistêmico. A terceira medida é que o Banco Central estabilize o câmbio explicitamente, fixando diariamente uma banda de, digamos 0,2% (para cima e para baixo), operando no mercado à vista. Dessa forma, conseguirá resultados mais palpáveis, utilizando menos recursos. As três mudanças sugeridas na gestão do câmbio poderiam também ser complementadas com outras duas na condução da política monetária, que contribuiriam para estabilizar o comportamento do dólar no Brasil ainda mais. Uma é melhorar os mecanismos de transmissão dos juros, eliminando “jabuticabas”, como os compulsórios draconianos, ativos financeiros com pouca ou nenhuma sensibilidade à Selic, o pandemônio tributário e o efeito perverso de alguns indexadores que elevam o patamar de equilíbrio das taxas de juros. O outro é a reformulação da gestão do crédito; é óbvio que a atual não funciona. As cinco propostas acima só dependem do poder executivo, não necessitam de aprovação do Congresso Nacional, podem ser implantadas de imediato e contribuiriam positivamente para o futuro do País e do setor sucroenergético, com cotações mais estáveis, mais facilidades para exportar e importar e a possibilidade de fazer hedges de preços mais transparentes e eficientes. É só querer. n



logística agroindustrial

Opiniões

o papel da logística na competitividade Coautores: Especialistas em Logística Agroindustrial: José Vicente Caixeta Filho (Esalq-USP) e Thiago Guilherme Péra (Esalq-USP), coordenador-geral e coordenador técnico da Esalq-LOG, respectivamente, e Carlos Eduardo Osório Xavier (UFScar).

O lançamento do programa RenovaBio e a expectativa de um novo governo mais engajado com a sustentabilidade da produção industrial estão reascendendo os ânimos dos diversos agentes do setor sucroenergético, que começam a se movimentar com o objetivo de realizar investimentos para ampliação de sua capacidade industrial e/ou modernizar os seus sistemas produtivos. Embora se vivencie um cenário macroeconômico um pouco mais otimista, o setor ainda convive com o desafio da otimização de processos e da redução de custos, indispensáveis para a competividade dessa cadeia produtiva. Também é consenso entre os especialistas que a logística terá papel central nesse desafio. Não é de hoje que grandes esforços vêm sendo dedicados pelas usinas para otimizar o sistema logístico, mas as oportunidades de redução de custos ainda são muitas. O dinamismo tecnológico, as variações nos preços de insumos logísticos, mudanças nos marcos legais que afetam as operações, as movimentações e aquisições e mudanças na malha de transportes sugerem que a otimização da logística deve ser uma busca contínua, sendo o esforço direcionado para essa finalidade um diferencial competitivo muito importante das empresas sucroenergéticas nos próximos anos.

Antes de discutir sobre os aspectos logísticos que merecem ser trabalhados para a redução de custos, é importante ampliar a visão sobre a gestão logística, que não tem foco apenas no transporte e na armazenagem de açúcar e etanol: contribui de maneira plena quando aplicada em toda a cadeia produtiva, tendo como objetivo maximizar a capacidade de criação de valor das operações, de forma holística. Sendo assim, pretende-se discutir, neste artigo, alguns aspectos logísticos que apresentam grande potencial para redução de custos nesse setor. Partindo da análise da logística inbound, que tem como principal desafio garantir o abastecimento contínuo e regular de cana-de-açúcar nas usinas, merecem atenção as operações de transporte: 1.) transporte de cana até as moendas e de mudas para plantio; 2.) de resíduos industriais (torta de filtro e vinhaça) para uso agrícola; 3.) de pessoas até o campo; 4.) de máquinas agrícolas utilizando caminhões; e 5.) de insumos agrícolas dos almoxarifados até o campo. Segundo resultados do projeto Qualicana, da Embrapa, as atividades de transporte representam aproximadamente 40% dos custos econômicos e 50% do consumo de diesel das operações agrícolas,

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o campo para redução de custos nas operações logísticas permanece bastante amplo, sendo que a 'boa logística' terá um papel chave na competitividade do setor ao longo dos próximos anos "

José Eduardo Holler Branco Professor do Departamento de Engenharia de Produção da Escola de Engenharia da USP-São Carlos

sendo que 70% do custo dessas operações são decorrentes do transporte de cana e mudas. Além da sua importância em termos de custos, a boa gestão das atividades de transporte é fundamental para garantir a sincronização das operações agrícolas. Tendo em vista esse cenário, recomenda-se que a otimização da logística inbound seja trabalhada de forma integrada: definição da configuração da operação de Corte, Transbordo e Transporte (CTT), que minimiza os custos dos equipamentos; planejamento

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logística agroindustrial da colheita visando maximizar o teor de ATR colhido; determinação da configuração espacial das áreas de abastecimento de cana, buscando alcançar o menor custo de plantio, transporte, colheita e produção. Em outras palavras, a gestão da logística inbound tem como desafio responder em quais regiões deve-se produzir cada classe de variedades de cana-de-açúcar, quando devem ser plantadas, colhidas, quais os tipos e a quantidade dos equipamentos e pessoas que devem ser alocados para realizarem as operações agrícolas e como realizar essa operação, tendo como objetivo principal atingir o menor custo possível do ATR entregue nas usinas. Para essa finalidade, recomenda-se que os profissionais da área de planejamento logístico façam o uso de modelos matemáticos para auxiliar na otimização e na simulação dos sistemas da logística inbound, cada vez mais complexos. Merecem destaque dois fatores que vêm onerando por demais os custos de CTT: o aumento do preço do diesel e a intensificação do controle de sobrepeso no transporte de cana. Esse novo cenário está forçando o setor a buscar novas soluções para aumentar a eficiência energética e a capacidade de carga dos caminhões. Nesse sentido, em 2017, foi anunciada uma portaria do Contran autorizando o tráfego dos novos modelos de rodotrem de onze eixos, com Peso Bruto Total Combinado (PBTC) de 92 toneladas. Outra solução que vem sendo discutida pelos especialistas é o uso da ferrovia para o transporte de cana. Há um bom tempo, os australianos fazem amplo uso das ferrovias para o transporte de cana: por volta de 18 usinas das 24 existentes no país utilizam a ferrovia para o transporte de cana por meio de uma malha de quatro mil quilômetros. Esse modelo australiano bem-sucedido nos faz indagar por que o Brasil também não faz o uso da ferrovia para a movimentação de cana? Ainda mais sabendo que existem importantes trechos ferroviários, em operação ou desativados, que atravessam regiões com grande densidade de canaviais. Registros históricos apontam que, no século XIX, as ferrovias eram utilizadas para transportar cana na região de Piracicaba. Embora o transporte ferroviário de cana não se tenha consolidado devido à priorização do transporte de cargas mais densas envolvendo médias e longas distâncias, é uma solução que merece ser investigada com atenção, por uma série de razões:

Opiniões 1.) existe uma tendência legislativa e regulatória mais restritiva às operações de transporte rodoviário que estão resultando em custos maiores (por exemplo, intensificação do controle de peso, novas exigências de segurança, tabela mínima de fretes, etc.); 2.) a política do RenovaBio beneficia os produtores de biocombustível que são mais eficientes do ponto de vista ambiental, de forma que o uso de um modal de transporte mais eficiente pode contribuir para ganhos de créditos de carbono (CBIOs) oferecidos pelo programa. Ademais, quem sabe não seria possível consolidar uma malha eletrificada que seria suprida pelas próprias unidades de cogeração das usinas de cana-de-açúcar, reduzindo ainda mais o consumo do óleo diesel e emissões de gases de efeito estufa nas operações de CTT? Mudando o foco para a logística outbound, que envolve a entrega dos produtos acabados, alterações recentes no sistema de transporte de cargas devem impactar nessa logística. Um primeiro fato que deve ser considerado é a tabela de fretes mínimos. Apesar de ser uma solução pouco adequada, que deve acarretar distorções no mercado de fretes, a Medida Provisória 832, que estabelece um preço mínimo para o transporte rodoviário, foi aprovada pelo Congresso no dia 4 de julho de 2018. Essa medida tende a acarretar um aumento nos fretes, o que pode viabilizar a operação de frota própria das usinas no transporte de etanol e açúcar, havendo a possibilidade, inclusive, de usar os cavalos mecânicos dos caminhões canavieiros no período de entressafra. Por fim, cabe mencionar a logística 4.0. É esperado que o uso de Inteligência Artifical e de Big Data ganhe espaço nas empresas do setor sucroenergético nos próximos anos. Essa nova onda tecnológica permitirá o compartilhamento de informações em tempo real a respeito das operações de CTT e de transporte, proporcionando um maior controle operacional, uma melhor sincronização e uma tomada de decisão ágil, resultando em menores desperdícios logísticos. Verifica-se, a partir dessa discussão, que o campo para redução de custos nas operações logísticas das empresas sucroenergéticas permanece bastante amplo, sendo que a “boa logística” terá um papel chave na competitividade do setor ao longo dos próximos anos. n

Transporte Ferroviário de Cana no Século XIX, em Piracicaba-SP - Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba

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fermentação

novos paradigmas na produção de etanol A introdução da técnica da cariotipagem das leveduras, a partir da década de 1990, foi um marco para a evolução da tecnologia da fermentação alcoólica. Essa técnica permitiu identificar quais leveduras estavam no processo, e ficou demonstrado que algumas linhagens desaparecem dos fermentadores, enquanto outras leveduras dominam a fermentação. Complementar à cariotipagem, o DNA mitocondrial foi outro avanço importante para descobrir a origem das leveduras, seus parentescos, e verificar as mudanças que elas sofrem com o tempo.Em 2007, iniciou-se, pela primeira vez, o isolamento de leveduras da própria unidade industrial, chamadas de leveduras personalizadas. Hoje é possível realizar a seleção de linhagens de leveduras personalizadas para cada destilaria, porque, conforme observado, uma levedura pode ser boa para uma unidade industrial, mas não necessariamente para outra. Complementar a essas descobertas, era preciso saber qual o peso da levedura personalizada em relação a outros fatores da indústria que poderiam afetar o RTC (Rendimento Total Corrigido). Baseado nos parâmetros obtidos do benchmarking, foram selecionadas 18 unidades com leveduras personalizadas, 35 unidades sem essas leveduras e avaliaram-se os dados das últimas cinco safras.

A ilustração 1 exibe os dados das médias dos parâmetros avaliados no estudo, as quais foram comparadas pelo teste de Tukey (5% de significância). Esses resultados indicam que os valores de RGD (Rendimento Geral da Destilaria) das unidades com leveduras personalizadas foram significativamente maiores que os das sem personalizadas, mostrando que parte do elevado RTC nas unidades com personalizadas estava sendo afetado pelo RGD. As maiores médias de extração também estavam nas unidades com personalizadas e foram significativamente diferentes. Portanto, entre os fatores que mais impactaram o RTC, está o RGD, que correspondeu a 46%. No ilustração 2, observamos os valores médios de RGD nas destilarias com e sem leveduras personalizadas nas safras 2012/2013 a 2016/2017. A diferença de RGD em favor das destilarias que utilizaram as personalizadas chega a 1,4%. Saber quais leveduras estavam no processo e que se mantiveram dominantes em toda a safra facilitou a operação da fermentação, dando maior estabilidade ao processo fermentativo. Para conseguir uma levedura personalizada, o trabalho deve ser contínuo e, em alguns casos, de longo prazo. O monitoramento é feito através das análises de cariotipagem e/ou DNA mitocondrial durante toda a safra de produção de etanol. Na safra passada, 18 destilarias começaram seus processos fermentativos com linhagens de leveduras personalizadas, que foram responsáveis pela produção de 2,27 bilhões de litros de etanol, representando 8,10% da matriz desse combustível no Brasil.

O uso de tecnologias para redução de custos e aumento de produtividade, a possibilidade de diminuir o volume de vinhaça e também de reduzir o investimento no concentrador de vinhaça merecem destaque "

Henrique Berbert de Amorim Neto Presidente da Fermentec Coautores: Marcel Salmeron Lorenzi, Silene Cristina de Lima Paulillo, Mário Lucio Lopes, Fernando Henrique Giometti e Guilherme Ferreira

Dentro do cenário de uso de tecnologias para redução de custos e aumento de produtividade, a possibilidade de diminuir o volume de vinhaça e também de reduzir o investimento no concentrador de vinhaça merecem destaque. São vários os benefícios quando se reduz o volume de vinhaça. Em primeiro lugar, está relacionado ao âmbito social, já que as usinas estão cada vez mais próximas

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Opiniões

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RGD

Extração

Perda Torta

Perda Lavagem Cana

Perda Águas residuais

Perda multijatos

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%

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%

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Com Personalizada 90,27 a

95,71 a

0,46 a

0,20 a

0,28 b

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Sem Grafico 1 Personalizada 89,43 a

95,51 a

0,45 a

0,30 a

0,45 b

0,16 a

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RGD - %

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Capacidadeda da Capacidade Destilaria Destilaria 3

900 m m3/dia

3 700m m3/dia /dia 700

1.270 m m 3/dia /dia 1.270

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2013

2013

RGD Com Personalizadas

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RGD Sem Personalizadas

Aquecimento Indireto

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Borbotagem

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VINHAÇA/ETANOL, I/I

2016

2014

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TEOR ALCOÓLICO, ºGL

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de cidades e vilarejos. Segundo, está relacionado à área ambiental, já que a aplicação da vinhaça em excesso no solo pode ocasionar contaminação de rios, lagos e córregos pelo escoamento superficial, de lençol freáticos pela lixiviação e pode também ocasionar a salinização ou saturação do solo. Terceiro, é uma questão legal, pois a normativa da CETESB P 4231 de dezembro de 2006 estabeleceu, em resumo, que: “a aplicação de vinhaça no estado de São Paulo está limitada a no máximo 150 m3/ha sem exceder a concentração de potássio de 5% da CTC (capacidade de troca catiônica) do solo”. Em quarto lugar e último, é de ordem econômica, pois, quanto mais vinhaça, maior o raio de distribuição. Diante de todas essas dificuldades, as usinas têm optado cada vez mais pela instalação dos sistemas de concentração de vinhaça (SCV), concentrando-a ao redor de 18 °brix. É lógico que essa solução é interessantíssima. Contudo aqui cabe uma pergunta: é melhor atacarmos a causa ou o efeito? Essa pergunta é importante porque as usinas têm

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500m m3/dia /dia 500

1.000m m3/dia /dia 1.000

2012

Redução do Volume da Vinhaça

3

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1.810 m 1.810 m3/dia /dia

uma grande oportunidade de reduzir o volume de vinhaça antes mesmo de entrar no concentrador de vinhaça, reduzindo o investimento nesse sistema, bem como no consumo de vapor. Dessa forma, iremos elencar dois pontos para reduzir o volume de vinhaça antes mesmo de entrar no concentrador: Aumento do teor alcoólico do vinho: A forma mais eficaz de reduzir o volume de vinhaça é subir o teor alcoólico do vinho. A ilustração 3 mostra a relação do volume de vinhaça com esse teor. Para um teor de 8% (v/v), produzem-se cerca de 10 l vinhaça/l etanol (aquecimento indireto) e 12 l vinhaça/l etanol (aquecimento direto), contudo, se se subir o teor alcoólico no vinho para 12% (v/v), podemos chegar a patamares de 6 a 7 l vinhaça/l etanol. Instalação do refervedor na base da coluna a/a1: Outra forma que vem na sequência antes de se instalar o concentrador é colocar um refervedor, também chamado de reboliler ou A2, na base da coluna de destilação. Esse equipamento tem a função de prover o aquecimento da coluna de forma indireta, ou seja, o vapor injetado na coluna não entra em contato com produto de fundo da coluna, pois não faz sentido diluirmos a vinhaça para depois querer concentrá-la. Essa opção também promove a recuperação do condensado, que pode voltar ao processo, melhorando o balanço hídrico da unidade. A ilustração 4 mostra a redução do volume de vinhaça com a introdução somente desse equipamento (teor alcoólico de 9% v/v considerado no balanço). Podemos concluir que é possível otimizar ao máximo o sistema de produção de etanol, visando entregar ao concentrador, se necessário, uma vinhaça num menor volume possível, lembrando que o manejo e o destino da vinhaça devem ser vistos sob a óptica agroindustrial, uma vez que os investimentos serão feitos na indústria, porém o maior beneficiário será o setor agrícola. n

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cenário econômico-financeiro

Opiniões

a modernização e a sustentabilidade do setor

sucroenergético

I. A tecnologia do mundo atual: Estamos vivendo a 4ª Revolução Industrial (Indústria 4.0), de transformação digital da atividade produtiva. Isso inclui automação e robótica, uso inteligente de grandes bases de dados (Big Data), computação na nuvem, internet das coisas e, consequentemente, redução do emprego em atividades tradicionais. Toda essa transformação tem, como objetivo final, o aumento de produtividade e redução de custos. II. Escala de operações, oligopolização e globalização: Essa é outra mudança que temos percebido. Existe um processo global de fusões e aquisições (M&A, do inglês, mergers and acquisitions) de empresas nos últimos tempos. O objetivo final desse processo, que implica empresas maiores e em menor número, é também o aumento de competitividade e redução de custos. Esse processo de M&A, que se caracteriza pela criação de mercados mais oligopolizados, pode ter consequências opostas no curto e médio prazo. No curto prazo, tem consequências benéficas para a sociedade: custos e preços menores. No médio prazo, pode ter consequências incômodas para o consumidor.

Entre elas, podemos citar a redução da concorrência, com a possibilidade de redução da qualidade dos bens e serviços, e algum grau de manipulação dos preços por parte dos poucos e grandes grupos do mercado. O nosso setor de cana-de-açúcar está se adaptando a esses dois movimentos de transformação, que buscam, no curto prazo, a redução de custos e o aumento da competitividade? III. O ajuste do setor de cana-de-açúcar brasileiro ao mundo atual: A resposta à pergunta anterior é SIM. As melhores empresas do negócio de açúcar e etanol no Brasil, em geral as maiores, estão se adaptando a essas mudanças do mundo dos negócios. Mecanização da lavoura, utilização de GPS em operações agrícolas, automação industrial, uso inteligente de dados de produção e de mercados são alguns dos procedimentos já adotados com a utilização da moderna tecnologia. No tocante à gestão, as melhores empresas do setor já se utilizam de profissionais de alto nível, com compromissos explícitos de buscar resultados. Além disso, se utilizam da prática de planejamento, de controle e de governança corporativa, com conselhos de administração e conselhos consultivos usados para a tomada de decisões.

Nesta safra 2018/2019, vamos produzir acima de 30 bilhões de litros de etanol de cana e de milho, o que é um recorde de produção, e só vamos atender a cerca de 1/3 da demanda potencial. "

Julio Maria M. Borges Professor do Dpto. de Economia da FEA-USP e Sócio-Diretor da Job Economia

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cenário econômico-financeiro E isso é suficiente para que a atividade sucroenergética seja sustentável do ponto de vista socioeconômico? Parece que as mudanças que observamos são suficientes para termos um número reduzido de grandes empresas que sejam mais eficientes que a média atual. A questão da competitividade global pode não ser atendida. IV. Melhorias necessárias para a sustentabilidade socioeconômica do setor: Inicialmente, devemos destacar a expressiva diferença de performance operacional entre as empresas do setor. Anualmente, os bancos fazem um raio-X desses aspectos do setor. Entre eles, podemos citar os bancos Itaú e Rabobank, que disponibilizam análises de qualidade sobre esse assunto. A última informação que temos disponível foi a do Rabobank, apresentada no último Seminário JOB Economia, de abril deste ano, em São Paulo. Trata-se da situação econômico-financeira das melhores empresas do setor na safra 2016/2017. A amostra do Rabobank representa cerca de metade da produção nacional de cana-de-açúcar. Algumas conclusões do estudo do Rabobank: 1. Receita: varia de R$ 130 a R$ 200/t de cana (tc), com média de R$ 160/tc. 2. Custo caixa (despesas): varia de R$ 50 a R$ 130/tc, com média de R$ 94/tc. 3. EBTIDA: varia de 25% a 65% da receita, com média de 42%. 4. Endividamento (dívida líquida bancária): varia de R$ 19 a R$ 227/tc, com média de R$ 119/tc. 5. Solvência (patrimônio líquido/ativo total): varia de 0% a 60%. As diferenças de performance são grandes e vêm aumentando ao longo do tempo, sugerindo que o processo de concentração na atividade econômica do setor sucroenergético deve aumentar. Por outro lado, o custo caixa aumentou 6% a.a., no período 2007-2016, aproximadamente igual à inflação do período. Ou seja, ganhos de produtividade não têm ocorrido para melhorar a competitividade do setor, como produtor de alimentos e energia. O que podemos fazer para aumentar a competitividade global do setor e garantir a sobrevivência das empresas eficientes de menor porte, permitindo, assim, um mínimo de competição entre as empresas que venha favorecer o consumidor? Em primeiro lugar, fazer um esforço que seja efetivo para reduzir custos do setor como um todo. Recursos financeiros do governo mostram-se necessários para complementar os recursos hoje aplicados pelo setor privado em Pesquisa e Desenvolvimento.

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Opiniões

Temos que iniciar uma tendência de longo prazo, como no período 1973-1999, de redução de custos, para podermos competir, por exemplo, com beterraba, milho e outras fontes renováveis de energia, como solar e eólica. Em segundo lugar, criar linhas de crédito específicas para financiar a otimização da atividade atual, através de investimentos que acarretem, no curto prazo, redução de custos e aumento de receitas. É o caso, por exemplo, dos investimentos em mecanização, em renovação e em expansão de lavouras, armazenamento e capital de giro. Cabe lembrar que essas linhas de crédito devem considerar o universo de empresas com gestão eficiente, sem qualquer objetivo de assistencialismo e sem restrição, inicialmente, quanto a tamanho e região. Cabe lembrar que um bom número dessas empresas, em geral localizadas fora do estado de São Paulo, não têm tamanho para competir com os grandes grupos e hoje representam, para o sistema financeiro, maior risco de crédito. Em terceiro lugar, é necessário que uma política econômica saudável promova inflação e taxas de juros para o tomador final que sejam próximas daquelas de países desenvolvidos. Em resumo, quando nos referimos a recursos financeiros para financiar P&D e a modernização e a otimização do parque sucroenergético brasileiro, estamos sugerindo a criação de um fundo de investimentos. Vamos nos referir a ele como Fundo X. Onde arrumar o dinheiro para esse Fundo X, que vai financiar a otimização do setor? O Renovabio está sendo implantado com a finalidade de criar recursos financeiros para o setor. A finalidade do Renovabio, de criar demanda garantida para o etanol combustível, fica em segundo plano, tendo em vista que o Brasil não tem conseguido atender à demanda potencial de etanol combustível nos últimos anos. Ou seja, não falta demanda; falta preço. Nesta safra 2018/2019, vamos produzir acima de 30 bilhões de litros de etanol de cana e de milho, o que é um recorde de produção, e só vamos atender a cerca de 1/3 da demanda potencial. Por demanda potencial, entendemos a demanda caso toda a frota flex usasse etanol o ano todo. Os recursos financeiros gerados pelo Renovabio, via preço dos CBios e multas, podem ser usados, em parte, para o Fundo X acima mencionado. O setor como um todo seria beneficiado. O País seria beneficiado. Cabe lembrar que, na década de 1970, foi criado um fundo pelo governo (Funprosucar - IAA), com propósitos semelhantes aos do Fundo X. E o ganho foi muito relevante para o setor e para o Brasil. n


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A história mundial do açúcar mostra longo período de intensa intervenção dos governos. No Brasil, desde a sua descoberta, o modelo era o das capitanias hereditárias e seus eleitos. Após a Independência, em mercado e com baixa capacidade competitiva, o setor produtivo somente tinha espasmos nos bons momentos de preços altos e aumentava sua predisposição ao suporte, mesmo que por ondas, do governo de plantão. A verdade é que o Brasil não competia e não sofria desde a descoberta, pelos europeus, da beterraba açucareira como matéria-prima para a produção de açúcar, derrubando o conceito do açúcar como especiaria. Quando o café, outro ciclo de riquezas, mostra fraqueza na crise de 1929, no Centro-Sul brasileiro, principalmente em São Paulo, a cana-de-açúcar inicia na região um processo de expansão em substituição ao café e um apoio político ao forte Nordeste canavieiro brasileiro na busca por um modelo de intervenção do governo no setor. Como a volatilidade dos preços internacionais do açúcar era a maior entre as chamadas soft commodities, essa pressão de um país até então no mercado enfrentando outros países mais competitivos e suportados pelos seus governos começa a criar no meio político a ideia de um novo modelo setorial baseado no Estado. Foi criado o IAA (1933), Instituto do Açúcar e do Álcool, que legislava – era executivo e judiciário em tudo o que fosse o tema de açúcar e de etanol, em meados do Século XX. A justificativa a tudo era o fato de que a cana é uma cultura que não pode ser plantada distante da indústria, por motivos econômicos e pelo fator fisiológico de sua deterioração rápida tão logo colhida ou, na época, após ateado o fogo para a colheita.

O que se espera do País com a esquerda novamente no poder ou mais centro ou mais direita? Será mais ou menos Estado? Será mais populismo ou um governo reformista? "

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio Diretor do Grupo Alto Alegre

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Mais de 50 anos com o IAA determinando tudo, a Constituição de 1988 define a ação de Estado como indicativa, e não executiva, na produção. Nesses 50 anos, algumas condições e fatos caracterizaram mudanças relevantes até hoje: a força política do Nordeste segurando pelo tempo que pôde os ímpetos expansionistas de São Paulo e o lançamento do Proálcool na década de 1970, que subverteu a ordem anterior na esteira da necessidade de expansão da oferta, conhecidas as limitações da região Nordeste. Era o início de uma nova fase, muito mais mercado e com o etanol, fruto das experiências de décadas anteriores e com o suporte da Petrobras e da indústria automobilística. O etanol passou, rapidamente, de subproduto a produto principal; na esteira da mudança, riscos muito maiores para os investidores e o fato positivo dos resultados extraordinários dos investimentos na década de 1970 pelo IAA (Planalsucar) e Copersucar em P&D, apoiando o crescimento da produtividade setorial acima de 3% ao ano para os seguintes 30 anos.


Opiniões A partir de 2002, com as políticas efetivadas que desregulamentaram o setor, o mundo canavieiro brasileiro viveu as intempéries de competir em um mundo que continuava sob intervenção dos governos externos, com proteção, subsídios e suportes aos seus produtores. É nesse momento que a OMC – Organização Mundial do Comércio –, teve um papel fundamental na causa ganha por Austrália, Brasil e Tailândia contra as exportações de açúcar pela União Europeia, o que trouxe um alento ao produto, voltando a receber investimentos. Em seguida, as ondas dos preços do petróleo a US$ 140/barril (a partir de 2004) e a da mitigação de emissões de carbono, com o lançamento dos carros flexíveis no Brasil, alimentaram outra forte ação de investimentos, dessa vez com recursos externos e empresas multinacionais liderando o processo, em forte consolidação setorial. Com a crise financeira global de 2018, pós-expansão e pressão de governo para a mecanização de plantio e colheita de cana crua, elevado endividamento setorial pelos empréstimos para a expansão, o governo brasileiro de então resolve cancelar as políticas implantadas (segundo governo Lula e governo Dilma). A consequência foi a queda do investimento em canavial, que se comprova por sua idade avançada e que levou à estagnação da oferta de canas pós 2010, com a esperança na nova lei para biocombustíveis em regulamentação – o RenovaBio. Tratava-se de um antigo anseio setorial, reduzindo a “caneta” de governo e sendo novo programa do Estado brasileiro. RenovaBio: Em síntese, vale analisar dois pontos referentes à nova lei em regulamentação do RenovaBio: • É essencial ter o RenovaBio implantado sem traumas e sem diferenças entre os agentes nas cadeias produtivas que o contemplarão. Isso inclui a calculadora, o esforço dos produtores em utilizá-la mais rapidamente e lutar pelos prêmios possíveis com uma certificação real e efetiva, sem traumas. Outra questão é a efetivação dos CBIOs como mecanismo de mercado e que não seja usado contra o produtor. Afinal, o objetivo é estimular a produtividade via tecnologia e investimentos. • O possível deve ser avaliado na realidade das eleições de outubro/2018 e o que será o Brasil em 2019, ano em que se terminará a regulamentação da lei. O que se espera do País com a esquerda novamente no poder ou mais centro ou mais direita? Será mais ou menos Estado? Será mais populismo ou um governo reformista? A verdade é que se vive um cenário de incertezas, não riscos. As incertezas não se medem como os riscos. Nessa lógica, alguns aspectos acontecerão, independentemente das eleições:

a. Novo processo de consolidação setorial, com uma velocidade que dependerá do êxito do RenovaBio, que, de sua parte, necessita do interesse do novo governo a ser instalado em 2019; b. Esforço do produtor em produtividade; c. Atuação efetiva das montadoras de veículos com a aprovação do Rota 2030, para o desenvolvimento dos carros flexíveis híbridos, com boa eficiência e aceitação pelos consumidores; d. Nova onda de etanol no Brasil, até pela instabilidade do mercado de açúcar. Esses aspectos ligados ao setor estarão muito dependentes do nível de confiança que se possa voltar a ter com a economia e a política brasileira, que deverão estar assentados nos fatores demanda, tecnologia e sustentabilidade, tendências do mercado doméstico e internacional e comportamento dos agentes públicos e privados. Não há dúvidas de que a política de preços dos combustíveis é a base de um processo positivo e de confiança em investimentos, assim como a lógica dos mandatos de volumes, as regras e os prêmios à competitividade. Também chave serão, do lado do produtor, a constante busca de produtividade e de produção sustentável e, do lado da tecnologia de veículos, o aperfeiçoamento dos motores e o desenvolvimento dos carros flexíveis híbridos para, posteriormente, adotar-se a tecnologia das células de combustíveis. O processo de mudança deveria se concentrar no aperfeiçoamento dos CBIOs como mecanismo indutor de eficiência, com a menor interferência possível do governo, além de manter os diferenciais de impostos entre os combustíveis fósseis e os renováveis. De uma forma simplista, além da atuação de acompanhamento das agências de Governo, impostos e apoio ao setor privado na defesa do açúcar brasileiro, visando abrir mercados e combater subsídios e proteções, há que se ter por parte do setor privado e público atenção especial com a pesquisa e o desenvolvimento, com maiores investimentos e preparo de recursos humanos para a atividade. Isso está em estado de letargia! Alguns aspectos merecem ações importantes para que não ocorram: • Preços da gasolina que não acompanhem os preços internacionais derrubarão os esforços das mudanças. Isso requer postura clara e transparente das ações dessa política e, caso assim não seja, afastarão investimentos. • As cadeias produtivas precisam estar com seus elos equilibrados para receber o RenovaBio. Caso contrário, será difícil ver a expansão necessária da oferta. • Desde o início (2020), é fundamental a forte participação dos produtores de cana e de etanol visando consolidar os CBIOs, assentados sobre certificadoras competentes. • O governo precisa ser minimamente interventivo, ou se recria o IAA. n

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Opiniões

a nova era do setor sucroenergético Em todo o mundo, a tecnologia já causou grandes revoluções nos mais diversos setores da sociedade. As impressoras 3D já iniciaram suas impressões em plástico e agora já caminham para produzir metais e provocar um grande impacto nos setores industriais. Também há casas e cidades inteiras erguidas à base de inteligência artificial, que baseiam suas decisões de arquitetura, política e tecnologia em dados de uma extensa rede de sensores que recolhem informações sobre qualidade do ar, nível de ruídos e as atividades das pessoas, e pretendem, assim, inaugurar uma nova maneira de se relacionar com o mundo à nossa volta. No setor sucroenergético, essa realidade não é diferente. Pelo contrário: iniciativas que apostam em inovação e mudança de paradigmas são a chave para antecipar um futuro movido a energia limpa e renovável. É possível enxergar essa revolução em todo o processo produtivo, do plantio da cana-de-açúcar à distribuição de biocombustíveis e bioenergia. Uma reinvenção contínua que visa adaptar as companhias a esse novo cenário que está em constante transformação.

E isso não apenas pela necessidade de acompanhar o novo, mas por uma questão de sobrevivência dos negócios. Qualquer empresa que queira continuar saudável e manter a rentabilidade precisa acompanhar essa tendência. A pressão que a tecnologia coloca sobre as empresas é benéfica para o setor e para a sociedade. É assim que nos desafiamos e evoluímos mais rapidamente. Foi em busca de mais produtividade e explorando novas tecnologias que, na Raízen, pudemos aumentar o portfólio de produtos do setor. O etanol de segunda geração e a cogeração de energia elétrica por biomassa e biogás são exemplos desse movimento, uma plataforma de lançamento para o futuro do setor sucroenergético. As duas iniciativas representam avanços de grande importância para o setor e para o meio ambiente, uma vez que, com processos e produtos mais sustentáveis, reduzimos emissões de gases de efeito estufa (GEE) e o nosso impacto no meio ambiente, colaborando diretamente para o cumprimento das metas do Brasil na COP21. Os biocombustíveis já substituem cerca de 40% do consumo de gasolina e 10% da necessidade de óleo diesel no País. "

Pedro Isamu Mizutani Vice-presidente de Relações Externas e Estratégia da Raízen

Alguns resultados práticos ilustram o impacto positivo que essas tecnologias oferecem: a cogeração de energia por meio da biomassa e biogás já responde por 6% da matriz energética nacional. Pode ser produzida a partir de fontes como casca de arroz, cavaco de madeira e caroço de açaí, por exemplo. A principal fonte, porém, é o bagaço de cana-de-açúcar, que correspondeu, em 2017, a 85% de toda a energia gerada por biomassa nas usinas. Esse é um processo sustentável de ponta a ponta, uma vez que o bagaço utilizado é um subproduto da produção de açúcar e etanol, o que evita a necessidade de descarte desse material, gerando menos resíduos.

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produtores A energia proveniente da cogeração ainda se destaca por ser uma fonte de energia que opera durante o ano inteiro, principalmente nos períodos de seca. Dados da Unica – União da Indústria da Cana-de-Açúcar, apontam que, em 2017, 84% da geração para a rede pela biomassa da cana ocorreu entre maio e novembro, quando as hidrelétricas estavam esvaziando os reservatórios. Ou seja, é uma energia que nos garante distribuição especialmente quando o nosso sistema hidrelétrico está mais sobrecarregado. Garantia para as indústrias funcionarem no mesmo ritmo o ano todo. A bioenergia alavanca a economia nacional. Segundo a Bloomberg, o setor deve receber US$ 26 bilhões em investimentos no Brasil até 2040. Junto com a geração eólica e solar, a biomassa deve ser um dos tipos de energia que mais vai se desenvolver nos próximos anos. Segundo a Cogen – Associação da Indústria de Cogeração de Energia, de janeiro a maio de 2018, o Brasil gerou uma média de 14,5% MW a mais de eletricidade por biomassa, em comparação ao mesmo período de 2017. O biogás, outra fonte sustentável e renovável, também representa um papel importante e crescente no desenvolvimento da matriz energética nacional. De acordo com a Unica, até 2030, sua produção deve chegar a 32 milhões m3/dia, representando 96% menos emissões de gases de efeito estufa. Também estamos evoluindo bastante em pesquisa e desenvolvimento para ampliar ainda mais a utilização de coprodutos do processo de produção de açúcar e etanol. Já avançamos consideravelmente ao utilizarmos a vinhaça, que será operada durante a safra, e a torta de filtro, disponível o ano todo. Essa combinação permitirá à Raízen uma produção de biogás na ordem de 138 mil MWh por ano. Desses, 96 mil MWh serão vendidos dentro de um contrato negociado em leilão em 2016 do qual a empresa foi a vencedora e que deverá começar a ser cumprido a partir de 2021. O excedente poderá ser negociado no mercado livre de energia ou outros contratos. Além disso, tanto a torta quanto o filtro serão utilizados como fertilizante após o processo de obtenção do biogás, permitindo um processo ainda mais limpo e sustentável. Outra diretriz fundamental nessa nova era do setor e que levamos muito a sério na Raízen é o olhar para o ambiente externo. Grandes ideias têm surgido em ecossistemas de startups, com jovens inovadores apostando em projetos de grande impacto e potencial. Assim, criamos o Pulse, o nosso hub de inovação que, prestes a completar um ano, é um espaço de encontro e circulação de executivos, empresas e formadores de opinião e que têm como objetivo oxigenar ideias e práticas que enriqueçam o setor sucroenergético brasileiro em todas as suas frentes de negócio. Os resultados já são visíveis: das 15 startups aceleradas no hub, 11 já têm projetos pilotos sendo testados na Raízen, o que reforça a

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Opiniões importância de investir em pesquisa e em desenvolvimento de forma abrangente, buscando novas soluções, dentro e fora de suas fronteiras, examinando os melhores projetos e práticas com potencial em larga escala que podem ser aplicados no desenvolvimento do setor como um todo. Para que todo esse desenvolvimento seja possível, é fundamental que governo e sociedade se unam por políticas que contribuam para o fomento das atividades do setor. Excelente exemplo é o RenovaBio, programa que tem como missão incentivar a produção e o uso de biocombustíveis e a descarbonização do transporte. A iniciativa tem, entre suas metas, induzir, de forma previsível, a redução competitiva e eficiente da intensidade de carbono da matriz de combustíveis. Ao desenvolver o setor sucroenergético, consequentemente desenvolvemos outras capacidades operacionais, gerando um ciclo de benefícios para a sociedade. Vivemos, hoje, um momento único de diálogo claro e assertivo, com uma agenda pública junto aos órgãos competentes para mostrar a importância do desenvolvimento do setor. Para isso, a atuação das empresas, em conjunto com instituições como a Unica, é essencial. Apenas dessa forma, conseguiremos atingir a meta de participação de 18% de biocombustíveis na matriz energética. Para a produção de etanol, isso significa acrescentar mais 22 bilhões de litros anuais, quase dobrando a produção nacional, que, atualmente, é de 27 bilhões de litros/ano. E, detalhe: o Brasil já é exemplo no uso de fontes renováveis. Enquanto o mundo exibe uma matriz composta por apenas 13% de energia renovável, contamos com cerca de 40% de energia limpa, da qual cerca de 18% é gerada por biomassa. E isso sem prejudicar o uso racional de recursos naturais ou da produção de alimentos no País: segundo a Unica, para o plantio da cana-de-açúcar, apenas 0,6% do território nacional é utilizado para produção de biocombustíveis. Agora, é preciso embarcar o Brasil definitivamente em uma era de energia limpa e sustentável, investindo em perspectivas de longo prazo para poder exercer suas vantagens competitivas e assumir a dianteira na jornada de descarbonização do transporte, das indústrias e dos serviços. Os biocombustíveis já substituem cerca de 40% do consumo de gasolina e 10% da necessidade de óleo diesel no País. Além do RenovaBio, o programa Rota 2030, que deve ser aprovado em breve e tem em seu escopo, entre outras coisas, o estabelecimento de objetivos numéricos e prazos exatos para atingir metas de eficiência energética, é essencial para impulsionar a indústria brasileira. Devemos reforçar a importância do setor sucroenergético para o desenvolvimento nacional e, acima de tudo, para o futuro da humanidade, colaborando diretamente para a diminuição dos gases de efeito estufa, e, consequentemente, para um futuro mais seguro para as próximas gerações. n



produtores

Opiniões

o impacto da

inovação

Para falarmos de inovação tecnológica e do impacto na competividade em tempos atuais, é preciso voltar no tempo e mencionar o austríaco Joseph Schumpeter, que, em 1939, associou que os períodos de desenvolvimento e prosperidade econômica das nações estavam diretamente relacionados à difusão das inovações tecnológicas dos sistemas produtivos, sendo que a inovação é o cerne do processo de desenvolvimento e das vantagens competitivas, conforme elencadas por Michael Porter em seus estudos comparando diversas empresas de vários segmentos e os seus desempenhos. Shumpeter, em 1961, mencionou que “o impulso fundamental que inicia e mantém a máquina capitalista em movimento decorre de novos bens de consumo, de novos métodos de produção, de novos mercados e de novas formas de organização industrial”. Sua obra serviu de alicerce para estudos de diversos pesquisadores para entender e compreender como ocorre o processo de inovação dentro das empresas, sendo que os modelos dos sistemas setoriais podem ser transformados por meio de uma forma drástica ou pela contínua acumulação de conhecimentos. O desenvolvimento tecnológico pode ser de caráter incremental e se desenvolve em aderência às rotas tecnológicas estabelecidas pelas grandes inovações, mais endógenas aos mecanismos econômicos, e tendo como dinâmica a descontinuidade e incertezas pautadas no acúmulo do conhecimento. Esse conceito de acumulação tecnológica dentro do processo de inovação foi descrito por Nelson Winter, em 1982 (An evolutionary theory of economic change), O mercado globalizado e competitivo exige das empresas uma reestruturação para enfrentar a exigência e o dinamismo do processo de inovação tecnológica na indústria sucroenergética "

José Carlos Teixeira Diretor de Tecnologia Industrial da Atvos

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sendo denominado de path dependence, que explica como um conjunto de decisões é limitado por outras decisões tomadas no passado e o desenvolvimento tecnológico seria produto de um conjunto de decisões com certo grau de relacionamento entre si. O processo de inovação é provocado por uma tensão e desestabilização ao sistema, que podem estar relacionados a ciclos políticos, movimentos culturais, ciclo de vida de produtos, pressões sociais, demandas ambientais ou qualquer externalidade existente. Os principais agentes de inovação tecnológica ou influenciadores das redes de inovação tecnológica do setor sucroenergético se dividem em político-normativo, como Ministério da Cultura e Tecnologia e o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento; estratégicos, como Unica, Embrapa, CTBE, CTC; Universidades (Unicamp, Esalq-USP, UFSCar, Unesp, UF-RJ); agentes operacionais, que são as usinas produtoras; e as empresas de alcoolquímica.



produtores As formas de transferência de tecnologias mais utilizadas no setor sucroenergético são por meio da aquisição do licenciamento ou patente, vigilância tecnológica e a implementação de experiências de outros setores, que se traduzem em renovação tecnológica. Nesse processo, as unidades agroindustriais realizam a melhoria incremental e benchmarking dessa tecnologia, na qual a absorção dessas inovações é objeto de discussões em seminários e congressos setorial. A tecnologia atualmente empregada na área agrícola pode ser considerada de ponta dentro das referências mundiais. As tecnologias de agricultura de precisão já são adotadas nas lavouras do Brasil, com técnicas cada vez mais produtivas, sendo que grande parte das inovações tecnológicas introduzidas na agricultura constitui-se de máquinas, equipamentos, defensivos agrícolas, fertilizantes químicos e outros produtos. Entretanto a área industrial das usinas é a que mais carece de atualização tecnológica, se utilizarmos os conceitos atuais de biorrefinaria e indústria 4.0. A introdução do conceito de biorrefinaria nas usinas produtoras de biocombustíveis pode levar a uma redução de custos, a um aumento do lucro e da independência por não estarem mais sujeitas às flutuações de mercado dos preços dos produtos, problema que assola as produtoras da cana-de-açúcar. A consolidação do bioetanol e dos coprodutos no mercado interno e externo também é um dos elementos condicionantes das redes de inovação tecnológica do setor sucroenergético. Para a consolidação dessa plataforma tecnológica do bioetanol no mercado internacional, depende-se da capacidade de transferência tecnológica e do desenvolvimento de tecnologias de segunda geração, seguindo os conceitos de sustentabilidade do negócio. A indústria 4.0 teve sua origem em decorrência de uma estratégia do governo alemão para garantir a competitividade da indústria do país frente à concorrência internacional, por meio da informatização da manufatura. É um conceito proposto que engloba as principais inovações tecnológicas dos campos de automação, controle e tecnologia da informação aplicadas aos processos de manufatura, com o objetivo de se tornarem cada vez mais eficientes, autônomos e customizáveis. A síntese desse programa consiste na conexão entre as tecnologias emergentes e o mundo físico. Dentro desse contexto de tecnologias emergentes, podemos destacar robôs autônomos, realidade aumentada, IoT (internet das coisas), Big Data, simulação operacional, internet industrial e integração horizontal e vertical de produção. Segundo levantamento realizado pela PWC, no âmbito mundial, o setor produtivo planeja investir US$ 900 bilhões nos próximos cinco anos na atualização dos seus processos.

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Opiniões O foco desses investimentos será na digitalização dos processos industriais, usando, para isso, sensores e dispositivos que fornecem mais conectividade entre a planta industrial e os sistemas de controle operacional. Apesar de ainda estar atrás da corrida da indústria 4.0, o Brasil começa a se mobilizar para a adoção das tecnologias digitais. Em março de 2018, uma associação entre o Governo Federal, representado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, e as lideranças de diversos grupos industriais definiu uma pauta de atuação com o objetivo de facilitar o acesso da indústria nacional a tecnologias digitais permitindo ao País um impulso competitivo. A Atvos vem atuando em aderência a essa mudança tecnológica, e o conceito de indústria 4.0 deixou de ser uma tendência futura para se tornar a realidade dos processos e dos investimentos para a companhia. Nesse contexto, a Atvos implementou e está operando com RTO (Real Time Optimization), simulador on-line que utiliza os dados dos sistemas de controle supervisório e laboratorial e gera set-points para as malhas de controle, de forma a buscar as condições ótimas operacionais; IA (inteligência artificial), por meio de lógica Fuzzy nos processos de geração de vapor e energia e evaporação; MES (Manufacturing Execution System), camada intermediária de automação que realiza a parte de inteligência da gestão da operação, manutenção e produção industrial. O mercado globalizado e competitivo exige das empresas uma reestruturação para enfrentar a exigência e o dinamismo do processo de inovação tecnológica na indústria sucroenergética, visando aumentar a produtividade, reduzir os custos de produção e o impacto sobre o meio ambiente, que possibilitarão a transformação do setor, apesar de seu processo de inovação ainda ser deficiente. Não há dúvida de que a dinâmica e a competitividade da indústria nacional só poderá ser obtida por meio da adoção de novas tecnologias, como a inteligência artificial, cloud, blockchain, impressão 3D, cibersegurity e internet das coisas (IoT). O maior desafio será priorizar uma agenda específica pelo Governo Federal com o propósito de fomentar e disponibilizar linhas de funding acessíveis para que as empresas nacionais possam ter acesso às novas tecnologias, e uma reflexão profunda sobre o nível educacional do país, pois a contrapartida dessa nova onda tecnológica vai demandar profissionais mais qualificados, com habilidades específicas, e o resultado disso somente será possível se puderem ser capacitados e se essas habilidades forem aplicadas com inteligência. n

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Opiniões

perseverança e evolução:

fatores indispensáveis à sobrevivência

Somos parte da terceira geração de uma família que, há 60 anos, atua na indústria da cana-de-açúcar. Enfrentamos, e felizmente superamos, inúmeras dificuldades. Hoje, porém, testemunhamos uma crise sem precedentes na história recente dessa indústria. A situação é alarmante e impõe a necessidade premente de mudanças. De 2005 até o momento, mais de 80 usinas encerraram suas atividades, 22% das 370 unidades atualmente em operação no País. No mesmo período, 77 decretaram recuperação judicial, considerando plantas ativas e inativas. O endividamento setorial é crescente: R$ 85 bilhões na safra 2016/2017 e estimados R$ 100 bilhões para o ciclo 2017/2018. Ao longo dos últimos 5 anos, a dívida líquida média foi equivalente, quando não superior, ao faturamento anual. Esse cenário torna-se mais dramático diante, por exemplo, da queda do preço internacional do açúcar, pressionado pelo excesso de oferta mundial e do aumento dos custos de produção. É verdade, entretanto, que muitas usinas ainda gozam de boa saúde econômico-financeira, além de estabilidade produtiva e empresarial. Balanços publicados no último ano indicam que, para 30% das unidades ativas, a situação é muito preocupante: cerca de 15% da receita está comprometida somente com o pagamento dos juros da dívida. Por outro lado, a mesma pesquisa mostra a existência de agentes capitalizados, eficientes e rentáveis, com nível de endividamento baixo e em condições de realizar novos aportes para expandir a produção. A característica comum e marcante dessas usinas sobreviventes é a insistente bus-

não existem mágicas que possam ser aplicadas à indústria da cana-de-açúcar. O que existe é espaço para muito trabalho. "

José Pedro Andrade Diretor da Usina Cerradão

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ca para aprimorar seus processos produtivos, por novas tecnologias que aumentem a eficiência e reduzam custos. Esse é, sem dúvida, um atributo essencial para a renovação e a remodelagem do setor sucroenergético brasileiro. Com mais de 60% dos custos operacionais originados na área agrícola, ganhos de produtividade são absolutamente imprescindíveis. Nesse sentido, destacamos práticas como a delimitação adequada do raio médio de colheita e a irrigação da lavoura nas linhas de cana, com a aplicação conjunta de fertilizantes líquidos. Igualmente importante é a adoção de ferramentas de agricultura de precisão aplicadas à colheita e ao plantio, viabilizando o emprego racional dos insumos. Exemplo em voga são os veículos aéreos não tripulados, os drones. Tecnologia amplamente absorvida pela atividade canavieira, os drones são utilizados para gerenciar estrategicamente o plantio e a colheita, otimizando o uso da frota agrícola, bem como monitorando os canaviais – identificando falhas na plantação, focos de doenças, surgimento de pragas, estresse hídrico. Aliando às novidades da agricultura de precisão, cabe citar novas formas de manejo do solo e desenvolvimento de variedades. Além da cana-de-açúcar transgênica resistente à broca, materiais com maior teor de açúcares e eficiência fotossintética serão uma realidade comercial em um futuro próximo. Paralelamente às tecnologias agrícolas, fortalecer nossos parceiros estratégicos no cultivo e no fornecimento de cana-de-açúcar é vital à própria sobrevivência do setor sucroenergético.


O Brasil conta, atualmente, 70.000 produtores independentes de cana. Reúnem condições de suprir eficientemente matéria-prima que será esmagada pela indústria. Para tanto, é desejável viabilizar as áreas por esses produtores com custos competitivos e qualidade na operação, e, dessa forma, utilizar sua experiência e expertise na formação de lavoura e oferta de cana-de-açúcar. Outro tema estratégico à renovação do setor sucroenergético é a bioeletricidade. Ela tornou-se um produto indispensável no portfólio de qualquer usina. É condição absolutamente necessária que as unidades estejam aptas a produzir e exportar energia elétrica, contando inclusive com turbinas de contrapressão e de condensação mais eficientes, eletrificação dos equipamentos industriais, que permitem maior economia de vapor e melhor balanço térmico. O recolhimento no campo e a utilização da palha de cana-de-açúcar e de cavacos de madeira, em determinados momentos, além do bagaço, também são essenciais para maximizar a geração e a exportação de bioeletricidade à rede. Somado a esse cenário desafiador, trabalhamos com preços extremamente voláteis, típicos das commodities agrícolas. Ser capaz de ajustar o mix de produção tanto quanto possível às necessidades e oportunidades do mercado é um forte diferencial competitivo. Hoje, por exemplo, temos no etanol uma alternativa para superar o período de baixa cotação internacional do açúcar.

Segundo preços pesquisados pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Universidade de São Paulo (USP), e publicados pelo Conselho de Produtores de Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo (Consecana-SP), até junho, este último remunerou o produtor 10% a menos, comparativamente ao etanol. Com isso, as plantas têm destinado parte majoritária da matéria-prima à fabricação do etanol e, para viabilizar essa migração do mix e otimizar a capacidade das destilarias, observamos o uso dos mais diversos dispositivos aplicados à operação das colunas de destilação. Enfim, não existem mágicas que possam ser aplicadas à indústria da cana-de-açúcar. O que existe é espaço para muito trabalho. É certo que a melhora da rentabilidade será dada não por mais receita, mas por meio da melhor gestão do canavial, do aumento da produtividade agrícola e da eficiência industrial. Há obstáculos nesse caminho? Sim e não devem ser desprezados. Contudo, a longo prazo, a sustentabilidade da indústria canavieira depende muito mais da perseverança e da evolução de nós produtores, com contínuos investimentos, inovação e planejamento, do que de fatores externos, políticos ou de mercado, alheios ao nosso controle. Essa é a fórmula que temos utilizado com sucesso nesses anos. n

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produtores

Opiniões

a renovação e a perpetuação O setor sucroenergético brasileiro passou por muitas transformações nos últimos anos. Depois de um período de crise que ocasionou o fechamento de muitas usinas, o setor dá sinais de retomada de crescimento devido ao mercado de etanol estar mais favorável e à perspectiva do Renovabio. Mas os empresários do setor ainda estão longe de ocuparem uma posição confortável. São inúmeros desafios que precisam ser superados diariamente para manter competitivo um negócio que requer capital intensivo, está sujeito a variações climáticas, é regido por leis governamentais que mudam com muita frequência e não possui políticas definidas na matriz energética nacional. Na Jalles Machado, localizada em Goianésia-GO, a competitividade da empresa se deve ao modelo adotado ao longo da sua história, pautado principalmente em altos padrões de governança e em inovação. A primeira safra foi em 1983, com a produção de etanol. Em 1993, iniciamos a produção de açúcar. Depois, fomos pioneiros na cogeração de energia em Goiás. Iniciamos a produção de açúcar orgânico, de levedura e da linha de saneantes.

Em 2011, inauguramos a Unidade Otávio Lage, ampliando a nossa atuação no setor, uma fábrica moderna e de alta eficiência, com foco em cogeração. Isso nos permitiu, em 2015, firmamos uma parceria com a Albioma, uma empresa francesa com expertise em cogeração a partir da biomassa da cana-de-açúcar, na termelétrica da Unidade Otávio Lage, o que nos possibilitou iniciar o processo de recolhimento de palha e ampliar a cogeração nessa planta industrial. Por meio da parceria, vendemos 65% da termelétrica por 20 anos. Foi uma saída que encontramos para otimizar o nosso processo de cogeração e também conseguir capital para enfrentar um período difícil no setor. Também buscamos diversificar a nossa produção, evitando, assim, ficarmos muito concentrados em um só produto. Trabalhamos com produtos de varejo para agregar maior valor e fidelizar clientes com nossa marca própria. A nossa localização, no norte goiano, possibilita vendas para as regiões Norte e Nordeste. Focamos na qualidade dos nossos produtos, buscando mercados diferenciados. Possuímos várias certificações que nos possibilitam vender no exterior e buscar outros nichos de mercado. é importante estarmos atentos às propostas dos presidenciáveis para apoiarmos o mais comprometido com a geração de energia limpa, a produção de combustíveis renováveis e a geração de empregos no interior do País. "

Otávio Lage de Siqueira Filho Presidente da Usina Jalles Machado

Investimos em tecnologias visando à alta performance agrícola e industrial. Possuímos grande volume de área irrigada com pivôs, gotejamento e carretel, para mitigar os riscos climáticos que podem afetar a produção agrícola. Temos parcerias com institutos de pesquisa de cana-de-açúcar para desenvolvimento de novas variedades adaptadas às condições de cerrado.

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Dessa maneira, à medida que a empresa foi crescendo, o nível de profissionalização e governança foi aumentando. É muito importante que as usinas do setor se transformem em empresas com alto grau de gestão, com uma alta administração competente sendo capaz de tomar decisões acertadas, de acordo com as melhores práticas do mercado e que garantam a perpetuidade do negócio. Fazendo a lição interna, fica mais fácil estar preparado para superar os desafios externos e também as oportunidades que podem surgir no caminho. Além disso, a união dos empresários e dos líderes do setor sucroenergético nacional resultou em um marco importante: o Renovabio. Enxergamos inúmeras possibilidades e estamos muito confiantes de que será uma política que reconhecerá os benefícios da produção de etanol, sobretudo na descarbonização do planeta, dando condições de o setor voltar a crescer e se desenvolver, aumentando a sua competitividade. O setor também deve estar atento ao momento político do Brasil. O próximo presidente terá papel fundamental para a continuidade de políticas para o setor, como o Renovabio. Assim, é importante estarmos atentos às propostas dos presidenciáveis para apoiarmos o mais comprometido com a geração de energia limpa, a produção de combustíveis renováveis e a geração de empregos no interior do País. n

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produtores

Opiniões

olhares para o setor sucroenergético O setor sucroenergético gera mais de 800.000 empregos diretos no País e faz parte de uma matriz energética nacional estratégica, gerando divisas e garantindo equilíbrio na balança comercial, através da venda do açúcar. Aliás, o Brasil conquistou a honrosa posição de ser o maior exportador mundial de referida commodity alimentar, produzindo ainda o etanol de cana-de-açúcar – combustível limpo – e energia através da biomassa (bagaço), tudo com grande e ímpar capacidade de recuperação de carbono da atmosfera. Infelizmente, o contexto nacional, inclusive geopolítico, não está favorável para todos os setores da economia nos últimos anos; e o setor sucroenergético, em especial, passa por um momento totalmente atípico, porque, quando estava se reorganizando da crise política e financeira, buscando a retomada da sua produção e de modelo de gestão, teve novamente forte impacto negativo em razão de ação governamental em praticar uma política de favorecimento artificial dos preços da gasolina (combustível fóssil) em detrimento ao etanol (energia renovável), gerando prejuízos diretos e enormes para as usinas, lembrando, por meio oblíquo, os duros episódios do IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool. Não obstante, o setor sofre por reiterados anos com as alterações significativas no clima – que têm verdadeira característica de força maior, assim como sofre com a volatilidade, tanto dos preços do açúcar como da moeda americana, indexadora de suas dívidas, ou seja, todos fatores totalmente alheios ao controle setorial ou a atitudes que os produtores pudessem reverter exclusivamente com suas forças.

Já no Brasil, na última década, não houve um cuidado ou um enfrentamento efetivo dos protecionismos praticados por outros países, estes, ávidos por ganharem uma posição que foi conquistada com muito esforço pelo setor nacional. "

Sidney Meneguetti Diretor-presidente do Grupo Santa Terezinha

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Para se ter ideia, os contratos chamados Sugar NY nº 11 (Mercado Futuro de Commodity Açúcar) estão com os piores níveis de preço dos últimos tempos, praticando 10,82 centavos de dólar por libra-peso, quando, em janeiro de 2017, tanto o mercado financeiro (bancos) como as tradings (compradoras/ negociadores de açúcar), previam textualmente o valor médio de 18, 19 e até 20 centavos de dólar por libra-peso. A variação negativa da commodity açúcar impactou severamente a geração de caixa das usinas, e isso já deveria ter gerado uma interferência positiva do governo, criando, por exemplo, ao menos, um funding, visando renovar os canaviais e permitir recuperação mais rápida da produtividade, da eficiência e da competitividade, que são as únicas ações setoriais efetivas de melhora das condições para redução da alavancagem. Atualmente, existe, de fato, o RenovaBio, porém o programa não apresentou, ainda, um viés efetivo de promoção dos canaviais para geração de etanol e exportação da geração de energia elétrica, ou seja, a verdadeira promoção da energia limpa. Se for lançado um olhar para nossos players mundiais, em especial os Estados Unidos e a Europa – países com subsídios e políticas protecionistas declaradas de fortalecimento de sua agricultura e economia –, percebemos que eles estão empenhados em manter suas produções e estoques reguladores, respectivamente com etanol de milho, com açúcar da beterraba e até mesmo de cana, oriundo de países como Índia e Tailândia, garantindo o preço aos produtores.


Já no Brasil, na última década, não houve um cuidado ou um enfrentamento efetivo dos protecionismos praticados por outros países, estes, ávidos por ganharem uma posição que foi conquistada com muito esforço pelo setor nacional. Aqui, enveredou-se, como já dito, por uma política governamental de favorecimento do combustível fóssil (gasolina e diesel) em detrimento do etanol, o que gerou prejuízos imensos, desestimulou-se a produção do combustível renovável que o mundo não tem (a chamada Carta de Paris prevê créditos para redução de emissões atmosféricas) e a geração da energia da biomassa pelo processo de geração de vapor do bagaço da cana-de-açúcar, uma alternativa ambiental e econômica que diferencia o Brasil pela quantidade de usinas que possui, ainda mais nas regiões que mais demandam consumo de energia elétrica no País – Sudeste e Sul. A energia da biomassa, por exemplo, poderia estar suprindo, neste período de estiagem, e evitaria o abissal aumento do custo da energia em razão da baixa dos reservatórios e do uso das termoelétricas e Furnas, que certamente terão que ser acionadas com uso do combustível fóssil, induvidosamente com efeitos negativos do ponto de vista econômica e ambiental.

Fica evidente, pois, que essa política gerou um verdadeiro dumping contra o etanol, o que, aliado à falta de incentivo para a geração de energia elétrica da biomassa, acabou majorando prejuízos significativos ao setor e ao País, penalizando sobremaneira as usinas, ainda mais neste momento de baixa de preços do açúcar e alta do dólar. A perspectiva, contudo, é favorável para os próximos anos, na medida em que as usinas vão, cada vez mais, reorganizar seu quadro de profissionais e focar no aumento da produção, com aumento de eficiência via ganho de produtividade agrícola e diferenças de escalas logísticas, que são as verdadeiras soluções e cuidados que o setor pode e deve avançar, esperando, como todo agricultor, que o mercado reaja com os preços do açúcar, e o Governo Nacional seja mais proativo em equiparar, apenas um pouco, o Brasil com as políticas protecionistas de auxílio aos produtores locais, que outros players do mercado mundial praticam sem o menor pudor, o que servirá para minorar os prejuízos do setor, sofrido pela política de favorecimento dada aos combustíveis fósseis, pelas variações climáticas, cambiais e de preço, dando maior previsibilidade e segurança aos produtores que geram importantes quantidades de empregos no País. Brazil first! n

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entidades

o desafio de ampliar a

eficiência econômica e ambiental

As constantes alterações nos mercados e a necessidade de mudanças na atuação das empresas é uma rotina conhecida no mundo dos negócios, mas a velocidade com que essas alterações têm ocorrido aumentou significativamente nos últimos anos. O mundo passou por transformações importantes com a globalização e, mais recentemente, com a nova era digital. Inúmeros são os exemplos de companhias, referências em seus segmentos, que simplesmente deixaram de existir por não se adaptarem a essas mudanças.

Nesse ambiente, a capacidade de aprendizagem, a velocidade de adaptação e a habilidade para se antecipar às mudanças são características fundamentais para o sucesso e decisivas à sobrevivência, qualquer que seja o segmento de atuação da organização. No caso do agronegócio, caracterizado pela oferta de produtos homogêneos em um ambiente pulverizado e altamente competitivo, as empresas precisam se concentrar principalmente nas inovações relacionadas à maior eficiência técnica e à redução nos custos de produção. A beleza do modelo é que ele valoriza ganhos de eficiência ambiental do lado do produtor, induzindo investimentos em novas práticas e o emprego de tecnologias ou infraestrutura redutoras de emissões. "

Luciano Rodrigues Gerente de Economia e Análise setorial da Unica Coautora: Mariana Zechin De Lucca, Analista de Mercado da Unica

Para o setor sucroenergético brasileiro, esse processo é especialmente desafiador. Afinal, como ampliar a eficiência ou mesmo fomentar o uso adequado das tecnologias já disponíveis diante da preocupante limitação de recursos para investimentos? As políticas erráticas no mercado de combustíveis no Brasil acentuaram enormemente as dificuldades financeiras enfrentadas pelo setor desde a crise mundial em 2008. A esse cenário, somam-se as modificações no sistema produtivo da cana-de-açúcar advindas do crescimento acelerado da mecanização da colheita e do cultivo em novas áreas, além das práticas recorrentes de protecionismo no mercado internacional de açúcar. Essa condição, a despeito da presença de usinas que ainda apresentam boa saúde econômico-financeira, promoveu uma sensível redução na produtividade da agroindústria canavieira ao longo da última década. Obviamente, inexiste uma receita única para reverter esse quadro.

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Opiniões Serão necessários criatividade, conhecimento e empenho das empresas para aprimorar a gestão dos recursos disponíveis e incorporar novas tecnologias produtivas. Especificamente no segmento agrícola, essa recuperação passa pelo uso de variedades mais adaptadas às condições locais, pelo emprego de maquinário com maior rendimento e de ferramentas de agricultura de precisão com eletrônica embarcada, dentre outros fatores. Observa-se, ainda, o surgimento de novas tecnologias de plantio, como o uso de mudas pré-brotadas e a sinalização de possível ruptura tecnológica diante do desenvolvimento da semente artificial de cana-de-açúcar. A cana-de-açúcar transgênica resistente a insetos também deverá ser uma realidade comercial nos próximos anos. Igualmente, variedades com maior tolerância à seca, maior produção de açúcares e maior eficiência fotossintética poderão surgir no futuro próximo. A geração de bioeletricidade e a adoção de sistemas para o aproveitamento da palha, a criação de usos alternativos para a vinhaça e a produção de biogás e de biometano também devem ser elementos essenciais às usinas que buscam aprimorar seus processos produtivos. O esforço para ampliar a eficiência econômica diante das opções tecnológicas em desenvolvimento e de outras que devem surgir nos próximos anos é um atributo essencial para a remodelagem do setor sucroenergético brasileiro. Outra vertente ainda pouco explorada pela agroindústria canavieira no País refere-se à eficiência ambiental relacionada à produção de energia renovável com baixo nível de emissão de gases causadores do efeito estufa (GEE). Assim como a globalização e a revolução digital, o combate ao aquecimento global tem norteado importantes transformações, tanto nos perfis de consumo quanto no desenho de políticas públicas. Seja pela crescente pressão ambiental e social ou por interesses comerciais e geoestratégicos, o direcionamento da matriz energética para o emprego de fontes limpas e sustentáveis é um processo irreversível. Com repercussões evidentes sobre o ambiente de negócios, esse se tornou um tema estratégico para todas as empresas. Novas exigências, como também oportunidades, devem surgir com a economia de baixo carbono. Felizmente, para o setor sucroenergético, o primeiro movimento nesse sentido foi iniciado com a aprovação da Política Nacional de Biocombustíveis, o RenovaBio. O programa, após a sua adequada implementação, deve estabelecer um engenhoso mecanismo de valorização do potencial de descarbonização dos biocombustíveis, que corresponde às emissões de GEE evitadas pela substituição do derivado fóssil pelo combustível renovável. Aos produtores que participarem da iniciativa, será concedida a oportunidade de emissão de um título de

descarbonização, conhecido como CBio (Crédito de Descarbonização por Biocombustível). O referido título se assemelha a um ativo financeiro, negociado em bolsa, outorgado ao agente produtor em quantidade proporcional ao volume de renovável por ele comercializado. Especificamente, o número de CBios emitidos por volume de biocombustível vendido dependerá da nota de eficiência energético-ambiental do produtor. Assim, usinas e destilarias mais eficientes sob o ponto de vista ambiental poderão emitir uma maior quantidade de CBios por volume de etanol comercializado. Quanto maior a capacidade de descarbonização do renovável fabricado, maior o número de títulos emitidos. Esses títulos, por sua vez, serão adquiridos pelas distribuidoras de combustíveis, parte obrigada do programa. A cada ano, essas empresas terão de adquirir um montante progressivamente maior de CBio, com vistas à consecução de metas de redução de intensidade de carbono da matriz nacional de transporte. A beleza do modelo é que ele valoriza ganhos de eficiência ambiental do lado do produtor, induzindo investimentos em novas práticas e o emprego de tecnologias ou infraestrutura redutoras de emissões. Nessa condição, as empresas deverão passar a avaliar seus projetos, considerando tanto os tradicionais ganhos econômicos, relacionados à redução de custos por unidade produzida, quanto os ambientais, decorrentes da emissão reduzida de GEE. Essa lógica se alinha à revolução que vem sendo desenhada mundialmente no setor de energia, na busca pelo uso consciente pelo emprego de tecnologias energeticamente menos intensivas e por fontes com menor emissão. Para se ter uma ideia da magnitude dessa transformação, os esforços atuais nos diferentes segmentos compreendem desde aprimoramento e barateamento de painéis solares fotovoltaicos até avaliações impensáveis há poucos anos, como a possibilidade de exploração de hélio 3 na superfície lunar. Trata-se de um movimento que pode trazer oportunidades importantes ao setor sucroenergético, desde que seja superado o desafio de ampliar o desempenho econômico e ambiental dessa indústria na produção de etanol, de bioeletricidade, de biogás e de novos produtos. Mais ainda, o futuro dessa indústria no campo energético passa pela consolidação da cana-de-açúcar como uma máquina eficiente de conversão de energia solar. Esse processo depende de esforços institucionais para garantir um ambiente regulatório adequado, além de ações de comunicação a partir de uma linguagem apropriada e de argumentos tecnicamente fundamentados. Depende, enfim, especialmente de um trabalho árduo e consistente dos produtores para ampliar a eficiência produtiva da cadeia sucroenergética nas suas diferentes vertentes. n

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entidades

Opiniões

a revolução na disseminação do conhecimento

É consenso no setor da bioenergia que sua renovação esbarra no aumento de eficiência e na redução de custos operacionais. A grande questão, no entanto, é de que forma podemos capitalizar esses esforços para que possamos sair fortalecidos, uma vez mais, nesta nova fase de desenvolvimento que será fomentada, em grande parte, pela nova Política Nacional de Biocombustíveis – o RenovaBio. Enquanto entidade que tem em seu DNA a transferência e o compartilhamento de conhecimento, a UDOP – União dos Produtores de Bioenergia, trabalha há quase quatro décadas na qualificação e na capacitação profissional, já tendo qualificado mais de 120 mil profissionais em sua história. Por sermos uma entidade prestadora de serviços, uma nova fase se abre dentro da nossa missão: a de nos firmarmos como uma associação que sugestiona, promove a publicidade e aplicabilidade às inúmeras pesquisas que hoje são desenvolvidas em institutos e universidades públicas e privadas. E, por essa razão, estabelecemos parcerias com centros de excelência em pesquisa no último e neste ano, para que toda a expertise oriunda de trabalhos acadêmicos possa atingir suas metas com a implementação efetiva no cotidiano das unidades agroindustriais. Infelizmente, muitas pesquisas acabam sendo engavetadas por falta de incentivo e acabamos por patinar em questões básicas, como a baixa produtividade dos nossos canaviais, que outrora já se aproximaram da casa dos três dígitos em termos de produtividade, mas, hoje, giram em torno de pouco mais de 70 toneladas por hectare. Identificar onde estão os gargalos que impedem a aplicação dessas pesquisas é um passo inicial para que possamos evitar o desperdício de conhecimento, que ocorre quando mais necessitamos de resultados. Aprendemos que o açúcar, o etanol e a bioletricidade são produzidos no campo, através das melhores práticas agronômicas e industriais em nossa matéria-prima básica: a cana-de-açúcar. Aliado a isso, temos que trabalhar constantemente em performances mais eficientes nas indústrias para trazer resultados mais rentáveis ao setor. Por décadas, coexistimos com institutos e centros de pesquisas que difundiram e estudaram variedades e sistemas de gestão voltados para regiões tradicionais. Alguns, inclusive, incentivados e mantidos pelo próprio setor ou por organismos estatais.

No entanto, a partir de 2000, a realidade do setor se transformou com a expansão de novas fronteiras agrícolas, o que não foi acompanhado por esses institutos de pesquisa, alguns dos quais, sequer sobreviveram. Sem pesquisas adequadas, o setor foi pego num momento de expansão, que culminou no período em que precisamos dobrar nosso tamanho, mas órfão de pesquisas para essas novas fronteiras. Muita cana comercial foi replicada, com sistemas de gestão estudados para regiões em solos mais ricos e com os resultados que vemos hoje. Nesse cenário, é imprescindível o trabalho em conjunto com instituições de pesquisa para desenvolvermos com maestria os processos operacionais e de gestão, embasados em metodologias e técnicas fundamentadas. Pensando nisso, formatamos nossa já tradicional série de eventos para que o maior número de usinas possa compartilhar seus resultados, realizar pesquisas, tornar públicos os resultados de aplicação e, por conseguinte, difundir esses resultados, que prometem revolucionar o setor. Além do tradicional Congresso Nacional da Bioenergia, já em sua 11ª edição, se firmando como maior evento do setor, a entidade realizará, em novembro, o Seminário Udop de Inovação, onde as universidades, centros de pesquisa, startups e as próprias usinas poderão apresentar suas linhas de estudo voltadas para nosso setor. Com isso, esperamos criar o ambiente propício para a ampla difusão da inovação em sua forma mais ampla. Formatamos ainda o Fórum Udop de Implementação Tecnológica, evento que realizaremos no mês de março de 2019, com o objetivo de mostrar os resultados práticos da aplicação das inovações, demonstrando e triando de forma segura as pesquisas que mais surtiram resultados em sua aplicabilidade nas usinas. Entendemos que esse fomento, troca de experiências e aplicação de conhecimento possam transformar a grande mola propulsora que nos alçará, num breve futuro, para patamares de maior excelência, onde a meritocracia das usinas, estimulada pelo RenovaBio, possa ser premiada e incentivada. O RenovaBio, inclusive, que se mostrou como clara política de Estado, e não de governo, passa a tratar o setor sucroenergético como estratégico no que se refere à matriz energética brasileira e, também, consolida o nosso país como referência no uso e no incentivo de combustíveis renováveis. Na nossa visão, o fortalecimento da Udop passa por agregar novas usinas como associadas, visando ampliar a capacitação e a qualificação dos profissionais do nosso setor. n

Entendemos que esse fomento, troca de experiências e aplicação de conhecimento possam transformar a grande mola propulsora que nos alçará, num breve futuro, para patamares de maior excelência "

Amaury Pekelman

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Presidente da UDOP



entidades

Opiniões

mudanças inquietantes nos impõem desafios Diante da realidade atual do setor sucroenergético, que passa por inúmeros desafios, o momento de dificuldades e incertezas deve ser aproveitado naturalmente como um importante aprendizado, do qual extrairemos as lições e as experiências para chegarmos a um ambiente mais estável. A constância do aprender e do reaprender faz parte do nosso dia a dia; reciclar conhecimentos e buscar soluções e inovações sustentáveis, também. De toda forma, é inquietante a mudança que se observa pelo mundo, com a onda verde, buscando-se, de energias alternativas, algo que, com certeza, nos levará a uma transformação muito significativa nos próximos anos. A nosso ver, será uma mudança adequada a cada região do planeta e das peculiaridades de cada país. Híbrido flex: No Brasil, que possui uma indústria automobilística de base, há de se pensar nos impactos sociais e econômicos que serão provocados por esses novos tempos. Mas aqui, em especial, se vislumbra uma grande oportunidade, por se contar com um combustível renovável e um parque industrial estruturado. Referimo-nos ao veículo híbrido flex, que consome etanol com baixíssima emissão. Experiências têm demonstrado que esse veículo a etanol emite cerca de um terço a menos de gramas de gás carbônico equivalente/quilômetro do que um veículo elétrico europeu (considerando a fonte de energia elétrica na UE). Nosso híbrido flex revela-se ainda mais econômico, sendo que a indústria nacional detentora dessa tecnologia poderá, assim, não apenas ter prosseguimento, como também incrementar a sua atividade. Especialistas projetam um grande potencial para essa opção tecnológica até, pelo menos, 2040, quando, segundo eles, a tecnologia/fator custo-benefício dos veículos elétricos com fonte na energia solar vai passar a dominar o mercado, principalmente pela sua eficiência.

é preciso pensar em produtos alternativos, com maior valor agregado, atrelado ao crescimento mundial da demanda por produtos renováveis e recicláveis "

Miguel Rubens Tranin Presidente da Alcopar

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No entanto, quando falamos em energia elétrica no Brasil, a certeza é de que será necessário investir muito em geração e em transmissão, uma vez que continuamos ainda no limite do risco de apagões, em especial se houver um ciclo de crescimento do País. Considerando que apenas vinte anos nos separam dessa realidade, não temos ainda uma resposta quando nos perguntamos: qual o horizonte de investimentos nesse prazo? Renovabio: Por outro lado, contamos, no Brasil, com um programa que é fruto de uma grande união nacional pelos biocombustíveis, setores sucroenergéticos e de biodiesel, que se soma ao trabalho do Ministério das Minas e Energia, Empresa de Pesquisa Energética e Agência Nacional de Petróleo e Gás. Trata-se do RenovaBio, que, se receber incentivos e a esperada continuidade na sua implantação, poderá reduzir ou eliminar a dependência governamental, por meio da comercialização dos CBios . Etanol de milho: Nesse cenário, o etanol de cana-de-açúcar enfrenta também o desafio trazido pelo etanol de milho, que, se antes era uma realidade apenas nos EUA, agora já se transformou em um concorrente no mercado brasileiro, onde passou também a ser produzido em escala.


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Estima-se que, nos próximos dois anos, o volume de produção no Brasil já atinja 4 bilhões de litros, potencializado pelo aproveitamento de subprodutos resultantes da fermentação. É o caso do óleo de milho e do DDGS (Distillers Dried Grain with Solubles – grãos de destilaria secos com solúveis) e também do WDG (Wet Destillers Grain – grãos de destilaria úmidos), destinados à nutrição animal (aves, suínos e bovinos). A demanda por esses produtos tem crescido a cada dia, com valores de mercado já superiores ao preço do milho em grão. Outro atrativo é o seu modelo industrial de microdestilarias, adequadas a menores áreas e com integração à pecuária, lembrando que um dos diferenciais do DDGS é possuir três vezes mais proteína e pesar um terço do peso do milho. Açucar: Não podemos deixar de mencionar, nesse panorama de mudanças, a demonização que se faz do açúcar, por parte de alguns segmentos, sendo o produto propagado como o vilão pela obesidade, com recomendação de redução de consumo inclusive por parte da OMS (Organização Mundial de Saúde). É preciso ter a consciência de que a causa real da obesidade em alguns países – notadamente os Estados Unidos – reside na alimentação desregrada, com excesso de calorias, e não apenas em um determinado alimento. De toda maneira, isso vai requerer um grande empenho e investimento em conscientização para que possamos atenuar a sistemática propaganda

negativa sobre o açúcar. Acrescente-se a isso o fato de que o aumento da produção mundial de açúcar, notadamente nos países onde há concessão de subsídios, tem pressionado sobremaneira os preços das commodities. Lavouras: No campo, perdemos muito em relação à produtividade das lavouras com a proibição da queima e a mecanização da colheita, ocasionando compactação, o que se soma ao uso de variedades não adequadas e ao surgimento de pragas e doenças que reduzem drasticamente o tempo de renovação dos canaviais, fatores esses que vêm afetando seriamente as margens do setor. Uma das providências mais urgentes, portanto, é a recuperação da produtividade, uma necessidade praticamente comum em todos os estados produtores, principalmente no Paraná, onde a queda nos últimos anos tem sido grande. O cuidado pela qualidade de variedades melhoradas, adequadas à mecanização, bem como mudas saudáveis, está no radar dos investimentos nessa área. Muito a desenvolver: Por fim, vale frisar que é preciso pensar em produtos alternativos, com maior valor agregado, atrelado ao crescimento mundial da demanda por produtos renováveis e recicláveis. Os desafios estão aí, o setor tem muito a se desenvolver nessa área na qual, sem dúvida, caminharemos para construir tempos mais promissores. n

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entidades

é necessário recuperar a O Brasil passa por um dos piores momentos da sua história na área econômica e política, e, ultimamente, estamos fazendo mais um trabalho de psicologia, tentando levantar o moral dos nossos compatriotas, do que sendo analista em busca de cenários positivos que acabam por moldar as estratégias empresariais. Isso não é muito diferente no setor sucroenergético, que também passa por tempos de provação, exigindo criatividade e resiliência de executivos e empresários do setor. Se, por um lado, as grandes transformações globais podem ajudar as cadeias econômicas mais tradicionais, por outro, a inovação pode balançar as estruturas e desorganizar sistemas econômicos centenários e já consolidados. No mundo do agro, não é muito diferente, aliás, na minha opinião, veremos mudanças até maiores nos próximos anos, simplesmente porque o campo de trabalho é extremamente vasto, com resultados que poderão aparecer no curto prazo.

Isso não é uma suposição, mas sim uma constatação; existe sim uma má vontade generalizada contra o setor de cana no Brasil, e, para resolver isso, será preciso investir. "

Mário Campos Filho Presidente da SIAMIG

Esse processo geralmente requer um tripé muito importante. Inicialmente, é necessário ter uma ideia inovadora, que normalmente nasce a partir de um problema identificado; depois, é preciso ter a engenharia financeira ou um ecossistema inovador que possibilite essa ideia ser desenvolvida.

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confiança

Por fim, é preciso encontrar um ambiente de aceitação do novo por parte daqueles que poderão efetivamente usufruir da proposta, na qual também incluímos a abertura por parte das autoridades reguladoras. Esse movimento é exemplificado pelo mundo das startups, algumas delas já com grande sucesso. Na indústria em geral, se fala muito no 4.0, com uma grande transformação com a robotização e a digitalização dos processos, sensores que dão maior capacidade de gerenciamento, correção dos problemas com menor tempo e melhoria dos processos produtivos com mais facilidade. A geração de dados virou uma febre, falta agora saber a melhor forma de organizá-los e o que faremos com eles. Da mesma forma, o agro caminha para o 4.0. É nesse novo mundo, em constante e rápida transformação, que o setor sucroenergético brasileiro precisa se renovar e se remodelar. As estratégias de longo prazo precisam levar em conta as macrotendências mundiais e suas consequências sobre o setor, sendo a primeira os avanços tecnológicos já abordados.


Opiniões Passamos por uma mudança rápida na demografia, com um crescimento e envelhecimento da população, associada a uma urbanização acelerada, com a migração do campo. Soma-se a essas três tendências o deslocamento do poder econômico mundial, principalmente com o crescimento do poderio chinês, além, é claro, da preocupação cada vez maior com as mudanças climáticas, que, em geral, causa escassez de recursos. Analisando de perto essas tendências, é possível concluir que o setor sucroenergético está totalmente inserido nesse contexto, com oferta de alimento e energia limpa. Contudo estamos no Brasil, e as incertezas econômicas, políticas e institucionais têm tirado principalmente a confiança tão necessária aos novos investimentos, principalmente na entrada de novos players. Da mesma forma, a falta de confiança no futuro tem afastado jovens talentos e profissionais capacitados do setor. Algo precisa ser feito, é necessário recuperar a confiança. Atualmente, o setor tem recebido forte pressão devido aos vultosos subsídios de países produtores de açúcar, além de campanhas negativas contra o seu uso, com alto potencial de impacto no consumo do produto. Pelo lado da energia, há um grande movimento mundial em favor do carro elétrico a bateria, principalmente associado ao aumento do uso de energia solar fotovoltaica, um verdadeiro rolo compressor que prega o uso de consideráveis benefícios com recursos por parte dos fabricantes de equipamentos, governos e, também, pelo mercado financeiro. A busca da solução começa dentro do próprio setor. A procura da eficiência e de menores custos precisa ser intensificada; o setor precisa ficar mais competitivo, para isso será preciso produzir mais sacarose por hectare de cana. A tecnologia está pronta para atender ao setor, é preciso intensificar a conectividade do campo com a gestão, os dados precisam ser coletados, transmitidos e auxiliar na tomada de decisão. Um associado da Siamig, recentemente, reportou um fato que corrobora essa análise. A aplicação de defensivos realizada com máquinas coloca, muitas vezes, os colaboradores das usinas em um trabalho solitário e distante da unidade industrial. Em uma área de 500 hectares, percebeu-se, de um ano para outro, uma perda de produtividade de mais de 20% com o aparecimento de uma praga específica, em contraponto com o restante das áreas da empresa. Após a análise do fato, ficou constatado que o funcionário não havia aplicado o produto na área específica no momento correto. Se existisse um sistema de monitoramento interligado, o erro provavelmente teria sido corrigido rapidamente, e o prejuízo seria mínimo.

Para tal, é necessária uma maior organização no ambiente de pesquisa e de desenvolvimento do setor no Brasil, seja no ambiente digital, industrial e principalmente no agrícola. Há uma escassez de recursos geral que tem prejudicado as poucas ações hoje existentes. Devido à atual situação financeira do governo brasileiro, constata-se que a solução passa principalmente pelo setor privado. Iniciativas como o etanol de segunda geração, a cana transgênica ou transformações nos sistemas de produção podem ser aceleradas em um ambiente como esse. Com a casa arrumada, é necessário um trabalho no ambiente institucional. A primeira ação é a consolidação das regras do mercado de combustíveis no Brasil. Essa proposta passa por 4 pontos: regras de precificação clara dos derivados, aumento da concorrência no mercado de distribuição, o fim do monopólio, de fato, do refino e do transporte por duto, pela Petrobras, e, claro, pela implantação definitiva do RenovaBio. Sem dúvida, essas quatro ações alterariam sobremaneira a percepção do mercado, tanto de produtores quanto de investidores, sobre o futuro do etanol no Brasil. Também no campo institucional, que envolve todo o setor exportador brasileiro, é imprescindível que o Brasil mude sua postura nas negociações comerciais com o mundo. Nosso país tem mais de 200 milhões de habitantes, com um grande mercado consumidor, somos grandes exportadores de commodities e precisamos ter mais efetividade no comércio internacional. Por fim, o setor precisa se comunicar com a sociedade, um investimento constante e institucional. Não dá mais para negligenciar o fato de que, apesar de o setor realizar um grande trabalho, tanto de cunho ambiental quanto econômico e social, há um sério preconceito que ronda todas as ações desse setor tão importante para a sociedade brasileira. Isso não é uma suposição, mas sim uma constatação; existe sim uma má vontade generalizada contra o setor de cana no Brasil, e, para resolver isso, será preciso investir. É necessário engajar toda a cadeia, do produtor de insumos ao produtor de cana e à indústria de máquinas, enfim, todos que, de uma forma ou de outra, se beneficiam de um segmento que gira mais de R$ 100 bilhões todos os anos. Por fim, o futuro do setor passa pelas suas próprias mãos; teremos muitos “inimigos” pela frente, setores muito bem organizados e conectados com a mais alta tecnologia e com as macrotendências mundiais, mas a resiliência e o empreendedorismo que nos trouxeram até aqui poderão, com um pouco mais de organização, estratégia e espírito de grupo, nos trazer de volta o protagonismo de outrora. n

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entidades

Opiniões

reorganizar já! Estamos vivendo um momento de muita apreensão em nosso país. Em poucos meses, escolheremos os nossos novos representantes que conduzirão o Brasil nos próximos anos. Cada um de nós procura chegar perto daqueles que podem ser eleitos, e, como representantes classistas, tentamos mostrar as nossas angústias, anseios e o que o setor necessita para voltar a ser forte e remunerador. A empreitada é árdua. Muita coisa deve ser considerada, como a economia interna e externa, políticas públicas, opinião dos consumidores e perspectivas macroeconômicas. A esperança nos move nesse momento, e é imprescindível o compromisso e empenho de todos. É notório que o Brasil precisa de mudanças. Poderia citar aqui inúmeros episódios que se passaram em nosso país nos últimos quinze anos e que mancharam a nossa história. Por um lado, isso fortaleceu algumas das nossas instituições que, hoje, tem mais força, segurança e apoio para fiscalizar e tomar as atitudes necessárias para o cumprimento das leis. Por outro lado, mostra que o sistema político nacional precisa de urgentes alterações.

Não podemos aceitar o “mais do mesmo”. Precisamos de mentes novas e abertas aos desafios atuais, que possam fazer uma política limpa, pensando no País e não nos próprios interesses ou do partido. Esse desafio cabe a nós eleitores. Está na hora de perguntarmos o que John Kennedy perguntou, em 1961, para seu povo: “O que você pode fazer pelo seu país?”. A política desastrosa fez com que os brasileiros ficassem céticos em relação ao futuro do País. Recentemente, o jornal Folha de S. Paulo publicou uma reportagem segundo a qual 62% dos nossos jovens, se pudessem, deixariam o País, alegando falta de oportunidade, insegurança e frustração com a administração pública nacional. Não era de se espantar. Hoje, o Brasil conta com o significativo número de mais de 13 milhões de trabalhadores desempregados. O Brasil não está contratando. O aparelhamento do governo, baseado e administrado por ideias sindicalistas, fez com que o empregador pensasse duas vezes na hora da admissão, quando não, fechasse as portas das empresas por injustiças trabalhistas praticadas contra o empregador. Esse período da nossa história parece estar com os dias contados devido à atualização da CLT, que não está como deveria, mas já mostra uma equidade maior entre colaborador e empresário. Trazendo esse cenário para o nosso setor, vimos uma atividade extremamente importante para o País parada por falta de investimentos e de insegurança quanto ao futuro. O setor sofreu muito com a política de preços da gasolina praticada pelos governos populistas anteriores, que vislumbravam apenas a continuidade no poder e deixou o nosso país à míngua. Devemos nos aproximar de legisladores que escutem a nossa voz, entenda todo o nosso processo, enxerguem e desenvolvam políticas de longo prazo com segurança jurídica, para que investidores possam voltar a se interessar pelo setor "

Bruno Rangel Geraldo Martins

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Presidente da Socicana



entidades Quando pensávamos que a Petrobras estava no caminho certo, voltando a ter interesse do investidor estrangeiro, aumento do seu capital, mostrando ao mundo que era uma grande empresa em retomada de crescimento, vem mais uma vez o governo e interfere na sua política, o que refletiu imediatamente no setor sucroenergético. Temos a esperança no RenovaBio, que pode trazer uma transparência maior ao setor, trabalhar com a meritocracia e gerar uma receita extra para os industriais. É imprescindível que o produtor de cana entenda, participe e ganhe com esse processo juntamente com as usinas. Não podemos mais ver os números astronômicos de certas unidades industriais que crescem, ampliam sua capacidade de moagem e capital, investem em tecnologia de produção, e o produtor de cana não participa desse processo e fica cada vez mais endividado, com a sua cana remunerada por um sistema inteligente, que é o Consecana, porém ultrapassado. O diálogo deve ser constante, para que possamos chegar a um valor justo da matéria-prima, tanto para as indústrias como para os fornecedores. Aliado a todo esse processo, temos o dever de mostrar ao consumidor o que realmente é o nosso setor. Estamos sendo assombrados constantemente pelo carro elétrico como sendo mais limpo e eficiente. Será que é verdade? A agência ambiental da Europa diz que se a estimativa de 80% de veículos elétricos se concretizar até 2050, o aumento na demanda por energia elétrica irá aumentar 25% em relação à demanda atual nos 28 países-membros da União Europeia. E adivinhe como é produzida a energia elétrica europeia? Quase metade (48,1%) vem das usinas térmicas, movidas a combustíveis fósseis. E no Brasil não é diferente. Os nossos veículos necessitam ser atualizados para trabalharem sob uma melhor performance, eficiência e autonomia, e temos, com o etanol, um passo gigantesco à frente. Precisamos focar na política de utilização do nosso combustível. Sabemos que as entidades fazem, e muito, para que o governo possa enxergar essa realidade. Falta o outro lado aderir à causa, que trará, sem dúvida, nova esperança ao setor. Por mais que tentemos planejar o nosso futuro de uma forma independente, é imprescindível que o setor comece a pensar coletivamente. Enxergamos, muitas vezes, algumas situações regionais em que as unidades industriais dão passos gigantescos, e o produtor de cana continua estagnado, ou, até, perdendo o seu patrimônio para honrar os seus compromissos financeiros. A nova fase dessa cadeia deve ser totalmente integrada. Devemos utilizar o Consecana para determinar o valor da cana-de-açúcar e, aliado a ele, devemos discutir regionalmente entre associações e usinas qual o valor justo para a matéria-prima.

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Opiniões O conceito de produtor integrado deve ser incorporado nessa cadeia tão complexa, e que os lucros, os prejuízos e todos os riscos inerentes ao negócio sejam compartilhados entre as partes. A dependência é mutua, e nada mais justo que ambas possam andar de braços dados compartilhando riscos. Feito isso, teremos um setor mais profissional, produtivo e atraente para os produtores. Além das questões regionais, os dois lados devem lutar juntos pelas questões macroeconômicas da nossa atividade. Vivemos em constantes discussões em relação à utilização do etanol como combustível limpo e sustentável do País. Essa agenda deve ser comum, compartilhada e discutida com as esferas governamentais e os organismos internacionais. A luta pela adoção do etanol como combustível principal deve ser de ambas as partes, alocando esforços, participando de discussões e ajudando na difusão da tecnologia. Outra questão importante é em relação ao açúcar. Os valores internacionais do produto estão em patamares muito baixos, o que traz baixa remuneração tanto para as indústrias como para os produtores de cana. Sabemos que alguns países asiáticos subsidiam os seus produtores, fazendo com que exista uma injustiça na aferição dos preços. Recentemente, estivemos em Roterdã para um encontro da WABCG e, de uma forma enfática, um trader internacional experiente foi implacável com os produtores de beterraba: “Ou se diminui a área de plantio de forma deliberada, ou o mercado fará isso de forma cruel”. Outra questão importante é em relação à propaganda contrária ao consumo de açúcar que vem crescendo ao redor do mundo e que interfere negativamente no setor. Será que o vilão é mesmo o açúcar? Será que os nossos jovens não estão deixando de se exercitar e cada vez mais ficam em suas casas, ociosos, utilizando equipamentos eletrônicos? São perguntas que devem ser respondidas em conjunto, indústrias e produtores, para que não sejamos taxados como vilões. Enfim, a nossa atividade precisa ser reinventada. Devemos nos aproximar de legisladores que escutem a nossa voz, entenda todo o nosso processo, enxerguem e desenvolvam políticas de longo prazo com segurança jurídica, para que investidores possam voltar a se interessar pelo setor e que ele volte a crescer e gerar divisas para o Brasil. Precisamos fortalecer a parceria indústria-produtor, desenvolvendo um novo Consecana, atualizado com a realidade do setor e que possa fazer com que ambas as partes caminhem juntas, dividindo os riscos da atividade e trabalhando de forma integrada. Acreditamos muito nesse negócio e temos a certeza de que, juntos, poderemos ser os grandes desenvolvedores do setor sucroenergético. Isoladamente, pouca coisa irá mudar. n




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