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Roberto Hollanda Filho
a próxima onda
O segundo milênio começou com uma grande promessa para o setor sucroenergético. A “comoditização” do etanol e a geração de bioeletricidade eram dois fortes geradores de investimento. Em 2008, quando a Biosul estava sendo criada, eram setenta e dois projetos de greenfi elds no MS.
O que aconteceu em seguida todos já sabem e não carece comentar, os motivos da crise e – esperemos – suas lições já foram largamente debatidos.
Ainda assim, o Mato Grosso do Sul saiu da década muito mais importante para a nossa indústria. Os 14 milhões de toneladas de cana processada na safra 2008/2009 já alcançaram 50 milhões, com a característica marcante de produção de etanol, que direciona sempre mais de 70% da matéria-prima.
Somos, hoje, 19 unidades em operação, 3º maior estado produtor de etanol na safra 2018/2019 –com mais de 3 bilhões de litros, 5º maior produtor de açúcar – que é produzido em 11 unidades com 900 mil toneladas; 13 unidades exportam para o Sistema Interligado Nacional 2.700 GWH –
equivalente a 40% de toda a energia consumida no estado, o 2º maior exportador de bioenergia de biomassa de cana do Brasil. Nossos melhores índices: geramos mais de 30.000 empregos diretos, com as melhores médias salariais de agricultura e indústria no MS, com a segunda maior massa salarial entre todo o setor produtivo.
Os impactos nos municípios canavieiros do MS são de uma eloquência a toda prova, com a criação de polos de desenvolvimento em todo o estado, mesmo aqueles indicadores que não se relacionam diretamente à atividade.
E estamos prontos para olhar para a frente.
Na direção do RenovaBio, construímos uma agenda no estado, com o objetivo de aproveitar o bom momento que pode vir, criando o melhor ambiente possível para investimentos, seja de empresas já instaladas, seja de novos entrantes.
O Mato Grosso do Sul tem notável potencial de crescimento, com cerca de 8 milhões de hectares disponíveis, já que nossos colegas da pecuária demandam cada vez menos área, o que signifi ca crescer sem desmatar e recuperando áreas subaproveitadas, valorizando a sustentabilidade fundamental para nosso setor. A estrutura fundiária, com disponibilidade de propriedades de maior tamanho, é outro indicador que atrai investimento, facilitando expansão e instalação de áreas para cana-de-açúcar.
Há interação constante com o governo estadual, um agente fundamental que, mesmo em um momento difícil para os gestores públicos, tem tomado medidas estratégicas para mostrar que aposta no setor. Um exemplo recente é a diminuição da alíquota de ICMS para etanol, melhorando a competitividade com a gasolina.
Em outro sentido, trabalhamos juntos para des- burocratizar nossa operação, tanto em processos de licenciamento quanto no aspecto fiscal. Esperamos avanços também em logística, melhorando tráfego de cana e escoamento de produtos.
Qualificação é uma questão que não pode ser gargalo para crescimento, e, nesse sentido, também existe uma agenda permanente com a FIEMS e FAMASUL, respectivamente Federação das Indústrias e Federação de Agricultura do MS. Na mesma direção, entrosamos com a academia, criando espaços para alunos e pesquisa e aprovei- tando, em regime de rede, todo o esforço de pes- quisa possível.
No processo de interação com outras represen- tações institucionais e governo, vamos desenvolver uma agenda voltada para esse outro potencial do MS, o etanol produzido a partir de milho, atualizan- do todo o racional de produção para unidades flex e dedicadas, envolvendo não só a cadeia de produção do milho, mas também de consumo de outros produ- tos gerados a partir de seu processamento.
Não podemos perder de vista o horizonte fede- ral. É imperativo aproveitar a força do setor, que, quando se une, obtém conquistas importantes, a exemplo do RenovaBio, que passou no Congresso em tempo recorde, com votações expressivas nas duas casas. Precisamos acompanhar qualquer pas- so referente ao programa, bem como as reformas que se avizinham. Para tanto, a atuação do Fórum Nacional Sucroenergético é fundamental e conta com o apoio da Biosul.
Uma tecla na qual não canso nunca de bater: comunicação. Nosso esforço enquanto representa- ção institucional é importante e tem dado frutos; no entanto precisamos alcançar a sociedade de forma mais ampla e estruturada. Fora do setor, ainda exis- tem estigmas muito sérios que atrapalham o nosso crescimento.
Não faltam bons vetores de comunicação no se- tor sucroenergético. Nossa produção é sustentável, geramos emprego, usamos tecnologia moderna e brasileira, “tem pra todo gosto”. No entanto ainda corremos atrás do prejuízo para dizer, por exemplo, que o carro elétrico não vai acabar com toda for- ma de transporte em 2020, nem que vamos plantar cana no Pantanal, para citar um absurdo local que virou notícia. Fora o açúcar, que tem sido vilanizado com reação pouco efetiva por nossa parte.
Enfim, se desenha mais um momento de opor- tunidade para o nosso setor. Precisamos superar as crises recentes e os muitos desafios que se nos apresentam. É hora de olhar para os nossos 500 anos de experiência, todas as nossas crises, der- rotas e vitórias para converter esse potencial em realidade. n