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Fornecedores de cana

O Governo Federal, através do Ministério da Agricultura, com o apoio dos setores que compõem a cadeia produtiva sucroenergética, a exemplo do fornecedor de cana para as usinas, tomou outra decisão política relevante para estimular o aumento da produtividade canavieira. A reformulação do zoneamento agroecológico da cana vai possibilitar que a cultura seja permitida em locais antes proibidos, o que não fazia sentido. Um dos efeitos positivos da ação, em especial, permitirá que, no estado do MT e no entorno, o etanol de cana também possa ser produzido, como já era o de milho. Outro exemplo será no oeste baiano. Haverá aumento de produtividade com a liberação da irrigação e a expansão de novas áreas.

O setor sucroenergético vive um período de esperança, embora tenha que enfrentar grandes problemas acumulados com a equivocada política de combustível do passado. Os efeitos podem ser verifi cados sobre as usinas, mas também nos demais segmentos dessa pujante cadeia produtiva agroindustrial. Os atuais 60 mil fornecedores independentes de cana também enfrentam grandes difi culdades para se manterem. Os pequenos/médios produtores, inclusive agricultores familiares, são ainda mais suscetíveis economicamente para suportarem essas instabilidades.

Contudo, apesar dos vários desafi os colocados, o segmento canavieiro continua resistindo no Brasil. Os fornecedores independentes de cana mantêm um peso importante na composição da safra brasileira. Foram responsáveis por cerca de 30% dos 642,7 milhões de toneladas de cana na safra atual, sendo, portanto, os responsáveis por um terço de todo o etanol (33,8 bilhões de litros: 10,2 bilhões de anidro – usado na mistura da gasolina – e 23,6 bilhões de hidratado) e açúcar (30,1 milhões de toneladas) fabricados pelas usinas do Brasil.

Os números são expressivos. Também é signifi - cativa a quantidade de postos de trabalho gerados por esse segmento. O número de trabalhadores diretos e indiretos em todo o Brasil é impressionante. Na região Nordeste, é ainda maior, contribuindo para a esfera socioeconômica naqueles estados. Apesar disso, o setor enfrenta grande transformação. O número de pequenos agricultores vem diminuindo frente à conjuntura colocada. Estima-se que, nos últimos anos, milhares de produtores deixaram a cultura da cana. Ainda assim, a produção canavieira está crescendo no segmento por causa dos grandes fornecedores. Também cresce devido aos canaviais das usinas. Todavia, diante dessa realidade, observa-se que está havendo uma grande concentração dentro do setor. Apesar das políticas públicas direcionadas para o setor sucroenergético na atualidade, o segmento dos fornecedores de cana passa por grandes transformações.

Também tem se modifi cado frente às novas exigências do uso das inovações tecnológicas para se manterem competitivos, sobretudo diante do corte da cana crua. Tais aparatos tecnológicos têm demandado a aplicação de grande volume de recursos, o que destoa da realidade econômica do pequeno e médio agricultor. Embora o desafi o seja grande, a superação é possível. E a solução está na organização deles mesmos através das suas entidades de classe e também por meio de cooperativas. Sem isso, o fi m dos fornecedores de cana é inevitável.

No NE do Brasil, onde a previsão da Conab estima acréscimo de 12,6% da safra de cana atual em relação à anterior, a produção deve atingir uns 50 milhões de toneladas. Os fornecedores de cana tiveram papel importante nesse incremento.

Como 90% do corte da cana continua manual, em função do relevo acidentado dos canaviais, os pequenos agricultores ainda conseguem se manter. E a expectativa dos preços da cana para a próxima safra é positiva devido à baixa produção de açúcar na Europa, Índia e no Brasil, o qual priorizou o etanol na safra atual.

Além disso, o Nordeste tem promovido uma experiência positiva para a manutenção dos fornecedores de cana e de todo o setor sucroenergético. Desde a safra de 2014/2015, mesmo com o fechamento de usinas no País, em função da equivocada política do governo sobre os combustíveis, a Associação dos Fornecedores de Cana de PE (AFCP) e o Sindicato dos Cultivadores de Cana de PE formaram cooperativas para arrendarem e reabrirem usinas fechadas no estado, a exemplo da antiga Pumaty, em Joaquim Nabuco, e Cruangi, em Timbaúba. Ambas continuam abertas e crescendo bastante, superando seus recordes produtivos a cada safra.

Por sinal, a Cruangi, administrada pela Cooperativa dos Associados da AFCP (Coaf), liderou a produtividade e o rendimento dentre as usinas de PE na safra 2018/2019. Ela deve esmagar mais de 800 mil toneladas de cana na safra atual. E, neste ano, recebeu uma autorização para instalar três termoelétricas e vender a energia elétrica produzida da queima do bagaço da cana. Uma outra usina deve ser reaberta em PE pelo mesmo modelo de cooperativa na próxima safra. E uma outra usina fechada já foi reaberta também em Alagoas.

O setor mostra soluções efi cazes. A usina cooperativada, além de pagar o preço justo da cana, contribuindo para que outras usinas valorizem esse segmento, ainda agrega valor à cana fornecida, pois o agricultor passa a receber também pelo etanol, cachaça, açúcar e energia, a exemplo da usina Coaf/Cruangi-PE. n

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