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ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade sugarcane, sugar, ethanol & bioelectricity jan-mar 2012
a expansão da produção
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a realidade da expansão da produção e do consumo do etanol
Ensaio Especial:
índice
Editorial:
6
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Luiz Custódio Cotta Martins
Coordenador do Fórum Nacional Sucroenergético
8 12 16 19
Roberto Rodrigues
Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV
Pedro Robério de Melo Nogueira Presidente do Sindaçúcar-Alagoas
Ricardo de Gusmão Dornelles
Diretor de Combustíveis Renováveis do MME
Igor Montenegro Celestino Otto
Secretário de Estado das Cidades de Goiás
30 32 34 36
20 23 24 27
Presidente da Unica
Miguel Rubens Tranin Presidente da Alcopar
Roberto Hollanda Filho Presidente da Biosul
Celso Torquato Junqueira Franco Presidente da UDOP
Presidente da Abag
Júlio Maria M. Borges
Diretor da Job Economia e Planejamento
Guilherme Nastari Diretor da Datagro
Martinho Seiiti Ono
Diretor da SCA Etanol do Brasil
46 48 50 52
Bancos & Fundos:
Entidades: Marcos Sawaya Jank
Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio
38 40 42
Carlos Eduardo Cavalcanti
Chefe do Dpto de Biocombustíveis do BNDES
Andy Duff
Food & Agribusiness Research & Advisory do Rabobank
Alexandre Enrico Silva Figliolino Diretor Comercial do Itaú BBA
Consultor Especialista
Produtores:
Mercado:
Políticas Públicas:
Manoel Vicente Fernandes Bertone
Luís Roberto Pogetti
Presidente do Conselho de Adm da Copersucar
Pedro Mizutani
VP Executivo de Etanol e Açúcar da Raízen
Mario Lindenhayn
Presidente da BP Biofuels Brasil
Luís Felli
VP de Operações Agroindustriais da ETH Bioenergia
Fornecedores de Cana:
54 57 58 61
Roberto de Rezende Barbosa
Presidente do Conselho do Grupo Nova América
Toninho Tonielo
Presidente da Copercana e do Sicoob Cocred
Ismael Perina Junior Presidente da Orplana
Paulo Sérgio de Marco Leal Presidente da Feplana
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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Helton Damin da Silva • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Tomaz Caetano Cannazam Rípoli • Xico Graziano
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editorial
confiança
para a retomada do
crescimento
O País desenvolveu, com o etanol, um dos maiores programas do mundo na área de combustíveis, como solução para enfrentar a alta do petróleo na década de 1970, como impedimento para o déficit na balança comercial e como solução ambiental para diminuir a poluição do ar. Numa época em que o discurso ambientalista ainda não havia ganhado as ruas, os automóveis brasileiros já rodavam com um combustível limpo e renovável. Nesses mais de 30 anos, o caminho do setor sucroenergético não foi fácil. Grande parte do parque industrial foi desmontada quando o petróleo baixou de preço no final da década de 80, e mesmo sendo uma solução econômica e ambiental espetacular para o País, o etanol foi deixado à própria sorte. Reergueu-se, porém, com novas bases, no início deste século, ampliando a oferta do combustível para abastecer a nova tecnologia flex, disponibilizada aos consumidores. Porém, para que o etanol continue sendo uma solução para o País, torna-se importante que o setor conte com sinalizações imediatas e de médio e longo prazo, para a retomada dos investimentos e a ampliação da produção de cana-de-açúcar e da oferta do biocombustível. A implantação de uma política de incentivos, sem dúvida nenhuma, dará maior competitividade ao produto renovável frente ao combustível fóssil, a gasolina.
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Os dados mostram que a manutenção artificial do preço da gasolina há cerca de sete anos, apesar da alta do petróleo no mercado internacional, deixou o etanol sem competitividade no mercado nacional durante todo o ano de 2011. Como consequência, seu consumo diminuiu, comparado aos anos anteriores, após crescimento expressivo desde 2003. Conforme dados da ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, de janeiro a novembro de 2011, a queda nas vendas de etanol hidratado ao consumidor chegou a 27,6% na comparação com 2010. De outro lado, o consumo de gasolina C, nesse período, apresentou alta de 18,7%. No ano de 2011, a relação de preço entre o etanol e a gasolina permaneceu acima de 70%, ou seja, inviável para o consumidor, verificando apenas o lado econômico. Com esse cenário, novos rumos devem ser dados à produção de etanol no Brasil, pois temos que garantir o que já foi conquistado e ampliarmos esse mercado. Nos últimos 10 anos, o crescimento foi extraordinário com o avanço nas pesquisas, evolução do parque agrícola e industrial, o lançamento da inédita tecnologia flex e, principalmente, a ampliação da oferta de um combustível limpo que polui menos o meio ambiente e propicia maior qualidade de vida aos brasileiros.
o primeiro desafio é recuperar os canaviais castigados após dois anos de seca e falta de investimentos em tratos culturais e renovação, já que a indústria trabalha, atualmente, com 20% de capacidade ociosa por falta de matéria-prima para a moagem " Luiz Custódio Cotta Martins Coordenador do Fórum Nacional Sucroenergético
Opiniões O primeiro desafio, nesse sentido, é recuperar os canaviais castigados após dois anos de seca e falta de investimentos em tratos culturais e renovação, já que a indústria trabalha, atualmente, com 20% de capacidade ociosa por falta de matéria-prima para a moagem. Para isso, foi muito importante a liberação de R$ 4 bilhões pelo BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, a fim de aumentar a oferta de matéria-prima e produção de etanol. Na esfera da regulação, as iniciativas do governo para garantir o abastecimento e reduzir a volatilidade dos preços do etanol também foram positivas. Através de um diálogo contínuo que envolveu todos os elos da cadeia produtiva junto à ANP, foi publicada a Resolução 67, que estabeleceu regras para os contratos e estoques do etanol anidro. Ressalta-se também a Medida Provisória 554/2011, que concedeu incentivo à estocagem de etanol, tem o objetivo de aliviar os encargos financeiros do carregamento de estoques. Outras ações se mostram também importantes para colocar novamente a agroindústria de volta à curva de crescimento. Novas usinas terão que ser construídas para atender à necessidade de combustível da frota de automóveis brasileira, que apresentou extraordinário crescimento nos últimos anos. Para tanto, são mais que urgentes medidas que aumentem a competitividade do etanol perante a gasolina e tragam novamente a confiança ao produtor para novos investimentos. A desoneração do PIS/COFINS, hoje fixo em R$ 0,12 por litro, e a sinalização de redução a médio prazo das alíquotas de ICMS incidentes sobre o etanol hidratado podem ser uma solução para a retomada da oferta no mercado nacional. Em contrapartida, o setor produtivo deve encontrar novas formas de redução de custos via aumento de produtividade agrícola e rendimento industrial através da incorporação de novas tecnologias.
Outro desafio se refere à produção de bioeletricidade, energia elétrica do bagaço de cana, que demanda uma política específica. Atualmente, a energia elétrica da cana contribui significativamente para os resultados financeiros das usinas, mas sua produção reside em apenas ¼ das empresas. Uma política adequada de incentivo daria um novo fôlego a essa produção, considerando seus específicos benefícios para o sistema elétrico brasileiro. Muito temos que caminhar, mas não podemos perder a confiança de que conseguiremos transpor as dificuldades e encontrar, através do diálogo com o governo, soluções para a volta do investimento nesse setor tão importante para a economia brasileira. O País tem que apostar no combustível renovável e buscar uma matriz energética cada vez mais limpa. O discurso de sustentabilidade tem que ser tirado do papel e colocado em prática. Neste ano, o País receberá a Conferência Rio+20, e, como anfitriões, é necessário que mostremos ao mundo não somente o nosso grande sucesso na utilização do biocombustível, mas também a nossa confiança nesse produto como alternativa para o futuro do País e do mundo.
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políticas públicas
Opiniões
uma nova
estratégia Quando Barbosa Lima Sobrinho pensou num modelo de produção de cana-de-açúcar para o Brasil nos anos 40 do século passado, estava se adiantando quase duas décadas ao conceito de cadeia produtiva – “o agribusiness” – idealizado em Harvard por Ray Goldberg e seus colaboradores em 1957. Foi esse brasileiro de notável visão estratégica que se deu conta da necessidade de distribuir os resultados dessa importante cadeia produtiva – hoje aqui chamada de sucroenergética – entre todos os seus agentes, reconhecendo o desequilíbrio entre o agricultor e a indústria, “pecado original” do setor. Com efeito, é sabido que não existe mercado para cana: o produto é tão barato que sua exploração só se viabiliza se a área produtiva estiver a uma distância ao redor de 35 quilômetros da unidade industrial. Acima disso, o transporte da cana “esmaga” a rentabilidade agrícola eventual. Portanto, o produtor de cana autônomo só pode vender sua produção para “aquela” usina que estiver próxima. É claro que isso faz com que a relação entre produtor e usineiro seja desequilibrada.
" A única lição que se tira desse desastre é que não se faz etanol sem cana. É na roça, na extraordinária relação entre o solo, a planta e o sol que se faz o álcool, que a usina separa do bagaço. " Roberto Rodrigues
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Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e Professor de Economia Rural da UNESP/Jaboticabal
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políticas públicas O tema é tão conhecido que a palavra que designa o produtor autônomo de cana de açúcar é “fornecedor” de cana, não produtor: ele “fornece” suas canas para a Usina X. Mais do que isso, o verbo que caracteriza o negócio não é “vender”: o fornecedor não “vende” suas canas à usina, ele “entrega” a produção. Só essa etimologia já mostra o desequilíbrio da relação. Se o usineiro for correto, não há problema; mas, às vezes, apertado por circunstâncias, ele transfere seu aperto para o elo mais fraco da cadeia, o fornecedor. Dizem os antigos, referindo-se a isso: “quando a barriga está cheia, goiaba tem bicho”. Ou seja, quando tudo vai bem e falta cana, as relações são tranquilas, o preço da gramínea remunera; mas quando sobra a matéria-prima, instala-se um clima de guerra... Sabendo disso tudo, Barbosa Lima Sobrinho estabeleceu regras claras, começando com quotas de produção: cada unidade industrial tinha autorização do antigo Instituto
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Opiniões do Açúcar e do Álcool - IAA, para produzir determinada quantidade de açúcar e álcool, de acordo com a capacidade industrial instalada e com a produção de cana circunvizinha. E era obrigado a receber de fornecedores cerca de 50% da cana processada. Com isso, havia distribuição de renda ao longo da cadeia e se criou uma classe média rural sólida. Mas, para evitar que o mau pagador prejudicasse o produtor independente – o fornecedor –, os preços eram estabelecidos pelo governo a partir de estudos realizados pela FGV. Sob a supervisão do IAA, as coisas andavam até razoavelmente bem, embora com um nível de intervenção inaceitável para os tempos modernos. Extinto o IAA pelo Plano Collor em março de 1990, os fornecedores ficaram órfãos, como se dizia. Lideranças dos dois setores criaram, então, um interessante modelo para remuneração da cana, através do Consecana: o preço da cana ficou atrelado aos preços dos produtos industriais. Nada mais justo, se houver transparência nas informações, o que pode não ocorrer. Pois bem. Estamos na iminência de conhecer uma nova política para o setor, determinada pela presidente Dilma Rousseff. A total falta de estratégia levou a desastres para toda a cadeia produtiva, culminando com a necessidade de importar álcool de milho dos Estados Unidos, uma vergonha para o País. A única lição que se tira desse desastre é que não se faz etanol sem cana. É na roça, na extraordinária relação entre o solo, a planta e o sol que se faz o álcool, que a usina separa do bagaço. Sem cana, não adianta ter indústria. Agora isso está aprendido: muitos projetos quebraram porque cuidaram da indústria e se esqueceram da cana. Está na hora de colocar novos paradigmas nessa estratégia que vem vindo. E isso começa pela não intervenção, mas por algum tipo de arbitragem que dê transparência e credibilidade ao modelo do Consecana. E é indispensável reconhecer que vivemos outra realidade: o produtor de cana não vende mais apenas sacarose; vende o bagaço que se transforma em eletricidade, vende o restilo ou vinhoto ou vinhaça que vira adubo, vende os subprodutos todos da alcoolquímica que vem vindo, vigorosa. Tudo isso tem que ser considerado nessa nova fase, em que muitos novos investidores do setor, não tradicionais, alheios à visão meramente patrimonialista do passado, sequer desejam produzir cana: só querem processá-la. São novos tempos, nos quais a produção de cana ganha a importância necessária, e seu produtor, o fornecedor, também. E, curiosamente, isso faz renascer o ideário de Barbosa Lima Sobrinho.
políticas públicas
Opiniões
a expansão da
produção
do sistema sucroenergético
"
há que se separarem ações de curto prazo daquelas ações que darão viabilidade e estabilidade econômica num horizonte de longo prazo, a partir de fundamentos de política energética a serem acolhidos "
Pedro Robério de Melo Nogueira Presidente do Sindaçúcar-Alagoas
A expansão de qualquer Pogeti setor econômico, em bases da Copersucar de mercado, deve ter em conta a densidade do seuDirmerANP cado, sua competitividade, a capacidade de investimenDirectNP to e a disponibilidade efetiva dos fatores de produção. A partir desses fundamentos, a expansão da atividade sucroenergética no Brasil encontra ambiente de muita favorabilidade, dada a nossa localização tropical para a produção de cana-de-açúcar, e o expressivo mercado interno para absorção de etanol hidratado combustível para uso soberano nos carros flex e o mercado cativo de etanol anidro misturado à gasolina, além da possibilidade de oferta de energia elétrica complementar à hidroeletricidade, necessária a dar suporte ao desenvolvimento nacional. Tudo isso num contexto de eficiência e sustentabilidade. Não existe mais dúvida sobre a possibilidade e vocação da produção de energia e combustível no Brasil a partir da biomassa e da fotossíntese. No entanto, esses fundamentos promissores são sempre alternados por conjunturas adversas que confundem o mercado e instabiliza a decisão de investimentos necessários ao desenvolvimento natural do setor. Exigem-se, pois, reflexões desapaixonadas e racionais sobre aspectos essenciais para assegurar o desenvolvimento estável
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para esse setor, os quais, por vezes, não se apresentam em alguns fóruns onde a questão é analisada e debatida. Para o melhor aprofundamento da análise, há que se separarem ações de curto prazo daquelas ações que darão viabilidade e estabilidade econômica num horizonte de longo prazo, a partir de fundamentos de política energética a serem acolhidos. Com essa disciplina, pode-se vislumbrar a expansão do setor sucroenergético, levando-se em conta o seguinte: ► A produção de etanol a partir da biomassa cana-de-açúcar se realiza em um ambiente empresarial privado sujeito à variação de custos de produção, necessidade de remuneração adequada e comprometimento com permanente vigilância em pesquisa para redução desses custos e aumento da produtividade e convivência com as adversidades edafoclimáticas; ► Na condição de combustível renovável e considerado avançado por especialistas e agências ambientais internacionais, possui externalidades positivas para o meio ambiente, para o bem-estar do homem, para a estabilidade interna no campo e para a estratégia de oferta de combustíveis e energia em nossa matriz energética. Por tudo isso, fica evidente a sua condição de sustentabi-
lidade e da não captura pelo mercado dessas positivas externalidades; ► O antagonismo concorrencial do biocombustível etanol com a gasolina, derivado do petróleo, recomenda, em sua gênese, o reconhecimento de que o primeiro submetido a todas as exigências concorrenciais de mercado, qual seja, regime privado de produção, sua cobertura de custos e a legítima margem para reinvestimentos, de forma a sustentar o seu natural desenvolvimento e o atendimento ao mercado, enquanto o combustível fóssil de produção estatal submetido nem sempre às regras de preço indicadas pelo mercado como conveniência de políticas pontuais que procura não capturar as ingerências do mercado na precificação dos combustíveis; ► Essa falta de clareza na opção governamental e na fixação de regras de convivência dos dois combustíveis contamina o público consumidor e o segmento empresarial investidor com dúvidas que blindam as iniciativas de inversões na sua expansão; ► É imperativo que se distingam as ações necessárias, privadas e governamentais, para enfrentar as adversidades conjunturais passageiras daquelas que intercedem
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de forma fundamental no que se espera ou não da presença do biocombustível e da bioenergia em nossa matriz energética; ► Não reconhecer, como se observa no momento, essa realidade econômica invertida onde se onera tributariamente o etanol, sem a fixação de um limite desse ônus para favorecê-lo frente à gasolina como medida de intervenção no domínio econômico para estabilização dos fatores em nossa matriz energética, é omitir o principal fundamento de sustentação desse setor, sem o qual qualquer outra medida conjuntural de apoio financeiro fica inócua. Sendo assim, não podemos e não devemos simplificar a discussão no conceito de que o etanol é consequência de gasolina de preço alto, mas de que o etanol, pela sua importância e necessidade de estabilidade em ambiente de produção privado, necessita da operacionalidade eficiente e imediata de mecanismos fiscais disponíveis que regulem de forma transparente, justa e duradoura os limites da competição energética com a gasolina, capturando as externalidades positivas da manutenção e crescimento da energia renovável e sustentável em nosso país.
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Opiniões
por que
os investimentos não estão
acontecendo? Martz Presiosan
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Se, do ponto de vista da tributação federal, as externalidades positivas estão contempladas na diferenciação tributária vigente, há limites, como em tudo na vida, para a diferenciação máxima que pode ser obtida por meio dessa política. "
Ricardo de Gusmão Dornelles Diretor do Departamento de Combustíveis Renováveis do MME
Governo, setor produtivo e sociedade estão hoje diante de um paradoxo: por que a expansão da produção do sistema sucroenergético não está acontecendo atualmente no Brasil em um ritmo compatível com o aumento da demanda? Se o etanol e a cogeração de energia elétrica são produtos de um sistema energético perfeitamente harmônico com o meio ambiente, que traz tantos benefícios para a sociedade, e, se os preços estão em um patamar tão favorável ao produtor, por que os investimentos em novas unidades não estão acontecendo? Todas essas perguntas compõem uma equação cuja solução não é simples. Não há um elemento único, exclusivo, responsável pela falta de investimentos, hoje muito aquém do que seria desejado.
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Um dos grandes problemas foi a crise internacional de 2008. A crise comprometeu até a renovação dos canaviais, atividade intrínseca ao negócio e fundamental para garantir a eficiência no processo produtivo, e tirou o foco da expansão para a consolidação do setor, que ocorre cedo ou tarde em todos os setores: por que investir em greenfields se é possível adquirir ativos em áreas tradicionais, próximas dos centros consumidores, de empresas com dificuldades financeiras? Participar do mercado de energia implica assumir compromissos. A segurança energética de um país é obtida por meio da oferta de energéticos a preços competitivos. Por isso, toda estratégia presente na gestão de recursos energéticos passa pela definição clara de uma
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políticas públicas política energética que sinalize para o mercado as necessidades num dado horizonte e quais são os balizadores das políticas públicas. No caso brasileiro, essa política é clara: o País privilegia a expansão da oferta de energia em bases sustentáveis com diversificação das fontes e buscando a modicidade de preços. Para a expansão do sistema sucroenergético, o governo federal apresentou várias medidas nos últimos meses: 1. autorização para subvenção ao financiamento de estoques; 2. financiamento para custeio do produtor rural de cana-de-açúcar; 3. financiamento para a renovação de canaviais pelos produtores rurais; 4. financiamento pelo BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para a renovação de canaviais pelas agroindústrias, inédita na história recente do setor; 5. nova regulação econômica do setor de etanol pela ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis; 6. melhorias nas já competitivas linhas do BNDES para a expansão da produção de etanol. A retomada da trajetória de redução de custos e ganhos de produtividade são vitais para sustentabilidade do setor, porque existe um limite ao preço que a sociedade pode pagar pela energia. Se um setor deseja expandir a sua participação em seu mercado, não pode transferir integralmente todos os aumentos de custos ao consumidor. A competição é salutar também no mercado de energia. Sempre que houver pressão nos custos de uma determinada opção, haverá uma busca por alternativas economicamente viáveis e que garantam
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ao consumidor o acesso ao energético mais barato. Na matriz mundial de combustíveis veiculares, a participação dos biocombustíveis é inferior a 3%. No Brasil, essa participação foi de 27% em 2010. No setor elétrico, a geração de energia conta com uma matriz ainda mais limpa: mais de 90% da geração no País é renovável. No resto do mundo, luta-se para manter pelo menos em 10% o nível de geração de energia com fontes renováveis. E é exatamente por contar com uma matriz sustentável do ponto de vista ambiental que o Brasil pode privilegiar políticas públicas que busquem a sustentabilidade econômica e social das diversas opções existentes. Os tributos são parte importante nessa equação. Se, do ponto de vista da tributação federal, as externalidades positivas estão contempladas na diferenciação tributária vigente, há limites, como em tudo na vida, para a diferenciação máxima que pode ser obtida por meio dessa política. Deve-se ressaltar que o combate à inflação em 2011 e a decisão do governo federal de privilegiar superávit capaz de inverter a trajetória de juros dificultam, embora não impeçam, medidas de desoneração no curto prazo. O governo federal defende a expansão da produção dos biocombustíveis, tanto que tem tomado medidas para isso. O etanol é fruto de 40 anos de esforço nacional e tem potencial para ser o principal bioenergético global. Passada a crise econômica internacional, que ainda influencia as decisões em investimentos produtivos não apenas no Brasil, resta-nos a todos, governos federal, estaduais e setor produtivo, a missão de restaurar um modelo de sucesso e que conta com o apoio de todos os consumidores brasileiros.
Opiniões
por uma expansão
sustentável
"
Será que realmente estamos fazendo o suficiente para enfrentar os desafios contemporâneos, especialmente em relação à questão energética? "
Igor Montenegro Celestino Otto Secretário de Estado das Cidades do Governo de Goiás
Vivemos em tempos desafiadores. A economia mundial está em crise, a população do planeta continua crescendo perigosamente, as fontes tradicionais de energia estão cada vez mais caras e escassas, o clima do planeta está esquentando, as nascentes e recargas de água doce e limpa estão em risco e a biodiversidade está sendo perdida. Maude Barlow, do World Future Council e do International Forum on Globalization, compara a nossa situação atual como se um cometa estivesse em rota de colisão com a Terra. “Se um cometa realmente ameaçasse o mundo inteiro, talvez nossos líderes subitamente percebessem que as diferenças religiosas e étnicas haviam perdido grande parte de seu significado. Os líderes rapidamente se uniriam para encontrar uma solução para essa ameaça pública.” Será que realmente estamos fazendo o suficiente para enfrentar os desafios contemporâneos, especialmente em relação à questão energética? O Brasil, um dos líderes em produção e consumo de energias renováveis, enfrenta um dilema: prosseguir com a expansão do programa de biocombustíveis e, ao mesmo tempo, compatibilizá-lo com a política do petróleo e as metas de inflação. Por conta da crise mundial, o País precisa estimular a economia interna sem provocar inflação. Um preço estável dos combustíveis ao consumidor é muito importante para aquecer a economia e também para controlar o processo inflacionário. Por esses motivos, há muitos anos o valor da gasolina vem sendo mantido sob o controle artificial do governo federal. O etanol, por sua vez, possui preço livre, portanto enfrenta uma competição desigual com a gasolina. Sem margens que possam remunerar os investimentos, a expansão do setor sucroenergético fica mais difícil de acontecer. Além disso, o etanol ficou em segundo plano entre as prioridades do governo federal, depois dos investimentos na exploração do petróleo na camada do pré-sal. O nosso biocombustível poderia estar contribuindo para a solução de muitos dos desafios globais citados e ainda poderia nos ajudar no fortalecimento da nossa economia, assegurando suprimento para as novas demandas de energia
e a redução da emissão de gases-estufa. Mas, sem uma política pública para o etanol, tudo isso fica mais distante. Podemos avançar muito mais e assumir novamente o protagonismo no campo dos biocombustíveis. Para isso, o governo federal poderia adotar a seguinte agenda: 1. Tomar a decisão política de dar um papel mais relevante para os biocombustíveis dentro da matriz energética brasileira; 2. Preparar um planejamento estratégico bem concebido para articular o futuro dos biocombustíveis, estabelecendo objetivos claros para o setor, metas a serem atingidas, indicadores de performance e planos de ação; 3. Definir um único Ministério para coordenar o processo de desenvolvimento do setor de biocombustíveis no País; 4. Praticar uma política tributária mais eficiente para os biocombustíveis, que assegure a competitividade do etanol e do biodiesel em relação aos combustíveis fósseis; 5. Destinar recursos públicos federais para investimentos em pesquisa e tecnologia, visando à inovação e à melhoria da produtividade da agricultura e da indústria dos biocombustíveis; 6. Criar um amplo programa federal de capacitação e qualificação profissional para o setor de biocombustíveis; e 7. Incentivar a formação de alianças estratégicas por parte dos produtores, visando a ganhos de escala e competitividade para concorrer no mercado internacional. É preciso reconhecer que os biocombustíveis brasileiros podem ser uma parte da resposta para os problemas globais, especialmente quanto às questões da energia, da economia, do clima e da sustentabilidade do planeta. Mas, antes de tudo, é preciso agir rápido, pois não há mais tempo a perder. Vale refletir sobre o que disse o escritor J.R.R. Tolkien: “Mas todas as coisas de valor que correm perigo no mundo como ele agora se apresenta, essas são as minhas preocupações. E de minha parte não terei fracassado em minha missão, [...] se alguma coisa atravessar esta noite e ainda puder crescer bela ou gerar frutos e flores de novo nos dias vindouros. Porque também sou protetor da natureza. Você não sabia?”
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visão estratégica
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Opiniões
etanol na encruzilhada
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Novas usinas já nascem mecanizadas e prontas para cogerar bioeletricidade. Estima-se que serão adquiridos 11 mil tratores, plantadoras e colhedoras e 10 mil novos caminhões. "
Marcos Sawaya Jank Presidente da Unica
O jovem ano de 2012 vai ficar na história como um divisor de águas para o setor sucroenergético brasileiro. Atitudes e decisões que prevalecerem agora serão decisivas para os resultados, ou as consequências, que veremos daqui para a frente. O ponto de partida é evidente para empresários, governos e consumidores: o setor precisa voltar a crescer aceleradamente, em ritmo da ordem de 9% ao ano, como se observava até a crise financeira de 2008, que afetou mais de um terço das empresas do setor. Desde então, perdas de produtividade devido a severos problemas climáticos, aumentos acentuados nos custos de produção e a perda de competitividade do etanol no mercado interno explicam a oferta reduzida e os preços para o consumidor nem sempre competitivos que vemos hoje para o etanol.
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Para atender à demanda, que segue em alta, a Unica estima que será preciso mais que dobrar a produção brasileira de cana-de-açúcar até 2020, dos atuais 555 milhões para 1,2 bilhão de toneladas. É uma meta ambiciosa, que terá significativas repercussões sobre toda a cadeia produtiva da cana. Novas usinas já nascem mecanizadas e prontas para cogerar bioeletricidade. Estima-se que serão adquiridos 11 mil tratores, plantadoras e colhedoras e 10 mil novos caminhões. Serão gerados 350 mil novos empregos diretos e 700 mil indiretos, com até 25 mil trabalhadores qualificados por ano, um terço deles vindos da colheita e plantio manuais, gradativamente substituídos pela mecanização. Avanços tecnológicos, que podem ser viabilizados nos próximos anos, vão permitir a produção de etanol não só do caldo da cana mas também a partir do bagaço e da palha.
visão estratégica A transformação da celulose em açúcares simples, para produção do chamado etanol de segunda geração, vai elevar a média de litros de etanol por hectare de cana plantada dos atuais 7 mil litros para 12 mil litros. Com o crescimento, o PIB do setor passará dos atuais US$ 48 bilhões para US$ 90 bilhões, e as exportações, que já são importante componente do superávit comercial brasileiro, saltarão de US$ 15 bilhões para US$ 26 bilhões. A redução de emissões devido ao consumo de etanol e bioeletricidade em nosso país, que já é de 46 milhões de toneladas de CO2 equivalentes, chegará a 112 milhões de toneladas anuais em 2020. Menos emissões significa ganhos para a saúde pública, com menos internações hospitalares e óbitos causados por doenças respiratórias e cardiovasculares. Esse novo salto, o maior da história do setor, vai exigir investimentos de R$ 156 bilhões e a construção de 120 greenfields até 2020. Mas o sucesso vai depender, em grande medida, de políticas públicas estáveis e consistentes, que possibilitem, entre outros aspectos, a recuperação da competitividade do setor no mercado doméstico, perdida depois que o governo desonerou a gasolina em detrimento do etanol. Desde 2002, a carga tributária sobre a gasolina caiu de 47% para 35% do preço de bomba. Essa prática vem permitindo que a Petrobras aumente o preço na refinaria sem alterar o preço final, criando uma estabilidade artificial no posto. A evolução do preço mundial do barril de petróleo é desconsiderada, acarretando as importantes perdas para a Petrobras que foram recentemente comentadas nos principais jornais. Enquanto a tributação sobre a gasolina vem caindo, a taxação média do etanol permaneceu inalterada, em 31%. A diferença tributária de 4 pontos percentuais entre gasolina e etanol na bomba, na verdade, desaparece devido ao conteúdo energético do etanol, que é 30% inferior. Considerando-se tributos por quilômetro rodado, a taxação do etanol é hoje superior à da gasolina em quase todo o País, exceção de São Paulo, onde o ICMS é metade do recolhido na maioria dos outros estados. É importante frisar que o setor sucroenergético não defende um aumento do preço da gasolina, mas sim políticas que, a exemplo do que ocorre no resto do mundo, reconheçam os amplos benefícios dos biocombustíveis. O que se defende é uma significativa desoneração na linha do que foi feito para a gasolina, com o fim, por exemplo, do PIS-Cofins, além de medidas que incentivem a construção de greenfields e a expansão da bioeletricidade. Os financiamentos do BNDES para plantio e estocagem anunciados no final de 2011 são sinais positivos que precisam, agora, de importantes complementos. O setor sucroenergético está pronto para realizar os investimentos necessários para expandir a oferta de cana, reduzir custos e se manter como protagonista do mais amplo e bem-sucedido projeto de substituição de combustíveis fósseis por renováveis do planeta. Nos próximos meses, governo e setor privado vão definir se a história que contaremos no futuro sobre o etanol brasileiro será a da continuidade de uma grande conquista brasileira, apontada mundialmente como exemplar, ou o relato de uma fantástica oportunidade desperdiçada.
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Opiniões
o que pretende o
governo
A sociedade brasileira vem cobrando do setor de bioenergia um posicionamento claro sobre o futuro do etanol. Em 2011, houve muitas críticas diante da incapacidade da indústria em atender à demanda, fator que elevou os preços do produto e reduziu a sua competitividade perante a gasolina. Ao contrário do que se viu num passado recente, em que o etanol ampliou seu mercado de tal maneira que a indústria automotiva foi forçada a adequar-se, concebendo o veículo flex, o panorama atual é inquietante. Não é correto quando alguém afirma que a menor oferta do produto se deve, supostamente, ao fato de que o setor priorizou a produção de açúcar em detrimento do etanol. É preciso entender: esse combustível, apesar de todas as vantagens que oferece sob o ponto de vista social, econômico e ambiental ao País, atravessa um período repleto de interrogações. Daí, pergunta-se: diante de um quadro tão obscuro, quem em sã consciência se animaria a nele investir? A atividade – cuja importância é das mais relevantes para o desenvolvimento nacional, abrangendo uma grande cadeia da qual participam milhares de empresas de todos os portes e milhões de trabalhadores diretos e indiretos –, depende de medidas concretas e definitivas por parte do governo federal. Para que haja uma retomada da produção de etanol, se faz necessário, em primeiro lugar, que o governo federal defina uma política pública explicitando, com clareza, o que deseja em relação aos combustíveis renováveis. Sem isso, nada feito. Como ainda não se sabe o que o governo pretende para o setor de bioenergia, permanecemos em meio a um indefinido, demorado e preocupante compasso de espera. Se forem estabelecidas diretrizes bem definidas, envolvendo toda a cadeia de produção de cana-de-açúcar (açúcar, etanol e energia elétrica), garantindo sua viabilidade, não há dúvida: a indústria poderá, enfim, reorganizar-se e voltar a investir. É o que ela quer e precisa. Nesse contexto, importante ressaltar a flagrante distorção que vem prejudicando o etanol. De um lado, o preço da gasolina, seu concorrente direto, é mantido artificialmente estagnado há anos; de outro, a cotação do produto derivado da cana flutua ao sabor do mercado. Ou seja: enquanto de
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um lado se pratica a saudável e bem-vinda desoneração da gasolina, de outro o que se vê é um tratamento desigual para com o etanol. Protege-se o fóssil, o poluente, punindo o renovável, o ambientalmente adequado, lembrando que o combustível extraído da cana-de-açúcar – uma solução brasileira de importância indiscutível para a melhoria do ar das metrópoles, hoje altamente poluídas –, é o que apresenta o custo mais competitivo em todo o mundo. Pergunta-se: por que não, também, desonerar o etanol? Em cada litro desse produto, incidem PIS/Cofins, sem falar do ICMS. Seria, com certeza, um bom começo. A situação se agrava à medida que o tempo vai passando, pois, em meio a esse cenário desanimador, os canaviais envelhecem, e vai ficando cada vez mais difícil recuperar o potencial produtivo das lavouras. Com a gradativa e inevitável redução de produtividade, diminui o volume de matéria-prima na indústria, hoje parcialmente ociosa. Por outro lado, os custos de produção aumentaram em mais de 40% nos últimos cinco anos. Há uma década, o salário mínimo brasileiro que era de R$ 180,00, hoje é de R$ 622,00, uma elevação de 246%. Alguém poderia sugerir: o BNDES tem muito dinheiro para emprestar. No entanto, quem se encorajaria a investir, colocando o próprio patrimônio em risco, diante de um retorno tão duvidoso? Como se vê, os desafios são muitos, lembrando que, para produzir mais etanol, é preciso investimentos urgentes em nossas instituições de pesquisa e desenvolvimento. Por outro lado, apenas renovar o canavial é insuficiente: torna-se necessário expandir a área cultivada, de maneira a se vislumbrar a chance de, um dia, acompanhar a expansão da frota brasileira, cujo crescimento médio é da ordem de 7,5% ao ano, com previsão de chegar a 45,6 milhões de unidades em 2015. Enquanto nada acontece, o etanol é relegado a um plano secundário, sem condições de competir. Esperamos que o governo federal, pelo seu entendimento e pela sensibilidade já demonstrados para com setores estratégicos da indústria nacional, dedique especial atenção a esse assunto, pela sua importância e gravidade. A ninguém, afinal, interessa o fim do etanol.
O BNDES tem muito dinheiro para emprestar. No entanto, quem se encorajaria a investir, colocando o próprio patrimônio em risco, diante de um retorno tão duvidoso? " Miguel Rubens Tranin Presidente da Alcopar
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visão estratégica
Opiniões
no lugar certo,
na hora certa
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Ocupamos com cana tão somente 4% das áreas dedicadas ao agronegócio no MS, enquanto outros produtos agrícolas respondem por 12% e a pecuária, 84%. Nada do tão temido “mar de cana”. "
Roberto Hollanda Filho Presidente da Biosul
O Mato Grosso do Sul tem uma rica história em termos de evolução de sua matriz de produção. A pecuária foi e ainda é a atividade econômica dominante no estado. A diferença é que, à época da sua criação, praticamente não havia outra atividade sendo desenvolvida no agronegócio, muito menos no setor secundário. Praticamente não havia industrialização. A genial atuação da Embrapa – entidade que deve ser sempre reverenciada pelos brasileiros, todos os brasileiros – permitiu que nossos solos ácidos se convertessem em competentes “fábricas agrícolas”, possibilitando a inserção de novas culturas. Assim, a produção de grãos conquistou um importante espaço, trazendo alguma diversificação, receita e renda para o MS.
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A cana também veio. Com uma boa oferta de boas terras, face à característica extensiva da pecuária local e um relevo excelente, o setor sucroenergético veio de forma discreta para o estado. Na safra 90/91, foram moídos 4 milhões de toneladas de cana. A evolução foi lenta; quinze anos depois, ainda produzíamos menos de dez milhões de toneladas. Pouco mais do que o dobro e uma posição pouco significante no cenário nacional. Foi quando veio a virada do setor no MS. Aos cenários edafoclimáticos positivos para implementação de usinas somaram-se um momento de expansão do setor e um ambiente político e institucional de incentivo à industrialização do estado, através de um governo estadual, que viu no setor um vetor de industrialização.
visão estratégica Da safra 2006/2007 até hoje, foram 14 novas unidades, quase todos os principais grupos vieram instalar-se no Mato Grosso do Sul. Nessas cinco safras, mais que triplicou a moagem que havia levado quinze anos para dobrar de tamanho. Somos o quinto maior estado produtor e, dos 33,8 milhões de toneladas moídas hoje, já temos capacidade instalada para chegar a 70. Logo estaremos, junto com os estados de Minas Gerais, Goiás e Paraná, em uma fraterna disputa pelo posto de segundo maior produtor de cana do Brasil. Ajudamos a mudar o estado, que tem hoje o setor secundário como o principal gerador de renda. Temos o maior salário médio, tanto da indústria como da agricultura. O açúcar já aparece em segundo lugar na balança comercial do MS, quase alcançando as exportações de grãos. Em cidades onde já havia unidades instaladas, houve crescimento de arrecadação de 140% nesses quatro anos. Nos municípios que passaram a ter usinas, o aumento de arrecadação chega a 2.500%. Há casos de desemprego zero. Enquanto isso, a produção de alimentos aumenta. E de outros produtos agrícolas, idem. Ocupamos com cana tão somente 4% das áreas dedicadas ao agronegócio no MS, enquanto outros produtos agrícolas respondem por 12% e a pecuária, 84%. Nada do tão temido “mar de cana”. Em igual medida, nosso fantástico patrimônio ecológico continua lá, sem nenhuma interferência do nosso setor. Nada de usinas no Pantanal. Nem hoje, nem nunca. Por isso, o Mato Grosso do Sul é também – como outros estados que têm a sorte de terem terras aptas ao cultivo da cana – um exemplo do que o setor sucroenergético pode trazer de benefícios às economias e sobretudo às sociedades locais. É a interiorização de desenvolvimento com produção de alimentos e energia limpa. Pode haver estratégia melhor para um país que tem tanto potencial a aproveitar e tanta injustiça social para corrigir? Não conheço. E, ainda assim, paramos nosso crescimento. Num primeiro momento, o clima era a principal resposta. E é verdade, todos testemunhamos três safras consecutivas com eventos climáticos absolutamente fora da curva. Fora perdas relacionadas a pragas e à pouca renovação e tratos dispensados aos canaviais, por força da crise de 2009. Hoje, temos um momento no qual volta a aparecer capital. Temos um mercado interno de etanol longe de ser atendido. Um mercado externo que finalmente deu um passo à consolidação, com a eliminação das barreiras tarifárias dos EUA. Temos potencial também na bioeletricidade, que pode ajudar a resolver um gargalo para o desenvolvimento do País. Na Rio+20, quando já ocuparemos papel de destaque, poderíamos dar um show, mostrando que podemos ocupar milhões de hectares em terras degradadas, aumentando o sequestro de carbono e a fixação de nitrogênio. Só no
Mato Grosso do Sul, são oito milhões de hectares de pastagens degradadas, que podem ser aproveitados pela nossa e outras culturas sem derrubar uma árvore. Para atender a todo esse potencial de mercado, estima-se que seriam necessárias mais 120, 140 novas usinas no Brasil até 2020. Investimentos entre 80 e 100 bilhões. Fica bem claro que terras existem em volume mais que suficiente. Sem competir nem ameaçar outras culturas. Mas é factível? Basta olhar para trás. Já fizemos isso antes, de 2000 a 2008. Mas, em 2012, só 5 unidades vão entrar em operação no País, num claro descompasso com os fundamentos que se apresentam. O hidratado perdeu sustentabilidade frente à gasolina, que, surpreendentemente, tem tido privilégios tributários que não se repetem para o etanol, renovável, melhor ambientalmente, gerador de empregos, etc, etc. A bioeletricidade a partir do bagaço também não tem sido aproveitada, enquanto a eólica ganha espaço nos leilões. Não se trata aqui de advogar pelo aumento da gasolina. Como cidadão brasileiro, até incomoda ver a Petrobras perder valor de mercado por conta dessa manobra de manter os preços da gasolina. Mas o que gostaria mesmo, como representante do setor, é de ter igual tratamento para o etanol. Um exemplo de medida que teria impacto positivo para o setor seria a desoneração do PIS e Cofins do etanol. Com relação à bioeletricidade, entendo que a comparação entre bagaço e eólica não pode ser tratada simplesmente pelo preço. Devem ser consideradas as externalidades de cada um (empregos, desenvolvimento, proximidade dos centros de consumo). A solução seriam leilões regionais de energia renovável a fim de aproveitar os potenciais específicos de cada porção do País. Enfim, o setor sucroenergético depende muito de políticas públicas. E nós precisamos saber qual é o papel que o governo federal entende que devamos ter na matriz energética brasileira. Claro, não se pode desconsiderar que esforços vêm sendo feitos a partir de Brasília. Mas ainda não existe um conjunto de medidas que possa efetivamente fazer com que se retome o crescimento do setor sucronergético nacional. Transformar todo esse potencial em realidade é um desafio, são muitas variáveis entrelaçadas, são grandes volumes de recursos, de terras, de pessoas. Mas está tudo lá. E já foi feito antes. Para os representantes do setor, a tarefa é importante, temos que mostrar ao governo e à sociedade os benefícios que trazemos e o quanto eles podem melhorar. Teremos muito trabalho nos nossos estados, no Projeto Agora, no Fórum Nacional Sucroenergético. Sei que teremos criatividade e persistência para construir, em conjunto com os outros agentes envolvidos, as soluções que estão aí, é só “colher”. E sou otimista: 2012 será um grande ano.
Opiniões
demanda, rentabilidade e crédito: a
saída para nossa
crise
O setor sucroenergético vive hoje uma crise de produção, como classificam alguns analistas. O grande dilema é que precisamos crescer, sabemos disso, mas ao mesmo tempo temos uma ociosidade próxima a 30% de nossa capacidade de produção, ou mais ou menos déficit de 150 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para processar por safra no Centro-Sul. Como resolver esse dilema ? Ao folhearmos os principais jornais e revistas do País, percebemos que, finalmente, viramos a bola da vez quando o assunto é matriz energética, agronegócio ou mesmo sustentabilidade. Mas, ao invés do que prevíamos, essa vitrine veio mesmo por uma falta de estratégia, e não por algo positivo que fizemos.
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mas, ao invés do que prevíamos, essa vitrine veio mesmo por uma falta de estratégia, e não por algo positivo que fizemos "
Celso Torquato Junqueira Franco Presidente da UDOP
Assumindo um pouco a culpa do atual status quo que vivemos, não podemos esquecer que por anos, por culpa nossa e do governo, mais dele do que nossa, fomos obrigados a abastecer o mercado nacional com etanol abaixo dos custos de produção, o que fez com que os preços ficassem, em média, 50% dos praticados na gasolina, acostumando mal uma demanda crescente que acabava de comprar um carro flex.
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Vamos aos fatos. Podemos destacar que a atual situação da falta de cana-de-açúcar é decorrente, principalmente, de sucessivas perdas ocasionadas por problemas climáticos, como o excesso de chuva em 2009, a falta dela em 2010 e depois as geadas, o florescimento da cana e novamente a seca no último ano, somadas aos problemas econômicos mundiais, que fecharam as torneiras dos financiamentos, e para piorar a situação, uma alta nos custos de produção na ordem de 50%. Mas a pergunta que não quer calar é como deixamos as coisas ficarem da forma como estão? Vale uma reflexão. Fizemos crescer nossa produção, entre os anos de 2005, 2006 e 2007, em cerca de 20% ao ano, tanto em produção de cana, ampliação dos parques das usinas e ainda implantação de projetos greenfields. Vivíamos um cenário de pleno crescimento no mercado nacional, enquanto, no internacional, víamos um oásis que por fim se concretizou apenas agora. Mas o estrago estava feito. Enchemos o mercado interno de etanol a baixos preços, endividando-nos e ainda acostumando mal nossos consumidores. Isso eu chamo de subsídio indireto à gasolina, que, no período, não subiu um centavo sequer. Sabemos, por vezes, que mudar o passado é tarefa impossível, mas construir um novo futuro é nosso dever. Então, mãos à obra. Para voltarmos a crescer, objeto desse artigo, acredito que devemos trabalhar em três diferentes frentes, não menos importantes e tampouco exclusivas, outras poderão surgir e devemos agir com destreza. Por sorte (não acredito em sorte, mas sim no resultado de muito esforço), o primeiro passo já está dado. Temos demanda. Interna e principalmente externa. O oásis se tornou real e, hoje, é altamente factível que temos o melhor produto que o mundo quer, basta produzi-lo e vendê-lo. A abertura do mercado norte-americano é uma grande oportunidade para o setor, pois, considerando a sede
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americana por etanol, hoje temos um combustível que visivelmente deve atrair mais e mais investimentos a nosso país. Todavia, só termos demanda não enche a barriga de ninguém. Sabemos que, para abastecê-la, outras barreiras devem ser superadas, e aí entraria talvez o que chamo de nosso segundo, e não menos importante, desafio: ter rentabilidade. No capitalismo que vivemos, é notório que os grandes investimentos são direcionados àqueles que dão um retorno, senão rápido, maior a seus investidores. Não basta termos o melhor produto do mundo; se ele se tornar economicamente inviável, será apenas um sonho. Aumentar, ou criar rentabilidade em nosso setor, demanda esforços conjuntos das usinas, das entidades e, principalmente, do governo constituído. Hoje, numa análise mais simplista, a desoneração de PIS/Cofins e ICMS poderia ser o início desse desatador de nós. Mas outras bandeiras poderiam ser levantadas, quando falamos em aumento de rentabilidade. É notório o avanço, por exemplo, de novas usinas em regiões de pouca tradição, como os estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Tocantins, enfim, novas fronteiras, onde as terras ainda não estão superfaturadas e há disponibilidade de mão de obra e clima favoráveis. As boas performances dessas áreas, no entanto, acabam desestimuladas por um custo logístico muito maior. Então, outro grande desafio seria o de acelerar os corredores de etanol, quer etanoldutos ou mesmo a utilização de hidrovias e quem sabe até as ferrovias, para o escoamento mais rápido e mais barato de nosso biocombustível. O terceiro desafio, mas não menos importante, que, acredito ser consequência dos dois primeiros, é o retorno de linhas de crédito para a construção de novas usinas. Dessa forma, com demanda, rentabilidade e dinheiro, conseguiremos atender ao enorme mercado que se abriu, e que sonhamos ocupar.
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mercado
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vamos perder o bonde da história
por quê
A agricultura canavieira tem, em vários países, um forte viés de intervenção de governo, normalmente justificada pelos protecionismos ao açúcar no mundo desenvolvido, pelo seu fator de sazonalidade e pela característica de logística de colheita e de transporte, definindo raio médio entre a indústria e a produção agrícola de até 50 km. Ou seja, há uma intensa relação entre a indústria e a agricultura nesse ramo. Assim também foi no Brasil até, praticamente, o final da década de 1990, quando ocorreu o processo de total desregulamentação no setor sucroenergético. A partir desse momento, o País se torna efetivamente diferente no mundo açucareiro e alcooleiro.
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os ciclos setoriais também mudam, não apenas sofrendo as pressões do mercado externo em épocas de excedentes, mas também os humores da política energética nacional "
Luiz Carlos Corrêa Carvalho Presidente da Abag
No período da intervenção, apenas a partir da década de 1970 é que os investimentos na modernização setorial e em estrutura efetiva de pesquisa e desenvolvimento realmente ocorrem, revolucionando a produção e dando condição ao surgimento do Proálcool. Com um histórico de uso do etanol em mistura na gasolina desde a década de 1940, sendo um regulador dos excedentes de açúcar face às limitações do mercado externo, o Brasil lança, em escala, uma importante mudança no paradigma açucareiro de então. Os ciclos setoriais também mudam, não apenas sofrendo as pressões do mercado externo em épocas de excedentes, mas também os humores da política energética nacional.
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Opiniões Desde então, o setor produtivo passa a conviver com as duas pressões, gerando maior volatilidade, riscos e oportunidades. É interessante observar que, entre 1975 e 2011, podem-se notar três ciclos do petróleo (alta/baixa/alta), com dois choques globais importantes (1973 e 1981) e alguns outros derivados de problemas no Oriente Médio e, do lado do álcool e do açúcar, ciclos bem mais curtos derivados das políticas (ou falta delas) no mercado interno de energia. A figura abaixo retrata a visão de “popa”, necessária para qualquer tentativa de perspectiva de “proa” desse transatlântico que é o setor canavieiro brasileiro. No entanto, alguns paradigmas foram quebrados na primeira década do século XXI: a. Choque de demanda para alimentos e energia pelas características “asiocêntricas” do mercado (população/ renda per capita/urbanização); b. Preços de commodities agrícolas em patamar mais elevado, mas a moeda real valorizada e os custos de produção mais elevados. c. Surgimento de “bolhas” nas economias dos países ricos e crescimento da economia global puxada pelos países emergentes. A rápida expansão de canaviais entre 2006 e 2008, seguida da crise de crédito em 2008 e seus impactos em 2009, 2010 e 2011, foram ocorrências de enorme desequilíbrio para o setor sucroenergético, que demandará tempo para reequilíbrio. Teremos, pois, um “vale” de oferta apertada, em período de demanda aquecida mesmo com as crises europeia e norte-americana. Seria preciso uma atuação de governo em época de crise: a pró-atividade privada de expansão de oferta requer condições de mercado e margens para investimento.
O cenário atual é de preços da gasolina congelados há anos, com redução impressionante da CIDE que foi criada para a desregulamentação, visando permitir competitividade do etanol junto à gasolina (a CIDE era de 14% em 2002, incidente na gasolina e, agora, está em 2,6%). Uma lógica de crise requer medidas consensuais, após a avaliação completa de seus potenciais impactos. Será preciso ação não só nos elos da cadeia produtiva da produção de cana e de etanol, mas também na área de bens de capital. Na década de 1990, o Governo FHC fez isso. É preciso repetir, com saudades do Governo Mário Covas e com a boa vontade e visão geopolítica que teve o Presidente Lula. Nos próximos anos, até 2020, há enormes possibilidades de expansão, desde que haja uma coesão público-privada para isso. Para o capital externo, segurança jurídica e atratividade. Para a produção, o uso de tecnologias existentes e a volta aos fundamentos técnicos no campo. Claro que a expansão será mais complexa, pois os melhores ambientes de produção já foram usados. Trata-se, pois, de um novo mundo de condições de produção em regiões onde a curva de aprendizado será um fato. Isso demanda estímulos, tecnologia e riscos maiores. A frota de veículos seguirá crescendo acima de 3 milhões de carros ao ano, sendo que elevado porcentual de carros flexíveis estarão no mercado e as barreiras internacionais ao etanol vão caindo; será preciso, até 2020, um novo “Brasil” de açúcar para atender ao crescimento da demanda do produto. Tudo isso é oportunidade e reclama liderança; o Brasil é, naturalmente, o líder nesse tema e no de alimentos no século XXI. Vamos perder o bonde da história? Por quê?
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mercado
Opiniões
um momento para
reflexão
Quando estava sendo preparado o conteúdo de nosso próximo Seminário Anual (11º), a ser realizado em março, deparamo-nos com uma oportunidade atípica para o evento, que pretende discutir, avaliar e sugerir tendências para o setor de açúcar e etanol no Brasil: a quantidade de questões não resolvidas ou avaliadas inadequadamente, neste momento, poderia tornar nebulosa a definição de tendências para o setor. Por esse motivo, e pela primeira vez na Revista Opiniões, este artigo trará não só ideias sobre as perspectivas para os mercados de açúcar e álcool como também algumas questões que precisam ser debatidas e avaliadas para um posicionamento responsável. Inicialmente, queremos ressaltar que o curto prazo apresenta obstáculos que precisam ser resolvidos. Por outro lado, o médio e o longo prazo apresentam condições que podem representar oportunidades e não ameaças. É o que veremos a seguir. Mercados de curto prazo: Demanda potencial crescente de etanol hidratado combustível é algo muito positivo para o produtor. Isso assegura suporte para preços e destino para a produção. Cana em pé por falta de comprador está fora de cogitação. Mercado global de açúcar com excesso de oferta previsível para 2012 e 2013 é algo que incomoda o produtor e dá um pouco de tranquilidade para o cliente. Por que só um pouco? Porque os estoques mundiais são baixos, e qualquer acidente climático que comprometa a oferta reverte o quadro de viés de baixa para os preços. O mercado externo de etanol combustível oferece boa oportunidade de vendas para os EUA. Nesse caso, o etanol brasileiro de cana-de-açúcar, aceito como avançado, tem espaço no mercado americano e prêmio de qualidade ambiental em relação ao etanol de milho. Para o resto do mundo, a perspectiva de vendas é ainda restrita. Contudo, caminha numa direção promissora. Que desafios tem o curto prazo? ● O preço da gasolina na bomba. Apesar de ter aumentado para o consumidor final – em São Paulo, por exemplo, o preço da gasolina teve aumento de 12,5% nos últimos dois anos –, isso parece que não é suficiente para atender ao acréscimo de custos de produção de etanol nas usinas. Por outro lado, o Governo Federal tem usado a CIDE como instrumento para dar relativa estabilidade dos preços para o consumidor e não causar prejuízos para a Petrobras.
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O crescimento da economia mundial é algo bastante provável. Neste momento, os mercados acionários do mundo todo ensaiam uma recuperação na cotação das ações, que tem como base essa expectativa. " Júlio Maria M. Borges Diretor da Job Economia e Planejamento
O mercado global de petróleo dará condições para a continuidade dessa política ou é hora de mudar? ● O financiamento do BNDES para expansão da área de cana mostra-se atrativo para o tomador do recurso e é suficiente para amenizar o déficit de cana que existe no momento. Que medidas adicionais de curto prazo se tornam necessárias para novos investimentos no setor? Será que mais intervenção e regulação ajudam ou atrapalham? E a taxa de câmbio, que tem prejudicado o Brasil com intensidade maior que em outros países? ● Como resolver a questão da perda de competitividade da indústria brasileira em nível internacional? Mercados de médio e longo prazos: O crescimento da economia mundial é algo bastante provável. Neste momento, os mercados acionários do mundo todo ensaiam uma recuperação na cotação das ações, que tem como base essa expectativa. Um desastre na economia mundial levaria todos nós a uma situação impensável e, portanto, será evitada ao máximo. A demanda de açúcar em nível global cresce aproximadamente quatro milhões de toneladas por ano. A demanda potencial de álcool combustível para mistura com gasolina é cerca de quatro vezes maior que a produção mundial. O Brasil é um candidato natural a atender a esses mercados. Projetos greenfield serão necessários para aumentar a oferta em busca de equilíbrio com a demanda. Com relação ao petróleo, o mundo conta com a produção brasileira da camada pré-sal ou pós-sal. Quando se vai efetivar essa produção? E o aumento da eficiência energética? Novas fontes alternativas de energia aparecem no cenário para competir com o etanol e bagaço. A cultura de sustentabilidade toma conta gradualmente de atitudes e mentes e, com isso, vai pressionar por mudanças na matriz energética. Demanda e custos crescentes da produção agrícola irão comprometer a competitividade do etanol combustível e do açúcar do Brasil? O balanço de tudo poderá ser uma resultante que irá favorecer a produção brasileira de açúcar e etanol. E cabe ressaltar: muito provavelmente, o crescimento do setor, daqui para frente, será mais cauteloso e menos veloz que aquele observado no período 2004-2008. O momento é de reflexão, e temos, hoje, os players do setor, todas as condições para decisões construtivas.
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renovar é poupar a longo prazo
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atualmente, a incidência da CIDE sobre o etanol é zero, mas a medida sinaliza a possibilidade de que o tributo específico poderá onerar o combustível renovável em nível mais elevado do que o fóssil. "
Guilherme Nastari Diretor da Datagro
Renovar é preciso! A conjuntura da produtividade e do rendimento médio dos canaviais brasileiros tem sido desfavorável nos últimos anos por diversos fatores combinados. Efeitos climáticos, deficiente renovação dos canaviais, falta de manejo adequado e problemas com tratos culturais impactaram diretamente a idade média dos canaviais. Na região Centro-Sul, a Datagro estima para a safra 2012/13 uma idade média de 4,1 anos. Em 2011, o plantio de cana de 18 meses, no início do ano, sofreu muito com o excesso de chuvas, e o plantio de inverno também não atingiu níveis satisfatórios pela falta de precipitação. O reflexo é uma oferta de cana para a safra 2012/13 ainda frágil. A cana, em média, na região Centro-Sul, ainda está velha e maltratada. Para se ter ideia, o rendimento agrícola no acumulado de abril a setembro de 2011 nessa região – abaixo de 72 toneladas por hectare –, ficou 19% inferior à média dos últimos 10 anos. O rendimento a ser observado em 2012/13 estará atrelado à idade das plantas, e também à performance do clima observada no ano passado (florescimento e impactos com geadas). A visão da Datagro é de que teremos elevados índices de renovação nas duas próximas safras. Se os produtores tiverem capacidade financeira e condições climáticas favoráveis para o plantio, renovarão seus canaviais em níveis adequados. O programa de financiamento à lavoura anunciado pelo governo, através do BNDES (Prorenova), auxiliará os produtores de cana a atingir as metas de renovação para a proxima safra. Foram destinados R$ 4 bilhões para o plantio de cana, com vigência até 31 de dezembro de 2012. A meta do Ministério da Agricultura é aumentar a produção de etanol entre 2 e 4 bilhões de litros na safra 2013/14, reduzindo, assim, a ociosidade da capacidade industrial. Para médias e grandes empresas, com receita operacional bruta igual ou superior a R$ 90 milhões, a taxa de juros é composta de TJLP mais 1,3% de remuneração básica do BNDES, mais a taxa de intermediação financeira de 0,5% e a remuneração do agente repassador, negociada entre este e o beneficiário. Aos pequenos já existem incentivos oficiais. No entanto, a política pública para o setor sucroenergético precisa ser coerente. É interessante notar que, ao mesmo tempo em que o governo oferece apoio para a renovação dos canaviais, sinaliza, de forma inibidora, uma possível
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retomada de investimentos em moagem. O setor foi pego de surpresa com a publicação da Medida Provisória 556 de 23 de dezembro de 2011, que elevou o teto da CIDE - Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico, sobre o álcool combustível de R$ 37,20 para R$ 602,00 por m3, com vigência a partir de abril próximo. Enquanto isso, o tributo sobre a gasolina fica mantido em R$ 92 por m3. Atualmente, a incidência da CIDE sobre o etanol é zero, mas a medida sinaliza a possibilidade de que o tributo específico poderá onerar o combustível renovável em nível mais elevado do que o fóssil. A indústria necessita de políticas públicas claras, que incentivem a retomada de investimento na capacidade de moagem. Ao invés disso, se depara com preços de gasolina definidos pelo governo base-refinarias, incluindo CIDE, sistematicamente abaixo dos níveis internacionais. Para o País atender à demanda projetada de açúcar e etanol até 2020, seria imprescindível a construção de pelo menos 15 novas usinas ao ano, totalizando 120 usinas em oito anos. No ano passado, foram instaladas apenas três novas unidades. Para 2012, é esperado um número semelhante. Corremos o risco de uma nova "anidrização" do setor, como a observada na década de 90, pois a falta de uma política mais clara para o setor tem inibido o crescimento da produção, ao mesmo tempo em que a demanda continua crescendo. Resultado: aumento do consumo da gasolina, e, por consequência, do anidro em detrimento do hidratado. O preço defasado da gasolina afasta investidores para o etanol. Em cinco anos, o aumento de custos de produção de cana impactou o custo e o preço do etanol hidratado. A conta simplesmente não fecha. Em dezembro de 2011, em nenhum estado brasileiro foi vantajoso abastecer etanol. Em todo o País, a relação de preço etanol-gasolina foi de 74,7%. Como a capacidade de refino de petróleo está no limite, o Brasil importou um volume recorde de 2,177 bilhões de litros de gasolina em 2011. Em poucos anos, terá sido compensado o déficit de matéria-prima. É chegado o momento de estimular uma nova rodada de investimentos, desta vez, mais organizada e consciente, para que o Brasil não perca a oportunidade de, senão crescer, pelo menos manter a participação de mercado conquistado no passado.
Luiz Carlos Corrêa Carvalho Presidente da Abag
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setor fez a sua parte
Há dez anos, quando os carros bicombustíveis foram lançados no mercado, o setor via renascer a oportunidade de retomar a venda de etanol hidratado. Bem liderado, o setor não fugiu da responsabilidade, investindo fortemente na expansão e ampliação do parque agrícola e industrial, fazendo a moagem saltar no Centro-Sul de 270,4 milhões t, em 2002/03, para 556,9 milhões t na safra 2010/11, um crescimento de 106% no período. Foram inauguradas 110 novas unidades. No mesmo período, o mercado brasileiro comercializou 18,9 milhões de automóveis, dos quais aproximadamente 90% flexfuel. O setor agroenergético e as montadoras fizeram a sua parte. Entretanto, permanece a pergunta: por que, atualmente, as montadoras continuam despejando automóveis bicombustíveis no mercado, enquanto os produtores de etanol estagnaram a oferta do produto renovável no mercado? A resposta é simples: aqueles corajosos empreendedores, a maioria com história secular na atividade, que haviam acreditado na retomada do mercado de etanol, protegido de uma “política pública” que garantisse a remuneração do capital investido, tiveram consequências desastrosas, vendendo e se retirando da atividade canavieira. Nas últimas três safras tivemos consecutivos problemas nas condições climáticas, chuva em excesso, acentuada estiagem, geadas e florescimento do canavial, prejudicando a produtividade dos envelhecidos canaviais. Se, no lado da produção, tivemos problemas climáticos, no lado societário, tivemos a grande transformação e mudança, com a entrada de empresas estrangeiras no segmento, companhias petrolíferas, tradicionais traders de commodities agrícolas, fundos de private equity, entre outras. No campo, a valorização das commodities agrícolas, com que disputamos mesmo espaço com a cana, vem elevando substancialmente o custo de arrendamento, exigindo a remuneração equivalente a outras culturas. As exigências ambientais, tais como a proibição das queimadas, introduziram modernos e caros equipamentos para a mecanização do plantio e da colheita, gerando impacto direto na elevação dos custos. A contratação de executivos oriundos de outros setores da economia não se traduziu apenas na mudança de perfil profissional,
mas um outro nível de remuneração. Tudo isso contribuiu para elevar os custos de produção do etanol, do açúcar e da energia produzidos da cana. No caso do etanol hidratado, os benefícios que o uso em escala do biocombustível da cana produz ao ambiente, na preservação da saúde, na geração de empregos, na fixação e desenvolvimento do interior brasileiro, na balança comercial do País, na melhor distribuição de renda e outros infindáveis e conhecidos benefícios foram esquecidos, considerando apenas o fator econômico da paridade, cujo preço do produto fóssil encontra-se “artificialmente” congelado desde 2005. As novas empresas que se instalaram no mercado trazem experiência corporativa e trabalham com visão de investimento de longo prazo e calcado na segurança de retorno. Desse modo, o futuro do setor agroenergético depende de algumas definições claras para a retomada dos investimentos, como, por exemplo: ● Estabelecer uma matriz energética clara e definitiva de longo prazo para os combustíveis, construindo metas de participação dos biocombustíveis no ciclo Otto; ● Revisão da legislação tributaria profunda, tornando o biocombustível competitivo e remunerador, não se esquecendo de contemplar os benefícios complementares que excedem a paridade em relação à gasolina; ● Criação de incentivos para a geração de energia elétrica através do bagaço da cana, procurando ser competitivos em relação às outras fontes, valorizando a matéria-prima utilizada, a localidade das usinas e o período em que a oferta é feita, normalmente durante a estiagem, quando as represas estão vazias; ● Manutenção do livre comércio do açúcar, sem a intervenção do governo nas iniciativas que as empresas privadas vem realizando ao longo dos anos. Importante ressaltar que, no que diz respeito à produção, estamos conscientes de que precisamos efetivamente reduzir custos na área agrícola, industrial e logística, e, para efetivar a melhoria da produtividade, investir na genética da cana. Resumindo, a retomada dos investimentos só será viável, se a atual insegurança for respondida com ações concretas por parte do governo.
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a retomada dos investimentos só será viável, se a atual insegurança for respondida com ações concretas por parte do governo "
Martinho Seiiti Ono
Diretor da SCA Etanol do Brasil
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Milhões de beneficiados já sabiam. Agora, os especialistas também concordam. O Projeto AGORA, iniciativa pioneira de comunicação institucional da cadeia sucroenergética brasileira, acaba de fazer história. Aos três anos de vida, conquistou a principal premiação do país para a comunicação empresarial, o Prêmio Aberje.. Além dos prêmios regional (SP) e nacional na categoria Comunicação Integrada, levou o mais cobiçado de todos: o de “Empresa do Ano em Comunicação Empresarial 2011”. É hora de agradecer aos milhões de brasileiros que participam das inúmeras iniciativas do AGORA e parabenizar as entidades e empresas que contribuem para esse sucesso. Talento e esforços voltados para divulgar a importância estratégica do etanol, da bioeletricidade e das soluções de baixo carbono que vêm da cana-de-açúcar.
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entraves
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No sentido de reverter o tímido retrospecto de investimentos agrícolas, o BNDES lançou a linha PRORENOVA, destinada a apoiar a renovação e implantação de novos canaviais. Os primeiros sinais de demanda são bastante animadores. "
Carlos Eduardo Cavalcanti Chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES
O descompasso entre a demanda potencial e a oferta efetiva de etanol vem sendo a regra no mercado brasileiro desde a safra 2010/11. Como resultado, o consumidor tem observado o aumento dos preços do etanol combustível, o que contribuiu para a deterioração de sua competitividade quando comparado à gasolina. Esse descompasso começou a se refletir também nos resultados da balança comercial brasileira. Enquanto as exportações decaem desde 2008/2009, as importações passaram a crescer sobremaneira nas duas últimas safras. Além disso, em razão dos aumentos recentes do preço do etanol, muitos consumidores passaram a optar pelo uso da gasolina, cujo preço é relativamente estável. Em 2011, a demanda pelo combustível fóssil superou a capacidade nacional de refino, o que levou o Brasil a também importar gasolina. Especialistas do setor compartilham a visão de que esse
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cenário irá se manter nas próximas duas safras. Essa visão também está presente em estudo a ser publicado proximamente, no periódico BNDES Setorial nº 35. Com base em informações prestadas pelos clientes da carteira do setor sucroenergético do BNDES, o artigo estima a oferta de etanol para o período 2012-2015 e a contrapõe com a demanda potencial pelo produto estimada pela Empresa de Pesquisa Energética - EPE. O resultado desse cotejo é um déficit crescente entre oferta efetiva e demanda potencial por etanol. No curto prazo, é razoável admitir que a oferta seja suficiente para atender à demanda, gerando, no máximo, pequenos ajustes de preços a partir de 2013. No entanto, o déficit de etanol tende a crescer, podendo atingir 12 bilhões de litros em 2015. No quadriênio 2012-2015, o déficit acumulado deve superar 30 bilhões de litros.
Opiniões Nesse mesmo estudo, ainda são discutidos alguns fatores que vêm limitando o crescimento da produção nacional do etanol combustível, entre os quais se destacam: a. redução da capacidade de investimentos do setor: para viabilizar o forte crescimento visto no período anterior à crise financeira, os grupos econômicos do setor se endividaram sobremaneira. O crescente nível de alavancagem dessas empresas, associado ao período necessário para a maturação dos investimentos (e para a geração de caixa), tornou-se progressivamente elemento impeditivo para que se contraíssem novos débitos. b. consolidação: a fragilidade financeira das empresas também intensificou o processo de fusões e aquisições no setor. A crise reduziu o preço dos ativos existentes e, nesse cenário, os grandes grupos econômicos começaram a comprar e/ou fundir-se com empresas já estabelecidas em vez de construir capacidade produtiva nova. c. rentabilidade limitada do etanol hidratado: a rentabilidade do etanol hidratado só ocorre em uma faixa muito limitada, o que vem reduzindo o estímulo ao investimento em novas unidades. De um lado, as usinas são pressionadas por custos crescentes de produção, que estabelecem um “piso” para o preço do produto na usina. Do outro lado, dadas as margens dos distribuidores e dos postos revendedores, o preço administrado da gasolina é relativamente estável ao consumidor final, situação que estabelece um “teto” para o preço do etanol no posto revendedor e, portanto, também na usina; e d. aumento da ociosidade industrial: a produção de etanol sofreu um revés adicional com o aumento internacional dos preços do açúcar. Como as usinas são capazes de produzir tanto o biocombustível quanto o adoçante, as empresas privilegiaram a produção do açúcar em detrimento da produção do etanol. Adicionalmente, outro fator que aumenta a ociosidade das unidades é a falta de investimentos agrícolas. Como argumentado, a crise financeira contribuiu decisivamente para que fossem adiados os investimentos em renovação e tratos culturais dos canaviais, que também sofreram com fatores climáticos adversos. No sentido de reverter o tímido retrospecto de investimentos agrícolas recentes, o BNDES lançou no início deste ano a linha PRORENOVA, destinada a apoiar tanto a renovação como a implantação de novos canaviais, com recursos de até R$ 4 bilhões. Os primeiros sinais de demanda pela nova linha são bastante animadores. Apesar de problemático, o cenário apresentado também deve ser interpretado como uma excelente janela de oportunidade para investimentos que, além de contribuírem para o fornecimento energético ao Brasil, também seriam decisivos para dinamizar setores importantes, como o de fornecimento de bens de capital industriais e agrícolas. Portanto, de forma a garantir que, de um lado, o etanol continue representando parcela importante da matriz nacional de combustíveis e, de outro, que o Brasil cumpra um papel relevante no comércio internacional do biocombustível, é necessária a criação de mecanismos permanentes, não somente de natureza financeira, que acelerem o crescimento do setor sucroenergético de forma a permitir um padrão de expansão ainda mais intenso do que o verificado anteriormente.
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uma revolução incompleta A indústria brasileira de açúcar e etanol está passando por um período de mudanças profundas. Não é difícil reconhecer que, na última década, uma série de grandes mudanças atingiram o setor. Dentre essas principais alterações, podemos citar: A revolução no campo: o cultivo de cana-de-açúcar se expandiu para muito além das regiões tradicionais de São Paulo/Paraná, indo para as "novas fronteiras" de Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, as quais possuem diferentes características agroclimáticas em comparação com as regiões tradicionais. Houve também a difusão de novas tecnologias, como colheita mecanizada e, mais recentemente, o plantio mecanizado, gerando consequências para a gestão agrícola e a produtividade no campo. A revolução no mercado: os carros flex, que só se tornaram comercialmente disponíveis em 2003, alcançaram recentemente 50% da frota de veículos leves. O mercado brasileiro de combustíveis tem sido submetido a mudanças profundas, nas quais alterações nos preços relativos de gasolina e etanol podem provocar grandes oscilações na demanda de cada um desses combustíveis. Quanto mais cresce a frota flex, maiores tornam-se essas oscilações em termos de volume absoluto, impactando, assim, toda a cadeia de combustíveis. A revolução no controle: uma outra revolução importante ocorre no âmbito do controle das usinas. Durante a última década, várias usinas familiares se tornaram empresas abertas ou passaram a ser controladas por grandes empresas multinacionais. Essas mudanças trouxeram consigo desafios e consequências imprevistas, mas também grande aprendizado. Agrônomos têm precisado desenvolver novas variedades e técnicas de campo em resposta à expansão da colheita e do plantio mecanizado. Diretores comerciais precisam considerar uma série cada vez mais complexa de fatores na elaboração de seus planos de venda. Eles precisam também se adaptar às novas medidas regulamentares que regem a comercialização e o armazenamento de etanol. Enquanto isso, CEOs e CFOs têm a responsabilidade de traçar o caminho de suas empresas vários anos à frente e garantir
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as questões que vêm criando essa revolução no Brasil estão começando na indústria ao redor do mundo, notadamente na China, Índia e Tailândia. Enquanto a revolução no campo está bem encaminhada no Brasil, ela está apenas começando nesses países. " Andy Duff
Food & Agribusiness Research & Advisory do Rabobank Intl Brasil
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o capital necessário para o financiamento de suas visões. Além disso, todos os desafios têm sido, e continuarão a ser, enfrentados em um cenário de alta volatilidade dos mercados financeiros e de commodities globais. Olhando para o futuro, fica claro que essas revoluções na indústria brasileira ainda têm um longo caminho a percorrer. Enquanto 65% da cana no Centro-Sul do Brasil são colhidos mecanicamente, em torno de apenas 10% são plantados mecanicamente. No que se refere à frota, 50% dos veículos leves ainda não são flex. Por fim, muitas empresas ainda têm ambições de explorar os mercados de capitais ou atrair investidores estratégicos visando financiar o crescimento futuro, o que demandará, por parte delas, boas práticas de governança corporativa, bem como maior controle financeiro e de desempenho. Lidar com alguns dos desafios associados a essas revoluções pode ter custado à indústria brasileira algumas perdas em termos de competitividade nos últimos anos. Essa questão foi agravada pela crise de produção e rendimento de cana em 2011/12. Nos próximos anos, os esforços para recuperar a produtividade do canavial, aumentar a eficiência da colheita mecanizada e maximizar a utilização da capacidade instalada de moagem, combinados à resiliência, flexibilidade e inovação, características dessa indústria no Brasil, devem ajudar a melhorar a sua competitividade. Enquanto isso, as grandes questões que vêm criando essa revolução no Brasil – como o aumento dos custos trabalhistas e a necessidade de manter o constante aumento de produtividade, a fim de compensar os custos mais elevados – já estão começando a gerar uma crescente pressão de mudanças na indústria ao redor do mundo, notadamente em países como China, Índia e Tailândia. Pode-se dizer, portanto, que, enquanto a revolução no campo está bem encaminhada no Brasil, ela está apenas começando nesses países. Da mesma forma que, no Brasil, eles precisarão de tempo para lidar plenamente com esses desafios e como ocorre no Brasil atual, a competitividade da indústria nesses países deverá sofrer com as modificações técnicas e estruturais que serão necessárias para implementar a sua própria revolução.
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não é possível que sejamos tão
incompetentes
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não contam com políticas públicas e planejamento de longo prazo que encoragem ninguém responsável a se embrenhar numa região de fronteira (...) e investir US$ 130/150 milhões num greenfield com retorno próximo de zero ou negativo. " Alexandre Enrico Silva Figliolino Diretor Comercial do Itaú BBA
Faço aqui uma breve retrospectiva dos últimos anos, narrando o que se seguiu à aguda crise financeira por que passou o mundo em 2008/09, que atingiu o setor sucroalcooleiro num momento de pico de alavancagem, em função de estar em meio a um pesado ciclo de investimento e com níveis de preços praticados nos anos 2007 e 2008, tanto no açúcar quanto no álcool, bastante inferiores às médias históricas. O período seguinte, a fase mais aguda da crise, foi marcado pelo esforço de conclusão de investimentos que estavam em andamento. Além disso, ocorreram: 1. um forte ciclo de recuperação de preços a partir da metade de 2009, notadamente no açúcar; 2. reestruturação de passivos das usinas feita pelo mercado financeiro sob a coordenação do BNDES;
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3. um ciclo, nunca visto, de operações de M&A que provocaram a mudança de mãos de mais de 150MM de ton de capacidade de produção. Essa onda de M&A aconteceu graças ao interesse de grandes corporações, principalmente tradings, petroleiras e players nacionais bem posicionados, em entrar ou ampliar seus ativos no setor, e, certamente, isso aliado à recuperação de preços evitou uma quebradeira sem precedentes. O ciclo elevado de preços contou com uma ajuda não desejável, que foram as intempéries climáticas com um 2009 excessivamente úmido, 2010 e 2011 excessivamente secos, este último ainda com incidência de geada e florescimento de parte do canavial. Além disso, o acelerado ritmo de crescimento na mecanização de colheita e plantio trouxe desafios agronômicos que
The Challenge of meeting global demand (for sugar and ethanol)
MAY 16th, 2012 THE WALDORF ASTORIA
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Presentations » WHEN WILL BRAZIL BE READY FOR ANOTHER EXPANSION SPREE » INDIA - HOPE FOR LESS CYCLICITY » VIEW OF THE MARKET FROM A PRODUCER PERSPECTIVE » VIEW OF THE MARKET FROM A BROKER/TRADER PERSPECTIVE » THAILAND’S QUANTUM LEAP – SUSTAINABLE » RUSSIA - THE CUSTOMS UNION & UKRAINE -AN OUTLOOK » CLOSING REMARKS Registrations can be made at DATAGRO or ISO, by phone or e-mail DATAGRO +55 11 4133 3944 conferencia@datagro.com.br
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bancos & fundos estão, aos poucos, sendo superados. Se, por um lado, a redução de oferta favoreceu os preços, por outro, provocou um extraordinário aumento de custos, chegando o custo médio do açúcar no Centro-Sul FOB Santos a inacreditáveis 21cents/lb em 2011. Após essa série de acontecimentos nos últimos três anos, temos uma fotografia do setor sucroalcoleiro que nos permite dividi-lo em blocos. No primeiro bloco, que chamaria de "Os Líderes", coloco aqueles grupos que têm um tamanho considerável, estão fortemente capitalizados e estão inseridos em poderosos grupos econômicos com grande capacidade de atração de capital e visibilidade. Nesse time, estão aqueles que, com certeza, estarão na liderança de qualquer ciclo de crescimento ou processo de consolidação, além de serem os líderes no campo da inovação. No segundo bloco, que chamaria de “Os Campeões Nacionais”, coloco aqueles grupos já tradicionais do setor que, por estarem bem estruturados do ponto de vista de recursos humanos, operacionais (principalmente agrícola) e financeiros (alavancagem dentro do razoável), souberam aproveitar esse ciclo de preços altos para reduzirem seus endividamentos. Esse grupo de empresas continuou a realizar, nos últimos três anos, investimentos de menor monta, mas bastante necessários, e, com isso, adquiriram musculatura que os tornam aptos a participar, de forma sustentável, de um novo ciclo de investimento. Num terceiro bloco, que chamaria de "Os Remediáveis", coloco as empresas também tradicionais do setor, que, por terem saído da crise com um nível de alavancagem acima do desejável e por estarem com sua operação produtiva ainda em fase de reorganização, se fizerem a lição de casa de forma disciplinada, terão todas as condições de passar para o bloco dos Campeões em curto intervalo de tempo e também de participar do novo ciclo de crescimento. Num quarto bloco, coloco aquelas empresas, a maioria internacionais, que têm sondado frequentemente o mercado e participado de alguns processos de M&A e que, em decidindo investir no setor sucroalcooleiro, por se tratarem de grandes tradings/petroleiras, teriam uma grande contribuição a dar num novo ciclo de crescimento. Num quinto e último bloco, coloco aqueles grupos que, por uma série de motivos, sejam de ordem financeira, sucessória ou má gestão e por estarem numa situação de elevada desestruturação, tendem, no curso normal das coisas, deixar o setor, seja via venda dos seus ativos para outros grupos mais aptos ou seja simplesmente via encerramento das atividades. Nos meus cálculos, esse bloco representa aproximadamente 15% do CS ou quase 100MM de ton de capacidade de moagem. Os três primeiros blocos, que é com quem podemos contar no momento para retomar o crescimento, em minhas estimativas, são responsáveis hoje por aproximadamente 85% da capacidade de moagem do Centro-Sul e, sem dúvida, são uma base extraordinária e suficientemente forte para praticamente dobrar o setor de tamanho até 2020, atingindo a almejada 1 a1,2 bi de ton de capacidade de moagem no CS. Posto isso, onde nos encontramos neste exato momento, em termos de disposição, para retomar um novo ciclo de crescimento?
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Opiniões Infelizmente, ainda não estamos no ponto de pensar em crescer de forma mais robusta. Isso porque: 1. Em primeiro lugar, o setor está atravessando uma grave crise agrícola, área para onde todas as atenções das empresas estão voltadas neste momento. Aquele velho ditado setorial que diz “moenda que não moi cana, moi o dinheiro do dono” é em função do que essa subocupação representa em termos de aumento dos custos. Recuperação e expansão do canavial são hoje o investimento mais óbvio e de retorno mais rápido, que permitirá ao setor ocupar a sua capacidade industrial instalada, já investida de 630MM de ton, representando, só isso, uma capacidade adicional de quase 140MM de moagem em relação à ocorrida na última safra. Para isso, contribui de forma decisiva a oportuna linha Prorenova recém-lançada pelo BNDES. 2. Em segundo lugar, as empresas, antes de se lançarem num vigoroso ciclo de crescimento, têm ainda como opção investir na melhoria, desgargalamento, flexibilização de mix e expansão de suas atuais plantas. São investimentos com valores unitários bem inferiores aos greenfields e que levam normalmente a uma saudável redução de custos e acabam fazendo sentido, mesmo num horizonte totalmente turvo como o que vivemos hoje. 3. Em terceiro lugar, o ciclo de crescimento anterior deixou profundas marcas, pois vários grupos acabaram, no meio do caminho, sendo abatidos pela crise de 2008. Além disso, o cenário econômico mundial, por mais que ainda não tenha tido grandes consequências sobre o Brasil, assusta qualquer gestor minimamente responsável e torna todos mais conservadores e avessos a risco. Afinal de contas, "em rio cheio de jacaré, macaco toma água de canudinho". 4. Por último, os dois grandes vetores de crescimento de demanda que seriam o etanol, de longe o mais importante, e a bioeletricidade, não contam com políticas públicas e planejamento de longo prazo que encoragem ninguém responsável a se embrenhar numa região de fronteira com todas as dificuldades, hoje bastante conhecidas, e investir US$ 130/150 milhões num greenfield com retorno próximo de zero ou negativo. Porém temos muita confiança em que as boas cabeças do governo, aliadas às boas lideranças do setor, saberão construir, num prazo não muito longo, ainda neste semestre, uma política que, no caso da bioleletricidade, contemple leilões separados por fonte e, se possível, por região, estímulos fiscais para aquisição de equipamentos e soluções para problemas de conexão, de forma a retribuir à biomassa as fantásticas externalidades que possui e que são já bem conhecidas. Ao renovável etanol também é necessário que o governo devolva os estímulos de ordem tributária que o diferenciem do combustível fóssil gasolina. Uma política clara de definição de preços, mesmo que administrados, que deem aos agentes econômicos segurança em relação às regras que estarão em vigor, absolutamente vital num setor de alta volatilidade, intensivo em capital e com prazo longo de maturação dos seus investimentos. Se tivermos sucesso, estaremos sabendo aproveitar esse momento mágico criado pelas oportunidades que se abriram nos últimos tempos . Não é possível que sejamos tão incompetentes.
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a demanda, o domínio,
a eficiência e a capacidade
A análise sobre o cenário vivido pela indústria sucroenergética brasileira na última safra, face à quebra da produção de cana e ao crescimento contínuo da demanda por etanol, já percorreu todos os caminhos possíveis para identificar as causas, diagnosticar os gargalos e lançar alertas para que os erros do passado não se repitam no futuro. Esse debate é sempre necessário, mas entendo que precisamos ser mais propositivos na defesa das virtudes do nosso negócio, em vez de potencializar os problemas, em busca de culpados, o que pode até justificar, mas não contribui para a melhora do quadro. Nos últimos cinco anos, nosso setor investiu US$ 50 bilhões e dobrou o patamar de produção. Após a crise global de 2008, que deixou um rastro de efeitos negativos, passamos da expansão para a consolidação do setor, depois de um processo intensivo de crescimento. Desde então, o canavial envelheceu, a demanda continuou impulsionada pelo aumento da frota de veículos flex, e os problemas climáticos afetaram ainda mais a produtividade. Essa é a história recente, conhecida por todos. Proponho, então, projetarmos esse filme na perspectiva de ter, já na safra que se inicia, a retomada do crescimento, com o aumento da produção e da oferta, tanto de açúcar quanto de etanol. Vencido esse ponto de inflexão, o sinal positivo passará a ser dominante, e, nesse caso, a curva do tempo contará a nosso favor, com a recuperação crescente dos ciclos da cana em volume e em produtividade. Em termos industriais, a capacidade já está instalada. Esse é o trailer do novo filme no capítulo agrícola, restando ainda a crítica econômica que ronda a atratividade do nosso negócio, sob o ponto de vista da remuneração do investimento. Ora, um dos pontos cruciais para a viabilidade de qualquer indústria é o mercado. Na nossa indústria, o mercado está dado, com demanda crescente tanto por açúcar quanto por etanol. Somente o Brasil tem a vantagem competitiva de ocupar e de expandir esse mercado com competência, consolidando a sua liderança global como grande fornecedor de alimento e energia. O Brasil responde por 50% do mercado livre de açúcar no mundo e continua sendo de fato o único país que tem a oportunidade de expandir sua produção e de suprir a carência mundial por alimentos. A viabilidade do etanol como energia limpa e renovável é inquestionável, e somente o Brasil tem como ampliar substancialmente a oferta do produto com eficiência econômica
e ambiental, para atender à urgência global por uma matriz energética limpa e renovável. Uma demanda que pode ser considerada infinita, por um produto cuja utilidade não é apenas insumo, mas benefício planetário. Por tudo isso, não me parece razoável que as questões ora em discussão possam prejudicar o fundamento do nosso negócio. Tive a oportunidade de propor uma agenda positiva para o nosso setor ao participar do Fórum Internacional sobre o Futuro do Etanol promovido pela Revista Opiniões na abertura da Fenasucro&Agrocana, em agosto último. Pude demonstrar que, a partir dos dados de expansão estimados para a Copersucar, a capacidade de moagem do Centro-Sul poderá passar dos atuais 500 milhões de toneladas para 620 milhões de toneladas, apenas com melhorias nas condições do canavial. Com o incremento da capacidade industrial, já previsto, poderemos moer, em cinco anos, o equivalente a 790 milhões de toneladas de cana. Em termos de atendimento à demanda interna por etanol, isso representa sair dos 32% de abastecimento da frota flex na safra 2011/12 para um patamar de 45%, ainda distante dos 60% a que já chegamos, mas um indicativo evidente da capacidade de recuperação do negócio – pelo menos no que depender da força empreendedora do nosso setor. Nessa perspectiva, de médio prazo, ter 45% do mercado representa atender a uma demanda da ordem de 47 bilhões de litros, um mercado de R$ 47 bilhões, ao preço de R$ 1 por litro. Com custos crescentes de produção e outros riscos inerentes ao setor, o esforço de atendimento a esse mercado só faz sentido se o investidor tiver, de fato, a percepção real de viabilidade dos planos de investimento. Admito que ainda há dúvidas na equação, mas também muitas ponderações a favor. A demanda firme, o domínio dos processos produtivos, a eficiência operacional e a capacidade de atendimento ao mercado global estão entre elas. Acrescentemos a busca pela produtividade, com maior eficiência nos custos, e a inovação tecnológica, com a evolução das variedades e a viabilidade da produção do etanol celulósico, como fatores de ganhos incrementais. Por fim, ressalto a vocação de empreendedorismo do nosso setor, que não conterá a expansão do seu negócio, uma vez restabelecidas as premissas de atratividade do investimento. Com todos esses elementos, acredito que falta pouco para construir o melhor enredo para um negócio que não é apenas do interesse do nosso setor, mas de todo o País.
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proponho, então, projetarmos esse filme na perspectiva de ter, já na safra que se inicia, a retomada do crescimento, com o aumento da produção e da oferta, tanto de açúcar quanto de etanol "
Luís Roberto Pogetti
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Presidente do Conselho de Administração da Copersucar
produtores
Opiniões
confiança e disposição
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vamos expandir a capacidade de moagem da companhia, dos atuais 65 milhões de toneladas de cana por ano para 80 milhões de toneladas nos próximos cinco anos "
Pedro Mizutani
VP Executivo de Etanol, Açúcar e Bioenergia da Raízen
O ano de 2011 deixou grandes desafios para todo o setor sucroenergético. Como consequência dos canaviais envelhecidos e dos investimentos limitados, a produção de cana-de-açúcar sofreu uma redução média de 10% no Brasil, e a Raízen – joint venture entre Shell e Cosan – seguiu essa tendência de retração. A companhia fechou o período da safra 2011/12 moendo 53 milhões de toneladas de cana. No entanto, a sequência de notícias negativas foi interrompida logo no início deste ano. O primeiro “respiro” veio de fora, dos Estados Unidos, com o fim das barreiras comerciais contra a entrada do etanol brasileiro no país, depois de 31 anos de forte protecionismo. Já a segunda novidade veio do coração do Brasil: a criação pelo BNDES da nova linha de crédito para o setor sucroalcooleiro. Batizada de Prorenova, o programa tem orçamento de R$ 4 bilhões e vigorará até 31 de dezembro de 2012. O objetivo é aumentar a produção de etanol, ampliando em 1 milhão de hectares a área plantada de cana-de-açúcar. Para a Raízen, ambas as notícias são muito oportunas em um momento em que o setor precisa aumentar a produção e a oferta de etanol no mercado. O aporte do governo, em especial, vai gerar um importante clima de confiança entre os produtores e, principalmente, deve incentivar aqueles que optarem por renovar o canavial na próxima safra. Antecipando-se às necessidades, a empresa já começou o seu próprio plano de expansão no plantio e processamento de cana, de forma a utilizar sua plena capacidade de moagem, de 65 milhões de toneladas, além de continuar o processo de renovação de seus canaviais. Sobre o último ponto, o desempenho da Raízen, em 2011, ficou acima das expectativas: a taxa de rejuvenescimento da cultura foi de 22%, acima dos 17% recomendados ao setor. A ideia da companhia é reduzir ainda mais a idade dos canaviais, atualmente de 3,2 anos, para 2,8 anos – meta aplicada à cana própria, que representa 50% do que moemos. Os fornecedores da companhia também estão investindo para ampliar a produção do campo e renovar o canavial de 3,8 anos para 3 anos até 2014/15. Outra parte relevante do ousado plano de investimentos da Raízen é
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expandir a capacidade de moagem da companhia, dos atuais 65 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano para 80 milhões de toneladas nos próximos cinco anos. O aumento deve vir de novos projetos, da expansão das unidades próprias e de aquisições. Além disso, os investimentos em pesquisa em novas tecnologias devem, ainda, fazer parte do processo de incremento da produção de etanol brasileira. A maioria das pesquisas está voltada para o aumento da produtividade da cana, sem a necessidade de aumentar a área de plantio. Outra iniciativa está na área industrial no que tange à produção de etanol de primeira geração. A Raízen, juntamente com a Codexis, empresa americana de biotecnologia, estuda o desempenho das leveduras usadas na produção do etanol, de forma a melhorar ainda mais o desempenho do biocombustível. Esperamos que, já em 2012, possamos ser beneficiados por esses estudos. Há também as pesquisas voltadas para o etanol de segunda geração, extraído do bagaço de cana, e de culturas alternativas, como o sorgo sacarino. A nossa experiência nas regiões de Piracicaba-SP e Jataí-GO mostrou que essa é uma cultura que pode contribuir de maneira importante para a produção do etanol e servirá para antecipar o início da próxima safra. Essas notícias revigoram o setor no Brasil, mas ainda será necessário tempo para que todos esses recursos e incentivos comecem a se fazer sentir no mercado. Estima-se que, para atender à demanda brasileira de cana-de-açúcar, a moagem do País deva alcançar 1 bilhão de toneladas nos próximos oito anos. Isso representa investimentos da ordem de US$ 67 bilhões ou 172 novas usinas, com capacidade de processamento de 3 milhões de toneladas cada uma. Nesse contexto, é extremamente necessário o reconhecimento, pelo governo, dos benefícios do etanol e da geração de energia por meio do bagaço de cana como fonte de energia limpa e renovável, com mais incentivos voltados para a construção de novos greenfields que colocaria o setor numa posição de maior competitividade. A Raízen, por sua vez, continua otimista e mantém sua confiança no potencial do Brasil para o setor.
produtores
Opiniões
uma indústria mais segura e competitiva Uma das grandes tarefas da indústria sucroenergética no Brasil, neste momento, é expandir sua capacidade produtiva, para que possa atender à demanda crescente por biocombustíveis no Brasil e no exterior. Este é o momento crucial para se dar início aos projetos, já que esse setor requer tempo para responder – a cana-de-açúcar leva entre doze e dezoito meses para estar pronta para o primeiro corte, e a construção de uma usina a partir do zero requer cerca de quatro anos. A BP está consciente desse desafio e, com seu plano de expansão de longo prazo, quer dar sua contribuição. O fim das barreiras ao etanol brasileiro no mercado norte-americano é um indicativo de como esse produto está se tornando cada vez mais global. Os principais países consumidores de energia para transporte estão desenvolvendo e implementando mandatos para ampliar a participação dos biocombustíveis em sua matriz energética. Nos Estados Unidos, o consumo de biocombustíveis avançados deve atingir cerca de 80 bilhões de litros em 2022 – o etanol de lignocelulose de segunda geração e o etanol de cana-de-açúcar atendem a esse critério reconhecido pela Agência de Proteção Ambiental - EPA. A União Europeia, por sua vez, tem por meta elevar a participação das fontes renováveis de energia a 10% de sua matriz energética até 2020. Por isso, esta década é chave para que o Brasil possa sustentar e ampliar sua posição de protagonista nessa indústria. Considerando a demanda estimada de biocombustíveis para 2020, precisamos instalar nestes dez anos capacidade equivalente à que o Brasil desenvolveu desde o Proálcool até agora.
De acordo com o estudo BP Energy Outlook, que analisa o cenário global de energia até 2030 e foi atualizado em 2012, a participação dos biocombustíveis no total utilizado para transportes vai subir de 3% para 7% globalmente – mais que o dobro. Para que esse crescimento aconteça, alguns desafios precisam ser superados. Uma das questões principais é o acesso e a disponibilidade de recursos tanto financeiros – no que se refere a dinheiro para investimentos – quanto humanos, pois, num mercado aquecido, é mais difícil contratar e manter bons profissionais. Esse mercado aquecido também causa impactos na indústria periférica que serve ao setor sucroenergético (como construção civil e fornecedores de equipamentos, por exemplo), que recebe forte demanda e tem dificuldade de atender a todos. Contudo, não basta apenas expandir a produção. Isso precisa acontecer de forma a promover um ambiente de trabalho seguro, adequado e focado no desenvolvimento e qualificação do trabalhador; ajudar o desenvolvimento das regiões em que estamos inseridos, protegendo a biodiversidade local; e sendo indutor de melhoria da qualidade de vida. É esse o espírito de certificações como a Bonsucro, de cujo Conselho de Administração participamos, o Compromisso Nacional por melhores condições de trabalho (um pacto da indústria com o governo), e como a SA 8000, recentemente obtida pela unidade BP/Tropical, que atesta a boa qualidade das relações de trabalho. Os investimentos realizados pela BP Biocombustíveis no Brasil, em 2011, asseguram não só uma capacidade existente de 7,5 milhões
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considerando a demanda estimada de biocombustíveis para 2020, precisamos instalar nestes dez anos capacidade equivalente à que o Brasil desenvolveu desde o Proálcool até agora "
Mario Lindenhayn
Presidente da BP Biofuels Brasil
de toneladas de cana processada mas também a base para chegarmos a cerca de 30 milhões de toneladas em cinco anos, com base em projetos greenfield e expansão das usinas existentes. Somente ano passado, foram investidos R$ 100 milhões em melhorias das usinas de Itumbiara e Ituiutaba, tanto na área industrial quanto na agrícola. A contribuição da BP para a expansão da capacidade produtiva do setor sucroenergético faz parte de nossa estratégia de negócios. Temos um compromisso de longo prazo com o Brasil, tanto por reconhecer o pioneirismo do País no desenvolvimento de um mercado de biocombustíveis de alta escala, quanto por avaliar que existem oportunidades de crescimento para se atender a uma demanda global cada vez maior.
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produtores
os desafios
Opiniões
futuros
Após dobrar sua capacidade produtiva em menos de uma década e apresentar crescimento de até 10% ao longo de sucessivos anos, o setor de bioenergia se aproxima da conclusão da safra da cana-de-açúcar com queda na produção da região Centro-Sul. Segundo o balanço divulgado pela Unica - União da Indústria de Cana-de-açúcar, até o final de dezembro, a moagem de cana pelas unidades produtoras na região era de cerca de 490 milhões de toneladas, queda de 11% em relação ao volume processado no mesmo período do ano anterior. O resultado reflete, em parte, a dificuldade ao acesso a crédito por parte dos produtores nos últimos dois anos. Uma parcela dos empresários do setor colocou os investimentos em espera, adiando a implantação de novas unidades agroindustriais, reduzindo o ritmo do crescimento da capacidade produtiva e sacrificando planos de expansão e a manutenção adequada dos canaviais. A baixa também é fruto de condições climáticas desfavoráveis ao longo das duas últimas safras, que comprometeram a produção e a qualidade da cana. As perspectivas futuras para o setor, no entanto, são muito positivas. A bioenergia, que sai dos canaviais e das usinas localizadas em mais de 20 estados brasileiros, tem se consolidado a cada dia como fonte
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ações como essas impulsionarão o etanol a um novo patamar e tornarão a última safra um incidente histórico na trajetória de sucesso dos biocombustíveis "
Luís Felli
Vice-presidente de Operações Agroindustriais da ETH Bioenergia
de energia limpa, renovável e, sobretudo, competitiva. Além de empregar mais de 1 milhão de pessoas, o setor de bioenergia tem transformado a realidade de muitas cidades. O desenvolvimento profissional e a criação de oportunidades ultrapassam as fronteiras da agroindústria. Além de aperfeiçoar seus empregados, as empresas promovem cursos técnicos nos locais onde suas unidades estão instaladas. Os treinamentos, com aulas teóricas e práticas, valorizam e melhoram a qualidade
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de vida de moradores e suas famílias e aumentam a geração de renda nessas comunidades. Com a nova postura do setor, o etanol de cana-de-açúcar é o produto que melhor atende à crescente demanda por biocombustíveis no mercado internacional. Motivado pela preocupação dos principais países do mundo com a segurança energética e pela necessidade de redução de GEE - gases de efeito estufa, o etanol tem um mercado potencial de centenas de bilhões de litros no Brasil e no mundo. A recente queda da tarifa de importação de etanol brasileiro nos Estados Unidos é mostra da competitividade do nosso biocombustível e da oportunidade que o País tem de liderar a transformação do etanol em commodity global, no momento em que os maiores consumidores de energia do mundo passam a elevar a parcela renovável de suas matrizes. O setor de bioenergia brasileiro iniciou 2012 com novo fôlego e vislumbra um futuro extremamente promissor. Garantir a expansão da oferta é prioridade para toda a cadeia do etanol, mas são necessárias definições públicas e novas linhas de financiamento para o setor. Ações como essas impulsionarão o etanol a um novo patamar e tornarão a última safra um incidente histórico na trajetória de sucesso dos biocombustíveis.
fornecedores de cana
Opiniões
a expansão da
produção A consistente demanda do mercado de açúcar e álcool, formada no contexto atual, oferece aos produtores uma oportunidade única para consolidação do setor. Passamos por uma crise profunda de altos e baixos na produtividade, nos preços e na oferta de recursos financeiros para investimento que deixou marcas no setor que estão cicatrizando aos poucos. Houve um rearranjo ainda incompleto nas empresas, com consolidações em grandes grupos que já detêm uma parcela substancial da produção; mesmo assim, a indústria permanece diluída em pequenas unidades espalhadas pelo Brasil.
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na concorrência, temos que olhar um cenário de produtividade e competitividade do setor com os seus substitutos, como os derivados fósseis na forma de combustível, principalmente com a superoferta no futuro petróleo que surgirá do Pré-sal "
Roberto de Rezende Barbosa
Presidente do Conselho do Grupo Nova América
Em meados da década passada, sonhávamos com o que hoje é realidade: para a demanda de etanol, parque automobilístico flex e a queda das barreiras americanas na comercialização do etanol; e, para o açúcar, a demanda crescente da África, Oriente Médio e Ásia. Com esse novo cenário, além da agenda conhecida para o crescimento, surgem novos desafios e metas para um novo ciclo de crescimento vigoroso. A produtividade dos canaviais terá que voltar aos níveis em torno de 90 ton/ ha e, com isso, ocupar os 25% de capacidade fabril que hoje está ociosa.
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fornecedores de cana Não podemos menosprezar o constante desafio de melhorar a infraestrutura social, ambiental e logística, capacitando mão de obra apta a operar o novo patamar tecnológico. Sem esquecer que a monocultura da cana em regiões de expansão leva a uma percepção de concentração desconfortável para o público do entorno das unidades industriais, que terão que estar integradas harmonicamente com o espaço que ocupa. Ainda ficarão expectativas de uma supercana que está em gestação na área de P&D, que poderá produzir 25% a mais de ATR por ha e adaptada a vários climas e tipos de solo, do etanol de biomassa, tanto da palha quanto do bagaço, a gaseificação e a fermentação por leveduras modificadas, tudo isso para um futuro a médio prazo. Na concorrência, temos que olhar um cenário de produtividade e competitividade do setor com os seus substitutos, como os derivados fósseis na forma de combustível, principalmente com a superoferta no futuro petróleo que surgirá do Pré-sal e não esquecer que os edulcorantes, tanto naturais quanto artificiais, ressurgem constantemente, como um break point competitivo. A área institucional requer cuidados que estão fora da porteira das fazendas, que necessitam de uma articulação política qualitativa, e é primordial para um longo prazo criar um marco regulatório em lei da matriz energética, bem como a sua abrangência tributária, diminuindo a insegurança competitiva. Capital barato e de longo prazo com o seu custo semelhante ao mercado internacional, nosso setor necessita de um grande volume de investimentos para continuar contribuindo de forma positiva para o PIB do País. No Brasil, ainda não temos essa oferta constante e permanente, ela sofre com os movimentos e as interpretações dos agentes financeiros e governamentais ao sabor dos ventos das possíveis crises. Neste momento em que o setor dá um grande passo em direção à consolidação e busca minimizar os custos implementando novas tecnologias e utilizando megamáquinas e ganha escala logística, não podemos nos esquecer da atenção humana necessária ao canavial e ao processo de transformação; o equilíbrio entre ganho de escala e qualidade do serviço será um estado de gestão a conquistar. Manter o convencimento das externalidades do etanol na mistura carburante, renovável e limpo, inserindo em marcos regulatórios dos vários países que ainda não os têm, pois devemos olhar para os seus dilemas de insegurança de quantidades de oferta, suficientes para suas necessidades, daí sim, tornando uma grande commodity comercializável mundialmente. O mundo empresarial já aprendeu como agregar valor fazendo extensão tecnológica em outros países, tirando exemplos do mundo desenvolvido, que fez isso por nós em meados do século XX, ocupando, assim, os espaços agriculturáveis que ainda estão disponíveis; o Brasil deve olhar para essa oportunidade, compartilhando e tropicalizando o nosso conhecimento com os vizinhos da América do Sul e com a África, situação em que ainda estamos muito no início. A sociedade está mudando com uma rapidez assustadora, impondo um pensamento novo para essa evolução que nos propõe o futuro. Vamos caminhar, que o Brasil é grande em oportunidades para empreender, e o setor sucroenergetico, uma grande riqueza de nossa cultura.
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Opiniões
a luz de alerta O cenário para a agroindústria da cana-de-açúcar hoje é bem diferente de alguns anos atrás. A euforia em torno do potencial de mercado, principalmente para o etanol, fez o setor crescer. Para se ter uma ideia, na safra 2009/2010, o Brasil colocou diversas novas unidades industriais em operação e ampliou a capacidade de produção de algumas já existentes. Na época, o horizonte que se enxergava era muito promissor, e ninguém imaginava que problemas climáticos, aliados à crise econômica mundial que teve início em meados de 2008 e se expandiu em 2009, freassem os investimentos em novos projetos no setor sucroenergético. É certo que, atualmente, o grande desafio do setor é outro. A falta de segurança econômica não incentiva greenfields a investirem em novas unidades, tornando os números do setor, em 2011, menores dos que os obtidos em outras safras. O que pode mudar esse cenário? O governo decidir se quer realmente incentivar a produção de combustíveis renováveis. Vou explicar: nenhum grupo nacional ou internacional vai investir em novas unidades industriais se continuar a existir essa instabilidade de preços para os produtos da cana-de-açúcar, mais especificamente para o etanol. Para que haja investimentos, é preciso a criação de mecanismos que assegurem preços regulares, independente dos fatores externos que possam aumentar ou diminuir a produção. Antigamente, as usinas vendiam o etanol por R$ 0,40 o litro e ganhavam dinheiro. Hoje, o etanol é vendido a R$ 1,00 o litro e não remunera adequadamente os produtores, porque houve um aumento nos custos de produção, principalmente por agregação de tributos e leis trabalhistas e socioambientais que foram inseridas no cotidiano das indústrias. Os custos triplicaram, e os preços praticados não sofreram a mesma alteração. Os produtores não podem continuar sendo onerados dessa forma, o governo precisa enxergar o valor do etanol e criar, por exemplo, uma CIDE - Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, como é feito com a gasolina e o óleo diesel. No caso desses dois combustíveis, o governo altera a CIDE toda vez que é necessário amenizar as flutuações dos preços internacionais do petróleo para
acendeu garantir a manutenção da estabilidade dos preços dos combustíveis de origem fóssil. Dessa forma, as distribuidoras não perdem dinheiro e também não há aumento de preços para os consumidores finais. É importante lembrar que, no mercado interno, temos uma demanda forte de etanol hidratado para fazer frente ao carro flex e de etanol anidro para mistura com a gasolina. Porém, é preciso que o etanol tenha preço. Nenhum industrial produz aquilo que não remunera. E nenhum empresário investe em produtos que não lhe assegurem retorno financeiro. O governo sabe disso, mas precisa colocar as mãos à obra, viabilizando urgentemente políticas públicas para dar competitividade ao etanol. Afinal, estamos falando de um combustível limpo e renovável, com resposta positiva ao apelo mundial na redução de emissão dos gases causadores do efeito estufa. O Brasil detém hoje a mais competitiva tecnologia para a produção de biocombustíveis e é, também, um dos maiores players no mercado internacional de produtos do agronegócio. Pela sua disponibilidade de recursos naturais, não terá de derrubar florestas ou reduzir a produção de alimentos para ampliar a produção de etanol. O crescimento se dará com uso da tecnologia, melhoramento genético, tratos culturais e ganho de eficiência na indústria, como sempre ocorreu. Podemos e devemos dobrar a produção de cana até 2020, chegando a uma produção de 1,2 bilhão de toneladas. Isso significa geração de empregos e melhoria de renda para a população, aumento de receitas para o nosso país. Com certeza, surgirão novas escolas, ampliação do comércio e desenvolvimento das regiões em que novas unidades industriais serão instaladas, já que, quando se fala na instalação de usinas, não é somente o industrial que está sendo privilegiado. Há uma injeção de recursos que se distribuem ao longo da cadeia e que se refletem também no desenvolvimento de outras atividades. Enfim, a luz de alerta acendeu, agora, cabe ao governo estimular os biocombustíveis ou perder uma boa oportunidade de assegurar o desenvolvimento do País de forma sustentável.
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nenhum grupo nacional ou internacional vai investir em novas unidades industriais se continuar a existir essa instabilidade de preços para os produtos da cana-de-açúcar, mais especificamente para o etanol "
Toninho Tonielo Presidente da Copercana e do Sicoob Cocred
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fornecedores de cana
Opiniões
a importância da política
agrícola
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Vimos os EUA montarem um plano de produção de etanol cumprido à risca. Sua produção aumenta vertiginosamente, cumprindo o planejado, independente da viabilidade econômica, usando dos mecanismos tributários para permitir esse desenvolvimento. "
Ismael Perina Junior
Presidente da Orplana
Nesses últimos anos, assistimos, no setor sucroenergético, a um verdadeiro movimento de sobe e desce, que assusta qualquer cidadão com um conhecimento mínimo sobre planejamento, aplicável a qualquer negócio ou empresa. É um descontrole generalizado. Até hoje ainda, iniciativa privada e governo não foram capazes de, ao menos tentar, organizar um setor e uma produção, que tanto têm contribuído para o País na geração de emprego, interiorização da produção, desenvolvimento e, principalmente, para a melhoria das condições ambientais, com a diminuição do uso de combustíveis fósseis.
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fornecedores de cana A continuar da maneira como estamos hoje, certamente caminharemos para algo que não é de interesse do País e de sua sociedade: um cenário de grande volatilidade de preços e descontentamento em todos os setores. Ora o governo agredindo produtores, acusando-os de falta de compromisso, esquecendo que boa parte da culpa pode ser atribuída a si mesmo, ora produtores acusando o governo de não disponibilizar recursos e provocar grande estrago no setor produtivo, gerenciar os preços da gasolina de forma distorcida, utilizando mecanismos tributários que prejudicam o etanol, já que não é possível trabalhar sem rentabilidade. Nesse contexto, é impossível o consumidor não ficar confuso e descontente, restando-lhe argumentos de sobra para criticar. Porém, devo fazer algumas colocações voltadas, principalmente, à parte da cadeia produtiva que represento: a produção agrícola de produtores independentes. Como continuar firme na atividade, com eficiência, ganhos de produtividade e rentabilidade? Eis a grande questão. Isso só será possível quando os envolvidos nessa cadeia traçarem um plano conjunto com o governo federal, que permita avançar de forma sustentável, contemplando os benefícios já citados da produção de etanol, permitindo uma convivência saudável com outras fontes de energia, e quando houver a clara visão da necessidade de renda aos produtores rurais. E aí, experiências passadas são suficientes para nos mostrar que não adianta deixar o mercado por si só. Falhas no processo produtivo ao longo dos anos, ou eventuais sobras, são problemas de todo mundo – produtores e governo –, desde que as ações sejam conjuntas. Vimos os Estados Unidos montarem um plano de produção de etanol que vem sendo cumprido à risca. Sua produção aumenta vertiginosamente, cumprindo aquilo que foi planejado, independente da viabilidade econômica, usando dos mecanismos tributários para permitir esse desenvolvimento. Lá, é clara a visão de que o etanol é necessário para ajustes da matriz energética e resolução de problemas.
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Se, comprovadamente, temos um combustível que é muito menos poluente, e é renovável, por que não incentivar essa produção e dar sequência a um trabalho que se iniciou na década de 1970? Fazer política agrícola nesse setor é necessidade. É preciso tentar impedir que a quantidade produzida tenha variações bruscas e criar um modelo em que o produtor tenha rentabilidade. Assim, será possível permitir a sua continuidade na produção de maneira eficiente, minimizando o risco de grandes variações, como aconteceu nas safras 2008/09, 2009/10, 2010/11, quando os produtores receberam, pela produção, menos que o custo. Os investimentos não foram realizados, o que diminuiu grandemente o nível de reforma dos canaviais. Somando-se a esses fatores, tivemos um ano agrícola absurdamente atípico, com secas, chuvas em períodos inapropriados, geadas e alterações nas características fisiológicas da cana, promovendo alto índice de florescimento, consequente queda na produção e aumento de preços. Esse é um movimento mais que normal nas produções agrícolas, mas um plano bem feito poderia minimizar os efeitos de volatilidade, algo imprescindível. Caberia ao governo estar ciente da situação, pois possui técnicos extremamente competentes (MAPA e CONAB), e não deixar para outros ministérios um posicionamento, muitas vezes de forma arrogante, e com propostas de caráter punitivo, como se essa fosse a solução. Para que essa condição seja possível, é fundamental a participação do governo com a iniciativa privada, pois ele é o responsável pela confecção de nossa matriz energética. É ele quem tem que definir o que é necessário para cada uma das áreas e como as empresas terão sustentabilidade para continuar produzindo no longo prazo. Isso definido, saberemos da real necessidade de produção de cana-de-açúcar para a produção de etanol, açúcar e, consequentemente, energia elétrica, cada vez mais necessária ao desenvolvimento deste País.
Opiniões
ameaças ao invés de incentivos Em 2011, a população mundial atingiu a marca dos 7 bilhões de habitantes. A Organização das Nações Unidas estima que, em 2050, o planeta abrigará uma população que pode superar os 10 bilhões de habitantes, caso a taxa de natalidade dos países mais populosos não seja reduzida. Diante desse cenário, o principal desafio é garantir a oferta de alimentos e de energia, de forma sustentável, para todos esses consumidores. Além de ser considerado o celeiro do mundo, o Brasil destaca-se por ter a matriz energética mais limpa do planeta e com grande potencial de inclusão de fontes de energia capazes de mitigar a emissão de gases de efeito estufa. Dentre essas fontes, destaca-se a cogeração de energia elétrica a partir da biomassa da cana-de-açúcar, gramínea tropical do tipo C4 com grande capacidade de sequestro de carbono. Projeções do setor sucroenergético indicam que, na década de 2020, nossos canaviais terão o potencial de fornecer energia equivalente à capacidade instalada de Itaipu (14.000 MW), a segunda maior hidrelétrica do mundo.
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preocupa-nos que o governo federal utilize o artifício da ameaça, ao invés do incentivo, quando se trata de produção de etanol. Basta o preço do açúcar no mercado internacional subir um pouco, que logo se escuta falar em “Tributação para Exportação do Açúcar”. " Paulo Sérgio de Marco Leal Presidente da Feplana
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fornecedores de cana O Brasil descobriu a riqueza da cana-de-açúcar como máquina de geração de energia renovável no século passado, quando ainda não havia preocupações com o efeito estufa e as mudanças climáticas. O Proálcool, programa governamental pioneiro de substituição de combustíveis fósseis, lançado na década de 70, disponibilizou aos brasileiros energia limpa, barata e movida a fotossíntese. Mais recentemente, na década de 2000, o combustível da cana, agora conhecido como etanol, voltou a participar do cotidiano dos brasileiros, tendo seu consumo impulsionado pela participação crescente dos veículos flex na frota nacional e da existência da mistura obrigatória à gasolina. A principal diferença entre o Proálcool do passado e o movimento atual de consumo de etanol é a política pública. Hoje, a iniciativa privada é responsável pelos investimentos para garantir a oferta de etanol e tem que arcar com os prejuízos decorrentes da competição com a gasolina, combustível fóssil com preços administrados pelo governo federal. Em um ambiente de economia aberta, os investidores, entre eles os produtores rurais, estão sujeitos a oscilações da oferta de crédito e da rentabilidade, inibindo a expansão da produção. Mais detalhadamente, os seguintes pontos explicam por que o Brasil ainda não conseguiu consolidar a participação da cana-de-açúcar, de forma definitiva, em sua matriz energética. 1. Crise financeira internacional de 2008: diante da crise financeira que abalou a economia mundial, o setor sucroenergético teve sua oferta de crédito sensivelmente reduzida, ficando impedido de investir na expansão de sua capacidade instalada para atender à crescente demanda. Os fornecedores de cana-de-açúcar foram prejudicados com preços baixos, inferiores aos custos de produção e, em muitos casos, com a inadimplência no pagamento da cana recebida por algumas unidades industriais. Obviamente, sem renda, é impossível investir na renovação da lavoura, resultando no cenário atual de canaviais envelhecidos, com produtividade insuficiente para atender à demanda. Hoje, o governo já sinalizou que quer etanol. Mas o que tem sido feito para garantir a rentabilidade da cadeia produtiva? Todos os incentivos fiscais são direcionados para a gasolina, tirando a competitividade do combustível da cana. No Brasil, a regra é clara. Só se usa etanol se seu custo for 70% do preço da gasolina. Como competir com um produto (gasolina) que está, há 5 anos, com o mesmo preço? Temos de ter o mesmo tratamento tributário que é dado à gasolina. Sem uma política tributária igual à usada na gasolina, é impossível para o etanol competir de igual para igual, e o futuro das destilarias nas condições atuais de mercado tende a ter sua rentabilidade fortemente afetada, o que
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Opiniões pode colocar em risco seu desenvolvimento sustentável. 2. Custos crescentes de produção: nas últimas cinco safras, os fornecedores de cana-de-açúcar de São Paulo vêm recebendo sucessivamente preços abaixo dos custos de produção. Mesmo com a melhora do preço da cana na safra atual, o mesmo não atinge o custo total de produção, que aumentou cerca de 37% no período. 3. Insegurança Jurídica na área ambiental e do trabalho: quanto a essa questão, posso afirmar que o agricultor se sente muito mais seguro em plantar soja/milho, etc., pois irá empregar muito menos pessoas, e, consequentemente, com menos riscos trabalhista e ambiental. 4. Estímulo no preço da soja: na reforma do canavial, uma grande parte dos produtores fazem a rotação com soja e/ou amendoim. Nesses últimos anos, a soja teve uma grande evolução de preços, e seu custo de produção, que era de 18 a 16 sacas/hectares, baixou para 11 sacas/hectares. Também há outros pontos que causam grandes preocupações aos fornecedores de cana-de-açúcar. Entre eles, destaca-se a tendência de concentração dos canaviais nas mãos das usinas. As multinacionais que adquiriram empresas brasileiras sufocadas por dívidas, inclusive com os fornecedores, tendem a promover a integração vertical à montante de suas produções, excluindo os fornecedores do processo e concentrando renda em apenas um elo da cadeia produtiva. Deu no que deu, são elas as que menos produziram. Isso só desestimula o agricultor, para não dizer que essa política está fazendo uma Reforma Agrária ao inverso, pois, ao invés de manter o homem no campo, ela o está expulsando para a cidade. Como presidente da Feplana, a Federação dos Fornecedores de Cana do Brasil, espero que as usinas industrializem e comercializem e deixem para os produtores natos os canaviais. Será, com certeza, muito mais viável para a indústria. Por fim, preocupa-nos que o governo federal utilize o artifício da ameaça, ao invés do incentivo, quando se trata de produção de etanol. Basta o preço do açúcar no mercado internacional subir um pouco, que se escuta falar em “Tributação para Exportação do Açúcar”. Nossos gestores públicos precisam entender que a produção e a exportação de açúcar são atividades que, em muitas épocas, têm sustentado a receita do setor sucroenergético, inclusive dos fornecedores de cana, principalmente na situação de baixa competitividade do etanol frente à gasolina. Desestimular a atividade açucareira somente resultará em inibição de investimentos. Nossa história recente, que resultou na crise atual, deve ensinar uma importante lição aos formuladores de política pública: sem rentabilidade, não há garantia de oferta dos produtos do setor sucroenergético.
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visões diferentes, uma procurando induzir ao investimento, outra à intervenção na liberdade de empreender; uma procurando diminuir o risco do setor, outra aumentando num momento em que a lucratividade já inibe os investimentos. " Manoel Vicente Fernandes Bertone Consultor Especialista
Toda atividade estratégica para o Estado Nacional exige sustentabilidade política para seu desenvolvimento, já que algumas vezes as simples condições de mercado podem não ser suficientes para que esse desenvolvimento ocorra naturalmente. Principalmente em se considerando atividades que envolvem segurança energética, soberania nacional, compatibilização com segurança alimentar e clara necessidade de demonstração de sustentabilidade social e ambiental. Sendo esse o caso do nosso etanol, que compete com o açúcar no uso da matéria-prima, o alimento mais consumido no mundo cujo preço se comporta de maneira inelástica, e compete com a gasolina em ambiente de preços controlados com objetivos políticos, nos cabe questionar se a atual visão do setor por parte do governo se compatibiliza com a necessidade de investimentos para que os mercados dos derivados de cana de açúcar se equilibrem.
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Esse questionamento pode se dar comparando a postura governamental atual com a postura no período anterior, quando se verificou o vertiginoso crescimento da produção, de 10% ao ano em média, durante oito anos seguidos. Observando e comparando o período do governo Lula com o ainda curto período do governo Dilma, constataremos que estamos diante de visões governamentais absolutamente distintas, na verdade, antagônicas. No período do presidente Lula, este transmitia confiança, se expressava com otimismo, transformou empresários em heróis, acusou aqueles que nos apontavam com os dedos sujos de petróleo de quererem prejudicar um setor que se caracterizava por gerar empregos e renda bem distribuída e que proporciona enormes benefícios ambientais. Lula colocou o Brasil na vanguarda do uso das energias renováveis, usou seu carisma para ganhar o mundo vendendo o etanol como possível gerador de
ensaio especial desenvolvimento, posicionou a Embrapa no continente africano, trouxe ao Brasil incontáveis líderes internacionais na Conferência Internacional dos Biocombustíveis, realizada em São Paulo, no dia da Consciência Negra, encantando nossos parceiros africanos; mobilizou os diversos setores governamentais para que atuassem com empenho nos debates internacionais sobre agroenergia, aumentou os investimentos no BNDES no setor, que, ainda que com taxas de retorno baixas no caso do etanol, ampliou sua capacidade produtiva através de projetos de novas unidades e passou também a mirar a venda de energia elétrica gerada pelo bagaço. O setor acreditou, investiu, cresceu a ponto de produzir acima da capacidade de absorção pela demanda. Pois em 2010, com um mundo já no segundo ano de uma grande crise financeira, a nação brasileira cresceu 7,5%, o consumo de combustíveis cresceu o dobro, o etanol ultrapassou o consumo de gasolina, dados os baixos preços, para, no final do segundo semestre, já depois das eleições, com os estoques diminuídos pelo consumo excessivo, os preços se recuperarem, e a imagem do setor passar a ser questionada pelo governo que começava. Na primeira semana de janeiro, já se notava a mudança de postura governamental, uma postura mais agressiva, que denotava uma visão diferente da que tinha o governo, ou o presidente, anterior. A difusão pela imprensa de políticas mais intervencionistas aumentou a insegurança dos investidores, já influenciados pela crise internacional. De heróis passaram a vilões, de empreendedores que conseguiram o milagre de crescer 10% ao ano, tal qual a economia chinesa, a pessoas que colocavam em risco a segurança energética do País. As políticas públicas, que antes os incentivavam a investir, passaram a focar ameaças de taxação de
Opiniões exportações do açúcar, produto em falta no mercado internacional por razões alheias ao Brasil, ameaças de não permissão do uso de etanol importado, ameaças de proibição de exportações de etanol, de elevação da CIDE durante a safra, para elevar os preços e inibir artificialmente o consumo, ameaça de diminuição da mistura de etanol anidro na gasolina ainda no começo da safra, quando se planeja a produção das indústrias, a diminuição do percentual mínimo dessa mistura de 20 para 18%. O investimento que o setor privado não fazia devido à baixa lucratividade seria suprido pelos investimentos da Petrobras; a ANP agiria como o xerife do abastecimento, controlando a produção e os estoques. A redução da mistura em época inadequada fez com que, hoje, a indústria tivesse que misturar água no etanol anidro, transformando esse produto em hidratado, incrivelmente levando a novas dúvidas sobre o adequado atendimento da demanda do anidro, que, agora, já com uma mistura de 20%, já não poderia mais ter a demanda controlada por nova diminuição, pois de 20 para 18% pouca diferença se consegue. Visões diferentes, uma procurando induzir ao investimento, outra procurando conseguir o mesmo intento pela intervenção na liberdade de empreender; uma procurando diminuir o risco do setor, outra aumentando esse risco num momento em que a lucratividade já inibe os investimentos. A primeira agindo com decisões rápidas e compatíveis com o discurso para uma atividade estratégica, a segunda anunciando decisões que não se realizam e que, pela conotação das alternativas de solução, aumentam os riscos, já muito grandes, dos investidores. Visões diferentes que alcançarão resultados diferentes. Infelizmente.
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