A força ou a fragilidade do sistema sucroenergético - OpAA38

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ISSN: 2177-6504

SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano10 • numero 38 • Divisão C out-dez 2013

a força ou a fragilidade do sistema sucroenergético




índice

a força ou a fragilidade do sistema sucroenergético

Visão Estratégica:

Editorial da Abertura:

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Eduardo Pereira de Carvalho

Diretor da Expressão Coml, Imp e Exportadora

Ensaio Especial: Jairo Menesis Balbo

Diretor Industrial da Usina São Francisco

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Antonio Vicente Golfeto

Diretor do Instituto de Economia Maurílio Biaggi

Especialistas: Adriano José Pires Rodrigues Diretor-geral da CBIE

Maurilio Biagi Filho

Presidente da Maubisa, Aroeira e Agrishow

Plinio Nastari

Presidente da Datagro Consultoria

Igor Montenegro

Presidente da Goiás Parcerias

Produtores:

24

Antônio Celidônio Ruette

42 46 48

Ana Paula Malvestio

Diretor-Presidente da Antônio Ruette Agroindustrial

Consultorias: Sócia da PricewaterhouseCoopers

Julio Maria M. Borges

Sócio-Diretor da JOB Economia

Carlos Eduardo Araujo

Entidades:

26 30 31 34 36 38 40 52 54 58

Elizabeth Farina e Luciano Rodrigues Presidente e Gerente de Economia da Unica

Manoel Carlos de Azevedo Ortolan Presidente da CanaOeste e da Orplana

Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio Presidente da ABAG

Cesário Ramalho da Silva

Presidente da SRB - Sociedade Rural Brasileira

Luiz Gonzaga Bertelli Diretor da Fiesp-Ciesp

Antonio Eduardo Tonielo Filho Presidente do CEISE Br

Pedro Robério de Melo Nogueira Presidente da Sindaçúcar-Alagoas

Fomento e Pesquisa: Paulo José Pereira de Resende Superintendente de Fomento da Finep

Alexandre Enrico Silva Figliolino Diretor de Agronegócios do Itaú BBA

Julio Cesar Maciel Ramundo Diretor do BNDES

CFO da MacKensie Agribusiness

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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Helton Damin da Silva • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano



editorial

bastaria uma

canetada

?

Sente-se, hoje, clara mudança de natureza ideológica na atitude governamental para com o investimento privado: de um pragmatismo exacerbado a um intervencionismo marcante, cujos efeitos não deixam de lembrar aqueles das diretrizes dos governos militares, em especial o de Geisel. " Eduardo Pereira de Carvalho Diretor da Expressão Comercial, Importadora e Exportadora

Bastaria uma canetada bem dada, aumentando os preços da gasolina. Nada mais. Duzentos argumentos, razões, justificativas, sugestões, conclusões, pareceres, estudos, seminários, projetos de lei, MP’s: tudo isso poderia ser substituído por uma única canetada. Claro que tais ações teriam, em sua maior parte, algum resultado positivo. Mas quase nada alteraria o baixíssimo nível de investimentos no setor. Falo, como é óbvio, da triste situação por que passa a indústria do etanol no Brasil, hoje amargando uma das mais dramáticas crises de sua história. Faltam recursos naturais para expandir nossos canaviais, terras agricultáveis, sol, água, clima? Faltam empresários, engenheiros, recursos humanos, comerciantes? Falta tecnologia dominada, equipamentos, expertise produtiva? Falta produção nacional dos equipamentos industriais e agrícolas necessários? Faltam recursos financeiros? Falta demanda para seus produtos?

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Opiniões Hoje, menos de um terço de nossos veículos flex-fuel usam o álcool hidratado em seus motores. Sem falar em mercados externos. Em outras palavras: há uma demanda potencial duas vezes maior que o atual consumo, ou cerca de mais de 20 bilhões de litros anuais adicionais. Mas o que não há, decididamente, é preço de etanol para competir com a gasolina. E não há preço porque a gasolina consumida no País está sendo vergonhosamente subsidiada há muitos anos, com notáveis prejuízos para a Petrobras e para toda a vasta cadeia produtora e processadora da cana-de-açúcar. Falta decisão política para aproveitar esse enorme potencial. Há que se entender melhor o que ocorre. Primeiro, enorme expansão da indústria em boa parte dos anos 2000, resultado do clima de franca euforia por que passou o setor. Ótimos preços? Nem sempre. Fantásticos incentivos? Também não, além das tradicionais linhas de créditos oficiais, revigoradas. Tínhamos, isso sim, claro suporte governamental. Era a época de Lula, marqueteiro-mor, apregoando ao mundo nosso combustível renovável e suas inúmeras qualidades. Época de irmos juntos, com os veículos flex debaixo dos braços, visitar o mundo. De brigar pelo produto, seja nas discussões com os Estados Unidos – me lembro particularmente das conversas Lula/Bush; das negociações na OMC; no Japão; na China; na Europa; do grande esforço na África; do diálogo franco e aberto entre indústria e governo, olhando-se olhos nos olhos. Problemas: sim, havia-os, e muitos. Mas existia clara motivação, de todos os lados, em superá-los. Digo isso para contrastar com o clima atual. O que desmotiva e trava os empreendedores a investirem? Não são tanto as situações conjunturais desfavoráveis de preços ou câmbio, das variações climáticas ou das catástrofes naturais. Mas sim a impermanência das regras básicas, da incerteza quanto à manutenção das diferentes instituições que formam a superestrutura jurídico-administrativa do País. Sente-se, hoje, clara mudança de natureza ideológica na atitude governamental para com o investimento privado: de um pragmatismo exacerbado a um intervencionismo marcante, cujos efeitos não deixam de lembrar aqueles das diretrizes dos governos militares, em especial o de Geisel. Como posso investir na produção de etanol com a clara e contínua intervenção do governo nos preços de combustíveis? Escutei outro dia, de alto prócer de uma instituição financeira oficial, a maravilha que seria termos outros itens, em nossa agenda estratégica, a cada ano que passa, além do preço de combustível. Renovação dos canaviais, item de primordial importância; pesquisa genética para os indispensáveis ganhos de produtividade que já tivemos no passado; de melhorias no plantio e colheita mecânica; de avanços na cogeração de energia; do aproveitamento integral da palha e bagaço de cana na produção adicional de etanol de segunda geração; da implantação de processos de biodigestão; da implantação das modernas refinarias multifuncionais de cana; do aproveitamento das oportunidades que a péssima infraestrutura logística existente no Centro-Oeste cria para a produção de etanol de milho, a partir do processamento dos recentes superávits da produção de milho na região. Há uma enorme lista de coisas a fazer. Muito está sendo feito, com apoio governamental pontual. Sem tal agenda, não será possível à indústria atingir os níveis de eficiência e produtividade que lhe permitam conviver, de igual para igual, num mundo cada vez mais complexo e competitivo. Não há como negar, porém, a existência de um único e fundamental

item na agenda estratégica do setor: acordar com o governo um amplo entendimento quanto a uma política consistente e de longo prazo para os combustíveis. Ou seja, a famosa inserção do etanol na matriz energética brasileira. Há que se reconhecer as dificuldades. Em que circunstâncias pode o governo arcar com os ônus inflacionário e político de um reajuste nos preços dos combustíveis? No passado, já tivemos situações inversas, em que o preço da gasolina no mercado interno superava os níveis internacionais. Poucos se lembram disso. Parece-me correta uma política de amortecimento dos picos e vales dos preços de petróleo, tradicionalmente adotada entre nós. O que não pode ocorrer é o absurdo de um forte desajuste permanente. Há os que julgam existirem perspectivas favoráveis a um reajuste para baixo dos preços de petróleo: a anunciada independência energética dos Estados Unidos, graças à sua produção de gás natural do xisto; a consequente diminuição das tensões políticas no Oriente Médio; as projetadas reduções do consumo de combustível nos países mais avançados da OECD; os esforços de redução da emissão de gases de efeito estufa. Mas os brutais aumentos do consumo nos países emergentes, em especial na China e na Índia, hoje, e na África, amanhã, não permitem alimentar-se grandes esperanças de reduções nos preços de petróleo. O diálogo é indispensável. Por que é tão difícil? De um lado, houve notável mudança na estrutura das empresas produtoras, afetando a unidade de sua representação política, grave obstáculo a esse diálogo. Os interesses a serem reconciliados tornaram-se muito mais complexos. Dizia eu, outro dia, que os ternos de linho branco dos velhos coronéis estão guardados nos baús dos antigos engenhos, substituídos pelos cortes modernos de nossos executivos, engravatados ou não, representantes da nova tecnocracia empresarial. Bom ou ruim? Certamente, mais complicado. Não se vê mais o olho no olho de tempos passados. Desinformações mútuas são frequentes. O setor tem se mantido pouco unido, olhando o próprio umbigo, alimentando resquícios de ranços passados. De outro lado, há a barreira ideológica a que já me referi. O governo parece não crer na capacidade do empreendedor privado em assumir riscos. E se julga no direito de arbitrar seus lucros. Menos ainda podemos negligenciar o chamado custo Brasil, que penaliza todo e qualquer investidor. Quem, em sã consciência, pode desconhecer esse pesado clima antimercado? Os dois lados têm culpa registrada no Cartório das Oportunidades Perdidas. O risco adicional, hoje, é vivermos um sério apagão na oferta de combustível, tanto da gasolina importada, quanto do etanol. A cada decolada, oportunidades em que se acredita que o País finalmente possa mudar de patamar, algo faz com que voltemos sobre nossos passos. Deus queira que saibamos aprender com nossos erros. Mudar nossos comportamentos. Ouvir melhor os argumentos de nossos contrários. E, mediante um diálogo realmente transparente, saibamos articular um futuro digno de nossos enormes potenciais. Será que bastaria, como procurei argumentar, uma simples canetada reajustando o preço da gasolina para restaurar a confiança que sustente novo ciclo de investimento no setor? Não. Há muito mais a ser feito, em especial no campo das inevitáveis melhorias tecnológicas que manterão a competitividade da indústria. Mas, sem essa canetada, nada acontecerá. E la nave va...

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visão estratégica

Opiniões

governar

não é uma função

hepática

O que substituirá, gradativamente, o petróleo a partir de agora? Para responder a essa pergunta, importa saber que os custos – que eram apenas econômicos – passaram a ser econômicos e ambientais. " Antonio Vicente Golfeto Diretor do Instituto de Economia Maurílio Biaggi

Governar é uma combinação sutil de administração – que é uma ciência – com política, também ciência, mas costumeiramente definida, por estudiosos, como arte. Aliás, política é também a arte de se atingir o bem comum. Para muitos, no entanto, “política é a arte de usar a palavra para esconder o pensamento”. Tem muito de teatro. Afinal de contas, representa-se no teatro, enquanto se tem representantes no parlamento. O falecido deputado federal Carlos Lacerda – grande tribuno – costumava dizer que “em política, até o ódio é fingido”. Ela tem origem na polis grega. Polis quer dizer “cidade”. Portanto, política é a arte de administrar a cidade.

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visão estratégica Como a política surgiu em função da necessidade de se administrar a polis, para se saber – na sequência – qual a primeira consequência, vamos rastrear a palavra. Repetimos: depois de polis – por necessidade –, veio política. Depois de política – também por necessidade –, surgiu polícia. Será por acaso? Não. Nada acontece por acaso. O senador romano Marcus Tulius Cicero chegou a sintetizar que “política é a escola do crime”. Isso da tribuna parlamentar, no ano 44 da era cristã. Portanto há dois mil anos. Entre nós, não raro, política aparece como uma variável do crime. É mais ou menos semelhante à sequência de termos que obtemos com a palavra “síndico”. É com síndico – com seu espírito – que se faz sindicato. Depois, na sequência e por necessidade –, aparece a palavra “sindicância”. Certamente, porque há coisas escondidas, que carecem de vir à tona. Do equilíbrio das duas – administração e política –, é que pode resultar um bom governo, um governo voltado para o atingimento dos interesses do povo, tanto das atuais gerações como das que ainda estão chegando ou, até, das que ainda não chegaram. Não é à toa que Edmund Burke – historiador inglês – definiu pacto social como sendo “um acordo entre os mortos, os vivos e os que ainda não nasceram”. Em tempo: bom lembrar que pacto é o particípio passado do verbo latino pacere, que quer dizer “fazer a paz”. Pacto, portanto, significa paz feita. Afinal, o positivismo – doutrina de origem francesa, de Auguste Comte – nos ensina que “os mortos governam os vivos”. A partir daí, já se pode concluir que governar – sobretudo em seu sentido combinado, de administração com política – não pode ser função hepática. Deve ser função cerebral. Portanto é muito mais nobre. Não se pode fazer política – sobretudo não se deve – com o fígado. Nem com os humores dele oriundos. Como, muitas vezes, acontece. Mas, lamentavelmente – pelo que se nota –, a própria presidenta Dilma Rousseff, mesmo com toda fama de gerente competente, não conseguiu afastar de suas atitudes políticas diversos tipos de emoção em relação a vários segmentos da economia nacional. Mas, sobretudo, em relação ao amplo e produtivo segmento sucroenergético. Que ela insiste em confundir com um punhado de usineiros, apenas. Efetivamente, os usineiros foram a marca do passado da história econômica de parte do Brasil, do Nordeste ao Sul. Hoje, entretanto, as empresas do setor sucroenergético – se houver usineiros, eles são insignificante minoria, porque a maioria das unidades é composta por empresas dinâmicas – estão em ampla condição de arrostar os problemas existentes. Inclusive estão preparadas para cortar, no presente, problemas que possam surgir no futuro. É a intuição do empreendedor posta a serviço do desenvolvimento econômico brasileiro. É preciso mostrar – até mais que mostrar, diríamos demonstrar – que o Brasil tem condições de formatar um desenho da matriz energética mais avançada até do que a matriz energética que já existe. E que é excelente, quando comparada – do ponto de vista do meio ambiente – com a matriz energética dos países mais desenvolvidos do mundo. É preciso incluir, como peça importante dessa matriz, o amplo setor da biomassa, com ênfase no etanol. Vale dizer: com sustentabilidade ampla.

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Opiniões Nesse caso, produzir é uma combinação de cérebro com materiais. Quanto mais cérebro for usado – como faz o setor sucroenergético –, de menos materiais se precisa. É por isso – exatamente por isso – que as posições tomadas pela presidenta Dilma Rousseff perante o setor nos faz lembrar da síntese de Eça de Queiroz, festejado escritor português, quando interroga: “é estupidez córnea ou má-fé cínica?” É essa pergunta que nós trazemos à reflexão da sociedade brasileira. O falecido presidente Tancredo Neves – fino observador da história política brasileira e líder inconteste da nacionalidade – anotou que “não se faz política sem vítimas”. Pretendendo identificar uma das vítimas mais notórias da política econômica nacional da atualidade – uma das mais fortes modalidades de política que se conhece –, verificamos a biomassa como singular prejudicada. Com ela – com o etanol incluído com destaque na matriz energética nacional –, pode-se estar construindo, no presente, um futuro promissor para todo o País. Mas pode-se também – sem ele na matriz – estar impedindo o País de somar a força econômica ao poder político advindo da biomassa. Depois do carvão mineral, a história nos mostra que o petróleo ocupou a primazia, em todo o mundo – como fonte de energia a movimentar as atividades humanas –, exatamente porque ele conseguia gerar, com custo bem menor, uma mesma unidade de produto. O que substituirá, gradativamente, o petróleo a partir de agora? Para responder a essa pergunta, importa saber que os custos – que eram apenas econômicos – passaram a ser econômicos e ambientais. É aí exatamente que algumas modalidades de energia – como a eólica, a solar e a biomassa – saem disparadas à frente das outras, inclusive e principalmente daquelas que são obtidas a partir dos combustíveis fósseis, como carvão mineral, petróleo e gás natural. Estas são fontes de energia que geram custo econômico bem menor. Mas geram, também, custos ambientais incalculáveis. É na soma dos dois custos – econômicos e ambientais – que o etanol sai à frente rumo ao futuro. Energia não é apenas riqueza econômica. Portanto não se circunscreve somente no âmbito pequeno e estreito da economia. É muito mais. Energia é poder. Portanto situa-se no campo da política, que pode ser conceituada exatamente como o exercício do poder. E poder político. Que será tanto mais reconhecido pelas gerações atuais e futuras quanto menores forem os custos que a modalidade de energia escolhida proporcionar à atividade econômica em geral. Se, em geografia, a pergunta que se faz é “onde”, em história, é “quando”. Já em economia, a pergunta é “quanto custa”. Se a presidenta tivesse demonstrado – ao longo do mandato – que tem características de verdadeira estadista, ela não estaria desprezando um setor que, por seu dinamismo e por sua importância estratégica, representa um dos caminhos por onde passará o futuro do mundo em geral e dos países em particular. Afinal, estadista nunca é aquele que vê mais. Estadista é sempre aquele que vê antes. Mas parece que, nesse particular, a presidenta apenas vê. E muito pouco. Mas, lamentavelmente, não enxerga nada. Enxergar é ver o que os outros não veem. Em política – mais do que em qualquer outra atividade humana –, o preconceito é sempre um mau conselheiro. Seus resultados são catastróficos.


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especialistas

Opiniões

muita intervenção e pouco planejamento A opção pela intervenção, o abandono do planejamento e a falta de respeito ao mercado são a gênese do que denominamos de desorientação energética, política promovida pelo Governo Federal a partir de 2008. Ela caracteriza-se por medidas autoritárias de curtíssimo prazo, através de intervenções que derrubam qualquer planejamento das empresas. Se o governo praticasse o planejamento e não a intervenção, poderíamos ter criado um ciclo virtuoso de energia competitiva, de investimentos, de geração de empregos, de crescimento econômico. Os efeitos da política míope curto-prazista está produzindo estragos e criando grandes esqueletos em todas as áreas do setor energético brasileiro. Merece destaque o caso do etanol, que vem sendo prejudicado duplamente: punido pelo congelamento do preço da gasolina e pela desoneração da Cide da gasolina. A falta de planejamento chegou ao limite do absurdo ao desonerar um combustível sujo e importado em detrimento de um limpo, que gera mais empregos.

As vendas de gasolina C pelas distribuidoras em 2012 foram 56% maior que em 2009, e as de etanol, 40% menor, comparando-se o mesmo período. De nada adianta o governo estabelecer uma política de incentivos aos carros flex-fuel, para fomento do setor de etanol, se ele continua a subsidiar a gasolina. Com a redução da demanda, as empresas se viram em dificuldades financeiras, levando o setor a um ciclo negativo de falta de investimento, baixa de produtividade e queda de produção. Como consequência dessas adversidades, segundo a Unica, nos últimos cinco anos, 43 usinas foram desativadas e outras 36 entraram em recuperação judicial. Desde 2008, nenhuma decisão de instalação de nova usina foi tomada no País. Só quatro unidades estão previstas para entrar em operação até 2014, mas são projetos que foram decididos antes da crise. O resultado é que, ao invés de nos tornarmos a “Arábia Saudita Verde”, passamos a não ter etanol, nem mesmo para suprir as necessidades domésticas. Em 2010, nos tornamos importadores líquidos de etanol.

As vendas de gasolina C em 2012 foram 56% maior que em 2009, e as de etanol, 40% menor. De nada adianta o governo estabelecer uma política de incentivos aos carros flex-fuel, se ele continua a subsidiar a gasolina. " Adriano José Pires Rodrigues Diretor-geral da CBIE - Centro Brasileiro de Infraestrutura

O setor, que antes da descoberta do pré-sal era visto como de grande importância estratégica, a ponto de o ex-presidente Lula anunciar que o Brasil seria a “Arábia Saudita Verde”, carece de investimentos e estabelecimento de políticas de longo prazo. No rastro da euforia do carro flex-fuel, as empresas do setor fizeram pesados investimentos, muitas vezes com financiamento externo. No entanto a baixa competitividade do etanol fez com que os consumidores optassem pela gasolina no momento do abastecimento, fazendo com que as vendas do derivado disparassem, enquanto as do biocombustível se reduziram nos últimos três anos.

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Enquanto o Brasil segue políticas intervencionistas equivocadas, nos EUA, os incentivos de longo prazo impulsionaram o setor de produção de etanol. Em 2000, as usinas americanas fabricavam apenas 57% do volume das usinas brasileiras, enquanto, em 2011, a produção norte-americana representou mais que o dobro da brasileira, 230%. Com o baixo crescimento da produção, o Brasil foi ultrapassado pelos EUA na liderança do setor. Os mesmos subsídios à gasolina, que tanto prejudicam o setor de produção de etanol, também vêm fazendo estragos na Petrobras e, consequentemente, em todo o setor de petróleo nacional.


Opiniões Essa política acabou com o planejamento da Petrobras. Com o anúncio do pré-sal, ela apresentou um ambicioso plano de negócios planejando investir mais de US$ 200 bilhões a cada cinco anos. Ao mesmo tempo, o governo intervém e congela os preços da gasolina e do diesel, justo no momento em que a empresa precisa fazer caixa. A intervenção do governo criou mais deveres para a Petrobras e tirou o seu direito de estabelecer os preços da gasolina e do diesel, seguindo a tendência do mercado internacional. Ao vender combustíveis a um preço abaixo do mercado internacional, a Petrobras vem registrando prejuízos desde 2011, resultados negativos na área de abastecimento, que prejudicam a geração de caixa da empresa, atrasando investimentos e comprometendo o crescimento da produção brasileira de petróleo e gás. Como consequência, a produção nacional de petróleo está praticamente estagnada desde 2010, com queda de 2% em 2012 com relação a 2011. No mercado de derivados, a produção doméstica foi incapaz de atender completamente à demanda interna, e, a partir de 2010, o País passou a importar grandes volumes desses produtos. As importações de gasolina entre 2010 e julho de 2013 cresceram 395%. O setor sucroalcooleiro vem sendo penalizado por uma política de stop-and-go, que atrapalha a previsibilidade, inibindo os investimentos e o crescimento da produtividade. O setor carece de uma política de longo prazo e de um marco regulatório estável capaz de definir tal política. Desde o seu surgimento, o setor vem sendo impactado por medidas que visam ao curto prazo ou à resolução de problemas alheios ao setor energético, como o caso dos problemas relativos ao balanço de pagamentos. Nunca houve clareza com relação à participação que o Brasil deseja para o etanol em sua matriz energética. No início da década de 70, após o primeiro choque do petróleo, a alta do preço dos combustíveis no mercado internacional levou o Brasil a uma crise em seu balanço de pagamentos. Como resposta, o Governo lançou, em 1975, o Programa Nacional do Álcool, ou Proálcool, com o objetivo de estimular a produção do etanol e, dessa forma, diminuir a necessidade de importação de petróleo e derivados. Em sua primeira fase (1975-79), o programa foi orientado para a produção de álcool anidro, para a adição na mistura com gasolina, possibilitando a redução nas importações do derivado. Com o segundo choque do petróleo (1979-80), o preço do barril de petróleo triplicou em relação ao observado no início da década, fazendo com que as importações de petróleo passassem a representar 46% da pauta de importações brasileiras em 1980. Esse novo estrangulamento nas contas externas brasileiras levou à adoção de um novo conjunto de medidas com o objetivo de incentivar o consumo do álcool. Foi criado o Conselho Nacional do Álcool (CNAL) e a Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL) para agilizar a expansão do programa, e desenvolveu-se o carro movido puramente a álcool. A proporção de carros a álcool, no total de automóveis de ciclo Otto produzidos no País, aumentou de 0,46%, em 1979, para 26,8%, em 1980, atingindo um teto de 76,1%, em 1986. A partir de 1986, com o contrachoque do petróleo, os preços do barril de óleo bruto caíram de um patamar de US$ 30 a 40 para um nível de US$ 12 a 20. Essa nova realidade colocou em xeque os programas de substituição de hidrocarbonetos fósseis e provocou o abandono das políticas públicas que viabilizaram o álcool. Esse abandono coincidiu com um período de alta no mercado internacional de açúcar, levando

as empresas a priorizarem a produção dessa commodity em detrimento do álcool, causando desabastecimento no mercado doméstico. A soma de uma conjuntura de gasolina barata com desabastecimento gerou uma perda de credibilidade para o programa, provocando a primeira grande crise do setor. No início da década de 2000, o crescimento da conscientização ambiental ressuscitou o álcool como combustível, dessa vez batizado de etanol, e criou o biodiesel. Como a população ainda tinha em sua memória o desabastecimento ocorrido no Proálcool, a solução encontrada para melhorar a aceitação foi a introdução dos carros flex-fuel. No período 2005-2012, a frota de veículos ciclo Otto cresceu 63%, uma taxa média de 7,2% ao ano. A frota flex-fuel aumentou 14 vezes no período, enquanto a quantidade de veículo movidos exclusivamente a gasolina encolheu 22% no período. Dessa forma, a frota flex-fuel ultrapassou a de gasolina e respondeu, em 2012, por 57% do total. A hegemonia do carro flex-fuel trouxe uma nova dinâmica para o mercado de combustíveis, já que grande parte dos consumidores passou a escolher o combustível que utilizaria no momento do abastecimento. O preço relativo dos combustíveis é o critério preponderante de escolha, o problema é que o preço subsidiado da gasolina distorceu o mercado e reduziu a competitividade do etanol. Dada a diferença de rendimento entre os dois combustíveis, só é vantajoso para o consumidor abastecer seu carro com etanol, quando o seu preço estiver abaixo de 70% do preço da gasolina. O etanol não tem sido, na média, competitivo desde o início de 2011. Em abril de 2011, o biocombustível se mostrou menos competitivo, alcançando R$ 2,30, aproximadamente 81% do preço da gasolina C na época. O etanol foi duplamente punido, pelo congelamento do preço da gasolina e pela desoneração da Cide – Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico. A partir de junho de 2012, a gasolina teve a alíquota da Cide zerada, sendo totalmente desonerada. Assim, a falta de planejamento chegou ao limite do absurdo ao desonerar um combustível sujo e importado em detrimento de um limpo e que gera mais empregos. A baixa competitividade do etanol está fazendo com que os consumidores optem pela gasolina no momento do abastecimento, o que fez com que as vendas do derivado disparassem e as do biocombustível se reduzissem nos últimos três anos. Além da competição desleal com a gasolina, que reduz as vendas e espreme a margem de lucro dos produtores, o setor vem enfrentando adversidades, também, em outras áreas. Desde a crise de 2008, o setor tem tido dificuldade em levantar recursos para investimento em ampliação, renovação e mecanização do canavial, e, para piorar, as últimas safras tiveram seus custos aumentados por problemas climáticos. Como consequência dessas adversidades, segundo dados da Unica, das 330 usinas de açúcar e etanol da região Centro-Sul do Brasil, responsáveis por 90% de toda a cana-de-açúcar processada no País, 60 deverão fechar as portas ou mudar de dono nos próximos dois a três anos. Pelo menos, 10 deixarão de processar a safra 2013/2014 por dificuldades financeiras. O resultado desse panorama é que o setor vem perdendo produtividade. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e da U.S Energy Information Administration (EIA), no Brasil, nos últimos 5 anos, a produção de etanol de cana cresceu 29%, enquanto, nos Estados Unidos, o salto foi de 185% no etanol de milho.

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especialistas a eicas Com a introdução do veículo flex-fuel, a indústria sucroalcooleira poderia ter aproveitado um imenso potencial. Considerando que todo o crescimento da frota flex-fuel, de 2003 até 2012, fosse abastecido apenas por etanol hidratado, teríamos um potencial de consumo, em 2012, de 34 milhões de metros cúbicos, mais de três vezes o consumo no ano. Para o sucesso do etanol, é fundamental o crescimento da produtividade. A situação de stop-and-go, além dos custos gerados, não permite que a indústria invista em tecnologia. Portanto, se o crescimento do mercado de etanol tivesse sido contínuo, certamente estaríamos em outro patamar de produtividade. Não adianta cobrar produtividade do setor, sem continuidade e política de longo prazo. Assim, é preciso que o poder público trabalhe no sentido de estabelecer mecanismos capazes de incentivar os investimentos e garantir a previsibilidade. É fundamental a adoção de um planejamento de longo prazo, que crie políticas públicas que estabeleçam metas de participação do etanol anidro e do hidratado na matriz de combustíveis. Ao invés de jogarmos pela janela a nossa vantagem comparativa como produtor de etanol, com planejamento, voltaríamos a dar previsibilidade aos produtores, tendo como benefício imediato o fim das importações de gasolina, voltando a estimular a inovação, a produtividade e toda a indústria local de fornecimento de bens e serviços. Com isso, acabaria o paradoxo atual de que, enquanto a venda de carros flex vai bem, a do etanol vai mal. A falta de políticas de longo prazo e de incentivos corretos está gerando distorções e desequilíbrios nos diferentes mercados. O principal efeito tem sido o desalinhamento entre demanda e oferta internas, que se traduz no aumento das importações, desequilíbrio de preços relativos e redução de in-

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Opiniões vestimentos. Estamos desperdiçando uma enorme vantagem comparativa, que é a diversidade e a abundância de fontes energéticas. A correta exploração dessas riquezas, certamente, nos tornaria um país mais competitivo e eficiente. Atualmente, dependemos da importação em todas as áreas do setor de energia. A importação de combustíveis, como a gasolina, vem batendo recordes sucessivos, importamos etanol dos Estados Unidos, dependemos do gás da Bolívia e do GNL e da energia elétrica do Paraguai. Para o melhor aproveitamento das potencialidades brasileiras, é preciso uma política que destrave esses setores e transforme a energia num insumo que proporcione vantagem comparativa em relação a outros países. Para isso, precisamos retomar o planejamento de longo prazo, através de políticas públicas que tragam de volta a estabilidade regulatória e a segurança jurídica. Só assim será possível atrair investimentos privados de qualidade e capazes de eliminar, de uma vez por todas, o tema “apagão” das discussões sobre o setor de energia no Brasil. Algumas medidas bem-vindas seriam: • Fim do subsídio ao combustível concorrente (gasolina); • Volta da Cide na gasolina; • Estabelecimento de um marco regulatório estável, com regras de longo prazo; • Definição de políticas fiscais e tributárias de incentivos ao uso do combustível limpo; • Discussão da presença do etanol combustível (hidratado) na matriz de combustíveis; • Definição de metas para a participação do etanol na matriz de combustíveis do País e da realização de políticas públicas capazes de garantir a previsibilidade do setor, de forma a estimular os investimentos e o crescimento da produtividade.



especialistas

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Em artigos anteriores publicados em diversos veículos, inclusive na Revista Opiniões, denunciei o descaso do governo quanto à necessidade de elaborar uma política de combustíveis transparente para todos os agentes econômicos envolvidos no assunto, desde os produtores até os consumidores. Em alguns momentos, fui contundente ao reconhecer a incapacidade política do setor sucroenergético em se posicionar com clareza. Agora que a agroindústria canavieira do Brasil atravessa um dos piores momentos de sua história, me pedem um novo depoimento. No primeiro momento, declinei do convite, argumentando que nada de novo havia ocorrido desde a reunião do CDES em abril, quando a presidenta Dilma disse que iria agir para resolver o problema do etanol.

Na realidade, a situação piorou e as perspectivas não são nada boas. Cinco anos depois da crise financeira internacional de 2008, a participação do setor no balanço energético nacional caiu de quase 20% para pouco mais de 15%. A esta altura do campeonato, o que pode dizer alguém que dedicou a maior parte da vida a lutar pela independência energética do Brasil por meio da utilização da biomassa como fonte de combustíveis renováveis? Bom momento, penso eu, para recordar a figura de Joaquim Gallo, aquele infatigável trabalhador de Sertãozinho, que tinha sempre uma resposta bem-humorada a quem lhe perguntasse como ia sua tarefa – fazer circular documentos na empresa em que prestava serviços: “Estamos lutando para perder de pouco”, dizia ele, expressando

É absurdo importar gasolina para vendê-la com prejuízo num país com uma frota de 20 milhões de carros flex e aptidão agrícola para dobrar a produção de etanol em poucos anos, desde que houvesse uma política de preços. " Maurílio Biagi Filho Presidente da Maubisa, da Bioenergética Aroeira e da Agrishow

o pragmatismo do atleta de time pequeno que, mesmo reconhecendo a força dos adversários, não entrega os pontos antes do apito final. De fato, é grande a diferença entre o E. C. Etanol e o Petróleo F. C., representados, de um lado, pelas destilarias de álcool, e, de outro, pela Petrobras e as petroleiras, estas contando com a ajuda dos árbitros e da cartolagem. Gigante por sua própria natureza estatal, a Petrobras tem flexibilidade financeira e contábil para bancar a estabilidade dos preços dos combustíveis em defesa da política anti-inflacionária do governo.

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Opiniões Mas isso funciona até certo ponto. A partir de determinado momento, o ônus pesa sobre toda a cadeia de combustíveis, provocando distorções nos preços e contradições nos índices de desempenho da economia. Nessas circunstâncias, agravadas pela queda na popularidade presidencial após as manifestações populares de junho, vimos, com naturalidade, o governo dar prioridade a problemas mais graves e urgentes do que o nosso. Também compreendemos que, a um ano das eleições de 2014, a presidenta usasse a tribuna da ONU para – em nome da democracia e da soberania nacional – exigir explicações do governo americano sobre denúncias de espionagem no Brasil. Perfeito, mas por que não enquadrar também outras formas de espionagem mais ou menos manjadas? Na área das finanças, por exemplo, toda transação bancária feita em dólar é registrada nos EUA de acordo com o SWIFT internacional; portanto, desde 1973, os americanos têm conhecimento de toda transferência internacional feita em dólar. A internet, inventada nos EUA para atender a necessidades de segurança, só facilitou esse tipo de controle. Na Amazônia, onde a espionagem não se restringe aos satélites que giram permanentemente ao redor da Terra, por que o governo não questiona a atuação de mil e uma ONGs estrangeiras que se dedicam ostensivamente à “defesa” da maior floresta do mundo? Essa região, tida como o pulmão da Terra, precisa ser explorada de maneira sustentável (econômica, social e ambientalmente), mas aproveitando as potencialidades das comunidades locais e a biodiversidade. O Brasil praticamente não tem patentes de produtos com princípios ativos extraídos da floresta amazônica, que, aliás, sequestra menos CO2 por hectare do que qualquer lavoura sazonal, como a de cana. Está mais do que na hora de o Brasil receber compensação financeira de outros países pelo ônus de preservar a Amazônia. Para colocar esse pleito, não há foro mais adequado do que a ONU, o órgão internacional responsável pelo controle das mudanças climáticas. Por outro lado, é constrangedor ver a diplomacia brasileira esquecer as afrontas do “imperialismo boliviano”, que não reconhece o direito de asilo político, sequestra ativos brasileiros em seu território e inviabiliza indústrias do sul do Brasil que confiaram no gás natural boliviano como um combustível econômico e seguro. Embora o preço internacional do gás tenha caído, a Bolívia segue impondo preços elevados ao parceiro Brasil. A política de boa vizinhança é bonita no papel, mas para quem tem de pagar a conta é uma... bomba de efeito retardado. Mesmo colocados numa saia justa, os produtores de combustíveis renováveis não perderam a esperança de receber melhor tratamento do governo. Afinal, um balanço da situação indica que nenhum ramo da economia nacional cresceu tanto e tão continuamente quanto a agroindústria canavieira nos últimos 40 anos. Bem ou mal, somos protagonistas de uma evolução histórica iniciada com a criação do Programa Nacional do Álcool em 1975, ano em que o setor pesava menos de 2% na produção brasileira de energia. Em menos de 40 anos, nossa participação no balanço energético cresceu mais de 10 vezes.

Hoje, cultivamos mais de 8 milhões de hectares, produzimos mais de 20 bilhões de litros de etanol (era para ser mais de 30 bilhões) e temos condições de ir muito além. No momento, os canaviais podem pouco diante dos campos petrolíferos do pré-sal. No futuro, porém, os combustíveis fósseis estão fadados a perder para os renováveis. Como diz o ditado: "não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe". Em algum momento, vai prevalecer o trunfo da sustentabilidade. Aí está a fonte do nosso otimismo. A longo prazo, mantidas as atuais condições tecnológicas, o etanol e similares tendem a dominar o jogo. E já temos até uma luz piscando no túnel: vêm aí os etanóis de segunda e terceira geração. Alguns especialistas dizem que estarão no mercado em três anos. Outros falam numa espera de até uma década. Mas são inevitáveis. O começo será com a palha da cana e o bagaço. Logo, teremos destilarias capazes de converter qualquer biomassa em etanol. Fazendo um retrospecto da nossa história, vemos que o nosso time foi vítima da ingenuidade, da boa-fé. Quando o Proálcool foi criado e virou um sucesso, cansamos de receber visitas de estrangeiros que nos elogiavam pelo pioneirismo, a coragem, a inovação. Até uma missão da ONU veio nos dar uma força. Vejam o que aconteceu, fomos alvo de espionagem econômica. O programa de etanol do milho americano, inspirado no nosso programa de álcool de cana, virou uma solução para as sobras do cereal nos EUA. Nós começamos com incentivos, retirados na década de 1990. Os americanos continuam sendo subsidiados até hoje. Eles podem, nós não. Independente de subsídios, precisamos apenas de condições igualitárias de competição. Se, neste momento, as autoridades energéticas não veem urgência na solução do impasse criado pelo anacrônico atrelamento do preço do etanol às tarifas da gasolina, talvez interesse aos responsáveis pela gestão do balanço de pagamentos conter a sangria da conta-petróleo, que se aproxima dos US$ 20 bilhões por ano. Se a quebra da paridade etanol-gasolina vem impondo uma terrível prova de resistência econômica aos produtores de energia renovável, a crescente importação de gasolina e diesel a preços mais elevados do que os praticados no mercado interno compromete seriamente a saúde financeira da Petrobras, que já carrega o fardo do combate à inflação. Tanto que nossa big oil foi rebaixada por agências internacionais de risco no exato dia (3/10/2013) em que completou 60 anos de existência. É absurdo importar gasolina para vendê-la com prejuízo num país com uma frota de 20 milhões de carros flex e aptidão agrícola para dobrar a produção de etanol em poucos anos, desde que houvesse uma política de preços. Será possível que não há saídas menos danosas para o interesse nacional do que sufocar os produtores de energia? Sugestão ao governo: ofereça uma bonificação por litro de produção adicional de etanol que permita ao País reduzir a importação de gasolina na mesma proporção. Seria como rachar a diferença entre a importação e a exportação de gasolinas. Um autêntico jogo de ganha-ganha para os produtores de etanol, para a Petrobras e para o governo.

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especialistas

Opiniões

crise

superando a Palestrante do 2º Datagro Ceise Br Conference

O setor sucroalcooleiro passa por mais uma fase de transição, que tem como principais elementos o controle de preços da gasolina, que afeta a competitividade do etanol, e os excedentes de açúcar no mercado internacional, que já duram três anos. O subsídio ao preço da gasolina, que, no final de setembro, foi estimado pela Datagro em 18%, não encontra qualquer justificativa plausível. Enquanto achata o preço da gasolina ao consumidor e o coloca em nível irreal e abaixo da cotação internacional, compensa essa defasagem com elevações maiores e mais frequentes no preço do óleo diesel, do querosene de aviação, da nafta petroquímica e do óleo combustível. O preço do óleo diesel afeta muito mais os custos e os preços gerais na economia, mas, como o seu reajuste não dá manchete em jornal, passa incólume e desapercebido por boa parte da população. O governo adota, dessa maneira, a política do “Robin Hood ao contrário”, pois favorece e estimula o usuário de transporte individual, que usa automóvel equipado com motor do ciclo Otto, em detrimento do usuário de transporte coletivo e da população em geral, que é afetada pelo frete das mercadorias transportadas com óleo diesel.

É uma política tão errada que não se sustenta no médio ou no longo prazo. Apesar das medidas paliativas e compensatórias, tem afetado de forma muito negativa a própria Petrobras e, por esse motivo, não é sustentável no médio prazo. Não é a primeira vez que isso ocorre em nosso país. No período de 1985 a 1989, houve igual controle dos preços dos combustíveis – da gasolina e do etanol, ainda controlado naquela época –, que levou ao desestímulo do plantio de cana, à estabilização da produção e ao processo que levou à descrença do carro equipado com motores movidos exclusivamente a álcool. Nos tempos atuais, não houve prejuízo de imagem junto ao consumidor simplesmente porque o País teve a felicidade de dessenvolver uma frota leve que hoje é predominantemente flex, mas não deixa de haver a perda de oportunidade de se utilizar mais o combustível limpo, renovável, produzido localmente, em detrimento do combustível fóssil, que é ainda importado. Nesse sentido, mais uma vez, o valor do etanol ficou demonstrado por sua enorme capacidade de substituir gasolina importada. Em janeiro deste ano, o Brasil importou 686,4 milhões de litros de gasolina, com dispêndio de US$ 509 milhões, em apenas um mês, um ritmo que assustou analistas e o governo pelo estrago potencial que poderia causar na balança comercial deste ano. Em 2012, já haviam sido gastos US$ 3 bilhões com a importação de 3,76 bilhões de litros de gasolina.

entendemos que, dentro de pouco tempo, os preços de mercado de açúcar e etanol irão atingir níveis que voltem a estimular um retorno de investimento em moagem "

Plinio Nastari Presidente da Datagro Consultoria

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especialistas O retorno da mistura padrão de 25% de etanol anidro na gasolina, corrigindo o erro da redução desnecessária para 20% em outubro de 2011, e o aumento no consumo de etanol hidratado, de cerca de 300 milhões de litros por mês a partir de maio, fizeram com que, em junho e julho, a importação de gasolina caísse para 98,4 e 90,2 milhões de litros por mês, respectivamente, e, em agosto, a importação fosse zerada. A recente crise do setor foi ainda agravada pela crise financeira de 2008, pelo clima adverso de 2009 a 2012, pela alteração fundamental no modo de plantar e colher a cana, que passou de manual a mecanizada e todas as consequencias e impactos por ela gerados, e pelo real valorizado em relação ao dólar, que ceifou a competitividade setorial, do açúcar e do etanol. Apesar de todas as dificuldades, o próprio mercado tem se encarregado de sanar as distorções, e o que mais chama atenção é que os fundamentos de sustentação do setor se mantêm inalterados. Em primeiro lugar, ressalta o fato de que as demandas de açúcar e etanol continuam em crescimento. A demanda mundial de açúcar continua crescendo 2,3% ao ano, ou 4 milhões de toneladas todos os anos. Entre meados da década passada (2005) e 2012, a produção de açúcar no Brasil cresceu 40,5%, enquanto a do resto do mundo cresceu apenas 16,1%. No mesmo período, as exportações de açúcar do Brasil cresceram 63,9%, enquanto a do resto do mundo encolheu 5,8%. Portanto foi o Brasil que sustentou o crescimento da exportação mundial nos últimos 12 anos. A demanda por etanol no mundo tem crescido entre 2000 e 2012 à taxa de 13% ao ano, e, no mesmo período, a demanda por combustíveis do ciclo Otto (gasolina mais etanol) no Brasil cresceu 5,03% ao ano, e continua em expansão. A crise setorial trouxe, como consequência, a paralisacão nos investimentos em expansão de capacidade de moagem. Com a recuperação da produtividade agrícola, que, aliás, ocorreu até antes do que imaginávamos e, nesta safra, atinge nível superior a 86 ton por hectare, acima, portanto, da média dos 5 anos anteriores na região Centro-Sul, de 84,9 ton/ha, somada ao fechamento de 57 usinas em todo o País, o setor já se encontra próximo da capacidade efetiva de moagem. A pergunta é: qual país vai continuar a suprir o crescimento da demanda mundial nos próximos anos? O mercado esteve relativamente tranquilo nos últimos anos porque estava em condição de excedente. A safra mundial 12/13 (out/set), encerrada em 30 de setembro último, registrou excedente de 9,5 milhões de toneladas. Mas 2013 já é o terceiro ano consecutivo em que a produção de açúcar do Brasil registra um volume em torno de 38 milhões de toneladas, e aos níveis atuais de preço, não encontramos muitos produtores encorajados a contratar grandes volumes de exportação para 2014, ou muito menos fazer hedge antecipado com um ano de antecedência como tem sido uma tradição dos produtores brasileiros. Neste momento, tudo indica que a safra de 2014 deverá, novamente, continuar tendo uma orientação geral na direção do etanol, apesar da política desencontrada do Governo Federal para os combustíveis. A opção pelo etanol só não está mais desacreditada junto aos produtores

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por causa dos incentivos de ICMS aprovados em alguns estados-chave e da isenção federal de PIS/Cofins, aprovada como magro paliativo (R$ 0,12/litro) à eliminação da Cide incidente sobre a gasolina (de R$ 0,28/litro). As perspectivas indicam que a safra mundial de 2013/14 caminha para uma redução significativa do excedente anterior, que passaria para parcos 3 milhões de toneladas, assumindo que tudo transcorra dentro da normalidade em vários países importantes no mundo. Mas já sabemos que: 1) em 2013, a renovação dos canaviais ocorreu no Brasil em ritmo bem inferior aos 21,5% de 2012; 2) as geadas ocorridas em julho e agosto deste ano afetaram a rebrota e a produtividade de áreas importantes de produção a serem colhidas em 2014; e 3) muitos produtores reduziram a aplicação de fertilizantes por causa das dificuldades de caixa. Portanto é provável que, em 2014, a oferta do Brasil não acompanhe o crescimento das demandas por açúcar e etanol. Um retorno de investimentos em ampliação de moagem só vai ocorrer quando os produtores se convencerem novamente de que há condições sustentáveis para remunerar novos investimentos. Antes disso, provavelmente, será dada prioridade a investimentos em cogeração e outras tecnologias que permitam o aumento da renda a partir do aproveitamento mais intensivo dos resíduos e subprodutos da cana já existente. A geração de eletricidade de biomassa deverá ter um novo grande impulso, em particular, pela decisão do novo governo do Paraguai de aproveitar a energia que lhe cabe de Itaipu para promover a sua industrialização, o que ocorrerá com estímulos à relocação de empresas brasileiras e argentinas naquele país. Fará falta ao Brasil os 5 a 7 GW de potência instalada que venham a ser utilizados pelo Paraguai, antes disponibilizados no coração do seu centro de carga. É por isso que entendemos que interessa sim, e muito, ao Brasil promover rapidamente um retorno dos investimentos em cogeração a partir de biomassa. Estimamos que a tarifa necessária para estimular o retorno desses investimentos seja entre R$ 200 e 210 por MWh, o que é muito menos do que os cerca de R$ 1.000 por MWh que têm custado ao País as térmicas emergenciais movidas a energia fóssil – gás natural e óleo diesel importados e óleo combustível –, que têm, inclusive, contribuído para tornar menos limpa a nossa matriz energética. Por esses motivos, é que entendemos que, dentro de pouco tempo, os preços de mercado de açúcar e etanol irão atingir níveis que voltem a estimular um retorno de investimento em moagem. Provavelmente, algo entre 4 e 5 cents por libra-peso acima do custo médio na condição FOB do produtor marginal. Pela participação nos mercados mundiais de açúcar e etanol e pela flexibilidade e capacidade de alterar o seu mix de produção, o Brasil deverá se manter com mais probabilidade como o fornecedor marginal do mercado mundial. Portanto o preço mundial deverá procurar remunerar novamente o produtor brasileiro para voltar a estimulá-lo a expandir sua produção. Nesse processo, outros países irão também participar dessa nova fase de expansão, mas, até que esses investimentos amadureçam e resultem em aumento de oferta, decorrerão, no mínimo, 3 ou 4 anos. São esses os motivos que indicam que a crise por que passa o setor estará sendo, em breve, superada.


Opiniões

guerra e paz “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”, dizia o estrategista chinês Sun Tzu, cinco séculos antes de Cristo. Só pode evitar a guerra e alcançar a paz verdadeira aquele país que é independente dos outros para suprir as suas necessidades de energia e alimento. Entendam como guerra todas as formas de dominação existentes. Para alcançar maior protagonismo no cenário internacional, o Brasil precisa lutar na defesa de seus interesses, especialmente na área de energia combustível. A Alemanha iniciou duas guerras mundiais no século XX para alcançar suprimento energético. Os EUA também têm patrocinado guerras no Oriente Médio – como no Kwait e no Iraque –, visando garantir as suas necessidades de energia. A Rússia já foi alvo de ataque nas grandes guerras por causa de suas reservas de gás e de petróleo. O Japão sempre tentou expandir o seu domínio territorial procurando dominar fontes de energia. A China, durante o século XIX e início do século XX, chegou a ter o seu território dominado por nações estrangeiras que exploravam suas riquezas. Se o Brasil quer uma paz duradoura em seu hemisfério, deve encarar como uma guerra a defesa de suas fontes de energia, dentre elas o etanol.

significativamente o consumo de hidrocarbonetos na América do Norte, e, ainda assim, será preciso ter mais energia elétrica para abastecer essa nova frota. O uso de biocombustíveis de milho e soja nos EUA também está limitado pela destinação alimentar desses dois grãos. A saída para os americanos será aumentar os investimentos na produção e na utilização de carvão e do gás natural, através do fracking ou fracionamento hidráulico. O aumento do uso dessas fontes de energia está sendo rejeitado por grande parte da população, mas não haverá outra saída para assegurar o suprimento de energia nos EUA, além de manter a importação de petróleo e continuar investindo no domínio geopolítico das regiões produtoras desse combustível. A Europa também continuará dependente de petróleo e gás natural nas próximas décadas. Os investimentos na expansão de energia nuclear estão suspensos na maior parte do continente, em virtude da força política emergente dos ambientalistas e, principalmente, pelo receio da população em relação aos grandes acidentes nucleares, como o da usina de Fukushima, no Japão. Como não possui grandes reservas de petróleo, gás natural ou carvão, o caminho da Europa será

Não podemos ter uma visão sentimental da situação. Precisamos de líderes fortes que estejam preparados para reconciliar o setor sucroenergético, o governo e a sociedade em torno de objetivos comuns para o nosso país. " Igor Montenegro Presidente da Goiás Parcerias e ex-coordenador do Fórum Nacional Sucroenergético

Sendo uma fonte de energia estratégica, o etanol brasileiro precisa ser visto mais seriamente por nosso país sob o ponto de vista geopolítico, pois ele é capaz de promover um melhor equilíbrio entre as nossas forças e as dos demais países. Temos olhado sempre para a questão do etanol no Brasil sob os aspectos econômico, social e ambiental, que são mas, certamente, seria mais importante, no Marelevantes, ho momento, encararmos Presiden e da Agrishow o aspecto geopolítico dos biocombustíveis. Para dar mais consistência a essa abordagem, é preciso avaliar o cenário mundial e compreender como o Brasil está inserido nesse contexto. Os EUA são os maiores consumidores de petróleo do mundo e continuarão assim nas próximas décadas. As novas tecnologias energéticas que estão sendo pesquisadas não serão viáveis em dez ou vinte anos. Talvez haja um crescimento na utilização do carro elétrico nos próximos tempos, mas nada que diminua

fortalecer as relações geopolíticas com os seus principais supridores de energia. A Rússia é, hoje, o principal fornecedor de energia da Europa, e a economia russa é muito dependente da produção de commodities agrícolas e minerais, como petróleo, gás e fertilizantes. Como irmãos siameses, Europa e Rússia precisam demais um do outro para sobreviver, de forma que os dois tendem a fortalecer os seus laços geopolíticos. Na Ásia, o Japão é um país altamente dependente de recursos energéticos estrangeiros. Sem fontes significativas de petróleo, gás natural ou carvão, o Japão se dedicou a um programa de produção de energia nuclear, que agora está em xeque. Para abastecer a sua economia, o país importa todo o seu petróleo, especialmente do Oriente Médio. Para garantir o fluxo das suas importações de petróleo, o Japão depende geopoliticamente da segurança feita pela frota naval dos EUA.

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especialistas A China, por sua vez, não tem tido grandes preocupações ambientais e está investindo em todas as formas de energia disponíveis para alavancar o seu crescimento. O maior crescimento está no uso do carvão, que é uma matéria-prima abundante em solo chinês, mas há investimentos também em petróleo, gás natural e energia nuclear. Isso não isenta os chineses da forte importação de recursos energéticos, especialmente o petróleo. Tanto China como Japão possuem vulnerabilidades energéticas, e a solução desse problema está bem longe de seus territórios, fazendo com que dependam de grandes esforços geopolíticos. Em resumo, os principais países da economia mundial possuem vulnerabilidades devido às questões de suprimento de energia, portanto essa é uma questão geopolítica central para todos eles. Além da diplomacia, os países ricos investem enormes somas em dinheiro nos seus orçamentos de defesa, para manter desobstruído o fluxo de comércio mundial de petróleo e gás. Todo e qualquer país sonha com uma solução para sua questão energética que seja interna e que não passe pela importação. O Brasil tem o etanol, que é uma solução energética do próprio país, que, curiosamente, não a valoriza. Esse é, claramente, um caso clássico de falta de visão geopolítica que compromete o presente e o futuro da nação. Na área de produção de energia, o Brasil desenvolveu uma grande infraestrutura de geração hidroelétrica e deu alguns passos tímidos em direção à energia nuclear. Depois de décadas de investimento em P&D na área de petróleo e gás, o País também desenvolveu know-how na produção de petróleo em águas profundas. Com isso, se tornou um produtor médio de petróleo, conseguindo assegurar um suprimento razoável para as necessidades internas. Mas somente chegamos bem perto da independência energética com a expansão da indústria nacional de etanol, ocorrida durante a última década. Naquele momento, estudos feitos pelo Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República demonstraram que o Brasil tem capacidade para suprir com etanol cerca de 10% de toda a necessidade de consumo de combustíveis do mundo. Isso é assombroso, principalmente tendo em vista que o etanol é uma fonte renovável e que as novas tecnologias ainda vão aumentar muito o potencial de utilização da cana-de-açúcar, como, por exemplo, o futuro uso da palha e do bagaço de cana para produção de biocombustível. O uso de todo o nosso potencial pode tornar o Brasil um grande protagonista na arena internacional da energia. Os recentes episódios de espionagem dos EUA revelados pelo ex-agente Edward Snowden demonstraram que uma das principais preocupações dos norte-americanos está na expansão da produção de bioenergia brasileira. É claro que o nosso programa de biocombustíveis não coloca em risco os EUA ou os demais países ricos, mas ele, certamente, pode alterar o equilíbrio da geopolítica mundial. Mas por que o Brasil está negligenciando um tema geopolítico tão importante? Por que em poucos anos, deixamos de ser exportadores de etanol para nos tornar importadores de petróleo? Por que deixamos de abastecer 50% de nossa frota de veículos com etanol e, agora, não chegamos a abastecer nem 25%? Por que estamos deixando de gerar milhares de novos empregos nessa atividade? Por que estamos sucateando a nossa indústria de base de máquinas e equipamentos? Por que estamos perdendo divisas e afetando negativamente a nossa balança comercial com essa política atual de combustíveis? A quem isso interessa?

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Opiniões É sabido que a presidenta Dilma Rousseff conhece com certa profundidade os assuntos relacionados à energia, pois foi Ministra de Minas e Energia durante o primeiro mandato do ex-presidente Lula. Certamente, não passaria despercebido para ela um assunto dessa magnitude. Além disso, como Ministra da Casa Civil e, depois, como presidenta da República, ela tem acesso privilegiado às informações estratégicas mais importantes do País, especialmente quanto às questões geopolíticas que influenciam o presente e que comprometem o futuro da nação. Nesse sentido, poucos assuntos da Presidência da República poderiam ser tão importantes quanto as questões da geopolítica e da energia, e, nesse contexto, o tema “etanol” deveria estar presente nas duas pautas. Então, é um mistério para mim o porquê de o assunto “expansão dos biocombustíveis no Brasil” não estar sendo tratado com absoluta prioridade pelo Governo Federal. Para expandir a nossa produção energética, não precisamos fazer uma guerra, não precisamos aumentar o investimento em defesa, não dependemos de complicadas alianças geopolíticas, nem dependemos de tecnologias de terceiros. Basta apenas aproveitar a enorme plataforma de produção de biocombustíveis que já está pronta e apoiar o seu crescimento. O investimento do nosso país seria mínimo se comparado às caríssimas soluções de importação de energia que são feitas pelos países ricos e que também envolvem grandes investimentos em defesa, além de sérios comprometimentos geopolíticos. A falta de planejamento de nosso país e a ausência de um projeto geopolítico podem destruir as pretensões do Brasil de se tornar, cada vez mais, importante no concerto das nações. Esses dois fatores podem, inclusive, abortar a nossa espiral de crescimento. É fundamental que a nação brasileira escolha definitivamente o seu caminho, que entenda quais são os países aliados e quais são os inimigos, que saiba formar alianças estratégicas e que aprenda a disputar batalhas geopolíticas que serão vencidas. O futuro do Brasil depende de suas fontes de energia, e o etanol é, certamente, uma das principais. Convergir para um entendimento nacional sobre os biocombustíveis e defender os mais legítimos interesses geopolíticos do País é papel do governo. Mas, infelizmente, isso não parece estar acontecendo naturalmente. Parecem se esgotar todas as tentativas negociadas de voltar a valorizar o etanol na matriz energética brasileira. Vivemos tempos de turbulências, e esses tempos exigem de nós coalizões suficientemente fortes para suportar a tempestade. Não podemos ter uma visão sentimental da situação. Precisamos de líderes fortes que estejam preparados para reconciliar o setor sucroenergético, o governo e a sociedade em torno de objetivos comuns para o nosso país. Precisamos investir no equilíbrio entre os princípios mais nobres (como a sustentabilidade e o desenvolvimento socioeconômico, promovidos pela atividade) com a defesa dos interesses geopolíticos nacionais. Para que isso aconteça, o caminho que nos resta, além da negociação, é a mobilização para que o Brasil enxergue o grave equívoco histórico que está cometendo. Tendo em vista que os governos são mais afeitos à reação do que à ação, a saída é unir trabalhadores e empresários nas mais diferentes regiões do País, em torno de um só objetivo: tornar o etanol um projeto nacional que pertence a cada cidadão brasileiro. É fácil de falar e difícil de fazer, mas depende apenas de nós.



produtores

parecia que era

verdade

O setor sucroenergético nunca viveu um momento tão difícil. Se, em outras épocas, havia a intervenção do poder público para garantir a estabilidade dos preços da tonelada de cana, do saco de açúcar e do litro de etanol, a liberação de tais preços deixou o setor à deriva. Não há controle de produção, a fiscalização está ausente, o setor público tornou-se omisso, e o usineiro, que antes sempre trabalhara em cumplicidade com o governo, enfrenta, no momento, sua maior crise desde a introdução da cana-de-açúcar no Brasil. Hoje, não se sabe quem fala pela classe, e a participação das empresas estrangeiras acabou por fragmentar o setor, concorrendo para fazer desaparecer a representatividade. Pior que isso é saber que, quando o produtor tentou dialogar, o governo fez ouvidos moucos. Jamais, em tempo algum, a indiferença pelo setor foi tão gritante e tão nefasta.

Sabe-se que determinados grupos, integrados por multinacionais, têm acesso ao governo, vão até aos ministérios para tomar conhecimento prévio das decisões governamentais, mas jamais para opinar, discordar ou ter voz ativa. Para agravar de vez o setor, em determinado momento, surgiu o astuto ex-presidente Lula, a passar mel nos lábios dos usineiros, chamando-os de heróis. A nação assistiu, aturdida, ao ex-metalúrgico bajulando os empresários de um setor sempre estigmatizado pela opinião pública. Foi uma jogada de mestre, que desnorteou a classe sucroenergética, pois, sentindo-se endeusados, os produtores empenharam-se na instalação de novas unidades fabris, que iriam produzir o decantado etanol para abastecer o mundo. A fala de Lula soava como música aos ouvidos dos desprevenidos usineiros. Final melancólico: hoje, cerca de 60 unidades sucroenergéticas estão ao relento, paralisadas, apodrecendo diante das intempéries, e outro tanto vive na maior

Para agravar de vez o setor, em determinado momento, surgiu o astuto ex-presidente Lula, a passar mel nos lábios dos usineiros, chamando-os de heróis. "

Antônio Celidônio Ruette Diretor-Presidente da Antônio Ruette Agroindustrial

penúria financeira, agravada pela defasagem dos preços e indiferença governamental. A seguir, nosso ex-presidente fez do pré-sal a menina dos seus olhos e passou a entoar música diferente, abstendo-se, no entanto, de pronunciamentos bombásticos, como o que seduziu a classe dos produtores sucroenergéticos. Sempre revelando-se bom ator, lambuzou, em público, suas mãos com as amostras do óleo extraído do pré-sal e, hoje, faz dele seu carro-chefe para as próximas eleições. Em verdade, a crise também é de lideranças. Estas desapareceram ou deixaram de ser ouvidas e respeitadas. Ficaram sem acesso ao governo, embora a antiga Associação dos Usineiros de São Paulo e a representação do Nordeste sempre possuíssem voz ativa junto ao governo. Durante a revolução de 1964, assumiu a Presidência da Associação dos Usineiros do estado de São Paulo o Dr. Jorge Volney

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Opiniões Atalla, jovem esforçado e estudioso, que permaneceu à frente dos destinos da entidade por uma geração. Com excelente trâmite junto ao governo militar, o Dr. Atalla conduziu de forma imperial a entidade e os produtores, que, acomodados no recesso do lar, permaneceram em suas usinas, enquanto o Dr. Atalla cuidava soberanamente dos interesses da classe, revelando produtivo e surpreendente relacionamento com as autoridades, em Brasília. Passados vinte anos, com a saída do Dr. Atalla da Presidência da Associação dos Usineiros e da Copersucar, o setor revelou-se acéfalo, pois não surgiram, naquele momento, lideranças suficientes para sucedê-lo. Alguns empresários independentes, com reconhecido tino administrativo, estavam absorvidos na consolidação de suas empresas, (Rubens Ometto, Zilo e mais alguns), sem tempo disponível, portanto, para cuidar da representação da classe. Hoje, entre tantos desmandos, o setor assiste à sequência de atitudes governamentais desfavoráveis, enumerando-se, entre tantas, o desempenho esbanjador da Petrobras, a adquirir petróleo, no mercado internacional, a preços cada vez mais elevados e a revender seus derivados, no mercado interno, a preços cada vez mais defasados, desequilibrando, com esse execrável procedimento, a estabilidade do setor sucroenergético. É, como já definiram, o samba do crioulo doido, isto é, quanto mais compra, mais perde na revenda... Depois que ficamos para trás na liderança de produção de etanol para os EUA, agora, vemos crescer significativamente a produção de biodiesel que, ocupando lugar do etanol de cana, conforme exigência am-

biental, ameaça a exportação de etanol brasileiro para os americanos em 2014. Em algarismos, restará para os produtores brasileiros apenas o mercado interno, que consome mensalmente 3,36 bilhões de litros de gasolina e 840,5 milhões de litros de etanol. A política autofágica do governo em relação ao etanol verde e amarelo fez com que a demanda do hidratado de 1,5 bilhão de litros em outubro de 2009 caísse para 820 milhões mensais de litros em 2012. O governo gasta R$1,70 por litro de gasolina importada, enquanto o produtor de etanol recebe pouco mais de R$1,00, quando o etanol deveria receber, pelo menos, 35% a mais que a gasolina, considerando, além das externalidades ambientais, seu poder de aumentar a octanagem da gasolina, sem ser cancerígeno, como acontecia com o chumbo tetraetila, no passado. O retorno da Cide, como contribuição regulatória, deveria prevalecer, mas, como dissemos no início, dialogar não consta na pauta dos ministros do governo atual. Estes e numerosos outros são os desmandos do atual governo, que vem sepultando não só o etanol como combustível ideal para os veículos, como, também, abortou o sonho de todos os brasileiros de abastecer o mundo com um combustível não poluente, ecológico e renovável. A persistir tal situação, o futuro do País, de nosso povo e de nossas empresas, perante o atual governo, jamais gerará uma condição verdadeiramente plena e saudável de prosperidade – por mais que defenda o editor-chefe da Revista Opiniões.


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o papel do etanol no futuro Desde 2003, ano do lançamento dos veículos flex-fuel no mercado brasileiro, o setor sucroenergético apresentou trajetória ascendente, antes vista apenas nos momentos de euforia do Proálcool. Após 2008, esse cenário se alterou significativamente com a crise financeira global, os problemas climáticos que atingiram as últimas safras, o aumento nos custos de produção e a política de preços para os combustíveis fósseis, entre outros aspectos. Juntos, esses ingredientes produziram uma desaceleração no crescimento e retração significativa nos investimentos para a ampliação da capacidade produtiva. Hoje, pode-se dizer que o setor vive uma das fases mais desafiadoras ao longo dos cinco séculos de produção de cana-de-açúcar no País. De um lado, as projeções de longo prazo apontam para um potencial de demanda muito favorável. Até o final da década, os automóveis flex devem representar mais de 80% da frota de automóveis leves no Brasil, enquanto o consumo de combustíveis leves, nesse mesmo período, deve dobrar. No cenário externo, os programas de consumo de biocombustíveis se consolidam em várias regiões do planeta, expandindo o consumo global de etanol a cada ano. A demanda pelo açúcar também não dá sinais de mudança de trajetória, com o crescimento puxado principalmente por países emergentes, onde os processos de urbanização, o aumento populacional, o ganho de renda e o acesso a produtos industrializados têm atuado como indutores de procura pelo produto. Isso sem contar as inúmeras opções para uso da cana e do etanol como matéria-prima para a fabricação de insumos para a indústria química, para a produção de bioplásticos e uma série de novos produtos e usos. Por outro lado, o setor se defronta com um enorme desafio para continuar expandindo os ganhos de eficiência e de produtividade e se manter competitivo, principalmente na sua vertente energética. É essa vertente, na qual se insere o etanol combustível, que exibe maior complexidade na atual conjuntura. Apesar de o caso brasileiro ser um exemplo com características muito próprias, a discussão sobre segurança energética é crescente em todos os continentes e está cada vez mais integrada às estratégias político-econômicas adotadas por um número crescente de países. É constante a procura por formas alternativas de atender à demanda por energia e por novos processos, que permitam a otimização das fontes existentes visando à diversificação da matriz e à garantia de oferta a preços acessíveis.

Do lado dos combustíveis renováveis, há benefícios ocultos que não são valorados pelo consumidor "

Elizabeth Farina e Luciano Rodrigues Presidente e Gerente de Economia e Estatística, respectivamente, da Unica – União da Indústria da Cana-de-Açúcar

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Ao lado da segurança energética, o componente ambiental e a necessidade de combate ao aquecimento vêm ganhando notoriedade nos últimos anos, a exemplo da recente publicação do relatório sobre mudanças climáticas da ONU, exigindo também estratégias sólidas para a ampliação do uso de energias limpas. Nessa discussão, ganha destaque a análise sobre o papel e a importância do Estado para a introdução e a indução das energias limpas e renováveis, já que praticamente todos os países que hoje dispõem do uso de biocombustíveis o fizeram com base em políticas públicas que incentivaram seu desenvolvimento. No Brasil, a consolidação do etanol como combustível só foi possível a partir de um envolvimento muito ativo do poder público. Esse processo envolveu a introdução do Próalcool nos anos 70, a criação da mistura obrigatória de etanol na gasolina, o estímulo ao carro flex nos anos 2000 e a tributação diferenciada dos combustíveis de origem fóssil. De fato, esse é um caso clássico em que apenas o bom funcionamento dos mercados não é suficiente para incentivar os investimentos necessários para atingir o consumo e produção adequados. Isso ocorre porque, nesse sistema, estão presentes diversas externalidades ambientais e sociais positivas associadas à produção e ao uso do combustível renovável em larga escala, que não são devidamente valoradas de forma autônoma pelo mercado. Do lado dos combustíveis fósseis que são de uso centenário, há custos ocultos associados às emissões de CO2, que não afetam custos privados de sua produção e consumo. Do lado dos combustíveis renováveis, há benefícios ocultos que não são valorados pelo consumidor e não representam benefícios privados para o produtor de forma a induzirem sua produção e consumo social e ambientalmente desejáveis. Esse tipo de situação é bastante conhecida pelos pesquisadores de economia. Há, ainda, um segundo problema na formação de preços nesses mercados. Via de regra, o consumidor não quer pagar pelos benefícios ambientais e sociais do combustível renovável, ainda que os considere positivos, optando pelo mais barato embora seja mais poluente. Afinal, esse consumidor entende que sua contribuição seria muito limitada e insuficiente para alterar as condições ambientais e, se outros pagarem por esse combustível limpo, ele não poderá ser excluído dos benefícios ambientais obtidos. Temos, portanto, um comportamento ”carona”, em que é possível usufruir sem pagar pelo benefício.



entidades Esses são exemplos típicos de falha do mercado, que exigem a atuação do Estado para serem corrigidos, pois a disposição de pagar por esses benefícios por parte do consumidor individual não inclui os impactos positivos de natureza ambiental e social. Dessa forma, o preço praticado para o combustível limpo e renovável tende a ser inferior ao que seria necessário para induzir os investimentos socialmente desejáveis. Haverá um subinvestimento em energias limpas e um superinvestimento em energias fósseis. No Brasil, pode-se citar ainda um segundo aspecto que merece atenção: a estrutura de mercado no setor produtivo do etanol e aquela observada no caso do petróleo são completamente distintas. Do lado da bioenergia, temos um setor mais fragmentado e competitivo e, do outro, uma estrutura com a evidente presença do poder do mercado, combinado com o controle estatal. Esse cenário sugere a necessidade de um arcabouço institucional com regras mínimas, que permitam a convivência desses setores que produzem bens que podem ser considerados intercambiáveis do ponto de vista do consumo. Assim, é fácil identificar a necessidade de atuação do poder público nesse mercado, com a adoção de instrumentos que reconheçam as externalidades que o próprio mercado não consegue valorizar, equacionando as consequências da não rivalidade e não exclusão presentes nesse sistema. É evidente, portanto, que a consolidação do etanol combustível na matriz energética futura deve ser precedida de um ambiente institucional com regras estáveis e previsíveis, que incorporem os aspectos inerentes às externalidades positivas do etanol e permitam um planejamento adequado de longo prazo por parte do setor produtivo. No caso brasileiro, essa necessidade é ainda mais evidente, já que mais de 60% dos veículos em uso no País são compostos por veículos flex-fuel, e a importância da política de preços da gasolina sobre o consumo de etanol ocorre a cada abastecimento. Existe, portanto, uma relação direta e imediata entre a política de preços para o combustível derivado de petróleo e o consumo interno de etanol carburante. Entretanto, é preciso reconhecer que medidas voltadas para a necessária correção das falhas de mercado associadas a essa fonte energética são um elemento necessário, mas, por si só, insuficiente para expandir a presença do combustível renovável na matriz energética nacional. Paralelamente, o futuro do etanol como substituto da gasolina passa também pela busca contínua por processos e inovações tecnológicas que garantam maior competitividade para o etanol de cana-de-açúcar. Esse processo precisa permear todas as etapas da produção, desde a concepção do material genético utilizado no campo até o processamento industrial, incluindo o gerenciamento da produção, passando pela distribuição e pelas formas de consumo, com especial destaque para o essencial e contínuo aperfeiçoamento do veículo flex, especialmente em termos de eficiência no consumo do combustível. Na maior parte das vezes, investimentos desse tipo demandam tempo para produzir os efeitos desejados e duradouros, além de envolver riscos para os agentes que os fazem. Isso faz deles um grande desafio para o setor sucroenergético, particularmente garantir que tais investimentos de tempo e capital aconteçam no ritmo necessário em um período em que a situação financeira das empresas do setor exige atenção, para dizer o mínimo.

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Opiniões É possível ilustrar a condição vigente com uma análise dos balanços contábeis publicados pelos principais grupos produtores, com base em estudos do Banco Itaú BBA. Essa análise mostra que a participação média da despesa financeira líquida sobre a receita das unidades produtoras brasileiras saltou de 6,4%, em 2010, para cerca de 13% , em 2012. Para 15% das indústrias, a situação é especialmente ruim: com uma despesa financeira líquida próxima de 25% do faturamento, esses grupos têm tido dificuldade até mesmo para gerar caixa e manter suas atividades. A situação econômica das empresas, na safra 2013/14, é reveladora do momento paradoxal em que vivem os empresários. Ao mesmo tempo em que se produz uma safra recorde em termos de toneladas de cana processada, há importantes perdas em contas correntes. O preço médio, em termos nominais, é inferior ao de duas safras atrás e há pressões de custos incontornáveis decorrentes da menor ATR, geada – ainda que localizada –, dias parados em decorrência de chuvas excessivas e como consequencia, alongamento da safra. O setor produtor tem investido na busca de otimização de seus ativos, apesar da situação econômica negativa. É essencial a manutenção dos investimentos para a renovação e a expansão dos canaviais, que somaram mais de US$ 4 bilhões apenas em 2012. Nos últimos cinco anos, outros US$ 4,5 bilhões foram investidos na compra de máquinas e implementos, para acelerar a mecanização da colheita da cana. Projetos de enorme importância para ampliar ferrovias, terminais, infraestrutura portuária estão sendo colocados em prática, isso sem contar a própria construção do etanolduto, que deve consumir cerca de US$ 3,5 bilhões até 2017. O Centro de Tecnologia Canavieira – CTC, antes mantido por usinas associadas e fornecedores de cana, passou por profundas transformações, inclusive societárias, para atender às novas demandas e agilizar o processo de desenvolvimento de novas tecnologias. Hoje, O CTC reflete o tipo de pensamento que, necessariamente, deve permear todos os esforços do setor sucroenergético visando ao futuro. O que se configura é um momento extremamente dinâmico e desafiador para a atividade canavieira no Brasil e no setor energético mundial, com inúmeras iniciativas e investimentos significativos voltados para o desenvolvimento de novas fontes energéticas, ou mesmo novos processos produtivos para o melhor aproveitamento das fontes existentes. No centro desses esforços, estão a redução de custos, a ampliação da oferta e a otimização da produção. São movimentações determinantes para a definição de estratégias nacionais e globais nos campos energético, político e econômico. Nesse cenário, o Brasil exibe uma condição de destaque, seja pelo potencial evidente e comprovado para ampliar a produção de etanol, seja pelas recentes descobertas de significativas reservas de petróleo na chamada camada do pré-sal. Nos dois casos, são visíveis tanto a necessidade de investir pesadamente quanto os obstáculos tecnológicos que terão que ser superados. No caso do etanol, é fundamental um esforço conjunto de todos os envolvidos na cadeia que cerca o setor sucroenergético brasileiro, unindo os setores público e privado em um único e essencial propósito. É o que se exige para que o atual momento, que pode ser descrito como uma transição de curto prazo, seja superado de forma menos tortuosa, garantindo para o futuro a manutenção do papel de destaque que o etanol já ocupa na matriz de combustíveis do País há quase quatro décadas.



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a realidade pode ser positiva Sob qualquer óptica, os fundamentos do futuro do setor sucroenergético são positivos. E essa não é uma visão ufanista. Ao contrário, é realista e bastante crítica, como nos é permitido mostrar neste artigo, escrito no momento em que tudo nos indica estarmos saindo da curva em “U” na qual a crise nos colocou. Se é verdade que, a partir de 2007, quando se esgotaram os pedidos de usinas greenfield junto à nossa indústria de base, e o crédito, até então farto, simplesmente sumiu do mercado, levando a cadeia produtiva sucroenergética a viver um dos piores ciclos de sua história, também é verdade que a demanda para os subprodutos da cana-de-açúcar cresceu de forma consistente e significativa. Os incentivos de crédito oferecidos para a compra de veículos, além de trazer problemas de congestionamento para as cidades e para as nossas estradas, ampliaram, significativamente, o mercado para o nosso etanol. Nenhuma nova refinaria entrará em funcionamento num horizonte de 5 anos (as que estão em fase de construção produzirão diesel). Isso nos remete à conclusão lógica de que ou a Petrobras continuará importando gasolina, com todas as implicações provocadas pelo acúmulo de prejuízos a partir dos subsídios, ou o combustível para movimentar essa frota de veículos, que não para de crescer, deverá ser produzido pelas nossas usinas. Diferentemente do que ocorreu em outras crises, formadores de opinião e representantes da academia têm defendido publicamente a correção na política de preços imposta à Petrobras, com o objetivo de segurar os níveis de inflação. Isso denota que conseguimos conquistar importantes defensores do nosso biocombustível junto ao governo e também à mídia. Outra pressão, também muito forte, vem sendo exercida a partir do aumento de poluição em nossos centros urbanos, o que provoca sérios problemas de saúde pública. Nesse contexto, opiniões de especialistas como o Dr. Paulo Saldiva, médico especialista em poluição atmosférica e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), são conclusivas: “Aproximadamente 12% das internações respiratórias em São Paulo são atribuíveis à poluição do ar. Um em cada dez infartos do miocárdio são o produto da associação entre tráfego e poluição. Os níveis atuais de poluição do ar respondem por 4 mil mortes prematuras ao ano na cidade de São Paulo. Trata-se, portanto, de um tema de saúde pública”.

Se os fundamentos são positivos, também é verdade que temos problemas pela frente que devem ser enfrentados e superados. O primeiro deles é buscar maior eficiência e produtividade. Ao mesmo tempo em que usinas estão deixando de moer, há importantes investimentos sendo feitos em logística com a construção de etanoldutos, modais de transporte e melhoria nos portos. Nossos centros de pesquisa e desenvolvimento buscam a viabilização, em um curto intervalo de tempo – 2014 a 2015 –, para a produção em escala comercial do E2G (Etanol de Segunda Geração) e da química verde (alcoolquímica). A transgenia e as novas variedades de cana têm sido priorizadas e apontam para importantes ganhos de produtividade agrícola. Também precisamos reconhecer que o setor sucroenergético precisa se organizar melhor e atuar como cadeia produtiva, conceito que viabilizou culturas como as da soja e do milho, ainda na década de 50, nos Estados Unidos. Movimentos como o da formação da “Frente Parlamentar em Defesa do Setor Sucroenergético” mostram o compromisso que estamos assumindo, levando às câmaras municipais, assembleias legislativas e Congresso Nacional nossas demandas.Estamos construindo mecanismos de pressão, todos absolutamente legítimos e democráticos, para sensibilizar governos e opinião pública. A ociosidade da nossa indústria de base, que já ultrapassa os 50%, e a brutal queda na arrecadação dos nossos municípios canavieiros não podem ficar limitados a nossos fóruns setoriais de discussão. É preciso que os problemas, que já têm merecido destaque na mídia nacional, sejam discutidos com a sociedade, e, nesse contexto, a inserção dessa crise na agenda dos nossos prefeitos, governadores e parlamentares é vital para sensibilizar nossos governantes. Entre 2005 e 2010, o Centro-Sul recebeu US$ 50 bilhões de investimentos na construção de cerca de 100 usinas, e a capacidade de moagem dobrou para 600 milhões de toneladas/ano. Projeções indicam que, até 2020, teremos que construir número semelhante de usinas e dobrar a moagem para 1,2 bilhão de toneladas/ano. Temos que nos concentrar na sensibilização do governo para a importância da viabilização desses objetivos, se quisermos que os fundamentos e as perspectivas, altamente positivas, que todos enxergam para o futuro do setor sucroenergético, se tornem realidade.

Sob qualquer óptica, os fundamentos do futuro do setor sucroenergético são positivos. E essa não é uma visão ufanista. Ao contrário, é realista e bastante crítica. " Manoel Carlos de Azevedo Ortolan

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Presidente da CanaOeste e da Orplana


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quem viver verá ! Desde a aceitação da enorme maioria dos cientistas sobre os efeitos das ações humanas no aquecimento do planeta, a luta pelo processo de descarbonização dos combustíveis é constantemente questionada ou adiada pela lógica econômica e/ou estratégica. Os custos elevados de produção do etanol produzido a partir dos grãos, além da insegurança alimentar resultante dos riscos do aumento da demanda do biocombustível produzido pelos cereais, levaram à nova onda tecnológica da chamada segunda geração do etanol, a partir das celuloses vegetais. Como isso parte dos países ricos do hemisfério norte, o de o mercado de combustíveis é enorme, o processo atual de aceitação em escala do bioetanol sofre volatilidade e soluções constantes. Esse processo, no mundo rico, passou a ficar absolutamente dependente dessa tecnologia em desenvolvimento, cujos frutos, em escala, devem surgir lá por 2020. Imaginem todo o resto vindo das culturas agrícolas, no mundo, fermentadas e se transformando em biocombustíveis... Esse é o caminho da commodity etanol. Mas e o Brasil? É o mesmo caminho? E as inovações que surgem durante o trajeto podem mudar o caminho? Em primeiro lugar, o etanol de cana, no mundo tropical, já é competitivo frente à gasolina desde a década de 1990, além de ser considerado, na atual lei norte-americana da energia, biocombustível avançado. A segunda geração, com palhas e bagaço, torná-lo-á insuperável! Dessa forma, o caminho, para o Brasil, seria o de expandir a oferta, agregando valor à cana, com o uso de subprodutos, gerando empregos descentralizados, capacitando mão de obra em processo de mecanização agrícola e automação industrial. Em segundo lugar, o Brasil teve uma recaída de dependência de gasolina, que, sem a expansão da oferta de etanol e sem refinaria de petróleo expandindo a oferta de gasolina, faz um verdadeiro retrocesso, sujando a sua matriz energética, ainda limpa, criando um buraco nas contas da Petrobras (que importa gasolina por 100 e vende por 70) e, com preços represados face à inflação, retira a margem do etanol, estagnando a oferta. É um círculo vicioso e que pode reservar ao Brasil, na virada de 2014 para 2015, uma herança maldita de proporções gigantescas. Ao se olhar ao redor, no mundo norte-americano, a surpreendente emergência do gás de xisto (shale gas) é uma ruptura da energia naquele país, virando o jogo geopolítico da energia! Falta não poluir as águas subterrâneas e não

emitir metano, o que o pacote da inovação deverá trazer no tempo. O impacto disso no mundo é, ainda, difícil de medir. Outros países, como o Brasil, também tem essas reservas. O pré-sal, provavelmente, será pressionado em algum tempo. Vive-se hoje, infelizmente, o tempo do passado em energia, crescendo a fóssil. Tem-se previsão do governo brasileiro do aumento da energia renovável na matriz energética, mas as ações são em sentido contrário. Vive-se no Brasil o tempo das eleições, antecipadas de uma forma cruel aos brasileiros. Ninguém merece crescimento de 2% ao ano, inseguranças e viver até novembro de 2014 as expectativas de um novo governo. É muito tempo! As pessoas que vivem nas cidades temem o desemprego, a inflação e os sonhos perdidos. As pessoas que vivem dos suportes sociais vivem o incômodo de uma potencial mudança. As pessoas que pensam o País vivem a tragédia do tempo, limitadas as opções, sem poder parar... Da cana saem produtos sem intervenções de governo, mas com proteção externa, como o açúcar. O mundo dependerá do Brasil para ter açúcar mais barato. Hoje, 55% da cana moída é para etanol – e deste total, 60% para o hidratado –, massacrado pelos preços estagnados da gasolina, pelos impostos elevadíssimos que paga e, por outro lado, com um crescimento formidável de demanda (o hidratado é o etanol que compete com a gasolina). Ele está sob pressão. A corrida para o açúcar gerará queda de preços; a demanda por gasolina crescerá tremendamente, sem oferta interna. É um olhar ao passado, que não traz saudade. Sendo assim, um olhar de “proa” é fundamental, vislumbrando médio e longo prazos para o setor. Tudo dependerá das margens do etanol, de sua condição de sobreviver à política intervencionista do governo. O açúcar vai e irá muito bem, com o predomínio brasileiro. Dos cenários possíveis em dez anos, temos a seguinte visão: um com o etanol hidratado mantendo seu share atual (44 bilhões de litros) e o outro com ele sendo aniquilado, passo a passo, como carburante, zerando em 2022 (29 bilhões de litros). Pode-se ver nisso a importância da política pública. Neles, a visão da segunda geração de tecnologia mostra impacto importante de menor área, mesmo com projeção conservadora (34 bilhões de litros). O açúcar, em dez anos, terá aumentada a demanda atual em 50%, em qualquer cenário. Em síntese, quem viver verá!

Vive-se no Brasil o tempo das eleições, antecipadas de uma forma cruel aos brasileiros. Ninguém merece crescimento de 2% ao ano, inseguranças e viver até novembro de 2014 as expectativas de um novo governo. É muito tempo! " Luiz Carlos Corrêa Carvalho, Caio Presidente da ABAG

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Opiniões

etanol para escanteio O congelamento artificial do preço da gasolina como medida de controle da inflação vem gerando uma série de prejuízos para o setor sucroenergético, para a Petrobras, para a economia do País, para o meio ambiente e para a nossa saúde. Sem capacidade de produção e refino suficientes para atender à demanda interna, já há um bom tempo, a Petrobras está sendo obrigada a importar gasolina e óleo diesel a volumes cada vez maiores, com valores de compra no mercado internacional acima do preço de revenda. Estima-se que a defasagem possa chegar a 30%. Dados da ANP mostram que os gastos com a importação de gasolina saltaram de US$ 71 mil, em 2009, para US$ 3 bilhões, no ano passado. O desarranjo na importação de combustíveis queima divisas do País e corrói o caixa da Petrobras. A recente alta do dólar agravou o quadro, pressionando ainda mais as contas da empresa, que, publicamente, já cobrou um reajuste nos preços. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, já confirmou que a Petrobras pediu um aumento de até 15%. O governo subsidiou a compra de automóveis, elevando a necessidade de combustíveis, mas não se preocupou com a capacidade de oferta e não a planejou. Com a inflação em alta, e a Petrobras no sufoco, a equipe econômica se vê numa encruzilhada entre alimentar o dragão da inflação reajustando os combustíveis, ou continuar a dilapidar o orçamento da Petrobras, os dividendos dos acionistas da empresa, o patrimônio do País, mantendo os preços vigentes. Na órbita desse imbróglio, tratado como coadjuvante pelo governo, está o etanol e, a reboque, todo o setor sucroenergético nacional, o mais eficiente do mundo e uma das cadeias produtivas mais importantes da economia brasileira. O segmento da cana-de-açúcar emprega, diretamente, 2,5 milhões de trabalhadores, reúne cerca de 400 usinas, 80 mil fornecedores e quatro mil indústrias de base, distribuídos em mais de 600 municípios, que produzem acima de cinco mil hectares de cana por ano. A política de subsídio à gasolina tirou consumidores do etanol, provocando uma desorganização acentuada do segmento. Recente seminário na Orplana escancarou a trágica situação de pequenos e médios produtores de cana, que estão sendo expulsos da atividade e entregando suas propriedades a grandes grupos. Nas duas últimas safras, cerca de 44 usinas deixaram de moer cana, e, se nada mudar, esse número poderá aumentar para 54 na próxima temporada. No período, 100 mil empregos foram extintos. As indústrias do segmento

o governo precisa definir, de uma vez por todas, qual é a matriz energética que deseja e qual o papel do etanol nesse modelo "

Cesário Ramalho da Silva

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Presidente da SRB - Sociedade Rural Brasileira

não têm encomendas e trabalham a 50% da sua capacidade nominal. Soma-se a isso o triste cenário marcado pela total ausência de projetos de novas plantas, como demonstra a carteira de consultas do Bndes. Nos leilões públicos, o valor pago pela energia gerada pelo bagaço da cana é baixo, entre outros motivos, pela falta de critérios técnicos no formato dos leilões, que misturam várias fontes de energia numa mesma operação. Não há valorização dos benefícios gerados por fontes renováveis e limpas, deixando-as em igual condição de disputa com as de origem fóssil. Ademais, mesmo com a redução do superávit nos estoques mundiais de açúcar, a oferta ainda é enorme, e o produto que vinha sustentando o caixa do setor sucroenergético perderá fôlego financeiro para continuar pagando a conta. A ausência do setor sucroenergético nos planos estratégicos do governo denota, no mínimo, omissão das autoridades federais quanto aos riscos de sobrevivência que o segmento está correndo. São 40 anos de trabalho, desde o início do Proálcool, que estão escorrendo pelo ralo. Diante desse quadro preocupante, a única certeza existente é que, em alguma hora, o ajuste na política de preços de combustíveis terá que ser feito. Não menos importante é o governo definir, de uma vez por todas, qual é a matriz energética que deseja e qual o papel do etanol nesse modelo. O setor sucroenergético não reivindica royalties, subsídios ou suporte oficial de prejuízos. O segmento quer única e exclusivamente um ambiente regulatório qualificado, com objetivos claros, segurança jurídica e menos intervencionismo, criando um cenário com mais previsibilidade para tomada de decisão do setor privado e de investidores. Por fim, cabe destacar que a Sociedade Rural Brasileira – SRB, é uma das entidades apoiadoras da Frente Parlamentar de Defesa do Setor Sucroenergético, lançada no início de outubro na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. Coordenada pelos deputados estaduais Roberto Morais e Welson Gasparini e apoiada por representantes de 12 partidos políticos, a Frente tem por objetivo chamar a atenção do Governo Federal e de toda a sociedade para os problemas que a indústria da cana e do etanol vem enfrentando nos últimos anos. O apoio de produtores, fornecedores de cana, prestadores de serviço, parceiros e trabalhadores, além dos prefeitos de inúmeros municípios, todos diretamente impactados pela situação, é o que garante legitimidade à Frente, que nasce para buscar soluções em prol de uma energia ecologicamente correta e 100% renovável.


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entidades Palestrante do 2º Datagro Ceise Br Conference

um sistema

carente de

coerência

O setor permanece enfermo e no aguardo das indispensáveis medidas do governo brasileiro. Passamos a não produzir etanol sequer para o suprimento das necessidades internas. " Luiz Gonzaga Bertelli Diretor da Fiesp-Ciesp e Vice-presidente da Associação Comercial-SP

Inquestionavelmente, raras são as nações que podem alcançar a sua autossuficiência no setor energético. A grande nação americana é dependente de 50% das importações do petróleo, de que, atualmente, necessita. Quanto aos japoneses, trazem do exterior toda a energia indispensável. Nos últimos anos, o Brasil perdeu a corrida para a sua independência energética, importando, nos dias atuais, mais de 20% do óleo cru, que processa nas refinarias da Petrobras, ou de derivados, notadamente o diesel. Já chegamos a produzir 2,2 milhões de barris diários de petróleo, e, presentemente, a produção está em 1,9 milhão (11% a menos). Ademais, o nosso percentual de energia renovável tem diminuído, gerando maior quantidade de poluentes e crescente majoração das despesas de importação, onerando a balança comercial do País. A fantástica história do Proálcool, iniciada em 1975, sucesso em todo o mundo como substituto da gasolina, depois dos choques do petróleo, foi esquecida. Dificilmente, houve no Brasil política econômica que fosse mais duramente criticada no País do que o programa brasileiro de geração de energia, por intermédio do aproveitamento da biomassa, no caso da cana-de-açúcar.

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Silvietta Dirtal


Opiniões Hoje, cresce a venda dos carros flex, cuja frota no País já passa de 20 milhões e, em decorrência, a demanda do etanol dispara. Jamais se venderam tantos veículos zero quilômetro como nos últimos anos, com a frota já beirando 44 milhões, consoante o Denatran, dos quais mais de 90% deles biocombustíveis. Isso representa um grande ativo e garantia da expansão do uso do etanol. Paradoxalmente, a indústria da cana proclama que a sua capacidade produtora já não dá mais conta do consumo. Com efeito, é o suficiente qualquer elevação no uso do etanol para que o valor do combustível ecológico da cana cresça, e, daí, o dono do veículo retornar para os braços do carro a gasolina, altamente poluente e um dos vilões do péssimo ar respirado nas nossas maiores cidades. Há quem declare o fechamento de mais de 40 usinas sucroalcooleiras no curto prazo, e outras teriam entrado em recuperação judicial, com a eliminação de 100 mil empregos. Para os analistas, serão indispensáveis investimentos estimados da ordem de mais de R$ 156 bilhões no período de 2015/2025, a fim de as indústrias do açúcar e do etanol fabricarem 47 bilhões de litros de álcool ano-safra, produção a ser exigida na próxima década. Desde 2008, não houve nenhuma iniciativa de implantação de nova indústria sucroalcooleira. O setor, contudo, permanece enfermo e no aguardo das indispensáveis medidas do governo brasileiro. Passamos a não produzir etanol sequer para o suprimento das necessidades internas. Tradicionalmente, a administração superior da nação sofre a pressão da indústria do petróleo; contraria, por razões óbvias, o crescimento das energias limpas e renováveis, como é o caso da indústria alcooleira. Em 27/08/2013, o Governo Federal reduziu a zero a alíquota do PIS/Pasep e Cofins para o carvão mineral, destinado às termelétricas. Opta, em decorrência, novamente, por desonerar um combustível poluente (carvão mineral), prejudicando a competitividade de outro concorrente mais limpo, como é o caso do bagaço da cana ou do gás natural, matérias-primas das térmicas. Mesmo com o incentivo recebido, nenhuma térmica a carvão conseguiu vender a energia no leilão. A contratação de energia proveniente das térmicas movidas a bagaço é de R$ 140/MWh o preço-teto, considerado insuficiente para a remuneração do investimento. Não bastasse, o Governo Federal, principal acionista controlador da Petrobras, delibera “congelar” o preço da gasolina, dando as costas à evolução dos preços no mercado internacional, com o escopo de conter a inflação. A decisão é péssima para os empresários da cana, do açúcar e do álcool, que são penitenciados com a elevação dos preços dos insumos agrícolas, aumento dos gastos com os salários dos trabalhadores e dos equipamentos industriais. Haverá a necessidade de estender ao etanol o tratamento isonômico na formação dos preços que se concedem à gasolina. Na segunda quinzena de setembro, o etanol era vendido às distribuidoras, em média, por R$ 1,00/litro, sem impostos – abaixo, dessa forma, do preço de um litro de água mineral, nos bares ou restaurantes. Conforme os analistas, o preço médio do etanol hidratado deveria oscilar em torno de R$ 1,70/litro, na usina, com a finalidade de compensar os novos investimentos. Não obstante, a fim de que o combustível da cana fosse competitivo a esse preço, a gasolina teria que custar, nos postos, perto de 15% a mais: de R$ 2,70 para R$ 3,12/litro.

No período de inflação, é difícil concebermos a viabilização desse cenário, mormente no ano que antecede às eleições. Nos postos de abastecimento, o litro do combustível renovável é comercializado ao preço médio entre R$ 1,70 e R$ 1,90/litro, enquanto a gasolina, em contrapartida, varia de R$ 2,70 a R$ 2,90, no estado de São Paulo. Devido ao monopólio de fato existente, a matriz energética brasileira encontra-se cada vez mais submissa à Petrobras e ao Governo Federal. A boa notícia, no entanto, é que o setor da cana mantém a sua excepcional condição de líder mundial na produção açucareira, com faturamento já superior a US$ 36 bilhões, o equivalente a 2% do PIB nacional. Quanto ao etanol, passamos à vice-liderança da produção mundial (22%), enquanto o gigante americano mantém a liderança, com o álcool do milho. Na safra em curso, serão produzidos 26 bilhões de litros de etanol, sendo 11 bilhões de anidro, a serem misturados na gasolina (25%) e 15 bilhões de hidratado, para os veículos flex. No final de 2013, a previsão da safra canavieira é da ordem de 600 milhões de toneladas de cana, 11% maior do que em 2012. Da quantidade total de cana esmagada até agora, 49% destinaram-se à produção do açúcar e 51%, do etanol. Contribui para o alcance desse bom resultado o aumento da eficiência, da produtividade da lavoura canavieira e a melhoria das condições climáticas nos últimos meses. Em oportuna hora, a Unica, principal entidade de classe da indústria sucroalcooleira, desenvolve excelente campanha de publicidade, com o propósito de convencer o consumidor do combustível, na hora de abastecer o seu carro flex, que o etanol não necessita, obrigatoriamente, ser vantajoso economicamente (preço), mas deve ser reconhecido, também, pelas suas outras vantagens e externalidades. Pela primeira vez na história, há mais pessoas vivendo em cidades do que em zonas rurais. Tristemente, o ser humano é o ponto fundamental e esquecido da questão ambiental nas grandes metrópoles. Os veículos automotores são, hoje, a principal fonte da poluição do ar, ruído e vibração nas regiões urbanas. O veículo movido a etanol da cana-de-açúcar apresenta baixo potencial poluidor. Com efeito, o etanol é renovável, biodegradável e apresenta considerável capacidade de mitigação dos gases de efeito estufa. Ao substituir a gasolina, derivada do petróleo, é capaz de reduzir a emissão dos gases, como o gás carbônico (CO2), em até 90%, ao longo do seu ciclo de vida. Na hipótese de todos os veículos a gasolina na região metropolitana de São Paulo passarem a usar o etanol, haveria uma importante redução nas internações hospitalares e na redução de gastos sociais. Outrossim, o etanol poderia ser usado em ônibus urbanos, responsáveis pelo considerável emprego do diesel, à semelhança do êxito verificado na Suécia, o mesmo sucedendo no concernente aos caminhões e tratores. Entre as variáveis estratégicas para uma opção de política econômica, voltada à indústria sucroalcooleira, pouca relevância se concede à geração de empregos. A atividade se justifica, entre outros benefícios, pela geração de oportunidades de trabalho na área rural. Basta atentarmos para as informações do censo. Calcula-se, por exemplo, que o número de empregos diretos criados pela fabricação do açúcar e do álcool no Brasil seria da ordem de 1 milhão, além de representar, com o café, os mais baixos índices de sazonalidade do emprego.

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entidades

Opiniões

os gargalos do sistema A crise mundial começou a provocar seus efeitos no Brasil no ano de 2008, e o setor sucroenergético, que até então surfava nos resultados originários da recente expansão de unidades produtivas, derivados da retomada do interesse pela produção de uma energia limpa e genuinamente nacional, demorou um pouco mais para ser atingido. Mas a descontinuidade do projeto de ampliação, associado à falta de condições de planejamento de longo prazo, induziu o surgimento de um ciclo vicioso, que passou a influenciar todos os elos da cadeia produtiva do setor, desde a produção de insumos à logística de entrega do produto final. A perversa combinação de preços insuficientes com a queda de demanda provocou, primeiro, um período de estagnação e, recentemente, de recessão. A indústria de base, que abastece o setor sucroenergético, em menos de dois anos, viu desaparecer os pedidos por novas plantas industriais, e, para agravar ainda mais a situação, esse fato veio casado com a inadimplência e a redução de demandas para a manutenção de entressafra. Mas de onde vem a origem de tudo isso? Com a descoberta do pré-sal, o petróleo recuperou sua posição dentro da economia brasileira e rebaixou o etanol para segundo plano, viabilizando a comercialização da gasolina como estratégia para segurar a inflação, o que, consequentemente, também conteve o preço do combustível derivado da cana-de-açúcar nas bombas. Contudo, hoje, a gasolina encara uma discrepância no valor, devido à desvalorização cambial, e, paralelamente, para seguir competitivo, o etanol é praticado a níveis mais baixos de preço, originando resultados que não remuneram as empresas da cadeia sucroenergética. No cenário macroeconômico, a crise também contribuiu para a redução de créditos e o aumento dos custos do plantio, deixando a produção mais cara. Ao mesmo tempo, a manutenção e a renovação dos canaviais ficaram infactíveis, e, diante dessas conjunturas, a ausência de investimento provocou a queda de produtividade – a geração de 86,5 toneladas por hectare, em 2006, caiu para 74,7 toneladas por hectare, em 2012. Apesar de o setor sinalizar boas expectativas para a indústria de base, já que as usinas em operação na atual safra estão trabalhando com quase toda a capacidade de produção comprometida e precisarão investir em eficiência e aumento de produtividade, a inadimplência – fomentada pela queda de faturamento –, a dificuldade de acesso ao crédito, a alta carga tributária e a falta de uma política de longo prazo, são os principais fatores que obstruem a retomada.

A recuperação, o desenvolvimento e o crescimento de toda a cadeia produtiva sucroenergética dependem da definição do marco regulatório para a produção do etanol, para que se determine a garantia de preço mínimo e o papel desse combustível e da energia gerada a partir da cana-de-açúcar na matriz energética brasileira. Somente a definição de regras claras e perenes dará condições de planejamento para os investidores, e, a partir daí, acontecer o retorno de investimentos. A falta de perspectiva para planejamento do empresariado, devido às instabilidades do mercado, está diretamente ligada à ausência de uma política estratégica e regulamentadora. Etanol é uma fonte de energia natural, limpa, renovável e sustentável, que acrescenta valor a outros campos da economia, gerando empregos direta e indiretamente. Essas propriedades são suficientes para fundamentar o seu consumo e também atrair uma atenção especial do governo, que poderia enxergar, estrategicamente, a expansão sucroenergética para outros países, provocando mudanças na geopolítica mundial. Ainda nesse processo de retomada, é necessário também resgatar a competitividade do setor produtivo de etanol. A volta da mistura de 25% de álcool anidro no combustível proveniente do petróleo, a desoneração do PIS/Cofins, novas possibilidades para o Prorenova e destinação de linhas de crédito destinada à armazenagem de etanol ajudaram o setor, mas ainda não são suficientes. Para o desenvolvimento da cadeia sucroenergética, é preciso, ainda, direcionar investimentos em pesquisas e novas tecnologias e na capacitação e no treinamento de mão de obra específica; desburocratizar o acesso ao crédito, ou seja, disponibilizar e dar mais flexibilidade de crédito junto ao Bndes – Banco Nacional do Desenvolvimento, e demais instituições financeiras; além de criar um fundo garantidor de empréstimos e financiamentos do capital de giro para as indústrias de máquinas e equipamentos que atendem ao setor, pois elas estão alavancadas e sem condições de dar garantias para continuar atendendo às demandas. Outra saída para resolver a situação do setor é a volta da aplicação da Cide – Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico, sobre a gasolina. A Cide foi criada em 1991 e zerada em 2012 e incidia sobre a importação e a comercialização do produto, sendo que a arrecadação era distribuída entre a União, os estados e o Distrito Federal. Dessa forma, com o retorno dessa alíquota, os recursos poderiam ser investidos no setor de transporte e logística, responsável por 30% dos custos da produção.

Somente a definição de regras claras e perenes dará condições de planejamento para os investidores, e, a partir daí, acontecer o retorno de investimentos. " Antonio Eduardo Tonielo Filho

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Presidente do CEISE Br - Centro Nacional das Indústrias do Setor Sucroenergético e Biocombustíveis



a eicas entidades

Opiniões

cenários de

médio e longo

prazos

As incertezas geradas pela equivocada política governamental no estabelecimento do preço para os combustíveis, notadamente para a gasolina, aliada às indefinições na política energética na construção duradoura e estável de nossa matriz energética, se constituem a dificuldade principal para se desenhar cenários críveis para o setor sucroenergético nacional no médio e no longo prazo e, por consequência, no estabelecimento dos mandatos estáveis que nortearão o ambiente empresarial para microações voltadas ao desenvolvimento estável e ascendente

chegamos a expectar que ... estava surgindo o ambiente mais promissor para a consolidação e o desenvolvimento permanente dos biocombustíveis no Brasil, esperados desde a sua instalação no Brasil, em 1975 " Pedro Robério de Melo Nogueira Presidente da Sindaçúcar-Alagoas

dos combustíveis renováveis no Brasil. A pujança da produção de energia a partir da biomassa no Brasil é a resultante de uma vocação e expertise empresarial acumulada nesses quase quinhentos anos da produção de cana-de-açúcar e seus derivados e de momentos de lucidez governamental no estabelecimento de programas e ações voltadas para o estímulo e a sustentabilidade na

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produção alternativa de biocombustíveis, no caso em questão, o etanol, desde o ano de 1975, com a criação do Proálcool. Nos primeiros oito anos da década de 2000, essa conjugação se potencializou, sobretudo, na vertente empresarial, onde sustentamos um crescimento médio ao redor de 10%, passando de uma produção na casa de 260 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para 570 milhões de toneladas em 2008/2009. Nesse período, não se destacou nenhum estímulo oficial específico para suportar essa expansão, além de um cenário otimista para


Opiniões o mercado interno do etanol com o advento dos carros flex e pela expectativa da adoção desse combustível renovável em países do primeiro mundo. A disponibilidade de recursos externos deu sustentação a essa opção empresarial, quer na implantação de novas unidades industriais, quer na expansão de unidades industriais já existentes ao reboque de um discurso incentivador e estimulador por parte de segmentos importantes do Governo Federal. Cabe considerar nesse crescimento a instalação de um ambiente de consciência para que essa atividade recebesse um marco regulatório que pudesse vir a dar consistência e durabilidade a essa expansão, tornando-a autossustentável e locomotiva de um importante crescimento do agronegócio nesse segmento da agronenergia e, particularmente, na soberania brasileira na oferta do biocombustível etanol e numa maior participação da bioeletricidade na nossa matriz energética. Chegamos a expectar que, nesses anos iniciais do século XXI, estava surgindo o ambiente mais promissor para a consolidação e o desenvolvimento permanente dos biocombustíveis no Brasil, esperados desde a sua instalação no Brasil, em 1975, interrompida no final dos anos 80. Entretanto a crise financeira externa que se desencadeou a partir de 2008, interrompendo o fluxo de recursos externos até então verificados, e o arrefecimento da opção empresarial em investir nessa atividade, associado a idênticas restrições governamentais no financiamento a novos empreendimentos e para o crescimento dos atuais, e posteriormente complementados com um rigor fiscal e monetário capitaneado pelo congelamento do preço da gasolina, explicitou uma incerteza absoluta com relação à rentabilidade desses investimentos em bases empresariais. Cabe destacar que o reflexo desse prolongado congelamento de preço da gasolina repercute de forma cruel na performance empresarial, tanto na estatal que produz gasolina, como nas empresas privadas que produzem etanol. Lembrando, ainda, que, no caso da estatal, são disponibilizados mecanismos fiscais e financeiros que suavizam o aperto do fluxo financeiro, diferentemente do setor privado, que só dispõe dos instrumentos de mercado para enfrentamento dessa desagradável situação. Esse momento de crise financeira e de incertezas no futuro instala dúvidas sobre a real consciência do empresariado do setor dos riscos inerentes ao seu negócio, como volatilidade de preços em decorrência de desequilíbrios na oferta e demanda, perdas em função de quebras de safras motivadas por fenômenos climáticos, etc. Ocorre que esses são eventos comuns na atividade, desde que motivados por situações conjunturais de mercado e pela intempestividade climática. Existem alguns mecanismos de mercado e empresariais que podem reduzir os seus impactos negativos na dinâmica dos negócios. Os empresários estão preparados para enfrentar esse tipo de risco, afinal de contas, são conhecedores de longas décadas desse negócio agrícola. A chamada crise atual do setor, abstraindo as questões referidas, difere das demais pelo seu caráter de nebulosidade sobre o formato mercadológico

que emergirá na sequência. O desenvolvimento de possíveis cenários daqui para frente estará ancorado nas seguintes reflexões: • A obtenção acelerada de ganhos de produtividade agrícola e industrial já alcançados no passado pelo setor, estagnado nesses momentos de crise, tem fundamento para retomá-los. As expressivas inversões em pesquisa genética, mecanização, manejo agrícola e no processo industrial confirmam esse potencial de possível conquista na redução de custos com aumento de produtividade; • A manutenção do crescimento da frota de veículos flex sinaliza para a manutenção do mercado alternativo de etanol hidratado e o correspondente espaço para crescimento da demanda atual; • A ausência de clareza de cenários de desenvolvimento pela nebulosidade vigente na política governamental para o preço da gasolina tem que ser substituída por um formato de remuneração variável em regras de mercado explícitas, estáveis e atreladas, tão somente, à formação de preço internacional da gasolina; • É fundamental que sejam também consideradas as externalidades positivas do uso do etanol como combustível no Brasil, dentro de um conceito mais amplo e interligado com os benefícios ao meio ambiente e à saúde da população e aos gastos evitados com esses benefícios; • A segurança da oferta deve estar atrelada a uma demanda cujo crescimento esteja estabelecido em mandatos de longo prazo e imutáveis, em função de ocorrências conjunturais; • Os mecanismos de financiamentos para as necessidades naturais de renovação cíclica de lavouras com vistas a manter a produtividade agrícola e a oferta primária de matéria-prima devem estar assegurados no sistema financeiro de forma permanente; • A previsibilidade de financiamentos para formação de estoques para enfrentar a sazonalidade e evitar a volatilidade de preços, que devem ser tempestivas nos momentos em que, conjunturalmente, sejam necessários; • A ação governamental vigilante, para que conquistas obtidas pelo etanol brasileiro junto ao mercado norte-americano, no que se refere à sua classificação como combustível avançado, não sejam desvirtuadas e prejudiciais ao regular acesso brasileiro aos mercados daquele país; • As metas de expansão, em função dos mandatos que visem assegurar oferta, devem observar uma cadência de crescimento mais realista com a possibilidade de produção competitiva, levando em conta, inclusive, o crescimento vegetativo da demanda interna e externa para o açúcar, de forma a evitar acelerações de crescimento de oferta para o etanol, em descompasso com o mercado, remunerável em nível empresarial; • O melhor cenário de partida é a ocupação da capacidade industrial atual instalada para possibilitar o estabelecimento de uma inserção do etanol na matriz energética nacional, de forma permanente e crescente; • O urgente cenário onde repousará o novo desenvolvimento do setor sucroenergético e a demonstração precisa do governo, que, deliberadamente, não irá subtrair do empresário o principal fator de estímulo primário ao crescimento: a remuneração aos seus produtos.

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consultorias

Opiniões

rentabilidade:

o desafio das próximas

safras

A safra 2013/14 de cana-de-açúcar fechará, de acordo com o levantamento da Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab), com números de produção bem melhores do que a safra anterior. O Brasil deve produzir 652 milhões de toneladas, um aumento de 11% em relação à safra 2012/13, e obter uma produtividade de 74 toneladas por hectare, 7% maior do que o período anterior.

As recentes alterações legislativas voltadas, principalmente, para o etanol trouxeram mais fundamentos para recuperar alguns custos provenientes de tributos já pagos. " Ana Paula Malvestio Sócia da PricewaterhouseCoopers - Tributária e Societária

Esses ganhos de produção e produtividade são decorrentes das melhores condições climáticas, do maior investimento em manutenção e em renovação dos canaviais e da expansão de área plantada, que deve chegar a aproximadamente 9 milhões de hectares. Com a maior produção de cana, as usinas terão condições de produzir mais açúcar e etanol, atingindo, de acordo com a Conab, 41 milhões de toneladas e 27 bilhões de litros, respectivamente. A disponibilidade de matéria-prima se tornou, nos últimos anos, um desafio para o setor.

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consultorias No entanto, nesta safra 2013/14, o volume de cana produzido conseguirá atender à demanda das usinas, que deverão atingir, segundo o Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), 95% de utilização da capacidade total de processamento. No entanto, apesar da maior produção de cana, outros desafios do setor ainda devem permanecer na safra 2013/14 e trazer preocupações para os envolvidos nessa cadeia de valor. Um dos pontos de atenção dessa safra diz respeito à atratividade econômica do setor sucroenergético, com a garantia de boas taxas de retorno e perspectivas positivas de continuidade do negócio. Quando se trata desse tema, é possível classificar as usinas em três grandes grupos. O primeiro é constituído de usinas que possuem equilíbrio entre receitas e custos. O segundo é formado por empresas que não estão vivenciando um momento satisfatório com relação à saúde financeira. E o terceiro diz respeito às usinas que não estão mais operando no mercado. Segundo a Unica – União da Indústria da Cana-de-Açúcar, no período de 2008 até os dias de hoje, 51 usinas de açúcar e álcool abandonaram a atividade. Por existir essa heterogeneidade, o nível de negócios no âmbito de fusões e aquisições não está tão elevado. Os investidores estão agindo com mais cautela e avaliando com cuidado as margens de retorno do setor e a relação entre faturamento e custo. Do lado do faturamento, a grande questão são os preços. O Brasil é o maior produtor mundial de açúcar e detém o comando do mercado internacional, influenciando a oferta e os preços. As expectativas de uma alta produção brasileira na safra 2013/14 afetaram os preços internacionais, que iniciaram uma tendência de queda. Para se ter uma ideia da diminuição da rentabilidade do açúcar, ocasionada pela diminuição dos preços, basta analisar os rumos das exportações dessa commodity de janeiro a agosto de 2013. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Mapa, o volume de açúcar brasileiro exportado cresceu 46% quando comparado com o mesmo período de 2012. Por outro lado, a receita gerada com as exportações aumentou apenas 12%. Com relação ao etanol, os preços exercem grande influência no consumo final. Do ponto de vista econômico, o preço do etanol hidratado tem que permanecer abaixo de 70% do preço da gasolina. Além disso, o comportamento do motorista de carros flex no Brasil não é guiado por uma linearidade. O consumidor é muito sensível às oscilações de preços, mudando muito rapidamente as suas preferências. É visível, portanto, que a renda proveniente do açúcar e do etanol está atrelada e é vulnerável às modificações de preços. Todas as usinas do setor convivem com essa característica do mercado sucroenergético. Algumas usinas conseguem administrar essa dificuldade, outras, no entanto, encontram mais problemas para garantir rentabilidade diante das instabilidades de preços. Essa diferenciação de performance das usinas está muito mais atrelada a custo e eficiência do que propriamente ao porte das usinas e à quantidade de cana processada por elas. Portanto, para garantir rentabilidade, o grande foco das usinas deve ser controle de custos e ganhos de eficiência.

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Opiniões Quando se trata de controles de custos, uma série de fatores estão envolvidos. Dentre eles, podem-se mencionar alguns de grande relevância e que vão ao encontro da realidade atual do setor sucroenergético, como, por exemplo: reestruturação das despesas financeiras, redução eficiente de custos operacionais agrícolas e industriais e redução das despesas tributárias. O cenário atual do setor é de alto endividamento. Segundo o Itaú BBA, a dívida das usinas do Centro-Sul soma R$ 56 bilhões, enquanto o seu faturamento é de aproximadamente R$ 60 bilhões. Isso significa que o nível de endividamento está muito próximo do faturamento. A alta dívida afeta diretamente a performance das usinas, que, de acordo com a União da Indústria da Cana-de-Açúcar – Unica, possuem 25% de sua renda comprometida com o pagamento de despesas financeiras. A reestruturação das dívidas, com a escolha de financiamentos menos onerosos, e o planejamento mais adequado de formas de pagamento são o caminho para reduzir as despesas financeiras e iniciar o processo para melhorar os índices de rentabilidade. O custo de produção também é um fator de preocupação para o setor sucroenergético. Segundo o Programa de Educação Continuada em Economia e Gestão de Empresas (Pecege), nas últimas seis safras, o custo de produção agroindustrial aumentou 9% nas regiões canavieiras tradicionais e 7% nas regiões de expansão que estão absorvendo a cultura da cana. O Pecege espera que o custo de produção na safra 2013/14 seja menor do que na safra 2012/13, mas ainda não o suficiente para tornar a atividade atrativa economicamente. Levando esses dados em consideração, a adoção de boas práticas de redução de custos faz parte do processo de busca por rentabilidade. Ações como a otimização na compra de insumos e a implementação de controles e processos automatizados podem ser colocadas em prática para reduzir os custos operacionais ao longo do processo de produção. Por fim, outro importante tema na estratégia de redução de custos é a diminuição das despesas tributárias por meio da recuperação dos gastos tributários realizados anteriormente. As recentes alterações legislativas voltadas, principalmente, para o etanol trouxeram mais fundamentos para recuperar alguns custos provenientes de tributos já pagos. Além da recuperação, a revisão dos procedimentos na apuração dos tributos para reduzir tais gastos no futuro também é um importante instrumento na tentativa de encontrar um equilíbrio entre receitas e custos. O setor sucroenergético é extremamente promissor por visar à produção de alimentos, de bioeletricidade e de um biocombustível eficiente, como o etanol. Investidores nacionais e estrangeiros estão atentos às oportunidades geradas por essa cadeia de valor. Para eles, no entanto, a atratividade econômica do setor ainda não foi plenamente conquistada. É preciso aumentar não apenas a produção agrícola, mas também a eficiência da gestão financeira e tributária para obter sucesso nessa que é uma das atividades econômicas mais antigas do nosso país.



consultorias

oportunidades e desafios O gráfico ao lado dá uma ideia exata do cenário da recente história do setor. Tivemos um período de euforia em 2004-2009, com petróleo a US$ 140/barril, quando a área de cana no Centro-Sul teve um crescimento explosivo de quase 10% a.a. (barra branca). Estamos vivendo, desde então, uma fase de desaceleração no crescimento do setor em função da economia mundial deprimida e de preços do açúcar em queda desde 2012. O crescimento rápido do setor na primeira fase (2004-2009) gerou ineficiências econômicas, elevou muito a alavancagem financeira das usinas e gerou a necessidade de reestruturação de dívidas com os credores. Nesse caso, poucas usinas conseguiram se sair bem, e, ainda hoje, existem problemas graves de risco de crédito no setor. A mortandade das empresas configura-se um processo em andamento. E daí? O que podemos pensar sobre o futuro do negócio baseado na cana-de-açúcar? Temos oportunidades e bons desafios também. Abaixo, seguem os comentários sobre o futuro previsível do setor.

MÉDIAS BIANUAIS DA EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA DE CANA-DE-AÇÚCAR NA REGIÃO CENTRO-SUL

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Oportunidades:

Clima: O aquecimento global é um fato. E isso muda as condições de vida na Terra. O último Relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), divulgado em setembro/13, conclui que as mudanças climáticas são reais, e o ser humano é o principal responsável: "O aquecimento global sem precedentes é um fato e as emissões de gases de efeit o estufa (GEE) são as principais causas. As mudanças climáticas provocadas por

este aquecimento afetam o nível do mar, a temperatura e a acidez dos oceanos, extensão e espessura do gelo nos polos e disponibilidade de água no planeta. Para estancar este processo é preciso reduzir drasticamente as emissões de GEE sob pena de chegarmos ao final deste século com aumento médio de temperatura do planeta em até 5,8ªC (40% do que no início do século passado)."

O elevado grau de corrupção nas três esferas de governo cria insegurança para o cidadão e para as instituições. Esse ambiente gera também insegurança para as empresas e inibe investimentos. "

Julio Maria M. Borges Sócio-Diretor da JOB Economia e Planejamento

O relatório se utiliza de modelos mais confiáveis e afirma que a temperatura da Terra vai aumentar. Não há segurança de quanto – normal em qualquer modelo de previsão. O etanol aparece nesse contexto como opção econômica e ambientalmente correta, principalmente considerando que a crise econômica global inibidora de ações pró meio ambiente vai passar.

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Opiniões Açúcar: O crescimento da economia global no médio e longo prazo é algo que deve permanecer, baseado, principalmente, nos países em desenvolvimento. Salvo se alguma catástrofe de responsabilidade do clima, da geopolítica e de movimentos sociopolíticos de ruptura afetar a economia mundial. Dessa forma, e em função de uma crescente urbanização, o mercado global de açúcar segue em trajetória de alta. Consumo global crescente motivado pelo aumento da demanda na Ásia e na África, principalmente, dão sustentação para maior produção mundial e preços remuneradores dos custos de produção de longo prazo (custos de projetos greenfield). E o Brasil é competitivo com outros países nessa corrida de oferta.

Desafios:

Petróleo: O mundo mudou bastante depois daquela fase de petróleo caro a que assistimos em meados da década passada. Como consequência dessa situação, temos, hoje, disponível a tecnologia de gás e óleo de xisto, com reservas abundantes ao redor do mundo. O petróleo de pré-sal no Brasil é outro exemplo de consequência do petróleo caro, com tecnologia ainda em desenvolvimento. Em resumo, a oferta de combustíveis fósseis líquidos deve aumentar e limitar, sem inibir, o crescimento do market share do etanol. Sem inibir, porque estamos admitindo preços de petróleo na faixa entre US$ 90 e 100 por barril, para justificar economicamente combustíveis líquidos com essas novas tecnologias. Milho e Soja: Como commodities agrícolas, tal como açúcar, terão ciclos de preços altos e baixos. Nas fases de preços baixos (como agora), irão competir com o etanol de cana-de-açúcar, seja na produção de etanol de milho, seja na produção de biodiesel, que nos Estados Unidos concorre com o etanol de cana como combustível avançado. Dessa forma, teremos de considerar essa condição como mais um fator de oportunidades e riscos normais de mercado. Engenharia Genética e Biotecnologia: A cana-de-açúcar, sob esses aspectos, está relativamente atrasada quando comparada com outras culturas, como milho, soja e beterraba. Esse é um desafio que temos que enfrentar, e estamos enfrentando, para podermos preservar a competitividade global do Brasil no setor. O etanol de segunda geração (2G) está sendo desenvolvido e representa uma possibilidade de sucesso para o negócio de cana-de-açúcar no País. Governo: Hoje, observamos que o governo ajuda o setor sucroenergético no curto prazo (financiamentos adequados à produção e comercialização, redução de carga tributária) e atrapalha no médio prazo (controle de preços da gasolina e falta de clareza do papel da energia elétrica do bagaço de cana na matriz energética). Cabe lembrar ainda que o financiamento da pesquisa de etanol 2G pelo Bndes é apoio importante para a sustentabilidade do setor no longo prazo. De forma mais ampla, o Governo Federal tem feito intervenções pontuais na atividade econômica e em setores escolhidos, o que afeta o resultado econômico dos negócios para o bem e para o mal.

Além disso, tem priorizado o emprego e o controle da inflação (política social) em detrimento da estabilidade econômica de médio prazo (balanço de pagamentos e situação fiscal). O elevado grau de corrupção nas três esferas de governo cria insegurança para o cidadão e para as instituições. Esse ambiente gera também insegurança para as empresas e inibe investimentos. Gestão & Monitoramento: Todos sabemos que a velocidade de mudanças no mundo dos negócios aumentou de forma considerável. E daí? Daí que a quantidade de informações é exagerada e fica difícil separar o "joio do trigo". A volatilidade dos mercados aumentou, as oportunidades comerciais aparecem e desaparecem rapidamente – o que se chama por janelas de oportunidade –, novos produtos e processos aparecem com frequência, novos competidores globais surgem no mercado. A tendência é do livre mercado prevalecer e a competição entre as empresas se acirrar num primeiro momento. O modelo de gestão de antigamente, quando, por exemplo, o preço do açúcar na entressafra era maior que durante a safra, não vale mais como regra. O modelo antigo, quando operar com custo mínimo era a regra de otimização, não é mais condição suficiente. A empresa tradicional do setor terá de se ajustar a essas mudanças, sob pena de sucumbir ou de ser vendida para um grande grupo por um preço abaixo do seu valor econômico máximo. Hoje, a sobrevivência do grupo tradicional depende de informações precisas e decisões rápidas. Depende de custos mínimos e receita relativa máxima. Depende de aproveitar momentos certos de mercado para fazer fixações de preços. Depende de uma estratégia correta para investimentos e financiamentos. Depende de correta gestão de pessoas e de trabalho em equipe, por falta de opção nesse mundo complexo e dinâmico. Empresas bem-sucedidas em diversos setores de atividade têm usado Conselhos de Administração e Conselhos Consultivos como apoio a decisões corretas de estratégias comerciais, de investimento e administrativas. Afinal, não dá para fazer tudo sozinho. Nossa experiência profissional como conselheiro e também conclusões dos seminários anuais promovidos pela JOB Economia indicam que as empresas bem-sucedidas usam esses Conselhos como meio para melhorar os resultados dos negócios. Lembrete de Jack Welch: "Conselhos não são garantia de bons resultados, tudo depende da competência e do comprometimento dos conselheiros e do uso que se faz deles". Conclusão: O setor sucroenergético no Brasil tem condições competitivas de crescer ao longo do tempo. A velocidade desse crescimento depende de variáveis relacionadas basicamente à energia, à forma de intervenção do governo nas atividades econômicas e, naturalmente, da gestão empresarial. O gráfico colocado no início deste artigo sugere uma retomada de crescimento do setor até 2020 na faixa de 5% a.a., onde se admite a recuperação gradual da atividade econômica global, petróleo com preços na faixa de US$ 90-100/barril e uma interferência direta mínima do governo nas atividades econômicas. A questão que se coloca é: quem vai participar dessa nova fase de expansão?

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consultorias

Opiniões

pequenos passos

grandes conquistas

Novas tecnologias ou processos podem inviabilizar um produto. O gás de xisto pode substituir o etanol em função do seu preço mais baixo. A crescente exploração desse gás, nos Estados Unidos, revolucionou a matriz energética americana, possibilitando uma alteração significativa no quadro econômico americano. Entretanto, além de afetar o meio ambiente, inviabiliza economicamente a produção de etanol, que é uma energia limpa, mas com um custo mais elevado. Novas tecnologias aplicadas por produtores de cana-de-açúcar e pela indústria de açúcar e etanol, como novos tratores, colhedoras, insumos agrícolas cada vez mais avançados, devem ser utilizadas somente para operações e processos específicos. Um trator de 180 cv utilizado para aplicação de herbicida tem um custo-hora por hectare de R$ 138,00, enquanto um trator de 120 cv, realizando a mesma operação, tem um custo-hora de R$ 83,00 por hectare. Em plena safra canavieira (2013/3014), os preços do açúcar no mercado internacional estão em cts US$ 17,00 por libra/peso, e os custos de produção estão a cts US$ 16,88. Além da forte oferta de açúcar da Índia, como o mercado não tem informações confiáveis sobre o estoque de passagem para a próxima safra, os produtores rurais e usinas estão na expectativa para o planejamento das safras futuras. Esse cenário, aliado à falta de definição do Governo Federal sobre a política de preço do etanol e o relevante grau de endividamento do setor muito fragilizado, complica ainda mais a situação do setor como um todo. Não há alternativas para uma redução significativa dos custos de produção no curto prazo, e as margens tendem a permanecer negativas ou reduzidas, levando as empresas nacionais a suspenderem a produção, e as multinacionais, com a intenção de deixar de produzir açúcar e etanol no Brasil. A cadeia produtiva do setor tem investido em novas tecnologias e processos de produção que apresentam resultados positivos, porém não com força consistente e significativa para alterar o modelo atual. O modelo de P&D adotado na década de 80 deu condições ao Brasil de atingir padrões internacionais. No modelo tecnológico necessário, considera-se uma produção de cana-de-açúcar de 120 toneladas média por hectare, de 140 sacos de açúcar por tonelada, mais de

Não há alternativas para uma redução significativa dos custos de produção no curto prazo, e as margens tendem a permanecer negativas ou reduzidas, levando as empresas nacionais a suspenderem a produção e as multinacionais a deixar o Brasil. " Carlos Eduardo Araujo CFO da MacKensie Agribusiness e Consultor TOTVS Agroindústria

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100 litros de etanol por tonelada cana, o que não vai acontecer nos próximos vinte anos. As tecnologias e os processos agroindustriais disponíveis no mercado visam ao aumento de produtividade, à redução de custos e ao crescimento da lucratividade. A expectativa do setor é a produção integrada de etanol de segunda geração (2G), utilizando bagaço e palha para a produção de etanol. Dá-se o nome de segunda geração ao etanol produzido de matéria-prima de base celulósica. É um produto com um custo maior e exige um investimento alto, em um momento no qual as usinas estão descapitalizadas e com excessivo grau de endividamento. Os preços do açúcar e do etanol não cobrem nem o custo de produção da cana. Com essa tecnologia, é possível aumentar a produtividade atual de sete mil litros de etanol por hectare para aproximadamente dez mil litros por hectare. Novas tecnologias e processos agrícolas: No curtíssimo prazo, para reduzir custos ou limitar perdas operacionais, a principal missão dos gestores será o uso adequado do planejamento, utilizando os seguintes processos e tecnologias: • Viveiros de mudas: cada usina deverá ter seu próprio viveiro de mudas para seu ambiente de produção, obtendo mudas sadias e resistentes, reduzindo expressivamente o uso de herbicidas, inseticidas e aumentando sua produtividade com manejo varietal adequado ao ambiente de produção. • Novas variedades de cana: centros de pesquisas e universidades estão colocando no mercado, anualmente, variedades com boa produtividade. Um avanço tecnológico de destaque é a redução de tempo para a sua difusão. O antigo programa de melhoramento genético era de quinze anos. Agora, com uma metodologia avançada, é possível disponibilizar novas variedades em oito anos. Elas podem minimizar as perdas da colheita mecanizada, pois são adaptadas aos seus respectivos ambientes. • A sistematização do terreno para o plantio da cana-de-açúcar e a adoção de sistemas de plantio (simples ou combinado) oferecem vários benefícios para a colheita mecanizada, entre eles: baixar os custos; aumentar a vida útil das colhedoras e demais equipamentos que apoiam o CCT; além de promover um up grade na produção da cana nas safras seguintes.

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consultorias • A colheita da palha pode, também, ser uma fonte de renda. Além da venda para outros produtores, pode fornecer material para as caldeiras. • A introdução de talhões planos e de longo comprimento pode otimizar as operações do CCT, evitando manobras desnecessárias, racionalizando o uso das operações motomecanizadas. Optando por esse processo, haverá a redução na quantidade de colhedoras, menor consumo de combustível por tonelada de cana colhida e menor desgaste dos equipamentos. O uso da Tecnologia de Informação também reduz o custo operacional por meio da utilização dos sistemas de planejamento analítico para incrementar a performance de todo o processo de produção agrícola e industrial, além da logística através do uso de modais da usina até o porto. A gestão inteligente adotada por algumas usinas é fundamentada na utilização de regras gráficas que permitem coordenar as operações realizadas e controladas em tempo real. O grande diferencial é que as regras compartilham informações oriundas de diversas fontes, transformando-as em conhecimento estratégico para a tomada de decisão em tempo real. Benefícios diretos dessa integração: controle dos custos de produção em cada etapa do processo; melhores índices de desempenho; transparência e confiabilidade nas informações; redução do tempo de apuração dos custos; minimização de riscos e perdas; maximização da capacidade produtiva; e segurança na tomada de decisão. Novas tecnologias industriais: Tecnologias em utilização nos processos industriais propiciam resultados relevantes para o aumento da eficiência operacional, reduções de

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Opiniões custos e índices positivos de viabilidade econômica. Projetos estão sendo conduzidos para tratamento de vinhaça. Um dos destaques é um fertilizante produzido com resíduos da agroindústria sucroalcooleira (vinhaça concentrada, torta de filtro, cinza de caldeira e fuligem das chaminés) substituindo a adubação mineral do canavial. Nos estudos de viabilidade, estima-se que o biofertilizante organomineral granulado e seco permite reduzir até 98% do uso de cloreto de potássio, 21% de fósforo e 35% de nitrogênio, impactando sobremaneira o custo de produção. Outra tecnologia desenvolvida e aplicada em usinas tem, como objetivo, a utilização de uma levedura capaz de suportar um processo de fermentação com alto teor alcoólico. O processo opera através do mosto, que é concentrado antes da fermentação, eliminando parte da água por evaporação e/ou pela adição do mel final. Com isso, o mosto irá reter uma maior concentração de sacarose, tornando possíveis níveis elevados de concentração alcoólica durante o processo fermentativo, alterando de 8% para 16% o teor alcoólico. Conclusão: O Brasil tem a oportunidade de ser o supermercado do mundo, oferecendo alimento e energia em condições favoráveis, em função de seu clima e fatores de produção (terras, capital e mão de obra eficiente, se devidamente treinada). Mas é imperativo que o governo defina uma política agrícola e de pesquisa e desenvolvimento para o País e direcione investimentos relevantes para esses fins. O agronegócio, e especificamente o setor sucroenergético, tem condições e competência para tornar o Brasil melhor para todos os brasileiros.


13a CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DATAGRO SOBRE AÇÚCAR E ETANOL

21 e 22

Outubro, 2013

São Paulo

O Maior Evento do Calendário Sucroenergético Mundial

Tradução Simultânea

Evento Técnico do Sugar & Ethanol Dinner Brasil 2013

“Diversificação, Biotecnologia e Logística - na rota do futuro”

Serão debatidos os principais desafios e as oportunidades do setor sucroenergético, entre eles: SAFRA BRASIL - AVALIAÇÃO DA PRODUÇÃO NO BRASIL EM 2013/14 E PERSPECTIVAS PARA 2014/15 A VISÃO DO MERCADO MUNDIAL PELA LENTE DOS TRADERS LOGÍSTICA - INOVAÇÕES E DESAFIOS ETANOL NOS EUA BIODIGESTÃO DE RESÍDUOS AGRÍCOLAS, NOVA FRONTEIRA ENERGÉTICA

+ 700 participantes

+ 33 países

+ 40 palestrantes

Alguns palestrantes e debatedores já confirmados:

PETER BARON

BOYDEN GRAY

Organização Internacional do Açúcar

Embaixador norte-americano para UE

RICARDO DORNELLES

Ministério de Minas e Energia

ELIZABETH FARINA

UNICA

JULIO FONTANA

Rumo Logistica

Patrocinadores

BIOMASS ENERGY

RESEARCH INSTITUTE

Realização/Curadoria

Site Parceiro

Apoio

Apoio Especial

www.datagroconferences.com.br / conferencia@datagro.com.br / +55 11 4193 4031


fomento e pesquisa Palestrante do 2º Datagro Ceise Br Conference

tecnologia e inovação A cana-de-açúcar tem extraordinária relevância para a economia brasileira, tanto historicamente quanto em participação na matriz econômica. Do ponto de vista histórico, os primeiros registros da sua introdução em nosso país datam do século XVI. Para entendermos o significado do início do ciclo econômico da cana em nosso país e sua importância para todo o continente americano, devemos ter como referência a citação de Celso Furtado, na obra Formação Econômica do Brasil: “De simples empresa espoliativa e extrativa, a América passa a constituir parte integrante da economia reprodutiva europeia, cuja técnica e capitais nela se aplicam para criar de forma permanente um fluxo de bens destinados ao mercado europeu”. Essa afirmativa memorável sintetiza os impactos da cana já naquela época: absorção de tecnologias, atração de investimentos e inserção no mercado internacional com uma economia baseada em produção.

A riqueza da cana: A cana-de-açúcar é a origem de diversos produtos, em vários campos de aplicação. Assim como há cem anos, tínhamos o açúcar como seu derivado mais importante e, hoje, temos o etanol no centro das atenções, há diversos segmentos que podem ganhar força no futuro. O bagaço da cana tem grande potencial de produção de bioeletricidade no País, de forma limpa e eficiente, com o emprego de tecnologias capazes de produzir a energia elétrica necessária para o crescimento econômico sustentado. A cana tem aplicações em outras áreas, como na saúde – em agentes cicatrizantes e alimentos funcionais, na própria agricultura –, o vinhoto e as cinzas, na produção de plásticos e em outros usos ainda pouco explorados. Quanto mais se estuda a cana, mais se descobre o seu potencial de gerar riqueza. Esse conhecimento crescente é alimentado pelos avanços científicos obtidos pelos grandes institutos de pesquisa dedicados ao tema.

... a produtividade brasileira é três vezes menor do que a dos países asiáticos. A agricultura é uma exceção no quadro, com produtividade crescente num ritmo firme " Paulo José Pereira de Resende Superintendente de Fomento e Novos Negócios da Finep – Financiadora de Estudos e Projetos

Na matriz econômica, os seus derivados principais dispensam comentários extensos. Mais da metade do açúcar produzido no mundo é brasileiro, e o etanol brasileiro é impulsionado pela expansão da frota de veículos flex e pela sua baixa emissão de poluentes para a atmosfera, quando comparado aos combustíveis fósseis. Dados disponibilizados pela Unica mostram que a produção de etanol dobrou no período 1990-2008, e projeções do Ministério da Agricultura estimam que a produção dobrará novamente até 2019, alcançando a impressionante marca de 58,8 bilhões de litros. Ao mesmo tempo em que temos uma sólida certeza da importância do setor sucroalcooleiro para o passado e o presente do País, precisamos estimular a discussão sobre o futuro do setor. O Brasil não pode ser um observador passivo, esperando por preços melhores para os derivados de cana. É providencial refletirmos sobre as possibilidades futuras e, para isso, devemos considerar algumas questões que podem trazer profundos impactos para a dinâmica do setor.

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Produtividade como elemento central da discussão: A economia brasileira tem uma necessidade urgente de elevar a sua produtividade. Se compararmos o nosso desempenho com o dos países asiáticos, por exemplo, nossa economia apresentava a mesma produtividade em 1980. Hoje, no entanto, nossa produtividade é três vezes menor do que aquela registrada pelos mesmos países asiáticos (dados do BID). A agricultura é uma exceção no quadro, com produtividade crescente num ritmo firme, mas a economia nacional precisa ser diversificada e produtiva em todos os setores, especialmente naqueles onde há maior agregação de valor, de forma compatível com a grandeza de nosso país no cenário global. Desafios exigem inovações: A inovação tecnológica tem um papel fundamental na superação dos desafios atuais. Na indústria da cana, há diversas oportunidades de se obter maior produtividade com investimentos no melhoramento genético, no desenvolvimento de melhores


Opiniões técnicas de cultivo, na automação das lavouras, no aumento da eficiência da tecnologia 1G e na consolidação da tecnologia 2G em nosso país. O setor empresarial e a comunidade acadêmica podem e devem pensar de forma estratégica sobre isso, formulando planos de investimento contínuo na pesquisa por mais oportunidades de crescer de forma sustentada e de posicionar nossa indústria junto àquelas dos países capazes de gerar mais riqueza a partir da cana. O papel do financiamento público para a inovação: O comprometimento do financiamento público com o setor sucroalcooleiro é de longa data. Nos últimos 40 anos, um marco significativo foi a publicação do Programa Nacional do Álcool – Proálcool, lançado em novembro de 1975. Da mesma forma que o financiamento público teve papel importante no passado do setor, a mesma diretriz deve orientar a participação presente e futura. Os investimentos em inovação têm como principal apoiador no setor público a Financiadora de Estudos e Projetos – Finep, que oferece diversos produtos financeiros para o desenvolvimento tecnológico e a inovação: a) crédito subsidiado de longo prazo, com taxas entre 2,5% e 6,5% ao ano e prazos de pagamento que podem chegar a 144 meses; b) subvenção econômica à inovação, que consiste na concessão de recursos a fundo perdido para o desenvolvimento de inovações de alto risco tecnológico; c) participação acionária em empresas; e, d) financiamento não reembolsável para as universidades e institutos de pesquisa. A Finep tem participação relevante no apoio a investimentos em tecnologia e inovação para o escalonamento de novas tecnologias em unidades industriais, no aprimoramento de processos, e financia pesquisas e investimentos empresariais relacionados a novos usos do etanol e do bioquerosene, assim como no fortalecimento de diversos laboratórios de análises e certificação. O fomento público à tecnologia & inovação deve ir muito além do apoio financeiro. A Finep está dedicada a fortalecer a discussão das estratégias de inovação e, para isso, tem investido pesadamente na qualificação dos especialistas setoriais e na abertura de novos canais de diálogo, como a Área de Fomento e Novos Negócios, que tem por missão auxiliar na identificação das oportunidades de apoio aos investimentos em tecnologia e inovação. Além disso, merece destaque a menção ao processo de reinvenção das formas de financiamento da Finep, especialmente o "Finep 30 Dias", modelo de análise que responde às demandas por crédito para inovação em 30 dias corridos. O compromisso público é o apoio financeiro na velocidade do setor empresarial. Recentemente, Finep e Bndes implementaram o Plano Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico – Paiss. As duas instituições públicas estão apoiando, de forma integrada, os investimentos em diversos temas considerados relevantes para a inovação e o desenvolvimento produtivo, inclusive o etanol 2G. O financiamento público tem um papel fundamental na atenuação do custo financeiro e do risco associado aos investimentos do setor, especialmente quando há o

investimento em novas tecnologias. A oferta de financiamento com condições atrativas é um estímulo a mais para aqueles que já identificaram alternativas de investimento para o fortalecimento das suas atividades e do setor como um todo. A ampla disponibilidade de fontes de financiamento, ao mesmo tempo que assegura oportunidades de capitalização, requer dos empresários e pesquisadores do setor a escolha dos investimentos que devem ser apresentados a cada um dos agentes. É necessário ter um conhecimento sobre as linhas de financiamento disponíveis e identificar a competência específica de cada instituição. Um maior conhecimento das alternativas de financiamento permite um planejamento melhor, e, com isso, aumentam as chances de sucesso na obtenção de recursos. Impactos nos outros setores econômicos: A indústria da cana vai muito além do setor sucroalcooleiro. Os investimentos no setor estimulam o crescimento da indústria metalmecânica, demandam novos defensivos químicos, estimulam avanços na biotecnologia, nos modais logísticos e produzem impactos diretos sobre o complexo automobilístico, sem contar a relação direta do uso do etanol com as políticas de redução de emissão de poluentes. Essa grandiosidade reforça a necessidade da formulação de planos estratégicos capazes de mobilizar diferentes setores da economia. O governo, por sua vez, precisa ser cada vez mais eficiente na identificação das oportunidades da sua atuação, para alavancar o desenvolvimento dessa indústria. Uma Agenda de Desenvolvimento para o setor: Os principais atores da indústria da cana já se conscientizaram da necessidade de promoverem uma intervenção positiva na construção do futuro. Não podemos ser simplórios, esperando que as condições da economia global em torno da cana permaneçam estáveis ou favoráveis de forma indefinida. Esse é o momento de agir de forma determinada, tomando decisões que vão moldar o desempenho futuro do setor. O setor precisa evitar “zonas de conforto” e ousar mais, garantindo a sustentação da nossa liderança global. Empresas, institutos de pesquisa e governo devem somar forças em torno de uma agenda de desenvolvimento para esse setor, que há cinco séculos participa de forma relevante em nossa economia. Hora de planejar – e colocar em prática: Não há qualquer dúvida sobre a relevância do setor. Os agentes públicos de financiamento (Finep, bancos de desenvolvimento e outras instituições financeiras) atuam de forma decidida no apoio a investimentos na produção da cana e de seus derivados. É hora de planejar os próximos investimentos que vão garantir o aumento da geração de riqueza e a superação dos níveis atuais de produtividade do País. O passo seguinte é promover a articulação com fornecedores, parceiros e institutos de pesquisa em torno dos investimentos prioritários e trazer os agentes de financiamento público e privado para a operação. E colocar em prática. O investimento em inovação deve ter destaque nos investimentos futuros, assegurando o aumento da produtividade e da competitividade do setor. Esses investimentos podem viabilizar o desenvolvimento de mais e melhores derivados da cana. Certamente, ainda há muita riqueza a ser descoberta.

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fomento e pesquisa

Opiniões

Presidenta,

tenho certeza de que este é o seu

sonho!

... mas nada disso será suficiente e sustentável no longo prazo, na ausência de políticas públicas. Sendo assim, vamos a elas, e chega de perder tempo. Não podemos nos dar a esse luxo, somos um país pobre e com tudo por fazer. " Alexandre Enrico Silva Figliolino Diretor de Agronegócios do Itaú BBA

Seguindo a proposição que foi dada para a confecção deste artigo, sem querer ser repetitivo com tudo que tem sido dito, seria importante ressaltar, em primeiro lugar, o que faz o setor sucroenergético, tão precioso e importante para o País. Geração de Empregos: Estamos falando de um setor que gera aproximadamente 1 milhão de empregos diretos e 5 milhões de empregos indiretos. Além disso, esses empregos de nível cada vez melhor, em função de redução do trabalho manual, são gerados de forma interiorizada, levando desenvolvimento para locais distantes dos grandes centros, transformando tristes realidades de lugares sem oportunidades em polos de desenvolvimento. Como exemplo disso, cito um lugar em que acabei de estar, Quirinópolis, em Goiás, que, de 36º lugar no IDH do estado, passou a ocupar a 6ª colocação, em função de importantes projetos que lá se instalaram. O crescimento e a transformação são impressionantes: a vendinha virando supermercado, a pensão virando hotel, o boteco virando restaurante e assim por diante. Além disso, a mecanização, a automação de processos e outros avanços tecnológicos a que temos assistidos têm tornado necessário um enorme esforço das empresas em treinamento, visando à

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fomento e pesquisa qualificação da mão de obra, dando perspectiva de uma vida melhor para pessoas antes fadadas a empregos de baixa qualidade e remuneração. Balança Comercial: Nossos números de comércio exterior, um fundamento muito importante aos olhos dos mercados investidores, vêm apresentando uma sensível deterioração, sendo que nosso saldo, em 2013, está previsto ficar em U$ 2 bilhões ou pior, o menor em muitos anos, com um peso expressivo na importação atribuído ao petróleo e a seus derivados. Poderíamos estar tendo uma produção muito maior de etanol e, consequentemente, reduzindo o volume de gasolina importada se, apenas e tão somente, praticássemos preços internacionalizados para os combustíveis, para o bem ou para o mal. Isso estaria tornando a atividade de produzir etanol rentável neste momento, mas, mais que isso, daria segurança a quem investe no setor de que as regras são claras e transparentes e não sujeitas a conveniências do momento. Todos sabemos o lado da exportação na importância do agronegócio como um todo, atingindo quase US$ 100 bilhões. Além disso, o açúcar, cujo maior produtor e exportador mundial é o Brasil, e o etanol ocupam o segundo lugar como cadeia mais importante, com seus US$ 16 bilhões de divisas, após o complexo soja. Energia Elétrica: O Brasil possui a matriz energética mais diversificada do mundo, com expressiva participação de fontes renováveis de natureza hídrica, eólica e biomassa. Porém a hídrica, de longe a mais importante, está disponível em regiões cada vez mais longínquas e sensíveis ambientalmente, com alto custo de transmissão e com limitações de natureza ambiental que levam essas hidrelétricas a terem enorme limitação no tamanho de seus reservatórios. Longe de querer dizer que a biomassa é a solução para todos os problemas nessa área, mas é inegável que essa fonte de geração distribuída, produzida próxima aos centros de carga do sistema, produzindo energia no período de seca do Centro-Sul, poupando água dos reservatórios neste momento crítico e custando muito menos que as poluentes térmicas a óleo, algumas despachando a um custo acima de R$ 1.000,00/Mwh, pode dar enorme cota de contribuição para o crescimento da oferta de energia elétrica. Além disso, cogeração de biomassa e produção de etanol são extremamente complementares e, juntos, podem viabilizar o investimento do setor em novas plantas, nas áreas mais distantes, onde temos oferta de terras para expansão da atividade, e a produção de açúcar, em função dos custos logísticos, não é viável. Dito isso, é inegável que seria muito válido que governo e setor privado, através de um esforço conjunto, trabalhassem na definição de um plano estratégico de longo prazo, em que ficaria muito claro o exato papel do etanol e da cogeração de biomassa na matriz energética, estabelecendo as regras do jogo, possibilitando ao setor privado, com visibilidade, planejar e decidir investimentos, segundo um plano de crescimento bem definido. Somos uma agroindústria que, para evoluir, precisa se planejar. Não se faz agricultura de cana-de-açúcar de boa qualidade sem planejamento muito bem feito, pois se trata de cultura semiperene. A instalação de projetos, notadamente em regiões mais distantes, depende, além de muito capital, de mão de obra qualificada, de respeito a

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Opiniões normas ambientais e trabalhistas rigorosas e, por serem empreendimentos de grande envergadura, são muito dependentes de infraestrutura, muitas vezes inexistente num primeiro momento. Portanto nada nesse setor anda bem se não estiver antecedido por muito planejamento, além de uma qualidade de execução dos projetos que precisa, cada vez mais, ser impecável. Somos obrigados a reconhecer que os momentos difíceis por que estamos passando não serviram apenas para provocar o fechamento de 40 unidades e mais 21 recuperações judiciais. Esses momentos têm servido, também, para provocar um enorme amadurecimento das empresas e de todos os stakeholders envolvidos. Está sendo feita uma enorme lição de casa no que tange a conquistar um aumento de eficiência que nos leve a produzir cada vez mais em condições competitivas. O crescente uso de tecnologia em todas as áreas, a racionalização de processos, a recuperação das produtividades em termos de ATR/ha têm sido perseguidos rumo à redução de custos unitários. Novas tecnologias estão a caminho, 2G, 3G, utilização de outras matérias-primas para produção de etanol, biodigestão, melhoramento genético convencional e via transgênica, etc. Mas nada disso será suficiente e sustentável no longo prazo, na ausência de políticas públicas. Sendo assim, vamos a elas, e chega de perder tempo. Não podemos nos dar a esse luxo, somos um país pobre e com tudo por fazer. Chega de benefícios temporários via concessão de financiamentos a custo subsidiado, cujo preço, tão caro, irão cobrar do contribuinte no futuro. Economia de mercado neles, Presidenta (reconhecendo algumas evidentes externalidades positivas do etanol e da cogeração de biomassa), pois só ela será capaz de produzir crescimento sustentável e duradouro, tornando o setor, no futuro, extremamente robusto e competitivo, pois tenho certeza de que é seu sonho.



fomento e pesquisa Palestrante do 2º Datagro Ceise Br Conference

inovar

para retomar a competitividade

Colaboração: Artur Yabe Milanez e Diego Nyko, respectivamente, Gerente e Economista do Departamento de Biocombustíveis do BNDES

quando se analisa a curva de produtividade de longo prazo, verifica-se uma clara redução dos incrementos ao longo dos anos, sugerindo a influência de fatores de caráter estrutural ... o principal deles (é) que o investimento no desenvolvimento tecnológico vem sendo feito em ritmo e intensidade aquém do desejado. " Julio Cesar Maciel Ramundo Diretor do BNDES

Embora a história da cana-de-açúcar no Brasil seja secular e repleta de vicissitudes, é possível afirmar que suas mudanças mais significativas vêm ocorrendo nos últimos quarenta anos. Nesse período, as usinas deixaram de produzir apenas açúcar, consolidando o etanol carburante em seu portfólio de produtos e, ainda mais recentemente, também a energia elétrica produzida a partir do bagaço da cana. Nesse novo contexto, a cana se tornou parte fundamental da nossa matriz energética, alcançando o posto de segunda fonte de energia primária mais importante do País, atrás apenas do petróleo. Entre as transformações mais importantes para o setor, foi emblemática a introdução dos veículos de motores flex no mercado nacional. Disponível desde 2003, essa nova tecnologia propiciou uma renovada fonte de demanda pelo etanol combustível e já representa quase 60% da nossa frota de veículos leves. De fato, a expansão da demanda foi acompanhada por expressivos esforços de investimento produtivo realizado pelas empresas do setor durante a última década. A capacidade industrial do setor praticamente dobrou entre 2005 e 2010 para quase

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Opiniões 700 milhões de toneladas de cana, o que representou investimentos da ordem de R$ 80 bilhões. Para dar suporte a esse intenso ciclo de crescimento, o Bndes desembolsou, nesse mesmo período, cerca de R$ 40 bilhões para o setor. Da euforia verificada na década passada, atualmente o setor se encontra diante de uma estagnação de investimentos. Nas últimas 3 safras, menos de 10 usinas foram implantadas, ao passo que mais de 40 foram desativadas. Quais os determinantes dessa estagnação? Em nossa visão, os determinantes estruturais são mais relevantes do que os conjunturais no tocante à atratividade econômica do setor canavieiro no médio e no longo prazo. A busca por ganhos permanentes de produtividade, sobretudo pela introdução de inovações, tanto na etapa agrícola quanto na industrial, é a agenda prioritária do Bndes. Pelo lado do processamento industrial, apesar de a produtividade ter apresentado ganhos substanciais ao longo das últimas décadas, tanto em equipamentos e sistemas quanto em processos fundamentais, como a fermentação e a destilação, o alcance de novos ganhos de produtividade tem se mostrado crescentemente custoso. Por outro lado, os ganhos potenciais advindos do desenvolvimento das tecnologias para conversão de biomassa, ou do etanol celulósico, são bem mais importantes. Uma vez estabelecida, a difusão generalizada dessa tecnologia teria potencial para aumentar a produtividade industrial do setor em pelo menos 45%, atingindo a marca de mais de 10 mil litros por hectare. Do lado agrícola, a produtividade da lavoura brasileira de cana-de-açúcar atingiu, em 2007, a marca histórica de 11.200 kg de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por hectare (ATR/ha), nível quase 130% superior ao verificado em 1975, no início Proálcool. Contudo, a performance agrícola dos últimos anos passou a apresentar trajetória distinta, com anos seguidos de reduções de produtividade, ainda que, no longo prazo, a trajetória continue crescente. Em diagnóstico elaborado pelo Bndes e publicado na Revista Bndes Setorial nº 37, em março deste ano, identificou-se que diversos fatores conjunturais podem explicar essa tendência, como a baixa renovação de canaviais e as adversidades climáticas verificadas nos últimos anos. Contudo, quando se analisa a curva de produtividade de longo prazo, verifica-se uma clara redução dos incrementos ao longo dos anos, sugerindo a influência de fatores de caráter estrutural. E, dentre tais fatores de longo prazo, pode-se dizer que o principal deles reside no fato de que o investimento no desenvolvimento tecnológico vem sendo feito em ritmo e intensidade aquém do desejado. Tal situação de baixos investimentos em P&D, por sua vez, deriva do fato de que a área mundial de cana é relativamente pequena quando comparada a outras culturas, como cereais, e, além disso, a cana apresenta maior complexidade, seja do ponto de vista genético ou ainda pelos maiores volumes de biomassa manejados. Nesse contexto, o desenvolvimento tecnológico exige esforços mais dispendiosos que, diante do menor potencial de mercado, tornam o investimento em P&D agrícola para cana menos atraente do que para outras culturas. Não é por outra razão que a cana será uma das últimas culturas agrícolas a adentrar a era da transgenia, técnica que abre enorme oportunidade para ganhos mais rápidos de produtividade, sobretudo pelo fato de viabilizar o desenvolvimento de variedades de cana mais aptas para as regiões de fronteira agrícola, cujo

regime hídrico e qualidade de solos têm se demonstrado desafiadores para as variedades atuais. De acordo com algumas estimativas, a transgenia seria capaz de aumentar em mais de 5 vezes a produtividade atual. Portanto, vive-se uma situação em que a indústria da cana, em razão de seu papel como fonte de abastecimento energético e de geração de divisas, é muito importante para o Brasil. No entanto, por seu tamanho relativamente pequeno no mundo, a cultura da cana atrai pouco interesse no desenvolvimento de novas tecnologias, tanto agrícolas como industriais. Pode-se afirmar, então, que se está diante de um agravamento do clássico problema advindo da discrepância entre os retornos privado e social do investimento em P&D. É nesse diagnóstico de necessidade de se alterar o cenário de “esgotamento” do atual paradigma tecnológico agrícola e industrial que se fundamentam a visão e a atuação de longo prazo do Bndes no setor sucroenergético. O maior exemplo dessa estratégia é a execução do Programa Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico (Paiss). Considerado uma iniciativa pioneira de fomento à inovação, conduzida conjuntamente por Bndes e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), o Paiss tem como objetivo fomentar projetos de desenvolvimento, produção e comercialização de novas tecnologias industriais destinadas ao processamento da biomassa de cana-de-açúcar, com ênfase nas tecnologias de etanol celulósico e novos produtos de maior valor agregado, como químicos e outros biocombustíveis. Como resultado, foram geradas diversas iniciativas de maior porte para o desenvolvimento do etanol celulósico no Brasil, dentre as quais se destacam três plantas comerciais, com capacidades superiores a 40 milhões de litros por safra, e duas plantas em nível de demonstração, cada uma com capacidade de 3 milhões de litros/safra. Como comparação, antes do Paiss, havia, no Brasil, apenas duas plantas piloto e nenhum projeto de planta comercial de etanol celulósico. A experiência de fomento às tecnologias industriais será, agora, reproduzida para a etapa agrícola, com lançamento juntamente com a Finep do Paiss Agrícola, ainda em 2013, com o intuito de acelerar o desenvolvimento tanto da cana transgênica quanto de máquinas e implementos agrícolas substancialmente mais eficientes, que reduzam a compactação do solo e o consumo excessivo de mudas. Dessa forma, a busca incessante pela inovação, se bem-sucedida, cumprirá papel determinante para produzir ganhos de produtividade mais rápidos e intensos e, com isso, reafirmar a indústria brasileira de cana-de-açúcar como a mais competitiva do mundo. A atuação do Bndes está alinhada a essa agenda estratégica de longo prazo. As recentes iniciativas do Banco procuram não apenas manter o setor sucroenergético brasileiro na vanguarda mundial da inovação e da produção de biocombustíveis, mas também transformar o tradicional paradigma técnico-econômico das usinas de cana em sistemas produtivos mais próximos do conceito de biorrefinarias. Nesse novo paradigma, a usinas brasileiras serão capazes de produzir competitivamente, por meio do aproveitamento integral da cana-de-açúcar, não apenas açúcar, etanol e eletricidade, mas uma significativa variedade de novos produtos de maior valor agregado, o que engendrará novo ciclo de investimentos tão ou mais vigoroso do que aquele realizado na década passada.

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ensaio especial

Opiniões

estranha

teimosia

Na história, não há registro de economia próspera controlada pelo Estado. Nem na pré-história. Muito menos neste limiar de século XXI. A prosperidade de uma empresa estatal também é enganosa, artificial e cruel para a sociedade – obrigada a pagar a conta e jamais receber benefícios. O Brasil acaba de assistir a um fato, no mínimo, vergonhoso, por causa de sua política de controle da conta petróleo: a Petrobras, que chegou a liderar o ranking das marcas mais valiosas da América Latina, despencou para o quarto lugar, atrás de cervejarias, que, obviamente, não são estatais nem têm sua produção definida pelo Poder: seus produtos têm preço, em vez de tarifa, e disputam o mercado em pé de igualdade – e de lealdade – com a concorrência.

As autoridades que nos alertam diariamente para a falta de profissionais qualificados também não encontram gente capaz de planejar o segmento mais sensível da economia, o da energia, que move todos os outros. " Jairo Menesis Balbo Diretor Industrial da Usina São Francisco

Assim, é impossível prever, a médio e a longo prazo, o cenário para os combustíveis e para todas as fontes de energia no Brasil. O interesse do produtor é definido e invariável: produzir. Mas o da política econômica é... político. Não há como conciliar regras de mercado com interesses políticos. As autoridades que nos alertam diariamente para a falta de profissionais qualificados também não encontram gente capaz de planejar o segmento mais sensível da economia, o da energia, que move todos os outros.

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ensaio especial Há seis anos, o País foi informado da ”descoberta” do pré-sal, como uma das reservas mais notáveis de petróleo do mundo. ”Descoberta” conhecida desde os anos 30, de poucos brasileiros e de todas as empresas estrangeiras do ramo. Só os ”descobridores” não sabiam? Eufóricos e afoitos, proclamaram até a autossuficiência brasileira em petróleo – que até hoje não aconteceu. No ano passado, o Brasil importou R$ 15 bilhões em derivados de petróleo, e, durante esses seis anos, a balança comercial do petróleo teve um déficit superior a R$ 57 bilhões. Graças ao etanol hidratado, que abastece o carro com motor flex, e ao anidro, adicionado à gasolina, o Brasil não precisou gastar mais US$ 11,83 bilhões em 2012 e US$ 5,78 bilhões no primeiro semestre de 2013, comprando petróleo no exterior para fazer gasolina. Diariamente, o País dispensa a importação de 350 mil barris de petróleo equivalentes porque tem etanol. Na hora de levar a leilão o maior campo do pré-sal – o de Libra –, outra vergonha: em vez das esperadas 40 empresas, 11 se inscreveram, só apareceram cinco, sendo que uma é a própria Petrobras. As grandes desistiram. Por quê? É naturalmente impossível investir o dinheiro de acionistas numa iniciativa que terá o governo como sócio. É incompatível aliar a máquina de gerar e distribuir a riqueza da livre e saudável iniciativa com a máquina estatal, atrelada a compromissos com políticos e não com a nação. Esse vínculo suspeito é uma das principais razões da crise do petróleo no País, que tem uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Por quê? Porque o Estado, em vez de reger, também quer tocar. Não dá! Num quadro de incertezas e sem regras definidas, planejar o setor sucroenergético e todos os demais, ainda, livres do Estado é jogar na loteria, sempre arriscando cair no conto do bilhete premiado, porque o mercado dita as regras para todos, menos para as estatais, abrigadas no Poder. Poder que segura o preço dos derivados para segurar a inflação, à custa do suor até de quem não tem carro, mas tem de subsidiar empresas do governo. Resultado: só o setor sucroalcooleiro foi obrigado a desempregar 100 mil trabalhadores nas duas últimas safras; 38 usinas fecharam e 21 estão em recuperação judicial. Isso o IBGE não destaca. Mesmo ”protegida”, a Petrobras já somou prejuízo de R$ 39,6 bilhões nos dois últimos anos e deve três vezes o que tem em caixa. Uma empresa particular nesse estágio estaria falida. Não há investimento em tecnologia para elevar a produtividade capaz de suportar concorrência tão desigual, que faz falir a... concorrência. Investimento em tecnologia brasileira, de empresas brasileiras, se esfarelando. Como ficou claro no Seminário Internacional Sustentável 2013, promovido pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, está errado privilegiar a gasolina em lugar do etanol e termelétricas, especialmente as movidas a carvão, no lugar das fontes renováveis. Nunca houve disposição genuína de desenvolvimento de fontes alternativas. O setor de energia eólica cavou seu caminho na marra e, hoje, está parado, observou naquele encontro o professor José Eli da Veiga, da Universidade de São Paulo. Permanece indefinido o modelo de desenvolvimento para o País, mas não se abandona o que está dando errado. Quase 40 anos após o lançamento do Programa Nacional do Álcool, o Brasil ainda não tem carro a álcool: tem carro com motor a gasolina adaptado para o etanol.

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Opiniões Sempre ouvimos engenheiros automotivos apostando que um motor feito para o álcool será mais potente e mais econômico do que o movido a gasolina. E com balanço energético neutro, quanto às emissões. Por que não fazem? Em nenhum país produtor de cana, ela é mais produtiva, e seus derivados, mais numerosos, renováveis, limpos e competitivos do que no Brasil. Até a energia elétrica obtida dessa biomassa é a mais compensadora, para a economia, para a sociedade e para o ambiente. Se essa energia, admirada pelo mundo, é tão atraente, por que não atrai todas as usinas? Por que o governo, querendo controlá-la, desencoraja em vez de agregar. O País parece perdido, mesmo diante de todas e tão diversificadas riquezas e alternativas energéticas naturais à sua disposição. A evidente falta de profissionais qualificados, alardeada pelo governo, prova que onde ele deve atuar para valer – na educação –, nas escolas, principalmente nas públicas, não é sua prioridade. Por isso elas são incapazes de formar profissionais aptos a trabalhar em todos os setores da economia. Os recém-formados estão, tristemente, muito aquém das necessidades do mercado. Mas o setor sucroalcooleiro investe maciçamente na capacitação dos seus profissionais, tanto na atividade prática como no incentivo ao ensino. Cada usina tem, em seus quadros, pelo menos 25 funções que exigem nível universitário. Por isso, o setor é capaz, tem know-how, prova o que diz e tem disposição para fazer o que a nação precisa. Com rapidez. É lastimável que esse patrimônio humano e tecnológico – e brasileiro – fique sujeito a práticas atrasadas de condução da economia. É um mundo riquíssimo dentro do Brasil, porque, baseado na livre iniciativa, sabe que riqueza não se conquista com dinheiro, mas com conhecimento – e que a distribuição dessa riqueza não se faz com ”bolsas”, que acomodam, mas com educação, que estimula a vencer desafios. Nunca tantos e tão profundos conhecedores do setor sucroalcooleiro e das necessidades energéticas e ambientais do Brasil insistiram tanto, apontando sempre as mesmas causas desse atraso, que, dessa vez, os governantes não têm como alegar que não sabiam. Soluções? É preciso abandonar a economia planejada pela inflação; desatrelar o etanol da gasolina; torná-la um produto de mercado, com preço em vez de tarifa. O que ajuda a reverter esse rombo é expandir o consumo do etanol, da gasolina, do diesel, dos produtos do pré-sal, do gás, da energia eólica e da energia solar. Em resumo: ampliar e consolidar a matriz energética, para que cada um dos seus componentes cresça onde for mais necessário. Tecnologia já existe e fontes não faltam. Caso contrário, sempre haverá crise do petróleo, e todos sabem a quem ela interessa. Ou viveremos de vergonha em vergonha, que faz o mundo desacreditar no Brasil e fugir até de leilões de petróleo, como esta: em 1996, governadores dos estados que formam a Coalizão Pró-Etanol, dos EUA, estiveram no Brasil, participando de um grande seminário sobre nossa experiência e nossa tecnologia alcooleira, abandonadas pelas autoridades. O então governador do estado de Wisconsin, Thommy Thompson, presidente da coalizão, apareceu no Jornal Nacional, quando sua comitiva visitava uma usina paulista, exibindo a indignação que deveria ser nossa: “Vocês estão jogando essa riqueza fora? Então, nós vamos levá-la!” Levaram. Hoje, os EUA produzem mais etanol do que nós. E nós importamos deles.

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