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ISSN: 2177-6504
SUCROENERGÉTICO: cana, açúcar, etanol & bioeletricidade ano 12 • número 47 • Divisão C • Jan-Mar 2016
a reinvenção da indústria sucroenergética
QUEM ESCREVE NA REVISTA OPINIÕES:
Em 12 anos de operação, a Revista Opiniões publicou 2.086 artigos exclusivos, escritos pelos mais respeitados especialistas do Brasil e do mundo, sobre 92 diferentes pautas, tornando-se uma das mais respeitadas mídias dos sistemas sucroenergética e florestal do País. Governo e países estrangeiros: 3 Presidentes da República, 2 Candidatos à Presidência, 29 Ministros de Estado, 20 Senadores e Deputados, 18 Governadores, 59 Secretários de Estado, 9 Promotores, 80 Diretores de Autarquias, e 21 Embaixadores estrangeiros
12% 18% 11%
Usinas, Destilarias e empresas florestais: 113 Presidentes, 158 Diretores, 111 Gerentes e 44 Técnicos
20%
Entidades: 197 Presidentes e 74 Diretores
13% 26%
Universidades e Centros de P&D: 212 Professores, 119 Pesquisadores, 93 Lideres de projetos, e 111 Chefes-gerais, Diretores e Presidentes de Centros de P&D
Fornecedores: 366 desenvolvedores de tecnologia Consultores: 247 desenvolvedores de tecnologia
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Sucroenergético:
Florestal:
Fornecedores: 16% Articulistas: 11% Entidades, Universidades, Centro de P&D e Governo: 5%
Fornecedores: 16%
16% 11%
Articulistas: 18%
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Produtores: 37%: Diretores 22%: Gerentes 41%: Todos os níveis de Supervisão
Entidades, Universidades, Centro de P&D e Governo: 12%
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Produtores: 19%: Diretores 32%: Gerentes 49%: Todos os níveis de Supervisão
GARANTIA REAL DE IMPRESSÃO E VEICULAÇÃO:
Como prova efetiva da tiragem e distribuição realizada, disponibilizamos ao anunciante, cópias das notas fiscais e dos documentos de cobrança e de pagamento da impressão da Gráfica e do despacho dos Correios, além de relatórios quantitativo e percentual da distribuição por tipo de empresa, estados e regiões geográficas do país. Disponibilizamos ao Anunciante visitas de auditoria, sem prévio aviso ou agendamento, para comprovação física dos sistemas operacionais e de distribuição das Revistas Opiniões. Sucroenergético: 63%: Sudeste 8%: Sul 1%: Norte 12%: Nordeste 13%: Centro-Oeste 3%: DF
Florestal:
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Opiniões
a reinvenção da indústria sucroenergética
índice
Editorial:
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Alexandre Enrico Silva Figliolino Consultor-sócio da MB Agro
Ensaio especial: Manoel Vicente Fernandes Bertone Especialista em agronegócio da Deloitte
Bancos de fomento:
Entidades:
8 10 13 16
Paulo Roberto Gallo Presidente do Ceise-Br
Elizabeth Farina e Luciano Rodrigues Presidente e Gerente de Economia da Unica
Antonio Cesar Salibe
Presidente executivo da UDOP
Ismael Perina Junior
Presidente do Sindicato Rural de Jaboticabal
Produtores:
23 26 28
18 21 29 32
Luciano Sanches Fernandes Presidente da Cerradinho
Carlos Eduardo Cavalcanti
Chefe do Deptº de Biocombustíveis do BNDES
Marco Lorenzzo Cunali Ripoli
Gerente de Marketing de Cana para AL da John Deere
Cássio da Silva Cardoso Teixeira
Gerente de Marketing para a América Latina da Basf
Consultores:
Diretor-geral da Santa Vitória Presidente da Biosev
Gerente de pesquisa e estrategista do Rabobank Brasil
Fornecedores:
Eide Francisco Garcia Rui Chammas
Andy Duff
34 36 39
Julio Maria M. Borges
Sócio-diretor da JOB Economia e Planejamento
Luiz Custódio Cotta Martins
Diretor do INDI - Inst Desenv Integrado de Minas Gerais
Tarcilo Ricardo Rodrigues Diretor da Bioagência
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Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Roosevelt de Paula Almado • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Pedro Robério de Melo Nogueira • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Xico Graziano
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editorial
Opiniões
fazer o rescaldo
e seguir em frente Sem dúvida, fazer o diagnóstico da atual situação do setor sucroenergético é fundamental para que possamos tentar desenhar o que pode ser o formato e a tendência dos acontecimentos no futuro. Então, vamos a ele. Os mais de 4 anos de uma prolongada crise motivada pelos baixos preços do açúcar no mercado internacional, aliados a uma taxa de câmbio desfavorável e, principalmente, ao congelamento de preços dos combustíveis que aliado à zeragem da Cide, erodiram as principais fontes de receitas do setor. Além disso, a ausência de uma política inteligente de estímulo a investimentos na cogeração de biomassa contribuiu sobremaneira para agravar a situação. Do lado dos custos, uma redução dos rendimentos agrícolas causados por eventos climáticos, mais o avanço na mecanização dos processos de plantio e colheita, cuja curva de aprendizado foi bastante dolorosa, trouxe impactos bastante significativos. Foram anos extremamente desafiadores, nos quais um grupo de empresas soube, de alguma forma, caminhar na direção correta, conseguindo sair mais forte desta crise. Porém outra parte relevante do setor sucumbiu e está em situação bastante complicada, seja pelo peso das dívidas contraídas no ciclo de crescimento anterior, seja por questões relacionadas a problemas de má gestão, baixa competitividade do empreendimento ou uma combinação desses fatores. Estivéssemos agora vivendo neste país dias normais, em termos políticos e econômicos, tudo indicaria
predomina no setor um sentimento de extrema cautela com relação ao futuro, após anos de total irracionalidade de políticas públicas que levaram a uma situação que pode ser definida quase como de uma terra arrasada "
Alexandre Enrico Silva Figliolino Consultor-sócio da MB Agro
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editorial que um vigoroso processo de consolidação estaria por se iniciar, na medida em que as margens do setor voltaram a ficar atrativas pela desvalorização do câmbio, pelas melhores perspectivas de preço para o açúcar, indicadas por projeções crescentes de déficit do balanço de oferta e demanda mundial, além de que, do lado dos combustíveis, houve também um processo virtuoso de combinação de preços e demanda crescentes a partir de setembro de 2015. Existe um ditado interiorano que pode traduzir bem o momento que estamos vivendo: "Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça". Ou seja, predomina nos nossos empreendedores do setor um sentimento de extrema cautela com relação ao futuro, após anos de total irracionalidade de políticas públicas que levaram a uma situação que pode ser definida quase como de uma terra arrasada. E, num momento em que o petróleo bate nas suas mínimas, o ambiente de negócios é o pior possível, com taxas de juros nas alturas, crédito arrochado, recessão aliada a pressões inflacionárias, etc. O que não faltam são razões para comportamentos de extrema e justificada cautela. Sendo assim, a grosso modo, simplificando e dividindo o setor em dois, teremos os seguintes desdobramentos: primeiro, para aquele grupo de empresas que estão em boa situação financeira e operacional, que trabalharam duro nesses anos, em profundos aprimoramentos de processos, de redução de custos e aumento de produtividade/eficiência. Esse grupo vai ter todas as condições, com o nível atual de preços, de gerar expressivo fluxo de caixa livre operacional – e, à medida que se forem materializando, vão permitir-lhes a necessária desalavancagem financeira. Em isso acontecendo, estarão na posição de decidir movimentos, de início muito cautelosos, que levem ao crescimento, seja ele orgânico, seja através de aquisição de ativos de alto valor estratégico, com os quais podem conseguir elevada sinergia, com múltiplos de aquisição que façam sentido e que, de forma alguma, coloque em risco a saúde financeira futura do grupo. No segundo bloco, estão aquelas empresas que, mesmo com a melhora de cenário de preços recente do setor, não terão condições suficientes para fazê-las voltar a uma situação de normalidade, seja pelo elevado endividamento, seja pela precária situação operacional, na qual somente com elevados investimentos, a situação de competitividade seria retomada. Nesses casos, partindo do princípio de que nada, ou quase nada, relevante em termos de medidas
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Opiniões governamentais podem ser esperadas no conturbado cenário em que vivemos, só resta que os agentes privados se entendam e busquem a solução de menor dor para acionistas e credores dos empreendimentos em dificuldade, visando à busca de simetria na distribuição de perdas. Naqueles casos em que a operação está em bons padrões de custo/competitividade, alongamentos com ou sem o uso de engenharias financeiras mais sofisticadas, dependendo da necessidade, podem ser suficientes para colocar as coisas novamente nos trilhos, contando que os ventos dos preços permaneçam favoráveis por um bom tempo e que uma gestão extremamente austera, no que tange a custos, seja implantada nas empresas. Porém os casos em que o endividamento é extremamente elevado, e, ainda por cima, as questões não se resumem apenas ao lado financeiro, em que elevados volumes de investimento são necessários para recuperar minimamente as condições competitivas, será preciso muita sabedoria, entendimento, equilíbrio e transparência para que o pior dos mundos não aconteça, que é a deterioração irreversível dos ativos, com encerramento das atividades. Cada caso é um caso, não há receita de bolo pronta. A única certeza é a de que o tempo joga contra todos, na medida em que a deterioração e a perda do valor dos ativos é rápida e inexorável, na medida em que acordos e soluções demorem para serem encontrados. Sem dúvida, na grande parte dos casos, dificilmente soluções serão obtidas sem que processos de fusões e aquisições se façam presentes, portanto capitais de fora e empreendedores animados são muito bem-vindos. A seriedade com que esses processos forem conduzidos será decisiva para que o nível de estragos seja o menor possível, e, infelizmente, nossa legislação que trata de processos de recuperação judicial carece de vários aperfeiçoamentos e não está contribuindo para o bom andamento dos casos que se encontram nessa situação. Não tenho dúvida de que processos que impliquem perdas injustas de agentes farão com que uma grande parte do setor passe um longo tempo sem acesso a créditos e capitais de boa qualidade. Mas, à medida que os casos complexos tiverem uma solução de mercado e a parte robusta do setor volte a apresentar crescimento, mesmo que de forma seletiva, teremos, com certeza, a emergência de um setor bem mais robusto, sólido e competitivo, mais resiliente a crises futuras – que virão –, que manterá o Brasil na posição de destaque no mercado mundial de açúcar, com participação em torno de 50% do trade mundial, fazendo dele grande produtor de combustível líquido renovável em quantidades crescentes necessárias aos compromissos de redução de emissões de carbono assumidos na COP 21 e também aumentando a participação da geração de energia de biomassa na matriz energética brasileira. Infelizmente, o grave quadro político institucional que vivemos não nos dá esperança de que, antes de 2018, possamos ter as tão almejadas políticas públicas para o setor, decisivas para definir e planejar o crescimento no longo prazo.
entidades
antes de reinventar, é preciso
aprimorar
Cabe ao Governo Federal definir um planejamento, em comum acordo com as unidades produtoras, para estabelecer metas claras e estáveis de produção e consumo. "
Paulo Roberto Gallo Presidente do Ceise-Br
Reinventar significa inventar novamente. Eis o desafio proposto por esta edição da nossa Revista Opiniões: voltar a inventar o setor sucroenergético. Que desafio! Desnecessário repetir as dificuldades enfrentadas pelo setor que nos trouxeram ao presente cenário. Elas já são por demais conhecidas de todos os que atuam no segmento, em toda a cadeia produtiva – das unidades produtoras aos demais participantes nas áreas de indústria, agricultura e serviços de modo geral, passando por entidades de classe e, finalmente, chegando às três esferas da administração pública (federal, estadual e municipal), abrangendo os poderes executivo e legislativo. No passado recente, vários esforços foram feitos com vistas à recuperação da atividade econômica do setor, incluindo manifestações populares, gestões junto a órgãos
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Opiniões públicos e agentes financeiros, ações de publicidade, dentre outras, mas alento mesmo só surgiu a partir do rearranjo de preços da gasolina e da virada na relação entre consumo (crescente) e estoques (decrescentes) de açúcar no mercado internacional, o que tem permitido certa recuperação de preços dessa commodity. No entanto, surgem agora novas dúvidas em relação ao futuro: até quando, por exemplo, será possível sustentar preços da gasolina em patamares mais elevados em um cenário, ainda imprevisível, de preços muito baixos do petróleo nos mercados internacionais? Quais serão os impactos das diretrizes da Organização Mundial da Saúde – OMS, quanto aos impactos (alegadamente) maléficos do consumo de açúcar no organismo humano? Qual será o efeito de uma possível desaceleração da economia chinesa em relação ao consumo de açúcar naquele país? O petróleo barato e abundante poderá afetar negativamente os esforços globais em busca de fontes de energia menos poluentes, ambientalmente sustentáveis e, principalmente, renováveis? Teremos condições, no Brasil, de equalizar todas as questões relativas à geração e exportação comercial de energia elétrica a partir da biomassa e que envolvem aspectos técnicos e financeiros, tais como os valores de MW/h a serem comercializados nos leilões, as fontes de financiamento dos empreendimentos, o custeio de linhas de transmissão principais e secundárias? Como se pode notar, o setor está (e sempre esteve) sujeito a externalidades que, por definição, fogem ao controle das usinas e da cadeia produtiva como um todo. Se esses fatores fogem ao nosso controle direto, como podemos mitigar seus efeitos? Como podemos trazer rentabilidade às operações sucroenergéticas e, consequentemente, às demais operações abrangidas por essa importantíssima atividade econômica como cadeia produtiva? São muitas as respostas, e poucas as certezas. Estou absolutamente convencido de que esse segmento, como um todo – e entenda-se a expressão “como um todo” como a cadeia produtiva do setor –, precisa articular-se e exercer seu legítimo direito de pressão e de negociações com os governos – especial e principalmente o Governo Federal, em busca de um mínimo de planejamento de curto, médio e longo prazo, especialmente no tocante à produção de etanol e de energia elétrica. Cabe, sim, ao Governo Federal definir um planejamento, em comum acordo com as unidades produtoras, para estabelecer metas claras e estáveis de produção e consumo. Não é mais possível vivermos em um ambiente econômico no qual, da noite para o dia,
deixamos de ser, nas palavras do ex-presidente Lula, uma “Arábia Saudita verde” para sermos o país do pré-sal, porque isso parecia ser mais adequado ao futuro do Brasil – ao menos na opinião dos detentores do poder. Como ficaram os empresários que, acreditando no cenário de expansão do etanol, investiram bilhões em projetos greenfield e ampliações, para atender a uma suposta demanda de etanol dinamitada pela manutenção artificial e equivocada de preços da gasolina? O setor precisa, também, continuar a investir em informação ao consumidor. É preciso evitar o canto da sereia do petróleo barato, que visa à destruição de fontes concorrentes de energia, e manter a visão estratégica de utilização de combustíveis limpos e renováveis, para que se possam mitigar os efeitos de aquecimento global causados pelos combustíveis fósseis. As mudanças climáticas estão absolutamente visíveis e presentes em todo o planeta; porém precisamos ter a compreensão de que, diante de alternativas mais baratas, o ser humano, na grande maioria dos países, tende a ignorar as questões ambientais e migrar para o produto mais barato para si próprio. É necessário confrontar as informações da OMS quanto ao consumo de açúcar, e demonstrar as contrapartidas – até porque o problema, no fundo, seria o de excesso de consumo, e não o consumo em si, já que o açúcar é fonte primordial de energia para o metabolismo humano. Do lado interno, é preciso atacar, ainda mais, as questões inerentes ao controle de custos de produção – desde a atividade agrícola, passando pela industrial e, de forma intensiva, nas áreas administrativas. Nossa cadeia produtiva simplesmente não tem mais condições de absorção de certos custos administrativos e operacionais, que requerem ações corretivas imediatas e constantes. Sei que esse é um ponto nevrálgico, um canal de dente exposto, mas é um fato que precisa ser levado em conta, e não apenas nas usinas, mas na cadeia produtiva como um todo. Basta observar a estrutura de gestão das usinas que têm gerado lucros e valor – e elas existem! A reinvenção do setor passa pela reavaliação de custos em todas as esferas – inclusive nas áreas técnicas, tanto na indústria, quanto na parte agrícola. Um excesso de decisões equivocadas, provocadas muitas vezes por modismos, contribui para corroer os parcos resultados obtidos nas operações da cadeia produtiva e, em particular, nas usinas. É preciso mergulhar fundo nas técnicas de gestão e controladoria, para estancarem-se os desperdícios que vão, lenta e inexoravelmente, matando as empresas. Ao que tudo indica, talvez sequer seja necessário, de fato, reinventar esse setor. Precisamos, quem sabe, apenas extrair dele o que de bom ele tem a nos oferecer como nação, empresas e indivíduos, que têm responsabilidades quanto ao planeta que iremos entregar às próximas gerações – nossos filhos e netos. Acredito piamente que os caminhos para buscarmos isso passam por duas vias: maior participação institucional – para aumentar demanda e mercados – e uma profunda reavaliação da gestão do negócio e seus processos – ao longo de toda a cadeia produtiva. Evidentemente, o cenário é adverso e desafiador. Mas é das adversidades que surgem os aperfeiçoamentos e a evolução, que nos levarão a um próximo ciclo virtuoso do setor.
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entidades
Opiniões
um novo cenário para a indústria
sucroenergética
Nos últimos anos, o setor sucroenergético vivenciou uma crise sem precedentes na sua história. Nesse período, mais de 80 usinas foram fechadas, milhares de postos de trabalho foram perdidos, e uma parcela considerável das empresas e fornecedores ainda convive com uma situação financeira bastante preocupante. Em meio a esse cenário, várias mudanças no ambiente institucional e nas condições de mercado foram alteradas, e hoje já é possível imaginar uma situação menos desconfortável no curto prazo. Entre as mudanças observadas, podemos citar o restabelecimento parcial da Cide e o ajuste dos impostos federais aplicados sobre a gasolina, as modificações nas alíquotas de ICMS cobrado sobre combustíveis em vários estados, a aparente alteração na política de precificação dos combustíveis
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Nesse sentido, o País deu um primeiro e importante passo ao se comprometer com a ampliação do uso dos biocombustíveis na proposta apresentada na 21ª Conferência do Clima (COP 21), realizada em Paris, no final de 2015. O documento estabelece um aumento na participação dos biocombustíveis na matriz energética brasileira, atingindo 18% em 2030. Essa meta incorpora um crescimento do consumo de etanol combustível dos atuais 28 bilhões de litros por ano para cerca de 50 bilhões em 2030. O chamado Acordo de Paris marca, na verdade, uma etapa mundialmente importante para o debate sobre aquecimento global e políticas públicas. O pacto, que possui caráter legalmente vinculante, estabelece diretrizes que deverão ser atendidas até 2030 para desacelerar a emissão de gases de efeito estufa e limitar o aquecimento global. A despeito desse avanço, ainda há um enorme esforço a ser superado pelas nações: colocar em prática as metas estabelecidas.
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com o uso de apenas 0,5% do território brasileiro para a plantação de cana-de-açúcar para etanol, substituímos 40% do consumo nacional de gasolina. "
Elizabeth Farina e Luciano Rodrigues Diretora-presidente e Gerente de Economia e Análise Setorial da Unica, respectivamente
fósseis no mercado doméstico, o aumento no nível de mistura do etanol anidro adicionado à gasolina, a expectativa de um cenário deficitário no mercado internacional de açúcar e a desvalorização do real, que deu maior sustentação às receitas com exportação. Apesar de sinalizarem um ambiente mais atrativo para a safra 2016/2017, essas mudanças são insuficientes para garantir a retomada dos investimentos na expansão da produção, os quais demandam a estruturação de uma agenda de longo prazo clara e objetiva.
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entidades Para que o acordo climático funcione no atual contexto de queda nos preços internacionais do petróleo, os governos precisam resistir à sedução dos combustíveis fósseis baratos e implementar políticas que, avaliadas de forma superficial, podem parecer caras e impopulares. Isso porque, nesse mercado, estão presentes externalidades positivas não valoradas de forma autônoma pelo sistema de preços. Via de regra, o consumidor não quer pagar pela qualidade do ar, abrindo mão do combustível mais barato, embora mais poluente. Afinal, ele entende que sua contribuição é limitada e insuficiente para alterar as condições ambientais, e, se outros pagarem por esse combustível limpo, ele não poderá ser excluído dos benefícios ambientais obtidos. Instaura-se, nessa situação, um comportamento carona que significa usufruir sem pagar. A disposição a pagar do consumidor individual não inclui os benefícios ambientais e, dessa forma, o preço de mercado será inferior ao que seria necessário para induzir os investimentos socialmente desejáveis. O resultado é um subinvestimento em combustíveis que reduzem as emissões de CO2 e um superinvestimento em combustíveis fósseis, deixando clara a necessidade de atuação do Estado com medidas que corrijam essas falhas de mercado. Felizmente, os principais países poluidores não dão sinais de que devem alterar a trajetória delineada na reunião de Paris. Nos Estados Unidos, o Departamento Nacional de Energia projeta um crescimento de 9,5% no uso de fontes renováveis em 2016. A China, por sua vez, estabeleceu regra segundo a qual o preço doméstico da gasolina continuará sendo calculado com base no barril a US$ 40, independentemente da cotação internacional. O objetivo é evitar que a queda nos preços estimule um maior consumo de combustíveis fósseis. No exemplo chinês, as refinarias controladas pelo Estado não poderão reter o lucro decorrente de comprar petróleo barato e vender derivados a preços mais elevados domesticamente. Isso porque o governo deve se apropriar da margem de lucro adicional e destinar esse dinheiro a um fundo especial de conservação energética e controle da poluição. Outros países, como Índia, Indonésia e Angola, também aproveitaram a queda nos preços do petróleo para reduzir o nível de subsídios concedido ao consumo de derivados. Essa é uma sinalização importante, já que, de acordo com a Agência Internacional de Energia, os estímulos concedidos aos combustíveis fósseis mundialmente atingiram US$ 493 bilhões em 2014. No caso brasileiro, uma política nacional de longo prazo para atendimento das metas estabelecidas pela proposta apresentada na conferência de Paris ainda não foi estruturada e será fundamental para garantir previsibilidade e segurança para novos investimentos. No âmbito privado, cabe ao setor se reinventar para tornar menos árdua a tarefa de consolidação das energias renováveis, com a manutenção dos esforços para o aumento da eficiência e a redução nos custos de produção do etanol e da bioeletricidade.
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Nesse contexto, a cadeia sucroenergética está prestes a vivenciar avanços fundamentais nas áreas agrícola e indústrial, que permitirão expressivo crescimento vertical da produção. Além das importantes mudanças observadas recentemente para a modernização da gestão e da estrutura organizacional das empresas, deveremos verificar, nos próximos anos, a intensificação do uso de variedades mais adaptadas ao sistema mecanizado, o emprego de equipamentos e máquinas mais modernos, a adoção de ferramentas de agricultura de precisão com eletrônica embarcada, o uso de novas tecnologias de plantio (mudas pré-brotadas e semente artificial, por exemplo), o avanço do recolhimento da palha para a geração de bioeletricidade e, no futuro próximo, a produção de etanol de segunda geração a partir da biomassa da cana-de-açúcar. Para se ter uma ideia do potencial dessa indústria, basta ressaltar que, com o uso de apenas 0,5% do território brasileiro para a plantação de cana-de-açúcar para etanol, substituímos 40% do consumo nacional de gasolina. Em síntese, o setor sucroenergético possui dois desafios importantes a serem vencidos. O primeiro está relacionado à sobrevivência no curto prazo e ao restabelecimento da rentabilidade do negócio, após enfrentar anos de operação com margens negativas. Esse movimento precisa ser acompanhado de uma revolução que começa a ser observada na gestão da produção e da comercialização, na tecnologia empregada e nas práticas adotadas no campo e na indústria, buscando a ampliação da competitividade desta cadeia. Sob o ponto de vista institucional, a concretização de um novo cenário para o setor sucroenergético passa fundamentalmente pela definição de um arcabouço regulatório duradouro e de políticas públicas alinhadas com as metas estabelecidas pelo País na COP 21. O Brasil precisa fazer uso da posição privilegiada que possui para consolidar o uso da energia limpa e renovável produzida a partir da cana-de-açúcar, com efeitos secundários expressivos para a sociedade nas áreas econômica e social. Esse é o momento oportuno para conciliar a estratégia brasileira de descarbonização da matriz energética e mitigação das emissões responsáveis pelas mudanças climáticas, com a retomada do crescimento, geração de renda e do emprego em cerca de 20% dos municípios brasileiros. A cadeia sucroenergética pode transformar esse potencial em realidade.
Opiniões
a arte de se recriar,
de ressurgir Reinventar: criar algo a partir do que já existe, transformar a si, a algo ou outrem, transformar o cotidiano, sair da rotina. Por si só, esses significados já nos fazem viajar para um universo de oportunidades e novos desafios. "
Antonio Cesar Salibe Presidente executivo da UDOP
Do dicionário informal, reinventar: criar algo a partir do que já existe, transformar a si, a algo ou outrem, transformar o cotidiano, sair da rotina. Por si só, esses significados já nos fazem viajar para um universo de oportunidades e novos desafios. Estamos, diariamente, nos reinventando ou, pelo menos, deveríamos. O verbo serve tanto para nós, pessoas físicas, como para as corporações. E, para o setor sucroenergético, não é diferente. Temos que nos recriar a cada novo amanhecer, sempre voltados para uma meta única, mola propulsora do capitalismo: lucro! Na história de 500 anos do setor, desde que o primeiro pé de cana que por aqui chegou, muitas reinvenções foram necessárias. E todas elas foram implementadas para o bem maior, aumentar a produtividade e, por conseguinte, os rendimentos (entendam lucro), oriundos dessa cadeia que movimenta um PIB milionário. Mas, voltando à origem etimológica do verbo reinventar, encontramos a junção do prefixo re-, “de novo”, à palavra invenção.
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entidades Se reinventar, então, requer olhar o passado, corrigir os erros e mirar o futuro, sempre com olhos para o resultado final. Aí é que, talvez, se encontram os principais problemas quando pensamos o processo de reinvenção de nosso negócio. Mirar o futuro, muitas vezes, não é tarefa fácil, pois requer, acima de tudo, não apenas um exercício futurístico embasado na atual realidade, mas uma direção, um caminho, uma sinalização de aonde queremos chegar. Aqui vale sempre a máxima do “para quem não sabe aonde quer ir, qualquer lugar está bom”, e, assim, muitas pessoas, empresas e setores vivem o marasmo das rotinas intermináveis, que não ligam nada a coisa alguma, mas que nos enchem da sensação de estarmos dando o máximo, quando, na verdade, estamos correndo na esteira. O que falta, hoje, é o rumo de aonde queremos chegar. E, aqui, percebo claramente a falta de uma política transparente, com metas bem definidas, norteando qual será nosso papel no curto, médio e longo prazos. O governo, detentor do poder que lhe é concebido pelo voto, peca ao não delimitar o papel de cada setor estratégico na matriz energética brasileira. E essa falta de rumo, com certeza, gera a instabilidade que vivemos, como se participássemos de uma corrida sem um ponto de chegada, ao bom estilo Forrest Gump. Nesse contexto, podemos aprender muito, e nos reinventar, com nossos irmãos mais ricos do norte, os “americanos”. Até uma década atrás, eles engatinhavam no assunto etanol, vinham aqui aprender conosco e ainda tinham que ouvir de ninguém menos que o então presidente Lula que “milho era para encher o papo de galinha e cana-de-açúcar era para abastecer o mundo”. Pois bem, há pelo menos três anos, eles engordaram as galinhas e ainda ultrapassaram o Brasil, deitado em seu berço esplêndido na produção de etanol, ganhando o status de maior produtor mundial do biocombustível. Por que isso foi possível? Por um motivo muito claro: lá, energia é estratégico, e as metas de produção são claras, factíveis e requerem esforços, o que fez com que os produtores de milho se reinventassem e construíssem usinas eficientes para atender a um mercado que fora criado pelo próprio governo. Por aqui, somos obrigados a conviver com oscilações e políticas altamente deficientes e que nos trazem verdadeiro temor jurídico. Os investimentos, então, ficam de escanteio, à espera de um direcionamento que nos traga um norte. Enquanto isso, perdemos dezenas de usinas e assistimos, de camarote, ao derretimento da competitividade de nosso segmento.
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Opiniões Como se não bastasse a falta de norte, políticas populistas ainda promoveram o congelamento artificial dos preços da gasolina, que trouxeram como reflexo, além do segundo maior escândalo de corrupção do mundo (Petrobras), o desmonte de um setor que era tido como a mola propulsora do agronegócio brasileiro. Se aprofundarmos um pouco mais, podemos ver até a frustração desse segmento que se apresentou, por anos, como a alternativa energética através da bioeletricidade e que também teve sua “reinvenção” parada por falta de rumo. Assim, a conjugação do verbo reinventar para nós está intimamente ligada aos mandos e desmandos do governo. Precisamos, de uma vez por todas, saber, claramente, qual a fatia da matriz energética nos é garantida no médio prazo, para citar apenas este; como o governo trabalhará a oscilação de preços do mercado mundial do petróleo; quanto o governo está disposto a custear as externalidades tão bem apresentadas por nosso setor no quesito geração de bioeletricidade. Trabalhando com o cenário de que não teremos respostas satisfatórias para essas e tantas outras indagações tão necessárias para nosso futuro, temo dizer que viveremos mais do mesmo, sem grandes progressos ou até com grandes perdas para o setor, para os milhões de brasileiros e brasileiras que vivem dignamente dessa pujante cadeia e dos milhares de municípios que têm nas usinas seus maiores arrecadadores de divisas, que dão sustentação, inclusive, aos projetos sociais propostos por esse mesmo governo. No cenário em que as respostas surgirão e nos trarão os rumos necessários para crescer, podemos esperar que esse setor volte a se reinventar, volte a crescer, a transformar seu cotidiano e sair da rotina, levando consigo esse universo de oportunidades que proporciona. A reinvenção de nosso setor está intimamente ligada a práticas que, por anos, tenho defendido, juntamente com outros consultores e executivos. Devemos voltar nossos olhos, mais uma vez, para onde definitivamente são produzidos o açúcar, o etanol e a bioeletricidade que tanto almejamos: ao campo. Reinventar é trabalhar e produzir mais, com o mesmo, ou até com menos. E isso requer investimentos em pesquisas, em novas tecnologias, em sistemas de gestão e de produção. Até 2008, trabalhávamos forte nessas frentes, mas, por fatores como os citados anteriormente, tiramos o pé do acelerador, uma vez que a sinalização era clara para um outro lado, para o Pré-Sal, de onde, acreditava-se, viria a salvação do Brasil, e por onde, hoje vemos, se sustentou um esquema que aplicou um dos maiores golpes da história, levando com ele um prejuízo sem precedentes para o setor sucronergético. Hoje é mister a reinvenção de nosso setor. Precisamos de um sistema de gestão mais eficaz. Precisamos de metas claras, governamentais e setoriais. Precisamos qualificar mais e mais mão de obra para essa nova realidade. Precisamos, de uma vez por todas, acreditar que tecnologia é investimento e não gasto. Precisamos aplicar as tecnologias desenhadas no passado e que hoje não são replicadas e postas em prática, gerando mais e mais perdas em nossos canaviais... Aproveitarmos o atual momento, onde, pelo menos para nós, um horizonte de melhorias pode ser avistado, será o divisor de águas daqueles que sobreviverão, pois se reinventarão ou sucumbirão, pois foram engolidos pelo caminho...
Somos especialistas em automação e controles de Sistemas A RAM Automação inicia 2016 com novidades para o Setor Sucroenergético Tela de Operação da Destilaria
Simulador de operação para destilarias: Desenvolvido recentemente pela equipe de engenharia, onde é possível alterar parâmetros que são variações reais de processo. Para esse desenvolvimento nos baseamos na experiência adquirida em mais de 25 anos, atuando no segmento sucroenergético. Esse simulador demonstra a forma como a RAM Automação projeta e desenvolve a operação de um aparelho de destilaria, sendo que esse material também será usado para treinamento do pessoal de operação.
Controle de demanda inteligente: O controle de demanda inteligente desenvolvido pela RAM Automação visa manter o valor preestabelecido da demanda contratada atuando se necessário sobre cargas predefinidas com a menor interferência no processo produtivo da indústria. O sistema atua no desligamento automático sem nenhuma intervenção do operador. A retomada do processo é mais ágil, uma vez que o desligamento é feito através de lógica, não necessitando de mão de obra especializada em campo para a retomada. Profibus/DP, Profibus/PA, AS-interface, Devicenet, CAN e CANopen: A RAM Net System, analisa e valida a performance de sua rede. Essa novidade vem fortalecer e consagrar definitivamente a empresa como uma das maiores especialistas em análise, validação e certificação de redes Industriais no Brasil. Nossos números comprovam esse status, sendo que no ano de 2015 foram feitos mais de 30 atendimentos (cerca de 6000 devices analisados), alguns desses atendimentos em plantas completas.
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entidades
o negócio é aumentar a
produtividade É óbvio que a interferência negativa por parte do Governo Federal no que diz respeito à política de combustíveis, controle de preços e tantas mazelas mais, provocou um completo desarranjo no setor produtivo "
Ismael Perina Junior
Presidente do Sindicato Rural de Jaboticabal
É óbvio que, nesses últimos anos, a interferência negativa por parte, principalmente, do Governo Federal no que diz respeito à política de combustíveis, controle de preços e tantas mazelas mais, provocou um completo desarranjo no setor produtivo, fazendo com que os investimentos na área agrícola fossem extremamente reduzidos em muitas empresas, entrando num círculo vicioso que comprometeu drasticamente boa parte delas, quer seja, baixos investimentos, perda de produtividade, falta de rentabilidade, menos investimentos e segue nessa sequência, com os resultados assustadores de produtividade caindo a valores muito baixos para os dias de hoje, considerando as tecnologias de que dispomos. Acredito ser o momento apropriado à reflexão sobre alguns pontos que, por vários motivos, foram esquecidos ou abandonados, mas que, para vislumbrarmos melhores índices de produtividade, temos que rever com grande urgência. Discorrerei aqui alguns desses aspectos, e é importantíssimo que sejam trabalhados de maneira rápida, pois são ferramentas e metodologias de que já dispomos e de custo/benefício altamente interessantes. A continuarmos na “mesmice”, as coisas podem se complicar ainda mais, e ganhar produtividade tem que ser nossa meta. Lembro ainda que, em nenhum momento, deveremos nos esquecer da palavra chave nos tempos atuais, que é "custo", olhando sempre com a visão de "custo/benefício".
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Hoje, posso falar com certa tranquilidade que trabalharemos com horizontes cada vez mais longos no que diz respeito à longevidade dos canaviais, chegando a oito ou dez cortes, sem grandes esforços. Alguns cuidados são necessários, mas, evitando-se uma reforma a cada dez anos; só nesse item específico, o ganho obtido é imenso. Vencidas todas as etapas do planejamento no que diz respeito à classificação do solo e necessidades nutritivas, vamos ao preparo do solo ao qual, no meu entendimento, tem que se dar muita atenção, pois estamos falando de uma reforma a cada dez anos e, certamente, tem que ser muito bem-feito. Tenho presenciado, em algumas empresas, atitudes e alternativas mirabolantes no preparo do solo, nas quais, talvez, se tenha contemplado mais a redução de custo simplesmente e não a qualidade que se busca em um preparo condizente com o que iremos “semear” nesse campo. Acredito ainda que, se o solo for preparado com foco de semear uma cultura em rotação, com a qualidade que esta requer, esse preparo será ideal para se implantar o canavial posteriormente.
Opiniões E, por falar em rotação, vejo aqui uma ótima oportunidade para as empresas melhorarem muito o potencial produtivo de suas terras, com receita adicional e com ótimo preparo do solo. Soja ou amendoim são duas ótimas alternativas, e, caso não seja possível, uma leguminosa qualquer é bem-vinda, mesmo que for somente para incorporação. A princípio, assusta ainda alguns técnicos, mas é possível trabalhar com esse foco, e os resultados são surpreendentes, valendo um esforço adicional, sendo ferramenta fundamental para ajudar no controle de pragas, doenças e ervas daninhas. Outro ponto que tenho observado com bastante carinho e tentado orientar produtores diz respeito à qualidade do material a ser plantado. Boa parte da perda de produtividade, nesses últimos tempos, credito a esse ponto, pois muita cana foi plantada sem a qualidade e a sanidade necessárias para sua utilização. A grande maioria das empresas e produtores perdeu a noção exata desse princípio básico para o sucesso, que é o “cuidado” na implantação do canavial. Princípios agronômicos básicos foram abandonados, e fomos os grandes responsáveis por disseminarmos pragas e doenças, de uma maneira muito mais rápida. Essa questão tem que ser tratada de forma muito mais focada, implantando-se áreas de viveiros que produzirão os futuros canaviais comerciais e que necessariamente precisam de cuidados e tratamentos especiais para vislumbrarmos qualidade e sanidade, tão importantes no somatório de necessidades para os ganhos de produtividade. Com o surgimento e a difusão da metodologia da MPB (Muda Pré-brotada), não há razão alguma para que isso aconteça a partir de “ontem”. Toda a base de formação de nossos viveiros passa obrigatoriamente pela utilização de MPB de qualidade comprovada. Ainda com relação a esse assunto, há um espaço enorme para a utilização do sistema “MEIOSI” (Método Inter-rotacional Ocupado Simultaneamente), trazendo muitos pontos positivos na sua utilização, entre eles, alto percentual da área ocupada com cultura em rotação, produção de muda com qualidade comprovada, isenta de pragas e doenças, ou seja, formamos áreas comerciais com características de viveiro primário, baixíssimo custo de implantação, uso racional de quantidade de mudas por hectare, planejamento muito mais fácil e funcional, ganhos de produtividade, entre muitos outros, além da enorme redução de custo direto. É imprescindível, para a utilização desse sistema, que os equipamentos possuam piloto automático, aliás, sendo esse aspecto um outro fator que vejo como fundamental para ganhos de produtividade.
Paralelismo perfeito na operação de plantio será o início do trabalho, sendo necessário que a colheita também seja realizada com equipamentos, reduzindo substancialmente o pisoteio e o arranquio das soqueiras, o que muito colaborará para o somatório de ganhos de produtividade. Outra metodologia que podemos utilizar em canaviais com bom potencial produtivo é o replantio de falhas. Temos já alguns resultados com boa recuperação dos talhões e proporcionando mais alguns anos de colheita nessas áreas, sem a necessidade de reforma, potencializando produtividade com custos bastante reduzidos. O tema “fertilização” também tem que ser tratado com bastante atenção, pois temos grandes inovações nos fertilizantes químicos, com formulações mais completas e mais eficientes; embora aparentemente mais caras, quando utilizadas, acabam dando bom ganho de produtividade. Atenção também ao uso de fertilizantes orgânicos, principalmente no plantio, o que acaba trazendo resultados interessantes. Outro ponto importantíssimo diz respeito a áreas de reforma, e tenho orientado para que se utilize a reforma em faixas, pois minimizam de maneira eficaz os danos provocados por erosão, uma vez que, nesse novo modelo de colheita mecanizada, temos abusado do plantio em desnível, ajudando muito também no planejamento de combate a incêndio, pois criamos faixas que impedem o caminhamento do fogo. Por fim, e também importante, um acompanhamento muito próximo do ataque de pragas e doenças, que certamente são pontos que colaboraram muito para perdas de produtividade. Atenção especial ao controle de doenças de folhas, pois pode ser interessante para muitas variedades hoje plantadas e com boa efetividade dos produtos disponíveis no controle destas doenças. Lembro aqui o caso específico da soja que, com o aparecimento da ferrugem, se passou a ter controle quase obrigatório, controlando de maneira eficaz outras doenças, principalmente de final de ciclo, com ganhos interessantes de produtividade. Certamente, muitas doenças de folhas da cana-de-açúcar passam a ser controladas melhorando a condição de produção. Com esse somatório de atividades e controles, daremos um grande passo para chegarmos à produtividade na casa dos três dígitos, com efeito direto na redução de custo, aumentando a chance de produzir com rentabilidade. Ao trabalho.
bancos de fomento
Opiniões
evolução
pela ótica da gestão financeira
investidores estrangeiros nem querem ouvir falar do Brasil, dada a deterioração do quadro político-econômico e a grande incerteza a respeito da evolução do mesmo no futuro... nesse caso, parece que é o País que precisa se reinventar. "
Andy Duff
Gerente de pesquisa e estrategista global de açúcar do Rabobank Brasil
Antes de mais nada, precisamos reconhecer que, ao longo do último ano, a competitividade internacional da indústria sucroenergética, pelo menos no que diz respeito ao açúcar, já melhorou muito. E isso aconteceu não por uma reinvenção da indústria, mas sim por uma reinvenção do câmbio, com BRL 4,00/USD aparentemente visto como o novo normal. Mesmo que outras moedas tenham perdido valor contra o dólar durante 2015, poucas delas com relevância no "mundo do açúcar" chegaram perto à queda do real. Só por isso, os custos da indústria brasileira, contados em dólares, já caíram bastante. Porém, é claro que a desvalorização do real em 2015 não confere competitividade para sempre. O custo Brasil fica, e os desafios à produção – clima, pragas, aumento de custo, entre outros – continuam. Avanços técnicos vão ser necessários para manter e aumentar a competitividade e a lucratividade da produção de açúcar, etanol e eletricidade.
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Contudo, para entender as opções de reinvenção do setor sob o aspecto técnico, melhor ler nesta edição os artigos dos produtores, consultores e pesquisadores, muito mais qualificados que nós para tal. Neste artigo, consideraremos o tema de reinvenção pela ótica da gestão financeira e do financiamento ao setor. Visto sob essa perspectiva, em nossa opinião, a necessidade do setor é menos uma questão de reinvenção e mais uma questão de uma evolução. A indústria sucroenergética brasileira é muito heterogênea. Apesar do fluxo contínuo de comentários nos jornais e na internet sobre a situação financeira precária da indústria sucroenergética brasileira, quem fica por dentro sabe que as melhores empresas contam com gestão financeira altamente robusta e conservadora, mantendo uma estabilidade adequada, mesmo com os constantes desafios de clima e volatilidade dos mercados. Tais empresas continuam com um acesso melhor a financiamento competitivo de várias fontes, mesmo nos momentos de maior incerteza. E isso é importante porque a natureza do setor sucroenergético, com a sua forte sazonalidade de produção e demanda constante de investimento, sobretudo no campo, gera uma necessidade estrutural e contínua de crédito.
bancos de fomento Portanto, em nossa opinião, a evolução de que falamos consistiria em um maior número de empresas do setor atingir esse patamar de gestão financeira, que confere maior estabilidade e robustez frente às flutuações do mercado. Nossa experiência tem mostrado que uma gestão financeira robusta tem potencial para gerar um círculo virtuoso, fazendo com que essas empresas sejam mais bem avaliadas pelos bancos, aumentando, consequentemente, o seu acesso a financiamentos e reduzindo o custo de captação. Quais os pontos nos quais uma empresa do setor tem que focar para atingir essa evolução? Na opinião do Rabobank, a manutenção de ampla liquidez – ou seja, a capacidade financeira que a empresa possui para satisfazer compromissos de curto prazo (geralmente 1 ano) – é fundamental. Até uma empresa de desempenho técnico excelente arrisca a se afundar se a liquidez for baixa. Qualquer choque pode levá-la a uma situação de inadimplência. Nesse setor, viver com liquidez baixa é viver à beira do precipício. Por isso, nos sistemas de rating de empresas dos bancos – sistemas que têm o objetivo classificar as empresas de acordo com sua capacidade de pagamento –, empresas com liquidez apertada acabam sendo fortemente penalizadas. O primeiro elemento chave de uma boa liquidez é, geralmente, a presença de um colchão de caixa no ativo circulante. O segundo elemento é um nível baixo de dívida vencendo no curto prazo. Na nossa visão, mesmo que uma empresa tenha volume de dívida elevado (como geralmente é inevitável durante uma fase de investimento em expansão, por exemplo), se tiver um bom colchão no caixa e sua dívida predominantemente no longo prazo, diminuirá significantemente, o que os bancos chamam de “risco de refinanciamento”, melhorando a percepção deles em relação ao crédito dela e, consequentemente, elevando o apetite de crédito do mercado em relação a ela. Claro que não é fácil para uma empresa com liquidez apertada reverter a situação da noite para o dia. Durante um momento de estresse macroeconômico ou setorial, fica dificílimo. Em tais situações, existe o risco de a empresa entrar em uma espiral viciosa: baixa liquidez eleva custo de financiamento e limita a disponibilidade de crédito a operações de curto prazo, espremendo, por sua vez, ainda mais a própria liquidez. Por isso, idealmente, o trabalho de estabelecer uma liquidez robusta deve ser feito na época de vacas gordas, conferindo, dessa forma, estabilidade frente à reversão do ciclo dos preços ou aos choques inesperados na economia.
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O exemplo da liquidez ilustra bem o uso de um indicador financeiro como “sinal vital” de uma empresa do setor do ponto de vista dos bancos e outros credores em época de crise. Outro sinal vital nesses momentos é se a geração de caixa é pelo menos suficiente para: 1) a manutenção de investimento mínimo para a continuidade da operação (capex de manutenção), especialmente no campo, que é fundamental para a sustentabilidade de qualquer empresa de açúcar e etanol no longo prazo, 2) o pagamento dos juros. Caso não seja, a conta só fechará via investimento aquém do necessário ou aumento de dívida, o que em algum momento afetará a liquidez. Em um ano difícil, uma empresa pode adotar uma ou mais dessas estratégias; mas é óbvio que recorrer a elas durante vários anos em sequência a colocará em uma situação cada vez menos sustentável. Um ponto importante a destacar para quem analisa empresas do setor sucroenergético é que é geralmente difícil observar toda essa dinâmica de fluxo de caixa por meio dos indicadores financeiros tradicionais. Podemos olhar os elementos do fluxo de caixa de uma empresa para ver o balanço entre o caixa que a operação gera, os custos dessa operação, o caixa exigido pelos investimentos e o caixa líquido fornecido ou consumido por atividades financeiras, mas é muito raro que a informação padrão seja suficiente. É necessário ver, por exemplo, se, ao longo dos anos, uma porcentagem adequada da terra controlada por uma usina está sendo replantada anualmente, ou se o gasto com trato cultural por hectare de soca está sendo adequado. Hoje paira uma ameaça sobre a imagem do setor, manchado por casos específicos que geraram dores de cabeça para investidores e financiadores – nada mais emblemática do que as histórias dos bonds lançados por empresas do setor em anos recentes. Até que ponto as empresas saudáveis e bem geridas vão ter que evoluir no discurso com o mercado para ter chance de abrir novamente a torneira dos recursos financeiros? Será possível essas empresas voltarem a acessar novas fontes de financiamento como o mercado de capitais? Entendemos que, além dos pontos já citados neste artigo, nunca é demais lembrar que o primeiro passo para isso é o aumento da governança corporativa e a consequente transparência total no fornecimento de informações. Por fim, vale a pena destacar que, mesmo um craque em gestão, que mantenha elevada liquidez, que produza fluxos de caixa positivos e sustentáveis, que tenha elevados níveis de governança e transparência, ainda pode enfrentar circunstâncias que limitem ou impeçam seu acesso a fontes de financiamento. Vivemos essa situação hoje em dia, em que muitos investidores e credores estrangeiros nem querem ouvir falar do Brasil, dada a deterioração do quadro político-econômico e a grande incerteza a respeito da evolução do mesmo no futuro. Infelizmente, não há nada que o setor possa fazer para reverter essa situação; nesse caso, parece que é o País que precisa se reinventar.
Opiniões
em busca dos novos
paradigmas
Depois de quase uma década apoiando de forma expressiva a expansão de capacidade da indústria em virtude da introdução do carro flex na frota nacional de veículos leves, o Bndes, ao longo desses últimos anos, passou a dar uma maior ênfase às iniciativas inovadoras dentro da cadeia de produção sucroenergética. Essa mudança de viés não surgiu do acaso. Retornando um pouco no tempo, entre 2001 e 2015, o Bndes desembolsou um valor superior a R$ 55 bilhões para o setor, permitindo a implantação de mais de 120 projetos de usinas, greenfield ou expansões, correspondentes a uma capacidade adicional próxima de 150 milhões de toneladas ou algo como metade do acréscimo de capacidade de moagem de 300 milhões de toneladas observado no período. Sem dúvida nenhuma, um esforço de investimento notável de todo o setor e que não encontra par na recente história da indústria brasileira. A construção desse formidável ativo, realizada quase integralmente com tecnologia provida pela indústria nacional de bens de capital, envolveu a participação de mais de 130 grupos econômicos financiados, bem como 90 instituições financeiras credenciadas pelo Bndes, demonstrando que o esforço de investimento percorreu boa parte da cadeia produtiva sucroenergética.
A euforia de expansão verificada na última década, contudo, foi seguida por nova fase marcada pela quase inexistência de projetos de expansão. Nos últimos 5 anos, pouquíssimas implantações e mais de 40 desativações de unidades. Em nossa visão, como já tivemos a oportunidade de expressar em artigos anteriores na Revista Opiniões, os fatores estruturais para a estagnação acabam se sobrepondo aos conjunturais, no que se refere à atratividade econômica do setor no médio e longo prazos. Esse diagnóstico foi construído ao longo dos anos de 2009 e 2010, como forma de se buscar uma superação aos efeitos danosos da crise de crédito de 2008 sobre o setor. Naquele momento, definiu-se que o apoio a todas as iniciativas direcionadas para ganhos permanentes de produtividade, sobretudo pela introdução de processos ou produtos inovadores, tanto na etapa industrial quanto na agrícola, passariam a formar a agenda prioritária do Banco. Uma primeira consequência prática dessa nova orientação foi o lançamento, no início de 2011, do Programa Conjunto de Apoio
Espera-se que, com a difusão generalizada das chamadas tecnologias de segunda geração, a produtividade industrial do setor aumente em pelo menos 45%, alcançando a faixa de 10.000 litros/hectare. "
Carlos Eduardo Cavalcanti
Chefe do Deptº de Biocombustíveis do BNDES
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bancos de fomento à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores Sucroenergético e Sucroquímico (Paiss), considerado iniciativa pioneira de fomento à inovação e conduzido em conjunto por Bndes e Finep. O Paiss, ao longo de seu prazo de execução, entre 2011 e 2014, teve como objetivo fomentar projetos de P&D e comercialização de novas tecnologias industriais destinadas ao processamento da biomassa de cana-de-açúcar, enfatizando-se as tecnologias de etanol de base celulósica e produtos químicos renováveis derivados da cana. Como resultado, foram geradas iniciativas de grande porte para o desenvolvimento do etanol celulósico no Brasil, com duas plantas comerciais e uma de demonstração já concluídas e em operação. No total, tivemos 25 empresas e 35 planos de negócios apoiados no escopo das iniciativas do Paiss, tendo sido formada uma inédita carteira de mais de R$ 3 bilhões relacionados a projetos inovadores dentro de um mesmo programa. A importância de uma iniciativa como o Paiss, ademais de restabelecer o protagonismo do Brasil nesse setor, fica mais evidente quando as expectativas de ganhos de eficiência em produção de etanol demonstram que o atual paradigma tecnológico está muito próximo de seus limites – atualmente, na faixa de 7.000 litros/hectare –, em que pesem todos os notáveis ganhos ao longo das últimas décadas, tanto em equipamentos e sistemas quanto em processos fundamentais, como a fermentação e a destilação. Espera-se que, com a difusão generalizada das chamadas tecnologias de segunda geração, a produtividade industrial do setor aumente em pelo menos 45%, alcançando a faixa de 10.000 litros/hectare. No lado agrícola, a produtividade da cana atingiu, em 2007, a marca histórica de 11.200 kg de ATR/hectare, cerca de 130% a mais que o observado no início do Proálcool, nos idos dos anos 1970. Outro esforço notável do setor. Todavia a performance agrícola recente já vinha indicando reduções de produtividade, ainda que no longo prazo houvesse tendência de leve crescimento. Em diagnóstico produzido pelo Bndes (Revista Bndes Setorial nº 37, de março/2013), identificou-se que fatores conjunturais, como mudanças climáticas e baixa renovação de canaviais, poderiam explicar essa tendência. Entretanto, quando analisada a curva de produtividade no longo prazo, a redução dos incrementos sugeria a presença de fatores estruturais, sendo o principal deles o investimento tecnológico feito a ritmo e intensidade aquém do desejado.
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Os baixos investimentos em P&D, como já foi dito anteriormente, derivam do fato de que a área mundial de cana é relativamente pequena quando comparada com outras grandes culturas, como cereais, ademais de sua complexidade genética ou de manejo, dado o maior volume de biomassa envolvido. Como se trata de uma cultura tropical, o investimento em P&D torna-se, de fato, um desafio. Em contraponto, os potenciais aumentos de produtividade agrícola, somente considerando os investimentos em transgenia, são até maiores que aqueles obtidos com a maturação das novas tecnologias industriais. Dessa forma, no início de 2014, a experiência do Paiss na indústria foi reproduzida para a etapa agrícola, com o lançamento, novamente em conjunto com a Finep, do Paiss Agrícola, cujo principal objetivo é acelerar o desenvolvimento tanto da cana transgênica como de máquinas e implementos agrícolas mais eficientes, que permitem melhor manejo agrícola, reduzindo a compactação do solo e o consumo excessivo de mudas. O resultado dessa ação de fomento conjunta superou R$ 1 bilhão em financiamentos a novos projetos, a maioria ainda em fase de execução. Ainda dentro dos novos paradigmas agrícolas, cabe destacar o rápido desenvolvimento da cana-energia, espécie de cana com maior conteúdo de fibra, cuja produtividade agrícola pode superar 200 toneladas por hectare. Quando estiver totalmente domesticada, a cana-energia permitirá que o setor alcance mais de 20 mil litros de etanol (1G e 2G) por hectare. Em contraste com o estágio experimental do início da década, a cana-energia já é usada em áreas comerciais relevantes, sendo que o Brasil deverá contar com quase 10 mil hectares plantados ao final de 2016. Essa visão de futuro do Bndes para o setor pôde ser recentemente compartilhada na COP 21, em Paris, em dezembro último, quando o Banco foi convidado pela presidência do evento para participar de dois de seus principais painéis oficiais, a saber o Action Day (este com a presença do presidente francês e do Secretário-geral da ONU) e o Energy Day (organizado pela Agência Internacional de Energia Renovável - Irena e da ONG Sustainable Energy for All), ambos voltados para iniciativas sustentáveis de grande impacto, capazes de contribuir de forma mais positiva para a mitigação dos efeitos de mudanças climáticas e ali deporem, diante de autoridades mundiais, sobre as virtudes do etanol, tanto de primeira como segunda geração produzidos a partir da cana-de-açúcar. É dentro desse diagnóstico de necessidade de mudança de cenário de esgotamento do atual paradigma tecnológico agrícola e industrial que temos fundamentado a visão e a atuação do Bndes junto ao setor sucroenergético, sempre no horizonte de longo prazo. Acreditamos que a busca permanente pela inovação, uma vez bem-sucedida, com tecnologias provadas e maduras, cumprirá um papel fundamental para a obtenção de ganhos de produtividade mais substanciais, que ajudem a recolocar a indústria brasileira de cana-de-açúcar em seu patamar histórico de competitividade.
produtores
Opiniões
treinamento e cuidado com a
mão de obra Essa cultura já elevou nossa produtividade de colheita em 50%, de 2013 para 2015 (de 400 para 600 ton/ máquina/dia), e reduziu nosso custo de plantio em 8%, de 2012 para 2014, em um período em que a inflação foi de quase 15%. "
Eide Francisco Garcia Diretor-geral da Santa Vitória
O setor sucroenergético acaba de passar por um ciclo extremamente difícil, em que muitas variáveis atuaram negativamente, como a escassez de chuva no Centro-Sul, que atingiu em cheio a safra 2014/2015, a estagnação dos preços de etanol, o excedente de açúcar no mercado internacional, tudo isso somado à dificuldade de financiamento para um ramo de atividade intenso em capital. Esse cenário forçou todos a buscar soluções criativas, simples e de baixo custo para manter a sobrevivência hoje e ainda continuar investindo para garantir o amanhã. Para gerenciar um negócio com tantas variáveis fora de nosso controle, nós, executivos, devemos nos acostumar a lidar com tamanha volatilização, atuando preventivamente para mitigar os impactos negativos de um ciclo difícil como o vivido nos últimos anos. Em nosso setor, vimos muitas ações de redução de custo da forma tradicional, como demissão de pessoas, redução de plantio, corte de insumos, entre outras. No entanto acreditamos que a melhor forma de sobrevivência é aumentar a produtividade, entregar mais, ser melhor amanhã do que somos hoje, e, a partir daí, veremos nossas vendas crescerem mais rápido que os custos, consequentemente reduzindo o custo unitário.
Em um mundo de extrema competição como o que estamos vivendo, pessoas e organizações precisam aprender a se adaptar cada vez mais rápido, aderindo às práticas mais inovadoras e adotando altos padrões tecnológicos. Na Santa Vitória Açúcar e Álcool (SVAA), instalamos a unidade industrial com o maior nível de automação do setor, tecnologia trazida pela Dow e desenvolvida ao longo de anos em suas plantas ao redor do mundo. Nosso time industrial é formado por pessoas de longa experiência no setor químico e sucroenergético, criando uma diversidade de estilos e conhecimentos enriquecedores. Para aumentar o potencial agrícola, dentre as várias técnicas agronômicas empregadas, destacamos a produção de MPB (Muda Pré-Brotada), implantada desde 2013, em um viveiro local muito simples, de baixo custo (aproximadamente R$ 0,20/muda, enquanto o mercado comercializa acima de R$ 1,00/muda), com capacidade para 700.000 mudas a cada 60 dias, o que permite uma ágil multiplicação de novas variedades e o replantio de falhas nas lavouras. Uma operação pautada pelo desenvolvimento sustentável tem o resultado de sua produção traduzido em valor ao negócio e à sociedade. Somos muito cobrados por nossa performance operacional e financeira, já que os investidores procuram bons negócios para apostarem suas fichas, mas também somos muito exigidos pelo legado que estamos construindo na região em que atuamos. A influência que exercemos em Santa Vitória é intensa, assim como em todas as unidades produtoras.
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produtores Devemos aproveitar essa influência para contribuir para as pessoas com as quais trabalhamos e convivemos. Um bom exemplo foi a implantação de uma norma de segurança riquíssima em detalhes, ao ponto de determinar que todos os veículos da SVAA transitem com os faróis acesos, para melhorar a visibilidade nas estradas e, consequentemente, reduzir o número de acidentes. Essa mudança de atitude, associada ao controle de velocidade e maior cuidado ao volante, nos fez reduzir a taxa de acidentes em mais de 40% nos últimos 4 anos. Atualmente, já constatamos a mudança de hábito não só nos perímetros da usina, mas também na comunidade, onde nossos funcionários estenderam essa ação de segurança ao conduzirem seus veículos particulares com os faróis acesos em tempo integral. Ainda assim, nosso objetivo é aprimorar todas as práticas de segurança e alcançar a marca de zero acidente em nossa operação. Excelência operacional só é atingida com um time que tenha clareza do lugar aonde se quer chegar. Procuramos sempre dar oportunidades para as pessoas que já estão no quadro da SVAA, pois já conhecem nossa cultura e nossa forma de atuar. Temos exemplos de pessoas que saíram do escritório e foram para o campo e, hoje, fazem um destacado trabalho, bem como pessoas que saíram de serviços gerais e, hoje, exercem funções na indústria, no administrativo e na manutenção. Acreditamos e respeitamos o potencial de cada pessoa, fazendo o coach apropriado e prezando a diversidade.
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Opiniões Nossa prioridade é construir o conhecimento operacional dentro de casa. Esse espírito se traduz em mais de 130.000 horas/homem em treinamentos nos últimos 2 anos e parcerias para capacitação profissional. Essa cultura já elevou nossa produtividade de colheita em 50%, de 2013 para 2015 (de 400 para 600 ton/máquina/dia), e reduziu nosso custo de plantio em 8%, de 2012 para 2014, em um período em que a inflação foi de quase 15%. O resultado econômico depende da construção de um ambiente de negócio sustentável, que, por sua vez, depende de uma boa relação entre os diversos elos da cadeia produtiva. Quando a SVAA iniciou o seu projeto, sentiu a necessidade de instituir um relacionamento com a comunidade local. Por isso criou o Painel Consultivo Comunitário de Santa Vitória, um canal direto de comunicação entre a empresa e as lideranças representativas da sociedade local. Entender as dificuldades, os problemas e as oportunidades da região nos norteia a desenvolver programas e projetos que possam contribuir para o desenvolvimento sustentável do negócio e da localidade. Dessa união, já surgiram vários programas, dentre eles, o projeto “Água é Vida”, visando à recuperação do rio que abastece a cidade, para a preservação da água e melhorias na sua qualidade. Estamos deixando um legado para gerações futuras, através do replantio de mais de 1,2 milhão de árvores em nossa área de atuação. Monitoramos sete importantes rios, dos quais três já apresentam aumento no volume de água, de até 20%, de 2008 até hoje, e todos apresentam qualidade de água estável para o mesmo período. A implantação dos nossos canaviais e da unidade industrial em Santa Vitória é positiva para o ecossistema local. Atitudes responsáveis e ambição de sermos cada dia melhores: é esse espírito que fará nossa gente e negócio crescerem juntos e de forma sustentável.
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a reinvenção está em curso
O setor sucroenergético poderá ter, em breve, menos protagonistas do que teve no passado, principalmente com os desafios enfrentados nas últimas safras. "
Rui Chammas
Presidente da Biosev
A edição deste ano do Fórum Econômico Mundial, realizado em janeiro, em Davos, na Suíça, teve como tema central a chamada "Quarta Revolução Industrial”. O assunto descreve uma economia com forte presença de tecnologias digitais, mobilidade e conectividade de pessoas e de coisas e tem a informação como valor central. Foram feitos questionamentos sobre quais impactos essa nova “revolução” teria no setor sucroenergético. Contudo, para essas indagações, compartilho algumas reflexões e – por que não dizer – algumas provocações: será que é esse movimento de que precisamos agora? O setor já incorporou os avanços que outros segmentos já conquistaram? Inicio afirmando que julgo o termo “revolução” como inadequado, pois pressupõe mudanças rápidas e também fáceis, que seduzem a todos. Olhando para a história, percebemos que nenhuma revolução, nem mesmo as três primeiras revoluções industriais foram processos de ruptura imediata, mas evolutivos, que tinham como principal fato um novo conjunto de valores e de tecnologias que se tornaram o novo paradigma vigente. Com esse olhar, a lógica de uma evolução gradual é ainda mais verdadeira no setor sucroenergético – trabalhando com uma cultura semiperene aliada a características de um mercado cíclico. Não devemos buscar para nós nenhuma revolução instantânea, mas sim contínua, desde valores e tecnologias, as quais estabelecerão um novo paradigma a partir de uma base sólida.
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Esse novo paradigma começou a ser estabelecido ao longo dos últimos anos, a partir de algumas dimensões, como a sustentabilidade, em seus vários aspectos, a mecanização, novas tecnologias e, sobretudo, a cultura empresarial e a formação das equipes. A dimensão sustentabilidade trouxe oportunidades com a demanda que o etanol obteve no mercado, com suas características únicas de absorção de CO2 da atmosfera e também na consolidação do papel das usinas nos aspectos de responsabilidade social e ambiental que muito tem sido discutido. Já a dimensão ligada à mecanização e às novas tecnologias, talvez seja a que mais tenha forçado o setor a mudar. Durante muito tempo, a colheita e o plantio da cana-de-açúcar foram feitos usando mão de obra sazonal e de baixa qualificação. Os aspectos ambientais da sustentabilidade levaram o setor a se comprometer com uma mudança radical e eliminar a queima da lavoura antes de sua colheita. Essa alteração forçou a implantação acelerada de colhedoras mecânicas e aspectos normativos, que, ligados ao mercado de trabalho, forçaram a implantação acelerada de sistemas de colheita mecanizados. Esses processos impulsionaram o desenvolvimento e uso de novas tecnologias, como a utilização de drones, pilotos automáticos, uso de GPS e imagens de satélites e de mudas pré-brotadas, entre outros aspectos. A constante evolução dessas duas dimensões tem como pré-requisito a transformação do setor e a adequação
Opiniões dos papéis das pessoas nas organizações, bem como das culturas empresariais. Essa é a base sólida de que necessitamos. Olhando retrospectivamente – para as usinas que eram alimentadas por cana cortada a mão e tinham processos simples de moagem e produção de açúcar –, podemos observar mudanças significativas e afirmar que, hoje, a indústria se transformou em uma rede de células de produção no campo, em que cada grupo, ou frente de trabalho, é responsável por equipamentos sofisticados e de alto valor. A frota de alimentação das usinas é um complexo sistema logístico, e os processos internos mostram-se cada vez mais sofisticados e automatizados. É interessante comparar este momento do setor sucroenergético com a grande mudança que aconteceu na indústria automobilística do Japão, na década de 1970. Naquele momento, permanecia o sistema de produção em massa disseminado com a montadora Ford. No entanto o processo de produção japonês, conhecido como produção enxuta ou Toyotismo, ganhava cada vez mais espaço. Esse era o paradigma da terceira revolução industrial. O sistema implantado reunia equipes de operários muito bem treinados e com habilidades desenvolvidas para trabalharem ao lado de máquinas automatizadas, produzindo uma quantidade maior de bens. A hierarquia gerencial e as linhas de produção passaram a ser substituídas por equipes
multiqualificadas enxutas, trabalhando em conjunto e diminuindo o esforço humano, além dos custos. O setor sucroenergético segue o mesmo caminho, em especial depois que começou a criação de grandes grupos, que consolidaram parte da produção no Brasil. E, para podermos avançar rapidamente, é importante desenvolvermos todas as nossas equipes em aspectos técnicos e o senso de pertencimento, o que se dá com modelos de organização leves e descentralizados, em que as pessoas são sempre tratadas com respeito e lhes é atribuída a responsabilidade, e fortalecido o sentimento de dono. Tal qual na terceira revolução industrial. Esse é o atual desafio do setor, avançar rápido pelos caminhos já trilhados por outras indústrias e buscar, em paralelo, o uso de novas tecnologias. Estou seguro de que empresas com culturas empresariais fortes e líderes que valorizam suas equipes não só vão capturar as oportunidades que estão ao seu alcance, mas também vão fazer uso das tecnologias mencionadas como parte da “Quarta Revolução Industrial”. O setor sucroenergético poderá ter, em breve, menos protagonistas do que teve no passado, principalmente com os desafios enfrentados nas últimas safras. Porém, estou seguro de que as práticas dos líderes dessa indústria serão, no futuro, muito pouco comparáveis com as do passado. A reinvenção está em curso e nada a fará parar.
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é hora de surfar ?
A reinvenção de um negócio pressupõe que algo deu errado ou precisa ser readequado para o êxito ou ainda se adequar a uma nova realidade. Pois bem, seja de uma forma ou de outra, o ponto de partida é ter a visão da necessidade da mudança e a coragem para aceitar e planejar as melhorias. Gerir negócio no Brasil não é uma tarefa fácil; as adversidades são constantes e as regras do jogo não são bem definidas, beirando o limite da insegurança jurídica em muitas áreas, como trabalhista, tributária, ambiental, entre outras. Especialmente no nosso setor sucroenergético, após a crise de 2008, o cenário vem se deteriorando para a maioria das empresas desse ramo, devido, principalmente, aos erros de direcionamento governamental e a gestões ineficientes. Determinados modelos de negócio ou unidades de produção sucroenergética são insustentáveis ou inviáveis, sejam pela escala, logística, região em que estão instaladas, produtividade ou pela própria estrutura de capital onerosa e com duração inadequada. Nosso setor demanda capital intensivo; sendo assim, é um item ao qual acionistas e gestores devem ficar muito atentos, pois pode absorver toda a geração de caixa ao longo do tempo e comprometer os fluxos da companhia e dos acionistas. O cuidado com a estrutura de capital adequado e a disciplina orçamentária deve fazer parte importante do dia a dia na condução da empresa com o comprometimento de todas as áreas. Em destaque principal no jogo, estão: a eficiência, a produtividade e os custos compatíveis. A busca pela eficiência e produtividade deve permear toda a equipe e ser um rosário constante nas ações do dia a dia. A redução de custos, que não pode ser analisada separadamente, é ainda mais complexa, pois mexe muito com as pessoas, uma vez que demanda ações que nem sempre é de fácil execução, como cobrança rígida e direta aos colaboradores para as mais variadas tarefas, mover os mais estáticos, além de corte de gastos adicionais em mão de obra e busca contínua por suprimentos com melhor custo-benefício. A mão de obra está atrás apenas do custo da matéria-prima e se destaca como item de despesa de maior relevância, que deve ser trabalhado da melhor forma possível no sentido da eficácia total.
Um bom controle de todas as operações, via um sistema de informática eficaz e uma equipe atenta às apurações de custos e resultados, é a única forma para medirmos e avaliarmos a performance do negócio e os drivers da evolução ou não das operações da empresa. O mercado de nossos produtos vem na contramão dos demais, pois, mesmo em meio à crise brasileira, sinaliza preços promissores no curto e médio prazo. Com ele, as oportunidades começam a aparecer para as empresas que estão “com a casa em ordem”, sendo a hora para agregar valor e surfar essa onda de bons preços. Agilidade, rapidez e assertividade nas decisões de venda dos produtos impactam muito os resultados e, por isso, demandam dose importante de planejamento, conhecimento e acompanhamento do mercado diariamente. Uma comunicação bem-feita com toda a equipe é a única forma de alinhamento do grupo para o objetivo maior, a rentabilidade. Os valores positivos do grupo devem ser cultivados e perpetuados; sabemos que cada empresa tem uma história diferente e cada qual com seus limites, sua forma de trabalho, profissionalização total ou parcial, enfim, nem sempre a solução ou a receita de uma serve para outra. A atenção aos riscos do negócio também deve fazer parte de destaque na matriz de atuação, cuidando para que sejam mitigados ou monitorados da melhor maneira possível. Acredito que o caminho para a melhoria das gestões esteja baseado numa série de pilares fundamentais: disciplina, planejamento, foco, comprometimento, governança, visão correta do negócio, treinamento, programas evolutivos internos e externos à companhia, dentre muitos outros. Há, hoje, muito suporte de consultorias, cursos, programas, treinamentos, enfim, uma série de recursos disponíveis para o aumento da qualificação técnica e da melhoria do relacionamento interpessoal das equipes. Um ponto importante é não ir atrás desses suportes somente após a empresa entrar em crise. Da mesma forma, a manutenção de um clima motivador, sério, com uma meritocracia adequada e uma boa dose de desafios factíveis são os combustíveis que irão estimular o grupo a mover-se rumo ao sucesso e à realização pessoal. A busca por novas formas e processos de produção com a utilização de todo o potencial tecnológico possível, atualmente, faz todo o sentido e é o norte a ser seguido!
O mercado de nossos produtos vem na contramão dos demais, pois, mesmo em meio à crise brasileira, sinaliza preços promissores no curto e médio prazo. "
Luciano Sanches Fernandes Presidente da Cerradinho
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caminhos para fazer
diferente e melhor Atualmente, 90% da área plantada de cana em São Paulo é colhida de forma mecânica, sendo que 80% do plantio já é mecanizado. "
Marco Lorenzzo Cunali Ripoli
Gerente de Marketing Estratégico para Cana-de-açúcar para a América Latina da John Deere
O Brasil é, atualmente, o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, e, tendo em vista esse panorama, surge um desafio: manter ou elevar o nível de produção diante do crescimento populacional, considerando a carência de terras para plantio. A projeção mundial, divulgada pela Organização das Nações Unidas – ONU, surpreende: seremos 9 bilhões de cidadãos em 2050. Assim, é necessário pensar e aplicar, com urgência, meios para suprir a demanda de alimentos e combustíveis de forma sustentável, sem deixar de lado a produtividade e o viés financeiro da fazenda. No século XX, o trabalho na lavoura brasileira era manual e exigia um número elevado de trabalhadores para que a prática braçal fosse realizada. O plantio e a colheita eram feitos em pequenas áreas, devido à dificuldade logística em expandir a ação por mais espaços da fazenda.
fornecedores Esse panorama passou a se transformar com a chegada das primeiras máquinas, em meados de 1930, considerado o primeiro passo para a expansão agrícola. A mecanização possibilitou o aumento da capacidade de colheita na lavoura nos últimos 50 anos. Atualmente, 90% da área plantada de cana em São Paulo é colhida de forma mecânica, sendo que 80% do plantio já é mecanizado. Desse modo, segurança, agilidade e facilidade são adicionadas ao campo, o que gera aumento da lucratividade. Porém é necessário reconhecer que um bom maquinário é importante, mas não basta. O despreparo e a ineficácia de grande parte das gestões rurais indicam que ainda há um longo caminho a ser percorrido, de modo que todo o potencial tecnológico, humano e técnico seja bem aproveitado. A administração rural é uma grande aliada do controle da fazenda, ajudando o gestor a alcançar resultados melhores, sem se desgastar com técnicas e investimentos dispensáveis. Esse controle ocorre por meio de ferramentas, que podem estar presentes no próprio maquinário, e softwares, que possibilitam que o gestor da fazenda acompanhe o panorama produtivo por completo. Planilhas orçamentárias com custos atuais, lucros e projeções, indicadores dos níveis de insumos e estoque, controle do andamento da safra, medidores dos níveis de produção, entre outros, são alguns dos benefícios fornecidos pela gestão rural. A partir desses dados, é possível criar sistemas próprios, como medidores de qualidade interna e externa. Mas algumas barreiras impedem o homem do campo de enxergar os benefícios de uma fazenda bem administrada. Uma delas é o receio da tecnologia que, à primeira vista, parece ser de difícil domínio ao agricultor, o que não passa de um mito. Atualmente, são disponibilizados instrumentos simples, que são facilmente compreendidos e aplicados ao produtor rural. Além disso, há o desconhecimento e, até mesmo, preconceito com o termo “gestão”, que nada mais é do que a correta atribuição de recursos, materiais e mão de obra, com o objetivo de gerar resultados satisfatórios. Ou seja, a administração rural é um meio inteligente de alcançar rendimentos eficazes, previamente determinados, prevenir e lidar bem com possíveis desvios, padronizar atividades de sucesso e treinar e motivar equipe para atuações necessárias. O panorama tecnológico é um caminho sem volta, de modo que o produtor deve se adequar e aprender a usar melhor os ativos, para não perder oportunidades. O agronegócio segue rumo à sincronização tecnológica, que resulta no incremento da capacidade produtiva, sem que seja necessário expandir terras. Esse marco é representado pela indústria também com o oferecimento de soluções
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Opiniões integradas, ou seja, serviços que somam o aperfeiçoamento dos equipamentos, a otimização do trabalho e o suporte para decisões. Cenário: A disparada do dólar traz uma conjuntura ambígua ao setor sucroenergético do Brasil. Por um lado, safras e exportações são beneficiadas pelo dólar alto, o que é bom para o agronegócio. O preço do etanol e do açúcar também subiu devido à moeda. Mas, por outro lado, os insumos estão mais caros diante da inflação elevada. Um estudo da revista científica Nature, publicado em janeiro deste ano, revela um alto índice de mudanças climáticas que podem comprometer o abastecimento mundial de alimentos. De 1964 a 2007, foram registrados mais de 2,5 mil eventos meteorológicos intensos, além de secas e grandes períodos de calor, responsáveis por perdas de 10% na produção mundial de grãos. Assim, há duas alternativas ao produtor: agir com cautela, ou investir e se destacar no cenário a fim de manter e, quiçá, elevar seu nível de produção. O recomendável é apostar em tecnologia e pesquisa, meios que têm o poder de amenizar os impactos climáticos e aperfeiçoar a produção perante a alta da moeda americana. Qualificação: Apesar da tecnologia, o lado humano não deve ser deixado de lado, e a qualificação profissional para atuar com cana-de-açúcar faz diferença. Relatório do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – Caged, do Ministério do Trabalho, indica que a agricultura foi o único segmento da economia a gerar empregos formais em 2015. O órgão registrou 1.060.745 demissões contra 1.070.556 admissões, um saldo de 9.821 vagas ocupadas. Ou seja, as pessoas ainda são parte integrante do processo canavieiro. Sendo assim, é necessário buscar alternativas para capacitar a mão de obra. Para isso, simuladores para o treinamento de operadores são uma tendência no mercado de equipamentos agrícolas. Dotados de segurança, eles são indicados para leigos e para os que querem reciclar seus conhecimentos. A soma de tecnologia e qualificação é a fórmula para o produtor canavieiro enfrentar o atual panorama mundial, o que é ainda mais evidente com os investimentos aplicados para pesquisa e inovação na área. Essas aplicações trazem resultados que transcendem a produtividade e passam a beneficiar a natureza. Um fruto dessa política é a agricultura de precisão, sistema de retorno comprovado, que colabora para a economia de insumos, combustível e aumento da produtividade. Desafios para o setor canavieiro sempre existirão, mas vale lembrar que, por mais difíceis que sejam, cabe ao agricultor se atualizar quanto às inovações e buscar caminhos inteligentes, que andem de mãos dadas com a tecnologia e a gestão.
2 3 ª F e i r a I n t e r n a c i o n a l d e Te c n o l o g i a A g r í c o l a e m A ç ã o
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a recuperação da
produtividade O primeiro passo desse protagonismo se dá pelo reforço de suas entidades representativas, em todas as esferas. Sem uma voz política ativa, a economia setorial não reverterá a tendência de resgatar as quase 80 usinas que estão em recuperação judicial. "
Cássio da Silva Cardoso Teixeira
Gerente de Marketing para a América Latina da Basf
Para início de conversa, preciso dividir com os leitores uma preocupação com a rentabilidade do setor a partir de 2018. Trata-se de um desafio real chamado “gasolina”, que tem o potencial de interferir negativamente na recuperação econômica que o setor observará nos próximos dois anos. Observo que os fundamentos desse próximo cenário já estão sendo semeados e, por isso, acredito que o setor deva trabalhar para mitigar os seus efeitos nesse período de 2 anos até 2018. A indústria sucroenergética brasileira projeta um consumo total de etanol da ordem de 40 bilhões de litros em 2025. Esse crescimento vertiginoso dos atuais 26 bilhões de litros está corretamente amparado pela expectativa de ampliação da frota de veículos flex suportado por políticas anticíclicas de estímulo ao crédito. Esse cenário, notadamente otimista, considera como regra geral que o País continuará em sua trajetória de pleno emprego (sic) e baixo endividamento das famílias. O cenário traçado é hoje certamente discutível, porém, para atender a essa demanda, o setor fez uso dos instrumentos de crédito disponíveis ao longo dos últimos anos e captou dívida securitizada em dólar, promovendo uma expansão de capacidade industrial aliada à adoção de novas tecnologias. Porém observo que, entre os anos de 2015 e 2016, a curva da expectativa teve um ponto de inflexão. O câmbio se depreciou perto de 50% e estrangulou a geração livre de caixa dos principais grupos.
Opiniões O alívio parcial ficou por conta do aumento dos preços do açúcar no mercado internacional e do etanol, atrelado ao preço da gasolina, que observou a volta da Cide. Temos, então, desenhado o cenário atual que me preocupa – um equilíbrio instável de um setor que busca o alongamento de uma dívida indexada respaldado pelas boas margens do açúcar e do etanol. Esse equilíbrio estará presente pelos próximos 2 anos, mas o que acontece a partir de 2018? O que podemos fazer para mitigar uma eventual ameaça? Eu acredito que temos um grande ponto de atenção na dinâmica do endividamento frente à geração de caixa das atividades alcooleiras. Considerando que o preço do petróleo permaneça oscilando entre os US$ 30 e US$ 40 por barril e que os Estados Unidos aumentem gradativamente sua taxa de juros, teremos uma situação conjuntural desafiadora. Em um período que irá até as próximas eleições, o País reunirá todas as condições para uma nova rodada de rebaixamento de sua nota de crédito devido à dinâmica da relação dívida/PIB, que alcançará, facilmente, os 75%. O câmbio se depreciará novamente, mas, dessa vez, a depreciação virá acompanhada da queda do preço do açúcar devido à boa safra potencial da Tailândia de 2016. Ainda, a inflação que estará pressionada pela inércia dos preços administrados poderá ser “amenizada” com a baixa do preço da gasolina, mantida, hoje, artificialmente cara para a recomposição de caixa da Petrobras. Nesse resumo multivariável, estão lançadas as condições para: • aumento do custo de captação de dívida, que se traduzirá em uma menor atratividade para o alongamento da dívida atual; • estabilidade com viés de baixa no preço do açúcar vindo da recomposição dos estoques; • e, principalmente, queda no preço da gasolina devido ao controle dos preços administrados em ano eleitoral. A Petrobras, muito embora busque ativamente uma política de correlação com os preços internacionais, ainda estará à mercê da política fiscal errática. Quais as oportunidades que devemos aproveitar para nos fortalecer frente a esse cenário? O setor é competitivo por natureza, porém isso não significa que ele deva lutar sozinho e ser deixado de lado na construção das políticas industriais do País. Pelo contrário, ele deve ser protagonista. O primeiro passo desse protagonismo se dá pelo reforço de suas entidades representativas, em todas as esferas. Sem uma voz política ativa, a economia setorial não reverterá a tendência de resgatar as quase 80 usinas que estão em recuperação judicial.
Destaco as ações da Unica como catalisadora da imagem que o setor passa para a sociedade, com a maior divulgação das externalidades positivas do papel do etanol na economia brasileira, além dos esforços regionais de diversas outras entidades ligadas ao setor. O segundo passo no escopo dessa retomada está da porteira para dentro. Eu destaco ações individuais focadas nos pilares sociais, ambientais e tecnológicos da indústria. Como ponto de partida, o setor pode, imediatamente, ampliar a qualificação do emprego, não através de cursos ou educação formal, mas através da adoção de tecnologias que permitam a redução do custo produtivo. Na verdade, o progresso em si já é um sinal positivo. A adoção tecnológica é uma das faces visíveis da ambição pelo progresso que fomenta a capacitação individual. A adoção tecnológica, em sua imensa maioria, possui uma externalidade positiva que se reflete no aumento da produtividade e na redução de custos. Conhecendo as ferramentas que estão disponíveis para as áreas agrícolas, sobram tecnologias que se revertem em aumento de longevidade do canavial, que reduzem a complexidade do manejo com sustentabilidade e que reduzem o custo unitário produtivo, ampliando, assim, a rentabilidade. Isso sem adentrar em tecnologias para ampliar a eficiência dos processos industriais. Trata-se de uma lógica microeconômica simples, mas que ainda encontra resistência em sua adoção. O desenrolar do próximo biênio será fundamental para separar os bons profissionais que constroem estratégias sólidas em um ambiente de incerteza. A ameaça à retomada da dinâmica de crescimento é real, porém tão reais são as possibilidades de enfrentamento dessas ameaças. Sobreviverão os mais fortes, com estratégias consistentes e parcerias sólidas em busca do aumento de produtividade dos canaviais.
Viveiro de mudas de cana
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consultores
desafios e
oportunidades É pecado capital achar que preços altos são para sempre. O setor trabalha com commodities que têm um ciclo de preços altos e baixos. No curto prazo, não existe desafio relacionado a volume de vendas. Tudo que for produzido deverá ser vendido. O desafio é vender bem. "
Julio Maria M. Borges
Sócio-diretor da JOB Economia e Planejamento
Inicialmente, vale a pena destacar que os fundamentos econômicos do setor no curto prazo são bons: • Déficit de oferta global de açúcar nesta safra mundial 2015-2016 e, possivelmente, na safra 2016-2017. Essa condição dá suporte para preços e cria um ambiente favorável à retomada de bons resultados econômico-financeiros na atividade. • Demanda crescente de etanol combustível no Brasil, com oferta restrita, mesmo considerando a supersafra do Centro-Sul em 2016-2017. Essa também é uma condição relevante para suporte aos preços do etanol combustível. Ou seja, as condições para a recuperação econômico-financeira do setor no curto prazo estão dadas. E daí? Quem irá se recuperar? Quem irá sobreviver? As respostas a essas indagações são o motivo deste artigo. Quanto aos produtos finais: Açúcar é um produto associado a prazer e energia. Seu consumo em excesso faz mal, como a grande maioria dos itens de alimentação e bebidas. Temos dois grupos de consumidores: aqueles que têm algum desequilíbrio metabólico e não devem ingerir o açúcar e aqueles que precisam fazer regime, pois comem mal e/ou acima de suas necessidades. É mais frequente encontrar esses consumidores em países de renda per capita elevada e média. Vamos chamá-los de Grupo A.
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Temos um outro grupo (Grupo B), no qual existem pessoas que necessitam de uma alimentação mais adequada a suas necessidades (trata-se aqui do objetivo mundial de eliminar a fome) ou têm hábitos alimentares tradicionais com pouco uso de açúcar. Nesse caso, destaque para a Ásia. A demanda de açúcar, nos últimos anos, tem crescido na faixa de 3-4 milhões de toneladas por ano, graças ao Grupo B. E a tendência é de se manter uma trajetória crescente de consumo. O potencial de crescimento da demanda mundial de açúcar é grande. A questão é: quem vai ocupar esse mercado? Possivelmente, o Brasil e a União Europeia, de 2017 em diante. Esses são players competitivos nesse mercado. O Brasil, com a ajuda de um câmbio muito desvalorizado, não sustentável à luz de um País decente sob a ótica sociopolítica. Quanto ao etanol combustível, temos também riscos e oportunidades. Do lado favorável, a demanda de etanol combustível no Brasil é crescente, sujeita a preços competitivos com
Opiniões a gasolina na bomba. O aumento do preço médio da gasolina nas duas últimas safras da ordem de 55% criou uma boa proteção para os preços do etanol praticados pelo produtor. Reforçando essa boa condição do mercado, a forte desvalorização do real cria boas oportunidades de exportação do produto. Ainda do lado favorável, observamos que o mundo, gradativamente, retoma as preocupações com o meio ambiente. A última reunião da COP 21, em Paris, cria uma boa intenção global de melhorar o meio ambiente, apesar de não ser muito clara sobre a maneira de fazer isso. E esse detalhe é fundamental. De qualquer maneira, o etanol combustível é um player de peso nesse arranjo e tem boas perspectivas de crescimento. Do lado desfavorável, observamos que os baixos preços do petróleo e da gasolina inibem um movimento global em favor de fontes de energia alternativa, inclusive o etanol combustível. O etanol americano, que se mistura a uma gasolina a preços de mercado, transforma-se numa ameaça potencial, via importações, ao produtor brasileiro. Tecnologia: É um belo desafio. A busca da eficiência energética aparece como importante argumento a favor de menor consumo de energia. O etanol de 2ª Geração ainda não mostrou a que veio. Quando vai mostrar é uma pergunta sem resposta objetiva. A energia solar e, principalmente, a eólica avançam continuamente, no sentido de melhorar sua competitividade. O gás natural, menos poluente que carvão, petróleo e derivados, deve ocupar lugar de maior destaque na matriz energética mundial. O que fazer no setor de cana no Brasil? Reduzir custos e se preparar para a competição de médio e longo prazo. Infelizmente, aquele padrão significativo de redução de custos observado no Brasil nas décadas de 1980 e 1990 não tem sido verificado nas últimas duas décadas. Administração do negócio: A pauta desta edição da Revista Opiniões trata da reinvenção da indústria sucroenergética no Brasil. Nesse caso, a gestão do negócio de açúcar e etanol apresenta-se como um item principal dessa reinvenção. Vejamos por quê. É necessário destacar, inicialmente, que existem grupos muito bem geridos no setor. É uma minoria neste momento. No futuro previsível, tende a ocupar um espaço maior que o atual pela natural regra de sobrevivência: "não é o mais forte da espécie que sobrevive, nem o mais inteligente, mas é aquele que responde melhor e mais rápido às mudanças" (Charlie Darwin).
O que deve ser considerado na gestão das usinas, tomando como base o que se faz nos melhores grupos? • Administração financeira prudente. É pecado capital achar que preços altos são para sempre. O setor trabalha com commodities que têm um ciclo de preços altos e baixos. Oferta de financiamento atrativo em US$ exige atenção especial sobre o risco cambial. • Administração de pessoal que busque mobilizar os recursos humanos da empresa com um objetivo comum de melhores resultados. Para isso, é necessário diretrizes claras e consistentes, participação nos resultados do negócio, perspectivas de evolução na carreira, avaliação de desempenho. A identificação de talentos é crucial para uma boa gestão dos negócios. Cabe lembrar ainda a necessidade de exemplos e valores construtivos na empresa, como honestidade, trabalho em equipe, competência. • Busca permanente de custos mínimos e prioridades de investimentos ordenados por retorno esperado. Não dá para trabalhar eficientemente sem transparência nas informações e sem fazer contas corretas. • Maximização das receitas. No curto prazo, não existe desafio relacionado a volume de vendas. Tudo que for produzido deverá ser vendido. O desafio é vender bem. Os mercados oferecem, ao longo da safra, momentos melhores de venda dos produtos. Aproveitar esses momentos dá um diferencial competitivo relevante para os players do setor. • Gestão de riscos. Esse mundo global e da internet aumentou as informações e os riscos. É necessário tomar decisões rápidas para minimizar os riscos do negócio e proteger os resultados esperados. Recentemente, temos dois exemplos da necessidade de gestão de riscos em usinas: 1. a desvalorização do real desde meados de 2013 associada com dívidas em dólar americano; 2. a não fixação de preços de exportação do açúcar da safra 2016-2017, nos últimos quatro meses, quando os preços ao produtor mais que remuneravam o custo total de produção e estavam tão bons como aqueles de 2011, o momento de maior preço médio do açúcar nos últimos 10 anos. • Implantação de Conselhos de Administração e/ou Conselhos Consultivos para contribuir para o processo de tomada de decisões e a avaliação de desempenho, considerando esse mundo globalizado, de mudanças rápidas e complexas e, além disso, um mundo regido cada vez mais pelas forças de mercado, sem proteção total dos governos. Em resumo: o conjunto de considerações de gestão do negócio mencionadas anteriormente é muito mais fácil de listar do que executar. É necessária uma liderança convicta de sua necessidade. É por esse motivo que poucas empresas têm performance acima da média. Aquelas que executam parte daquelas considerações constituem a média do setor. E, finalmente, aquelas que são negligentes com os desafios da boa administração estão abaixo da média e, possivelmente, não sobreviverão. Teremos uma boa oportunidade de discutir com mais profundidade esses aspectos em nosso próximo Seminário, a ser realizado em abril/2016, em São Paulo. Vamos, com isso, reinventar o setor naquilo que for necessário e cabível.
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menos reinvenção,
maior consolidação o setor sucroenergético vive em constante reinvenção e já passa da hora de parar de surfar ao sabor dos ventos e abalos, que consomem grande parte de sua energia, para maior desenvolvimento e consolidação "
Luiz Custódio Cotta Martins
Diretor do INDI Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais
Podemos dizer que o setor sucroenergético, sem sombra de dúvida, vive em constante reinvenção e já passa da hora de parar de surfar ao sabor dos ventos e abalos, que literalmente consomem grande parte de sua energia e esforços, para maior desenvolvimento e consolidação. Sinto-me à vontade para falar desse tema, pois minha história de vida tem sido de uma enorme persistência para a manutenção nesse setor, desde que minha família fundou, em 1885, a primeira usina de açúcar de Minas Gerais, Ana Florência, em Ponte Nova, na Zona da Mata, região que chegou a ser uma das maiores produtoras de açúcar do País. Desde então, não somente as usinas de Ponte Nova, de Minas Gerais, mas do País acumularam uma grande história de reinvenção, com o enfrentamento de várias crises e situações, que envolveram dificuldades extremas do plantio da cana-de-açúcar em áreas de alta declividade; alteração nas cotas de produção de açúcar, que levou ao fechamento e à fusão de várias empresas; integração ao Proálcool na década de 1970, um marco para o setor, que visou ao incentivo à produção e ao consumo de etanol, bem como à sua posterior desregulamentação na década de 1990, culminando novamente com o fechamento de várias unidades, que não conseguiram sobreviver ao livre mercado. No início deste século, em 2003, o lançamento dos carros flex deu um novo fôlego ao segmento, alterando, substancialmente, as estratégias operacionais da atividade, até então, marcadamente, açucareira, e com baixa produção de etanol para os carros, grande parte sucateados, movidos apenas a etanol. Todas essas transformações provocaram um movimento de intensa profissionalização do setor, tradicionalmente marcado pela gestão familiar, aliado à introdução da tecnologia em todos os processos produtivos.
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Porém, apesar de se reinventar ao longo de toda a sua história, e mais recentemente, norteado pela busca de maior eficiência e redução dos custos, o setor ainda luta para maior consolidação e valorização de produtos tão originais, como o etanol hidratado, anidro e a bioeletricidade, que contribuem para a redução da poluição e o combate ao aquecimento global, tão preocupantes nos dias de hoje. Mas, se podemos tirar uma lição de todas as crises e marcos, ressalto a importância da evolução empresarial na gestão dos negócios e na modernização da produção, aliada a políticas públicas que valorizem as energias renováveis e possibilitem que o consumidor usufrua de seus benefícios com maior segurança ambiental e proteção à saúde. Cabe destacar que os governos estaduais têm sido os grandes incentivadores nesse sentido, com reduções das alíquotas de ICMS do etanol hidratado, como fez Minas Gerais, que diminuiu de 25% para os atuais 14%, gerando a maior diferença do País de 15 pontos percentuais entre as alíquotas de etanol hidratado e a gasolina. As reduções começaram a ocorrer no governo de Antônio Anastasia, que reduziu de 25% para 22%, depois para 19%, e, posteriormente, no governo do Alberto Pinto Coelho, com o apoio do atual governador Fernando Pimentel, no final de 2014, caindo ainda mais para 14%. Para mostrar a importância desse projeto em Minas Gerais, somente três deputados votaram
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consultores contra e não por causa da redução da alíquota do etanol e sim contra a alta da alíquota da gasolina, hoje em 29%. Com isso, Minas Gerais se tornou o segundo maior consumidor de etanol hidratado do país, com uma alta de quase 140% em 2015, comparado com o consumo de 2014. A orientação do governador Pimentel é de dar todo o apoio ao setor sucroenergético, localizado no interior do estado, com 37 usinas, 121 municípios canavieiros e geração de 80 mil empregos diretos. Há muito ainda o que fazer na diminuição dos custos e aumento da produtividade, desenvolvimento maior das pesquisas do etanol de segunda geração, além de um mecanismo para precificação do produto via bolsa, a exemplo do que acontece com o mercado de açúcar. Destacamos também a possibilidade de venda direta do produto aos postos de combustíveis, o que poderia baratear o custo do combustível limpo e renovável para o consumidor. O Instituto de Desenvolvimento Integrado de Minas Gerais – INDI envida esforços no sentido de apoiar a reativação de algumas empresas, que entraram em processo de falência no estado.
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O trabalho consiste no levantamento dos custos de reativação e prospecção dos empresários que possam assumi-las, além da ajuda junto aos bancos do estado. O instituto faz também um trabalho de atração de novas empresas para o estado, além de apoiá-las no andamento das negociações junto aos bancos, área ambiental, Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig, entre outros órgãos, para maior rapidez na viabilização dos empreendimentos. Caso contrário, sem o apoio das políticas públicas de incentivo ao combustível limpo e renovável, o setor viverá de crise em crise, como ocorreu nos últimos cinco anos, da forte intervenção governamental congelando o preço da gasolina na bomba, provocando a perda de competitividade do etanol hidratado junto ao consumidor, a falência e a recuperação judicial de muitas empresas do setor. É preciso que, a partir de agora, os empresários enxerguem um novo cenário para a produção dos combustíveis renováveis no Brasil, tendo também como suporte o acordo dos 195 países na COP 21, ocorrida recentemente na França, que decidiu por ações para limitar o aumento da temperatura média do planeta a 1,5 grau centígrado, com metas para redução das emissões de gases do efeito estufa. Isso, talvez, faça com que o setor pare de ter que se reinventar e consolide de fato uma das maiores invenções do mundo na área de combustíveis, o etanol, e na de energia, a bioeletricidade, produtos que irão fazer a diferença, se, de fato, quisermos um mundo menos poluído e mais saudável.
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o futuro da indústria sucroalcooleira A atual situação do Brasil e as turbulências visíveis a cada dia no mercado internacional nos levam a reflexões importantes. Esse modelo de gestão política ultrapassada e a condução macroeconômica reativa não nos permitirão solucionar os problemas que nos assombram no curto e médio prazo. O etanol e a gasolina ainda disputam o mercado dos consumidores de forma irracional, em que as partes envolvidas se fecham dentro dos seus ciclos e pouco interagem de forma a gerar eficiência, a favor de toda a cadeia produtiva. A irracionalidade desse processo, que provocou os estragos irreversíveis no setor sucroalcooleiro, colocou de joelhos a maior empresa nacional e não trouxe nada de novo para a solução dos problemas que enfrentaremos em um futuro próximo. Hoje, o cenário só não é mais alarmente porque, infelizmente, o País adicionará ao seu crescimento risível dos últimos anos uma nova retração do PIB em 2016. É hora de olharmos para frente e podermos aprender com os erros do passado. O setor de transportes no mundo não será o mesmo que conhecemos até o momento. Estamos diante de transformações da sociedade, dos conceitos e das prioridades, que nos afetarão de forma significativa e em uma velocidade que nunca vivenciamos. Acompanhamos, nos últimos anos, a supremacia do petróleo no setor de transportes. A matriz de transporte mundial, hoje, é baseada em combustíveis líquidos.
Esse fato ajudou a rápida expansão do etanol como alternativa aos combustíveis fósseis em todo o planeta. Compartilhando os ativos de infraestrutura foi mais fácil introduzir o etanol em larga escala nessa cadeia. Os motores a combustão interna podem se tornar peças de museus em um futuro muito próximo. A eficiência energética, com as rupturas tecnológicas que ainda estão por vir, nos trarão novidades com as quais ainda nem sonhamos. O etanol poderá ser o combustível da perfeita transição do sistema atual. Apostando nessa transição, é que há um enorme espaço para a convivência do etanol e da gasolina em nosso País, de forma racional e econômica. Estamos em um País continental, com diferenças regionais bem definidas, que deverão conviver com a infraestrutura já instalada para cada um dos combustíveis. Não temos ainda o petróleo de que necessitamos, não temos as refinarias que precisaríamos ter. O déficit de refino do País está igualmente distribuído entre óleo diesel e gasolina. As novas e caríssimas refinarias deverão priorizar a produção de óleo diesel, não contribuindo para solucionar o déficit de refino de gasolina. O planejamento do suprimento dos combustíveis torna-se imperativo. Isso deve ser feito a três mãos: o Governo Federal, congregando todas as esferas envolvidas, tais como Ministério da Fazenda, Minas e Energia, Meio Ambiente, Indústria e Comércio e Agricultura de um lado, buscando os interesses macros da nação; a Petrobras, como a maior produtora e importadora de combustíveis do País; e os Produtores de Etanol, responsáveis por uma importante parcela dos combustíveis deste País. São visões distintas que, mantidas de forma isolada, não nos levarão a nenhum lugar de forma rápida e eficiente que necessitamos.
Todos nós acreditamos que precisamos mudar este País, mudar conceitos, atitudes. Devemos deixar para trás os vícios e visão estreita de um problema se quisermos nos tornar uma Nação de verdade. "
Tarcilo Ricardo Rodrigues
Diretor da Bioagência de Fomento de Energia de Biomassa
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consultores Temos uma lacuna no mercado de combustíveis. A demanda já supera a oferta em nosso País, e, tão logo retomemos o crescimento econômico de nosso País, esse descompasso vai se alargar. A hora é agora, pois os investimentos necessários à cobertura dessa demanda são vultosos e demandam tempo em obtenção de licenças ambientais, e os prazos de construção de infraestrutura e novas plantas industriais são muito extensos. É uma excelente oportunidade de ajudarmos o País a reencontrar seu caminho de crescimento. A forma como vamos partilhar o crescimento da oferta de combustíveis entre gasolina e etanol gerará uma expansão saudável e permanente em uma longa cadeia de suprimento, gerando riqueza e segurança energética. A capacidade de moagem instalada nas usinas da região Centro-Sul, hoje, é cerca de 620 milhões de toneladas de cana, associada a uma capacidade de produção total de etanol de 30 milhões de m³, incluindo etanol anidro, e de cerca de 36 milhões de toneladas de açúcar. Acima desses valores, há necessidade de pesados investimentos para a adequação da moagem e da fabricação de etanol e açúcar.
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Caso a demanda não seja suprida pelo setor sucroalcooleiro, haverá a necessidade de se importar toda essa demanda adicional, compartilhando a limitada infraestrutura de importação e exportação de combustíveis líquidos, agravada pela enorme extensão territorial de nosso País, a consequência natural serão os aumentos dos custos e a desotimização de toda a cadeia. Esse é o grande desafio, que não pode mais ser postergado, imaginando-se que, de forma natural, as forças de mercado serão suficientes para equacionar o problema. Não é essa a realidade, onde, hoje, cada setor envolvido toma as suas decisões de forma isolada, muitas vezes tentando sobreviver, como é a atual situação tanto da Petrobras quanto do setor sucroalcooleiro. As palavras de ordem são planejamento, otimização, racionalização, eficiência, eficácia e visão de futuro. Devemos enxergar esses desafios como uma grande oportunidade. Oportunidade de gerar riqueza através do investimento seguro e planejado. Todos nós acreditamos que precisamos mudar este País, mudar conceitos, atitudes. Devemos deixar para trás os vícios e visão estreita de um problema se quisermos nos tornar uma nação de verdade. Ajustar a ideia setorial e pensar de forma agregada, no conceito de cadeia de suprimento. O consumidor que comprou a ideia do carro flex tem que ter a sua disposição o melhor combustível, de forma competitiva, para que ele possa exercer a opção que um dia, sem saber, ele comprou.
ensaio especial
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previsibilidade e gestão de riscos A evolução dos preços do açúcar e do etanol, fundamentada na queda internacional dos estoques de açúcar, indica que, após vários anos de grandes dificuldades, começamos a viver dias melhores na indústria sucroenergética. Esse fato leva a crer que os investimentos no setor serão ampliados. A busca por eficiência e competividade estará no foco dos empreendedores, e os processos de gestão corporativa não poderão deixar de contemplar a análise e a gestão de riscos assumidos ao se incrementarem investimentos num setor que passa por desafios significativos. Assim como qualquer empresa, os riscos devem ser monitorados por meio de sistemas de controle. No entanto não me refiro apenas aos processos administrativos, financeiros, fiscais, de controladoria, de administração de recursos humanos e de controle de ativos, assim como de planejamento estratégico. No caso do setor sucroenergético, refiro-me à necessidade de gerenciar, também, outros riscos, como os de natureza operacional e de negócios. Ainda vivemos os reflexos da crise financeira internacional associados a um momento em que o apoio ao crescimento do etanol na matriz energética nacional foi descontinuado, e, além disso e de forma concomitante, ocorreram situações climáticas e operacionais desfavoráveis. A intensificação do processo de mecanização agrícola num momento de dificuldade financeira impactou fortemente a produtividade, cuja recuperação exigiu elevados investimentos. O setor havia acreditado em perspectivas excepcionalmente favoráveis, fez elevados investimentos e, quando houve uma reversão dessas expectativas, viu-se envolvido por uma crise cujo tempo de duração não se esperava ser tão longo.
Houve, então, uma associação de riscos de planejamento estratégico, risco cambial e de disponibilidade de crédito e riscos climáticos. A administração dos preços da gasolina e do diesel, a eliminação da Cide (Contribuição sobre Intervenção no Domínio Econômico) e a diminuição da mistura de etanol na gasolina, por exemplo, acabaram tendo forte impacto na atividade. Além desses, os riscos associados à insegurança jurídica quanto a aspectos ambientais, trabalhistas e de segurança no trabalho pesam significativamente sobre o setor que, devido à complexidade de suas operações, acaba incorrendo em custos adicionais de conformidade. Mesmo em um cenário tão complexo de administração de riscos, muitos grupos empresariais conseguiram alcançar o equilíbrio, o que significa que conseguiram administrar suas operações de modo a minimizá-los. O conhecimento dos casos de sucesso e a sistematização de suas decisões são importantes para a construção de modelos de gestão eficiente. A importância da operação agrícola no setor sucroenergético é muito grande. O adequado conhecimento e o monitoramento dos principais indicadores de performance operacional podem minimizar riscos mediante ações preventivas. É necessário conduzir uma série de perguntas para se obter a clara compreensão dos riscos que tornam o setor vulnerável, que podem ser feitas conforme os exemplos a seguir: Qual o risco de queda no fornecimento de matéria-prima devido à concentração de fornecimento de determinado parceiro ou fornecedor? Qual o risco que se corre se uma determinada variedade de cana for atingida por uma doença ou praga? Qual o risco climático em determinada região? Os preços do petróleo e nossa taxa de câmbio permitirão que o etanol permaneça importante em nossa matriz energética? Que curvas de sensibilidade podemos traçar a respeito? Seria aplicável diversificarmos nossa produção? Produzir em nossas plantas apenas etanol é razoável? Devemos nos transformar em unidades produtoras realmente flex, produzindo açúcar, etanol anidro e hidratado, energia do bagaço, etanol de segunda geração, etanol para a indústria química, açúcar orgânico, leveduras,
Mesmo em um cenário tão complexo de administração de riscos, muitos grupos empresariais conseguiram alcançar o equilíbrio, o que significa que conseguiram administrar suas operações de modo a minimizá-los. "
Manoel Vicente Fernandes Bertone
Especialista em agronegócio da Deloitte
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ensaio especial etanol de milho, proteínas para alimentação animal (DDG – no caso do etanol de milho), bagaço peletizado para exportação? Que planos podemos traçar visando a essa diversificação e que mix de produtos adotar? O etanol de segunda geração é prioritário em relação à energia elétrica gerada pelo mesmo bagaço? Quanto tempo seria razoável durar nossa safra diante de nossas condições climáticas e pluviométricas? Quais os riscos de excedermos esse período considerado ideal? E a lista de perguntas possíveis não para nesses pontos. A irrigação de lavouras faz sentido, considerado o caso particular de cada unidade? Até que ponto é razoável estendermos a longevidade de nosso canavial, considerando produtividade, tipo de solo e condições climáticas típicas de nossa região? É razoável pensarmos que pode ser implementada uma política energética contemplando apenas um tipo de etanol? Quais os riscos que essa prática poderia nos trazer? É o momento de pensarmos em aquisições? O momento para consolidações de unidades retornou? Como estamos quanto aos riscos fiscais e tributários no caso de aquisições? Há oportunidades a esse respeito? E agora, neste momento ainda de grande fragilidade, como investir se a indústria de base se encontra tão frágil? Que direção devemos tomar em nossos negócios considerando variáveis tão importantes e difíceis? Os acionistas, por meio dos Conselhos de Administração, têm controle sobre a natureza dos riscos assumidos pela direção da empresa? O agronegócio está habituado a conviver com vários riscos, embora, muitas vezes, o faça sem o monitoramento adequado, simplesmente os aceitando e, posteriormente, pagando pelas ocorrências. Num momento em que se repensam investimentos e que se busca “reinventar” a atividade, há que se considerar os riscos e, mais do que simplesmente aceitá-los, passar a gerenciá-los, conhecendo-os e procurando minimizá-los. O claro conhecimento dos riscos e a sistematização de sua análise, nos níveis adequados de governança corporativa, são essenciais à prevenção. Mesmo no caso dos riscos nos quais a organização não tem influência direta, como câmbio e taxas de juros, é conveniente que ocorra um monitoramento sistemático e se definam políticas que os minimizem. No setor agrícola, temos grandes oportunidades. Tecnologias já disponíveis ainda não puderam ser plenamente adotadas, dadas as limitações de investimentos: agricultura de precisão, compatibilização adequada das lavouras às práticas de mecanização, uso de drones, busca
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Opiniões pela produtividade agrícola de três dígitos, adoção de mudas pré-brotadas ao menos nos viveiros, diversificação de variedades plantadas visando à diminuição de vulnerabilidades e aumento de produtividade. Quanto tudo isso custa? Para onde vamos? Considerando casos isolados de adoção de novas tecnologias, o futuro já se faz presente! Riscos de produção agrícola são gerenciados com procedimentos adequados à situação dos ambientes de produção. Boas práticas agrícolas minimizam riscos de produção, mas sabemos que “risco zero” é impossível na agricultura. Quanto ao risco de preços, há eficientes mecanismos de proteção no mercado por meio de derivativos que devem ser bem dimensionados e aprovados pelos mais elevados escalões de governança corporativa. A utilização dos instrumentos financeiros adequados a cada operação pode minimizar significativamente esse tipo de risco. Financiar operações de longo prazo com fontes de curto prazo embute riscos muito elevados, assim como financiar operações de comércio com instrumentos descasados da moeda e prazos utilizados na operação comercial podem ser fatais. A alta administração das empresas deve se certificar de que os principais riscos são conhecidos e estão monitorados, procurando-se evitar que mecanismos de proteção sejam utilizados com fins especulativos. Passamos a viver um novo tempo, o da esperança fundamentada na percepção sobre o mercado futuro. Embora com enorme importância econômica e social, e ainda que o setor seja fator de geração de desenvolvimento regional, geração de emprego e renda e que contribua enormemente para a segurança e soberania nacionais produzindo alimentos e energia, sabemos que nem sempre despertará na sociedade o interesse necessário à formulação de políticas que lhe fortaleçam. Apesar dos benefícios indiretos que o setor traz consigo, comumente chamados de “externalidades positivas” (benefícios à saúde humana e do planeta, principalmente), será sempre muito difícil precificá-los e, mais difícil ainda, receber por eles. O momento exige determinação, empenho e, principalmente, a consciência de que todos teremos ainda muitas dificuldades a vencer. E não se poderão negligenciar aspectos importantes. Dentre eles, a possibilidade de desenvolvermos parcerias estratégicas que nos coloquem novamente no caminho do crescimento sustentável, financiado principalmente por meio de capital próprio e do resultado das operações. A indústria sucroenergética deve se ver, e ser vista pela sociedade, em toda a sua enorme amplitude: como produtora de alimentos, de energia elétrica, de combustível, de componentes químicos; e da utilização plena do bagaço da cana (energia elétrica ou etanol de segunda geração) e de seus resíduos, como a vinhaça. E deve ter sua importância multiplicada, se considerada a indústria de base que complementa a cadeia produtiva, base da economia de importantes regiões brasileiras. A consciência dessa visão ampla, e dos benefícios indiretos que o setor traz à sociedade, pode nos levar a um maior protagonismo na economia nacional.
A CENTRACANA é um equipamento para corte basal, desponte e aleiramento de duas leiras simultâneas de cana-de-açúcar. Acoplável à tratores "PCR" e carregadoras
CONSUMO MÉDIO DIESEL / TONELADA DE CANA 0,29 litros *
MÉDIA DE PRODUTIVIDADE (CORTE) 29,8 ton. / hora *
CUSTO MÉDIO DO CORTE COM CENTRACANA R$ 5,09 *
TRABALHA EM TERRENOS DE ATÉ 32% DE DECLIVIDADE LATERAL
MÍNIMO ABALO DE SOQUEIRAS
* dados extraídos de pesquisa. Disponível em: http://www.assiste.net.br/materias-publicadas/
LOCAÇÃO e
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