A energia da floresta - OpCP26

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ISSN: 2177-6504

FLORESTAL: celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira dez 2011 - fev 2012

floresta energética


SUCROENERGÉTICO cana-de-açúcar, açúcar, etanol e bioeletricidade

Periodicidade: Trimestral u [Jan-Fev-Mar] [Abr-Mai-Jun] [Jul-Ago-Set] e [Out-Nov-Dez] Distribuição: Todos os níveis de comando e decisão (encarregados, coordenadores, chefes, supervisores, gerentes, diretores e acionistas) de 100% das Usinas e Destilarias do país – incluindo as em construção e em projeto –, aos centros de pesquisas e universidades, às entidades, aos orgãos de governo e à todas as empresas das áreas agrícolas e industriais do setor sucroenergético de todo o Brasil.

FLORESTAL

celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira Periodicidade: Trimestral u [Dez-Jan-Fev] [Mar-Abr-Mai] [Jun-Jul-Ago] e [Set-Out-Nov] Distribuição: Todos os níveis de comando e decisão (encarregados, coordenadores, chefes, supervisores, gerentes, diretores e acionistas) das áreas florestais e industriais dos segmentos de celulose, papel, carvão, siderurgia, painéis e madeira, às universidades e centros de pesquisas, aos órgãos de governo, às entidades de classe e às empresas interessadas nas áreas florestais e industriais de todo o Brasil.

PECUÁRIA

criação e seleção de todas as raças zebuínas

Periodicidade: Trimestral u [Fev-Mar-Abr] [Mai-Jun-Jul] [Ago-Set-Out] e [Nov-Dez-Jan] Distribuição: Todos os níveis de comando e decisão das empresas interessadas na criação e seleção das raças zebuínas para a pecuária de leite, pecuária de corte, veterinários, agrônomos, centrais e laboratórios de inserminação, cooperativas, consultores pecuários, leiloeiros e frigoríficos de todo o Brasil.

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índice

a energia da floresta Editorial da Edição:

05

Celso Foelkel

Consultor, escritor - Grau Celsius

Ensaio Especial:

38

Walter de Paula Lima

Professor Titular Aposentado - Esalq-USP

Visão de Governo:

06 08

Manoel Vicente Fernandes Bertone

Secretário de Produção e Agroenergia do MAPA

Marcus Vinicius da Silva Alves

Diretor de Concessões Florestal do SFB-MMA

Empreendimentos Florestais:

10 11 12 14 16 18

Apoio à Pesquisa:

34

Cláudio H. Silva e Bruno M. Lopes Alternativas Energéticas da Cemig

Paulo Sadi Silochi

Diretor de Operações da Aperam Bioenergia

Elesier Lima Gonçalves

Presidente da ArcelorMittal BioFlorestas

Hélder Bolognani Andrade

Gerente de Pesquisa da V&M Florestal

Ronaldo Machado Corrêa Jr.

Gerente de Reflorestamento da Vetorial Siderurgia

Mario Higino Leonel

Presidente do CA da Eco Brasil Florestas

Rodrigo Eiji Hakamada

Pesquisador Florestal da International Paper

Banco de Fomento:

35

Marcos Henrique Figueiredo Vital

Economista Dpto de Meio Ambiente do BNDES

Visão Científica:

20 24 26 28 30 31 32 36

Laércio Couto

Consultor em Biomassa e Bioenergias

Francisco Morato Scatolini

Consultor da T&M Consultoria Agroflorestal

Helton Damin da Silva

Chefe Geral da Embrapa Florestas

Saulo Philipe Guerra e Kléber Lanças Professores da FCA/UNESP

Marcos Antonio Drumond

Pesquisador da Embrapa Semiárido

Mônica Caramez Triches Damaso Pesquisadora da Embrapa Agroenergia

Paulo Eduardo Telles dos Santos

Pesquisador da Embrapa Florestas

José Zani Filho

Diretor da Agriflora Mudas Florestais

Editora WDS Ltda e Editora VRDS Brasil Ltda: Rua Jerônimo Panazollo, 350 - 14096-430, Ribeirão Preto, SP, Brasil - Pabx: +55 16 3965-4600 - e-Mail Geral: opinioes@revistaopinioes.com.br Diretor de Operações: William Domingues de Souza - 16 3965-4660 - wds@revistaopinioes.com.br - Coordenação Nacional de Marketing: Valdirene Ribeiro Domingues de Souza - 16 3965-4606 - vrds@revistaopinioes.com.br - Vendas: Priscila Boniceli de Souza Rolo - 16 3965-4698 - pbsc@revistaopinioes.com.br – Beatriz Furukawa - 16 3965-4616 - bf@revistaopinioes.com.br - Apoio a Vendas: Susana Albertini Agazarian - 16 3965-4696 - saa@revistaopinioes.com.br - Jornalista Responsável: William Domingues de Souza - MTb35088 - jornalismo@revistaopinioes.com.br Freelancer da Editoria: Aline Gebrin de Castro Pereira – Priscilla Araujo Rocha - Projetos Futuros: Julia Boniceli Rolo - 16 9777-0508 - juliaBR@revistaopinioes.com.br - Feiras e Eventos: 16 3965-4616 - Forum@revistaopinioes.com.br - Correspondente na Europa (Alemanha): Sonia Liepold-Mai - +49 821 48-7507 - sl-mai@T-online.de - Desenvolvimento de Mercados na Ásia: Marcelo Gonçalez - mg@revistaopinioes.com.br - Expedição: Donizete Souza Mendonça - dsm@revistaopinioes.com.br - Estruturação Fotográfica: Priscila Boniceli de Souza Rolo - 16 9132-9231 boniceli@globo.com - Copydesk: Roseli Aparecida de Sousa - ras@revistaopinioes.com.br - Agência de Propaganda: Agência Chat Publicom - Fone: 11 3849-4579 - Tratamento das Imagens: Luis Carlos Rodrigues (Careca) - Finalização: Douglas José de Almeida - Impressão: Grupo Gráfico São Francisco, Ribeirão Preto, SP - Artigos: Os artigos refletem individualmente as opiniões de seus autores - Fotografias dos Articulistas: Acervo pessoal - Foto da Capa e do Índice: Acervo Professor Laércio Couto - Periodicidade: Trimestral - Tiragem da Edição: 4.800 exemplares Veiculação: Comprovada por documentos fiscais da Gráfica e de Postagem dos Correios - Home-Page: Leia a revista tal qual foi impresa na versão online em nosso site www.RevistaOpinioes.com.br

Conselho Editorial da Revista Opiniões: ISSN - International Standard Serial Number: 2177-6504 Divisão Florestal: • Amantino Ramos de Freitas • Antonio Paulo Mendes Galvão • Celso Edmundo Bochetti Foelkel • Helton Damin da Silva • João Fernando Borges • Joésio Deoclécio Pierin Siqueira • Jorge Roberto Malinovski • Luiz Ernesto George Barrichelo • Marcio Nahuz • Maria José Brito Zakia • Mario Sant'Anna Junior • Mauro Valdir Schumacher • Moacir José Sales Medrado • Nairam Félix de Barros • Nelson Barboza Leite • Paulo Yoshio Kageyama • Rubens Cristiano Damas Garlipp • Sebastião Renato Valverde • Walter de Paula Lima Divisão Sucroenergética: • Carlos Eduardo Cavalcanti • Eduardo Pereira de Carvalho • Evaristo Eduardo de Miranda • Jaime Finguerut • Jairo Menesis Balbo • José Geraldo Eugênio de França • Manoel Carlos de Azevedo Ortolan • Manoel Vicente Fernandes Bertone • Marcos Guimarães Andrade Landell • Marcos Silveira Bernardes • Nilson Zaramella Boeta • Paulo Adalberto Zanetti • Paulo Roberto Gallo • Plinio Mário Nastari • Raffaella Rossetto • Roberto Isao Kishinami • Tadeu Luiz Colucci de Andrade • Tomaz Caetano Cannazam Rípoli • Xico Graziano


editorial

Opiniões

a energia pode ser renovável, mas o modelo é sustentável? " Até mesmo as raízes passaram a ser cobiçadas em alguns casos. Imaginem a desgraça que isso pode representar, com toda a biomassa rica em nutrientes e carbono orgânico sendo simplesmente levada para fora do ecossistema. " Celso Foelkel Consultor, escritor e Presidente da Grau Celsius

Nas últimas décadas, o setor florestal brasileiro conseguiu desenvolver com o eucalipto, através de muita ciência e tecnologia, modelos de silvicultura de excelentes produtividades e com adequadas qualidades econômica, ambiental e social. Mesmo para as plantações de relativa curta rotação (entre seis e oito anos) e manejadas por talhadia com corte raso, as florestas têm apresentado excelentes performances nos principais indicadores de sustentabilidade. Isso é atestado pelas inúmeras certificações de bom manejo florestal e de cadeia de custódia. Em atividades de plantações de florestas, as ações mais drásticas ocorrem nas operações de plantio e de colheita florestal. As coisas acontecem dessa forma porque as atividades operacionais podem desestruturar e/ou compactar o solo, desnudar a superfície da terra, favorecer a oxidação da matéria orgânica, aumentar a erosão pelas gotas de chuva ou pelas enxurradas, impactar a microvida do solo e a sua biologia, etc. Enfim, há impactos sobre a física, a química, a biologia e sobre a água do solo. Portanto, a sustentabilidade do ecossistema florestal é mais facilmente alcançada pelo prolongamento da rotação da floresta plantada. Com isso, ficam favorecidas as condições para que os ciclos hidrológicos e biogeoquímicos ocorram de forma mais balanceada e com poucos distúrbios. As maravilhosas mágicas naturais, tais como a ciclagem de nutrientes no ecossistema, a estocagem de carbono orgânico na floresta e no solo, o desenvolvimento da biologia do solo, a saúde da flora e da fauna, a estocagem de água e a hidrologia balanceada nos ecossistemas, serão otimizadas. Isso garantirá maior tranquilidade e certeza de que as futuras gerações de florestas ou os outros usos desses solos não serão prejudicados. Recentemente, um novo modelo de silvicultura vem sendo debatido. Esse modelo encanta alguns investidores, principalmente aqueles que estão mais preocupados com retorno rápido de suas aplicações e não se preocupam com o longo prazo para os ambientes florestais. Esse modelo altera drasticamente tanto a população de árvores por hectare (aumentando) como o tempo de rotação da floresta (diminuindo). Essa nova onda de produção massiva de biomassa florestal vem sendo até mesmo incentivada e apoiada ingenuamente pelos governos de inúmeros países, os quais buscam

(a qualquer custo) substitutos aos combustíveis fósseis. Há muita gente grande acreditando nisso, até mesmo imaginando que estará fazendo um enorme bem para o planeta Terra. Entretanto, nem toda biomassa que tem a cor verde da fotossíntese possui necessariamente adequados níveis de sustentabilidade. As pesquisas sobre sustentabilidade de plantações florestais adensadas são praticamente inexistentes. Sem um adequado manejo e proteção dos ecossistemas, poderemos estar usando recursos naturais de forma muito agressiva e prejudicando a imagem de sustentabilidade duramente conquistada pelo setor de florestas plantadas até os dias presentes. Tampouco o retorno financeiro desse modelo adensado pode ser comprovado como melhor do que o obtido pelos sistemas mais tradicionais. As plantações adensadas têm como meta a máxima produção de matéria orgânica por hectare, e isso em curtos intervalos de tempo. Os milhares de árvores por hectare consomem muito do solo e colocam uma barreira para as chuvas chegarem ao chão, dentre outros tantos fatores que alteram no ecossistema. O objetivo é a máxima produção de biomassa no menor espaço de tempo possível. Casca, madeira, ramos, folhas, até mesmo a manta orgânica que cobre o solo estão na mira das máquinas que vão rapinar isso tudo para gerar energia. Até mesmo as raízes passaram a ser cobiçadas em alguns casos. Imaginem a desgraça que isso pode representar, com toda a biomassa rica em nutrientes e carbono orgânico sendo simplesmente levada para fora do ecossistema. Quais os impactos biológicos, químicos ou físicos que poderemos ter no médio e longo prazo sobre a ciclagem de nutrientes e sobre a riqueza dos solos? E sobre o regime hidrológico, outra questão angustiante a ser respondida? Um manejo de baixa qualidade ambiental seria um desastre para a eucaliptocultura brasileira, pois seus reflexos podem se propagar por todas as cadeias produtivas que se valem da madeira das florestas plantadas desse gênero de árvores. Não podemos sair trocando carbono fóssil por usos inadequados de solo, biodiversidade e água. O lado ecológico da conta da biomassa energética não pode ser pago pelos nossos solos, nem pela água de nossos recursos hídricos, nem pela biodiversidade de nossos ecossistemas.

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visão de governo

Opiniões

o que estamos fazendo e o que

precisamos passsar a fazer

Justamente no momento em que me dedico a este artigo, a agricultura brasileira vive a situação de ver se aproximar a conclusão da votação do nosso Código Florestal e a constatação de que, no último trimestre, enquanto o Brasil cresceu zero em relação ao trimestre anterior, a agricultura cresceu 3,2% na mesma base de comparação. Ou seja, não fosse a agricultura, teríamos mostrado ao mundo uma situação muito pouco confortável em termos econômicos. Não é de hoje que a agricultura tem salvado a pátria, embora só agora estejamos conseguindo chegar próximos da segurança jurídica em termos ambientais, indispensável para que esse dinâmico setor possa se desenvolver e alavancar maiores investimentos. Com a vida dedicada a agronegócio, sempre fui defensor da produção sustentável, considerados os aspectos sociais, ambientais e econômicos. E sempre reconheci a necessidade da presença do Estado na formulação de políticas públicas indutoras para que a iniciativa privada trilhe esse caminho da sustentabilidade, que elevaria o conceito da atividade junto à sociedade brasileira e internacional. Costumo denominar essa necessidade de sustentabilidade política, pois o Estado democrático de direito exige a prática da boa política. Tendo em vista essa situação de momento, particularmente interessante, e o conceito de fundo que enaltece o equilíbrio sustentável almejado para qualquer setor, anoto um dado preocupante que poucos ainda conhecem. Na última reunião do CNPE - Conselho Nacional de Política Energética, fomos alertados para que, pela primeira vez, estaríamos retrocedendo no nível de utilização de energias renováveis em nossa matriz energética, que provavelmente passará dos hoje conhecidos 47%, para perto de 44%, em parte devido à redução da participação do etanol nessa matriz e ao crescimento da demanda por energia que passou a ser suprida por outras fontes. É interessante constatarmos que, assim como as florestas não são atribuição do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, também a cana produzida pelas usinas não são financiadas pelas mesmas linhas de crédito disponíveis para os produtores independentes dessa

" na última reunião do Conselho Nacional de Política Energética, fomos alertados para que, pela primeira vez, estaríamos retrocedendo no nível de utilização de energias renováveis em nossa matriz energética, que provavelmente passará dos hoje conhecidos 47%, para perto de 44% " Manoel Vicente Fernandes Bertone Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura

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matéria-prima. Que relação têm esses vários assuntos? Em minha opinião, a falta de foco na definição de prioridades. O potencial brasileiro na formação de florestas energéticas não tem sido aproveitado a contento. Temos nos esbarrado em questões ambientais, na segurança jurídica quanto à autorização para colheita, na falta de financiamentos adequados, na insegurança quanto à origem dos investimentos, se estrangeiros ou não, assim como na insegurança ambiental que, esperamos, esteja sendo finalmente resolvida. Ainda como a cana, o que estamos fazendo para induzirmos a um melhor aproveitamento energético dos subprodutos da madeira utilizada na produção de papel e celulose, ou até das serrarias? Estão essas unidades aptas a transformar eficientemente em energia elétrica e disponibilizá-las na rede? Certamente não, assim como não há qualquer incentivo para que usinas de açúcar e etanol busquem eficiência energética através de caldeiras mais adequadas para disponibilizar energia do bagaço da cana. Ao contrário, estamos assistindo passivamente à queda da participação das energias renováveis em nossa matriz energética. Desenvolvimento e preservação ambiental podem e devem andar juntos. Agricultura e meio ambiente protegido são dois lados de uma mesma moeda, já que é o agricultor aquele que mais depende desse meio ambiente que pretendemos preservar – e ao mesmo tempo explorar com sustentabilidade – e que mais próximo dele está. O Brasil e o mundo dependem de novas florestas, as florestas plantadas. O Brasil e o mundo dependem a cada dia de mais energia, e parte dela pode advir de forma absolutamente sustentável de florestas energéticas. Também é notório que, além de dependermos de fontes adicionais de energia, nosso desenvolvimento econômico tem dependido cada vez mais da agricultura, setor que tem podido se desenvolver sem grande utilização de mão de obra, já escassa, e, diante da falta de competitividade brasileira, considerados os incrementos de nossos custos de produção e de nossa taxa de câmbio. Assim, é estratégico priorizarmos as fontes de agroenergia dentro de um agronegócio que se mostra cada dia mais necessário para o abastecimento mundial.


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visão de governo

Opiniões

reduzindo os entraves e

ampliando a oferta

" apesar de mais de 55% da produção florestal mundial ser utilizada para o suprimento de energia, as florestas ainda não são devidamente manejadas ... a maior parte dos quase 2 bilhões de metros cúbicos de madeira destinados ao uso energético não têm origem sustentável " Marcus Vinicius da Silva Alves Diretor de Concessões e Monitoramento Florestal do Serviço Florestal Brasileiro do MMA

A energia assume um papel cada vez mais relevante na economia global. Pelo fato de atuar como um fator promotor ou restritivo do desenvolvimento, a disponibilidade de energia estabelece a relação de poder entre as nações. Porém, ao mesmo tempo que a segurança energética se apresenta como uma grande preocupação, os modelos de oferta de energia adotados pelos diversos países ainda representam um enorme desafio na direção de um desenvolvimento global sustentável. As expectativas atuais indicam que a demanda mundial por energia deverá crescer fortemente nas próximas duas décadas, em grande parte impulsionada pelo crescimento das economias dos países emergentes. Isso significa dizer que todas as formas de energia são necessárias e que a oferta de todos os tipos de energia deverá crescer: renováveis, hidráulica, solar, eólica, fóssil e outras. Nesse contexto, a participação das fontes renováveis no mix de oferta de energia também terá de crescer, com o apoio decisivo dos instrumentos de política econômica e da pesquisa e inovação tecnológica. Em um cenário em que a participação das energias renováveis na matriz energética global seja cada vez mais significativa, o futuro da madeira é muito promissor. Afinal de contas, as formas convencionais de energia ainda são inacessíveis para a grande maioria da população mundial e, em muitos países, a madeira ainda é o principal energético. Aliás, é sempre bom lembrar que a madeira é o combustível mais antigo da humanidade. Ainda hoje, a energia da madeira é responsável por cerca de 7% do total da energia consumida no mundo. Grande parte desse consumo, na forma de lenha e carvão vegetal, destina-se à cocção de alimentos e, portanto, se apresenta como um ingrediente-chave para a segurança alimentar em várias nações. Contudo, a efetiva contribuição da madeira para a geração de energia é negligenciada mesmo por aqueles que atuam no segmento florestal. Apesar de mais de 55% da produção florestal mundial ser utilizada para o suprimento de energia, as florestas ainda não são devidamente manejadas e aproveitadas com efetividade para esse fim. Ao contrário, a maior parte dos quase 2 bilhões de metros cúbicos de madeira destinados ao uso energético não têm origem

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sustentável. São processados de maneira inadequada – com baixa agregação tecnológica e de valor – e convertidos em energia de forma pouco eficiente. Considerando o crescimento populacional e a tendência de aumento da demanda de madeira e seus derivados para energia, torna-se imperativo o aumento da capacidade de oferta de produtos florestais. Assim, a bioenergia florestal apresenta-se como uma típica oportunidade “ganha-ganha”, pois contribui para a segurança energética, a mitigação das emissões, o estabelecimento de uma economia verde e, fundamentalmente, para a valorização das florestas, aumentando a sua competitividade, e para a ampliação do manejo florestal sustentável em escala mundial para todos os tipos de florestas. Apesar das crises econômicas e das turbulências dos mercados financeiros, o mundo continua a crescer. O Brasil, com sua economia em boas condições, uma reconhecida aptidão para a produção primária e 60% do seu território cobertos com florestas, deve ampliar vigorosamente os investimentos no setor florestal a fim de se apresentar para o mundo como o maior produtor de bioenergia florestal. Para tanto, será necessário reduzir os entraves ao manejo florestal – empresarial, comunitário e familiar –, ampliar a oferta de florestas naturais para a produção sustentável e a área de florestas plantadas e agregar tecnologia aos processos produtivos florestais. Além disso, deve-se ajustar o marco legal e institucional federal e prover os incentivos políticos e econômicos necessários para o País alcançar a liderança no mercado global de energia da madeira. Especificamente, destacam-se os esforços do Governo Federal para disponibilizar milhões de hectares de florestas naturais na Amazônia para a produção sustentável de bens e serviços florestais, por meio da concessão de florestas públicas federais. Essa política pública inovadora, ainda que recente, tem demonstrado ser muito promissora para o estabelecimento de uma economia de escala de base florestal que privilegie produtos de maior valor agregado, maximizando o aproveitamento do recurso e dos subprodutos ao longo da cadeia produtiva. Assim, espera-se que essas florestas também sejam parte significativa da solução para a questão energética desse século.


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empreendimentos florestais

espaçamento

adensado

A demanda crescente de energia elétrica, ocasionada pelo desenvolvimento econômico do País, bem como a necessidade de uso de combustíveis limpos e sustentáveis intensificaram o interesse nas chamadas florestas energéticas. São assim identificadas por possibilitarem alta produção de biomassa em rotações curtas – 3 a 4 anos, contra os 7 anos tradicionais. As florestas energéticas surgiram na década de 1980 em Minas Gerais. Com o fim dos incentivos fiscais e a crise do petróleo, diversas empresas, ligadas à siderurgia, optaram por trabalhar com espaçamentos adensados, para obterem uma produção de madeira precoce e um menor tempo para retorno do capital empregado no plantio de floresta. A Acesita Energética, hoje Aperam Bioenergia, naquela época, realizou plantio de 5.000 hectares de florestas adensadas na região do Alto Jequitinhonha-MG. Obteve rendimentos médios, para florestas seminais, de 60 m³/ha/ano, aos 3 anos de idade. A expectativa da produção foi atingida, mas restou a decepção pela qualidade do carvão vegetal conseguido com a madeira jovem. A densidade do biorredutor ficou abaixo de 180 kg/m³, inviabilizando seu uso em altos fornos. Esse modelo de plantio adensado, para a produção de matéria-prima para o aço, foi então abandonado, após o primeiro corte, ainda na década de 80. Mais recentemente, em dezembro de 2002, foi implantado um teste de espaçamento de plantio, sob a coordenação do professor Laércio Couto, na região de Itamarandiba-MG, cujo objetivo foi analisar o efeito do espaçamento na produção de biomassa florestal. O material genético utilizado foi o clone AEC-0601-híbrido de Eucalyptus camaldulensis x Eucalyptus grandis, de propriedade da Aperam Bioenergia. Os resultados mostraram que, à medida que se aumenta o número de plantas/ha, pela redução do espaçamento, o volume de madeira/ha também aumenta. Porém, a partir de 47 meses, o ganho de produtividade nos plantios adensados é significativamente menor quando comparado com os espaçamentos mais abertos, confirmando a necessidade de se efetuar a colheita precocemente para manter a viabilidade econômica do programa.

Resultado semelhante foi conseguido em experimento feito pela ArcelorMittal BioFlorestas, na Região de Carbonita-MG. As características edafoclimáticas também são similares: bioma cerrado, altitude de 1.000 metros e precipitação média anual de 1.100 mm. Esses resultados são bem conhecidos na literatura técnica, e o plantio em espaçamentos adensados é, sem dúvida, uma jazida a ser explorada. Os estudos ecofisiológicos de plantio adensado, especialmente para materiais genéticos de alta produtividade, ainda são poucos e precisam ser aprofundados. Uma vez que já está demonstrado o resultado dos plantios adensados, em termos de produtividade, resta acertar a questão da sustentabilidade nutricional, pois a exportação de nutrientes em florestas de ciclo curto é mais acelerada. Essa barreira, no entanto, será facilmente ultrapassada, pois o Brasil detém tecnologia para tanto. A produção de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar é uma realidade no Brasil. O uso de cavaco de madeira para manter a produção de energia elétrica na entressafra da cana é uma saída viável e se poderia dizer até confortável. A floresta energética, sem dúvida, será a fonte complementar a ser agregada. Outra jazida em Minas Gerais, pronta para ser explorada, é a produção de energia elétrica através do aproveitamento dos gases gerados na carbonização da madeira de eucalipto. Com o aproveitamento da energia desses gases, é possível obter até 1.000 watts por tonelada de carvão produzido. Uma planta, para produzir energia elétrica a partir da queima dos gases da carbonização, gera também melhoria nas emissões atmosféricas, além de fornecer energia térmica para secagem da madeira a ser carbonizada, aumentando o rendimento da relação madeira/carvão e diminuindo significativamente o custo de produção desse insumo. A cogeração, nesse caso, aumentará a competitividade da siderurgia a carvão vegetal, reafirmando a capacidade de produção de aço verde, diferencial da competência técnica do setor no Brasil. A utilização da biomassa na produção de energia elétrica e a adoção de florestas adensadas de ciclo curto, em breve, serão uma realidade que contribuirá para solidificar a liderança tecnológica do País no cultivo de árvores de eucalipto.

" A produção de energia elétrica a partir do bagaço de cana-de-açúcar é uma realidade no Brasil. O uso de cavaco de madeira para manter a produção de energia elétrica na entressafra da cana é uma saída viável e confortável. "

Paulo Sadi Silochi Diretor de Operações da Aperam Bioenergia

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Opiniões

a energia da floresta Um dos maiores desafios do nosso século é a geração de energia renovável e sustentável. É reduzir, ou até mesmo eliminar, a dependência do combustível fóssil. Está aí mais uma grande oportunidade para o setor florestal brasileiro. O Brasil tem destaque no cenário mundial pelo excelente desempenho do setor florestal, resultante das especiais condições edafoclimáticas e pela tecnologia desenvolvida e aplicada. Termos 6.510.693 hectares de florestas plantadas renováveis, dos quais 4.754.000 ha de eucalipto. O setor responde por 7,5% do PIB e gera 4,7 milhões de empregos. Produtos como madeira, celulose, papel, carvão vegetal, óleos essenciais e energia são gerados para atender às demandas da sociedade. Neste artigo, vamos focar energia. O desenvolvimento está, historicamente, atrelado à geração de energia, e, aqui, mais uma vez, a floresta pode dar sua contribuição. Os combustíveis fósseis respondem por mais de 80% das fontes de energia mundial. A demanda por energia é crescente, com destaque para os países em desenvolvimento, mas todo o mundo, hoje, volta os olhos para a energia renovável. Independentemente das regras de mercado, a demanda por energia solar, eólica, de biomassa, dentre outras, será intensificada. Com essa perspectiva, o setor florestal se destaca com suas claras vantagens competitivas e apresenta papel fundamental na contribuição para a continuidade do desenvolvimento com preservação e sustentabilidade. Apesar de o Brasil apresentar uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, com uso intenso da energia elétrica (hidráulica) e combustíveis renováveis (álcool/biodiesel), o potencial existente para crescer e, a um só tempo, promover redução de emissões de CO2, é expressivo. Em 2008, segundo o Balanço Energético Nacional, 45% da energia ofertada foi renovável, enquanto a média mundial foi de 13%. Como algumas oportunidades para a indústria de base florestal, podemos citar: 1. Produção de biomassa – madeira para energia, resíduos florestais e pellets; 2. Produção de biocombustíveis; 3. Geração de energia, substituindo combustíveis fósseis; 4. Produção de bioquímicos. Algumas tecnologias existentes já estão disponíveis em escala comercial; outras em desenvolvimento para estarem disponibilizadas ao mercado em futuro próximo. É percebido pela sociedade a favorabilidade de adoção de energia

gerada de forma limpa. Custo/preço - questão de tempo/necessidade. Essa percepção é mais evidente nos EUA e na União Europeia, onde metas de mudança da matriz energética foram estabelecidas contemplando a energia renovável. Ações diversas nos países estão sendo desenvolvidas na busca de substituição fóssil versus renovável; portanto, não importando a razão, se econômica ou ambiental, os estudos e as pesquisas evoluem para energia hidráulica, solar, eólica, biomassa, dentre outras. A geração de energia base biomassa é, de fato, uma alternativa que faz parte da solução; porém, ainda temos vários desafios a vencer, como: 1. Terras para expansão dos plantios das florestas renováveis; 2. Recursos financeiros a custos compatíveis com a atividade; 3. Desburocratização do setor; 4. Investimentos em P&D; 5. Logística; 6. Eficácia energética; 7. Reciclagem; e 8. Cogeração. Na empresa ArcelorMittal BioFlorestas, por exemplo, dentro do nosso compromisso com a sustentabilidade, assegurando a preservação ambiental e a geração de benefícios à sociedade, estamos desenvolvendo projeto específico para cogeração de energia, utilizando os gases gerados no processo de produção de carvão vegetal, com uso de 100% de madeira de florestas plantadas renováveis de eucalipto. Esse projeto é uma parceria com a Cemig, universidades e empresas especializadas. O carvão será utilizado pela ArcelorMittal – na unidade industrial de Juiz de Fora-MG, e os gases, coletados e queimados, passando por turbina especial que fornecerá potência para a geração de energia elétrica. Serão utilizados, adicionalmente, para queima resíduos de biomassa florestal e finos de carvão. A iniciativa está alinhada às estratégias da ArcelorMittal BioFlorestas e da Cemig – utilização de combustíveis renováveis na geração de energia. Na área de produção de carvão vegetal em MG, estima-se uma capacidade de geração de 125 MW, somente com as seis principais empresas produtoras de carvão vegetal do estado. Essa potência é equivalente à da Usina Termoelétrica de Igarapé (132 MW) ou à dos Parques Eólicos que a Cemig adquiriu no Ceará (99 MW). Essa tecnologia é inédita e demonstra que é possível gerar energia elétrica de forma limpa e sustentável. É a floresta, mais uma vez, contribuindo para o bem-estar da humanidade; como desde os primórdios da civilização.

" na área de produção de carvão vegetal em MG, estima-se uma capacidade de geração de 125 MW, somente com as seis principais empresas produtoras de carvão vegetal do estado "

Elesier Lima Gonçalves Diretor Presidente da ArcelorMittal BioFlorestas

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empreendimentos florestais

Opiniões

carvão vegetal

um dos melhores produtos da floresta renovável " o alcance desse plano de expansão permitirá um suprimento das unidades de produção de tubo de aço no Brasil, com energia originada de fonte renovável, consolidando-se como um processo de produção de aço com o menor impacto ambiental do que qualquer outro " Hélder Bolognani Andrade Gerente de Pesquisa da V&M Florestal

As florestas plantadas, por meio de sua biomassa, propiciam a geração de diferentes fontes de energia, e essa versatilidade abrange desde o emprego direto da madeira até a utilização de produtos e/ou subprodutos. Atualmente, os trabalhos que visam ao plantio de florestas mais adensadas para a produção de pellets estão sendo intensificados, com o objetivo de gerar energia. Tal medida demanda novos materiais genéticos mais adaptados a esse manejo, bem como tecnologias de colheita e processamento da madeira. Assim, dependendo do produto a ser obtido, diferentes tecnologias de manejo e colheita florestal serão desenvolvidas e adotadas. A opção por florestas energéticas se deve, além das condições brasileiras para o desenvolvimento da eucaliptocultura, à busca e ao emprego de fonte de energia renovável que apresente um equilíbrio no balanço de emissões e retenções de carbono. Quando o produto a ser obtido é derivado da madeira, que é o caso do carvão vegetal, os objetivos principais são a formação de florestas energéticas e a transformação destas em biorredutor. Nesse caso, além das pesquisas na área de silvicultura, é necessário investir na área de carbonização. Algumas particularidades são consideradas na formação de florestas para produção de carvão vegetal, como o desenvolvimento de materiais genéticos com maior densidade básica da madeira e teores de lignina mais elevados, técnicas de manejo que possibilitem o desenvolvimento de árvores com um diâmetro médio que otimize os processos de colheita, transporte e transformação da madeira em carvão. Assim, plantios com alta ou baixa densidade de plantas por área não são adequados à produção de carvão vegetal, pois resultarão em diâmetros da madeira abaixo ou acima do adequado para o aperfeiçoamento do processo de carbonização. Visando atender a esses parâmetros e a outros que afetam a produção do biorredutor, diversos trabalhos nas áreas de melhoramento genético, nutrição, manejo e proteção florestal vêm sendo desenvolvidos há mais de 40 anos. A atuação conjunta dessas áreas tem propiciado a formação de florestas sustentáveis de alto potencial energético. Quanto às melhorias no processo de conversão da madeira em carvão, com atenção especial à qualidade do produto final, diversas linhas de pesquisa vêm sendo desenvolvidas.

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Os resultados obtidos ao longo dos anos são visíveis, apresentando uma evolução significativa na capacidade de suprimento e na qualidade do carvão vegetal, que é empregado na produção de diferentes produtos, como, por exemplo, o aço. Embora tenhamos alcançado excelentes resultados nos processos de transformação da biomassa em carvão com as tecnologias desenvolvidas nos fornos de alvenaria, ainda há espaço para novos desenvolvimentos tecnológicos no parque de fornos. Também é possível promover o surgimento de tecnologias inovadoras no processo de carbonização que possibilitem a otimização do potencial energético das florestas, resultando em ganhos ainda mais significativos na conversão da biomassa em energia, para ser utilizada nos altos fornos das empresas. Além de tudo isso, deve-se ressaltar que, para se atingir um desenvolvimento satisfatório na gestão de florestas energéticas, as empresas, de forma geral, trabalham com um planejamento a longo prazo aliado a um ciclo contínuo de investimentos, com grande ênfase no aprimoramento constante dos recursos humanos. Uma das empresas que apresenta uma opção clara pelo biorredutor originado de florestas renováveis é a V&M Florestal. Dentro desse conceito, a empresa tem demonstrado sua capacidade efetiva de contribuição para a formação de uma matriz energética mundial mais limpa, com investimentos em novas unidades de produção, bem como na expansão das existentes. O alcance desse plano de expansão permitirá um suprimento das unidades de produção de tubo de aço no Brasil, com energia originada de fonte renovável, consolidando-se como um processo de produção de aço com o menor impacto ambiental do que qualquer outro.



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podemos ser o líder mundial de

florestas energéticas

Florestas são fontes energéticas por essência: limpas, sustentáveis e seguras, compatíveis com a maioria dos solos e com a faculdade de transformar o árido e escasso em riqueza verde. Penso que florestas, do ponto de vista da sustentabilidade, são um bem de importância ímpar. Hoje, com o domínio tecnológico alcançado à custa de extrema dedicação de todos ligados à atividade de silvicultura, nos tornamos capazes de produzir florestas em locais pouco favoráveis ao desenvolvimento de outras atividades, propiciando substancial melhora do poder aquisitivo e da qualidade de vida de populações, em regiões onde, num passado recente, compartilhavam um horizonte restrito. Atualmente, podemos verificar, com facilidade, o forte desenvolvimento de cidades que, outrora, se ressentiam da escassez de possibilidades, sustentadas, agora, por florestas em seu entorno, que propiciaram ou propiciarão o desenvolvimento industrial, voltado, dentre outros, para a indústria madeireira, de celulose, papel ou siderurgia a carvão vegetal. Importante notar que existem dois tipos de indústrias orbitando as florestas: as que as criam para depois se implantarem e as que se implantam em locais onde elas já existem. Certo é que, em ambas as situações, o que se vê é geração empregos, com melhoria da condição social como um todo e com preservação enfática do meio ambiente, ao contrário do que alguns criticam. No âmbito profissional, conduzo o plantio de florestas para a produção de carvão vegetal – fonte de energia para o processo produtivo do ferro gusa –, de forma sustentável, para as usinas siderúrgicas do Grupo Vetorial. Florestas que trazem o equilíbrio necessário ao desempenho da atividade como indústria de transformação primária, que, por sua vez, é base para outras indústrias, como a da construção civil, automobilística e diversas outras, com papel de grande relevância social. Segundo publicação de 2010 do Documento técnico Siderurgia no Brasil, publicado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos - CGEE, organização ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação - MCTI, "a siderurgia a carvão vegetal é uma peculiaridade da indústria siderúrgica brasileira". Essa publicação demonstra, de forma evidente,

" no mundo, três bilhões de pessoas utilizam florestas nativas como fonte de energia e o Brasil é o terceiro colocado nesse ranking, atrás apenas da China e da Índia, tendo a madeira como sua quarta fonte energética, atrás apenas do petróleo, cana-de-açúcar e hídrica " Ronaldo Machado Corrêa Jr. Gerente de Reflorestamento da Vetorial Siderurgia

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a importância das florestas como fonte energética para uma siderurgia sustentável ambientalmente. Esse aspecto diferencia o Brasil, propiciando a condição de produtor mundial de ferro gusa e aço verde. Atualmente, com o aprimoramento genético das florestas de eucalipto, resultado de vasto investimento em pesquisas, principalmente da iniciativa privada, com resultados obtidos ao longo de anos, dada a característica do longo ciclo das florestas, alcançamos ganhos volumétricos substanciais e, da mesma forma, ganhos em energia contida por hectare florestado. O Brasil possui forte aptidão para a silvicultura, com extensas áreas disponíveis e carentes de recuperação, fruto da degradação sofrida ao longo de anos de exploração de baixa tecnologia em diversos segmentos. Precisamos, agora, de forte apoio governamental para que possamos expandir verticalmente nossas áreas plantadas, buscando substituir o consumo de madeira nativa para energia, que, hoje, ainda é considerável, para buscarmos a autossuficiência em florestas plantadas, de forma ambientalmente correta, socialmente justa e economicamente sustentável. Adicionalmente e de forma muito importante, ainda em fase final de desenvolvimento, a partir dos gases gerados no processo de carbonização, temos a possibilidade da geração de energia elétrica em escala industrial, seguindo os mesmos preceitos ambientais, sociais e econômicos que orientam os plantios de florestas e os modernos conceitos de carbonização. Por fim, faço referência a dados publicados pelo Departamento de Pesquisas da Esalq-USP que apontam que, no mundo, três bilhões de pessoas utilizam florestas nativas como fonte de energia e que o Brasil é o terceiro colocado nesse ranking, atrás apenas da China e da Índia, tendo a madeira como sua quarta fonte energética, atrás apenas do petróleo, cana-de-açúcar e hídrica. Podemos, assim, entender com facilidade e, mais uma vez, de forma conclusiva, dizer que, com o devido apoio do Governo Federal, poderemos alavancar e liderar, diante do mundo, o plantio e utilização de florestas energéticas e, com isso, colhermos benefícios sólidos para a sociedade.



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florestas para a energia do A silvicultura brasileira está diante de novo desafio. Produzir, competitivamente, biomassa para geração de energia em quantidade e qualidade. Depois de assegurar condições suficientes para que setores industriais se posicionassem com destaque no mercado internacional, como os de celulose, papel e chapas, surge outra grande oportunidade para os empreendedores nacionais. Na economia globalizada em que vivemos, na procura incansável por energias limpas e na preocupação mundial com os efeitos das mudanças climáticas, a produção de biomassa de florestas plantadas é mais que um negócio, é uma necessidade para a construção de um mundo com melhores perspectivas. Basta lembrarmos que a biomassa florestal é fonte renovável e tem balanço nulo na emissão de gases de efeito estufa quando usada para energia. O Brasil tem condições excepcionais para se colocar na dianteira desse processo de produção energética. Embora países como a Rússia e a China estejam investindo na expansão de florestas para produção de energia renovável, temos aqui um conjunto de características únicas para liderar a produção mundial. Entre elas, a localização geográfica, a adaptação de espécies florestais e o alto nível de conhecimento em silvicultura.

futuro

É interessante lembrar que a indústria nacional de celulose e papel teve uma significativa participação na instalação de uma base florestal para fins produtivos. Para tanto, reuniu os melhores insumos e desenvolveu tecnologias a ela relacionadas, como manejo florestal, melhoramento genético, monitoramento e preservação ambiental, entre outros pontos que garantiram a competitividade e o avanço do setor em termos mundiais. Tal capital de conhecimento acumulado deverá ser aplicado na criação de novas tecnologias voltadas para a geração de energia que utilize a madeira como matéria-prima. É o caso da biomassa originada de árvores cultivadas especialmente para essa finalidade, com características próprias, como ciclo reduzido de colheita e maior poder calorífico. Sem esquecer, é claro, de alinhar esse cultivo à responsabilidade socioambiental. Já há exemplos nessa direção, como as recém-iniciadas atividades da Suzano Energia Renovável, no Maranhão. A partir de florestas plantadas de eucalipto próprio para produção de energia, a empresa produzirá pellets (partículas desidratadas e prensadas de madeira moída), com alto poder calorífico e que servem como combustível para caldeiras residenciais, industriais e usinas termoelétricas, especialmente no exterior.

" embora países como a Rússia e a China estejam investindo na expansão de florestas para produção de energia renovável, temos aqui um conjunto de características únicas para liderar a produção mundial " Mario Higino Leonel Presidente do Conselho de Administração da Eco Brasil Florestas

Com uma área de cerca de 7 milhões de hectares de florestas plantadas de alta produtividade e potencial de crescimento, a produção de biomassa para energia no País apresenta perspectivas animadoras. Além disso, esse segmento da bioeconomia pretende ganhar espaço na composição da matriz energética brasileira. Já existem diretrizes governamentais que prevêem a expansão da utilização de florestas para esse fim. Assim, torna-se necessário o investimento em pesquisas científicas e desenvolvimento de tecnologias que sustentem econômica e ambientalmente a produção de biomassa. Nesse sentido, um bom exemplo é o projeto Florestas Energéticas, esforço multi-institucional liderado pela Embrapa Florestas com a participação da Esalq-USP e cerca de 70 empresas públicas e privadas de todo o país, inclusive dos setores florestais e agrícolas. O objetivo é alavancar pesquisas na área de expansão de plantios de florestas e de tecnologias inovadoras para o uso da madeira na produção de biomassa.

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Alguns dados reforçam o cenário de oportunidades para o estabelecimento da geração de energia a partir de fontes renováveis. No Brasil, as condições de crescimento para o consumo de energia derivada de biomassa são boas, especialmente no setor industrial. Segundo dados do estudo O Valor das Florestas, de autoria dos especialistas Marco Antonio Fujihara, André Guimarães, Roberto Cavalcanti e Rubens Garlipp, entre 2000 e 2009, o consumo de energia oriunda de biomassa registrou um aumento de 65%. A maior parte desse consumo (47,5%) ocorreu no segmento industrial. Também no final desse período, a participação das fontes de energia renováveis na matriz energética passou a ser de 47,3%, dos quais cerca de 10% representados por energia obtida de biomassa florestal, lenha e carvão vegetal, segundo dados do Balanço Energético Nacional de 2010. Sem dúvida, há espaço para uma maior participação dos recursos florestais no mercado de geração de energia sustentável no País.



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inovação tecnológica

há mais de um século

O uso da madeira como fonte de energia caminha lado a lado com a existência do ser humano. Foi o fogo da queima da lenha que proporcionou a vida em sociedade. Da energia gerada pela combustão da madeira foi possível a fundição de metais, resultando na elaboração de ferramentas mais eficientes para a caça e para o cultivo agrícola. A madeira como fonte de energia também está diretamente relacionada com a ascendência e decadência das antigas civilizações. Desde o fim da era glacial, há cerca de 10.000 anos, a disponibilidade de madeira caminhou como o melhor parceiro do homem no desenvolvimento das civilizações e a sua escassez com a decadência da riqueza das sociedades. No Brasil, as florestas plantadas tiveram a sua origem no interior do estado de São Paulo, com o intuito de, entre outros, servir como fonte de energia para a antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Graças à visão de um notável estudioso chamado Edmundo Navarro de Andrade, que, no início do século XX, após andanças mundo afora, selecionou as essências florestais com potencial de adaptação às condições físicas e climáticas do Brasil. Dentre os gêneros testados, estava o eucalipto, que, segundo ele, “... de maneira peremptória e insofismável é a essência para o reflorestamento do País”. Os números mostram que ele estava certo. O Brasil é líder mundial em área e produtividade de florestas plantadas de eucalipto, e, dessa área, 62% são destinados à produção de madeira para energia. Portanto, o uso das florestas plantadas para fins energéticos, definitivamente, não é algo inovador. Então, o que de fato seria a “atual” inovação tecnológica? Os plantios adensados? Voltando também na história, no mesmo livro, o autor relata que: “... podemos concluir que não é aconselhável efetuar plantios inferiores a 4 m² por planta. As distâncias mais amplas apresentam as seguintes vantagens: 1. dão maior renda do capital empregado; 2. possibilitam, mais facilmente, a mecanização de várias operações agrícolas após o plantio; 3. A ocorrência de menor percentagem de árvores mortas, bem como de árvores dominadas ...”. Isso nos parece muito atual. Em estudo detalhado, realizado recentemente em áreas da International Paper, baseado em 12 repetições de um ensaio que abrange espaçamentos entre 2 m² e 40 m² por planta, observou-se que o estoque mais viável para a produção de biomassa se situa entre 900 e 1.600 plantas por hectare, com um ciclo de 6 a 8 anos. Esse manejo corresponde, em termos de espaçamento, ao conhecido intervalo que vai de 3x2m a 4x3m.

" Supondo uma necessidade anual de 100.000 ton de biomassa, a necessidade de área para plantios adensados seria 39% maior (5.922 versus 4.247 ha), e a quantidade de mudas deveria ser 431% maior (29,6 versus 5,6 milhões). Bom para os negócios de terras e de mudas, ruim para o produtor. "

Rodrigo Eiji Hakamada

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Pesquisador Florestal da International Paper

Comparando, como exemplo, um plantio adensado no espaçamento 3x0,7m e colhido aos 2 anos com um plantio convencional de espaçamento 3x2,5m colhido aos 7 anos, temos que o custo final da madeira seria 123% maior no plantio adensado (R$ 185,00 versus R$ 83,00 por tonelada de biomassa). Supondo uma necessidade anual de 100.000 toneladas de biomassa, a necessidade de área para plantios adensados seria 39% maior (5.922 versus 4.247 hectares), e a quantidade de mudas deveria ser 431% maior (29,6 versus 5,6 milhões de mudas). Bom para os negócios de terras e de mudas, ruim para o produtor. Além dos aspectos econômicos, devemos levar em consideração os impactos ambientais, principalmente em relação ao solo e à água. É preciso lembrar que o nosso sistema é mais frágil do que o modelo adotado nas florestas de clima temperado, onde a ciclagem de nutrientes, carbono e água é mais lenta e menos dinâmica, em função das baixas temperaturas. Em ecossistemas tropicais, as rotações de ciclo curto e o aumento de intervenções no solo podem acarretar desequilíbrio desses processos de ciclagem, comprometendo a sustentabilidade da produtividade florestal. Acompanhando a crescente busca por fontes renováveis de energia, a International Paper, na unidade de Mogi Guaçu-SP, inaugurará, no final de 2012, uma caldeira de biomassa que irá substituir praticamente todo o uso de combustíveis fósseis no processo fabril. O manejo adotado para essa “floresta energética” é o mesmo recomendado para a produção de madeira para celulose. O consagrado tripé da sustentabilidade – econômica, ambiental e social – fica assegurado. Para o bem do setor florestal brasileiro e da saúde das nossas valiosas florestas nativas, o uso das florestas plantadas como fonte de energia realmente é uma inovação. À “descoberta” feita há mais de um século e ao aprimoramento do manejo desenvolvido pelas diversas gerações de silvicultores cabem toda a nossa admiração e respeito. Com isso em mente, seguiremos em frente para manter a energia do nosso setor.



consultoria

Opiniões

plantio adensado

para a produção de biomassa em curta rotação " a Suzano Energia Renovável é a empresa brasileira com a maior área de plantio de eucaliptos clonais em espaçamentos adensados, para a obtenção de biomassa em curta rotação para a produção de pellets para exportação ao mercado Europeu " Laércio Couto Consultor Independente em Biomassa e Bioenergia

O eucalipto foi introduzido no Brasil com o objetivo de produzir biomassa para ser utilizada pelas locomotivas da Companhia Paulista de Estradas de Ferro em substituição à madeira das florestas nativas. Posteriormente, tornou-se a principal matéria-prima para a produção de carvão vegetal para suprir o polo siderúrgico de Minas Gerais. O avanço tecnológico e científico da eucaliptocultura permitiu que esse gênero fosse, paulatinamente, substituindo a madeira nativa nos mais diversos usos da biomassa para energia, como na secagem de grãos, na produção de cerâmicas e no uso diário como lenha nas casas no interior do Brasil. O aumento do preço dos combustíveis fosseis, aliado aos problemas por eles causados ao meio ambiente, levou a maioria dos países desenvolvidos a buscar alternativas para atenderem às suas matrizes energéticas. Assim, as energias hidráulica, eólica, solar, geotérmica, das marés e da biomassa, se tornaram, de repente, objetos de estudos por universidades e centros de P&D em todo o mundo. Por outro lado, a necessidade de mitigar a ação dos gases causadores do efeito estufa e diminuir seus efeitos nas mudanças climáticas tem levado a maioria dos países a estudar a produção de biomassa florestal em plantios adensados e de curta rotação. Países como os Estados Unidos, o Canadá e os membros da Comunidade Europeia necessitam de grandes quantidades de energia para aquecimento durante o inverno. A biomassa florestal, na forma de pellets, tem sido um componente extremamente importante na composição da matriz energética desses países. As modificações na legislação ambiental nesses países, tem elevado consideravelmente a demanda por pellets para substituição de carvão mineral nas suas usinas térmicas. O Canadá e os Estados Unidos têm sido os principais fornecedores de pellets para a Europa. O Brasil tem potencial para ser um importante player nesse mercado. O principal problema enfrentado hoje pelos potenciais produtores de pellets para exportação no Brasil seria a péssima infraestrutura de logística existente no País. Nos Estados Unidos, no Canadá e em vários países da Europa, há muito tempo já vêm sendo estudados os plantios florestais para produção de biomassa para energia em

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curta rotação (SRWC - Short Rotation Wood Crops), principalmente com espécies do gênero Populus e Salix. No Brasil, uma primeira tentativa de se plantar eucaliptos em espaçamentos adensados ocorreu no início da década de 70, em Minas Gerais, pelo setor de siderurgia a carvão vegetal. Naquela época, ainda não havia no Brasil a eucaliptocultura clonal como existe hoje. A variabilidade genética das mudas levava a uma competição intraespecífica extremamente acirrada nos plantios adensados, e os resultados não foram os esperados, levando as empresas a abandonarem aquela linha de pesquisa e desenvolvimento. A introdução da eucaliptocultura clonal no Brasil, por pesquisadores da então Aracruz (hoje Fibria) proporcionou condições para que, em 2011, se implantasse com sucesso o plantio adensado de eucaliptos clonais em Itamarandiba-MG, em um projeto piloto com o apoio da Cemig, Aneel, CNPq, ArcelorMittal, UFV e Renabio. Esse trabalho deu origem a uma tese de doutorado e duas dissertações de mestrado, além de vários trabalhos científicos e o primeiro World Bioenergy Award dado pela World Bioenergy Association a um pesquisador brasileiro. A partir do primeiro trabalho realizado com o plantio adensado de eucalitpos clonais para produção de biomassa para energia em curta rotação, várias empresas, em diferentes estados do Brasil, iniciaram plantios pilotos e novos estudos. A Ramires Reflorestamento foi uma das primeiras empresas do setor florestal a estabelecer, no Mato Grosso do Sul e no Maranhão, uma área experimental com vários clones de eucaliptos plantados em diferentes espaçamentos iniciais adensados. No setor sucroalcooleiro, a Usina Rio Pardo, de Avaré-SP, estabeleceu também uma área com 4 clones no espaçamento inicial de 3 m x 1,5 m, visando à produção de biomassa para suprimento da sua térmica de cogeração de eletricidade nos 5 meses do ano quando não existe bagaço de cana disponível. No estado de Goiás, a Comigo implantou também uma área experimental, visando à produção de biomassa de eucalipto em curta rotação para a secagem de grãos. No estado do Tocantins, a GMR Florestal foi a pioneira em um plantio



consultoria experimental de eucaliptos clonais no espaçamento de 3 m x 0,5 m. Na Bahia, a ERB - Energias Renováveis do Brasil, implantou uma grande área no espaçamento de 3 m x 1 m, com o objetivo de produzir biomassa em curta rotação para a cogeração de eletricidade e produção de vapor para empresas no Polo de Camaçari. Em Lins-SP, o Grupo Bertin estabeleceu a maior área experimental da América Latina, e talvez no mundo, plantando vários clones de eucaliptos em diferentes espaçamentos iniciais, simples e duplos, visando à produção de biomassa para cogeração de eletricidade e a fabricação de pellets. Quando se fala em escala de produção, a Suzano Energia Renovável é, sem dúvida, a empresa brasileira com a maior área de plantio de eucaliptos clonais em espaçamentos adensados, para a obtenção de biomassa em curta rotação para a produção de pellets para exportação ao mercado Europeu. Os plantios estão sendo realizados no Nordeste, onde a empresa vai implantar, também, novas fábricas de celulose de fibra curta. Observa-se que, inicialmente, o objetivo dos plantios adensados de eucaliptos clonais era, principalmente, a produção de biomassa para ser usada como fonte de energia na secagem de grãos e na produção de pellets, vapor e eletricidade. No entanto, dirigentes de empresas da área de chapas de fibras e de celulose, como a Duratex e o Grupo Orsa, demonstraram interesse em conhecer também o comportamento desses novos plantios de eucaliptos clonais, bem como a qualidade da biomassa produzida. Testes já foram realizados para a produção de pellets e chapas de MDF com a biomassa produzida a partir desses eucaliptos clonais, plantados no espaçamento de 3 m x 0,5 m e colhidos com 2 anos de idade. Os resultados foram animadores e estimularam essas empresas a continuarem suas pesquisas e a instalarem os seus próprios experimentos. Os estudos do plantio adensado parecem já ter fornecido uma base adequada para seu estabelecimento em escala comercial. Estudos ainda deverão ser realizados visando à redução dos custos de implantação e manutenção, bem como o conhecimento da parte nutricional de tais tipos de plantio e sua influência na qualidade, principalmente, dos pellets produzidos, que têm padrões bastante restritos no teor de cinzas e de cloro. No momento, as atenções se concentram no desenvolvimento de equipamentos de colheita na qual a árvore já seja transformada diretamente em cavacos, e, de preferência, deixando as folhas no campo, para que haja uma ciclagem natural de nutrientes, pelo menos de uma parte deles.

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Opiniões

Em outros países já existem equipamentos para a colheita de Populus e Willows, mas não para o eucalipto. Recentemente, uma empresa de equipamentos agrícolas trouxe para o Brasil, uma colheitadeira para ser testada na colheita de eucaliptos clonais em plantio adensado e de curta rotação, visando a produção de biomassa para energia. Até o momento a máquina parece apresentar boas soluções e com as modificações necessárias poderá ser utilizada para a colheita florestal de plantios energéticos de eucaliptos em grande escala. Uma universidade brasileira e um grupo de empresas do setor florestal estão iniciando os testes com esse equipamento. Novas pesquisas nessa área deverão cuidar da utilização da biomassa para a produção de carvão vegetal e de biocombustíveis pelo processo de pirólise da madeira e de etanol a partir da hidrólise enzimática. Por outro lado, outras espécies florestais que não necessariamente do gênero Eucalyptus estão sendo também testadas, principalmente para terras localizadas em regiões com baixo índice de precipitação pluviométrica, como, por exemplo, a Leucena. A Renabio - Rede Nacional de Biomassa para Energia, juntamente com o Departamento de Engenharia Florestal da Universidade Federal de Viçosa, por meio da Sociedade de Investigações Florestais, têm sido as principais instituições envolvidas nas pesquisas para a produção de biomassa a partir do plantio adensado de eucaliptos clonais em curta rotação. Importante mencionar também o trabalho desenvolvido pela Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri, do NIPE – Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético, da Unicamp, da IEA Bioenergy, da Universidade de Toronto, da World Bioenergy Association e nas empresas que apoiaram a Renabio e que replicaram o experimento original, com as inovações e modificações necessárias para o avanço da área.



nutrição

Opiniões

floresta adensada:

alguns aspectos a considerar

O potencial de produção de biomassa pelas plantas é condicionado basicamente pelos seguintes fatores: clima (quantidade e distribuição das chuvas, temperatura e luminosidade), solo (atributos físicos e químicos) e material genético (adaptação local e capacidade produtiva), sendo que a vegetação nativa é o reflexo desse potencial em condições naturais. Os atributos do solo, notadamente os de caráter químico, podem ser manejados através de fertilizações que garantam o suprimento adequado de nutrientes para o pleno desenvolvimento das plantas. Da mesma forma, o plantio de materiais genéticos adaptados às condições edafoclimáticas locais também concorrem para o incremento da produtividade. Ou seja, esses dois fatores condicionadores do crescimento das plantas podem ser modificados ou ajustados de forma a elevar o potencial de produção. Já o clima, cujas características só podem sofrer alguma modificação através da utilização de técnicas de custo elevado e restrito, como irrigação e casas de vegetação, torna-se o principal fator determinante desse potencial, ou seja, é o grande gargalo ao qual devemos ajustar a densidade populacional e o layout ou espaçamento de plantio, de forma a maximizarmos a eficiência de uso da água disponível no solo. Nesse sentido, o sucesso do plantio de florestas para produção de biomassa para fins energéticos com a utilização de toda a parte aérea das plantas (folhas, galhos, casca e lenho), e que tem como premissa a redução do ciclo de crescimento através do adensamento dos povoamentos, estará fortemente associado à magnitude do déficit hídrico local. Diversas empresas já se depararam com uma grande mortalidade de árvores em períodos de déficit hídrico acentuado devido a uma densidade populacional acima da capacidade do sítio de disponibilizar água às plantas. Além do número de árvores/ha, um espaçamento que privilegia o adensamento na linha de plantio em detrimento de uma distribuição mais uniforme das plantas em área total vai de encontro ao uso eficaz da água disponível. Outros aspectos importantes a serem considerados no manejo e na sustentabilidade da produção de florestas energéticas em que toda a parte aérea das plantas será retirada da área são os impactos no balanço de nutrientes e na conservação dos solos e de suas características físicas. No que concerne ao balanço de nutrientes (adicionado exportado), se compararmos a colheita de toda a biomassa da parte aérea com apenas a do lenho ou a do lenho e da cas-

ca, necessitariam ser repostos, em kg/ha, de forma a garantir a sustentabilidade da produção de 135 t/ha de biomassa da parte aérea:

Além dessa maior necessidade de reposição de nutrientes para cada ciclo ou rotação com a colheita de toda a biomassa da parte aérea, a redução no ciclo de crescimento através do adensamento do plantio, por exemplo, de 6 para 3 anos, mantendo-se a mesma produção de biomassa, implicará um aumento substancial na necessidade de fertilizações para que a sustentabilidade da produção seja mantida. Com relação à remoção de nutrientes decorrentes das perdas de solo por erosão relativas à manutenção ou não dos resíduos da colheita (folhas + galhos + casca) distribuídos de maneira uniforme na área (fator C, a cobertura vegetal, da Equação Universal da Perda de Solo), estudos realizados no estado de São Paulo, embora considerem condições de solo, clima e topografia específicas, dão uma boa ideia das diferenças nas perdas de nutrientes, em kg/1000 ha, em função do tipo de colheita, considerando-se um período de 25 anos e ciclos de 7 anos:

Diversos trabalhos de pesquisa também mostram claramente o efeito da presença de resíduos da colheita sobre a superfície do solo na redução de sua compactação pelo tráfego de máquinas. Ciclos curtos implicam mais colheitas num mesmo intervalo de tempo. Se associados à remoção de toda a biomassa, certamente elevarão os riscos de compactação e degradação de suas propriedades físicas. Não se trata aqui de dar um “banho de água fria” nas florestas energéticas de plantios adensados, mas sim de levantar questões relacionadas à sua adaptação às condições edafoclimáticas locais e aos impactos peculiares ao seu manejo, de modo a contribuir para que sejam viáveis com produções sustentáveis.

" não se trata aqui de dar um “banho de água fria” nas florestas energéticas de plantios adensados, mas sim de levantar questões relacionadas à sua adaptação às condições edafoclimáticas e aos impactos peculiares ao seu manejo " Francisco Morato Scatolini

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Consultor da T&M Consultoria Agroflorestal



visão estratégica

a energia da floresta Diz a mitologia grega que Prometeu roubou o fogo de Zeus e o apresentou ao homem e o ensinou a usar. Por esse ato, Zeus condenou-o a ficar acorrentado a uma rocha por toda a eternidade. Mitologia à parte, desde que o homem dominou o fogo, a madeira passou a fazer parte da matriz energética mundial. Fonte de energia renovável, sustentou como combustível principal os avanços da chamada Revolução Industrial, nas suas diversas edições, desde o século XVIII. No Brasil, a partir da década de 1950, no início do crescimento da indústria nacional, do setor agropecuário e do princípio da "explosão” demográfica, incentivaram a busca de alternativas energéticas como o petróleo, álcool, eletricidade, energia nuclear, eólica, entre outros, resultando na diminuição da dependência da madeira como alternativa energética. Ressalte-se que, em termos potenciais, o percentual de participações da madeira na matriz energética passou de 20% a 30%, a década de 1960 para 14,8% nos dias atuais. A queda observada pode ser atribuída à urbanização da população que passou a consumir mais energia elétrica e substitui a madeira na cocção de alimentos. Esses fatos não contribuíram para a diminuição do volume de madeira consumido, pois a aumentou a necessidade de energia em função do aumento das atividades industriais. As florestas naturais sempre foram as principais fornecedoras de matéria-prima para energia. O aumento da consciência ambiental e a necessidade de produção de madeira levaram à busca de alternativas de plantio das chamadas florestas para produção de energia, fato que ajudou a impulsionar a ciência florestal a produzir conhecimentos silviculturais e a identificar espécies adaptadas a plantios puros, para que, de forma sustentável e competitiva, substituíssem as florestas nativas como fonte fornecedora de matéria-prima. O setor produtor de madeira para energia evoluiu, responde pelo fornecimento de aproximadamente 51% das necessidades atuais e busca novas alternativas, inserindo-se aí os bicombustíveis (bio-óleo, celulignina, alcool); técnicas que melhor aproveitem a energia da madeira; briquetagem; equipamentos mais eficientes, entre outros.

" O Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal, sendo 84% para abastecimento da indústria siderúrgica. Em termos mundiais, é o terceiro maior consumidor, ficando atrás da China e da Índia. "

Helton Damin da Silva Chefe Geral da Embrapa Florestas

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Mostra-se, também, como alternativa sustentável, seja ambiental, pelo potencial de sequestro de gases de efeito estufa (CO2) e uso eficiente dos solos, seja pela geração de emprego e renda, independente do tamanho de produtor e por seu potencial produtivo. O setor das florestas plantadas é um importante segmento nas políticas públicas e ambientais. Tem contribuído na busca de novas fronteiras para expansão dos plantios florestais para produção de madeira para energia, na integração entre culturas agrícolas, possibilitando a recuperação de áreas degradadas ou em processo de degradação e tornando-se uma alternativa como fonte de insumo para outros setores industriais dependentes de energia. O Brasil é o maior produtor mundial de carvão vegetal, sendo 84% para abastecimento da indústria siderúrgica. Em termos mundiais, é o terceiro maior consumidor, ficando atrás da China e da Índia. As florestas plantadas abastecem o setor energético dependente da madeira, produzindo, aproximadamente, 23 milhões de metros cúbicos e gerando anualmente R$ 1,57 bilhão em tributos. O País detém o maior nível de conhecimentos e tecnologias florestais em nível mundial e as florestas plantadas mais produtivas do mundo. Além disso, tem áreas para novos plantios, enorme potencial de contribuição na produção de energia limpa, pois a geração de energia elétrica, nos moldes atuais, tem sido questionada pelos impactos ambientais produzidos. Esses fatos colocam as “florestas energéticas” como uma das principais fontes, seja na geração de calor, seja para carvão, ou ainda energia elétrica. Para tanto, necessita de programas que permitam a expansão dos plantios, uma análise criteriosa dos impactos ambientais e a necessidade de investimentos em equipamentos mais eficientes. Esse é o futuro. Essa é a prioridade. E tudo começou com a admiração de Prometeu pela raça humana, e, mesmo sendo castigado por Zeus, achou sensato ensinar ao homem, pois, se ele dominasse o fogo, diminuiria a sua dependência dos deuses. Sem medos. Graças a Deus!


Opiniões

O mapeamento altimétrico da topografia das fazendas em altíssima resolução e a realização de inventários florestais através da determinação direta da altura, densidade e estrutura do dossel arbóreo, representam o estado da arte em tecnologia de sensoriamento remoto a ser aplicado ao setor de florestas plantadas do Brasil. Estas são as informações básicas que sustentam a gestão florestal e representam dois dos maiores usos da tecnologia LiDAR (Laser aerotransportado) no setor florestal dos países mais desenvolvidos, uma vez que informações sobre o terreno e sobre o estoque de madeira, possibilitam planos e controles de silvicultura, colheita, baldeio e transporte muito precisos e acurados, reduzindo consideravelmente os custos operacionais em razão da maior previsibilidade dos planos operacionais e precisão nos controles. No Brasil pouco se utiliza desta tecnologia, possivelmente devido à falta de capacidade operacional para sua execução em larga escala e conhecimento especializado para aplicá-lo ao inventário florestal. As experiências realizadas não foram adiante e, por vezes, os dados adquiridos se mostraram de baixa qualidade. O aumento dos custos, assim como a falta em quantidade e qualidade da mão de obra e o aumento dos deslocamentos necessários até as fazendas, cada vez mais distantes, aliados ao barateamento de tecnologias de sensoriamento remoto, tornaram o uso do LiDAR muito competitivo. A IMA assim como o setor brasileiro de base florestal, vem acompanhando o desenvolvimento desta tecnologia no mundo, onde a aplicação já é realizada em grandes áreas e até mesmo em países inteiros. É o caso da BLOM uma das maiores e mais antiga empresas de aerofotogrametria da Europa, que foi criada em 1954 em Oslo – Noruega e possui mais de 1.000 funcionários distribuídos em 13 países europeus, incluindo uma equipe de engenheiros florestais que trabalham com a modelagem de atributos biométricos e obtidos pelo LiDAR para a obtenção do volume de madeira, estoques de carbono, biomassa e valoração de ativos biológicos. Recentemente a BLOM concluiu o levantamento altimétrico com LiDAR em toda a Suécia, totalizando 45 milhões de hectares. Baseado na avaliação da demanda crescente desta tecnologia, na experiência e na aplicação do sensoriamento remoto na gestão florestal brasileira realizado pela IMA e do interesse da BLOM de entrar no mercado brasileiro com seus serviços e produtos, a IMA e a BLOM assinaram um contrato de joint venture onde a IMA representará os produtos e serviços da BLOM para o segmento florestal e agrícola. O setor florestal brasileiro tem agora acesso a esta tecnologia com disposição de forma competitiva e com visão operacional de sua aplicação. Para maiores informações técnicas e comerciais, entrar em contato com Honório Kanegae Jr - Diretor de Soluções honorio.kanegae@imaflorestal.com.br.


colheita & transporte

sistema florestal de

Opiniões

curta duração

Uma das fontes de energia renovável mais conhecida e utilizada no mundo, desde a Antiguidade, é a madeira – biomassa de origem vegetal. Essa fonte de energia foi largamente empregada, dada a facilidade de acesso, baixo custo de aquisição, a não necessidade de beneficiamento e a não dependência de combustíveis fósseis. Com o surgimento dos derivados de petróleo e do carvão mineral, a procura pela madeira, como suprimento energético, teve sua demanda reduzida, mas as questões ambientais, políticas e econômicas, além de fenômenos climáticos inesperados atuais, fizeram com que o uso da madeira voltasse ao cenário mundial graças a sua potencialidade de produção energética com reduzido impacto ambiental. Em função da crescente demanda energética, surge no cenário mundial e nacional, um novo conceito, que é o Sistema Florestal de Curta Rotação para geração de energia. Esse novo sistema de produção apresenta uma relação direta com a produção de matéria-prima em quantidade e qualidade superior, obtido num intervalo de tempo reduzido e a custos inferiores, quando comparado aos sistemas silviculturais convencionais. No Brasil, esse sistema deve ser, inicialmente, particularizado ao plantio de eucalipto, com o intuito de desenvolver o crescimento natural da planta de forma mais eficiente, sendo que a renovação do plantio e da matéria-prima se tornará fator de produção com alta produtividade por unidade de tempo. Com isso, os fatores de inovação tecnológica, pesquisa e desenvolvimento são fundamentais para que os sistemas florestais de curta rotação produzam energia abundante, renovável e, ainda, que permitam o transporte a longas distâncias de forma sustentável, econômica e socialmente favorável. No Brasil, os mais recentes plantios baseados no sistema florestal de curta rotação vêm apresentando produtividades elevadas, atingindo números da ordem de 120 m3/hectare (45 t/ha) em ciclos de apenas um ano. Os países líderes na utilização dessa tecnologia, com mais de 10 anos de desenvolvimento e aprimoramento, até conseguem atingir esses índices de produtividade nacional; porém, com o dobro de tempo. Dessa forma, para produzir mais madeira, com menos recursos e menores perdas, diversas investigações científicas e práticas precisam ser conduzidas para determinar a rotação da cultura ideal de cada localidade (12, 18, 20, 24 ou 36 meses), em função do material genético desenvolvido para ciclos de curta rotação e com alta capacidade de rebrota. Além da silvicultura, sistemas mecanizados de colheita e transporte, com colhedoras específicas para a função, são fundamentais e determinantes para garantir a viabilidade

econômica dos novos sistemas florestais de curta rotação. Existem dois sistemas de colheita bem distintos, sendo que um fornece a biomassa cortada, agrupada e picada em uma operação contínua, impedindo a separação dessas três fases, ou seja, a colheita das árvores acontece sem a colhedora parar – como na colheita de cana-de-açúcar. Em geral, toda a operação é realizada por uma única máquina, e o material é transferido para as margens da estrada, ou para um veículo transbordo, já na forma de cavacos. O outro sistema depende da separação das fases de corte, agrupamento e trituração, que poderão ser realizados com máquinas e momentos diferentes. O primeiro sistema, normalmente, é mais produtivo e mais simples em termos de organização; porém, tem pouca flexibilidade e pode exigir equipamentos de grande porte. O segundo sistema é mais flexível, permite uma utilização parcial de equipamentos convencionais e permite que seja planejada a trituração, aguardando que a umidade dos fustes chegue a níveis ótimos. Há a possibilidade de deixar as plantas secarem por algumas semanas, o que passa a ser a vantagem mais interessante desse sistema, especialmente em climas úmidos. Quanto à forma organizacional, é possível individualizar quatro esquemas típicos, com níveis crescentes de complexidade. O primeiro sistema baseia-se em uma única máquina que corta, tritura e extrai a madeira, em forma de cavaco, na linha lateral ou traseira do plantio. O segundo sistema utiliza duas máquinas: uma que corta os fustes, reúne e extrai para a linha lateral, enquanto a outra faz a trituração, podendo ser, talvez, depois de algumas semanas. O terceiro sistema também é baseado em duas máquinas: a primeira corta os fustes e coloca em leiras, enquanto a segunda recolhe os fustes das leiras, pica e carrega o cavaco de madeira para fora talhão. Finalmente, o quarto sistema é baseado em três máquinas: uma para cortar e agrupar os fustes, a segunda para recolher os feixes e carregá-los fora do campo, e a terceira para picar. As máquinas que realizam o corte e a trituração (sistema um) são muito potentes, com motores entre 450 a 1100 cv e, muitas vezes, são baseadas em uma máquina de colheita de forragens ou de cana-de-açúcar, autopropelidas, adaptadas ao processamento de madeira, transformando uma árvore em cavacos ou lascas, de forma contínua. Portanto, produzir uma matéria-prima de alta qualidade, buscando o limite produtivo máximo das florestas, com retornos financeiros significativos para as empresas envolvidas no sistema, está diretamente relacionado com as novas técnicas silviculturais e com a eficiência das máquinas no campo.

" produzir matéria-prima de qualidade, buscando o limite produtivo máximo das florestas, com retornos financeiros significativos, está diretamente relacionado com as novas técnicas silviculturais e com a eficiência das máquinas no campo "

Saulo Philipe Guerra e Kléber Lanças

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Professores da FCA/UNESP



preservação

Opiniões

as florestas energéticas do Araripe podem preservar

as caatingas

" o desempenho observado coloca o eucalipto como uma alternativa de plantio na região do Araripe para ocupar as áreas de caatinga já devastadas de forma intensa "

Marcos Antonio Drumond Pesquisador da Embrapa Semiárido

A Chapada do Araripe, inserida no semiárido brasileiro, se estende por mais de 76 mil km2, ocorrendo em 103 municípios, dos quais 25 se encontram no Ceará, 18 em Pernambuco e 60 no Piauí. Em aproximadamente 18 mil km2, que corresponde a 20% do território pernambucano, está concentrada a maior reserva de gipsita em exploração do Brasil. É a maior área de produção da América Latina e a segunda do mundo, abastecendo o mercado nacional com cerca de 95% do gesso consumido. A indústria do gesso é responsável por 93% de todo o consumo de energéticos florestais na área do polo gesseiro. Estima-se que aproximadamente 65% da área da Chapada do Araripe foram desmatados até 2009. A demanda atual de energéticos de base florestal para o polo gesseiro do Araripe ultrapassa dois milhões de mst.ano-1 (incluindo os consumos industrial, comercial e domiciliar). Ressalta-se ainda que as atividades do polo gesseiro concorrem de maneira determinante para o agravamento dos problemas ambientais da região, por consumir, quase exclusivamente, a vegetação nativa em seus fornos de desidratação do minério – a gipsita. Isso representa, numa superfície de corte sob manejo florestal, entre 9.500 ha.ano-1 (ciclo de rotação com 13 anos) e 11.885 ha.ano-1 (ciclo de rotação de 15 anos), considerando-se estoques médios de lenha entre 160 e 200 mst.ha-1, respectivamente. O rápido crescimento da planta de eucalipto é uma característica que o aponta como capaz de tornar a espécie uma alternativa de cultivo para suprir a demanda por madeira das mais de 100 calcinadoras da Chapada do Araripe. Com base em plantios comprobatórios de florestas de rápido crescimento, o eucalipto, apesar de ser uma espécie exótica, tem apresentado bom crescimento na Chapada do Araripe. Nessa região, plantios realizados com quatro anos de idade, os híbridos de eucalipto se mostraram viáveis para produzir madeira em nível comercial, apresentando uma produtividade em torno de 100 m3.ha-1 de lenha. Destacando-se que essa produtividade para a região é superior às estimativas que são feitas para projetos de implantação de “florestas energéticas”, com a finalidade de produzir madeira para uso em fornos industriais.

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Nos projetos de implantação de “florestas energéticas”, o planejamento envolve o plantio de espécies de rápido crescimento com expectativa de corte a partir do sexto ano, com previsão de um incremento médio anual (IMA) entre 30 m3/ha.ano-1 e 43 m3/ha ano-1. Os resultados obtidos nos plantios comprobatórios no município de Araripina-PE, numa situação de chuvas irregulares e concentradas no primeiro trimestre do ano, são muito promissores. Partindo dessa premissa, o desempenho observado coloca o eucalipto como uma alternativa de plantio na região do Araripe para ocupar as áreas de caatinga já devastadas de forma intensa. Esses povoamentos têm como principal função minimizar, ou mesmo reverter, o desmatamento na região, que se situa em torno de 7.600 ha.ano-1. Esse número evidencia categoricamente a insustentabilidade econômica e ambiental da exploração gesseira se a vegetação nativa for mantida como principal fonte energética. Nesse contexto, a lenta recuperação da caatinga devastada – são necessários pelo menos de 13 a 15 anos para que a vegetação nativa cortada volte a recompor o estoque original –, é ainda mais preocupante. Isso implica dizer que, com o desmatamento de 21 ha para obtenção de 5.250 mst.dia-1 de madeira da floresta nativa, a área da caatinga só voltará a alcançar volume de produção semelhante após ser deixada sem uso algum ao longo de 15 anos. Conforme os resultados de produção madeireira registrados no modelo de floresta energética em estudo pela Embrapa Semiárido, Instituto Agronômico de Pernambuco - IPA, e outras instituições parceiras, apenas 8,1 ha.dia-1 de exploração de povoamentos plantados já seriam bastante para atender à demanda de consumo de lenha na Chapada do Araripe. Dessa forma, a exploração da caatinga passaria a ser 2,6 vezes menor, com a vantagem da uniformidade da lenha produzida, promovendo um melhor rendimento energético dos fornos das calcinadoras. Isso reduziria significativamente a pressão do homem sobre a vegetação nativa, uma vez que, em média, 13 ha de mata nativa deixariam de ser cortados.


biorrefinarias

Opiniões

as florestas energéticas no escopo das

biorrefinarias

" a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar não tem sido suficiente para atender sequer ao mercado interno ... o etanol a partir de biomassa florestal pode complementar o já produzido para esse mercado, possibilitando, inclusive, o incremento das exportações " Mônica Caramez Triches Damaso Pesquisadora da Embrapa Agroenergia

Com a perspectiva de aumento na demanda por combustíveis em vários países do mundo, estão sendo promovidas ações para que as energias renováveis tenham participação significativa em suas respectivas matrizes energéticas. O Brasil tornou-se referência mundial na produção de etanol combustível derivado de cana-de-açúcar. No entanto, a diversificação das biomassas utilizadas para geração de diversos produtos agroenergéticos é essencial para ampliar a oferta de energia. Fatores como a nossa grande extensão territorial, a rica biodiversidade e as condições climáticas favoráveis ampliam ainda mais a possibilidade do uso de matérias-primas oleaginosas, sacaríneas, amiláceas e lignocelulósicas, sendo que elas próprias ou seus resíduos e derivados podem ser utilizados na geração de energia. As matérias-primas lignocelulósicas, representadas neste artigo pelas florestas, são alternativas abundantes, sustentáveis, além de não competirem com a cadeia alimentar e apresentarem grande potencial de utilização para produção de diversos insumos energéticos de valor agregado, tanto líquidos (diesel, gasolina, metanol e etanol), quanto sólidos (resíduo sólido carbonoso, lenha e carvão vegetal) e gasosos (gás combustível, gás de síntese e hidrogênio). Além da questão da matéria-prima, outro ponto a ser discutido é a viabilidade técnica e econômica da adoção de soluções sustentáveis para transformar essa matéria-prima em produtos energéticos. A tendência mundial indica que, para que as empresas usuárias de biomassas se tornem competitivas, precisam se adequar ao padrão já utilizado em uma refinaria de petróleo, quer na escala de produção, quer na diversidade de produtos. Desse modo, a produção de biocombustíveis, insumos químicos, materiais, alimentos, rações e energia deverá ser feita de forma conjunta, o que se torna possível dentro do conceito de uma biorrefinaria, que integra diversas rotas de conversão – bioquímicas, químicas e termoquímicas –, em busca do melhor aproveitamento da biomassa e da energia nela contida. Em se tratando de matérias-primas florestais, as empresas produtoras de papel e celulose são as que estariam mais preparadas para se adequar aos preceitos de uma biorrefinaria.

Nesse contexto, a Embrapa Agronergia, a Embrapa Florestas e a Escola de Engenharia de Lorena/USP, em parceria com outras unidades da Embrapa, a iniciativa privada e instituições de ensino e pesquisa estão propondo um componente do Projeto Florestas Energéticas, que tem como objetivo geral estudar, desenvolver e avaliar rotas tecnológicas para obtenção de produtos energéticos a partir de biomassa florestal, baseado no conceito de biorrefinaria. O referido componente pretende avaliar rotas bioquímicas, incluindo hidrólise e fermentação, para produção de etanol a partir de madeira e de resíduo da indústria de reciclagem de papel e termoquímicas (pirólise e gaseificação) a partir de madeira para produção de bio-óleo, gás de síntese e resíduo sólido carbonoso e gaseificação de celulignina e de madeira com água supercrítica para produção de hidrogênio. Atualmente, a produção de etanol a partir de cana-de-açúcar não tem sido suficiente para atender sequer ao mercado interno de consumo, em virtude da falta de matéria-prima, que se agravou com o aumento do consumo. O etanol a partir de biomassa florestal pode complementar o já produzido para esse mercado, possibilitando, inclusive, o incremento das exportações. A obtenção de H2 a partir de biomassa consiste em uma grande oportunidade para produção de derivados leves e limpos de petróleo, visto que a disponibilidade desse gás é um limitante para a produção dos derivados de petróleo, dificultando a ampliação de mercado desse setor. O bio-óleo é utilizado como biocombustível de aplicação direta em caldeiras e fornalhas, ou, se refinado, poderá ser utilizado como matéria-prima para obtenção de derivados energéticos e outros materiais, enquanto o resíduo sólido carbonoso pode ser utilizado como fertilizante de solos. O gás de síntese é utilizado para a obtenção de diversos insumos e produtos químicos de interesse industrial. O avanço das pesquisas relacionadas à produção integrada de biocombustíveis, insumos químicos, rações, biofertilizantes, materiais e energia será decisivo para promover o desenvolvimento sustentável em diversas regiões e ampliar a segurança energética do nosso país.

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produção de matéria-prima

florestas

Opiniões

energéticas

A despeito das recentes descobertas de depósitos petrolíferos de grande capacidade de produção, existe a percepção mundial sobre o inevitável esgotamento das reservas de combustíveis fósseis num futuro não muito distante. Eles são ainda responsáveis pelo fornecimento de grande parte da energia consumida cotidianamente pela humanidade. Porém, com o agravamento do efeito estufa em escala global, decorrente especialmente da liberação desenfreada de dióxido de carbono nos últimos cem anos, é consensual a necessidade de desenvolvimento de novas fontes energéticas como alternativas às convencionais, como forma de atenuar seu efeito prejudicial sobre a saúde do planeta em que vivemos.

ao redor de 4,5% ao ano (IBGE, 2011), a economia foi sensivelmente impulsionada, e, consequentemente, elevou-se a necessidade de geração de energia a partir das mais diversas fontes. Dentre as possibilidades que se apresentam ao País, a expansão da área plantada com cultivos florestais ocupa uma posição estratégica e deverá contribuir destacadamente para suprir as crescentes necessidades energéticas que vêm sendo constatadas, especialmente em setores como geração de eletricidade, siderurgia, agricultura, avicultura, frigoríficos, laticínios e indústrias cerâmicas. Essa demanda ainda vem sendo atendida de forma expressiva por vegetação nativa oriunda de biomas por vezes ameaçados e sem perspectivas de sustentabilidade.

" florestas energéticas é um dos temas prioritários de pesquisa da Embrapa Florestas, havendo nos últimos anos um esforço muito grande de equipes multidisciplinares formadas por profissionais de diversas instituições para elevar o conhecimento, a produtividade, a qualidade e as aplicações da biomassa florestal " Paulo Eduardo Telles dos Santos Pesquisador da Embrapa Florestas

Se retrocedermos no tempo, constatamos que o uso de biomassa vegetal para a geração de energia prevaleceu por milênios. E, novamente, essa fonte se apresenta como uma das mais importantes para compor a moderna matriz energética que se pretende consolidar, na qual haverá prevalência de fontes renováveis, mais seguras para a população e de menores impactos ambientais. Nesse contexto, a biomassa obtida a partir de plantações florestais aparece como uma opção de forte presença nos cenários projetados para o futuro. No censo demográfico de 2010, realizado pelo IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a população brasileira contava com 190,8 milhões de habitantes, sendo que 29,8 milhões (15,6%) estavam vivendo no meio rural. Diante dessa realidade, o consumo de madeira como fonte primária de energia continua sendo essencial para a sobrevivência de um enorme contingente de pessoas que dependem diretamente dessa matéria-prima para o preparo de alimentos e aquecimento de ambientes durante o inverno. Mesmo nas cidades, a lenha é intensamente utilizada em padarias e em outros estabelecimentos comerciais do ramo de alimentação. No setor industrial, a biomassa florestal vem sendo utilizada em caldeiras para a geração de vapor e obtenção de energia elétrica, em processos de aquecimento de água, secagem de produtos, defumação, fundição e calcinação, entre outras utilizações. Existe uma evidente interdependência entre desenvolvimento socioeconômico e suprimento energético. Considerando que a média de crescimento do PIB nacional nos últimos cinco anos foi

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Vale lembrar que a produção de bio-óleo, celulignina, gases de síntese e álcool vêm gradativamente ganhando importância, assumindo papéis estratégicos e complementares aos usos consagrados da madeira para fins energéticos (lenha e carvão). Embora as plantações de eucalipto sejam a principal fonte lenhosa de matéria-prima energética, várias outras espécies arbóreas possuem aptidão natural, apesar de haver necessidade de aprimoramento ou mesmo desenvolvimento de protocolos silviculturais para a expansão da área plantada. Esse é o caso do Taxi-branco (Sclerolobium paniculatum), Acacia mangium, Angico-de-bezerro (Piptadenia obliqua) e Mulateiro (Calycophyllum spruceanum), entre outras potencialmente utilizáveis. “Florestas Energéticas” é um dos temas prioritários de pesquisa da Embrapa Florestas, havendo nos últimos anos um esforço muito grande de equipes multidisciplinares formadas por profissionais de diversas instituições para elevar o conhecimento, os níveis de produtividade, os padrões de qualidade e as aplicações da biomassa florestal, especialmente madeira e resíduos para fins energéticos. Como principais resultados, destacam-se as contribuições para o desenvolvimento de setores vinculados ao agronegócio, à geração de energia elétrica e ao segmento industrial, diminuindo a dependência de fontes não renováveis e contribuindo efetivamente para proporcionar um maior equilíbrio da matriz energética nacional e da balança comercial, favorecendo também a geração de emprego e renda no meio rural.


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apoio à pesquisa da bioenergia

Opiniões

energia: pilar para o desenvolvimento humano A energia é um dos principais pilares do desenvolvimento humano, sendo essencial para o atendimento de nossas necessidades. O crescimento acelerado da população mundial, associado à elevação do nível de riqueza e qualidade de vida, impõe crescente necessidade desse insumo. No entanto, tanto sua exploração quanto seu uso trazem impactos negativos, como poluição local, conflitos entre povos, desmatamento e uso indevido. Fato recente, o fenômeno do aquecimento global torna premente a redução drástica da emissão dos gases de efeito estufa na atmosfera. Dentre as medidas relevantes para se atingir tal meta, destaca-se o aproveitamento maciço de fontes primárias de energias renováveis, como eólica, solar, hidráulica e de biomassa. Há de se considerar que, dos recursos renováveis disponíveis, muitos são limitados em potencial e/ou disponibilidade. É o caso da energia hidráulica e da geotérmica. Como exemplo, podemos citar o praticamente esgotado aproveitamento hidroelétrico norte-americano, cuja capacidade instalada, de 100 GW, supera a do Brasil. Ainda assim, a energia gerada corresponde a menos de 3% da demanda energética americana. No caso da biomassa, embora exista um enorme potencial de aproveitamento energético, há de se considerar restrições relativas ao uso do solo, disponibilidade de água, o conflito energia versus alimentos, a produção de sementes, o uso de fertilizantes de origem fóssil, dentre outras. De modo a ilustrar essa limitação, tomemos como exemplo o estado de Minas Gerais: de acordo com projeções oficiais, o estado demandará o correspondente a 15% de seu território em área cultivada de bioenergia, em 2030. No contexto da maioria dos países desenvolvidos, estes possuem densidade populacional e consumo energético per capita muito superiores. Tais fatores, associados à menor produtividade agrícola, nos sugerem que a demanda por áreas plantadas seria maior do que a própria área cultivável existente. A solução para essa questão passa pela compreensão da cadeia desses energéticos, da exploração ao uso final. Tome-se como exemplo a cadeia do etanol de cana-de-açúcar: considerando as modalidades agrícolas e industriais vigentes e o uso em automóveis com motores a combustão, tem-se uma eficiência global inferior a 10%. Uma ruptura nessa cadeia, com a viabilização do etanol de segunda geração, aproveitamento de palha e folhas da cana e a disseminação do veículo elétrico, podemos quadruplicar esse desempenho. Em outras palavras, reduzimos a 1/4 a área de cultivo para a mesma aplicação.

Portanto, o desenvolvimento de tecnologias de ruptura é fundamental para que a bioenergia cumpra seu papel frente aos desafios impostos. Dessa forma, deve-se investir em programas de pesquisa em bioenergia com foco na melhoria da produtividade agrícola e novos aproveitamentos; novos insumos e rotas; melhoria de produtividade industrial; eficiência energética. Especificamente para o biodiesel, o foco deve ser o desenvolvimento da cadeia das oleaginosas e dos resíduos, e, para o setor de combustíveis sólidos (lenha e carvão), há de se viabilizar o aproveitamento de gases, especialmente nas carvoarias e pequenas siderúrgicas. Há de se considerar as oportunidades de aproveitamentos não energéticos da biomassa, em substituição aos derivados de petróleo, gerando produtos de maior valor agregado, por meio das biorrefinarias. Alinhada a essas premissas, a Cemig possui um programa estruturado de pesquisa na área de bioenergia, conforme ilustrado na figura a seguir, na qual cada número corresponde a um projeto no âmbito do programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico Cemig/Aneel. Atuando de forma decisiva para a viabilidade e implantação dessas tecnologias, a Cemig dá a sua contribuição para o futuro sustentável.

" dos recursos renováveis disponíveis, muitos são limitados em potencial e/ou disponibilidade ... no caso da biomassa, embora exista um enorme potencial de aproveitamento energético, há de se considerar as restrições relativas existentes " Cláudio Homero Silva e Bruno M. Lopes

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Gerência de Alternativas Energéticas da CEMIG


fomento financeiro

a ampliação do sistema

Opiniões

silvicultural

O Brasil possuía, em 2010, 6,5 milhões de hectares plantados com florestas exóticas (73% com Eucalyptus e 27% com Pinus). Enquanto as plantações de eucalipto concentram-se em MG, SP, BA e ES (bioma mata atlântica e cerrado), as plantações de pinus concentram-se no PR e em SC (florestas semideciduais, pampa e biomas de transição). A base florestal brasileira cresceu ao ritmo de 3,5% a.a. entre 2005 e 2010. A expansão das plantações de eucalipto, em 2010, ocorreu sobretudo em MS (30%), MA (10%), MG (8%) e TO (7%). Observa-se queda do plantio de pinus no mesmo período em GO (20%), MS (18%), BA (14%) e ES (10%). A demanda por madeira de florestas plantadas, por setor da economia, distribuiu-se, em 2010, da seguinte forma: celulose e papel (38%: 59% para exportação e 41% para o mercado interno); painéis de madeira (8%: 3% para exportação e 97% para o mercado interno); lenha, carvão e outros (35%: 1% para exportação e 99% para o mercado interno); serados de pinus (16%: 7% para exportação e 93% para o mercado doméstico); e, por fim, compensados (4%, sendo 55 % para exportação e 45% para o mercado interno). As taxas de crescimento recentes desses setores, entre 2000 e 2010, comprovam a hipótese de excesso de demanda, lastreado em indícios como a elevação do preço da madeira e o aumento do desmatamento em certas regiões; e estudos acerca da existência de um excesso de demanda por madeira, sobretudo para fins energéticos, no País. Nesse caso, parte não suprida por florestas plantadas acaba sendo complementada com madeira de florestas nativas, constituindo em vetor de desmatamento. O setor que mais demanda madeira para fins energéticos é o de fabricação independente de ferro gusa à base de carvão vegetal – além de olarias, pizzarias e cerâmicas –, que também consomem carvão vegetal, porém em menor escala. Se o ferro gusa in natura brasileiro fabricado por produtores independentes (11 milhões de toneladas de capacidade instalada, em 2010, de acordo com o Instituto Brasileiro de Siderurgia (com 50% da produção exportada para os EUA) não for produzido com carvão vegetal oriundo de florestas plantadas, podem ocorrer pressões sobre o desmatamento de matas nativas. De fato, de acordo com a Abraf, dos 11,6 milhões de toneladas de carvão vegetal produzido no Brasil, em 2010, 55% foram provenientes de matas nativas.

Historicamente, o BNDES tem apoiado empresas do setor de celulose e papel que possuem como rationale de abastecimento de longo prazo de suas fábricas grandes maciços florestais, dentendo parte substancial das florestas plantadas no País. O BNDES apoia, ainda, empresas do setor de madeira cuja lógica de mercado de certificações e as especificações técnicas da madeira garantem a confiabilidade da origem da madeira. Recentemente, em 2009, o Banco alterou sua política operacional, de modo a incluir as atividades de carvoejamento, ferro gusa, ferro-ligas, dentre outros produtos intensivos em madeira para fins energéticos, como passíveis de recebimento de empréstimo – cumpridas certas exigências. O BNDES entende que uma das saídas para a redução do desmatamento e do abastecimento de energia passa pela ampliação das atividades silviculturais para a fabricação de carvão vegetal, oferecendo as seguintes linhas para plantio de eucalipto e pinus.

Do ponto de vista ambiental, chama atenção o avanço do eucalipto em direção aos biomas Pantanal e Amazônia. No Mato Grosso do Sul (crescimento de 27% em 2010), é preocupante, pela elevada biodiversidade e por seu caráter de área de preservação de espécies raras – específicas da região – e em risco de extinção. A hipótese de o setor siderúrgico ser merecedor de atenção surge do fato de 68% das florestas dos associados da Abraf serem do setor de celulose e papel, e 18%, do setor siderúrgico. O perfil do consumo, por outro lado, é diferente. Entende-se que as atividades silviculturais são de fundamental importância para o próprio cumprimento do Código Florestal de 1965 – ainda em vigor –, que, em seu artigo 40, prevê que “Toda atividade à base de madeira deve comprovar que possui suprimento para desenvolver suas atividades”. O BNDES, através das citadas linhas de crédito, espera poder auxiliar o País a superar essas questões ambientais e econômicas. A solução, contudo, depende, por um lado, de conceder condições compatíveis de crédito, assim, da garantia de execução das leis ambientais, e, por outro, dos mercados consumidores finais, ao exigirem dos fabricantes produtos em conformidade ambiental, induzindo, por fim, o engajamento das empresas.

" dos 11,6 milhões de ton de carvão vegetal produzido no Brasil, 55% foram provenientes de matas nativas ... o BNDES entende que uma das saídas para a redução do desmatamento passa pela ampliação das atividades silviculturais para a fabricação de carvão vegetal " Marcos Henrique Figueiredo Vital Economista do Dpto de Meio Ambiente do BNDES

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produção de mudas

Opiniões

floresta implantada: um grande negócio Segundo dados do Ministério de Minas e Energia (2008), a contribuição das florestas (carvão e lenha) na matriz energética do País é de 12%, ficando atrás apenas de hidroelétricas (14%), cana-de-açúcar (16%) e petróleo (36%). Metade da energia vinda da biomassa florestal é proveniente de florestas naturais – principalmente do bioma cerrado –, e a outra metade, de florestas implantadas – notadamente de eucaliptos e pinus. Com as restrições ambientais de uso das florestas naturais como fonte energética e também com o aumento de custo no transporte da lenha e do carvão, devido à redução das florestas naturais ao redor das fontes consumidoras, elas serão, em curto prazo, uma fonte de energia drasticamente reduzida. Assim sendo, as florestas implantadas deverão assumir um papel relevante nesse cenário como fonte de energia renovável.

proveniente de florestas nativas, a escassez energética é iminente. Com isso, é inevitável que o custo das demais fontes tenda a crescer. Por outro lado, há grande interesse dos agricultores em usar parte de suas áreas cultiváveis, principalmente aquelas de solos pobres e menos produtivas, em plantios florestais. Os produtores que já fizeram essa conversão estão muito satisfeitos, pois diversificaram a produção e aumentaram a renda da propriedade. Porém, o agricultor ainda não está acostumado a investir em cultura com produção de médio prazo (5 a 6 anos) e vender a sua produção ao mercado livre, ou seja, a quem oferecer o melhor preço. Na agricultura tradicional, com a qual ele convive, a produção geralmente está “amarrada” a um único comprador local, e seu poder de negociação é praticamente nulo. Além disso, o produto agrícola é de curto

" Porém, o agricultor ainda não está acostumado a investir em cultura com produção de médio prazo (5 a 6 anos) e vender a sua produção ao mercado livre, a quem oferecer o melhor preço. Na agricultura tradicional, a produção geralmente está “amarrada” a um único comprador local, e seu poder de negociação é nulo. " José Zani Filho Diretor da Agriflora Mudas Florestais

O uso das florestas implantadas como fonte de energia é economicamente viável e estratégico perante as demais fontes, devido a sua disponibilidade em todos os pontos geográficos de consumo (olarias, secagem de grãos, indústrias agrícolas, etc.), quando cultivadas. Seu custo como insumo de produção é compatível com o produto final, sendo que, na maioria das vezes, é muito menor que as demais fontes. Também é uma fonte segura, pois não depende do “humor político” interno ou externo do País, ou de cartéis, situações em que há sempre ameaças de aumento de preços e insegurança na continuidade de abastecimento. Além dos grandes benefícios sociais e ambientais que as florestas implantadas oferecem em comparação com as demais fontes energéticas, o efeito de distribuição de renda aos pequenos e médios produtores agrícolas é altamente relevante. Hoje, um hectare de floresta plantada em uma pequena propriedade rural é mais lucrativo do que as culturas tradicionais. Essa nova alternativa de produção e renda ao agricultor tem trazido muitas esperanças ao campo, segundo depoimentos dos próprios agricultores. A cultura de floresta, principalmente de eucaliptos, está sendo desmistificada no meio rural, pois o agricultor está procurando e recebendo maiores informações técnicas a respeito da cultura e, principalmente, tendo a facilidade na compra de mudas de boa qualidade genética. Com o crescimento do consumo de energia do País, aliado à redução da madeira

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prazo de produção (6-12 meses) e altamente perecível na colheita e armazenamento, ficando, assim, mais vulnerável frente ao comprador. Já com o comércio de madeira, há possibilidade de negociar e aguardar o melhor preço de venda, sem que haja perda de qualidade do produto. Então, se por um lado existe a ameaça de escassez desse recurso como fonte energética, por outro existe a oportunidade para milhares de agricultores interessados nessa nova oportunidade de negócio, com a possibilidade de a produção ficar mais próxima das fontes consumidoras (secadoras de produtos agrícolas, olarias, pequenas e médias indústrias, etc.), presentes em todos os municípios. Para que esse pequeno – porém grande – negócio seja acessível e intensifique-se entre os produtores e as fontes consumidoras, há necessidade urgente, por parte dos governos e da iniciativa privada, de maior atenção a essa peça da cadeia produtiva. Essa atenção deve vir na forma de investimentos, desenvolvimento e divulgação de técnicas e equipamentos mais modernos aos meios produtivos, tais como: colheitas direcionadas a produção de cavacos, transporte e armazenamento adequado do produto em contêineres, equipamentos de queima (combustão) perfeita da madeira, para gerar uma energia limpa e sem passivos trabalhistas. Com isso, produtor e consumidor terão a oportunidade de ampliar os plantios e usar a biomassa de florestas implantadas como fonte segura e sustentável de geração de energia.



ensaio especial

Opiniões

o assunto requer cuidado, aliás,

muito cuidado!

" As florestas, em geral, usam muita água, e esse consumo é ainda maior em florestas jovens e em plantações florestais com espécies de rápido crescimento. Isso é um fato comprovado e não é intenção aqui apregoá-lo de forma alarmista, mas sim de alertar para a necessidade de planejamento. " Walter de Paula Lima Professor Titular Aposentado - Esalq-USP

De novo volta a se falar de “florestas energéticas”, assim como aconteceu no início da década de 1980. Naquela ocasião, o que motivou o incentivo às pesquisas visando à formação de plantações florestais com espécies de rápido crescimento para a produção da energia de biomassa foi o preço do petróleo e as previsões sombrias de seu esgotamento. Agora o incentivo vem da demanda de energia, principalmente do mercado internacional, obtida da queima dos péletes produzidos com a biomassa das florestas energéticas. Nada contra, evidentemente, nem quanto à real possibilidade de que esse projeto se consolide de vez, tampouco quanto à importância inegável da biomassa de florestas plantadas como fonte de energia. Todavia, é fundamental que esse programa seja regulamentado, levando em conta pelo menos dois aspectos cruciais para o seu sucesso e para a diminuição de seus possíveis impactos ambientais: zoneamento ecológico e plano de manejo. A evolução da tecnologia silvicultural, de formação e manejo de florestas plantadas com espécies de rápido crescimento visando ao abastecimento industrial da produção de celulose, assim como de chapas e de carvão, é invejada no mundo todo. A partir de um começo meio desastroso, ambientalmente falando, o atual setor florestal produtivo do nosso país pode servir de exemplo de como se deve estabelecer um plano de manejo ambientalmente sustentável de produção florestal a partir de plantações florestais, que vai, inclusive, além do que estabelece o Código Florestal em termos da inclusão de medidas deliberadas de permanência e melhoria da biodiversidade, de proteção de áreas hidrologicamente críticas da paisagem, de conservação da água, principalmente no que diz respeito ao balanço hídrico na escala de microbacias hidrográficas, de proteção do solo e do percentual de ocupação dos talhões florestais em relação à área das microbacias hidrográficas contidas em cada unidade de manejo florestal. Mas, de repente, tudo isso pode não ser suficiente para mascarar os efeitos ambientais de um programa de florestas energéticas mal planejado. Fala-se, por exemplo, assim como também se falava na década de oitenta, que o desenho ideal dessas plantações florestais energéticas seria algo parecido como cultura de biomassa arbórea, com espaçamentos adensados, visando maior produção de lenha para energia, associado a um regime

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de rotação curta e à colheita mecanizada. Resultados já consolidados de inúmeros estudos feitos em vários países, inclusive no Brasil, mostram que esse tipo de manejo tem um impacto significativo no capital de nutrientes do solo, pois a quantidade de nutrientes contidos no lenho juvenil é bem maior do que o de idades mais avançadas. Além disso, a partir de estudos de longo prazo em microbacias experimentais na Austrália, e também em estudos em microbacias no Brasil, foi verificado efeito semelhante sobre a água, no sentido de que esse manejo de espaçamento adensado e de rotação mais curta causa, também, maior impacto sobre a disponibilidade da água superficial. Por outro lado, também como se apregoava nos idos de 1980, essas florestas energéticas não iam, evidentemente, ocupar as áreas que já estão sendo usadas para as plantações florestais de abastecimento industrial de fibras para celulose, mas sim em áreas ditas marginais, inclusive em solos hidromórficos. Da mesma forma, no movimento atual, essas plantações florestais energéticas devem ser direcionadas para as chamadas novas fronteiras, inclusive em regiões do semiárido nordestino. É preciso, então, tomar os devidos cuidados para com a expansão atual dessas florestas energéticas para novas fronteiras, principalmente o que diz respeito à disponibilidade natural de água, que pode facilmente ser verificado pela análise do balanço hídrico climático da região. As florestas, em geral, usam muita água, e esse consumo é ainda maior em florestas jovens e em plantações florestais com espécies de rápido crescimento. Isso é um fato comprovado e não é intenção aqui apregoá-lo de forma alarmista, mas sim de alertar para a necessidade de planejamento. Em que pese o seu elevado consumo de água, é também sabido que as florestas constituem a melhor cobertura para garantir a quantidade, a qualidade e a regularidade da água nas bacias hidrográficas. Em outras palavras, o elevado consumo de água das florestas é preço que elas cobram para proporcionar inúmeros bens (fibra, madeira, energia) e serviços ambientais (água, regulação climática, etc). Mas esses serviços ambientais não ocorrem por si só, antes dependem fundamentalmente do plano de manejo. Ou seja, produzir energia a partir da biomassa de plantações florestais custa água e é fundamental resolver esta conta primeiro.



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Tuit® Florestal Imbatível no controle dos principais cupins do eucalipto, antes e depois do plantio. Aplique somente as doses recomendadas. Descarte corretamente as embalagens e os restos de produtos. Incluir outros métodos de controle de doenças/pragas/plantas infestantes (ex.: controle cultural, biológico, etc.) dentro do programa do Manejo Integrado de Pragas (MIP), quando disponíveis e apropriados. Para mais informações referente às recomendações de uso do produto e ao descarte correto de embalagens, leia atentamente o rótulo, a bula e o receituário agronômico do produto.


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