celulose e papel
na floresta, diálogo e parceria são
fundamentais
Comunidades tradicionais da Amazônia são historicamente marcadas por sinais da violência e do conflito. Em geral, situações patrocinadas pela chamada indústria do desmatamento, às vezes sob o silêncio ou a conivência de poderes instituídos. Fatos lamentáveis que colocam em dúvida a capacidade das nossas instituições de proteger as pessoas e os recursos naturais, envergonhando nossa nação aos olhos do mundo. Há dez anos, moro nesse pedaço de Brasil, no Vale do Jari, entre os estados do Pará e do Amapá. Nesses anos de trabalho e aprendizado, participo de uma fundação empresarial, a Fundação Jari, que, a cada dia, busca tornar-se um instrumento de inovação social. Evoluímos do conceito inicial de projetos pontuais para o diálogo com a sociedade: discutir ideias e propostas, pactuar compromissos e agir de forma integrada com as políticas públicas. São várias iniciativas no entorno do maior plano de manejo de floresta nativa certificado do planeta, com 545 mil hectares: formação de conselheiros e lideranças para defesa e garantia de diretos da criança, adolescente, jovens e mulheres; formação de líderes comunitários como agentes de defesa da floresta; assessoria a organizações sociais para a realização de projetos de incentivo à leitura, cultura, esporte e cidadania, de qualificação profissional de jovens e adultos para as oportunidades do mundo do trabalho, de
Seria muita arrogância nossa achar que poderíamos quebrar, sozinhos, esse sistema. Afinal, já havíamos aprendido essa lição no passado e, diante do desafio de intervir nessa cadeia, tínhamos que olhar mais para os lados, abrir mais os ouvidos e sair em busca de alianças. " Jorge Rafael Barbosa Almeida
Coordenador de Operações Sociais da Fundação Jari
empreendedorismo, como o que incentiva agricultores que produzem hortaliças e as vendem aos restaurantes e supermercados locais, entre outros projetos. Poderia falar sobre cada um, compartilhar conquistas, quedas, lições aprendidas. Porém destaco uma que está entre as mais recentes, mas reflete sobre uma história secular no relacionamento entre o homem e a floresta no Vale do Jari. O Projeto Extrativismo Sustentável tem como propósito valorizar a cultura extrativista e criar condições para a sustentabilidade dessa atividade, que é a principal marca da identidade cultural das comunidades tradicionais da região.
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Estas que se utilizam da caça de subsistência, da pesca artesanal e do extrativismo vegetal dos produtos da biodiversidade, principalmente da castanha-do-pará, como principal fonte de trabalho e de sobrevivência na floresta (foto da capa dessa edição). O Desafio: A relação comercial entre extrativistas e compradores de castanha sempre se baseou no sistema de aviamento, que, por tantos anos, predominou e, ainda hoje, predomina como sistema que move a base produtiva da cadeia da castanha e de outros produtos da floresta na Amazônia. Porém sempre fundado na reprodução da relação de dependência entre extrativistas e compradores (conhecidos popularmente como atravessadores), preservando características exploratórias, do ponto de vista do trabalho humano e da concentração de riquezas ao final da cadeia. Por outro lado, esses atores locais exercem grande importância na sustentação dessa atividade que funciona, basicamente, às margens das políticas oficiais de desenvolvimento econômico. Diante do grande desafio, era necessário combinarmos diferentes estratégias, tais como articulação de parcerias comerciais com a indústria, assistência técnica para a implantação das boas práticas,