celulose e papel
temos ainda onde melhorar Em algumas décadas, não teremos mais trabalhadores rurais! Essa afirmação tem pouca ou nenhuma aderência pelos futurólogos. Bem, nem eu concordo, só a escrevo para exercer a reflexão sobre o processo massivo de êxodo rural, que vem ocorrendo neste planeta. Sob qualquer ponto de vista, as estatísticas são desafiadas ao não apontar um país sequer que, nos últimos 50 anos ou para os próximos 50, tenha aumentado ou aumentará sua população rural. O processo de mecanização do campo trouxe uma diminuição do número de empregos rurais; a melhoria do nível de escolaridade levou o jovem aos empregos industriais, onde encontram um teto, um banheiro, um refeitório, até mesmo uma estrutura sindical mais organizada e um sem-número de benefícios oferecidos pelo empregador urbano, com qualidade superior à sua contraparte rural e, apesar de ultrapassada, uma proteção legal trabalhista mais rigorosa. O acesso fácil e de melhor qualidade do entretenimento e da cultura, da saúde e da educação também pesam nesse processo migratório. Desprezadas as alterações constantes da definição do significado “rural”, no caso brasileiro, a população, em 1950, situava-se em 52 milhões de habitantes, com 64% do total dessa população vivendo em área rural; em contrapartida, somente 36%, em centros urbanos. Após o contínuo processo de êxodo rural, segundo o IBGE, em 2010, estávamos com 190 milhões de habitantes, sendo 85% desse contingente humano vivendo em cidades, portanto somente 15% da população habitando no campo. Voltemos à primeira frase deste artigo! Em qualquer tempo, com qualquer relação entre rural e urbano, a questão a ser enfrentada pela sociedade é a qualidade de vida do cidadão. O êxodo rural é um fenômeno não controlado pelas autoridades, somente mapeado. E esse tem sido o grande problema do Brasil, a falta de consistente política pública para o País rural não contribui para a retenção da população nesses rincões. Pequenos proprietários, posseiros, parceiros, trabalhadores permanentes ou temporários, sem dizer, lamentavelmente, das famílias presas a um exaustivo, exasperante e exploratório trabalho em troca de comida – sim, é trabalho escravo! – que vivem e trabalham em condições indignas. Algumas solitárias e recentes políticas públicas tentam trazer esse importante segmento da sociedade rural brasileira ao século XXI. E, na verdade, está se pulando um século, pois o estilo de trabalho e o pensamento reinante ainda estão enraizados no século XIX, seja oriundo de governo, de organizações sociais, de trabalhadores ou dos empresários. E, ainda pasmo, vejo boa parcela dos agentes envolvidos desperdiçando inteligência e esforço por ainda discutir
campesinato versus agronegócio, enquanto a tecnologia já alterou radicalmente esse tema, reconhecendo que, em certas regiões do País, o latifúndio do coronelismo improdutivo ainda nos remete novamente ao império. A questão fulcral é a pobreza da população rural. As políticas assistencialistas têm oferecido uma renda para essas famílias, isso é humano, é certo, é o que se tem que fazer de imediato. Num processo bem mais lento, as autoridades vacilam na implementação de reais ações públicas para atração de investimentos, hesitam ao levar treinamento ao trabalhador, aproximando-o do avanço tecnológico das ferramentas industriais e biológicas no campo, e são irresolutas para capacitá-lo efetivamente a auferir uma renda de trabalho que o leve a um novo estrato social. Não estou cego aos avanços da renda do campo e do trabalhador, mas é absurdamente infantil e irresponsável celebrar o assistencialismo e não avançar na real economia. Para erradicar a miséria em tempo não secular, os dois modelos precisam andar juntos. Os dados do PNAD-IBGE de 2009 mostram mais da metade da população rural vivendo em extrema pobreza, e não adianta a estatística de governo alterar a classificação de renda em alguns reais para cima ou para baixo; eis a verdade inexorável: falta comida na mesa da família rural brasileira. A fixação do trabalhador no campo requer aportes de recursos públicos e privados. Trazer tecnologia não diminui o trabalho, muda sua categoria. O trabalho pesado e em ambiente hostil, até inóspito em certas partes do País, gera também fuga para os centros urbanos. Portanto qualificar o trabalhador para o manuseio de técnicas e aparelhos sofisticados melhora sua condição de trabalho, além de proporcionar um incremento importante em sua renda. O Ministério da Agricultura anunciou, em seu Plano Agrícola e Pecuário 2012-2013, disponibilização de R$ 115 bilhões de recursos para fomentar esse setor, com juros reduzidos, entre outros benefícios. Não é pouco! A discussão é se esses recursos chegarão a quem realmente necessita e se a sua utilização se dará de forma eficiente. A história diz que não, e, com muita vigilância de todos os atores, espero ter minha boca calada no futuro. Não nego que empregos rurais poderão desaparecer pelo uso intensivo das novas tecnologias (de novo, a primeira frase deste texto), mas estou certo de que, imediata e simultaneamente, surgirão novos postos de trabalho no setor de serviços para abrigar o consumo de uma nova e emergente classe média rural. No campo específico da silvicultura, sofrem-se igualmente as agruras do que acontece no campo geral. Algum progresso ocorreu, é verdade,
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Não estou cego aos avanços da renda do campo e do trabalhador, mas é absurdamente infantil e irresponsável celebrar o assistencialismo e não avançar na real economia. " Sergio Sesiki
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CEO da Cia Melhoramentos de SP - CMSP
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