Um fruto chamado produtividade - OpCP50

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editorial de abertura

bravo novo mundo

Já faz algum tempo que o editor da respeitada Revista Opiniões me pede uma reflexão para publicação. Como andei um tanto cético em relação ao Brasil, procrastinei. Fui, contudo, instado por ele a me apresentar, e, dando-lhe razão, faço agora, neste honroso editorial, algumas observações de quem olha a floresta mais do alto, no sentido prático e figurado, e sem, assim, a precisão de profissionais que frequentam regularmente estas páginas. Portanto, três vertentes para facilitar tal reflexão. Do Mundo, a perplexidade com duas questões diárias: a tecnologia que avança em uma velocidade jamais imaginada e a incapacidade de encontrarmos um equilíbrio que nos ajude a melhorar enquanto processo civilizatório. Vivemos um período de mudanças com características próprias: perigosas, traiçoeiras, imprevisíveis e sempre surpreendentes. Definitivamente não há mais nenhuma possibilidade de progredir nessa quadra sem levar em consideração o peso da tecnologia. E a diferença em relação a outros momentos da história é a assustadora percepção das distâncias que são criadas, em contraponto à natureza de uma globalização que pressupõe multilateralismo, universalização de conteúdo, velocidade, simultaneidade, intercomunicabilidade, com consequência em empresas e setores que desaparecem mais rapidamente e de forma cada vez mais brutal. Quantos de nós, desse mundo dos ativos tangíveis, do capital intensivo, da maturação de longo prazo, do imobilizado gigantesco, estamos, de fato, colocando a inovação em nossa

agenda do dia a dia dentro de uma estrutura ágil e que não se confunda com as tarefas pesadas e urgentes do ambiente competitivo? O que vem por aí, mesmo para quem trabalha, no caso da indústria, mais com átomos do que com bytes? Em seguida, o Poder, que é algo que está passando por uma transformação histórica, dispersando-se mais e perdendo espaço para atores novos, dos que têm força bruta para os que têm mais conhecimentos, dos gigantes corporativos para as empresas jovens, dos políticos tradicionais para os ativistas sociais. Demografia e fluxos migratórios estão nas novas agendas geopolíticas afetando a tudo e a todos. O Poder, hoje, é mais fácil de conseguir, mais difícil de exercer e mais fácil de perder, como nos ensina Moisés Naím. Tantas incertezas têm levantado questões políticas mais complexas do que as econômicas nesse mundo interligado e com acesso imediato à informação. A democracia representativa e o próprio estado-nação são questionados, assim como o reducionismo econômico que associa o bem-estar ao consumo material e toda engenhosidade humana aos estímulos materiais. O que fazer com as migrações, com os ditadores que teimam em não desaparecer, com as religiões que mais dividem que somam, com um mundo futuro com trabalho, mas sem emprego? A civilização deveria estar mais unida, mais atenta ao planeta, mais solidária, mais tolerante, mais feliz. Não é o que se vê. No Brasil, o paradoxo se mantém entre as oportunidades e o desperdício, entre o diagnóstico e a falta de realização. Temos problemas de curto prazo, como o déficit fiscal e a falta de empregos, mas, além disso, um problema estrutural com gastos do governo crescendo mais rapidamente do que a renda, o desafio de reformas que quebrem tal trajetória, a falta de crescimento e, principalmente, de uma produtividade que responde mal e, pior, com menos vigor que seus concorrentes internacionais. Nossa estratégia passou longe da lógica da competição global, da busca de parcerias público-privadas, do baixo custo trabalhista;e

Vivemos uma crise econômica, uma crise de liderança, uma crise de coalizão e, finalmente, uma crise de natureza moral e jurídica. Não é trivial. "

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