FUNERAL REALIZA-SE HOJE Cortejo dá uma volta ao Estádio da Luz e percorre as ruas de Lisboa
Há 145 anos, sempre consigo. 1868
Continente - 0,60 € (iva incluido) – Ilhas - S. Miguel e Madeira - 0,75 € (iva incluido) – Porto Santo 0,80 € (iva incluido)
Director: Angela Amorim | Distribuição Gratuita | www.edvsemanario.pt |
|
Diretor: Rui Alas Pereira | ISSN 0873-170 X |
EUSÉBIO DA SILVA FERREIRA 1942-2014 n Eusébio da Silva
Ferreira morreu ontem em Lisboa. Para muitos o rei do futebol português e um dos melhores jogadores mundiais de sempre, o Pantera Negra, como também era chamado, faleceu em casa a poucos dias de completar 72 anos. Deixa grande saudade não só no futebol, na Seleção e no Benfica em particular, mas também num país que se habituou a idolatrar uma das suas maiores figuras nacionais.
DIÁRIO NACIONAL
Ano CXLVI | N.º 23
Segunda-feira, 6 de janeiro de 2013
local porto
2 | O Primeiro de Janeiro
Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2014
Cidade de Paredes nunca viu algo semelhante
Bombeiros de Lordelo
Levantamento das necessidades
População tenta reagir ao resto de destruição A população de Paredes está a reagir como pode ao rasto de destruição deixado pelo tornado de sábado, algo nunca visto naquelas paragens. Telhados de casas, fábricas e de uma igreja levados pelo vento, centenas de sepulturas de um cemitério devastadas, carros amachucados e árvores e postes de eletricidade derrubados são os sinais da intempérie que, na noite, de sábado assustaram quatro freguesias do concelho. Sem teto ficaram 60 pessoas. Mário Neto, morador de Vilela, contou o que aconteceu numa das zonas mais afetadas. “O tornado apanhou aquelas casas, desviou-se para aqui e bateu contra aquela fábrica. Aqui existiam um pinheiro e um eucalipto, que tombaram e ajudaram a destruir duas fábricas”, afirmou, apontando para duas empresas que sofreram avultados prejuízos. Fernando Castelo, proprietário de uma delas, contou, por entre os destroços de mobiliário: “Isto foi tudo destruído. Tinha móveis prontos para entregar. Estava tudo cheio de móveis, mas eles voaram todos. Noventa por cento deles não têm recuperação”. O empresário, apontando para as coberturas que desapareceram, estima que
PAREDES. Tornado deixou um rasto de destruição e 50 pessoas desalojadas os prejuízos sejam superiores a 100 000 euros. Apesar de chocado, disse ser capaz de recuperar. “Acho que vou voltar a pôr isto a funcionar, porque sinto muito apoio de familiares, amigos e clientes. Espero que haja apoio das entidades oficiais. Essa é uma das minhas esperanças. A outra é que a seguradora não me deixe ficar mal”, declarou, com os olhos húmidos. Ao lado, outra fábrica, esta de confeções, onde trabalham 50 pessoas, também sofreu avultados prejuízos. De manhã, fazia-se o relatório dos estragos. A poucas centenas de metros, já em Sobrosa, outra empresa foi varrida pelo tornado. As instalações ficaram
completamente destruídas e a cobertura da habitação do empresário também foi levada pelo vento. Olhando os destroços espalhados por dezenas de metros e uma carrinha da firma que capotou impelida pelo vento, Roberto Neves, o dono da casa, disse à Lusa que foi tudo muito rápido: “Aquilo foi um segundo. Foi tipo uma bomba. Apercebi-me dos vidros a cair. Quando saí cá fora é que vi os estragos. Ficou tudo completamente destruído”. O empresário, cabisbaixo, admitiu não ter seguro e, por isso, “não dá para fazer nada”. “Retomar a atividade ficou fora de questão”, admitiu, recordando que do negócio dependiam também a mulher, os filhos e a mãe. “Trabalha-
vam todos aqui. Isto era do meu pai, que faleceu. Vou ter de arranjar um emprego”, conclui. José Moura, outro morador, lembrou o “muito vento e granizo que, em pouco tempo, destruiu casas e oficinas. “Foram momentos maus para muita população humilde que teve de recorrer a familiares para passar a noite. Vai demorar anos a recuperar”, previu. A poucas centenas de metros dali, já em Duas Igrejas, muitas pessoas, amontoadas junto ao presidente da junta, estão ainda incrédulas com os estragos causados no cemitério onde mais de 350 sepulturas ficaram danificadas, num cenário impressionante. Ontem de manhã, muitas famílias, com expressões carregadas, foram ao local. Uma idosa, Maria de Sousa Carvalho, ajeitava o que restava da sepultura de familiares, enquanto lamentava o sucedido e murmurava o terror da noite de sábado. “Está tudo partido. Ver isto assim é difícil. Daquela noite, só me lembro de ouvir tanto vento. Eu rezei a Santa Bárbara para tudo acalmar”, contou. Os bombeiros de Lordelo foram o braço armado da proteção civil. Foram eles que socorreram as vítimas e deixaram as primeiras palavras de conforto, como salientou o comandante Pedro Alves: “Temos de ser um braço amigo das famílias e dar-lhes um pouco de apoio moral, porque as pessoas estavam muito constrangidas com a situação”.
Autarca de Duas Igrejas pede apoio do Governo
“É essencial para ajudar nestas situações” O presidente da freguesia do concelho de Paredes mais afetada pelo tornado da madrugada de sábado alertou ontem que os estragos nas habitações afetaram famílias que já viviam com dificuldades económicas. António Bessa, autarca de Duas Igrejas, localidade onde foram afetadas 30 habitações, disse que o apoio do Governo é essencial para ajudar nas situações socialmente mais delicadas. “Sem dúvida que ajudaria muitas famílias, porque algumas, mesmo sem esta situação, já vivem com muitas dificuldades. Algumas já tinham ajuda da Segurança Social. Com esta situação, o pouco que tinham está em muito mau estado”, recordou.
Ao longo da manhã, junto à igreja da freguesia, que também foi afetada pelo tornado, o autarca recolheu elementos sobre os estragos nas habitações, falando com populares afetados. “Estou a fazer o levantamento dos estragos. Estou a contactar as famílias que estão a dar elementos para vermos a dimensão dos prejuízos causados. Ao nível dos recheios, todas as pessoas têm as casas com humidade no interior. Neste momento, é difícil avaliar o que está realmente danificado e sem recuperação”, explicou. Apontando para os telhados danificados de vários edifícios próximos, o presidente da junta considerou a situação “muito delicada”, porque, “para além dos prejuízos causados nas habi-
tações, há os danos nas viaturas, algumas com prejuízos avultados”. O autarca mostrou-se também sensibilizado com “o sofrimento das pessoas”. “Algumas delas nota-se que estão bastante debilitadas. Poderá haver um ou outro caso que necessite de apoio psicológico”, admitiu. António Bessa prometeu à população ajudar no que for possível, incluindo na reparação do cemitério, onde mais de 350 sepulturas e jazigos ficaram danificados com a passagem do tornado. “Inicialmente tentámos limpar o cemitério, porque aquilo estava numa situação totalmente destruída. Era quase impossível circular no cemitério”, recordou. O autarca de Duas Igrejas insiste
que a ajuda do Governo seria importante para fazer face aos prejuízos avultados no cemitério e na igreja, cujo telhado e uma das paredes sofreram estragos avultados. “O interior da igreja está todo afetado. O que era possível, foi retirado do interior da igreja para outro espaço. A nível de pinturas, está tudo danificado”, lamentou, prevendo a necessidade de a igreja “levar um telhado novo e ver reparada uma parede que está ligeiramente deslocada”. A freguesia de Duas Igrejas foi a localidade de Paredes mais afetada pelo tornado, havendo registo de 30 habitações danificadas e 12 viaturas com danos, para além dos estragos no cemitério e igreja.
O comandante dos Bombeiros de Lordelo, Paredes, disse ontem que nos próximos dias vai prosseguir o levantamento das necessidades das cerca de 60 pessoas afetadas pelo tornado da madrugada de sábado. “A partir de hoje [ontem], vou andar no terreno com duas equipas para falar com as famílias que estão desalojadas, para perceber se há necessidade de dar apoio para restabelecer a normalidade, nomeadamente na colocação de telhados e remoção de objetos”, adiantou Pedro Alves. Aquele elemento da proteção civil acrescentou que os bombeiros estão, juntamente com os serviços municipais e os presidentes de junta, “a fazer um levantamento exaustivo de todos os danos provocados pelo fenómeno”. “Vamos avaliar os danos mais relevantes para depois intervirmos nas situações mais complicadas”, observou, dizendo esperar que o Governo apoie o concelho de Paredes neste momento tão difícil. Falando ontem de manhã, quando se preparava para iniciar um périplo pelas quatro freguesias afetadas pelo fenómeno meteorológico (Lordelo, Sobrosa, Vilela e Duas Igrejas), o comandante revelou que, nas últimas horas, os bombeiros têm sido abordados pelos populares para darem ajuda em inúmeras situações. “As pessoas vêm ter connosco e pedem ajuda. Dentro das nossas capacidades, estamos a fazê-lo, porque queremos dizer que estamos aqui para apoiar no que for necessário”, sublinhou, acrescentando, emocionado: “Temos de ser um braço amigo das famílias e dar-lhes um pouco de apoio moral, porque as pessoas estavam muito constrangidas com a situação. Foi dado apoio psicológico no local para as pessoas sentirem que estava lá alguém para as ajudar”. Durante a manhã, Pedro Alves e um dirigente da proteção civil distrital percorreram o rasto deixado pelo tornado que danificou uma centena de habitações, cinco empresas, mais de uma dezena de automóveis, a igreja e o cemitério da localidade de Duas Igrejas. Ao longo de vários quilómetros, ainda hoje é possível observar sinais de destruição, incluindo grandes árvores e postes de eletricidade que tombaram com a força do vento. Também se constatavam restos de coberturas de casas e fábricas, suspensas em árvores com dezenas de metros de altura. Pedro Alves recordou que, na madrugada de sábado e ao longo daquele dia, cerca de 30 bombeiros e outros elementos da proteção civil foram “dando prioridade às situações mais urgentes, incluindo a desobstrução das vias de acesso para ser possível prestar socorro às famílias”. “Havia estragos muito avultados e começámos a dar prioridade às situações mais urgentes, nomeadamente retirar os idosos das habitações, alguns dos quais não tinham percebido o que se passava”, recordou. As cerca de 60 pessoas desalojadas passaram a noite em casas de familiares ou em instituições de solidariedade social. Os serviços camarários estão a percorrer os proprietários de edifícios afetados, incluindo as empresas, recolhendo dados sobre os prejuízos. Aqueles elementos serão incluídos no relatório que a Câmara de Paredes vai entregar ao Governo e assim sustentar o pedido de declaração de calamidade pública, anunciado no sábado à noite, pelo presidente da edilidade, Celso Ferreira.
regiões
Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2014
O Primeiro de Janeiro | 3
Lisboa vai recolher lixo e varrer e lavar as ruas da cidade no fim de greve
Regresso à normalidade Aeroporto da Portela
Detido com mais de 31 mil doses de cocaína
O Comando Metropolitano de Lisboa da PSP apreendeu no sábado 31.596 doses de cocaína, no Aeroporto Internacional de Lisboa, revelou, ontem, a PSP. Segundo a polícia, um passageiro oriundo de Caracas, Venezuela, ocultava “na zona do abdómen, de forma dissimulada, um colete elástico” com a droga. O passageiro, um estudante venezuelano de 23 anos, viajava ainda com quatro telemóveis e dinheiro em três moedas diferentes - euros, bolívares e moeda filipina -, que também foram apreendidos. O detido vai ser presente hoje a tribunal.
No centro de Évora
Jovens assaltam e agridem taxista
Um taxista de Évora foi assaltado e agredido por quatro jovens, que roubaram uma bolsa com moedas e puseram-se em fuga. O taxista, de 68 anos, foi agredido na cabeça e transportado depois pelos bombeiros para as urgências do hospital de Évora, com ferimentos considerados ligeiros, segundo fonte policial. A fonte relatou que o assalto, em que terá sido utilizada uma arma de fogo, ocorreu, cerca das 07:30, depois de os quatro jovens terem «apanhado» o táxi na Praça do Giraldo, no centro da cidade, para uma viagem até à zona industrial.
O objetivo da Câmara é “normalizar a situação o mais depressa possível”, após a greve dos cantoneiros que terminou ontem. A Câmara de Lisboa (CML) vai recolher lixo e varrer e lavar as ruas da cidade na madrugada e manhã de hoje, depois de terminada a greve dos cantoneiros do município, revelou o vereador da Higiene Urbana, Duarte Cordeiro. O objetivo da autarquia é “normalizar a situação o mais depressa possível”, disse. Duarte Cordeiro afirmou que a Câmara está “a concentrar esforços para escalar o maior número de trabalhadores possível para que se efetue, desde a primeira hora depois de terminada a greve, a recolha de resíduos e a varredura e lavagem das ruas”. No dia 27 de dezembro, o presidente da autarquia, António Costa (PS), afirmou que os problemas de higiene urbana só deviam estar resolvidos a partir do dia 10 de janeiro. Os cantoneiros do município de Lisboa estão em greve desde o dia 24 de dezembro. A paralisação, em protesto contra a transferência de competências da câmara para as juntas de freguesia, prolonga-se até ao dia de
Lisboa. Cantoneiros estiveram em greve desde o dia 24 de dezembro até ao dia de ontem ontem e afetou, nestes últimos dias, apenas o trabalho em horas extraordinárias. A autarquia assumiu as dificuldades que esta greve criou à gestão da limpeza e higiene urbana da cidade, mesmo tendo os trabalhadores cumprido os serviços mínimos e apesar da ajuda que a Câmara recebeu das juntas de freguesia. Duarte Cordeiro voltou ainda a sublinhar que “a recolha do lixo não transitará para as freguesias”. No departamento da Higiene Urbana, apenas a lavagem e a varredura das ruas passarão a
ser responsabilidade das juntas. Para o Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML), esta medida extraordinária agora conhecida “prova que a greve atingiu os seus objetivos, chamando a atenção de todos para o problema dos 1.800 trabalhadores que o município vai transferir para as juntas”. Vítor Reis, presidente do sindicato, lembrou que este protesto foi convocado também para defender o serviço público: “A transferência de competências para as freguesias pode ser a abertura
da porta para a externalização da prestação de serviço. Não quer dizer que seja direto, nem para hoje ou para amanhã, mas este é um perigo real”, afirmou. O sindicato pretende que “os trabalhadores da Câmara transitem para as juntas de freguesia em regime de mobilidade” e está ainda preocupado com “a possibilidade de as juntas não respeitarem os perfis funcionais dos trabalhadores”. Vítor Reis faz um balanço positivo da greve, mas considera que “as razões do protesto se mantêm”.
Projeto no antigo Hospital Júlio de Matos
Sem abrigo recebem apoio psiquiátrico Quase 90% das pessoas sem-abrigo são casos psiquiátricos, mas porque dificilmente aderem a serviços de saúde há em Lisboa um grupo psicoterapêutico aberto a todos, que acompanha cerca de 800 pessoas, 300 das quais sem-abrigo. Desde 2002 que todas as quintas-feiras, das 09h45 às 10h45, a porta está aberta no Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa (CHPL), antigo Hospital Júlio de Matos, para receber todos os que quiserem participar no grupo psicoterapêutico aberto. Não há listas de espera, a entrada é imediata e as inscrições diretas.
Lisboa. Projeto não tem listas de espera, a entrada é imediata e as inscrições diretas
O responsável pelo grupo, o psiquiatra e diretor do Serviço de Psiquiatria Geral e Transcultural do CHPL, trabalha com pessoas sem-abrigo desde os anos 1990 e admite que foi um passo “arrojado” criar um grupo aberto a todas e quaisquer pessoas. A equipa clínica é composta por dois psiquiatras seniores e um psicólogo que desde 2002 acompanham perto de 800 pessoas, 300 das quais sem-abrigo. No total, já deram perto de 13 mil consultas. António Bento explica que a cerca de 90% das pessoas sem-abrigo é possível fazer um diagnóstico psiquiátrico, tendo em conta que
neste bolo entram as dependências com o álcool ou a droga. São os sem-abrigo que, em média, vão mais vezes. No total, há 210 pessoas que só foram uma vez e nunca mais voltaram, mas há também quem nunca falte, como José Manuel Lopes, com 68 anos, que vem há 13 anos. António Bento explica que a principal vantagem do trabalho feito no CHPL é que dão uma resposta imediata a todas as necessidades de psiquiatria e de saúde mental de todos os sem-abrigo: o objetivo passa por estabelecer as condições para que aquela pessoa venha uma segunda vez.
nacional
4 | O Primeiro de Janeiro
Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2014
Presidente da República elogiou Eusébio numa declaração nacional ao país
“Portugal perdeu um dos seus filhos mais queridos” O Presidente da República sublinhou que a melhor forma de homenagear Eusébio “é seguir o seu exemplo”, recordando a forma como o antigo futebolista trabalhou e lutou para alcançar tantas vitórias. “Portugal perdeu um dos seus filhos mais queridos: Eusébio da Silva Ferreira”, afirmou o chefe de Estado, numa declaração no Palácio de Belém, a propósito da morte de Eusébio. Pedindo para que se siga o exemplo de Eusébio enquanto desportista e enquanto ser humano, Cavaco Silva lembrou o “campeão que trabalhou e lutou para alcançar tantas vitórias” e como uma pessoa que manteve com os outros uma relação calorosa, de afeto e de respeito mútuo”. Na declaração, o Presidente da República recordou a forma como ao longo da sua vida Eusébio conquistou o carinho e a estima de todos, por ser
EUSÉBIO. Presidente da República disse ao país que “Portugal perdeu um dos seus filhos mais queridos” “um desportista de exceção, dos melhores do mundo, que tantas glórias trouxe a Portugal”. Cavaco Silva, que esteve pela última vez com Eusébio em outubro, num encontro privado, destacou igualmente as qualidades humanas excecionais do antigo futebolista, que tinha “uma humildade e uma afabilidade invulgares, uma simplicidade daquelas que são verdadeiramente grandes, que nada precisam de exibir porque já demonstraram ser os melhores.” “Tinha um trasbordante amor
pela vida, uma enorme alegria de viver, rodeado pelo afeto de todos os portugueses”, acrescentou, confessando que Eusébio foi uma das personalidades mais cativantes que conheceu na sua vida. Os talentos de Eusébio como desportista, “que deram a alegria a milhões de pessoas, a gerações de inteiras”, foram igualmente destacados pelo chefe de Estado, que lembrou a sua “arte” e a forma como dentro de campo se entregava com paixão para alcançar a vitória e representou a seleção nacional com uma dedicação
sem limites. “Todos recordamos o dia em que saiu do campo em lágrimas, chorando por Portugal. As lágrimas de Eusébio, nesse dia, são as nossas lágrimas, no dia de hoje. O país chora a sua morte. O país está oficialmente de luto”, disse Cavaco Silva na declaração no Palácio de Belém, onde a bandeira de Portugal será colocada a meia-haste, depois de terem sido decretados três de luto nacional. Em março de 2008, Eusébio fez parte da comitiva oficial que acompanhou o Presidente da República na viagem a Moçambique, a convite do próprio chefe de Estado. Entre as várias condecorações com que foi distinguido, Eusébio foi agraciado com a Grã-Cruz Infante D. Henrique e a Ordem de Mérito. Eusébio da Silva Ferreira morreu ontem às 04h30 vítima de paragem cardiorrespiratória. O “Pantera Negra” foi eleito o melhor jogador do Mundo em 1965 e conquistou duas Botas de Ouro (1967/68 e 1972/73). No Mundial Inglaterra de 1966 foi considerado o melhor jogador da competição, na qual foi o melhor marcador, com nove golos. Eusébio nasceu a 25 de janeiro de 1942 em Lourenço Marques (atual Maputo), em Moçambique.
Primeiro-ministro recorda “um génio do futebol”
“Eusébio levou a bandeira de Portugal e o nosso orgulho aos quatro cantos do mundo” O primeiro-ministro lembrou hoje Eusébio como “um génio do futebol, um atleta de excelência e um homem generoso e solidário” e apontou-o como “um exemplo de profissionalismo, de determinação”. “Foi com profundo pesar e um agudo sentimento de perda que recebi a noticia da morte de Eusébio da Silva Ferreira. Eusébio levou a bandeira de Portugal e o nosso orgulho aos quatro cantos do mundo”, lê-se numa mensagem do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, acerca da morte de Eusébio. Sublinhando que “com o seu talento, com a sua dedicação, com o seu carisma”, Eusébio representou todo o povo português na vontade de “romper o isolamento e de se afirmar no mundo”, o primeiro-ministro lembra o exemplo dado pelo futebolista. “Um génio do futebol e um exemplo de humildade, um atleta de excelência e um homem generoso e solidário, Eusébio foi para todos os adeptos do desporto,
bem como para todos os Portugueses, um exemplo de profissionalismo, de determinação e de devoção às cores nacionais e do Sport Lisboa e Benfica”, refere Pedro Passos Coelho. Na mensagem, o primeiro-ministro destaca também a forma como Eusébio sempre respeitou os adversários e o seu companheirismo para com os colegas. “Com Eusébio, e com as memórias da Pantera Negra a dominar os relvados, o desporto, o País, a nossa história e a nossa ambição coletiva misturam-se. Essa memória nunca se apagará”, acrescenta Pedro Passos Coelho, endereçando as suas condolências à família de Eusébio, bem como a toda a comunidade benfiquista. Seguro recorda “magia dentro do campo”
O secretário-geral do PS considerou que com a morte de Eusébio Portugal perdeu um dos seus “símbolos” e recordou a “magia dentro de campo”
do antigo futebolista. “Portugal perde um dos seus símbolos. Morreu Eusébio, o ‘pantera negra’. Alguém que com a magia dentro do campo de futebol e com a sua simplicidade, levava o nome de Portugal ao mundo e nos fazia ter mais orgulho em sermos portugueses”, escreveu António José Seguro na sua página da rede social ´Facebook’. Jerónimo de Sousa: Símbolo maior”
O secretário-geral do PCP considerou que com a morte de Eusébio, Portugal perde “aquele que foi o símbolo maior do desporto nacional”. “Com o falecimento de Eusébio da Silva Ferreira, o país perde aquele que foi um símbolo maior do desporto nacional, reconhecido em todo o mundo pelo seu percurso no clube que representou - o Sport Lisboa e Benfica - e na seleção nacional”, lê-se numa nota enviada pelo gabinete de imprensa do PCP.
“Símbolo nacional”
O BE expressou as “mais sentidas
condolências” pela morte de Eusébio, “nome maior do desporto nacional e mundial”, considerando que antigo futebolista era um “símbolo nacional e da África lusófona”. “Morreu Eusébio da Silva Ferreira, não apenas um dos maiores jogadores do futebol mundial, mas um símbolo nacional e da África lusófona”, lê-se numa nota do Bloco de Esquerda enviada à comunicação social. Apontando Eusébio como “expoente máximo da seleção nacional de futebol e do seu clube de sempre, o Sport Lisboa e Benfica”, o BE sublinha que os feitos desportivos do antigo futebolista ainda hoje são recordados nos quatro cantos do mundo. “Nome maior do desporto nacional e mundial, Eusébio, com a sua alegria e feitos desportivos contagiou de esperança milhões de cidadãos que viviam num Portugal fechado e isolado do Mundo por um regime sombrio e que menorizou o país”, acrescenta ainda o partido.
REAÇÕES Homenagem a Eusébio ASSUNÇÃO ESTEVES – A presidente da Assembleia da República enalteceu “a unidade” que Eusébio gerava e considerou que a memória do futebolista perdurará em todas as gerações de desportistas. “Eusébio era uma lenda viva, de talento e de força, uma lenda agarrada à nossa identidade coletiva, e com isso, de certo modo, nos amparava”, escreveu Maria da Assunção Esteves. Para a presidente da Assembleia da República, Eusébio foi “o génio desportivo e a persistência, a humanidade e alegria de viver também, a vitória habitual, sempre simples e cheia de grandeza”. “A morte de Eusébio deixa-nos a todos em profundo sentimento de tristeza”, concluiu. DURÃO BARROSO – O presidente da Comissão Europeia destacou Eusébio como “uma das maiores referências do desporto europeu e mundial e um símbolo de Portugal” com lugar “no panteão dos maiores futebolistas e atletas de todos os tempos”. “Foi com uma grande mágoa e pesar que soube do desaparecimento de Eusébio da Silva Ferreira, uma das maiores referências do desporto europeu e mundial e um símbolo de Portugal”, disse José Manuel Durão Barroso, sublinhando que “o ‘Pantera Negra’ figurará certamente no panteão dos maiores futebolistas e atletas de todos os tempos”. “Eusébio teve uma carreira desportiva brilhante, ao serviço dos vários clubes que representou, em particular o Benfica, e também da seleção nacional, disse também, na mensagem de condolências enviada à sua família, a todos os desportistas e a todos os portugueses”. Para o chefe do executivo comunitário, a “determinação, querer e intensidade” de Eusébio “valeram-lhe a admiração de todo o mundo, muitos títulos coletivos e individuais, e o estatuto de lenda do desporto”. UGT – A UGT manifestou o seu pesar pela morte de Eusébio da Silva Ferreira, classificando-o como um “embaixador do nome de Portugal” e lembrando a “paixão e o amor” que transportou “por todos os caminhos que percorreu”. “Nome maior do futebol português e mundial, foi ícone para milhões de amantes do desporto à escala global e de gerações de portugueses espalhados pelos quatro cantos do mundo”, destaca a central sindical numa nota onde classifica o ex-jogador de futebol como um “símbolo maior de Portugal e da Comunidade Sindical dos Países de Língua Portuguesa”, pela forma como soube honrar e elevar bem alto o nome de Portugal e da sua bandeira. A UGT lembra assim Eusébio como “o embaixador do nome de Portugal, que transportou com paixão e amor por todos os caminhos que percorreu, viu a sua imagem e o seu nome transformados em símbolo do nosso povo, da nossa língua e da nossa cultura e reforçou os elos de ligação entre a comunidade dos países de língua portuguesa, especialmente com Moçambique”. “Mas Eusébio foi também o orgulho de milhões de trabalhadores portugueses emigrados, que procuraram trabalho noutras paragens, já que no seu país de origem esse direito lhes foi dificultado. E ao reverem-se nos seus feitos e na sua glória, nos seus triunfos e sucessos, acomodavam nos seus corações um pedaço de Portugal, mitigando a saudade e a distância dos seus lares”, acrescenta a central.
economia
Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2014
O Primeiro de Janeiro | 5
Agências de «rating» começam a rever análises já esta semana
Dívida lusa avaliada Moody’s, que atribuiu à dívida soberana de Portugal um «rating» de B, vai divulgar a sua análise de risco à dívida portuguesa dia 10. Vice-primeiro-ministro
Grécia apela a maior contenção da Alemanha O vice-primeiro-ministro e ministro dos Negócios Estrangeiros grego, Evangelos Venizelos, apelou a uma maior contenção da Alemanha na Europa, em entrevista publicada ontem pelo Frankfurter Allgemeine Zeitung. Depois de salientar “os impressionantes ajustamentos orçamentais” na Grécia, o ministro advertiu a Alemanha para os riscos de uma saída da Grécia da moeda única. “Se a Grécia sair da zona euro, isso pode ser uma ameaça para o contribuinte alemão”, afirmou, numa altura em que Atenas assume a presidência rotativa da UE. Venizelos disse que “há possibilidades e margem” para alongar os prazos de pagamento e diminuir os juros da dívida grega e defendeu que a «troika» deve ser controlada pelo Parlamento Europeu.
As agências de «rating» anunciaram as datas em que vão divulgar a sua avaliação à dívida portuguesa, em conformidade com as novas regras europeias, sendo a Moody’s a primeira a pronunciarse, já esta sexta feira. A Moody’s, que atribuiu à dívida soberana de Portugal um «rating» de Ba3, com perspetiva («Outlook») estável, vai divulgar a sua análise de risco à dívida portuguesa dia 10, voltando a atualizar esta avaliação a 9 de maio e a 5 de setembro. A Standard and Poor’s, cuja nota atribuída a Portugal é BB, com perspetiva negativa, será a segunda agência a pronunciarse, estando a primeira avalia-
Portugal. Agências de «rating» anunciaram as datas em que vão divulgar a sua avaliação, em conformidade com as novas regras europeias
ção deste ano marcada para 17 de janeiro, a qual será revista a 9 de maio e a 7 de novembro. A Fitch e a DBRS, por seu lado, vão emitir apenas dois relatórios sobre a dívida soberana de Portugal ao longo de 2014. A Fitch, que atribuiu um «rating» de BB+, com perspetiva negativa, à dívida de longo prazo de Portugal, vai atualizar a sua análise a 11 de abril e, depois, a 10 de outubro. Já a DBRS, cuja nota a Portugal é BBB, com perspetiva negativa, vai publicar um novo relatório sobre a dívida portuguesa a 23 de maio e a 21 de novembro. As agências de «rating’»passaram a ter de divulgar no final de cada ano o calendário para o ano seguinte, respeitando assim a diretiva 462/2013 da Comissão Europeia. Esta diretiva determina que as atualizações dos «ratings» soberanos sejam publicadas a uma sexta-feira e apenas depois do fecho do mercado, de forma a reduzir os riscos de volatilidade do mercado.
Presidência da Reserva Federal
Senado dos EUA vota
RTP Internacional com emissões independentes
A nomeação de Janet Yellen para a presidência da Reserva Federal (Fed), banco central dos Estados Unidos, será votada no Senado, hoje. A votação terá lugar a partir das 21h30, hora de Lisboa, indicou um porta-voz da maioria democrata numa mensagem que anuncia a ordem do dia da sessão. Inicialmente, o voto de confirmação de Yellen estava
previsto para a semana antes do Natal, mas acabou por ser adiado devido a uma série de outras votações e a um desentendimento processual entre democratas e republicanos no Senado. A nomeação já foi aprovada na comissão de Assuntos Bancários do Senado a 21 de novembro e a confirmação por todo o Senado é a última etapa do processo. O mandato tem
Juros devem continuar em mínimo histórico
A RTP Internacional arranca, hoje, com emissões independentes para as regiões da Ásia, América e Europa/África. “A partir das 6h30 de hoje haverá uma emissão para cada faixa geográfica, adaptada ao horário desses mercados”, explicou fonte da direção do serviço internacional da RTP, adiantando que neste projeto foi realizado um “investimento razoável”. Tendo em conta a diferença horária das três regiões, haverá um bloco noticiário diário em direto às 11h00 para a Ásia, com cerca de meia hora de emissão, com toda a informação relevante em Portugal e no mundo, nomeamente relativo àquela continente. A mesma fonte adiantou que haverá também um outro noticiário à 1h00, que servirá a América. Ambas as emissões serão em direto, feitas a partir de Lisboa e contarão com novos apresentadores: Álvaro Coimbra e João do Rosário. A região Europa/África continuará com a emissão em direto do Telejornal, às 20h00.
Mercados atentos a nova reunião do BCE A decisão do Banco Central Europeu (BCE) sobre as taxas de juro, atualmente no mínimo histórico de 0,25%, bem como os resultados trimestrais de algumas das maiores empresas norte-americanas ditarão o comportamento dos mercados na próxima semana. Os investidores estarão atentos a mais uma «earnings season» dos Estados Unidos, relativa aos resultados do 4º trimestre de 2013, com a produtora de alumínio Alcoa a divulgar contas na quinta-feira após o fecho de Wall Street. Na zona euro, e também na quinta-feira, o BCE deve manter a taxa de juro diretora inalterada no mínimo histórico 0,25% e o Banco de Inglaterra nos 0,5%.
a duração de quatro anos. Atual vice-presidente da Fed, Yellen foi nomeada a 9 de outubro pelo presidente Barack Obama para suceder a Ben Bernanke, que cessa funções a 31 de janeiro. Num discurso de balanço dos oito anos em que esteve à frente da Fed, Bernanke disse na sexta-feira que a recuperação económica ainda está “incompleta”.
futebol
6 | O Norte Desportivo
Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2014
Eusébio morre aos 71 anos vítima de uma paragem cardiorrespiratória
Portugal chora adeus do «Pantera Negra» “Os 71 anos de Eusébio celebram o futebol, celebram o Benfica, celebram Portugal”, disse Luís Filipe Vieira.
“Partiu, mas a história não o vai apagar e será imortal”, afirmou. Por seu turno, Jesus, disse que Eusébio era um jogador “extraterrestre”, como hoje são Cristiano Ronaldo e Messi, pelas qualidades técnicas e físicas e acrescentou que será eternamente um “mito do Benfica”.
O futebol português vestiu-se, ontem, de luto: Eusébio da Silva Ferreira morreu com 71 anos, às 04h30, vítima de paragem cardiorrespiratória. O Benfica sagrou-se campeão europeu ainda sem Eusébio, mas foi o «Pantera Negra» que consolidou o estatuto do clube em plena década de 1960 e brilhou no terceiro lugar da seleção portuguesa no Mundial de futebol de 1966. Eusébio da Silva Ferreira, de 71 anos, continua a ser um nome maior do futebol português e mundial, muitos anos depois de ter deixado os relvados e para além das memórias dos golos, dos títulos ou das exibições. Ganhou a Bola de Ouro em 1965 e conquistou duas Botas de Ouro (1967/68 e 1972/73). No Mundial Inglaterra de 1966 foi considerado o melhor jogador da competição, na qual foi o melhor marcador, com nove golos.
“Um dos melhores de sempre”
“A história não o vai apagar”
Em reação, o presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, considerou que a notícia da morte de Eusébio é chocante porque o ex-futebolista “tinha ganho em vida a condição de mito” e “os mitos nunca deviam partir”. “Nunca estamos preparados para perder aqueles que nos são mais próximos, aqueles que por tudo o que fizeram, por tudo o que alcançaram, nos acostumamos a ver como imortais”, comentou Luís Filipe Vieira. O máximo responsável encarnado referiu que “os 71 anos de Eusébio celebram o futebol, celebram o Benfica, celebram Portugal”, mas também trazem à memória coletiva “alguém que sempre teve um enorme prazer pela vida”. Para Vieira, “Eusébio nunca morrerá”, justificando que “o seu exemplo vai continuar presente”. À Benfica TV, Luís Filipe Vieira, disse que sentiu “um vazio completo” com a morte do antigo futebolista Eusébio da Silva Ferreira, que considera “um grande amigo”.
Luto. Eusébio da Silva Ferreira, de 71 anos, continua a ser um nome maior do futebol português e mundial
FC Porto e Sporting
Elogios dos rivais a um “símbolo nacional”
O presidente do FC Porto, Pinto da Costa, considerou hoje que “o futebol português está de luto” com a morte de Eusébio, numa nota publicada no site oficial do clube portista. Para Pinto da Costa, morreu “um dos maiores símbolos da modalidade”, aproveitando para enviar as condolências à família do “pantera negra”. “Morreu o maior jogador português
da sua geração e sobretudo um grande ser humano e um exemplo de ‘fair-play’. É um dia triste para o futebol português”, afirmou. Também o Sporting manifestou o seu “profundo pesar” pela morte de Eusébio. “O Sporting Clube de Portugal manifesta o seu profundo pesar pelo falecimento de Eusébio da Silva Ferreira, um símbolo do desporto nacional. À família de Eusébio e amigos, o Sporting Clube de Portugal apresenta os seus sentidos pêsames”, refere o clube de Alvalade, em comunicado.
A FPF reagiu com consternação à morte de Eusébio, considerando que “Portugal está de luto”, porque perdeu o “eterno símbolo do País”. “Foi naturalmente com pesar e consternação que saúdo o falecimento do nosso Eusébio (...) uma figura ímpar e incontornável do futebol português que deixou e deixará para sempre a sua imagem ligada ao desenvolvimento da modalidade”, declarou Fernando Gomes. Também o presidente da Liga Portuguesa, Mário Figueiredo, deixou a sua mensagem de pesar pela morte de Eusébio, “um símbolo maior de Portugal, dos portugueses e do Mundo do futebol”. Já o selecionador de Portugal, Paulo Bento, defendeu que a melhor homenagem que os profissionais de futebol podem fazer a Eusébio é demonstrarem “uma dedicação e um profissionalismo a toda a prova”, como o «pantera negra» fez em vida. O presidente da FIFA, Joseph Blatter, defendeu que “o futebol perdeu uma lenda” com a morte de Eusébio e o presidente da UEFA, o Michel Platini, lamentou a morte de “um dos melhores jogadores de sempre”. Várias centenas de pessoas rumaram, logo de manhã, ao Estádio da Luz para prestar homenagem a Eusébio, sendo visíveis adeptos do Sporting e do FC Porto. O corpo do antigo jogador de futebol Eusébio ficou em câmara ardente no Estádio da Luz, com a missa a realizarse hoje às 16h00 na Igreja do Seminário no Largo da Luz, após o que o corpo segue para o cemitério do Lumiar, onde o funeral se realiza às 17h00. Antes do cortejo, a urna percorrerá o recinto do Estádio da Luz, pelas 13h30, “o último desejo do Eusébio”, seguindo-se um percurso por algumas ruas de Lisboa.
Mourinho, Ronaldo e Figo recordam «King»
“Eusébio é Portugal” O «capitão» da seleção portuguesa de futebol, Cristiano Ronaldo, prestou homenagem ao antigo futebolista e embaixador da equipa das «quinas» Eusébio, nas redes sociais. “Sempre eterno Eusébio, descansa em paz”, pode ler-se na página oficial de Cristiano Ronaldo no Facebook, juntamente com uma imagem do atual futebolista do Real Madrid com o «Pantera Negra». Também Figo lamentou a morte de Eusébio, reconhecendo tratar-se de uma “grande perda”, através da rede social na Internet Twitter. 2The King!!! Grande perda para todos nós! O mais grande!!”, escreveu. Tal como o internacional português João Pereira, defesa direito do Valência, recorreu ao Twitter para apresentar as “condolências à família e amigos de uma lenda do futebol português”. “Descansa em paz King Eusébio”, rematou João Pereira. Já o treinador do Chelsea, o português José Mourinho, considerou que Eusébio “é imortal” e que hoje seria uma “coisa assombrosa” como jogador de futebol, ao nível dos melhores do planeta da atualidade.”Mais do que uma das grandes figuras do futebol português, é uma das grandes figuras de Portugal. Eusébio é Portugal”, afirmou José Mourinho, em declarações, por telefone, à RTP.
Segunda-feira, 6 de Janeiro de 2014
publicidade
O Primeiro de Janeiro | 7
1868
Há 144 anos, todos os dias consigo.
Director: Angela Amorim | Distribuição Gratuita | www.edvsemanario.pt |
|
CASAMENTO DE INCOMPETÊNCIA Na situação atual do desporto nacional as Federações Desportivas, completamente asfixiadas financeiramente, estão estoicamente a suportar um casamento de incompetência entre o Comité Olímpico de Portugal (COP) e a Secretaria de Estado do Desporto e Juventude (SEDJ). Neste casamento em que o COP ganha Gustavo Pires* poder burocrático em matéria de preparação olímpica que a Lei não lhe concede e a SEDJ ganha desresponsabilização em matéria de políticas públicas a que a Lei a obriga, trouxe-me à memória uma estória passada com dois grandes passarões desta feita da antiga União Soviética. Quando José Estaline, o ditador das Repúblicas Socialistas Soviéticas, começou a antever a hora da sua morte, chamou Nikita Krushev, aquele que havia de lhe suceder, a fim de lhe dar uma lição acerca da arte de bem governar. Mas como Krushev era um homem boçal, com pouca instrução e nenhuma cultura, Estaline, que não lhe ficava atrás, teve de encontrar uma maneira simples e prática a fim de lhe explicar aquilo que para ele era a verdadeira governação. Então, Estaline mandou trazer uma gaiola com vários pássaros e pediu a Krushev para agarrar um deles. E Krushev assim fez. Mas como, perante o ditador todo-poderoso que era Estaline, estava cheio de medo de falhar, o que, muito provavelmente, significava uma temporada num qualquer “gulag” da Sibéria, agarrou o pássaro com tanta força que acabou por o esmagar, matando-o. Perante aquele desastre, Estaline, divertido, pediu novamente a Krushev para agarrar outro pássaro. Então, Krushev, como não queria, de maneira nenhuma, falhar aquela segunda oportunidade, agarrou o pássaro com tanto cuidado que, quando ele menos esperava, a ave libertou-se da mão que o prendia e fugiu. Então, Estaline, ainda mais divertido, disse a Krushev que lhe ia explicar como é que se agarrava um pássaro. Vai daí, meteu a mão pela porta da gaiola, agarrou delicadamente um dos pássaros pelas patas e, de seguida, uma a uma, arrancou-lhe todas as penas. O desgraçado animal, completamente depenado, trémulo de frio e desorientado, a fim de preservar a vida que ainda lhe restava, não encontrou outra solução senão aconchegar-se na palma da mão do ditador soviético. Então, Estaline, com um ar de vitória, virou-se para Krushev e disse-lhe: – Estás a ver como se agarra um pássaro. E olha como ele está tão feliz e contente com o calor que se liberta da minha mão. A situação atual do Movimento Desportivo é de tal maneira inquietante que nos faz lembrar a estratégia de Estaline para dominar a União Soviética. Enquanto a SEDJ na mais profunda preguiça e ignorância e o COP num enorme apetite de poder e controlo insistem num projeto que falhou em Pequim (2008) e em Londres (2012) no qual se vão investir 16 milhões de euros sem que se saiba onde, para quê e, menos ainda, os resultados esperados, as Federações Desportivas, completamente depenadas, perante a incapacidade da SEDJ, são obrigadas a, humildemente, aconchegarem-se no regaço do COP sob penas de não conseguirem sobreviver. O que se está a passar em matéria de políticas públicas na área do desporto é inaceitável pelo que o partido do Governo que tutela o desporto, se ainda lhe resta alguma ideologia social-democrata devia envergonhar-se. Porque, se no passado existiu um casamento de conveniência entre o COP e a SEDJ cujo divórcio se consumou com o célebre “discurso de amor” de Alexandre Mestre para Vicente Moura, hoje, perante um Governo que deixou de pensar para além da troika, o casamento entre o COP e a SEJD é, simplesmente, de incompetência pelo que vai sair demasiado caro ao País.
Diretor: Rui Alas Pereira (CP-2017). E-mail: ruialas@oprimeirodejaneiro.pt Redatores: Joaquim Sousa (CP-5632), Andreia Cavaleiro (CP-6983), Cátia Costa (Lisboa) e Vasco Samouco. Fotografia: Ivo Pereira (CP-3916) Secretariado de Direção: Sandra Pereira. Secretariado de Redação: Elisabete Cairrão. Publicidade: Conceição Carvalho (chefe), Elsa Novais (Lisboa, 918 520 111) e Fátima Pinto. E-mail: conceicao.carvalho@oprimeirodejaneiro.pt Morada: Rua de Santa Catarina, 489 2º - 4000-452 Porto. Contactos: redação - Tel. 22 096 78 47 - Tm: 912 820 510 E-mail: geral.cloverpress@oprimeirodejaneiro.pt - Publicidade - Telefone: 22 096 78 46, Fax: 22 096 78 45 Propriedade: Globinóplia, Unipessoal Lda. Edição: Cloverpress, Lda. NIF: 509 229 921 Depósito legal nº 1388/82 Impressão: Coraze, Telefs.910252676 / 910253116 / 914602969, Oliveira de Azeméis. Distribuição: Vasp. Tiragem: 20 000
Bairro suburbano de Mafalala chocado com a morte de Eusébio
“Ele é um exemplo para todos nós” No bairro suburbano da Mafalala, a notícia da morte de Eusébio, que ali nasceu, causou surpresa e choque, deixando os moradores a recordarem a “Pantera Negra” e a sua importância enquanto referência para os moçambicanos mais jovens. A bola corre desenfreada pelo campo inóspito e arenoso, o principal do bairro, deixando atrás de si um rasto de poeira, com a equipa da casa, a Gudeza, a jogar contra a visitante Maidina pelo título da Copa Mafalala (sub - 17). Dezenas de moradores assistem impávidos ao desafio, trocando impressões sobre a “chocante” notícia da morte de Eusébio, que ali nasceu a 25 de janeiro de 1942. “Foi um grande choque. Ele é um exemplo para o nosso bairro, para todos nós. A figura dele ainda está muito presente na Mafalala”, destaca Arnaldo Joaquim. Sentado no banco de suplentes da equipa do bairro, o jovem Chale Cac, 19 anos, aguarda com serenidade o chamamento do treinador. “Só o conheço [Eusébio] da televisão, revistas e jornais, mas sei que ele foi uma figura muito importante no futebol mundial. Hoje, temos que ganhar pela Mafalala e pelo Eusébio”, atira. No lado adversário, também Yuran Omar, de 17 anos, procura em Eusébio motivação, não só para este jogo, mas para uma vida ligada ao desporto. “Ele cresceu neste bairro, mas conseguiu sobressair no mundo internacional do futebol. Para mim, é uma grande influência. É um dia de luto para todos nós”, lamenta. Um “stencil” com a imagem da “Pantera Negra” sobressai junto à placa que indica a rua Eusébio da Silva, pela qual Samuel
Chembene, da Associação Iverca, guia com frequência turistas que procuram o Mafala Walking Tours (caminhadas turísticas), que a organização lançou há cerca de quatro anos. Ali perto, desabitada, a casa de Eusébio definha vagarosamente, sendo ponto de passagem obrigatório para os cerca de 40 turista que a visitam mensalmente neste bairro nos arredores de Maputo, capital de Moçambique. “Ainda na semana passada, ele [Eusébio] falou com a minha irmã a dizer que vinha a Moçambique em janeiro. Tentei que ele assistisse à final da Copa da Mafalala, mas já não foi possível”, lamenta Issufo Ali, presidente da Associação Desportiva e Recreativa da Mafala, que organiza as copas de futebol no bairro, nas quais Eusébio se destacava no tempo de infância que ali passou. Numa era em que os “vícios da droga, álcool e prostituição” convivem lado a lado com a juventude da Mafalala, hoje com cerca de 22.000 habitantes, referências de sucesso como Eusébio “fazem a diferença na vida dos mais jovens”, assegura Ali. “Quando estão a praticar desporto, os miúdos desviam-se das drogas e da prostituição. No ano passado, o Eusébio deu uma palestra na nossa escolinha de futebol. Vamos usar as imagens que gravamos para mostrar aos nossos jovens o seu bom exemplo”, promete o responsável da associação. No labirinto que é o mítico bairro da Mafalala, onde viveram personalidades como Samora Machel, José Craveirinha ou Noémia de Sousa, Samuel Chembene vai lançando cumprimentos aos morado-
res, que já não estranham a presença de visitantes e com quem trocam saudações em língua inglesa. “A morte de Eusébio vai afetar muitas pessoas, sobretudo as que tiveram oportunidade de conviver com ele. No fundo, a Mafalala anda na boca do mundo pelo facto de Eusébio e outras figuras proeminentes terem vivido aqui”, diz o historiador Rui Laranjeiro. O historiador está atualmente a recolher informações documentais sobre as personalidades que viveram no bairro, com vista ao lançamento do Museu Comunitário da Mafalala, cujas obras de construção arrancam em Março, e onde a figura de Eusébio estará destacada “pela sua grande influência na comunidade”, segundo assegura Ivan Laranjeiro, da Associação Iverca, que está à frente do projeto. “O Eusébio era um indivíduo social que estava sempre envolvido em atividades desportivas. Infelizmente, esteve desligado de Moçambique durante o período monopartidário [1976-1992], mas, mais recentemente, sempre que visitava o país, passava pela Mafalala”, conta o historiador. A “criminalidade, problemas de inundações, fraco sistema sanitário e más condições de vida” são, nas palavras de Rui Laranjeiro, os grandes desafios que a Mafalala enfrenta, mas com ídolos como Eusébio, “que aumentam a auto-estima dos moradores”, o futuro mostra-se esperançoso para este bairro suburbano da capital moçambicana. O “Pantera Negra” ganhou a Bola de Ouro em 1965 e conquistou duas Botas de Ouro (1967/68 e 1972/73).
Antigo selecionador Carlos Queiroz recorda uma “figura universal”
“Trono de Eusébio não pode ser ocupado” O antigo selecionador português Carlos Queiroz considera que o “trono” de Eusébio “não pode ser ocupado, porque o seu reinado não existe mais” e que o antigo futebolista é “uma figura universal, que pertence a todos”. “Eusébio foi um pedaço de um Portugal diferente, de um Portugal maior, sem fronteiras, multicultural, multicontinental. O seu trono não pode ser ocupado porque o seu reinado não existe mais”, disse Carlos Queiroz, em reação ao falecimento do “Pantera Negra”. O ex-selecionador nacional considerou que Eusébio, “tal como Pelé e Maradona, não é um jogador de futebol, é o próprio jogo, é pensar, ver e sentir o futebol” e faz uma distinção “entre os grandes jogadores que existiram e existem e os que são o próprio futebol, como é o caso do “Pantera Negra”. Queiroz recordou que teve a “honra e o privilégio” de ter um papel decisivo na reaproximação de Eusébio à Federação Portuguesa de Futebol e às seleções nacionais durante a sua primeira passagem pela equipa das “quinas”. “Decidi sozinho convidá-lo para estar junto dos jogadores, no lugar que lhe pertencia, quando o Eusébio, por razões que não quero focar neste momento, estava afastado do dia-a-dia das seleções. Sinto orgulho por ter tomado essa posição numa altura em que havia alguma
menor simpatia à sua volta”, referiu. De resto, a presença de Eusébio junto da seleção no Mundial da África do Sul também ocorreu na sequência de um convite de Carlos Queiroz a Eusébio, tendo “acompanhado de perto o dia-a-dia da seleção, confortando, aconselhando e opinando sobre a equipa”. “Neste dia, 05 de janeiro de 2014, não foi Eusébio que faleceu, foi uma parte de mim, uma parte de nós, dos que amam e vivem o futebol, de uma geração de portugueses muito peculiar. Com esse pedaço de todos nós que desapareceu, Eusébio recriou-se, reinventou-se para a vida, pela junção destes milhares de pedacinhos que hoje ficaram mais pobres e mais tristes pelo mundo inteiro”, observou Queiroz, que recorda a afinidade que o liga a Eusébio por ambos terem nascido em Moçambique. O atual selecionador do Irão recordou ainda “a mensagem de confiança, de determinação, de fé que transmitia em vésperas dos jogos”, uma convicção que traduzia uma “superior capacidade para estar sempre acima das normais dificuldades da vida” e que na hora do seu desaparecimento físico se “recriou e reinventou para uma vida eterna”. Confrontado com o recente desagrado de Eusébio pelas comparações com Cristiano Ronaldo, Carlos Queiroz fez uma
leitura simples: “cada rei tem o seu trono, o seu reinado, o que é indiscutível é que esse reinado já não existe e esse trono não pode ser ocupado. Eusébio é universal, de um Portugal diferente, maior, que não existe mais. Pertence a todos, ao Benfica, ao FC Porto, ao Sporting”. Eusébio da Silva Ferreira morreu ontem às 04h30 vítima de paragem cardiorrespiratória. O “Pantera Negra” ganhou a Bola de Ouro em 1965 e conquistou duas Botas de Ouro (1967/68 e 1972/73). No Mundial Inglaterra de 1966 foi considerado o melhor jogador da competição, na qual foi o melhor marcador, com nove golos. Na mesma competição, Portugal terminou no terceiro lugar. Eusébio nasceu a 25 de janeiro de 1942 em Lourenço Marques (atual Maputo), em Moçambique. O corpo do antigo jogador de futebol Eusébio esteve em câmara ardente no Estádio da Luz, porta 1 (acesso pela porta 11), desde ontem (17h30) e a missa realiza-se hoje às 16h00 na Igreja do Seminário no Largo da Luz, após o que o corpo segue para o cemitério do Lumiar, onde o funeral se realiza às 17h00. Antes por volta 13h30, inicia-se o cortejo fúnebre com uma volta ao Estádio da Luz e um percurso pelas ruas de Lisboa.