Tatuí 185 Anos

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Ca de rno Es pe cia l

Tatuí 185 a n os O Progresso de Tatuí

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Venceu pelo próprio esforço Presente no brasão do município, frase ‘guiou’ tatuianos ao longo dos anos

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expressão em latim “Per Ardua Surrexi” sempre acompanhou Tatuí ao longo de sua existência e é uma das que melhor sintetizam sua história. Não é à toa que faz parte da bandeira do município, dividindo as atenções de quem olha o brasão com o tatu e outros não menos importantes elementos que remetem à história da fundação da vila de São João do Bemfica. Apesar da importância simbólica que a expressão sempre carregou – e que ainda carrega –, muitos que aqui vivem, trabalham e constroem suas famílias desconhecem seu significado. A tradução literal, “venceu pelo próprio esforço”, está ligada ao trabalho árduo de diversas personalidades. E não poderia ser diferente. Algumas delas serão citadas neste suplemento especial, produzido pelo jornal O Progresso como homenagem aos 185 anos da “Capital da Música”. A ideia é recontar um pouco do trabalho desenvolvido por tatuianos, ou não – desconhecidos e ilustres –, que ajudaram a construir Tatuí, cidade reconhecida pelo governo do Estado como uma das novas regiões administrativas do sudoeste paulista. Prova disto, são os investimentos que a cidade vem recebendo nos últimos anos. Um dos mais recentes, o Poupatempo. Até o município chegar ao patamar atual, com índices (de criminalidade, mortalidade infantil, desenvolvimento humano, educacional, geração de emprego, etc.) não maravilhosos, mas bem acima da média do Estado, muita água “rolou” pelo rio do tatu. Parte dos “caminhos” que elevaram os padrões de desenvolvimento da cidade a níveis europeus (como na Saúde, área em que Tatuí se equivale a países de primeiro mundo como a República da Irlanda no tocante à mortalidade infantil) será refeito ao longo deste caderno. A começar pelo esforço de pioneiros ligados à Educação que deram início às primeiras escolas públicas – na época, chamadas de grupos escolares ou externatos –, e, em conseguinte, as particulares. Já naquela época, o movimento educacional revelava uma preocupação que ia além da formação: o preparo dos alunos para

o mercado de trabalho, juntando a formação acadêmica à profissional. Nessa “jornada do desenvolvimento local”, seria imperdoável não falar da batalha em prol da Saúde da população tatuiana, que ficou, até bem pouco tempo, livre de doenças como a dengue. O atual “surto” ocorrido no ano passado, segundo autoridades, já era esperado devido à propagação do Aedes Aegypti (mosquito transmissor da doença) na região. Vale lembrar que, até o ano retrasado (2009), a cidade não havia registrado nenhum caso de dengue autóctone (quando o paciente é infectado no próprio município). Naquele ano, somente foram registrando casos importados da doença. Seja pelo esforço coletivo, ou individual, a Saúde em Tatuí foi galgando degraus até alcançar a estrutura atual, com UBSs (unidades básicas de saúde), o Cemem (Centro Municipal de Especialidades Médicas), o Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”, o Ambulatório de Saúde Mental, o CEP/CAR (Centro de Estimulação Precoce/Centro de Adaptação e Reabilitação), além do Banco de Sangue “Fortunato Minghini” e a Santa Casa. A sociedade civil, organizada em clubes de serviços, como o Rotary Club e o Lions Clube, teve papel fundamental na estruturação da Saúde atualmente oferecida à população. O primeiro contribuiu para a inclusão da campanha de vacinação contra a raiva animal (em cães e gatos) e o segundo, com a construção de um banco de sangue. Há que se destacar, ainda, o surgimento de outras entidades não menos importantes no quesito de contribuição, como o Grev (Grupo de Estímulo à Vida), a Litac (Liga Tatuiana de Apoio aos Cancerosos), entre outras, que ajudaram, cada um à sua maneira, para a melhoria das condições de Saúde do município. Recontar, de forma despretensiosa, mas nem por isto menos interessante, um pouco desses fatos é o objetivo deste caderno especial. A publicação traz passagens que, como bem cita o brasão da cidade, exaltam a capacidade de trabalho dos tatuianos e “forasteiros” que aqui decidiram viver.

A evolução pela mobilização de Sociedade civil, por meio de clubes iana tatu ção voca a ou enci serviços, influ

O revolucionário o incompreenddouid tor Dono de métodos ‘pouco ortodoxos’, e Jarbas contribuiu para ensino e saúd

Um escudo para Tatuí

do Brasão que traz elementos da história município completa 85 anos em 2011

Por uma causa maior

tência Abnegação de José Vanni permitiu exis io icíp mun do do único hospital

Revanchismo positivo

Rixa contra Itapetininga ‘acelerou’ 1970 chegada de faculdade na década de

Vontade , giz lousa e trize s, evolução do

Do amadorismo às dire zação ensino foi pautada pela profissionali


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A evolução pela mobilização Sociedade civil, por meio de clubes de serviços, influenciou a vocação tatuiana

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or que não ser uma cidade voltada ao agronegócio, como Itapetininga? Ou histórica, como Itu? É bem claro que a resposta a estas indagações não está ligada à vontade que se possa ter no presente, mas, sim, aos rumos que um município e seus habitantes tomaram no passado. Os de Tatuí estão intrinsecamente ligados a dois clubes de serviços, o Lions Clube e o Rotary Club (este dividido em Rotary Club Nascer do Sol e Rotary Club Cidade Ternura). Foram eles que contribuíram para que a cidade ganhasse reconhecimento além dos campos da música. Tatuí, a “Capital dos Doces Caseiros” e “Cidade Ternura”, é também lembrada pela sua excelência no ensino de enfermagem – oferecido pela Etec (Escola Técnica) “Dr. Gualter Nunes”. A construção desta identidade, aliás, é fruto do esforço de membros da sociedade civil que, mobilizada por meio dos clubes de serviços, fez e faz jus à frase do brasão do município. Foi pelo trabalho que rotarianos e leoninos mudaram os rumos do ensino local e, por consequência, do município. O Rotary Club começou a deixar sua marca em Tatuí há 63 anos, como conta um de seus fundadores, o advogado aposentado Simeão José Sobral. Aos 94 anos, ele tem orgulho de lembrar as conquistas obtidas pelos membros do clube de serviços. “Nós contribuímos – e continuamos a contribuir – de muitas formas”, iniciou. A primeira ajuda rotariana de que se tem notícia em Tatuí é a colaboração na promoção da campanha de vacinação contra

a poliomielite. “Esse engajamento veio por meio de um norteamento do Rotary Internacional”, explicou. A partir de sua fundação na cidade, em 1948, o Rotary começou a receber doses da vacina e a disponibilizá-las aos tatuianos. “A ação acontecia em diversos pontos. Eu só não me recordo quais. Mas fizemos isso porque, se concentrássemos num só local, ficava difícil vacinar”, recordou Sobral. As vacinas distribuídas em Tatuí vinham de Chicago, nos Estados Unidos, país no qual fica a sede internacional do Rotary. “Eles forneciam as doses ou dinheiro para comprá-las. Para nós, chegaram as vacinas”, comentou o membro-fundador. Já na primeira vez em que se engajou na campanha, o clube de serviços procurou estabelecer parceria com a Prefeitura. “Nós apenas demos o ‘start’. Depois que a pólio no Brasil foi extinta, o Rotary entregou a mantença da ação para os países e as prefeituras. Não ficou permanentemente. Fizemos apenas para ajudar na erradicação da doença”, disse Sobral. Além de ajudar a promover a vacinação, os sócios tatuianos contribuíram para a compra de vacinas. Para isso, realizaram,

Doação de sangue marcou inauguração do Banco de Sangue entregue pelo Lions à Santa Casa em setembro de 1956

na cidade, diversas campanhas de arrecadação de dinheiro. “As ações são praticamente as mesmas de hoje, que são os jantares, sorteio de brindes, entre outros”, comentou o advogado. “Essa era e é a maneira pela qual nós começamos a nos movimentar”, adicionou. A cooperação na vacinação terminou a partir da erradicação da poliomielite, mas continuou em Tatuí com ações voltadas à saúde e à educação. A principal delas foi a que originou a Femeg (Fundação Educacional “Manoel Guedes”), mantenedora da “Dr. Gualter Nunes”, escola técnica que atualmente oferece, além de enfermagem, cursos nas áreas de saúde bucal e farmácia. A unidade, pioneira na região,

foi originada a partir de uma necessidade detectada pelo também sócio-fundador do Rotary tatuiano Rafael Orsi Filho, o Orsinho, na época em que ocupou o cargo de provedor da Santa Casa. “Quando esteve à frente do hospital, a partir de 1925, ele notou que havia uma necessidade de enfermeiras para preencher o quadro de funcionários”, lembrou Sobral. Naquela ocasião, não havia pessoas preparadas para exercer a função. “Foi então que se iniciou o embrião da escola de enfermagem”. As primeiras aulas da atual Etec aconteceram nas dependências do hospital tatuiano. “Não havia a possibilidade financeira de trazer gente de fora para

ensinar, por isso, em princípio, os alunos aprendiam com os próprios funcionários de mais experiência”, descreveu o sóciofundador do clube tatuiano. Com o crescimento das turmas, Orsinho e outro rotariano, Milton Stape, tiveram a ideia de criar uma escola própria para o ensino da profissão. “As aulas não aconteceram por muito tempo na Santa Casa, porque, em seguida, cogitou-se construir a escola de enfermagem”, disse Sobral. Além da criação, o Rotary mantém como vínculo a concessão de bolsas para quem quer estudar enfermagem (cursos de auxiliar e técnico). “Nós mantemos lá, como fizemos desde o início, um número variável de bolsas, de acordo com a nossa possibilida-

de”, comentou o sócio-fundador. Neste ano de 2011, o Rotary Club concedeu 33 bolsas de estudo. Em paralelo à enfermagem, o Rotary ajudou a construir – por meio de seus sócios – outro importante organismo de ensino também ligado à saúde: a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais). A instituição, atualmente, mantém a Escola de Educação Especial “Wanderley Bocchi”, e tem em sua trajetória histórias de luta, dedicação, respeito e comprometimento. A unidade tatuiana teve sede inaugurada em 4 de novembro de 1978, dois anos depois da primeira reunião em assembleia na qual houve a fundação e constituição da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. O primeiro livro de atas registra o dia 25 de julho daquele ano como o de fundação da entidade, que teve como seu presidente Silvério Martins de Souza. O deputado Nelson Marcondes do Amaral é considerado o idealizador do projeto, que tomou forma nas reuniões rotarianas promovidas na chácara “Três Fontes”. Em princípio, a Apae funcionou na rua 15 de Novembro, 353, em imóvel alugado. Com a ajuda de pessoas da comunidade, a entidade manteve-se naquele endereço por dois anos, até que a sede social - atualmente na avenida Doutor Olavo Ribeiro de Souza, no Jardim Lucila - fosse construída. A sede atual ocupa um terreno de 12.920 metros quadrados, doados pelo então prefeito de Tatuí, Wanderley Bocchi, e sua esposa, Maria Penteado Bocchi. “O Rotary não atuou diretamente na construção da Apae,


10 de Agosto de 2011 mas sempre esteve presente ao longo da história dela”, comentou Sobral. “Nossa ajuda sempre foi uma ajuda complementar, de apoio”, adicionou o sóciofundador. Históricos de contribuição também foram – e continuam – a ser atribuídos aos membros do Lions Clube de Tatuí, que, desde 1955 - seu ano de fundação na cidade -, mobilizam a sociedade civil em prol do avanço do município. Exemplo claro desta, digamos, “interferência” positiva, é a instalação do Banco de Sangue “Fortunato Minghini”, entregue à Santa Casa em setembro de 1956, na gestão de José Carlos Holtz. A ideia do banco, porém, havia surgido um ano antes, na gestão de Fortunato Minghini. A luta pela instalação – que originou, anos depois, a construção de um prédio próprio – do banco de sangue tatuiano surgiu a partir de dificuldade enfrentada pela população (e pela classe médica da época) em relação à coleta de sangue. “Inclusive, o pessoal (doadores e profissionais da saúde)

tinha que ir ou para Botucatu ou Sorocaba para tratar de qualquer assunto em matéria de sangue”, comentou Hélio Loretti, um dos mais antigos membros do Lions tatuiano e, atualmente, presidente da região H do clube. A dificuldade aumentava, segundo ele, quando era necessária a realização do exame para detectar a doença de Chagas, provocada pelo Trypanosoma cruzi, o “barbeiro”, muito comum à época. “Esse exame só era feito em São Paulo. Aí, o pessoal do Lions resolveu se mobilizar”, lembrou Loretti. A primeira ação, contudo, foi trazer à cidade a coleta de sangue. “Trouxemos uma equipe da capital que promovia a chamada Colsan (“Coleta de Sangue”). Eles vieram com um ônibus especial”, contou. Em seguida, Minghini, que era comerciante, passou a mobilizar os demais companheiros, que deflagraram, em Tatuí, uma campanha para a instalação do banco de sangue. “Foi naquele ano (1955) que houve a criação e o recebimento da Carta Cons-

titutiva do Lions”, recordou. A instalação, segundo ele, constituiu na doação de equipamentos (geladeira, centrífugas, entre outros), com os quais se tornou possível a realização de exames de tipagem sanguínea. “Nós, em princípio, trabalhamos nesse sentido, de manter o local funcionando”, disse Loretti. Com o passar dos anos, as instalações do banco de sangue foram ficando obsoletas, o que gerou um comunicado da Vigilância Sanitária de Sorocaba. “Sempre que havia um problema, o doutor Paulo Baida (responsável pelo local) nos informava. Quando percebemos que a questão ficou mais séria, começamos a tarefa da construção”, comentou o presidente da região H. Em 2003, o médico havia informado aos “leões” que o órgão de saúde estava prestes a fechar o banco de sangue, que funcionava até então no prédio onde atualmente está instalada a administração do Pronto-Socorro Municipal “Erasmo Peixoto”. Ao tomar ciência da situação, classificada por Loretti como pre-

Membros do Rotary Club usavam sede para promvoer reuniões e angariar fundos para a introdução da campanha contra a pólio

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cária, o então presidente do Lions, Marcel Elizabeth Lodwicjk Proost (2003/2004) – na época, recém-empossado – iniciou, junto ao comércio da cidade, campanha para arrecadação de recursos para a construção de um prédio próprio ao banco de sangue. Proost não chegou a concluir Encontros movimentavam sociedade civil o trabalho, faleceu que contribuiu para projetos, como a criação antes da inaugurada Escola de Enfermagem “Gualter Nunes” ção, mas desencadeou um trabalho que prosseguiu. mas nós surpreendemos o secre- destacou Loretti. Seus membros A ideia da construção era dar tário. Ele nos perguntou o que tiveram como segunda missão condições apropriadas ao banco precisávamos, e o Proost disse obter a aprovação da então de sangue. “Uma das exigências que não estava lá para pedir, mas provedoria da Santa Casa para a da Vigilância Sanitária era de que sim para oferecer ajuda”, lembrou construção do novo prédio. “O o sangue coletado, por exemplo, Loretti. provedor da época (José Rubens não ficasse em áreas nas quais Foi então que a caravana do Amaral Lincoln) era ‘leão’, houvesse circulação de pessoas”, tatuiana apresentou o projeto mas o administrador não queria disse Loretti. Fato que não ocor- de construção ao secretário. ceder a área a qual cogitávamos”, ria na antiga unidade. Barradas chegou a perguntar lembrou o sócio. A notificação aconteceu justa- ao presidente leonino quanto o A oferta inicial era de que os mente no período em que Proost clube necessitava para colocar a “leões” construíssem o prédio assumia a presidência do ideia em prática. “Nessa hora, no espaço onde atualmente está Lions da cidade. “Ele, ele deu uma resposta das mais sendo construída a nova maternimesmo doente, disse inteligentes que eu já ouvi. Ele dade da Santa Casa. “O terreno, que não ia deixar o ban- falou ao secretário: ‘O que o se- naquele período, era horrível, co de sangue fechar. Aí, nhor nos der acima de R$ 1 será porque, ao contrário de hoje, a começou-se o movimento bem-vindo’”. Barradas, então, área era isolada”. propriamente dito”, adi- teria oferecido R$ 70 mil, sendo Dezenas de reuniões depois, cionou. R$ 50 mil a serem utilizados na os membros do Lions Clube O primeiro grande fase de construção e R$ 20 na de convenceram o administrador a passo foi um encontro cobertura. O dinheiro chegou ao permitir a construção do prédio, realizado entre os re- clube por meio da Prefeitura. que é independente da Santa presentantes do clube Nessa etapa, a missão da Casa e tem funcionamento na de serviços e o então construção do banco de sangue rua Cônego Demétrio, 868. secretário estadual de já havia sido Saúde, Luiz Roberto aprovada em Barradas Barata (faleci- assembleia do), ainda em 2003. A pelos comreunião foi agendada pelo p a n h e i r o s então deputado estadual leões e doLuiz Gonzaga Vieira de madoras. “A Camargo, atualmente partir daí, prefeito de Tatuí. formou-se a “O encontro era para comissão da tratar de pleitos de re- construção presentantes de várias d o b a n c o Santas Casas do Estado, de sangue”, Diretoria do Lions fez entrega do banco de sangue em 1956


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O revolucionário incompreendido Dono de métodos ‘pouco ortodoxos’, doutor Jarbas contribuiu para ensino e saúde

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ntônio Jarbas Veigas de sor catedrático de psicologia no Barros era, sem dúvida, Instituto de Educação “Barão uma figura emblemá- de Suruí” –, mas na saúde. Em tica. Nascido em Botucatu, em Tatuí, “doutor Jarbas”, como era 4 de janeiro de 1918, ele esco- conhecido, exerceu as funções de lheu Tatuí para viver. Aqui, exerceu sua maior paixão: a medicina, uma das razões pela qual enveredou na política, tornando-se vereador e presidente da Câmara. Conhecido por ser dono de métodos “pouco ortodoxos”, o médico contribuiu não só para a evolução do ensino Jarbas, familiares e amigos no município – foi profes-

médico da Santa Casa e da saúde pública. Também atuou como médico sanitarista, trabalhando no combate às verminoses. A ligação dele com Tatuí começa a partir de seu segundo casamento, com Carlota Joaquina Franco. “Fui aluna dele, quando ele lecionava no Colégio Ipiranga, em São Paulo”, contou a artista plástica. Depois de casarem-se, os dois vieram para o município. Antes de mudar-se para


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expediente

cá, o médico atuou como assistente da Clínica Psiquiátrica da Escola Paulista de Medicina e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Também foi professor assistente da Faculdade de Medicina de Sorocaba, assistente da clínica psiquiátrica do doutor Ache e médico do Instituto Psiquiátrico do Juqueri. Em Tatuí, começou a ganhar fama após ser aprovado pelo governo do Estado para lecionar. “Ele tinha sido aprovado como professor catedrático do Barão”, lembra Carlota. No “Barão de Suruí”, Jarbas começou a lecionar biologia educacional, em 1949. “A matéria era tão importante que havia uma pessoa, uma espécie de assistente, que o ajudava”, conta Carlota. A primeira assistente do médico foi a tatuiana Maria Tricta Petinelli, esposa de Armando Petinelli, que administrou, por

décadas, a Estação Experimental. “Ela era supercompetente, uma pessoa de nível intelectual altíssimo”, comenta a artista plástica, que, incentivada pelo marido, também lecionou em Tatuí. Carlota fundou, na cidade, uma “escola de madureza”, como eram chamados os locais nos quais se davam aulas de boas maneiras às moças e rapazes e de reforço escolar. “Muita gente que queria prestar exame de admissão na primeira série de ginásio frequentava a minha escola”, recorda. A fama de excêntrico, do médico, começou a espalharse quando ele assumiu o cargo de professor da saúde escolar. Naquela época, doutor Jarbas era responsável por examinar os alunos e fazer diagnósticos. O detalhe é que as consultas aconteciam dentro das salas de aula. “Todo mês ele enviava relatórios

O caderno “Venceu pelo Próprio Esforço” é uma edição especial comemorativa aos 185 anos de Tatuí Edição: Ivan Camargo Reportagens: Cristiano Mota Arte final: Altair Vieira de Camargo (Bisteka) Diagramação e projeto gráfico: Erivelton de Morais Colaboração: Simeão José Sobral, Hélio Loretti, Alzira Farah Loretti, Carlota Joaquina Franco, Acassil José de Oliveira Camargo, Jaime Pinheiro e Elze Vanni

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O revolucionário incompreendido

O médico concede entrevista no dia da fundação de partido político em Tatuí

à Secretaria Estadual da Saúde, em São Paulo, no qual tinha que especificar quantos alunos ele havia examinado”, conta Carlota. O diagnóstico era feito junto a estudantes de todas as escolas da cidade e região. “Ele tinha que examinar os estudantes só de Tatuí, mas, como era bem consciente, visitava os municípios vizinhos, todos”, relata a artista plástica. Por conta do trabalho, Jarbas desenvolveu um método próprio, que chamava a atenção de quem assistia às consultas. Com uma colher, ele afastava a língua da criança para observar se a garganta estava inflamada. “Depois disso, ele contava de um a cinco. Se falasse ‘op’, era para operar a amígdala. Estava feito o diagnóstico”, detalha Carlota. A colher era esterilizada em um copo com álcool. “O copo também ficou famoso, mas o curioso é que ele nunca errava. Sempre acertava o diagnóstico”. O método, bastante incomum, era aplicado pelo médico com base em seus cursos de aperfeiçoamento, feitos, todos, em São Paulo. Doutor Jarbas também teve formação militar. “Ele chegou a ser convocado para a II Guerra Mundial por ser sanitarista”, conta Carlota. Como tinha

cursos de primeiros-socorros, Jarbas havia sido considerado indispensável no atendimento aos soldados. “Tentaram convencêlo, de todas as maneiras possíveis, porque disseram que ele seria útil numa frente de guerra”, diz a artista plástica. Jarbas, no entanto, não aceitou a convocação e chegou a desafiar seus superiores. “Ele falou que não ia, e ponto final. Não foi e não acabou preso. E olhe que, naquela época, bater de frente com autoridades dava cadeia”, acentua Carlota. O jeito desafiador do médico também se fez presente em suas atuações pela saúde. “Ele brigava muito para trazer vacinas para Tatuí. Ia pessoalmente a São Paulo para buscá-las”, relata Carlota. Jarbas também era conhecido por receitar coquetéis. A esposa era, na maioria das vezes, a primeira a testá-los. Os preparados eram receitados tanto para o combate às doenças, como no retardo do envelhecimento. As receitas aguçavam a curiosidade da população local. “O comentário era geral, mas ele sempre fazia as coisas com consciência”, aponta a artista plástica. Carlota era também a primeira a testar os experimentos do marido. “Sempre que ele vinha de

São Paulo, trazia alguma coisa dedicava mais aos outros do que cava só com a marca do que um diferente. Vacinas, então, nem se a si mesmo”, comenta Carlota. dia tinha sido alguma coisa”, fale. O meu braço chegava a ficar A medicina, para o médico, era descreve Carlota. ‘enorme’ de tantas aplicações”, tão importante que ele chegou a Os tratamentos eram feitos à comenta. Por ser sanitarista, descuidar da própria saúde para base de coquetéis e os pagamendoutor Jarbas era o primeiro a passar mais tempo atendendo tos, de formas inusitadas. “Uma ter acesso às imunizações contra os pacientes. “Teve uma época vez, um paciente quis pagá-lo as epidemias. “Ele foi o princi- que ele precisou diminuir o ritmo com uma égua”, ri a esposa. pal responsável por combater a de trabalho, porque começou a Os preparados eram feitos com meningite na região”, informa a sofrer do coração”, diz Carlota. medicamentos importados. “Ele esposa. As doses eram retiradas Mesmo adoentado, doutor Jar- fazia tudo num laboratório que do Hospital “Emílio Ribas”, em bas manteve o ritmo de trabalho mantinha em São Paulo”, conta São Paulo. e um hábito pouco usual para a artista plástica. Os medicamentos eram trazi- médicos. “Ele gostava de beber, As receitas, porém, não foram dos em uma perua. “Ele enchia mas não bebia qualquer porcaria. repassadas a colegas da época. o veículo de remédios”, lembra Só bebia conhaque e vinho, e “Ele não chegou a capacitar ninCarlota. Entre os trazidos ao tinha que ser dos bons”, comenta guém, porque os médicos sempre município e distribuídos à popu- a esposa. Naquela época, Jarbas o discriminaram muito. Achavam lação, estava, também, um fortifi- ainda mantinha duas clínicas em que ele era louco e diziam para cante chamado “Rarical”. “Estes São Paulo. Em uma delas, atendia as pessoas o procurarem quando eram entregues aos estudantes”, gestantes; na outra, doentes do já estivessem à beira da morte. conta a artista plástica. Doutor coração. Em Tatuí, Jarbas ficou Mas ele nunca matou ninguém, Jarbas também receitava ver- conhecido por tratar ferimentos, muito pelo contrário. Sempre mífugos e os distribuía sempre como úlceras. “Ele era tão bom curou todos os seus pacientes”, que assumia, provisoriamente, o nisso que, quando o tratamento sustenta Carlota. posto de Aniz Boacabava, a pessoa fiPara ela, a rejeição por parte neder. “Sempre que o Boneder, que era chefe do posto de saúde, saía de férias, o Jarbas assumia. E quando ele fazia isso, acabava com o estoque de remédios”, relata Carlota. A atitude do médico, conforme a artista plástica, fez com que a população da época – e alguns colegas de trabalho – passassem a criticá-lo. “As pessoas tinham pavor dele, por causa da maneira de trabalhar. Mas ele tratava do povo. Era Ao lado de políticos locais, Jarbas participa ica, uma pessoa de caminhada; o médico ingressou na polít ara Câm da e dent presi e consciente e se sendo eleito vereador

dos colegas ocorria porque eles tinham “medo do diferente”. “Sempre alguém que tem uma opinião diferente da maioria é vista com outros olhos”, argumenta. “As pessoas estavam acostumadas a passar pelo médico e nem serem examinadas. Mas ele, não. Ele agia, perguntava, examinava. Além disso, o diagnóstico dele era perfeito”. Depois de anos clinicando em Tatuí, em seu consultório na rua 7 de Maio, o médico resolveu ingressar na política. Jarbas foi eleito vereador em 1956, mesmo ano em que assumiu a presidência da Câmara Municipal. Por consequência de seu trabalho, foi homenageado, décadas mais tarde, como patrono da unidade básica de saúde do então bairro (atual distrito) de Americana. O médico também dá nome a rua localizada no Jardim Lucila.


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Por uma causa maior

Um escudo para Tatuí Brasão que traz elementos da história do município completa 85 anos em 2011

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identidade tatuiana, calcada sempre no trabalho do seu povo, ganhou contornos mais acentuados nos idos de 1920. Naquela época, políticos e entusiastas lançaram a ideia da criação de um escudo para o município. O trabalho ficou a cargo de Affonso d’Escragnolle Taunay, que, além de seus múltiplos atributos (era biógrafo, historiador, ensaísta, lexicógrafo, romancista e professor), na época, exercia o cargo de diretor do Museu Paulista. O escudo, composto pelo brasão de Tatuí e que ostenta a expressão “Per Ardva Surrexi”, foi concluído e apresentado ao prefeito municipal Norman Bernardes (1920 a 1926) em 1926. Sua instalação aconteceu em festa para os tatuianos, no dia 11 de agosto do mesmo ano, às 12h, em evento na sala de sessões da Câmara Municipal e que integrou o calendário de festividades de aniversário do município daquele ano. À época, chegou-se a publicar em O Progresso que o escudo “encerrava todos os fatos mais importantes da vida de Tatuí, desde os primeiros dias como vila de São João do Bemfica”, tamanho orgulho que os tatuianos tinham dele. Não por menos, Taunay foi escolhido para desenvolver o escudo. O historiador era considerado a maior autoridade em trabalhos relacionados ao tema e grande conhecedor da história das cidades da região. A pintura ficou a cargo de Wart Rodrigues, que, além de Tatuí, havia sido encarregado de produzir diversos escudos para as cidades do Estado de São Paulo. O de Tatuí está repleto de simbolismos que remetem à sua história, como as armas de Cuiabá, o castelo de ouro, a roda dentada e os ramos de café e algodão. As armas lembram a fundação da vila de São João do Bemfica, pelo bandeirante Paschoal Moreira Cabral; já o castelo está relacionado à atitude dos tatuianos de defenderem a legalidade e sacrificarem-se heroicamente nas lutas contra o Paraguai; a roda dentada é a

representação das indústrias que impulsionaram o desenvolvimento da cidade; e os ramos de café e algodão recordam as duas principais culturas agrícolas do município na época. O algodão, aliás, foi o responsável pelo desenvolvimento industrial da cidade, com as fábricas de tecelagem. Apesar de antigo – ele completa 85 anos em 2011 –, o brasão de Tatuí continua mais atual que nunca. A avaliação é do artista plástico, cenógrafo e pesquisador Jaime Pinheiro. Conforme ele, o escudo do município tem uma função muito mais profunda que a de identificar a cidade: ajudar na formação – e na manutenção – da identidade do povo “pé vermeio”. “Ele reforma a identidade, por meio dos símbolos os quais trazem todas as características da cidade na época em que ele foi concebido, como as culturas de café e de algodão. As duas nem são mais cultivadas, mas, ainda assim, recontam um período da nossa história”, comentou. A representatividade da cidade atualmente, segundo Pinheiro, deve-se em parte a seu escudo. “Além de ser uma figura bonita, ele funciona como uma espécie de marketing da cidade”, analisou. Sua proposta de criação seguiu uma tendência da época. “Era muito comum, naquele período da história brasileira, que os escudos trouxessem informações a respeito dos municípios”, disse Pinheiro. As de Tatuí estiveram ligadas às famílias tradicionais, como os Guedes, de Manoel Guedes, pioneiro na cultura do algodão. “Àquela época, os elementos mais fortes se sobressaíam quando o assunto eram os brasões”, afirmou Pinheiro. Em geral, os destaques eram pontos que faziam referências, neste caso, não necessariamente só de costumes. O brasão tatuiano traz, por exemplo, o morro de Ipanema, que faz menção de localização. “Essa representatividade é usada hoje em dia em tudo. Funciona tanto para empresas, para marketing, como para as cidades. É nele que se mostra tradição, respeito. O escudo dá solidez”, concluiu Pinheiro.

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Abnegação de José Vanni permitiu existência do único hospital do município

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período entre os anos de 1880 e 1930 é considerado o ápice da imigração italiana no Brasil. Foi mais ou menos nesse período que os Vanni desembarcaram no país, chegando a Tatuí para interferir - positivamente, é claro - na história do município. A maior intervenção, lembrada até hoje, é com relação à administração da Santa Casa de Misericórdia, surgida no ano de 1895, como “Beneficência Tatuhyense”. O início dessa história de abnegação foi em 1927, quando José Vanni, nascido em Lucca, na Itália, assumiu a provedoria do hospital. “Papai tomou conta da Santa Casa por 25 anos”, lembra Elze Vanni, filha do homem cujo maior feito é ter conseguido reerguer as finanças do até hoje único hospital do município. Naquele ano, a Santa Casa passava por problemas financeiros graves. Aquela era, talvez, a primeira de outras crises que se sucederiam até a intervenção pela Prefeitura, em 2008. Faltavam no hospital, segundo Elze Vanni, mantimentos, remédios e todo o tipo de sortimento. “As madres da Santa Casa estavam numa situação desesperadora. Tanto que nem havia mais doentes no hospital”, conta a comerciante. Por conta da situação, as irmãs da Providência preparavam-se para deixar o hospital. Naquela época, elas ajudavam na administração, não só cuidando de pacientes, mas também comprando remédios, alimentos, roupas de cama para os pacientes, entre outros itens necessários para o funcionamento da Santa Casa. “Antes de ir embora, elas ligaram para mamãe, com quem tinham muita amizade, e contaram o que estava acontecendo”, diz Elze Vanni. Ao receber a notícia, América Vanni começou um trabalho de convencimento junto ao marido. “As madres queriam que papai assumisse. Elas falaram, inclusive, que iam deixar a chave do hospital na porta, porque não tinham nada para comer”, relembra a filha mais nova do casal. Elze Vanni, na época criança, disse que a mãe prometeu às irmãs que falaria com o esposo. “Ela também mandou mantimentos, pão, leite, carne, para que as irmãs pudessem ficar até que papai fosse falar com elas”. O plano das madres era mudarse para Tietê. “Elas só ligaram para se despedir de mamãe”, comentou Elze Vanni. Na conversa, aproveitaram para se queixar da falta de apoio. “Segundo elas, ninguém quis ajudar, nem Prefeitura, nem Ministério Público. Todo mundo tirou o corpo fora”, afirma.

Mais calmas, as quatro madres que trabalhavam no hospital decidiram ficar, para falar com José Vanni. “As madres achavam que papai era mais fácil de domar”, conta Elze Vanni. No dia seguinte, o comerciante, convencido pela esposa, encontrou-se com as irmãs. “Mamãe quis que ele fosse, porque se ele dissesse não, faria isso pessoalmente e não por telefone”, confidencia a filha. Depois de ficar a par da situação, José Vanni levou mantimentos, medicamentos e roupas de cama para as madres

e convenceu-se, aos poucos, a administrar o hospital. Naquela época, o comerciante passou a renegociar as compras de suprimentos. “Ele foi bem claro, e pediu para os fornecedores começarem uma nova conta. Ele disse: ‘Não vou pagar nada que veio antes de mim. Só daqui para a frente. Quando a situação melhorar, aí a gente acerta””, conta Elze Vanni. A renegociação foi feita com todos os fornecedores. Durante sua gestão, José Vanni fez a ampliação do prédio do hospital, até então construído na

forma de um “E”. “Aquele era o modelo padrão de construção de Santas Casas”, comenta a filha do ex-provedor. O comerciante criou o pavilhão “Lúcia Azevedo” e a maternidade “Maria Odete”, além das áreas de isolamento, de lavanderia e de uma gruta. A construção aconteceu a pedido das Irmãs da Providência. “Elas conseguiram convencer papai a fazê-la, de tanto que azucrinaram ele. Falavam toda hora que precisavam de um local para lazer”, conta a comerciante. José Vanni também foi o res-


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ponsável por trazer à Santa Casa o primeiro aparelho de raio-X. “Foi uma glória. As pessoas, hoje, não entendem a magnitude do que foi aquela aquisição”, argumenta a filha do ex-provedor. A compra era feita com recursos levantados junto aos sócios do hospital. “Hoje o governo transfere muito dinheiro, mas, naquele tempo, não tinha nada disso. Tudo era comprado com dinheiro arrecadado”, conta Elze Vanni. O modo de administrar, do pai, era admirado por muitos, conta a filha. “Ele sempre pechinchava. Até mesmo na hora de pagar a comissão dos que faziam frete para ele, de São Paulo”. Dessa forma, José Vanni conseguiu ampliar a estrutura e, ao mesmo tempo, equacionar as contas do hospital, a segunda residência de Elze Vanni. “Eu cresci lá e tenho ciúmes de quem fala mal da Santa Casa, do mesmo modo que tinha ciúmes quando falavam da Sociedade Italiana”, ressalta a comerciante. A sociedade era, na verdade, um clube de italianos e descendentes de italianos que funcionava na rua 15 de Novembro. Os Vanni não saíam de lá. Tanto que José Vanni fez parte da diretoria do clube e foi o responsável por incluir uma cláusula no estatuto do clube que permitiu a cessão de um dos imóveis pertencentes ao grupo à Litac (Liga Tatuiana de Assistência aos Cancerosos).

Contra

a maré

Apesar de obter êxito, nos 25 anos em que ficou à frente da Santa Casa, José Vanni teve de nadar contra a maré para administrar o hospital. Ele, inclusive, tinha sido desestimulado por autoridades que, na época, estavam preocupadas. “Falavam para ele: ‘Cuidado, o hospital está fechado’. Ele respondia: “Pois é, se já está fechado, não tem problema””, conta Elze Vanni. A comerciante lembra que o pe-

Por uma causa maior

, Eleição à provedoria da Santa Casa , em 1956 de nas cente u atrai a maior de todos os tempos, rio sócios do hospital à votação na Igreja do Rosá

ríodo mais crítico enfrentando pelo pai foi justamente o primeiro ano. “Quando ele assumiu, não tinha um tostão. Tinha que ficar catando centavos para conseguir alguma coisa”, lembra. Com a ajuda de sua diretoria, José Vanni conseguiu não só levantar fundos para manter o hospital funcionando, mas pagar todas as dívidas. À frente da provedoria, José Vanni também passou por um período conturbado, quando a Santa Casa deixou de ser um risco e começou a ser objeto de desejo de políticos. “Tudo começou com o Olívio Junqueira. Ele conseguiu fazer uma coisa em Tatuí que ninguém tinha feito: dividir a cidade”, disse Elze Vanni. O “racha” ocorreu na época em que Junqueira disputava a prefeitura com Aniz Boneder. “Quando

você via uma roda de conversa, ou um comitê político na rua, era possível saber se as pessoas eram junqueiristas ou estavam do lado do doutor Aniz”, conta a comerciante. Depois de ganhar a eleição para prefeito, em 1956, Junqueira teria “crescido os olhos” na Santa Casa. “Ele decidiu tomar a provedoria do hospital. Queria que o grupo dele administrasse. Chegaram a pedir isso, no dia da eleição”, comentou Elze Vanni. Em dezembro daquele ano, o grupo do então prefeito solicitou à diretoria do hospital uma cópia do estatuto. “Uma funcionária disse para papai que eles queriam disputar a eleição. Ele disse: “Pois então que disputem, e pode dar o estatuto’”, contou a comerciante. A atitude dos junqueiristas preocupou Elze Vanni, na época também integrante da diretoria que administrava a Santa Casa. A eleição da nova chapa aconteceria no dia 25 daquele mês. “Papai acreditou que eles não fossem estar presentes à eleição, que era feita no dia de Natal, até porque, naquela época, era preciso convocar gente, de casa em casa, para votar”, conta a filha. No dia da eleição, o grupo do então prefeito teria “tomado a frente do hospital”. “Quando chegamos lá, vimos a cúpula do Junqueira toda. Aí, eu disse: “Bepe (era como eu chamava papai), eles vieram disputar a eleição”, relatou Elze Vanni. O

pai, no entanto, acreditou que se tratava de uma visita de Natal. De olho no movimento, a filha do então provedor começou a articular a permanência do grupo de José Vanni na administração do hospital. “Conversei com meu irmão, Nilzo Vanni, e fomos até o Hotel Del Fiol, avisar a nossa turma para que fosse disputar as eleições”, descreveu. Disposta a evitar que o grupo indicado por Olívio Junqueira assumisse o hospital, Elze Vanni queria vetar a participação dos sócios que não estivessem em dia com as mensalidades. “Como eu e minha tia preenchíamos os recibos, nós sabíamos de cor e salteado quem estava com a obrigação em dia e quem não”, disse a comerciante. A maioria dos inadimplentes, segundo ela, era do grupo de oposição ao de José Vanni. Na ocasião, poderiam votar os quase 2.000 sócios. “Desses, mais ou menos, a gente sabia quem tinha condições de votar”, diz a comerciante. A eleição, que estava marcada para 16h45 do dia 25 de dezembro de 1956, porém, não aconteceu. O motivo foi que o grupo do então prefeito teria entrado em um acordo com José Vanni. “Papai resolveu marcar uma nova eleição, porque achava que o grupo deles tinha o direito de participar”, disse Elze Vanni. “Papai até disse que deixava o cargo, caso fosse procurado, mas que não sairia tocado”, adicionou a comerciante.

Por conta disto, José Vanni adiou a eleição para 21 dias depois. “Eles apresentaram a chapa, levaram um monte de gente, mas apanharam bastante, porque eu havia levado mais de cem procurações assinadas”, conta a filha. O processo de eleição aconteceu na antiga igreja do Rosário, que ficava na praça Paulo Setúbal. “Gente muito importante votou. Demos uma surra neles”, complementou Elze Vanni.

Ardida

como pimenta

A administração da Santa Casa foi, para José Vanni, um exercício de paciência. Ao mesmo tempo em que tinha que lidar com os problemas financeiros, o italiano contorcia-se para não desagradar as irmãs da Providência. “Uma delas, em especial, deu mais trabalho a papai”, conta Elze Vanni. A madre, cujo primeiro nome era Remija, havia vindo da Itália direto para Tatuí. “A Santa Casa foi o primeiro lugar que ela ficou no Brasil”, conta a filha do provedor. Autônoma, a madre não gostava de ser questionada em relação ao trabalho à frente do hospital. Razão pela qual, muitas vezes, desentendia-se com José Vanni, o provedor. “Papai perdeu as contas de quantas vezes ele pediu para ela internar pessoas, e ela se recusou”, conta Elze Vanni. Madre Remija era a responsável pelo diagnóstico inicial e por coordenar as equipes que prestavam atendimento aos pacientes. Era ela

quem verificava quem precisava ser ou não internado. “Naquele tempo, era difícil se locomover, especialmente para quem morava no sítio. E acontecia dela mandar paciente voltar para casa porque achava que não precisava ser internado”, conta a comerciante. O paciente que não conseguia internação, ou atendimento, grande parte das vezes, recorria a José Vanni. “As pessoas reclamavam para papai que a madre dizia que não era caso de internar. Aí, papai ligava para ela, e começavam a discutir. Ela não era fácil. Dizia que, se internasse um pobre, também teria que internar um rico”, comenta Elze Vanni. O mesmo ocorria com a compra de medicamentos. “Muitas vezes, ela não comprava, porque dizia que era caro. Mas papai a convencia, porque era essencial”. As discussões eram sempre encerradas por madre Remija, que ganhou o apelido de “Pimenta”, de José Vanni. “Ela era pequena e ardida. Além disso, fazia questão de dizer a papai, em italiano: ‘Io sono piccola, ma bruciati como il Pepe (eu sou pequena, mas ardida como pimenta)’”, conclui Elze Vanni.

História

A Beneficência Tatuhyense, que deu origem à Santa Casa, surgiu em 8 de julho de 1895. Sua fundação aconteceu no salão nobre do então Gabinete de Leitura Tatuiense, localizado onde atualmente está o estacionamento do banco Itaú, na Praça da Matriz. A instituição de saúde teve assembleia de constituição presidida pelo capitão Antonio de Oliveira Leite Setúbal. Atuaram como secretários: Eugênio Frederico dos Santos e José Thomaz Correia Guimarães, o Nhô Nhô da Botica. A Beneficência Tatuhyense foi inaugurada em 1º de janeiro de 1896, na praça Antônio Prado, que abriga a Concha Acústica Municipal “Maestro Spártacco Rossi”. A entidade funcionou no prédio doado pelo industrial Manoel Guedes Pinto de Mello por quase 30 anos. A instituição, contudo, começou a enfrentar dificuldades em função do aumento da população e da precariedade do imóvel em que estava abrigada e entrou em decadência. Em 1920, a Sociedade Beneficência Tatuhyense mudou sua razão social para Santa Casa de Misericórdia de Tatuí, e ganhou prédio novo, próximo à avenida Cônego João Clímaco de Camargo, a avenida das Mangueiras. A pedra fundamental do hospital teve lançamento no dia 15 de novembro de 1923.


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Revanchismo positivo Rixa contra Itapetininga ‘acelerou’ chegada de faculdade na década de 1970

Vista aérea da Asseta, complexo educacional criado por grupo de tatuianos que se dedicou ao avanço do ensino superior no município

S

ou bairrista, com muito orgulho”. A declaração, do professor e empresário Acassil José de Oliveira Camargo, um dos precursores do ensino superior em Tatuí, dá uma pequena noção do sentimento que imperava no município na década de 1960. Naquele período, os tatuienses, como se chamavam as pessoas nascidas aqui, travavam brigas históricas com os itapetininganos. Nem todas elas tinham consequências ruins, mesmo porque as contendas ficavam no âmbito das conquistas – a maior parte delas vinculadas à política. Até bem pouco tempo, Tatuí ainda contabilizava perdas para Itapetininga. Entre as mais recentes, “

as transferências do IC (Instituto de Criminalística), do IML (Instituto Médico Legal) e da Derita (Diretoria Regional de Ensino). A rixa histórica, por outro lado, rendeu aos tatuianos grandes conquistas no campo intelectual. Uma delas é a Asseta (Associação de Ensino Tatuiense) – Faculdade de Tatuí, a primeira instituição de ensino superior da cidade. A ideia de trazer a Tatuí uma faculdade surgiu por acaso, em 1966, no auge das desavenças entre os tatuianos e os itapetininganos. Naquela época, Camargo iniciou o curso de ciências sociais na Faculdade de Filosofia de Itapetininga. Lá, também começou a desenvolver projetos, a pedido de José Ozi, diretor

daquela instituição. “Eu tinha uma aproximação muito grande com ele. Numa das vezes em que conversávamos, ele me perguntou se eu não tinha vontade de criar uma faculdade em Tatuí”, recordou Camargo. O professor, que lecionava desenho no Instituto de Educação “Barão de Suruí”, gostou tanto da proposta que decidiu apresentála a um grupo de amigos, que, mais tarde, topou o desafio. “A sugestão foi encampada por eles por conta da rixa que havia com os itapetininganos. Naquela época, existia uma disputa para ver qual cidade teria mais chances de conseguir a autorização do MEC (Ministério da Educação) para abertura de novos cursos”,

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Revanchismo positivo

contou Acassil José de Oliveira Camargo Júnior, filho do educador que deu início ao projeto. Ozi, que já possuía uma faculdade, viu na parceria com Camargo a possibilidade de ampliar seus negócios ligados à educação para além das fronteiras itapetininganas. Naquele tempo, a cidade vizinha era a opção de estudo mais próxima que os tatuianos tinham se quisessem ingressar na graduação. O diretor, então, passou a ajudar o grupo tatuiano, participando, inclusive, de reuniões nas quais explicava o funcionamento dos trâmites para os pedidos de abertura de cursos. “Ele realmente nos ajudou”, contou Camargo. Como exercia, na ocasião, o cargo de presidente do Consórcio de Promoção Social, de Tatuí, o professor teve facilidade em apresentar a ideia a outros interessados, os quais dispunham de capital para investir. “Conversei com um monte de gente, porque sozinho não dava”, lembra. Com o passar do tempo, a proposta ganhou a adesão de um grupo considerável, que, além de Ozi e Camargo, era composto pelo major brigadeiro José Vaz da Silva, o deputado federal Ildélio Martins e pelos tatuianos Flávio

Augusto Flaviano. A intervenção, segundo conta Camargo, tinha como finalidade o fechamento da instituição. “Para que isso não acontecesse, a Asseta levou para Itapetininga o professor Joaquim de Campos, além de outros profissionais que colaboraram para restabelecer a normalidade da faculdade, Aviões “Paulistinha” integraram 1ª que hoje é motivo de frota de aeroclube criado por Acassil orgulho para todos”. Por intermédio da Asseta, outras conquistas chegaram a Tatuí. teóricas ministradas nas salas da funcionamento, porém, tornouEntre elas, o projeto Faficile (Faculdade de Filosofia, se inviável porque os estudantes “Halley”, implantado Ciências e Letras), de Tatuí, ficaram desestimulados em razão no Sítio do Carroção integrante da Asseta, e práticas do governo da época não exigir e que resultou na nas dependências do clube diploma dos professores para que Aeroclube de Tatuí recebe tripulação de construção de um te- Agostino. O XI foi escolhido por atuassem na área. avião Bandeirantes que pousou pela primeira lescópio; e o Projeto ter um conjunto “invejável” de vez na cidade no mês de dezembro de 1970 Alfa, embrião do atual piscinas, um campo de futebol Nos ares Nebam (Núcleo de em excelentes condições e um As paredes das salas de aula Educação Básica Mu- ginásio esportivo. da Asseta também guardam Ferreira de Albuquerque, Atalla em que funcionava uma fábrica de nicipal) “Ayrton Senna da Silva”. Em paralelo ao curso de grahistórias curiosas. Foi em uma Salomão José Schaira, José Eras- linho, onde até hoje mantemos a Esta última iniciativa buscou duação, a Faculdade de Educação das classes da instituição que mo Pereira Peixoto, José Simões estrutura original”, detalha. atender crianças e adolescentes, Física de Tatuí passou a oferecer Camargo construiu duas de suas de Almeida, Braz Sotero Dias A Asseta iniciou as atividades entre os 7 e 16 anos de idade. outros cursos, como educação aeronaves de pequeno porte – o Borba, Sérgio Orsi, Manoel Sá, dois anos depois da formação do “À época, a ideia era oferecer física infantil e técnicos de vôlei, professor possui três. Os aviões Benedito Lopes, Orlando Lisboa grupo, com os cursos de pedagogia, um espaço em regime de semibasquete e atletismo. Os aperfeieram testados no Aeroclube de de Almeida, Francisco Orsi, Hélio estudos sociais, desenho e história. internato no período escolar, busçoamentos atraíam alunos de 24 Tatuí, também fundado com a Sá de Campos Portela e José O corpo docente era composto cando proporcionar condições cidades da região, que assistiam colaboração do educador. Tomaz de Camargo. por professores de São Paulo, que aos filhos de mães trabalhadoras aulas ministradas por Pedro HenO aeroclube surgiu em 1941, Também compuseram o grupo vieram a Tatuí a convite de Capara um desenvolvimento global rique técnico do lendário João por ocasião de trabalho desenfundador: Aido Luiz Lourenço, margo. “O que demorou foram os harmonioso”, afirma Camargo. do Pulo, uma das principais refevolvido por Francisco de Assis Guido Rubens Orsi, José Maria trâmites. Começar a funcionar foi As atividades do Projeto Alfa rências brasileiras no atletismo -, Chateaubriand Bandeira de Martins Valério, Luiz Gonzaga rápido”, disse o professor. O protiveram início em 1988. Em 2005, Nelson de Barros e Marcos Guedes Melo, mais conhecido como Assis Rocha Leite, Vera Lúcia de cesso de adaptação do prédio da ele foi incorporado definitiva(atletismo), Nardoto (natação), Chateaubriand. “O objetivo era Campos Valério, Eunice Rossi antiga fábrica de linho também mente pela Prefeitura e passou Nelsinho e Mara (ginástica), Meformar pilotos para combater na de Oliveira Camargo, Maria de aconteceu em ritmo acelerado. a receber investimentos maiores, dalha (basquete), Zanineti (vôlei), II Guerra Mundial”, explicou Lourdes de Arruda Costa, Fran- “Como nós não construímos, cisco Silvério de Almeida, Willian em um primeiro momento, con- por meio da Secretaria Munici- Santo Balacin (handebol), Camargo. A área pertencente ao Speers Dantas, Ageu Alves de seguimos inaugurar em tempo pal da Educação. Atualmente, o Bacala (anatomia), Pimenta aeroclube havia sido escolhida Araújo, Cláudio José Mantovani recorde, porque fizemos apenas Nebam conta com prédio próprio (primeiros-socorros), Simeão e cedida pelo então prefeito de dotado de um auditório – o pri- Sobral (EPB), Paulo Antônio Tatuí, Antônio Tricta Júnior. e Carlos Alberto de Campos. algumas reformas”. meiro do município – que leva (recreação), Gil Mercadante O primeiro avião trazido ao A primeira reunião oficial do o nome do jornalista tatuiano (biologia), Cida Pio (estrutura município era um monomotor grupo aconteceu em 1969, ano Contribuições Maurício Loureiro Gama. e funcionamento do ensino) e Piper, que, anos mais tarde, veio em que se iniciaram os trâmites Trazida por iniciativa de um A Asseta também permitiu Cleide Orsi (psicologia). a envolver-se em um acidente em burocráticos para a abertura grupo de pessoas ligadas à edua abertura de outra faculdade Em 1973, quando a primeira Quadra. “Eu não sei explicar o da instituição. “O processo era cação, a faculdade somou grandes no município: a Faculdade de turma formou-se, o esporte enque houve, mas, por essa razão, custoso. Eu precisava emprestar contribuições ao ensino não só do Educação Física, criada pela trou definitivamente para a hiso clube ficou um pouco parado. dinheiro a juros para ir até Brasí- município, mas do país, por meio Associação Atlética XI de Agosto. tória da cidade. Muitos profissioDepois, nós conseguimos conserlia”, disse Camargo, que escolheu de inúmeros projetos e parcerias. A instituição funcionou por oito nais formaram-se na Faculdade tá-lo e retomamos as atividades”, sozinho o nome da instituição. Um dos destacados por Camargo anos, de 1971 a 1979, com aulas de Educação Física de Tatuí. Seu conta Camargo. “Dei o nome de Associação de é a participação dos docentes Ensino Tatuiense porque eu sou na criação da Universidade do bairrista pra caramba”. Amazonas. “Nós ajudamos, O passo seguinte foi a aquisi- enviando professores de Tatuí ção de um terreno para a insta- para iniciar aulas lá”, cita. lação da unidade. “Nós juntamos O histórico da entidade dinheiro e adquirimos um local inclui, ainda, participação na criação da Universidade de Brasília, no Distrito Federal. “Na gestão de Juscelino Kubitscheck, nós auxiliamos o então ministro da Educação, Darci Ribeiro, com os trâmites do processo”, diz Camargo. O professor também enviou equipes para ajudar na fundação de uma faculdade em Cuiabá, no Estado de Mato Grosso. Apesar das desavenças entre tatuianos e itapetininganos, a entidade local ofereceu ajuda à FKB (Fundação Karnig Bazarian) – Faculdades foto Os aviadores João e Henrique Robba tiram Integradas de Itapetininga, no do com mecânico responsável pela manutenção período em que esteve sob aeroplano, que teve a hélice consertada intervenção, comandada por


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Vontade , lousa e giz

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Do amadorismo às diretrizes, evolução do ensino foi pautada pela profissionalização

ntes da maioria dos tatuianos poder frequentar aulas em colégios construídos e disciplinados pelo Estado, era em escolas improvisadas – muitas vezes em fundos de residências – que se aprendia o alfabeto. O ensino era propagado, quando não de pai para filho, em escolas consideradas “não-oficiais”. Os embriões de instituições de ensino, até então somente primário, eram fundados por autodidatas que buscavam, acima de tudo, melhorar a Educação. De maneira mais organizada, foram surgindo os externatos, nos quais se apresentavam aos tatuianos as disciplinas de português, francês, inglês, aritmética, álgebra, geometria, geografia, história do Brasil, história universal, ciências físicas e ciências naturais, entre outras. Um dos mais antigos externatos de que se tem notícia, ou conhecimento, o “Moreira da Silva”, teve como fundador o professor “das primeiras letras”, como era conhecido, Fortunato José Dantas e Vasconcellos. A escola iniciou suas atividades no ano de 1883, funcionando na casa que havia sido de Euclydes de Barros. Depois dela, muitas outras abriram suas portas na cidade. E não só para ensinar a ler e a escrever, mas já para preparar mão-de-obra para o mercado de trabalho. Bancos, repartições públicas e as chamadas casas comerciais começaram a exigir qualificação. Foi então que a cidade ganhou escolas de datilografia. A mais famosa, a Remington, também apregoava que seus alunos poderiam trabalhar nas companhias das estradas de ferro que, em meados de 1900, “pipocavam” pela região. A que trouxe desenvolvimento para Tatuí foi a Sorocabana, cuja história está

ligada aos tropeiros que passavam por estas bandas em direção ao Rio Grande do Sul. Com o passar dos anos, em função da demanda de alunos e da cobrança da classe política, a cidade foi ganhando novos investimentos na área da Educação, que deixava, aos poucos, o caráter amadorístico. Tanto que, em 1909, houve a construção do prédio do Grupo Escolar, atual Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “João Florêncio”. A escola é um dos quatro imóveis educacionais tombados pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), do Estado de São Paulo. Os outros três estão em Sorocaba, Peruíbe e Mococa. Ainda por esforço da classe política, que organizou campanhas encampadas também por O Progresso, o ensino começou a se fortalecer, com a chegada da

Escola Profissional Primária Mista, atual Etec (Escola Técnica) “Salles Gomes”, criada em 1934, e do Instituto de Educação “Barão de Suruí”, inaugurado em 26 de abril de 1931, o quarto ginásio oficial a funcionar no Estado de São Paulo. Bem antes disso, começaram a ser colocadas em prática as primeiras experiências relacionadas ao regulamento do ensino. Uma delas foi desencadeada pelo professor Nicanor de Paula Arruda, nomeado inspetor escolar de Tatuí, em 1929. Era dele a função de “batalhar pela melhora na alfabetização dos alunos da cidade”. Arruda começou seu trabalho com a regularização do funcionamento das escolas de provimento interino, sobre as quais se costumavam dizer que ficavam sob “regência dos leigos”, como eram chamados os professores que não haviam cursado as “escolas normais” de pedagogia.

Arruda acreditava que havia necessidade de intervir no processo de ensino, uma vez que, sem noções de metodologia e psicologia, os professores não poderiam desenvolver um programa homogêneo de aproveitamento das aulas. De início, colocou em prática a regularização dos horários de aula. A alegação era de que as “escolas dos leigos”, por funcionarem fora das horas regulamentares, prejudicavam a frequência dos alunos, especialmente dos que residiam em bairros que ficavam distantes das unidades.

Profissionalização

Consequência ou não das intervenções política e pedagógica, o ensino em Tatuí passou a contribuir para o desenvolvimento da cidade de maneira “mais ativa”, por assim dizer, no ano de 1926, com a realização de uma feira. A “Feira Industrial e Comercial” foi considerada a primeira já realizada no interior

que O médico Antônio Jarbas Veigas de Barros, em enag hom e receb , í Tatu em nou também lecio Sesi do a escol da s ante estud prestada pelos

do Estado de São Paulo. Pelo caráter especial, a feira constituiu-se num dos acontecimentos mais importantes do município, arrastando para cá um numero elevado de visitantes. A realização de eventos como aquele, até então, era restrita somente à cidade de São Paulo. A “Feira Industrial e Comercial” de Tatuí foi a primeira a acontecer fora dos limites da capital, como noticiou O Progresso naquele ano. Na época, o número de pedidos de expositores excedeu o espaço disponível. Mais de 200 “casas comerciais”, como eram chamados os estabelecimentos, pediram a cessão de alguns metros para sua representação. O local escolhido para abrigar o evento foi o prédio do Grupo Escolar, cedido pelo governo do Estado, que autorizou a realização da feira. Além de movimentar dinheiro – parte dele destinado aos fundos da caixa escolar –, a feira permitiu aos alunos do Grupo Escolar participar de aulas de demonstração prática do uso de máquinas agrícolas, feitas por um inspetor. O estímulo aos alunos em relação à participação deles em eventos externos – e o incentivo ao trabalho, por meio de pequenas produções – era comum nos idos de 1920. Prova disto é que, em julho daquele ano, professores do Grupo Escolar haviam organizado uma feira expositiva. O evento aconteceu na sede da antiga Sociedade Italiana, que funcionava na rua 15 de Novembro. Ao todo, 1.225 trabalhos de alunos foram levados a exposição. No entanto, foi com a Escola de Comércio de Tatuí, inaugurada em 8 de julho de 1925, que o ensino profissionalizante ganhou força. Lá, era oferecido aos tatuianos o “curso anexo de preparatórios”.

As aulas aconteciam na rua Juvenal de Campos, no prédio cedido pela empresa de tecelagem Campos Irmãos & Cia., onde esteve instalado o “Club Juvenal de Campos”. O primeiro corpo docente, cuidadosamente escolhido, foi composto por Oscar Augusto Silveira da Mota, Pedro Voss Filho, Sílvio Azevedo, José Celso Azevedo, João Padilha, Lauro Portella, José Avaloni, Frederico Holtz Sobrinho e a professora Clarissa Trindade, a única mulher a lecionar até então. Como modo de incentivar seu alunado, a Escola de Comércio de Tatuí instituiu três prêmios cedidos aos alunos que mais se destacassem durante o período de aulas. Eram eles: o “Juvenal de Campos”, ofertado ao aluno mais aplicado; o “Martiniano Rodrigues de Azevedo”, entregue ao aluno que menos faltasse às aulas; e o “Manoel Guedes Pinto de Mello”, concedido ao aluno que melhor serviço prestasse na propaganda e progresso da escola. A partir da inauguração da Escola Profissional Primária Mista de Tatuí, houve a inclusão de oficinas de aprendizes, que compreendiam dois cursos. O primeiro, de mecânica geral, voltado para homens, destinava-se à formação de aprendizes de fundidores, ferreiros, ajustadores, torneiros – fresadores e eletricistas. O segundo, para mulheres, oferecia aulas de economia doméstica, compreendendo as modalidades de corte e costura e arte culinária. Nos dois casos, os cursos eram complementados com aulas de português, geografia, história do Brasil, aritmética, geometria e desenho artístico e plástico. Daí para a cidade começar a receber as primeiras instituições de ensino superior foi “um pulo”, como se costumava dizer na expressão popular tatuiana.


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Duplicação da SP-141: mais progresso e desenvolvimento

Ampliação da escola em período integral Inauguração da mais moderna maternidade da cidade

770 novas casas populares entregues

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