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Quebrando o silêncio Cidade soma mais de dois casos de violência doméstica por dia ao longo do ano passado As mulheres tatuianas estão quebrando o silêncio e denunciando cada vez mais os casos de agressão. Mesmo com o medo que muitas vítimas enfrentam, o índice de denúncias na Delegacia de Defesa da Mulher subiu 56,5% nos últimos dois anos. A cada dia, em média, duas mulheres denunciaram ter sido vítimas de violência física ou verbal em Tatuí. De acordo com dados divulgados pela DDM, 930 casos foram relatados em 2018, os quais resultaram em 474 procedimentos policiais e 251 medidas protetivas em favor das vítimas. No ano anterior, os números haviam atingido 766 registros, apontando aumento de 21,4% em um ano. Já em 2016, foram 594 reclamações. Nesse mesmo período, foram instaurados 818 inquéritos: 392 em 2017 e 426 em 2016. As principais denúncias, recebidas na delegacia especializada da cidade, são de ameaças, injúrias e lesões corporais. Os três crimes também representam a maior fatia do totalizado pelo estado no ano passado. Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, entre as cidades paulistas, houve 57.296 reclamações de ameaça, 50.688 por lesão corporal dolosa e 11.743 registros enquadrados em calúnia, difamação e injúria. O órgão não disponibiliza os números por município. Já a pesquisa “Visível e Invisível - A vitimização de Mulheres no Brasil”, realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que 536 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no Brasil em 2018. De acordo com o estudo, 12,5 milhões de mulheres sofreram ofensas verbais, como insulto, humilhação ou xingamento; 4,6 milhões (nove por minuto) foram tocadas ou agredidas fisicamente por motivos sexuais; e 1,6 milhão (três por minuto) sofreu tentativa de espancamento ou estrangulamento. O delegado Silvan Renosto (que até fevereiro era responsável pela DDM de Tatuí) esclarece que a disseminação de informações sobre as leis que amparam as vítimas tem incentivado as mulheres a denunciar o agressor e, por consequência, levado ao aumento dos índices oficiais de agressões. “Não quer dizer que a população se tornou mais violenta. Na verdade, os números mostram que as mulheres estão
mais informadas sobre os seus direitos. Hoje, elas sabem que podem contar com uma rede de atendimento e estão deixando de sofrer caladas, estão denunciando mais”, argumenta. Segundo Renosto, os índices refletem uma redução da chamada “cifra negra” (ocorrências de casos que não foram notificados), já que mais de 90% das mulheres
que procuraram a delegacia especializada em busca de ajuda, nos últimos meses, já sofriam algum tipo de violência. “É muito comum a pessoa vir procurar a DDM pela primeira vez para relatar uma ocorrência de agressão e acabar contando que já vinha sofrendo com isso há 5, 10, 15 anos. Então, não quer dizer que agora está acontecendo mais casos”, reforçou.
Conforme o delegado, as vítimas, muitas vezes, deixam de denunciar a agressão por dependerem economicamente do autor da violência, por medo de não conseguirem sustentar a si e aos filhos, vergonha da família e da sociedade em geral. “O respaldo que nós temos da legislação é muito grande. Então, essa desculpa de que poderá passar fome ou o medo de que algo aconteça não deve ser limitadora. É muito importante que a mulher denuncie; quanto mais cedo ela denunciar, mais fácil será resolver o problema”, orienta o delegado. O promotor de Justiça Carlos Eduardo Pozzi, do Ministério Público de Tatuí, ressalta que a Lei Maria da Penha (11.340/2006) é uma das principais quando o assunto é o enfrentamento à violência doméstica Em vigor desde 7 de agosto de 2006, a lei é uma explícita homenagem a Maria da Penha Fernandes, que, atualmente, tem 74 anos e, no passado, foi agredida pelo marido durante seis anos. Em 1983, por duas vezes, ele tentou assassiná-la. Na primeira oportunidade, ele usou uma arma de fogo, que a deixou paraplégica; na segunda, tentou eletrocussão e afogamento. O agressor só foi punido depois de 19 anos, vindo a cumprir dois anos de prisão em regime fechado. Pela lei, criada com a finalidade de aumentar o rigor das punições, qualquer ação ou omissão baseada no gênero feminino - não somente as que lhe cause morte, mas também qualquer tipo de lesão, ou sofrimento físico, sexual, psicológico e dano moral ou patrimonial - passou a ser configurada como crime. A pena varia de três meses a três anos de prisão. Antes, a punição poderia abranger somente de seis meses a um ano, sendo que os casos de violência doméstica eram considerados crimes de menor potencial ofensivo. A lei também serviu para poupar vidas e conter agressões de gênero. Segundo relatório do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o número de homicídios de mulheres caiu 10% no Brasil desde o surgimento da Lei Maria da Penha. O promotor explica que, nos últimos anos, as leis que versam sobre os direitos das mulheres passaram por diversas alte-
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04 rações até chegarem à configuração atual, destacando a 4.424, de 9 de fevereiro de 2012, que trata sobre a desnecessidade de representação por parte da vítima nos casos de lesão corporal. Conforme Pozzi, a decisão da ação penal, incondicionada pelo Supremo Tribunal Federal, foi um “divisor de águas” na repressão da violência doméstica. “Até então, a mulher podia chegar na delegacia e falar que não queria processar o agressor”. Com isso, por medo ou por meio de ameaças do próprio agressor, era frequente o número de mulheres que não representavam. “Agora, isso acabou. Mesmo que ela não queira, a autoridade policial tem a obrigatoriedade de instaurar o inquérito e, ao chegar no Ministério Público, nós não podemos deixar de processar o agressor”, explicou. A decisão também causou impactos na rotina forense. Levantamento da SSP mostra que a quantidade de inquéritos policiais apresentados ao Ministério Público de Tatuí subiu de 286 em 2011 para 540 em 2012, ano da aprovação da lei. Antes da decisão, Pozzi acentua, os crimes que mais ocupavam a Justiça
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tatuiana eram contra o patrimônio e de tráfico de drogas. Já no momento, nas pautas de audiência do fórum, a “grande maioria” dos crimes a serem julgados é de violência doméstica. “A partir do momento que o STF passou a dizer que a vítima não tinha mais influência na ação penal e ela passou a ser obrigatória, mesmo com vítimas dizendo que houve reconciliação e que gostariam que o processo fosse arquivado, as denúncias foram oferecidas, os processos, iniciados e os agressores, condenados”, detalha o promotor. Pozzi acrescenta que, com a edição da Lei Maria da Penha, as mulheres passaram a ser mais respaldadas, e a Justiça mudou a forma de “enxergar” o crime de violência doméstica, passando a dar prioridade no andamento desses processos. Segundo o promotor, as ações começaram a caminhar com mais velocidade. Nos meses recentes, depois que os processos passaram a ser digitalizados, já chegou a acontecer julgamento no tribunal do júri com menos de 40 dias após a apresentação da denúncia. “Com a lei em vigor, verificou-se que, quanto mais rápido o caso for julgado,
menores seriam as chances de a mulher voltar a ser agredida, e existe também uma utilidade maior para a melhoria do ambiente familiar”, salientou. Em muitos casos, conforme o promotor, a demora no julgamento dos processos criminais fazia com que surgissem novas versões para a agressão, devido a reconciliações entre o casal. “Nestes casos, a sentença passava a ser um fator de desarmonia no ambiente familiar. Além disso, às vezes, a própria mulher criava versões para diminuir a responsabilidade do agressor, alegando que havia escorregado ou coisa parecida, para justificar os machucados”, observa. Para Pozzi, a condenação dos agressores serve para que haja consciência coletiva de que o fato não está sendo impune. Ele ressalta que a “punição” também pode fazer com que o agressor em potencial recue. “Na própria audiência, antes de a vítima sair, a gente tem que esclarecer que é importantíssimo ela noticiar o crime. Isso porque, quando a mulher denúncia a agressão na delegacia, na grande maioria, não foi a primeira vez que ela foi agredida”, completa. Conforme o promotor, a violência do-
méstica é classificada por um ciclo composto de três fases: evolução da tensão; explosão, incidente da agressão; e lua de mel, comportamento gentil e amoroso. “Cada vez que este ciclo se repete, traz maiores consequências. A agressão fica mais intensa e a frustração é maior. O que começou com uma ameaça, vira um hematoma, um sangramento e, no final, acaba em um extremo, em que a vítima pode até ser morta”, assevera. Em razão disso, a denúncia é apontada por especialistas como o principal caminho para reduzir o número de vítimas, principalmente quando a notificação é realizada nos primeiros sinais de que algo está fora do controle. A notificação pode ser feita pela Central de Atendimento à Mulher, que atende pelo telefone 180, recebendo denúncias ou relatos de violência. Ela também recebe reclamações sobre os serviços da rede e orienta as mulheres sobre direitos e a legislação vigente, encaminhando-as aos serviços, quando necessário. A denúncia também pode ser feita diretamente na Delegacia da Mulher, que funciona de segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 18h, na praça da Bandeira, 53, centro, ou, ainda, pelo telefone 190.
Delegacia de Defesa da Mulher
EXPEDIENTE O tabloide “O Progresso da Mulher” é uma publicação da Empresa Jornalística O Progresso de Tatuí. Redação: Praça Adelaide Guedes, 145 - Centro - Tatuí/SP Tel.: (15) 3251-3040 - www.oprogressodetatui.com.br Jornalista responsável: IVAN CAMARGO (MTB 25.104) Reportagem: DILÉA SILVA (MTB 083281/SP) EDUARDO DOMINGUES Diagramação: ERIVELTON DE MORAIS Arte-final: ALTAIR VIEIRA DE CAMARGO Revisão: ANA MARIA DE CAMARGO DEL FIOL Colaboração: CRISTIANO MOTA (MTB 57.455/SP)
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A primeira comandante Capitão Bruna Carolina dos Santos Martins: pioneira no comando da Polícia Militar em Tatuí o aluno. Ao término, ele alcança o título de aspirante a oficial e permanece com esse título até o fim do estágio. Em seguida, terminado o estágio probatório, o aspirante é promovido por merecimento intelectual a segundo-tenente e permanece nesse ponto, exercendo funções administrativas e de administrador do policiamento operacional, conquistando, em seguida, o posto de primeiro-tenente. Em 2005, Bruna se tornou aspirante a oficial; no ano seguinte (2006), alcançou promoção a segundo-tenente; e, em agosto de 2009, chegou a primeiro-tenente. Conforme a comandante, os treinamentos masculinos e femininos eram realizados de forma única dentro da academia, fato que fazia com que poucas mulheres chegassem ao final dos quatro anos de formação. Ela conta que, em uma turma de 32 alunos, havia apenas duas mulheres e que, diariamente, os alunos eram colocados à prova, com testes de resistência, força física e psicológica, além de exercícios físicos “pesados” e sem distinção de sexo. Mesmo com a rigidez da educação militar, a comandante revela que nunca pensou nas diferenças. Pelo contrário, reforça que, no exercício da profissão, é preciso deixar a questão de gênero de lado. “Já que, na rua, não há distinção entre o trabalho de homem e de mulher”. “Ambos prestam o mesmo serviço à sociedade, e a mulher, quando se propõe a ser boa, ela é de verdade. Conheço policiais femininas que são muito boas no que fazem; elas enfrentam bandidos com maestria e também têm um trabalho social de grande relevância dentro da PM”, observa. “A gente sabe que, ao entrar na Polícia Militar, vamos enfrentar muitos desafios, pela questão de resistência e força física. Isso porque temos limites fisiológicos que são diferentes dos homens. Mas, com treinamento e foco, é possível passar por isso e perceber que somos muito mais fortes do que pensamos”, argumenta. @FOCOADOIS
Cada vez mais, as mulheres buscam espaço no mundo contemporâneo e, com isso, têm conseguido ocupar posições de destaque até mesmo em áreas tidas como predominantemente masculinas, como a Polícia Militar. Exemplo disso é a capitão PM Bruna Carolina dos Santos Martins, comandante da 2ª Companhia do 22º Batalhão de Polícia Militar de Tatuí. Tendo em mente a ideia de que “a mulher pode ser o que quiser”, aos 19 anos, ela deixou a casa dos pais, em Sorocaba (interior de São Paulo), com o objetivo de entrar para a carreira militar. Com bravura, persistência e preparo, Bruna transpôs barreiras, buscou espaço dentro da corporação e fez do sonho uma realidade. Atualmente, prestes a completar 36 anos, já com 17 na profissão, ela é a primeira mulher a comandar o destacamento de Tatuí. O agrupamento, que nasceu em meado dos anos 80, teve em torno de dez comandantes homens desde a fundação. Aos poucos, as mulheres foram ganhando espaço, mas ainda representam apenas 4% do destacamento - algumas no setor administrativo e outras no patrulhamento de rua. De fala mansa, estatura baixa, maquiada e sem abrir mão dos brincos, pulseira e anéis, Bruna reforça que não existem estereótipos para a mulher que comanda uma tropa predominantemente masculina. De acordo com a comandante, estar à frente de uma tropa como a local é uma oportunidade de mostrar que, “com dedicação e profissionalismo, é possível conseguir se encaixar em qualquer profissão, independentemente do gênero”. “Acho que a gente tem que esquecer um pouco a questão de ser mulher. Não é preciso provar nada, é só se propor a fazer o melhor que pode, que, fatalmente, você vai acabar conseguindo o seu lugar”, argumenta. A sustentação da comandante vem da experiência própria. Ela conta ter sido criada no interior de São Paulo, com
Capitão PM Bruna Carolina dos Santos Martins
poucos recursos, e que se apaixonou pelo trabalho da Polícia Militar ainda no ensino médio, quando decidiu seguir a carreira. Mesmo sabendo não ser fácil, ela se esforçou e procurou dar o melhor de si, até conseguir o que almejava. Os pais, José Carlos Martins e Maria Regina dos Santos Martins, nem imaginavam que a filha pudesse escolher tal profissão, contudo, sempre a incentivaram a estudar. Ela é a segunda filha do casal. Os outros dois irmãos, de 37 e 30 anos, escolheram a carreira jurídica: um é advogado da União e o outro, juiz de direito. “Meu pai sempre me dizia para estudar muito e enfatizava que eu e meus irmãos deveríamos ser independentes. Foi por ele que consegui chegar onde cheguei, porque ele sempre me apoiou”, ressalta. A escolha, conforme a comandante, aconteceu por conhecer a profissão e gostar do trabalho realizado pela Polícia Militar - principalmente, com a missão de ajudar as pessoas. Para isso, ela destaca não ter sofrido nenhum tipo de influência da família. O avô era sargento aposentado da antiga Força Pública, mas nenhum outro parente havia seguido a carreira militar. “Meu avô faleceu quando eu ainda era muito nova.
Quando nasci, ele já estava aposentado, então, não vivenciei essa rotina dele. Quis ser PM porque admiro muito os policiais; para mim, eles são heróis”, declara. A opção escolhida para iniciar os estudos foi a APMBB (Academia de Polícia Militar do Barro Branco), na capital do estado, instituição destinada a formar e aperfeiçoar os oficiais. O ingresso no estabelecimento, que é tido como referência no ensino superior, aconteceu no dia 18 de fevereiro de 2002. As barreiras começaram a aparecer quando Bruna soube que teria de aprender a correr e a nadar para poder entrar na APMBB. Após alguns meses de dedicação aos estudos e a conquista de aptidões para os testes físicos, ela finalmente prestou um dos vestibulares mais concorridos do estado e conseguiu entrar para o “Barro Branco”. A comandante ressalta que, ao ingressar na APMBB, o percurso a ser traçado é longo e repleto de responsabilidades. Após o ingresso, o policial recebe o título de “aluno oficial” do primeiro ano do curso de bacharelado em ciências policiais de segurança e ordem pública. Na sequência, até o terceiro ano de curso, novas incumbências recaem sobre
06 Fora a promoção, a carreira na Polícia Militar rendeu outros frutos, como o casamento com o policial militar rodoviário Marcel Ribeiro de Lima e o filho Elói Martins, de cinco anos. Bruna não chegou a trabalhar com o esposo, mas conheceu-o em São Paulo, por frequentar lugares em comum. A união matrimonial aconteceu em 2012, durante a ascensão na carreira. Desde então, a família e as atividades domésticas também passaram a fazer parte da rotina, o que fez com que Bruna tivesse de aprender a conciliar o tempo entre as exigências da carreira e a vida pessoal. A tarefa ficou ainda mais difícil em 2014, quando nasceu o primogênito. A atividade diária - quase imprevisível - é um dos maiores desafios. Como qualquer mãe zelosa, Bruna abdica do pouco tempo
que o trabalho dela é a “realização de um sonho” e que “não trocaria a carreira militar por nada”. “Eu amo a polícia, de verdade. Aqui, aprendi muito, principalmente a ver que não tenho problema, por vivenciar o que outras pessoas passam. Esta é uma das instituições mais respeitadas do país e faz jus a isso, tenho muito orgulho de fazer parte da PM”, ressalta. Para ela, “fazer o bem ao próximo” é uma recompensa e algo que até ameniza um pouco a saudade da família. A militar ressalta que trabalhar como policial, especialmente no exercício da função de rua, permite que o profissional vivencie todas as realidades da sociedade e, com isso, tenha a oportunidade de prestar um serviço social aos cidadãos que vai muito além de “correr atrás” de bandidos.
pela instituição, que se divide em cinco graus); Medalha Valor Militar, concedida pelo governador do estado, em razão dos mais de dez anos de bons serviços prestados, e Colar do Sesquicentenário da Revolução Liberal de 1842.
A MULHER NA PM
ARQUIVO PESSOAL
Após o término da formação no “Barro Branco”, ela ingressou na faculdade de direito, já trabalhando em Sorocaba, onde ficou durante oito anos como comandante da Força Patrulha de Rua. Em 2005, o “Barro Branco” permitiu que as mulheres ocupassem as mesmas funções dos homens e acabou com as diferenças que impediam a ascensão feminina, por conta da unificação dos quadros. Isso permitiu à oficial estar na posição de comando que ocupa atualmente. “Começou exatamente na minha turma. Até então, as mulheres escolhiam as vagas femininas e os homens, as vagas masculinas. Com isso, conseguimos vir para Sorocaba (ela e a colega de sala). Lá, fomos as primeiras mulheres a comandar tropa de rua”, ressalta. Na maior cidade da região, Bruna começou a trabalhar no 40º Batalhão, onde comandou os pelotões de Piedade, Ibiúna, Salto de Pirapora e Pilar do Sul. Com apenas 21 anos, chegou a comandar militares com mais de 50 anos. Mesmo assim, destaca nunca ter se sentido discriminada, nem pela idade, nem por ser do sexo feminino. “Eu sou transparente, clara e objetiva no que eu me proponho a fazer. Acho que isso ajudou, mas os militares sabem a regra do jogo. A disciplina, seja consciente ou não, está intrínseca no policial desde a formação. Então, não tem muita resistência neste sentido”, acentua. “Acho que, se eu trabalhasse em uma empresa civil, talvez sofresse com algum tipo de preconceito, a gente sabe que isso existe. Mas, na Polícia Militar, sinto que os homens me respeitam independentemente de qualquer coisa”, completa. Antes de assumir a 2ª Cia. da PM, Bruna era chefe do escritório de gerenciamento de projetos na sexta sessão do Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em São Paulo, responsável pela implantação dos boletins de ocorrência eletrônicos da Polícia Militar. Por essa razão, tornou-se instrutora na APMBB e também do curso de administração de projetos do 22º Batalhão de Polícia Militar do Interior. A promoção à patente de capitão veio em 2017 e, já no dia 18 de junho de 2018, Bruna assumiu o comando da 2ª Cia. de PM de Tatuí. Para se aperfeiçoar, Bruna ainda realizou os cursos de policiamento de trânsito urbano, policiamento de Força Tática, tiro defensivo, comunicação social, administração de projetos, e gestão contemporânea para a qualidade, além de ser bacharel em ciências jurídicas e sociais pela Universidade Bandeirante de São Paulo.
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Dentro da rotina atarefada sempre há espaço para momentos em família
de folga para dar atenção à família. “Chego em casa, tiro a farda e não dá nem tempo de tomar banho; meu filho corre para os meus braços e já quer que eu brinque com ele. Brinco até ele cansar; quando cansa, dou um banho nele, tomo um banho, e aí que eu vou tentar fazer alguma coisa em casa”, conta. O tempo ainda é dividido com a rotina de treinos físicos para manter a qualidade de vida e as aptidões exigidas pela profissão, os quais acontecem entre 5h30 e 6h30 da manhã. “Tento aproveitar o tempo enquanto meu filho está dormindo; enquanto ele está acordado, quero passar o tempo que posso com ele”, conta. Mesmo com a dificuldade de manter-se próxima do filho e do marido, por conta do pouco tempo de folga, Bruna destaca
“Este trabalho social a gente não tem oportunidade de fazer em outra profissão. Isso compensa toda a falta de tempo com o filho e com o marido. O agradecimento, a gratidão de você estar ali. Às vezes, você segurar a mão, dar um abraço em uma pessoa que está ali desolada em determinada situação não tem preço”, enfatiza. Além dos trabalhos administrativos, Bruna participa de operações contra o tráfico de drogas e no combate à criminalidade, e segue em atuação constante, de quase 24 horas por dia, visando à garantia da segurança da população. O trabalho prestado por ela, durante os anos de carreira, também foram reconhecidos por meio de três homenagens na Polícia Militar: Láurea do Mérito Pessoal em primeiro grau (máximo outorgado
De acordo com material divulgado pela Assembleia Legislativa de São Paulo, foi na década de 1950 que surgiu a ideia de empregar mulheres em missões policiais no Brasil, com o intuito de sanar lacunas existentes na organização. Em 1953, Hilda Macedo, assistente da cadeira de criminologia da Escola de Polícia, cujo titular era o professor Hilário Veiga de Carvalho, defendeu a igual competência de homens e mulheres, ao apresentar uma tese no 1º Congresso Brasileiro de Medicina Legal e Criminologia. Dois anos depois, o então governador do estado, Jânio Quadros, encarregou o diretor da Escola de Polícia, Walter Faria Pereira de Queiroz, de estudar a criação, em São Paulo, de uma polícia feminina. Em 12 de maio de 1955, pelo decreto 24.548, institui-se, na Guarda Civil de São Paulo, o corpo de Policiamento Especial Feminino e, na mesma data, Hilda Macedo se tornou a primeira comandante do Policiamento Especial Feminino. Estava criada, assim, a primeira Polícia Feminina do Brasil, pioneira também na América Latina, sendo-lhe atribuídas as missões “que melhor se ajustavam ao trabalho feminino conforme as necessidades sociais da época”: a proteção de mulheres e jovens. Em 26 de maio do mesmo ano, foi publicado o decreto 24.587, que relacionava os requisitos para o ingresso no Corpo Especial. Dentre as 50 candidatas, 12 foram selecionadas para a Escola de Polícia, para um curso intensivo de 180 dias. As 12 mulheres escolhidas e a comandante foram chamadas de “as 13 mais corajosas de 1955”. Nestes 64 anos de existência, as missões foram ampliadas, e elas passaram a atuar, além do policiamento ostensivo, em outras atividades, como: trânsito, bombeiro, choque, policiamento rodoviário, ambiental, policiamento com apoio de motocicletas ou bicicletas, radiopatrulhamento, policiamento escolar, corregedoria e assessoria policial militar. No dia 1º de fevereiro de 2001, o então governador Geraldo Alckmin criou, no âmbito institucional, o Dia do Policial Militar Feminino, marcando a presença das mulheres na polícia do estado de São Paulo.
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Correndo atrás dos sonhos “Superação” leva corredora tatuiana a ser destaque em provas regionais e a prêmio na São Silvestre ARQUIVO PESSOAL
De uma foto postada em rede social, passando por reeducação alimentar, pegando carona em dezenas de corridas e deixando mais de 30 quilos para trás. Essa maratona levou a servidora pública Luciana Aparecida da Silva, atualmente com 43 anos, a alcançar uma vida mais tranquila, realizada e a conquistar o vice-campeonato de uma das provas da 94ª Corrida Internacional de São Silvestre. Luciana decidiu mudar de vida há pouco mais de três anos. Ela conta ter começado a reeducação alimentar depois de ver uma imagem publicada na internet. A foto, junto com as colegas de trabalho, fez Luciana perceber que até a pessoa que achava estar acima do peso era “menor” que ela. A atual atleta descreve que se olhava no espelho e não conseguia notar o ganho de peso. “Ia empurrando com a barriga e pensava que estava bom daquela forma. Aos poucos, ganhava meio quilo aqui, meio quilo em três meses, mais um quilo a cada quatro meses e, no final da década, já estava enorme”, lembra. Foi nesse momento que Luciana afirma ter reconhecido a necessidade de mudar a própria vida, para ser mais magra e mais saudável. A primeira medida foi começar a pesquisar na internet sobre os alimentos recomendados para acelerar o metabolismo e os exercícios indicados para a queima de calorias. Na época, com 85 quilos, a meta era pesar 65 quilos. Conforme Luciana, “não adianta apenas saber quais são os alimentos que fazem bem para a saúde, também é necessário estar ciente de quais são os produtos que fazem mal para o corpo”. “O refrigerante engorda, mas por quê? Quais são os malefícios que ele realmente traz?”, pontua. “O pão branco, por exemplo, eu penso bem antes de comer. Ele contém carboidratos, é inflamatório, e um alimento que só enche e não nutre o organismo. Tudo isso, pesquisando na internet, sei de cor e salteado”, complementa. Apesar de ser corredora, as primeiras atividades físicas que Luciana começou a praticar na tentativa de reduzir as medidas foram outras. Ela realizava aulas de zumba, boxe e ainda encontrava tempo para jogar capoeira. Às segundas, quartas e sextas-feiras,
Luciana, à esquerda, ao lado da neta Maria Luiza e da filha Natália, corre em família
as aulas de zumba eram no Centro de Artes e Esportes Unificados “Fotógrafo Victor Hugo da Costa Pires”, o CEU das Artes, e, às terças-feiras, as aulas de boxe. Os treinos de capoeira aconteciam às quintas-feiras, na Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “Professor José Thomas Borges”. Luciana conta ter feito uma espécie de “autolavagem cerebral” para entender o quão a mudança de comportamentos lhe faria bem, e, com oito meses de reeducação alimentar e exercícios, antes mesmo de começar a correr, já havia emagrecido 23 quilos. Somente em 2016 Luciana começou a dar um alguns “trotes” durante a caminhada, até que decidiu participar da primeira
corrida, a “RoccaPorena Marguerita”, que acontece anualmente, promovida pela Paróquia Santa Rita de Cássia. De acordo com ela, a corrida atraiu algumas corredoras “fortes”, pois a prova oferecia premiação em dinheiro. Mesmo assim, Luciana ficou entre as dez primeiras colocadas e ganhou uma medalha de participação. “Eu era gordinha ainda, mas sempre gostei de correr. A participação nessa corrida serviu para ver como eu estava, e ficar entre as dez primeiras foi um grande feito”, ressaltou. Depois de certo tempo, Luciana percebeu que estava praticando tanta corrida que não ia mais nas aulas de zumba, boxe e capoeira. Segundo ela, “encontrou-se”
na corrida e só queria correr. Entretanto, não se inscreveu para participar de mais nenhuma prova. Os treinos individuas da corredora iniciante começavam e acabavam na rua Lúcia Rodrigues Bertin, passando pela estrada ao lado do Aeroclube de Tatuí. Por um aplicativo de celular, conseguia calcular quanto tempo levava para percorrer um trajeto de, aproximadamente, seis quilômetros de distância. “Não era tão disciplinado como os treinos atuais. Quando se corre sozinho, nos dias de chuva, normalmente, você nem sai da casa”, conta, rindo. Antes de correr, fazia os alongamentos na própria residência e, quando voltava, utilizava uma mureta no quintal para fazer abdominais e fortalecer os braços. Pesquisando pela internet, Luciana diz que sabia os exercícios que poderiam ser feitos em academias ou na própria casa. Ela reforça que nunca precisou tomar qualquer tipo de produto para emagrecimento, apenas se alimentava de forma correta, mesmo sem ter se consultado com nutricionista. Ainda salienta só ter procurado uma academia depois de já ter emagrecido, pois foi um pedido do treinador. Segundo Luciana, a atividade profissional que exerce é bastante maleável, permitindo que consiga treinar em “bons horários”. Contudo, ela gosta bastante de estar com a família e vai muito visitar a mãe. Por isso, preferia treinar em casa e na hora que quisesse. No ano de 2017, já com 55 quilos e dez meses após participar da única corrida, ela optou por disputar outra prova. Luciana participou da “Corrida Feminina”, promovida pelo professor José Mesquita dos Santos, e ficou na 14ª posição geral. Pouco depois, marcou presença em nova prova, que contava com premiação em dinheiro, conquistando o quarto lugar e o primeiro troféu. Na sequência, na quarta corrida, Luciana alcançou o pódio e venceu a prova, o primeiro título mesmo treinando sozinha. Depois dessa corrida, Mesquita e o professor Eronides dos Santos a chamaram para fazer um teste, visando uma edição dos Jogos Regionais. “Fui treinar com eles na pista municipal e ‘quase morri’. Eles queriam puxar para
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ver até onde eu chegava. A partir desse momento, nunca mais parei; dá até para contar nos dedos os dias em que eu falto de treino”, afirmou. Luciana possui, até o momento, 56 troféus, incluindo primeiro, segundo e terceiros lugares na classificação geral e prêmios por categoria, além de incontáveis medalhas. Apenas em 2018, Luciana ganhou 29 provas, foi vice-campeã em cinco disputas e obteve quatro troféus de terceira colocada, além de mais três troféus de primeiro lugar na categoria de 40 a 44 anos. No último dia do ano passado, a atleta participou pela primeira vez da Corrida Internacional de São Silvestre. A edição 94 da prova mais importante do país contou com 30 mil corredores, cerca de 20 mil homens e 10 mil mulheres. No total, 18 corredores competiram por equipes tatuianas. Dos participantes vinculados à cidade, Luciana ocupou destaque com a melhor posição. Ela fechou a corrida feminina na categoria 40 a 44 anos em segundo lugar, com tempo de 1h10m42s. Ficou atrás apenas de Evanilda Ruas Novais Ferreira, que correu pela equipe Ultra Esportes e fechou a disputa com 1h10min34s. Na classificação geral, que soma resultado de todas as competidoras, Luciana obteve a 48ª posição. “No ano anterior, o Santos havia me convidado, e eu não tinha nem um pingo de vontade, mas a prova é maravilhosa. Mesmo com aquela quantia de gente e iniciando no pelotão geral, eu não imaginava que ficaria na 48ª posição”, expôs. Ela lembra que assistia à prova quando era criança e pensava que era fácil, mas, atualmente, reconhece o equívoco. Segundo ela, é “uma energia e sensação muito boas, uma renovação para iniciar o novo ano bem”. “Na hora da largada, quando começou
a tocar a música da São Silvestre, por pelo menos um quilômetro, eu corri chorando. É algo muito emocionante”, confessa. Ela afirma que a corrida em São Paulo tinha “um mundo de gente”. A prova atraiu tantos atletas que até a corredora Natália Fernanda da Silva Rolim, filha de Luciana, esteve presente. Luciana conta que, antes, a filha só queria frequentar a academia. Segundo ela, na primeira vez que chegou com um troféu em casa, Natália ficou contente e começou a notar como ela estava se alimentando e emagrecendo. Conforme a mãe, chegou um dia em que a filha assegurou que iria dar uma volta na pista municipal. “No sol de 16h, nós demos uma volta, e ela disse que não aguentava mais, sentou e começou a mexer no celular”, lembra Luciana. Depois de certo tempo, Natália foi novamente para a pista municipal e, na sequência, participou da primeira corrida, levando a filha Maria Luiza Rolim para uma corrida “kids”. Enquanto Luciana foi a campeã da prova, a garota ficou na última posição. “Eu cheguei na primeira posição e ela chegou junto com o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), por último”, relembra Luciana. “Depois, a Natália foi pegando gosto pela corrida, até acabou premiada na categoria dela e ficou bastante animada. Atualmente, muitas vezes, ela amanhece trabalhando como “freelancer” em um bar da cidade e, no domingo pela manhã, já está competindo”, garante a mãe. Representando três gerações da família, Luciana, Natália e Maria Luiza são presenças constantes em provas realizadas no município e nas cidades da região. Nestes primeiros meses de 2019, Luciana e os atletas que representam o Setor de Corrida de Rua e Atletismo, do Departamento Municipal de Esporte, es-
vergonha de sair, por uma roupa não “cair bem”. Conforme a atleta, a própria autoestima melhorou muito e as roupas que coloca ficam melhores. De acordo com Luciana, “as corridas parecem uma balada durante o dia”. Ela indica que costuma chegar mais cedo à largada, para poder conversar com os amigos que fez no esporte. Segundo ela, a corrida permitiu que conhecesse pessoas diferentes e de “boa mentalidade”. “O esporte nos dá forças. O esporte proporciona a gente querer ver além e que, apesar das dificuldades, crer que a vida não está acabada”, garante. Luciana garante ser mais calma e mais tranquila. Antes, segundo ela, era mais pessimista e reclamava de tudo, mas, hoje, afirma enxergar a vida de outra forma. “Antes, eu dizia: ‘Nossa, só tem queijo para eu comer’. Hoje, eu digo: ‘Graças a Deus, hoje tem um queijo delicioso para eu comer’. Ou aquela história do copo pela metade estar quase vazio. Não, ele está quase cheio!”, reforça. Segundo ela, não adianta ficar estressado ou brigar. “As pessoas não perdem nada por serem alegres e pacientes, tentando se colocar no lugar dos demais”. Antes dessa mudança de vida, ela chegava em casa depois do trabalho e só levantava do sofá para procurar o que iria comer na geladeira ou no armário, conta. A única “atividade física” que a atleta gostava de fazer era comer e, segundo ela, não era pouco. Atualmente, Luciana reforça que continua gostando de comer, mas os alimentos saudáveis e, dessa forma, se sente bem. “Estou bem mais calma. Antes, se estava ansiosa, eu tinha de comer; hoje em dia, se estou ansiosa, vou correr”, concluiu Luciana.
EDUARDO DOMINGUES
EDUARDO DOMINGUES
Entre primeiras, segundas e terceiras posições, a corredora possui cerca de 60 troféus
tão realizando uma série de treinamentos para evitar lesões. As duas primeiras semanas de treinos eram de 15 quilômetros percorridos por dia, com apenas um dia de descanso na semana. Logo depois, mais algumas semanas correndo 20 quilômetros e, então, “tiros curtos”, para não chegarem lentos nas corridas. No momento, pesando 52 quilos, Luciana relembra que a meta era baixar dos 85 para os 65 quilos, mas, quando percebeu, já havia ultrapassado o objetivo. “É duro de manter, corro 20 quilômetros todo dia e não emagreço mais”, brinca. Luciana costuma percorrer cinco quilômetros em 20 minutos. O recorde pessoal dela foi conquistado em uma pista dos Jogos Regionais, quando correu 5.000 metros em 19 minutos e 20 segundos. Ela reforça que a prática de atividades físicas é sempre válida. Segundo a corredora, “independente de querer ser um corredor de alto nível ou um fisiculturista, praticar atividades físicas proporciona mais saúde e um envelhecimento melhor”. “A atividade física melhora o colesterol, diminui o diabetes e, se houver algum tipo de propensão a uma doença, já ajuda a evitar. Nem precisa muito. Às vezes, não precisa nem correr, uma simples caminhada diariamente melhora a qualidade de vida”, pontua. Conforme Luciana, mesmo quando tinha bastante peso, sempre foi animada, mas, atualmente, a animação é outra. Segundo ela, além de ter conquistado um corpo saudável, tem mais vontade de fazer as coisas e se programa para conseguir fazer tudo que é possível. Ela revela que, às vezes, até tinha
Todos os troféus e medalhas foram conquistadas por Luciana em pouco mais de três anos
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Vaidade precoce: ‘adultização’ da criança Seria correto meninas já se maquiarem e agirem como adultas ainda muito pequenas? quel assegura que, para tudo, tem de haver limites. “Não aprovo todos os gostos dela, porque criança tem de ser criança. Porém, evito brigar com ela e acabo cedendo um pouco”, comenta. O comércio de maquiagens específicas para crianças dá um pouco mais de segurança à mãe de Lorena. Segundo ela, “se fosse algo que tirasse a infância da criança, não deveria ser vendido no mercado”. Existe grande diferença entre a criança que brinca com a maquiagem da mãe - e, normalmente, faz uma bagunça - e uma garota que utiliza os cosméticos e adereços para embelezar-se, ressalta a psicóloga infantil Marinara Aparecida Quevedo Soares. Segundo a profissional, é comum, de certa forma, que a criança enxergue a maquiagem como uma brincadeira, mas os pais devem se atentar quando o embelezamento se torna uma necessidade para a vida da menina. “Até a criança ter uma maquiagem de brincadeira para se divertir, não há problema algum, desde que não seja algo imposto; agora, se houver uma “hipervalorização” da beleza, já não é algo tão legal”, aponta. Ela reforça que o primeiro convívio social de uma criança é com a própria família. A observação da própria mãe, maquiando-se e colocando salto alto, por exemplo, pode motivar que a garota queira imitá-la. Entretanto, a mãe não precisa parar de se produzir por conta da filha. Marinara orienta a necessidade de conversa entre elas, explicando-se e ressaltando-se a beleza natural da criança. Caso ela queira, futuramente, poderá então utilizar os produtos de beleza. Conforme a psicóloga infantil, o problema “maior” acontece quando esse processo de adultização ocorre por parte da família, induzindo que a menina não se comporte de maneira condizente com a própria idade, levando-a a “pular etapas”. “A adultização é uma forma de amputar a infância, um período do desenvolvimento que está sendo pulado. A partir do LEANDRO MARTINS
A rotina de acordar, seguir até o espelho acompanhada de um estojo de maquiagem para disfarçar as olheiras, passando blush e brilho labial, antes mesmo de pentear o cabelo para sair de casa, poderia ser de qualquer mulher, mas tem sido o ritual de cada vez mais meninas. Entre as inúmeras vertentes da “adultização” infantil, talvez a mais comum entre as garotas seja a vaidade precoce, marcada pela necessidade de estar sempre bem vestida e maquiada, como a mulher adulta. Com apenas quatro anos de idade, Lorena Alves Pereira é uma menina que adora se maquiar e estar bem vestida. Segundo a mãe, Raquel Gama Pereira, desde os dois anos, a menina pede para a mãe passar batom e esmalte nela, e, quando compra roupas, já escolhe as próprias vestimentas. Raquel afirma não saber se Lorena possui esse gosto por vê-la se arrumando para algum compromisso ou se é, realmente, uma vaidade particular da menina. A mãe, entretanto, garante que não houve qualquer tipo de influência por parte de algum adulto, familiar ou das colegas da creche para o desenvolvimento do gosto pela beleza. Ela ressalta que tenta, ao máximo, não se maquiar ou se produzir na companhia da filha, para não incentivar. Porém, não tem sido fácil “driblar” Lorena. “A inteligência dela é incrível, e ainda me fala que não adianta eu me esconder, pois ela também quer. Então, acabo passando maquiagem nela para, depois, não haver escândalo na rua”, conta a mãe. Raquel evidencia que, às vezes, Lorena pede o celular para ver blogs e assistir tutoriais em plataformas digitais, que ensinam como se maquiar. Segundo ela, a garota ainda gosta de ensinar os “truques” de beleza que aprende para as amigas da própria mãe. De acordo com Raquel, a filha chora muito quando pede para ser maquiada e não é atendida. A mãe conta que Lorena não pode usar lápis de olho ou rímel. Porém, “onde ela vai, pensa que tem de passar batom e sombra”. Apesar das preferências da filha, Ra-
Lorena, de quatro anos, não gosta de sair sem que a mãe Raquel a deixe bem arrumada
instante em que a família começa a passar para a criança valores que são de adultos, é o momento no qual já está acontecendo uma adultização”, salienta Marinara. De acordo com a psicóloga, quando a criança começa a receber responsabilidades que seriam de um adulto, pode passar a não viver plenamente o próprio desenvolvimento.
“Pode ser que se torne um adulto que hipervalorize a beleza. Uma menina que vai se preocupar excessivamente com o que o outro vai pensar sobre a aparência física dela”, explica. “Talvez, se torne uma adulta que não saiba lidar com as frustrações, algo aprendido, normalmente, pelas crianças nas brincadeiras de infância. Ou até mesmo
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aquela pessoa que queira filhos como meio de ser o centro de tudo e renda. não sabe lidar com as “Isso também é adulcoisas que não saem da tizar uma criança, danmaneira que ela espera”, do a responsabilidade complementa. de ela gravar um vídeo, Ela conta que, a parpara que fique famosa tir de certa idade, na e possa ter algum renmaioria das vezes, as dimento financeiro”, meninas já têm uma masalienta. neira própria de se vestir, Marinara ressalta que querendo parecer mais se deve permitir que “mocinhas”. Conforme “a criança seja crianMarinara, o sinal de alerça”, possibilitando que ta tem de ser ligado desde possa brincar. “A brinque o comportamento cadeira é essencial no seja “algo que fuja dos desenvolvimento infanpadrões e chame mais a til e vai viabilizar que a atenção”. criança se prepare para Na escola, um grupo de a vida adulta”. “meninas adultizadas”, “É brincando que segundo a psicóloga, a criança aprende a pode impactar uma gadesempenhar papéis rota que não possua esse sociais, aprende a lidar perfil, levando-a a tentar com as frustrações, as ser igual às demais. Poregras e os limites. Nada rém, isso varia de uma deve ser induzido, tem pessoa para outra. de ocorrer naturalmenMarinara afirma que, te”, aponta. de uma forma social, a A psicóloga infantil A psicóloga infantil Marinara Aparecida Quevedo Soares afirma que os pais devem permitir que as crianças sejam crianças infância da criança vai frisa que, para a criança larem que têm namoradinho e os pais gerada ao mundo virtual. até, aproximadamente, ser um adulto saudável, Na plataforma digital de vídeos, por precisa ter passado por estas fases do os 12 anos. Ela ressalta que isso não é acharem lindo”. Ela observa que esse uma regra, tratando-se de questão muito tipo de brincadeira é comum há décadas, exemplo, a psicóloga observa diversos ca- desenvolvimento: ter vivido a infância porém, os sentidos e os comportamentos nais específicos para crianças, que podem, e a adolescência, sem pular etapas. individual. “Vemos que há pessoas que chegam atuais têm sido bastante diferentes dos inclusive, auxiliar no desenvolvimento “A criança, às vezes, não está preparada das mesmas. nessa idade e ainda brincam, e não há de antes. emocionalmente para lidar com as res“Parece que, até uns 15 anos atrás, Entretanto, a profissional ressalta ponsabilidades ou com o mundo adulto. nada de errado com isso, é algo totalmente as crianças namoravam de mentirinha. que, no site, as crianças podem ter aces- Então, a criança pode ser poupada dessas particular. Não há uma regra, e deve ser Hoje em dia, tem sido um namoro que so aos funks, entre os quais, “inúmeros questões, que são mais relacionadas à vida respeitado o tempo da criança”, declara. eles se beijam, às vezes, até na boca. apresentam um conteúdo sexual com adulta”, acentua. Citando outros exemplos de adultiTenho pacientes pré-adolescentes que letras erotizadas”. Assim, poderiam zação infantil, a psicóloga menciona “Criança precisa ser tratada como criancontam que começaram a ‘ficar’ com acabar sendo influenciadas por conte- ça, não é uma discriminação tratá-las de desde uma criança ser babá de um irmão mais novo, como brincadeiras de “na- meninos desde sete, oito anos de idade”, údos adultos. maneira diferente, e, sim, respeitar esse Ainda na plataforma digital de vídeos, período do desenvolvimento infantil. Elas moradinhos”, letras de determinados constata. Ela analisa que o acesso à internet e, Marinara destaca que muitas crianças precisam ter a liberdade de brincar para estilos musicais e até o surgimento de consequentemente, às mídias sociais, estão entrando em um modismo dos que não pulem etapas e, mais tarde, não “youtubers” mirins. possui grande capacidade de “adultizar” youtubers. Segundo ela, o perigo ocor- tenham reflexos negativos na vida adulta Segundo a profissional, “é cada vez a criança, que está tendo exposição exa- re quando os pais utilizam os próprios delas”, conclui Marinara. mais comum as crianças pequenas fa-
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Prevenção adia a correção cirúrgica Mulheres buscam procedimentos de beleza que mantêm aparência natural EDUARDO DOMINGUES
Cobrir os fios brancos dos cabelos com tinta já foi uma das maiores preocupações das mulheres. “Entrar no bisturi” para afinar a cintura, aumentar determinadas partes do corpo ou esticar o rosto com objetivo de atenuar as rugas, também. É o que os médicos cirurgiões plásticos Poliana Valéria Palmeira Marocolo e Ivan Machado têm verificado em seus consultórios. Os cirurgiões ressaltam que a busca das pacientes pela beleza está mudando. As mulheres têm deixado de procurar pelo rejuvenescimento para se preocuparem mais com os cuidados preventivos. Com isso, conseguem alcançar o principal objetivo, que é ficar bonita, mas mantendo a aparência natural. “Hoje, a mulher quer se libertar - inclusive, quando se trata da tintura. Daqui para frente, o que se vê é que as mulheres não querem disfarçar o envelhecimento, mas envelhecer bem. E isso são duas coisas bem diferentes”, observa a cirurgiã plástica Poliana, que atende em clínica localizada na rua Maneco Pereira, 330, centro, junto ao também cirurgião plástico Antônio Egídio Rinaldi. Poliana esclarece que procedimentos como o botox continuam a ser procurados e realizados. Contudo, a indicação de aplicação é que muda, a depender do objetivo das pacientes e da forma com que elas cuidam do próprio corpo. De acordo com a cirurgiã plástica, para atender às necessidades das mulheres, os profissionais têm apostado em tratamentos e procedimentos que visam ao “cuidado geral”. Para ela, esse comportamento é uma das consequências do chamado “empoderamento feminino”, que busca a igualdade entre os gêneros. “As mulheres estão começando a se cuidar mais cedo. Algumas delas, ainda meninas, já querem saber o que podem fazer para se cuidar. Essa nova geração sente-se mais saudável, fisicamente falando”, ressalta a médica cirurgiã. Segundo Poliana, as preocupações vão desde os tratamentos para a pele até a alimentação. O reflexo disso é que as mulheres têm assumido, cada vez mais, os cabelos brancos.
A cirurgiã plástica Poliana Marocolo frisa que as mulheres estão se cuidando mais cedo
Neste caso, optam por mantê-los na cor natural, mas com cortes mais modernos, para garantir a aparência jovial. “Não necessariamente, deixar o cabelo branco significa desleixo”, acrescenta. Nessa nova caminhada, as mulheres têm buscado tratamentos como cuidados preventivos e não mais como reparação. Esse é o caso do botox e dos preenchimentos. Além disso, o uso de protetores solares tem sido propagado. A cirurgiã conta que a aplicação do produto tem começado mais cedo, tornando-se um costume. “As pessoas crescem com hábitos que, antes, não tinham. Tanto que é mais difícil um paciente responder que não usa protetor quando perguntamos”, conta. Para boa parte dos pacientes que vão à clínica, o uso dos protetores já se tornou rotina. “Às vezes, não na quantidade que gostaríamos que usassem, mas as pessoas já têm o costume de aplicar, o que é muito importante”, acrescenta a cirurgiã. Com os produtos de proteção, as mulheres têm optado por mais atenção com a maquiagem. Usam removedores que não irritam e contribuem para a hidratação. De acordo com Poliana, os cirurgiões plásticos e demais profissionais de estética entram em cena quando passam a
ser necessários. Em outras palavras, são procurados a partir do momento em que as mulheres querem realizar procedimentos. Mas, estes não necessariamente precisam ser cirúrgicos. A médica esclarece que a função dos profissionais é atender às expectativas das pacientes que não podem ser alcançadas apenas com uso de produtos de beleza ou tratamentos com cremes. “Os procedimentos são realizados de acordo com a demanda, com aquilo que está incomodando as pacientes”, acentua. Poliana reforça que os procedimentos de beleza podem e devem ser preventivos, não meramente corretivos, como na concepção anterior. Mesmo para as mulheres que querem diminuir as rugas, a demanda é por tratamentos que possam diminuí-las, proporcionando, com isso, um “envelhecer bem”. Avessas aos rostos esticados, as mulheres têm buscado modos de atenuar as marcas do tempo, mas de forma a não mudar as próprias características. E o número de pacientes determinadas a esse fim só aumenta. Embora os profissionais registrem visitas nos consultórios de pessoas que buscam alcançar a beleza estética de forma mais rápida, a quantidade de mulheres
que se previnem é crescente. Os procedimentos preventivos são vários e dependem de cada necessidade e organismo. Botox e preenchimentos, por exemplo, não são definitivos, o que vai de encontro ao que as mulheres buscam. “Existe uma diferença grande do preenchimento que usamos. Ele não é definitivo e não pode ser, até porque o corpo e o rosto das mulheres vão mudando conforme a idade”, ressalta Poliana. De acordo com a cirurgiã plástica, as pacientes entenderam que os procedimentos não devem ser definitivos porque a própria aparência delas não o é. Por essa razão, os preenchimentos mais modernos - como os feitos pela médica - são absorvíveis, exigindo manutenção e conferindo o tão desejado aspecto natural. “Muitas mulheres vêm ao consultório, ao longo dos anos, e não precisam de cirurgias. Quando realizam, elas são pequenas e de intervenção simples”, conta. Para Poliana, o resultado da combinação de cuidados pessoais e procedimentos preventivos supera a questão da aparência. Juntos, eles mantêm as mulheres “em paz com o espelho”. “Como estão de bem com a própria imagem, elas não criam a expectativa de sair do consultório diferentes”, aponta. Por estarem com aspecto mais natural, as mulheres que realizam procedimentos modernos não atraem olhares de reprovação por uma mudança física radical. “As pessoas ao redor delas não notam. Inclusive, as pacientes voltam muito felizes porque ninguém percebeu”, relata Poliana. Para a cirurgiã, a grande vantagem dos procedimentos estéticos atuais é garantir resultados satisfatórios para as mulheres sem que elas, necessariamente, tenham de recorrer à cirurgia. “É muito bom prevenir”, completa. Os cuidados, porém, devem ser tomados sempre a partir da indicação de um profissional. Poliana acentua que somente os profissionais podem indicar os produtos de boa qualidade e que vão trazer resultados desejados - inclusive, financeiros. A orientação de um médico, por exem-
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14 popularizaram. As plásticas mais procuradas eram as de rosto, seguidas das de redução de gordura (na barriga) e de implantes de próteses nos seios. Machado avalia que a maior questão sobre as cirurgias não era a busca desenfreada pela estética, mas a passividade das pacientes. “Elas esperavam primeiro o problema surgir para, depois, procurarem tratamento. Era como se fazia antigamente. A mulher moderna não faz mais isso”, destaca. Segundo o médico, boa parte da mudança de comportamento das mulheres, principalmente, está relacionada ao uso do protetor solar desde a infância. Machado lembra que, antigamente, o produto não era acessível. “Nem existia”, diz. O resultado do uso mais prolongado é uma pele menos “judiada” pelo sol. Com isso, as mulheres apresentam menos marcas e manchas. Em consequência, há menor risco de doenças relacionadas, como o câncer de pele. De acordo com o cirurgião plástico, embora o uso do protetor esteja popularizado, ele não elimina doenças. “As pessoas podem falar que, hoje, tem muito mais casos de câncer de pele que antigamente, mas, na verdade, é que, hoje em dia, está
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plo, pode garantir que o tratamento tenha continuidade. Poliana informa que os resultados dependerão da disponibilidade dos pacientes, tanto financeira quanto da vontade de segui-lo à risca. Quem interrompe o tratamento corre risco de jogar dinheiro fora. “Se a paciente não tem condições de seguir um tratamento, verificamos outras formas, pois existem várias. O importante é que as pessoas deem continuidade”, reitera. Para o cirurgião plástico Machado, proprietário da clínica Casa Corpo, o principal aspecto dessa nova tendência é que as mulheres deixaram de querer se transformar em pessoas mais jovens. Estão olhando para a qualidade de vida. “Elas querem amadurecer com dignidade”, avalia o cirurgião. O médico explica que esse pensamento é mais recente. Até então, os cuidados com a aparência eram iniciados a partir dos 40 anos. Dessa idade em diante, as mulheres pensavam em olhar mais para o corpo, cuidar da fisionomia. A regra era começar o tratamento de beleza com aplicação de cremes para rugas. Depois, as pacientes buscavam os médicos e recorriam às cirurgias, que se
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Para o cirurgião plástico Ivan Machado, simples intervenções mostram que “menos é mais”
mais fácil fazer o diagnóstico”, ressalta o profissional. Mais que proteger a pele, o produto previne rugas e a elastose solar (evita que a pele fique com aspecto de casca de laranja por excessiva exposição aos raios ultravioletas). A elastose é o que deixa a epiderme com aparência de envelhecida. Como complemento, as mulheres passaram a usar os cremes antirrugas, antes mesmo de qualquer surgimento de algum sinal. “As mulheres não esperam mais o problema surgir, elas começaram a agir mais cedo”, conta o cirurgião. A consequência dos métodos preventivos é um adiamento da realização das cirurgias invasivas. Com mais opções, as mulheres podem estimular o colágeno, prevenir rugas e melhorar a absorção de vitaminas pelo organismo. Isso faz com que o corpo se desgaste menos e incide em procura maior por procedimentos minimamente invasivos, como os preenchimentos não definitivos. São tratamentos mais simples e que visam atenuar sinais. Além do botox, este é o caso dos peelings – especialmente os faciais – e da aplicação de laser. Nessa linha, há tratamentos para além da face. Eles abrangem a região do colo, dos braços, das partes internas das coxas e para evitar ou atenuar a flacidez da barriga. Machado ressalta que há inúmeras opções além das cirurgias. De modo a atender à demanda, o cirurgião conta que a medicina moderna tem inovado. “A parte estética está muito avançada. Há tratamentos e cosméticos que estão sendo preparados e ainda não chegaram aos consumidores”, comenta. Este é o caso dos cosméticos que surgem em versões “digeríveis”. Dentre eles, cápsulas que contêm substâncias que estimulam a pele a se proteger do sol,
ou mesmo que favorecem a produção de colágeno. Em resumo, são cosméticos que agem “de dentro para fora” e dispensam o uso externo, direto na pele. No campo das cirurgias, a preocupação das mulheres em não aparentar idade diferente das que têm também estimulou mudanças. A principal delas diz respeito aos sinais. “O menos é mais. As cirurgias plásticas bem feitas são aquelas que ninguém percebe, aquelas que mantêm harmonia”, ressalta Machado. As novas técnicas de plásticas de barriga, por exemplo, evitam que o umbigo fique com aparência de “caçapa de mesa de bilhar”. Há, ainda, procedimentos mais adequados a cada caso. Exemplos são as “minilipos”, que permitem às pacientes retorno mais rápido às atividades rotineiras, em até três dias. Ainda nas plásticas abdominais, outra mudança importante é que elas passaram a ser realizadas com indicações mais precisas. “Hoje, não fazemos uma cirurgia em pessoas muito acima do peso. Primeiro, indicamos que elas devem emagrecer, para que possamos diminuir os riscos”, acrescenta o médico. Com relação aos tratamentos mínimos, como costumam ser mais recorrentes, o cirurgião plástico destaca ser preciso respeitar um limite. Segundo ele, o número de procedimentos não pode “ultrapassar a linha da naturalidade”. Quando isso ocorre, começam os excessos, como os vistos em celebridades, como a cantora Gretchen e os humoristas Tom Cavalcante e Dedé Santana. Os riscos são de que, na tentativa de se arrumar os erros, novos procedimentos sejam necessários. “Aí vai ficando cada vez pior e difícil de reparar”, atesta o médico. “O bom-senso sempre é a melhor indicação”, adverte.
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Ditando moda e se mantendo no salto No município, mulheres determinam estoques de lojas de roupas e calçados ARQUIVO PESSOAL
Ana Flávia Miranda ressalta que peças e estampas militares estarão bastante em alta na próxima estação
Primavera, verão, outono e inverno. Seja qual for a estação, em Tatuí, são as mulheres que determinam o que faz parte dos produtos das lojas ligadas à moda feminina – particularmente, das que trabalham com roupas e calçados. O gosto básico é predominante por aqui, como explica Ana Flávia Miranda, proprietária da loja Ana Banana Acessórios. A empresária ressalta que, no geral, as consumidoras locais preferem peças mais discretas, começando pelo jeans. Por outro lado, roupas mais sofisticadas, como as de seda, também têm público garantido. Entretanto, costumam sair das prateleiras com frequência não tão grande. “É mais para ocasiões especiais”, destaca a empresária. Ana Flávia conta que a preferência pelo básico tem a ver com a “atmosfera da cidade”. “Tatuí é pacata, e as pessoas optam por não chamarem muito a atenção”, observa.
No entanto, esse comportamento tem mudado. Em parte, pela presença maior da mulher em campos que até então estavam fechados a elas, como em variadas áreas de trabalho. Apesar de mais aberto, o mercado continua desigual. Basta ver o relatório da OIT (Organização Internacional do Trabalho), divulgado no dia 8 de março do ano passado. O estudo indica que, na América Latina, as mulheres ganham em média 15% a menos que os homens, embora desempenhando a mesma função. Mesmo com salários menores, elas têm garantido uma amplitude no mercado da moda, pois são os consumidores que mais gastam com roupas, calçados e acessórios. Por ano, no Brasil, as mulheres destinam R$ 1.670 para a compra de roupas. Os dados são da “South West News Service” e relativos ao ano passado. Em Tatuí, a presença maciça das mulheres representa mais que lucratividade ao comércio. Significa que elas
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estão investindo mais no estilo pessoal. Prova disso é que, na loja de Ana Flávia, a presença de consumidoras “mais arrojadas” tem sido cada vez mais comum. E elas procuram peças com estilo mais adequado ao delas. “É muito importante estar bem vestido, porque isso impacta na autoestima; e o estilo é tudo! Não adianta ser linda, maravilhosa, e não ter estilo. Basta ver que existem pessoas que chamam a atenção só pelo comportamento”, argumenta. Segundo a empresária, esse novo comportamento vem em “uma crescente”. E, para ajudar as tatuianas, mais lojistas têm apostado no treinamento de funcionários. Os vendedores mais preparados, inclusive, dão dicas de combinações. Para quem quer encontrar um estilo próprio e, ao mesmo tempo, ousar, Ana Flávia recomenda o uso de uma terceira peça. “Deixa o look mais elaborado”, descreve. No caso de quem opta por calça jeans e uma regata branca, a dica é incrementar o visual com um lenço. Outras recomendações são a adoção de cardigã como terceira peça ou, ainda, a mistura dele com um colar. “Isso faz com que o básico não fique tão básico e forma um argumento”, diz a empresária. Brincar com o estilo é outra possibilidade. Ana Flávia explica que as mulheres que preferem o básico podem fugir à regra, mas sem perder a característica própria. Podem combinar as roupas com peças sofisticadas ou aderir aos brilhos. “Sempre dá para mudar, mas tudo vai da disponibilidade da pessoa. E cada uma tem um comportamento, que independe da profissão”, acrescenta a empresária. De acordo com ela, o estilo pessoal nem sempre é o mesmo que o profissional. Advogadas, a título de curiosidade, optam pelo estilo clássico no trabalho. Já para o passeio, o gosto pessoal pode ser outro, mais leve e despojado. Para dar conta dessa diversidade é que os lojistas da cidade têm apostado em novas tendências. Ana Flávia, por exemplo, esteve recentemente em Nova Iorque. Ela viajou para trazer novidades. “Apesar de estar inverno lá, fui conferir o que há de novidade para a coleção verão”, conta. “Nova Iorque é incrível para a moda. As pessoas não se intimidam de usar uma cor mais chamativa ou casacos pela manhã e chapéu”, acrescenta. Conforme ela, a estação mais quente do ano pedirá roupas em roxo, uma cor fria. Acessórios como guarda-chuvas também são bem-vindos, atesta a empresária. O verão 2019-2020 promete mudar um pouco o estilo de vestimenta das tatuianas - mas, nem tanto. “Nós trazemos as coleções sempre pensando no dia a dia
das consumidoras, com as peças mais básicas, mas mesclamos as tendências com as mais ousadas, para oferecermos variedade às nossas clientes”, diz. A estratégia permite à empresária atender ao público básico e garantir opções a quem gosta de ir além. “A mulher tatuiana tem estilo, mas pode ser mais arrojada, não ter medo do que os outros podem pensar”, enfatiza. Peças em tweed (tecido de lã mais áspero), em tricô e jaquetas do estilo “corta vento” prometem estar mais presentes nas vitrines de Tatuí. Roupas em neoprene (considerado mais refrescante e muito usado por surfistas), também. Em qualquer caso, a tendência é que o básico divida espaço com as estampas. Entre elas, a de “animal print” e as com desenhos do estilo “militar”, em alta. Já quando o assunto são os sapatos, as opções aumentam. Fernanda Vieira Scaglioni, proprietária da Morena Shoes, enfatiza que as tatuianas gostam de estar atualizadas. Ela também revela haver preferência por sapatos de salto médio. “As mulheres não andam de salto muito alto, por priorizar o conforto”, acrescenta. Fernanda explica que o uso dos calçados mais baixos possibilita que as mulheres desempenhem atividades variadas. Com eles, advogadas, professoras e médicas, por exemplo, podem continuar elegantes e sem sentirem dor. Além disso, os sapatos evidenciam a beleza. “Todo mundo fala que Tatuí é a cidade das mulheres bonitas. E elas, realmente, são bonitas”, diz a empresária. No município, o público é eclético e bastante presente. Fernanda conta que as clientes gostam de estar “antenadas”, visitando as lojas costumeiramente em busca de novidades. “As que vêm aqui, gostam de ver o que está na moda”, aponta. Para a empresária, as consumidoras tatuianas são bem focadas e com idades variadas. A presença mais constante é de mulheres acima dos 30 anos, independentes financeiramente e que “sabem o que querem”. “Admiro muito as mulheres de Tatuí, e não penso que, por serem do interior, não são atualizadas. Elas sempre procuram as novidades que viram na internet”, argumenta. Na loja da empresária, grande parte das clientes foca em produtos que já viu na internet. Segundo Fernanda, as consumidoras, primeiro, pesquisam a respeito de opções em chinelos, botas e sapatos em sites; depois, preferem visitar as lojas físicas para encontrar o que viram. Isso garante segurança com relação à compra, sem falar nas opções de pagamento e garantias.
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Pela variedade, muitas das peças nem param nos expositores. Algumas chegam a esgotar no dia da chegada às lojas. Fernanda conta, por exemplo, que peças que estão em tendência (com estampas de onça, de cobra, militar e na cor vinho) têm apresentado boa aceitação por parte das consumidoras. “O sapato muda todo o ‘look’, mesmo quando a opção é uma roupinha básica. Um vestido com um sapato feio não combina, um complementa o outro”, diz. Em Tatuí, a conversa entre consumidoras e lojistas se dá em outro nível, que considera as tendências, mas prioriza o gosto. Aqui, quem manda são elas. Fernanda aprendeu, na prática, como se dá essa relação. “Na primeira compra que fiz, não atingi o público-alvo, mas, na segunda, já entendi qual era o perfil das minhas clientes e acertei nas vendas”, destaca a empresária. Na loja dela, o público varia de 16 a 60 anos de idade e determina o tipo de calçado a ser consumido. As mais jovens buscam novidades, enquanto as mais experientes priorizam conforto. Em comum, todas querem permanecer bonitas. “O salto médio atende a todos os públicos, tanto que as marcas não estão
EDUARDO DOMINGUES
“Algumas de nossas clientes pedem para trazermos produtos que viram na internet. Claro que há as mais básicas, mas mesmo essas gostam de estar em destaque”, conta. De acordo com a empresária, a busca se deve ao fato de que os sapatos estão entre os itens mais consumidos pelas mulheres. Perdem apenas para lingeries e livros, conforme pesquisa realizada pela Forrester para o Mercado Livre. Os dados divulgados em 2016 são relativos às vendas registradas pelo site nos anos de 2011 e 2014. Esse estudo avaliou o comportamento de homens e mulheres e mostrou que elas compram em um ritmo mais acelerado que eles. No caso dos sapatos, a busca “desenfreada” varia, sofrendo influência do clima. “Elas gostam de estar com o sapato ideal, conforme o tempo. Se esfriar, já ligam pedindo bota e, se esquentar, já pedem rasteirinha”, comenta. Mesmo nas peças mais básicas, as opções são muitas, o que mantém a atração. As rasteirinhas são compostas por poucas tiras e um solado mais reto. Contudo, as variações é que atraem. As peças podem conter correntes, serem produzidas com cores mais chamativas - que imitam o neon - e outros materiais.
Mulheres tatuianas gostam de aliar conforto e beleza, afirma Fernanda Vieira Scaglione
lançando tanto salto alto. Salto 15 é mais para casamento, e não se vê no dia a dia”, observa. Mesmo em ocasiões mais formais, como celebrações, a tendência tem sido a compra de saltos de altura menor. Há quem, ainda, prefira sandálias para evitar cansaço nas pernas. Nesse caso, o objetivo é aproveitar ao máximo os eventos. “Até em casamentos, elas preferem saltos menores, porque podem passar várias horas em pé. Além
disso, querem aproveitar a festa”, conta Fernanda. Tantas opções têm feito as tatuianas irem mais às compras buscando os sapatos. A empresária explica que a troca de calçados acontece a cada dois meses. Na busca pelo conforto – e por manter um estilo próprio e mais coerente –, o que menos importa é o preço. “Alguns sapatos não são baratos, mas as consumidoras querem mesmo assim, porque são diferentes e vestem bem”, conclui.
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Empreendedorismo que gera influência Com 22 mil seguidores, Nathália Menezes impacta consumidoras em todo o país ARQUIVO PESSOAL
Espaços virtuais nos quais grupos de pessoas se relacionam por mensagens e compartilham conteúdo. A definição das redes sociais tem sido expandida com a universalização do acesso à internet e ganhado números significativos. A começar pelo percentual da população brasileira que faz uso ativo delas. De acordo com a pesquisa “Digital in 2018: The Americas”, realizada pelas empresas We are Social e Hootsuite, 62% dos brasileiros usam ativamente as redes sociais. E, destes, 58% já buscaram por um serviço ou produto pela internet. A empresária Nathália Menezes faz parte desse universo, mas de uma maneira diferente. Com um público fiel de seguidores, ela é considerada uma das principais “digital influencers” da região - reconhecimento que ganhou a partir da entrada dela no mundo da moda e que a levou a fundar uma empresa própria, a Mon Jolie. Como a maioria dos usuários, Nathália está presente em diversas redes sociais, com destaque para o Instagram. Nessa plataforma, ela publica fotografias que são acompanhas por cerca de 22 mil seguidores. São pessoas de várias partes do país, as quais acompanham o cotidiano da empresária. Nathália posta diariamente imagens com dicas de moda (apresenta looks e vestimentas), além de viagens, gastronomia e estilo de vida. São conteúdos que fazem parte da rotina dela e que influenciam consumidoras em todo o país. A relação dela com a internet começou em São Paulo. Nathália é formada em marketing pelo Mackenzie, pós-graduada em gestão de negócios pela ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) e, na capital, trabalhou em empresas fundamentadas na web. Entre elas, a Catho e o BuscaPé. Já a história com a moda deve-se a um convite. Quando morava em São Paulo, Nathália recebeu pedido para ajudar na alimentação de um blogue de moda. “Eu nunca havia trabalhado nesse ramo
A influenciadora digital Nathália Menezes, que optou por empreender pela internet
antes”, ressalta a influenciadora digital. O blogue pertencia a uma amiga da empresária. Nathália conta que a participação dela no canal de informação teve início de forma esporádica. “Eu escrevia uma vez por semana. Mas, tomei gosto e comecei a produzir conteúdo com mais frequência, até que o blogue virou meu e dela”, lembra. A parceria durou para além da mudança a Tatuí. Nathália transferiu a vida corrida que tinha em São Paulo para uma mais tranquila, mas não menos agitada profissionalmente, depois de casar-se. Ela é esposa do empresário João Paulo Fiúza, com quem aprendeu a desenvolver o tino para os negócios. Em Tatuí, ela ingressou na loja Picida. A convite de Celso Fiúza Filho e da própria Picida – proprietária da “fashion store” –, ela desempenhou a função de “buyer”. Nathália comandou os departamentos de compra e marketing da empresa. Na Picida, para alavancar as vendas, ela expandiu as atividades de “bloguer”. “Quando comecei na loja, ainda escrevia com minha amiga. Foi aí que pensei em
criar o meu próprio blogue, para dar um ‘up’ e ajudar na divulgação”, conta. O blogue se tornou uma ferramenta de divulgação e marcou o início da nova carreira da empresária. Nathália escrevia textos sobre tendências da moda, experiências em viagens e outros assuntos. “Virou um espaço para compartilhar conteúdo”, relata. A troca de informações com o público – cada vez mais cativo – incluiu a vida pessoal da digital influencer. Nathália acrescentou conteúdos sobre casamento e maternidade. Todos eles, a partir das perspectivas de tendências da moda. Com o nascimento do filho, “JPzinho”, a digital influencer deu uma segunda guinada na vida profissional. Motivada por uma necessidade – e dificuldade –, Nathália fundou, no final de 2017, a Mon Jolie Sleepwear, uma empresa totalmente virtual e especializada na confecção de pijamas personalizados. “Ainda estava trabalhando na Picida quando fui comprar um pijama para o meu filho. E não achava modelos legais, do jeito que eu queria. Os que encontrava
eram caros e confeccionados de forma simples, com malha”, descreve. Da dificuldade, Nathália tirou a ideia de criar uma empresa que atendesse a esse público. Ela explica que a intenção era oferecer um produto competitivo em relação às marcas já consolidadas no mercado, mas com diferencial. A Mon Jolie está totalmente estruturada na internet. As vendas são feitas on-line e abrangem público diversificado. Os pijamas são exclusivos e voltados a crianças, homens e mulheres. A fabricação é própria, estando a cargo de costureiras escolhidas a dedo pela empresária e que trabalham com técnicas como o bordado. “Nós só vendemos por encomenda”, diz Nathália. Os pedidos têm aumentado não só pelo diferencial – a confecção exclusiva –, mas pela influência que Nathália exerce no meio digital. Para manter a qualidade do produto, a empresária investe em parcerias e novas modelagens. “Usei a minha rede para lançar a marca e foi superpositivo. Estou focada 100% na marca”, conta a empresária, que deixou de escrever no blogue para atender à nova demanda. Nathália também diz que o diário virtual demanda investimento em tempo que plataformas como o Instagram dispensam. Ela ainda ressalta que o número de pessoas que consomem imagens como informação rápida não para de crescer. Tanto é verdade que, em 2018, o Instagram superou o Facebook em vendas por aplicativo, conforme estudo realizado na América Latina. A pesquisa, compilada pela Nuvem Shop, indicou que o Instagram respondeu por 69,6% das vendas registradas pela empresa. O Facebook ocupou o segundo lugar em vendas via Nuvem Shop, respondendo por 27% do total de negócios, seguido pelo YouTube, com 3,3%, e pelo Pinterest, com 0,1%. A plataforma que realizou o estudo atende a mais de 20 mil lojas on-line que vendem produtos por meio das redes sociais. Considerado ferramenta “muito mais
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de produzir em larga escala, uma vez que isso significaria a perda da identidade. Conforme ela, a Mon Jolie não mira no e-commerce por conta do estilo de produ-
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rápida”, o Instagram prioriza a informação visual. A rede social é apontada, ainda, como melhor para engajamento de marcas e conta com um bilhão de usuários ativos no mundo e 64 milhões no Brasil. Os dados são de outubro do ano passado. Nathália é seguida por quase 22 mil pessoas e tem perto de 3.600 publicações. A quantidade de curtidas não pode ser contabilizada, dada a popularidade dela. Os seguidores são de várias partes do país. Além de usuários de Tatuí e região, onde é mais conhecida pelo trabalho que desenvolve, Nathália recebe curtida de pessoas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e até de Fortaleza. E são essas pessoas que acompanham as postagens da empresária que consomem boa parte dos produtos da Mon Jolie. A empresa também tem canal próprio no Instagram, mas obtém maior visibilidade no perfil da proprietária. “Meu marido me disse que eu enxerguei uma oportunidade. E tanto ele como minha mãe – eu trabalho com ela – me apoiam muito. Isso faz diferença”, conta. Focada 100% na internet, a Mon Jolie deve permanecer on-line por conta de uma estratégia de mercado. Nathália explica que a empresa não tem pretensões
ção. Um investimento nesse tipo de venda exigiria produção mais acelerada, o que descaracterizaria o produto. Os pijamas são peças únicas. “Eu teria de trabalhar com pronta-entrega e estabelecer um padrão”, justifica. O modelo atual da empresa garante liberdade ao consumidor e exclusividade. “A pessoa escolhe tudo: o friso, o bordado, a estampa. É tudo muito personalizado. Não digo que nunca investirei em um site de vendas, mas, no momento, não. Tudo está funcionando bem assim”, argumenta. Nathália enfatiza que as dinâmicas de produção e vendas têm permitido ir mais longe. Os pijamas confeccionados em Tatuí já vestiram pessoas de vários estados brasileiros. Além de São Paulo, as vendas atendem ao Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais e municípios da região Nordeste do país. “Nem imaginava que fosse Pijamas confeccionados são vendidos somente pela internet
abranger tanto. Já fizemos negócios com tantas pessoas que nem consigo contabilizar com quantas”, conta a digital influencer. Nathália também diz que nem pensava em inspirar comportamentos quando iniciou a carreira profissional. Ela relata que começou a atuar como influenciadora digital – segmento dominado por mulheres – aos poucos. “Na verdade, isso aconteceu de uma forma bem natural. Gosto de moda e, na época da loja, comecei a publicar fotos com as quais as pessoas se identificavam”, comenta. Os “likes” se reverteram em vendas na loja. Foi quando Nathália começou a perceber que havia retorno. Contudo, ela não incluiu nas postagens assuntos ou peças de roupas que não estivessem relacionados à personalidade dela. “O que não tinha a ver comigo eu nem publicava”, ressalta. Essa atitude ajudou a empresária a reforçar a identidade dela nas redes sociais. Também possibilitou o surgimento e o fortalecimento da imagem da Mon Jolie e o reconhecimento da proprietária da marca como influenciadora digital em âmbito nacional.