O Progresso da Mulher

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25 DE MARÇO DE 2018


Editorial

O PROGRESSO DA MULHER A partir da proposta de apresentar novidades periódicas, o jornal O Progresso tem concretizado novas publicações particularmente a partir de 2012, quando completou nove décadas de fundação. Naquela oportunidade, foi lançado o tabloide especial “90 Anos de Progresso”, que abrangeu muito mais que a própria história do jornal, resgatando tudo o que de mais significativo aconteceu na Cidade Ternura desde 1922 (inclusive, a origem desse mesmo título, graças a um artigo publicado no então semanal, em 14 de outubro de 1934). Na sequência, vieram as edições de “O Progresso em Revista”, com temas diversos e que, posteriormente, trataram de assuntos específicos, como os 30 anos de colunismo social de Jorge Rizek e o universo dos casamentos, em 2014 e 2015, respectivamente. Já em 2016, surgiu o “Guia Turístico e Gastronômico Tatuí Cidade Ternura”, outra novidade, então considerando-se o fato de que a Capital da Música seguia concretamente na conquista do reconhecimento de Município de Interesse Turístico do Estado de São Paulo (MIT) – o que, de fato, aconteceu no ano passado. Nesse mesmo ano de 2017, quando o jornal O Progresso alcançou os 95 anos de existência – completados em 30 de julho -, outra nova publicação chegou aos leitores, embora, novamente, pautada sobre tema único. Dessa vez, todas as reportagens apresentaram em comum assuntos relacionados às crianças. Contudo, não se tratou de um suplemento “para” crianças, mas, sim, “sobre” crianças, de interesse dos pais, portanto. No formato tabloide e todo em cor, o especial teve como pauta reportagens e artigos assinados por especialistas nas áreas de educação e saúde. Na prática, consolidando o objetivo de sempre inovar e – mais que isso – surpreender os leitores, mais essa publicação de O Progresso seguiu junto a um projeto de edição de publicações

especiais a cada dois meses. Assim, além do guia turístico e do tabloide para crianças, o jornal mantém as edições de aniversário da cidade – sempre no formato de especiais -, dos concursos literários Paulo Setúbal e, ainda, promove o Concurso Artístico e Literário de Natal - já na 23ª edição - que finaliza o ano compondo a tradicional edição especial, junto às mensagens alusivas à data. E, neste momento, uma nova publicação é apresentada na série bimestral. O tema a figurar o primeiro tabloide especial de 2018, que agora chega aos leitores, é a “mulher”. Contudo, o tabloide de temática única propõe-se a ir além dos assuntos padrões, como “moda” e “beleza”. Longe disso, o especial aborda temas muito mais próximos e presentes à realidade dos “desafios” da chamada “mulher moderna”, que não busca apenas a beleza, mas a igualdade frente aos homens em todas as instâncias sociais e pessoais. No formato tabloide e todo em cor, o suplemento não deixa de lado os assuntos comumente do universo feminino, mas dá ênfase a temas essencialmente contemporâneos, sempre com um viés local – ou seja, priorizando os profissionais e a realidade tatuiana. Assim, integram a pauta, entre outros assuntos, os números da violência contra a mulher em Tatuí, saúde preventiva, as empreendedoras tatuianas na área social, a mulher na política local e a presença feminina nas artes em geral e na “Capital da Música” em particular. Por diversos e óbvios motivos, o tema não poderia ser mais pertinente. Não se trata de surfar na onda fácil dos discursos de “empoderamento”, mas de se ressaltar que, de fato, a mulher é a grande responsável pelo atual momento de revisão e renovação social. A condição dessa mulher “atual”, especificamente na sociedade tatuiana, é observada por diversos aspectos, embora todos com o devido reconhecimento de seu protagonismo.



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Cirurgia plástica muito além da simples beleza BENEFÍCIOS PODEM IR DA MELHORA DA FUNCIONALIDADE DE ALGUNS ÓRGÃOS ATÉ A SAÚDE PSICOLÓGICA DA MULHER mais rica da população, atualmente, é visto como uma necessidade para muitas pessoas. É o que afirmam a cirurgiã Poliana Marocolo, do Consultório de Cirurgia Plástica Reparadora – Tatuí, e o cirurgião Ivan Machado, da Clínica Casa Corpo. “Tem muita gente que, até por falta de informação - muitas vezes, até médicos -, acha que a cirurgia plástica não trabalha com a parte de doenças. Acha que nós trabalhamos só com estética, com beleza e, até na cabeça de algumas pessoas, com “futilidades”, coisas desnecessárias”, argumenta Machado. “O que a gente bate muito na tecla é que cirurgia plástica não é uma coisa unicamente estética. Falou em plástica, a pessoa pensa em estética, mas a gente tem uma gama enorme de procedimentos reparadores”, observa o

cirurgião plástico. Machado explica que a cirurgia plástica reparadora é considerada tão necessária quanto qualquer outra intervenção cirúrgica, como no caso de pacientes com cisto, câncer de pele, queimados, acidentados, traumatizados e, ainda, para ex-obesos, que fizeram cirurgia bariátrica. “Existem algumas áreas que nós atendemos e que as pessoas não sabem e, às vezes, nem procuram o cirurgião plástico para tratar, que são algumas doenças”, acentua Machado. Como exemplo, ele aponta a cirurgia plástica oncológica, que, além de retirar o tumor, faz a reconstrução da área afetada. “Um tumor na pálpebra, por exemplo, se você a tirar, vai ficar sem pele, o olho fica aberto, e a gente reconstrói. Não é deixar bonito, é a pessoa voltar a não ficar mutilada”, reforça o cirurgião. A cirurgiã plástica Poliana também defende que a cirurgia plástica não é somente uma questão de mudança do físico da mulher. “Seus benefícios vão muito além disso e acabam refletindo em diversos aspectos, possibilitando, até mesmo, uma relação social mais saudável”, sustenta. Segundo os especialistas, a cirurgia plástica se tornou um grande alívio, proporcionando benefícios não só físicos, mas, principalmente, psicológicos aos pacientes. Alteração da forma e tamanho do nariz, orelhas e mamas, retirada de excesso de pele do corpo, são procedimentos feitos com o propósito de melhorar a aparência. No entanto, também são a peça chave para alcançar a melhora na saúde do paciente, já que, em muitos casos, geram prejuízo de ordem funcional e psicológica. “O bem-estar físico está intimamente ligado ao psíquico. A pessoa tem que estar bem com ela mesma, senão ela não produz, ela não rende, é outra pessoa”, argumenta Poliana. “Uma paciente que tem uma mama tamanho 58, aquela que a hora que tira o sutiã chega na região da cintura, pelo volume que tem, ela sofre. Essa pessoa não tem vida. Imagine você carregando dois sacos de arroz para lá e para cá todo dia”, exemplifica Machado. “A pessoa tem dor, tem desconforto.

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Quando se fala em mulher, é inevitável pensar em beleza. Elas estão cada dia mais vaidosas e preocupadas com a saúde e com os contornos do corpo. Com isso, a procura por tratamentos estéticos e cirurgias plásticas tem sido cada vez maior. O Brasil está entre os países com maior número de cirurgiões plásticos no mundo, abrigando o maior número de pacientes desta especialidade. Segundo dados da Isaps (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética), em 2015, o país realizou 1,22 milhão de procedimentos, colocando-o em segundo lugar no ranking, atrás somente dos Estados Unidos, que, no mesmo ano, fizeram 1,41 milhão de cirurgias plásticas. O que poucos sabem é que o que antes era tido como algo fútil, limitando-se à parcela

Ivan Machado

Chega no verão ela tem assaduras que chegam a fazer feridas. Tem que ficar passando talco, pomadas; às vezes, colocar paninhos por baixo dos seios. Esta pessoa tem uma qualidade de vida inferior. Aí, você faz uma cirurgia que a gente chama de ‘plástica reparadora’. A paciente volta a viver”, argumenta Machado. “Uma paciente desta nunca vai fazer um esporte, nunca vai correr, nunca vai pular. Para fazer uma faxina em casa, ela já tem dificuldade. Então, você devolve esta vida para a paciente. Existem procedimentos que, se não forem feitos, podem acabar trazendo prejuízos à saúde da mulher”, pondera o profissional. Há uma divisão entre cirurgia estética e reparadora, sendo que a segunda tem mais significado para fins legais do que práticos, uma vez que, por lei, são pagas pelos planos de saúde ou pelo SUS. No entanto, na prática, a diferença pode não existir, como explica Poliana. “Já conheci diversos pacientes que sofreram acidentes graves com grandes sequelas funcionais e que convivem muito bem com as novas limitações. Por outro lado, já vi mulheres com suas vidas sociais profundamente restritas, simplesmente, pelo fato de julgarem que não têm peito”,


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mente se a mulher estiver frustrada com o seu corpo, pode levantar a autoestima e ajudá-la a desenvolver os diferentes aspectos de sua vida com mais segurança”, argumenta a cirurgiã. Não obstante, ambos os profissionais afirmam que, antes de passar por procedimento cirúrgico, seja qual for, é preciso certificar-se se as razões para passar pela operação plástica, de fato, têm fundamento. Se você, realmente, acredita que sua saúde física e mental está abalada e que a principal razão disso é a insatisfação com alguma parte do corpo, vale consultar um profissional para saber os procedimentos. Além de verificar se suas expectativas são mesmo realistas. Antes de mais nada, contudo, é importante que a mulher entenda que cirurgia plástica visa melhorar a aparência e não a transformar em outra pessoa. “O ponto de partida para qualquer decisão consciente é aceitar que todos nós somos diferentes e que o ideal é priorizar objetivos que se alinhem à nossa realidade”, aconselha Poliana. “Toda mudança, por mais necessária e bem-vinda que seja, precisa ser trabalhada interiormente para que surta o máximo do efeito esperado. Avaliar as reais motivações para a cirurgia, as expectativas, os resultados esperados, tudo isso é importante como parte do processo de transformação”, aponta Machado. Atualmente, as duas cirurgias plásticas estéticas mais realizadas no Brasil são a lipoaspiração e o implante de prótese de silicone nos seios. Em seguida, vem a cirurgia de pálpebra, abdominoplastia, lifting de mama, redução de mama, rinoplastia (nariz), aumento de nádegas por transferência de gordura, preenchimento do rosto, lifting de rosto, cirurgia na orelha, lifting de sobrancelha, lifting de pescoço e ninfoplastia.

Poliana Marocolo

contextualiza a cirurgiã. “Algumas têm sérias dificuldades em relacionamentos íntimos e as mais gravemente afetadas apresentam limitações até mesmo no ambiente de trabalho. Essas situações existem e são muito mais comuns que a maioria imagina”. Segundo Poliana, os procedimentos mais procurados pelas mulheres são a mamoplastia (aumento da mama) e a ninfoplastia (redução dos pequenos lábios). Há mulheres que passam pelo procedimento cirúrgico e saem do hospital “renovadas”. “O número de mulheres que contam que a vida sexual e suas relações em geral melhoram após algum procedimento é muito grande”. “Uma operação de seios, por exemplo, pode trazer mais sensualidade e segurança para a mulher. Com a autoestima elevada, ela até se permite a viver com mais profundidade sua vida sexual”, completa. “Não quer dizer que a cirurgia plástica tire as carências emocionais das mulheres, mas uma mudança de aparência, principal-


Especialistas reforçam a importância da prevenção ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, EXERCÍCIOS E CONSULTAS MÉDICAS REGULARES SÃO ALGUMAS ATITUDES BÁSICAS PARA A SAÚDE

A promoção da saúde e a prevenção de doenças são temas cada vez mais discutidos na atualidade. Com isso, sabe-se que ter uma alimentação saudável, praticar exercícios e ir ao médico regularmente são algumas atitudes básicas para quem busca qualidade de vida. Contudo, nem sempre essas orientações são seguidas. Na correria do dia a dia - e com as múltiplas funções da mulher moderna, que, em sua maioria - enfrenta a famosa “dupla jornada” -, falta tempo para os cuidados com a saúde e para a realização de exames preventivos. A falta de cuidados acaba por aumentar o número de casos de doenças. O câncer é uma delas. Segundo relatório divulgado pelo Inca (Instituto Nacional do Câncer), o Brasil deve registrar cerca de 600 mil novos casos da doença tanto em 2018 como em 2019. A pesquisa mostra que o câncer de pele do tipo não melanoma é o mais frequente no país, enquanto a segunda posição é ocupada pelo câncer de mama, entre mulheres. Em terceiro lugar, aparece o câncer de intestino, seguido pelo câncer de colo de útero, pulmão e ovário. De acordo com a psico-oncologista Lu-

ciana Holtz de Camargo Barros, presidente e diretora executiva da ONG Instituto Oncoguia, o número de casos está crescendo porque as mulheres estão deixando de fazer os exames preventivos. O Instituto Oncoguia foi fundado em 2009 por um grupo de profissionais de saúde e ex-pacientes de câncer, liderados por Luciana Holtz. A associação não tem fins lucrativos, tendo sido idealizada com o objetivo de ajudar o paciente com câncer a viver melhor, por meio de projetos e ações de informação de qualidade, educação em saúde, apoio, orientação e defesa de direitos. Como estrutura central do trabalho da ONG, existe o portal “Oncoguia”, lançado em 2003, com “a missão de levar informação de qualidade e realmente útil, além de dicas de qualidade de vida para pacientes enfrentando o diagnóstico e tratamento de um câncer”. “O câncer de colo do útero é uma doença que nem deveria existir hoje em dia. É uma vergonha o número de casos que ainda existe. Este tipo de doença é totalmente evitável. Isso não acontece por falta de tratamento, e sim porque as mulheres não estão fazendo o Papanicolau”, explica a Luciana.

Além disso, a psico-oncologista explica ser preciso ir ao ginecologista fazer o exame e, depois, voltar ao posto de saúde ou ao consultório médico para buscar o resultado. “Hoje, a maioria das mulheres não volta para buscar o resultado dos exames. Vejo caso de mulheres que já tiveram câncer de colo do útero e relatam que tiveram sangramento que durou mais de um ano, mas o médico não dá o diagnóstico, porque ela não volta ao consultório saber o resultado”. O exame é de grande importância na prevenção desse tipo de câncer. Ele foi criado por George Papanicolau, em 1940, e detecta alterações do colo do útero ainda em fases iniciais, o que serve para diagnosticar e, principalmente, determinar o risco de a mulher vir a desenvolver o câncer. Todas as mulheres que são (ou que tenham sido em algum momento) sexualmente ativas e que tenham colo de útero devem fazer o exame, anualmente. Para Luciana, a maioria dos casos de câncer poderia ser evitada com prevenção e adoção de hábitos saudáveis. “O câncer colorretal é o segundo mais incidente, e está atingindo muito as mulheres. É reco-

mendável que a mulher, principalmente depois dos 50 anos, faça uma colonoscopia para a prevenção. Neste caso, as causas também são extremamente preventivas. Vem muito da nossa alimentação, também está ligado à obesidade”. Segundo o levantamento do Inca, cerca de 30% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis, como praticar atividade física regularmente, alimentar-se de forma saudável, manter o peso corporal adequado e evitar o consumo de bebidas alcoólicas. “Já existem estudos que mostram que a obesidade tem relação com câncer de mama e de intestino. As pessoas precisam estar realmente antenadas com relação a não ser gordinho, a não ser sedentário, a não fumar, em comer bem”, acentuou Luciana. “Acho que a gente precisa prestar atenção, realmente, para a forma como está comendo, e, junto com isso, vem a importância dos exames preventivos”, explica. Esse tipo de câncer é o mais comum entre mulheres no Brasil e no mundo, correspondendo a 25% dos novos casos a cada ano. Em 2017, ainda conforme o Inca, os casos de câncer de mama ultrapassaram a casa de 57 mil no Brasil.


07 Medicina preventiva na rede pública

Em Tatuí, existem diversas ações de medicina preventiva voltadas ao público feminino, tanto na rede pública, pelo SUS (Sistema Único de Saúde), quanto nos convênios particulares, como a Unimed. De acordo com Marília dos Santos Bernardo, diretora da atenção básica de saúde da rede pública municipal, as ações de prevenção voltadas às mulheres envolvem consultas médicas, mutirões de exames preventivos, grupos educativos nos bairros e campanhas que acompanham as de nível nacional. Entre estas, destacam-se as ações denominadas “Outubro Rosa”, “Fique Sabendo” e “Semana do Aleitamento Materno”, todas com o objetivo de informar sobre a importância da prevenção de agravos nas diferentes fases da vida da mulher. Tatuí conta com 17 postos de saúde, sendo que todos possuem uma agenda da “Saúde da Mulher”. Conforme afirma a diretora, o atendimento das unidades inclui exames preventivos e consultas médicas, que funcionam tanto para o tratamento de doenças pré-existentes quanto para a prevenção. A frequência do atendimento é de uma a três vezes por semana, dependendo da unidade de saúde e da demanda do bairro. “Na consulta, o médico vê o resultado do ‘papa’, passa o pedido de mamografia para as mulheres acima de 40 anos e examina”, informa a diretora da atenção básica de saúde. “Se ele percebe um nódulo ou alguma outra situação, pede ultrassom de mama, ou outro exame, passa orientações, prescreve contraceptivos, fala sobre sexualidade e tira dúvidas das pacientes. A maioria dos temas já é

abordado na própria consulta”. Além das consultas médicas e da coleta de ‘papa’, as unidades têm pelo menos três vezes por ano grupos educativos nos quais são abordadas questões como autoexame das mamas, prevenção do câncer de colo do útero, planejamento familiar, prevenção de DSTs e outros assuntos de interesse da população feminina. “Esses grupos são muito importantes, porque eles contam com uma equipe multidisciplinar. Tem palestra com médico, enfermeira, farmacêutico e outros profissionais que, além de informar e tirar dúvidas, enfatizam a importância de passar no médico pelo menos uma vez por ano”, enfatiza Marília. “Os profissionais passam instruções para as pacientes sobre os exames preventivos e mostram como pode ser feito o autoexame das mamas”, acrescenta. A opinião da diretora se alia à pesquisa do Inca, que aponta que 66,2% dos casos de câncer de mama são descobertos pelas próprias pacientes ao notarem alguma

alteração na mama. O dado reforça a importância do autoexame e da observação das mudanças no corpo para a prevenção da doença. O câncer de mama tem diversos tipos, porém, na maioria deles, quando diagnosticados em fases iniciais, é passível de tratamento, com boas perspectivas de cura. A mamografia, que é um exame de grande importância para a detecção precoce do câncer de mama, também é oferecida pelo município. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde, por mês, são agendadas 220 mamografias. “Este número está dentro do ideal e não tem lista de espera”, salienta a diretora. Outras formas de prevenção incluem as vacinas contra o HPV. A imunização contra o papiloma vírus humano foi incluída no Calendário Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, em 2014, e é indicada para meninos com idades entre 11 a 13 anos e meninas de 9 a 14 anos, quando ainda não


08 iniciaram a vida sexual e, portanto, não tiveram contato com o vírus. O Ministério da Saúde afirma que a vacina HPV Quadrivalente é segura, eficaz e trata-se da principal forma de prevenção contra o câncer do colo de útero, além de evitar mais de 98% das verrugas genitais. Mesmo assim, a informação não é suficiente para garantir a adesão e consequente imunização das meninas na faixa etária indicada. Conforme dados da Vigilância Epidemiológica, Tatuí, assim como todo o Estado, não atingiu a meta de imunização de 80%. O ministério informa que, mesmo com as campanhas de divulgação na mídia sobre a importância da vacina contra o HPV e a disponibilização de vários materiais educativos, as coberturas vacinais continuam abaixo da meta preconizada. “A mulher precisa se cuidar mais. Enquanto ela não tiver consciência de que precisa se cuidar primeiro, nenhum outro profissional vai fazer isso por ela. Sei que, hoje, a vida da mulher virou uma correria”, observa a diretora. ‘A mulher trabalha fora, precisa cuidar dos filhos, cuidar da casa, mas ela tem que entender que tem que cuidar da saúde em primeiro lugar, achar um tempinho para ela. O grande desafio da mulher é esse, isso não pode ser usado como desculpa para

a negligência com os cuidados pessoais”, reforça. Os dias e horários de atendimento médico ginecológico são disponibilizados no site oficial da prefeitura (www.tatui.sp.gov.br). A população tem a relação de médicos e atendimentos nas unidades.

Ações da medicina preventiva na Unimed

A Unimed Tatuí conta com um setor de medicina preventiva, promovida por meio de programas educacionais que oferecem diversas opções para os cuidados com a saúde. A coordenadora do setor, Renata Ferreira de Lima Augusto, aponta três programas que fazem parte da medicina preventiva e que são voltados às mulheres: “Bebê a Bordo”, “Alonga Terceira Idade” e “Planejamento Familiar”. De acordo com Renata, o curso “Bebê a Bordo” é voltado às gestantes que desejam aprender mais sobre os cuidados durante a gravidez e após o parto. O objetivo é proporcionar novos conhecimentos por meio de uma equipe multidisciplinar e abordar aspectos relacionados ao desenvolvimento da gravidez, parto, pós-parto, amamentação, cuidados com a gestante e os primeiros cuidados com o

recém-nascido (aula-prática de banho e troca de fralda). O curso ocorre mensalmente. “Neste programa, especialmente, nós cuidamos da mulher gestante. São feitas atividades de palestras durante uma semana, uma vez por mês. Conseguimos capturar algumas mulheres e outras vêm direto do consultório médico para que haja esta atuação”, conta Renata. “Neste curso, vai ser feito um intensivo de cuidados especiais para esta mulher. Ela vai ter orientação de como atuar na gestação, como vai se portar antes, durante e após o parto, na amamentação e na nutrição do bebê. O curso é bem atuante, bem procurado, e os indicadores são bem positivos”, detalha. Ações de prevenção com orientações sobre saúde reprodutiva e sexual são dados no programa “Planejamento Familiar”. Segundo a coordenadora, o programa orienta sobre métodos anticonceptivos temporários e permanentes, além de esclarecer sobre as doenças sexualmente transmissíveis, oferecendo conhecimentos sobre planejamento familiar e, assim, “garantindo que as mulheres decidam, de forma livre e responsável, sobre o exercício de sua sexualidade e reprodução”. “O ‘Planejamento Familiar’ faz a atuação em orientação e, além disso, ajuda a mulher a decidir o que ela quer para o seu corpo”,

comenta a profissional. O público-alvo constitui-se de mulheres em idade reprodutiva que não desejam engravidar e necessitam de orientações sobre contracepção. São pacientes que solicitam liberação de métodos contraceptivos definitivos (laqueadura e vasectomia) ou a implantação de dispositivo intrauterino (DIU). O terceiro programa é o “Alonga”, voltado à saúde da mulher da “terceira idade”. O programa de alongamentos teve início em 2010, com o objetivo de oferecer às pessoas da terceira idade uma ação social que privilegiasse a saúde, tanto do corpo como da mente, por meio de trabalho com foco em qualidade de vida, integração e socialização. Realizado às segundas, quartas e sextas, das 9h às 10h, o programa “Alonga” é gerido pelo Grupo Medicina Preventiva e está permanentemente aberto às pessoas maiores de 55 anos interessas em recuperar ou preservar a saúde. “O ‘Alonga’ atua na prevenção e no tratamento de doenças geradas na terceira idade. Este alongamento, é feito com caminhada, com uma preparadora física. Além dela, existe a atuação de fisioterapeuta, nutricionista e psicólogos. Tudo isso voltado à mulher, que representa 99% dos nossos participantes”, conclui Renata.


A arte da mulher tatuiana ARTISTA PLÁSTICA, DANÇARINA E ATRIZ REPRESENTAM TALENTO FEMININO NA CIDADE TERNURA COM HISTÓRIAS DE SUPERAÇÃO Arquivo pessoal

Além de ser a Capital da Música, Tatuí é uma cidade com diversidade cultural muito evidente, abrigando muitos artistas. As mulheres também fazem parte deste cenário e, com perseverança, criatividade e talento, têm deixado marcas na história em áreas distintas. Muitas dessas mulheres servem de inspiração, por seu talento, caráter e determinação. É assim com a artista plástica Therezinha Oliveira Pinto, com a dançarina Eunice Marques e com a atriz Fernanda Mendes, que têm o amor pela arte em comum. Cada uma representa um pouco da luta das mulheres tatuianas para vencer limites e seguir em busca dos sonhos, tornando-se referência em suas áreas de atuação.

Therezinha Pinto

Therezinha Oliveira Pinto tem 86 anos e há mais de 40 é citada como referência nas artes plásticas locais. Ela tem um currículo extenso de cursos e diplomas de formação em cinco faculdades. Com uma particularidade: iniciou os estudos primários após ter completado os 18 anos. Professora por formação, Therezinha conquistou prêmios e reconhecimento por meio do trabalho como artista plástica e da exposição de seus quadros no Brasil e exterior. Em paralelo, lecionou na rede pública de ensino por mais de 30 anos. Ela conta que a paixão pela arte nasceu por acaso. Em uma conversa com a irmã professora eventual que pretendia se tornar efetiva -, Therezinha resolveu cursar educação artística. Na ocasião, ela propôs que as duas se ajudassem, e ambas se formaram e passaram em concurso. Na faculdade, nasceu o amor pelas figuras geométricas, cores e pincéis. “Minha vida é como um barco que está no mar e não dá para dizer que ele vai para uma direção só. Ele está lá, indo para um lado; se der chance, vai para o outro, até encontrar um porto seguro”, comenta. Na sequência - e a pedidos dos alunos -, a artista abriu uma das primeiras escolas particulares de desenho e pintura da cidade, ainda em atividade. Nessa escola, formou mais de mil alunos. “Abri a escola sem saber se ia para frente, e ela deu certo. Aqui, dei aulas para muitos alunos, que também se destacaram na área”, frisa. O primeiro contato com as artes aconteceu no Conservatório de Tatuí, onde foi aluna em 1954, ano de fundação da instituição. O segundo contato, mais profundo, foi na

Fernanda Mendes em atuação

Faficile (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras), em 1958, quando ingressou no curso de desenho e onde, posteriormente, estudou educação artística, em 1973. Na faculdade, conheceu os traços de uma forma mais íntima e, a partir daí, aprofundou-se cada vez mais. Therezinha não para de se reinventar: estudou arte clássica e fez aquarelas modernas por cinco anos com Luiz Zeminiam, no Belas Artes Paulista. O curso mais recente foi de grafite, no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), instituição onde também deu aulas de artes visuais. Com Zeminiam, apreendeu a zelar melhor do bem mais precioso que possui: as mãos. O cuidado é tamanho que ela evita usar o teclado do celular e do computador, para manter os traços finos e precisos que a pintura com aquarela exige. “Minhas mãos valem ouro, eu não posso nem ficar fazendo muita faxina aqui em casa, para não perder a fineza dos meus traços. Tenho que ser rígida com isso, paguei caro no curso”, brinca. O trabalho da artista foi reconhecido no país e no exterior. No Brasil, Therezinha expôs na Bienal de Santos. Das duas obras feitas por ela, uma havia sido rejeitada para o evento por não atender aos critérios de seleção da comissão organizadora. A mesma obra rejeitada rendeu à artista uma menção honrosa em mostra no México. O quadro foi vendido por US$ 200 e abriu novos horizontes à artista local.

Em São Paulo, ela expôs na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) e na escola Belas Artes. Atualmente, também escreve poesias e dá aulas de pintura.

Eunice Marques Catel

Com passos precisos e graciosos, a dançarina e professora de dança Eunice Marques não só dá um show na “pista”, mas inspira e encanta mulheres de todas as gerações. Do alto de seus 80 anos, ela faz do salão de dança a casa dela. A dança surgiu na vida de Eunice no período da adolescência, ensinando as amigas a dançar, ao som do rock’and’roll e twist. “Nem sei como eu sabia dançar, mas eu gostava. Aí, comecei a ensinar minhas amigas. Elas iam em casa e a gente ficava dançando”, lembra. Dessa época em diante, Eunice frequentava quase todos os bailes. Com apenas 18 anos, participou e venceu o primeiro concurso, de twist, e, mesmo sem nunca ter frequentado uma aula de dança, era requisitada para ensinar ritmos variados. Em uma dessas aulas, acabou conhecendo o futuro marido. Antes da formatura de ensino fundamental da turma dele, pediram para que ela fosse ensinar a “valsa” para os meninos. “Cheguei na escola e a sala já estava desocupada, o toca-discos, ligado e os meninos, todos sentados, esperando a aula. Coloquei a música e perguntei quem queria começar. Nessa hora, um menino levantou, dizendo que queria ser o primeiro. Depois de alguns

anos, me casei com ele”, descreve. Com o menino da aula de valsa, Eunice viveu 18 anos e teve três filhos, dois meninos e uma menina, que, atualmente, têm 50, 49 e 45 anos, respectivamente. Com o casamento e vinda dos filhos, a frequência dos bailes e noites dançantes diminuiu. A presença só era garantida nos bailes de aniversário do 11 de Agosto, do Alvorada Clube e do Clube de Campo. Segundo ela, a frustração por parar de dançar foi tão grande que o casamento acabou não dando certo. Com a separação, Eunice voltou a frequentar as pistas de dança semanalmente e, desde então, não parou mais. “Depois que separei, me libertei. Não tem homem nem dinheiro no mundo que pague a minha liberdade. Agora, consigo dançar sexta, sábado e domingo. Minha vida é dançar, eu sou movida a dança”, brinca. Em 2001, já frequentando o Clube da Terceira Idade, Eunice começou a participar dos Jori (Jogos Regionais do Idoso). Ela representou Tatuí na modalidade dança de salão por 14 anos consecutivos, sempre conquistando pódios e troféus. “Por causa dos Jori, conheço a região inteira, mais de 20 cidades. Eu dançava na fase regional e sempre ia para o estadual. Eu sou assim: quero sempre ganhar. Então, faço o melhor que posso, tanto na roupa quanto na dança”, garante. A última participação dela nos Jori foi em 2014, mas, com energia de dar inveja aos mais novos, Eunice ainda dá aulas de dança para iniciantes no CPP (Centro do Professorado Paulista) e no Clube da Terceira Idade, além de frequentar os bailes e clubes de dança que acontecem aos finais de semana em Tatuí e região. Os ritmos são variados, as coreografias vão desde boleros até samba e forró. “Ontem mesmo dancei até às 2h (referindo-se a um baile na noite anterior à entrevista). Eu não paro, é uma música atrás da outra. Se eu sento, é cinco minutinhos. Começou uma música, eu já levanto”. O segredo para toda essa energia e longevidade, ela garante: “É o amor pela dança”.

Fernanda Mendes

Apaixonada pelo teatro, Fernanda Mendes, 40, é atriz e arte educadora tatuiana. Atualmente, coordena o Setor de Artes Cênicas do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, onde,


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Eunice Marques e o parceiro de dança Aparecido Ferreira, em uma das competições dos Jori

em participação de festivais, foi destaque e recebeu diversos prêmios. A relação com a arte cênica teve início ainda criança, em uma peça montada para a disciplina de Educação Moral e Cívica, na qual a professora pedira um trabalho a ser apresentado em forma de teatro. “Montamos alguns grupos e começamos a brincar com isso. De repente, começamos a curtir, e daí, na hora do intervalo, sempre brincávamos de fazer teatro, de fazer cena. Este foi o primeiro contato que tive com a arte”, lembra A primeira atuação foi passageira, mas o amor pelo teatro, que já havia nascido, voltou à tona alguns anos depois, quando, incentivada pela mãe, iniciou o curso de piano no Conservatório. Andando pelos corredores, contudo, deparou-se com um cartaz anunciando o início de um curso de

artes cênicas. A partir daí, Fernanda decidiu abandonar o piano, mesmo contra a vontade da mãe, e entrou para a formação de atores. “Quando fiz o teste para poder entrar no curso, era de uma semana. Tinha uma turma grande, que passava por jogos, leituras, várias atividades e, depois, no final da noite, eles anunciavam quem tinha ido para a próxima etapa e que poderia voltar no dia seguinte”, conta ela. “Eu fui indo, e ficava emocionada conseguindo ir para mais um dia, e mais um dia e, no final das contas, consegui passar. A partir daí, não saí mais”. Isso aconteceu em 1991, mesma época em que o diretor teatral Moisés Miastkwosky, então coordenador, criou um setor exclusivo voltado às artes dramáticas dentro do Conservatório, passando a promover, além dos cursos de formação de atores, oficinas técnicas e ações na comunidade. A estreia de Fernanda Mendes no Conservatório deu-se no espetáculo “Paixão Segundo Nelson Rodrigues”, sob direção de Carlos Ribeiro. “Ficamos um ano mais ou menos com esse trabalho, apresentamos no CDMCC e fora dele. Foi uma experiência bastante rica. Tive a oportunidade de iniciar minha carreira com pessoas que já estavam fazendo este trabalho há algum tempo. Pessoas mais experientes, e eu só tinha um ano de curso”, conta. Fernanda participou de vários espetáculos. No Grupo Teatral “Novas Tendências”, destacando-se com “O Poeta da Vila e seus Amores”, de Plínio Marcos; “A Cantora Careca”, de Eugène Ionesco; “Morte e Vida Severina”, de João Cabral de Melo Neto; “O Pequeno Príncipe”, de Saint Exupéry; e “O Desconhecido”, de Ozualdo Candeias. Com a iniciação dentro do teatro, ela passou a participar de festivais municipais e estaduais de teatro, sempre incentivada pelos professores Antônio Mendes e Carlos Ribeiro, os quais a atriz reconhece terem sido muito importantes para a carreira dela.

“O Carlos e o Mendes foram dois grandes diretores, e duas pessoas muito importantes nesta minha história. Eles foram meus diretores, meus professores, amigos, enfim. São duas pessoas que eu levo para sempre dentro do meu coração, que fazem parte da minha história de vida profissional”, afirma. Como resultado de anos de estudos e dedicação, vieram as diversas premiações, assim como o título de melhor atriz coadjuvante e atriz revelação com o espetáculo “As Beterrabas do Senhor Duque”, de Oscar Von Pfuhl, no I Festival Estudantil Municipal de Teatro de Tatuí e no IX Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo, e de melhor atriz com o espetáculo “O Desconhecido”, de Ozualdo Candeias, no Mapa Cultural Paulista. Depois de finalizar o curso, que tinha a duração de três anos, a atriz ingressou como bolsista no CDMCC e passou a dar assistência a professores, o que serviu de oportunidade para que, posteriormente, ela se tornasse professora no setor de artes cênicas. A primeira aula, já fazendo parte da equipe de profissionais do Conservatório, foi em um projeto criado pelos diretores Mendes e Ribeiro, em um núcleo teatral que levava o teatro para crianças das escolas municipais. “Esse projeto era uma forma de divulgar o curso, também de despertar alguém para essa arte que é tão bonita. Como a minha primeira experiência foi assim, tenho uma paixão em especial pelo teatro dentro da escola”, comenta. A experiência como professora possibilitou que, em 2014, a atriz assumisse a coordenação do Setor de Artes Cênicas, cargo que ocupa atualmente. Além das tarefas da coordenação do setor, ela dá aulas e ainda tem ensaios quatro vezes por semana. Fernanda conta que não consegue se imaginar longe da paixão que é o teatro, mas que o tempo também é dividido entre atividades com o marido e os dois filhos, de 17 e 15 anos.

Diléa Silva

Therezinha Pinto exibe o último quadro em execução


A Capital da Música feminina ELAS TAMBÉM DOMINAM OS PALCOS: A ATUAÇÃO DAS MULHERES INSTRUMENTISTAS E EDUCADORAS NO CONSERVATÓRIO DE TATUÍ Arquivo pessoal

O mês de março sempre faz refletir sobre a participação da mulher na sociedade, mas, especificamente, é necessário realçar a presença feminina na cidade conhecida internacionalmente como “Capital da Música”. Até o final do século 19, almejar qualquer atividade musical fora do lar era impossível para as mulheres. Por árduo caminho, contudo, a participação profissional delas foi aumentando em uma profissão que esteve histórica e culturalmente ligada ao universo masculino. Na “Capital da Música” - título que se deve em especial ao Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos” - centenas de mulheres já se formaram nos cursos de música, luteria e artes cênicas. Há mais de 60 anos atuando como centro de excelência, a escola formou instrumentistas, cantoras, atrizes e luthiers de prestígio internacional. Muitas delas deixaram marcas na história, assim como Yolanda Rigonelli. Outras seguiram carreira internacional, ou ainda construíram ligação muito forte com a instituição, no ensino de música e ou como instrumentistas, atuando até hoje dentro e fora do Conservatório. Uma das que se destacam é Shirlei Escobar Tudissaki, 35, professora e coordenadora do Setor de Educação Musical. Pela sala de aula dela já passaram mais de 1.300 alunos, boa parte no curso de iniciação musical, voltado a crianças de seis a oito anos de idade. Na escola musical, é ela quem participa do primeiro contato das crianças com o universo da música, introduzindo os pequenos em uma fase da experimentação e descoberta, mostrando a capacidade de cada um para expressar seus sentimentos através dos instrumentos musicais. E é com ela que as crianças vivenciam a musicalização antes de ingressarem em curso para a prática de um instrumento específico. A musicalização infantil vai além da construção do conhecimento musical: o curso estimula a prática musical, mas também contribui para a formação do ser humano. “É um orgulho ver que a sementinha que estamos plantando naquele aluninho de cinco, seis aninhos pode geminar. É muito bom ver este retorno. Também tem muitos casos de alunos que não seguem carreira na música, mas eu sei que vai fazer a diferença na vida deles. Isso é muito legal também. Fico muito feliz”, afirma. Shirlei conheceu a música ainda cedo e, aos poucos, foi se envolvendo e desen-

A pianista Cristiane Bloes

volvendo na área pedagógica, por meio de especializações. Atualmente, é doutoranda e mestra em música pelo Instituto de Artes da Unesp (Universidade Estadual Paulista). Tem pós-graduação em educação especial pela Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro), bacharelado em piano pela USC (Universidade do Sagrado Coração) e desenvolve importante trabalho ligado à inclusão de alunos deficientes visuais dentro da música. “Eu fazia o curso de piano, mas já estava muito voltada para essa área de educação musical. Fiquei em um dilema, bem forte mesmo, entre o lado instrumentista e o lado educadora. Foi então que terminei o curso de piano, mas decidi seguir essa área de educação, não deixando a música de lado”, conta. Ela passou a infância em Lençóis Paulista, onde, aos oito anos, iniciou aulas particulares de piano com uma vizinha e amiga da família. “Eu não tinha piano na época, era um instrumento caro, até hoje é. Aí, eu ia todo dia na casa da minha professora. Tinha até a chave da casa dela. Não sei se já tinha uma aptidão, mas o fato é que eu estudava muito e acabei me destacando, era uma boa aluna. Enfim, fiquei apaixonada pelo instrumento”, lembra. Com a dedicação nos estudos, foi incentivada pela professora de música e passou a estudar no conservatório musical da cidade onde morava. De lá, conheceu o Conservatório de Tatuí. Aqui, estudou piano e regência por dois anos, em 2000 e 2001. Nessa

época, ainda morava em Lençóis Paulista e fazia paralelamente o ensino fundamental, viajando uma vez por semana para a “Capital da Música”. Em 2013, após construir um extenso currículo na área pedagógica, participou do processo seletivo do Conservatório e foi contratada para dar aulas no setor de educação musical, onde, no mesmo ano, assumiu, a coordenação dos cursos de musicalização infantil (4 e 5 anos), iniciação musical (6 a 8 anos), e dos cursos adultos de musicografia braille e musicalização para educadores. Antes disso, atuou como professora pesquisadora no curso de licenciatura em educação musical da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), deu aulas no Ibpex (Programa de Pós-Graduação em Metodologia do Ensino de Música do Instituto Brasileiro de Pós-Graduação e Extensão) e, durante mais de dez anos, na Associação Amigos do Projeto Guri – AAPG, onde foi responsável pela coordenação pedagógica de 29 livros didáticos. Para enriquecer ainda mais o currículo, especializou-se em coro infantil e pedagogia musical, com diversos profissionais no Brasil, América Latina e Europa. Além da grade de especializações, a pedagoga e instrumentista já escreveu diversos artigos em revistas científicas, capítulos de livros e é, ainda, autora do livro “Ensino de Música para Pessoas com Deficiência Visual”, vencedor do prêmio “Selo Cultura Acadêmica”, lançado em 2015, pela Editora Unesp.

O livro é um dos mais vendidos no Brasil da categoria de ensino de música para cegos e nasceu da dissertação de mestrado da pedagoga, trazendo ferramentas básicas para que os professores de música possam trabalhar junto a alunos com deficiência visual, dentro da sala de aula. Um aluno cego dela, da época em que dava aulas em Bauru, queria seguir carreira de músico, e isso introduziu a instrumentista na questão da inclusão e inspirou-a a iniciar a pós-graduação na área de educação especial, impulsionando-a à dissertação de mestrado e, em seguida, ao doutorado voltado à música e ao ensino de cegos. Após finalizar o mestrado, Shirlei deu sequência nos estudos e, atualmente, além de dar aulas e coordenar o setor de educação musical, está terminando o doutorado. Mesmo com todas essas atribuições e uma especialização voltada mais para o pedagógico, ela garante que o lado instrumentista ainda corre em suas veias. “Ainda toco piano quando tenho uma oportunidade. Na maioria das vezes, para acompanhar o grupo das crianças que dou aula de canto e coral. Mas, também faço algumas apresentações com os professores aqui do setor. Claro que a performance não é a mesma, eu estou mais voltada à área de educação, mas acho que a gente consegue apresentar coisas de qualidade e estou feliz dessa forma. Não é uma coisa frustrante para mim. Acho que isso é importante”, finaliza. Outra grande personalidade dentro da renomada escola musical, entre tantos de destaque, é Cristiane Bloes, 42, pianista titular da Banda Sinfônica do Conservatório de Tatuí, também professora e coordenadora da área de piano da instituição. Cristiane cresceu na cidade de Capão Bonito e teve o primeiro contato com o instrumento ainda criança. A paixão pela música, porém, já vinha de berço. A arte foi conhecida através dos avós, que atuavam como amadores em bandas e serestas. Aos cinco anos, iniciou, por curiosidade, aulas particulares de piano. Com as aptidões afloradas, teve o incentivo da professora e dos pais para expandir os conhecimentos, ingressando no curso de piano erudito do CDMCC, com apenas 12 anos. Em seguida, passou a frequentar também as aulas de piano popular. “Eu colocava o pezinho em um banquinho para alcançar o piano. Eu não sabia escrever, nem ler, apreendia por desenhos. Tenho meu


12 todas as edições do Encontro Internacional de Flautistas e Percussionistas do Conservatório, em que acompanhou renomados instrumentistas. Além disso, acompanhou nomes da música popular, como Leila Pinheiro, Toquinho, Altamiro Carrilho, Francis Hime, Alceu Valença e os ingleses Alice Cooper, Joe Henderson e Alan Parsons. Com a atuação na área da música erudita, a instrumentista foi premiada em diversos concursos como solista e camerista, com destaque para o “X Prêmio Eldorado de

Shirlei Escobar Tudissaki

Música”, em 1999, em que obteve premiação com o “Duo Sonâncias” e o primeiro lugar na primeira edição do Concurso Nacional de Piano de Música Brasileira Spartaco Rossi, em Tatuí, no ano de 1994. “Este prêmio Eldorado foi muito importante na minha vida, participei com músicos do país inteiro. A gente ficou em terceiro lugar, mas foi uma conquista muito importante para minha carreira”, reitera. Já na música popular, Cristiane destaca a gravação do CD “Raros e Inéditos” como um dos trabalhos mais importantes. Na

Yolanda Rigonelli

Por Sabrina Magalhães*

ocasião a pianista acompanhou Zizi Possi, Ney Matogrosso, Carlos Vergueiro e Virgínia Rosa. A ação recebeu o prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) de Música, em 1996. “Primeiro, fiquei pensando se eu ia dar conta da apresentação, eu era bem nova. Mas, estava naquela fase de aprender, e foi um grande aprendizado. Estar perto dos artistas, de músicos mais velhos, é uma emoção que não tem explicação. E melhor ainda é saber que eu posso viver disso, porque eu gosto muito de dar aula, mas a sensação de estar Arquivo pessoal

livrinho até agora. Hoje em dia, são outros métodos, o processo de ensino de piano está mais moderno. Há aqui professores bem especializados nisso. Eu fui no método mais tradicional mesmo. Era o que tinha na época, e deu certo”, relembra. A carreira como professora e musicista também começou cedo. Com os cursos do Conservatório concluídos, ela foi convidada a dar aulas na instituição, foi quando percebeu que poderia seguir carreira e juntar o amor pelo música com o sucesso profissional, dando sequência nos estudos e conquistando os títulos de mestre em música, bacharel em piano - pela Unesp - e pós-graduada em psicopedagogia. “Não sei nem como seria a minha vida sem o piano e sem o Conservatório. Cheguei com 12 anos para estudar e acabei nunca saindo. Aqui, além de atuar na área pedagógica, continuo tocando na banda, fazendo solo, duos, ou na orquestra. Minha vida é muito ligada à música. Só não falo que é 24 horas por dia porque, agora, tenho dois filhos, marido, tenho que dividir tempo. Mas, acabo respirando música”, enfatiza. A música também está presente dentro de casa. Cristiane é casada com o percussionista Agnaldo Silva há 15 anos. Eles se conheceram no Conservatório e tiveram dois filhos: Carolina, que tem sete anos, e Fernando, que vai completar 13. A exemplo dos pais, também cursam piano e percussão. Além disso, a pianista mantém, há 30 anos, o Duo Bloes, com o irmão flautista Otávio Bloes. Sobre a influência que teve na escolha dos filhos, ela garante: “Eles foram influenciados, mas a gente não forçou”. E complementa: “Eles viveram muito intensamente esta arte. Durante a licença-maternidade, eu ficava tocando, estudando e eles ficavam ouvindo. Até na barriga eles ficavam ouvindo o tempo todo, e eu sentia muito isso. Eu, grávida aqui, dependendo do que os alunos tocavam, eles mexiam, ou não, dentro da minha barriga”. Durante a trajetória, Cristiane também atuou como pianista convidada em diversos eventos internacionais, destacando-se

A professora de harmonia Yolanda Rigonelli veio para Tatuí em 1956. Sua dedicação ao ensino da música era tão evidente que, quatro anos depois, assumiu interinamente a direção do Conservatório de Tatuí, marcando para sempre a história da instituição. Naquela época, políticos da capital questionavam a existência de uma escola estadual de música no interior. Em vez de entrar em discussões e debates burocráticos, a professora decidiu provar o valor da escola com recitais e exibições públicas do talento de seus alunos. Surgia, assim, em 1961, a Semana da Música do Conservatório de Tatuí, que começava no dia 15 de novembro e terminava no dia 22,

tocando é incomparável”. Desde então, a ascensão na música e dentro do Conservatório renderam-lhe muitos frutos. Em 2009, ela assumiu a coordenação do Encontro Internacional de Pianistas do Conservatório de Tatuí e do Concurso Nacional de Música Brasileira Maestro Spartaco Rossi - fato que, para ela, teve grande importância e traz lembranças do pai, que tanto queria ver a filha tornar-se uma pianista de sucesso. “Lembro do meu pai com a minha mãe me assistindo tocar neste concurso logo que

data dedicada a Santa Cecília, padroeira dos músicos. A semana reunia recitais, concertos, apresentações de espetáculos teatrais e até desfile de fanfarras pelas ruas da cidade. Apenas os alunos que se destacassem nas aulas poderiam tocar ou encenar durante o evento, o que acabou se transformando em um grande incentivo para estudantes e professores. A exibição de tantos talentos garantiu a permanência da escola, e a Semana da Música tornou-se o evento mais tradicional e longevo do Conservatório, com 57 edições já realizadas. Yolanda Rigonelli nasceu em São Paulo, em 24 de novembro de 1907. Filha de João Rigonelli e Adélia Bosselo, formou-se no Conservatório

eu cheguei aqui. Foi muito legal, porque eu acabei de chegar, não sabia nem o que era. Isso foi no teatro, acho que 1987. Eu devia ter 13 anos. Foi a minha primeira apresentação assim, a de responsabilidade, que eu fiquei nervosa. Foi tão legal que eu lembro da carinha da minha mãe e do meu pai. Meu pai pôde me assistir muito poucas vezes”, lamenta. São 38 anos de uma vida inteira dedicada à música. A ligação com a arte é tão forte que nem nos momentos mais difíceis Cristiane consegue se afastar da profissão. Quando ficou grávida do primeiro filho, ainda fazia mestrado e, mesmo com o cansaço do último mês de gestação, deu aulas e se apresentou com a Orquestra Sinfônica até dois dias antes do parto. “Fiz um concerto toda inchada, com barrigão, e, na apresentação no meu mestrado, levei a malinha de roupa dele, porque ele podia nascer a qualquer momento. Foram dois partos: o mestrado foi mais difícil do que o nascimento do meu filho propriamente dito”, conta, rindo. A rotina é puxada, exige muito tempo de estudo e dedicação. Mesmo assim, ela garante que não se arrepende de nada que passou, nem do que fez em nome da música. “Construí uma vida na música. A música está comigo em todos os momentos. Lembro da música que eu tocava quando o meu pai morreu. Todos os meus momentos de alegria, de tristeza, estão muito ligados com a música, o tempo todo”, conta, emocionada. O piano, inclusive, funciona como uma terapia para os momentos difíceis. “Quando meu avô morreu, eu tinha uma apresentação para fazer no teatro e estava ensaiando quando fiquei sabendo. Fui para o velório e, depois, voltei à noite para tocar. Por isso que essa ligação com a música, ela mexe com muitas emoções. Às vezes, você está triste, com problema, e é sempre ali: você tem que subir no palco, você tem que tocar, e tem que conseguir fazer. Nesta situação, eu podia falar que não iria, mas é tão forte, que ajuda a superar a dor”, afirma.

Paulista de Canto Orfeônico. Publicou alguns livros, como “Lições de Análise e Apreciação Musical – curso elementar de harmonia 1º e 2º anos”. Conhecida como uma das mestras de harmonia no Brasil, foi professora do Conservatório de Tatuí e coproprietária fundadora do Conservatório Musical “João Baptista Julião”, de Sorocaba. Também lecionou no Instituto Musical de São Paulo e no “Conservatório Musical Sagrado Coração de Jesus”. Com vida dedicada exclusivamente à música, nunca se casou, falecendo na cidade de São Paulo. * Gerente de comunicação do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí


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A mulher na política tatuiana ANTES DA ATUAL PREFEITA MARIA JOSÉ, MAIOR CARGO DA CIDADE JÁ FOI OCUPADO POR UMA MULHER ENTRE OS ANOS DE 1945 E 1947 As mulheres representam 52,43% do eleitorado apto a votar nas eleições municipais deste ano, segundo dados do TRE (Tribunal Regional Eleitoral), atualizados em janeiro. A participação feminina nas eleições, contudo, nem sempre foi assim. As mulheres passaram a ter voz mais ativa a partir de 1932, quando Getúlio Vargas promulgou o novo Código Eleitoral. Com essa lei, elas conquistaram o direito de voto e, também, puderam candidatar-se a cargos políticos. Com os direitos garantidos, o número de eleitoras aumentou ao longo dos anos. Já a porcentagem, não representa nem de longe a participação das mulheres como candidatas. Buscando avanço neste sentido, houve a criação de cotas que garantem vagas para mulheres. A lei 12.034/2009 impõe que “cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo”. Desde a aprovação deste mecanismo, houve maior número de candidatas. A quantidade,

porém, não significou aumento de mulheres eleitas. No Legislativo municipal, desde o ano de 1948, quatro mulheres foram eleitas, em seis das 17 legislaturas. A primeira vereadora eleita entrou na Câmara Municipal

em 1956, somente na terceira legislatura. Maria José Paschoal ocupou a cadeira até dezembro de 1959. Depois de 16 anos, Tatuí elegeu a segunda mulher. Vera Lúcia de Sá assumiu o cargo em fevereiro de 1977 e permaneceu na Casa de Leis até o ano de 1992. É a única mulher reeleita na história da política tatuiana. Foram três mandatos consecutivos, da oitava à décima legislatura. A sequência segue em 2001, com a eleição de Lúcia Maciel Aguiar Paes, representando o sexo feminino na 13ª legislatura até o ano de 2004. E encerra-se com Rosana Nochele Pontes, última mulher eleita até agora. Rosana atuou na 16ª legislatura, de janeiro de 2013 a dezembro de 2016. Já no Poder Executivo, apenas duas mulheres ocuparam o cargo máximo. Francisca Pereira Rodrigues, de 1945 a 1947, que administrou por indicação, e a atual prefeita – a primeira eleita -, Maria José Vieira de Camargo, cujo mandato teve início em 2017, seguindo até 2020.


14 Arquivo pessoal / Christian Pereira de Camargo

Chiquinha Rodrigues revolucionou educação no Brasil nos anos 30 Por Christian Pereira de Camargo*

A ensaísta, historiadora, romancista, educadora e autora de livros infantis Chiquinha Rodrigues, em dois momentos da vida

A década de 30 foi marcada por avanços da condição feminina no Brasil. Algumas mulheres destacaram-se na política, na militância de partidos, nas ciências, na literatura e educação. A grande vitória institucional desses anos foi o reconhecimento do direito de as mulheres votarem e serem votadas, com a promulgação do Código Eleitoral de 1932, depois de intensa e longa campanha que vinha desde o século 19. Nos anos 30 tivemos surgimento de várias organizações representativas, a atuação feminina no enfrentamento do fascismo (movimento que surgiu na Itália, em 1922) nas ruas, a eleição das primeiras deputadas e prefeitas, a difusão de ideias feministas na imprensa são um importante legado dessa década, base para muitas conquistas futuras. Nesse contexto, Chiquinha Rodrigues extrapolou os limites de Tatuí e notabilizou-se em seu tempo. Ela nasceu em Tatuí, no dia 4 de maio de 1896. Filha do professor Adauto Pereira e de Maria de Barros Pereira. Diplomada pela Escola Normal de Itapetininga, exerceu o magistério na cidade de Itu. Foi professora de jardim de infância na Escola Normal “Caetano de Campos”, de São Paulo. Em março de 1933, fundou a “Bandeira Paulista da Alfabetização” (onde manteve-se à frente até 1963) e, posteriormente, a Sociedade “Luís Pereira Barreto” (esta, para melhor difundir as atividades educacionais). Em 1936, promoveu o “1º Congresso de Ensino Rural” e o “1º Congresso das Municipalidades Paulistas”. A Bandeira Paulista da Alfabetização ganhou repercussão nacional e foi responsável pela criação de escolas primárias e profissionalizantes no interior paulista. Em 1937, a Bandeira Paulista de Alfabetização comemorou seu quarto ano distribuindo, pelas escolas rurais e grupos escolares, livros para leitura complementar, sementes de hortaliças e um

decálogo sobre alimentação e higiene. Em 1936, elegeu-se deputada estadual, ficando no mandato apenas um ano, devido ao fechamento das assembleias estaduais pela decretação do Estado Novo, que foi o regime político brasileiro instaurado por Getúlio Vargas em 10 de novembro de 1937, que vigorou até 31 de janeiro de 1946. Era caracterizado pela centralização do poder, nacionalismo, anticomunismo e por seu autoritarismo. Chiquinha fez viagens pelo Brasil, tendo excursionado em 1940 a serviço do Instituto Nacional de Geografia e Estatística. Participou da Delegação Cultural Brasileira que, em caráter oficial, visitou, em 1936, o Uruguai e a Argentina. Esteve em 1944 nos Estados Unidos, a convite do governo brasileiro. Em 1946, foi condecorada com a comenda “Rio Branco”. Foi prefeita de Tatuí no biênio 19451946. Seu mandato (foi nomeada para o cargo) veio em substituição a Rafael Orsi, que governou Tatuí por dois meses em 1945, após a saída de Antonio Tricta Júnior (1938-1945). Em 1947, Chiquinha afastou-se do cargo de prefeita de Tatuí para concorrer ao cargo de deputada federal, pelo PSD, sendo substituída em dois meses por José Antonio Seabra, então secretário da Prefeitura. Como prefeita, realizou várias obras: a construção e instalação do Grupo Escolar “Chico Pereira”; do Jardim da Infância e do prédio da creche, ao lado; efetuou a abertura da avenida Cel. Firmo Vieira de Camargo; iniciou a construção do segundo bloco do Mercado Municipal; instalou o curso colegial no Ginásio Estadual e criou a Escola Normal. Em 1943, trouxe para uma visita a Tatuí o então embaixador José Carlos Macedo Soares. Esse embaixador doou para Tatuí o busto de Paulo Setúbal (colocado na praça Paulo Setúbal) e

a efígie da “Santa”, que Chiquinha colocou na praça Martinho Guedes (Jardim da Santa). Elegeu-se Chiquinha Rodrigues, em outros pleitos, deputada estadual por duas vezes. Em 1949, representou o Brasil no “Congresso Internacional de Toponímia e Antroponímia”, realizado na Bélgica. Foi vice-presidente do Centro de Debates Econômicos “Cásper Líbero”. Ensaísta, historiadora, romancista, educadora e autora de livros infantis. Teve, ao todo, mais de 20 livros dedicados à criança, ao ensino e à história de São Paulo. Escreveu, entre outras, as obras: “Em Marcha para A Civilização Rural” (1935), Bandeira Paulista de Alfabetização (1935), “Tendências Urbanísticas de nossa Civilização” (1936), “Pelo Caboclo do Brasil” (1937), “O Braço Estrangeiro” (1938), “Antevisão de Jesuíta” (1939), “Confidência de Susana” (romance, 1939), “Primeiro Livro da Bandeira” (1940), “Grandes Brasileiros” (biografias, 1939), “Segundo Livro da Bandeira - Vamos Conhecer As Riquezas do Brasil” (1947), “Meninas de Ouro” (literatura infantil, 1947), “Dança das Flores” (1947), “História e Brincadeira” (1947), “Primavera em Meu Quarto” (1947), “Horas Alegres” (1947). Recebeu várias condecorações. Foi “cidadã emérita de Tatuí” e “cidadã paulistana”. Recebeu, da Assembleia Legislativa, o título de “professora emérita”. Faleceu aos 70 anos de idade, em 9 de outubro de 1966. Era casada com Adolfo Pereira (casou-se no dia 7 de setembro de 1915), com quem teve quatro filhos homens, entre eles, Sílvio Rodrigues, advogado e professor da Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo), autor de várias obras de “direito civil”, até hoje utilizadas pelos advogados brasileiros. * Jornalista e chefe de gabinete da Prefeitura Municipal de Tatuí


A primeira prefeita eleita da Capital da Música DAS SALAS DE AULA, MARIA JOSÉ PARTIU PARA A INICIATIVA PRIVADA, DESTACOU-SE NA ÁREA SOCIAL E VENCEU NA POLÍTICA AI Prefeitura

A prefeita Maria José Vieira de Camargo é a mulher mais importante da política municipal. Filiada ao Partido Social da Democracia Brasileira (PSDB), venceu com 51,38% dos votos válidos em sua primeira participação como candidata a prefeita de Tatuí, em 2016. Ela é a primeira mulher efetivamente eleita a ocupar o cargo máximo do Executivo municipal, após a “cadeira” ser, anteriormente, ocupada por mais de 30 nomes masculinos. Antes dela, somente Chiquinha Rodrigues havia ocupado o cargo, de 1945 a 1947, por nomeação. Maria José Gonzaga - como é conhecida popularmente – nasceu no dia 10 de junho de 1946, em Angatuba, interior de São Paulo, onde viveu no sítio dos pais até a adolescência. A família vivia da pequena agricultura. “Foi uma vida muito sacrificada. Ajudei muito, trabalhei muito, desde pequena”, lembra ela. A vinda para Tatuí aconteceu aos 16 anos, para que pudesse estudar o curso “Normal” e formar-se professora. Profissão que escolheu, aliás, enquanto ainda era criança e na busca pela qual teve de transpor muitas barreiras. A trajetória começou em meados dos anos 50, após concluir a quarta série do ensino primário. Com a dificuldade de acesso ao estudo, comum na época, as famílias não incentivavam as crianças a continuar aprendendo formalmente. Por conta disso, muitos desistiam e, após a conclusão da quarta série do ensino primário, poucos se matriculavam no curso ginasial. Outro complicador era que o aluno interessado em ingressar no curso deveria ser aprovado em uma espécie de exame de admissão. Com ela, não foi diferente. “Eles (a família) achavam que, quando eu terminasse o quarto ano, ia parar por ali. Pronto, encerrou! Falei: não! Eu quero fazer o ginásio. E fiz um cursinho que era à noite. Eu devia ter uns 10, 11 anos, e fui fazer o cursinho, contra a vontade deles”, conta. Com o curso ginasial concluído, era hora de entrar para a “Escola Normal” - curso que formava os profissionais aptos a lecionar. Essa foi mais uma barreira, já que o avô, que era conservador, não aprovava a ideia. “Naquela época, professora ganhava muito bem, e meu avô dizia que ser professora era tratar do marido. Ele era muito ‘durão’, e

A prefeita Maria José Vieira de Camargo

tinha até um termo: ‘tratar de chupim’. Ele não queria que eu fosse professora de jeito nenhum”, lembra, rindo. É então que o destino dela começa a cruzar com o do futuro marido. Por ser uma cidade considerada pequena, Angatuba não contava com uma unidade de “Escola Normal” e uma amiga da família, coincidentemente a avó de Luiz Gonzaga Vieira de Camargo, incentivou Maria José a fazer as aulas na cidade mais próxima. Essa amiga, então, ofereceu hospedagem na casa de uma das filhas dela, em Tatuí. A partir desse momento, Maria José estaria hospedada na residência da mãe de Gonzaga,

que, depois, tornou-se seu marido. Nos anos de estudo, Tatuí servia apenas de estadia. Ela vinha à cidade para estudar e, nos finais de semana, retornava a Angatuba para ficar com a família. O namoro, garante, só começou no último ano do curso. “Antes disso, não. Nem amigo a gente era”, confessa. Com o diploma em mãos, Maria José lecionou por quatro anos, também em escolas da zona rural, como aquela em que iniciara os estudos primários. “A primeira escola que eu lecionei foi em um sítio distante, longe, que eu precisava ir a cavalo. Parava a semana lá”, descreve. Já casada e morando em Tatuí, Maria José

deixou a carreira de professora para ajudar o marido, que havia acabado de adquirir o escritório de contabilidade “Santa Cruz”, do qual era funcionário. “Quando a gente casou, o Gonzaga era funcionário deste escritório, e os patrões dele queriam vender. Aí, ele comprou. Assim, a duras penas, pagando parcelado”, relembra. No escritório, Maria José trabalhou por 45 anos, sendo que, de 1999 a 2004, com a eleição de Gonzaga ao cargo de deputado estadual, assumiu sozinha a administração da empresa, onde atuou até o ano de 2016. Depois de a família já estar constituída, com as duas filhas, Alessandra e Juliana, Maria José conta que os empreendimentos empresariais e a vida pública do casal foram acontecendo de forma mais natural. De 2005 até 2012, com a eleição de Gonzaga para prefeito, Maria José assumiu a presidência do Fusstat, o Fundo Social de Solidariedade de Tatuí, e deu início a uma atuação mais próxima da política municipal. “Nunca imaginei que assumiria o Fundo Social. As coisas aconteceram naturalmente. Agora, tenho dentro de mim um sentimento de que, quando assumo uma coisa, parece que a paixão brota. Tenho prazer em tudo que faço. E eu faço com paixão”, assegura. Durante os oito anos em que também foi primeira-dama, Maria José revolucionou as ações do Fusstat, buscando o desenvolvimento do cidadão de forma concreta e incentivando o aprimoramento da independência, da autonomia e da melhoria da qualidade de vida, por meio dos cursos de qualificação e dos projetos sociais – muitos dos quais, que chegaram até a ser premiados. “Até então, o Fundo Social se resumia a dar uma cesta básica e a fazer uma campanha do agasalho”, comenta. A primeira ação dentro do Fundo Social foi a implantação da “Padaria Artesanal”, curso oferecido com recursos do governo do Estado, que qualifica profissionais e os capacita para a produção de pães. O curso, posteriormente, tornou-se o “carro-chefe” do Fusstat e abriu espaço para novas capacitações. As primeiras aulas aconteciam dentro de uma cozinha emprestada, no Lar “Donato Flores”. “Fizemos o primeiro curso para 20 mulheres. Na época, muitas senhoras desempregadas geraram renda, e, a partir daí, os cursos só foram aumentando”.


16 Fábio Cabrera

Maria José e Luiz Gonzaga Vieira de Camargo em evento promovido pelo Fundo Social

Com o sucesso da padaria artesanal, nasceu o primeiro CCP (Centro de Capacitação Profissional). Com sede na vila Angélica - bairro escolhido a partir de estudos e pesquisas -, o projeto passou a oferecer, além da panificação, o curso de costura, artesanato e computação. “Na época que abrimos as inscrições, o quarteirão dobrou de pessoas para fazer a inscrição”, relembra. Os cursos extras, que foram surgindo, eram ensinados por professores voluntários e com recursos conquistados por meio de doações e dos eventos promovidos pelo próprio Fusstat. Nesses eventos, também idealizados por Maria José, todos os trabalhos das alunas dos cursos de capacitação eram expostos e vendidos. O valor arrecadado era usado para custear as despesas com materiais e investidos em novos cursos de qualificação. O “Chá Solidário” foi um dos primeiros eventos realizados com o objetivo de mostrar os produtos da Padaria Artesanal e fez tanto sucesso que, a cada nova edição anual, reunia mais participantes. “Iniciei com a participação de 20 pessoas. Depois, foi aumentando, cem, 150, até que, no último Chá Solidário, que fiz no 11 de agosto, havia 350 pessoas”. Seguindo na mesma linha, também surgiram as feiras de tricô, para expor os produtos do curso de tricô à máquina, e os bazares de Natal e Dia das Mães, que oferecem os trabalhos manuais e produtos confeccionados nas demais oficinas (guardanapos com pintura a mão, toalhas bordadas, sabonetes e outros). Não demorou muito, já nasceu o segundo CCP, este com sede no Jardim Gonzaga. O bairro também contava com aulas de artesanato, panificação e pintura em tecido e tricô de máquina. “A gente foi ampliando os cursos

à medida que foi conseguindo voluntárias”. Com o empenho e a dedicação que Maria José trabalhava, os cursos e os centros de capacitação só foram aumentando. Em 2012, quando ela deixou o Fundo Social, nove CCPs estavam em funcionamento. Alguns dos centros se destacaram com projetos que permitiram muito mais que qualificação profissional. Como no caso do CCP da vila Esperança, terceiro a ser implantado no município. Lá, do curso de tricô, surgiu a entrega de enxovais para gestantes. Cada kit vinha com um calçãozinho, casaco e manta, todos confeccionados pelas alunas. Para receber os enxovais, as mães tinham que participar do “Programa Pré-Natal”, organizado pela Secretaria Municipal de Saúde. Os kits serviam para incentivar as gestantes de baixa renda a tomar os devidos cuidados com a saúde dos bebês. “Era um incentivo para as gestantes fazerem o pré-natal. Com isso, diminuímos a taxa de mortalidade infantil no município nessa época. Chegamos a entregar até 90 enxovais a cada dois meses”, conta. Além da qualificação profissional, Maria José também implantou, dentro do Fusstat, projetos sociais que favoreceram a saúde, a educação e outros setores municipais, abrangendo todas as faixas etárias, assim como o “Envelhecer com Qualidade de Vida”, voltado à terceira idade, e a “Casa de Brinquedos Itinerante”, que, inclusive, foi laureada no 2º Prêmio Chopin Tavares de Lima – Programa Novas Práticas Municipais, do Centro de Estudos e Pesquisas da Administração Municipal (Cepam). O prêmio tinha o objetivo de recompensar experiências de gestão municipal positivas, de estímulo ao desenvolvimento

e à qualidade de vida. O projeto premiado contava com um ônibus adaptado com som, vídeo, oficinas recreativas e educativas, jogos e brinquedos dos mais variados, figurinos e fantasias, que possibilitavam dar vida às personagens das histórias que eram contadas, em um espaço propício para desenvolver o imaginário infantil. O veículo percorria os bairros do município, convidando as crianças e adolescentes a usufruírem de sua estrutura nos horários em que estavam fora da escola. O Casamento Comunitário, realizado até hoje pelo Fusstat, também foi uma das ações implantadas por Maria José. “Iniciamos com 20 casais e, depois, nos outros anos, fizemos com 50”, relembra. Durante o tempo em que esteve à frente do Fundo Social, Maria José fez a diferença na vida de muitas pessoas. Ela acompanhava todos os trabalhos de perto. A abertura e o encerramento de todos os cursos oferecidos eram feitos em contato direto com a população e, aponta Maria José, “com mensagens de ânimo e de valorização, principalmente das mulheres, que, além de aprenderem como gerar renda em casa, eram incentivadas a fortalecer a autoestima e os laços familiares”. O comprometimento com o município e o setor social, de modo geral, transformou-se em reconhecimento e, também, em gratidão. Maria José diz que as atividades que desenvolveu no Fusstat foram decisivas para que ela pudesse tornar-se prefeita. A candidatura, porém, veio de forma inesperada, já às vésperas das eleições municipais. Em 15 dias de campanha, ela foi eleita com mais de 50% dos votos válidos,

em uma eleição disputada por outros três candidatos. Após o afastamento de Gonzaga da campanha para prefeito, pelo PSDB, ela passou a ocupar o lugar do marido. A formalização da candidatura aconteceu no dia 12 de setembro, data que marcava o último dia para pedido de registro de candidatura às eleições majoritárias e proporcionais, na hipótese de substituição, de acordo com calendário do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A indicação do nome foi feita com base em pesquisas e por decisão de todos os candidatos a vereadores e direção do partido. A coligação levou em conta a experiência social e empresarial da ex-primeira-dama e o nome dela foi considerado o mais forte e indicado para as eleições. “Meu pai dizia para minhas irmãs: ‘Maria José ainda vai ser prefeita de Tatuí’. Eu falava: ‘Pai, você não está regulando, o prefeito é o Gonzaga’. Ele falava: ‘Não. Eu estou regulando, sim, é Maria José’. Isso, há muitos anos atrás. Mas, para mim, nunca passou pela cabeça ser prefeita. Nunca, de jeito nenhum. Nem assim, em sonho”, confessa. Assim como no Fundo Social, Maria José conta com uma equipe para administrar a cidade. “Acho que é um desafio muito grande. Um desafio que a gente vence no dia a dia. E, para isso, eu tenho comigo uma equipe muito forte, que trabalha muito, que veste a camisa, e que, do meu lado, trabalha como eu, para a população de Tatuí, visando, realmente, o desenvolvimento da cidade”, sustenta. “Quero fazer história mostrando meu trabalho. Não sei fazer outra coisa a não ser trabalhar”, conclui a primeira prefeita eleita da Cidade Ternura.


Tatuianas que fazem a diferença MUDANDO E SALVANDO VIDAS POR MEIO DE AÇÕES SOCIAIS, MULHERES TÊM TORNADO CADA VEZ MAIS A TERNURA UM PATRIMÔNIO DA CIDADE Arquivo pessoal

No mundo atual, a intolerância se manifesta sem pudores, mas ainda há quem se preocupe com o “próximo”, dedicando-se a uma vida de altruísmo, termo criado por Auguste Comte, filósofo francês, para caracterizar as ações humanas, individuais ou coletivas de pessoas que se dedicam ao bem-estar do semelhante, descartando as manifestações de egoísmo. Em Tatuí, mulheres envolvidas com ações solidárias têm se destacado cada vez mais. Elas encabeçam arrecadações de donativos para os mais necessitados, são voluntárias e idealizadoras de campanhas que podem até salvar vidas, como as de doação de sangue e medula óssea. Tudo isso sem esperar nada em troca e com muita disposição. A empresária e voluntária Rita Corradi Azevedo, 50, é uma dessas pessoas que “faz o bem sem olhar a quem”. Engajada em campanhas de doação de sangue e medula óssea, criadas por iniciativa própria, contribui há quase dez anos com ações que visam salvar vidas, abastecendo os bancos de sangue de hospitais da região. A vontade de fazer o bem já estava nos planos da empresária desde muito nova. Aos 18 anos, ela era doadora de sangue e conta que não via a hora de completar a maioridade para poder doar. A vontade era tão grande que foi sozinha até São Paulo, no Hospital Sírio Libanês, de ônibus, sem conhecer quase nada na capital, para poder fazer a primeira doação. Em 2009, após descobrir que o pai havia sido diagnosticado com leucemia, Rita conheceu a realidade do hemonúcleo do

doadores da data e horário das doações. “Minha maior motivação é ajudar o próximo. Temos que ser mais humanos com as pessoas. Hoje em dia, está todo mundo muito estranho, e a gente tem que começar a mudar, mostrar que ainda tem gente boa”, conclui.

Luciana Holtz

Rita Corradi Azevedo, engajada em campanhas de doação de sangue há 9 anos

HAC (Hospital Amaral Carvalho), de Jaú, e, desde então, lidera campanhas anuais de doação de sangue. Com o tempo, as ações passaram a abastecer também os bancos de sangue de hospitais da região. Logo quando o pai deu entrada na unidade de Jaú, ela e a família foram procurar onde poderiam fazer a doação para ajudar no tratamento. Enquanto andava pelo corredor buscando informação, deparou-se com muitas pessoas conhecidas de Tatuí, Cerquilho e região, que se tratavam lá, e, ao questionar uma das funcionárias do local, descobriu que eram muitos pacientes e poucas pessoas cadastradas e aptas a doar. “Na época, só tinha seis doadores de Tatuí cadastrados lá, e eu vi que tinha muita gente precisando de ajuda. Então, pensei em fazer algo que poderia fazer a diferença”, afirma. Tocada pela situação e notando a dificuldade que muitas pessoas tinham em viajar para Jaú, Rita buscou ajuda de amigos, familiares, políticos e autoridades influentes, que se engajaram na causa e conseguiram trazer a campanha de coleta para a cidade.

Em parceria com o hemonúcleo e colaboração da Prefeitura, a empresária deu início às campanhas anuais, que ganham força a cada edição. Atualmente, só em Jaú, são mais de 5.000 novos doadores, todos cadastrados nas campanhas encabeçadas por ela. “Quando você tem alguém que está precisando de ajuda, principalmente de sangue, você não tem nem cabeça para ir atrás de uma pessoa para doar para o seu parente, a gente fica sem chão”, argumenta Rita. “Eu passei por isso com o meu pai, só que, como a minha família inteira é doadora de sangue, foi mais fácil. Mas, senti isso na pele. Quando tem alguém doente, você tem que cuidar e ir atrás de outras pessoas para conseguir sangue e continuar o tratamento. Por este motivo que eu continuo fazendo. As pessoas realmente precisam, elas não têm nem ideia de onde buscar ajuda”, declara. Para contribuir com as campanhas, a empresária criou uma página no Facebook (https://www.facebook.com/doe.sanguetatui), que serve como fonte de esclarecimento de dúvidas sobre o processo e para avisar os

A psicóloga Luciana Holtz - que é de família tatuiana - também tem a motivação de ajudar as pessoas na hora das dificuldades. No caso dela, a busca era levar informação de qualidade aos pacientes com câncer. A profissional é especializada em psico-oncologia e bioética e atua como presidente e fundadora da ONG Instituto Oncoguia, associação sem fins lucrativos, criada e idealizada para ajudar o paciente com câncer a viver melhor. “A Oncoguia nasceu pela minha profissão. Escolhi me especializar em psico-oncologia e trabalhei muito tempo, no meu consultório, atendendo, ouvindo e cuidando da parte emocional do paciente com câncer. Desde então, fiquei sensibilizada com o sofrimento e a dor das pessoas”, enfatiza. O projeto foi lançado em 2003, ainda em fase de construção, e em formato on-line. Atualmente, no endereço http://www.oncoguia.org.br, o leitor encontra explicações sobre a doença, tratamentos possíveis, informações sobre os direitos do paciente com câncer e diversos artigos que abordam o tema qualidade de vida e prevenção. Em menos de seis anos, o site cresceu e tomou proporção maior que a esperada. Com


18 qualificação profissional e na geração de renda, por meio dos cursos de capacitação. O impacto do trabalho voluntário afeta diretamente as pessoas, proporcionando melhoria na vida pessoal e profissional. Doando, diariamente, algumas horas de tempo para transformar a realidade social do município, Sônia acompanhou o desenvolvimento de centenas de mulheres, antes com baixa autoestima e sem esperanças devido à situação financeira. “Tem muitas mulheres que venceram a depressão através dos cursos de capacitação e das conversas que a gente tem de incentivo e fortalecimento. Nas formaturas, a gente sente o resultado do nosso trabalho e o impacto que ele tem na vida das pessoas. No início do curso, a maioria das alunas chega envergonhada, de cabeça baixa, e, no dia da formatura, parece outra pessoa. Já vem mais arrumada, com autoestima elevada e mais fortalecida”, sustenta a presidente. “O amor pelo que eu faço é a minha maior motivação para levantar todos os dias e vir trabalhar. É tão gratificante ajudar o próximo, a gente fica feliz. É muito bom saber que estamos fazendo a diferença na vida das pessoas”, finaliza.

Diléa Silva

Arquivo pessoal

Solidariedade, a convite da então presidente Maria José. “Eu gostava muito de bordar, fazer pedrarias e outros tipos de trabalhos manuais. Aí, uma amiga, que era conselheira na época, me convidou para ser voluntária. Eu aceitei e me apaixonei pelo trabalho, fiz tudo com muito carinho, foi muito gratificante”, conta. Atualmente, também a convite da prefeita Maria José, Sônia administra todas as ações do Fundo Social, assim como os oito centros de capacitação, o Projeto Envelhecer com Qualidade de Vida, as campanhas de arrecadação, eventos e bazares realizados pelo Fundo Social. Para a responsabilidade, a presidente conta com a colaboração de quatro coordenadoras e dez conselheiras que integram o Conselho Municipal do Fundo Social - este, também, formado pela união de pessoas que se doam pelo próximo e têm histórico importante de voluntariado. A missão é continuar com os trabalhos que foram iniciados em 2005, pela atual prefeita, e ainda inserir novos projetos, sempre com a mesma premissa, de não só dar assistência às pessoas de baixa renda, mas ajudá-las na

Luciana Holtz Camargo Barros, levando informações de qualidade aos pacientes com câncer

o resultado positivo, ela, um grupo de amigos, profissionais de saúde e uma conhecida que tinha tido câncer de mama criaram a ONG Instituto Oncoguia, uma iniciativa nacional de educação, apoio e defesa de direitos, da qual Luciana é a presidente. A ONG atua também com a “Advocacy”, que, segundo a Oncoguia, “é a arte de investigar e diagnosticar problemas enfrentados pelas pessoas que vivem e convivem com o câncer e propor soluções sustentáveis e responsáveis, e, através de meios legais e éticos, desenvolver ações políticas, estrategicamente planejadas, para sensibilizar e influenciar os tomadores de decisão a promoverem as transformações necessárias”. A ONG conta com quase dez anos de atuação. Atualmente, além do site, existe o atendimento gratuito por telefone, que tira dúvidas e orienta sobre direitos, o “Ligue Câncer”, pelo 0800 773 1666 (ligação gratuita, de telefone fixo, das 8h às 17h, de segunda a sexta).

Sônia Ribeiro

Fazer o bem e ajudar ao próximo também faz parte da missão de Sônia Maria Ribeiro da Silva, atual presidente do Fusstat (Fundo Social de Solidariedade de Tatuí). Depois de trabalhar 25 anos como professora, na

disciplina de história, ela se aposentou e passou a dedicar-se a ações voluntárias. O amor pela área social, contudo, já vem de família. A ex-professora conta que, quando era criança, costumava acompanhar a mãe em trabalhos voluntários. “Minha mãe já tinha muito disso, de ajudar as pessoas. Ela dava aulas de artesanato no Lar São Vicente de Paulo, fazia visitas periódicas na Santa Casa, para oferecer solidariedade e uma palavra amiga aos doentes. Eu sempre ia junto, e tive este exemplo dentro de casa. Então, desde menina eu estive ligada à área social”, lembra. Acreditando na construção de um mundo melhor e no valor do voluntariado, Sônia iniciou o trabalho junto ao Fusstat em 2005, mesmo ano em que a então primeira-dama, Maria José Vieira de Camargo, assumia a presidência do Fundo Social e passou a revolucionar as atividades do setor. Sônia dava aulas de artesanato, sabonete líquido e pedrarias, e, por oito anos, ensinou e incentivou o fortalecimento de muitas mulheres em situação de vulnerabilidade social, dentro dos centros de capacitação, que também foram criados nessa época. Em 2009, pela dedicação e engajamento nas causas sociais, passou, também, a integrar o Conselho Municipal do Fundo Social de

Sônia Maria Ribeiro da Silva, que trabalha como voluntária desde 2005


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EXPEDIENTE

O tabloide “O Progresso da Mulher” é uma publicação da Empresa Jornalística O Progresso de Tatuí. Redação: Praça Adelaide Guedes, 145 - Centro - Tatuí/SP Tel.: (15) 3251-3040 - www.oprogressodetatui.com.br Jornalista responsável: IVAN CAMARGO (MTB 25.104) Reportagem: DILÉA SILVA (MTB 083281/SP) Projeto gráfico, diagramação e arte final: ERIVELTON DE MORAIS Revisão: ANA MARIA DE CAMARGO DEL FIOL Colaboradores: CHRISTIAN PEREIRA DE CAMARGO / SABRINA MAGALHÃES



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