75ª Semana Paulo Setúbal

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Concurso Paulo Setúbal

O imortal Paulo Setúbal

s edições deste ano do Concurso Paulo Setúbal – Literatura e Artes Visuais e 13o Prêmio Literário Paulo Setúbal voltaram a difundir a obra do imortal escritor tatuiano em ação da Prefeitura de Tatuí, por meio da Secretaria Municipal de Educação e do Departamento Municipal de Cultura e Turismo.

A partir de trabalho realizado ao longo de quatro meses, a vida e a obra de Paulo Setúbal foram estudadas, discutidas e pesquisadas. Isto já representaria que todos os objetivos propostos pelas ações foram alcançados. No entanto, ambas as iniciativas fizeram ainda mais pela difusão e preservação do mais importante escritor da história de Tatuí. Ao anunciarmos os vencedores do Concurso Paulo Setúbal, realizado nas modalidades literatura e artes visuais e, exclusivamente, direcionado a estudantes de escolas situadas em Tatuí, destacamos com prazer crianças e adolescentes que se dedicaram aos estudos das obras do escritor. Neste ano, recebemos a participação de 26 unidades de ensino, praticamente a totalidade no município. Antes de produzirem os trabalhos concorrentes, alunos e professores acompanharam palestras informativas, ministradas por duas especialistas em literatura e artes visuais: Cimira Cameron e Raquel Fayad. O concurso recebeu trabalhos em duas modalidades: literatura (subdivida nas categorias “6o ao 9o ano” e “ensino médio”) e artes visuais (exclusivamente para alunos até o 5o ano). Após as palestras, os alunos produziram seus trabalhos na sede do Museu Histórico “Paulo Setúbal”, que foram avaliados por duas comissões julgadoras distintas, posteriormente, formadas por Ary Roberto Souza Pinto, Cimira Cameron

e Ivan Camargo (modalidade literatura) e Carmelina Monteiro, Jaime Pinheiro e Raquel Fayad (artes visuais). A intenção da organização do concurso foi a de torná-lo mais dinâmico e de estender o prazo de discussão e preparação. Com isso, as obras de Paulo Setúbal, bem como a própria história do escritor, foram mais debatidas e divulgadas. A premiação é voltada apenas aos três primeiros colocados de cada modalidade e categoria, mas é imprescindível agradecer professores, coordenadores pedagógicos e diretores das unidades de ensino que inscreveram e estimularam seus alunos a participarem do concurso. Destacaram-se, pela participação, as equipes de profissionais das escolas “Barão de Suruí”, Colégio Adventista, Colégio Anglo, Colégio Objetivo, Colégio Presbiteriano, Colégio XI de Agosto, EE “Prof. José Celso de Mello”, Emef “Prof. Accacio Vieira de Camargo”, Emef “Prof. Alan Alves de Araújo”, Emef “Prof. Eugênio Santos”, Emef “Profa. Eunice Pereira de Camargo”, Emef “Prof. Firmo Antonio de C. Del Fiol”, Emef “Prof. João Florêncio”, Emef “Prof. José Menezes Bueno”, Emef “Prof. José Galvão Sobrinho”, Emef “Prof. José Tomás Borges”, Emef “Profa. Ligia Vieira de Camargo Del Fiol”, Emef “Prof. Luiz Paes de Almeida”, Emef “Profa. Magaly Azambuja de Toledo”, Emef “Profa. Maria da Conceição O. Marcondes”, Emef “Profa. Maria Eli da Silva Camargo”, Emef “Profa. Maria Helena Machado”, Emef “Prof. Mauro Antonio Mendes Fiusa”, Emef “Profa. Sarah de Campos V. dos Santos”, Emef “Profa. Teresinha Vieira de C. Barros”, Emef “Profa. Tereza Reni Fernandes Rossi” e Nebam “Ayrton Senna da Silva”. Esperamos que os benefícios da participação estendam-se por muito tempo junto aos alunos de cada unidade de ensino.

EXPEDIENTE

14o Concurso Paulo Setúbal – Literatura e Artes Visuais 13o Prêmio Literário Paulo Setúbal – Contos, Crônicas e Poesias Coordenação: Jorge Rizek Apoio: Alessandra Barros, Djalma Mathias e Deise Juliana Voigt

O tabloide 75a Semana Paulo Setúbal é uma publicação da Empresa Jornalística O Progresso de Tatuí, com apoio cultural da Prefeitura de Tatuí, por meio da Secretaria de Educação, Cultura e Turismo e do Departamento de Cultura e Desenvolvimento Turístico, patrocinado por iniciativa privada. Redação Praça Adelaide Guedes, 145 – centro – Tatuí-SP PABX (15) 3251-3040 www.oprogressodetatui.com.br Edição e jornalista responsável: Ivan Camargo Projeto gráfico e diagramação: Altair Vieira de Camargo (Bisteka) Revisão: Ana Maria de Camargo Del Fiol

Palestrantes: Cimira Cameron e Raquel Fayad 14 Concurso Paulo Setúbal Comissão julgadora modalidade artes visuais Carmelina Monteiro, Jaime Pinheiro e Raquel Fayad Comissão julgadora modalidade literatura Ary Roberto de Souza Pinto Cimira Cameron Ivan Camargo o

Comissão julgadora 13o Prêmio Literário Paulo Setúbal Contos, crônicas e poesias Antonio Carlos Ribeiro Fester Francisco Moura Campos Joaquim Maria Botelho


Concurso Paulo Setúbal A grande participação no concurso foi também repetida no 13o Prêmio Literário Paulo Setúbal, que, desde que se tornou de abrangência nacional, foi a edição que mais recebeu inscrições. Ao todo, foram 167 inscrições na modalidade conto, 112 na modalidade crônica e 195 em poesia. Foram recebidas inscrições de 105 cidades dos seguintes Estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santos, Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Piauí, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo. Também foram registradas duas inscrições postadas a partir de Portugal e Japão, de brasileiros. Para garantir total transparência no julgamento dos trabalhos, uma comissão de avaliação formada por profissionais de destaque nacional foi convidada a partir de indicação da UBE (União Brasileira de Escritores). Além de não residirem no município-sede do concurso, os jurados receberam os trabalhos sem qualquer identificação de autoria, o que garantiu a avaliação imparcial. Debruçaram-se sobre as obras inscritas: Joaquim Maria Botelho (jornalista, escritor, tradutor, professor e mestre em crítica literária e em jornalismo internacional, tendo vários artigos publicados em diferentes países); Francisco Moura Campos (editor e professor com dezenas de obras publicadas) e Antonio Carlos Ribeiro Fester (escritor, professor e pesquisador com experiência internacional, mestre em letras, com mais de três dezenas de publicações registradas). Em seus relatórios, os jurados afirmaram que o nível de qualidade dos trabalhos concorrentes esteve acima da média de outros concursos nos quesitos da boa linguagem e da criatividade. Eles também definiram o trabalho como difícil, uma vez que a classificação limitou-se a três principais e a algumas menções honrosas. Os relatórios da comissão julgadora demonstram o sucesso do prêmio, que, pelo número de inscrições e qualidade de trabalhos, consolida-se no cenário brasileiro. O anúncio dos vencedores de ambas as iniciativas ocorrem em cerimônia realizada no Centro de Esportes e Artes Unificado, local escolhido seguindo o principal objetivo do concurso e do prêmio: o de difundir a vida e a obra do imortal Paulo Setúbal. O espaço recém-inaugurado recebe a premiação de braços abertos, tendo, no momento, a semente da literatura plantada entre jovens frequentadores. Os trabalhos do concurso e do prêmio são concluídos por meio da publicação deste tabloide. Aqui, as obras vencedoras são registradas e compartilhadas publicamente, como forma de demonstrar não somente a qualidade das produções, mas a de concretizar, mais uma vez, a importância de Paulo Setúbal na cena literária nacional. Ao final, deixo o mais importante: o agradecimento a Olavo Egydio Setúbal, cujo apoio é essencial para a realização das ações em memória de Paulo Setúbal. Sem a generosidade e carinho de Olavo e sua família, a “Semana Paulo Setúbal”, jamais teria chegado à 75ª edição. Muito obrigado! Obrigado a todos os que se envolveram e se encantaram, mais uma vez, pela literatura de Paulo de Oliveira Leite Setúbal. Boa leitura!

Jorge Rizek Coordenador

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Concurso Paulo Setúbal

Contos 13o Prêmio Literário Paulo Setúbal

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lugar

- Maria Teresa Hellmeister Fornaciari (São Paulo – SP)

“bambinas” Análise da comissão julgadora “A autora (quero crer que se trata de uma mulher, em vista do profundo conhecimento do universo feminino) é uma escritora pronta. Sabe o que faz. Domina a linguagem, tem competência no uso do coloquial, usa com muita habilidade e criatividade os adjetivos e faz boas comparações. Os personagens têm densidade e estão fincados na realidade. O começo e o final do conto trazem à tona uma circularidade que tange ao sobrenatural e dá ao relato uma aura de mistério que aumenta o prazer da leitura.”

Acordo sobressaltada porque sonhei com ratos. Muitos ratos pequenos e outros grandões e pançudos, mas todos ágeis e com cara de deboche, como se soubessem que, neste mundo de mediocridades, eles dominarão, deixando-nos todos com palavras surdas-mudas. Meus passos vão dançando atrás de mim até a cozinha. A vó Margô cochila debruçada na mesa de mármore; deve estar frio ali. O braço ficou com a marca do brinco de pérola, que ela não tira nem para dormir. Presente dos trinta anos de casamento. Acordo-a com um beijo na cabeça branquinha, afasto a franja lisa e vejo que a pinta do nariz está crescendo, que estranho. A luz vermelha da secretária eletrônica pisca e eu aperto o botão. Três mensagens de Carmela: ainda tenho muita mágoa, mas ela sabe que não consigo ficar longe e se arrasta ziguezagueando, me tirando o prumo. Sempre tão linda com aqueles olhões azuis meio transparentes... Olhos de ressaca devem ser assim. Indecorosos. As lembranças de Raul vão e voltam. Estou com tanta sede, que a limonada com maçã verde e erva cidreira lá na mesa dá até tonteira. De-lí-cia. Receita do spa. Raul tomaria um gole, olharia para mim e diria que adorava me ver arrepiada de camiseta de algodão em cima do corpo nu. Arrepiada e com perfume de banho. Já é tarde, mas tenho ainda muitas revisões a fazer. Cada vez as pessoas redigem pior, detesto ler coisa mal escrita. As palavras vão surgindo zombeteiras, como se estivessem se divertindo com esta minha angústia cotidiana. Mais uma. Não tenho outra alternativa a não ser ler ler ler. Pelo menos esqueço o resto. Ou não? Carmela e Raul aparecem em todas as páginas ímpares, estarei enlouquecendo? Escapo deles uma folha sim outra não, como são obscenos! Parecem ratos me corroendo por dentro e se enroscando nos cachos de meus cabelos. Tínhamos sete anos quando veio a notícia da separação. Carmela foi embora para a Itália com minha mãe e eu fiquei no Brasil com papai e com sua italianice. Elas iriam morar em Lucca, cidade da Toscana, ao norte, famosa por suas muralhas antigas, como a nona gostava de nos contar. No dia do embarque, minha irmã gêmea usava um chapeuzinho combinando com o vestido de veludo e levava meu ursinho Hugo apertado no braço; foi a primeira vez que ficamos distantes uma da outra. No corredor do aeroporto, Carmela quase andou de costas para não deixar de me ver, mas não encheu o azulado dos olhos com o inchaço de lágrima alguma. Isso ficou para mim, para minhas bochechas vermelhíssimas, combinando com a cor de minhas tranças descabeladas. Já minha mãe passou para a sala de embarque sem olhar para trás nem acenar ou sorrir pela última vez. Carmela puxou seu jeito longilíneo de chamar atenção, sem exageros ou sobras, mas também sem deixar algum resquício dessa elegância para mim. Eu me tornei cada dia mais gorducha. Uma espécie de porcelana bojuda prestes a se espatifar, com meu porte de mulherzinha esculpida por Botero. Roía a imagem de minha mãe ausente e tragava hambúrgueres com batata frita. Nunca sorria nem falava muito,

diferente do que sempre tinha sido Carmela; não, nunca não: ficava bem alegre quando papai chegava toda noite com um saco de balas ou com uma caixa de bombons. Preferia os de papel colorido, que mostravam crianças felizes brincando de bambolê. Também devorava livros. Gostava de palavras, mastigava-as e engolia seus significados devagarinho, formando dentro de mim um espaço de abrigo e de vigilância. Papai não teve talento para tornar-me mais leve, mais arejada, ele sabe que não. Minha sorte foi ter mudado para a casa da vó Margô, na Barra Funda. Impossível para um executivo conciliar sua Empresa de Transportes São Benito quase falida com as manhas e manias de uma menininha gulosa. Eu adorava a casa da nona: lá havia muitas histórias embutidas nas prateleiras envidraçadas da sala de TV e, na cozinha, sempre o cheiro doce de molho de tomate, dias inteiros no fogo para apurar bem. Ela fazia comida por encomenda e eu podia ajudar com o nhoque: eram cobrinhas de massa finas ou grossas, nunca iguais, que deveriam ser esticadas na mesa de mármore, espalhando a brancura de farinha pelo chão, pelos sapatos e pela boca. Mas meninas são como caquis: amadurecem precocemente e de um dia para o outro viram outras meninas. Hoje a vó Margô está velhinha e eu ainda moro com ela. Nunca parou de trabalhar: sofisticou o menu, caprichou no visual dos pratos, mas seu forte mesmo continua sendo o nhoque. E o bife à parmegiana, claro. Não foi à toa que me tornei uma chef de mão cheia e agarrei Raul pelo estômago. Raul e eu éramos verso e reverso, sol e lua; formávamos um antagonismo tão perfeito, que ninguém acreditava termos ficado juntos e felizes por sete anos. Que cínico! Foi isto. Lembrei que, lá na Redação, ouvi alguém dizer que fulano ou sicrano era cínico. Cínico? Isso, cínico. Bastou essa palavra para Raul aparecer, dando-me milhões de beijos na nuca, até ver os pelos eletrizados dos meus braços em pé, com aquela cara de olhos pidões. Raul chegou alegre, com sua boca de dentes enfileirados, brancos que só vendo. Com sua destreza jurídica, a falência da São Benito virou pó e eu, quase quenga de sua libertinagem. Só a vó Margô desconfiava daquilo tudo; não incentivava, não via com bons olhos, não mostrava contentamento diante dele. Que raiva me dava! Não esboçava nem um risinho mesmo quando ele limpava o molho do prato com pão, alegria da nona. Nem assim. Gostava de me surpreender. Uma vez fingiu que esqueceu meu aniversário e apareceu, à noite, com duas passagens para Lucca: partiríamos em quinze dias. Eu nunca mais tinha visto Carmela e nem dormi naquela noite, de tanta excitação. Raul me dizia saber quando eu ficava feliz, pois o vermelho de meu cabelo, que ele tinha mania de enrolar para depois soltar como mola, ficava ainda mais vivo. Eu era uma mulher-mola e Raul, um devasso vulgar de minha fragilidade ruborizada. O encontro dos dois que não se conheciam pessoalmente foi quase escandaloso. Carmela era eu de cabelo chanel, magra, morena, muito mais bem cuidada. Estava lindíssima, com olhos ainda mais brilhantes, e Raul desfrutou daquela abundância cor de anil bem na minha frente. Sem qualquer escrúpulo. Carmela usava um vestido cinza, combinando com um chapeuzinho azul petróleo de aba curta, da mesma cor dos sapatos altíssimos. Não conseguiu disfarçar uma mirada de alto abaixo em mim, de olheiras fundas e mãos suadas, mesmo antes de me abraçar com algum entusiasmo. Eu estava exausta; não havia pregado o olho no voo e nem tinha dormido na noite anterior, de tanto trabalho na Redação. Minhas bochechas ficaram disformes de novo, com tanta lágrima. Sentia um misto indecifrável de tristeza e de alegria e soluçava pelo carinho desperdiçado por todos aqueles anos. Já perdi a mania de chorar. O tempo não é mais que espiral de coisas que vão se somando e se espalhando e se perpetuando. Tempo espesso e elástico, longuíssimo como as esperanças. Para mim, foram anos e anos de sorrisos desfeitos e de caixas de chocolate engolidas com sofreguidão. A tristeza da nona não passou nunca. Ela desistiu de ir comigo à Itália para ver Carmela e sua neta toscana também adiou o reencontro. Para minha irmã, tudo era sempre difícil: os projetos de paisagismo avolumavam-se e um cliente puxava o outro; os gêmeos já estavam com quatro anos e tinham suas atividades; além disso, o dinheiro para uma viagem internacional, depois do casamento desfeito, andava curtíssimo, apesar do trabalho árduo. Pego mais uma bala azedinha e deixo que ela derreta na boca até acabar, sentindo gosto de limão. Ou de abacaxi? Tenho a sensação de que a vida demora e faz o tempo


Concurso Paulo Setúbal encompridar para que o melado grude na infância. Não consigo viver um só dia sem pensar em Carmela, em Raul e até nos meus pais, que se reconciliaram na velhice e que procuram correr atrás do que talvez nem exista mais. Decido ficar um pouco mais na cama, com o travesseiro na cara, evitando a luz entrando pela persiana quebrada e espantando a ansiedade de atender ao telefone e ouvir a voz de Carmela já no aeroporto. Nada disso, ela deve estar voando ainda. Vou levantar e tomar um banho de banheira com muita espuma, muitos sais e água morna. Os dedos das mãos e dos pés ficarão enrugados e lisos, chegando até a arder de tanto ócio. Nada de leitura, nada de trabalho, nada de nada. Também não. Que ridícula! Com olheira manchada de rímel adormecido, ligo o computador; isso, esperarei Carmela fazendo minha primeira compra no supermercado virtual, caprichando na lista de tudo que é gordo e proibido por aquela nutricionista anoréxica do spa. Mereço isso. Dói tudo por dentro, naquele oco pior que cárie. Penso na falta que me faz a vó Margô, na mesa de mármore gelado, onde sempre gostei de apoiar os cotovelos para sentir o frio que arrepiava. Por que será que a mesa tinha que ficar encostada na parede, quando ainda estava da Barra Funda? De-lí-cia ajudar a derramar bem rápido a calda fervendo na pedra, para depois cortar o sabor em pedacinhos e chupar as balas com cuidado para não grudar no dente. Carmela chega de táxi, com as sobrancelhas muito pretas arqueadas como corda de pular e aquele chapeuzinho de feltro azul-petróleo combinando com os olhos arregalados. Cheios de remorso. Chega atrasada, com duas malas gigantes. Há cinco anos e meio não me via! Meus cabelos vermelhos foram cortados e ela parece aprovar a mudança; diz que sem a enormidade dos cachos, eu pareço mais alta e mais séria bem séria. Abraça-me meio constrangida, abraço desassossegado de bom, mesmo naquela circunstância. Talvez os laços construídos dentro do útero não se desfaçam, mesmo que a distância percorra oceanos e mude de hemisfério. Ficamos sem som e o silêncio dura pelo menos quinze minutos. Os problemas que esperem; afinal, não podemos fazer mais nada. Nada mesmo. Passamos a tarde toda vendo as fotos que Carmela trouxe de Lucca: os meninos estão a cara do Raul, com aquele cabelinho meio espetado e os dentes branquíssimos, mas os olhos ainda são cópia fiel dos da mãe, talvez um tantinho mais escuros. Lá pelas tantas, depois de já termos adiado a conversa, minha irmã fala dele. Da inescrupulosa mania de Raul seduzir e repelir, cutucar por dentro pouco a pouco até chegar no vazio insensível. Como eu conheço bem tudo aquilo! Depois minha irmã quer saber da nona, tudo, nos mínimos detalhes. E eu conto do sofrimento dos últimos meses, da quimioterapia, das vigílias, da lucidez até o fim, dos brincos de pérola embrulhados para presente e do cartãozinho com o nome de Carmela preenchido por aquela letra redonda inconfundível. Então ficamos sentadas no sofá até escurecer, paralisadas, sem dizer mais nada, escutando o silêncio que faz o queixo tremer. Carmela segura minhas mãos suadas e nem liga para o suor. Estico o corpo, como se estivesse espreguiçando-me e enrolo o dedo no cabelo bagunçado. Enquanto isso, alguns ratos começam a andar pela sala e a roer o chocolate Lindt que estamos dividindo. Eles são ruivos.

2o lugar - Renata Fonseca Wolff (Porto Alegre - RS)

“névoa” Análise da comissão julgadora “Conto denso, trágico e ao mesmo tempo de uma ternura tocante. A profundidade psicológica é obtida pelos detalhes contidos nos diálogos, de aparente frivolidade mas, que em conjunto, dão o retrato de um relacionamento se desmoronando. O ritmo é bom e cativante e o final perde a nitidez, como os próprios personagens tragados pela neblina. E o leitor é convocado a refletir sobre a vida daquele casal, e também sobre a sua própria vida.” O carro avançava aos poucos no aclive. As luzes altas abriam um caminho cauteloso em meio à neblina espessa do início da madrugada, e o ruído do motor em inconstante aceleração por vezes calava a música baixa no rádio. Ao volante, inclinado à frente, Paulo dividia apreensivo a atenção entre a estrada encoberta adiante, a imagem ene-

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voada no retrovisor, e as faixas interruptas de tinta amarela no asfalto à esquerda. No banco do passageiro, quase de costas, a testa encostada à janela, Ana contemplava sem interesse o nascer-morrer do embaçamento que a respiração lenta desenhava no vidro. – Tá enxergando? – ele perguntou sem desviar o olhar da rodovia. Ela tirou da boca a unha que roía devagar, pestanejou, voltou-se indiferente. – O quê? Ele comprimiu os lábios. Pigarreou e explicou com impaciência contida: – A linha do acostamento. Como eu pedi. – Para o carro. – Mas... – Para que eu não tô vendo a porra da linha. Ele inspirou fundo. Acionou o sinal com força, girou o volante, saiu em curva da estrada, do acostamento, reduziu a velocidade até parar. Ligou o pisca-alerta e recostou-se no banco, um dos braços na direção, o outro apoiado à beira da janela. Nada via além da penumbra, da relva mais próxima, e do nevoeiro. Houve um momento de quietude enquanto o CD transitava da canção recém-encerrada para os primeiros acordes da seguinte. Paulo aumentou o volume. Looking back on the memory of The dance we shared beneath the stars above For a moment all the world was right How could I have known that you’d ever say goodbye Ana golpeou o rádio de súbito: fez sumirem as luzes coloridas do visor e impôs de novo o silêncio. Recolheu-se ao assento e cruzou os braços, o cachecol enrolado enorme ao pescoço, a lã roxa, tricotada em ponto miúdo, alcançando o queixo. – Antes você gostava – ele contrapôs. – Bom, agora não gosto. – Foi a música do casamento. – Porque você escolheu – ela acusou. Ela roeu outra unha. Ele tamborilou os dedos à própria boca. Indagou de repente: – Tá tomando os remédios? – Ah, puta que pariu – Ana resmungou, e soltou o cinto de segurança. Livrou-se dele atrapalhada, jogou-o para o lado e abriu a porta. – Não sai – ele avisou quando ela já pisava para fora. – É perigoso. Ela bateu a porta com um chute para trás. Ele fechou os olhos, alisou as têmporas, tirou o cinto e também saiu. Debruçou-se na lataria e observou, do lado oposto do carro, o vulto dela na névoa, as mãos nos bolsos de trás da calça jeans, virada para o vazio. – “Já tomou o remédio hoje?” “Tá acabando o seu remédio?” – ela arremedou. – Nem tudo o que eu digo é porque sou louca, sabe. – Eu nunca te chamei de... – Ele esfregou as mãos no rosto, desistiu de concluir. – Entra, Ana. – Tudo é remédio com você – ela murmurou. Ele virou-se para a rodovia. Fechou o zíper do casaco, levou as mãos à cintura, suspirou e viu o próprio hálito desfazer-se num rastro ligeiro de vapor. Ficaram imóveis, cada um de um lado do veículo, de costas um para o outro. Ele perscrutou o sentido de subida, à direita, e o de descida, à esquerda. Coçou o cabelo curto, os fios grisalhos em número crescente. – O que a gente faz? – Lê a previsão do tempo da próxima vez – ela grunhiu por sobre o ombro. – Olha – ele também a encarou –, a neblina não é culpa minha. O remédio não é culpa minha. E ele era meu filho também. Ela baixou os olhos. Mordeu o lábio inferior trêmulo e tornou a dar as costas devagar. Paulo afastou-se, um, dois, cinco passos: encontrou a linha do acostamento, chegou à beira da estrada. Quis um cigarro, pensou no maço escondido no fundo da mala. Ergueu os braços, entrecruzou os dedos e repousou as mãos no alto da cabeça. – Não sei se a gente continua ou não. – Escutou algo sem compreender e retornou. – Quer seguir caminho? – Pode ir embora – Ana repetiu. – Como, ir embora? Ela deu de ombros. – Se você quiser. Ele começou a fazer a volta ao redor do veículo, parou e projetou-se à frente, apoiado no capô. Começou a gritar, perguntar se ela achava mesmo que ele fosse capaz; doeulhe a própria voz, calou. Ela se manteve firme. Paulo virou e encostou-se no carro. De novo, os dois de costas, separados pelo nevoeiro. – Vai ver a gente mal se conhece mesmo. Achou que ela refreava um soluço. Ia consolá-la, interrompeu-se ao ouvir: – Nem sabia que faziam caixão daquele tamanho.


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Ele cobriu o rosto. Puxou a porta, largou-se no assento, bateu-a. Chorou sem som exceto pelo fôlego entrecortado, as mãos sobre a face, curvado à frente, os cotovelos no volante. Percebeu-a entrar, quieta. Sentiu uma carícia tímida no braço. – É tão difícil às vezes – ele confessou, a voz espremida. O carinho subiu para seu cabelo. Os dedos correndo ternos e vagarosos por entre os fios, como só ela fazia. Ele esfregou os olhos, fungou, passou o dorso da mão no nariz. Permaneceu debruçado na direção, mirando a noite enevoada sob a luz dos faróis. Ela recolheu a mão que o afagava. Estendeu-a para o rádio, apertou um botão. O visor reacendeu e a música invadiu o interior do veículo. – Você me segurou – ela disse, as palavras nasais e estaladas nos lábios molhados. – No casamento. Quando eu tropecei. A gente riu abraçados... E dançou. And now I’m glad I didn’t know The way it all would end The way it all would go – Quero continuar – pediu, quase uma súplica. Our lives are better left to chance I could have missed the pain But I’d have had to miss the dance. Ele não respondeu, e nenhum dos dois moveu-se enquanto a canção prosseguiu. Ao final, Paulo limpou a última lágrima do rosto, olhou Ana de viés, tocou sua perna em um mimo breve e endireitou-se no banco. Baixou o freio de mão, virou à esquerda, acelerou pouco. Aproximou-se da linha do acostamento. Freou. Soltou o volante, perdeu o olhar em nada. Mais uma vez desejou os cigarros. Inalou o ar gelado, expeliu sem pressa um fôlego comprido, expulsou derrotado o último sopro. Adivinhou os olhos dela para si, amorosos e tristes, a unha roída de volta à borda dos dentes. – Não sei pra onde ir – disse baixinho. O carro parado, quase perpendicular à estrada, não fez sinal de tomar qualquer direção. Os faróis permeavam a neblina sem vencê-la. O pisca-alerta cortava parte da noite densa a um pulsar tênue, solitário na bruma.

3o

lugar

- Elias Araujo (Américo Brasiliense - SP)

“o estranho caso de eugênia flor” Análise da comissão julgadora “Belo exemplo da literatura fantástica, instigante, cheio de suspense e de mistério. A narrativa em primeira pessoa foi feliz escolha do autor, pois configurou ares de testemunho, recurso que estabeleceu verossimilhança, o que Sartre chamou de pacto com o leitor. Além disso, é um texto corajoso.” Eu ia guardar segredo sobre isso. Fechar a sete chaves, como se diz por aí. Mas resolvi lhes contar uma das mais bizarras histórias de que já tive o privilégio de fazer e ver acontecer. Não lhes revelarei meu nome, porque de mim jamais terão notícias novamente. A não ser que as investigações descubram provas irrefutáveis sobre minha perversão e paradeiro. Entretanto, meus sentimentos e minha escuridão psicológica não são relevantes nessas poucas páginas, embora as permeiem. Porque a história não é minha, não ainda, pois que não me encontro preparado para uma autobiografia. De mim, só terão a semente, o sêmen, esta porra nojenta, pegajosa e de cheiro ruim que viaja pelo interior feminino para se aconchegar ao útero já em forma de vida inicial. Foi o que fiz a Eugênia Flor, uma flor de moça: delicada sem ter a apatia dos despersonalizados; bonita sem ter a beleza falsa das modelos; encorpada sem ter a

massa das gordinhas; e forte sem ser masculina. Essa força física de mulher brasileira foi o que me incentivou ainda mais a conquistá-la e lhe dar minha semente. Não que ela quisesse ou me desejasse. Na verdade, nem nos conhecíamos, nem ela viu ou veria meu rosto em alguma ocasião. A máscara de homem-aranha garantiu que eu ficasse incógnito. Houve um momento durante a luta em que ela me arranhou e mordeu tanto que quase arrancou a máscara junto com minha orelha na boca. Isso me enlouquecia ainda mais, não de raiva, mas de desejo. Já me doía a ereção. Eu resfolegava, babando dentro do tecido vermelho, o cio se avolumando na calça. Venci a luta, já que sempre fui forte, malhado, bruto feito animal selvagem. Se assim não fosse, jamais poderia dar vazão aos desejos que agrediam minha cabeça. Mas deixemos disso, já falei demais sobre mim. Venci, é o que importa, e ao amanhecer já estava na academia em frente, com a orelha um pouco inchada, vendo a ambulância e a polícia chegarem para socorro e perguntas. Eugênia Flor, agora desabrochada, ficou internada mais de uma semana. Vizinhos não sabiam de nada, não ouviram nada, não viram nada. Era melhor se ocultar na ignorância, pelo menos até que a vítima fosse filha deles e não daquele casal simpático que levou um choque ao chegar de viagem. Confesso que, na academia, senti desejos visíveis de visitar Eugênia de novo, tamanha foi a luta que ela empreendeu para não ser violada por mim. Mas tive que conter minha fúria, porquanto a moça ficou grávida. Nunca antes eu soubera de alguma mulher esperando filho meu. Porém, isso não me tocou de forma alguma, já que ainda não encontrei a mulher de minha vida. Eugênia fez uma sequência quase interminável de exames para diagnosticar possíveis doenças venéreas. Entretanto, eu me cuido, sou limpinho, malhado, atleta. De meu corpo suado, mas saudável, ela pegou apenas uma semente potente que lhe daria um belo filho. Evidentemente, tudo depois foi tratado com tanto sigilo e horror, que foi preciso que eu saísse de mim para me aproximar e seduzir um dos amigos dela para descobrir o que estava acontecendo. Do contrário, certamente jamais lhes daria conta dessa história. Não pude tratar o sujeito do mesmo modo que busquei o íntimo de Eugênia. Meu desejo era esmagá-lo com minha fúria sensual, mas ele se mostrava cheio de melindres por estar traindo o companheiro. Precisei usar de muita tática afetiva para amenizar seu remorso pela infidelidade; só assim ele me contou o porquê dos gritos de sua amiga numa dessas manhãs em que eu malhava. Primeiro achei que ele estivesse brincando comigo, usando um sarcasmo que não casava bem com minha masculinidade dominante, o que me levaria a espancá-lo. Mas logo percebi que era sério e acreditei em suas bizarras palavras: — Eugênia Flor botou um ovo! Inacreditável, eu sei, parece até coisa de minha mente doentia. Porém, por mais que lhes pareça inverossímil, lá estava Eugênia no chuveiro três meses após ser usada por mim, chorando de dor no ventre, tendo cólicas terríveis que culminavam no canal vaginal. Que não fosse obra de minha mente doentia posso até crer, mas sem dúvida aquilo que ela botou veio de mim, algo demoníaco talvez, como minha alma. O trabalho de parto começou e terminou em poucos minutos, com ela gemendo antes e gritando depois, agachada a um canto do box, aterrorizada. Filipe arrombou a porta do banheiro, nem parecia o delicado que eu me forçaria a seduzir depois, e viu-a apontando o objeto sob o chuveiro: o ovo. Ele fechou a água e acalmou-a. Enrolou-a numa toalha e deixou que a mãe a levasse dali. O rapaz pôs um dedo no ovo e retirou-o rapidamente. Foi preciso chamar seu marido, aparentemente mais masculino, para pegar o objeto e levá-lo para o quarto, onde Eugênia estava. Colocaram aquilo sob a cama e permaneceram longo tempo confabulando somente com os olhos. Logo todos sentiram necessidade de tocar o ovo, estudar com o tato o material de que era feito. Filipe contou, enquanto eu o subjugava pelo desejo, que era do tamanho de um ovo de avestruz, talvez um pouco maior, mas que certamente sua casca possuía a textura da pele humana. Não que fosse mesmo uma epiderme, mas aquilo parecia vivo e pulsante ao toque. O pai de Eugênia Flor pensou em levá-la à clínica ginecológica. Todos foram contra a ideia: aquilo criaria um alvoroço sem precedentes. Cogitaram chamar um médico particular e pagar para que mantivesse segredo, mas onde encontrariam um doutor que não quisesse fazer fama com aquilo: seria a glória profissional para o médico que estudasse o que nunca antes se tivera notícia. Até mesmo eu alcançaria fama e fortuna se me apresentasse como o pai daquela aberração da natureza. Mas de que me serviriam, se logo em seguida estaria encarcerado? Filipe e Gustavo, os amigos gays, quase se mudaram para lá, tão grande foi o interesse que o ovo despertou. Ficaram tomando conta do objeto, enquanto a mãe da moça a levava ao médico para novos exames. Apesar das desconfianças dos profissionais da


Concurso Paulo Setúbal clínica, que conheciam sua história e se compadeciam, o doutor atestou a não gravidez dela como aborto espontâneo e não proposital. A moça, porque aquele ovo a fazia lembrar-se de mim e recordava os momentos de paixão e prazer violentos que lhe dera, quis jogá-lo fora, como um pedaço de carne estragada. O pai achou a ideia aceitável, pois de um acontecimento bizarro só poderia vir algo igualmente estranho. Já a mãe foi contra, pediu que esperassem mais algum tempo para ver o resultado daquilo. E os dois amigos da família, após troca de olhares, ofereceram-se para auxiliá-la em tudo, mas se sua decisão fosse a de se livrar do estorvo, eles o adotariam. Algum tipo de afeto começavam a nutrir pelo ovo. Ela voltou a trabalhar como vendedora numa grande loja de roupas tão logo se sentiu fortalecida, embora aquela fraqueza, aquele abatimento real nunca a tivesse acometido. As amigas (ou não) do trabalho abraçaram-na, condoídas de sua situação, porém, ela se mostrava como realmente era: uma mulher forte, decidida a domar qualquer touro. Menos eu, claro, e que vontade tinha de dominá-la novamente, machucá-la mais do que antes. O ovo ficou, não digo jogado, porque não foi essa a palavra que o Filipe usou, mas deixado displicentemente num canto sobre uma almofada. Ela sequer tocou nele, pois o via como obra do mal, como o ovo de um dragão maléfico de alguma mitologia viking. Aquilo representava sua dor. Entretanto, conforme o tempo passava, perceberam que o ovo crescia, como se estivesse vivo ou, conforme o marido de Filipe acreditava, abrigasse vida dentro dele, já que essa era a principal função de um ovo. Eugênia repudiava-o, chamando-o de “o ovo de dragão”. Contrariavam-na dizendo que se chocasse um dragão, poder-se-ia domá-lo, educá-lo e quem sabe chegasse a se transformar num príncipe. Claro que ideias tão frescas só poderiam vir de Filipe. Eu o teria partido em três pedaços, se não ansiasse por mais informações. Pensei seriamente em invadir novamente a casa, sequestrar o ovo e criar meu dragão como se cria uma extensão de si mesmo. Não se tinha certeza de que havia algo vivo lá dentro, mas ele crescia e pulsava ao toque das pessoas que o cercavam. O pai de Eugênia queria abri-lo ao meio e acabar com o mistério. A mãe achava que a moça deveria aninhá-lo em sua cama, tentando despertar nela algum instinto materno, já que até os animais mais selvagens o possuíam e sempre foi função das mães chocar seus ovos. Filipe e Gustavo diuturnamente davam-lhe forças, mas sempre a lhe pedir que os deixasse levar o ovo e criar o que nascesse dele, fosse o que fosse. Ela se recusava, mas se negava também a dar-lhe carinho de mãe.

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Chorava, às vezes, e berrava que não merecia aquilo; que havia sido estuprada, que aquilo não merecia existir. Os dois amigos, horrorizados, tentavam acalmála e dissuadi-la, alegando e pensando mesmo em convencê-la de que o ovo não tinha culpa de nada, era inocente, e que não podia sofrer para pagar o pecado do monstro que a violentara. Claro que a moça contradizia: gritava que ali não havia nada ainda, que nenhum ser vivo existia antes de nascer. Como o ovo de galinha: apenas casca, clara e gema. Porém, dia houve em que os dois amigos chegaram e a viram finalmente sentada na cama, com o ovo nos braços. Ele já estava pouco maior que uma bola de basquete. Sentiram que chegara o grande momento da eclosão e que, portanto, o instinto materno despertara nela. Quando ela se levantou, eles e os pais dela seguiram-na até a varanda dos fundos. Ela andou de um lado para o outro, ignorando a mãe, que lhe pedia para tomar cuidado, pois toda vida criada por Deus era uma preciosidade. Filipe e Gustavo estendiam as mãos, pedindo-lhe que os deixasse criar aquele ovo. O ovo começou a ter reações em seu interior. Viram que algo se mexia lá dentro, evidentemente sentindo as vibrações maternas. — Monstros não geram vida! — sussurrou ela, encarando os pais e os amigos. Eles a fitavam, condoídos. A voz presa na garganta, claro, pois quem teria coragem de quebrar o momento frágil de uma mulher tão forte? — Mas não é você o monstro, filha! — disse o pai. — Você é mãe! — exclamou a mãe. Eugênia Flor ergueu o ovo no alto e fez o que eu próprio teria feito, pois é da minha natureza destruir a vida. Então deduzi que, provavelmente, contaminei-a com essa minha essência, transformando-a de flor em espinho. Feito eu. A moça transtornada jogou o ovo no chão. A pele se rompeu e abriu. Um líquido aquoso escorreu para todos os lados. E o que havia dentro fez todos chorarem de dor e tristeza. Ela ajoelhou-se no chão, de boca aberta e começou a mexer nos restos. Afastou pedaços de pele. Puxou uma perninha para um lado. Ajeitou outra, que estava meio torta. Brincou com os bracinhos amolecidos. Passou um dedo pela barriguinha. Ouviram um gemido quase inaudível, mas que teve som o suficiente para declarar que algo sentia dor. Passou um dedo pelos lábios finos e minúsculos, que ensaiavam um sorriso. Depois, por fim, Eugênia Flor abaixou-se e beijou carinhosamente a cabecinha partida do feto nascido do seu ovo. Mas já era tarde demais...

Crônicas 13o Prêmio Literário Paulo Setúbal

lugar

- André Telucazu Kondo (Jundiaí - SP)

“A Casa de Machado” Análise da comissão julgadora “Um périplo pelas casas onde teria vivido nosso escritor maior, Joaquim Maria Machado de Assis, em um texto que pode ser de Lima Barreto, mas certamente é de um bom escritor, na medida em que transcende o assunto e, sempre a partir da literatura, nos dá uma visão marcante do oprimido, na realidade brasileira contemporânea.” “Não tive filho, não transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa miséria” (Encerramento de “Memórias Póstumas de Brás Cubas” – Machado de Assis) Era uma tranquila manhã carioca, quando subi os degraus do Morro do Livramento.

Todavia, dentro de mim, havia uma grande agitação. Afinal, eu estava indo ao local de nascimento de um dos maiores escritores do mundo: Machado de Assis. O que eu lá encontraria? Nos Estados Unidos, visitei a casa em que nasceu Hemingway, um museu magnífico. Na Alemanha, visitei a casa em que nasceu Goethe. Outro excelente museu. E a casa em que nasceu Machado? Se a casa em que Machado nasceu virou um museu, creio que se equivocaram em seu acervo, pois o que encontrei seria mais apropriado a uma obra de outro imortal, Aluísio de Azevedo: “O Cortiço”. A casa tinha uma estrutura aparentemente maciça, mas com uma pintura opaca, desbotada, esquálida, que lhe enfraquecia a aparência. Uma escada reta conduzia à entrada, uma carcomida porta de madeira, que, acredito, não fechava nem abria. Havia ao lado esquerdo uma grande janela veneziana de pintura indefinida. No andar superior, que foi improvisado com concreto armado, assassinando a arquitetura original do imóvel, havia duas janelas, quase na altura do telhado. Algumas samambaias cresciam na parede que cercava a escada de acesso. Fiquei ali, observando a casa. O fato é que talvez ela nem fosse a casa em que nasceu Machado de Assis. O que se sabe é que, se não era a casa exata, deveria ser uma construção da mesma época em que o grande escritor nasceu naquela ladeira. O local havia sido propriedade do senador Bento Barroso Pereira. A esposa do senador, Dona Maria, agregou a humilde família de Machado, permitindo que eles morassem na propriedade. Foi madrinha do escritor e por isso foi homenageada no nome do


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Concurso Paulo Setúbal

Artes Visuais 14o Concurso Paulo Setúbal

1o

lugar

Nicoly Carolina Yamasaki Furquim Emef “Eugênio Santos” Professora responsável: Oleny Nogueira Avalone

2o

lugar

Evelin Lorraine Crema Terrão Emef “Profa. Maria da Conceição Oliveira Marcondes” Professora responsável: Marli Aparecida de Jesus Silva Santos

3o Professora

lugar

Cauã de Miranda Silva Colégio Anglo Tatuí responsável: Teresa Cristina Batista


Concurso Paulo Setúbal

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Artes Visuais 14o Concurso Paulo Setúbal

Menção Honrosa Taissa Gomes de Oliveira Emef “Prof. Mauro Antônio Mendes Fiusa” Professora responsável: Neiva Ap. R. Telles

Menção Honrosa Ruan Antonio Vieira de Barros Emef “Profa. Maria Eli da Silva Camargo” Professora responsável: Ione Takenouchi Bieco

Menção Honrosa Jheneffer Nataly Oliveira de Paula Emef “Profa. Eunice Pereira de Camargo” Professora responsável: Renata Morais

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Concurso Paulo Setúbal

afilhado: Joaquim Maria Machado de Assis. No momento em que visitei a casa, muitas famílias haviam sido agregadas ao imóvel. O primeiro morador que vi foi o Sr. Paulo. Com uma perna amputada, descia lentamente a escadaria, apoiado em muletas. Do outro lado da rua, ele mantinha um carrinho de doces. A maioria do estoque ficava ali mesmo. Ninguém roubava. Ele me contou que havia perdido a perna em um atropelamento. Disse que o homem que o atropelou, figura engravatada, havia prometido ajudá-lo. Apareceu uma vez e depois nunca mais. “Quem liga pra pobre?” Abandonando a mágoa, logo mudou de tom. Disse que não queria depender de ninguém. Mas logo voltou o tom magoado e disse que de vez em quando dependia de alguém pra ir buscar pão. Descer e subir essa escadaria do morro não é mole não. Mas tentava adocicar a vida amarga, trabalhando com doces. — Gosto de vender doces, principalmente para as crianças. Adulto tá sempre reclamando, o produto tá barato e ele ainda reclama do preço, mesmo sem razão, só pelo prazer de reclamar. Criança não, vem, compra e fica com um sorriso no rosto. Só isso. Adulto reclama demais. Comprei pipoca doce, paçoca e biscoito do Paulo. A conta saiu barata. Não reclamei. Ele disse que gostava de manter o preço lá embaixo, para mais crianças poderem comprar. Ele disse que o sonho dele era abrir um supermercado. — Sabe o que eu faria? Botava o preço lá embaixo mesmo, pra todo mundo poder comprar. Para o pobre poder comprar. Sabe de uma coisa? Tem gente que diz que se eu fosse bonzinho não vendia, dava as coisas para os pobres. Ah! Que bobagem! Dar assim faz do outro mendigo. O bom mesmo é que as pessoas possam comprar as coisas com o suor do próprio trabalho. Eu sei que muita gente ganha pouco e trabalha muito. É pra essas pessoas que eu iria vender. Essa seria minha ajuda pra esse mundo. Apareceu um moço lá no alto da escadaria. Perguntou se era entrevista. Eu disse que era só conversa. Desde que especularam que aquela casa poderia ter sido o lar no qual nasceu Machado, muito repórter apareceu por lá. Até televisão. Depois do moço, apareceu a Dona Neuza, que “dorme” no quarto em que Machado nasceu. Pode ser sonho, mas mal não faz dormir na companhia de Machado. Conversamos um tanto. Ela reclamou dos repórteres, que vinham ali conversar só por interesse no escritor. — Nunca li Machado. Quando era nova, nem tinha livros. Agora, também não – alisou a cabeça grisalha e depois passou a mão no enrugado rosto. Ela me perguntou sobre o que eu fazia da vida. Respondi que era escritor e que por isso tinha me interessado pela casa. As crianças foram aparecendo. Distribuí os doces que havia comprado do Paulo. Sorrisos. Os cachorros também queriam, mas doce faz mal para os caninos. Conversas. E fala da vida da moça que tem tantos filhos e trabalha como louca. E tantas vidas ali, que se nascesse mais um não cabia não. Vi um rato passando por sobre um fio exposto. Não levou choque, continuou. Nada mais chocava naquele lugar. Na despedida, Dona Neuza disse para eu voltar outro dia. Desci a Ladeira do Livramento e fui até a Rua da Lapa, 264. Ali também viveu Machado de Assis. Naquela época ele suava como homem de letras para pagar o aluguel. Um caminhão com a caçamba lotada de ferro-velho descarregava em frente ao prédio histórico. A casa havia virado um depósito de ferro-velho! Visitei outra casa dele no Catete. Também decepcionante. Machado sempre viveu de aluguel e vivia se mudando. O que o bruxo teria a me mostrar no Cosme Velho? Desisti de qualquer magia, e sem mais capítulos, segui direto para o fim do livro. Estava cansado dessas residências temporárias. Procurei um lugar mais definitivo para me encontrar com a alma machadiana. No cemitério de São João Batista, perguntei ao coveiro sobre o túmulo de Machado de Assis. Ele me disse que Machado havia se mudado. Até em morte o danado se mudava? — Para onde? O corpo foi transladado para o Panteão da Academia Brasileira de Letras. Mas não haveria ninguém para me receber lá. A porta estava fechada. Não estava sendo fácil, o encontro com Machado. No dia seguinte, voltei para o primeiro capítulo, para a casa na Ladeira do Livramento. Dona Neuza me recebeu alegremente. Conversando com ela, um grito vem de dentro da casa: — A senhora deveria cobrar por cada entrevista que dá! — Ah, esse aqui não é repórter não. Esse aqui é meu amigo. Ele é um escritor, igualzinho ao Machado de Assis.

Ao ouvir aquelas palavras, primeiro, me senti profundamente lisonjeado, como se tivesse recebido o maior prêmio de minha breve vida literária. Afinal, fui igualado a Machado de Assis! Depois, senti tristeza. Afinal, aquela mulher de cabelos tão grisalhos e pele tão castigada pela miséria, apesar de viver na casa de Machado de Assis, nunca o conheceu. Do contrário, não teria dito aquilo. Nenhum de seus filhos tampouco leu Machado. Nem o vendedor de doces havia sentido o sabor dos escritos de Assis. Nem os jovens que lidavam com a dura realidade das ruas abriram qualquer volume machadiano. Nem as crianças sem camisa se interessavam por Machado. E a miséria de se estar tão perto da alma de um grande escritor, mas não poder tocá-lo, chega a ser quase uma maldição em vida. Como o legado de uma miséria...

2o

lugar

- Márcio Adriano Silva Moraes (Montes Claros-MG)

“Uma velhinha” Análise da comissão julgadora “Nostálgico, mas denso de angústia existencial, uma reflexão sobre o ser, sobre identidade, identidades. Tudo de uma forma leve, forma de crônica.” Hoje, revi, depois de quinze anos, uma velhinha, que, há quinze anos, já era velha. Naquele tempo, ela vendia panos de pratos bordados nas ruas da cidade. Eu a via em pontos de ônibus e ruas do centro. Mas também cheguei a vê-la em ruas do meu bairro, uma caminhada de uns quarenta a cinquenta minutos até a praça Dr. Carlos. Caminhada de passos largos. Imagino que ela caminhara por outros mais longínquos bairros, quiçá visitara outras cidades. Ela não parecia ter nenhuma condução própria. Seu transporte, sem dúvida, sempre fora os ônibus coletivos. Eu a via oferecer às pessoas os seus panos de pratos, cujos bordados, com certeza, eram frutos de suas mãos. Não me recordo de ter visto alguém comprá-los. E imagine, ela também os ofereceu a mim, que, como muitos, ignorei a oferta. Hoje, porém, eu a revi. Poderia hesitar, mas tenho certeza de minhas imagens fotográficas: essa velhinha, eu nunca a vi acompanhada. Contudo, não digo que vivia só. Não tenho essa onisciência. Sei, no entanto, que seus panos de pratos bordados a sustentara até este momento. Sustentara o seu corpo franzino e, por que não, sustentara uma família inteira, oculta, mas família. Depois de quinze anos, eu a revi. Não digo que ao longo desse período eu não tenha voltado a vê-la. Por vezes, ela me aparecia no seu contínuo labor. Mas nunca tinha fixado o meu olhar e coração em seu ser com tanta intensidade como neste momento, em que vivo, e que me exige tal força. A sua fisionomia se cravou em minha mente. Poderia dizer que ela lembrava minha avó paterna. Verdade, pois, de fato, lembrava. Porém, acredito que não foi isso que ela me deixou. Não. Não foi a recordação de um ente querido, uma mera semelhança física. Essa senhora de cabelos brancos me legou algo mais. Algo que espero compreender ao longo dessa escrita, em que a memoro. Hoje, eu a revi, estava próxima à Praça de Esportes. Eu saía de uma loja de informática, à procura de tecnologias, recurso indispensável para a vida moderna. Então, ainda no estacionamento, eu a revi. Ela estava segurando em um poste, desses de placas de trânsito. Não me atentei para a informação contida na placa. Seria irônico, mas muito mesmo, se a placa fosse de “pare”. Ela estava segurando, firme. Seus ombros curvados, numa postura tipicamente anciã, corcunda, de peles altamente enrugadas. Eu a encarei. Ela levantou os olhos e me olhou, como quem olha o nada, sem me fitar, sem dar por mim.


Concurso Paulo Setúbal Mas eu me deixei penetrar pelo seu rápido olhar. Não pude deixar de perceber que um de seus olhos estava baixo, pendente, sugerindo que fora vitimada por um “AVC”, talvez. Passei por ela e continuei meu caminho, mas sem os passos que me acompanhavam. Eu não poderia caminhar da mesma forma depois desse encontro. Sim, encontrei-me não apenas com uma velhinha que se fixara em minha memória desde o primeiro dia em que a vi, há quinze anos. Encontrei-me também com aquele office boy que corria de um banco a outro. Aquele rapaz de uniforme de empresa, muito maior que seu manequim. E percorri mentalmente seus passos até esse encontro. Confesso que tive vontade de ir até ela, perguntar, pelo menos, o seu nome. Mas me contive. Contentei-me em andar pela rua lateral, voltando-me para ela que continuava, parada, segurando o poste. Era a imagem antitética do mundo. Procurei em seus ombros e mãos a sacola com os panos de pratos. Não os vi. Por que eu não os comprei? Estaria ela ainda bordando? Seu sustento continuaria sendo suas minguadas vendas? Não sei. Como não sei dizer o que sinto neste momento. Não consegui compreender. Desculpe. Mas há algo que me inunda, me sufoca e me afoga. Passarei novamente pelo mesmo lugar com a esperança de vê-la ainda. Porém, a pisada do tempo nos retarda, fatalmente. E quando menos imaginarmos, estaremos também segurando o mesmo poste. E se eu a vir novamente, o que farei? Perguntar-lhe o nome? Para quê? O que poderei fazer por ela, ou melhor, o que ela pode esperar desta hora crepuscular da vida? Não sei, sinceramente, não sei. Mas sei que se eu a encontrar novamente – e temo este encontro – tenho o dever de lhe dizer obrigado. Dizer obrigado, apenas, e sair, deixá-la na incógnita, tão próxima está naturalmente de uma. Hoje, encontrei-me com mim mesmo. Estava perdido no tempo que me trouxe a velhinha de volta. Meus passos já não são os mesmos mais. Talvez, um dia, desses em que a gente não espera, eu possa compreender... Se eu vir a velhinha novamente, direi apenas obrigado? Não, tenho competência para ser mais sensível que o poste: segurarei a sua mão e esperarei acontecer o que não digo. Sou agora um de seus bordados. Hoje, revivi.

3o

lugar

- Roque Aloísio Weschenfelder (Santa Rosa-RS)

“O Rei e sua Cabeça” Análise da comissão julgadora ““Originalidade, jogo com as peripécias e com o uso de pronomes, com a situação dos brasileiros onerados pelos excessos de impostos.”

Lês esta crônica e pensas que falo do rei e da cabeça dele. Estás redondamente enganado. – Por quê? – perguntas. Acontece que a forma minha de iniciar este texto não é o que se faz nos dias de hoje. Ninguém trata o leitor pela segunda pessoa do singular, tu, mas pelo pronome de tratamento você. Desse modo, também já não é possível usar os possessivos teu e tua, mas precisa-se apelar para seu e sua. – E, daí? – vem outra pergunta.

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É o que preciso esclarecer: ao abolir o tratamento pelo pronome pessoal da segunda pessoa do singular e usar o tratamento você, começa a dubiedade com os possessivos seu e sua. – Mas, o que eu e o rei temos a ver com isso? Exatamente a cabeça! De quem é a cabeça mencionada no título? É a do rei ou é a de você? *** O rei tem na sua cabeça uma ideia: ele põe sua cabeça em jogo. O rei precisa aumentar os impostos porque ele tem muitos súditos a quem deve favores e que ele empregou. Acontece que o dinheiro arrecadado já não é suficiente para cobrir todas as despesas com os prestadores de serviços e com as muitas benesses transformadas em obrigações. Para salvar a sua cabeça o rei põe a sua cabeça a prêmio. Você, que não é daqueles a ocupar um cargo na corte e nem amigo de algum palaciano em particular, paga impostos sobre o que ganha com o trabalho, com as compras de suas necessidades, com os passeios de carro, com o uso da energia e do telefone – só para falar alguns itens, pois não caberia citar tudo em apenas três laudas. – Que confusão é essa de sua cabeça? Não se estresse, amigo leitor. A minha cabeça está nada confusa, eu sou todo uma rebeldia só! Acontece que eu sou o você de quem estou falando. A minha cabeça está tanto a prêmio como a sua. Com tudo que pago de impostos, preciso andar em estradas esburacadas, ou suportar horas e horas esperando em aeroporto porque o nevoeiro o fechou; ficar na fila do SUS para conseguir uma cirurgia de extirpar as hemorroidas a manchar as minhas calças, suportar apagão porque deu um temporal que derrubou postes podres da rede de energia elétrica, e por aí segue o baile... A minha rebeldia é porque não aguento mais as notícias sobre os muitos escândalos descobertos, a toda hora, por uma polícia real que investiga, investiga, passa para a justiça real os inquéritos e aí... Ah! é então que minha cabeça vira a sua e a sua vira a minha por não entender que todos os investigados acabam inocentes e nunca devolvem o dinheiro desviado. É o rei e sua cabeça. Nela está tudo bem. Corta gastos diminuindo os direitos dos pagadores de impostos, mas não os dos pagadores de pro messas... Na sua cabeça, o rei encontra saídas para cobrar mais e mais, tudo meio sem mostrar como. Por tudo isso, o rei mira na sua cabeça e acerta a minha, ou resolve definir que a minha está enrolada na burocracia infindável para conceder uma licença ambiental a que possamos instalar um campo de jogar bolinha de gude. – O quê? Precisa licença ambiental para isso? É aonde eu quero chegar! No campo, não só no de jogo, porém, no das exigências. Para tudo há leis de arrecadar. Para arrecadar precisa nomear os amigos e estes já aproveitam para ficar com boa parte do cobrado. Então, o rei precisa nomear outros amigos para fiscalizar esses amigos de antes e aí se criam papeladas e sistemas de computação de quem ninguém pode escapar sem pagar as taxas das licenças. O rei tem sua vida sob o controle e, como sua vida é minha vida, o rei tem na sua cabeça uma ideia: quer cobrar imposto sobre o sono meu e seu. Para dormir na rede, vai ser necessário ter licença ambiental para ocupar os postes ou as árvores onde ela será amarrada; se for dormir na cama, já se pagou licença ambiental para construir a casa em que a cama fica, mas, agora, o rei cisma em sua cabeça que para colocar uma cama na casa, precisa uma licença ambiental lá dentro. – Tu tá me deixando sem palavras! Cuidado! Não volte a usar o Tu, que isso vai lhe custar uma liberação de uso de fala velha, ainda não de domínio público! Melhor você prestar atenção para o rei e sua cabeça: o próximo imposto será sobre o ronco. Sim, se você dormir roncando, terá uma escuta secreta que vai medir a intensidade de seu ronco para emitir a multa pela perturbação do sossego público. Se você não pagar, não mais receberá a certidão de estar quites com a receita real! É o Rei e Sua cabeça!


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Concurso Paulo Setúbal

Poesias 13o Prêmio Literário Paulo Setúbal

1o lugar - Antônio Roberto

de

Carvalho (Registro - SP)

2o lugar - Jessé Emanoel Antonio

dos

Santos (Tatuí - SP)

“o olhar de deus”

“cunho”

Análise da comissão julgadora “Trata-se de um belíssimo soneto, e seu autor é um poeta acabado, pronto para continuar fazendo boa poesia.”

Análise da comissão julgadora “O ponto alto do poema é a metalinguagem utilizada (que problematiza a escrita dentro da própria poesia.) Muito interessante este aspecto que nos faz lembrar João Cabral de Melo Neto, poeta maior. Existe boa sonoridade no transcurso do poema e no ritmo excelente. Também agrada a síntese conseguida pelo autor.”

Aquela placidez das horas descuidadas, nas vibrações finais do dia que esmorece, reveste o entardecer de nuvens matizadas, enquanto o sol se vai e a noite resplendece.

Minha escrita Tem aquilo Que eu queria O que o coração pedia, E o que eu vi E não sabia

A ação crepuscular que a todos enternece, remete à velha paz perdida nas estradas e eleva para os céus silenciosa prece, pedindo proteção às almas desprezadas.

Minha escrita Tem chuviscos De magia De energia cristalina Que diz sim A fantasia

Findados os clarões do dia que declina, surgem constelações... E a lua peregrina espalha o seu fulgor sobre o vergel da serra. O brilho magistral da rútila centelha que vaga pelo céu, agora se assemelha ao brando olhar de Deus zelando pela Terra!

Minha escrita Faz rabiscos, Melodias,

3o lugar - Lúcio Rodrigues Junior (Tietê - SP)

“devaneio” Análise da comissão julgadora “Poema onde desponta uma simplicidade comovedora. Trata-se de um poema de boa sonoridade, rimas e sutileza que agradam bastante.” No momento em que o luar meu quintal invade E sobre as águas seu palor derrama, Acesa sinto em mim aquela chama Que escondida vive na saudade.

Do gado ouço seu mugir tristonho!...

Sem destino certo a caminhar me ponho E quase sempre vou parar na praia Enquanto o galo o seu cantar ensaia,

E quando o dia, finalmente, raia, Longe me encontro da bonita praia, Feliz dormindo na minha cabana.

Enquanto o rio a colear soluça, E o céu enorme sobre mim debruça, Fico a pensar na parvidade humana.

Lindos bosques e campinas, Flor de lis E estrela guia Minha escrita Faz sorrisos, Sol que brilha, Paz, amor e em harmonia, Colibris Beijando a vida Minha escrita Tem início Ao meio-dia E lá pela tardezinha Tem o fim Que gostaria.


Concurso Paulo Setúbal

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Literatura

13

14o Concurso Paulo Setúbal

1o

lugar

- Lethicia Pacheco Pereira

6o

ao

9o

ano

Colégio Presbiteriano de Tatuí - Professora responsável: Camila Nunes dos Santos

“o verdadeiro grande homem” Paulo Setúbal, para quem o conheceu ele foi um “Grande Homem!”. Escrevi com letra maiúscula, pois ele gostava de escrever nas palavras importantes, e a exclamação justificavase porque ele admirava praticamente tudo ao seu redor, e usava em suas escritas. Desde pequeno foi um homem batalhador, lutava pelo que queria. Nasceu no dia primeiro de janeiro de 1893, na cidade de Tatuí, e morreu no dia quatro de maio de 1937, em São Paulo, com apenas quarenta e quatro anos. Com quatro anos de idade o seu pai faleceu, e as dificuldades de cuidar de uma grande família, com nove filhos, foi passada para sua mãe. Na cidade de Tatuí, o ensino que ele precisava para se desenvolver se enfraqueceu, e ele não conseguiria ter uma educação necessária. Um de seus irmãos estudava em São Paulo, e para Setúbal, se mudar pra lá seria muito bom. E foi o que aconteceu, se mudou, e continuou seus estudos. Pouco tempo depois, sua mãe e seus irmãos se mudaram também. Sua mãe teve grande importância em sua vida, desde pequeno ela sempre o acompanhou, consolando, dando carinho e o ajudando no que fosse preciso. Cursou faculdade de direito, não esquecendo o fato de que ele nunca parou de escrever. No meio de sua faculdade, ele lembrou de um voto que fez à Maria quando pequeno, que se Ela o ajudasse, ele seria padre. É claro que foi apenas uma promessa de criança, mas ele quis cumprir. Tentou se tornar padre, e para isso teria que ir em uma prova que haveria para fazer seminário, mas isso não aconteceu, pois seus irmãos e os amigos dele eram ateus, começaram a zombá-lo, e fizeram sua cabeça. Com isso, ele voltou à faculdade de direito, e a completou. Paulo Setúbal era um excelente advogado, e um ótimo professor também, e os seus trabalhos o ajudaram a pagar as contas e sustentar sua família juntamente com a mãe. Seu sonho sempre foi ser jornalista, então decidiu entrar em uma revista, mas, ao chegar lá, não ocorreu o que planejava. O colocaram como revisor, mesmo não gostando muito, com seu gesto de humildade, aceitou o trabalho. No momento em que revisava, ele realizava seus poemas, pois estava entediado de fazer o que não gostava, pois queria ser redator. Em um dia qualquer, ele pediu para que seu patrão lesse o que ele fazia, porém, ele nem ligou. Setúbal, cansado de fazer aquilo, decidiu pedir demissão, confiante no que ia fazer, recebeu uma grande surpresa, um de seus seria publicado. A sua alegria foi imensa por seu trabalho ter sido divulgado. Se dedicou muito à escrita, seu editor Monteiro Lobato, o admirava muito. Suas obras eram românticas, faziam as pessoas viajarem ao ler. No auge de sua carreira, Setúbal teve tuberculose, e acharam melhor ele se recuperar em sua cidade natal, Tatuí. Ficou hospedado em uma fazenda, pois o ar era puro, o que ajudava muito na recuperação. No momento em que ele estava se tratando, começou a escrever “Alma Cabocla”, nessa obra foi retratada grande parte de sua vida, de suas lembranças da escola que estudou, do seu maravilhoso professor Chico Pereira, e de seus pensamentos. Ao melhorar, essa obra foi publicada, e foi uma das obras mais famosas que teve. Voltando para São Paulo, conseguiu entrar na Academia Brasileira de Letras, o que poucos conseguem e que foi muito importante para ele. Casou-se e teve filhos, sua vida estava ótima, até a tuberculose dominá-lo novamente. Neste meio termo, sem chances para ter uma vida longa, começou a escrever uma obra na qual ele confessava suas falhas e defeitos, chamada “Confissões sobre mim”. Infelizmente, não conseguiu terminá-la, e um padre que Setúbal procurou antes de sua morte para voltar-se à religião, terminou-a por ele. A vida de Paulo Setúbal reflete muito nos nossos sonhos, pois um rapaz sem um pai, morando numa cidade pequena, ter lutado e conseguido entrar na Academia Brasileira de Letras e ser conhecido por milhares de pessoas, nos mostra que não podemos desistir dos nossos sonhos, não deixar de lutar, e lembrar que o mais importante é ser humilde e ter bondade no coração. Antes de me aprofundar em sua vida, eu achava que ele era apenas um homem comum, rico, que pagou uma faculdade e ficou conhecido, mas ao conhecê-lo

de verdade percebi que ele nunca desistiu de seus sonhos, batalhou e chegou aonde queria. Infelizmente não teve uma vida longa, mas foi o suficiente para ser amado por muita gente, ter tido grande importância para Tatuí, e ter mostrado que nunca é cedo para correr atrás do que é importante para você. Esse foi Paulo Setúbal, um verdadeiro “Grande Homem!”.

2o

lugar

- Fernanda Antunes

6o

ao

9o

ano

Colégio Anglo Tatuí - Professora responsável: Mariana Fogaça Calvino

“paulo setúbal - vida e obra” O tatuiano Paulo Setúbal nasceu dia 1o de janeiro de 1893. Neto do vereador e ex-bandeirante de Porto Feliz e filho de um ex-capitão, vivia confortavelmente na Cidade Ternura. Sua casa ocupava quase uma quadra da atual Rua XI de Agosto. Aos quatro anos, seu pai, dono de um armazém de secos e molhados, veio a falecer. Seus clientes, que compravam fiado e pagavam depois da época da colheita, continuaram inadimplentes. Sua mãe, não abatendo-se, lavava as roupas dos outros para sustentar sua penca de filhos, que eram nove. Ao terminar o que agora seria o quinto ano, seu professor, Chico Pereira – homem bom e caridoso que foi homenageado com o nome de uma escola e citado em “Confiteor”, com carinho -, elogiou Paulo, dizendo que o mesmo deveria estudar em São Paulo, pois tinha potencial e que iria longe. E assim foi feito, a família de Setúbal foi a São Paulo. E o menino cresceu, tornando-se muito estudioso. Aos 17 anos, ao ser solicitado para fazer faculdade, Paulo lembrou-se da promessa que fizera quando era criança, de que seria padre se suas vaquinhas, Morena e Manteiga, fossem encontradas bem. Dessa forma, após passar a noite em claro, pensando na promessa, foi se matricular no seminário, no dia seguinte. Tudo ia bem, mas ao contar à sua família, seu irmão mais velho mandou-o o estudar e formar uma família, pois ser padre era “coisa de homem castrado”. Culpado, ele afundou-se na bebedeira e tornou-se “mulherengo”, ficando “impossibilitado” de por os pés em uma igreja. Mesmo terminando sua faculdade de direito, ele tinha o sonho de ser jornalista. Trabalhou em dois jornais. Começou pequeno, corrigindo o que seria publicado. Sempre que podia, escrevia, mandando suas poesias ao diretor do jornal. Desanimado por ficar em um cargo tão pequeno, foi surpreendido com a notícia de que uma de suas poesias seria publicada e ele passaria a escrever no jornal. Para comemorar, foi com seus amigos beber no mesmo lugar que conheceu Monteiro Lobato, que ajudou-o com seu primeiro livro, Alma Cabocla, traduzido em cinco línguas. Porém, no dia seguinte, passou mal. Paulo descobriu que estava com tuberculose. Para seu tratamento, sua mãe, Maria Teresa – Mariquinha – vendeu o anel que ganhara de seu pai. Como a tuberculose era melhor tratada por “bons ares”, a convite de seu irmão, João Batista, ele foi a Lages, onde fez sucesso por ser o único advogado da cidade, mas o dinheiro não parava em suas mãos. Ele aprendera os prazeres do jogo, que sempre acabava em bebedeira e prostitutas. Foi assim até se casar com Chiquinha, com quem teve três filhos: Olavo, Maria Tereza (em homenagem a sua mãe) e Maria Vicentina. Nesse meio tempo, escrevia diversos romances. Ia até publicar um “livro ateu”, mas uma de suas filhas, que sequer sabia sobre o livro, pediu a Paulo que queimasse seu livro, como um presente de Natal a ela.


14

Concurso Paulo Setúbal

09 de Agosto de 2015

Conversou com um padre e decidiu ouvir a voz de Deus, queimando o “livro ateu”, dando as cinzas a sua filha e voltando a frequentar igrejas. Em 1935, ganhou uma cadeira na Academia de Letras, fazendo um discurso homenageando sua mãe com belas palavras vindas do coração. Porém, não teve essa cadeira por muito tempo. No dia 4 de maio de 1937, Paulo Setúbal faleceu com complicações da tuberculose, deixando 12 obras terminadas, sendo que duas viraram novelas da Globo, e uma incompleta, o “Confiteor”. Assim, encerrando sua vida, foi homenageado, dando nome a um museu que nos lembra o orgulho que foi ter Paulo Setúbal nascido aqui.

tendo a história de vida dos camponeses caboclos do interior de São Paulo. Três anos antes do seu falecimento, Paulo Setúbal foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, o que para qualquer escritor significa muito e entre as regiões de Tatuí ele foi o único que conseguiu, sucedendo o escritor João Ribeiro na cadeira 31. No dia 4 de maio de 1937, com quarenta e quatro anos, Paulo Setúbal faleceu.

2o

lugar

- Marjorie Stempliuk Ferreira

Ensino Médio

Colégio Presbiteriano de Tatuí - Professora responsável: Ana Maria Sbragia

3o

lugar

- Raquel

de

Paula Rodrigues

de

Souza

6o

ao

9o

“o grande setúbal”

ano

Emef “Alan Alves de Araújo” - Professor responsável: André Luis Camargo

“memórias tatuianas” Quando falamos de Paulo Setúbal, pensamos em um orgulho para Tatuí, algo memorável, um exemplo de uma pessoa que mesmo com empecilhos, foi bem-sucedida, alguém que não será facilmente esquecido, principalmente pelos que se interessam por literatura. Em sua infância, Paulo Setúbal foi alguém simples, que se esforçou muito, levado pela grande vontade de ser jornalista, sem seguir o caminho mais fácil, que não levaria ao gratificante sucesso. Setúbal logo realizou sua meta, tornando-se redator de um jornal, por meio de um poema que enviou ao diretor do mesmo. Porém, naquela época, as pessoas eram sujeitas a contrair várias doenças e, Paulo Setúbal contraiu um simples resfriado, que logo se agravou e transformou-se em tuberculose, forçando a saída de Setúbal do ramo jornalístico. Depois deste triste acontecimento, ele passou a dedicar seu tempo à escrita, escrevendo vários romances e poemas que o fizeram ser conhecido por todo o Brasil. Em uma de suas obras, Setúbal cita sua terra natal, Tatuí, relembrando que nascera em uma pequena cidade, no interior de São Paulo, e chegava até ali com orgulho. Por quase toda sua vida, ele foi ateísta, passando somente a acreditar em Deus em seus últimos momentos vivo. Deixou com o gosto ruim de sua morte uma obra inacabada, que tempos depois foi completada por um grande amigo de infância do escritor. A memória de Paulo Setúbal permanecerá viva em vários lugares, mas principalmente para Tatuí, que foi o berço de um homem importante para a literatura brasileira.

Como todos sabem, ou deveriam, Paulo Setúbal foi um grande símbolo literário tanto regional quanto nacional. Nascido em Tatuí, com apenas quatro anos perdeu seu pai, viveu com a mãe e irmãos, a família era grande. Quando mais velho estudou em um colégio onde teve Chico Pereira como professor, este viu no menino um grande potencial e aconselhou que fosse para São Paulo estudar. Paulo foi cursar Direito. Por causa disso começou a ler muitos filósofos e assim, junto à influência de terceiros, aderiu ao ateísmo. No meio disso, decidiu ser jornalista e queria um emprego no jornal. Conseguiu, mas como revisor de propaganda. Um dia mostrou seus versos ao diretor, que de início fez pouco caso, porém acabou por publicar, dando a Setúbal uma coluna no jornal. Iniciou sua carreira literária com o único livro de poesias, chamado Alma Cabocla, voltado a estética parnasiana que relata um pouco de Tatuí. Se destacou por escrever romances históricos, sendo os principais deles A Marquesa de Santos, que fala sobre Domitila, amante de D. Pedro I, e o Príncipe Nassau, que fala sobre Maurício de Nassau. Escrevia de forma fácil e agradável. Com tuberculose, volta a Tatuí para se cuidar e nessa mesma época chega ao ápice, ao apogeu de sua carreira, quando foi aceito na Academia Brasileira de Letras. Volta a ser religioso deixando de lado a vida parcialmente boêmia com mulheres e jogos. Morre antes de terminar seu último livro, Confiteor, que no latim significa eu me confesso, contando em capítulos sobre sua vida e sua volta a Tatuí, cidade de sua origem narrada em seu primeiro e em seu último livro. Nossa cidade, pequena e interiorana, porém com uma herança cultural incrível.

3o

lugar

- Amanda Tavares Carlos

Ensino Médio

Colégio Anglo Tatuí - Professora responsável: Adriana Innocencio de Oliveira

1o

lugar

- Leandro Geroto Soares

Ensino Médio

EE “Prof. José Celso de Mello” - Professor responsável: Rildo Miranda

“um homem de renome” Paulo de Oliveira Leite Setúbal (ou simplesmente Paulo Setúbal) foi um homem muito importante para as histórias, os poemas, contos, enfim, para o mundo dos apaixonados pela literatura brasileira. Paulo Setúbal foi também um advogado e trabalhou no governo do Brasil, porém na época possuía tuberculose e devido ao agravamento da doença ele decidiu renunciar ao cargo. Natural de Tatuí, interior de São Paulo, a Capital da Música, teve uma vida simples e foi casado com Francisca de Sousa Aranha e tiveram filhos. Se formou em bacharel em direito em 1914 em São Paulo, quando já havia publicado um poema num jornal chamado A Tarde. Algum tempo depois, foi honrado com a publicação de seu livro poético chamado Alma Cabocla, com mais de três mil exemplares vendidos, tendo sido esgotado em apenas um mês. Depois, escreveu e publicou outros vários romances famosos como “A Marquesa de Santos” e “A Bandeira de Fernão Dias”, e por ter trabalhado como colaborador do jornal O Estado de S. Paulo, Paulo Setúbal assumiu também o título de um grande jornalista brasileiro. Duas das obras de destaque de Paulo Setúbal foram “A Marquesa de Santos”, como já foi mencionado, e o livro de crônicas “O Ouro de Cuiabá”, duas obras de temática histórica e que fez seu nome ser respeitado no meio literário. Foi conhecido também como poeta regional por ter escrito livros con-

“As Obras de paulo setúbal um Recurso a ser explorado ” Paulo Setúbal, o reconhecido nome não só na cidade de Tatuí, mas também em todos arredores, infelizmente é pouco conhecido pelos jovens habitantes desse interior paulista que muitas vezes nem mesmo valoriza a obra deste grande escritor que dedicou diversos trechos à população cabocla que costumava viver na região. O escritor, redator e advogado preocupou-se em divulgar de forma acessível a história de nosso país em várias de suas obras, o que é notável, já que no Brasil o povo, em sua maioria, não apresenta perfil nacionalista e desconhece os rumos da história. Assim, em “O Príncipe de Nassau” e no conjunto “Ciclo das Bandeiras”, por exemplo, Setúbal narra parte da história brasileira e, concomitantemente, procura entreter o leitor, objetivando romper o paradigma de que os fatos históricos brasileiros são monótonos e desinteressantes. Além disso, o que interessa especialmente aos tatuianos, é que Setúbal em sua primeira obra “Alma Cabocla” exalta Tatuí, sua terra natal, descrevendo de forma bucólica diversos aspectos da cidade muito antes de esta alcançar os níveis de desenvolvimento que goza atualmente. Dessa forma, as obras de Paulo Setúbal deveriam ser amplamente divulgadas pelo território nacional, pois assim os cidadãos seriam expostos à história de seu país de forma lúdica e diferenciada da forma que se aprende nas escolas, o que poderia despertar o gosto pela leitura nessas pessoas e quiçá mudar o país porque, como diz Monteiro Lobato, “um país se faz com homens e livros”.


Concurso Paulo Setúbal

09 de Agosto de 2015

Artes Visuais 14o Concurso Paulo Setúbal

Menção Honrosa Professores

Menção Honrosa

Camille Chagas de Macedo Emef “Prof. José Galvão Sobrinho” responsáveis: Eliete F. M. Oliveira / Edson Ap. Pinto

Professora

Wendrik Flavio Teodoro Emef “João Florêncio” responsável: Maria Aparecida

Menção Honrosa Mateus Leme Paques Colégio XI de Agosto Professora responsável: Ana Luiza

de

Almeida

Menção Honrosa

da

Silva

Professora

André Proença Falchi Colégio Presbiteriano responsável: Maísa Oliveira Santos

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